débora pereira garcia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL NEOSPOROSE BOVINA: PREVALÊNCIA, TRANSMISSÃO E DIAGNÓSTICO EM FETOS ABORTADOS, NAS MICRORREGIÕES DE ANÁPOLIS E GOIÂNIA -GOIÁS Débora Pereira Garcia Orientador: Profa. Dra. Andréa Caetano da Silva GOIÂNIA 2005

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE VETERINÁRIA

PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

NEOSPOROSE BOVINA: PREVALÊNCIA, TRANSMISSÃO E DIAGNÓSTICO EM FETOS ABORTADOS, NAS MICRORREGIÕES

DE ANÁPOLIS E GOIÂNIA -GOIÁS

Débora Pereira Garcia

Orientador: Profa. Dra. Andréa Caetano da Silva

GOIÂNIA

2005

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DÉBORA PEREIRA GARCIA

NEOSPOROSE BOVINA: PREVALÊNCIA, TRANSMISSÃO E DIAGNÓSTICO EM FETOS ABORTADOS, NAS MICRORREGIÕES DE

ANÁPOLIS E GOIÂNIA -GOIÁS

Área de Concentração:

Sanidade Animal

GOIÂNIA 2005

Dissertação apresentada para obtenção

do grau de Mestre em Ciência Animal

junto à Escola de Veterinária da

Universidade Federal de Goiás

Orientador: Profa. Dra. Andréa Caetano da Silva

Comitê de Orientação: Profa. Dra. Lígia Miranda Ferreira Borges

Prof. Dr. Dirson Vieira

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A Deus, meu esposo José Nilvan e minha família

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AGRADECIMENTOS

Durante o tempo em que estive desenvolvendo essa pesquisa, foram

muitas as pessoas e instituições que estiveram envolvidas, colaborando assim para

que hoje essa dissertação pudesse ser escrita. Espero que nessas próximas linhas

eu possa transmitir meus sinceros reconhecimentos e gratidão.

Em primeiro lugar devo agradecer a Deus por me haver criado e ter todos

os meus dias já escritos. Te agradeço Senhor, pelos meus sonhos que nasceram de

Seu coração e hoje parte deles já estão realizados, outros a caminho e outros estão

nascendo. Te agradeço Senhor, pela minha família e outras pessoas tão

maravilhosas que colocastes em meu caminho. Te agradeço pela tua criação, os

animais, concordo com o que está escrito em Gn. 1:25: “E fez Deus os animais

selváticos, segundo a sua espécie, e os animais domésticos, conforme a sua

espécie, e todos os répteis da terra, conforme a sua espécie. E viu Deus que isso

era bom”. Senhor, tudo é muito bom.

Meu especial agradecimento a minha orientadora Profa. Dra. Andréa

Caetano da Silva, pela sua enorme capacidade de trabalho, pela confiança em mim

depositada desde a graduação, por sua amizade, compreensão, paciência, e ajuda.

Obrigada Andréa, por estimular meu interesse pelos parasitos, seus hospedeiros e

ciclos; por me ensinar a pesquisar, e o mais importante, saber distinguir quem são

os verdadeiros professores e pesquisadores, e você com certeza, merece e se

enquadra nos títulos que tem. Tudo que eu tente escrever não poderia transmitir

minha gratidão e reconhecimento, só posso oferecer-te minha total dedicação como

aluna.

À Suzana, Cybelly e Natali; minhas companheiras de colheitas e

processamento de amostras, agradeço a vocês pelos momentos que passamos

juntas nas estradas e no laboratório, revezando horários. Trabalhar com vocês

realmente funcionou. Vocês têm futuro.

À professora Maria Lúcia, pessoa fantástica, verdadeira professora, por

sua inteira disposição, que não mede esforços em ajudar um aluno a crescer. Te

agradeço pelo espaço cedido no departamento de reprodução, pela impressora,

internet (você é show), cafeteira e bolachas, pelos bate - papos agradáveis pelo

Page 5: Débora Pereira Garcia

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corredor juntamente com o Prof. Benedito (que também não posso deixar de

mencionar), pelos momentos de descontração com o Miró, e por ser essa pessoa

maravilhosa e agradável de se conviver.

Aos produtores, veterinários, alunos e amigos de curso, que

proporcionaram colheitas de amostras e aquisição de conhecimentos. Sem vocês

dificilmente haveria essa dissertação.

Ao professor Guido e à companheira Paula, meu sincero reconhecimento

pela ajuda com PCR, e a todos da Escola de Veterinária da Universidade Federal de

Goiás que de certa forma estiveram envolvidos no desenvolvimento dessa

dissertação, digo todos porque não gostaria de deixar de citar a nenhuma das tantas

pessoas que fizeram possível a realização desse trabalho.

Ao professor Luis Miguel Ortega-Mora e aos amigos do Laboratório de

Sanidad Animal da Universidad Complutense de Madrid pela amizade e colaboração

constantes.

Ao CNPq pelo apoio financeiro tão necessário a um aluno de pós-

graduação.

A CAPES pelo auxílio financeiro no projeto de cooperação internacional

Brasil-Espanha, do qual este projeto faz parte.

E agora em um cantinho especial, separado com amor, quero agradecer

aos meus pais que desde cedo me incentivaram a estudar e não mediram esforços,

chegando a consumir sua juventude em trabalhos e preocupações para que nada

faltasse a mim e a meus irmãos, muito obrigado pai e mãe. Ao meu hoje esposo e

antes e eternamente namorado José Nilvan, que foi privado de minha companhia

enquanto eu estava em Goiânia e não se cansou de me buscar todos os finais de

semana para passarmos poucos momentos juntos, porém especiais. Te agradeço

por ser maravilhoso e encher-me de alegria a cada dia, me fazer crescer, por

compartilhar tudo, ser meu apoio e me deixar te amar e amar muito.

Meus sinceros agradecimentos...

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“Hoje o Deus compassivo em minhas mãos colocou

algo maravilhoso, e Deus seja louvado. A seu

mando, procurando seus segredos com lágrimas e

suor, encontro as ardilosas sementes da morte

genocida. Sei que esta pequena criatura milhões de

homens salvará - Ó morte, onde está teu veneno?

Ó lápide, e a tua vitória?”

Ronald Ross (20 de agosto de 1857, dia em que

descobriu o parasito da malária)

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SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO................................................................................................

2. REVISÃO DA LITERATURA..........................................................................

2.1.Situação taxonômica....................................................................................

2.2. Biologia do parasito....................................................................................

2.2.1 Hospedeiros..............................................................................................

2.2.2 Ciclo biológico...........................................................................................

2.3 Neosporose bovina......................................................................................

2.3.1 Prevalência de Neosporose bovina..........................................................

2.3.2 Transmissão vertical da neosporose........................................................

2.3.3 Fetos bovinos abortados...........................................................................

2.4 Diagnóstico..................................................................................................

3 OBJETIVOS....................................................................................................

3.1 Geral............................................................................................................

3.2 Específicos...................................................................................................

4 METODOLOGIA E ESTRATÉGIA DE AÇÃO.................................................

4.1 Determinação da taxa de prevalência da infecção por N. caninum em

bovinos das microrregiões de Anápolis e Goiânia, Goiás.................................

4.2 Propriedades e animais...............................................................................

4.3 Colheita de amostras...................................................................................

4.4 Detecção de anticorpos anti-Neospora caninum.........................................

4.5 Avaliação da transmissão vertical................................................................

4.6 Pesquisa de DNA de Neospora caninum em abortos bovinos ...................

4.7 Análise estatística........................................................................................

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................

