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Artigo Teológico | “Decifra-me ou Devoro-te”: Em Busca de uma Solução Exegética e Hermenêutica para o Enigma de Êxodo 4.24-26. | 2 0 1 1 por Carlos Augusto Vailatti 1 | P á g i n a 1 ARTIGO TEOLÓGICO “DECIFRA-ME OU DEVORO-TE”: EM BUSCA DE UMA SOLUÇÃO EXEGÉTICA E HERMENÊUTICA PARA O ENIGMA DE ÊXODO 4.24-26 por Carlos Augusto Vailatti RESUMO Este artigo tem por objetivo buscar descobrir o significado da perícope bíblica de Êxodo 4.24-26, texto este que, segundo muitos estudiosos, situa-se entre aquelas passagens mais difíceis de serem compreendidas em todo o Êxodo. Através da investigação da Bíblia Hebraica (BHS), da Septuaginta (LXX), de algumas Versões Bíblicas em Português e também de outras Interpretações dadas ao presente texto bíblico, tentar-se-á, portanto, descobrir o seu significado. Palavras-Chave: Êxodo 4.24-26, Exegese, Hermenêutica, Interpretação Bíblica. ABSTRACT This article aims to seek out the meaning of the biblical pericope in Exodus 4.24-26, this text, according many scholars, is among those most difficult passages to be understood throughout the Exodus. Through research of the Hebrew Bible (BHS), Septuagint (LXX), some Bible Versions in Portuguese and also other Interpretations given to this biblical text, it will try, therefore, to find its meaning. Keywords: Exodus 4.24-26, Exegesis, Hermeneutics, Biblical Interpretation. 1 Este texto foi apresentado inicialmente em forma de monografia em maio/2009 ao Seminário Teológico Servo de Cristo (STSC), SP.

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Interpretação de Êxodo 4.24-26

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Artigo Teológico | “Decifra-me ou Devoro-te”: Em Busca de uma Solução Exegética e Hermenêutica para o Enigma de Êxodo 4.24-26. | 2 0 1 1

por Carlos Augusto Vailatti

1 | P á g i n a

1ARTIGO TEOLÓGICO

“DECIFRA-ME OU DEVORO-TE”: EM BUSCA DE UMA

SOLUÇÃO EXEGÉTICA E HERMENÊUTICA PARA O ENIGMA DE ÊXODO 4.24-26

por

Carlos Augusto Vailatti

RESUMO

Este artigo tem por objetivo buscar descobrir o significado da perícope

bíblica de Êxodo 4.24-26, texto este que, segundo muitos estudiosos, situa-se

entre aquelas passagens mais difíceis de serem compreendidas em todo o Êxodo.

Através da investigação da Bíblia Hebraica (BHS), da Septuaginta (LXX), de

algumas Versões Bíblicas em Português e também de outras Interpretações

dadas ao presente texto bíblico, tentar-se-á, portanto, descobrir o seu significado.

Palavras-Chave: Êxodo 4.24-26, Exegese, Hermenêutica, Interpretação Bíblica.

ABSTRACT

This article aims to seek out the meaning of the biblical pericope in

Exodus 4.24-26, this text, according many scholars, is among those most difficult

passages to be understood throughout the Exodus. Through research of the

Hebrew Bible (BHS), Septuagint (LXX), some Bible Versions in Portuguese and

also other Interpretations given to this biblical text, it will try, therefore, to find

its meaning.

Keywords: Exodus 4.24-26, Exegesis, Hermeneutics, Biblical Interpretation.

1 Este texto foi apresentado inicialmente em forma de monografia em maio/2009 ao Seminário

Teológico Servo de Cristo (STSC), SP.

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ÍNDICE INTRODUÇÃO 3 I – O CONTEXTO DA PASSAGEM 5 II – QUESTÕES PRELIMINARES 7 III – ÊXODO 4.24-26 NA BHS E NA SEPTUAGINTA 9

3.1. Êxodo 4. 24-26 na BHS e a Sua Tradução Literal 9

3.2. Análise Léxico-Morfológica da BHS 9

3.3. Êxodo 4. 24-26 na LXX e a Sua Tradução Literal 11

3.4. Análise Léxico-Morfológica da LXX 12

3.5. Considerações Críticas sobre a BHS e a LXX 14

IV – ÊXODO 4.24-26 EM VÁRIAS VERSÕES DA BÍBLIA 16

4.1. Em Algumas Versões Bíblicas em Português 16

4.2. Apontamentos Sobre as Versões de Êx 4.24-26 18

4.3. Conclusão 20

V – INTERPRETAÇÕES SOBRE ÊXODO 4.24-26 22

5.1. A Interpretação mais Comum 22 5.2. A Interpretação de Ronald E. Clements 22 5.3. A Interpretação de Hans Kosmala 23 5.4. A Interpretação de Nelson Kilpp 23 5.5. A Interpretação de Georg Fohrer 24 5.6. A Interpretação de Hugo Gressmann 25 5.7. Nova Interpretação Proposta 25 CONCLUSÃO 29 BIBLIOGRAFIA 31

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INTRODUÇÃO Quando lemos a Bíblia, vez por outra, acabamos nos deparando com

aqueles textos que são mais difíceis de serem compreendidos do que outros, e

que, portanto, nos soam enigmáticos. E o texto que será objeto de nosso estudo,

Êxodo 4.24-26, se enquadra perfeitamente neste perfil de “texto enigmático”.

Aliás, essa obscura passagem da Bíblia, particularmente, me faz pensar no

conhecido relato do “Enigma da Esfinge”. Conta-nos a lenda grega que a

Esfinge, aquela criatura mitológica, invadiu a cidade grega de Tebas, destruiu os

seus campos e afugentou os seus moradores. A criatura apenas aceitou se retirar

do local, caso alguém conseguisse decifrar o seu enigma. Do contrário, a pessoa

seria devorada: “Decifra-me, ou devoro-te!”. E o seu enigma era: “Qual é o

animal que tem quatro patas de manhã, duas ao meio-dia e três à noite?”. Então,

Édipo, filho do rei de Tebas, solucionou o enigma, respondendo: “o homem, pois

ele engatinha quando pequeno, anda com as duas pernas quando é adulto e usa

um cajado para se apoiar na velhice”. Ao ver seu enigma resolvido, a Esfinge se

suicidou, lançando-se em um abismo. Édipo, por sua vez, como prêmio pela

resposta, acabou recebendo o reino de Tebas e a mão da rainha viúva, sua própria

mãe, Jocasta.2

O nosso desafio nesse trabalho, semelhantemente ao desafio de Édipo

diante da Esfinge, será buscar “solucionar” o enigmático texto de Êxodo 4.24-26.

Para tanto, nos utilizaremos da exegese e da hermenêutica a fim de tentarmos

desvendar os “mistérios” dessa pequena, mas controvertida perícope. Embora o

texto seja bem pequeno (possui apenas três versos), todavia, ele tem sido alvo de

muitos debates e inúmeras controvérsias ao longo dos tempos.

Aliás, sobre essa perícope, Childs escreveu: “Poucos textos contêm mais

problemas para a interpretação do que estes poucos versos, os quais têm

2 COMMELIN, P. Mitologia Grega e Romana. [Tradução de Eduardo Brandão]. São Paulo,

Martins Fontes, 1997, p.240.

