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1 Mod.016_01 DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE (VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL) Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde nos termos do n.º 1 do artigo 4.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto exerce funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes às atividades económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e social; Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Visto o processo registado sob o n. º ERS/26/2014; I. DO PROCESSO I.1. Origem do processo 1. Em 11 de abril de 2014, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tomou conhecimento da exposição apresentada por M., relativa a alegadas irregularidades na organização e funcionamento das “Clínicas O Meu Dentista” pertencentes à Dizin - Saúde, SA. 2. A referida exposição deu origem inicialmente ao processo de reclamação registado com o n.º REC/2901/2014.

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DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA

ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE

(VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)

Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde nos termos do n.º 1 do artigo 4.º dos

Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto exerce

funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes

às atividades económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e

social;

Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º

dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde

estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º

126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos

no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de

agosto;

Visto o processo registado sob o n.º ERS/26/2014;

I. DO PROCESSO

I.1. Origem do processo

1. Em 11 de abril de 2014, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tomou conhecimento

da exposição apresentada por M., relativa a alegadas irregularidades na organização e

funcionamento das “Clínicas O Meu Dentista” pertencentes à Dizin - Saúde, SA.

2. A referida exposição deu origem inicialmente ao processo de reclamação registado

com o n.º REC/2901/2014.

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3. Posteriormente considerando a necessidade de uma averiguação mais aprofundada

dos factos expostos, o Conselho de Administração ERS, por despacho de 21 de maio

de 2014, ordenou a abertura de um inquérito registado sob o n.º ERS/26/2014.

I.2 Diligências

4. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se, entre outras, as

diligências consubstanciadas em:

(i) Pesquisa no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados da ERS

(SRER da ERS) relativa ao registo dos estabelecimentos prestadores de

cuidados de saúde identificados na exposição (cfr. fls. 8 a 76 e 129 a 219

dos autos);

(ii) Pedidos de elementos remetidos à Dizin - Saúde, SA, em 7 de agosto de

2015, 22 de outubro de 2015 e 6 de novembro de 2015 e respetivas

respostas (cfr. fls. 99 a 127 dos autos);

(iii) Consulta à página eletrónica do prestador1, em 25 de junho de 2014, em

17 de novembro de 2015 e em 23 de fevereiro de 2016 (cfr. fls. 80 a 87,

128 e 220 a 222 dos autos);

(iv) Consulta à página eletrónica do Ministério da Justiça relativa à “Publicação

On-Line de Acto Societário e de outras entidades”2, em 25 de junho de

2014 (cfr. fls. 77 a 79 dos autos).

II. DOS FACTOS

II.1. Dos factos relativos à exposição inicial

5. Na exposição apresentada à ERS, é referido, concretamente, que:

[…]

1 http://www.omeudentista.pt/Website/

2 http://publicacoes.mj.pt/Pesquisa.aspx

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“A referida sociedade [Dizin – Saúde, SA] tem diversas clínicas, instaladas em

diferentes pontos do país, nas quais funcionam para além de serviços de estomatologia

e medicina dentária, serviços de análises clinicas.

As referidas clínicas encontram-se instaladas em espaços Comerciais,

designadamente, no Centro Comercial Amoreiras, em Lisboa, no Fórum Sintra, no

Loures Shopping, no El Corte Inglês, em Lisboa.

As clínicas não possuem qualquer referência externa para além do nome do

estabelecimento «O meu dentista», não estando afixado em qualquer local visível do

seu interior ou exterior, designadamente nas que se situam no Centro

Comercial Amoreiras e no Fórum Sintra, placard que preste aos utentes qualquer das

informações expressas no art. 4.º da Portaria n.º 268/2010 de 12/05.

Nalgumas ocasiões as recepcionistas encontram-se do lado exterior do balcão de

atendimento a entregar folhetos publicitários aos utentes dos Centros Comerciais.

A forma como se processa o atendimento nas ditas clínicas é a que passo a descrever

e refere-se em concreto à Clínica que se situa no Fórum Sintra.

Uma vez contactada a Clínica, o que sucedeu pessoalmente, é se atendido por uma

recepcionista que se encontra num balcão exterior, que veste uma bata cinzenta e

azul, e quando solicitada a marcação de consulta com um médico dentista, fazendo-se

menção à concreta situação clínica que nos leva a procurar atendimento clínico é

marcada consulta, que é realizada por uma senhora a quem a recepcionista chama

Dra., que veste uma bata branca, diferente das que vestem as recepcionistas da

mesma clinica - de cor cinzenta e azul - a qual nos conduz a um gabinete, referindo

que é para ser feita a consulta. Nesse gabinete, a senhora (Dra.) que veste bata

branca informa-nos que não será feito qualquer tratamento sem que seja feita uma

rádiografia periférica a toda a boca. Na sequência ela mesma conduz o paciente a um

gabinete, onde o sujeita à tal radiografia periférica e, após a mesma ser realizada,

sempre a mesma senhora, analisa a radiografia e, perante o que observa, diz ao

paciente quais os tratamentos dentários que deve realizar, reforçando a urgência e o

perigo que pode ocorrer para a saúde no caso de não os fazer, apresenta um

orçamento e informa desde logo da possibilidade de o mesmo ser financiado por

diferentes instituições de crédito, tratando a Clínica de todo o processo, numa ou em

várias financeiras, de acordo com o montante ou viabilidade de financiamento total por

uma delas.

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Em momento algum somos informados de que a senhora que faz esse atendimento, de

nome (…), não é dentista, tudo levando a crer, pela forma como o processo de

atendimento decorre, que terá formação médica na especialidade.

Só depois de ter sido feita essa consulta e do paciente ter acedido na realização do ou

dos tratamentos, sendo que os indicados podem orçar os milhares de euros, é que,

nesse dia ou noutro que é designado, o paciente é sujeito a nova consulta, esta já num

gabinete equipado com os utensílios próprios para intervenções médicas dentárias,

com vista a ser realizado o ou os tratamentos que já foram antes considerados

adequados pela primeira referida senhora.

Por contacto telefónico contactei a Clínica que se situa no Loures Shopping, tendo sido

informada pela recepcionista que me atendeu que o modo de funcionamento de todas

as clínicas é o indicado, não havendo possibilidade de se ser atendido pela primeira

vez em qualquer das Clinicas sem a consulta para aferir quais os tratamentos que

devem ser feitos, realizada nos termos referidos.

Caso se opte por realizar os tratamentos, em momento algum se é informado de quem

é o director clínico da unidade de saúde.

Como comecei por referir, pretendo que sejam analisados, nas diferentes vertentes

legais, os procedimentos da clinica, bem como a sua organização e funcionamento à

luz do DL N.º 279/2009 de 06/10 e da Portaria 268/2010 de 12/05.

[…]”.

II.2. Dos factos apurados em sede de diligências instrutórias

6. No âmbito dos presentes autos, foi remetido à Dizin – Saúde, SA, por ofício com a

referência ERS/26/2014.1_sp, um pedido de informação da ERS, em 7 de agosto de

2015, nos termos do qual foi solicitado ao prestador:

“ […]

1. Se pronunciem sobre o teor do supra exposto à ERS;

2. Identificação completa da indicada colaboradora (…)que executou a aludida

radiografia periférica à utente, na Clínica O Meu Dentista - Fórum Sintra;

3. Indicação da categoria profissional da referida colaboradora (…) e do número de

cédula profissional, acompanhada dos comprovativos das respetivas habilitações

profissionais;

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4. Descrição detalhada dos procedimentos adotados por V. Exas. aquando da

solicitação pelos utentes da marcação de consultas com um médico dentista e dos

meios complementares de diagnóstico e terapêutica realizados previamente a essa

consulta, com indicação das habilitações profissionais dos colaboradores que realizam

esses exames, informações essas acompanhadas do respetivo suporte documental;

5. Esclarecimentos complementares julgados por V. Exas. necessários e relevantes à

análise do caso concreto”.

7. Decorrido o prazo de resposta ao citado ofício sem que tivesse sido rececionada na

ERS a resposta do prestador, em 22 de outubro de 2015, foi remetido novo ofício à

Dizin – Saúde, SA, solicitando o envio da informação solicitada.

8. Nessa sequência veio o prestador, em 2 de novembro de 2015, prestar os seguintes

esclarecimentos:

[…]

”A apresentação e o teor da denúncia que deu lugar à abertura de inquérito muito

surpreenderam os n/ serviços uma vez que apresenta uma descrição que em nada

corresponde aos procedimentos de recebimento dos novos pacientes.

De resto este é o primeiro processo de inquérito aberto relativamente a conduta dos

nossos funcionários/ serviços, importando salientar desde já que o procedimento

descrito não corresponde à verdade, não podendo ter ocorrido o descrito na denúncia.

Porquanto,

Os procedimentos de recepção dos novos pacientes encontram-se estabelecidos

internamente através de normas de procedimento específico, e são respeitados e

cumpridos, sendo todos os trabalhadores formados inicial e continuadamente por forma

a conhecerem e respeitarem os procedimentos internos recomendados os quais até

agora sempre foram respeitados pelos trabalhadores da Dizin- Saúde, SA..

Estando estabelecido todos os intervenientes nos procedimentos de recepção,

avaliação, primeira consulta e de diagnóstico dos pacientes, os quais actuam - até por

interesse dos próprios - no limite das suas competências e funções laborais.

ASSIM,

O procedimento de recepção dos novos pacientes nas nossas clínicas é efectuado

primeiramente por recepcionista, que tem como funções designadamente receber o

paciente, recolher alguns dados do paciente e conhecer da razão da visita e

necessidade, prestando os primeiros esclarecimentos sobre os serviços prestados nas

nossas clínicas.

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Após recolha dos dados de identificação do potencial paciente para preenchimento

de ficha de paciente, este é apresentado e acompanhado pelo Assessor/Director da

Clínica.

Ao Director da Clínica, cujas funções constam no documento em anexo, cumpre

designadamente completar a recolha dos dados do paciente e preencher a ficha de

paciente, aprofundando sobre o motivo da vinda do mesmo e apresentando o conceito

e serviços da nossa Clínica em termos globais.