5.1 Prevalência da infecção...............................................................................

5.2 Transmissão vertical....................................................................................

5.3 Pesquisa de DNA de Neospora caninum em abortos bovinos ...................

6 CONCLUSÕES...............................................................................................

7 REFERÊNCIAS..............................................................................................

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RESUMO

A prevalência de anticorpos anti-Neospora caninum em bovinos foi determinada em 21 fazendas das microrregiões de Anápolis e Goiânia, Goiás. Destas, 11 eram rebanhos leiteiros (Holandesa e cruzados Holandês-Zebu), nove rebanhos de corte (Nelore) e um rebanho de exploração mista (Simental). Foram colhidas 930 amostras individuais, de sangue venoso, em tubos tipo Vacutainer®, o soro obtido foi separado e mantido a -20ºC. As amostras de soro foram examinadas através da reação de imunofluorescência indireta (RIFI), usando taquizoítos do isolado NC-1 de N. caninum. Uma propriedade leiteira (Holandesas), sorologicamente positiva para N. caninum, situada no município de Nerópolis, foi selecionada para se avaliar a transmissão vertical, durante um ano. Amostras de sangue foram colhidas simultaneamente de 21 vacas, logo após o parto, e de seus bezerros, antes de ingerir o colostro. Os soros foram examinados pela RIFI. Tecidos fetais de três fetos abortados provenientes de Nerópolis, Inhumas e Anápolis foram examinados para a detecção de DNA de N. caninum, através da reação em cadeia da polimerase (Nested-PCR). Anticorpos anti-N. caninum foram observados em 283 (30,43%) das 930 amostras de sangue examinadas. Todas as fazendas foram positivas, com a prevalência para N.caninum variando de 10,3% a 89,7%. A prevalência para bovinos de corte foi de 29,61% (10,3% a 89,7%), para bovinos de leite 30,41% (14,5% a 83,3%) e para o rebanho de exploração mista, a prevalência encontrada foi de 43,33%. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os rebanhos de carne, leite e misto. A transmissão vertical foi verificada em cinco (62,5%) bezerros, filhos de vacas positivas. Três vacas positivas tiveram bezerros negativos. Todas as amostras de tecidos fetais examinadas foram negativas para DNA de N. caninum. Os resultados confirmaram que N. caninum está presente em diferentes tipos de população bovina das microrregiões de Anápolis e Goiânia, e que a transmissão vertical ocorre no rebanho selecionado. Palavras-chave: Neospora caninum, sorologia, prevalência, bovinos, transmissão

vertical

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ABSTRACT

The prevalence of antibodies anti-Neospora caninum in bovines was determined in 21 farms from Anápolis and Goiânia regions, in Goiás, Brazil. Out of these 11 were dairy farms (Holstein and crossbred Holstein-Zebu), nine had beef cattle (Nelore) and one was for mixed exploitation (Simental). Blood were collected from 930 animals, using Vacutainer tubes, and serum obtained were separated and stored at -20°C. Serum samples were examined by the immunofluorescent antibody technique (IFAT), using tachyzoites of the NC-1 Neospora caninum strain as antigen. One dairy herd (Holstein animals), serologically positive for N. caninum, from Nerópolis in the region of Goiânia, was selected to evaluate the vertical transmission, during one year. Blood samples were simultaneously collected from 21 cows, just after parturition, and their calves, before colostrum ingestion. Sera were examined using IFAT. Fetal tissues from three aborted fetuses from Nerópolis, Inhumas and, Anápolis were examined for detection of N. caninum DNA, using the polimerase chain reaction (Nested-PCR). Antibodies anti-N. caninum were found in 283 (30.43%) of the 930 blood samples examined. All the farms were positive, with prevalence for N. caninum varying from 10.3% to 89.7% of the examined animals. The prevalence for beef herds was 29.61% (10.3% to 89.7%), for dairy herds 30.41% (14.5% to 83.3%), and for the mixed herd, the prevalence was 43.3%.No statistically significant differences were found among animals from beef, dairy or mixed herds. Vertical transmission was found to occur in five (62.5%) calves from positive cows. Three positive cows had negative calves. All three fetal tissue samples examined were negative for N. caninum DNA. Serum samples of two cows which had aborted were negative for anti-Neospora caninum antibodies and, the last one was unknown, although the fetus came from a positive herd. Results confirmed that N. caninum is widespread in different types of bovine herds in the regions of Anápolis and Goiânia, and the vertical transmission occurred in the herd selected. Key-words: Neospora caninum, serology, prevalence, bovines, vertical transmission

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1 INTRODUÇÃO

A neosporose foi diagnosticada pela primeira vez em 1984, na Noruega,

como uma encefalopatia mortal em cães, que parecia estar associada a um parasito

similar a Toxoplasma gondii (BJERKAS & PRESTHUS, 1989). Entretanto, Neospora

caninum foi descrito pela primeira vez em 1988 por DUBEY et al., como causador de

processos neurológicos no cão, nos Estados Unidos (DUBEY et al., 1988 a e b) e

em 1989, como agente produtor de abortos e mortalidade neonatal em bovinos

(THILSTED & DUBEY, 1989). No início da década de 90, ANDERSON et al. (1991) e BARR et al. (1991) reconheceram

a neosporose como a principal causa de aborto em bovinos leiteiros da Califórnia. Desde então,

vários estudos sorológicos realizados demonstraram uma elevada prevalência em rebanhos e

individual, nas principais zonas produtoras do mundo, como Austrália, Canadá, Dinamarca, Reino

Unido, Israel, Japão, México, (DUBEY & LINDSAY, 1996; DAVISON et al., 1999 a).

Em relação a prevalência encontrada no Brasil, BRAUTIGAN et al. (1996) encontraram

15% de anticorpos anti-N. caninum em bovinos de leite do estado de São Paulo e 8% em bovinos de

corte do Mato Grosso do Sul. GONDIM et al. (1999a; 1999b) descreveram o encontro de 60% de

anticorpos em uma propriedade de bovinos de leite com antecedentes de aborto em Natal e 14,0%

em bovinos de leite na Bahia. Em Minas Gerais foi encontrado 18,4% de anticorpos anti-N. caninum

em bovinos de leite (MELO et al., 2004). No Rio Grande do Sul e Paraná verificou-se a prevalência de

11,2% e 14,3% de anticorpos anti-N. caninum, respectivamente em bovinos de leite (CORBELLINI et

al., 2002; GUIMARÃES et al., 2004).

Em Goiás, onde os problemas reprodutivos são freqüentes, a presença da

Neosporose não tem sido avaliada, colocando em evidência a necessidade de

estudos regionais sobre o tema levando em consideração impacto econômico dessa

enfermidade, uma vez que qualquer causa que altere a planificação da reprodução e

os índices reprodutivos normais, deve ser detectada e corrigida, para que a sua

repercussão nos resultados econômicos seja mínima.