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continuado a desconcertar através dos séculos”.3 Além disso, Durham comenta:

“Estes versos estão entre os mais difíceis do livro de Êxodo, não em termos de

sua tradução, a qual é bastante simples, mas em termos de seu significado e de

sua localização neste contexto particular”.4 Já, Hyatt, de forma mais resumida,

mas não menos incisiva, declara: “Esta é a passagem mais obscura do livro de

Êxodo”.5 Por fim, a TEB, em nota, assim se refere a esta passagem: “Estes três

versículos enigmáticos”.6

Portanto, é a partir das opiniões desses eruditos, bem como, a partir das

próprias dificuldades internas em torno das quais o texto está inserido, que

resolvi dar a esse artigo o título supra mencionado. Bem, vejamos então o que a

leitura de: “Decifra-me ou Devoro-te”: Em Busca de uma Solução Exegética e

Hermenêutica para o Enigma de Êxodo 4.24-26 nos reserva.

3 CHILDS, Brevard S. The Book of Exodus: A Critical, Theological Commentary. Philadelphia,

Westminster, 1974, p.95. 4 DURHAM, John I. Exodus. Word Biblical Commentary. Waco, Word Books, Publisher, 1987,

p.56. 5 HYATT, J. P. Exodus. The New Century Bible Commentary. England, Marshall, Morgan &

Scott, 1971, p.86. 6 TEB – Tradução Ecumênica da Bíblia. São Paulo, Edições Loyola, 1994, p.105, nota r.

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I – O CONTEXTO DA PASSAGEM A fim de entendermos melhor a passagem de Êx 4.24-26 é necessário

mencionar antes, ainda que brevemente, o contexto dentro do qual ela está

inserida.7

O capítulo 1 do livro de Êxodo busca descrever como é que Israel vivia no

Egito antes de Moisés: os israelitas começaram a viver sob o governo de um

Faraó que não havia conhecido ao seu patriarca, José, o qual os oprimia (1.1-10);

eles trabalhavam como escravos (1.11-13) e, inclusive, chegaram a sofrer a

tentativa de um infanticídio ordenado pelo próprio Faraó (1.15-22).

O capítulo 2 fala sobre o início da vida de Moisés: o seu nascimento foi

conturbado, pois ele teve que ser escondido para não ser morto devido ao decreto

de Faraó, mas a providência divina o livrou do infanticídio, sendo que,

ironicamente, ele acabou chegando à fase adulta justamente “debaixo do mesmo

teto” daquele que queria matá-lo (2.1-10); já adulto, Moisés busca fazer justiça

com as próprias mãos, pois, ao ver um hebreu sendo maltratado por um egípcio,

acaba por matar a este último, ação esta que chegou ao conhecimento de Faraó, o

qual quis matá-lo (2.11-15a); ele, então, foge de Faraó para Midiã, onde conhece

a sua esposa, Zípora, e de quem tem um filho, Gerson (2.15b-22); neste ínterim,

o rei do Egito morre e Deus resolve dar continuidade na execução de Seu acordo

feito com Abraão no passado (2.23-25).

O capítulo 3 descreve o encontro que Moisés teve com Deus, bem como,

a missão da qual ele foi divinamente incumbido: Moisés, no seu trabalho pastoril,

experimenta uma inesperada teofania (3.1-9) e também recebe a tarefa de ser o

libertador do povo de Israel da escravidão egípcia (3.10-22).

Por fim, o capítulo 4 trata de mostrar a reação de Moisés diante da sua

divina missão: Moisés fornece inúmeras desculpas, a fim de não querer cumprir a

sua difícil tarefa, mas Deus não aceita o seu “não” como resposta (4.1-17); ele,

7 Para um esboço de todo o livro de Êxodo, veja: COLE, R. Alan. Êxodo: introdução e

comentário. [Tradução de Carlos Oswaldo Pinto]. São Paulo, Vida Nova / Mundo Cristão, 1990, p.50.

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então, decide partir de Midiã rumo ao Egito, recebe mais detalhes sobre a sua

importante missão e compartilha tais informações com o seu irmão, Arão (4.18-

23, 27-31). Porém, durante a jornada de Moisés em direção ao Egito, um fato

muito estranho e curioso acontece: Deus o encontra no meio do caminho, numa

estalagem, e quer matá-lo.

Bem, após este pano de fundo panorâmico dos primeiros capítulos do livro

de Êxodo, partamos, então, para o levantamento de algumas questões que muito

devem nos ajudar no estudo do nosso tema.

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II – QUESTÕES PRELIMINARES Ao lermos a perícope de Êx 4.24-26, algumas perguntas surgem

naturalmente.8 Abaixo, tentaremos expor as questões que julgamos serem mais

significativas para o auxílio na compreensão deste texto:

1. Por que a perícope de Êx 4.24-26 está situada no local onde está, uma

vez que ela interrompe claramente o fluxo narrativo de Êx 4.18-23, 27-

31, o qual parece ser completo sem ela? Qual o propósito dessa

interpolação?

2. Por que há tanta indefinição (como veremos a seguir) quanto à

identidade dos sujeitos das ações e quanto aos objetos que sofrem tais

ações nesta passagem? Será que esse “silêncio” está tomando como

certo que “Moisés”, o qual é citado nos versículos precedentes (cf. Êx

4.21-23), é o personagem mais apropriado e “óbvio” desse “quebra-

cabeça”?

3. Por que a circuncisão é tão importante no contexto dessa passagem, ao

ponto de ser citada repetidamente (nos versos 25 e 26)?

4. O que significa a enigmática expressão: “esposo (noivo) sanguinário”,

proferida por Zípora?

5. Por que desde o início do livro de Êxodo, a vida de Moisés parece estar

sempre “por um fio”? Moisés escapa da morte quando ainda é bebê e é

colocado numa cesta no rio (Êx 2.1-9). Depois disso, Faraó quer matá-

lo (Êx 2.11-15). E, por fim, até mesmo o próprio Deus também quer

matá-lo (Êx 4.24)! Por que estes relatos sobre estas várias tentativas de

homicídio são tão importantes, ao ponto de serem repetidos em

diferentes contextos?

8 Ronald B. Allen também propõe questões semelhantes a estas em seu artigo sobre esta

passagem de Êxodo. Cf. ALLEN, Ronald B. The “Bloody Bridegroom” in Exodus 4:24-26. [Bibliotheca Sacra]. Nº 153. Dallas, Dallas Theological Seminary, 1996, pp.260-261.

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6. Qual é o ponto nevrálgico desta perícope? É a circuncisão? É destacar

a importância do papel da mulher nos rituais religiosos, uma vez que é

uma mulher, Zípora, quem realiza a circuncisão? É destacar o “outro

lado” de Deus, isto é, o “seu lado maligno/demoníaco”, pois Ele quer

matar a Moisés?

Bem, estas são apenas algumas das várias perguntas às quais este

enigmático texto nos remete. Ao final do nosso estudo, tentaremos respondê-las,

senão todas, pelo menos parte delas. Por ora, basta apenas mencioná-las aqui. A

seguir, abordaremos a perícope que está sendo estudada a partir dos textos

originais.

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III – ÊXODO 4.24-26 NA BHS E NA LXX

A fim de que possamos vislumbrar a perícope de Ex 4.24-26 sob os seus

mais variados ângulos, creio que se faça necessário observá-la primeiramente a

partir dos textos originais, os quais nos fornecerão a base para o desenvolvimento

do nosso trabalho. Entretanto, para que a nossa monografia seja mais

enriquecida, acredito que não somente o original hebraico, mas também o texto

grego da Septuaginta sejam, ambos, importantes como ponto de partida para o

nosso estudo. Sendo assim, mãos à obra.