Nesta fase, o director da clínica questiona o paciente relativamente à existência ou

não de acompanhamento regular do paciente por outras clínicas dentárias, dos hábitos

pessoais e de saúde - nomeadamente se o paciente é ou não fumador, sobre o

agregado familiar, consumo de café - e condições financeiras, informações que

passam a constar na ficha de paciente e que deverão ser tomadas em consideração

pelo médico que prestará a consulta de seguida, realiza um raio X. ,

Concluída esta fase, o paciente é então encaminhado pelo director da clínica para o

gabinete do médico para consulta sendo pelo Director da Clínica comunicado ao

médico o perfil do paciente, os motivos da visita, e expectativas demonstradas pelo

paciente, e entrega o Rx efectuado.

Só então, o médico analisa e interpreta o raio X, avalia a situação, conversando

com o paciente e analisando os dados disponíveis e apresenta ao paciente as soluções

adequadas à sua situação Clínica.

As observações do médico são então anotadas pelo director da clínica/assessor,

que está presente na consulta para o efeito de tomar os apontamentos necessários

tramitação burocrática eventualmente subsequente, e em seguida pode ou não iniciar-

se o tratamento de imediato, em caso de intervenção urgente e de acordo com o

interesse demonstrado pelo paciente e decisão médica.

O paciente dialoga com o médico e ambos tomam as decisões adequadas à

situação clínica do paciente de acordo com a sua esclarecida vontade.

No caso de não ser iniciado de imediato o tratamento, respeitando o interesse do

paciente é elaborado em seguida um plano de saúde integrado (denominado "P.S.I.")

com indicação dos tratamentos médicos recomendados pelo médico que fez o

diagnóstico.

Só depois regressam a sala separada para ser concluído e impresso o orçamento

que é entregue ao paciente após nova verificação e confirmação pelo médico.

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De tal modo que o orçamento é sempre assinado pelo Director da Clínica/Assessor,

pelo paciente e pelo médico que realizou a consulta.

Posteriormente o director da clínica pode ou não questionar, de acordo com

critérios estabelecidos, em matéria de pagamento dos tratamentos orçamentados e

designadamente das condições financeiras se necessitará ou não de financiamento.

Embora com as devidas variações e adaptações de acordo com o caso em

concreto, este é o procedimento que é regular e genericamente realizado nas clínicas.

Como tal, não se aceita e se impugna com veemência a descrição altamente

maldosa e tendenciosa que um particular " anónimo " com intenções sobejamente

conhecidas - dada a proliferação de " visitas especiais intencionadas “ que temos

recebido nos últimos meses e de que ora tomámos conhecimento

Ou seja

É absolutamente falso e ofensivo o que consta da participação efectuada aos v/

Serviços de Tutela, designadamente descabida, maldosa e falsa nomeadamente a

afirmação de que seja a " mesma senhora, analisa a radiografia e, perante o que

observa diz ao paciente quais os tratamentos dentários deve realizar .... “ Afirmação

gravíssima que deverá ser apurada até às últimas consequências, e o seu autor

identificado dado o carácter injurioso e difamatório que na mesma se contém, e que

não pode ficar impune, a coberto do anonimato dada a consequência, incómodos,

encargos e despesas que tal gera para além da imagem e da violação ao bom nome e

profissionalismo e cumprimento das normas por parte desta Clínica.

De igual modo

Se impugna por absolutamente falso designadamente que alguma vez tivessem

existido duas consultas ou que na segunda consulta seria realizado o tratamento "

antes considerados adequados pela primeira referida senhora ".

Existe aqui uma manifesta transmissão de informações aos v/ Serviços que são

absolutamente falsas.

Também nunca em caso algum alguma vez se poderia ter dado a entender ou não

haver sido informado qual o papel ou função ou categoria profissional da Directora da

Clínica identificada pessoalmente, e ainda com cartão, com crachat e cujo nome está à

vista de todos exposto na Clínica, como exposto se encontra o organograma e o mais

por Lei exigido, designadamente o nome do Director Clínico, seu substituto e dos

demais médicos ao serviço, bem como de todo o pessoal, logo na recepção em local

bem visível.

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Nunca de boa - fé se pudesse considerar que a mesma fosse dentista ou que teria

formação médica na especialidade, inexistindo motivo para se confundir a intervenção

e acompanhamento da Directora da Clínica e do médico (ou médica) que atendeu o

paciente.

E só existe uma consulta e não duas, diferentemente do que o participante alega,

desdobrando em dois momentos o que na verdade é feito de uma só vez, de seguida

sem intervalos ou lapsos de tempo, sendo a consulta sempre realizada por médico

habilitado e com a sequência descrita. O que se demonstrará com toda a facilidade

sendo falso o procedimento descrito pelo anónimo participante.

De igual modo

Se impugna por absolutamente falso designadamente que a Clínica de Loures ou

qualquer outra através de recepcionista sua tivesse informado que o modo de

atendimento seja o "indicado" nos autos, apenas se podendo afirmar que o modo de

procedimento é igual em todas as clínicas o que está documentado e suportado nos

procedimentos internos definidos pela administração e pela Direcção Clínica

constituída esta por Clínicos habilitados.

O que é muito diferente de alegar gratuitamente que o modo de atendimento fosse

o "indicado" nos autos que é uma alegação e uma construção do participante anónimo.

No mais e em cumprimento do notificado que antecede se informa que a Directora

da Clínica esteve ao serviço entre 2/4/2012 e 21/7/2014 e exerceu actividade de

Directora da Clínica sita no fórum Sintra.

São os seguintes os seus elementos de identificação:

Nome: (…)

Bilhete de Identidade n°

Contribuinte fiscal n°

Habilitações Profissionais: em anexo

No mais:

Considerando a experiência e o desempenho dos colaboradores desta Clínica e

dos factos alegados, sempre se dirá que terão actuado de acordo com os

procedimentos internos e o acima descrito.

De resto, e sempre salvo o devido respeito, o procedimento descrito na denúncia

que antecede não tem qualquer sustentação nos procedimentos internos e condutas

dos nossos trabalhadores, desde logo, não só os Directores da Clínica não têm nem

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fazem interpretação técnica, médica de uma radiografia, inexistindo qualquer infracção

demonstrada nos autos.

Reitera-se, ainda, que apenas os médicos dentistas que prestam serviços nas

nossas clínicas podem indicar os tratamentos médicos e terapêuticas a adoptar no

caso em concreto, os quais são sugeridos directamente ao paciente ou através do

plano de saúde individual apresentado.

Acresce que, contrariamente ao descrito na denúncia parcialmente transcrita, todos

os funcionários têm uma chapa identificativa com o nome e actividade profissional

desempenhada na clínica.

Podendo, ainda, o paciente tomar conhecimento do nome e funções de todos os

trabalhadores através do organograma afixado em local legível em todas as clínicas.

Esperando ter respondido às informações solicitadas, sempre se dirá que os

esclarecimentos prestados são os possíveis atendendo à natureza anónima da

denúncia, sendo que no caso a falta de identificação do denunciante afecta a

identificação do procedimento adoptado, trabalhadores intervenientes e apuramento da

factualidade.

Salientamos, por fim, a nossa disponibilidade e interesse em cooperar com os V.

serviços no apuramento da factualidade em análise, ficando ao V. dispor para prestar

os esclarecimentos adicionais que julguem necessários.

ANEXO: documento n° 1 diagrama de procedimentos internos detalhados de

recepção e acompanhamento do paciente em primeira consulta;

Documento n° 2: Descrição das funções de Directora de Clínica, no caso D (…)

Quanto à junção do comprovativo de habilitações profissionais do médico dentista

que em concreto atendeu o participante (que desconhecemos) não pode ser junto dado

que não sabemos nem temos meio de saber qual foi o médico que atendeu o

reclamante anónimo.

Todos os médicos que estão ao serviço desta clínica se encontram legalmente

habilitados e com inscrição em vigor podendo fornecer os elementos documentais que

comprovam as habilitações profissionais do que atendeu o referido paciente após V/

indicação do nome do médico”.

9. Em 6 de novembro de 2015, foi remetido um novo pedido de elementos ao prestador,

pois, verificou-se que:

“[…]

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embora tenha sido rececionada nesta Entidade Reguladora em 2 de novembro de 2015

a resposta de V. Exas., não foram, contudo, remetidas todas as informações solicitadas

através dos aludidos ofícios.

Com efeito, quanto às habilitações profissionais da colaboradora (…)V. Exas. referem

“em anexo” (cfr. página 5 da resposta), sendo que dos dois anexos remetidos não

constam as referidas habilitações profissionais (Anexo 1: Diagrama de procedimentos

internos; Anexo 2: Descrição das funções de Diretor de Clínica).

Assim, ao abrigo do disposto no n.º 1 do artigo 31.º dos Estatutos da ERS, reitera-se a

V. Exas. o envio da informação então solicitada, nomeadamente:

a) Indicação das habilitações profissionais da colaboradora (…)e do número de cédula

profissional, acompanhada dos respetivos documentos comprovativos”.

10. Em 13 de novembro de 2015, foi rececionada na ERS a resposta da Dizin – Saúde,

SA, a este último pedido de elementos, esclarecendo o prestador visado que:

“[…]

No seguimento do Vosso pedido, e fazendo referência à carta resposta enviada dia 30

de Outubro de 2015, tal como explicado a Directora da Clínica não é médico, e "...

Nunca de boa-fé se pudesse considerar que a mesma fosse dentista ou que teria

formação médica na especialidade, inexistindo motivo para se confundir a intervenção

e acompanhamento da Directora da Clínica e do médico (ou médica) que atendeu o

paciente.

Mais, Reforçamos.