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Situação taxonômica

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Estudos de morfologia através da microscopia eletrônica demonstraram que N. caninum

possui estrutura celular típica de parasitos do filo Apicomplexa, classe Sporozoea, subclasse

Coccidia, ordem Eucoccidia, subordem Eimeriina e família Sarcocystidae, junto com os gêneros

Toxoplasma, Sarcocystis, Hammondia e Besnoitia (DUBEY et al., 1988a; ELLIS et al., 1994). Os

integrantes da família Sarcocystidae se caracterizam por apresentarem ciclo biológico heteroxeno e

formarem cistos no hospedeiro intermediário. Todos eles têm como hospedeiros intermediários

diferentes espécies de herbívoros ou onívoros e como hospedeiros definitivos, carnívoros. Os

hospedeiros definitivos, com exceção do Sarcocystis; eliminam através das fezes oocistos sem

esporular, os quais, depois de esporular no meio ambiente apresentam em seu interior dois

esporocistos com quatro esporozoítos cada um. Cabe destacar quatro espécies estreitamente

relacionadas: N. caninum, T. gondii, Hammondia hammondi e Hammondia heydorni, cujos oocistos

têm um tamanho similar. Entretanto, estas espécies apresentam diferenças tanto biológicas como

estruturais que justificam a existência do gênero Neospora. O emprego de provas sorológicas

específicas permitiu diferenciar N. caninum de outras espécies graças a sua diferente composição

antigênica. Além disso, o cão é o hospedeiro definitivo de N. caninum e H. heydorni, enquanto que o

gato é o hospedeiro definitivo de T. gondii e H. hammondi (DUBEY et al., 2002a, 2002b).

Também se destacam as diferenças ultra-estruturais dos cistos e taquizoítos existentes

entre estas espécies. Os cistos de N.caninum apresentam uma parede cística mais espessa que os

de T. gondii e H. heydorni (SPEER et al., 1999). Vale ressaltar que a presença, localização e o

número de determinadas organelas no citoplasma dos taquizoítos diferem nos três gêneros

mencionados. A presença de um grande vacúolo perto do conóide determina H. heydorni,

característica que é ausente em N. caninum. Além disso, N. caninum possui mais micronemas que H.

heydorni (SPEER & DUBEY 1989; DUBEY et al., 2002b).

Finalmente, estudos sobre as seqüências genéticas e as relações filogenéticas

existentes entre esses três gêneros comprovaram o fato de N. caninum, T. gondii y H. heydorni serem

espécies diferentes (ELLIS et al., 1999b, MUGRIDGE et al., 1999; MUGRIDGE et al., 2000).

2.2 Biologia do parasito

2.2.1 Hospedeiros

A infecção natural por N. caninum foi descrita, além do cão e bovinos, em caprinos,

ovinos, eqüinos e, recentemente, no búfalo e no camelo. A infecção experimental foi estabelecida em

camundongos, gerbo, gato, cão, coiote, bovinos, ovinos e caprinos, macacos, suínos e em diversas

espécies de pássaros. O papel de cada uma dessas espécies hospedeiras no ciclo biológico do

parasito e sua importância em relação com a transmissão da infecção não estão totalmente

esclarecidos (ÁLVAREZ - GARCIA, 2003).

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2.2.2 Ciclo biológico

Até o ano de 1988 não se conheciam algumas espécies hospedeiras implicadas no ciclo

biológico de N. caninum e a única via de transmissão demonstrada era a transplacentária. Os estudos

experimentais de McALLISTER et al. (1998) foram definitivos no conhecimento da biologia desse

parasito, já que demonstraram o papel do cão como hospedeiro definitivo de N. caninum, e, assim o

modo de transmissão horizontal. O ciclo biológico de N. caninum está representado na Figura 1.

Como foi mencionado anteriormente, ocorrem três estágios no ciclo biológico de N.

caninum, o taquizoíto, o cisto com bradizoítos em seu interior e o oocisto. Os taquizoítos,

responsáveis pela fase aguda da infecção, podem invadir uma grande variedade de tipos celulares no

hospedeiro parasitado, incluindo macrófagos, neutrófilos, células nervosas, hepatócitos, fibroblastos,

miócitos e células endoteliais dos vasos sanguíneos e renais. Nos cães infectados que apresentam

quadros de paresia, os taquizoítos se encontram com freqüência na musculatura esquelética,

isolando-se facilmente do músculo quadríceps (DUBEY et al., 1988b; BJERKAS & PRESTHUS, 1989;

SPEER & DUBEY, 1989).

Neospora caninum é um parasito intracelular obrigatório, logo o reconhecimento da

célula hospedeira é um requisito necessário para que consiga invadir e se multiplicar. Os taquizoítos

penetram na célula hospedeira mediante invasão ativa em menos de cinco minutos, localizando-se no

interior de um vacúolo parasitóforo no citoplasma. O fenômeno de invasão foi amplamente estudado

em cultivos celulares e consiste em prévio reconhecimento e adesão à célula hospedeira. No interior

do vacúolo parasitóforo os taquizoítos se multiplicam mediante endodiogenia, podendo uma célula

conter mais de 100 taquizoítos. Após a ruptura celular, os taquizoítos saem para o meio extracelular e

em poucas horas iniciarão os mecanismos de adesão e invasão de novas células. A destruição

celular e, em seguida, a ocorrência de manifestações clínicas depende de um equilíbrio entre a

habilidade do taquizoíto para penetrar e multiplicar-se na célula hospedeira e a habilidade do

hospedeiro para inibir a multiplicação do parasito (HEMPHILL et al., 1996).

A descoberta dos cistos teciduais com bradizoítos em seu interior, responsáveis pela

fase crônica da infecção, foi de grande importância epidemiológica para compreensão do papel do

hospedeiro intermediário. Esses são observados tanto em tecido nervoso (cérebro, medula espinhal,

nervos periféricos e retina) de diversas espécies com infecções naturais e experimentais (DUBEY et

al., 1988b; KOBAYASHI et al., 2001), como no tecido muscular esquelético do cão e de bovinos com

infecção natural (PETERS et al., 2001). Nos cistos, os bradizoítos conservam sua capacidade

infectante durante períodos de tempo prolongados (um ano no cérebro de camundongos com

infecção experimental) e são resistentes à ação do HCl e à pepsina, o que colabora com a hipótese

demonstrada de que o hospedeiro definitivo é um carnívoro (LINDSAY & DUBEY, 1990).

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FIGURA 1: Ciclo biológico de N. caninum (DUBEY 1999)

Os mecanismos implicados na conversão do taquizoíto em bradizoíto, e, portanto na

passagem de uma fase de infecção aguda a uma crônica, têm sido objeto de estudo na atualidade.

A neosporose bovina tem sido considerada como uma enfermidade parasitária de

distribuição cosmopolita e uma das causas mais freqüentes de falhas reprodutivas nos diversos

países onde se tem estudado (GONZÁLES et al., 1999; TREES et al., 1999). A manifestação clínica

mais importante da infecção é o aborto, que pode apresentar-se de forma esporádica, endêmica ou

epidêmica geralmente, entre o 3° e o 9° mês de gestação, sendo mais freqüente em torno de 5-6

meses. Os bezerros afetados que nascem vivos costumam apresentar problemas neuromusculares,

aparecendo os primeiros sinais clínicos aos 4-5 dias pós-parto. Também pode haver o nascimento de

bezerros clinicamente sadios, mas cronicamente infectados.

Em relação à transmissão da doença, estudos indicam a pequena importância pós-natal,

mas a infecção congênita é persistente durante toda a vida do animal (DAVISON et al., 1999b;

HIETALA & THURMOND, 1999). A transmissão congênita tem um papel preponderante com

percentagens que oscilam entre 50 e 95% (WOUDA et al., 1997; SCHARES et al., 1998). A via

transplacentária é o mecanismo principal de transmissão em várias espécies, como o cão, bovino

(BARR et al., 1993; PARÉ et al., 1997) e eqüinos (LINDSAY et al., 1996). Outros métodos de

transmissão vertical, como a transmissão da mãe ao bezerro pelo leite ou colostro, são possíveis

(UGGLA et al., 1998), ainda que até o momento não se tenha demonstrado em bovinos naturalmente

infectados.

