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1 Mod.016_01 DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde nos termos do n.º 1 do artigo 4.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto exerce funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes às atividades económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e social; Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Visto o processo registado sob o n. º ERS/35/2014;

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1 Mod.016_01

DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA

ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE

VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL

Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde nos termos do n.º 1 do artigo 4.º dos

Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto exerce

funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes

às atividades económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e

social;

Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º

dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde

estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º

126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos

no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de

agosto;

Visto o processo registado sob o n.º ERS/35/2014;

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I. DO PROCESSO

I.1. Origem do processo

1. A ERS tomou conhecimento do teor da reclamação, inicialmente tratada em sede do

processo de reclamação n.º REC/2846/2014, subscrita por F., relativa à utente M., sua

filha, e referente ao Hospital Santa Maria, estabelecimento prestador de cuidados de

saúde registado no SRER da ERS sob o n.º 113141, integrado na entidade prestadora

de cuidados de saúde Centro Hospitalar Lisboa Norte, E.P.E., inscrita no SRER da

ERS sob o n.º 18707.

2. Após análise da referida reclamação, foi aberto o processo de avaliação n,º

AV/226/2014, sendo que o Conselho de Administração da ERS, por despacho de 18 de

junho de 2014, determinou a abertura do processo de inquérito em curso, com o

propósito, em geral, de averiguar se o estabelecimento visado cumpriu as normas e

procedimentos em vigor no que respeita ao acesso a cuidados de saúde

transfronteiriços.

I.2. Da reclamação e das respostas dos prestadores

3. De acordo com o teor da exposição identificada, a reclamante alega que foi negado,

com fundamentação inválida, o acesso a cuidados de saúde transfronteiriços à sua

filha, a utente M.

4. Concretamente, resulta da reclamação, efetuada em 10 de abril de 2014, que, tendo

dirigido requerimentos de documento portátil S2, para o efeito de aceder a cuidados de

saúde transfronteiriços, os mesmos foram indeferidos com base em fundamentos

inválidos.

5. Do teor da reclamação resultava, assim, a possibilidade de o prestador ter adotado um

comportamento consubstanciador de um desrespeito pela legislação vigente em

matéria de acesso a cuidados de saúde transfronteiriços.

6. Sem prejuízo da análise desta questão, outras se suscitaram no decorrer das

diligências efetuadas, pelo que merecerão igualmente a devida análise no presente

processo.

I.3 Diligências

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7. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se, entre outras, as

diligências consubstanciadas em:

(i) Pesquisa e consulta no SRER da ERS do prestador de cuidados de saúde

Centro Hospitalar Lisboa Norte, E.P.E. (doravante, CHLN), registado no SRER

da ERS sob o n.º 18707, detentor do estabelecimento prestador de cuidados de

saúde Hospital de Santa Maria (doravante HSM), registado sob o n.º 113141.

(ii) Pedidos de informação dirigidos ao CHLN em 27 de junho de 2015, em 20 de

agosto de 2014 e em 18 de junho de 2015, e respetivas respostas;

II. DOS FACTOS

II.1. Factos relativos à reclamação inicial

8. Em 21 de abril de 2014, foi rececionada pela Entidade Reguladora da Saúde

(doravante, abreviadamente ERS) a reclamação subscrita por F., em representação da

utente menor, sua filha e utente M., porquanto ter-lhe-á sido “(…) negado relatório

clínico do diretor do serviço de cirurgia plástica do Hospital de Santa Maria para

anexarmos ao documento portátil S2, com fundamentação inadmissível (…)”.

9. Em concreto, a reclamante descreve a situação vivenciada pela utente menor e pelos

seus progenitores no decurso dos últimos 13 anos, alegando que, não obstante aquela

mesma utente ter sido sujeita a distintas intervenções cirúrgicas e recebido

acompanhamento médico pelo SNS, certo é que, fora de Portugal, a terapêutica

seguida é alegadamente mais atualizada e com efeitos mais adequados à sua situação

clínica.

10. Na realidade, segundo a reclamante, o profissional de saúde do Hospital de Santa

Maria terá recusado “(…) enviar o caso para o estrangeiro, alegando que cá se faz

(…)”.

11. Ademais, refere a mesma reclamante que “(…) há muito que sentimos a

descoordenação total entre as 8 especialidades que tratam a nossa filha, em 3

hospitais diferentes (CHTViseu onde vivemos, HPCoimbra e HSM) (…)”; e,

12. Certo é que, ainda de acordo com a mesma reclamação, o Serviço de Cirurgia Plástica

do Hospital de Santa Maria “(…) alude que não pode elaborar um relatório porque «a

paciente deixou de vir à nossa consulta»”.

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13. A reclamante refere que “A última vez que ela [a utente, sua filha] foi vista nesse

serviço [Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital de Santa Maria] foi em 2008,

seguiram-se 7 adiamentos (!), estando a próxima consulta prevista para outubro de

2014! Decidimos entretanto recorrer ao estrangeiro, a um centro multidisciplinar que

nos indicasse um caminho a seguir”.

14. Acrescenta a reclamante que “Pedimos em outubro de 2013, por escrito e

posteriormente por telefone, transferência do processo de neurocirurgia do HSM para o

HPCoimbra e não há qualquer encaminhamento”.

II.2. Factos relativos ao pedido de informação ao CHLN em 27 de junho de 2015

15. Em 27 de junho de 2014, a ERS dirigiu um pedido de informações ao CHLN-HSM que,

no que se afigura relevante para os presentes autos, se reproduz:

“[…]

(i) Pronunciem-se, de forma completa e fundamentada, sobre o teor da predita

reclamação, designada mas não limitadamente, sobre o facto de «[…] a

técnica utilizada em Paris não se praticar em Portugal […]» e sobre a

alegada «[…] descoordenação total entre as 8 especialidades que tratam a

nossa filha, em 3 hospitais diferentes […];

(ii) Indicação dos motivos que terão determinado os sucessivos adiamentos

das consultas de especialidade;

(iii) Esclarecimento sobre o estádio do pedido de transferência do processo

clínico que terá sido apresentado a V. Exas, em nome da utente menor, com

referência, cronológica e documental, dos eventuais desenvolvimentos

entretanto ocorridos;

(iv) Enumeração de todas as (eventuais) estruturas – humanas ou institucionais

– existentes no Hospital de Santa Maria, e que se dediquem à prestação de

informação aos utentes e/ou seus representantes, sobre o seu quadro

clínico e demais aspetos sobre a possibilidade de apoio financeiro à

assistência médica de grande especialização no estrangeiro, em situação

semelhante à reclamada;

[…]”.

16. Subsequentemente, veio o CHLN-HSM referir, em 4 de agosto de 2014,

concretamente, o seguinte:

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“[…]

A reclamação dos pais da doente M. prende-se no essencial com o facto de não lhes

ter sido proporcionado suporte financeiro para as deslocações ao estrangeiro (…),

onde lhes foi proposta uma intervenção mais precoce e mais extensa sobre o terço

médio da face (LeFort III com bipartição e distracção óssea aos 14 anos), sendo que

neste CHLN o plano (…). Os motivos para a posição tomada, que se mantém no caso

da M., são clínicos (…). A opção pela não realização de bipartição facial (que seria

igualmente possível mesmo aos 16 anos) (…). Da reclamação efectuada resulta que, a

opção pelo tratamento no estrangeiro foi tomada pelos pais por uma questão de

preferência pelo método e timing propostos em Paris, apesar de estarem conscientes

da existência de uma alternativa em Lisboa.

Os adiamentos das consultas da especialidade de Cirurgia Plástica deveram-se à

marcada redução dos recursos humanos do Serviço de Cirurgia Plástica e

Reconstrutiva Maxilo Facial nestes últimos anos.

O Sector de Assistência Médica ao Estrangeiro no CHLN, funciona integrado na

Unidade de Gestão Clínica, de modo a fazer cumprir o estipulado no Decreto-Lei n.º

177/92 de 13 de Agosto que regulamenta a possibilidade dos doentes pertencentes ao

SNS se deslocarem ao estrangeiro para tratamento médico por falta de condições

técnicas e profissionais em território nacional. O processo inicia-se com o

preenchimento de um formulário da Direcção Geral de Saúde no qual, por parte do

médico assistente, é fundamentado do ponto de vista clínico a necessidade de

tratamento no estrangeiro, posteriormente ratificada pelo Director de serviço que

encaminha o pedido para a Direcção Clínica, com vista à necessária aprovação. Após

a autorização o processo é encaminhado para avaliação pela DGS, entidade que dá o

parecer final e também para o Sector de Assistência Médica ao Estrangeiro.

Neste serviço é efectuada toda a tramitação administrativa necessária, em especial o

contacto com o utente no sentido de serem prestadas todas as informações

necessárias a instrução do processo, assim como todo o expediente logístico (contacto

com o hospital de referência, organização de viagens, alojamento, pedido de termo de

responsabilidade ou caução, etc).

Para efeitos de adiantamento de verba com vista a custear despesas com alimentação

e transportes, no entanto, no enquadramento legal que o prevê pressupõe também

uma avaliação prévia pelo Serviço Social do CHLN e carece de autorização do

Conselho de Administração. O referido montante é baseado num valor fixo por

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alimentação e o restante é, na maioria das vezes, calculado com base em deslocações

anteriores.

(…) podemos referir que entre a execução do pedido, a sua autorização pela Direcção

Clínica do CHLN e a autorização do DGS, decorre tendencialmente um prazo no

máximo de 10 dias.

(…) quanto à questão global relativa à assistência a M., referir que não se verificou no

caso concreto qualquer recusa de cuidados médicos. No entanto, entendeu a equipa

que o momento referenciado pelos pais, não era adequado proceder à intervenção que

por razões clínicas entenderam deferir para a altura em que ocorresse a conclusão do

crescimento facial. Não se tratou de negar assistência ou a emissão de um relatório

médico, mas sim no entender dos médicos que assistiram a doente, não se verificavam

os critérios clínicos, pelas razões já expostas que permitissem justificar a abertura de

um processo de assistência médica no estrangeiro, tendo em consideração os critérios

que presidem ao mesmo. A equipa deste CHLN (…) está preparada para todas as

técnicas referidas na exposição dos pais da doente, e continua à disposição para

qualquer intervenção ou acto que venham a ser necessários”.

17. Posteriormente, por ofício de 20 de agosto de 2014, foi o prestador novamente instado

a pronunciar-se no sentido de completar a informação transcrita no ponto anterior, em

especial, sobre o estádio do pedido de transferência do processo clínico apresentado

pelo reclamante, tendo o mesmo, por resposta datada de 4 de setembro de 2014,

aduzido o CHLN o seguinte:

“[…]

Os pais da menor solicitaram em 22.10.2013 junto do Setor dos Relatórios Clínicos

deste centro hospitalar, «que o processo de Neurocirurgia relativo à nossa filha M,

seja transferido para o Hospital Pediátrico de Coimbra, por proximidade de

residência (vivemos em Viseu).» (…) pedido esse que, inicialmente, foi tratado por

aquele sector como um pedido de acesso a dados clínicos (formulado ao abrigo da

Lei de Acesso a Documentos Administrativos) e encaminhado para o Serviço de

Neurocirurgia.

Refira-se, porém, que a eventual transferência da doente para outro hospital não

pressupunha nem obrigava a transferência do respectivo processo clínico o qual,

em cumprimento das regras legais em vigor sobre a matéria (designadamente do

«regulamento Arquivístico para os Hospitais» aprovado em anexo á Portaria nº

247/2000, de 8 de maio) deveria permanecer arquivado no CHLN.

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Por outro lado, tal como referem os pais da doente na sua reclamação, esta já era

seguida no Hospital Pediátrico de Coimbra, pelo que não se justificava qualquer tipo

de encaminhamento por parte do CHLN, onde a doente entretanto deixou de

comparecer.

A este propósito, reitera-se que não se tratou aqui de negar a assistência clínica

necessária ou emissão de relatório clínico, mas sim de, no entender dos médicos

que assistiram a doente, não se verificarem os critérios clínicos que justificavam a

abertura de processo de assistência médica no estrangeiro, uma vez que a equipa

do CHLN está preparada para todas as técnicas referidas na exposição dos pais da

doente”.

18. Considerando a necessidade de obtenção de esclarecimentos adicionais, por forma ao

apuramento cabal dos factos, a ERS dirigiu um pedido de elementos adicional ao

CHLN-HSM, em 18 de junho de 2015, nos seguintes termos:

“[…]

1. Informação sobre se, em alguma fase do tratamento da utente M. no Hospital

Santa Maria (HSM), foram os pais informados sobre a possibilidade de pedir

uma segunda opinião médica sobre a conveniência e/ou necessidade de o

tratamento (nomeadamente, as intervenções cirúrgicas) ser realizado, total ou

parcialmente, no estrangeiro;

2. Cópia integral da “Resposta a «Requerimento de Documento Portátil S2»”

elaborada, em 09-05-2013, pelo Dr. J., em resposta ao “Requerimento de

documento portátil S2” apresentado pelos pais da utente em 02-05-2013 junto

do HSM, uma vez que, da cópia na posse da ERS, não consta uma folha ou

página, correspondente ao trecho desenvolvido do ponto 4. e anterior ao ponto

5.;

3. Cópia do Certificado de Inscrição na Lista de Inscritos para Cirurgia de M., para

a cirurgia na qual a mesma foi inscrita no SIGIC em 27-03-2013 (conforme

“Resposta a «Requerimento de Documento Portátil S2»”, de 09-05-2013), e de

outra documentação eventualmente emitida pelo prestador ao abrigo da

mencionada inscrição no SIGIC;

4. Confirmação das datas dos sucessivos adiamentos da consulta de

especialidade de Cirurgia Plástica no HSM, conforme indicadas pelos pais da

utente e melhor descritas infra, acompanhada da cópia das cartas remetidas

aos mesmos informando desses mesmos adiamentos:

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a) Consulta de 29-06-2010 (11h15) foi adiada para 19-10-2010

(10h55);

b) Consulta de 19-10-2010 foi adiada para 18-10-2011 (10.30h);

c) Consulta de 18-10-2011 foi adiada para 27-12-2011 (9h30);

d) Consulta de 27-12-2011 foi adiada para 31-12-2012 (10h10);

e) Consulta de 31-12-2012 foi adiada para 29-05-2012 (10h10);

f) Consulta de 29-05-2012 foi adiada para 26-11-2012 (8h40).

5. Informação sobre se as referidas consultas da especialidade de Cirurgia

Plástica no HSM, alegadamente adiadas por 7 (sete) ocasiões, correspondiam

a consultas preparatórias de cirurgia ou a consultas de

acompanhamento/seguimento;

6. Confirmação da remarcação da consulta de especialidade de Cirurgia Plástica

no HSM de 26-11-2012 para 27-10-2014 (depois antecipada para 23-10-2014),

conforme indicado pelos pais da utente, e cópia da carta remetida aos pais da

utente informando da data da remarcação;

7. Informação sobre o motivo para a Direção do Serviço de Cirurgia Plástica ter

indicado, por carta remetida aos pais da utente em 10-04-2014, em resposta ao

“Requerimento de documento portátil S2” apresentado pelos mesmos em 17-

03-2014, que “a paciente deixou de vir à nossa consulta”;

8. Informação sobre data da última consulta realizada com a utente no HSM;

9. Informação sobre se, relativamente à tramitação dos dois requerimentos de

documento portátil S2 apresentados pelos pais da utente (em 02-05-2013 e em

17-03-2014), se verificou, em algum momento, o

reencaminhamento/envolvimento por parte da Administração Regional de

Saúde competente e/ou da Direção-Geral da Saúde e, em caso afirmativo,

cópia de toda a documentação respetiva;

10. Informação sobre o modo, o fundamento e a data em que a utente M., até

então acompanhada no Hospital Pediátrico de Coimbra, passou a sê-lo no

HSM (conforme descrito pelo Dr. J. em “Resposta a «Requerimento de

Documento Portátil S2»”, de 09-05-2013), acompanhada de cópia de toda a

documentação relevante;

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11. Informação sobre se, em algum momento, o HSM respondeu, por qualquer

forma, ao requerimento de transferência de processo clínico apresentado pelos

pais da utente em 22-10-2013 junto desse hospital, acompanhada de cópia da

documentação respetiva;

12. Independente da informação prestada no ponto anterior, informação sobre o

modo e a data em que os pais obtiveram efetivamente acesso/cópia do

processo clínico da utente, acompanhada de cópia da documentação respetiva;

13. Informação sobre os protocolos e demais procedimentos internos então em

vigor especificamente no que se refere ao tratamento de pedidos de

autorização prévia apresentados ao abrigo da Lei n.º 177/92, de 13 de Agosto,

aplicável à data dos factos;

14. Informação sobre os protocolos e demais procedimentos internos atualmente

em vigor especificamente no que se refere ao tratamento de pedidos de

autorização prévia apresentados ao abrigo da da Lei n.º 52/2014, de 25 de

agosto;

15. Informação sobre os meios existentes, no HSM, de disponibilização de

informação aos utentes acerca da possibilidade de acederem à prestação de

cuidados de saúde no estrangeiro, quer à data da apresentação dos

requerimentos de documento portátil S2 pelos pais da utente, quer à data de

hoje, acompanhada de cópia de toda a documentação relevante.