3.1. Êxodo 4. 24-26 na BHS9 e a Sua Tradução Literal

xQ;’Tiw: 25`At*ymih] vQEßb;y>w: hw”ëhy> WhveäG>p.Yiw: !Al+MB; %r<D<Þb; yhiîy>w: 24 yKió rm,aTo§w: wyl’_g>r:l. [G:ßT;w: Hn”ëB. Tl;r>[‘-ta, ‘trok.Tiw: rcoª hr”øPoci

`yli( hT’Þa; ~ymi²D”-!t;x] `tl{)WMl; ~ymiÞD” !t:ïx] hr”êm.a’( za’… WNM,_mi @r,Yißw: 26

24 E foi no caminho, na pousada, e encontrou-lhe Yahweh, e quis matá-lo. 25E tomou Zípora uma faca de pedra e cortou o prepúcio de seu filho, e

lançou aos seus pés, e disse: certamente esposo de sangues és tu para mim. 26E se apartou dele, quando disse: esposo de sangues, por causa da

circuncisão.

3.2. Análise Léxico-Morfológica da BHS10

Verso 24 Vocábulo Tradução

yhiîy>w: E foi (verbo, qal, vav consec. imperf., 3ª p. masc. sing. apocopada).

9 ELLIGER, K. & RUDOLPH, W. (eds.). Bíblia Hebraica Stuttgartensia. Stuttgart, Deutsche

Bibelgesellschaft, 1997. 10 Análise baseada em: BibleWorks 6.0. Software. Norfolk, USA, 2003; DAVIDSON, Benjamin.

The Analytical Hebrew and Chaldee Lexicon. Grand Rapids, Zondervan Publishing House, 1981; GESENIUS, H. W. F. Geseniu’s Hebrew-Chaldee Lexicon to the Old Testament. [Translated by Samuel Prideaux Tregelles]. Grand Rapids, Baker Book House, 1979; HOLLADAY, William L. (ed.). A Concise Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament. Grand Rapids, William B. Eerdmans Publishing Company / Leiden, E. J. Brill, 1988.

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%r<D<Þb; no caminho (prep. + artigo + nome comum sing. absoluto)

!Al+M’B; na pousada (prep. + artigo + nome comum, masc., sing., absoluto)

WhveäG>p.Yiw: e encontrou-lhe (verbo, qal, vav consec., imperf., 3ª p., masc.,sing.)

hw”ëhy> Yahweh (nome próprio)

vQEßb;y>w: e quis (verbo, piel, vav consec., imperf., 3ª p. masc. sing.)

At*ymih] matá-lo (verbo, hifil, infinit., construto, sufixo, 3ª p. masc.sing.)

Verso 25

Vocábulo Tradução

xQ;’Tiw: E tomou (verbo, qal, vav consec., imperf., 3ª p. fem.sing.)

hr”øPoci Zípora (nome próprio)

rcoª faca de pedra (nome comum, masc., sing., absoluto)

‘trok.Tiw: e cortou (verbo, qal, vav consec., imperf., 3ª p. fem.sing.)

tl;r>[‘-ta, prepúcio de (partíc. de obj.dir. + nome comum, fem., sing., construto)

Hn”ëB. seu filho (nome comum, masc., sing., construto, com sufixo, 3ª p., fem., sing.)

[G:ßT;w: e lançou (verbo, hifil, vav consec., imperf., 3ª p., fem. sing., apocopada)

wyl’_g>r:l. aos seus pés (prep. + nome comum, fem. dual, construto, com sufixo, 3ª p., masc., sing.)

rm,aTo§w: e disse: (conj. + verbo, qal, vav consec., imperf., 3ª p., fem., sing.)

yKió certamente (conjunção)

~ymi²D”-!t;x] esposo de sangues (nome comum, masc., sing., construto + nome comum, masc., plural, absoluto)

hT’Þa; tu (pronome, 2ª p., masc., sing.)

yli( para mim (prep., com sufixo, 1ª p., comum, sing.)

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Verso 26 Vocábulo Tradução

@r,Yißw: E se apartou (verbo, qal, vav consec., imperf., 3ª p., masc., sing., apocopada)

WNM,_mi dele (prep., com sufixo, 3ª p. masc., sing.)

Za’… quando (partícula adverbial)

hr”êm.a’( disse: (verbo, qal, perfeito, 3ª p. fem., sing.)

!t:ïx] esposo de (nome comum, masc., sing., construto)

~ymiÞD” sangues (nome comum, masc., plural, absoluto)

tl{)WMl; por causa da circuncisão (prep. + art. + nome comum, fem., plural, absoluto)

3.3. Êxodo 4. 24-26 na LXX11 e a Sua Tradução Literal

24 evge,neto de. Evn th/| odw/| evn tw/| katalu,mati sunh,nthsen auvtw/|

a;ggeloj kuri,ou kai. Evzh,tei auvto.n avpoktei/nai 25 kai. Labou/sa Sepfwra yh/fon perie,temen th.n avkrobusti,an tou/ ui`ou/ auvth/j kai. Prose,pesen pro.j tou.j po,daj kai. Ei=pen e;sth to. Ai-ma th/j peritomh/j tou/ paidi,ou mou 26 kai. Avph/lqen avpV auvtou/ dio,ti ei=pen e;sth to. Ai-ma th/j peritomh/j tou/ paidi,ou mou

24E aconteceu no caminho, no alojamento, encontrou com ele um anjo do

Senhor, e buscava matá-lo. 25E tomou Séfora uma pequena pedra lisa para circuncidar a

incircuncisão do filho dela e caiu prostrada diante dos [seus] pés e disse: para

provocar o sangue da circuncisão do meu filho. 26E partiu dele porque disse: repousou o sangue da circuncisão do meu

filho.

11 RAHLFS, Alfred. Septuaginta. Stuttgart, Deutsche Bibelgesellschaft, 1979.

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3.4. Análise Léxico-Morfológica da LXX12

Verso 24 Vocábulo Tradução evge,neto aconteceu (verbo, indicativo,

aoristo médio, 3ª p. sing.) de. E (conj. coordenativa) Evn em (preposição no dativo) th/| o (art. definido, dativo,

feminino, sing.) odw/| caminho (nome, dativo, fem.,

sing.) evn em (preposição no dativo) tw/| o (art.definido, dativo, neutro,

sing.) katalu,mati alojamento (nome, dativo,

neutro, sing.) sunh,nthsen encontrou com (verbo,

indicativo aoristo ativo, 3ª p. sing.) auvtw/| ele (pron. pessoal, dativo, masc.

sing.) a;ggeloj um anjo (nome, nominativo,

masc., sing.) kuri,ou do Senhor (nome, genitivo,

masc.sing.) kai. e (conj. coordenativa)

Evzh,tei buscava (verbo, indicativo, imperf., ativo, 3ª p. sing.)

auvto.n a ele (pron. Pessoal, acusativo, masc., sing.)

avpoktei/nai matar (verbo, infinitivo aoristo, ativo)

Verso 25

Vocábulo Tradução kai. E (conj. coordenativa)

Labou/sa tomou (verbo, particípio aoristo, ativo, nominativo, fem., sing.)

Sepfwra Séfora (nome próprio) yh/fon uma pequena pedra lisa (nome

comum, acusativo, fem., sing.)