Transmissão vertical

Feto infectado

Transmissão horizontal

Hospedeiros Intermediários

Ingestão pelo hospedeiro

intermediário

Oocisto esporulado

Cistos ingeridos pelo cão

Cão Hospedeiro Definitivo

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A transmissão horizontal, não demonstrada durante mais de uma década, foi confirmada

através da eliminação fecal de oocistos sem esporular em cães experimentalmente infectados com

tecidos de camundongos contendo cistos de N. caninum. McALLISTER, et al. (1998) comprovaram

que os oocistos eliminados esporulavam no meio ambiente transcorridas 48-72 horas.

2.3 Neosporose bovina

Ainda que, inicialmente, a neosporose tenha sido descrita como uma enfermidade

neuromuscular grave no cão, o descobrimento de N. caninum como agente causal de aborto em

bovinos de leite e de corte impulsionou o desenvolvimento dos primeiros estudos sobre essa doença

nessa espécie. Desde então, a importância da neosporose bovina aumentou consideravelmente,

tendo sido realizados numerosos trabalhos para conhecer a prevalência real da infecção e a

participação de N. caninum no aborto e na mortalidade neonatal. A neosporose é a principal causa de

abortamentos em bovinos em numerosos países originando perdas econômicas significativas,

incluindo custos diretos com alteração dos parâmetros reprodutivos e custos indiretos com

diagnóstico, reposição dos animais que abortam, e alteração dos parâmetros produtivos. Não

obstante, em alguns países, a informação é ainda escassa, os dados referem unicamente a

descobertas esporádicas do agente etiológico, ou das lesões que ele origina nos fetos abortados. São

necessários mais estudos epidemiológicos que permitam conhecer a prevalência, os fatores de risco

associados a importância real, tanto econômica quanto sanitária, da enfermidade (DUBEY, 1999;

JENKINS et al., 2002).

2.3.1 Prevalência de Neosporose bovina

São relativamente numerosos os estudos de prevalência da infecção por N. caninum em

bovinos adultos, nos quais se obtiveram taxas de soroprevalência muito variadas. Além das

diferenças inerentes ao tipo de técnica de diagnóstico utilizada (Reação de imunofluorescência

indireta/Ensaio imunoenzimático), em geral se observam diferenças importantes entre as taxas de

soropositividade obtidas em diversos países, em bovinos de leite e de corte e em animais com e sem

antecedentes de patologia abortiva. SAGER et al. (2003) afirma que uma prevalência baixa de

anticorpos anti-N. caninum é um indicador de aborto crescente.

Na Europa, as taxas de soroprevalência observadas através da RIFI em bovinos de leite

oscilaram entre 4,1% na Alemanha (CONRATHS et al., 1996), 12,6% na Irlanda do Norte (McNAMEE

et al., 1996), 29% na Suécia (BJÖRKMAN et al., 1996), 83,2% na Espanha (QUINTANILLA-GOZALO

et al., 1999) e 24,3% na Itália (MAGNINO et al., 2000).

Na América, também em bovinos de leite, foram mencionadas prevalências através de

ELISA de 36% nos EUA (PARÉ et al., 1996), 16,6% no Canadá (PARÉ et al., 1998) e, através da

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14

RIFI, em rebanhos leiteiros no Chile (PATITUCCI et al., 2000), Peru (RIVERA et al., 2000), Argentina

(MOORE et al., 2002), e Uruguai (KASHIWAZAKI et al., 2004), com resultados variando entre 22,4%,

62,1%, 43,1% e 56,7% respectivamente.

GENNARI (2004) cita que no Brasil, as primeiras descrições da presença de anticorpos

anti-N. caninum foram feitas em bovinos e descritas em resumos de congressos, com informações

reduzidas, mas que possuem um valor histórico, por demonstrarem, pela primeira vez, a existência do

agente em nosso meio. BRAUTIGAN et al. (1996), através de ELISA, encontraram 15% de anticorpos

anti-N. caninum em bovinos de leite do estado de São Paulo e 8% em bovinos de corte do Mato

Grosso do Sul. GONDIM et al. (1999a; 1999b) descreveram, através da RIFI, o encontro de 60% de

anticorpos anti-N. caninum em uma propriedade de bovinos de leite com antecedentes de aborto em

Natal e 14,0% em bovinos de leite na Bahia. Em Minas Gerais foi encontrado através de ELISA

18,4% de anticorpos anti-N. caninum em bovinos de leite (MELO et al., 2004). No Rio Grande do Sul

e Paraná soros de bovinos de leite foram submetidos a RIFI verificando-se a prevalência de 11,2% e

14,3% de anticorpos anti-N. caninum, respectivamente (CORBELLINI et al., 2002; GUIMARÃES et al.,

2004).

A presença de N. caninum em rebanhos bovinos de corte não é tão relatada quanto em

rebanhos leiteiros (WALDNER et al., 1998; McALLISTER et al., 2000; COLLANTES-FERNANDEZ,

2003). MOORE et al. (2003) encontraram uma prevalência de 20,3%, através da RIFI, em um

rebanho com antecedente de aborto na Argentina. Também foram feitos estudos de prevalência de N.

caninum em rebanhos de corte, através de RIFI, na Bélgica (14%) e Coréia (4,1%) (De

MEERSCHMAN et al., 2000; KIM et al., 2002). Outros estudos utilizando-se da técnica de ELISA

realizados na França (KLEIN et al., 1997), Canadá (WALDNER et al., 1999), Espanha

(QUINTANILLA-GOZALO et al., 1999) e EUA (SANDERSON et al., 2000) obtiveram a prevalência de

anticorpos anti-N.caninum de 4,1%, 9,0%, 17,9% e 16,0%, respectivamente.

2.3.2 Transmissão vertical da neosporose A transmissão vertical transplacentária é o principal modo de infecção no rebanho bovino

e parece ter um papel relevante na propagação e manutenção da enfermidade (BJÖRKMAN et al.,

1996; PARÉ et al., 1996; ANDERSON et al., 1997; SCHARES et al., 1998). A ausência de variações

nas taxas de prevalência entre os distintos grupos de idade em um rebanho e a detecção de

anticorpos pré-colostrais frente a N. caninum no soro de bezerros nascidos de vacas soropositivas,

indicam a presença da infecção congênita e a importância relativamente escassa da transmissão pós-

natal (DAVISON et al., 1999b; HIETALA & THURMOND, 1999). Uma vez adquirida a infecção (intra-

uterina ou pós-natal), os animais permanecem infectados provavelmente por toda vida e podem

transmitir a infecção à sua descendência em distintas gestações, consecutivas ou não, com

porcentagens que oscilam entre 50% e 95% (PARÉ et al., 1996; SCHARES et al., 1998; WOUDA et

al., 1998; DAVISON et al., 1999b; PEREIRA-BUENO et al., 2000). A transmissão vertical

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15

transplacentária se produz tanto em animais em que não se observa patologia abortiva, como

naqueles que abortaram (DUBEY & LINDSAY, 1996).

A transmissão do parasito da mãe ao bezerro pelo colostro ou leite pode ocorrer, ainda

que até agora só tenha sido demonstrada experimentalmente e não é considerada importante desde

o ponto de vista epidemiológico (UGGLA et al., 1998; DAVISON et al., 2001).