[…]”.

19. Em resposta ao solicitado pela ERS, o prestador remeteu a informação prestada pela

Direção do Serviço de Cirurgia Plástica, pela Direção do Serviço de Neurocirurgia e

pela Direção do Serviço de Gestão Hospitalar.

20. Na informação da Direção do Serviço de Cirurgia Plástica, é referido que:

“[…]

Ponto 1: Não me recordo se informei proactivamente os pais sobre a possibilidade

de pedir uma segunda opinião médica, embora eles o tenham feito por iniciativa

própria, facto que considero ser seu total direito e ao qual nunca me oporia.

Ponto 4,5,6: Os adiamentos sucessivos das consultas da Especialidade de Cirurgia

Plástica deveram-se à marcada redução dos recursos humanos do SCPRME nos

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últimos anos, incluindo o carácter descontínuo da minha relação contratual com o

HSM na altura a que se referem os factos.

Ponto 7: Não tenho conhecimento do motivo pelo qual essa informação

[comunicação da Direção do Serviço de Cirurgia Plástica aos pais da utente, em 10-

04-2014, de que «a paciente deixou de vir à nossa consulta»] foi prestada nos

termos referidos.

Ponto 10: Não me recordo dos trâmites envolvidos na transferência do

acompanhamento da M. dos HUC para o HSM, mas presumo que tal se tenha

ficado a dever à preferência dos progenitores e à disponibilidade demonstrada pela

equipa do HSM.

[…]”.

21. Por sua vez, na informação da Direção do Serviço de Neurocirurgia, datada de 11 de

agosto de 2015, era referido o seguinte:

“[…]

1) Não recordo se informei especificamente os pais da utente M. sobre a

possibilidade de pedir uma segunda opinião médica fora de Portugal, do ponto de

vista neurocirúrgico. De qualquer modo:

i) Nos anos iniciais de seguimento no HSM, desde 2005 até 2013, a evolução

clínica, foi favorável; (…).

ii) (…).

(…)

(…) a questão de pedido de uma segunda opinião fora de Portugal nunca se

colocou de forma concreta no caso da utente M. porque os seus pais sempre

evidenciaram grande autonomia nesse sentido, solicitando por sua iniciativa

opiniões a centros fora de Portugal (…), de que depois informavam os médicos que

a seguiram em Portugal; (…).

3) Junto enviamos cópia de inscrição na Lista de inscritos para Cirurgia, realizada

em 27/03/2013, e também cópia do cancelamento dessa inscrição em 23/04/2013,

efectuada após a mãe da criança me ter informado que tinham optado pelo

tratamento em França.

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10) Não recordo o fundamento porque a utente M. passou a ser seguida no Hospital

de Santa Maria. A primeira observação em Consulta de Neurocirurgia Pediátrica foi

realizada em 7/6/2005 (…). Não recordo se já tinha sido observada antes por

Cirurgia Plástica (embora a primeira consulta de Cirurgia Plástico só tenha sido

realizada a 21/06/2005), se teve referenciação específica de algum médica para a

nossa consulta, ou se este seguimento partiu da iniciativa (pedido) dos pais.

[…]”.

22. Finalmente, na informação da Direção do Serviço de Gestão Hospitalar, datada de 10

de agosto de 2015, foram referidos os seguintes elementos:

“[…]

9) A Unidade de Gestão Clínica, e mais especificamente o seu Setor de Assistência

Médica no Estrangeiro, não foi envolvido no processo aqui referido de requerimento

de Documento Portátil S2.

(…)

12) O pedido de cópia do processo clínico de Neurocirurgia Pediátrica de M. foi

formalizado por requerimento datado de 25.9.2014. A cópia da documentação foi

remetida via CTT em 30.09.2014. O processo clínico de Oftalmologia foi solicitado

em 10.09.204 e remetido em 16.09.2014 (…).

(…)

14) O Setor de Assistência Médica no Estrangeiro do Centro Hospitalar Lisboa

Norte, que integra a Unidade de Gestão Clínica do Serviço de Gestão Hospitalar,

dá apoio a todos os Serviços do CHLN. Mais especificamente em relação à Lei nº

52/2014 de 25 de Agosto, há a referir a Portaria 191/2014 de 25 de Setembro, onde

são definidos os cuidados de saúde sujeitos a autorização prévia. Acrescente-se

ainda a informação disponibilizada em formação específica para o efeito por parte

da ACSS (Formação ACSS: Diretiva nº 2011/24/EU – Cuidados de Saúde

Transfronteiriços (…).

15) (…) a informação [transmitida aos utentes acerca da possibilidade de aceder à

prestação de cuidados de saúde no estrangeiro] é dada de modo personalizado e

pro funcionário especializado da Unidade de Gestão Clínica, mais especificamente

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do Setor de Assistência Médica no Estrangeiro, sendo o utente encaminhado pelos

diversos serviços clínicos.

Em relação ao Documento Portátil S2 remete-se Orientação da DGS n.º 003/2010.

[…]”.

III. DO DIREITO

III.1. Das atribuições e competências da ERS

23. De acordo com o n.º 1 do artigo 4.º e o n.º 1 do artigo 5.º, ambos dos Estatutos da ERS

aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, 22 de agosto, a ERS tem por missão a

regulação, supervisão, e a promoção e defesa da concorrência, respeitantes às

atividades económicas na área da saúde dos setores privados, público, cooperativo e

social, e, em concreto, da atividade dos estabelecimentos prestadores de cuidados de

saúde.

24. Sendo que estão sujeitos à regulação da ERS, nos termos do n.º 2 do artigo 4.º dos

mesmos Estatutos, todos os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, do

sector público, privado, cooperativo e social, independentemente da sua natureza

jurídica;

25. Consequentemente, o Centro Hospitalar Lisboa Norte, E.P.E. é uma entidade

prestadora de cuidados de saúde, registada no SRER da ERS sob o n.º 18707,

detentor do estabelecimento prestador de cuidados de saúde Hospital de Santa Maria,

registado sob o n.º 113141.

26. As atribuições da ERS, de acordo como disposto nas alíneas b) e c) do n.º 2 do artigo

5.º dos Estatutos da ERS, compreendem a supervisão da atividade e funcionamento

dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, no que respeita à garantia

dos direitos relativos ao acesso aos cuidados de saúde, à prestação de cuidados de

saúde de qualidade, bem como dos demais direitos dos utentes, e ainda, à legalidade e

transparência das relações económicas entre os diversos operadores, entidades

financiadoras e utentes.

27. Ademais, constituem objetivos da ERS, nos termos do disposto nas alíneas b), c) e e)

do artigo 10.º do mencionado diploma, assegurar o cumprimento dos critérios de

acesso aos cuidados de saúde, garantir os direitos e interesses legítimos dos utentes e

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zelar pela legalidade e transparência das relações económicas entre todos os agentes

do sistema.

28. Competindo-lhe, na execução dos preditos objetivos, e conforme resulta dos artigos

12.º e 15.º dos Estatutos, assegurar o direito de acesso universal e equitativo ao

serviço público de saúde, zelar pelo respeito da liberdade de escolha nos

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, incluindo o direito à informação, e

também analisar as relações económicas nos vários segmentos da economia da

saúde, tendo em vista o fomento da transparência, da eficiência e da equidade do

sector, bem como a defesa do interesse público e dos interesses dos utentes.

Para tanto, a ERS pode assegurar tais incumbências mediante o exercício dos seus

poderes de supervisão, zelando pela aplicação das leis e regulamentos e demais

normas aplicáveis às atividades sujeitas à sua regulação, no âmbito das suas

atribuições, e emitindo ordens e instruções, bem como recomendações ou

advertências individuais, sempre que tal seja necessário, sobre quaisquer matérias

relacionadas com os objetivos da sua atividade reguladora, incluindo a imposição de

medidas de conduta e a adoção das providências necessárias à reparação dos direitos

e interesses legítimos dos utentes – cfr. alíneas a) e b) do artigo 19.º dos Estatutos da

ERS.

III.2. Do enquadramento legal da prestação de cuidados

III.2.1. O direito à saúde como direito constitucionalmente reconhecido, a natureza e

a organização do SNS

29. O acesso aos cuidados de saúde implica a consequente obrigação de os prestadores

de cuidados de saúde assegurarem aos utentes os serviços que se dirijam à

prevenção, à promoção, ao restabelecimento ou à manutenção da sua saúde, bem

como ao diagnóstico, ao tratamento/terapêutica e à sua reabilitação, e que visem

atingir e garantir uma situação de ausência de doença e/ou um estado de bem-estar

físico e mental.

30. Nessa medida, o direito de acesso dos utentes aos cuidados de saúde impõe-se,

designadamente, a todos os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde que

estejam integrados no SNS, os quais deverão garanti-lo em respeito pelos princípios da

generalidade, da universalidade e da gratuitidade tendencial constitucionalmente

considerados na concretização do direito à proteção da saúde.

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31. A característica da universalidade assenta na atribuição a “todos” do direito à proteção

da saúde e, por isso, deve ser assegurado a todos os cidadãos o direito de acesso aos

serviços de saúde integrados no SNS “[…] independentemente da sua condição

económica, aos cuidados da medicina preventiva, curativa e de reabilitação”.

32. Pelo que, em suma, esta característica pressupõe que todos os cidadãos1, sem

exceção, estejam cobertos pelas políticas de promoção e proteção da saúde e possam

aceder aos serviços prestadores de cuidados de saúde.

33. Intimamente ligada à universalidade do SNS está a característica da generalidade, que

se prende com a determinação do tipo de cuidados de saúde que devem ser

abrangidos pelo SNS, impondo-se que este garanta, com maior ou menor grau, uma

prestação integrada de cuidados globais de saúde aos seus beneficiários.

34. O princípio da generalidade aponta para o direito dos cidadãos a obter todo o tipo de

cuidados de saúde, pelo que o Estado, com o intuito de assegurar a realização do

direito à proteção da saúde, deverá “garantir uma racional e eficiente cobertura de todo

o país em recursos humanos e unidades de saúde” – cfr. alínea b) do n.º 3 do artigo

64º da CRP.

35. Ademais, a Lei de Bases da Saúde veio consagrar, na sua Base II, como uma das

diretrizes da política de saúde, que “é objetivo fundamental obter a igualdade dos

cidadãos no acesso aos cuidados de saúde, seja qual for a sua condição económica e

onde quer que vivam, bem como garantir a equidade na distribuição de recursos e na

utilização de serviços”;

36. Para tanto, e nos termos da al. d) da mesma Base, “os serviços de saúde estruturam-

se e funcionam de acordo com o interesse dos utentes e articulam-se entre si e ainda

com os serviços de segurança e bem-estar social”, sendo que, e de acordo com a al.

e), “a gestão de recursos disponíveis deve ser conduzida por forma a obter deles o

maior proveito socialmente útil e a evitar desperdício e a utilização indevida dos

serviços”.

37. Sendo reconhecido ao cidadão a “liberdade de escolha no acesso à rede nacional de

prestação de cuidados de saúde, com as limitações decorrentes dos recursos

existentes e da organização dos serviços.” – cfr. n.º 5 da Base V2;

1 É também com base neste princípio que é concedido a todos os cidadãos portugueses o direito de

recorrer ao SNS, sejam eles residentes em Portugal ou no estrangeiro, mas também aos “[...] cidadãos nacionais de Estados membros das Comunidades Europeias, nos termos das normas comunitárias aplicáveis”; aos “[...] cidadãos estrangeiros residentes em Portugal”; e aos “[...] cidadãos apátridas residentes em Portugal”- cfr. Base XXV da Lei de Bases da Saúde publicada

pela Lei n.º 48/90, de 24 de agosto.

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38. Bem como o direito de “ser tratado pelos meios adequados, humanamente e com

prontidão, correção, privacidade e respeito” – cfr. al. c) da Base XIV –, para o que deve

“observar as regras de organização e funcionamento dos serviços e estabelecimentos”

e utilizar “os serviços de acordo com as regras estabelecidas” – cfr. al. b) e d) do n.º 2

da Base XIV, todas da LBS.

39. Como resulta expressamente do art. 4.º, 1, da Lei n.º 15/2014, de 21 de março3,

referente à adequação da prestação dos cuidados de saúde, “O utente dos serviços de

saúde tem direito a receber, com prontidão ou num período tempo considerado

clinicamente aceitável, consoante os casos, os cuidados de saúde de que necessita”.

40. A este respeito encontra-se reconhecido na LBS, mais concretamente na sua alínea c)

da Base XIV, o direito dos utentes a serem “(…) tratados pelos meios adequados,

humanamente e com prontidão, correcção técnica, privacidade e respeito”.

41. Quanto ao direito do utente ser tratado com prontidão, o mesmo encontra-se

diretamente relacionado com o respeito pelo tempo do paciente4, segundo o qual deve

ser garantido o direito do utente a receber o tratamento necessário dentro de um rápido

e predeterminado período de tempo, em todas as fases do tratamento.

42. Aliás, o Comité Económico e Social Europeu (CESE), no seu Parecer sobre “Os

direitos do paciente”, refere que o “reconhecimento do tempo dedicado à consulta, à

escuta da pessoa e à explicação do diagnóstico e do tratamento, tanto no quadro da

medicina praticada fora como dentro dos hospitais, faz parte do respeito das pessoas

[sendo que esse] investimento em tempo permite reforçar a aliança terapêutica e

ganhar tempo para outros fins [até porque] prestar cuidados também é dedicar tempo”.

43. Ademais, prescreve ainda o mesmo diploma legal que o sistema de saúde assenta nos

cuidados de saúde primários que devem situar-se junto das comunidades – cfr. n.º 1 da

Base XIII –, “devendo ser promovida a intensa circulação entre os vários níveis de

cuidados de saúde, reservando a intervenção dos mais diferenciados para as situações

deles carecidas […]” – cfr. n.º 2 da Base XIII.

2 O utente tem direito de escolha dos serviços e prestadores de cuidados de saúde, na medida dos

recursos existentes, sendo certo que o direito à proteção da saúde deve ser exercido com

consideração pelas regras de organização dos serviços de saúde – cfr. artigo 2.º da Lei n.º 15/2014,

de 21 de março.

3 Lei consolidando a legislação em matéria de direitos e deveres do utente dos serviços de saúde.

4 Vd. o ponto 7. da “Carta Europeia dos Direitos dos Utentes”.

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44. Desta forma, veio o legislador assumir a existência de um sistema de saúde

estratificado no qual os serviços e unidades de saúde se devem estruturar, funcionar e

articular entre si em favor dos interesses dos utentes, os quais, em condições de

igualdade, devem aceder aos cuidados de saúde;

45. Sendo que, naturalmente, os cuidados primários devem localizar-se mais perto das

comunidades e os diferenciados abrangerem uma maior população que a eles recorre

por força de estados de saúde mais específicos.

46. Por sua vez, o Estatuto do SNS, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 11/93, de 15 de janeiro,

em desenvolvimento das bases gerais contidas no regime jurídico da saúde, define o

SNS como sendo “um conjunto organizado e hierarquizado de instituições e de

serviços oficiais prestadores de cuidados de saúde, funcionando sob a

superintendência ou tutela do Ministro da Saúde” – cfr. artigo 1.º do referido Estatuto.

47. Assim, nos termos do artigo 2.º do Estatuto do SNS, este “tem como objectivo a

efectivação, por parte do Estado, da responsabilidade que lhe cabe na protecção da

saúde individual e colectiva”, através de cada uma das instituições que o integra e que

desempenha um papel de elevada relevância na prossecução de tal imposição,

devendo garantir o direito de acesso universal e igual a todos os cidadãos aos

cuidados por si prestados;

48. Deve ter-se igualmente presente que o SNS, enquanto conjunto organizado e

hierarquizado de instituições e de serviços oficiais prestadores de cuidados de saúde,

se organiza em regiões de saúde – cfr. n.º 1 do artigo 3.º do Estatuto do SNS;

49. Como, aliás, igualmente se estatui na Base XXIV da Lei de Bases da Saúde, que

estabelece que o SNS se caracteriza por ter organização regionalizada e gestão

descentralizada e participada – cfr. alínea e) da referida Base;

50. O que surge, aliás, enquanto concretização do princípio, estabelecido no n.º 4 do artigo

64.º da CRP, de que o serviço nacional de saúde tem gestão descentralizada e

participada.

