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DEFENDENDO O (VERDADEIRO) CRISTIANISMO Uma breve apologética da fé cristã Uberlândia, 15 de Janeiro de 2013. Misael Pulhes

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Page 1: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

DEFENDENDO O (VERDADEIRO) CRISTIANISMO

Uma breve apologética da fé cristã

Uberlândia, 15 de Janeiro de 2013.

Misael Pulhes

Page 2: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

ÍNDICE

I. INTRODUÇÃO: VOCÊ É O QUE VOCÊ ACREDITA ................................................................................... ....................5

II. BANDEIRAS CONTEMPORÂNEAS .................................................................................................................................. 6

III. IMPLICAÇÕES DA INEXISTÊNCIA DE DEUS – O ABSURDO DA VIDA SEM DEUS ............................................... 8

IV. ARGUMENTOS EM FAVOR DA EXISTÊNCIA DE DEUS .......................................................................................... 13

V. PODEMOS CONFIAR NA BÍBLIA? ................................................................................................................................ 19

VI. EXISTEM EVIDÊNCIAS HISTÓRICAS PARA A RESSURREIÇÃO DE JESUS? ..................................................... 32

VII. O ASSIM CHAMADO “CRISTIANISMO” ...................................................................................................................... 46

VIII. O CRISTIANISMO BÍBLICO ............................................................................................................................................ 50

IX. SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................................................... 59

Page 3: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

SOBRE ESTE ARTIGO

Certo dia fui convidado para conversar sobre o que era de fato o

verdadeiro cristianismo. Em tempos onde a mídia intitula de “cristão”

aquilo que não é cristão, faz-se necessária uma conversa mais

aprofundada sobre a fé original de Jesus e seus discípulos, achei

conveniente pensar sobre o assunto.

A pessoa que me convidou para falar um pouco sobre aquilo em que eu

cria é um colega de graduação. Precisaria de muito tempo e espaço para

agradecer pelo convite que acabou resultando neste texto que estão

prestes a ler. Espero que consiga passar a gratidão em um singelo:

obrigado Manuel.

O artigo começou a ser montado para servir de base para a conversa.

Conversa esta adiada por uma ou duas vezes, o que me deu tempo para

aprofundar e ampliar o conteúdo do texto. Enquanto pensava nas pessoas

com quem eu ia conversar, achei responsável e justo servi-las com

algumas páginas de informação que poderiam ser, depois da conversa,

levadas para casa e analisadas com mais carinho.Espero que aqueles que

tiverem iniciado esta leitura a finalizem com a mesma diligência e o

mesmo carinho que procurei preparar o artigo.

Quando o formato já estava se definindo recebi a sugestão de repassar o

material para outras tantas pessoas. Achei que havia, de fato, um pouco

de informação colhida em praticamente um ano de estudo da apologética

cristã que poderia ser compartilhada com mais alguns amigos.

Só por causa destes estudos aos quais me referi é que aceitei o convite

para essa tarefa tão pesada. Devo muito a cada um dos escritores e

acadêmicos que li e assisti ao longo desse ano e que me fizeram cada dia

mais ter certeza a respeito da irrefutável veracidade do (verdadeiro)

cristianismo.

Como algumas pessoas a mais do que imaginei irão ler este texto, não

poderia deixar de agradecer aos meus amigos que me ajudaram na

revisão do conteúdo. Eles saberão de quem se trata. Enfim, haveria muito

a se dizer, mas é pretensão demais esboçar formalidades nessas primeiras

páginas no meu primeiro verdadeiro intento de defender a fé cristã.

Acima de tudo, agradeço Àquele que é minha própria vida, meu Deus

eterno.

Page 4: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

ESTRUTURA

O texto se divide basicamente em três partes. São as mesmas três partes

em que dividi a conversa do dia 15 de Janeiro de 2013, para a qual fui

convidado e que resultou neste artigo.

Primeiramente, pretenderei estabelecer a apologética clássica em favor

da existência de Deus (seções III e IV) e da vida e ressurreição de Cristo

(seções V e VI). Não achei conveniente partir de certos pressupostos tão

controversos sem antes me permitir defendê-los. Para tal, Inicialmente

buscaremos um posicionamento contra algumas ideias contemporâneas

(seção II) depois de uma breve introdução sobre crenças e suas

influências (seção I). Em segundo lugar, diferenciaremos o cristianismo

apresentado pela mídia e o verdadeiro cristianismo (seções 7 e 8). Por

último, e mais importante, explanaremos a mensagem central do

cristianismo: o Evangelho (seção 9)!

Ao fim, na 10ª seção, indico a bibliografia utilizada, além de outras

sugestões para quem se interessar em prosseguir nessa busca pela

Verdade.

CONTATO

Talvez vocês tenham alguma dúvida, sugestão ou crítica para fazer e,

portanto, achei conveniente me tornar disponível para os leitores deste

artigo. Fiquem à vontade!

e-mail: [email protected]

facebook: https://www.facebook.com/misael.pulhes

Page 5: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

I. INTRODUÇÃO: VOCÊ É O QUE VOCÊ ACREDITA

O comportamento das pessoas é resultado fatal do conjunto de crenças

que adotam. Na raiz de toda forma de agir está uma forma de pensar.

A criança que acredita em Papai Noel deixará um pequeno feixe de

capim do lado de fora da casa para que as renas do bom velhinho se

apascentem na noite de Natal. A mulher que acredita que a estética é

um dos mais importantes valores do universo gastará milhares de reais

em tratamentos de beleza e em cirurgias plásticas. Da mesma forma, o

homem que acredita em fantasmas nunca comprará uma casa em

frente ao cemitério e, se recebê-la como herança, a venderá depressa.

Os exemplos podem se multiplicar infinitamente. Por toda parte e em

qualquer situação, vemos o modo de pensar das pessoas

impulsionando seu modo de viver, como uma simples dinâmica de

causa e efeito.1

Por mais que queiramos ostentar um ceticismo em relação a crenças

tradicionais, de uma forma ou de outra estamos tomando outro caminho,

mas sempre seguindo a mesma lógica. Nós somos crentes ambulantes.

Crentes em Deus, crentes no nada, em nós mesmos, mas sempre crentes

em alguma coisa. E se, como a citação acima afirma, nossas cosmovisões

(visão de mundo) determinam nosso modo de viver, seria óbvio

perguntar: em que acreditamos? Em que a sociedade atual crê?

“O homem contemporâneo”, como diria o mesmo Marcos Granconato

(dono das primeiras frases dessa exposição), “tem uma crença básica da

1 Ibidem., p 13.

qual decorrem logicamente as demais ideias que acolhe.” E qual seria

essa crença tão presente em nossos dias? “Essa crença básica é a de que

Deus não existe e, se existe, não tem interesse nem se importa como

vivemos”2.

Creio que o mundo atual nos reserva ideologias muito radicais. Estas

decorrem das duas crenças básicas acima citadas. Não poderia iniciar uma

discussão como a que proponho aqui sem antes falar sobre essas

ideologias que, sem dúvida alguma, são o motor do nosso andar. Reservei

um espaço para as ideias que mais atacaram minha mente no ultimo ano.

São ideias que se difundem em todos os meios, inclusive naquele onde

passo a maior parte do tempo, o meio universitário.

2 Ibidem., p 14.

Page 6: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

II. BANDEIRAS CONTEMPORÂNEAS

1. A verdade existe?

Antes de qualquer coisa a primeira pergunta que me vem à mente é esta:

a verdade existe? Ora, se não há algo como a verdade nossa discussão

aqui nem deve prosseguir, não faria qualquer sentido! Dentre meados de

2012 e durante o curso de 2013, algumas ideias realmente me deixaram

desconcertados. A primeira delas é justamente a ideia de que a verdade

não existe. Em um primeiro momento essa declaração me soou

impactante e assombrosa. É realmente radical ouvir alguém dizendo isso.

Soa underground, rock’n roll e, por isso mesmo, os jovens são os que mais

advogam essa... coisa. Aos poucos, tentando pensar enquanto minha

mente se atordoava com a possibilidade e as implicações da inexistência

da verdade, percebi que tudo não passava de mera autocontradição

proferida da boca para fora.

Lembro-me de algumas discussões que tive com quem dizia não existir

algo como a verdade. Pensei um pouco (bastante, na verdade) e disse

para mim mesmo, “espere um pouco”... e então resolvi simplesmente

perguntar: “verdade?”. O pior é que a solução que me chegou como uma

luz bem forte foi tratada como um simples truque de debate... mas isso

não importa agora. O que quero que percebam é a inconsistência de

alguém que reivindica a verdade de sua afirmação “a verdade não existe”.

Verdade? É verdade meu amigo que a verdade não existe? Como alguém,

destituído da crença na verdade, pode reivindicar a veracidade de sua

afirmação? Será que ele também ira me dizer que eu estou... errado?

Como então eles me dizem “sim”? Como então me dizer “não”? Como

assim eles reivindicam uma premissa? Então eu digo “concordo” e eles

estão agora “certos” (de dizer que não há “certos”)? Eles estão com a

verdade (de que não há verdade)? Chegando em casa depois de uma

dessas discussões, ensaiei algumas reflexões sobre tudo aquilo num bloco

de anotações.

Acho que o problema essencial é tentarem negar algo que penso ser

inerente à nossa realidade, intrínseco ao homem. Esse algo inerente à

nossa realidade é percebido, captado pelo homem e interpretado. Essas

percepções e interpretações se manifestam em códigos como a

linguagem. Quando dizemos “por quê?”, “certo”, “não”, estamos apenas

expressando com nossa linguagem falada (com nossos códigos) algo mais

profundo, intrínseco à nossa natureza, algo como a busca pela verdade!

Essa foi minha conclusão ao pensar sobre os questionamentos do ser

humano: eles são naturais, intrínsecos a cada um de nós. Mas se isso é

verdade (e como eles dirão que é mentira? Que eu estou errado?) então

há uma realidade que, independente de ser percebida ou negada (ora,

negada por quem? Por eles?), existe!

E a própria luta destes por estarem certos, a luta pela veracidade de uma

posição em um debate expressa a existência de uma verdade que eles

(mesmo eles) inconscientemente buscam. O mais engraçado talvez seja

que somente os que não creem nesses pressuposto radicais podem

falsear tudo isto. Ora, como diriam os defensores da inexistência de certo

e errado, que eu estou errado?

Page 7: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

Marcos Granconato chama isso tudo de “cúmulo da contradição; o

suicídio da mente!”. Ele dá um exemplo claro quando nos diz: “tente

conviver com isso: o errado não existe; logo, apontar o que é errado é

errado!”.3 É, de fato, um absurdo!

2. Tudo é relativo?

O que eu percebi no último ano, é que a maioria dessas alegações, que

nos soam radicais, e que chegavam rasgando meus ouvidos, quase

(quase?) sempre eram constituídas de um formato muito similar e, vistas

com calma, se mostravam perfeitamente autocontraditórias. Vejamos

mais um exemplo.

É bem raro ouvirmos alguém correndo pelas ruas gritando que a verdade

não existe. Em nossos dias, uma alegação bem mais comum é a de que

tudo, inclusive a verdade, é relativa. Ou seja, “tudo depende” (de um

ponto de vista, por exemplo)... Nada é absoluto, verdadeiro em si e por si

só. Nada é 100% verdade, completamente verdade, perfeita, harmônica e

absolutamente verdade... tudo é relativo.

Mas esperem mais um pouco, por favor. (Não vou mais tomar mais tanto

tempo com isso.) Porém, se tudo é relativo, a afirmação “tudo é relativo”

é também relativa, não? E, portanto, ela se parte aos pedaços, com os

cacos jogados ao chão... Se tudo é relativo, então nem tudo é relativo e

podemos, baseados na própria tentativa (fracassada) de refutação,

estarmos certos de que absolutos existem.

3 Ibidem., p 24.

Sacrifica-se no altar no relativismo, não só o que é verdadeiro,

mas também o óbvio.4

3. Pluralismo

Por fim, um segundo e último “ismo”. Uma última bandeira hasteada com

frequência: o pluralismo. Esta seria a visão de que a verdade é plural,

existem várias verdades e que, mesmo sendo opostas, devem ser ouvidas,

respeitadas e aceitas.5

Essa visão parte da ideia distorcida de tolerância. Para sermos tolerantes

precisamos aceitar toda proposição diferente da nossa, diriam alguns

pluralistas. Mas a própria ideia de tolerância parte do pressuposto de que

existem ideias divergentes. E munidos de toda tolerância necessária e

possível eu não chego à conclusão de que devo concordar com opiniões

contrárias à minha ou, o que é ainda pior, que devo assumir a veracidade

de afirmativas explicitamente falsas.

Contudo, isso conduz muito cedo a uma tensão de natureza lógica.

Ora, o conflito lógico que advém dessa visão surge quando duas

pessoas têm opiniões diametralmente opostas. [...] Qual dos dois

debatedores está com a verdade? [...] Nenhum dos dois

oponentes está errado; os dois estão certos, pois a verdade não é

4 Ibidem., p 23.

5 Há, na verdade, mais de uma definição para “pluralismo”. Escolhi aquela mais

propícia para a presente discussão.

Page 8: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

única e absoluta, mas múltipla e relativa. Cada indivíduo tem sua

própria verdade que deve ser respeitada e considerada válida6.

Até mesmo a opinião de que o pluralismo é errado?

6 Granconato, 2011, p 23-24.

III. IMPLICAÇÕES DA INEXISTÊNCIA DE DEUS – O absurdo da vida sem Deus

Como já dito no início desse texto, essas concepções todas quase (quase?)

sempre advêm de uma cosmovisão7 que exclui Deus, ou na sua existência,

ou na sua relevância em relação ao universo e à humanidade.

Independente disto, porém, elas foram mostradas, creio eu, incoerentes,

autocontraditórias e, portanto, não subsistem. Mas isso não exclui por si

só a possibilidade de que Deus não exista ou está distante. Aquelas ideias

foram descartadas por sua invalidade lógica, mas a cosmovisão ateísta

ainda pode ser verdadeira, obviamente. E o cristianismo ainda pode ser

falso, mesmo que Deus exista! O que gostaria de fazer antes de

chegarmos neste ponto é mostrar que o ateísmo não é mera alternativa

de cosmovisão.

Aparentemente muitos ateus não fazem ideia de onde seus pressupostos

os levam. Penso que os proponentes dessa visão não têm, todos eles,

consciência das últimas consequências em que se chega quando a

bandeira com os dizeres Deus não existe é hasteada. Do outro lado estão

aqueles que de alguma forma estão acostumados com a ideia de Deus e

que também passam o resto de suas vidas sem pensar nas implicações da

alternativa “Deus não existe” ou mesmo da própria existência de Deus.

Dito de outra forma: Deus é irrelevante.

William Lane Craig é um filósofo e teólogo cristão mundialmente famoso

e respeitado, principalmente por seus inúmeros debates publicados em

7 Visão de mundo.

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vídeos e livros contra céticos de várias vertentes. Craig diz, no capítulo 2

de seu livro “Em Guarda”8, que uma maneira de mostrar a relevância

desta que talvez seja a maior de todas as questões é esclarecendo quais

são as verdades de um mundo onde Deus não existe. Se o ateísmo for

verdade, então quais são as respostas para nossos questionamentos

existenciais?

A que tipo de coisas uma vida sem Deus nos leva? A um absurdo! Resolvi

então gastar um tempo nessa questão que está longe de ser dispensável.

Não é uma simples questão de gosto pessoal. Se Deus existe, ele não é

relevante somente quando achamos ou gostamos de sua relevância para

o universo e para nossas vidas. Se Deus não existe as implicações não são

meramente a “liberdade” como diriam alguns. De uma forma ou de outra,

a questão é grandiosa demais e com implicações importantes demais para

ser deixada de lado. Como o início deste texto diz: essa crença nos levará

a conclusões que ditarão nosso modo de viver.

Portanto, quero rapidamente pensar com vocês sobre aquilo que Craig

chamou de “o absurdo da vida sem Deus”9, mostrando que em um mundo

onde Deus não existisse, a vida não teria qualquer sentido, valor ou

propósito.

8 William Lane Craig, Em Guarda, defendendo a fé cristã com razão e precisão.

São Paulo: Edições Vida Nova, 2011. 9 Ibidem, capítulo 2. Há uma série de vídeos com o mesmo nome (“O absurdo da

vida sem Deus”). O primeiro dos sete vídeos está disponível no link: http://www.youtube.com/watch?v=P8Ak8VVxaGw

O ABSURDO DA VIDA SEM DEUS

“Se não há Deus, a vida humana é absurda”!10 “Se o ateísmo for verdade,

então a vida de fato é objetivamente sem sentido, sem valor e sem

propósito, a despeito das crenças subjetivas que possamos ter em

contrário.” Analisemos brevemente cada uma dessas afirmações.

Sem sentido – “se a pessoa deixa de existir quando morre, que sentido

fundamental pode ser dado à sua vida?” Vamos inventar que nossas vidas

possuem de fato sentido porque influenciam a história e motivam as vidas

de outras pessoas? Mas, se no fim tudo acaba e todos se foram, qual o

sentido último de tudo que ocorrera nesse caminho até o fim? Qual a

importância dos avanços científicos e tecnológicos? Qual a relevância dos

avanços da medicina que contribuem para amenização a dor e o

sofrimento?

“Sem a esperança da imortalidade, a vida humana caminha apenas para a

cova. A vida humana não passa de uma faísca na escuridão infinita, uma

faísca que aparece, emite uma trêmula chama e se extingue para

sempre”.

Que sentido há, portanto, em ir para universidade, graduar-se, conquistar

um cargo de confiança em uma empresa, constituir uma família?

Podemos ver graça e prazer nessas coisas, mas em um mundo onde cada

vez mais próximos estamos de um fim irreversível para todos, qual o

sentido final de todas essas coisas na estrada para o nada? “... no final

10

A maioria das citações foi retirada da tradução em português da série de vídeos anteriormente indicada. Em outros casos, haverá indicação.

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tudo isso resulta em nada, não faz nenhuma diferença”. Acho que não há

exagero algum em se dizer, como Craig diz, que, dado o ateísmo, “porque

ele [o homem] acaba em nada, ele é nada”.

Ou seja, a vida não tem, de fato, a menor importância no fim das contas.

“A humanidade, portanto, não tem mais sentido do que um enxame [...]

ou um punhado de porcos, pois o final de todos é o mesmo.” “Os

cientistas nos dizem que o universo está em expansão, e que tudo que há

nele está ficando cada vez mais distante. Com isso ele fica cada vez mais

frio, e sua energia vai se gastando. Um dia todas as estrelas perderão seu

calor e toda matéria se tornará em estrelas mortas e buracos negros. Não

haverá mais luz, não haverá mais calor, não haverá mais vida, apenas

estrelas e galáxias mortas, sempre se expandindo em trevas sem fim e

extremidades frias do espaço – um universo em ruínas. Todo o universo

se encaminha de modo irreversível para o túmulo. Assim, não só a vida de

cada pessoa está condenada; toda a raça humana está condenada. O

universo está se precipitando em direção à extinção inevitável – a morte

está encravada em toda a sua estrutura”.

Todavia, se o universo existisse para sempre, e nós também, ainda não

poderíamos falar em um sentido objetivo para a vida, se Deus não

existisse.

Certa vez li uma estória de ficção científica em que um astronauta foi

abandonado em um estéril pedaço de rocha perdido no espaço sideral.

Ele trazia consigo dois frascos, em deles com veneno e o outro tinha

uma poção que o faria viver para sempre. Ao perceber o futuro que o

aguardava, ele tomou o frasco de veneno. Mas, para seu horror, o

pobre homem descobriu que havia tomado o frasco errado: ele tinha

tomado a poção da imortalidade! E isso significava que estava

condenado a viver para sempre uma vida sem sentido, sem fim.11

Acho essa estória bastante ilustrativa. Se a vida não tem sentido objetivo,

pouco importa se há imortalidade. Se o astronauta olha para um mundo e

vida infinitos, mas não encontra o porquê de tudo aquilo importar, então

na verdade tomar o frasco de imortalidade é mais terrível do que morrer.

“Quem for coerente e corajoso até o ponto de reconhecer e assumir essa

ausência de sentido acolhe a designação de niilista. Nihil em latim

significa “nada”. É a palavra que melhor traduz o sentido de sua vida.”12

Sem valor – “Se a vida termina no túmulo, não faz diferença se você viveu

como um Stalin ou como um santo”. Como disse Doistoiévski: “Se não há

imortalidade, todas as coisas são permitidas”. Mas imaginem um universo

infindável, com seres imorais, onde não houvesse certo e errado. Mesmo

com imortalidade, mas sem Deus, só temos, como disse Jean-Paul Sartre,

“o fato nu e sem valor da existência”.