HIETALA & THURMOND (1999) em um estudo desenvolvido em rebanho leiteiro na

Califórnia, monitorado sorologicamente através de ELISA, descreveram que de 456 bezerros

examinados, antes de ingerir o colostro, 172 (37,7%) eram N. caninum positivos. Em estudo feito na

Califórnia (PARÉ et al., 1996) foram encontrados 30,6% e 53,5% de bezerros, infectados

congenitamente por N. caninum, em duas propriedades leiteiras. No Reino Unido, DAVISON et al.

(1999b) encontraram em rebanho leiteiro, também através de ELISA, uma percentagem de

transmissão vertical de 95,2%. SCHARES et al. (1998) encontraram uma taxa de transmissão vertical

de 93% na Alemanha, em animais pertencentes a famílias positivas.

2.3.3 Fetos bovinos abortados Neospora caninum foi identificado em fetos abortados, tanto em gado de leite quanto de

corte, em países dos cinco continentes. Além disso, a infecção foi identificada em casos de aborto

endêmico, esporádico e em surtos de abortos epidêmicos em bovinos de leite e de carne. A

neosporose é considerada como uma das causas principais de aborto e a taxa de prevalência da

infecção por N caninum observada em fetos bovinos abortados enviados para diagnóstico e/ou

utilizados em estudos epidemiológicos em distintos países é muito variável, sendo observada uma

maior prevalência em propriedades com problemas prévios de aborto (ÁLVAREZ-GARCIA, 2003).

Na Europa alguns estudos sobre a prevalência da infecção por N. caninum em fetos

bovinos abortados foram desenvolvidos. Na Bélgica (De MEERSCHMAN et al., 2002), Espanha

(PEREIRA-BUENO et al., 2003) e Suíça (SAGER et al., 2001) foram verificados, através da histologia

convencional, percentuais de prevalência de N. caninum de 7,6%, 31,3%, 19,4% de fetos abortados,

respectivamente. Ainda na Europa, foram encontradas prevalências de infecção por N. caninum,

através de PCR, de 29% na Suíça (GOTTSTEIN et al., 1998), 15,3% na Espanha (PEREIRA-BUENO

et al., 2003) e 21,1% na Coréia (KIM et al., 2002). Na América os índices da infecção por N. caninum

em fetos bovinos abortados oscilam entre 16% (IHQ) nos EUA (BARR et al., 1991), 11,4% (IHQ) no

Canadá (PARÉ et al., 1998) e 22,8% (HC) na Argentina (MOORE et al., 2002).

No Brasil, Neospora caninum foi identificado pela primeira vez em feto abortado,

proveniente de uma exploração leiteira, onde foi encontrada uma prevalência sorológica de 14,0%

(GONDIM et al., 1999a). CORBELLINI et al., (2000; 2002) verificaram através de histologia

convencional que 10% e 47,8% dos fetos bovinos abortados, enviados para exame na Faculdade de

Veterinária da UFRGS possuiam lesões características de infecção por N. caninum.

Page 17: Débora Pereira Garcia

16

2.4 Diagnóstico

O isolamento e cultivo in vitro de N. caninum conduziram ao desenvolvimento da prova

de imunofluorescência indireta (RIFI) para o diagnóstico sorológico da neosporose (DUBEY et al.

1988b), e um ano mais tarde, LINDSAY & DUBEY (1989) desenvolveram a prova de

imunohistoquímica (IHQ) para a detecção do parasito em tecidos de animais infectados. O

diagnóstico da neosporose é baseado na detecção de anticorpos específicos na população adulta

(BJÖRKMAN & UGGLA, 1999) e visualização de lesões características no cérebro, coração e fígado

de fetos abortados, combinado com exames de IHQ de tecidos positivos (ANDERSON, et al., 1991;

BARR et al., 1990; GONZÁLES et al., 1999) e sorologia fetal (BARR et al., 1995; BUXTON et al.,

1998; PARÉ et al., 1995).

A RIFI é empregada no diagnóstico da infecção e em estudos epidemiológicos em um

grande número de espécies, incluindo o cão, gato, bovinos, caprinos, ovinos e diversas espécies de

roedores e primatas, tendo sido considerada como técnica de referência (“gold standard”) em

neosporose, com a qual têm sido comparadas outras técnicas sorológicas (ÁLVAREZ-GARCIA,

2003). Esta técnica detecta, fundamentalmente, anticorpos que se unem a antígenos localizados na

superfície celular de N. caninum.

Os pontos de corte empregados na RIFI podem variar entre os diferentes laboratórios.

Em relação à sorologia bovina, se empregam pontos de corte distintos em função da idade. Na

sorologia fetal, o ponto de corte varia de 1:50 até 1:80. Em bovinos adultos, já foram empregados

pontos de corte que oscilam entre 1:200 e 1:640 (SILVA, 2004). De acordo com ATKINSON et al.

(2000), o padrão da RIFI varia quando se analisam soros com títulos baixos, reduzindo-se

consideravelmente a fluorescência ou ficando esta, restrita à parte apical do taquizoíto. Esses

resultados devem ser interpretados com cautela, uma vez que a fluorescência apical também pode

aparecer como resultado de reações cruzadas com outros coccídios, como Eimeria spp e

Toxoplasma gondii, que contêm epitopos comuns a N. caninum, associados ao complexo apical.

A imunohistoquímica é uma técnica relativamente pouco sensível para detectar o

parasito em tecidos do hospedeiro devido ao baixo número de parasitos, e algumas vezes, à baixa

qualidade do tecido fetal, que pode estar autolisado, mumificado ou macerado (BASZLER et al.,

1999, DUBEY, 1999). Como alternativa a estes problemas, vários métodos baseados em Reação em

Cadeia da Polimerase (PCR) têm sido desenvolvidos nos últimos anos, visando à região ITS1 do

parasito (PAYNE & ELLIS, 1996) e a seqüência Nc-5 específica de Neospora (KAUFMANN et al.,

1996), com diferentes modificações, como nested ou semi-nested PCR, na intenção de aumentar a

sensibilidade e especificidade da técnica (BASZLER et al., 1999; ELLIS, 1998, ELLIS et al., 1999a).

As técnicas de diagnóstico baseadas em PCR têm sido muito utilizadas na detecção do parasito em

fetos bovinos abortados (GOTTSTEIN et al., 1998; BASZLER et al., 1999; ELLIS et al., 1999a;

SCHOCK et al., 2000; COLLANTES-FERNÁNDEZ et al., 2002).

Page 18: Débora Pereira Garcia

17

3 OBJETIVOS 3.1 Geral

• Estudar os aspectos da epidemiologia e transmissão de N. caninum em bovinos.

3.2 Específicos

• Determinar a prevalência de infecção por N. caninum em bovinos taurinos e zebuínos,

das microrregiões de Anápolis e Goiânia, Goiás, através da técnica de

Imunofluorescência Indireta.

• Avaliar a transmissão vertical de Neospora caninum em um rebanho bovino leiteiro, de

Nerópolis, microrregião de Goiânia, Goiás.

• Verificar a presença de DNA de Neospora caninum em tecidos de fetos bovinos

abortados, em propriedades das microrregiões de Anápolis e Goiânia, Goiás.

Page 19: Débora Pereira Garcia

18

4 METODOLOGIA E ESTRATÉGIA DE AÇÃO

4.1 Determinação da taxa de prevalência da infecção por N. caninum em bovinos das microrregiões de Anápolis e Goiânia, Goiás.