51. Ou seja, desde a conformação inicial e fundamental do SNS que claramente se

assumiu que a sua organização deveria, sem prejuízo da superintendência ou tutela do

Ministro da Saúde, assentar na estruturação que melhor serviria a identificação dos

cuidados de saúde necessários e a garantia do acesso aos utentes onde quer que

vivam.

52. Competindo, ademais, a cada uma das ARS um papel fundamental na estruturação e

organização da resposta do SNS nas áreas sob sua influência, sendo aliás

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responsáveis “[…] pela saúde das populações da respetiva área geográfica,

coordenam a prestação de cuidados de saúde de todos os níveis e adequam os

recursos disponíveis às necessidades, segundo a política superiormente definida e de

acordo com as normas e diretivas emitidas pelo Ministério da Saúde.” – cfr. n.º 1 da

Base XXVII da Lei de Bases da Saúde.

53. Visa-se, portanto, um SNS que “preste integradamente cuidados globais ou garanta a

sua prestação” (al. b) e d) da Base XXIV da referida Lei), e que possibilite ao utente o

acesso, conforme já anotado, com carácter “de equidade e de forma integrada, [a]

todos os cuidados globais, com o objetivo de minimizar os efeitos das desigualdades

económicas, geográficas e quaisquer outras no acesso aos cuidados”. – cfr. al. b) e d)

da Base XXIV.

54. E é assim que as ARS desempenham um papel fundamental na estruturação e

organização da resposta do SNS nas áreas sob sua influência e, in extremis, nas

Redes de Referenciação Hospitalar (de ora em diante, e indistintamente, RRH).

55. Efetivamente, a organização do sistema de saúde baseia-se na divisão do território

nacional em regiões de saúde que “são dotadas de meios de ação bastante para

satisfazer autonomamente as necessidade correntes de saúde dos seus habitantes,

podendo, quando necessário, ser estabelecidos acordos inter-regionais para a

utilização de determinados recursos” – cfr. n.º 1 e 2 da Base XVIII.

56. Consequentemente, o SNS detém uma organização de carácter regional, sendo

administrado por cada uma das ARS, competentes por cada uma das regiões

administrativamente organizadas, devendo assim analisar-se em que medida as RRH

atualmente existentes são enquadráveis com esta organização do SNS e, claro está,

que consequências daí resultam.

57. Note-se, ademais, que, a propósito da implementação e cumprimento das redes de

referenciação5, também aos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde

5 A ERS teve já a oportunidade de publicar um Parecer no seu portal da internet, em 14 de abril de

2010. Sem necessidade de considerar exaustivamente o predito Parecer e o seu conteúdo para o qual se remete na íntegra, importa aqui realçar as conclusões ali avançadas:

(i) a estrutura, os parâmetros de funcionamento e as imposições adjacentes a cada uma das RRH, tal como arquitetadas, consubstanciam regras que, necessariamente, se manifestam no direito de acesso do utente aos cuidados de saúde como consagrado na Constituição e na lei; e

(ii) tanto assim é, que o seu não funcionamento ou deficiente funcionamento impacta negativamente com o direito de acesso do utente aos cuidados de saúde, na medida em que resultam num efetivo não acesso (ou num acesso tardio ou inadequado) aos cuidados de saúde necessários;

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compete proporcionar os cuidados de saúde necessários, mediante uma gestão que

deve obedecer, designadamente a um princípio de comparticipação orçamental do

Estado estabelecida em planos financeiros que devem ser anuais ou plurianuais e

baseados em programas propostos pelas ARS - cfr. alíneas a) e b) do n.º 1 do artigo

16.º do Estatuto do SNS;

58. E ainda, a uma gestão por força da qual os membros dos órgãos de administração são

responsáveis pelo cumprimento da lei e pela realização dos objetivos e metas

constantes dos planos e programas aprovados - cfr. alínea c) do referido n.º 1 do artigo

16.º do Estatuto do SNS.

59. Ou seja, compete a esta organização hierarquizada, com identificação concreta de

responsabilidades, garantir que os cuidados de saúde necessários são prestados nas

melhores condições, seja de acesso, de qualidade ou de segurança.

60. A atual organização do SNS assenta, pois, numa identificação clara e inequívoca da

cadeia (vertical) de atribuições, competências e responsabilidades, para que o SNS

seja, não somente de iure mas também de facto, um conjunto de instituições e de

serviços oficiais prestadores de cuidados de saúde organizado e hierarquizado.

61. Ou seja, do atual quadro legal aplicável e conformador do SNS resulta que (também)

cada instituição conhece, sem dúvida ou incerteza, o que concretamente a si compete

– e por tanto de si é esperado – para contribuir para a garantia constitucional da

prestação de cuidados de saúde nas melhores condições de acesso, qualidade e

segurança.

(iii) compete ao SNS, aliás como imposto pela Lei de Bases da Saúde, garantir de forma integrada, com vista a atenuar, mormente, os efeitos das desigualdades económicas e geográficas no acesso aos referidos cuidados;

(iv) podendo de tanto resultar uma rejeição de acesso aos cuidados de saúde pelo SNS quer seja por não possuir os recursos suficientes à prestação de cuidados necessários;

(v) seja por, possuindo-os, não se encontrar devidamente articulado de forma a permitir a referenciação do utente.

Nessa medida, foi possível concluir que as regras de referenciação constituem regras de acesso, devendo, por isso, ser garantidas pela ERS, porquanto concorrem para o respeito e cumprimento dos critérios de acesso aos cuidados de saúde, nos termos da Constituição e da lei e para a garantia dos direitos e interesses legítimos dos utentes.

Não obstante as conclusões atingidas, foi ali proposto, em prol da defesa da transparência, da eficiência e da equidade do sector, bem como a defesa do interesse público e dos interesses dos utentes, e da organização e do desempenho dos serviços de saúde do SNS, a adoção de regras claras, precisas e objetivas quanto à referenciação hospitalar. E, nesse seguimento, foi recomendado a todas as ARS, no sentido de definirem, publicitarem e ordenarem para cumprimento por parte dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde envolvidos, as RRH que se apresentem como necessárias nas suas áreas de influência.

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62. Ora, atento todo o supra referido, importará, no decurso da análise dos presentes

autos, perceber se o SNS logrou, ou não, garantir, o direito à saúde da utente, aqui

consideradas a legislação vigente em matéria de prestação de cuidados de saúde no

estrangeiro/transfronteiriços.

III.2.2. A assistência médica prestada em estabelecimento de saúde sito no

estrangeiro ao utente do SNS

63. A LBS é praticamente omissa na previsão e enquadramento da possibilidade de

recurso a serviços de saúde no estrangeiro, limitando-se o n.º 2 da Base XXXV a

estabelecer que “Só em circunstâncias excepcionais em que seja impossível garantir

em Portugal o tratamento nas condições exigíveis de segurança e em que seja

possível fazê-lo no estrangeiro, o Serviço Nacional de Saúde suporta as respectivas

despesas”.

64. Não obstante, certo é que tal disposição possui o efeito essencial de abrir a

possibilidade de assunção de responsabilidade financeira pelo SNS quanto à prestação

de cuidados de saúde que sejam prestados no estrangeiro; e

65. Assim, concede um direito (condicionado) aos utentes de beneficiarem da cobertura

financeira do SNS quando seja impossível garantir, em Portugal, o tratamento, nas

condições exigíveis de segurança e em tempo útil.

66. Em concretização de tal prerrogativa, veio o Decreto-Lei n.º 177/92, de 13 de agosto,

assumir que, atento “[…] o esforço financeiro [tendente] à modernização das unidades

hospitalares e a atualização médica e científica dos profissionais da saúde”, a

assistência médica ocorrida no estrangeiro deve revestir uma natureza absolutamente

excecional.

67. Tendo o referido diploma entrado em vigor, de modo pleno, no dia 1 de janeiro de

1993.

68. O Decreto-Lei n.º 177/92 impunha uma responsabilidade acrescida do Médico

Assistente, que devia acompanhar o utente e elaborar um relatório devidamente

fundamentado, bem como do Director Clínico do prestador hospitalar onde o utente era

assistido.

69. E era ainda reconhecida pelo legislador a necessária articulação entre o processo

decisório do profissional médico e o processo administrativo, de forma a que uma

qualquer autorização só poderia ser concedida mediante a emissão prévia de um

relatório médico com as informações constantes do artigo 3.º do mesmo diploma legal.

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70. Mais determinava o diploma em análise que era da responsabilidade da então Direção-

Geral dos Hospitais (hoje, Direção-Geral da Saúde) a coordenação de todos os

processos de deslocação dos utentes a prestador estrangeiro;

71. Competindo igualmente à Direção-Geral da Saúde o poder de decisão quanto aos

pedidos de assistência médica que lhe fossem submetidos pelos interessados.

72. Assim, e concretizando, conforme resulta do seu artigo 1.º, o Decreto-Lei n.º 177/92

vinha regulamentar “[…] A assistência médica de grande especialização no estrangeiro

que, por falta de meios técnicos ou humanos, não possa ser prestada no País […]”;

73. Estando abrangidos por tal regime “[…] os beneficiários do Serviço Nacional de

Saúde”, com exclusão de todas as propostas de “[…] deslocação ao estrangeiro que

provenham de instituições privadas.” – cfr. n.º 2 e 3 do artigo 1.º do predito diploma.

74. Ademais, o artigo 5.º elencava as situações de natureza urgente, de entre as quais

figurava a possibilidade de o utente, que previamente recorreu a prestador no

estrangeiro, apresentar depois ao então Diretor-Geral dos Hospitais (hoje, ao Diretor-

Geral de Saúde) o respetivo processo clínico, desde que instruído com o relatório

médico nos termos já referidos supra e com fundamentação da escolha pelo prestador

a que recorreu.

75. Neste conspecto, era, então, da competência do então Diretor-Geral dos Hospitais

(atual Diretor-Geral da Saúde) a decisão dos processos de assistência médica no

estrangeiro que lhe sejam submetidos pelos interessados (atentas as condições

essenciais à atribuição dos benefícios tal como supra enunciadas) – cfr. n.º 1 do artigo

4.º do Decreto-Lei n.º 177/92;

76. Fixando ainda o diploma que deveria dar-se conhecimento aos interessados, pela

forma mais expedita e nos termos do Código do Procedimento Administrativo (CPA),

da decisão e das diligências efetuadas – cfr. n.º 3 do artigo 4.º, do Decreto-Lei n.º

177/92;

77. Mais especificando que toda a decisão deveria ser proferida e comunicada aos

interessados no prazo de 15 dias úteis contados da data do registo de entrada do

pedido de assistência junto da então Direcção-Geral dos Hospitais (hoje, Direcção-

Geral da Saúde) – cfr. n.º 4 do artigo 4.º, do Decreto-Lei n.º 177/92;

78. Por outro lado, que da decisão desfavorável cabia recurso para o Ministro da Saúde,

que decidirá no prazo de 30 dias – cfr. n.º 5 do artigo 4.º, do Decreto-Lei n.º 177/92;

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79. Assim, competia à atual Direcção-Geral da Saúde a análise e decisão sobre o pedido

de apoio financeiro para assistência médica no estrangeiro, aqui considerado o pedido

pré e pós recurso a prestador estrangeiro, ou seja,

80. O pedido de apoio para adiantamento e para reembolso das despesas, a suportar ou já

suportadas, por força da assistência médica de que beneficiarão ou beneficiaram os

utentes, respetivamente, no estrangeiro.

81. A acrescer ao diploma publicado no ano de 1992 devem ser aqui igualmente

consideradas as orientações concretizadas em Circulares emitidas pela Direcção-Geral

da Saúde a respeito da assistência médica a obter fora de território nacional; e que,

82. Nessa medida, foram servindo, de forma mais clara e atualizada, para informar dos

procedimentos que, administrativamente, deveriam ser seguidos pelas instituições

hospitalares de origem, com vista à apresentação e fundamentação de um pedido de

tal natureza.

83. Com efeito, foram publicadas, a este respeito, a Circular Normativa 08DSPCS, de 25

de junho de 2002, a Circular informativa 16/DQS/DMD, de 22 de abril de 2010, e a

Orientação 003/2010, de 29 de setembro de 2010.

84. Mediante tais documentos, uniformizaram-se os critérios determinados no Decreto-Lei

n.º 177/92, no que concretamente respeita às informações essenciais à análise dos

processos que visam a autorização do Diretor-Geral de Saúde para assistência médica

e que devem constar do “Requerimento de Documento Portátil S2”.

85. Foi nesta sequência que surgiu o regime aprovado pela Diretiva n.º 2011/24/UE, do

Parlamento Europeu e do Conselho, de 9 de março de 2011, e, depois, a Diretiva de

Execução n.º 2012/52/UE da Comissão, de 20 de dezembro.

86. Aquela primeira, dirigida precisamente ao exercício dos direitos dos doentes em

matéria de cuidados de saúde transfronteiriços, veio estabelecer regras para facilitar o

acesso a cuidados de saúde transfronteiriços seguros e de elevada qualidade na

União, para assegurar a mobilidade dos doentes de acordo com os princípios

estabelecidos pelo TJUE e para promover a cooperação em matéria de cuidados de

saúde entre os E-M, sempre no pleno respeito das competências nacionais em matéria

de organização e prestação de cuidados de saúde – cfr. n.º 1 do artigo 1.º da Diretiva

n.º 2011/24/UE.

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87. Mas certo é que também ali se previa, sob algumas condicionantes, a possibilidade de

os E-M determinarem um procedimento de autorização prévia6.

88. Com efeito, conforme ali se referia, aquela autorização não poderia ser recusada se,

por um lado, o doente tiver direito aos cuidados de saúde em questão no E-M e se

6 A propósito da exigência de uma condição prévia concretizada na autorização da Direcção-Geral

da Saúde, diga-se que foi esta condição objeto de discussão junto do Tribunal de Justiça da União

Europeia no âmbito de ação intentada pela Comissão Europeia contra a República Portuguesa, por

alegado incumprimento derivado de uma restrição injustificada à livre prestação de serviços. Com

efeito, foi ali discutido em que medida ou em que situações pode um cidadão da UE deslocar-se

programadamente a um outro EM para aí receber cuidados de saúde ao abrigo da cobertura

financeira (pública ou equivalente) de que seja beneficiário no seu EM de origem.

O direito comunitário prevê, em situações de prestação programada de cuidados de saúde em

outros EM, o condicionamento da assunção da responsabilidade financeira pela entidade

financiadora (pública ou equivalente) de que o utente seja beneficiário no seu EM de origem à

obtenção de uma autorização prévia de autorização por parte da “instituição competente”. Mas

igualmente limita as situações em que uma tal autorização pode ser recusada, sendo claro que

tanto não poderá ocorrer quando “o tratamento em questão figure entre as prestações previstas pela

legislação do Estado-Membro onde o interessado reside e onde esse tratamento não possa ser

prestado dentro de um prazo clinicamente seguro, tendo em conta o seu estado de saúde atual e a

evolução provável da doença”.

Já quanto à possibilidade de na legislação nacional do EM de origem, como visto, no ordenamento

português o regime está determinado pelo Decreto-Lei n.º 177/92, de 13 de agosto, no âmbito do

SNS e no âmbito da ADSE, esta última enquanto representativa do maior subsistema público.

Refira-se porém, que este mesmo diploma foi já objeto de análise no âmbito do TJUE, em sede de

apreciação de ação por incumprimento intentada pela Comissão Europeia contra a República

Portuguesa, por alegado incumprimento derivado de uma restrição injustificada à livre prestação de

serviços, pois que ali não se encontra prevista, a possibilidade do reembolso de despesas médicas

não hospitalares efetuadas noutro Estado-Membro, a não ser nas circunstâncias previstas no

Regulamento (CEE) n.° 1408/71, ou por subordinar a possibilidade de reembolso de despesas

médicas não hospitalares à concessão de uma autorização prévia – cfr. as conclusões da

Advogada-Geral do TJUE, de 14 de abril de 2011, no processo C-255/09, Comissão Europeia c.