É absolutamente falso e ofensivo o que consta da participação efectuada aos v/

Serviços de Tutela, designadamente descabida, maldosa e falsa nomeadamente a

afirmação de que seja a " mesma senhora, analisa a radiografia e, perante o que

observa diz ao paciente quais os tratamentos dentários deve realizar .... " Afirmação

gravíssima que deverá ser apurada até às últimas consequências, e o seu autor

identificado dado o carácter injurioso e difamatório que na mesma se contém, e que

não pode ficar impune, a coberto do anonimato dada a consequência, incómodos,

encargos e despesas que tal gera para além da imagem e da violação ao bom nome e

profissionalismo e cumprimento das normas por parte desta Clínica.

Existe aqui uma manifesta transmissão de informações aos v/ Serviços que são

absolutamente falsas.

Também nunca em caso algum alguma vez se poderia ter dado a entender ou não

haver sido informado qual o papel ou função ou categoria profissional da Directora da

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Clínica identificada pessoalmente, e ainda com cartão, com crachat e cujo nome está à

vista de todos exposto na Clinica, como exposto se encontra o organograma e o mais

por Lei exigido, designadamente o nome do Director Clínico, seu substituto e dos

demais médicos ao serviço, bem como de todo o pessoal, logo na recepção em local

bem visível.

Quanto à junção do comprovativo de habilitações profissionais do médico dentista

que em concreto atendeu o participante (que desconhecemos) não pode ser junto dado

que não sabemos nem temos meio de saber qual foi o médico que atendeu o

reclamante anónimo.

Todos os médicos que estão ao serviço desta clínica se encontram legalmente

habilitados e com inscrição em vigor podendo fornecer os elementos documentais que

comprovam as habilitações profissionais do que atendeu o referido paciente após V/

indicação do nome do médico.

ANEXO - carta enviada à ERS a 30 de Outubro de 2015”.

11. Do SRER da ERS resultam, entre outros elementos relativos ao estabelecimento

prestador de cuidados de saúde com a denominação “Clínicas O Meu Dentista –

Fórum Sintra”, registado no SRER da ERS sob o n.º 115169, os seguintes:

a) Encontram-se registados 47 Médicos Dentistas;

b) Encontram-se registados 3 Técnicos de Saúde (Diagnóstico e Terapêutica) –

Higienistas Orais;

c) Não se encontra registada qualquer médica, médica dentista ou técnica de

saúde de nome (…).

12. Do SRER da ERS, resulta igualmente que o estabelecimento prestador de cuidados de

saúde “Clínicas O Meu Dentista – Fórum Sintra”, explorado pela entidade Dizin –

Saúde, SA, é titular da licença de funcionamento n.º 718/2011 para a tipologia

unidades de clínicas ou consultórios dentários;

13. O pedido de licenciamento deste estabelecimento encontra-se no estado

“deferida/licenciada”, para a tipologia clínicas ou consultórios dentários, tendo o pedido

sido submetido e validado em 15 de setembro de 2015;

14. Do SRER da ERS, resulta, ainda, que o estabelecimento prestador de cuidados de

saúde “Clínicas O Meu Dentista – Amoreiras Shopping”, explorado pela entidade Dizin

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– Saúde, SA, encontra-se registado com o n.º 118706 e é titular da licença de

funcionamento n.º 5100/2012 para a tipologia unidades de clínicas ou consultórios

dentários;

15. O pedido de licenciamento deste estabelecimento encontra-se no estado

“deferida/licenciada”, para a tipologia clínicas ou consultórios dentários, tendo o pedido

sido submetido e validado em 15 de setembro de 2015.

III. DO DIREITO

III.1. Das atribuições e competências da ERS

16. De acordo com o n.º 1 do artigo 4.º e o n.º 1 do artigo 5.º, ambos dos Estatutos da ERS

aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, 22 de agosto, a ERS tem por missão a

regulação, supervisão, e a promoção e defesa da concorrência, respeitantes às

atividades económicas na área da saúde dos setores privados, público, cooperativo e

social, e, em concreto, da atividade dos estabelecimentos prestadores de cuidados de

saúde.

17. Sendo que estão sujeitos à regulação da ERS, nos termos do n.º 2 do artigo 4.º dos

mesmos Estatutos, todos os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, do

sector público, privado, cooperativo e social, independentemente da sua natureza

jurídica;

18. Consequentemente, a Dizin - Saúde, SA, é uma entidade prestadora de cuidados de

saúde, registada no SRER da ERS sob o n.º 19114, atualmente detentora de 14

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, entre eles, as “Clínicas O Meu

Dentista – Fórum Sintra”, registado no SRER sob o n.º 115169, e “Clínicas O Meu

Dentista – Amoreiras Shopping”, registado no SRER sob o n.º 118706.

19. As atribuições da ERS, de acordo com o disposto nas alíneas a) e b) do n.º 2 do artigo

5.º dos Estatutos da ERS, compreendem a supervisão da atividade e funcionamento

dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, no que respeita ao

cumprimento dos requisitos de exercício da atividade e de funcionamento, incluindo o

licenciamento dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, e também à

garantia dos direitos relativos ao acesso aos cuidados de saúde, à prestação de

cuidados de saúde de qualidade, bem como dos demais direitos dos utentes.

20. Ademais, constituem objetivos da ERS, nos termos do disposto nas alíneas a), b), c) e

d) do artigo 10.º do mencionado diploma, assegurar o cumprimento dos requisitos do

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exercício da atividade dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde,

incluindo os respeitantes ao licenciamento, assegurar o cumprimento dos critérios de

acesso aos cuidados de saúde, nos termos da Constituição e da lei, garantir os direitos

e interesses legítimos dos utentes e zelar pela prestação de cuidados de saúde de

qualidade.

21. Competindo-lhe, na execução dos referidos objetivos, e conforme resulta dos artigos

11.º, 12.º, 13.º e 14.º dos Estatutos, assegurar o cumprimento dos requisitos legais e

regulamentares de funcionamento dos estabelecimentos prestadores de cuidados de

saúde e sancionar o seu incumprimento, zelar pelo respeito da liberdade de escolha

nos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, incluindo o direito à

informação, apreciar as queixas e reclamações dos utentes e monitorizar o seguimento

dado pelos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde às mesmas, e bem

assim garantir o direito dos utentes à prestação de cuidados de saúde de qualidade.

22. Para tanto, a ERS pode assegurar tais incumbências mediante o exercício dos seus

poderes de supervisão, no caso, zelando pela aplicação das leis e regulamentos e

demais normas aplicáveis às atividades sujeitas à sua regulação, no âmbito das suas

atribuições, e emitindo ordens e instruções, bem como recomendações ou

advertências individuais, sempre que tal seja necessário, sobre quaisquer matérias

relacionadas com os objetivos da sua atividade reguladora, incluindo a imposição de

medidas de conduta e a adoção das providências necessárias à reparação dos direitos

e interesses legítimos dos utentes – cfr. alíneas a) e b) do artigo 19.º dos Estatutos da

ERS.

III.2. Do enquadramento legal da prestação de cuidados de saúde

III.2.1. Dos direitos e interesses legítimos dos utentes – do direito à informação dos

utentes

23. A relação que se estabelece entre os estabelecimentos prestadores de cuidados de

saúde e os seus utentes deve pautar-se pela verdade, completude e transparência em

todos os aspetos da mesma;

24. Sendo que tais características devem revelar-se em todos os momentos da relação,

incluindo nos momentos que antecedem a própria prestação de cuidados de saúde.

25. Nesse sentido, o direito à informação – e o concomitante dever de informar – surge

aqui com especial relevância e é dotado de uma importância estrutural e estruturante

da própria relação criada entre utente e prestador.

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26. Na verdade, o direito do utente à informação não se limita ao que prevê a alínea e) do

n.º 1 da Base XIV da Lei n.º 48/90, de 24 de agosto, nem tão pouco ao delimitado pelo

artigo 7.º da Lei n.º 15/2014 de 21 de março, para efeitos de consentimento informado

e esclarecimento quanto a alternativas de tratamento e evolução do estado clínico; e

27. Trata-se, antes, de um princípio que deve modelar todo o quadro de relações atuais e

potenciais entre utentes e prestadores de cuidados de saúde e, para tanto, a

informação deve ser verdadeira, completa, transparente e, naturalmente inteligível pelo

seu destinatário;

28. Só assim se logrará obter a referida transparência na relação entre prestadores de

cuidados de saúde e utentes.

29. A contrario, a veiculação de uma qualquer informação errónea, a falta de informação

ou a omissão de um dever de informar por parte do prestador são por si suficientes

para contraírem o direito de acesso dos utentes aos cuidados de saúde, na medida em

que comprometem a exigida transparência da relação entre este e o seu utente e,

nesse sentido, tendem a distorcer o exercício da própria liberdade de escolha dos

utentes.

30. Para além de facilitarem – ou mesmo causarem - lesões de direitos e interesses

financeiros dos utentes porque não permitirão elucidar adequadamente os utentes

sobre aspetos, como seja a qualificação profissional, o preço ou outras

condições/limites eventualmente celebrados com entidades terceiras.

31. Com efeito, só com base na absoluta correção e completude de informação é que

poderá ser salvaguardado o direito de um qualquer utente de escolher livremente o

agente prestador de cuidados de saúde (alínea a), do n.º 1, da Base XIV da Lei de

Bases da Saúde).

32. É óbvio que esta livre escolha só será conseguida se ocorrer no momento anterior à

efetiva prestação de cuidados de saúde pelo que, se ao utente forem dados a conhecer

os serviços e os preços correspondentes em momento anterior à sua realização e se o

mesmo souber que (poderá) será obrigado ao seu pagamento num ato único, o

exercício da sua liberdade de escolha toma contornos de efetiva realidade e não de

mera orientação sem conteúdo.

33. E só assim se entende que a informação a disponibilizar ao público deva ser suficiente

para o dotar dos instrumentos necessários ao real conhecimento da sua posição face

ao prestador e mesmo face a terceiras entidades, como sejam as entidades

financiadoras dos atos médicos.

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34. Simultaneamente, só com base na absoluta correção e completude de informação é

que poderá ser salvaguardado o princípio da transparência a observar nas relações

entre as partes.