4.2 Propriedades e animais

Foram visitadas 21 propriedades, selecionadas ao acaso, localizadas nas microrregiões

de Anápolis e Goiânia, Goiás (Figura 2). Destas, 11 eram rebanhos leiteiros (animais da raça

Holandesa e cruzados Holandês-Zebu), nove rebanhos de corte (raça Nelore) e um rebanho de

exploração mista (raça Simental), situadas nos municípios de Anápolis (três propriedades), Inhumas

(três propriedades), Goiânia (três propriedades), Nerópolis (duas propriedades), Itaguarí (duas

propriedades), Caturaí (uma propriedade), Itaberaí (duas propriedades), Jaraguá (uma propriedade),

Terezópolis (uma propriedade), Guapó (duas propriedades) e Hidrolândia (uma propriedade).

FIGURA 2- Localização das microrregiões de Anápolis e Goiânia, Goiás (IBGE, 2003).

Um número mínimo de 289 amostras necessárias para se calcular a prevalência de N.

caninum nas microrregiões de Goiânia e Anápolis foi estabelecido, para uma população bovina de

1.528.532 animais, das microrregiões de Goiânia e Anápolis (IBGE, 2003), através do programa Win

Episcope 2.0 (BLAS et al., 2000), com margem de confiança de 95%, erro de 5%, e prevalência

esperada de 25%.

Microrregião de Anápolis Microrregião de Goiânia

Page 20: Débora Pereira Garcia

19

4.3 Colheita de amostras

Foram colhidas 930 amostras individuais, de sangue venoso, por punção da veia

coccígea, em tubos tipo Vacutainer®, sem anticoagulante. Os tubos foram levados ao laboratório de

Parasitologia Veterinária, na Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás, para obtenção

de soro, que foi separado por centrifugação. De cada amostra, foram feitas duas alíquotas de soro,

que foram identificadas e mantidas a –20ºC, em tubos tipo Eppendorf de 1,5 mL, até o momento do

exame.

4.4 Detecção de anticorpos anti-Neospora caninum

A detecção de anticorpos anti- N.caninum foi feita utilizando-se a reação de

imunofluorescência indireta (RIFI). Como antígenos foram empregados taquizoítos inteiros cultivados

em células Vero, do isolado NC-1 de N. caninum, cedidos pelo Dr. Luis Miguel Ortega-Mora, da

Universidad Complutense de Madrid. Os taquizoítos foram utilizados como substrato antigênico em

lâminas demarcadas, para próprias para RIFI (Cultek®). A reação foi realizada de acordo com

ÁLVAREZ-GARCIA et al. (2002).

Resumindo, sete microlitros de uma suspensão de 107 de taquizoítos fixados em

formalina 10%, foram depositados em cada área demarcada da lâmina de imunofluorescência com 18

círculos, de quatro milímetros de diâmetro cada. Posterior à secagem da lâmina ao ar, fixou-se com

acetona durante 20 minutos a -20°C.

Depois da fixação, foi acrescentado o soro a ser pesquisado, diluído em PBS (10

µl/círculo). As lâminas foram incubadas por 30 minutos a 37°C em uma câmara úmida.

Posteriormente, foram lavadas duas vezes com PBS (pH 7,2) e duas vezes com água destilada

(cinco minutos cada vez). Depois de secas, foi adicionado o conjugado antibovino (Sigma®) na

diluição de 1:150 em PBS-azul de Evans (0,2%) e as lâminas foram então incubadas em estufa, a

37°C, em câmara úmida, durante meia hora. Novamente as lâminas foram lavadas duas vezes com

PBS e água destilada, durante cinco minutos cada vez. Logo após as lâminas secarem, à

temperatura ambiente, se procedeu à montagem das mesmas, com glicerina tamponada e lamínula.

As lâminas foram examinadas em microscópio equipado com luz fluorescente, objetiva de 40x

(Olympus PX 41).

Em todas a lâminas examinadas foram adicionados controles positivos e negativos,

constituídos por soros de bovinos previamente examinados por RIFI e Western Blotting, provenientes

da Universidade Complutense de Madrid. A reação foi considerada positiva quando foi observada

fluorescência, em toda parede do taquizoíto, em uma diluição do soro ≥ 1:250.

4.5 Avaliação da transmissão vertical

Page 21: Débora Pereira Garcia

20

Das propriedades avaliadas anteriormente uma, de rebanho leiteiro de

vacas holandesas, localizada no município de Nerópolis e sorologicamente positiva,

foi acompanhada por um período de um ano. Foram colhidas amostras de sangue,

para obtenção de soro, de 21 vacas no momento do parto e de suas crias, antes da

ingestão do colostro, para a verificação da ocorrência de transmissão vertical de N.

caninum.

O soro sanguíneo de cada animal foi identificado, foram feitas alíquotas e

foram mantidos à temperatura de -20º C, até o momento do exame. Os soros foram

examinados através da RIFI, conforme descrito anteriormente.

4.6 Pesquisa de DNA de Neospora caninum em abortos bovinos

Três fetos abortados, provenientes de três criatórios acompanhados

sorologicamente, situados em Nerópolis, Anápolis e Inhumas, foram trazidos para o

laboratório de Parasitologia Veterinária da Escola de Veterinária da UFG. De cada feto foi colhida uma amostra de tecido de cérebro, coração e fígado para a de

detecção de DNA de N. caninum, utilizando-se a reação em cadeia da polimerase (PCR).

Foi feita a extração de DNA genômico dos fragmentos de tecidos fetais, após tratamento

com Proteinase K, utilizando-se um kit comercial (GenomicPrepTM cells and Tissue Isolation Kit).

A técnica utilizada foi nested-PCR da região ITS1 de N. caninum, feita

com quatro diferentes oligonucleotídeos, como descrita por BUXTON et al. (1998).

O mix utilizado para a primeira reação continha 5,0µL de DNA a ser

testado, 10,375µL de água ultrapura estéril (DNase/RNase-Free Distilled Water –

Invitrogen), 2,5µL de tampão 10x (PCR buffer 10X Invitrogen), 1,0µL de Cloreto de

magnésio (MgCl2) 50 mM (Invitrogen), 0,5µL de dNTPs 10 mM (Amersham

Biosciences), 2,5µL de primers NN1 (2µM) e 2,5µL de NN2 (2µM), e 0,625µL de Taq

Polimerase (Invitrogen). A segunda reação foi realizada para um volume final de

25µl, realizado da mesma forma descrita anteriormente, com a diferença que nessa

reação foram empregados 2,5µL de NP1 (2 µM), 2,5µL NP2 (2 µM) e 2 µl do produto

da primeira reação. A seqüência dos oligonucleotídeos específicos para o gen ITS1

ribossomal está representada no Quadro 1.

Page 22: Débora Pereira Garcia

21

QUADRO 1: Seqüência dos oligonucleotídeos utilizados nas reações de Nested

PCR

Primeira amplificação Segunda amplificação

Oligonucleotídeos externos 5’-3’ Oligonucleotídeos internos 5’-3’

NN1 TCA-ACC-TTT-GAA-TCC-CAA NP1 TAC-TAC-TCC-CTG-TGA-GTT-G

NN2 CGA-GCC-AAG-ACA-TCC-ATT NP2 TCT-CTT-CCC-TCA-AAC-GCT

As reações de Nested PCR foram feitas em tubos de 0,2 mL em um

termociclador (Mastercycler personal Eppendorf), segundo as condições descritas

no Quadro 2.