República Portuguesa.

Este diploma (Decreto-Lei n.º 177/1992) esteve até outubro de 2011 sob análise do TJUE.

Atualmente, e conforme melhor resulta do teor do respetivo Acórdão, foi considerado pelo TJUE

que, “[a]o não prever, excepto nas circunstâncias previstas pelo Regulamento (CEE) n.º 1408/71 do

Conselho, de 14 de Junho de 1971, relativo à aplicação dos regimes de segurança social aos

trabalhadores assalariados, aos trabalhadores não assalariados e aos membros da sua família que

se deslocam no interior da Comunidade […] a possibilidade de reembolso das despesas com

cuidados médicos não hospitalares, efectuadas noutro Estado-Membro, que não implicam o recurso

a equipamentos materiais pesados e dispendiosos, taxativamente enumerados na legislação

nacional, ou, nos casos em que o Decreto-Lei n.º 177/92, de 13 de Agosto de 1992, que fixa os

requisitos do reembolso das despesas médicas efectuadas no estrangeiro, reconhece a

possibilidade de reembolso das despesas com os referidos cuidados, ao subordinar o seu

reembolso à concessão de uma autorização prévia, a República Portuguesa não cumpriu as

obrigações que lhe incumbem por força do artigo 49.º CE.”– cfr. Acórdão do TJUE C-255-09

(Comissão vs Portugal), de 27 de outubro de 2011, disponível em em http://eur-lex.europa.eu.

23 Mod.016_01

esses mesmos cuidados de saúde não puderem ser prestados no seu território num

prazo útil fundamentado do ponto de vista médico (com base numa avaliação objetiva

da sua situação clínica, da história e evolução provável da sua doença, do grau de dor

por ele suportado e/ou da natureza da sua incapacidade no momento em que for

apresentado ou renovado o pedido de autorização).

89. Pelo que, para o exercício do direito ali previsto, importaria sempre que o sistema de

saúde do E-M, no caso o SNS, não pudesse responder à necessidade clínica da

concreta utente.

90. Certo é que foi precisamente este o entendimento mais tarde transposto pela Lei n.º

52/2014, de 25 de agosto, para o nosso ordenamento jurídico, quando fez depender o

pedido de autorização prévia de um requerimento a “[…] apresentar através do portal

do utente, junto da unidade hospitalar da área de residência do beneficiário […],

assumindo sempre, além disso, o requerente como beneficiário, ou seja, utente do

SNS ou do SRS (cfr. artigo 12.º e 13.º em conjugação com o artigo 3.º).

91. Com efeito, a Lei n.º 52/2014 estabelece um sistema duplo relativamente ao direito ao

reembolso das despesas diretamente relacionadas com os cuidados de saúde

transfronteiriços prestados noutro Estado membro.

92. De um lado, prevê despesas sujeitas à autorização prévia acima referida (artigo 11.º da

Lei n.º 52/2014) e, do outro, despesas não sujeitas a autorização prévia mas apenas a

avaliação prévia (n.º 4 do artigo 8.º da Lei n.º 52/2014).

93. Quanto às despesas sujeitas a autorização prévia, estão em causa cuidados de saúde

transfronteiriços cirúrgicos que exijam o internamento durante pelo menos uma noite,

assim como o reembolso dos cuidados de saúde transfronteiriços que exijam recursos

a infraestruturas ou equipamentos médicos altamente onerosos e de elevada

especialização (n.º 1 do artigo 11.º da Lei n.º 52/2014).

94. E, ainda, os cuidados de saúde transfronteiriços que envolvam tratamentos que

apresentem um risco especial para o doente ou para a população ou o reembolso dos

cuidados de saúde transfronteiriços que sejam prestados por um prestador de cuidados

de saúde que, por decisão casuística da entidade competente para apreciação do

pedido de autorização prévia, possa suscitar preocupações sérias e específicas quanto

à qualidade ou à segurança dos cuidados (n.º 2 do artigo 11.º da Lei n.º 52/2014).

95. O pedido depende de requerimento a apresentar através do portal do utente, junto da

unidade hospitalar da área de residência do beneficiário ou da unidade competente de

cada região autónoma (n.º 1 do artigo 13.º da Lei n.º 52/2014), dele devendo constar,

entre outros elementos, o Estado membro de tratamento e a respetiva unidade

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prestadora, assim como informação clínica com a indicação da necessidade de

realização da prestação dos cuidados de saúde (n.º 2 do artigo 13.º da Lei n.º

52/2014).

96. A informação clínica constante do requerimento do pedido de autorização prévia fica

sujeita a uma avaliação clínica hospitalar da necessidade de diagnóstico ou de

tratamento e de adequação cirúrgica, a realizar no prazo de 20 dias úteis a contar da

data da formulação do pedido de autorização prévia, tendo em consideração situações

comprovadas de maior urgência clínica (n.º 1 do artigo 13.º da Lei n.º 52/2014).

97. Desta informação clínica avaliação clínica referida no número anterior devendo constar

a proposta de deferimento ou indeferimento do pedido de autorização prévia (n.º 2 do

artigo 13.º da Lei n.º 52/2014).

98. Posto isto, o requerimento do pedido e o respetivo relatório da avaliação clínica são

remetidos pela unidade hospitalar que emitiu o relatório à ACSS, I. P., ou aos serviços

competentes das regiões autónomas, para apreciação (n.º 1 do artigo 14.º da Lei n.º

52/2014), que emitem resposta ao pedido de autorização prévia no prazo de 15 dias

úteis a contar da receção do relatório da avaliação clínica (n.º 2 do artigo 14.º da Lei n.º

52/2014).

99. Há lugar a indeferimento do pedido de autorização prévia nos casos previstos no n.º 3

do artigo 14.º7, e, em caso de dúvida, a ACSS, I. P., ou os serviços competentes das

regiões autónomas podem solicitar o parecer da DGS, que deve ser emitido no prazo

de cinco dias úteis (n.º 4 do artigo 14.º da Lei n.º 52/2014).

100. Sendo que a Portaria n.º 191/2014, de 25 de Setembro, veio definir, justamente, e

conforme previsto no n.º 3 do seu artigo 11.º, os cuidados de saúde sujeitos a

autorização prévia nos termos do n.º 1 do artigo 11.º da Lei n.º 52/20148.

7 Que são os seguintes: se a avaliação clínica indicar, com grau de certeza razoável, que o doente é

exposto a um risco de segurança que não possa ser considerado aceitável, tendo em conta o

benefício potencial para o doente dos cuidados de saúde transfronteiriços pretendidos; b) Se existir

um grau de certeza razoável para se concluir que a população é exposta a um risco de segurança

considerável em resultado dos cuidados de saúde transfronteiriços pretendidos; c) Se os cuidados

de saúde em causa forem ministrados por um prestador de cuidados de saúde que suscite

preocupações sérias e específicas quanto ao respeito pelas normas e orientações em matéria de

qualidade dos cuidados de saúde e de segurança dos doentes; d) Se os cuidados de saúde em

causa puderem ser prestados em Portugal num prazo útil fundamentado do ponto de vista clínico,

tendo em conta o estado de saúde e a evolução provável da doença do doente.

8 Que são os seguintes: a) Diagnóstico e tratamento de patologias para as quais existam centros de

referência reconhecidos oficialmente pelo Ministério da Saúde; b) Internamento hospitalar, por

cirurgia; c) Internamento hospitalar que resulte em GDH com peso relativo igual ou superior a 2.0 de

acordo com a tabela de preços do Serviço Nacional de Saúde; d) Internamento em Unidades de

25 Mod.016_01

101. À data dos factos (anos de 2013 e 2014), e ainda que o regime da Lei n.º 52/2014

não estivesse em vigor (pois tal só veio a acontecer em 1 de setembro de 2014),

102. Certo é que, ao abrigo do Decreto-Lei n.º 177/92, a liberdade dos doentes em

recorrer aos cuidados transfronteiriços era assumida como uma garantia nas situações

em que houvesse efetiva incapacidade de resposta do sistema nacional do E-M9.

III.2.3. Do direito à informação do utente

103. A relação que se estabelece entre prestadores de cuidados de saúde e os seus

utentes deve pautar-se pela verdade, completude e transparência em todos os aspetos

da mesma.

104. Sendo que tais caraterísticas devem revelar-se em todos os momentos da relação,

incluindo nos momentos que antecedem a própria prestação de cuidados de saúde.

105. Nesse sentido, o direito à informação – e o concomitante dever de informar – surge

aqui com especial relevância e é dotado de uma importância estrutural e estruturante

da própria relação.

106. Na verdade, o direito do utente à informação não se limita ao que prevê a alínea e)

do n.º 1 da Base XIV da Lei n.º 48/90, de 24 de agosto, normativo atualmente reforçado

pelo disposto no artigo 7º da Lei n.º 15/2014, de 21 de março, para efeitos de

cuidados intensivos ; e) Tratamento em Unidades especializadas de queimados; f) Internamento em

serviços, departamentos ou Hospitais de Psiquiatria e Saúde Mental, em psiquiatria forense; g)

Cirurgia de ambulatório que requeira a colocação de dispositivo médico previsto na codificação

publicada pelo Infarmed, I. P., excetuando -se as situações de suturas cirúrgicas; h) Cirurgia de

ambulatório que resulte em GDH com peso relativo igual ou superior a 2.0 de acordo com a tabela

de preços do Serviço Nacional de Saúde; i) Procedimentos no âmbito da Cirurgia plástica e

reconstrutiva; j) Tratamentos farmacológicos ou com agentes ou produtos biológicos cujo encargo

mensal seja superior a 1.500 euros; k) Tratamento oncológico; l) Tratamentos com

imunossupressores; m) Radiocirurgia; n) Transplantação e terapia celular; o) Diálise renal; p)

Litotrícia renal; q) Tratamento de incapacidade que necessite para a sua correção de cadeira de

rodas motorizada, próteses de membro superior ou inferior com exceção de prótese parcial de mão

ou pé, aparelho auditivo ou bitutores; r) Análises genéticas, incluindo farmacogenética e

farmacogenómica; s) Procriação Medicamente Assistida; t) PET|Tomografia por Emissão de

Positrões, Câmara gama, Tomografia Computorizada, Câmara gama — TC| Câmara gama com

Tomografia Computorizada, PET — TC|Tomografia por Emissão de Positrões com Tomografia

Computorizada, PET — RM|Tomografia por Emissão de Positrões com Ressonância Magnética,

SPECT|Tomografia Computadorizada por Emissão de Fotões Simples; u) Ressonância magnética;

v) Câmara hiperbárica.

9 Remete-se novamente para a Diretiva n.º 2011/24/EU, do Parlamento Europeu e do Conselho, de

9 de março de 2011.

26 Mod.016_01

consentimento informado e esclarecimento quanto a alternativas de tratamento e

evolução do estado clínico.

107. Trata-se, antes, de um princípio que deve modelar todo o quadro de relações atuais

e potenciais entre utentes e prestadores de cuidados de saúde.

108. A informação não pode, por isso, deixar de ser completa, verdadeira e inteligível.

109. Só assim se logrando obter a referida transparência na relação entre prestadores de

cuidados de saúde e utentes.

110. Por outro lado, a prestação de informação errónea ao utente, a falta de informação

ou a omissão de um dever de informar são suficientes para distorcer o exercício da

própria liberdade de escolha dos utentes.

111. Para além de poderem conduzir – ou mesmo criarem - situações de lesões de

direitos e interesses financeiros dos utentes.

III.2.4. Das regras do SIGIC

112. Conforme descrito na Portaria n.º 45/2008, de 15 de janeiro10, que aprovou o

Regulamento do Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC), é

este último um sistema de regulação da atividade relativa “[…] a utentes propostos

para cirurgia e a utentes operados, assente em princípios de equidade no acesso ao

tratamento cirúrgico, transparência dos processos de gestão e responsabilização dos

utentes e dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e dos estabelecimentos

de saúde que contratam e convencionam com aquele a prestação de cuidados de

saúde aos seus beneficiários.”; e

113. São elegíveis para efeitos de inscrição na lista de inscritos para cirurgia (LIC) “[…]

todos os utentes dos hospitais do SNS e os utentes beneficiários deste Serviço

referenciados para os estabelecimentos de saúde do sector privado e do sector social,

ao abrigo dos contratos e convenções celebrados.”.

114. Sendo que toda a programação cirúrgica é registada no SIGLIC e deve obedecer

aos critérios:

(i) da prioridade clínica estabelecida pelo médico especialista, em função da

doença e problemas associados, patologia de base, gravidade, impacto na

esperança de vida, na autonomia e na qualidade de vida do utente, velocidade de

progressão da doença e tempo de exposição à doença; bem como

10

Recentemente alterada por via da publicação da Portaria n.º 179/2014, de 11 de setembro.

27 Mod.016_01

(ii) da antiguidade na LIC, sendo, em caso de igual prioridade clínica, selecionado

em primeiro lugar o utente que se encontra inscrito na lista há mais tempo – cfr. §

73. do Regulamento.

115. Cumprindo a este propósito ressaltar que, cronologicamente, a inscrição dos utentes

em LIC é precedida da consulta da especialidade e da consequente elaboração de um

plano de cuidados, ou seja da elaboração de uma proposta de abordagem de um ou

mais problemas de saúde do utente, onde se inscrevem e caracterizam os eventos

necessários à sua resolução, ordenados de forma cronológica, não havendo limitação

ao registo na proposta quanto ao número de diagnósticos descritos ou procedimentos a

realizar, cfr. § 3.2.1.1. e 3.2.1.2.1 do Manual de Gestão de Inscritos para Cirurgia

(MGIC).

116. Igualmente prévia à inscrição do utente em LIC, uma vez concluído o preenchimento

da proposta de cirurgia, é a recolha do consentimento informado do utente, garantindo

que o mesmo atesta a concordância com a proposta e respetiva inscrição em LIC.

117. Ademais, aos utentes é reconhecido, nomeadamente, o direito de obter um

certificado comprovativo da sua inscrição e de obter informação a todo o tempo junto

da Unidade Hospitalar de Gestão de Inscritos para Cirurgia (UHGIC) do seu hospital e

a seu pedido, sobre os dados que lhe respeitem registados na LIC, como seja o nível

de prioridade que lhe foi atribuído e o seu posicionamento relativo na prioridade

atribuída – cfr. § 44. do Regulamento.

118. Assim, a UHGIC é o principal elo de ligação do utente com o hospital, e todos os

contactos com aquele e outros factos são registados no SI, competindo-lhe a

informação aos utentes ou seus representantes, sobre o estado da inscrição, o teor dos

deveres e direitos e qualquer outra sobre as diferentes fases do processo. – cfr. §

3.3.3. e § 3.3.5. do MGIC que remetem para o Volume II – Área da gestão.

119. Refira-se, ainda, que as UHGIC ficam integradas nos hospitais, competindo-lhes:

a) Zelar pelo cumprimento das normas aplicáveis à LIC e respetivo

Regulamento;

g) Prever e identificar os casos dos utentes que deverão ser transferidos para

outra unidade prestadora de cuidados de saúde […] – cfr. § 54.º e 56.º do

Regulamento.

120. As URGIC ficam integradas nas Administrações Regionais de Saúde, competindo-

lhes:

28 Mod.016_01

a) Monitorizar, avaliar e controlar a evolução de inscritos para cirurgia nas

unidades hospitalares, designadamente os tempos de espera;

j) Autorizar a emissão de vales cirurgia para a realização de procedimentos

cirúrgicos propostos pelo HD, quando sejam complementares de

procedimentos cirúrgicos realizados anteriormente, apos auscultação do

HO;

m) Decidir nas situações em que se verifiquem conflitos entre HO e HD;

n) Verificar se a facturação emitida pelas entidades convencionadas

corresponde à actividade realizada no âmbito dos vales cirurgia […] – cfr. §

50.º e § 52.º do Regulamento.

121. Ainda, a UCGIC fica integrada na ACSS, competindo-lhe:

j) Selecionar os utentes a transferir e garantir o cumprimento e monitorização

dos protocolos de transferência definidos por parte dos restantes

intervenientes;

l) Emitir e enviar vales cirurgia;

m) Autorizar o […] HD a elaborar propostas cirúrgicas e a realizar os

procedimentos que lhes correspondam – cfr. § 47.º e 49.º do Regulamento.

III.2.5. Do acesso à informação contida no processo clínico

122. Relativamente ao acesso à informação contida no processo clínico, e do que resulta

do direito à proteção da saúde tal como consagrado na Constituição da República

Portuguesa, os cidadãos, enquanto utentes do SNS, têm o direito de acesso à

informação ou dados de saúde registados no seu processo clínico.

