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AS E SUA CONVERSÃO EM AÇÕES Darcy Arruda Miranda Jr. Advogado e Professor I sUMÁRIO: 1 - A Lei n. 4.728, de 14 de julho de 1965. - 2. - Introdução ao estudo das debênturas. 3 - O Decreto n. 177-A, de 15 de setembro de 1893. 4 - Os títulos ao portador. 5 - A origem da palavra "debêntura" e a sua grafia. 6 - História das debêntures. 7 - No Brasil. 8 - A emissão das debên- turas e as garantias que podem ser oferecidas. 9 - No anteprojeto e no proje- to do Código das Obrigações. 10 - Valor da emissão. 11- A debêntura e a sua definição. 12 - A patureza jurídica das debênturas. 1. Promulgando a lei n. 4.728, de 14 de julho de 1965, o govêrno federal teve a intenção, principalmente, de dis- ciplinar o nosso mercado de capitais, ao mesmo tempo, de atrair os investidores, oferecendo perspectivas mais animadoras para a aplicação dos mesmos e protegendo a poupança popular da irresponsabilidade de certos em- presários, poupança essa que desde o malfadado "enci- lhamento" andava arredia, carente também de proteção legal adequada. Procurou consubstanciar referido diplo- ma legal a experiência legislativa e econômica de países mais desenvolvidos industrialmente, adaptando-a às nossas necessidades. Houve por isso, quem a acusasse de excessivamente servil ao modêlo norte-americano, impu- tação essa que não podemos endossar ou rejeitar, por não nos ter sido possível obter o texto daquela legislação. Um mérito, porém, nãb lhe podemos negar: o de incorporar em nosso ordenamento positivo, algumas das mais notá- veis conquistas do direito alienígena, tais como, a socie- dade anônima de capital autorizado, as debênturas con- versíveis em ações, etc. Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos, n. 1, jan./jul. 1966

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AS DEB~NTURASE SUA CONVERSÃO EM AÇÕES

Darcy Arruda Miranda Jr. Advogado e Professor

I

sUMÁRIO: 1 - A Lei n. 4.728, de 14 de julho de 1965. - 2. - Introdução ao estudo das debênturas. 3 - O Decreto n. 177-A, de 15 de setembro de 1893. 4 - Os títulos ao portador. 5 - A origem da palavra "debêntura" e a sua grafia. 6 - História das debêntures. 7 - No Brasil. 8 - A emissão das debên­turas e as garantias que podem ser oferecidas. 9 - No anteprojeto e no proje­to do Código das Obrigações. 10 - Valor da emissão. 11- A debêntura e a sua definição. 12 - A patureza jurídica das debênturas.

1. Promulgando a lei n. 4.728, de 14 de julho de 1965, o govêrno federal teve a intenção, principalmente, de dis­ciplinar o nosso mercado de capitais, ao mesmo tempo, de atrair os investidores, oferecendo perspectivas mais animadoras para a aplicação dos mesmos e protegendo a poupança popular da irresponsabilidade de certos em­presários, poupança essa que desde o malfadado "enci­lhamento" andava arredia, carente também de proteção legal adequada. Procurou consubstanciar referido diplo­ma legal a experiência legislativa e econômica de países mais desenvolvidos industrialmente, adaptando-a às nossas necessidades. Houve por isso, quem a acusasse de excessivamente servil ao modêlo norte-americano, impu­tação essa que não podemos endossar ou rejeitar, por não nos ter sido possível obter o texto daquela legislação. Um mérito, porém, nãb lhe podemos negar: o de incorporar em nosso ordenamento positivo, algumas das mais notá­veis conquistas do direito alienígena, tais como, a socie­dade anônima de capital autorizado, as debênturas con­versíveis em ações, etc.

Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos, n. 1, jan./jul. 1966

14 INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO - ANo I

Como tôda a legislação pioneira, é incompleta e não raro mal redigida, sendo, como na secção das debênturas, imprecisa na conceituação, mas, como já ressaltamos, tem mais qualidades que defeitos. Por isso nos parece excessiva a crítica feita pelo ilustre jurista Pontes de Mi­randa, no seu magnífico "Tratado", voI. 50, p. 459 :

"É lamentável que se inspirem legisladores brasilei­ros em sistemas jurídicos inferiores ao sistema jurídico brasileiro. O direito brasileiro cambiário e cambiariforme chegou ao mais alto nível, em todo o mundo, há mais de meio século. O dever principal de quem faz leis é conhe­cer o sistema jurídico em que quer enxertar alguma no­vidade. O novo tem de ser, em verdade, novo, porque não é nova a regra jurídica porque o legislador a tirou de ou­tro sistema jurídico. Se o sistema jurídico, de que a ex­traiu, é inferior, é imperdoável o prurido de fazer leis".

Se tivermos presente em nossa memória as condições econômico-financeiras de nosso país, antes da promulga­ção da lei supra referida, encontraremos nas palavras escritas pelo ilustre comercialista italiano Gustavo Mi­nervini, da Universidade de Napoles, em 1946 e publica­das na "Rivista deI Diritto Commerciale", de Sraffa­Vivante, ano de 1946, p. 499, fasciculo 11 e 12, palpitante atualidade. Afirmava então o professor napolitano:

"Nel mondo attuale, in cui il ristagnante mercato dei capitali male soddisfa le pressanti richieste di finanzia­mento delIe società azionarie, di frequente negli ambien­ti commerciali ed industriali si imposta il quesito delIa utilizzazioni di forme di finanziamento di emergenza, po­co e per niente note presso di noi, ma per contro di uso tutt, uffatte comune in altri Paesi, forniti de ben piu im­ponente sttrutura industriale, come - in particolar modo - gli Stati Uniti di America. Questa tendenza trova la sua radice in un duplice ordine di considerazioni: da un lato si desiderano vagliare attentamente le possibilità di attuazione in Italia di sistemi suggeriti come opportuni

DARCY ARRUDA MIRANDAJ

dalIa pratica di w to, finanziariamel nordamericano, in tato aI fine de cm investimenti indl d'altro lato, si inte accette alIa menu com la speranza verso gli investimE

2. As, exigênci: sões atingidas pel< mais, a aplicação tos ou na expansã que, não raras vê: poradores, comere de financiar, espe essa é a palavra a anônimas ''familia que o maior e mel capital, é a socied culiaridades, pem atraindo para a s"

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Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos, n. 1, jan./jul. 1966