Ora, em um universo ateu de onde provém uma moral objetiva? De onde

provém a autoridade que me dirá, baseado no que é certo ou errado, o

que eu devo ou não fazer? O homem é só o resultado casual, acidental da

matéria em movimento, ao longo do tempo. Qualquer intento de se

pensar em uma moral num mundo desses resultará em subjetividade.

Não há nenhuma razão objetiva para que o homem tenha moral, a

menos que a moralidade traga alguma recompensa para sua vida em

11

Craig, 2011, p. 36. 12

Granconato, 2011, p. 18.

Page 11: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

sociedade ou o faça sentir-se bem. Não há nenhuma razão objetiva

para que o homem faça qualquer coisa, a menos que isso lhe traga

algum prazer.13

A avaliação que Richard Dawkins faz do valor do ser humano pode ser

deprimente, mas por que, dado o ateísmo, ele estaria errado quando

diz que “no final não há nenhum design, nenhum propósito, nenhum

mal, nenhum bem, nada mais do que uma insípida diferença [...] Somos

máquinas para a propagação de DNA...”14

Particularmente, acho este um dos pontos mais vibrantes do debate. Por

isso mesmo, voltaremos a falar desse ponto com mais detalhes na

próxima seção.

Sem propósito – Se a morte espera a todos de braços abertos no fim da

vida de cada um de nós, para que finalidade nós vivemos? Se o universo

se esfriar ao ponto de impedir a existência de vida, para que fim ela terá

servido? Pensem novamente, não estou dizendo que é impossível alguém

criar e crer em algum propósito e colocá-lo como alvo de sua vida.

Podemos buscar a todo custo ser um jogador de futebol, ou um diplomata

solidário. Mas isso não quer dizer que o propósito objetivo da vida seja

esse. Isso não quer dizer que os propósitos de cada ser humano nos

indiquem um propósito para a existência e curso da própria vida. Afinal,

se no fim tudo acaba em nada, é lógico dizer que o propósito de tudo é

simplesmente... nada!

13

Richard Wurmbrand, Tortured for Christ. Londres: Hodder &Stoughton, 1967, p. 34. Publicado em português sob o título Torturado por amor a Cristo, pela Voz dos Mártires. Citado em Craig, 2011, p. 37. 14

Ibidem., p. 38

Essa ideia é muito bem expressa na obra The time machine15 de H. G.

Wells, um escritor britânico:

... um de seus personagens faz uma viagem no tempo e chega ao

futuro, para descobrir o destino do homem. Tudo o que ele encontra é

um planeta de cor púrpura girando em volta de um gigantesco sol, um

planeta morto, exceto por uns poucos liquens e musgos. Os únicos sons

são o murmúrio do vento e o barulho do mar. “Fora esses sons sem

vida, o mundo se encontrava no mais completo e absoluto silêncio.

Silêncio? Seria difícil descrever essa quietude, esse silêncio retumbante.

Todos os sons produzidos pelos seres humanos, o som dos animais, o

canto dos pássaros, o barulho dos insetos, toda a agitação que dá

forma e substância ao contexto de nossas vidas – nada disso existia

mais”. E o viajante retorna no tempo.16

“Mas retorna para quê? – retorna para uma fração anterior de tempo,

para uma mesma agitação frenética e sem propósito em direção a esse

esquecimento”.17

Não há outra escapatória lógica e real em um mundo onde não há Deus.

O universo, nossa vida e existência estão destituídos de qualquer sentido,

valor ou propósito objetivos. Todas as coisas no meio dessa não tão longa

estrada rumo ao fim, no fim não importam de verdade.

Como escreveu T. S. Eliot, “É assim que o mundo termina. Não com uma

explosão, mas com um gemido”.

15

Publicado em português sob o título A máquina do tempo, pela editora Alfaguara. Nota de rodapé em Craig, 2011, p. 39. 16

Ibidem., p. 39. 17

Ibidem., p. 40.

Page 12: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

E agora?

Se Deus não existe então a atitude mais coerente depois destas duras

palavras seria o desespero. “E é por isso que a pergunta da existência de

Deus é tão importante para a humanidade”.

O absurdo da vida sem Deus pode não provar que Deus existe, mas na

verdade mostra que a questão da existência de Deus é a pergunta mais

importante que alguém pode se fazer. Ninguém que conheça a fundo

as implicações do ateísmo ousará dizer que tanto faz se Deus existe ou

não.18

Se Deus não existe, a vida é isso e nada mais. Em face desta dura

realidade há três alternativas.

Primeira alternativa: o suicídio. Por que será que Albert Camus considerou

o suicídio como “a única questão filosófica séria”? “Vale a pena continuar

vivendo?”19.

Segunda alternativa: viver em inconsistência em relação à sua cosmovisão

e, bravamente, fingir ser feliz em um mundo onde não há esperanças de

sentido, valor e propósito. Pragmaticamente alguns escolhem viver em

auto-ilusão simplesmente porque, talvez, o suicídio seja uma alternativa

radical demais (o que também é logicamente inválido, já que não há

diferença entre o fim agora ou daqui vinte anos – “Como disse Sartre,

18

Ibidem., p. 32. 19

Ibidem., p. 44.

uma vez perdida a eternidade, não faz muita diferença se isso demorar

muitas horas ou muitos anos”20).

O homem não pode viver como se certas coisas não fosse erradas, por

exemplo. Dessa forma ele mostra como uma vida sem Deus é inadequada

com a realidade. Craig cita um filósofo anônimo que disse: “é impossível

gerar uma ética de amor fraternal a partir de uma filosofia de niilismo”

Alguns gritarão enraivecidos: “espere um pouco”! “Isso não faz sentido”!

“Obviamente há um sentido e um propósito para nossa existênca e

algumas coisas são, de fato, erradas”! “Sim” eu direi! É isso mesmo que

estou dizendo. Mas o ponto aqui ainda é que a cosmovisão ateísta não

propicia tais coisas. O ônus da prova é deles! Os ateus é que devem

mostrar porque haveria bases em sua visão de mundo para coisas como

sentido, valor e propósito. Muitos entenderam a lógica e carregaram o

fardo das implicações.

Se de fato há sentido, valor e propósito em nossa existência e o ateísmo

não consegue prover essas bases na sua filosofia, então o que não faz

qualquer sentido é o ateísmo! Essa é talvez a primeira das provas de que

o ateísmo não passa de mera ficção científica e fica a quilômetros de

expressar com fidelidade a realidade de nossa existência.

A negação do ateísmo já seria inerentemente prova da verdade

contrárias? Alguns diriam que sim, outros que não. Enfim, de qualquer

formas seria bom se tivéssemos alguns argumentos positivos a favor da

existência de Deus para ajuda aqui, não? E temos!

20

Ibidem., p. 34.

Page 13: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

Introduzirei, então, alguns argumentos que têm feito parte do meu

estudo a partir de meados do ano de 2011. Cada premissa de cada

argumento poderia ser discutida com profundidade. Creio que se tratam

de argumentos poderosos e interessantes para tomar várias horas de

discussão. Mas como o foco não é esse, me ocuparei em apenas

introduzir os argumentos em forma de silogismo e esboçar uma

explicação do argumento moral. Há indicação bibliográfica a respeito de

cada argumento, mas sugeriria que se divertissem um pouco pensando

em cada premissa e cada conclusão dos três primeiros argumentos!

IV. ARGUMENTOS EM FAVOR DA EXISTÊNCIA DE DEUS

ARGUMENTO COSMOLÓGICO DE LEIBNIZ, OU ARGUMENTO DA

CONTINGÊNCIA21

1. Tudo que existe tem uma explicação para existir, seja ela uma

necessidade de sua própria natureza ou uma causa externa.

2. Se o universo tem uma explicação para existir, essa explicação é

Deus.

3. O universo existe

4. Logo, o universo tem uma explicação para existir.

5. Portanto, a explicação da existência do universo é Deus.

ARGUMENTO COSMOLÓGICO KALAM22

1. Tudo que começa a existir tem uma causa

2. O universo começou a existir

3. Logo, o universo tem uma causa.

21

Os primeiros três argumentos aqui apresentados se encontram bastante detalhados no livro Em guarda de William Craig. No título de cada argumento será colocada a referência para os capítulos relacionados na obra citada. O argumento de Leibniz pode ser conferido no capítulo 3, p. 59ss. 22

Ibidem., p. 79ss.

Page 14: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

ARGUMENTO DO DESIGN, OU ARGUMENTO TELEOLÓGICO23

1. O ajuste preciso do universo se deve ou à necessidade física ou ao

acaso ou ao design.

2. O ajuste preciso não se deve à necessidade física nem ao acaso

3. Portanto, o ajuste preciso se deve ao design.

ARGUMENTO MORAL24

Como eu disse antes, voltaríamos a discutir a questãos dos valores morais

objetivos. Neste ponto, focaremos a discussão em cima do argumento

teísta abaixo apresentado:

1. Se Deus não existe, então não existem valores (bom e mau) e

deveres (certo e errado) morais objetivos.

2. Existem valores e deveres morais objetivos.

3. Logo, Deus existe.

Já conversamos um pouco sobre esse argumento, de maneira menos

formal, enquanto falávamos do absurdo da vida sem Deus. O que quero

neste momento é buscar reafirmar, com esse silogismo (que faz parte do

arsenal do Dr. William Craig), uma base objetiva para a moralidade.

Resolvi dar ênfase somente a este argumento dentre os que apresentei

por aparentemente ser ele o responsável por suscitar a maior quantidade

23

Ibidem., p. 115ss. 24

Ibidem., p. 139ss. Este argumento será o primeiro mais bem trabalhado neste artigo.

e os melhores debates (em minha opinião). Ademais, percebi durante

esses poucos meses estudando apologética por meio de vídeos, artigos e

livros que, assim como relata William Craig esse é o argumento que mais

têm obtido êxito do lado teísta25. Talvez porque ambos, teístas e não-

teístas, conscientemente ou não, concordam com as duas primeiras

premissas. Daí deduz-se, independente de quaisquer preferências ou

preconceitos, a conclusão do silogismo: Deus existe e é, portanto, a base

para valores e deveres morais.

Acredito que na prática a primeira premissa é a que apresenta mais

indignações. Isso porque ela pode ser entendida de maneira equivocada.

Que fique claro desde o início então que os defensores deste argumento

jamais querem dizer com a primeira premissa que:

Deve-se acreditar em Deus para que se tenha uma vida

moralmente correta – não há dúvidas de que existem agnósticos e

ateus que vivem vidas com dignidade e, em muitos casos, uma

conduta moral de dar inveja a muitos “cristãos”.

Deve-se acreditar em Deus para que se reconheça a existência de

valores morais objetivos – acredito piamente que não há

necessidade de ser teísta para reconhecer que genocídio é

objetivamente errado26.

Dito isto, o questionamento lançado pela primeira premissa é somente o

seguinte: se Deus não existir, existem valores morais objetivos?

25

Ibidem., p. 159. 26

Ibidem., 146-147.

Page 15: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

I. PRIMEIRA PREMISSA

O que mais me deixa satisfeito nesse ponto é que os que defendem a

objetividade de valores morais à parte de Deus estão historicamente

comprometidos a encararem filósofos do calibre de Nietzsche, por

exemplo. O que me satisfaz neste ponto do argumento, na verdade, não é

a credibilidade destes filósofos (que porventura traria também

credibilidade aos argumentos). Antes, me refiro à audaciosa visão de

mundo que aqueles que proclamaram a morte de Deus suportaram, mas

que me parece, de longe, mais coerente. A crítica é, portanto, à

incoerência daqueles que rejeitam a primeira premissa. Espero explicar

melhor usando as reflexões do próprio Nietzsche.

Em sua famosa obra, A gaia ciência, o filósofo conta a história de um

homem que bem cedo chega à uma praça gritando “Estou procurando a

Deus! Estou procurando a Deus!”. Depois de ver os cidadãos zombarem

da pergunta "o homem louco se lançou para o meio deles e trespassou-os

com seu olhar: ‘Para onde foi Deus?’, gritou ele, ‘já lhes direi! Nós o

matamos — vocês e eu. Somos todos seus assassinos! Mas como fizemos

isso?’”. Nietzsche prossegue e deixa claro que entendia as implicações

lógicas de uma vida sem Deus:

‘Como conseguimos beber inteiramente o mar? Quem nos deu a

esponja para apagar o horizonte? Que fizemos nós, ao desatar a terra

do seu sol? Para onde se move ela agora? Para onde nos movemos

nós? Para longe de todos os sóis? Não caímos continuamente? Para

trás para os lados, para a frente, em todas as direções? Existe ainda

'em cima' e 'embaixo'? Não vagamos como que através de um nada

infinito? Não sentimos anoitecer eternamente? Não temos de acender

lanternas de manhã? [...] nós o matamos! Como nos consolar, nós

assassinos entre os assassinos?’.27

O que é realmente interessante aqui? Para Nietzsche Deus representava a

base para os absolutos nos quais criam os homens. Contudo, para ele,

tudo não passava de uma invenção do homem, uma completa

demonstração de sua fraqueza. Se este quisesse se libertar, atingindo

assim os mais elevados níveis humanistas, precisaria se livrar dessa obra

de sua própria mente. Enterrando Deus, o homem moderno enterrava

também os conceitos atrelados a Ele de “certo” e “errado”. O intrigante é

que Nietzsche realmente entendia que verdades absolutas, como “certo”

e “errado”, “bom” e “mau” só podiam estar ligados a Deus, de maneira

inexorável. A diferença é que Nietzsche realmente acreditava que Deus

não existia e, portanto, não fazia sentido algum falar em moralidade (ou

em qualquer outra coisa que fosse) absoluta.

Christopher Hitchens nos confirmar que, segundo o filósofo alemão, “em

um mundo sem Deus, todos os valores tornam-se relativos, e a verdade,

meramente uma convenção linguística e cultural”28. Assim, parece que é

lógico dizer que

27

Paulo César de Souza, A Gaia Ciencia - Friedrich Nietzsche, Editora Companhia das Letras, 2002, p. 147. Citação retirada do site wikiquote, disponível no link: http://pt.wikiquote.org/wiki/Deus. 28

Lendo as Escrituras com os pais da Igreja, p. 32. Citado em Granconato, 2011, p. 15.

Page 16: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

A inexistência ou silêncio de Deus transformam todas as questões

morais em simples matéria de opinião pessoal.29

Peter Atkins é um conhecido químico e professor de Oxford. Atkins não

parece se preocupar em deixar escancarada a nudez coerente com sua

cosmovisão ateísta:

“A ciência pode lançar luz sobre as questões da vida e da morte. Ela nós

mostra que não pode haver distinção moral entre um veneno

administrado e um que o próprio corpo lentamente gerou.” 30 “Veneno

administrado” obviamente é um eufemismo para “envenenamento” e,

portanto, “homicídio doloso hediondo”. Mas não há porque pensar que

em um mundo sem Deus, que nada mais é do que um acidente cósmico

do qual também somos acidentes condicionados às eras e à mão da

seleção natural, haja qualquer objetividade em relação a sentido,

propósito e, também, valores morais. Para sermos consistentes com a

explicação cósmica do ateísmo precisamos assumir que “tanto faz”! Tanto

faz se alguém “administrou um veneno” contra outrem, ou se esse outro

morreu de maneira natural. Se Deus não existe, de fato não existem

valores morais objetivos.

Lembro-me de quando meu cunhado, que acabara de ingressar na

faculdade de Engenharia, me mostrou um de seus livros-texto de química

29

Granconato, 2011, p. 15. 30

Will Science Ever Fail? [A ciência algum dia falhará?], publicado na revista New Scientist, nº 135 de 8 de Agosto de 1992, p 34. Essa fonte aparece nos últimos minutos do último vídeo do debate entre Craig e Atkins. Este é o nono e último vídeo da série, disponível no link: http://www.youtube.com/watch?v=zQGLQzz6jOI

cujo autor era o próprio Atkins (descobri tempos depois que este químico

era famoso por produzir tais livros didáticos). Conhecemos o professor de

Oxford em um debate com o já citado Willaim Craig. Neste debate fica

evidente a impossibilidade, para qualquer pessoa, de se viver em um

mundo com as implicações do ateísmo. Depois de Craig citar as próprias

palavras de Atkins (na citação anterior), este se incomodou a ponto de

dizer que as palavras não eram suas. Dito que aquela era uma citação

direta de um de seus escritos, Atkins voltou atrás e disse que, de fato, não

acredita na indistinção feita anteriormente entre as duas mortes.

Essa pode ser uma das diferenças entre ateus e os atualmente famosos

neo-ateus. Os ateus do passado ao menos carregavam o ônus de suas

“conclusões”. Não creio que as conclusões estejam corretas e já tentei

argumentar - e continuarei tentando - que Deus existe. Mas se Deus não

existe, Nietzsche, Camus e Sarte nos mostraram com muito nexo o que a

vida é! O problema dos neo-ateus fica explícito nesta ironia do pastor e

apologista cristão Douglas Wilson enquanto debatia com um sinônimo do

neo-ateísmo, Christopher Hitchens:

Ele [Hitchens] pôs a árvore abaixo, mas ainda assim deseja que a fruta

esteja lá para ser colhida. Ele excluiu de seu quintal as laranjeiras, mas

assim mesmo quer suco de laranja.31

O que Douglas Wilson quer nos mostrar é que os neo-ateus rejeitam Deus

(a árvore) e ainda assim querem falar de valores morais objetivos (as

laranjas para o suco). A visão advogada pelos ateus é de um mundo

31

Douglas Wilson e Christopher Hitchens, O cristianismo é bom para o mundo?, São Paulo: Garimpo Editorial, p. 17.

Page 17: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

acidental, onde, portanto, não pode haver sentido, propósito ou valor que

não sejam meras convenções sociais e expressões do gosto pessoal. Mas

por que, então, a insistência em se posicionar contra as Cruzadas, a

Inquisição?

No ateísmo não há nada que nos de base para posicionamentos firmes

contra, por exemplo, o estupro e o genocídio. Nenhum ateu coerente

pode condenar essas coisas sem ser hipócrita. Mas esperem, “existe algo

que se possa chamar de hipocrisia ateísta?”32.

Por que eu tenho que ajudar alguém ou condenar um crime? Por que é

errado! Por que é errado? Mas por que eu devo pensar que algo é errado

em uma visão ateísta. De onde isso provém?

“Eu tenho que ajudar meus semelhantes” podem arriscar. No cristianismo

isso é óbvio. Mas no ateísmo você deve a mesma coisa em relação às

baratas! Ou posso lhes acusar de “especismo”? Não há nada de especial

no homem dado o ateísmo! Além disso, olhando para o “exemplo dos

pescoços das girafas”33 no processo de seleção natural, é coerente que

cada um se preocupe com o próprio umbigo (ou pescoço), não é mesmo?

O ateísmo não me dá motivos nenhum para ajudar a girafa ao meu lado.

Mas, novamente, por que então insistimos tanto em louvar o que é bom e

condenar algo como o Holocausto? Porque valores morais objetivos, de

fato, existem! Chegamos, assim, à segunda premissa.

32

Ibidem., p. 35. 33

Obviamente eu não acredito nisso!

SEGUNDA PREMISSA

“A princípio pensei que essa seria a premissa mais controvertida do

argumento. No entanto, em meus debates com filósofos ateus, descobri

que praticamente ninguém a refuta.”34

Por que será? A própria atitude já comentada de muitos ateus – os quais

cortam a árvore e ainda tentam pegar os frutos, ou seja, rejeitam a

existência de Deus, mas ainda assim querem advogar em favor de causas

morais – demonstra que é praticamente impossível encontrar alguém que

não acredite que o Holocausto, estupro e abuso infantil “não são apenas

comportamentos socialmente inaceitáveis – são verdadeiras abominações

morais”35.

O apelo suficiente nesse ponto é para que olhemos para nossa

experiência moral. Ela não deveria ser jogada para escanteio até prova em

contrário, afinal, ninguém sai por aí desconfiando, por exemplo, da

realidade objetiva do mundo físico à nossa volta.

Os filósofos, ao refletirem sobre nossa experiência moral, não veem

razões para desconfiar dessa experiência mais do que veem para a

experiência dos nossos cinco sentidos [...] ou seja, que existe um mundo

de objetos físicos à minha volta. Meus sentidos não são infalíveis, mas

isso não me leva a pensar que não haja um mundo exterior à minha

volta. Do mesmo modo, na ausência de alguma razão para desconfiar

34

Craig, 2011, p. 154. 35

Ibidem., p. 155.

Page 18: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

de minha experiência moral, devo aceitar o que ela me diz, isto é, que

algumas coisas são objetivamente boas ou más, certas ou erradas.36

Como provar que não somos meros cérebros neste exato momento

presos a um reservatório químico servindo de cobaia a maléficos

cientistas para acreditarmos que temos um corpo e que existe uma

realidade objetiva à nossa volta? Não temos como provar! E por este

motivo sairemos daí duvidando de nossa experiência física? Jamais! Isso é

loucura. Pelo mesmo motivo, não há razão para negar nossas experiências

morais!