123. Ademais, tal direito aparece consagrado no ordenamento jurídico nacional em

diplomas legais, como sejam a Lei de Bases de Saúde (Lei n.º 48/90, de 24 de agosto),

a Lei de Proteção de Dados Pessoais (Lei n.º 67/98, de 26 de outubro – LPDP), e a Lei

sobre a Informação Genética Pessoal e Informação de Saúde (Lei n.º 12/2005, de 26

de janeiro) e a Lei de Acesso aos Documentos Administrativos (Lei n.º 46/2007, de 24

de agosto - LADA);

124. Neste quadro legal, incumbe aos estabelecimentos prestadores de cuidados de

saúde o dever de criar, manter, atualizar e conservar em arquivo ficheiros adequados

relativos aos processos clínicos dos seus doentes.

29 Mod.016_01

125. Refira-se, ademais, que, embora o processo clínico seja propriedade do doente, são

os estabelecimentos de saúde os depositários da informação e, portanto, aqueles que

têm os processo clínicos dos utentes à sua guarda –cfr. n.º 1 do artigo 3.º da Lei n.º

12/2005.

126. Assim, de acordo com a definição da Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro, o processo

clínico é propriedade exclusiva do próprio utente, uma vez que contém informação

sobre o próprio, a qual, ademais, se integra no conceito de intimidade da vida privada.

127. Cabendo, então, ao profissional médico que tenha assistido o utente, ou a outro

profissional de saúde sob a supervisão daquele, o dever de proceder à referida

documentação ou registo da informação médica (e que pode incluir dados sobre

consultas, tratamentos, exames ou diagnósticos a que os utentes foram sujeitos).

128. Importa, assim, determinar o que se deve entender por dados de saúde, informação

de saúde e processo clínico.

129. O conceito de dados de saúde deve-se integrar naquele conceito mais amplo

relativo aos dados pessoais que são definidos pela Lei n.º 67/98 (LPDP) como “[…]

qualquer informação, de qualquer natureza e independentemente do respectivo

suporte, incluindo som e imagem, relativa a uma pessoa singular identificada ou

identificável («titular dos dados»)”, sendo pessoa identificável aquela “[…] que possa

ser identificada directa ou indirectamente, designadamente por referência a um número

de identificação ou a um ou mais elementos específicos da sua identidade física,

fisiológica, psíquica, económica, cultural ou social” (artigo 3º al. a) da LPDP).

130. De acordo com esta definição, podem ser considerados dados pessoais, entre

muitos outros, o nome, a morada, o número da segurança social, o número de

contribuinte, o número do bilhete de identidade, a sua história clínica, entre outros.

131. Por seu lado, a Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro, optou por utilizar o conceito de

informação de saúde “[…] como todo o tipo de informação directa e indirectamente

ligada à saúde, presente ou futura, de uma pessoa, quer se encontre com vida ou

tenha falecido, e a sua história clínica e familiar.” (artigo 2.º).

132. De acordo com o disposto no n.º 1 do artigo 3.º do referido diploma legal, a

informação de saúde inclui “[…] os dados clínicos registados, resultados de análises, e

outros exames subsidiários, intervenções e diagnósticos.”.

133. Já o artigo 5.º da Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro, para além de referir que a

informação médica “[…] é a informação de saúde destinada a ser utilizada em

prestações de cuidados ou tratamentos de saúde”, estabelece o conceito de processo

30 Mod.016_01

clínico como “qualquer registo, informatizado ou não, que contenha informação de

saúde sobre doentes ou seus familiares” e que deve conter toda a informação médica

disponível que diga respeito à pessoa .

134. Assim, o processo clínico relativo a um determinado utente/doente deve conter

informação suficiente sobre a sua identificação, bem como sobre todos os factos

relacionados com a sua saúde, incluindo a sua situação atual, evolução futura e

história clínica e familiar, e ainda com os factos relacionados com os cuidados de

saúde que lhe tenham sido prestados e que lhe venham a ser prestados no

estabelecimento de saúde em que o processo clínico se encontra depositado;

135. E que permita, em caso de transferência do utente, seja por sua vontade ou em

resultado das regras internas da organização do SNS, para uma outra unidade

hospitalar, a continuidade de prestação dos cuidados de saúde, em respeito dos

princípios supra referidos;

136. Ou seja, a prestação dos cuidados de saúde adequados à sua situação, em tempo

útil, onde quer que os utentes vivam e ainda atendendo à sua condição económica.

137. E note-se que, entre os elementos que integram o processo clínico, encontram-se a

memória de anamnese (entrevista prévia ao paciente), o registo da admissão (e o

estado de saúde do doente nesse momento), o diagnóstico e os tratamentos utilizados

(incluindo os resultados dos exames e das análises), os fármacos, produtos e outros

materiais utilizados (e respetiva dosagem, lote, marca e outros elementos relevantes),

a evolução do seu estado de saúde, informação prestada ao doente sobre o seu

estado de saúde, eventuais correspondências entre profissionais (ou mesmo a

mudança de profissionais que se encontrem a cuidar dos doentes), a transferência dos

utentes de serviços, o prognóstico, o registo de alta dos doentes, e ainda os custos e a

faturação subjacente a todos os actos incluídos na prestação de cuidados de saúde.

138. Sendo que o utente, enquanto titular da informação, “[…] tem o direito de, querendo,

tomar conhecimento de todo o processo clínico que lhe diga respeito, salvo

circunstâncias excepcionais devidamente justificadas e em que seja inequivocamente

demonstrado que isso lhe possa ser prejudicial, ou de o fazer comunicar a quem seja

por sindicado.” (n.º 2 do artigo 3.º da Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro).

139. Ainda que, de acordo com o n.º 3 do artigo 3.º da referida Lei, se considere a

necessidade de o “[…] acesso à informação de saúde por parte do titular, ou de

terceiros com o seu consentimento, [ser] feito através de médico, com habilitação

própria, escolhido pelo titular da informação”.

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140. No que se refere ao acesso aos dados de saúde contidos em processo clínico,

importa acrescentar que, no caso de o estabelecimento prestador de cuidados de

saúde pertencer ao sector público, como sucede com o CHLN, é-lhe aplicável não o

disposto na referida Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro, mas sim o disposto na Lei n.º

46/2007, de 24 de agosto.

141. Nos termos do disposto em tal diploma legal, “Todos, sem necessidade de enunciar

qualquer interesse, têm direito de acesso aos documentos administrativos, o qual

compreende os direitos de consulta, de reprodução e de informação sobre a sua

existência e conteúdo.”;

142. Sendo que “A comunicação de dados de saúde é feita por intermédio de médico se

o requerente o solicitar” – cfr. artigos 5.º e 7.º da Lei n.º 46/2007, de 24 de agosto;

143. Ou seja, o titular do processo clínico pode aceder diretamente ao mesmo, sem

necessidade de ser invocado qualquer interesse.

144. Decorre do aludido supra que se afigura inquestionável o direito de acesso à

informação contida no processo clínico.

145. Bem como o direito do utente a que seja garantida a sua transferência para o

prestador a que venha a recorrer, o que, a não ser efetivado, pode consubstanciar

igualmente uma limitação no seu direito de acesso aos cuidados de saúde.

III.3. Análise da situação concreta

146. Conforme acima se expôs, atenta a denúncia apresentada pelo utente, as questões

que importa analisar no âmbito dos presentes autos são as seguintes:

(i) Cumprimento, em matéria de acesso a assistência médica ou cuidados de

saúde no estrangeiro ou transfronteiriços, de todos os procedimentos

impostos pela legislação em vigor quer à data dos factos, quer no momento

atual;

(ii) Garantia e efetivação, no caso e em geral, do direito à informação da utente

e dos pais em toda a sua extensão e amplitude, nomeadamente, no que se

refere à existência de meios adequados e suficientes, no HSM, de

publicitação e divulgação junto dos utentes do modo como aceder à

prestação de cuidados no estrangeiro, à data dos factos e actualmente, nos

termos da lei em vigor;

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(iii) Saber se o adiamento sucessivo de consultas à utente colocou em causa,

no caso concreto, a garantia do direito da utente a receber, com prontidão

ou num período tempo considerado clinicamente aceitável, os cuidados de

saúde de que necessitava, através de meios adequados, humanamente e

com prontidão, correção técnica, privacidade e respeito.

(iv) Saber se a estimativa temporal prevista pelo médico para a realização da

cirurgia respeitou as regras do SIGIC e dos TMRG aplicáveis à data dos

factos;

(v) Garantia do direito da utente de acesso ao seu processo clínico e de

aceitação e efetivação da transferência do mesmo para outra unidade

hospitalar, de acordo com a sua solicitação.

147. Neste contexto, a análise da situação concreta será efectuada tendo em

consideração cada uma destas questões.

III.3.1 Do cumprimento do iter procedimental previsto no Decreto-Lei n.º 177/92, de

13 de agosto

148. Relativamente ao cumprimento de todos os procedimentos em matéria de acesso

assistência médica ou cuidados de saúde no estrangeiro ou transfronteiriços, importa

fixar, em primeiro lugar, a lei aplicável à data dos factos.

149. No caso, estão em causa dois requerimentos de assistência médica no estrangeiro

dirigidos ao HSM: o primeiro, em 2 de maio de 2013 (…); e o segundo, em 17 de março

de 2014 (..).

150. Tendo sido os dois requerimentos apresentados em 2 de maio de 2013 e 17 de

março de 2014, respetivamente, a lei aplicável à data dos factos é o Decreto-Lei n.º

177/92, de 13 de Agosto, posto que a Lei n.º 52/2014 foi publicada em Diário da

República em 25 de Agosto só entrou em vigor no dia 1 de Setembro de 2014.

151. Termos em que é à luz do Decreto-Lei 177/92 que se deverá aferir do cumprimento

ou incumprimento, pelo HSM, dos procedimentos e requisitos legais aí vertidos em

relação ao caso concreto da utente M.

152. Sem prejuízo de se levar em linha de conta, como já supra aludido, as circulares e

orientações da DGS (nomeadamente, a Orientação n.º 003/2010, de 29 de setembro

33 Mod.016_01

de 2010, da DGS, a qual é, alias, expressamente citada pelo CHLN em resposta à

ERS);

153. Bem como, ainda que mais a latere, a Directiva 2011/24/UE, de 9 de Março de

2011, a qual, pese embora ainda não transposta à data dos factos, constituía, já então,

um parâmetro de atuação para as entidades públicas, como é o caso do CHLN.

154. Para o pagamento das despesas afectas à assistência médica no estrangeiro, o

artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 177/92 estabelecia como requisitos:

“a) A existência de um relatório médico hospitalar favorável, a elaborar

circunstanciadamente pelo médico que tenha acompanhado a assistência ao

doente, confirmado pelo respectivo director de serviço;

b) A confirmação de tal relatório por parte do director clínico da unidade hospitalar

onde o doente foi assistido;

c) A decisão favorável do director-geral dos Hospital [actual Direcção-Geral da

Saúde], mediante parecer da assessoria técnica”.

155. É com base nestes requisitos que o atual Diretor-Geral da Saúde exercia a

competência, que a lei lhe atribuía, de decisão dos processos de assistência médica no

estrangeiro (artigo 4.º, Decreto-Lei n.º 177/92).

156. Segundo a Orientação da DGS n.º 003/2010:

“[…]

O requerimento de emissão do Documento Portátil S2 pode ser solicitado por

iniciativa do utente do Serviço Nacional de Saúde, deve ser formalizado através de

impresso (…).

(…) O impresso para requerer o Documento Portátil S2 pode ser solicitado pelo

utente do Serviço Nacional de Saúde no serviço de atendimento ao público das

unidades prestadoras de cuidados de saúde (…).

(…) O pedido de emissão do Documento Portátil S2 deve ser requerido pelo utente

no hospital integrado onde ande a ser observado, em investigação clínica ou em

tratamento, que, depois de devidamente instruído, deve ser reencaminhado para a

respectiva Administração Regional de Saúde.

(…) O pedido do Documento Portátil S2, para além de ser instruído com os

elementos essenciais de identificação do utente do Serviço Nacional de Saúde,

deve ser instruído com relatório clínico emitido pelo médico hospitalar responsável

pela consulta de atendimento do utente, validado pelo Director Clínico (…).

34 Mod.016_01

[…]”

157. Em 2 de maio de 2013, os pais da utente dirigiram requerimento ao HSM com

assunto “Requerimento de documento portátil S2” (…).

158. Pese embora a designação do assunto, o que, em rigor, os pais solicitavam era o

relatório médico favorável a que fazem alusão o artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 177/92 e a

Orientação da DGS n.º 003/2010, a anexar ao referido requerimento de Documento

Portátil S2.

159. De facto, como consta da própria minuta do Documento Portátil S2:

“[…]

“NB: Por cada requerimento de Documento portátil S2 ou Formulário E112, deverá

o utente do Serviço Nacional de Saúde apresentar relatório médico emitido pelo

médico assistente, com expressa indicação do diagnóstico da doença (confirmado

ou provável), comprovando a impossibilidade da realização do tratamento em

Portugal, num prazo clinicamente seguro. O relatório clínico deve ser junto ao

presente pedido de emissão do Documento Portátil S2 (…)”.

160. Nos termos da al. a) do artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 177/92, tal relatório deve ser

elaborado “pelo médico que tenha acompanhado a assistência ao doente” e

“confirmado pelo respectivo director de serviço”.

161. E, ainda, confirmado novamente, de acordo com a alínea b) do artigo 2.º do

Decreto-Lei n.º 177/92, pelo “diretor clínico da unidade hospitalar onde o doente foi

assistido”.

162. Cabendo a decisão final sempre ao Diretor-Geral da Saúde, de harmonia com o

disposto no n.º1 do artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 177/92.

163. A resposta, de sentido negativo/desfavorável, ao pedido de elaboração de relatório

médico foi elaborada, em 9 de maio de 2013, pelo médico que assistiu a utente, Dr. J.

164. Sendo expressamente confirmada pelo Diretor do Serviço de Neurocirurgia, Prof.

Doutor JL., em 13 de maio de 2013.

165. Vindo, ainda, a ser igualmente confirmada pela Diretora Clínica, Dr.ª MM., em 17 de

maio de 2013.

166. Sendo, porém, a resposta final enviada aos pais da utente somente no dia 17 de

junho de 2013.

167. Injustificadamente, entre 17 de maio de 2013 (data da confirmação do relatório pela

Diretora Clínica) e 17 de junho de 2013 (data do envio da resposta aos pais da utente),

35 Mod.016_01

decorreu um mês sem que os pais da utente tivessem sido informados do sentido da

decisão.

168. O que vai contra os critérios da eficiência, economicidade e celeridade que

enformam o princípio da boa administração (art. 5.º, CPA) e da colaboração com os

particulares (art. 13.º, CPA).

169. Indo contra, mais a mais, o prazo geral de resposta de Administração de 10 dias

úteis, na ausência de norma especial.

170. Em face do exposto, desde já se mostra violado o prazo legal de resposta ao

requerimento da utente por parte do HSM.

171. Não fazendo parte do conjunto de competências inscrito no Estatutos da ERS a

avaliação clínica dos cuidados de saúde prestados aos utentes, nomeadamente, e para

o que aqui interessa, a avaliação dos fundamentos clínicos para a decisão

(desfavorável) sobre os requerimentos apresentado pelos pais da utente,

172. Urge, no entanto, analisar do cumprimento dos trâmites e formalidades exigidos, à

data dos factos, pelo Decreto-Lei n.º 177/92.

173. Ora, do disposto no n.º1 do artigo 4.º, do Decreto-Lei n.º 177/92 resultava que “É da

competência do director-geral dos Hospitais [atual Diretor-Geral da Saúde] a decisão

dos processos de assistência médica no estrangeiro que lhe sejam submetidos pelos

interessados, atentos os requisitos previstos no art. 2.º”.

174. Por sua vez, a Orientação n.º 003/2010, de 29-09-2010, da DGS, previa o seguinte:

“[…]

O pedido de emissão do Documento Portátil S2 deve ser requerido pela utente no

hospital (…), que, depois de devidamente instruído, deve ser reencaminhado para a

respectiva Administração Regional de Saúde.

(…) Compete à Administração Regional de Saúde certificar na rede hospitalar d

Serviço Nacional de Saúde da sua área de abrangência, se existe capacidade

instalada para prestar os cuidados de saúde requeridos pelo utente. Caso não exista

capacidade de resposta, o pedido de emissão do Documento Portáril S2 deve ser

remetido para apreciação e decisão da Direcção-Geral da Saúde.