12 Análise baseada em: BibleWorks 6.0. Software. Norfolk, USA, 2003.

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perie,temen para circuncidar (verbo, indicativo, aoristo, ativo, 3ª p. sing.)

th.n a (artigo definido, acusativo, fem., sing.)

avkrobusti,an incircuncisão (nome comum, acusativo, fem., sing.)

tou/ do (artigo definido, genitivo, masc. sing.)

uiou/ filho (nome comum, genitivo, masc., sing.)

auvth/j dela (pronome pessoal, genit., fem., sing.)

kai. e (conj. coordenativa) Prose,pesen caiu prostrada diante de

(verbo, indicativo aoristo, ativo, 3ª p. sing.)

pro.j aos (preposição no acusativo) tou.j os (art.definido, acusativo,

masc. pl.) po,daj pés (nome comum, acusativo,

masc.pl.) kai. e (conj. coordenativa) Ei=pen disse (verbo, indicativo, aoristo,

ativo, 3ª p. sing.) e;sth repousou (verbo, indicativo,

aoristo, ativo, 3ª p. sing.) to. o (artigo definido, nominativo,

neutro, singular) Ai-ma sangue (nome comum,

nominativo, neutro, sing.) th/j da (artigo definido, genitivo,

fem., sing.) peritomh/j circuncisão (nome comum,

genitivo, fem., sing.) tou/ do (artigo definido, genitivo,

neutro, sing.) paidi,ou filho (nome comum, genitivo,

neutro, sing.) mou meu (pronome pessoal,

genitivo, fem., sing.)

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Verso 26 Vocábulo Tradução

kai. E (conj. coordenativa) Avph/lqen partiu (verbo, indicativo,

aoristo, ativo, 3ª p. sing.) avpV desde (preposição no genitivo) auvtou/ ele (pronome pessoal, genitivo,

masc., sing.) dio,ti porque (conj. subordinativa) ei=pen disse (verbo, indicativo, aoristo,

ativo, 3ª p. sing.) e;sth repousou (verbo, indicativo,

aoristo, ativo, 3ª p. sing.) to. o (artigo definido, nominativo,

neutro, sing.) Ai-ma sangue (nome comum,

nominativo, neutro, sing.) th/j da (artigo definido, genitivo,

fem., sing.) peritomh/j circuncisão (nome comum,

genitivo, fem.sing.) tou/ do (artigo definido, genitivo,

neutro, sing.) paidi,ou filho (nome comum, genitivo,

neutro, sing.) mou meu (pronome pessoal,

genitivo, fem., sing.)

3.5. Considerações Críticas sobre a BHS e a LXX A partir da verificação do texto de Êxodo 4.24-26 por meio da BHS e da

LXX respectivamente, bem como, após as traduções do mesmo, algumas

considerações devem ser feitas.

Primeiramente, é importante notar que algumas versões antigas da

Septuaginta trazem apenas a palavra a;ggeloj, “anjo”, no verso 24.13 Já a versão

padrão da LXX (Rahlfs: 1979)14 traz neste verso a expressão a;ggeloj kuri,ou,

isto é, “anjo do Senhor (= Yahweh)” em vez de “Yahweh”. Esta leitura também é 13 Cf. ELLIGER, K. & RUDOLPH, W. (eds.). Bíblia Hebraica Stuttgartensia. Stuttgart,

Deutsche Bibelgesellschaft, 1997, p.91, nota 24b. 14 RAHLFS, Alfred. Septuaginta. Stuttgart, Deutsche Bibelgesellschaft, 1979.

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seguida pelo Targum Onkelos.15 Por último, Áquila (125/130 d.C.), em sua

tradução do Tanach para o grego, traz o qeo.j, “Deus”, neste verso.16

Em segundo lugar, a palavra “pés” encontrada na expressão: Nylfg:ral; ,

“aos seus pés” (v.25), parece ser usada aqui como um eufemismo para o órgão

genital, como aparece, por exemplo, em Is 6.2; 7.20; Ez 16.25 e Dt 28.57.17 Em terceiro lugar, a LXX ao tomar o termo “pés” literalmente, tem Zípora

caindo em súplicas pro.j tou.j po,daj , “aos pés” (o contexto aqui e o uso similar

em Et 8.3 poderiam estar sugerindo que esta seja uma referência aos “pés” de

Yahweh).18

Finalmente, em quarto e último lugar, enquanto o TM diz que o Senhor se

apartou WNM,_mi, “dele” (v.26), o Pentateuco Samaritano lê hN|M,_mi, “dela” (uma

referência a Zípora).19

Disso tudo, podemos concluir que a perícope de Ex 4.24-26 é um tanto

quanto enigmática devido a, pelo menos, três fatores: 1) a concisão da narrativa;

2) a falta de contexto definido; e 3) a indefinição dos pronomes pessoais

encontrados na passagem (Moisés não é citado nenhuma vez, tanto na BHS,

quanto na LXX).20

15 DURHAM, John I. Exodus. Word Biblical Commentary. Waco, Word Books, Publisher, 1987,

p.53. Onkelos foi um prosélito palestino, o qual foi contemporâneo do Rabban Gamaliel II. Ele traduziu o Pentateuco para o aramaico. A partir de então, a sua tradução passou a ser conhecida comoTargum Onkelos. Esse targum é datado do II século a.C. (Cf. COHN-SHERBOK, Dan. A Concise Encyclopedia of Judaism. Oxford, Oneworld Publications, 1998, p.146).

16 BHS, p.91, nota 24b. 17 DURHAM, John I. Exodus. Word Biblical Commentary. Waco, Word Books, Publisher, 1987,

p.53. 18 Idem, ibidem. 19 BHS, p.92, nota 26a. 20 Cf. Bíblia de Jerusalém, p.111, nota i.

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IV – ÊXODO 4.24-26 EM VÁRIAS VERSÕES DA BÍBLIA

Uma vez que já fizemos menção tanto ao texto hebraico quanto ao texto

grego de Êx 4.24-26, creio que seja importante citar também algumas de nossas

principais versões dessa perícope existentes em português, a fim de que tais

versões sejam analisadas à luz dos textos originais (hebraico e grego). Acredito

que esse tipo de abordagem poderá contribuir para o alcance de nossos

propósitos nesta monografia. Sendo assim, prossigamos em nosso estudo.

4.1. Em Algumas Versões Bíblicas em Português

a) ARA (Almeida, Revista e Atualizada) 24Estando Moisés no caminho, numa estalagem, encontrou-o o Senhor e o

quis matar. 25Então, Zípora tomou uma pedra aguda, cortou o prepúcio de seu filho,

lançou-o aos pés de Moisés e lhe disse: Sem dúvida, tu és para mim esposo

sanguinário. 26Assim, o Senhor o deixou. Ela disse: Esposo sanguinário, por causa da

circuncisão.

b) ARC (Almeida, Revista e Corrigida)

24E aconteceu no caminho, numa estalagem, que o Senhor o encontrou , e

o quis matar. 25Então Zípora tomou uma pedra aguda, e circuncidou o prepúcio de seu

filho, e o lançou a seus pés, e disse: Certamente me és esposo sanguinário. 26E desviou-se dele. Então ela disse: Esposo sanguinário, por causa da

circuncisão.