Immanuel Kant (1724-1804), que nem cristão era, sinceramente declara:

“Duas coisas enchem a mente de [...] assombro e reverência [...]: o céu

estrelado sobre mim e a lei moral dentro de mim”37.

II. CONCLUSÃO

Se até aqui alguém concordar com as duas primeiras premissas (e não

vemos muitos porquês para não fazê-lo) então, segue-se de maneira

lógica, necessária e inescapável que Deus existe! Se os ateus continuarem

reivindicando uma cosmovisão onde o universo e a vida surgiram ao acaso

e, da mesma forma que surgiram, tendem a deixarem de existir, que pelo

menos haja coerência em se assumir o ônus das implicações! Se Deus não

existe não há sentido, propósito e, como enfatizado nessa seção, valores

e deveres morais objetivos. Se Deus não existe, moralidade é mera

convenção social, assunto puramente subjetivo! 36

Ibidem., p. 154. 37

Crítica da razão prática, in: Stephen Law, Guia ilustrado Zahar: Filosofia. Citado em Granconato, 2011, p. 27.

Por que motivo, porém, nós seres humanos consentimos (mesmo que

somente em casos extremos) em dizer que eventos como o Holocausto

são sempre errado? Por que em nossa experiência de vida nos sentimos

obrigados a realizar certas ações por nos parecerem corretas e, em

relação às erradas, quase sempre sabemos que há um limite, um ponto de

onde não “se deve passar”? Porque valores e deveres morais objetivos

existem!

Sendo assim, querendo ou não, gostando ou não, conclui-se que Deus

existe!

Page 19: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

V. PODEMOS CONFIAR NA BÍBLIA?

A superfície argumentativa acerca da existência de Deus já fora lançada.

Agora, porém, resta ir um pouco mais além. Se o cristianismo reivindica

ser verdadeiro há uma grande questão a ser discutida: a confiabilidade

das Escrituras. Existem cristãos que pouca relevância dão à Bíblia. Existem

os “cristãos liberais” que fazem concessões sobre a confiabilidade dos

manuscritos sagrados quando se deparam com alguns pequenos

problemas. De fato essa é uma das questões mais discutidas ao longo de

muitos anos de estudo. Talvez seja uma das questões mais trabalhosas, e,

por esse mesmo motivo, uma das mais instigantes.

Se Deus existe e esse Deus é o Deus cristão, então nós só saberemos disso

completamente, por meio da Bíblia. Se Jesus Cristo é o centro do

cristianismo e merece ter sua vida, ensinos, morte e ressurreição

analisados, então é na Bíblia que encontraremos informação a esse

respeito. Por isso mesmo importa que os manuscritos bíblicos sejam

confiáveis. Inicialmente me deterei aos escritos do Novo Testamento,

reservando uma abordagem apologética diferente no final da seção.

“Como saber se esses registros são precisos? Pode ser que os seguidores

de Jesus tenham dito que Jesus disse q fez certas coisas que ele na

verdade não fez.”38 Ok, talvez Jesus tenha mesmo existido (duvidar disso

hoje se torna praticamente uma piada), mas seu retrato histórico é bem

diferente do narrado nos evangelhos, não? Talvez os discípulos não

tenham inventado toda história, mas tenham acrescentado algum relato

38

Craig, 2011, p. 204.

heroico e mítico de Jesus que, na verdade, não ocorreu, não é mesmo?

Milagres? Reivindicações radicais? Será que o cristianismo ortodoxo

representa fielmente o Jesus histórico? Como saber?

Obviamente essas questões não são respondidas pelo método científico

e/ou por pura especulação filosófica. A metodologia utilizada aqui deve

ser a mesma que nos possibilita conhecer eventos e personagens do

passado, ou seja, as ferramentas específicas da História. No caso

específico de escritos passados e, portanto, dos manuscritos do Novo

Testamento, a ferramenta utilizada é a crítica textual. Por meio de

estudos atuais (e a despeito do recorrente espaço dado a matérias

sensacionalistas que vez ou outra aparecem com a grande novidade que

irá destruir a fé cristã) sabe-se que

Hoje Jesus não é mais apenas uma figura decorativa em vitrais de

igrejas, mas sim uma pessoa real de carne e osso da história, assim

como o imperador Júlio César ou Alexandre, o Grande, cuja vida pode

ser estudada por métodos históricos padrões. Os escritos do Novo

Testamento podem passar por um escrutínio usando-se os mesmos

critérios históricos que usamos para investigar outras fontes da história

antiga, como A guerra do Peloponeso, de Tucídides, ou os Anais, de

Tácito39

Então o primeiro passo é reunir o material, a fonte acerca do nosso

personagem, Jesus de Nazaré. Na verdade existem dois tipos de fontes e

nos ateremos brevemente às duas. A primeira são os próprios

documentos neo-testamentários, os quatro evangelhos e as cartas

39

Ibidem., p. 205.

Page 20: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

apostólicas. Em seguida olharemos para as fontes fora do cânon que

corroboram a historicidade de Jesus.

SOBRE OS DOCUMENTOS DO NOVO TESTAMENTO

Antes de ir ao texto grego, é necessário que primeiro entendamos que

não possuímos os textos originais. Os manuscritos antiquíssimos já se

desintegraram e o que temos hoje são cópias. Geralmente essa notícia

aparece como trunfo para muitos céticos que não veem nela mais do que

uma oportunidade para inventar relatos de conspirações políticas que

alteraram o texto a fim de preservar um fato que, descoberto, geraria

assombro no mundo. Eles se veem no direito de especular quais teriam

sido esses acobertamentos com base em literatura bem mais distante da

época de Jesus e conseguem causar todo tipo de alarde com seu

sensacionalismo não-histórico que encontra espaço em revistas de

circulação popular.

Na verdade a primeira informação que lhes deveria ser dada, para que

seus ânimos fossem acalmados, é que o Novo Testamento não está

sozinho nessa. Pelo contrário, muitos textos da antiguidade chegam aos

historiadores da mesma forma. E em relação a esse fato comum referente

a textos antigos, o Novo Testamento está muitos degraus acima. Isto

porque “muitas cópias sobreviveram” como explica o professor emérito

do Seminário Teológico de Princeton que há muito estuda e ensina Novo

Testamento, Dr. Bruce M. Metzger.40

40

Lee Strobel, Em defesa de Cristo: um jornalista ex-ateu investiga as provas da existência de Cristo, São Paulo: Editora Vida, 2001, p. 76.

... quanto maior o número de cópias em harmonia umas com as outras,

sobretudo se provêm de áreas geográficas diferentes, tanto maior a

possibilidade de confrontá-las, o que nos permite visualizar como

seriam os documentos originais. A única forma possível de harmonizá-

los seria pela ascendência de todos eles à mesma árvore genealógica

que representaria a descendência dos manuscritos.

O Novo Testamento se sobressai também em relação às datas destas

cópias que são muito mais próximas dos textos dos apóstolos e

evangelistas. Metzger afirma que “temos cópias que datam de algumas

gerações posteriores ao escrito dos originais, ao passo que, no caso de

outros textos antigos, talvez cinco, oito ou dez séculos tenham se

passado”41. O Novo Testamento ainda fora traduzido para línguas como o

latim, siríaco, copta e, posteriormente, há também traduções armênias e

góticas.

Mesmo que não tivéssemos nenhum manuscrito grego hoje, se

juntássemos as informações fornecidas por essas traduções que

remontam a um período muito antigo, seria possível reproduzir o

conteúdo do Novo Testamento. Além disso, mesmo que perdêssemos

[...] as traduções mais antigas, ainda assim seria possível reproduzir o

conteúdo [...] com base na multiplicidade de citações e comentários,

sermões, cartas etc. dos antigos pais da igreja.42

Sobre o volume de manuscritos gregos existentes hoje, é praticamente

constrangedor se o compararmos a obras antigas como os Anais, de

Tácito – “seus primeiros seis livros existem hoje em apenas um

41

Ibidem., p.77. 42

Ibidem.

Page 21: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

manuscrito, copiado mais ou menos em 850 d.C.. Os livros 11 a 16 estão

em outro manuscrito do século XI. Os livros 7 a 10 estão perdidos” p78 –,

Guerra dos judeus, do historiador Flávio Josefo – nove manuscritos,

“todos eles cópias feitas nos séculos X a XII. Existe uma tradução latina do

século IV e textos russos dos séculos XI ou XII” P 18 -, ou ainda a famosa

Ilíada de Homero, que é o texto com maior volume de cópias antes do

Novo Testamento – menos de 650 manuscritos. E quantos manuscritos

teríamos do Novo Testamento então? “Mais de cinco mil catalogados” (p

78)!

Normam Geisler, reconhecido apologeta cristão, conclui:

O Novo Testamento não só sobreviveu em um número maior de

manuscritos, mais que qualquer outro livro da Antiguidade, mas

sobreviveu em forma muito mais pura (99,5% de pureza) que qualquer

outra obra grandiosa, sagrada ou não.43

E o mais interessante de se notar é que o 0,5% de variação não coloca

nenhum doutrina cristã em risco!44.

Feita esta pequena introdução sobre as cópias que nos permitem chegar

ao texto grego do Novo Testamento, passemos então a ele. Uma

observação se faz extremamente relevante aqui:

Ora, descobri que muitos leigos não entendem esse procedimento. Eles

acreditam que se você analisar os próprios escritos do Novo

43

Normam L. Geisler & William E. Nix, Introdução bíblica: como a Bíblia chegou até nós, São Paulo: Editora Vida, 1997, p. 172. Citado em Strobel, 2001, p. 85. 44

Strobel, 2001, p. 84-85.

Testamento, em vez de recorrer a fontes externas ao Novo Testamento,

então você estará de certa forma andando em círculos, usando a Bíblia

para provar a Bíblia. Se você sequer citar uma passagem extraída do

Novo Testamento eles pensarão que você de algum modo está

cometendo uma petição de princípio, por pressupor que o Novo

Testamento é uma fonte confiável.

Mas isso não é de forma alguma o que os historiadores fazem quando

estudam o Novo Testamento. Eles não estão tratando a Bíblia como

um livro sagrado, inspirado, nem tentando provar que ele é verídico

apenas por citá-lo. Antes, estão tratando o Novo Testamento como

qualquer outra coletânea de escritos antigos e investigando se tais

documentos são historicamente confiáveis.45

Indicaremos alguns pontos que ajudam a desmistificar a questão da

credibilidade histórica do Novo Testamento. O espaço é curto, logo só

alguns pontos da defesa serão apresentados e poucos, enfatizados. A

Bibliografia sugerida no final deste texto, assim como nos casos

anteriores, ajudará em uma pesquisa mais minuciosa e responsável deste

empolgante tema. Vamos aos pontos:

Em primeiro lugar, “não houve tempo suficiente para que a influência de

lendas apagasse os principais fatos históricos”46. Considerando que o

tempo entre os fatos e entre os escritos que os relatam é bastante

pequeno, é bastante improvável que lendas tenham sido criadas em torno

da figura de Cristo e repassadas para o texto sagrados. Um primeiro ponto

que se deve observar é que pouco importa quão distantes estamos hoje

dos fatos. O que realmente importa é o hiato entre “a evidência e os 45

Craig, 2011, p. 206. 46

Ibidem., p. 209-210. Craig detalha mais este ponto nas páginas 211-213.

Page 22: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

acontecimentos originais em torno dos quais gira a evidência”47. Temos a

tendência a achar que não podemos conhecer fatos da época de Jesus já

que essa história se passou há dois mil anos. Todavia, não vemos

problemas nenhum em abrir um livro de história e confiar nas histórias

dos persas, dos gregos, os relatos de guerras e a vida de homens como

Alexandre. Esse raciocínio impreciso e seletivo não faz qualquer sentido

dentro da História. No caso do Novo Testamento, faz menos sentido

ainda, já que neste caso há também um espaço temporal pequeno entre

os fatos e os relatos destes.

É precisamente neste ponto que entramos na segunda e mais importante

observação. É bem comum ouvirmos que os escritores do Novo

Testamento biografaram a vida de seu mestre vários anos depois de sua

morte. Isto é relativa e absolutamente inverídico. Relativamente porque

se olharmos para esse hiato em outras biografias da Antiguidade,

concluiremos que o Novo Testamento leva considerável vantagem. Como

diz o especialista em Novo Testamento, Dr. Craig Blomberg:

... na verdade, é possível fazer uma comparação muito instrutiva. As

duas biografias mais antigas de Alexandre, o Grande, foram escritas

por Ariano e Plutarco depois de mais de 400 anos da morte de

Alexandre [...] e mesmo assim os historiadores as consideram muito

confiáveis.48

Sobre a incidência de lendas, Blomberg atesta que somente 500 anos

depois é que este tipo de material começou a surgiu na história do

47

Ibidem., p. 209. 48

Strobel, 2001, p. 42.

imperador. “Por outras palavras, nos primeiros 500 anos, a história de

Alexandre ficou quase intacta”. Mas ainda há algo mais surpreendente a

se dizer. Há boas evidências para colocar as datas dos evangelhos abaixo

do que tradicionalmente é divulgado. Em resumo, as datas mais aceitas

são: década de 70 para o evangelho de Marcos; década de 80 para

Mateus e Lucas; e década de 90 para o evangelho joanino. Porém o Dr.

Blomberg propõe algo bastante coerente para datação mais antiga dos

documentos neotestamentários. O livro de Atos é finalizado deixando

certo suspense acerca da situação de Paulo, que estava preso em Roma à

época. Aparentemente falta uma conclusão sobre a vida do apóstolo! Por

quê? Essa maneira repentina com que o livro termina nos permite

concluir que Paulo ainda estava vivo quando da conclusão de Atos.

Isso significa que [se] o livro de Atos é o segundo tomo de um volume

duplo, sabemos que o primeiro tomo – o evangelho de Lucas – deve ter

sido escrito antes dessa data. E já que Lucas inclui parte do evangelho de

Marcos, isto significa que Marcos [...] foi escrito por volta de 60 d.C.,

talvez até mesmo em fins da década de 50. Se Jesus foi morto em 30 ou

33 d.C., temos aí um intervalo de, no máximo, 30 anos

aproximadamente. [...] Em termos de história, principalmente se

compararmos com Alexandre, o Grande, [...] é como se fosse uma notícia

de última hora!49

Se pensarmos nos primeiros testemunhos sobre a vida, ensino, morte e

ressurreição de Jesus, ou seja, as principais doutrinas cristãs desde a

Igreja primitiva, e considerarmos todo o Novo Testamento e não só os

quarto evangelhos, chegamos ainda mais perto dos fatos históricos. Na

49

Ibidem., p. 43.

Page 23: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

primeira carta de Paulo à igreja da cidade de Corinto encontramos aquilo

que os historiadores têm entendido como um credo da igreja primitiva.

Assim como Filipenses 2.6-11 e Colossenses 1.15-20, a métrica e conteúdo

apresentado em 1Coríntios 15.3-7 definem tais textos como credos ou

hinos comumente transmitidos no primeiro século pelos cristãos.

Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi:

(1) que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras,

(2) e que foi sepultado,

(3) e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.

(4) E que foi visto por Cefas, e depois pelos doze. Depois foi visto, uma

vez, por mais de quinhentos irmãos, dos quais vive ainda a maior

parte, mas alguns já dormem também. Depois foi visto por Tiago,

depois por todos os apóstolos.50 (1Co 15.3-7 - ACF51)

A forma com que está exposto indica o conteúdo da tradição nas quatro

linhas (excetuando-se a primeira, na qual Paulo introduz o credo). Cada

linha é responsável por uma parte da tradição. Para William Craig, este

formato, deveria ter ajudado na memorização. Neste texto, que resume a

50

Craig, 2011, p. 247. Obviamente os números das linhas (1 a 4) não fazem parte do texto bíblico. Tampouco do texto na obra de Craig. Apenas os coloquei para a visualização de como provavelmente era a forma deste credo, a fim de propiciar melhor memorização do conteúdo. Para explicações mais detalhadas sobre o porquê de este texto ser considerado um credo, conferir Strobel, 2001, p. 302-305. 51

“ACF” é a abreviação para a tradução da Bíblia Sagrada feita por João Ferreira de Almeida, em sua Edição Corrigida e Revisada Fiel aos Textos Originais. Essa será a versão padrão do artigo. Em outros casos, para melhor compreensão do texto, a versão usada será indicada.

pregação cristã primitiva, “Paulo usa uma linguagem técnica para indicar

que estava transmitindo essa tradição oral de uma forma relativamente

fixa”52. O próprio texto dá essa impressão direta quando Paulo diz que

primeiramente entregou “o que também recebi”. Ademais, “recebi” e

“transmiti” (entreguei) “são termos rabínicos que indicam a transmissão

de uma tradição”53.

Craig Blomberg novamente faz uma regressão cronológica dos fatos:

... a conversão de Paulo se deu aproximadamente em 32 [d.C.]. Ele foi

então levado imediatamente para Damasco [...] Seu primeiro encontro

dos os apóstolos em Jerusalém teria ocorrido em 35 d.C. [...] Não

estamos comparando 30 ou 60 anos com os 500 anos normalmente

aceitos para outros dados – estamos falando de dois anos!”54

Em segundo lugar, “os evangelistas têm um passado garantido de

confiabilidade histórica”.55 Lucas, por exemplo, escreveu uma obra que

posteriormente foi agrupada em dois volumes, o evangelho segundo

Lucas e o livro de Atos. O prefácio do seu evangelho foi escrito “em grego

clássico, exatamente como os grandes historiadores gregos costumavam

fazer” (craig 214). Lucas “fala da minuciosa investigação da história que

está prestes a relatar e nos assegura de que ela se baseia em informações

colhidas de testemunhas oculares”. (p 214) No livro de Atos percebe-se

relatos detalhados sobre as regiões onde o cristianismo começou a

52

Strobel, 2001, p. 44. 53

Ibidem., p. 302. 54

Strobel, 2001, p. 45. 55

Craig, 2011, p. 210-211. Mais detalhes deste ponto são apresentados nas páginas 213-216.

Page 24: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

florescer no contexto das viagens de Paulo. Lucas era médico, não foi

testemunha ocular da vida de Jesus, mas teve a oportunidade de viajar

com Paulo (como se percebe a partir do versículo 10 de Atos 16) e

“conversar com testemunhas oculares da vida de Jesus quando esteve em

Jerusalém”, (p 215).

O que mais intriga nos relatos de Lucas no livro de Atos é a precisão

histórico-geográfica com que os eventos são narrados. Sherin-White,

historiador de profissão e estudioso da história greco-romana, afirma que

“a historicidade em Atos é avassaladora. Qualquer tentativa de rejeitar

sua historicidade, ainda que seja em relação a detalhes, deve agora nos

parecer absurda”56. Sir William Ramsey, arqueólogo, nos confirma: “Lucas

é um historiador de primeira classe [...] Esse autor deveria ser colocado

entre os maiores historiadores”57. “Um arqueólogo de renome analisou as

referências que Lucas faz a 32 países, 54 cidades e 9 ilhas, e não achou um

erro sequer”58.

Um terceiro ponto é que “a transmissão das tradições sagradas entre os

judeus era altamente desenvolvida”59. Para que fique ainda mais claro

que os escritos do Novo Testamento refletem com boa recisão o que de

fato aconteceu, precisamos distinguir a tradição oral peculiar a Israel.

56

A. N. Sherwin-White, Roman Society and Roman Law in the New Testamente. Oxford, 1963 p. 189. Citado em Craig, 2011, p. 215. 57

William M. Ransey, The Bearing of Recent Discovery on the Trustworthiness of the New Testament. London, 1915, p. 222. Citado em Craig, 2011, p. 216. 58

Strobel, 2001, p. 129. 59

Craig, 2011, p. 210.

Desde a mais tenra idade as crianças eram ensinadas em casa, na

escola e na sinagoga a memorizar com fidelidade a tradição sagrada.

Os discípulos devem ter tido o mesmo cuidado com os ensinamentos de

Jesus.60

Em uma terra e tempo onde não havia computador ou máquina de

escrever, muito menos impressora, é preciso ressaltar que a educação se

dava de maneira oral. “Alguns rabinos ficaram famosos porque sabiam de

cor todo o Antigo Testamento”61. Os discípulos, que também eram judeus

provavelmente estavam aptos para guardar grandes porções de histórias

e dizeres do tempo que andavam com Jesus. Sinceramente é difícil para

qualquer ocidental contemporâneo entender do que se está falando. Mas

o professor Craig Blomberg, que admite o espanto, nos ajuda, explicando,

por exemplo, “que 80 a 90% das palavras de Jesus estavam originalmente

em forma poética [...] havia métrica, com versos harmônicos, paralelismo

e assim por diante – o que teria facilitado muito a memorização”62.