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OLEDO DE ENSINO - ANo I

incompleta e não o das debênturas, ) já ressaltamos, r isso nos parece sta Pontes de Mi­50, p. 459: .sladores brasilei­

sistema jurídico ) e cambiariforme undo, há mais de 1 faz leis é conhe­ertar alguma no­novo, porque não dor a tirou de ou­Iico, de que a ex­) de fazer leis".

lória as condições ltes da promulga­[lOS nas palavras ano Gustavo Mi­n 1946 e publica­iale", de Sraffa­1 e 12, palpitante napolitano: lante mercato dei ieste di finanzia­[lte negli ambien­a il quesito delIa di emergenza, po­per contro di uso iti de ben piu im­1 particolar modo endenza trova la :iderazioni: da un ;e le possibilità di i come opportuni

DARCY ARRUDA MIRANDAJR. 15

dalIa pratica di um complesso eccezionalmente progredi­to, finanziariamente, ed economicamente, quale quelIo nordamericano, in cui nessum mezzo si e lasciato inten­tato aI fine de convogliare ir risparmio riluttante verso investimenti industriali spesso malsicuri ed incerti; d'altro lato, si intenda predispore forme di finanziamento accette alIa mentalità deI mondo degli affari americano, com la speranza de attrane piu facilmente l'interesse verso gli investimenti nostrani".

2. A.s exigências da tecnologia moderna e as dimen­sões atingidas pelo mercado consumidor, impõe, cada vez mais, a aplicação de recursos em novos enwrefjndimen­tos ou na expansão dos antigos, empreendimentos êsses que, não raras vêzes, os empresários, industriais, incor­poradores, comerciantes, etc., não estarão em condições de financiar, especialmente em nosso meio, infestado, ­essa é a palavra adequada, - pelas chamadas sociedades anônimas "familiares" ou "fechadas". Já se disse alhures, que o maior e melhor instrumento de democratização do capital, é a sociedade por ações, pois graças ás suas pe­culiaridades, permite a aglutinação de enormes recursos, atraindo para a sua esfera grandes, médios e pequenos investidores, especialmente êstes. Não seria exagero afirmar que o fabuloso progresso tecnico-econômico de nossos dias não seria possível sem a. referida sociedade, que como sabemos, é gênero do qual são espécies as soci­edades anônimas e a sociedade em comandita pClr ações.

Infelizmente, no Brasil, as sociedades por ações sem­pre foram instrumentos de grupos econômicos, preocu­pados com os seus próprios interêsses. Tem sido, em con­sequência, excluída a poupança popular desses empre­endimentos, com sensíveis prejuízos para a economia na­cional. Procurando corrigir essa situação, o govêrno do Marechal Castelo Branco, tem promulgado uma série de leis disciplinadoras, que trazem em seu bojo, favores fis­

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INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO - ANO I16 DARCY ARRUDA MIRANDAJ

cais, procurando estimular ao máximo a aplicação de ca­ nição dos incorpo: pitais e a circulação dos títulos de crédito, uma das incapazes. É prec: quais, é objetivo de nosso estudo. especialmente da

Procurando facilitar a aquisição e transferência, cer­ que uma legislaçã cando-as da necessária segurança, de modo especial, dos cado de capitais, títulos de crédito, sejam êles de câmbio, ações, debêntu­ humilde, para que ras, etc., através da lei 4.728/65, é evidente que o go­ democratização do vêrno objetivou com isso corrigir diversificações fáticas e Retornando ac psíquicas que até hoje, entravaram a democratização do mos a assinalar c capital, ponto nevrálgico dos problemas sócio-econômicos consumidor, que ( nacionais, pois acreditamos que nessa democratização bens, fungíveis Ol está o sang1.le rejuvenescedor da nossa forma de govêrno, técnicas ou utilic de periclitante estabilidade, desde a proclamação da Re­ pena de perecime pública. Se o êxito inicial não foi dos mais confortadores, mércio. Como fina deve-se levar em conta, além daqueles fatores supra Uma sociedade ar. mencionados, a falta da necessária divulgação do diplo­ logo, ocorrer aos SI

ma legal e de suas vantagens. É preciso, porém, não ol­ próprios da sociel vidar que, um povo que durante anos, por falta de legis­ "giro" dos negócio: lação adequada (e a lacuna não foi totalmente preenchi­ brasileiras não es' da), que em não poucas oportunidades viu as suas parcas planos de expans~ economias com esfOrço obtidas, esvairem-se por entre os recorrer a financi dedos, vítima de ladravazes, sonhadores e irresponsá­ junto aos Bancos ( veis, sem que a lei lhe oferecesse proteção apropriada, de Investimentos, que tem ainda na memória a dolorosa experiência eco­ gem uma retribui( nômica que foi o "encilhamento", fase tão bem retratada prestado, embora em páginas memoráveis pelo ilustre escritor Visconde de desvalorização da Taunay, em um romance conhecido pelo mesmo nome e forma de financia que tem o seguinte subtítulo bastante significativo ­ um desatino. O cré "Cênas contemporâneas da Bolsa do Rio de Janeiro, em um dos seus mais. 1890, 1891 e 1892", não poderia reagir prontamente às tudada, é de seren: medidas governanentais. Não se deve esquecer também po suficiente para; das recentes experiências passadas com as chamadas to. Recorrerem ao: "sociedades frias", com as celebradas "indústrias pesa­ raro desinteressan das", que foram constituídas com o objetivo único de lu­ contrôle acionário. dibriar incautos e que não floresceriam, se tivessemos vidade do mercado uma legislação mais severa, especialmente, quanto à pu­ na Bôlsa. A soluçã

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Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos, n. 1, jan./jul. 1966

ITOLEOO DE ENSINO - ANO I

O a aplicação de ca­~ crédito, uma das

~ transferência, cer­! modo especial, dos bio, ações, debêntu­evidente que o go­~rsificações fáticas e l democratização do .as sócio-econômicos ssa democratização a forma de govêrno, proclamação da Re­mais confortadores, leles fatores supra livulgação do diplo­ciso, porém, não 01­;, por falta de legis­ltalmente preenchi­s viu as suas parcas rem-se por entre os iores e irresponsá­roteção apropriada, Isa experiênc~a eco­~ tão bem retratada ~scritor Visconde de Jelo mesmo nome e mte significativo ­Rio de Janeiro, em gir prontamente às e esquecer também com as chamadas

.s "indústrias pesa­Ibjetivo único de lu­iam, se tivessemos nente, quanto à pu-

DARCY ARRUDA MIRANDA JR.

nição dos incorporadores ou fundadores, desonestos ou incapazes. É preciso que o gôverno se lance à reforma, especialmente da lei de sociedades por ações, a fim de que uma legislação adequada infunda, saneando o mer­cado de capitais, a confiança necessária ao investidor humilde, para que possamos alcançar a grande meta da democratização do capital. Paliativos, não resolvem.