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c) BH (Bíblia Hebraica)21 24E no caminho, na estalagem, o (anjo do) Eterno encontrou-o (a Moisés),

e o quis matá-lo. 25E Tsiporá tomou uma pedra afiada, cortou o prepúcio de seu filho e

jogou-o a seus pés (de Moisés) e disse: Tu (quase) ensangüentaste meu esposo! 26E (o anjo) o deixou; então ela disse: Ensangüentaste meu esposo por

causa da circuncisão!

d) BJ (Bíblia de Jerusalém) 24Aconteceu que no caminho, numa hospedaria, Iahweh veio ao seu

encontro, e procurava fazê-lo morrer. 25Séfora tomou uma pedra aguda, cortou o prepúcio do seu filho, feriu-lhe

os pés, e disse: “Tu és para mim um esposo de sangue”. 26Então, ele o deixou. Pois ela havia dito “esposo de sangue”, por causa

da circuncisão.

e) BLH (Bíblia na Linguagem de Hoje) 24Durante a viagem para o Egito, num lugar onde Moisés e a sua família

estavam passando a noite, o Deus Eterno se encontrou com Moisés e procurou

matá-lo. 25Aí Zípora, a sua mulher, pegou uma pedra afiada, cortou o prepúcio do

seu filho e com ele tocou o pé de Moisés. E disse: - Você é um marido de sangue

para mim. 26Ela disse isso por causa da circuncisão. E assim o eterno deixou Moisés

viver.

21 A tradução utilizada aqui é a de: GORODOVITS, David & FRIDLIN, Jairo. Bíblia Hebraica.

São Paulo, Editora e Livraria Sêfer Ltda., 2006.

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f) BV (Bíblia Viva) 24Durante a viagem, Moisés parou para passar a noite numa pensão. Ali o

Senhor apareceu e ameaçou matar Moisés. 25Então Zípora circuncidou o filho e lançou a pele cortada aos pés de

Moisés. Fez isso e disse: “Que marido sanguinário você ficou!” 26 Disse isto por causa da circuncisão. Aí o Senhor deixou Moisés.

g) NVI (Nova Versão Internacional)22 24Numa hospedaria ao longo do caminho, o SENHOR foi ao encontro de

Moisés e procurou matá-lo. 25Mas Zípora pegou uma pedra afiada, cortou o prepúcio de seu filho e

tocou os pés de Moisés. E disse: “Você é para mim um marido de sangue!” 26Ela disse “marido de sangue”, referindo-se à circuncisão. Nessa

ocasião o Senhor o deixou.

h) TEB (Tradução Ecumênica da Bíblia)

24Ora, estando a caminho, no albergue, o SENHOR veio ao seu encontro

e procurou matá-lo. 25Siporá tomou uma pedra afiada, cortou o prepúcio de seu filho e com

ele tocou-lhe os pés, dizendo: “És para mim um esposo de sangue”. 26Então ele o deixou. Ela dizia “esposo de sangue” referindo-se à

circuncisão.

4.1. Apontamentos Sobre as Versões de Êx 4.24-26

Essas oito versões de Êx 4.24-26 em português que compreendem, de

forma geral, praticamente a totalidade das versões bíblicas usadas pelos leitores

cristão-evangélicos no Brasil, nos permitem fazer algumas constatações bem

22 Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo, Editora Vida, 2000.

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interessantes. Quando comparadas aos textos originais anteriormente citados,

alguns detalhes curiosos podem ser notados. Vejamos quais são eles:

a) Apontamentos sobre Êx 4.24

Enquanto que as versões: ARA, BLH, BV e NVI mencionam “Moisés”

textualmente no verso 24 como sendo a personagem que o Senhor encontrou no

caminho e quis matar (a BH o menciona apenas entre parênteses), o que não

aparece na BHS e na LXX, as versões: ARC, BJ e TEB, contudo, omitem o seu

nome, preferindo assim a indefinição. Destas versões, chama-nos a atenção o fato

de a BH praticamente seguir a LXX, ao mencionar, ainda que entre parênteses,

que “o (anjo do) Eterno encontrou-o (a Moisés), e o quis matá-lo”. Além disso,

é curioso notar também que tanto a BLH quanto a BV observam que a referida

“tentativa de homicídio” protagonizada por Yahweh se deu no período da

“noite”, o que é omitido na BHS e na LXX, mas parece ser uma inferência

extraída do texto, pelo fato do encontro entre Yahweh/anjo do Senhor e o

personagem anônimo de Ex 4.24 ter se dado numa “estalagem”, isto é, um lugar

de repouso.23 Por fim, um fato bastante interessante é que entre as versões

citadas, a BLH é a única a mencionar o destino da viagem, isto é, o “Egito”, o

que não aparece na BHS e nem na LXX! Ela faz isso se baseando no itinerário

citado em Ex 4.19. Nos demais aspectos, os versos são muito semelhantes.

b) Apontamentos sobre Êx 4.25

Já no que se refere ao verso 25, as divergências de tradução parecem ser

mais significativas. As versões: ARA, BH e BV dizem que Zípora cortou o

prepúcio de seu filho e o “lançou” aos pés de Moisés (personagem este não

identificado na BHS e na LXX). Por outro lado, a ARC não especifica a

identidade da pessoa sobre cujos pés Zípora lançou o prepúcio de seu filho. A

23 Keel e Uehlinger mencionam a opinião de Judith M. Hadley, segundo quem a citação da

“estalagem” neste verso busca conferir legitimidade à sua instituição. (Cf. KEEL, Othmar & UEHLINGER, Christoph. Gods, Goddesses, and Images of God. Minneapolis, Fortress Press, 1996, p.247, nota 130).

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BLH e a NVI dizem que Zípora cortou o prepúcio de seu filho e com ele “tocou”

aos pés de Moisés. A TEB diz que o prepúcio “tocou-lhe os pés”, sem, porém,

revelar a identidade de quem tivera os pés tocados. Por fim, a BJ diz que “Séfora

(Zípora) cortou o prepúcio de seu filho, [e] feriu-lhe os pés”, também de forma

indefinida. Quanto ao final do verso 25, a BH é a versão que mais diverge das

demais. Enquanto as outras sete versões, em linhas gerais e com ligeiras

modificações, trazem: “Tu és para mim esposo sanguinário (de sangue)”, esta

última traz: “Tu (quase) ensangüentaste meu esposo” (onde o “Tu” indefinido

parece ser uma referência ao seu “filho”, ou ao “(anjo do) Eterno”, mencionado

no verso anterior, mas jamais uma referência a Moisés).

c) Apontamentos sobre Êx 4.26

Por fim, vejamos o verso 26. A ARA, a ARC, a BJ, a NVI e a TEB trazem de

forma indefinida o sujeito que fora deixado pelo Senhor no verso 26a, seguindo,

assim, a BHS e a LXX (seria Moisés?). Já a BH diz que “(o anjo) o deixou”,

acompanhando, dessa forma, algumas versões antigas da LXX.24 E, finalmente, a

BLH e a BV dizem que o sujeito deixado pelo “eterno/Senhor”, foi Moisés, o que

não concorda com os originais, hebraico e grego.

4.2. Conclusão

A partir dessas informações, podemos chegar a algumas conclusões prévias

sobre a tamanha disparidade existente entre as versões da Bíblia em português

aqui alistadas e a BHS/LXX:

a) Entre as versões pesquisadas, a ARC, a BJ e a TEB são aquelas que

seguem mais de perto (quase literalmente) a BHS;

b) As versões: ARA, BH, BLH, BV e NVI incluem o nome de “Moisés”

na perícope por inferência contextual anterior (Êx 4.18-23) e posterior

(Êx 4.27-31), e não por seguirem a BHS e/ou a LXX (que não trazem o 24 Cf. a nota 13 (acima).