O que facilita ainda mais a compreensão da tradição oral dos antigos

judeus é a possibilidade da introdução de “variações em partes da história

conforme a ocasião – incluir ou excluir detalhes, parafrasear este ou

aquele trecho, explicar esta ou aquela parte, e assim por diante” p 56. “De

acordo com um estudo, cerca de 30 a 40% de toda a tradição sagrada

transmitida oralmente no antigo Oriente Médio apresenta variações de

uma ocasião para a outra. Todavia certos pontos nunca se alteravam, e a

60

Ibidem. 61

Strobel, 2001, p. 55. 62

Ibidem., p. 56. Lembre-se, também, do paralelismo e forma do credo de 1 Corítnios.

Page 25: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

comunidade podia intervir para corrigir o narrador caso ele reproduzisse

erroneamente os aspectos importantes da história”. Isso faz sentido já

que os judeus sempre zelaram pelas tradições religiosas e se sentiriam a

vontade para corrigir erros em transmissões equivocadas de eventos ou

dizeres.

Em quarto, “havia importantes impedimentos ao embelezamento das

tradições sobre Jesus, como a presença de testemunhas oculares e a

supervisão dos apóstolos”63. Sobre este ponto, William Craig nos diz:

As pessoas que haviam visto e ouvido Jesus ainda estavam vivas e

poderiam ser consultadas a respeito do que Cristo havia dito e feito.

Além disso, as tradições sobre Jesus permaneceram sob a supervisão

dos primeiros apóstolos. Esse fatores teriam agido como um verdadeiro

freio sobre as tendências de elaborar os fatos em uma direção

contrária a que era preservada por aqueles que haviam conhecido

Jesus. De fato, no caso dos evangelhos, seria mais preciso falar em

“história oral” do que em “tradição oral”, uma vez que as testemunhas

oculares e os apóstolos ainda estavam vivos.64

Antes de analisarmos se há provas corroborativas fora do Novo

Testamento, vale mencionar uma questão recorrentemente usada no

ataque ao texto bíblico: as discrepâncias entre os diferentes relatos dos

evangelhos. Como há a necessidade de se arbitrar sobre os pontos que

serão mencionados ou não e, dentre os mencionados, enfatizados ou não,

vejo a necessidade de apenas lançar dois princípios apologéticos

63

Craig, 2011, p. 210. 64

Ibidem.

específicos para esse caso. A busca mais aprofundada sobre esse tema tão

difundido e debatido pode ser feita com base na bibliografia indicada.

Primeiramente devemos ser sinceros quanto à natureza das

discrepâncias. É inquestionável que as diferenças nos relatos dos eventos

da vida de Jesus se dão em pontos que estão à margem do foco central da

história. Pontos estes que não duvidariam, por exemplo, os fatos-chave

para se advogar a ressurreição histórica. Além disso, muitos estudiosos

têm trabalhado duro a ponto de harmonizarem praticamente todas estas

famosas incongruências com novas descobertas históricas, arqueológicas,

linguísticas. Isso se reflete em uma vasta literatura saturada de trabalhar

com estes pontos. Enquanto essa literatura se mostra bastante útil do

ponto de vista teológico, doutrinário para os cristãos, o ponto seguinte é

esclarecedor de um viés historiográfico.

Neste segundo ponto, devemos buscar o real significado destas

discrepâncias. A harmonização acima citada é importante para a

solidificação das crenças teológicas. Mas do ponto de vista de um

historiador e até mesmo de um advogado, é realmente animador que

estas incoerências aparentes (ou “variações nos relatos”) de fato existam.

Lee Strobel que escreveu o impressionante livro “Em defesa de Cristo”65,

onde narra sua peregrinação jornalístico-investigativa em entrevistas em

busca de fatos históricos sobre Jesus, é mestre em Direito pela

universidade de Yale. Seus vários anos como repórter jurista do Chigano

Tribune lhe renderam muitos prêmios e reconhecimento internacional.

Enquanto trabalhava a questão das discrepâncias nos relatos do Novo

65

Referencias do livro

Page 26: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

Testamento com o Dr. Caig Blomberg, o próprio Strobel diz ter lembrado

instantaneamente das palavras de uma importante personagem da

história do direito, Dr. Simon Greenleaf, da Faculdade de Direito de

Harvard. Greenleaf, “autor de um tratado muito influente sobre a prova”

estudou a harmonia entre os quatro evangelhos. Seu veredito:

Existe um volume significativo de discrepâncias, o que aponta para o

fato de os autores não poderem ter estabelecido nenhum tipo de

acordo entre si; por outro lado, há também uma harmonia de tal

magnitude que demonstra sua condição de narradores independentes

de uma transação de grande importância.66

Por fim, Strobel ainda cita Hans Stier, “estudioso alemão da escola

historiográfica clássica”, que conclui “Todo historiador [...] torna-se muito

cético no momento em que algo extraordinário só aparece relatado em

narrativas completamente isentas de contradições”67.

William Craig, que passou seu doutorado em Munique estudando os

documentos históricos a fim de buscar bases sólidas para a ressurreição,

sugere qual a posição aparentemente mais coerente a se tomar depois de

lançadas essas poucas, superficiais, porém significativas defesas históricas

sobre os documentos do Novo Testamento: “pessoalmente acredito que

devemos presumir a confiabilidade histórica do que os evangelhos dizem

sobre Jesus, até que se prove que eles estejam errados”68.

66

Simon Greenleaf, The testimony of the evangelists, Grand Rapids, Baker, 1984, p. vii. Citado em Strobel, 2001, p. 59. 67

Strobel, 2001, p. 59. 68

Craig, 2011, p. 216.

Analisada a credibilidade histórica do Novo Testamento em si, resta-nos

saber se outras fontes externas confirmam o que os apóstolos narraram.

SOBRE OS DOCUMENTOS FORA DO NOVO TESTAMENTO

É preciso deixar claro que mesmo que não houvesse prova documental

histórica à parte dos manuscritos gregos, não poderíamos negar a

veracidade histórica do cristianismo de uma vez por todas. Isso nos

parece óbvio a partir do momento que o Novo Testamento já fora

demonstrado como uma valiosíssima fonte de credibilidade histórica

surpreendente.

Esse equívoco não passou despercebido em um dos debates do professor

William Craig. Seu oponente, famoso naturalista Dr. John Shook, na parte

final do debate, dirigiu uma pergunta ao filósofo cristão acerca das provas

que haveria para o cristianismo fora do Novo Testamento. Dr. Craig

explicou, então, que a pergunta partia de um pressuposto errado e

preconceituoso de que os manuscritos do Novo Testamento eram tão

ruins historicamente, ou abarrotados de falsidades e segundas intenções,

que necessitavam de prova corroborativa. Este não é o fato como já

tentamos demonstrar!

O que as provas corroborativas fazem é reforçar a credibilidade do que é

atestado no cânon cristão. Algumas são realmente surpreendentes.

Vejamos...

A mais conhecida talvez seja a referência do historiador Flávio Josefo.

Judeu, nascido em 37 d.C., Josefo finalizou sua mais importante obra –

Antiguidades – em 93 d.C.. Neste texto encontramos um pequeno trecho

Page 27: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

onde é dito: “Convocou então uma reunião do Sinédrio e trouxe perante

ele um homem chamado Tiago, o irmão de Jesus, chamado o Cristo, e

alguns outros”69. Edwin M. Yamauchi, um dos entrevistados de Lee

Strobel no já citado Em defesa de Cristo, é formado em hebraico e

estudos helenísticos, além de ser doutor em estudos mediterrâneos pela

Brandeis University. Yamauchi nos diz sobre o trecho de Josefo acima que

não conhece “nenhum estudioso [...] [que tenha] conseguido colocar em

dúvida esta passagem”70.

Há ainda uma passagem mais importante, famosa e controversa sobre

Jesus, o Testimonium flavianum:

Nesse mesmo tempo apareceu Jesus, que era um homem sábio, se

todavia devemos considerá-lo simplesmente como um homem, tanto

suas obras eram admiráveis. Ele ensinava os que tinham prazer em ser

instruídos na verdade e foi seguido não somente por muitos judeus, mas

mesmo por muitos gentios. Era o Cristo. Os mais ilustres da nossa nação

acusaram-no perante Pilatos e ele fê-lo crucificar. Os que o haviam

amado durante a vida não o abandonaram depois da morte. Ele lhes

apareceu ressuscitado e vivo no terceiro dia, como os santos profetas o

tinham predito e que ele faria muitos outros milagres. É dele que os

cristãos, que vemos ainda hoje, tiraram seu nome.71

O que ocorre com este texto tão impressionante? Um judeu

provavelmente não escreveria certos trechos aí presentes. Os

69

Flávio Josefo, História dos hebreus, Rio de Janeiro: CPAD, 1991, 2, p. 203. Citado em Strobel, 2001, p. 102. 70

Strobel, 2001, p. 102. 71

Josefo, 1991, p. 156. Citado em Strobel, 2001, p. 103.

historiadores têm admitido isso. Depois de ser considerada autêntica

pelos cristãos e posta em dúvida completamente no Iluminismo,

Yamauchi afirma que “hoje em dia, porém, há um consenso notável tanto

entre os estudiosos judeus quanto entre os cristãos de que essa passagem

é totalmente autêntica, embora possa haver algumas interpolações”72.

Essas interpolações de copistas são, provavelmente, as seguintes:

“se todavia devemos considerá-lo simplesmente como um

homem”;

“Era o cristo” – relembrem que no primeiro trecho citado de

Josefo, ele se refere a Jesus como “era chamado Cristo”, frase que

estaria muito mais de acordo com o vocabulário de Josefo do que

a em questão;

“Ele lhes apareceu ressuscitado e vivo no terceiro dia, como os

santos profetas o tinham predito e que ele faria muitos outros

milagres”.73

Todo o resto do texto parece ser de fato de Josefo. Feito este

esclarecimento, a que conclusão chegamos? Dr. Yamauchi diz

Que esse trecho de Josefo, a princípio, dizia respeito a Jesus, mas sem

esses três pontos que mencionei. Apesar disso, Josefo confirma

informações importantes sobre Jesus: que ele foi o líder martirizado da

igreja em Jerusalém e que foi um mestre sábio, tendo deixado vários

72

Strobel, 2001, p. 103. 73

Para mais explicações sobre estas interpolações, conferir Strobel, 2011, p. 103-105.

Page 28: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

discípulos, embora tenha sido crucificado por ordem de Pilatos,

instigado por alguns líderes judeus.74

Além de Josefo, Tácito “deixou registrada o que é provavelmente a

referência mais importante sobre Jesus fora do Novo Testamento”75:

... para acabar com os rumores, [Nero] acusou falsamente as pessoas

comumente chamadas de cristãs, que eram odiadas por suas

atrocidades, e as puniu com as mais terríveis torturas. Christus, o que

deu origem ao nome cristão, foi condenado à morte por Pôncio Pilatos,

durante o reinado de Tibério; mas, reprimida por algum tempo, a

superstição perniciosa irrompeu novamente, não apenas em toda a

Judéia, onde o problema teve início, mas também por toda a cidade de

Roma.76

Há ainda muitas referência sobre os fatos do primeiro século, como as

referências às trevas do ano de 33 d.C. que foram chamadas de eclipse

solar, mas que, pelo visto, realmente ocorreram77 (sugiro que não deixem

escapar essa referência no rodapé). “Sabia que você pode ler sobre

pessoas como Pôncio Pilatos, Caifás e até mesmo João Batista nos escritos

do historiador judeu Flávio Josefo?”78. Contudo, finalizaremos esse tópico

com a referência de Plínio, o Jovem, governador da Bitínia a partir de 79

d.C.:

74

Ibidem., p. 105. 75

Ibidem., p 106. 76

Tácito, Anais, 15.44. Citado em Strobel, 2001, 107. 77

Para mais detalhes... 109-110 e faz um resumo. 78

Craig, 2011, p. 210.

Eles afirmaram [...] que sua única culpa, seu único erro, era terem o

costume de se reunirem antes do amanhecer num certo dia

determinado, quando então cantavam responsivamente os versos de

um hino a Cristo, tratando-o como Deus, e prometiam solenemente uns

aos outros não cometerem maldade alguma, não deflaudarem, não

roubarem, não adulterarem, nunca mentirem, e não negar a fé quando

fossem instados a fazê-lo.79

APÓCRIFOS

São surpreendentes as barbaridades ditas acerca dos manuscritos do

Novo Testamento e da vida de Jesus quando se olha para a literatura

ficcional (com vestes científicas e históricas) dos tempos atuais. Os livros

de Dan Brown e as publicações do Seminário de Jesus têm feito um

desserviço muito grande ao progresso dos estudos históricos sobre o

Novo Testamento. Quando esse tipo de estórias aparece na mídia,

novamente ressurge a questão sobre os apócrifos.

O que a maioria das pessoas tende a crer (como eu mesmo já ouvi) é que

questões políticas teriam feito com que a igreja primitiva retirasse tais

livros do cânon, mantendo apenas o que lhes era conveniente. A

produção acadêmica que se vale de desmistificar essas fantasias é

muitíssimo vasta. Pouparei o espaço elucidando a questão com

comentário de uma entrevista sobre o tema dada pelo reconhecido

teólogo Donald A. Carson80.

79

Plínio, o Jovem, Cartas, 10.96. Citado em Strobel, 2001, p. 108-109. 80

Disponível no link: http://www.youtube.com/watch?v=vTsVlku6zjI

Page 29: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

Diferente dos apócrifos, todos os livros do Novo Testamento são do

primeiro século. Todos eles eram apostólicos, ou seja, foram escritos por

apóstolos ou por pessoas diretamente ligadas e que conviviam com os

apóstolos. E, por fim, todos eles têm o conteúdo girando em torno do

Evangelho, da mensagem que já havia sido anunciada e executada por

Jesus Cristo e repassada para seus discípulos.

A história dos apócrifos é completamente diferente. Os mais antigos

datam do segundo século. Sua autoria não tem qualquer ligação com os

apóstolos, a despeito de textos com o nome dos apóstolos no título

(“Evangelho de Pedro”, por exemplo. Este fato em si já levanta

desconfiança sobre as motivações de um documento que reivindicava

uma autoria falsa). A heterogeneidade do conteúdo destes, comparada

com a homogeneidade dos 27 livros reconhecidos pela Igreja é algo

discrepante.

Deste modo, dizer que os ensinos do cristianismo foram sendo podados

até que se chegasse, por motivações duvidosas da Igreja, aos livros que

temos hoje, é, como diz Carson, começar a contar a história de trás para

frente. Nenhum livro foi retirado! Eles simplesmente não foram aceitos

por motivos que à época eram óbvios demais e que somente nos dias de

hoje são configurados como obscuros. Se alguém busca a verdade

histórica acerca da vida e ensinos de Jesus Cristo e do cristianismo

primitivo e prefere usar textos com títulos duvidosos, escritos por pessoas

que viveram cem ou duzentos anos depois de Jesus e rejeitar os escritos

do primeiro século de homens que ouviram a voz do mestre (ou

contemporâneos destes), “tudo bem”... Vá em frente!

E O ANTIGO TESTAMENTO?

Existe vasto estudo sobre a questão da confiabilidade do Antigo

Testamento também.81 Mas creio que uma abordagem diferente seja

suficiente neste momento.

O que pretendemos aqui é mostrar que Jesus cria no Antigo Testamento!

Se Jesus realmente existiu, disse o que disse e confirmou suas

reivindicações ressuscitando dentre os mortos (analisaremos isto na

próxima seção) então creio que possamos dar algum crédito a este que

não parece ser um homem qualquer, não é mesmo?

Qualquer pessoa familiarizada com o Novo Testamento verá que Jesus

cria sem no Antigo Testamento sem quaisquer restrições. Jesus

frequentemente se referia a Isaías (o profeta messiânico) e também o fez

em relação aos Salmos.

Em seus discursos também encontramos pessoas – Abel (Mateus 22.35)

e Noé (Mateus 24.37-39; Lucas 17.26-27) – e acontecimentos – o

dilúvio (Mateus 24:39) – que ocorrem em Gênesis 3-1182

Não estamos mal acompanhados quando acreditamos nas Escrituras

hebraicas, não é mesmo?

81

Conferir, por exemplo, Gleason L. Archer Jr., Merece confiança o Antigo Testamento?, São Paulo: Edições Vida Nova. 82 Dr. Ekkerhardt Mueller, A criação do Novo Testamento, disponível na revista Ciências das Origens (Uma publicação do Geoscience Research Institute - Instituto de Pesquisas em Geociências) número 9.

Page 30: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

O próprio Cristo a ensinou. Ele atribuiu a origem das Escrituras do

Antigo Testamento ao Espírito Santo (Mt 22.41-44), valorizou cada

detalhe da Lei mosaica (Mt 5.18), reconheceu a autoridade de

Deuteronômio quando foi tentado no deserto (Lc 4.1-12)...83

Portanto, não vejo motivos para continuarmos aqui por muito tempo. Se

Jesus realmente ressuscitou dos mortos (seção VI), Ele realmente é quem

disse ser: o Filho do Deus eterno, o próprio Deus encarnado, nosso

Salvador. E, assim, posso tranquilamente repousar e crer no que ele

também cria!

PROFECIAS

Confesso que este ponto do artigo está sendo finalizado em cima da hora.

O tópico anterior poderia ser bem mais trabalhado, por exemplo (apesar

de eu achar, como já dito, que a proposta é suficiente). O presente tópico

sobre profecias poderia tomar (e merecia) uma seção inteira... Mas

ficaremos com uma introdução sobre esse tema fascinante que, mais uma

vez, considero suficiente! Este tópico seria suficiente em si para que

qualquer um creia de fato em Cristo! Além do mais, ele cabe bem aqui, na

seção sobre a Bíblia!

Acompanhe essa longa citação de Steve Lawson:

Apenas com este ponto [acerca das profecias bíblicas] já podemos crer

que a Bíblia é a Palavra de Deus. Isso é incrível! Você percebe que

quando a Bíblia foi escrita, 27% dela era profética? E havia 1.817

profecias de alguma natureza na Bíblia no momento em que o autor a

83

Granconato, 2011, p. 31.

escreveu. Uma profecia é História pré-escrita. [...] E nós lemos todos os

tipos de profecias a respeito de indivíduos. Que Abraão teria um filho, e

ele teve na sua velhice. Que haveria governantes como Ciro, da Pérsia.

Cem anos antes de Ciro assumir o trono, seu nome foi registrado em

Isaías 45:1. Você gostaria de prever quem será o presidente daqui a

cem anos? É impossível! Mas eis aqui a Bíblia dando o nome e o país

desses governantes muito antes mesmo de eles nascerem. Ou nações,

como a queda do reino do norte, ou a duração do cativeiro dos judeus.

Ou impérios, a respeito da queda da Babilônia. Ou cidades, como a

destruição de Tiro, etc.

Há uma quantidade enorme de evidências que substanciam a perfeita

veracidade da Palavra de Deus. Não há qualquer outro livro no mundo

fazendo isso.

E quanto às profecias a respeito do Senhor Jesus Cristo? Os maiores

cumprimentos das profecias são encontrados na primeira vinda de

Cristo. [...] Foi profetizado no Antigo Testamento que Jesus nasceria da

semente de Abraão, Jessé e Davi. Ele nasceria de uma virgem.

Chamado Emanuel. Nascido em Belém. Grandes personalidades viriam

para adorá-lo. Haveria uma matança de crianças em Belém. Ele seria

chamado do Egito. Ele seria precedido por um mensageiro. [...] Ele

começaria seu ministério público na Galileia. Ele entraria publicamente

em Jerusalém e entraria no Templo. Ele viveria em pobreza e

humildade, ternura e compaixão. Ele não teria nenhum dolo, e seria

cheio de zelo. Pregaria em parábolas, executaria milagres, suportaria

desonra. Seria rejeitado pelos seus. Judeus e gentios se uniriam contra

Ele. Seria traído por um amigo. Seus discípulos o abandonariam. Seria

vendido por 30 peças de prata e esse preço seria dado por um campo

de oleiro. Ele morreria com intenso sofrimento, e ainda assim sofreria

Page 31: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

em silêncio. Ele seria esbofeteado. Seu aspecto seria desfigurado. Ele

seria cuspido na face e açoitado. Suas mãos e seus pés seriam

pregados à cruz. Ele seria abandonado por Deus. Ele gritaria “Deus

meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Zombariam dele. Fel e

vinagre seriam oferecidos a ele. Suas vestes seriam repartidas.

Lançariam sortes por suas roupas. Ele seria contado entre os

transgressores. Ele intercederia por seus algozes. Ele morreria, mas

nenhum osso de seu corpo seria quebrado. Ele seria perfurado, muito

antes da crucificação ser inventada. Ele seria enterrado com os ricos.

Sua carne não veria corrupção. Ele ressuscitaria dos mortos. Ele

ascenderia de volta à destra de Deus, o Pai.