QUADRO 2- Condições utilizadas nas reações de PCR da região ITS1.

Primeira Reação Segunda Reação

1 ciclo 25 ciclos 1 ciclo

94ºC/5 min

94ºC/1 min 48ºC/1 min 72ºC/1 min

72ºC/5 min 4ºC/manutenção

25 ciclos

1 ciclo

94ºC/30 s48ºC/30 s72ºC/30 s

72ºC/5 min4ºC/manutenção

Em todas reações utilizou-se com controle positivo DNA obtido de

taquizoítos de N. caninum e como controle negativo água ultrapura estéril.

Os produtos obtidos pela amplificação de DNA foram submetidos à

eletroforese em gel de agarose (Agarose NA – Amersham Biosciences) a 1,5%, em

cuba de eletroforese Horizon® 11.14 (Life Technologies).

Um volume de 10 µL dos produtos de PCR foi aplicado no gel ao lado do

marcador de massa molecular de 100 pb (DNA Ladder 100 pb – Invitrogen),

previamente homogeneizados com 2,5 µL de corante de corrida (25% Ficoll 400,

0,25% azul de bromofenol, 0,25% xileno cianol em 9 partes de glicerol).

Após a eletroforese, o gel foi transferido para um recipiente contendo 200

mL de brometo de etídio em solução a 0,4 µg/mL, e depois foi transferido para água

destilada para remoção do excesso do brometo de etídio.

Page 23: Débora Pereira Garcia

22

As leituras foram realizadas sob luz ultravioleta em transiluminador

(Eletronic UV. Transilluminator, LabTrade), em sala escura, esperando-se visualizar

um fragmento de 279 pb.

4.7 Análise estatística

A análise estatística dos resultados de prevalência obtidos, relacionando o

tipo de exploração e a categoria animal foi feita pelo teste do Chi-quadrado (x2),

utilizando o programa estatístico Epi Info v.3.3 (CENTERS FOR DISEASE

CONTROL AND PREVENTION, 2004).

Page 24: Débora Pereira Garcia

23

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Prevalência da infecção

Foram encontrados anticorpos anti-N. caninum em 283 (30,43%) das 930 amostras de

soros examinados através da técnica de imunofluorescência indireta (Tabela 1). Todas as

propriedades examinadas foram positivas para N. caninum, com prevalências entre 10,3% e 89,7%. A

prevalência individual variou de 10,3% a 89,7% nas propriedades de corte, de 14,5% a 83,3% nas

propriedades de leite e foi de 43,3% na propriedade de exploração mista.

TABELA 1- Soroprevalência de anticorpos anti-N. caninum em bovinos de rebanhos de leite, corte e

misto realizada pela RIFI em 21 propriedades das microrregiões de Anápolis e Goiânia -GO, no

período de 2002-2003. (RIFI ≥ 1: 250)

APTIDÃO POSITIVOS NEGATIVOS PREVALÊNCIA (RIFI)

CORTE 135 321 29,61%

LEITE 135 309 30,41%

MISTO 13 17 43,33%

TOTAL

283

647

30,43%

RIFI: reação de imunofluorescência indireta

São escassos os estudos de prevalência de N. caninum no estado de Goiás e a

observação de 30,43% animais soropositivos para N. caninum indica que a neosporose pode ser uma

causa importante de abortamentos em bovinos das microrregiões de Goiânia e Anápolis.

Em nosso trabalho não foi encontrada diferença estisticamente significativa (p≤ 0,05)

entre vacas e novilhas. Devemos ressaltar que o número de amostras colhidas em vacas foi superior

ao número de amostras em novilhas uma vez que, dos 283 animais positivos para N. caninum, 268

(95,5%) eram vacas e 15 (4,5%) eram novilhas (Tabela 2).

Considerando a diferença de aptidão entre os rebanhos como um fator de risco potencial

associado à infecção por N.caninum, nesse experimento não foram encontradas diferenças

estatisticamente significativas (p≤0,05) em relação à percentagem de animais com sorologia positiva

entre os rebanhos de leite (30,41%) e carne (29,61%); leite (30,41%) e misto (43,30) e carne

(29,61%) e misto (43,33%); (Tabela 2).

Page 25: Débora Pereira Garcia

24

Em relação à aptidão leiteira e de corte, esses resultados diferem da afirmação feita por

PARÉ et al. (1998), que a infecção por N. caninum é diagnosticada com maior freqüência nos

rebanhos de raças de aptidão leiteira, que nos de raças de aptidão de corte, apesar de não haverem

comprovado a existência de uma maior sensibilidade à infecção das raças bovinas de aptidão leiteira.

Por outro lado ÁLVAREZ-GARCIA (2003) afirma que existe uma maior freqüência de neosporose em

rebanhos de leite devido às condições mais adequadas dessas explorações para a transmissão da

infecção, uma vez que, no rebanho leiteiro, em muitos casos, a reposição se realiza com animais da

propriedade, já que a infecção se transmite, principalmente, por via transplacentária.

TABELA 2- Soroprevalência anticorpos anti-N. caninum realizada pela RIFI, em vacas e novilhas de

rebanhos bovinos de leite, corte e misto, em 21 propriedades das microrregiões de Anápolis e Goiânia

-GO, no período de 2002-2003.

VACAS NOVILHAS APTIDÃO POSITIVO (%) NEGATIVO (%) POSITIVO (%) NEGATIVO (%)

LEITE 121 (30,0%) 282 (70,0%) 14 (34,1%) 27 (65,9%)

CORTE 134 (29,5%) 321 (70,5%) 1 (100%) 0

MISTO 13 (43,3%) 17 (56,7%) 0 0

TOTAL

268 (30,2%)

620 (69,8%)

15 (35,7%)

27 (64,3%)

RIFI: imunofluorescência indireta

A ausência de diferenças estatisticamente significativas em relação ao tipo de aptidão

encontrada em nossa pesquisa também difere dos resultados encontrados por MOORE et al. (2002)

na Argentina, onde em propriedades de bovinos de corte e leite, sem antecedentes de neosporose, a

prevalência de anticorpos anti-N. caninum nos animais leiteiros (4,7%) foi inferior àquela observada

nos animais de corte (16,6%), e em propriedades com histórico de aborto, a soroprevalência para

N.caninum em propriedades leiteiras (43,1%) foi superior as propriedades de corte (18,9%).

A soroprevalência de 30,41% de anticorpos anti-N. caninum encontrada para o rebanho

leiteiro, neste estudo, foi superior a observada por CONRATHS et al., (1996) na Alemanha (4,1%),

McNAMEE et al., (1996) na Irlanda do Norte (12,6%), MAGNINO et al., (2000) na Itália (24,3%) e

inferior a encontrada por QUINTANILLA-GOZALO et al., (1999), na Espanha (83,2%). Já BJÖRKMAN

et al., (1996), encontraram uma prevalência de 29% na Suécia, aproximando-se ao observado em

nossos resultados.

Ainda em relação à prevalência de 30,41% encontrada para o rebanho de aptidão

leiteira, quando foi comparada às prevalências encontradas em outros trabalhos, realizados no Brasil,

verificamos que nossos resultados foram superiores aos encontrados por BRAUTIGAN et al. (1996) e

GONDIM et al. (1999b) que verificaram uma soroprevalência de 15% estado de São Paulo e 14,0%

na Bahia, respectivamente.