Retornando ao ponto inicial desta digressão, volta­mos a assinalar que a crescente exigência do mercado consumidor, que demanda um fluxo cada vez maior de bens, fungíveis ou não, aliada ao surgimento de novas técnicas ou utilidades, impõe, não incomumente, sob pena de perecimento, a ampliação da indústria ou co­mércio. Como financiá-la, porém? Situemos um exemplo. Uma sociedade anônima. Quatro soluções podem, desde logo, ocorrer aos seus diretores. Valerem-se dos recursos próprios da sociedade. Além de serem necessários ao "giro" dos negócios, a maioria das sociedades anônimas brasileiras não está em condições de enfrentar grandes planos de expansão, que exigem vultosos recursos, sem recorrer a financiamento alheio. Obterem o numerário junto aos Bancos Oficiais ou Particulares, às Sociedades de Investimentos, etc. ou a um agiota. Êstes últimos exi­gem uma retribuição muito pesada para o dinheiro em­prestado, embora seja, em períodos inflacionários - a desvalorização da moeda compensa os juros altos - a forma de financiamento preferida. Em época normal é um desatino. O crédito bancário tem as suas limitações e um dos seus mais graves inconvenientes, na hipótese es­tudada, é de serem concedidos por curto prazo, sem tem­po suficiente para a absorção do custo do empreendimen­to. Recorrerem ao aumento do capital social, medida não raro desinteressante, especialmente para os que detem o contrôle acionário. Há que considerar também a recepti­vidade do mercado, tendo em vista as cotações das ações na Bôlsa. A solução talvez seja a de pleitear do público

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(apêlo à poupança popular) um empréstimo com juros módicos (1%) a prazo suficientemente longo, bastante para atender à expansão pretendida, sem o inconvenien­te de se usar os próprios recursos, necessários ao giro comercial ou industrial, de se pagar juros extorsivos ou da participação de novos acionistas. O oferecimento de garantias satisfatórias seria seu complemento. Enfim, através da emissão de debêntures ou obrigações ao por­tador ou nominativas endossáveis (com ou sem cláusula de correção monetária, conversível ou não em ação - arts. 26, 40 e 44 da lei n. 4.728/65).

"As obrigações representam," afirma Tulio Ascarelli, no seu livro "Problemas da Sociedade Anônima", p. 362, "um instrumento para o financiamento a longo prazo da sociedade". E mais adiante "... não objetivam o financia­mento do "giro" dos negócios sociais, ao qual atendem, ao contrário, o desconto bancário e as operações análogas. Essa circunstância e o fato de ser feito, êsse financia­mento, através de títulos de crédito emitidos em massa e lançados entre o público, torna necessária uma disciplina legal especial seja para tutelar os debenturistas seja para tutelar a sociedade e os demais credores dela".

3. Regulou a lei tais empréstimos. Disciplinou-os o decreto n. 177-A, de 15 de setembro de 1893C) modifica­do e ampliado por leis e decretos-leis sucessivos (decr. 149-B, de 2 de julho de 1893; Lei n. 5.465, de 9 de feve­reiro de 1928; decretos-leis ns. 781 de 12 de outubro de 1938; n. 1.392, de 29 de julho de 1939; n. 2.627, de 26 de setembro de 1940; n. 7.390 de 16 de março de 1945), dos quais a mais importante é a lei n. 4.728, de 14 de julho de 1965, também conhecida por "lei de mercado de capi­tais", que introduziu importantes e profundas modifica­ções na legislação específica.

c) Textos oficiais registram, também, decreto legislativo n. 177-A.

DARCY ARRUDA MIRANDA

4. Iniciando o to italiano, Loren creve:

"La sorte giu: vela la loro stor obbligazioni forrn sauribile, di capi1 prese colossali si amento, ed hann alIe azioni, titoli che attestano la fi

Razão não fal há quase um séc\ mandita por açõe de financiamento fonte inesgotável anos, principalme tador, por excelê como informa W ções", p. 67, voI. I tória relativamen co. Como gênero tempos. Teriam si tores no "cosmos" lidade o povo heb ção em um trech passagem do livro se próximo da mOl

de um amigo, de: onde o devedor reI o mais antigo títl: séculos a vinda de té Théorique et ] págs. 11/178, traç títulos.

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0\0 TOLEOO DE ENSINO - ANO I

lpréstimo com juros mte longo, bastante l, sem o inconvenien­, necessários ao giro r juros extorsivos ou ;. O oferecimento de omplemento. Enfim, lU obrigações ao por­com ou sem cláusula u não em ação - arts.

irma Tulio Ascarelli, :le Anônima", p. 362, nto a longo prazo da objetivam o financia-ao qual atendem, ao operações análogas. feito, êsse financia-

emitidos em massa e ;sária uma disciplina :I debenturistas seja credores dela".

lOS. Disciplinou-os o I de 1893C) modifica­.eis sucessivos (decr. . 5.465, de 9 de feve­de 12 de outubro de J9; n. 2.627, de 26 de . março de 1945), dos t728, de 14 de julho de mercado de capi­profundas modifica-

DARCY ARRUDA MIRANDA JR. 19

4. Iniciando o seu estudo sôbre as obrigações no direi­to italiano, Lorenzo Mossa ("Trattato", v. VI, p. 532) es­creve:

"La sorte giuridica delIe obligazioni delIa società ri­vela la loro storia economica. Da quasi un secolo, le obbligazioni formano una fonte importante, se non ine­sauribile, di capitali per la S. p. A. In tutto il mondo, im-. prese colossali si sono valse di questa forma de finanzl­amento, ed hanno gettato sul mercato titoli somiglianti alIe azioni, titoli di credito circolanti e viventi in borsa, che attestano la fortuna o la sfortuna delIa società".