Tudo isso registrado centenas de anos antes que Jesus chegasse a este

mundo. E muitas dessas profecias foram cumpridas não por seus

amigos, mas por seus inimigos, que eram os que mais perderiam com

seu cumprimento. E muitas dessas profecias foram cumpridas antes

dele nascer, enquanto estava no ventre de sua mãe e enquanto esteve

em seu túmulo.

Isto não é fascinante? Todas essas coisas foram escritas muito tempo

antes de Cristo e aconteceram! E Cristo cumpriu todas! Você sabe qual a

chance de um só homem, como Jesus, cumprir 48 profecias? Uma “em

um trilhão elevado à décima quinta potência!”84. E ele cumpriu!

Por fim, atente-se para esta profecia do livro de Isaías, no capítulo 53,

versos 3 a 9 e 12.

84

Peter W. Stoner, Science speaks, Chicago: Moody Press, 1969, p. 109. Citado em Strobel, 2001, p. 245.

Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores,

e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens

escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum.

Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as

nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de

Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas

transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que

nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.

Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava

pelo seu caminho; mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós

todos. Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um

cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os

seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca. Da opressão e do

juízo foi tirado; e quem contará o tempo da sua vida? Porquanto foi

cortado da terra dos viventes; pela transgressão do meu povo ele foi

atingido. E puseram a sua sepultura com os ímpios, e com o rico na sua

morte; ainda que nunca cometeu injustiça, nem houve engano na sua

boca. Por isso lhe darei a parte de muitos, e com os poderosos repartirá

ele o despojo; porquanto derramou a sua alma na morte, e foi contado

com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e

intercedeu pelos transgressores.85

Você sabe de quem o texto está falando? Sim, de Jesus! Sabe quanto

tempo antes de Jesus sequer existir? Aproximadamente 700 anos!

85

Disponível no link: http://www.blogfiel.com.br/2013/01/as-profecias-cumpridas-demonstram-a-inspiracao-divina-das-escrituras.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+Blog_Fiel+%28Blog+Fiel%29

Page 32: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

Quando Louis S. Lapides, judeu, de família judaica, leu este texto, logo

identificou Jesus. Não acreditando que o texto era original conseguiu uma

cópia do Antigo Testamento em hebraico e, para sua surpresa, lá estava,

novamente, a impressão digital de Cristo86!

É de se admirar que o livro que prossegue Malaquias (o último livro do

Antigo Testamento) é Mateus! Por quê? Porque Mateus escreve

praticamente para alguém que vem lendo todo o Antigo Testamento e

então vê todas as profecias de vários anos atrás se cumprirem em Cristo.

Lembro que uma das vezes que iniciei a leitura de Mateus passei a anotar

suas referências às profecias cumpridas em Cristo. Desisti, pois perdi a

conta. Se pensarmos em todo o Novo Testamento a soma é absurda.

Será que a Bíblia merece alguma credibilidade por coisas como essa?

86

Para conferir a magnífica história da peregrinação deste judeu, veja o capítulo 10 do livro Em defesa de Cristo, de Lee Strobel.

VI. EXISTEM EVIDÊNCIAS HISTÓRICAS PARA A RESSURREIÇÃO DE JESUS?87

Se me esforçar um pouco, acho que posso me lembrar da primeira vez

que li ou vi alguém dizendo que havia bases históricas para a ressurreição

de Jesus. Eu mesmo, cristão, fiquei atônito com aquilo. Será que aquilo

que já era real para a minha mente e coração poderia ser demonstrado

como um evento histórico? Sim, essa reivindicação é assombrosa.

Todavia, assim como nos casos anteriormente trabalhados, creio que as

evidências em favor da fé cristã são não menos assombrosas.

Um argumento que nos leve a aceitar a ressurreição de Jesus como a

melhor explicação histórica para os fatos que a seguir serão analisados, se

constitui, creio eu, em um argumento cabal, definitivo a favor da fé cristã.

Ora, se Jesus cumpriu todas as profecias do Antigo Testamento, o que já é

algo inimaginável matematicamente, e, por fim, ressuscitou dentre os

mortos como havia sido predito pelos profetas e por ele mesmo, então

uma reprovação do cristianismo como verdadeiro me parece um absurdo

sem precedentes.

87

Esta seção foi feita com base nos capítulos 8 e 9 da obra citada de William Craig (p. 203-292) que resumem sua tese de doutorado acerca das evidências históricas para a ressurreição de Jesus (além de outras obras auxiliares, principalmente Em defesa de Cristo de Lee Strobel. Além disso, há um bom debate com mesmo título, que ocorreu entre o Dr. Craig e o famoso historiador Bart Ehrman. O primeiro vídeo, de uma série de 14, está disponível no link: http://www.youtube.com/watch?v=mIfWl1_dIVI

Page 33: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

Grande parte do trabalho (que novamente será bem superficial) neste

ponto será baseado na tese de doutorado do Dr. William Lane Craig sobre

as evidências históricas para a ressurreição de Cristo. Craig começa o

nono capítulo de seu livro “Em guarda” (referencia e tal) contando sobre

as várias palestras que assistiu durante os estudos para o referido

doutorado, realizado em Munique. A escola teológica alemã é conhecida

por ser muito rígida e cética quanto à várias alegações cristãs, o que lhe

confere o título teológico de “liberal” (referencia explicando brevemente).

Pinchas Lapide, um estudioso canadense, foi convidado para falar em uma

destas palestras. Um detalhe: Lapide era judeu. Craig conta com aparente

entusiasmo que

ao final da palestra, quando disse que ele, portanto, havia chegado à

conclusão de que a melhor explicação para as evidências é que o Deus

de Israel ressuscitara Jesus dos mortos, que quase caí da cadeira!”.

Craig conclui: “Nada mais ilustra tanto a credibilidade histórica da

ressurreição de Jesus do que o fato de que esse estudioso judeu estava

convencido, com base nas evidências, de que o seu Deus, o Deus de

Israel que ele adorava, tinha ressuscitado Jesus de Nazaré.88

O que será feito sucintamente a seguir é, primeiro, apresentar a evidência

histórica que será analisada. Em segundo lugar, deduziremos qual parece

ser a melhor explicação para essa evidência.

Os três fatos são os seguintes:

1. O sepulcro vazio;

88

Craig, 2011, p. 243.

2. as aparições de Jesus após sua morte;

3. o início da convicção dos discípulos na ressurreição de Jesus

Algumas rápidas evidências para os três fatos:

1. O sepulcro vazio

Alguns pontos dão credibilidade histórica a este fato. Primeiro

precisaríamos saber sobre o seu sepultamento. Há relatos do

sepultamento em fontes independentes e muito antigas e de modo bem

direto e simples (lembre-se, por exemplo, de 1Co 15.4. Conferir também

Atos 13.28-31 e Marcos 15.37-16.7) o que impede que se trate de uma

lenda posterior. Soma-se a isto o fato constrangedor de José de

Arimatéia, um membro do grupo que condenou Jesus, dono do túmulo

onde Jesus foi colocado, ser citado nos quatro evangelhos. Provavelmente

José é uma personagem histórica atestada por várias fontes

independentes. Isto parece também indicar que os discípulos não se

importariam se alguém fosse ao próprio José questionar sobre o

sepultamento.

John A. T. Robinson, o falecido professor de Novo Testamento da

Universidade de Cambridge, disse que o sepultamento honroso de

Jesus é um dos fatos mais antigos e mais bem confirmados que temos

sobre o Jesus histórico89

.

William Craig, por fim, argumenta sobre este ponto inicial:

89

Strobel, 2001, p. 278.

Page 34: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

Um dos fatos mais notáveis sobre a incipiente crença dos cristãos na

ressurreição de Jesus foi que ela floresceu na própria cidade em que

Jesus tinha sido publicamente crucificado. Enquanto as pessoas de

Jerusalém pensassem que o corpo de Jesus estava no sepulcro, poucas

teriam estado preparadas para acreditar em um absurdo como o fato

de que tinha ressuscitado. [...] ainda que tivessem acreditado nisso, as

autoridades judaicas teriam trazido a verdade à tona simplesmente

apontando para o sepulcro de Jesus.90

A segunda evidência, muito importante, para a historicidade do túmulo

vazio é o relato das mulheres, testemunhas do fato. Por quê? Porque o

testemunho das mulheres não tinha valia alguma na patriarcal sociedade

judaica. Hierarquicamente as mulheres se encontravam num nível social

bem inferior ao dos homens. Basta olhar para os seguintes textos

rabínicos:

Que as palavras da Lei sejam antes queimadas do que entregues às

mulheres91

Feliz aquele cujos filhos são homens, mas infeliz aquele cujos filhos são

mulheres92

Bendito és tu, Senhor nosso Deus, soberano do universo, que não me

criou gentio, escravo ou mulher93

90

Craig, 2011, p. 245. 91

Ibidem., p. 252-253. 92

Ibidem., p. 253. 93

Ibidem.

Esta última citação fazia parte da oração diária dos homens judeus.

Importante frisar que muitos rabinos pensaram e praticaram atos que

destoavam completamente dos ideais do Antigo Testamento. Jesus

mesmo repreendeu muitos doutores da Lei por fazerem uso hipócrita e

egoísta da Lei. Digo isto para que fique claro que esses textos acima

apenas refletem a sociedade judaica patriarcal e, de modo algum, ensino

bíblicos que desvalorizem seres humanos, quaisquer que sejam, criados à

imagem de Deus94

Voltando ao assunto... essa hierarquia social se refletia na maneira como

eram tratados os testemunhos advindos de mulheres. Flávio Josefo,

falando exatamente sobre as regras para se admitir algum testemunho,

diz:

Que o testemunho de mulheres não seja admitido, em função da

leviandade e atrevimento desse sexo95

Dito isto, será que os judeus convertidos ao cristianismo teriam escolhido

o testemunho de mulheres se a intenção fosse criar credibilidade à

história do sepulcro vazio? William Craig resolve este problema,

explicando que isso só faria sentido “se, gostassem ou não as pessoas,

elas [as mulheres] de fato foram as que encontraram o sepulcro vazio, e

os evangelhos fielmente registraram, então, o que para eles era um fato

94

Considere, por exemplo, o texto da carta de Paulo aos Gálatas, capítulo 3, versos 27 a 28: “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”. 95

Ibidem., p. 252.

Page 35: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

embaraçoso”96. “Isso fala a favor da historicidade dessa tradição, e não da

sua condição de lenda”97

Em terceiro, podemos destacar a pregação dos primeiros cristãos. Nela,

ficava claro que o tumulo vazio, testemunhado pelas mulheres e

confirmado pelos discípulos, era realmente um caso estabelecido e

inquestionável. Já houve quem tivesse a audácia de questionar o porquê

de os discípulos não terem falado com frequência do sepulcro vazio. Isso

é um tremendo absurdo! Reparem este trecho de um discurso de Pedro,

que se encontra no capítulo 2 do livro de Atos, versos 29 a 32:

Homens irmãos, seja-me lícito dizer-vos livremente acerca do patriarca

Davi, que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua

sepultura. Sendo, pois, ele profeta, e sabendo que Deus lhe havia

prometido com juramento que do fruto de seus lombos, segundo a

carne, levantaria o Cristo, para o assentar sobre o seu trono, nesta

previsão, disse da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi

deixada no inferno, nem a sua carne viu a corrupção. Deus ressuscitou

a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas.

Em Atos 13 (versos 29 a31) vemos mais uma vez como o túmulo vazio,

fato estabelecido à época, era frequentemente usado na pregação da

igreja primitiva:

E, havendo eles cumprido todas as coisas que dele estavam escritas,

tirando-o do madeiro, o puseram na sepultura; mas Deus o ressuscitou

96

Ibidem., p. 253. 97

Strobel, 2011, p. 288.

dentre os mortos. E ele por muitos dias foi visto pelos que subiram com

ele da Galiléia a Jerusalém, e são suas testemunhas para com o povo.

Nos dois casos fica claro, mesmo estando implícito, o sepulcro vazio.

“Creio que é bastante tolo e pouco razoável alegar que estes primeiros

pregadores não se referiram ao túmulo vazio só porque não usaram as

palavras exatas ‘túmulo vazio’”98. Este ponto ajuda, mais uma vez, a

comprovar o conhecimento generalizado que a população do primeiro

século tinha acerca da localização do túmulo de Jesus. Os discípulos

praticamente conclamavam o povo a conferir o fato. As autoridades

romanas e os líderes religiosos teriam ficado felizes de apontar a

localização correta do túmulo de Cristo quando um bando de homens e

mulheres passaram a dizer que ele estava vazio.

Apesar dessa discussão, o que resta afirmar, por fim, e que se mostra

muito interessante, é o fato de que, ao que parece, nunca houve dúvidas

sobre o túmulo de Jesus ter sido encontrado vazio ao terceiro dia e assim

permanecido. Vejam o que Mateus nos diz no seu capítulo 28, verso 11 a

15:

E, quando iam, eis que alguns da guarda, chegando à cidade,

anunciaram aos príncipes dos sacerdotes todas as coisas que haviam

acontecido. E, congregados eles com os anciãos, e tomando conselho

entre si, deram muito dinheiro aos soldados, dizendo: dizei: vieram de

noite os seus discípulos e, dormindo nós, o furtaram. E, se isto chegar a

ser ouvido pelo presidente, nós o persuadiremos, e vos poremos em

98

Ibidem., p. 290.

Page 36: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

segurança. E eles, recebendo o dinheiro, fizeram como estavam

instruídos. E foi divulgado este dito entre os judeus, até ao dia de hoje.

O que esse trecho do último capítulo de Mateus nos mostra? Que os

judeus, ao saberem da história do túmulo vazio, contada pelos guardas

(conferir Mateus 28.10), temerosos quanto à reação pública frente a este

fato, conspiraram em dizer que o corpo havia sido roubado. Por que não

inventar qualquer outra história, ou apontar para o túmulo com o corpo

de Cristo quando os cristãos passaram a anunciar a ressurreição? Parece

muito plausível dizer que a resposta é: o túmulo, de fato, estava vazio.

“Em outras palavras, a alegação dos judeus de que os discípulos haviam

levado o corpo pressupõe que havia um corpo faltando”99.

Em outras palavras, não havia ninguém que afirmasse que o túmulo

ainda continha o corpo de Jesus. A pergunta era sempre: “O que

aconteceu com o corpo?”. Os judeus propuseram a história ridícula de

que os guardas tinham adormecido. É evidente que eles estavam se

agarrando a qualquer argumento para se salvar. O que importa é que

eles partiram da pressuposição de que o túmulo estava vazio! Por quê?

Porque sabiam que estava!100

2. As aparições de Jesus após sua morte

Novamente vamos à primeira carta de Paulo aos Coríntios, capítulo 15,

versos 3 a 7:

99

Craig, 2011, p. 254. 100

Strobel, 2001, p. 292.

Pois o que primeiramente lhes transmiti foi o que recebi: que Cristo

morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e

ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Pedro

e depois aos Doze. Depois disso apareceu a mais de quinhentos

irmãos de uma só vez, a maioria dos quais ainda vive, embora alguns

já tenham adormecido. Depois apareceu a Tiago e, então, a todos os

apóstolos101

(NVI)102

A aparição a Pedro é citada nessa antiga tradição da igreja primitiva. Lucas

nos mostra que o fato realmente era tido como real, quando nos diz no

capítulo 24 e versículo 34 de seu evangelho que: “Ressuscitou

verdadeiramente o Senhor, e já apareceu a Simão [Pedro]”.

Espere aí! Eu não estou querendo dizer que esses textos provam que

Jesus apareceu corporalmente ressurreto a seu discípulo, não é mesmo?

Não! Não estou querendo dizer que os textos em si provam que o fato

ocorreu historicamente103. Mas prossigamos...

101

Grifos meus 102

NVI é a Nova Versão Internacional da Bíblia Sagrada. Ela foi usada neste trecho simplesmente para que o nome “Pedro”, com o qual estamos mais familiarizados, aparecesse no lugar de “Cefas”. 103

Vale a observação de que aqui os textos estão sendo considerados simplesmente como documentos históricos. A fé cristã não ostenta a Bíblia simplesmente como documentos históricos confiáveis. Eles o devem ser por serem a Palavra de Deus. As profecias cumpridas e os fatos históricos simplesmente comprovam esta verdade. Os textos como documentos históricos não provam a verdade dos fatos que atestam. Mas os fatos serão provados como bem mais plausivelmente reais do que falsos historicamente. Em alguns casos

Page 37: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

A aparição ao grupo do doze é relatada em Lucas 24.36-43 e João 20.19-

20,24-29. Nesses textos Jesus mostra suas feridas, Tomé as toca e o

mestre ainda come peixe e um favo de mel junto de seus discípulos. Os

textos buscam enfatizar a aparição física de Jesus novamente. São relatos

de documentos históricos confiáveis e que partem de fontes

independentes e de tradição antiga novamente. Ainda não estou

querendo dizer que Jesus tenha aparecido ressurreto a seus seguidores só

porque os textos nos dizem isso104. O que parece indiscutível é que os

discípulos testemunharam aparições (que poderiam ser verdadeiras ou

não) e confiavam na veracidade delas.

Sobre a aparição aos “mais de quinhentos irmãos de uma só vez”, e a

afirmação de que “a maioria dos quais ainda vive”, C. H. Dodd, estudioso

do Novo Testamento da Universidade de Cambridge, alega:

Dificilmente pode haver algum propósito em mencionar o fato de que a

maior parte dos 500 ainda está viva, a não ser o de que Paulo estava

na verdade dizendo: ‘As testemunhas estão aqui para serem

questionadas’105.

O mesmo C. H. Dodd conclui que os relatos das aparições estão baseados

em material muito antigo106, o que acabaria com as possibilidades de

lendas. A conclusão a que Garry Habermas, especialista no assunto da

eles se mostrarão completamente provados. Mas isso só corrobora o fato de a Bíblia ser objetiva e absolutamente a Palavra de Deus! 104

Mais uma vez, como na nota anterior, os textos aqui são tomados como documentos históricos somente. 105

Craig, 2011, p. 257-258. 106

Strobel, 2001, p. 309.

ressurreição, chega é de que há uma “riqueza de informações de pessoas

que viram a Jesus. Não foram apenas uma ou duas pessoas que viram

uma sombra de passagem”107.

O livro de Atos, assim como os evangelhos (colocar a lista do Habermas e

referencia para as p 308 a 311 aquiiiiiiiiiiii), mostra inúmeras menções às

aparições vistas. Ao ter as menções, uma a uma, apresentadas pelo

entrevistado Garry Habermas, o entrevistador Lee Strobel,

impressionado, relatou:

Todas as evidências nos evangelhos e em Atos – incidente após

incidente, testemunho após testemunho, detalhe após detalhe,

comprovação sobre comprovação – são extremamente

impressionantes. Tente, mas não consegui lembrar nenhum outro

evento da história antiga tão bem atestado.108

O relato da aparição a Tiago se torna surpreendente se o colocarmos no

meio de duas situações opostas. Enquanto Cristo exercia seu ministério,

seus irmãos não criam nele (conferir João 7.5). Então Paulo relata o que

provavelmente ouviu da igreja primitiva no início de sua conversão, em

uma antiga tradição. Jesus teria aparecido a seu irmão Tiago. Este fato é o

divisor de águas na vida daquele homem. Porque em Gálatas 2.9, Paulo

diz que Pedro, João e Tiago eram considerados a coluna da igreja

primitiva. “... em Atos 21.18 Tiago é o único líder da igreja em Jerusalém e

do conselho de presbíteros”109. Para um judeu a cruz era um tremendo

107

Ibidem. 108

Ibidem., p. 310-311. 109

Craig, 2011, p. 259.

Page 38: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

escândalo, a pior maneira de se morrer110. Para um homem como Tiago,

judeu, que já não tinha fé em Jesus, a cruz ainda significava a certeza de

seus preconceitos. Todavia, de uma hora para outra, a Bíblia nos relata

uma conversão fantástica e um ministério de serviço e fé. Não só a Bíblia,

mas a história também nos intriga ao relatar que Tiago acabou entrando

para a lista dos mártires cristãos, tendo sido apedrejado até a morte. Que

fato explicaria essa repentina e violenta mudança? Paulo nos dá uma

alternativa em 1Coríntios 15.7: Jesus apareceu para seu irmão mais novo!

A aparição a todos os apóstolos deve ter sido confirmada em Jerusalém

para Paulo quando este lá esteve logo após sua conversão111. E no final do

credo, no versículo 8, Paulo ainda relata seu contato pessoal com o Cristo

ressuscitado. Ele diz “depois destes apareceu também a mim, como a um

que nasceu fora de tempo” (NVI). Na sua carta aos Coríntios ele insiste no

fato: “Não sou eu apóstolo? Não sou livre? Não vi eu a Jesus Cristo Senhor

nosso?”112 A história da conversão de Paulo é tão surpreendente quanto a

de Tiago. Um terrível perseguidor dos cristãos que consentiu com a morte

do primeiro mártir, Estevão, de repente vira o maior pregador do

evangelho e doa sua vida em favor das almas perdidas, sendo decapitado

em meados do ano 60, no reinado de Nero. Qual sua explicação para essa

mudança?