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seu nome), uma vez que o nome de Moisés aparece repetidamente

nestes outros versos;

c) As versões acima arroladas (item b), embora mencionem o nome de

“Moisés” sem seguir o TM, ao fazê-lo, não introduzem mudanças

conceituais que comprometem o sentido original do texto bíblico. Pelo

contrário, elas levam em conta o contexto imediato da passagem, o

qual sugere de forma natural que Moisés seja um dos personagens de

Êx 4.24-26;

d) Tanto a interpretação mais literal quando a interpretação menos

literal, de forma geral, possuem seus pontos positivos e negativos. A

interpretação mais literal, por exemplo, é boa quando compreendemos

o esquema mental e psicológico daquele que nos propomos a traduzir e

interpretar (se é que isso seja absolutamente possível de ser feito), caso

contrário, a tradução pode se tornar ininteligível e arcaica. Já a

interpretação menos literal, embora possa ser mais contextualizada e

até mesmo mais “moderna”, pode, contudo, incorrer no risco de

introduzir conceitos e ideologias estranhos aos pretendidos pelo autor

original do texto (caso o tradutor não atente para isso). Neste último

caso, um dos maiores desafios do tradutor é ser “atual”, sem, contudo,

ser anacrônico em sua tradução.

e) Finalmente, podemos depreender de tudo isso que todas as versões

bíblicas devem ser lidas/seguidas tendo como ponto de partida a sua

comparação com o texto original e suas respectivas peculiaridades.

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V – INTERPRETAÇÕES SOBRE ÊXODO 4.24-26

Depois de tudo o que vimos até aqui, citaremos agora algumas das

principais interpretações sobre esta perícope,25 no intuito de poder melhor

compreendê-la, bem como, ofereceremos ao final uma nova proposta de

interpretação para esta passagem.

5.1. A Interpretação mais Comum

Segundo Hyatt,26 a interpretação mais comum de Êx 4.24-26 é a seguinte:

como Moisés e a sua família estavam em jornada até o Egito, Yahweh procurou

matá-lo, estando zangado porque Moisés não havia sido circuncidado. Zípora, a

fim de impedir tal tragédia, imediatamente circuncidou seu filho. Ela tomou o

prepúcio ensangüentado do filho e com ele tocou a genitália de Moisés (motivo

pelo qual o eufemismo “seus pés” é usado). Tal ato teve o seu caráter substitutivo

(Gerson foi circuncidado no lugar de Moisés). Após a realização desta

circuncisão substitutiva, Zípora se dirige, então, a Moisés, com as palavras:

“certamente você é um esposo de sangue para mim!”. Então, Yahweh deixou

Moisés sozinho.

5.2. A Interpretação de Ronald E. Clements

De acordo com Clements,27 a perícope ora em estudo mostra Moisés

sendo atacado por uma força maligna do deserto, cujo narrador identificou com o

Senhor Deus, uma vez que ele (o autor) considerava todos os poderes divinos

25 Para obter um resumo das várias interpretações sobre esta passagem, veja: DURHAM, John I.

Exodus. Word Biblical Commentary. Waco, Word Books, Publisher, 1987, p.57. Crüsemann vê a referência à circuncisão neste relato como forma de comprovação etiológica de um costume jurídico. (Cf. CRÜSEMANN, Frank. A Torá: teologia e história social da lei do Antigo Testamento. [Tradução de Haroldo Reimer]. Petrópolis, Vozes, 2001, p.387). Cf. também: THOMAS, W. H. Griffith. Through the Pentateuch. Grand Rapids, Kregel Publications, 1985, p.80.

26 HYATT, J. P. Exodus. The New Century Bible Commentary. England, Marshall, Morgan & Scott, 1971, p.87.

27 CLEMENTS, Ronald E. Exodus. The Cambridge Bible Commentary on the New English Bible. Cambridge, Cambridge University Press, 1972, p.31.

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como ligados a ele (Yahweh). A razão sugerida para o ataque é a negligência da

circuncisão de Moisés, aparentemente sobre ele mesmo, mas possivelmente

também sobre seu filho. Esta interpretação de Clements se baseia, sobretudo, no

conceito veterotestamentário da ambivalência divina, segundo a qual, todos os

acontecimentos da vida (tanto bons quanto maus) tinham a sua origem em

Deus.28 Esses traços da ambivalência divina podem ser vistos, por exemplo, em

textos tais como: 1 Sm 1.5,6; 2.6ss; 16.23; Jó 2.10; Is 45.7 etc.

5.3. A Interpretação de Hans Kosmala Já segundo Kosmala,29 esta passagem de Êxodo foi relatada aqui por causa

dos versos precedentes que falam da morte do filho primogênito. A ira da

divindade, que é um deus do deserto midianita, é dirigida contra a criança porque

ela não foi circuncidada. Para aplacar a ira dessa divindade, Zípora corta o

prepúcio da criança e toca com o prepúcio as pernas do seu próprio filho,

realizando um ritual de sangue, o qual foi usado para afugentar o mal (através da

circuncisão que foi realizada). Ela, então, profere uma fórmula ritual à criança:

“Um mesmo sangue circuncidado você tem com relação a mim”. A divindade,

vendo o sangue e ouvindo as palavras de Zípora, desaparece.

5.4. A Interpretação de Nelson Kilpp

Para Nelson Kilpp,30 Javé, o Deus midianita, atacou Moisés, o não-

midianita, pelo fato deste último ter invadido o território que estava restringido a

28 Fohrer explica o conceito de ambivalência divina nestes termos: “A crença em demônios foi

essencialmente estranha ao verdadeiro javismo. Impressionado pela noção da singularidade de Iahweh, recusou-se a reconhecer quaisquer outros poderes. Fenômenos misteriosos, medonhos e horrificantes foram incorporados à descrição do próprio Deus ou associados a um ser celestial ou espírito enviado por Iahweh. Conseqüentemente, Iahweh assumiu feições ‘demoníacas’ (Gn 32.22-31; Êx 4.24-26) – ou, mais exatamente, veio a aparecer numa luz irracional e numinosa – e o limite entre seres celestiais e demônios ficou obscurecido. Por isso, os demônios são raramente mencionados”. (Cf. FOHRER, Georg. História da Religião de Israel. [Tradução de Josué Xavier]. São Paulo, Academia Cristã / Paulus, 2006, p.228).

29 KOSMALA, Hans. Studies , Essays and Reviews. Cheltenham, Brill Archive, 1978, pp.14-28. 30 KILPP, Nelson. Os Poderes Demoníacos no Antigo Testamento. In: GARMUS, Ludovico.

(ed.). Diabo, Demônio e Poderes Satânicos. [Série Estudos Bíblicos]. Petrópolis, Editora Vozes, 2002, p.26.

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este povo.31 Quanto a Zípora, ela não é atacada justamente por ser midianita.

Além do mais, ela sabe como se portar diante dessa divindade (Javé) já que a

conhece. Tal hipótese significa então que o Deus Javé dos midianitas deveria

possuir originalmente os traços característicos de um demônio do deserto. Assim,

o sangue do prepúcio lançado sobre Moisés conseguiu afastar Javé e fazê-lo

desistir de seu intento. Além disso, Kilpp também menciona outra forma de se

entender a passagem, segundo a qual a tradição original do texto ainda não

tratava de Javé, mas de um demônio do deserto que, no período da noite, atacava

os viajantes que paravam na pousada localizada em seu território. Se tal

interpretação estiver correta, então, Israel, ao incorporar a tradição pré-israelita

em sua própria história com Yahweh, acabou substituindo o desconhecido

demônio por Yahweh, atribuindo, assim, a este último, as características de tal

demônio.