Razão não faltava ao mestre de Piza ao afirmar que há quase um século as sociedades anônimas, e as em co­mandita por ações, também - encontravam nessa forma de financiamento, emissão de obrigações ou debênturas, fonte inesgotável de recursos. E foram, durante muitos anos, principalmente no Brasil, títulos de crédito ao por­tador, por excelência. Inconversíveis, em nominativos, como informa Waldemar Ferreira, nas suas "Institui­ções", p. 67, voI. III, tomo r. Como espécie, tem uma his­tória relativamente curta. Não mais de um século e pou­co. Como gênero a sua história perde-se na névoa dos tempos. Teriam sido os indús ou egípcios os seus introdu­tores no "cosmos" jurídico-econômico. Com mais probabi­lidade o povo hebraico, ensina Wahl. E ampara a sua li­ção em um trecho bíblico, mais propriamente em uma passagem do livro de Tobias. Êste varão ilustre sentindo­se próximo da morte, ordenou a seu filho que fôsse cobrar de um amigo, dez talentos, utilizando-se de um escrito onde o devedor reconhecia a dívida, escrito êsse que seria o mais antigo título ao portador conhecido, anterior sete séculos a vinda de Jesus Cristo. Aliás, no seu livro "Trai­té Théorique et Pratique des Titres au Porteur", v. I, págs. 11/178, traça um magnífico esbôço histórico de tais títulos.

to legislativo n. 177-A. Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos, n. 1, jan./jul. 1966

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Seja ou não, porém, o documento assinado por Gebe­lo, o primeiro título ao portador conhecido, a verdade é que os referidos títulos jamais contaram com a boa von­tade governamental, embora tenham desempenhado pa­pel relevantíssimo na economia dos países. Sobrevive­ram, com uma vitalidade impressionante, a todas as me­didas adotadas com o fim de cercear ou impedir a sua circulação. O código comercial (art. 297), por exemplo, não possibilitava a transferência da propriedade da ação ao portador senão através do endôsso, o que mereceu a seguinte crítica de Wahl (ob. e voI. cits., p. 326) :

"11 semble que le veritable titre au porteur n'existe pas dans ce pays, et n'est q'un titre à ordre mal qualifié, puisque sa trasmission s'opere par un endossement".

Anteriormente à lei n. 3.160, de 1862, a lei n. 1.083, de 22-8-1860, proibia a qualquer companhia ou sociedade de qualquer natureza, comerciante ou indivíduo de qual­quer condição, a emissão de títulos ao portador sem au­torização legislativa. Excetuava os bancos autorizados. Não menos rigoroso foi o Código Civil Brasileiro (art. 1.511). A hostilidade legislativa manifesta-se não só nas dificuldades que impõe à circulação dos títulos ao porta­dor, como também na pesada incidência tributária (im­posto de renda). E é compreensível essa cautela do poder público. Transmitindo-se por simples tradição, sem qual­quer outra formalidade, dificulta a fiscalização e facilita a sonegação. Outros justificam a aversão pela possível concorrência que possa fazer ao papel moeda, o que é re­futado com veemência por Wahl (ob. e voI. cits. p. 222 n. 228). Há fatos econômicos que não podem ser impune­mente ignorados ou repelidos pelo legislador, sem graves e não raro irremediáveis reflexos na economia de um país. Por isso têm tido os títulos ao portador existência tão atribulada, legislativamente. Ultimamente, de modo especial no Brasil, não tem sido entravada a sua circula­ção, mas tem o govêrno procurado encontrar nos títulos

DARCY ARRUDA MIRANDA J

nominativos um c sua transferência vos endossáveis), amente, de modo Exemplo típico é ~

ralelamente tipifi( rou pesadamente (

Tais medidas 1 nômico dêsse intel Sem nos predispOl lo, acreditamos qu não há dúvida. M: mais virá a ter a ("on peut dire cet dans nos lois la 1 atribuer"), disso tI jamais desaparece:

Como já acima por excelência, títt também podem SE

quer modo são de i

5. Debênture é em nosso idioma. brasileiro registra Caldas Aulete, pel doso mestre Wald Debênturas", voI. I debentur (de debec com que se InlClaVl são devidos, confor "Tratado", v. 33, p.

e) "A contar da Mo nos textos legislativos E

mais variados significadc que se reveste. Tanto po

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'\0 TOLEOO DE ENSINO - ANO I

D assinado por Gebe­tlhecido, a verdade é iram com a boa von­TI desempenhado pa­IS países. Sobrevive­lante, a todas as me­ar ou impedir a sua . 297), por exemplo, propriedade da ação

;so, o que mereceu a ltS., p. 326) :

l au porteur n'existe à ordre mal qualifié, n endossement".

1862, a lei n. 1.083, lpanhia ou sociedade lU indivíduo de qual­ao portador sem au­bancos autorizados. ~ivil Brasileiro (art. [lifesta-se não só nas dos títulos ao porta­ência tributária (im­~ssa cautela do poder s tradição, sem qual­ãscalização e facilita versão pela possível aI moeda, o que é re­e voI. cits. p. 222 n. podem ser impune­

gislador, sem graves [la economia de um I portador existência timamente, de modo 'avada a sua circula­mcontrar nos títulos

DARCY ARRUDA MIRANDA JR. 21

nominativos um competidor seno, não só facilitando a sua transferência através do endôsso (títulos nominati­vos endossáveis), como também favorecendo-o tributàri­amente, de modo a atrair a preferência do investidor. Exemplo típico é a nova lei de mercado de capitais. Pa­ralelamente tipificou o crime de sonegação fiscal e one­rou pesadamente o sonegador.

Tais medidas parecem indicar o fim do império eco­nômico dêsse interessante e fascinante título de crédito? Sem nos predispormos a desempenhar o papel de orácu­lo, acreditamos que não. Que lhe assentaram rude golpe não há dúvida. Mas não está agonizante. E também ja­mais virá a ter a posição que Wahl para êle pretendia ("on peut dire cette institution et loin encore d'occuper dans nos lois la place que son importance devrait lu,i atribuer"), disso temos a certeza, como também de que jamais desaparecerá.

Como já acima assinalamos as debênturas já foram, por excelência, títulos ao portador. Depois da lei n. 4.728 também podem ser nominativas-endossáveis. De qual­quer modo são de inegável prestância.