110

Conferir Deuteronômio 21.22-23 e Gálatas 3.13. 111

Craig, 2011, p. 260. 112

1 Coríntios 9.1

3. O início da convicção dos discípulos na ressurreição de Jesus

Este ponto já ficara implícito no relato das conversões de Tiago e Paulo,

por exemplo. Não é necessário explicar muito essa evidência. A fé cristã é

um fato e, pelo menos em seu início, estava alicerçada na mensagem da

ressurreição de Cristo, já que sem ela não havia qualquer justificativa para

o cristianismo. Se o cristianismo floresceu no século primeiro é bom que

se destaque que o foi baseado forte e principalmente na crença de que

Deus ressuscitou seu Filho e, nisto, nos deu esperanças de vida eterna.

E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã

a vossa fé. – 1 Coríntios 15.14

A fé da igreja primitiva não pode ser entendida sem essa crença. A crença

na ressurreição do Mestre de Nazaré fez o cristianismo nascer e criou

mártires que se negavam a recusar tal fé. Mais uma vez é necessário que

se entenda que isso jamais prova, por si só, que Jesus Cristo ressuscitou.

Mas a evidência aqui é: a crença dos cristãos de que Jesus havia

ressuscitado!

Como ressalta Craig,

... as origens do cristianismo dependem da crença dos primeiros

discípulos de que Deus havia ressuscitado Jesus dentre os mortos. Mas

a questão é: Com se aplica a origem dessa crença? Como afirma R. H.

Fuller, mesmo o mais cético dos críticos deve pressupor um misterioso

‘x’ para que o movimento se iniciasse. Mas que ‘x’ foi esse?.113

113

Craig, 2011, p. 268.

Page 39: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

Algo aconteceu! J. P. Moreland, filósofo pela Universidade do Sul da

Califórnia e mestre em teologia pelo Dallas Theological Seminary,

acrescenta uma importantíssima observação que traz luz sobre a

peculiaridade desse “boom” na vida de homens comuns da Palestina há

quase dois mil anos. Essa observação tem relação com a estrutura

sociocultural dos judeus. Para este povo, as “estruturas sociais” eram

extremamente inegociáveis, pois lhes conferiam “identidade nacional”. Os

rituais e práticas eram passados de pai para filho e celebrados

constantemente. Por esse motivo a cultura judaica – diferente de tantos

outros povos dominados – não se diluía mesmo em contato com uma

cultura dominadora diferente. A força dessas instituições estava na fé de

que essas estruturas haviam sido confiadas pelo próprio Deus criador.

“Acreditavam que, abandonando-as, estariam correndo o risco de ver sua

alma condenada ao inferno após a morte”.114

De repente

... vem um rabino de nome Jesus de uma região de baixo nível

social. Ele ensina durante três anos, reúne um grupo de seguidores de

classe média e baixa, entra em conflito com as autoridades e é

crucificado, assim como outros 30 mil judeus que foram executados no

mesmo período. Cinco semana depois de ele ser crucificado, porém,

mais de 10 mil judeus o estão seguindo, declarando-o iniciador de uma

nova religião. E veja: eles estão dispostos a abrir mão ou a alterar as

cinco instituições sociais que, desde a infância, lhes tinham sido

ensinadas como fundamentais em termos sociais e teológicos. 329

114

Strobel, 2001, p. 329.

A conclusão histórica de Moreland é de que “Algo muito importante

estava acontecendo!”115.

As cinco importantes instituições que faziam parte da “estrutura social” e

teológica dos judeus, citadas por Moreland, são: (1) frequentes sacrifícios

de animais como forma de expiação pelos pecados; (2) obediência à Lei

de Moisés; (3) guarda do sábado; (4) crença de que só há um Deus, Jeová,

o criador de tudo; e, por fim, (5) crença no Messias como um líder político

que restituiria Israel aos seus tempos de glória terrena.

Qualquer leitor atento do Antigo Testamento e que conheça um pouco da

cultura judaica sabe quão inegociáveis são esses pontos. Contudo, de

forma súbita, muitos judeus passaram a se reunir em torno da crença de

que (1) Jesus havia realizado o sacrifício perfeito pelos pecados do povo (o

que excluía a necessidade de prosseguirem com os sacrifícios de animais);

(2) que a obediência à Lei não bastava para ser salvo; (3) passaram

também a adorar a Deus no domingo (porque este era o dia da

ressurreição de Cristo) deixando de considerar necessária a observância

do sábado; (4) proclamaram e adoraram a Jesus como sendo a própria

encarnação de Deus (entendendo, agora, Deus como um ser triuno); e (5)

entenderam as profecias referentes ao Messias e a seu Reino espiritual (e

não um simples reino terreno).

Para nós, ocidentais, não tão ligados às questões de tradições e de

mudanças em estruturas culturais e sociais, talvez seja difícil entender o

peso dessa observação histórica. Mas J. P. Moreland assegura:

115

Ibidem.

Page 40: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

Creia em mim, essas mudanças nas estruturas sociais dos judeus não

foram meros ajustes feitos ao acaso, elas foram monumentais. Foi o

equivalente a um terremoto social! E os terremotos não acontecem

sem causa.116

O fato aqui é que algo aconteceu para que homens como Tiago e Paulo,

em um instante, mudassem todo o rumo de suas vidas. A terceira

evidência atesta que os primeiros cristãos no mínimo criam na

ressurreição de Jesus de maneira muito forte e isso não pode ser negado.

Creio que e analogia com o que aconteceu nos tempos de Hitler que me

foi apresentada certa vez não se sustente. Não acho também que possa

ser feita uma analogia com a crença sincera de muitos muçulmanos, por

exemplo. Seria correto comparar o surgimento do cristianismo

fundamentado na vida de homens que realmente criam que estavam

certos acerca da ressurreição com o surgimento do nazismo

fundamentado na vida de homens que realmente criam estar corretos ao

seguirem os ideais daquele austríaco? E por que haveria diferenças entre

a fé cristã e a fé islã?

Ninguém duvida da sinceridade dos nazistas ou dos muçulmanos em suas

crenças. Mas a uma diferença no caso dos discípulos. Só havia três

explicações para o início de sua fé na ressurreição física de Cristo. Eles

poderiam ter mentido. Ou poderiam ter crido, apesar de não terem visto

mais do que meras aparições. Ou, por fim, poderiam ter crido porque

verdadeiramente viram Cristo fisicamente ressurreto. Mas o fato é que

116

Ibidem., p 332.

eles sim estavam na posição de saber do que estavam dizendo, pois

estamos falando de um fato histórico.

Pessoas sofrem às vezes por acreditar que coisas falsas são verdadeiras.

Mas ninguém se entrega à torturas por uma deliberada mentira! No caso

das aparições, veremos como elas são pobres hipóteses abandonadas há

tempo. Basicamente os discípulos viram Jesus ou não viram! É difícil para

muitos entenderem que um homem tenha realmente ressuscitado e

interagido com outras pessoas. Mas se o cristianismo é de fato verdade,

não me assombraria termos evidências disso!

No caso dos muçulmanos e dos nazistas, eles não estão na posição

definitiva de saber se estão certos ou errados. Eles não estão alegando

um simples fato histórico que pode ser verificado. Quando o islamismo

faz isso, aliás, se dá muito mal às vezes. Há ainda questões morais

objetivas nos dois casos, mas nada comparado com a posição na qual

estavam os discípulos de mentirem para sempre sobre as visões que

testemunharam (o que nem céticos historiadores acreditam), terem tido

visões ou, simplesmente estarem certos! Mas falaremos dessas hipóteses

mais adante.

N. T. Wright é um respeitado estudioso do Novo Testamento que ensinou

durante anos em Oxford. Além disso, é também bispo da igreja da

Inglaterra. Wright esclarece muito bem este último ponto. Vejamos o que

ele diz:

A ressurreição de Jesus pegou todo mundo de surpresa. Os discípulos

não a estavam esperando. Eles sabiam perfeitamente bem que se você

seguisse alguém que você pensava ser o Messias, e ele fosse morto,

Page 41: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

então era o fim. Sabemos de pelo menos uma dúzia de outros

movimentos messiânicos ou proféticos, no período de cem anos antes e

depois de Jesus, eles usualmente terminavam com a morte do

fundador. E se [...] o movimento quisesse continuar, eles não diziam,

"Ah, ele ressurgiu dos mortos". Eles diziam, "Vamos encontrar seu

irmão ou primo ou alguém que possa continuar este movimento". Você

pode ver como esses grupos judaicos fizeram isso. Este aqui fez

diferente. [...] Por quê? "Ele está morto [...]". Não. "Ele ressurgiu dos

mortos".117

O que nos resta saber qual é a melhor explicação histórica para este fato

histórico (e para o túmulo vazio e o relato das aparições).

Se o surgimento dos nazarenos, um fenômeno atestado de modo

inegável pelo Novo Testamento, faz um buraco enorme na história, um

buraco do tamanho e da forma da ressurreição de Jesus, o que o

historiador secular propõe para fechá-lo?118

Craig, mais uma vez afirma a solidez destes fatos:

Uma das coisas que mais me causou espanto [...] foi perceber que esses

três grandes fatos, independentemente consolidados, representam a

visão da maioria dos críticos neotestamentários de hoje. O único ponto

de séria discordância seria em torno da natureza física das aparições

após a ressurreição.119

117

Disponível no link: http://www.youtube.com/watch?v=m566hHxM_W0 118

C. F. Moule, The phenomenon of the New Testament, London, SCM Press, 1967, p. 3. Citado em Strobel, 2001, p. 334. 119

Craig, 2011, p. 269.

A partir daqui então, qual hipótese histórica melhor explicaria estes três

fatos?

QUAL A MELHOR EXPLICAÇÃO PARA ESTES TRÊS FATOS HISTÓRICOS

CONSOLIDADOS?

Na segunda parte da pesquisa do Dr. William Craig, ele levanta seis

critérios dos mais importantes comumente usados por historiadores para

medir a qualidade das hipóteses explicativas concorrentes. Só para efeito

de conhecimento, os seis critérios são:

1. “Âmbito explicativo mais amplo”. Ou seja, a melhor hipótese

“explicará mais coisas relativas à evidência”;

2. “Poder explicativo” maior. Ou seja, a melhor hipótese, “tornará a

evidência mais provável”;

3. “Mais plausível”;

4. “Menos artificial”. Ou seja, a melhor hipótese “não vai exigir a

adoção [de] muitas hipóteses a mais que não tenham evidência

independente”.

5. “Será refutada por menos hipóteses aceitar do que as demais”.

Ou seja, “não vai entrar em conflito com tantas hipóteses

aceitas”.

6. Melhor do que as demais em preencher os requisitos 1 a 5120.

Aparentemente, simplesmente colocar várias hipóteses concorrentes em

um ringue para ver qual vence não parece ser a melhor forma de definir

se aquela hipótese é, de fato, a verdadeira explicação dos fatos. Porém, se

120

Ibidem., p. 270-271.

Page 42: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

olharmos para os critérios 1 e 2, veremos que quanto melhor a hipótese

se sai nestes critérios, maior é a possibilidade de ser verdadeira.

Em termos de história nunca saberemos ao certo o que aconteceu, pois

não há como repetir os eventos em um laboratório. Não havia máquinas

fotográficas naquela época e, portanto, não podemos atestar “com

certeza matemática” quaisquer fatos. Mas percebam bem que se não

podemos fazer isso em relação à ressurreição, não podemos fazer em

relação a quaisquer fatos históricos onde o registro preciso de uma

filmadora, por exemplo, não tenha chegado.

O importante aqui é termos a certeza de qual hipótese se sai melhor em

explicar a evidência, e, além disso, se tal hipótese é realmente boa em si

como explicação para os fatos. Outrossim, recordemos que

cronologicamente a primeira das hipóteses apresentadas é a da

ressurreição. Lidar com ela como se fosse mera alternativa pronunciada

por cristãos com motivações suspeitas é puro anacronismo. Todas as

outras hipóteses são posteriores e, portanto, deveriam provar de alguma

forma o equívoco (se este fosse o caso) da explicação original.

Colocarei algumas alternativas à hipótese da ressurreição, demonstrando

quais me parecem as maiores fraquezas das mesmas (sem que sejam as

únicas), indicando, obviamente, as referências bibliográficas que

aprofundem mais os casos.

Alternativas à hipótese da ressurreição:

I. Hipótese da conspiração – “os discípulos roubaram o corpo de

Jesus e mentiram sobre suas aparições, forjando dessa

maneira a ressurreição”121.

Parece absurdo ir contra a maioria dos críticos do Novo Testamento e

sugerir que os discípulos não criam na ressurreição. Ao menos eles criam

nela e, portanto, não faz sentido a hipótese de que roubaram o corpo

(escondendo-o muito bem, diga-se de passagem!), mentiram a respeito

das visões e saíram dispostos a proclamar uma deliberada mentira pela

qual todos estavam morrendo. Provavelmente podemos afirmar que

muitas pessoas já morreram e ainda morrem por mentiras que acreditam

ser falsas. Mas ninguém se entrega ao martírio por uma mentira que ele

sabe ser de fato mentira.

Pense nisso – se alguém estivesse prestes a crucificá-lo de cabeça para

baixo, como aconteceu com o apóstolo Pedro, e tudo o que você tivesse

que fazer para salvar a sua vida fosse renunciar uma mentira que você

tinha vivido conscientemente, o que você faria?122

Além disso, para que inventar uma história tão constrangedora para os

judeus como a das mulheres testemunhando a ressurreição? Se fossem

para mentir, provavelmente não inventariam este fato desnecessário. Lee

Strobel diz que “era óbvio que os discípulos não tinham nenhum motivo

para rouba o corpo e depois morrer por uma mentira, e certamente as

121

Ibidem 271. 122

Disponível no link: http://www.gotquestions.org/Portugues/Jesus-mito.html

Page 43: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

autoridades judaicas não teriam removido o corpo” (pois era lá mesmo,

no sepulcro, que tais autoridades desejavam que o corpo permanecesse).

Craig chama isso tudo de “milagre psicológico” no sentido de que só um

milagre teria levado “homens e mulheres perfeitamente normais a se

tornarem conspiradores e mentirosos dispostos a serem martirizados por

suas mentiras”123.

II. Hipótese da morte aparente – Jesus não morrera de fato, mas

“foi reanimado no sepulcro e escapou de lá para convencer

seus discípulos que havia ressuscitado”124.

Como explicar o sepulcro vazio, uma vez que um homem trancado

dentro de um sepulcro não poderia mover a pedra da entrada para

escapar? Como explicar as aparições de Jesus após a morte, uma vez

que a aparição de um homem meio morto, necessitando

desesperadamente de atendimento médico, dificilmente iria induzir os

discípulos a concluírem que ele era o Senhor ressurreto que havia

derrotado a morte? Como explicar as origens da crença dos discípulos

na ressurreição de Jesus, uma vez que o fato de vê-lo novamente

apenas os levaria a concluir meramente que ele não havia morrido?125

Além deste ponto definitivos para o argumento, não posso deixar de

recomendar a leitura do fascinante capítulo 11 do já citado livro “Em

defesa de Cristo”. Neste capítulo, Lee Strobel entrevista o Dr. Alexander

Metherell, médico pela Universidade de Miami e “reconhecido

123

Craig, 2011, p. 289. 124

Ibidem., p. 278. 125

Ibidem., p. 279.

diagnosticador pelo American Board of Radiology”, além de pesquisador,

professor e editor de vários livros científicos. Metherell descreve de

maneira detalhada a horrenda tortura pela qual Jesus Cristo passou, antes

e depois da cruz. Alguém que ler aquele relato assombroso e ainda

persistir em objetar a morte de Cristo não pode de maneira alguma

afirmar uma busca pessoal sincera e responsável pela verdade!

III. Hipótese da remoção do corpo – José de Arimatéia teria

colocado temporariamente o corpo de Jesus naquele primeiro

sepulcro, mas o removera. Sem que soubessem do fato, os

discípulos encontraram o sepulcro vazio e deduziram que seu

mestre havia ressurgido dos mortos.

Por que ninguém corrigiu os discípulos que saíram bagunçando a ordem

pública com as histórias de um homem que ressuscitara corporalmente?

Por que José de Arimatéia não avisou que Jesus estava em outro túmulo?

Se isto acontecesse não teriam ocorrido as primeiras divergências entre

os judeus sobre o túmulo vazio. O interessante é que nunca houvera

qualquer disputa sobre a localização do túmulo. Ademais a lei judaica

nem ao menos permitia que corpos fossem removidos, a não ser para o

colocarem no da família126.

IV. Hipótese da alucinação – as aparições de Jesus foram meras

alucinações. P 282 287

Os discípulos tiveram alucinações? Ok! Mas e o túmulo vazio? E a

explicação histórica para o surgimento da fé dos primeiros cristãos na

126

Ibidem., p. 280-282.

Page 44: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

ressurreição? A hipótese fica ainda mais frágil no contexto judaico. Como

observa N. T. Wright, “para alguém que vivesse no mundo antigo, visões

dos mortos não eram evidência de que a pessoa estivesse viva, mas sim

de que estava morta!”127.

Dadas as crenças então comuns sobre a vida após a morte, os

discípulos, se tivessem tido alucinações de Jesus, possivelmente o

teriam visto no céu, no seio de Abrão [...]. E uma visão como essa não

teria levado ninguém a crer que Jesus havia ressuscitado.128

Vale lembrar que a ressurreição corporal não tinha precedentes

do imaginário do judeu até o primeiro século. Era inimaginável

(literalmente) uma ressurreição corpórea antes da ressurreição dos

últimos dias, quando todos, então, seriam julgados.

Além disso, convidaria qualquer psicólogo a explicar alucinações na

proporção das descritas em 1Coríntios 15.3-8 e mencionados por todos os

evangelhos e livro de Atos. Garry Collins é mestre em psicologia pela

Universidade de Toronto e doutor em psicologia clínica pela Purdue

University, “há 35 anos Collins estuda, leciona e escreve sobre o

comportamento humano”129. Este especialista responderia assim ao meu

convite:

Alucinações são ocorrência individuais. Pela própria natureza, apenas

uma pessoa pode ver uma alucinação em dado momento. Alucinações

não são algo que possa ser visto por um grupo de pessoas. Também

127

Ibidem., p. 282. 128

Ibidem., p. 283. 129

Strobel, 2001, p. 193.

não é possível que alguém induza outra pessoa a ter uma alucinação. E

como uma alucinação só existe no sentido subjetivo, pessoal, é obvio

que outros não podem testemunhá-la130

V. Hipótese da ressurreição p 287 290

A plausibilidade da ressurreição de Jesus cresce exponencialmente uma

vez que a consideramos em seu contexto histórico, a saber, a vida sem

comparação de Jesus e suas afirmações radicais, e em seu contexto

filosófico, a saber, a evidência em favor da existência de Deus.131

Unindo as pontas do que já fora dito, podemos resumir o argumento.

Existem três fatos históricos consolidados (a saber, o túmulo vazio, o

relato das aparições de Jesus e o surgimento repentino da fé dos

discípulos e, consequentemente do cristianismo) para os quais é

necessária uma explicação histórica.

O primeiro fato é o túmulo vazio. A história ganha credibilidade por estar

registrada em fontes muitíssimo antigas, contendo nomes específicos de

pessoas que podiam ser consultadas à época, como o dono do sepulcro,

Jose de Arimatéia. O relato das mulheres se torna intrigante na sociedade

patriarcal judaica e só faria sentido se, de fato, tivesse ocorrido. Os

primeiros cristãos, obviamente, se sentiram muito felizes em poder

apontar o túmulo vazio como parte de suas pregações. A crucificação e

sepultamento público de Jesus Cristo não dão certeza de conhecimento

generalizado da população e autoridades acerca da localização do túmulo.

130

Ibidem., p. 315. 131

Craig, 2011, p. 287-288.

Page 45: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

Ademais, parece definitivo o fato de jamais houve qualquer discussão que

não partisse do pressuposto de que o túmulo estava inegavelmente vazio!

É por tantas evidências positivas que sir Norman Anderson, professor em

Princeton, convidado para lecionar em Harvard e servir como deão na

faculdade de Direito da Universidade de Londres, “depois de uma vida

inteira de estudos desse assunto do ponto de vista legal”, resumiu sua

conclusão “numa só frase”:

O túmulo vazio é uma verdadeira rocha contra a qual se despedaçam

em vão todas as teorias racionalistas da ressurreição132

Em segundo lugar temos os inúmeros relatos de inúmeras pessoas que

testemunharam aparições físicas de Jesus Cristo. São essas aparições as

responsáveis pela plena, repentina e impetuosa mudança na vida de

milhares de pessoas e, inicialmente, na daqueles que testemunharam ter

visto o Mestre ressurreto.