5.5. A Interpretação de Georg Fohrer

A opinião de Fohrer32 é que essa breve narrativa da circuncisão do filho de

Moisés por sua mãe, Zípora, tem o propósito de confirmar ou legitimar a

mudança da circuncisão, outrora feita em adultos, para a circuncisão de infantes.

Além disso, Fohrer sugere ainda que a passagem, originalmente, pudesse se tratar

também de um rito de virilidade ou de uma iniciação ao matrimônio (cf. Gn

34.14ss).33 Todavia, diferentemente de Kilpp, Fohrer prefere deixar em aberto a

31 No que diz respeito à duração da estadia de Moisés em Midiã, de acordo com a tradição

judaica posterior, os 120 anos de vida de Moisés podem ser divididos em três etapas: Desde o seu nascimento até os 40 anos de idade, ele teria sido um príncipe no Egito; dos 40 aos 80 anos ele viveu exilado em Midiã; e, dos 80 aos 120 anos, ele se tornou líder dos israelitas. (Cf. ASIMOV, Isaac. Asimov’s Guide to the Bible. [The Old and New Testaments]. New York, Wings Books, 1981, pp.129,130).

32 FOHRER, Georg. História da Religião de Israel. [Tradução de Josué Xavier]. São Paulo, Academia Cristã / Paulus, 2006, p.39.

33 FOHRER, Georg. Estruturas Teológicas do Antigo Testamento. [Tradução de Álvaro Cunha]. Santo André, Editora Academia Cristã, 2006, p.192. Estas opiniões de Fohrer também são compartilhadas por Gunneweg. Cf. GUNNEWEG, Antonius H. J. Teologia Bíblica do Antigo Testamento. Vol.1. [Tradução de Werner Fuchs]. São Paulo, Teológica/Loyola, 2005, pp.188,189.

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hipótese sobre a narrativa tratar ou não da circuncisão como um elemento de

proteção contra os demônios.

5.6. A Interpretação de Hugo Gressmann

De acordo com o erudito alemão, H. Gressmann,34 a remoção do prepúcio

realizada por Zípora, teve o propósito de evitar um ataque fatal de um demônio

sobre Moisés, demônio este mais tarde identificado com Yahweh, o qual exigia o

direito do primeiro intercurso sexual com a noiva virgem na noite de núpcias.35

5.7. Nova Interpretação Proposta

E foi [Moisés] no caminho, na pousada, e encontrou-lhe Yahweh, e quis

matá-lo. (verso 24).

Quando Yahweh se encontra com Moisés no caminho e quer matá-lo (Êx

4.24), isto não se deve ao fato de Moisés não ser ainda circuncidado, mas se

deve, antes, ao seu homicídio praticado anteriormente (cf. Êx 2.11,12).36 Como

Moisés era filho de pais hebreus (Êx 2.1-10), os quais, por sua vez, deveriam ser

naturalmente observadores da circuncisão abraâmica (Gn 17.23-27), logo, ele já

devia estar circuncidado há bastante tempo a esta altura da sua vida. Além do

mais, como a circuncisão também era praticada no Egito, é muito difícil imaginar

que Moisés ainda não tivesse sido circuncidado.37 Na verdade, o filho de Moisés

34 GRESSMANN, H. Mose und seine Zeit, pp.55-61. Apud: DURHAM, John I. Exodus. Word

Biblical Commentary. Waco, Word Books, Publisher, 1987, p.57. Cf. também: BERGANT, Dianne & KARRIS, Robert J. (orgs.). Comentário Bíblico. Vol.1. [Tradução de Barbara Theoto Lambert]. São Paulo, Edições Loyola, 2001, p.96.

35 Essa interpretação de Gressmann reflete o conceito medieval da primae noctis (primeira noite), costume este que reservava ao rei o direito de ter o primeiro intercurso sexual com todas as noivas recém-casadas.

36 Walton, Matthews e Chavalas também entendem que Yahweh deseja matar a Moisés devido ao homicídio que ele praticara em Êx 2.11,12. (Cf. WALTON, John H., MATTHEWS, Victor H. & CHAVALAS, Mark W. Comentário Bíblico Atos: Antigo Testamento. [Tradução de Noemi Valéria Altoé]. Belo Horizonte, Editora Atos, 2003, pp.80,81).

37 COLE, R. Alan. Êxodo: introdução e comentário. [Tradução de Carlos Oswaldo Pinto]. São Paulo, Vida Nova / Mundo Cristão, 1990, p.76. Para obter informações mais detalhadas sobre a prática da circuncisão, confira: ROPS, Henri Daniel. A Vida Diária nos Tempos de Jesus. [Tradução de Neyd Siqueira]. São Paulo, Vida Nova, 1991, pp.74-76; VAUX, R. de. Instituições de Israel no Antigo Testamento. [Tradução de Daniel de Oliveira]. São Paulo, Teológica / Paulus, 2003, pp.69-72.

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é quem é circuncidado (cf. v.25).38 Diante disso, a minha proposta é a seguinte:

quem, de fato, deseja matar a Moisés aqui é uma divindade (demônio) egípcia

dos mortos, (Anúbis/Osíris?), a qual – no caso de Anúbis – era representada pelo

chacal, animal que vivia no deserto,39 e que, mais tarde, foi identificado na

tradição pré-israelita com Yahweh. Anúbis estaria irritado pelo fato de um não-

egípcio, Moisés, matar um egípcio em seu território (Êx 2.11,12), o que seria

uma prerrogativa que estaria reservada somente a ele, deus dos mortos. Assim,

essa divindade egípcia vai atrás de Moisés, com o propósito de puni-lo pelo seu

atrevido ato. A divindade o encontra %r<D<Þb;, “no caminho”, isto é,

presumivelmente já em seu território egípcio (ou bem próximo dele) e então

procura matá-lo pelo seu ato insolente.

E tomou Zípora uma faca de pedra e cortou o prepúcio de seu filho, e

lançou aos seus pés [de Moisés], e disse: certamente esposo de sangues és tu

para mim. (verso 25).

Aqui, o papel desempenhado por Zípora chama a nossa atenção, pois, ao

realizar a circuncisão de seu filho com uma faca de pedra40 e com os gestos que

se seguem, ela parece uma espécie de “exorcista”.41 Zípora realiza um gesto

metonímico, uma ação mágica apotropaica que irá afugentar a divindade (cf.

v.26). Isto parece revelar que as trocas simbólicas da religião mágica no mundo

38 Paul Hoff comenta acertadamente que “se Moisés tivesse se apresentado perante o povo

israelita sem haver circuncidado a seu filho, sem haver cumprido o Antigo Concerto, ter-se-ia anulado a sua influência juntos deles”. (Cf. HOFF, Paul. O Pentateuco. [Tradução de Luiz Aparecido Caruso]. Venda Nova, Editora Vida, 1993, p.110).

39 MELLA, Federico A. Arborio. O Egito dos Faraós. São Paulo, Hemus Editora, 1998, p.59. 40 Segundo Propp, “o instrumento de pedra fala sobre a origem primitiva do rito. Mas, na

verdade, pedras ainda eram usadas na Idade do Ferro de Israel, para uma variedade de propósitos”. (Cf. PROPP, William H. C. Exodus 1-18. A New Translation with Introduction and Commentary. [The Anchor Bible]. New York, Doubleday, 1998, p.219).