5. Debênture é anglicismo, que tem livre circulação em nosso idioma. Preferimos "debentura", neologismo brasileiro registrado por Cândido de Figueiredo e por Caldas Aulete, pelas mesmas razões expostas pelo sau­doso mestre Waldemar Ferreirra no seu "Tratado das Debênturas", voI. I, p. 25. Tem a palavra origem latina: ­debentur (de debeo, es, ui, itum, ere), e era o vocábulo com que se iniciava a redação dos certificados ou títulos: são devidos, conforme ensina Pontes de Miranda, no seu "Tratado", v. 33, p. 310 2

(") "A contar da Mortage Debenture Act (1865) a palavra infiltrou-se nos textos legislativos e consagrou-se definitivamente. Tem, todavia, os mais variados significados ou, melhor, aplicações, dadas as modalidades de que se reveste. Tanto pode a debênture ser emitida, em larga série, por so­

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INSTITUIÇAo TOLEOO DE ENSINO - ANo I DARCY ARRUDA MIRANDAJ:22

A maioria das legislações registra obrigações, ao por­tador ou nominativas. No Brasil o legislador tem usado indiferentemente debêntures - com "e" - ou obrigações, motivo pelo qual, quando das transcrições, respeitaremos a grafia contida no texto.

6. Como assinalou Mossa, a história das debênturas é moderna. Não tem mais de um século. Na verdade, como diz Waldemar Ferreira, no seu, infelizmente, inacabado "Tratado das Debênturas", somente por volta da metade do século XIX - já era comprovadamente usado desde 1415 - o vocábulo adquiriu o sentido técico que tem atu­almente. Registra-se seu uso em documentos emanados da Armada ou Alfândega inglêsa, documentos êsses que serviam para o reconhecimento de dívidas decorrentes de fornecimento de mercadorias ou prestação de serviços. Passou, posteriormente, a ser empregado no comércio, como registra Inglês de Souza, no seu festejado "Títulos ao Portador", p. 267,

"o crédito resultante da emissão de um empréstimo, ou objetivamente, o título negociável que o mutuário en­trega ao mutuante, como documento e prova do seu di­reito". E como tal ingressou na legislação dos povos civi­lizados.

Sendo de história recente, evidentemente oferece pouco campo às digressões, nem há muitos fatos notáveis a assinalar. Na realidade, como escreve Arrillaga ("Emission de Obligaciones", p. 17),

"difusión de obligaciones como títulos privados es moderna y ha dependido casi em su totalidad de la difu­sión de las sociedades anónimas". Procuram os pesquisa­dores históricos encontrar antecedentes em tempos mais longínquos do que a metade do século XIX, não raro for­

çando analogias. afirma (p. 16):

"Los primeros empréstitos public titos colectivos en concertado por la ( ingressos provenie tia estaba maneja< rias de mandatari Deuda, y el Estad< res que ejercian el

Por volta de 1: das obrigações nel ram as antigas exemplo o mútuo I

ram junto aos capi

"de la larga du onistas encontrab~

la facultad de PO(

inmovilizada su a duración era un n tención de un inte cit., p. 17).

As companhia~

ras a se valerem d do assim financia] nhas. Porém, ao France", como assi e pág. cits.), cabe! gação e populariz~

madas "Lettres dE tanto, a contribuiç:

"Pela era de 18 em tôda a Inglate:

ciedade, quanto solitária e única, emitida por clube, senão mesmo por indi­ com o alastramenvíduo - a Tichborne Debenture" (in Waldemar Ferreira, "Instituições", voI. m, tomo I, p. 323).

Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos, n. 1, jan./jul. 1966

'Ao TOLEOO DE ENSINO - ANo I

:'a obrigações, ao por­legislador tem usado "e" - ou obrigações,

rições, respeitaremos

iria das debênturas é lo. Na verdade, como elizmente, inacabado por volta da metade

amente usado desde [) técico que tem atu­)cumentos emanados ocumentos êsses que ívidas decorrentes de restação de serviços. Iregado no comércio, eu festejado "Títulos

I de um empréstimo, 1que o mutuário en­o e prova do seu di­ilação dos povos civi­

identemente oferece nuitos fatos notáveis I escreve Arrillaga

títulos privados es totalidad de la difu­'ocuram os pesqUlsa­ltes em tempos mais lo XIX, não raro for-

lhe, senão mesmo por indi­i'erreira, "Instituições", voI.

DARCY ARRUDA MIRANDA JR. 23

çando analogias. O mesmo Arrillaga, na obra citada, afirma (p. 16):

"Los primeros antecedentes los hallamos en los los empréstitos publicos, y asi Escarra nos habla de emprés­titos colectivos en la Edad Media y especialmente de uno concertado por la ciudad de Génova y garantizado con los ingressos provenientes de ciertos impuestos. Esta garan­tia estaba manejada por consoli, en tanto que dos catego­rias de mandatarios se dividian la Administración de la Deuda, y el Estado genovés intervenia por unos visitado­res que ejercian el officium assignationis".

Por volta de 1850 apareceram na França as chama­das obrigações negociáveis, que pràticamente substituí­ram as antigas formas de financiamento, como por exemplo o mútuo simples, dado o prestígio que grangea­ram junto aos capitalistas, pois apesar

"de la larga duración de las inversiones, los obligaci­onistas encontraban compensado este inconveniente con la facultad de poder vender los títulos y asi no veían inmovilizada su aportación; por otra parte, esta misma duración era un nuevo aliciente pues asseguraba la ob­tención de un interes fijo por varios anos (Arrillaga, ob. cit., p. 17).

As companhias de estrada de ferro foram as primei­ras a se valerem dessa forma de empréstimo, conseguin­do assim financiamento para a construção de novas li­nhas. Porém, ao "Credit Foncier (crédito predial) de France", como assinalam Ripert (ob. cit.) e Arrillaga, (ob. e pág. cits.), cabe sem dúvida, em grande parte, a divul­gação e popularização das obrigações, através das cha­madas "Lettres de gage". Não se deve esquecer, entre­tanto, a contribuição da velha Albion:

"Pela era de 1862 ela se vulgarizou na City, ao depois em tôda a Inglaterra, vindo, por fim, a universalizar-se com o alastramento mundial do comércio e da finança

Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos, n. 1, jan./jul. 1966

INSTITUIÇAO TOLEDO DE ENSINO - ANO I 24

britânica" (Waldemar Ferreira, "Tratado das Debêntu­ras", p. 24).

7. As debênturas foram incorporadas à nossa legisla­ção através do art. 32 da lei n. 3.150, de 4 de novembro de 1882, assim dispõe:

"Art. 32 - É permitido às sociedades anônimas con­trair empréstimo de dinheiro por meio de emissão de obrigações ao portador", sendo que o art. 21 do decr. 8.821, de 30 de dezembro de 1882, que "deu regulamento para a execução da lei n. 3.150 pela primeira vez intro­duziu na legislação brasileira a palavra "debênture", que se tornou correntia. Não gozavam então tais títulos de qualquer privilégio, o que só aconteceu com a promulga­ção do decr. n. 164, de 17 de janeiro de 1890, que refor­mou a lei 3.150.