35. A informação em saúde deve ser prestada com verdade, com antecedência (para não

colocar o doente numa situação de pressão quanto à decisão a tomar), de forma clara,

adaptada à sua capacidade de compreensão, contendo toda a informação necessária à

decisão do utente, de modo a garantir que a liberdade de escolha não venha a resultar

prejudicada3.

36. E o direito dos utentes à informação está, ademais, ínsito à própria relação de

confiança que os mesmos estabelecem com os prestadores de cuidados de saúde, que

se deve pautar, ela própria, globalmente, por princípios da verdade e transparência;

37. Só que esta relação contratual de confiança não pode dissociar-se de um problema

fundamental em saúde o qual se traduz na assimetria de informação que existe em

todas as relações prestador-utente.

38. Com efeito, o utente dos serviços de saúde encontra-se tipicamente prejudicado por

uma assimetria de informação face ao prestador dos mesmos.

39. Por tal facto e no momento do consumo de um bem ou serviço de saúde, e por não

possuir informação ou toda a informação relevante, regra geral delega a sua decisão

sobre o que consumir e quando fazê-lo numa outra entidade que possua essa

informação: o agente da oferta (o prestador dos cuidados de saúde).

40. E é também por força desta assimetria de informação que o dever do prestador de

informação, transparência e respeito pelos direitos e interesses dos (potenciais) utentes

é elevado a um superior patamar de exigência.

41. Acresce que, como se disse atrás, o direito à informação dos utentes extravasa

substancialmente o direito do doente a ser informado sobre o seu estado de saúde,

tratamentos propostos, eventuais riscos e benefícios, alternativas possíveis, efeitos de

não tratamento, prognóstico, diagnóstico e evolução do tratamento.

3 E note-se ademais, que tanto não exime os prestadores de cuidados de cuidados de saúde de

assegurarem o cumprimento de outras obrigações atinentes à relação estabelecida com os utentes,

tal como melhor explicitado pela ERS em entendimentos por si já divulgados, designadamente, na

Recomendação dirigida aos prestadores privados de cuidados de saúde em matéria de elaboração

de orçamentos, faturação extemporânea e ausência de informação aos utentes, disponível em

www.ers.pt.

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42. Com efeito, este direito engloba, nomeadamente:

a) o direito do doente a ser informado sobre os serviços de saúde existentes e sua

utilização;

b) o direito a que a informação lhe seja transmitida para que a possa compreender;

c) o direito do doente a não ser informado, a seu pedido, sobre o seu estado de saúde;

d) o direito do doente a escolher uma terceira pessoa que receba a informação em seu

nome;

e) o direito a obter uma segunda opinião sobre o seu estado de saúde;

f) o direito a ser informado sobre a identidade e estatuto do profissional de saúde

que o vai tratar; (sublinhado nosso)

e g) o direito do doente, ao abandonar um estabelecimento de saúde, a solicitar e

receber um resumo escrito sobre o diagnóstico e tratamento e os cuidados que

necessitou.

43. Importando analisar, no caso concreto, se o comportamento do prestador foi adequado

a garantir o cabal exercício da liberdade de escolha da exponente, incluindo o seu

direito à informação.

III.2.2. Dos direitos e interesses legítimos dos utentes – Da defesa dos utentes

enquanto consumidores dos cuidados de saúde

44. O utente assume a qualidade de consumidor na relação originada com o prestador de

cuidados de saúde por a Lei n.º 24/96, de 31 de julho4 que aprovou o regime legal

aplicável à defesa do consumidor (Lei do Consumidor), definir como consumidor:

“aquele a quem sejam fornecidos bens, prestados serviços ou transmitidos

quaisquer direitos, destinados a uso não profissional, por pessoa que exerça com

carácter profissional uma atividade económica que vise a obtenção de benefícios.”

– cfr. n.º 1 do artigo 2.º do referido diploma legal.

45. E nesse seguimento, deve ter-se presente que:

“O consumidor tem direito:

[…]

d) À informação para o consumo;

4Com as alterações introduzidas pela Lei n.º 85/98, de 16 de dezembro, pelo Decreto - Lei n.º

67/2003, de 8 de abril, pela Lei n.º 10/2013, de 28 de janeiro, e pela Lei n.º 47/2014, de 28 de julho, que a republicou.

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e) À proteção dos interesses económicos;

f) À prevenção e à reparação dos danos patrimoniais ou não patrimoniais que

resultem da ofensa de interesses ou direitos individuais homogéneos, coletivos ou

difusos […]” – cfr. artigo 3.º da Lei do Consumidor.

46. Ora, concretiza a Lei do Consumidor, no que respeita ao “Direito à informação em

particular”, que “O fornecedor de bens ou prestador de serviços deve, tanto nas

negociações como na celebração de um contrato, informar de forma clara, objetiva e

adequada o consumidor, nomeadamente, sobre as características, a identidade do

fornecedor de bens ou prestador de serviços, nomeadamente o seu nome, e o preço

do bem ou serviço […]” – cfr. n.º 1 do artigo 8.º da referida Lei do Consumidor;

47. Note-se que os mercados de serviços de saúde são caracterizados pela informação

imperfeita que, regra geral, as pessoas possuem relativamente à saúde e à doença.

48. Com efeito se, por um lado, é natural que um utente, ou os seus representantes,

percebam a existência de um sintoma, embora tipicamente não determinem a origem e

gravidade do mesmo, será normalmente um profissional de saúde que determinará a

gravidade do problema e conduzirá o utente ao tratamento adequado;

49. Bem como será este último que possuirá a informação sobre quais os atos ou meios

complementares de diagnóstico que respeitam especificamente aos cuidados de saúde

que se revelam como adequados à situação específica do utente em questão.

50. É aqui que se verifica a referida assimetria de informação que, concretamente, resulta

do facto de os profissionais de saúde serem portadores do conhecimento exato dos

cuidados mais adequados às necessidades dos utentes.

51. Efetivamente, o utente comum não será conhecedor dos tratamentos de que necessita,

nem dos exames a realizar, e ainda dos custos que lhe estão diretamente associados,

sendo essa a razão que o leva a recorrer a um prestador de cuidados de saúde para o

aconselhar.

52. E é precisamente isso que justifica que um utente, ou os seus representantes, antes de

decidir(em) (ou não), a realização de um determinado exame ou tratamento, devam ser

informados de forma completa, clara e verdadeira, atento ser o prestador de cuidados

de saúde conhecedor dos tratamentos, atos adequados e bens e serviços a utilizar

para e na resolução dos problemas diagnosticados.

53. A tudo isto acresce que, além do prestador – seja ele pessoa individual ou, como nos

autos, coletiva – dever informar dos aspetos clínicos que são por si controlados por

força do seu conhecimento científico, sob si impende igualmente, o dever de dar

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conhecimento aos utentes, de forma clara e explicada, do valor/preço de cada um dos

atos e serviços clínicos em causa, bem como dos eventuais acordos e protocolos que

tenham sido celebrados e dos respetivos termos.

54. Por isso, e considerada a ótica do utente como um consumidor de um serviço, a

iniciativa de informar deve sempre partir do prestador que não poderá escudar-se na

desculpa de que o interessado não perguntou ou que deveria já saber ou que tinha já

sido informado em momento distinto; ou

55. Que a entidade/o prestador atuou com erro nos pressupostos que lhe foram

comunicados (erradamente) por outras entidades terceiras, como sejam, as entidades

financiadoras dos cuidados de saúde.

56. Assim, deve pois o prestador agir com especial cuidado na execução do seu dever de

informar os utentes de todos os aspetos que podem influenciar a sua decisão final de

escolha, sempre com o intuito de garantir os princípios de transparência das relações

que entre si são criadas.

57. Sendo certo que “O fornecedor de bens ou o prestador de serviços que viole o dever

de informar responde pelos danos que causar ao consumidor […]” – cfr. n.º 5 do artigo

8.º da Lei do Consumidor.

III.2.3. Dos direitos e interesses legítimos dos utentes – do direito à prestação de

cuidados de saúde de qualidade

58. Por outro lado, é reconhecido aos utentes o direito a que os cuidados de saúde sejam

prestados com observância e em estrito cumprimento dos parâmetros mínimos de

qualidade legalmente previstos, quer no plano das instalações, quer no que diz respeito

aos recursos técnicos e humanos utilizados.

59. Pelo que gozam do direito de exigir dos prestadores de cuidados de saúde o

cumprimento dos requisitos de higiene, segurança e salvaguarda da saúde pública,

bem como a observância das regras de qualidade e segurança definidas pelos códigos

científicos e técnicos aplicáveis.

60. Os utentes dos serviços de saúde que recorrem à prestação de cuidados de saúde

encontram-se, não raras vezes, numa situação de vulnerabilidade que torna ainda mais

premente a necessidade dos cuidados de saúde serem prestados pelos meios

adequados, com prontidão, humanidade, correção técnica e respeito;

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61. Bem como que sejam prestados por profissionais que, nos termos da lei, reúnam as

condições necessárias, em termos de habilitações mínimas, ao regular exercício

profissional.

62. Sendo certo que, nos termos do n.º 1 do artigo 98.º do Estatuto da Ordem dos

Médicos, “A atribuição do título profissional, o seu uso e o exercício da profissão de

médico dependem da inscrição na Ordem”5,

63. Podendo inscrever-se na Ordem dos Médicos os titulares dos graus académicos a que

aludem as alíneas a) a d) do n.º 2 do citado artigo 98.º.

64. Acresce que, de acordo com o n.º 1 do artigo 10.º do Estatuto dos Médicos Dentistas6

“Para o exercício da atividade profissional de medicina dentária, sem prejuízo do

disposto no artigo 12.º, é obrigatória a inscrição na OMD”,

65. Adquirindo o direito a inscrever-se com caráter efetivo na OMD para efeitos de

exercício da medicina dentária em Portugal, os titulares dos graus académicos

descritos nas alíneas a) a d) do n.º 2 do mesmo artigo.