Page 26: Débora Pereira Garcia

25

Em bovinos de corte, principalmente os zebuínos, a presença de N. caninum em tem

sido pouco estudada. Portanto os dados sobre a prevalência da neosporose em bovinos de corte

referem-se, na sua maioria, a animais taurinos. A prevalência em bovinos de corte encontrada em

nosso estudo (29,61%) foi superior à prevalência encontrada na Bélgica (14%) (De MEERSCHMAN

et al., 2000), Coréia (4,1%) (KIM et al., 2002) e Argentina (20.3%) (MOORE et al. 2003). Apesar de

poucos estudos, alguns autores mostram a importância de N. caninum na exploração de bovinos de

corte, incluindo o risco de perda fetal por aborto ou vacas descartadas devido à falha reprodutiva

(WALDNER et al., 1998). Além disso, em diferentes estudos foi demonstrada uma soroprevalência

alta para N. caninum em bovinos de corte (SANDERSON et al., 2000; QUINTANILLA-GOZALO et al.,

1999). Os estudos mencionados e os resultados encontrados nas microrregiões de Goiânia e

Anápolis demonstram a importância da neosporose em bovinos de corte, podendo se constituir em

um fator de perdas econômicas.

Dentre as propriedades examinadas, uma única fazenda de bovinos de corte onde o

manejo era intensivo, apenas três animais (10,34%) dentre 29 examinados, foram negativos para N.

caninum. Fato explicado por McALLISTER et al. (1996, 2000) que diz que a exposição bovina a

oocistos de N. caninum pode acontecer mais freqüentemente em bovinos de exploração de corte

intensiva.

Não podemos deixar de mencionar que, os resultados dessa pesquisa confirmam a

presença de N.caninum em rebanhos bovinos da raça Nelore, uma vez que todos os animais de corte

examinados eram dessa raça.

Em se tratando de comparações de resultados da soroprevalência de anticorpos anti-N.

caninum obtidos em nossa pesquisa, com resultados de outros estudos, podemos observar que há

diferenças entre as prevalências obtidas, e que estas ocorrem em função do país ou da região

estudada, a técnica de diagnóstico empregada, ponto de corte utilizado, tipo de exploração e

presença de antecedentes de aborto, fato também comentado por GUIMARÃES Jr. et al. (2004).

Considerando os dados soroepidemiológicos de N. caninum escassos no estado de

Goiás e que, a neosporose tenha sido relatada recentemente no Brasil, estes resultados indicam que

a infecção por N. caninum está amplamente distribuída no rebanho bovino das microrregiões de

Goiânia e Anápolis. Mais estudos são necessários para investigar a prevalência de N. caninum em

outras regiões goianas e associar a soropositividade e a ocorrência de abortos bovinos entre as

microrregiões goianas e os outros estados do país. Portanto, os resultados deste estudo contribuem

para a caracterização da importância desta enfermidade em rebanhos do estado, uma vez que Goiás

é o segundo produtor de leite e quarto de carne do país.

5.2 Transmissão vertical

Page 27: Débora Pereira Garcia

26

No presente estudo foi encontrada uma taxa de transmissão vertical de N.

caninum de 62,5%, como demonstrado na Tabela 3.

TABELA 3- Ocorrência de transmissão vertical de Neospora caninum, em 21 vacas leiteiras, do

município de Nerópolis, no período de novembro/2003 a novembro/2004, através da RIFI.

VACAS POSITIVAS VACAS NEGATIVAS

BEZERROS POSITIVOS 5 (62,5%) 0

BEZERROS NEGATIVOS 3 (37,5%) 13 (100%)

A passagem do protozoário N. caninum pela placenta, infectando assim o

bezerro é um modo de infecção bem conhecido (DUBEY, 1999). STENLUND et al.,

(1999) e PARÉ et al. (1996) afirmaram que se o bezerro é positivo para anticorpos

anti-N. caninum, então a mãe também é positiva, desde que o bezerro tenha sido

submetido à sorologia antes de ingerir o colostro. Por outro lado, a ausência de

anticorpos para o parasita em natimortos ou bezerros recém-nascidos não torna a

infecção por N. caninum improvável, pois a infecção pode ter ocorrido no final da

gestação (JENKINS et al., 2002). Devemos ressaltar que os bezerros, em nosso

estudo, foram examinados antes de mamar o colostro devido à possibilidade da

ocorrência de resultados falso positivos.

Como podemos verificar a porcentagem encontrada em nossa pesquisa foi

inferior aos estudos mencionados por DAVISON et al., 1999b e SCHARES et al.

1998, e superior ao estudo realizado por HIETALA & THURMOND, 1999. Estas

diferenças podem estar relacionadas tanto à metodologia de amostragem utilizada,

técnica de diagnóstico utilizada, que nos estudos mencionados foi o ELISA ou

refernete ao ponto de corte utilizado em nosso estudo (1:250), para a sorologia dos

bezerros recém-nascidos. No entanto, BARR et al. (1993) e ANDERSON et al.

(1997) citam que títulos precolostrais, de bezerros com infecção transplacentária,

são geralmente altos, com valores ≥ 1:1240.

Nossos resultados indicam que a transmissão congênita é um aspecto

muito importante a ser considerado no ciclo de vida de N. caninum, que ajuda a

manter a prevalência desse protozoário constante dentro da população bovina.

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27

Estimativas precisas de parâmetros de transmissão de N.caninum em nossos rebanhos

bovinos, com titulação dos soros maternos e dos bezerros, são necessárias, para melhorar nossa

compreensão da disseminação dessa infecção dentro do rebanho goiano e brasileiro, para um

desenvolvimento de estratégias de controle.

5.3 Pesquisa de DNA de Neospora caninum em abortos bovinos

Em relação à verificação da participação de N. caninum em abortos nas microrregiões de

Goiânia e Anápolis, dos três fetos abortados enviados para a Escola de Veterinária da UFG, obteve-

se resultado negativo para os três, diferindo dos resultados encontrados por outros autores no Brasil

como CORBELLINI et al., (2000, 2002) que verificaram que 10% e 47,8% dos fetos bovinos enviados

para exame na Faculdade de Veterinária da UFRGS estavam infectados por N. caninum,

respectivamente.

O fato dos resultados de nossa pesquisa terem sido negativos pode ser explicado pela

ausência do parasito na amostra de tecido selecionada, já que para cada órgão examinado somente

uma amostra foi colhida, ou realmente os fetos serem negativos para N. caninum. Quanto à técnica

de Nested PCR utilizada é uma técnica que tem alta sensibilidade, tendo sido utilizada em diferentes

estudos para a detecção de DNA genômico de N. caninum em fetos e sêmen de bovinos

(COLLANTES-FERNÁNDEZ et al., 2002; ORTEGA-MORA et al., 2003; CAETANO-DA-SILVA et al.,

2004).

Dois dos fetos examinados eram provenientes de propriedades das quais, após a

realização dos PCR, tivemos acesso à identificação materna e as mesmas eram negativas para N.

caninum, justificando assim nosso resultado. Do outro feto não tivemos conhecimento a respeito da

mãe, embora soubéssemos que era de uma propriedade positiva.

6 CONCLUSÕES Através dos resultados obtidos neste trabalho podemos concluir que:

1. N. caninum está presente nos rebanho bovinos de diferentes tipos de

exploração, das microrregiões de Anápolis e Goiânia;

2. A transmissão vertical transplacentária está presente, como modo de

infecção, no rebanho bovino selecionado;

3. Não foi verificada a presença de DNA de N. caninum em fetos bovinos

abortados enviados para a Escola de Veterinária/UFG.

Page 29: Débora Pereira Garcia

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