(…) Compete ao hospital que recepcionou o pedido de emissão do Documento

Portátil S2 comunicar ao utente a emissão favorável ou não do referido documento

decidida pela Direcção-Geral da Saúde.

36 Mod.016_01

[…]”.

175. No caso concreto, não se verificou, porém, o reencaminhamento, pelo HSM, do

pedido de emissão do Documento Portátil S2 para a ARS competente.

176. E também em nenhum momento o Diretor-Geral da Saúde exerceu a sua

competência decisória, tal qual a mesma lhe era outorgada pelo artigo 4.º do Decreto-

Lei n.º 177/92.

177. Ora, como decorre do Decreto-Lei n.º 177/92 e da Orientação DGS n.º 003/2010, o

reencaminhamento do pedido de emissão do Documento portátil S2 para a ARS e a

ulterior decisão do mesmo pelo Diretor-Geral da Saúde deveriam ter ocorrido, mesmo

que, em momento prévio, o relatório clínico tivesse sido de sentido desfavorável.

178. Resulta, assim, que o procedimento permaneceu sempre dentro da esfera exclusiva

do CHLN-HSM, não tendo sido cumpridos os trâmites procedimentais previstos na lei e

seguidos na prática administrativa (conforme Orientação DGS n.º 003/2010).

179. De facto, o prestador, em nenhum momento ou por qualquer meio, remeteu a

decisão e/ou respetivos elementos documentais instrutórios para a Direcção-Geral da

Saúde, com vista a permitir a esta última a emissão de uma decisão definitiva in casu.

180. Não permitindo, assim, aos interessados, caso assim o entendessem, o exercício do

direito à impugnação administrativa e/ou judicial nos termos do Decreto-Lei n.º 177/92,

do CPA e do Código de Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA)

181. Assim, e em resumo, decorre dos autos que, não obstante a existência de um

relatório médico não favorável à assistência médica no estrangeiro,

182. Certo é que tal relatório médico nunca foi comunicado à Direcção-Geral da Saúde, à

qual competia a decisão final, nos termos do n.º 1 do artigo 4.º do Decreto-Lei n.º

177/92, de 13 de Agosto; sem que, por isso,

183. Aos interessados fosse permitido que se pronunciassem previamente, em sede de

audiência prévia, tal como consignado nos artigos 121.º e ss., todos do CPA.

184. Nem que pudessem exercer, formal e devidamente, o direito de impugnação

administrativa e/ou judicial da sobredita decisão.

185. O CHLN, ao atuar como atuou, cerceou ao utente o seu direito a uma decisão

definitiva em sede do procedimento administrativo emitida pela entidade competente,

tal como definido pelo Decreto-Lei n.º 177/92, de 13 de Agosto;

186. Com efeito, e sem que aqui se cuide do entendimento clínico assumido pelos

profissionais de saúde quanto à situação clínica da utente, esta teria sempre direito a

37 Mod.016_01

uma decisão administrativa proferida nos termos da legislação em vigor, ou seja, pelo

Director-Geral da Saúde.

187. Decisão a qual, ainda que concordante (ou não) com o relatório médico hospitalar,

deveria, ela própria, ser fundamentada.

188. Assim como deveria ser passível, ela mesma, de impugnação administrativa para o

Ministro da Saúde nos termos do disposto no n.º 5 do artigo 4.ºdo Decreto-Lei n.º

177/92 ou de impugnação judicial nos termos gerais.

189. Termos em que a conduta do CHLN reduziu, outrossim, as garantias impugnatórias

(graciosas e judiciais) da utente.

190. Concluiu-se, pois, que o CHLN avocou a si próprio, indevidamente e sem arrimo na

lei, uma atribuição que não lhe pertencia mas que era da exclusiva competência da

Direcão-Geral da Saúde.

191. Em 15 de julho de 2013, a mãe da utente dirigiu novo requerimento, com assunto

“Recurso da decisão acerca do requerimento de documento portátil S2”, e nos termos

do qual solicitou “(…) a revisão do processo que iniciámos aquando o pedido do

documento portátil S2, em 2 de maio de 2013 (…)”,

192. Por carta de 2 de agosto de 2013, foi o recurso indeferido, com a transcrição, pela

Directora do HSM, Dr.ª M.C.P., da informação recebida da Direcção do Serviço de

Neurocirurgia, segundo a qual “Não vejo qualquer motivo para rever a nossa posição

nesta matéria. O pagamento dos cuidados prestados noutra Instituição abria um

precedente que levanta as maiores reservas éticas por clara violação do princípio da

equidade”.

193. Se, como descrito anteriormente, o direito a uma decisão definitiva da entidade

competente (Direção-Geral da Saúde) e o direito à impugnação administrativa e/ou

judicial da mesma já haviam sido cerceadas à utente,

194. Nem por ocasião deste Recurso da decisão acerca do requerimento de documento

portátil S2” apresentado pela reclamante o CHLN logrou dar cumprimento aos trâmites

procedimentais previstos na lei.

195. De facto, uma vez mais, o CHLN não reencaminhou o processo à Direção-Geral da

Saúde (tão-pouco ao Ministério da Saúde, entidade legalmente competente, segundo

n.º 5 do artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 177/92, para conhecer do recurso das decisões do

Diretor-Geral da Saúde), antes mantendo o mesmo sob a sua exclusiva órbita.

38 Mod.016_01

196. Impedindo, assim, através de uma conduta opaca e bloqueadora, que a reclamante

pudesse beneficiar das normais vias impugnatórias de qualquer decisão

administrativas.

197. Por outro lado, e novamente, foi desrespeitado o prazo legal de resposta de 10 dias

(úteis) pelo HSM.

198. Em 17 de março de 2014, os pais da utente dirigiram novo “Requerimento de

documento portátil S2” ao Director do Serviço de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva do

HSM, solicitando relatório médico favorável para a prestação de cuidados de saúde no

estrangeiro (…).

199. Por carta de 10-04-2014, a Directora de Serviços, Dr.ª M.C.P., e ”Em resposta ao

pedido apresentado (…) no passado dia 17 de Março (…)”, transcreveu a informação

recebida da Direcção do Serviço de Cirurgia Plástica, com base na qual o pedido é

rejeitado.

200. Concretamente, resulta dessa informação o seguinte:

“[…]

Não sou indiferente à gravidade da situação, nomeadamente até em termos

económicos, pelo que tendo sido explicado detalhadamente aos pais a

possibilidade segura de aquela ser tratada em Portugal, apenas posso referir ter

sido uma opção dos pais.

Após ter contactado o cirurgião plástico Prof. J.P.G. responsável pela área de

Craneofacial e após análise direi que por razões óbvias não podemos assumir a

responsabilidade dos pais, não havendo lugar a relatório já que a paciente deixou

de vir à nossa consulta.

[...]”.

201. Neste segundo requerimento apresentado pela utente, verificou-se, uma vez mais,

ainda que tacitamente, a emissão de relatório médico desfavorável.

202. O primeiro a aspeto a salientar é, uma vez mais, o facto de a resposta do HSM ao

requerimento da reclamante desrespeitar o prazo legal de 10 dias (úteis).

203. Forçoso sendo de concluir, portanto, pela prática consistente e reiterada do HSM de

violação do prazo legal de resposta nas três respostas aos três requerimentos

apresentados pela reclamante.

204. Por outro lado, note-se que, na resposta a este segundo requerimento, as

formalidades exigidas pelas alíneas a) e b) do art. 4.º do Decreto-Lei n.º 177/92 – e que

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foram corretamente seguidas (pelo menos estas) no âmbito do primeiro requerimento

apresentado – não foram cumpridas.

205. De facto, em vez de ter sido emitido relatório por médico que acompanha a utente,

acompanhado das confirmações do mesmo pelo diretor de serviço e pelo diretor

clínico, foi apenas enviada aos pais da utente uma resposta de conteúdo vago e

genérico e desprovida de fundamentação clínica (sem prejuízo da mesma não ser

objeto de apreciação da ERS).

206. Acresce que, na referida resposta emitida pela Direção do Serviço de Cirurgia

Plástica, não consta sequer menção ou assinatura da pessoa que a elaborou.

207. Assim, constata-se que não foram, neste caso, cumpridos os trâmites das alíneas a)

e b) do art. 2.º do Decreto-Lei n.º 177/92, porquanto não foi elaborado um relatório

médico pelo médico que acompanha a utente, nem foi o mesmo confirmado pelo

diretor de serviço e pelo diretor clínico.

208. Tendo-se o prestador limitado a transcrever a informação (um parágrafo, três

linhas), vaga e genérica, recebida da Direção do Serviço de Cirurgia Plástica, sem

qualquer relatório clínico ou outro documento anexo.

209. Mais importante, porém, é que novamente se verifica que, também em sede deste

segundo requerimento apresentado, o CHLN chamou a si competências de que não

era titular, mantendo o processo na sua órbita e sobre ele emitindo uma decisão

definitiva.

210. Em vez de o remeter, como a lei impunha, à Direção-Geral da Saúde, esta sim, a

entidade legalmente competente para decidir.

211. O que significa que, por uma segunda vez, a utente viu cerceado o seu direito a uma

decisão administrativa proferida pela entidade legalmente competente, bem como o

seu direito às vias impugnatórias que legal e constitucionalmente lhe assistem.

III.3.2. Garantia e efetivação, in casu, do direito à informação

212. Importa aferir, neste passo, se, à data dos factos e à data de hoje, os meios de

publicitação relativamente aos cuidados de saúde no estrangeiro a que os utentes

podem receber se revelavam/revelam adequados e suficientes.

213. Recorde-se que, instado pela ERS a prestar informação sobre os protocolos e

demais procedimentos internos então em vigor especificamente no que se refere ao

tratamento de pedidos de autorização prévia apresentados ao abrigo da Lei n.º 177/92,

40 Mod.016_01

o prestador remeteu em 12 de agosto de 2015, para o Regulamento interno da

Assistência Médica no Estrangeiro, que juntou em anexo.

214. A este propósito, a primeira observação que cumpre fazer é a de que o referido

Regulamento data de 5 de Abril de 2000.

215. Significa isto duas coisas:

216. Por um lado, que o citado Regulamento não sofreu qualquer alteração por ocasião

da aprovação da Diretiva 2011/24/UE do Parlamento Europeu e do Conselho de 9 de

Março de 2011, relativa ao exercício dos direitos dos doentes em matéria de cuidados

de saúde transfronteiriços;

217. Por outro, e mais grave, que nenhuma alteração foi igualmente introduzida com a

entrada em vigor da Lei n.º 52/2014 e da Portaria n.º 191/2014, de 25 de Setembro, as

quais impuseram todo um novo quadro normativo no que respeita ao acesso a

cuidados de saúde transfronteiriços.

218. Quanto ao mencionado na alínea a), se é certo que as Diretivas europeias não são

diretamente aplicáveis na ordem jurídica interna e carecem de transposição pelo

legislador nacional, certo é também, todavia, que, sendo do conhecimento do prestador

a aprovação da referida Diretiva em 9 de Março de 2011,

219. Poderia e deveria o mesmo ter atualizado e adequado, ao menos em parte, os seus

procedimentos à normação vertida na Diretiva 2011/24/UE.

220. Todavia, não só o prestador assim não diligenciou,

221. Como, mais gravosamente, não o fez igualmente até à presente data, e isto já

depois da entrada em vigor da Lei n.º 52/2014, em 1 de setembro de 2014, e da

Portaria n.º 191/2014, de 25 de Setembro.

222. Concluindo, e de acordo com a informação e documentação junta pelo prestador, à

data de hoje (2015), o predito Regulamento da Assistência Médica no Estrangeiro, que

data de 5 de Abril de 2000, continua a vigorar, não tendo sido revogado/alterado/revisto

em função da entrada em vigor da Lei n.º 52/2014.

223. O que, necessariamente, deveria ter sido – e deve ser – feito pelo CHLN-HSM.

224. Por outro lado, relativamente aos meios existentes, no HSM, de disponibilização de

informação aos utentes acerca da possibilidade de acederem à prestação de cuidados

de saúde no estrangeiro, quer à data dos factos, quer à data de hoje, o prestador

informou o seguinte:

“[…]

41 Mod.016_01

O Setor de Assistência Médica no Estrangeiro do Centro Hospitalar Lisboa Norte,

que integra a Unidade de Gestão Clínica do Serviço de Gestão Hospitalar, dá apoio

a todos os Serviços do CHLN.

(…) Acrescente-se ainda a informação disponibilizada em formação específica para

o efeito por parte da ACSS (Formação ACSS: Diretiva nº 2011/24/EU – Cuidados de

Saúde Transfronteiriços).

(…) a informação [aos utentes] é dado de modo personalizado e por funcionário

especializado da Unidade de Gestão Clínica, mais especificamente do Setor de

Assistência Médica no Estrangeiro, sendo o utente encaminhado pelos diversos

serviços clínicos.

[…]”.

225. Consultado o sítio do CHLN, verifica-se que o Setor de Assistência Médica no

Estrangeiro possui contactos, instalações e horários próprios.

226. No entanto, justifica-se que, de modo a assegurar que os utentes tenham pleno

acesso e conhecimento da existência de tal Setor e de tal possibilidade de recorrer a

cuidados de saúde no estrangeiro nos termos da Lei n.º 52/2014, haja uma maior

divulgação e publicitação nas próprias instalações do hospital, nomeadamente, através

de cartazes e outros meios informativos (em papel ou em suporte audiovisual).

227. Desse modo se assegurando aos utentes a prestação de informação adequada e

suficiente quanto os procedimentos inerentes ao regime do acesso a cuidados de

saúde transfronteiriços.

228. Por outro lado, subsistem dúvidas quanto ao grau de conhecimento atualizado dos

funcionários relativamente ao novo quadro normativo imposto pela Lei n.º 52/2014 e,

consequentemente, quanto ao grau de atualização da informação prestada aos

utentes.

III.3.3. Do adiamento das consultas de especialidade de Cirurgia Plástica no HSM

229. Questão diferente prende-se com o alegado adiamento consecutivo de consultas da

especialidade.

230. Sucede que, entre os anos de 2010 e 2014, foram registados 7 (sete) adiamentos

sucessivos de consulta à utente, na especialidade de Cirurgia Plástica.

231. Mais concretamente, e segundo os pais da utente, os adiamentos processaram-se,

cronologicamente, nos seguintes termos:

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i) A consulta de 29-06-2010 (11h15) foi adiada para 19-10-2010 (10h55);

ii) A consulta de 19-10-2010 foi adiada para 18-10-2011 (10.30h);

iii) A consulta de 18-10-2011 foi adiada para 27-12-2011 (9h30);

iv) A consulta de 27-12-2011 foi adiada para 31-01-2012 (10h10);

v) consulta de 31-01-2012 foi adiada para 29-05-2012 (10h10);

vi) consulta de 29-05-2012 foi adiada para 26-11-2012 (8h40).

232. Instada a confirmar os referidos adiamentos pela ERS, o prestador, por ofício de 12

de agosto de 2015, reconheceu os mesmos, apenas mencionando uma divergência

quanto à consulta de 19 de outubro de 2010, que indica ter sido efetivamente realizada,

ao passo que a Mãe da utente alega ter sido remarcada para dia 18 de outubro de

2011.

233. Sobre os motivos para tais adiamentos, o prestador informou, em 6 de agosto de

2014, que “Os adiamentos das consultas da especialidade de Cirurgia Plástica

deveram-se à marcada redução dos recursos humanos do Serviço de Cirurgia Plástica

e Reconstrutiva Maxilo Facial nestes últimos anos”.

234. Por sua vez, o médico Dr. J., reiterando expressamente a falta de recursos humanos

acima mencionada, aduziu, como motivo para os sucessivos adiamentos, o “carácter

descontínuo da [sua] relação contratual com o HSM na altura a que se referem os

factos”.

235. Relativamente à consulta de 26 de novembro de 2012, foi efetuado, pela mãe da

utente, um pedido de remarcação da mesma, por indisponibilidade da própria.

236. Tendo a remarcação sido feita, pelo HSM, para 27 de outubro de 2014, entretanto

antecipada em 4 dias, para 23 de outubro de 2014.

237. Note-se que, neste caso em concreto, está em causa um adiamento de quase 2

(dois) anos.