Mesmo os historiadores mais céticos concordam que, para os primeiros

cristãos [...] a ressurreição de Jesus foi um evento real na história, a

própria base da fé, e não uma idéia mítica que brotou da imaginação

criativa dos crentes133

Em terceiro e último, portanto, está o início da convicção dos discípulos

na ressurreição, a ponto de entregarem suas vidas por esse evento que

acreditavam ser real. Esse ponto é mais bem entendido se entendemos a

estrutura sociocultural tão fundamental para os judeus e que, de uma

132

Strobel, 2001, p. 295. 133

Ibidem., p. 316.

hora para outra, fora rompida. Posteriormente o cristianismo se solidifica.

Mas esse crescimento e solidez tem uma base: a fé dos primeiros cristãos

de que Cristo de fato havia ressuscitado.

O que se requer é uma explicação abrangente para estes três fatos.

Nenhuma das apresentadas até aqui se sai bem. A situação ainda piora

quando estas hipóteses são comparadas com a primeira explicação

histórica. Se o túmulo estava vazio, se mulheres e homens disseram ter

visto a Cristo e passaram a entregar suas vidas por essa convicção, a

melhor resposta é, de longe, que Cristo cumpriu as profecias antigas e se

mostrou o Messias prometido, confirmando sua vitória com o triunfo

sobre a morte!

Nenhuma lenda, conspiração, ou equívoco prolongado passa pelo

escrutínio. Não há explicação mais abrangente e simples para estes três

fatos. É necessário um malabarismo imenso e a inserção de várias outras

variáveis para que se proponha uma alternativa para a ressurreição.

Porém, ressalto que o que deve levar muitos ao desconforto é o fato

dessa explicação histórica ser, também, sobrenatural.

De fato as explicações históricas costumam ser naturalistas. Mas frente

aos argumentos já apresentados para a existência de Deus, pergunto: se

Deus existe, haveria alguma incoerência em milagres acontecerem? A

História deve se guiar para onde apontam as evidências, mesmo que a

contragosto.

Page 46: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

Na medida em que a existência de Deus é possível, também é possível

que ele tenha agido na história, levantando Jesus dos mortos.134

Ao fim desse rápido estudo histórico, não é de se estranhar que homens

que simplesmente submetem os fatos ao rigoroso estudo da História

tenha chegado à mesma conclusão que, para muitos, é inconcebível. O

“advogado mais-bem sucedido do mundo” segundo o Guinness, não

hesita em dizer

de modo inequívoco que as provas da ressurreição de Jesus Cristo são

tão avassaladoras que exigem que as aceitemos sem deixar

absolutamente nenhum lugar para dúvidas135

Agora sim podemos mergulhar um pouco no cristianismo. Mas com tanta

gente chamando tanta coisa de cristianismo, acho melhor pensarmos

primeiramente no que ele não é.

134

Ibidem., p. 294. 135

Ibidem., p. 335

VII. O ASSIM CHAMADO “CRISTIANISMO”

A maioria das pessoas que não se identifica com o cristianismo bíblico, ou

quaisquer religiões “evangélicas”, e veem a coisa de fora estão até certo

ponto justificadas de acharem que o cristianismo é aquilo que lhes é

apresentado como cristianismo. E o que lhes é apresentado? “Pastores”

pops, que causariam inveja a qualquer ídolo do país, carros importados,

mansões, helicópteros, jatinhos... Suas igrejas são basicamente isso

mesmo: suas! Sim, porque as igrejas que estes homens dirigem são parte

de suas posses, de seu divertimento e estão mais plenamente

identificadas com os próprios “pastores” maiorais, do que com aquele

que a Bíblia chama de noivo da Igreja (Jesus Cristo).

O que se vê nestes locais é uma total inversão do que a Bíblia chama de

evangelho. Objetivos distorcidos, motivações egoístas e idólatras expostas

escancaradamente. O que se vê nos jornais, televisão e internet às vezes

não condiz com a realidade. Mas infelizmente o que predomina é aquilo

mesmo. Promessas incabíveis feitas em nome de um Deus que não as

prometeu, criadas a partir de trecho descontextualizado do Livro que

simplesmente lhes é fonte de lucro. “Tragam os dízimos para a casa do

Senhor” eles dizem. Conquiste sua vitória com um sacrifício diferenciado.

Junte-se às doze ofertas mais nobres dessa noite e receba uma unção

dobrada. É preciso deixar claro que a crítica não se aplica à maioria dos

adeptos dessas “igrejas” e seguidores desses “pastores”. Não há dúvida

de que existem muitas pessoas sinceras nestes lugares. Mas é dessa

característica mesmo que muitos desses “bispos”, “pastores” e

“apóstolos” se aproveitam. Assim, estes homens (e mulheres) sem muita

Page 47: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

dificuldade enriquecem suas contas bancárias. Mais facilmente ainda,

envergonham o cristianismo verdadeiro!

Grande parte daquilo que tem sido apelidado de cristianismo nos dias de

hoje atenderia muitíssimo bem pelo seu nome de batismo:

evangelicalismo neo-pentecostal. Se pudesse traçar, sem muita obrigação

de ser preciso, um pequeno histórico dessa bagunça toda, diria que o

problema na verdade começou lá fora. Dos Estados Unidos da América

saíram muitos animadores de palco que colocavam um terno no domingo

à noite, liam alguns trechos da Bíblia (quando o faziam), inventavam uma

história, davam uns gritos e o show começava... Coisas como a “unção do

riso” (também conhecida por “unção de Toronto” ou ainda “unção do

aeroporto” -por ter se iniciado em um aeroporto da cidade canadense) e

a “nova unção” de um famoso Benny Himm (que lascava seu terno em

homens que iam se amontoando no chão um em cima do outro) saíram

de lá. Aos poucos esse misticismo entrou no nosso país. Um pouco depois,

os púlpitos passaram a se transformaram em centrais de auto-ajuda e os

pastores, em palestrantes motivacionais. As livrarias cristãs estavam (e

estão ainda hoje) abarrotadas de coisas como “5 maneiras de alcançar o

sucesso”, “10 maneiras para ser feliz”, “conquistando a vitória financeira”.

Esses livros venderam, os apelos prometendo prosperidade, emprego e

promoções geraram dízimos e ofertas. Mais uma vez essa “onda” norte-

americana adentrou nossas terras.

No Brasil a história do neopentecostalismo é mais ou menos assim:

Influenciados por toda essa nova onda “evangélica” banhada de

misticismo e sincretismo religioso, certos “bispos” e “missionários”

criaram suas próprias igrejas. Aos poucos estas duas grandes

denominações cresceram assombrosamente, se popularizando em todo o

país. Tempos depois alguém bem mais carismático apareceu com um

chapéu de vaqueiro arrebatando outras multidões e começando uma

guerra declarada contra um daqueles homens, sua igreja e rede de

televisão. Outros líderes cheios de “poder” surgiram de Norte a Sul pelo

Brasil, cada um com uma peculiaridade necessária para se firmar no

mundo “gospel”. Alguns se denominaram “apóstolos”, outros foram

além...

Essas novas igrejas estão sintonizadas em torno de algumas semelhanças.

Poderíamos citar a confissão positiva, que ensina que o crente pode

conquistar tudo aquilo que proferir com a boca, tendo fé. Possessão por

demônios é outra ênfase relevante desse movimento. A tão aclamada

teologia da prosperidade é praticamente a única “teologia” que baliza

essas denominações. Como se o objetivo do crente fosse ser rico e possuir

todas as “bênçãos” materiais que ele puder, os adeptos são incitados ao

egoísmo e idolatria, sentimentos e práticas totalmente estranhos ao

cristianismo bíblico. O fato de estes homens terem programas específicos

em canais de televisão específicos já nos demarca uma característica

marcante, talvez o traço mais significativo dessas “igrejas”, o alcance! O

marketing pessoal e a grande facilidade em se atingir o público brasileiro

por meio de um dos maiores meios de comunicação de nosso tempo

elevam os fundadores e líderes máximos dessas igrejas a uma posição de

autoridade inimaginável. Debaixo desta autoridade há liberdade para

vender sonhos a humildes e desiludidos “clientes”. Sonhos infundados

que mais cedo ou mais tarde tendem a desmoronar.

Page 48: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

As “novas igrejas”, porém, não estão sozinhas. Na verdade, a influência

destas é tão grande que é possível, não raramente, encontrar igrejas mais

antigas e tradicionalmente ortodoxas atingidas pelos ideais já citados e

perdendo aos poucos sua identidade cristã. Mas qual é o real problema

aqui?

O problema é que essas pessoas são as que recebem o título “cristãs” (ou,

mais comumente, “evangélicas”) no nosso país. O que muitos desavisados

conhecem sobre “cristianismo” é expresso nas falas, práticas e escândalos

que, obviamente, recebem toda atenção da mídia nacional. Muitos

sequer sabem que cristãos ao longo de todo o país sentem a mesma

indignação! Todavia nem sempre é assim. Infelizmente, o problema ainda

não termina aqui.

Os grandes pensadores dizem que o primeiro passo na solução

de problemas ligados a determinado tema é definir os termos

principais da discussão. [...] Muitos pressupostos cristãos básicos

têm sido ignorados e combatidos dentro das próprias igrejas

evangélicas. Um desses pressupostos consiste no conceito

correto de vida cristã. De fato, se fosse solicitado que os pastores

e crentes comuns de hoje definissem a expressão “vida cristã”,

certamente seriam colhidas respostas que incluiriam no conceito

desde as práticas mais toscas de superstição até os mais

elaborados sistemas legalistas.136

136

Granconato, 2011, p 43-45.

Muitas vezes, os próprios cristãos são responsáveis por ingenuamente

passarem a impressão errada sobre o que o cristianismo verdadeiramente

é. Tenho para mim que frequentemente os próprios cristãos entendem o

cristianismo de maneira equivocada (este que vos escreve é exemplo vivo

disto) e isso gera uma transmissão errada acerca dos ensinos de Jesus e

dos apóstolos. Os exemplos se multiplicam quase que sem fim, mas

acredito que poderia fazer uma lista com alguns enganos recorrentes,

aparentemente sutis, mas muito nocivos. Eis a lista:

1. Ir à igreja – evangélicos costumam achar que o nome “cristão” é

automaticamente outorgado a quem cultiva o hábito de

frequentar uma igreja. Essa visão distorcida repassa a impressão

de que cristãos são, de alguma forma, melhores por causa deste

hábito.

2. Legalismo e ritualismo – desde o primeiro século havia aqueles

que consideravam a observância de certas datas, festas e rituais

como essenciais para a elevação do espírito a um nível superior

ou, até mesmo, para a conquista da salvação. Essa marca é

comumente adotada por vários evangélicos e transmitida de

forma a expor o cristianismo como mais uma dentre as inúmeras

religiões ritualísticas.

3. Ingenuidade – eu mesmo sou prova de como é comum para um

membro de igreja evangélica ostentar a abstinência de certas

práticas como se realmente houvesse uma regra bíblica para, por

exemplo, não assistir televisão, não comemorar o Natal, não

realizar aniversários. Esses pensamentos não só dão a impressão

de um povo ingênuo para os não cristãos. São, de fato, expressão

de ingenuidade em relação à verdadeira religião cristã.

Page 49: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

4. Superstições – não, um cristão não é aquele que compra óleo

ungido, sabonete ungido, lenços abençoadores... um cristão não

se define por colocar um copo d’água em cima de sua televisão e

realizar irreflexivamente tudo aquilo que o “homem de Deus” fala

pela TV. Mas eu sei que é esta a impressão que o

neopentecostalismo passa.

5. Superioridade moral – infelizmente uma das maiores dificuldades

para um não cristão que se acha cristão (mas até mesmo para

muitos cristãos) é entender a doutrina do homem e ser humilde

em relação a ela. O que quero dizer é que muito constantemente

evangélicos do mundo todo se deixam seduzir pelo engano de

que um cristão é moralmente superior em relação a adeptos de

quaisquer outras religiões, além de ateus, agnósticos... Essa seja

talvez a ideia que mais causa repulsa em relação ao

“cristianismo”. Tranquilamente estou pronto para conceder

absoluta justificativa para esta repulsa...

6. Separatistas – outra ideia infundada presente nas igrejas

evangélicas desde que me recordo, é a do separatismo, ou seja, o

pensamento de que os cristãos devem viver isolados em grupos

homogêneos e procurar manter somente o contato necessário

com os “diferentes”. Não é de se estranhar que haja uma

distância que impede qualquer tipo de diálogo e, portanto, de

entendimento sobre o que seja a verdadeira fé cristã.

7. Sofrimento autoimposto – outra maneira de se considerar melhor

que os demais é se considerar o maior sofredor do mundo e achar

que, por causa disso, há algo de especial em si. Outra maneira de

se buscar o favor de Deus, ou, melhor dizendo, barganhar esse

favor, é cometendo autoflagelo, autopenitência. Por mais que isso

soe com timbres da Idade Média, é bem comum versões do

sofrimento autoimposto no meio dos evangélicos do Brasil. O pior

é que eles não veem problema em ostentar a crença de que isso

faz parte da mensagem bíblica e comunicar isso aos demais.

8. Triunfalismo e prosperidade – sinônimos de neopentecostalismo

mais uma vez. A idéia hoje é de que cristão que é cristão só vence

na vida, tem os melhores cargos na empresa, não fica doente e,

acima de tudo, é rico! Às vezes esse adjetivo é maquiado e se

torna algo como “estabilidade financeira” ou “vitória financeira”.

Este ponto na verdade acaba por atrair muitas pessoas para as

denominações contemporâneas que atendem o freguês segundo

seus gostos. Mas estaríamos corretos em chamar isto de

cristianismo?

9. “Experiencialismo”, sentimentalismo – me permiti o neologismo

por não ter encontrado outra palavra que descrevesse melhor o

que se vê em denominações tradicionais hoje em dia. A busca por

experiências sobrenaturais e pelo ápice dos sentimentos passou a

ser o foco em muitas igrejas.

Muitos cristãos acham essas coisas verdadeiras. Muitos não cristãos

acham que essas coisas representam a verdade do cristianismo. Não

obstante, tudo isso sempre esteve imensamente longe do cristianismo

original. Felizmente os cristãos acreditam em bases absolutas. Sua maior

base e única regra de fé é a Bíblia Sagrada contendo as Escrituras antigas

citadas pelo próprio Jesus e o Novo Testamento, nos quais encontramos

os relatos da vinda, vida, ensinos e obra de Jesus, além da proclamação

inicial sobre o significado do Evangelho. Assim, qualquer definição ou

Page 50: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

entendimento do cristianismo se dá com uma visão histórica,

hermenêutica137 e unitária138 precisa da Bíblia. O que é, então, o

verdadeiro cristianismo bíblico?

137

Interpretação de texto, no caso, do texto Bíblico. 138

Usei o termo, que não é comumente usado, para me referir a uma visão homogênea das Escrituras. Os teólogos entendem que se a Bíblia é a Palavra de Deus, deve, então, interpretar a si própria. Então, os pressupostos para interpretação e entendimento bíblico estão nas próprias páginas da Bíblia.

VIII. O CRISTIANISMO BÍBLICO

Considerando que observamos rapidamente algumas abordagens ditas

completamente infiéis do cristianismo, o que a Bíblia verdadeiramente diz

sobre a fé cristã? Separado o joio do trigo, finalmente podemos imergir

nas páginas das Escrituras e buscar essa resposta. Vamos lá?

O cristianismo sempre começará e terminará com o Ser supremo, todo-

poderoso, todo amor, bondade, justiça e santidade que sempre existiu e

que nunca deixará de existir. A Bíblia não explica e nem questiona Deus.

Ela o pressupõe. Por isso o primeiro verso do primeiro livro das Escrituras

hebraicas nos diz: “No princípio Deus criou os céus e a terra” (Gênesis 1.1

- NVI).

Tudo que existe “fora de Deus” faz parte daquilo que a teologia cristã

chama de “criação”. A criação parte do desejo e da ação poderosa de

Deus e, por isso mesmo, reflete parte da própria natureza de Deus. Este é

o princípio para entendermos a revelação divina.

Na teologia cristã, YHWH (nome de Deus no hebraico, traduzido para

Jeová) se revela ao homem, a coroa de sua criação, basicamente de

quatro formas. A primeira é a própria criação, a natureza. No Salmo 19,

Davi, um dos reis da nação de Israel, escreve:

Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das

suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra

sabedoria a outra noite. Não há linguagem nem fala onde não se ouça a

sua voz. – Salmo 19.1-3

Page 51: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

No Novo Testamento, Paulo realça o fato de que a criação aponta para

um supremo, sábio e poderoso criador. No primeiro capítulo de sua carta

à igreja em Roma, Paulo escreve:

Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque

Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação

do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se

entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para

que eles fiquem inescusáveis (indesculpáveis). – Romanos 1.19-20

Não é de se estranhar que quaisquer homens vejam na beleza da criação,

a beleza do Deus que trouxe tudo à existência. Como já fora citado, Kant

certa vez disse que: “Duas coisas enchem a mente de [...] assombro e

reverência [...]: o céu estrelado sobre mim e a lei moral dentro de

mim”139.

Além disso, Deus se revela na própria consciência do homem com sua lei

moral. É daqui que os cristãos retiram seu entendimento sobre o mundo

moral objetivo à nossa volta. Ainda Paulo, escrevendo aos romanos, no

capítulo 2, nos diz:

Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as

coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; os

quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando

juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-

os, quer defendendo-os – Romanos 2.14-15

139

Crítica da razão prática, in: Stephen Law, Guia ilustrado Zahar: Filosofia. Citado em Granconato, 2011, p. 27.

A terceira maneira de Deus se revelar é por meio de Sua Palavra. Esta foi a

forma mais pura e importante da revelação de Deus no Antigo

Testamento. Por meio de Sua Palavra, o universo veio a existir. Por meio

de Sua Palavra os homens profetizaram o que haveria de acontecer

séculos depois. Jesus acreditava no Novo Testamento como já dissemos, e

deixou o Espírito Santo, quando ascendeu aos céus, a fim de consolar a

humanidade e inspirar homens a relatarem sua vinda, vida, obra e

ressurreição. É disso que a Bíblia trata. E a própria Bíblia reivindica

autoridade. Paulo escrevendo uma segunda carta a seu amigo, o jovem

pastor Timóteo, escreve no capítulo 3:

E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem

fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a

Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para

redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de

Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra. – 2

Timóteo 3.15-17

Por fim, a maior e mais perfeita revelação de Deus está em Jesus Cristo,

Seu Filho. O desconhecido escritor aos Hebreus (talvez Paulo) inicia sua

carta falando sobre Jesus:

Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras,

aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho,

a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo. O

qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua

pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder,

havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados,

assentou-se à destra da majestade nas alturas – Hebreus 1.1-3

Page 52: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

A vontade, beleza, glória, poder, santidade, justiça, amor e graça de Deus,

estão perfeitamente expressos na pessoa de Jesus Cristo, que viveu uma

vida perfeita como homem, sendo Ele Deus também.

Se Deus se fez entendido, ele o faz por meio destas revelações. Mas é

principalmente por intermédio das duas últimas que o cristianismo se faz

entendido. É olhando para a vida, obra e ensinos de Jesus, e todas as

doutrinas aliadas às profecias do Antigo Testamento que destas coisas

decorrem, que nos dirão com certeza o que genuinamente o cristianismo

é. Se o cristianismo é verdadeiro, então ele provavelmente tem várias

respostas às várias indagações que foram pensadas durante este artigo.

O CRISTIANISMO TEM AS RESPOSTAS!

Primeiramente, poderíamos dizer em oposição ao absurdo da vida sem

Deus, que fora visto anteriormente, que o cristianismo mostra o sentido,

valor e propósito da vida.

1. O cristianismo mostra o sentido da vida.

O sentido, ou significado da vida, como William Craig nos diz, tem relação

com a importância de algo, o porquê algo importa140. Em uma vida sem

Deus, a qual veio à existência pelo acaso e o acaso a guia para a inerente e

inescapável destruição, não há qualquer sentido objetivo para a vida. Mas

se Deus existe e trouxe todas as coisas à existência como expressão de

Seu amor, bondade e glória, é nisto que encontramos o significado da

vida. O homem não pode ter um sentido objetivo próprio que não o de

140

Craig, 2011, p. 32. Esta é uma nota de página do autor.

ter sido feito à imagem e semelhança de Deus, como coroa da criação,

para plena comunhão com seu Criador. Ora, por que vida importa? A vida

não pode ter importância intrínseca que não pelo motivo de ter sido dada

como dádiva por Deus! As coisas importam porque dEle provêm! Em Deus

encontramos o sentido objetivo para tudo!