66. Ainda de acordo com o disposto na alínea b) do artigo 358.º do Código Penal, incorre

no crime de usurpação de funções “Quem (…) Exercer profissão ou praticar acto

próprio de uma profissão para a qual a lei exige título ou preenchimento de certas

condições, arrogando-se, expressa ou tacitamente, possuí-lo ou preenchê-las, quando

o não possui ou não as preenche”, sendo este crime punido com pena de prisão até 2

anos ou pena de multa até 240 dias.

67. A necessidade de garantir requisitos mínimos de qualidade e segurança ao nível da

prestação de cuidados de saúde, dos recursos humanos, do equipamento disponível e

das instalações, está presente no sector da prestação de cuidados de saúde de uma

forma mais acentuada do que em qualquer outra área.

68. As relevantes especificidades deste setor agudizam a necessidade de garantir que os

serviços sejam prestados em condições que não lesem os interesses nem os direitos

dos utentes.

69. Sobretudo, importa ter em consideração que a assimetria de informação que se verifica

entre prestadores e utentes, reduz a capacidade destes últimos de perceberem e

avaliarem o seu estado de saúde, bem como, a qualidade e adequação dos serviços

que lhe são prestados.

5 Aprovado pela Lei n.º 117/2015, de 31 de agosto.

6 Aprovado pela Lei n.º 124/2015, de 2 de setembro.

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70. Além disso, a importância do bem em causa (a saúde do doente) imprime uma

gravidade excecional à prestação de cuidados em situação de falta de condições

adequadas.

71. Por outro lado, os níveis de segurança desejáveis na prestação de cuidados de saúde

devem ser considerados, seja do ponto de vista do risco clínico, seja do risco não

clínico.

72. No que concerne ao risco não clínico, refira-se que os requisitos de qualidade e

segurança no âmbito dos meios complementares de diagnóstico encontram-se

igualmente definidos, assegurando uma apropriada organização, técnica e

procedimental.

73. Assim, o utente dos serviços de saúde tem direito a que os cuidados de saúde sejam

prestados com observância e em estrito cumprimento dos parâmetros mínimos de

qualidade legalmente previstos, quer no plano das instalações, quer no que diz respeito

aos recursos técnicos e humanos utilizados.

74. Os utentes gozam do direito de exigir dos prestadores de cuidados de saúde o

cumprimento dos requisitos de higiene, segurança e salvaguarda da saúde pública,

bem como a observância das regras de qualidade e segurança definidas pelos códigos

científicos e técnicos aplicáveis e pelas regras de boa prática médica, ou seja, pelas

leges artis.

75. A este respeito encontra-se reconhecido na Lei n.º 48/90, de 24 de agosto, que

aprovou a Lei de Bases da Saúde (LBS), e, hoje, no artigo 4º da Lei n.º 15/2014, de 21

de março, o direito dos utentes a serem “tratados pelos meios adequados,

humanamente e com prontidão, correção técnica, privacidade e respeito” – cfr. alínea

c) da Base XIV da LBS.

76. Quando o legislador refere que os utentes têm o direito de ser tratados pelos meios

adequados e com correção técnica está certamente a referir-se à utilização, pelos

prestadores de cuidados de saúde, dos tratamentos e tecnologias tecnicamente mais

corretas e que melhor se adequam à necessidade concreta de cada utente.

77. Por outro lado, quando na alínea c) da Base XIV da LBS se afirma que os utentes

devem ser tratados humanamente e com respeito, tal imposição decorre diretamente

do dever dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde de atenderem e

tratarem os seus utentes em respeito pela dignidade humana, como direito e princípio

estruturante da República Portuguesa.

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78. De facto, os profissionais de saúde que se encontram ao serviço dos estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde devem ter “redobrado cuidado de respeitar as

pessoas particularmente frágeis pela doença ou pela deficiência”.

79. E a qualidade dos serviços de saúde não se esgota nas condições técnicas de

execução da prestação, mas abrange também na qualificação dos profissionais

envolvidos.

III.3. Das competências da ERS em matéria de licenciamento

80. O Decreto-lei n.º 126/2014, de 22 de agosto, procedeu à adaptação e publicação dos

Estatutos da ERS, revisto ao abrigo do regime estabelecido na Lei-Quadro das

Entidades Reguladoras, aprovado em anexo à Lei n.º 67/2013, de 28 de agosto.

81. De acordo com o disposto no já citado artigo 5.º n.º 2 alínea a) dos Estatutos da ERS,

"as [suas] atribuições compreendem a supervisão da atividade e de funcionamento dos

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde no que respeita (…) ao

cumprimento dos requisitos de exercício da atividade e de funcionamento, incluindo o

licenciamento dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, nos termos da

lei".

82. Neste contexto foi publicado o Decreto-lei n.º 127/2014, de 22 de agosto, o qual

revogou o Decreto-lei n.º 279/2009, de 6 de outubro, e concretizou as competências

atribuídas à ERS em matéria de licenciamento dos estabelecimentos prestadores de

cuidados de saúde, passando esta Entidade Reguladora a concentrar todo o processo,

passando a assumir “para além do papel de fiscalizadora, o papel de licenciadora,

introduzindo uma coerência maior ao sistema de licenciamento e fiscalização”.

83. De acordo com o disposto no Decreto-lei n.º 127/2014, de 22 de agosto, a abertura e

funcionamento de um estabelecimento prestador de cuidados de saúde dependem da

verificação dos requisitos técnicos de funcionamento aplicáveis a cada uma das

tipologias, definidos por portaria do membro do Governo responsável pela área da

saúde.

84. Assim, a verificação dos requisitos técnicos de funcionamento dos estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde é titulada por licença, exceto se o estabelecimento

em causa for detido por pessoa coletiva pública ou for abrangido pelo artigo 13.º do

Decreto-lei n.º 138/2013, de 9 de outubro, caso em que a verificação dos respetivos

requisitos é titulada por declaração de conformidade.

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85. A declaração de conformidade é obtida mediante procedimento próprio, a definir por

portaria do membro do Governo responsável pela área da saúde, a qual fixará também

os requisitos técnicos de funcionamento para os estabelecimentos prestadores em

causa.

86. Por sua vez, a licença de funcionamento é atribuída mediante instrução de

procedimento simplificado, por mera comunicação prévia, ou de procedimento

ordinário.

87. O procedimento de licenciamento simplificado por mera comunicação prévia inicia-se

com o preenchimento eletrónico de declaração disponível com recurso ao Portal de

Licenciamento existente no portal de internet da ERS, no qual o declarante se

responsabiliza pelo cumprimento integral dos requisitos de funcionamento exigíveis

para a atividade que se propõem exercer ou que exercem, sendo que

88. Os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde da tipologia de radiologia ou

quaisquer outros que utilizem equipamentos sujeitos à obrigação de obtenção de

licença de proteção e segurança radiológica em instalações que usem radiações

ionizantes emitida pela Direção-Geral da Saúde devem, ainda, entregar em anexo à

declaração a que se refere o número anterior, cópia daquela licença, conforme

prescrito nos n.ºs 1 e 2 do artigo 4.º do Decreto-lei n.º 127/2014, de 22 de agosto.

89. De acordo com o disposto no n.º 4 do artigo 4.º do mesmo diploma, estão sujeitas ao

procedimento de licenciamento simplificado por mera comunicação prévia, as

seguintes tipologias: a) Clínicas e consultórios dentários (como é o caso dos autos); b)

Clínicas e consultórios médicos; c) Centros de enfermagem; d) Unidades de medicina

física e reabilitação; e) Unidades de radiologia;

90. O procedimento de licenciamento ordinário é aplicável a todos os estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde cuja tipologia não seja abrangida pelo n.º 4 do artigo

4.º do Decreto-lei n.º 127/2014, de 22 de agosto.

91. Neste caso, a licença de funcionamento é requerida pelo interessado através da

submissão eletrónica de formulário disponível no Portal do Licenciamento, no qual

aquele se responsabiliza pelo cumprimento integral dos requisitos de funcionamento

exigíveis para a atividade a que se propõe, podendo haver lugar a uma vistoria prévia,

a realizar pela ERS, nos 30 dias subsequentes à data de apresentação do pedido de

licença.

92. Para além da verificação dos requisitos técnicos de funcionamento aplicáveis a cada

uma das tipologias, definidos pelas portarias a que se refere o artigo 2.º do citado

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diploma, o funcionamento dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde

deve ainda cumprir requisitos de higiene, segurança e salvaguarda da saúde pública,

de acordo com o n.º 1 do artigo 10.º

93. De acordo com o previsto no artigo 18.º do Decreto-lei n.º 127/2014, de 22 de agosto,

os processos de licenciamento que se encontrem pendentes devem ser remetidos à

ERS pelas Administrações Regionais de Saúde, no prazo de 30 dias, a contar da data

da entrada em vigor do referido Decreto-lei, disso dando conhecimento aos respetivos

interessados.

94. A ERS continua a tramitação dos referidos processos, aproveitando todos os atos já

praticados e decidindo ao abrigo do regime vigente antes da entrada em vigor do

mesmo Decreto-lei.

95. Prescreve o n.º 1 do artigo 19.º do Decreto-lei n.º 127/2014, de 22 de agosto, que se

mantêm “válidas as licenças de estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde

emitidas ao abrigo de legislação vigente antes da entrada em vigor do presente

Decreto-lei, desde que não ocorram modificações nos termos do artigo 12.º,

salvaguardando o disposto no n.º 4 do presente artigo”, de acordo com o qual, “Em

qualquer caso, todos os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde

detentores de licenças emitidas ao abrigo de legislação vigente antes da entrada em

vigor do presente Decreto-lei devem conformar-se com o regime neste estabelecido, no

prazo de cinco anos, a contar da data da sua entrada em vigor”.