A falta de melhor disciplinação legal ensejou uma sé­rie enorme de abusos, que careciam de coibição. Em 27 de julho de 1892, impressionado com a irregularidade existente na emissão de debênturas, o deputado Leopol­do de Bulhões apresentou à Câmara dos Deputados uma indicação para que a Comissão de Legislação e Justiça

"se manifestasse sôbre a conveniência e legalidade de emissões de títulos de crédito de 500 réis a 10$000 por parte dos proprietários de fábricas e de sociedades anô­nimas" (Alfredo Russel, "Sociedades Anônimas", p. 502).

A comissão não só opinou pela ilegalidade como tam­bém sugeriu a remessa dos títulos ao Poder Executivo, para as providências cabíveis. Mas não ficou nisso. Apre­sentou o projeto que tomou o n. 34, disciplinando a emis­são de obrigações (debênturas).

"Aprovada na Câmara dos Deputados", informa Al­fredo Russel (ob. e pág. cits.), "sem emendas foi o projeto remetido ao Senado sendo sôbre êle ouvidas as comissões

DARCY ARRUDA MIRANDAJI

reunidas de Final como relator Ruy 1

"Nasceu," eSCrE za ob. cit., p. 473) parece manifesta, sinuados, à sombr mica do país. São 1

da Câmara dos DE lativo à maneira ( sociedades anônirr de janeiro de 1890 emissão particuIa companhias indusI falsa côr de debên1 representativos de res".

E depois de es turas e os títulos trando que êstes 1

ser o nome, asseve

"Há, portanto, aproxima-se da no tar as vantagens d tuito de fugir a rE tima, usurpam a ( têm nada, tirante I

Ofereceu a con se InSpIrOU, em g:J

sur les sociétés co vêrno luxemburgt forma Carvalho de substitutivo êsse ( por êste e pela Cã "e se tornou a lei como noticia Alfre(

Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos, n. 1, jan./jul. 1966

:Ao TOLEDO DE ENSINO - ANO I

ratado das Debêntu­

'adas à nossa legisla­iO, de 4 de novembro

:lades anônimas con­meio de emissão de e o art. 21 do decr. lue "deu regulamento a primeira vez intro­lvra "debênture", que então tais títulos de ceu com a promulga­o de 1890, que refor­

egal ensejou uma sé­1 de coibição. Em 27 om a irregularidade " o deputado Leopol­l dos Deputados uma ~gislação e Justiça

ência e legalidade de )0 réis a 10$000 por e de sociedades anô­Anônimas", p. 502).

egalidade como tam­ao Poder Executivo, tão ficou nisso. Apre­lisciplinando a emis­

ltados", informa Al­mendas foi o projeto mvidas as comissões

DARCY ARRUDA MIRANDA JR. 25

reunidas de Finanças e de Justiça e Legislação tendo como relator Ruy Barbosa".

"Nasceu," escrevia Ruy Barbosa (apud Inglês de Sou­za ob. cit., p. 473) "esta proposição da necessidade, que parece manifesta, de remediar abusos consideráveis, in­sinuados, à sombra de um pretexto legal, na vida econô­mica do país. São notórios os fatos, a que alude o parecer da Câmara dos Deputados, em que assenta o projeto re­lativo à maneira de exercer-se a faculdade conferida às sociedades anônimas pelo art. 32 do decr. n. 164, de 17 de janeiro de 1890. Refere-se a comissão daquela casa a emissão particular de vales, introduzidos, por várias companhias industriais e comerciais, na circulação, sob a falsa côr de debênturas, isto é, de obrigações ao portador, representativos de empréstimos contraídos pelos emisso­res".

E depois de estabelecer um paralelo entre as debên­turas e os títulos que circulavam então na praça, mos­trando que êstes últimos, daqueles nada tinham, a não ser o nome, assevera o ilustre tribuno patrício:

"Há, portanto, nesses papéis, uma simulação dupla: aproxima-se da nota de banco, sem o serem, para desfru­tar as vantagens de sua circulação acelerada: e, com o in­tuito de fugir a responsabilidade dessa pretensão ilegí­tima, usurpam a qualificação de debêntures, de que não têm nada, tirante o nome".

Ofereceu a comissão sanatorial um substitutivo, que se inspirou, em grande parte no "Avant-projet de la loi sur les sociétés commerciales", redigido a pedido do go­vêrno luxemburguês, por Albert Nyssens, conforme in­forma Carvalho de Mendonça ("Tratado", voI. IV, p. 101), substitutivo êsse que depois de emendado pelo Senado e por êste e pela Câmara aprovado, foi remetido à sanção "e se tornou a lei n. 177-A, de 15 de setembro de 1893", como noticia Alfredo Russel (ob. cit., p. 504).

Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos, n. 1, jan./jul. 1966

INSTITUlÇÁO TOLEOO DE ENSINO - ANO I DARCY ARRUDA MIRANDA J26

Ao senador Amaro Cavalcanti deve-se a emenda aprovada, que suprimiu as disposições relativas à orga­nização da comunhão dos obrigacionistas, que veio a ser regulada, mais tarde, pelo decreto-lei n. 781, de 12 de ou­tubro de 1938.

Êsse decreto n. 177-A, disciplinou desde então, a emissão "de empréstimos em obrigações ao portador (de­bêntures - art. 1.0)".

As modificações que sofreu foram de pequena monta e já anteriormente denunciadas. A mais importante foi sem dúvida a lei n. 4.728/65.

8. Assim dispõe o art. 1.0 do decreto 177-A:

"As companhias ou sociedades anônimas poderão emitir empréstimos em obrigações ao portador (debêntu­res - ou nominativas-endossáveis, conversíveis ou não em ações - lei 4.728, arts. 40 e 44), de conformidade com o disposto nesta lei(3), e na 4.728 citada.

Porém, não são só as sociedades anônimas que podem emitir debênturas.

"A debêntura", leciona Waldemar Ferreira, "Tratado", voI. 9, p. 333, em regra, é criada por uma ou outra da­quelas sociedades (anônima e em comandita por ações). Mas pode ser posta em circulação por sociedade de outro tipo, e, até, por institutos oficiais, autarquias adminis­trativas, mediante autorização legislativa especial".