238. Em termos globais, verifica-se, que, entre o agendamento da primeira consulta (29-

06-2010) de Cirurgia Plástica e o agendamento da última (consulta de 23-10-2014),

decorreram mais de 4 (quatro) anos, sendo que, durante esse período, apenas um dos

adiamentos (adiamento de 26 de outubro de 2011) se deveu a impossibilidade da

utente.

43 Mod.016_01

239. Com a agravante, reitere-se, de, tendo sido solicitada, pela utente, a remarcação da

consulta de 26 de novembro de 2012, esta ter sido remarcada para quase 2 (dois) anos

depois, em 27 de outubro de 2014.

240. Ora, não é razoável nem admissível que a carência de recursos humanos (ainda

menos o caráter mais ou menos contínuo de um profissional médico em concreto, o Dr.

J.), ainda que significativa, se possa traduzir num adiamento sucessivo de consultas de

Cirurgia Plástica à utente durante um período de mais de 4 anos.

241. Até porque, se essa carência era real e foi efetivamente detetada, deveria ter sido,

ao menos em algum momento durante esses 4 anos, resolvida ou atenuada

devidamente.

242. O que, tudo indica, não sucedeu.

243. Embora, nos termos da lei, os TMRG apenas sejam aplicáveis às consultas de

primeira consulta de especialidade, e não às consultas de

acompanhamento/seguimento, o certo é que, mesmo quanto a estas últimas, o

agendamento deve, em qualquer caso, ser efectuado em tempo razoável e adequado,

desde logo em função da concreta situação clínica da utente.

244. De facto, e como resulta expressamente do n.º 1 do artigo 4.º da Lei n.º 15/2014, de

21 de março11, referente à adequação da prestação dos cuidados de saúde, “O utente

dos serviços de saúde tem direito a receber, com prontidão ou num período tempo

considerado clinicamente aceitável, consoante os casos, os cuidados de saúde de que

necessita”.

245. A este respeito encontra-se reconhecido na LBS, mais concretamente na sua alínea

c) da Base XIV, o direito dos utentes a serem “(…) tratados pelos meios adequados,

humanamente e com prontidão, correcção técnica, privacidade e respeito”.

246. Quanto ao direito do utente ser tratado com prontidão, o mesmo encontra-se

directamente relacionado com o respeito pelo tempo do paciente12, segundo o qual

deve ser garantido o direito do utente a receber o tratamento necessário dentro de um

rápido e predeterminado período de tempo, em todas as fases do tratamento.

247. Aliás, o Comité Económico e Social Europeu (CESE), no seu Parecer sobre “Os

direitos do paciente”, refere que o “reconhecimento do tempo dedicado à consulta, à

escuta da pessoa e à explicação do diagnóstico e do tratamento, tanto no quadro da

11

Lei consolidando a legislação em matéria de direitos e deveres do utente dos serviços de saúde.

12 Vd. o ponto 7. da “Carta Europeia dos Direitos dos Utentes”.

44 Mod.016_01

medicina praticada fora como dentro dos hospitais, faz parte do respeito das pessoas

[sendo que esse] investimento em tempo permite reforçar a aliança terapêutica e

ganhar tempo para outros fins [até porque] prestar cuidados também é dedicar tempo”.

248. Atento o hiato, de mais de 4 (quarto anos), entre o agendamento da consulta de 29

de junho de 2010 e agendamento da última (consulta de 23-10-2014), resulta não ter

sido respeitada a necessidade, exigida pelo legislador, de adequação da prestação dos

cuidados de saúde em tempo razoável e adequado.

249. Por outro lado, mesmo após o pedido de remarcação da consulta de 26 de

novembro de 2012, feito pela utente por sua própria indisponibilidade, não se afigura

igualmente razoável nem adequado que a remarcação tenha sido feita para quase 2

(dois) anos depois, desde logo tendo em conta, novamente, a concreta situação clínica

da utente.

250. Também daqui resultando não ter sido respeitada a adequação da prestação dos

cuidados de saúde em tempo razoável e adequado, contra aquilo que impõe a

legislação em vigor.

251. Em suma, não só se encontrava na disponibilidade do HSM prover por uma

prestação integrada de cuidados de saúde de forma atempada.

252. Como também lhe cabia, atenta a sua qualidade de hospital integrado na Rede

Nacional de Prestação de Cuidados de Saúde, informar a utente e dotá-la do

conhecimento necessário quanto às alternativas existentes, no quadro do SNS, para

acompanhamento e correto encaminhamento da sua situação clínica.

253. Não tendo sido, por isso, acautelados os legítimos interesses da utente, uma vez

que não foi prestada a assistência em tempo razoável e adequado.

III.3.4. Da inscrição da utente na Lista de Inscritos para Cirurgia

254. Já quanto à inscrição da utente em LIC, refira-se que a utente foi inscrita na Lista de

Inscritos para Cirurgia no âmbito do SIGIC em 27 de março de 2013, tendo a mesma

sido cancelada em 23 de abril de 2013, em virtude de os pais da utente terem optado

pelo tratamento em França.

255. Conforme resposta, em 9 de Maio de 2013, do Chefe de Serviço de Neurocirurgia,

Dr. J. (em resposta ao “Requerimento de documento portátil S2” apresentado em 2 de

maio de 2013):

“[…]

45 Mod.016_01

(…) tendo a criança sido inscrita na lista de espera para cirurgias (SIGIC) no dia 27-

3-2013 (…). Não foi possível na altura especificar uma data concreta para a cirurgia,

porque, como foi explicado à mãe, as nossas marcações são contingentes a

múltiplos fatores, nomeadamente a urgência dos casos com que diariamente somos

confrontados, mas foi dito que a sua realização seria certamente possível no prazo

de um a dois meses, bastante antes da data que foi, depois, programada em França

(19-6-2013). Penso que esse prazo poderia ter sido cumprido, não fora a alteração

da decisão dos pais [em prosseguir com o tratamento em França].

[…]”.

256. Talqualmente resulta da cópia da Proposta Cirúrgica em causa, a cirurgia possuía

Prioridade Normal.

257. Como tal, e de acordo com o Anexo n.º I da Portaria n.º 1529/2008, de 26 de

dezembro, aplicável à data dos factos13, o Tempo Máximo de Resposta Garantido

(TMRG) para a cirurgia era de 270 dias (9 meses).

258. Termos em que a estimativa do médico de um ou dois meses para a realização da

cirurgia estava “dentro” do prazo máximo definido pela lei, nenhuma irregularidade

havendo, portanto, a registar neste capítulo.

259. Por conseguinte, não se pode afirmar que a opção dos pais da utente pelo

tratamento em França se deveu à demora excessiva – por exemplo, por se encontrar

em “lista de espera” – da realização da cirurgia em hospital português.

III.3.5. Do acesso ao processo clínico

260. Por último, quanto ao acesso ao processo clínico e sua transferência para outra

unidade hospitalar, recorde-se que, em 22 de outubro de 2013, os pais da utente

dirigiram um requerimento ao CHLN-HSM, com assunto “Pedido de transferência de

processo clínico”, do qual constava o seguinte:

“Vimos por este meio solicitar que o processo clínico da consulta de Neurocirurgia

relativo à nossa filha M. (DN 6/9/2000) seja transferido para o Hospital Pediátrico de

Coimbra, por motivo de proximidade de residência (vivemos em Viseu).

Aproveitamos para agradecer todo o empenho e dedicação que a equipa liderada

pelo Exmo Sr Dr M. teve ao longo destes anos para com a nossa filha.

13

Entretanto revogada pela Portaria n.º 87/2015, de 23 de março.

46 Mod.016_01

[…].

261. Em 16 de abril de 2014, em requerimento dirigido ao Diretor de Serviço de Cirurgia

Plástica do CHLN-HSM, e entre outros aspetos, os pais da utente voltam a pedir “(…)

encarecidamente a sua [do Diretor de Serviço] ajuda para transferência urgente do

processo da nossa filha do HSM para o HPCoimbra, por motivos financeiros e de

proximidade de residência”.

262. Em e-mail dirigido à ERS em 10 de setembro de 2014, os pais da utente referem,

entre outros aspetos, o seguinte:

“[…]

(…) aguardamos a transferência de neurocirurgia deste outubro de 2013 (…).

[…]”.

263. Verifica-se, portanto, que, tendo os pais da utente feito o primeiro pedido de

transferência de processo clínico de neurocirurgia em 22 de outubro de 2013, à data de

10 de setembro de 2014 (quase um ano depois), ainda não tinha sido prestada

qualquer resposta.

264. E, mais gravosamente, das informações prestadas pelo prestador decorre

igualmente que nenhuma resposta ou diligência foi adotado pelo mesmo no sentido de

dar seguimento ao solicitado pelos pais da utente.

265. O que o CHLN-HSM vem alegar, a este propósito, numa primeira fase, em 4 de

setembro de 2014, é o seguinte:

“[…]

Os pais da menor solicitaram em 22.10.2013 junto do Setor dos Relatórios Clínicos

deste centro hospitalar, «que o processo de Neurocirurgia relativo à nossa filha M.,

seja transferido para o Hospital Pediátrico de Coimbra, por proximidade de

residência (vivemos em Viseu).» (…) pedido esse que, inicialmente, foi tratado por

aquele sector como um pedido de acesso a dados clínicos (formulado ao abrigo da

Lei de Acesso a Documentos Administrativos) e encaminhado para o Serviço de

Neurocirurgia.

Refira-se, porém, que a eventual transferência da doente para outro hospital não

pressupunha nem obrigava a transferência do respectivo processo clínico o qual, em

cumprimento das regras legais em vigor sobre a matéria (designadamente do

«regulamento Arquivístico para os Hospitais» aprovado em anexo à Portaria nº

247/2000, de 8 de maio) deveria permanecer arquivado no CHLN.

47 Mod.016_01

Por outro lado, tal como referem os pais da doente na sua reclamação, esta já era

seguida no Hospital Pediátrico de Coimbra, pelo que não se justificava qualquer tipo

de encaminhamento por parte do CHLN, onde a doente entretanto deixou de

comparecer.

[…]”.

266. Posteriormente, e inquirido diretamente sobre esta questão pela ERS, veio o

prestador, em 10 de agosto de 2015, pronunciar-se nos seguintes termos (juntando

documentos comprovativos):

“[…]

Nos Registos do Setor de Relatórios Clínicos consta uma saída de informação

relativa a este pedido em 10.9.2014. Não existe cópia da informação disponibilizada

neste Setor.

O pedido de cópia do processo clínico de Neurocirurgia Pediátrica de M. foi

formalizado por requerimento datado de 25.9.2014. A cópia da documentação foi

remetida via CTT em 30.09.2014. O processo clínico de Oftalmologia foi solicitado

em 10.09.2014 e remetido em 16.09.2014.

[…]”.

267. A este respeito, importa recordar que, do quadro legal supra exposto nesta matéria,

decorre que impende sobre os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde o

dever de criar, manter, atualizar, e conservar em arquivo ficheiros adequados relativos

aos processos clínicos dos seus utentes.

268. Cabendo, designadamente, ao profissional médico que tenha assistido o utente, ou

a outro profissional de saúde sob a supervisão daquele, o dever de proceder à referida

documentação ou registo da informação médica (e que pode incluir dados sobre

consultas, tratamentos, exames ou diagnósticos a que os utentes foram sujeitos).

269. Assim, e sendo “(…) a informação de saúde destinada a ser utilizada em prestações

de cuidados ou tratamentos de saúde”;

270. O processo clínico relativo a um determinado utente/doente deve conter informação

suficiente sobre a sua identificação, bem como sobre todos os factos relacionados com

a sua saúde, incluindo a sua situação atual, evolução futura e história clínica e familiar,

e ainda com os factos relacionados com os cuidados de saúde que lhe tenham sido

prestados e que lhe venham a ser prestados no estabelecimento de saúde em que o

processo clínico se encontra depositado.

48 Mod.016_01

271. E que permita, em caso de transferência do utente, seja por sua vontade, ou em

resultado das regras internas da organização do SNS, para uma outra unidade

hospitalar, quer a veracidade e completude do seu processo clínico, quer a

continuidade de prestação dos cuidados de saúde, em respeito dos princípios supra

referidos.

272. Ou seja, a prestação dos cuidados de saúde adequados à sua situação, em tempo

útil, onde quer que os utentes vivam e ainda atendendo à sua condição económica.

273. Conforme o relatado pela reclamante e averiguado em sede de instrução, o HSM

não respondeu ao pedido de transferência do processo clínico, nem diligenciou, por

alguma forma, nesse sentido.

274. Nem sequer informando a reclamante do seu entendimento, i.e., da alegada

impossibilidade da transferência do processo e da consequente necessidade de obter

cópia do processo.

275. Situação que, como descrito supra, se manteve até ao momento em que, por sua

iniciativa, a utente se viu forçada a solicitar, em 26 de setembro de 2014, e em

formulário escrito próprio do HSM, a “Cópia do Processo Clínico”, ainda assim fazendo

menção, no campo “Outros”, de que se tratava de um pedido de “Transferência do

processo clínico relativo à consulta de Neurocirurgia para outro hospital”.

276. Por outro lado, atente-se, ainda, no seguinte.

277. A Lei de Acesso aos Documentos Administrativos (LADA)14 regula “O acesso a

documentos nominativos, nomeadamente quando incluam dados de saúde, efectuado

pelo titular da informação, por terceiro autorizado pelo titular ou por quem demonstre

um interesse directo, pessoal e legítimo”.

278. Sendo que “O acesso aos documentos deve ser solicitado por escrito através de

requerimento do qual constem os elementos essenciais à sua identificação, bem como

o nome, morada e assinatura do requerente” (n.º 1 do artigo 13.º da LADA).

279. No caso de o pedido não se encontrar suficientemente preciso/exato, a entidade

requerida deve, no prazo de cinco dias, indicar ao requerente essa deficiência e

convidá-lo a supri-la em prazo fixado para o efeito (n.º 4 do artigo 13.º da LADA)

280. Acrescendo que os órgãos e entidades devem prestar, através dos seus

funcionários, assistência ao público na identificação dos documentos pretendidos,

14

Lei n.º 46/2007, de 24 de agosto.

49 Mod.016_01

designadamente informando sobre a forma de organização e utilização dos seus

arquivos e registos (n.º 5 do artigo 13.º da LADA).

281. Como se depreende da letra e do espírito das normas citadas, o que se pretende,

aqui, é, ao abrigo dos critérios da eficiência, economicidade e celeridade que

enformam o princípio da boa administração (artigo 5.º do CPA) e da colaboração com

os particulares (artigo 13.º do CPA), que a Administração agilize e acelere os

procedimentos, evitando a sua estagnação e a inércia.

282. Pelo contrário, dos autos decorre que não só o CHLN não respondeu (negativa ou

positivamente) ao requerimento dos pais da utente de 22 de outubro de 2013, como

não prestou qualquer esclarecimento sobre o modo de obter devidamente a pretendida

transferência ou, caso o CHLN entendesse existir apenas o direito à cópia do processo,

pelo menos o modo de obtenção dessa cópia.

283. Dos factos vertentes e da informação recolhida junto do prestador e dos pais da

utente resulta, assim, que não houve da parte do CHLN-HSM qualquer comportamento

proactivo no sentido de esclarecer os pais da utente sobre o modo de como obter, com

brevidade, a transferência ou, na pior das hipóteses, a cópia do processo.

284. Vale por dizer que, sensivelmente entre 22 de outubro de 2013 (data do primeiro

requerimento os pais da utente solicitando a transferência do processo clínico) e 25 de

setembro de 2014 (data da formalização do requerimento para obtenção de cópia do

processo), decorreu quase um ano,

285. Sem que, durante esse período, o CHLN-HSM tenha diligenciado ou esclarecido a

utente no sentido de esta poder obter, definitivamente e com brevidade, a cópia do

processo pretendida.

286. Resultando, a final, na circunstância de a sobredita cópia só ter sido enviada no dia

30 de setembro de 2014 para os pais da utente.

287. O que, afigurando-se um período de tempo manifestamente dilatado e inadequado

para o tipo de pedido simples que é a transferência (ou, ainda mais simples, a cópia)

do processo,

288. É obviamente causador de incómodo e desconforto para a utente, que, passando a

ser seguida em consulta de outro Hospital, não tem acesso ao seu processo, tão-pouco

os profissionais médicos que a acompanham.

289. O que, por sua vez, pode ter impacto na situação clínica de qualquer utente,

precisamente pelo facto de os profissionais médicos que o acompanham no presente,

50 Mod.016_01

por não terem acesso ao seu processo clínico, não estarem no pleno conhecimento de

todos os dados e implicações do mesmo.