96. Já quanto aos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde não licenciados ao

abrigo da legislação vigente antes da entrada em vigor do citado Decreto-lei, estes

“devem adequar-se ao regime por este aprovado, no prazo estabelecido na portaria

que aprova os requisitos técnicos para a respetiva tipologia”, sendo que, “Na falta de

disposição de um prazo na portaria a que se refere o número anterior, devem os

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde em funcionamento adequar-se ao

regime aprovado pelo presente Decreto-lei, no prazo de um ano, a contar da data da

sua entrada em vigor” (cfr. artigo 20.º do Decreto-lei n.º 127/2014, de 22 de agosto).

97. Até à presente data, encontram-se regulamentadas as seguintes tipologias:

(i) Clínicas e Consultórios Dentários (Portaria n.º 268/2010, de 12 de maio,

alterada pela Portaria n.º 167 – A/2014, de 21 de agosto);

(ii) Unidades de Obstetrícia e Neonatologia (Portaria n.º 615/2010, de 03 de

agosto, alterada pela Portaria n.º 8/2014, de 14 de janeiro, esta com as

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alterações decorrentes da Declaração de Retificação n.º 16/2014, de 07 de

março);

(iii) Centros de Enfermagem (Portaria n.º 801/2010, de 23 de agosto, alterada pela

Portaria n.º 1056-A/2010, de 14 de outubro);

(iv) Unidades Privadas de Medicina Física e Reabilitação (Portaria 1212/2010, de

30 de novembro);

(v) Clínicas e Consultórios Médicos (Portaria n.º 287/2012, de 20 de setembro,

alterada pela Portaria n.º 136 – B/2014, de 3 de julho);

(vi) Unidades com Internamento (Portaria n.º 290/2012, de 24 de setembro);

(vii) Unidades de Cirurgia de Ambulatório (Portaria n.º 291/2012, de 24 de setembro,

com as alterações decorrentes da Declaração de Retificação n.º 68/2012, de 23

de novembro, e alterada pela Portaria n.º 111/2014, de 23 de maio);

(viii) Unidades de Diálise (Portaria n.º 347/2013, de 28 de novembro);

(ix) Medicina Nuclear (Portaria n.º 33/2014, de 12 de fevereiro);

(x) Radioterapia/Radioncologia (Portaria n.º 34/2014, de 12 de fevereiro);

(xi) Radiologia (Portaria n.º 35/2014, de 12 de fevereiro);

(xii) Laboratórios de Anatomia Patológica (Portaria n.º 165/2014, de 21 de agosto);

(xiii) Laboratórios de Patologia Clínica/Análises Clínicas (Portaria n.º 166/2014, de

21 de agosto);

(xiv) Laboratórios de Genética Médica (Portaria n.º 167/2014, de 21 de agosto).

98. O procedimento de licenciamento desta tipologia de estabelecimentos prestadores de

cuidados de saúde segue o regime de tramitação simplificado por mera comunicação

prévia, conforme resulta do disposto no já citado artigo 4.º, n.º 4, alínea a) do aludido

Decreto-Lei n.º 127/2014, de 22 de agosto.

99. Nos termos do ponto i) da alínea a) do n.º 1 do artigo 17.º deste diploma legal, constitui

contraordenação, punível com coima de 2 000 EUR a 3 740,98 EUR, no caso de se

tratar de pessoa singular, e de 4 000 EUR a 44 891,81 EUR, no caso de se tratar de

pessoa coletiva, “o funcionamento de estabelecimento prestador de cuidados de saúde

sem licença de funcionamento, relativa a uma ou várias das tipologias por si exercidas,

em infração ao disposto no artigo 2.º”.

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100. A atrás referida Portaria n.º 268/2010, de 12 de maio, alterada pela Portaria n.º 167-

A/2014, de 21 de agosto, estabelece os requisitos mínimos relativos à organização e

funcionamento, recursos humanos e instalações técnicas para o exercício da atividade

das clínicas e dos consultórios dentários.

101. Importa considerar que, por via da alteração legislativa decorrente da Portaria n.º

167-A/2014, de 21 de agosto, o legislador veio determinar e estabelecer um prazo de

adaptação para que os estabelecimentos (clínicas ou consultórios) dentários se

adequem e deem cumprimento às exigências e aos requisitos legais de funcionamento

tal como estabelecidos no regime de licenciamento para a valência de medicina

dentária (aprovado pelo Decreto-Lei n.º 127/2014, de 22 de agosto, diploma que

revoga o Decreto-Lei n.º 279/2009, de 6 de outubro, regulamentado pela Portaria n.º

268/2010, de 12 de maio, com as alterações introduzidas pela nova Portaria n.º 167-

A/2014, de 21 de agosto).

102. Assim, o n.º 1 do artigo 4.º da mencionada Portaria n.º 167-A/2014, de 21 de

agosto, veio estabelecer que o prazo para as clínicas e consultórios dentários em

funcionamento à data da publicação da Portaria n.º 268/2010, de 12 de maio, que não

se encontrem licenciadas ao abrigo da legislação anterior ao Decreto-Lei n.º 279/2009,

de 6 de outubro, se adequarem aos requisitos nela previstos, com as alterações

introduzidas por esta Portaria, é prorrogado por um ano, a contar da data da sua

publicação (ou seja, até 21 de agosto de 2015).

103. O n.º 2 do artigo 4.º da mesma Portaria n.º 167-A/2014, de 21 de agosto, veio

estabelecer que as clínicas e consultórios dentários licenciadas, bem como aquelas

cujo pedido de licenciamento se encontre pendente, ao abrigo do Decreto-Lei n.º

279/2009, de 6 de outubro, dispõem de um ano, a contar da data da entrada em vigor

desta Portaria (ou seja, até 21 de agosto de 2015), para se adequarem aos requisitos

previstos na Portaria n.º 268/2010, de 12 de maio, com as alterações introduzidas pela

referida Portaria n.º 167-A/2014.

III.4. Análise da situação concreta

104. Importa agora, considerando os factos supra expostos, aferir da conduta do

prestador, do ponto de vista da garantia dos direitos e interesses legítimos dos utentes,

em especial, o seu direito à informação e o seu direito a que os cuidados de saúde

sejam prestados com qualidade e por profissionais que, nos termos da lei, reúnam as

condições necessárias, em termos de habilitações mínimas, ao regular exercício

profissional.

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105. Ora, na resposta remetida à ERS o prestador visado, veio alegar que não existe

motivo para se confundir a intervenção da colaboradora (…), diretora da clínica visada

nos autos, com a intervenção do médico ou médica que atendeu a utente, descrevendo

os procedimentos implementados naquele estabelecimento de atendimento do utente.

106. Assim, de acordo com a Dizin – Saúde, SA:

(i) Os procedimentos de receção dos novos pacientes encontram-se

estabelecidos internamente através de normas de procedimento específico, e são

respeitados e cumpridos, sendo todos os trabalhadores formados inicial e

continuadamente, estando também estabelecidos todos os intervenientes nos

procedimentos de receção, avaliação, primeira consulta e de diagnóstico dos

pacientes, os quais atuam no limite das suas competências e funções laborais;

(ii) O procedimento de receção dos novos pacientes é efetuado primeiramente

por uma rececionista, que tem como funções designadamente receber o paciente,

recolher alguns dados do paciente e conhecer da razão da visita e necessidade,

prestando os primeiros esclarecimentos sobre os serviços prestados, sendo que, após

recolha dos dados de identificação do potencial paciente para preenchimento de ficha

de paciente, este é apresentado e acompanhado pelo Assessor/Diretor da Clínica;

(iii) Ao Diretor da Clínica cumpre designadamente completar a recolha dos

dados do paciente e preencher a ficha de paciente, aprofundando sobre o motivo da

vinda do mesmo e apresentando o conceito e serviços em termos globais, competindo,

nesta fase, ao diretor da clínica questionar “o paciente relativamente à existência ou

não de acompanhamento regular do paciente por outras clínicas dentárias, dos hábitos

pessoais e de saúde - nomeadamente se o paciente é ou não fumador, sobre o

agregado familiar, consumo de café - e condições financeiras, informações que

passam a constar na ficha de paciente e que deverão ser tomadas em consideração

pelo médico que prestará a consulta de seguida, realiza um raio X”7;

(iv) Concluída esta fase, o paciente é então encaminhado pelo Diretor da Clínica

para o gabinete do médico para consulta, sendo pelo Diretor da Clínica comunicado ao

médico o perfil do paciente, os motivos da visita, e expectativas demonstradas pelo

paciente, e entrega o Rx efectuado, sendo que, só então, o médico analisa e interpreta

o raio X, avalia a situação, conversando com o paciente e analisando os dados

disponíveis e apresenta ao paciente as soluções adequadas à sua situação clínica;

7 Embora a redação seja equívoca, do teor desta resposta do prestador conjugado com o

documento junto com a resposta como anexo 1 (diagrama) conclui-se que é o diretor da clínica que

realiza o raio x, exame este que o médico posteriormente analisa.

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(v) As observações do médico são então anotadas pelo Diretor da

Clínica/Assessor, que está presente na consulta para o efeito de tomar os

apontamentos necessários à tramitação burocrática eventualmente subsequente, e em

seguida pode ou não iniciar-se o tratamento de imediato, em caso de intervenção

urgente e de acordo com o interesse demonstrado pelo paciente e decisão médica;

(vi) Esclarece ainda que o paciente dialoga com o médico e ambos tomam as

decisões adequadas à situação clínica do paciente de acordo com a sua esclarecida

vontade, podendo ainda, no caso de não ser iniciado de imediato o tratamento, e

respeitando o interesse do paciente, ser elaborado em seguida um plano de saúde

integrado (denominado "P.S.I.") com indicação dos tratamentos médicos

recomendados pelo médico que fez o diagnóstico.

(vii) Só depois regressam a sala separada para ser concluído e impresso o

orçamento que é entregue ao paciente após nova verificação e confirmação pelo

médico, de tal modo que o orçamento é sempre assinado pelo Diretor da

Clinica/Assessor, pelo paciente e pelo médico que realizou a consulta, podendo

posteriormente o diretor da clínica questionar ou não, de acordo com critérios

estabelecidos, em matéria de pagamento dos tratamentos orçamentados e

designadamente das condições financeiras se necessitará ou não de financiamento.