2. O cristianismo mostra os valores da vida.

Como Romanos 2.14-15 já nos mostrou, os valores morais estão incutidos

na consciência do homem. Estes valores morais não são arbitrários. Antes,

são expressão do próprio caráter de Deus. Se olharmos para a vida de

Jesus Cristo, veremos esse caráter, essa moralidade no seu grau máximo e

único de perfeição e pureza. Se isso é verdade, então, por mais que

sociedades “conseguiram emudecer a voz da consciência que as

proclamava dentro de si”141, essas coisas continuam expressando o que é

bom, por provirem da própria natureza de Deus.

3. O cristianismo mostra o propósito da vida

Se algo foi criado, espera-se que tenha um propósito, não é mesmo? É

logicamente errado dizer que algo que veio do acaso possa ter qualquer

propósito que não seja subjetivo. Se virmos um inventor na frente de sua

mais nova engenhoca criada, logo perguntaremos “para que isso serve?”,

não é mesmo? “Criação implica propósito”142!

141

Granconato, 2011, p. 26. 142

Ibidem., p. 27.

Page 53: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

E se o cristianismo é verdadeiro, qual então seria o propósito da criação e

o propósito da existência da raça humana? Romanos 11.36 deixa isso

claro como a água:

Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele

eternamente. Amém.

Deus sempre fora auto-suficiente! Ele lhe era suficiente. Ele era suficiente

em si mesmo. Qualquer alternativa a isto, como as recorrentes tentativas

de explicar a criação como uma necessidade de Deus, não encontram

respaldo no cristianismo bíblico. A criação, antes, é, como já dito, uma

expressão da glória inerente ao Deus eterno. Deus cria o mundo com

amor, no intuito de comunicar amor e isso inerentemente lhe traz glória

(é só pensarmos na nos primeiros versos de Gênesis quando dada a

finalização de um ato de criação, Deus expressava sua reação com tudo

aquilo que provinha dEle mesmo, dizendo que aquilo era “bom”). Não

pode ser diferente! Se Deus é bom e faz algo, esse algo é bom! Portanto,

todas as coisas, por terem sido trazidas à existência por um Deus bom,

são, portanto, boas e expressam a glória de Deus e lhe rendem glória.

E o homem? O homem assim como toda a criação, fora feito para a glória

de Deus. E aqui surge um grande problema com a mentalidade de todo e

qualquer homem.

O PROPÓSITO DE DEUS DE SER GLORIFICADO É EGOÍSTA E EGÓLATRA?

Ora, se somos presos à uma vida de adoração e glórias dadas a Deus,

logo, somos escravos desse Deus que mais parece Narciso do que Cristo

(colocar uma referencia a Mt 10.37 talvez). Se Deus requer nossa

adoração dessa maneira, não seria ele um ególatra e nós meros

instrumentos que lhe deveriam render adoração dia-a-dia a favor ou

contra nossa vontade própria?

Este é realmente um problema muito comumente encontrado, mas que

não se sustenta. John Piper, pastor americano batista, talvez seja um dos

homens que mais tenha tentado explicar isso atualmente. Como pode

haver amor na atitude de Deus de fazer o homem para Sua glória própria?

Como pode não haver egoísmo e egolatria em criar o homem “para ele”

(Rm 11.36)? Bem, precisamos entender isso com calma...

Lembremos, como nos diz Romanos 11.36, que a criação é feita por Deus

e para a glória de Deus. Mas Deus é amor, como nos diz João em sua

primeira epístola universal (capítulo 4) e assim necessariamente criou o

mundo com amor. A Bíblia fala do amor de Deus à sua criação, mas fala

de maneira sublime do amor de Deus ao homem! Quando Deus criou o

homem não simplesmente disse que toda sua criação era boa. Agora,

tendo finalizado Sua obra-prima, Deus disse que tudo aquilo era muito

bom143.

Vemos o propósito de Deus para o homem claramente antes do pecado,

no Jardim do Éden. Concluímos que Deus criou o homem com o propósito

de amá-lo e de ser por ele glorificado, além de ter íntima e plena

comunhão com este, provendo-lhe completa e perfeita satisfação. Ora, se

este era o propósito de Deus para vida do homem, então o homem só

será completo se estiver preso a este propósito. Somente assim ele será

143

Gênesis, capítulo 1, verso 31.

Page 54: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

pleno, estará satisfeito e poderá, como Adão, desfrutar do Algo mais

valioso que pode existir, satisfazendo-se e deleitando-se Nisto: Deus!

O catecismo de Westminster manifesta essa verdade de maneira simples

e bela, quando, em sua primeira pergunta, “Qual é o fim supremo e

principal do homem?”, promove a resposta:

“O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e desfrutá-lo

para sempre”. (Conferir 1Co 10.31; Salmos 73.24-26; João 1.22-24)

Se essa é a verdade, então pensar em completude, plenitude, satisfação e

alegria longe de Deus, longe de Sua comunhão, longe de uma vida de

louvor e glória a este Deus, é, além de loucura, algo logicamente

impossível! Se Deus quer o homem junto a si em comunhão consigo é,

portanto, também, uma imensa demonstração de amor e preocupação

com nossas vidas, já que longe dEle não encontraremos qualquer alegria e

satisfação plena e verdadeira. Cada dia longe da presença de Deus é

verdadeiramente um pedaço de nossa história amassado e jogado na

lixeira. Subjetivamente podemos ter percepções e momentos de alegria.

Mas biblicamente alegria nunca estará em oposição ao sofrimento e à

dor. Alegria é algo presente mesmo nos momentos mais difíceis, pois está

associada à plena e constante satisfação que há em viver segundo o

propósito para o qual fomos criados. Temos a liberdade de viver longe de

Deus, porém, como o pastor John Piper bem diz, uma vida longe de Deus

será, “uma vida desperdiçada”144. Podemos ter a impressão de que

144

Título de um dos vídeos que mais marcaram minha vida (me dei o direito de perder a formalidade e a impessoalidade aqui) do pastor John Piper. Disponível no link: http://www.youtube.com/watch?v=j_errBKO-I0

estamos fazendo algo realmente bom, satisfatório, desfrutando de real e

permanente alegria, contudo, isto não condiz com a verdade bíblica. E se

Deus existe, Cristo existiu, morreu e ressuscitou, podemos dar total

crédito a esta convicção. Piper resume tudo isso no slogan de seu

ministério: “Deus é mais glorificado em você, quando você está

plenamente satisfeito nEle”!

Portanto, o sentido, valor e propósito objetivo da vida estão

fundamentados no próprio Deus! A vida importa porque nos é dada pelo

próprio Deus, Ser totalmente perfeito em bondade, amor e misericórdia.

Este é seu sentido! Os valores e deveres inerentes ao homem (ainda que

obscurecidos muitas vezes) refletem o próprio caráter de Deus e

encontram sua expressão plena em Jesus Cristo! Por fim, o propósito de

nossas vidas é viver para a glória de Deus, dEle desfrutar e, assim (e só

assim) vivermos plenamente satisfeitos e completos (nEle!).

O CRISTIANISMO NÃO É NADA DAQUILO!

Tendo a Bíblia em mãos, poderíamos facilmente nos opor a todos aqueles

pontos levantados na seção sobre o que o cristianismo não é. Permitam-

me apenas tangenciar alguns deles.

1. Cristianismo não é triunfalismo e prosperidade!

Isto toca no assunto “neopentecostalismo” de uma só vez. Hebreus 13.5 e

Mateus 6.33 já nos dão algum sentido do que o Novo Testamento diz

sobre colocar as prioridades no lugar correto. E riqueza e bens materiais

estão longe de ser prioridade para um cristão.

Page 55: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

2. Cristianismo não é ir à igreja!

Se fosse seria fácil não? Mas o cristianismo bíblico está ligado a um

coração dependente de Deus, cheio de fé e que consequentemente

expressa essa fé publicamente em cultos com os irmãos. Antes de ser

causa do cristianismo, ou qualquer coisa do tipo, as reuniões públicas na

igrejas deveriam ser a expressão, manifestação da adoração pública a

Deus.

3. Cristianismo não é superioridade moral!

O cristianismo nunca foi, não é e nunca será uma religião moralmente

superior. O cristianismo sequer prega superioridade moral. O interessante

é que o cristianismo nos dá base, na verdade, para dizer o contrário, que

todos somos maus! Este ponto será melhor explicado em breve. Um

cristão genuíno considera os seus semelhantes superiores a si mesmo e

sabe da sua depravação moral intrínseca.

4. Cristianismo não é legalismo e ritualismo!

O cristianismo não supõe que o homem possa barganhar sua salvação, ou

alcançá-la mediante boas condutas ou práticas religiosas repetitivas,

supersticiosas e ritualísticas. A salvação no cristianismo é única em

relação a todo e qualquer tipo de religião.

O CRISTIANISMO NÃO É NADA SEM CRISTO!

Há documentos antigos que dizem justamente o que nos parece óbvio: os

cristãos tiraram seu nome daquele que era chamado “o Cristo”. O termo

“CRISTO” vem da palavra grega Khristós que significa “ungido”. Está

relacionado com o termo hebraico que é transliterado para o português

como “messias”. Esses termos tem relação com “o ungido” de Deus que

era prometido desde o Pentateuco para Salvar o povo dos seus pecados.

Aqueles que creem que Jesus é o messias creem que ele é o Rei de Israel

que cumpriu todas as profecias e propiciou salvação para pecadores com

sua morte e ressurreição.

O ponto aqui é que não existe cristianismo sem Jesus! O mais comum nas

igrejas evangélicas de hoje é pregar auto-ajuda e motivação à parte de

Cristo. Cristo é a essência do cristianismo! E o que diferencia o

cristianismo de qualquer religião, até mesmo das outras monoteístas. Por

quê? Porque o cristianismo é a única religião onde a salvação não é

conquistada pelo homem. O cristianismo é a única religião que não se

utiliza de regras e rituais para a elevação espiritual do homem. Se é

necessário dor, sofrimento e méritos para a salvação, no cristianismo

quem faz tudo isso é o próprio Jesus Cristo! Isto ficará ainda mais claro

quando falarmos sobre o evangelho em breve. Mas essa breve

observação já amplia o entendimento dos dois últimos pontos do tópico

anterior.

O cristianismo na verdade não diz que há boas e más pessoas. Antes, diz

que todos os homens são maus e não conseguem de forma alguma atingir

o nível de santidade de Deus. Os homens por seus próprios esforços não

conseguem se salvar, por mais que tentem, por quaisquer rituais,

celebrações, autoflagelo, etc. Então, Cristo se doa... Em nosso lugar! Por

nós!

Page 56: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

IX. O EVANGELHO

O nome mais comum dado para o grupo que teoricamente se identifica

com o cristianismo bíblico é “evangélico”. Esse termo deriva da

mensagem central do cristianismo e de toda a Bíblia, o Evangelho. Jesus

Cristo mandou seus discípulos irem por todo mundo e pregarem o

evangelho. A pregação de Paulo sempre se baseou no evangelho. Por

meio do evangelho está ordenado que os homens sejam salvos. Portanto,

obviamente deveríamos perguntar: o que é o evangelho?

Evangelho, no original grego, significa “boas novas”, “boas notícias”. Mas

para entendermos essa boa notícia, precisamos resumir a mensagem

bíblica em alguns pontos e entender que há primeiro uma má notícia.

O evangelho começa com Deus! Deus está acima do tempo, espaço,

matéria (como o argumento cosmológico Kalam, por exemplo, deduz),

enfim, é transcendente em relação a todo o universo. Ele tem todo poder,

todo conhecimento, toda sabedoria e nEle reside toda glória! Deus criou o

universo como expressão de Sua bondade, amor, glória, beleza, sabedoria

e fez o homem, a coroa de Sua criação, à Sua imagem e semelhança.

Três outros atributos negligenciados, mas extremamente importantes de

YHWH são: justiça, santidade e misericórdia. Tudo que Deus faz e julga é

bom, correto e perfeitamente justo! Aliás, não há conceito de justiça à

parte de Deus. Deus é plenamente santo, ou seja, não comete pecados e

os abomina. Toda pureza reside nEle e seus olhos não suportam o mal, de

tal forma que todo pecado deve ser punido de acordo com sua justiça.

Contudo, Deus é também misericordioso e retarda Seu julgamento contra

o pecado.

Depois de entendida a natureza de Deus, precisamos entender a natureza

do homem. O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus para

plena comunhão com Seu criador, de modo a ser completo nesta

comunhão. A despeito disso, todos os homens, desde Adão, pecaram e

foram separados da comunhão com Deus.

Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus –

Romanos 3.23

Todo amor, justiça, bondade e solidariedade que há no mundo, é uma

comunicação do caráter de Deus ao homem. Não há nada bom que não

tenha procedência divina (Tiago 1.17). Apesar da perfeita bondade e

perfeito amor do Criador, o homem deliberadamente se rebela contra

ele.

Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus,

nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o

seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se

loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da

imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de

répteis. – Romanos 1.21-23

Essa é a situação do homem que, como disse Dostoievski, tem dentro de

si um vazio do tamanho de Deus. Tendo se rebelado contra Deus, o

homem busca preencher seu vazio com todo e qualquer tipo de coisas.

Esse é o instinto religioso que todo homem tem, que o faz adorar

qualquer coisa que não Deus. Pensem comigo! Há algum homem ou

Page 57: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

mulher que vocês conheçam que não tenha uma espécie de adoração em

relação a algo ou alguém? Um jogador de futebol, um time, uma idéia,

uma causa, uma mulher, um homem, a própria pessoa... A Bíblia explica

esse vazio. Os homens, diferente de toda a natureza, resolve desobedecer

Deus e não o glorificam, nem lhe rendem graças. Todos os homens são

idólatras e ingratos.

Percebe-se, portanto, que a Bíblia não supõe que o ateísmo seja sincero e

verdadeiro. O antiteísmo sim! O homem pode obscurecer o

conhecimento que tem de Deus por meio da natureza e da lei moral que

dentro dele existe. Mas no fundo o ateísmo está longe de ser um

problema intelectual. De acordo com as Escrituras, este é um problema

moral! Todo homem se encontra neste problema! Tendo conhecido a

Deus não o glorificaram nem lhe renderam graças. Pelo contrário,

deixaram de adorar a Deus e passaram a adorar a si mesmo, a outros

homens, a animais, ou a coisas.

Um resumo de quem o homem é encontra-se em Romanos 3.10-18. Paulo

cita o Antigo Testamento e diz:

Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer.. Não há ninguém

que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se

extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o

bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com as

suas línguas tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo

de seus lábios; cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus

pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há

destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há

temor de Deus diante de seus olhos.

A Bíblia é clara na oposição entre o homem e Deus. Para o homem, que é

completamente mau, seu maior problema é que Deus é completamente

santo e bom! E o veredito, então:

Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo

da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo

seja condenável diante de Deus. – Romanos 3.19

Apesar das catástrofes naturais, das doenças e das guerras, estas são as

piores notícias para qualquer homem na face da Terra! E, além disso, o

homem não pode fazer nada, por si só, por suas próprias forças, para

barganhar o favor de Deus (conferir Romanos 3.20 e Jeremias 13.23). O

que fazer? Nada! O homem é incapaz de se salvar!

Assim, Deus que está separado de todo o pecado em sua perfeita

santidade, seria perfeitamente justo em depositar seu julgamento sobre

todos os homens e os enviar para o inferno, que biblicamente é o lugar de

condenação eterna.

Contudo...

Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para

que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. –

João 3.16

Somente naquele pano de fundo negro é que as boas-novas podem ser

agora apreciadas, de fato. Somente quando não restar qualquer

esperança, Cristo pode ser vislumbrado como socorro único e suficiente.

O barulho das chaves faz mais sentido quando se está em uma masmorra

escura, inacessível e desiludido. As más notícias nos mostram a condição

Page 58: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

do homem perante de Deus! Mas o próprio Deus em pura compaixão,

amor e graça promove o remédio para nossa maior doença. Na verdade,

Ele oferece ressurreição para nós que em nossos pecados, ofensas e

delitos, somos tidos como mortos espirituais.

Ele envia Seu Filho ao mundo. O Deus todo poderoso se encarna e nasce

de uma virgem. Vive uma vida perfeita, aquela vida que precisaríamos

viver, mas não vivemos. Ele morre a morte que merecíamos morrer!

Naquela cruz Jesus Cristo leva todos os nossos pecados sobre suas costas.

Mais ainda, Ele é feito pecado (2Coríntios 5.21) e maldição (pois maldito

todo aquele que for pendurado no madeiro – Gl 3.13). O único homem

sem pecado é julgado no nosso lugar. Toda a condenação que os homens

mereciam recai sobre os ombros de Jesus.

E a Bíblia ainda nos diz que Deus se agradou de moer Seu próprio Filho

(Isaías 53.10). Por quê? Por amor! Amor a mim, a você e aos pecadores

debaixo da terra.

Tendo provido a solução e tomado a iniciativa de apresentar-se como

propiciação pelos nossos próprios pecado, Cristo diz: “está consumado”!

Tudo que não conseguiríamos ou poderíamos fazer, Cristo fez em nosso

lugar. E Deus recebeu o sacrifício de Jesus como expiação perfeita! Ao

terceiro dia vindicou Seu filho, ressuscitando-O e fazendo-O triunfar sobre

morte e inferno, confirmando sua vitória e nos dando esperança de vida

eterna. Temos agora um Salvador!

Portanto, como nos apropriar desse presente que Jesus Cristo já

conquistou para nós? “Arrependi-vos, e crede no evangelho” (Marcos

1.15)! Todo homem, em todo o tempo, em todo o lugar, é convocado a se

arrepender de seus pecados, voltar-se de sua rebelião contra a santidade,

justiça, bondade e amor de Deus, e crer que todos seus pecados foram

pagos em Jesus Cristo naquela cruz. Crer que Jesus Cristo se apresentou

como nosso substituto e, por ser Deus perfeito, pôde pagar nossa dívida

completamente. Nada mais precisa ser feito. Em nossas forças não

ampliaremos um côvado de nossa estatura. Em nossos méritos não

barganharemos um mísero apreço de Deus, pois o cheiro do pecado nos

acompanha dia-a-dia.

Mas se nos arrependermos de nossos pecados, e crermos que Jesus Cristo

é o Filho de Deus que morreu a nossa morte, pagou nossa dívida e

ressuscitou em vitória, nos é prometido que, assim como Cristo

ressuscitou, nós ressuscitaremos de nossa morte espiritual. Um novo

coração será nos dado. Um coração de carne no lugar de um coração de

pedra. A comunhão com Deus Pai será restabelecida. Nossos pecados

serão esquecidos. Nossas vestes serão trocadas por vestes brancas.

Pecadores imundos serão declarados perante Deus como justos pelo

poder do puro sangue de Jesus Cristo.

A partir de então poderemos desfrutar de uma vida de adoração e glórias

dadas a Deus. Plena alegria e satisfação nEle. Só humilhados em nossos

esforços, conscientes de nosso pecado, arrependidos e com fé,

entenderemos e seremos gratos por essa dádiva. Por esse presente que

nunca fizemos nada para merecer.

Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é

dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; porque

somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais

Deus preparou para que andássemos nelas. – Efésios 2.8-10

Page 59: Defendendo o Verdadeiro Cristianismo Mp

Portanto, aparte-se de sua rebelião se você ainda não crê em Cristo. Ele

ressuscitou e está vivo para que todos nós nos acheguemos a Ele

conscientes de nossa situação e gritemos por socorro! Em humildade e

dependência voltemo-nos dos nossos pecados! Arrependa-se e creia em

Jesus Cristo, o Evangelho ressurreto, nossa maior e única Boa-notícia!

Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no

poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos. E, quando vós

estáveis mortos nos pecados, e na incircuncisão da vossa carne, vos

vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas,

havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a

qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós,

cravando-a na cruz. – Colossenses 2.12-14

X. SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS

Livros utilizados:

- Douglas Wilson e Christopher Hitchens, O cristianismo é bom para o

mundo? – Garimpo Editorial

- Marcos Granconato, Fundamentos da teologia da vida cristã – Mundo

Cristão

- William Lane Craig, Em guarda – Edições Vida Nova

- Lee Strobel, Em defesa de Cristo – Editora Vida

Vídeos:

Preferi sugerir os vídeos por “autores”. Quaisquer debates, palestras ou

entrevistas de Douglas Wilson, Ravi Zacharias, William Lane Craig e Lee

Strobel (em especial os documentários “Em defesa de Cristo” e “Em

defesa do Criador”).

Para mais conteúdo sobre o (verdadeiro) cristianismo e a mensagem do

evangelho, procurem por John Piper, Paul Washer, R. C. Sproul, C. S. Lewis

(das Cônicas de Nárnia), Augustus Nicodemus, John MacArthur, D. A.

Carson, etc.

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Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo

pelos ímpios. Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois

poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas Deus prova o

seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós

ainda pecadores. Logo muito mais agora, tendo sido justificados

pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira [de Deus]. –

Romanos 5.6-9

Deus abençoe você!

Misael Pulhes