Seja emitida por esta ou aquela sociedade, o valor to­tal das emissões não poderá exceder ao do capital esti­pulado nos estatutos (§ 3.° do art. 1. ° do decreto 177-A),

(") "Há, no texto", conforme anota Waldemar Ferreira, "Instituições", voI. 111, tomo I, p. 323, "impropriedade, cuja denúncia serve para salientar o sentido do têrmo de que se cogita. Pode a sociedade anônima", disse ê!e, "emitir empréstimos em obrigações ao portador." Mas o que, em verdade, ela pode é contrair o empréstimo, por meio de subscrição pública, dando aos subscritores os títulos, que emitir, de valores nominativos iguais, represen­tativos de tôda a soma mutuada." O parágrafo 2. o do art.!. o, registra: "As sociedades anônimas que contrairem tais empréstimos..."

exceto as associaçi ploma legal e as q gurarem o excessl devidamente depo da restrição legal cit., p. 114), está e

"Mantendo a 1

sociedade, ou mel] dores e a importâ que a sociedade el de tais operações, capital".

Mais rigorosa, (art. 2.410 do Có.: princípio, possam

"emitidas por efetivamente inte: das Sociedades A1.

As obrigações aos seus titularel têm como

"fiança todo o do art. 1. ° do decr

"com hipoteca: comércio, e só nÉ dessas operações" vidando da hipóte

"as que asseg dívida da União, cujo vencimento c

Sôbre o assun no seu "Tratado",

"Ademais desl o ativo e bens da

I

Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos, n. 1, jan./jul. 1966

;Ao TOLEOO DE ENSINO - ANO I

i deve-se a emenda ões relativas à orga­nistas, que veio a ser :li n. 781, de 12 de ou­

inou desde então, a lções ao portador (de­

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; anônimas poderão lO portador (debêntu­nversíveis ou não em conformidade com o

a.

anônimas que podem

. Ferreira, "Tratado", )r uma ou outra da­)mandita por ações). Ir sociedade de outro autarquias adminis­ativa especial".

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o do decreto 177-A),

ar Ferreira, "Instituições", lncia serve para salientar o ~dade anônima", disse ê!e, Mas o que, em verdade, ela scrição pública, dando aos ninativos iguais, represen­.• do art. 1. ., registra: "As limos..."

DARCY ARRUDA MIRANDA JR. 27

exceto as associações enumeradas no § 4: do referido di­ploma legal e as que, segundo o mesmo parágrafo, asse­gurarem o excesso, mediante títulos da dívida pública, devidamente depositadas até a sua remissão. E a razão da restrição legal, segundo Carvalho de Mendonça (ob. cit., p. 114), está em que

"Mantendo a proporção entre o poder econômico da sociedade, ou melhor, entre a garantia oferecida aos cre­dores e a importância total dos empréstimos, a lei evita que a sociedade especule com os fundos obtidos por meio de tais operações, desprezando a formação do seu próprio capital".

Mais rigorosa, a êsse respeito é a legislação italiana (art. 2.410 do Código Civil de 1942) que não admite, em princípio, possam ser

"emitidas por uma importância superior ao capital efetivamente integralizado" (Tullio Ascarelli, "Problemas das Sociedades Anônimas", p. 30).

As obrigações, no direito brasileiro, além de darem aos seus titulares a condição de credores privilegiados, têm como

"fiança todo o ativo e bens de cada companhia" (§ 1. o

do art. 1. o do decr. citado) ou podem ser abonadas

"com hipotecas, anticreses e penhores, ficando fora do comércio, e só nêle, os bens especificados em garantia dessas operações" (§ 2 do art. 1. o supracitado), não se ol­vidando da hipótese prevista no § 4. o do mesmo artigo:

"as que assegurarem o excesso, mediante títulos de dívida da União, dos Estados ou das Municipalidades, cujo vencimento coincida com o das obrigações".

Sôbre o assunto assim preleciona Waldemar Ferreira, no seu "Tratado", voI. 9, p. 313 :

"Ademais dessa garantia geral (a que recai sôbre todo o ativo e bens da sociedade, chamada garantia flutuan­

Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos, n. 1, jan./jul. 1966

INSTITUIÇÁO TOLEDO DE ENSINO - ANO I 28

te), pode o empréstimo ter garantia especial e fidejussó­ria, ou fiança, de ordem pessoal, que é rara, por incondi­zente com o prazo longo daquele; o real - a de hipotecas, anticreses e penhores, direitos reais de garantia".

9. Cumpre aqui anotar, que no que se refere à emis­são das obrigações, que, na parte referente aos títulos de crédito, tanto o anteprojeto como o projeto do Código das Obrigações, aquêle de autoria do prof. Theophílo de Aze­redo Santos, êste revisto por Orozímbo Nonato e outros, pouco inovaram no que concerne às debênturas. Aprimo­raram, pode-se afirmar, a legislação vigente sôbre a ma­téria, mas ignoraram totalmente a lei de mercado de ca­pitais, na época da revisão do anteprojeto, já em discus­são no Congresso Nacional. Nenhuma das inovações in­troduzidas pela lei n. 4.728 foi acolhida pelo projeto do Código das Obrigações.

Excluiu a comissão revisora, sem qualquer razão justificável, em que pesem doutas opiniões em contrário, a sociedade em comandita por ações, da possibilidade de emitir debêntures. Somente as sociedades anônimas o podem fazê-lo (art. 1.1051).

As obrigações terão como garantia todos os bens da sociedade, com privilégio em relação a outros títulos de dívida (§ 1. 0) ou hipotecas e penhores (§ 4.°), não men­cionando o Projeto, os títulos de dívida pública, como o faz o decr. 117-A. Porém a preferência assegurada aos debenturistas em caso de liquidação, (§ 2.°), não prejudi­cará os credores hipotecários e pignoratícios, quanto às hipotecas e penhores anterior e regularmente inscritas (§ 3.°). O valor da emissão (§ 5.°) não excederá às hipotecas e penhores anterior e regularmente inscritas (§ 3. 0). O valor da emissão (§ 5.°) não excederá ao do capital da so­ciedade, regra já contida no decr. 177-A bem como a ex­pressa no § 6.°, reprodução da primeira parte do § 5. ° do referido decreto. Exige também que na ata da assembléia

DARCY ARRUDA MIRANDA JR

geral que autorizaJ sição da diretoria, ( sulas essenciais da vância de quaisque nulidade da emissi digo das Obrigaçõ, gente, a não ser li vos.