107. Sucede que, de acordo com a exposição que deu origem à abertura do presente

processo de inquérito:

(i) “Uma vez contactada a Clinica, o que sucedeu pessoalmente, é se atendido por

uma recepcionista que se encontra num balcão exterior, que veste uma bata

cinzenta e azul, e quando solicitada a marcação de consulta com um médico

dentista, fazendo-se menção à concreta situação clinica que nos leva a

procurar atendimento clinico é marcada consulta, que é realizada por uma senhora

a quem a recepcionista chama Dra., que veste uma bata branca, diferente das que

vestem as recepcionistas da mesma clinica - de cor cinzenta e azul - a qual nos

conduz a um gabinete, referindo que é para ser feita a consulta. Nesse gabinete, a

senhora (Dra.) que veste bata branca informa-nos que não será feito

qualquer tratamento sem que seja feita uma rádiografia periférica a toda a boca. Na

sequencia ela mesma conduz o paciente a um gabinete, onde o sujeita à tal

rádiografia periférica e, após a mesma ser realizada, sempre a mesma senhora,

analisa a radiografia e, perante o que observa, diz ao paciente quais os tratamentos

dentários que deve realizar, reforçando a urgencia e o perigo que pode ocorrer para

a saúde no caso de não os fazer, apresenta um orçamento e informa desde logo da

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possibilidade de o mesmo ser financiado por diferentes instituições de crédito,

tratando a Clinica de todo o processo, numa ou em várias financeiras, de acordo

com o montante ou viabilidade de financiamento total por uma delas”;

(ii) “Em momento algum somos informados de que a senhora que faz esse

atendimento, de nome (…), não é dentista, tudo levando a crer, pelo forma como o

processo de atendimento decorre, que terá formação médica na especialidade”;

(iii) “Só depois de ter sido feita essa consulta e do paciente ter acedido na realização

do ou dos tratamentos, sendo que os indicados podem orçar os milhares de

euros, é que, nesse dia ou noutro que é designado, o paciente é sujeito a nova

consulta, esta já num gabinete equipado com os utensilios próprios para

intervenções médicas dentárias, com vista a ser realizado o ou os tratamentos que

já foram antes considerados adequados pela primeira referida senhora”;

(iv) “Por contacto telefónico contactei a Clinica que se situa no Loures Shopping, tendo

sido informada pela recepcionista que me atendeu que o modo de funcionamento

de todas as clinicas é o indicado, não havendo possibilidade de se ser atendido

pela primeira vez em qualquer das Clinicas sem a consulta para aferir quais os

tratamentos que devem ser feitos, realizada nos termos referidos;

108. Assim, apesar de o prestador ter negado a existência de duas consultas, uma com

a referida colaboradora (…), e outra com o/a médico/a dentista que atendeu a utente e

apesar da descrição de procedimentos junta, na ótica da concreta utente dos autos, de

todo o procedimento de atendimento não resulta de forma clara8 que aquela

colaboradora não é médica dentista, antes, pelo contrário, tudo levando a crer que tem

formação e está legalmente habilitada para as funções exercidas.

109. Mais, ainda de acordo com a utente, apenas depois de o utente aceder na

realização dos tratamentos é que o utente é sujeito a nova consulta, esta já num

gabinete equipado com os utensílios próprios para intervenções médicas dentárias,

com vista a ser realizado o ou os tratamentos que já foram antes considerados

adequados pela primeira referida colaboradora.

110. Daqui resulta que, subsistem dúvidas quer sobre se a informação que foi prestada

àquela concreta utente quer sobre se a informação que por regra será prestada aos

8 Salientando até a utente na exposição a cor da bata desta profissional (branca, diferente da bata

cinzenta e azul que usa a rececionista) e o tratamento usado pela rececionista para se referir à

profissional visada (“Dra.”).

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utentes terá sido prestada de forma cabal sobre todos os aspetos da prestação de

cuidados de saúde;

111. Nos quais se incluem, a informação sobre a identidade e estatuto do profissional de

saúde que o vai atender;

112. Uma vez que o procedimento descrito pela utente é, pelo menos, apto a confundir

os utentes, no que concerne aos profissionais (e respetivas funções) envolvidos no

atendimento ao utente realizado naquele estabelecimento.

113. Ora, como se disse supra, só com a prestação de informação completa sobre todos

os aspetos da prestação de cuidados de saúde é que a relação com o utente se

estabelecerá com transparência, verdade e completude, e só assim pode o utente

prestar o seu assentimento completo ao tratamento proposto e orçamento incurso.

114. Com efeito, a liberdade de escolha do utente, bem como o consentimento ao

tratamento proposto pelo prestador só podem ser efetivamente garantidos se for

transmitida ao utente, completa e atempadamente, toda a informação relevante para a

sua decisão.

115. Sobretudo, no momento antes da escolha do prestador, a prestação dessa

informação assume um papel primordial na relação utente – prestador, porquanto,

116. É nesse momento que se verifica uma maior assimetria de informação que,

concretamente, resulta do facto de os profissionais de saúde serem portadores do

conhecimento exato dos cuidados mais adequados às concretas e diagnosticadas

necessidades dos utentes.

117. Ora, é com base no aconselhamento que é prestado por aquele profissional que o

utente decide, não só pelo prestador de cuidados de saúde, mas também pelos

cuidados a prestar – presumindo, que o profissional que o está aconselhar não só tem

os conhecimentos técnicos como também as correspetivas habilitações profissionais.

118. Naturalmente, que é diferente a situação do utente que decide com base no

aconselhamento prestado pela denominada Diretora da Clínica (com funções de

relações públicas e comerciais) da situação do utente que decide com base no

aconselhamento e diagnóstico feito por um médico ou médico dentista.

119. No caso dos autos não resulta inequívoco que a utente foi informada pelo prestador

de forma clara que a profissional que realizou a dita avaliação - com base na qual os

utentes “acedem” na realização de tratamentos - não era efetivamente médica dentista,

mas antes uma colaboradora com funções de relações públicas e comerciais,

denominada pelo prestador de “Diretora de Clínica”.

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120. Acresce que, de acordo com a exposição inicial:

“Nesse gabinete, a senhora (Dra.) que veste bata branca informa-nos que não será

feito qualquer tratamento sem que seja feita uma radiografia periférica a toda a boca.

Na sequencia ela mesma conduz o paciente a um gabinete, onde o sujeita à tal

rádiografia periférica e, após a mesma ser realizada, sempre a mesma senhora,

analisa a radiografia e, perante o que observa, diz ao paciente quais os tratamentos

dentários que deve realizar, reforçando a urgência e o perigo que pode ocorrer para a

saúde no caso de não os fazer, apresenta um orçamento e informa desde logo da

possibilidade de o mesmo ser financiado por diferentes instituições de crédito, tratando

a Clinica de todo o processo, numa ou em várias financeiras, de acordo com o

montante ou viabilidade de financiamento total por uma delas. (…) Só depois de ter

sido feita essa consulta e do paciente ter acedido na realização do ou dos tratamentos,

sendo que os indicados podem orçar os milhares de euros, é que, nesse dia ou noutro

que é designado, o paciente é sujeito a nova consulta, esta já num gabinete equipado

com os utensilios próprios para intervenções médicas dentárias, com vista a ser

realizado o ou os tratamentos que já foram antes considerados adequados pela

primeira referida senhora”.

121. Notificado o prestador para juntar aos autos as habilitações profissionais da citada

colaboradora (…), na resposta rececionada na ERS em 2 de novembro de 2015, não

foram, contudo, remetidas estas informações.

122. Com efeito, quanto às solicitadas habilitações profissionais dessa colaboradora é

referido na página 5 da resposta “em anexo”, sendo que dos dois anexos remetidos

não constam as referidas habilitações profissionais (Anexo 1: Diagrama de

procedimentos internos; Anexo 2: Descrição das funções de Diretor de Clínica).

123. Notificada novamente a Dizin – Saúde, SA, para enviar a informação solicitada,

nomeadamente, “Indicação das habilitações profissionais da colaboradora (…) e do

número de cédula profissional, acompanhada dos respetivos documentos

comprovativos”, na resposta rececionada na ERS em 13 de novembro de 2015, a Dizin

– Saúde, SA, não indicou as referidas habilitações nem juntou os respetivos

comprovativos.

124. Antes referiu que “Quanto à junção do comprovativo de habilitações profissionais do

médico dentista que em concreto atendeu o participante (que desconhecemos) não

pode ser junto dado que não sabemos nem temos meio de saber qual foi o médico que

atendeu o reclamante anónimo”, quando as notificações remetidas não deixam

margem para dúvidas de que as informações solicitadas eram especificamente

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relativas à referida colaboradora (…), e não do/a médico/a dentista que atendeu a

utente.

125. Da consulta ao SRER da ERS, resulta que relativamente a este ou outro prestador

não se encontra registada qualquer médica, médica dentista ou técnica de saúde de

nome (…).

126. Donde se conclui que aquela colaboradora não tem nem pode exercer a atividade

profissional de medicina ou medicina dentária.

127. Mais resulta da exposição inicial a alegada prática de atos que extravasam

manifestamente as funções da denominada “Diretora da Clínica”, para os quais a

referida colaboradora não está legalmente habilitada;

128. Daqui resultando também prejudicados os direitos e interesses legítimos dos

utentes.

129. Com efeito, dos autos resulta que a dita colaboradora, não só realizou a referida

“consulta” à utente, como também “prescreveu”, efetuou e “analisou” a radiografia à

utente;

130. Tudo atos de uma profissional que o prestador não logrou comprovar nos autos e

para cuja prática o legislador impõe qualificações legais que aquela não cumpre.