290. Tudo somado, o comportamento do prestador mostrou-se violador dos direitos e

interesses legítimos dos utentes e de influenciar negativamente a garantia do direito de

acesso dos utentes aos cuidados de saúde.

291. Com efeito, a recusa da transferência do processo clínico da utente para outra

instituição de saúde consubstancia um constrangimento no acesso da mesma à

prestação dos cuidados de saúde de que necessita em outra unidade hospitalar, in

casu, o Hospital Pediátrico de Coimbra.

292. Nesse sentido, atentas as atribuições e competências da ERS, revela-se oportuna e

necessária uma intervenção regulatória da ERS, no sentido de assegurar a adequação

do comportamento futuro do CHLN à necessidade de garantir em permanência o

respeito pelo direito dos utentes de acesso à informação contida no seu processo

clínico.

293. E que implicará que o prestador implemente os procedimentos que se revelem

necessários a garantir, de forma permanente e em qualquer situação:

(i) a resposta em tempo útil aos pedidos dos utentes de acesso à informação

clínica; e

(ii) a transferência imediata do processo clínico dos utentes para outras

unidades de saúde, sempre que tal lhe seja solicitado ou quando se tenha

verificado uma referenciação ou transferência do utente .

294. Assume especial gravidade o facto de o CHLN-HSM ser reincidente nesta matéria,

uma vez que foi já alvo de uma Instrução, no âmbito do Processo de Inquérito n.º

ERS/74/12, com o sentido e conteúdo seguintes:

“[…]

d) O Centro Hospitalar Lisboa Norte, EPE deve elaborar e implementar os

procedimentos que se revelem necessários a garantir, de forma permanente e em

qualquer situação, a resposta em tempo útil aos pedidos dos utentes de acesso à

informação contida no seu processo clínico;

e) O Centro Hospitalar Lisboa Norte, EPE deve, nomeadamente para efeito de

cumprimento da alínea anterior, garantir uma melhor articulação entre o Serviço de

Gestão Hospitalar e os serviços de ação médica;

51 Mod.016_01

f) O Centro Hospitalar Lisboa Norte, EPE deve elaborar e implementar os

procedimentos que se revelem necessários a garantir, de forma permanente e em

qualquer situação, a transferência imediata do processo clínico dos utentes para

outras unidades de saúde, sempre que tal lhe seja solicitado, ou quando se tenha

verificado uma referenciação ou transferência do utente.

[…]”.

295. Importando recordar que a referida instrução foi emitida ao CHLN-HSM, por

deliberação do então Conselho Diretivo da ERS de 21 de agosto de 2013, e que da

mesma constava a menção de que “A instrução ora emitida constitui decisão da ERS,

sendo que a alínea b) do n.º 1 do artigo 51.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de

Maio, configura como contraordenação punível in casu com coima de € 1000,00 a € 44

891,81, “[….] o desrespeito de norma ou de decisão da ERS que, no exercício dos

seus poderes, determinem qualquer obrigação ou proibição”;

296. E, ainda, que foi dado uma prazo de 120 dias contados da referida deliberação para

o CHLN-HSM garantir os procedimentos necessários ao cumprimento da referida

instrução.

297. Nessa sequência, o CHLN-HSM, através de comunicação recebida pela ERS, no dia

15 de janeiro de 2014, veio informar dos procedimentos por si adotados para

cumprimento da instrução emitida.

298. Concretamente veio o prestador remeter

(i) Cópia da informação interna divulgada a todos os profissionais de saúde,

alertando-os sobre a necessidade de registo eletrónico da informação

clínica dos utentes – cfr. referido no ponto 1 do ofício INF.68/13GJ, de

30.09.2013;

(ii) Cópia do Regulamento do Arquivo Clínico Central – cfr. referido no ponto 2

do ofício INF.68/13GJ, de 30.09.2013.

(iii) O Centro Hospitalar Lisboa Norte, E.P.E. veio ainda informar que o Módulo

de Gestão Hospitalar para Relatórios Clínicos se encontra já em fase

experimental de desenvolvimento.

299. Pelo exposto, e considerando que os factos constantes dos presentes autos são

contemporâneos quer da data da emissão de deliberação pela ERS, quer da data da

comunicação das medidas adotadas pelo prestador, importa neste momento reiterar a

instrução então emitida ao CHLN-HSM quanto ao acesso e transferência do processo

clínico.

52 Mod.016_01

IV. AUDIÊNCIA DOS INTERESSADOS

300. A presente deliberação foi precedida de audiência escrita dos interessados, nos

termos e para os efeitos do disposto no artigo 122.º do Código do Procedimento

Administrativo, aplicável ex vi artigo 24.º dos Estatutos da ERS, tendo, para o efeito,

sido chamados a pronunciar-se, relativamente ao projeto de deliberação da ERS, a

reclamante e o prestador envolvidos.

301. Decorrido o prazo concedido para a referida pronúncia, a ERS rececionou a

pronúncia unicamente da reclamante, com data de 26 de outubro de 2015 (referência:

EXP/45584/15), não tendo, porém, recebido qualquer pronúncia por parte do

prestador.

IV.1 Da pronúncia da reclamante

302. Em sede de audiência de interessados, veio a reclamante pronunciar-se nos

seguintes termos:

“[…]

1) Relativamente ao ponto 21, lii), não houve esclarecimento do Hospital de Santa

Maria(…) . (…). Que outros Pais optariam por outra solução?

Ainda não compreendemos por que razão tivemos de nos endividar e pagar

cirurgia/internamento/alojamento/alimentação/viagens de dezenas de milhares de

euros, quando no nosso país a técnica cirúrgica de um centro altamente

especializado é desconhecida e, por conseguinte, não é realizada. (…). Quando

um paciente "descobre" um centro apropriado para se tratar no estrangeiro, tem

de aceitar por razões económicas o tratamento proposto no nosso país, ainda que

não seja o melhor e o mais indicado para o caso?

Em suma, não sentimos que tivéssemos alternativa em Portugal, alegada pelo

neurocirurgião, pois a cirurgia não era a mesma.

2) (…). (…) Portanto, não sentimos que tivéssemos alternativa em Portugal.

3) Relativamente à transferência do processo do HSM para o Hospital Pediátrico

de Coimbra, o prestador refere no ponto 17 (pág. 8) que "não se justificava

53 Mod.016_01

qualquer tipo de encaminhamento por parte do CHLN", pois a nossa filha já era

seguida em Coimbra. No entanto, não é seguida em Coimbra em neurocirurgia,

mas sim noutras especialidades.

4) Esclarecemos que, já no ponto 167, o pai da Maria Rita recebeu em Portugal,

via correio, a informação desfavorável para aceder ao documento portátil S2

relativo à cirurgia de junho de 2013, apenas (…) em Paris (19/06/2013). Ou seja,

para além de estarmos a lidar com o desgaste inerente a esta delicada cirurgia no

estrangeiro, estávamos a lidar em simultâneo com a total falta de dinheiro e

aflição que aquela resposta implicava. Não contávamos, de facto, com um parecer

desfavorável.

5) No ponto 255, não corresponde à verdade que fosse dito pelo médico que o

prazo previsto para a cirurgia proposta em março de 2013 no HSM fosse possível

"de um a dois meses". Na verdade, (…) a Mãe questionou o neurocirurgião sobre

o prazo aproximado, até para perceber a gravidade e urgência do caso, sendo

verdade que o mesmo justificou que não conseguiria atribuir um prazo. A Mãe

inquiriu-o novamente nos seguintes termos: " - Mas será daqui a uma semana, um

mês, um ano?", tendo sido a resposta, não um ou dois meses, mas "- Mãe, é este

ano." (estávamos em finais de março de 2013). Obviamente que não conseguimos

provar estes discursos orais, apenas justificamos o nosso entender de que aquela

previsão foi determinante para aceitarmos a cirurgia de Paris marcada pouco

depois (para 19/06/2013), numa consulta a que fomos para obtermos uma

"segunda opinião". A nossa opção não se deveu à demora excessiva como consta

no ponto 255, mas sim ao total desconhecimento do timing aproximado em

Portugal. Levámos para Paris apenas a certeza de que ocorreria até dezembro de

2013, estando em lista de espera. Entre a consulta em Lisboa e a ida à primeira

consulta em Paris, cerca de duas semanas, (…), pelo que não hesitámos em

confiar na resposta possivelmente mais célere de Paris. Quem agiria de outra

forma?

6) Quanto ao ponto 288, lamento informar que ainda não foi possível a nossa filha

ser seguida em neurocirurgia no Hospital Pediátrico de Coimbra (!). Estamos

desde março de 2013 sem consulta de seguimento de neurocirurgia em

Portugal…Temos já o processo de neurocirurgia do HSM connosco graças às

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diligências da ERS, mas ainda não conseguimos consulta em Coimbra. (…)

Obviamente que respeitamos todas as consultas marcadas para a nossa filha e

ligámos a pedir adiamento mais do que justificado da referida consulta. Sem

qualquer remarcação, em agosto de 2015 o Pai dirigiu-se pessoalmente aos

serviços da neurocirurgia para voltar a pedir consulta, tendo sido informado que

não remarcaram porque o computador acusava "falta" à consulta de maio, mas

que não nos preocupássemos, pois iríamos receber carta de remarcação dentro

de 15 dias. Até hoje. A nossa tentativa de pedir consulta de neurocirurgia através

do nosso médico de família, em outubro de 2014, também não surtiu qualquer

efeito até hoje.

[…]” – cfr. pronúncia da reclamante de 26 de outubro de 2015.

IV.3 Análise dos fundamentos da pronúncia da reclamante

303. Cumpre analisar os elementos invocados na pronúncia da reclamante, aferindo da

suscetibilidade dos mesmos infirmarem ou alterarem a deliberação projetada.

304. As declarações prestadas na pronúncia da reclamante foram consideradas e

ponderadas pela ERS.

305. Verificando-se, em síntese, que a reclamante não contestou o quadro factual e

jurídico apresentado pela ERS no seu projeto de deliberação, antes apontando e

corrigindo alegadas imprecisões referentes, não ao referido projeto de deliberação,

mas às respostas do prestador no âmbito das diligências realizadas pela ERS.

306. E, sendo assim, a pronúncia da reclamante em nada altera o conteúdo do projeto de

deliberação elaborado, razão pela qual a deliberação deve manter in totum o sentido

do projeto tal como emitido e regularmente notificado.

307. Ainda assim, importa sublinhar, no que respeita aos pontos 1) e 2) da pronúncia da

reclamante, que o conteúdo dos mesmos versa matéria eminentemente clínica,

contestando a reclamante, nomeadamente, os juízos e entendimentos clínicos dos

profissionais médicos envolvidos.

308. Ora, a avaliação clínica dos cuidados médicos prestados não se inscreve no

catálogo competencial previsto nos Estatutos da ERS, razão pela qual não cabe a

esta entidade pronunciar-se ou emitir juízos a esse respeito.

309. Quanto ao alegado pela reclamante no ponto 5), sem prejuízo do aduzido em sede

do projeto de deliberação, importa notar que, tendo a utente sido inscrita na Lista de

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Inscritos para Cirurgia (LIC), no âmbito do SIGIC, em 27 de março de 2013, e

possuindo a cirurgia Prioridade Normal;

310. O Tempo Máximo de Resposta Garantido (TMRG) para a cirurgia era, de acordo

com o Anexo n.º I da Portaria n.º 1529/2008, de 26 de dezembro, aplicável à data dos

factos15, de 270 dias (9 meses).

311. Ou seja, o TMRG estender-se-ia até, aproximadamente, ao dia 27 de dezembro de

2013.

312. Razão pela qual, ainda que a previsão do médico tivesse sido, como alega a

reclamante e ao contrário do alegado pelo prestador, a de que a cirurgia seria realizada

até ao final do ano de 2013,

313. Essa previsão sempre acabaria por estar sensivelmente “dentro” do TMRG

legalmente aplicável, porquanto este apenas terminaria no dia 27 de dezembro de

2013.

V. DECISÃO

314. Tudo visto e ponderado, o Conselho de Administração da ERS delibera, nos termos

e para os efeitos do preceituado nas alíneas a) e b) do artigo 19.º e alínea a) do artigo

24.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto,

emitir uma instrução ao Centro Hospitalar de Lisboa Norte, E.P.E. – Hospital de Santa

Maria, nos seguintes termos:

a) O Centro Hospitalar de Lisboa Norte, E.P.E. – Hospital de Santa Maria deve

proceder à atualização, completa e total, dos seus procedimentos internos no

que respeita aos cuidados de saúde transfronteiriços, em conformidade e no

respeito pela Lei n.º 52/2014, de 25 de agosto e pela Portaria n.º 191/2014,

de 25 de Setembro;

b) O Centro Hospitalar Lisboa Norte, E.P.E. – Hospital de Santa Maria deve

garantir, em permanência, através da emissão e divulgação de ordens e

orientações claras e precisas, que os procedimentos adotados e a adotar

para cumprimento da instrução sejam corretamente seguidos e respeitados

por todos os profissionais de saúde, incluindo a realização de ações de

formação;

15

Entretanto revogada pela Portaria n.º 87/2015, de 23 de março.

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c) O Centro Hospitalar Lisboa Norte, E.P.E. – Hospital de Santa Maria deve

proceder, de imediato, à revisão e atualização do seu Regulamento Interno

nesta matéria, em conformidade e no respeito pela Lei n.º 52/2014, de 25 de

agosto e pela Portaria n.º 191/2014, de 25 de Setembro;

d) O Centro Hospitalar Lisboa Norte, E.P.E. – Hospital de Santa Maria deve

publicitar e divulgar, através da afixação de cartazes ou outros suportes

informativos, a existência do Setor de Assistência Médica no Estrangeiro,

onde os utentes se poderão informar em matéria de acesso a cuidados de

saúde transfronteiriços;

e) O Centro Hospitalar Lisboa Norte, E.P.E. – Hospital de Santa Maria deve

garantir o efetivo acompanhamento dos utentes e acompanhar a evolução da

sua condição clínica, devendo, para o efeito, assegurar que as consultas são

realizadas em tempo adequado, útil e clinicamente aceitável, não podendo as

mesmas ser adiadas por períodos de tempo sucessivos e manifestamente

exagerados no tempo, por forma a não prejudicar o percurso para o

restabelecimento do seu estado de saúde, com prontidão e correção técnica;

f) O Centro Hospitalar Lisboa Norte, E.P.E. – Hospital de Santa Maria deve

garantir, em permanência, o direito dos utentes dos serviços de saúde de

acesso ao seu processo clínico, de acordo com as regras e orientações a

cada momento aplicáveis, designadamente, de acordo com a legislação em

vigor;

g) O Centro Hospitalar Lisboa Norte, E.P.E. – Hospital de Santa Maria deve

elaborar e implementar os procedimentos que se revelem necessários a

garantir, de forma permanente e em qualquer situação, a resposta em tempo

útil aos pedidos dos utentes de acesso à informação contida no seu processo

clínico;

h) O Centro Hospitalar Lisboa Norte, E.P.E. – Hospital de Santa Maria deve

elaborar e implementar os procedimentos que se revelem necessários a

garantir, de forma permanente e em qualquer situação, a transferência

imediata do processo clínico dos utentes para outras unidades de saúde,

sempre que tal lhe seja solicitado ou quando se tenha verificado uma

referenciação ou transferência do utente;

i) O Centro Hospitalar Lisboa Norte, E.P.E. – Hospital de Santa Maria deve dar

cumprimento imediato à instrução emitida, bem como dar conhecimento à

ERS, no prazo máximo de 30 dias após a notificação da deliberação final, das

57 Mod.016_01

medias e/ou procedimentos por si adotados para cumprimento do

determinado nos pontos anteriores.

315. As instruções ora emitidas constituem decisão da ERS, sendo que a alínea b) do n.º

1 do artigo 61.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22

de agosto, configura como contraordenação punível, in casu com coima de 1000,00

EUR a 44 891,81 EUR, “[….] o desrespeito de norma ou de decisão da ERS que, no

exercício dos seus poderes regulamentares, de supervisão ou sancionatórios,

determinem qualquer obrigação ou proibição, previstos nos artigos 14º, 16º, 17º, 19º,

20º, 22º e 23º”.

316. A presente deliberação será dada a conhecer à Administração Central do Sistema

de Saúde, I.P..

317. A versão não confidencial da presente deliberação será publicitada no sítio oficial

da Entidade Reguladora da Saúde na Internet.

O conselho de Administração.

Porto, 27 de novembro de 2015.