41 Meier chama a nossa atenção para o fato de que nas culturas adjacentes e entre os israelitas, somente os homens realizavam o importante ritual da circuncisão. Ele, então, pergunta: “Como Zípora ousou realizar tal tarefa?”. (Cf. MEIER, Levi. Moisés: o príncipe, o profeta. [Tradução de Ana Glaucia Ceciliato]. São Paulo, Madras Editora Ltda, 2001, p.47). De acordo com Mcrae, Zípora realiza o rito da circuncisão, não porque desejava obedecer ao Deus de Moisés, mas primariamente porque queria salvar o seu marido. (Cf. MCRAE, William J. A Vital Prerequisite for Service: an exposition of Exodus 4:18-6:8. Emmaus Journal. Vol.4:1.1995. p.41).

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do antigo Israel, provavelmente estavam especialmente nas mãos das mulheres.42

Embora essa espécie de perspectiva mágico-religiosa do texto seja criticada por

enxergar a passagem como uma “curiosa relíquia do folclore e da superstição”,43

todavia, acho muito plausível realizar tal leitura do texto, levando em

consideração a antiguidade do mesmo. Após a realização de seu ritual, Zípora

então se dirige a Moisés num tom de crítica: “certamente esposo de sangues

(sanguinário) és tu para mim”. Neste caso, então, ao chamar Moisés de “esposo

sanguinário” (Êx 4.26), Zípora não o está criticando pela sua não-circuncisão

(pois Moisés já era circuncidado) e, nem tampouco pela não-circuncisão de seu

filho, antes, ela está fazendo referência ao homicídio que Moisés havia praticado

anteriormente (Êx 2.11,12) e que, agora, atraiu a vingança de Anúbis, o qual

deseja matá-lo pelos motivos descritos no comentário feito ao verso anterior.

E [Yahweh] se apartou dele [de Moisés], quando [Zípora] disse: esposo

de sangues, por causa da circuncisão. (verso 26).

Este verso mostra que o ritual da circuncisão praticado por Zípora, o qual

envolveu o derramamento de sangue e o lançamento do prepúcio de seu filho aos

pés de Moisés, fez com que a divindade egípcia (posteriormente identificada com

Yahweh) fugisse, assim como a aspersão de sangue sobre as vergas das portas

havia afastado antes ao “destruidor” das residências dos hebreus no episódio da

morte dos primogênitos (cf. Êx 12.13,23).44 Durante a realização da circuncisão,

Zípora pronuncia uma espécie de fórmula ritualística: “esposo de sangue, por

causa da circuncisão” e, então, a divindade (demônio) é afugentada diante desse

ritual e se retira dali. Aliás, seria bem interessante seguir o Pentateuco 42 CORNELLI, Gabriele. “É um Demônio!”: o Jesus histórico e a religião popular. Dissertação

de Mestrado, São Bernardo do Campo, Universidade Metodista de São Paulo, 1998, p.112. 43 Esta crítica pode ser encontrada, por exemplo, em: PFEIFFER, Charles F. & HARRISON,

Everett F. The Wycliffe Bible Commentary. Chicago, Moody Press, 1987, p.56. 44 Kilpp também entende que o “Destruidor” ou “Exterminador” mencionado em Êx 12.21-23,

seja uma referência a Javé, o qual acabou absorvendo tradições originalmente vinculadas a poderes maléficos ou demoníacos. (Cf. KILPP, Nelson. Os Poderes Demoníacos no Antigo Testamento. In: GARMUS, Ludovico. (ed.). Diabo, Demônio e Poderes Satânicos. [Série Estudos Bíblicos]. Petrópolis, Editora Vozes, 2002, pp.26,27).

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Samaritano neste verso, em vez de seguir a BHS. Digo isso porque em vez de

entender que Yahweh (ou a divindade egípcia) “se apartou”/fugiu “de Moisés”,

WNM,_mi, “dele” (de acordo com a BHS), a divindade teria fugido, na verdade,

hN|M,_mi, “dela”, ou seja, de Zípora (como declara o Pentateuco Samaritano)45. Tal

interpretação pode se apoiar no fato de que a divindade foge “dela” (de Zípora),

justamente porque é “ela” quem realiza o ritual apotropaico.

45 Cf. a nota 19 (acima).

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CONCLUSÃO Em vista de tudo quanto foi dito até aqui, podemos chegar a algumas

conclusões em nosso trabalho:

1. A perícope de Êx 4.24-26 é, de fato, uma interpolação, a qual possui

um registro muito antigo (talvez o mais antigo) sobre a circuncisão;

2. As indefinições pronominais e verbais existentes na passagem parecem

levar em consideração o seu contexto imediato, dentro do qual Moisés

aparece como personagem principal e, dessa forma, elas pressupõem

que ele é o personagem central do texto;

3. A circuncisão tem um papel de destaque, pois ela faz parte de um ritual

apotropaico que parece ser bastante primitivo, o qual é praticado por

Zípora;

4. A expressão “esposo (noivo) sanguinário” empregada por Zípora

possui ares de “fórmula ritual”, a qual, juntamente com a própria

circuncisão, é utilizada para afugentar a divindade (demônio);

5. O texto passou por um interessante processo de elaboração, segundo o

qual, a antiga divindade (demônio) teve os seus traços característicos

posteriormente compartilhados por Yahweh. Isto significa que Israel

introduziu elementos pré-israelitas em sua história, adaptando-os à sua

religião monoteísta que, no presente texto, também é teologicamente

ambivalente;

6. Yahweh (o demônio) não quer matar a Moisés pela não-circuncisão

dele ou de seu filho, mas sim pelo seu homicídio anteriormente

praticado (Êx 2.11,12). Moisés ainda permanece culpado diante de

Yahweh (demônio) e, portanto, corre perigo de morte;

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Finalmente, confesso não saber ao certo se consegui “decifrar” o enigma

proposto por esta perícope, ou se não o consegui. Não sei se neste embate em

particular foi “Édipo” quem levou a melhor, ou se foi a própria “Esfinge”. Bem,

seja como for, uma coisa é certa: este enigmático texto, segundo penso, ainda

continuará a desafiar por um longo tempo todos quantos dele se aproximarem na

tentativa de interpretá-lo. Nós o “decifraremos” ou seremos por ele “devorados”?

Ora, este é um outro enigma que permanece sem solução.

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Citação Bibliográfica: VAILATTI, Carlos Augusto. “Decifra-me ou Devoro-te”:

Em Busca de Uma Solução Exegética e Hermenêutica para ao Enigma de Êxodo

4.24-26.[Artigo]. São Paulo, Publicação do Autor, 2011.

Carlos Augusto Vailatti possui Graduação em Teologia pela Faculdade Betel /

Instituto Betel de Ensino Superior (IBES, 1999), Mestrado em Teologia (Master of Arts

in Biblical Theology), com especialização em Teologia Bíblica, pelo Seminário

Teológico Servo de Cristo (STSC, 2009) e Mestrado em Língua Hebraica, Literatura e

Cultura Judaica (em andamento) pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências

Humanas (FFLCH) - Departamento de Letras Orientais (DLO) - da Universidade de São

Paulo (USP). Atualmente leciona diversas disciplinas bíblico-teológicas na Faculdade

Betel / Instituto Betel de Ensino Superior (IBES) e também no Seminário Teológico

Evangélico do Betel Brasileiro (STEBB). Contato: [email protected].