131. Assim, analisados todos os elementos carreados para os autos e atento o quadro

normativo supra descrito, impõe-se, pois, uma intervenção regulatória da ERS, nos

termos melhor infra descritos, no sentido de o prestador visado nos autos garantir o

respeito pelos direitos e interesses legítimos dos utentes, em especial, o direito à

informação, e o direito a que os cuidados de saúde sejam prestados com qualidade e

ainda por profissionais que, nos termos da lei, reúnam as condições necessárias, em

termos de habilitações mínimas, ao regular exercício profissional.

132. Já no que se refere à questão suscitada pela exponente relativa aos requisitos

relativos à organização e funcionamento das unidades privadas de serviços de saúde

importa referir o seguinte.

133. À data dos factos era aplicável o Decreto-lei n.º 279/2009, de 6 de outubro, que

estabeleceu o regime jurídico a que ficavam sujeitos a abertura, a modificação e o

funcionamento das unidades privadas de serviços de saúde, bem como a Portaria n.º

268/2010, de 12 de maio, que estabeleceu os requisitos mínimos relativos à

organização e funcionamento, recursos humanos e instalações técnicas para o

exercício da atividade das clínicas ou consultórios dentários.

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134. Sucede que posteriormente, como se disse supra, o Decreto-lei n.º 127/2014, de 22

de agosto (concretizando as competências atribuídas à ERS em matéria de

licenciamento pelo Decreto-lei n.º 126/2014, de 22 de agosto) revogou o referido

Decreto-lei n.º 279/2009, de 6 de outubro e estabeleceu o novo regime jurídico a que

ficam sujeitos a abertura, a modificação e o funcionamento dos estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde.

135. Considerando o prazo de adaptação de um ano para que os estabelecimentos

(clínicas ou consultórios) dentários se adequem e deem cumprimento às exigências e

aos requisitos legais para o exercício da atividade das clínicas ou consultórios

dentários, previsto no citado artigo 4.º da Portaria n.º 167-A/2014, de 21 de agosto, que

alterou a Portaria n.º 268/2010, de 12 de maio;

136. Considerando também que da consulta o SRER da ERS resulta que o

estabelecimento prestador de cuidados de saúde “Clínicas O Meu Dentista – Forum

Sintra”, explorado pela entidade Dizin – Saúde, SA, registado sob o n.º 115169, é titular

da licença de funcionamento n.º 718/2011 para a tipologia unidades de clínicas ou

consultórios dentários;

137. Considerando ainda que o pedido de licenciamento deste estabelecimento

encontra-se no estado “deferida/licenciada”, para a tipologia clínicas ou consultórios

dentários, tendo o pedido sido validado em 15 de setembro de 2015;

138. Considerando que do SRER da ERS, resulta, ainda, que o estabelecimento

prestador de cuidados de saúde “Clínicas O Meu Dentista – Amoreiras Shopping”,

explorado pela entidade Dizin – Saúde, SA, registado com o n.º 118706, é titular da

licença de funcionamento n.º 5100/2012 para a tipologia unidades de clínicas ou

consultórios dentários;

139. E que o pedido de licenciamento deste estabelecimento encontra-se no estado

“deferida/licenciada”, para a tipologia clínicas ou consultórios dentários, tendo o pedido

sido validado em 15 de setembro de 2015;

140. Assumindo os agentes a responsabilidade pelo cumprimento dos requisitos

técnicos exigidos, tudo isto sem prejuízo das avaliações periódicas e fiscalizações que

a ERS efetua, ao abrigo dos poderes de autoridades e de fiscalização previstos no

artigo 21.º dos seus Estatutos;

141. Em face do exposto, procede-se ao arquivamento dos presentes autos, no que

concerne à suscitada questão relativa ao cumprimento dos requisitos de funcionamento

legalmente exigidos ao prestador visado, à data da realização da reclamação.

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IV. AUDIÊNCIA DOS INTERESSADOS

142. A presente deliberação foi precedida de audiência escrita dos interessados, nos

termos e para os efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 122.º do Código do

Procedimento Administrativo, aplicável ex vi do artigo 24.º dos Estatutos da ERS, tendo

para o efeito sido chamados a pronunciar-se, relativamente ao projeto de deliberação

da ERS, a exponente M. e o prestador de cuidados de saúde visado, a Dizin – Saúde,

SA.

143. Até ao presente momento, apenas foi rececionada na ERS a pronúncia deste

prestador, em 14 de março de 2016.

144. Em sede de audiência de interessados, a Dizin – Saúde, SA, veio assim pronunciar-

se, referindo que:

“[…]

No seguimento de mais uma notificação sobre o processo em cima referido, informo

que a Nossa resposta tenderá a ser a mesma. Mais afirmamos que nunca um paciente

é observado por alguém nas nossas clínicas que não seja médico dentista,

devidamente inscrito na OMD. A Sra D. (…)não é médica dentista, e como

demonstrado por processo e procedimento interno, nunca poderia observar qualquer

paciente. Isso parece-nos claro. Nem a acusação o refere. Mais, estamos totalmente

disponíveis para dar todos os esclarecimentos necessários. No entanto, torna-se

complicado responder e defender-nos de uma denúncia anónima e infundada, sobre o

qual não temos informação do paciente, revelando princípios de difamação.

Ficamos ao dispor para qualquer esclarecimento adicional.

[…]“.

145. Analisada esta informação conclui-se que a mesma não é de molde a infirmar os

factos e a apreciação tal como constantes do projeto de deliberação da ERS, a qual se

mantém na íntegra.

146. Com efeito, na pronúncia apresentada o prestador visado limitou-se a manter a

posição já defendida nos autos, concluindo que nas clínicas da Dizin - Saúde, SA,

nunca um paciente é observado por alguém que não seja médico dentista,

devidamente inscrito na Ordem dos Médicos Dentistas e ainda que a referida

colaboradora (…)não é médica dentista, pelo que nunca poderia observar qualquer

paciente.

147. Sucede que, como melhor se explanou supra, tal não é o que resulta dos autos.

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148. Com efeito, e apesar do prestador alegar que nunca um paciente é observado por

alguém que não seja médico dentista, devidamente inscrito na Ordem dos Médicos

Dentistas, das diligências probatórias dos autos concluiu-se que não resulta inequívoco

que a utente foi informada pelo prestador de forma clara que a profissional que realizou

a mencionada avaliação - com base na qual os utentes “acedem” na realização de

tratamentos - não era efetivamente médica dentista, mas antes uma colaboradora com

funções de relações públicas e comerciais, denominada pelo prestador de “Diretora de

Clínica”,

149. Sendo o procedimento descrito nos autos pela exponente, pelo menos, apto a

confundir os utentes, no que concerne aos profissionais (e respetivas funções)

envolvidos no atendimento ao utente realizado naquele estabelecimento.

150. Acresce que, muito embora o prestador refira na pronúncia que a colaboradora

(…)não é médica dentista e nunca poderia observar qualquer paciente, das diligências

realizadas resultou outrossim que aquela colaboradora, apesar de não ter e nem poder

exercer a atividade profissional de medicina ou medicina dentária, não só realizou a

referida “consulta” à exponente, como também “prescreveu”, efetuou e “analisou” a

radiografia daquela,

151. Atos estes cujas habilitações profissionais o prestador não logrou comprovar nos

autos (alegando não poder proceder à junção das habilitações profissionais do médico

dentista que em concreto atendeu o participante que desconhece) e para cuja prática o

legislador impõe qualificações legais que a referida colaboradora não cumpre.

152. Em face do exposto, conclui-se que, na pronúncia apresentada pela Dizin – Saúde,

SA, não foi trazido ao conhecimento da ERS qualquer elemento ou facto capaz de

infirmar ou alterar o sentido do projeto de deliberação da ERS tal como regularmente

notificado aos interessados, justificando-se, assim, a intervenção regulatória da ERS

nos precisos termos da decisão projetada.

V. DECISÃO

153. Tudo visto e ponderado, o Conselho de Administração da ERS delibera, nos termos

e para os efeitos do preceituado nas alíneas a) e b) do artigo 19.º e na alínea a) do

artigo 24.º dos Estatutos da ERS, emitir uma instrução à Dizin – Saúde, SA, nos

seguintes termos:

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i. A Dizin – Saúde, SA, não pode permitir, em qualquer estabelecimento prestador

de cuidados de saúde por si detido, a prestação de cuidados de saúde por

profissionais não habilitados para o efeito;

ii. A Dizin- Saúde, SA, deve garantir de forma permanente a prestação de

informação verdadeira, completa, inteligível e transparente sobre todos os

aspetos relacionados com a prestação de cuidados de saúde, designadamente,

não induzindo em erro (potenciais) utentes no que se refere às habilitações

legais e categoria profissional dos colaboradores ao seu serviço;

iii. A Dizin – Saúde, SA, deve adotar todos os procedimentos internos tendentes a

assegurar que, em qualquer contacto que encete junto dos seus (potenciais)

utentes, seja ele informático, presencial e/ou telefónico, resulta de forma clara

para os (potenciais) utentes as concretas funções dos seus profissionais de

saúde e a respetiva categoria profissional, sendo esta especificamente

identificada;

iv. A Dizin – Saúde, SA, deve dar cumprimento imediato à presente instrução, bem

como dar conhecimento à ERS, no prazo máximo de 30 dias após a notificação

da presente deliberação, dos procedimentos adotados para o efeito.

154. A instrução ora emitida constitui decisão da ERS, sendo que a alínea b) do n.º 1 do

artigo 61.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de

agosto, configura como contraordenação punível, in casu, com coima de 1000,00 EUR

a 44 891,81 EUR, “(….) o desrespeito de norma ou de decisão da ERS que, no

exercício dos seus poderes regulamentares, de supervisão ou sancionatórios,

determinem qualquer obrigação ou proibição, previstos nos artigos 14.º, 16.º, 17.º, 19.º,

20.º, 22.º e 23.º”.

155. O Conselho de Administração da ERS delibera igualmente dar conhecimento da

presente deliberação à Ordem dos Médicos Dentistas.

156. A versão não confidencial da presente deliberação será publicitada no sítio oficial

da Entidade Reguladora da Saúde na Internet.

O Conselho de Administração.

Porto, 5 de abril de 2016.