10. "Conforme tâncias do mercad de empréstimos, e cits., p. 261), pOdE diverso do nominal

"Quando se dá de molde a entrar nada no título, em te: "também é pos, do par ou por mer são com ágio (aciro de moeda inflaciOI de debênturas con1

11. Porém, o qt

"Definição, reg "Dicionário", é a " próprios e exclush conhecida, disting que torna sempre definir. No que ti pouco encorajador de crédito destiI1 (bôlsas e bancos) ­cada autor tem a mos pela enuncia tentarmos a nossa

Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos, n. 1, jan./jul. 1966

IÇÁO TOLEOO DE ENSINO - ANO I

a especial e fidejussó­le é rara, por incondi­real - a de hipotecas,

) de garantia".

que se refere à emis­~ferente aos títulos de projeto do Código das rof. Theophilo de Aze­mbo Nonato e outros, : debênturas. Aprimo­o vigente sôbre a ma­lei de mercado de ca­projeto, já em discus­ma das inovações in­,lhida pelo projeto do

sem qualquer razão piniões em contrário, ;, da possibilidade de ~iedades anônimas o

rantia todos os bens ação a outros títulos ores (§ 4.°), não men­vida pública, como o ncia assegurada aos , (§ 2.°), não prejudi­lOratícios, quanto às larmente inscritas (§ xcederá às hipotecas ! inscritas (§ 3. 0). O i ao do capital da so­77_A bem como a ex­~ira parte do § 5. ° do la ata da assembléia

DARCY ARRUDA MIRANDA JR. 29

geral que autorizar a emissão se inscreva, além da expo­sição da diretoria, o parecer do Conselho Fiscal e as cláu­sulas essenciais da emissão (§ 7.°), sendo que a inobser­vância de quaisquer dos preceitos enunciados importa na nulidade da emissão (§ 8.°). Como se vê, o projeto do Có­digo das Obrigações pouco acrescentou à legislação vi­gente, a não ser uma melhor redação de seus dispositi­vos.

10. "Conforme a natureza da sociedade, as circuns­tâncias do mercado financeiro e, sobretudo, o montante de empréstimos, escreve Waldemar Ferreira (ob. e voI. cits., p. 261), podem as debênturas emitir-se por valor diverso do nominal", que é aquêle valor inscrito no título.

"Quando se dá pelo valor nominal, continua o mestre, de molde a entrar cada subscritor com a quantia consig­nada no título, em dinheiro, diz-se ao par" e mais adian­te: "também é possível a emissão abaixo do par e acima do par ou por menos do valor nominal", embora a emis­são com ágio (acima do par) seja coisa impossível em país de moeda inflacionária, só sendo concebível na hipótese de debênturas conversíveis em ações.

11. Porém, o que é debêntura?

"Definição, registra Caldas Aulete no seu magnífico "Dicionário", é a "enunciação de atributos e qualidades próprios e exclusivos de uma coisa, de modo que a torne conhecida, distinguindo-a de tôdas as outras coisas", o que torna sempre dificil a missão para quem se propõe a definir. No que toca às debênturas então o encargo é pouco encorajador. Para Wahl, por exemplo, é um título de crédito destinado a circular no mercado público (bôlsas e bancos) - (ob. cit., voI. I, pg. 321). Pràticamente cada autor tem a sua definição, motivo pelo qual, opta­mos pela enunciação das mais conhecidas, para afinal, tentarmos a nossa.

Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos, n. 1, jan./jul. 1966

:

30 INSTITUlÇAo TOLEOO DE ENSINO - ANo I

o grande mestre que foi Cesare Vivante, assim se ex­pressou:

"Le obligazioni sono titoli uniformi, che reppresenta­no altretanto frazioni uguali ed independenti di un unico prestito contratto dalla società emittente" ("Trattato", voI. II, p. 333, n. 611).

O professor emérito Waldemar Ferreira, de saudosa memória, a entendeu assim:

"Origina o empréstimo, dessarte, título de crédito, tantos em quantos seja o capital mutuado dividido, de valores iguais, revestidos de idênticos direitos, transmis­síveis por simples tradição manual" ("Tratado das De­bênturas", p. 22).

Georges Ripert, no seu "Traité Élémentaire", voI. II, p. 60, expõe:

"L'obligations sonts des titres negociables, émis por une société qui emprunte, un capital important, genera­lement à long terme, et divise sa dette en un grand nom­bre de coupures".

Prefere definí-Ia dêste modo o grande jurisconsulto Pontes de Miranda:

"Debênture é o título de crédito, título-valor, que as sociedades por ações subscrevem ao portador, conforme o estilo legal, em que o ativo e bens de cada companhia são sujeitos à privilégio ou garantia real" ("Tratado", voI. 33, p,306).

Entendeu-a assim Inglês de Souza: "representa o crédito resultante da emissão de um

empréstimo, ou objetivamente o título negociável que o mutuário entrega ao mutuante como documento e prova de seu direito," e conclui: "Em regra êsse título é passado ao portador, e nesse caso, não só prova o direito, mas também incorpora o próprio crédito".

DARCY ARRUDA MIRANDA JR.

Doutrina Paul Pl edades comerciais:

"Lobligation est par obligataire à la ciable" e encerra as! me, obligation, sert ( poreI et le titre qui 1.610) .

O insígne Carval "Os títulos unifa

sociedade anônima servindo de prova de gação da mutuária, turas" ("Tratado", vo

Para Kramata de

"Le trait distinc1 ou l'usage fait empl par actions, est de CI

voies commerciales e le droit de recevoir I

des echéances deten lui prête" ("La prote anonymes", p. 148).

As definições apr entre si. Não diverge um título de crédito. exceção é Pontes de 11 proveniente de um e nenhuma delas é sai nacionais, a de Carl genas, a de Kramat, SIm:

"A debêntura é um empréstimo tom; por ações ou por qua

Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos, n. 1, jan./jul. 1966

:Ao TOLEDO DE ENSINO - ANO I

Vivante, assim se ex­

mi, che reppresenta­~pendenti di un unico nittente" ("Trattato",

Ferreira, de saudosa

te, título de crédito, nutuado dividido, de os direitos, transmis­1" ("Tratado das De­

~lémentaire", voI. 11,

legociables, émis por II important, genera­Gte en un grand nom­

grande jurisconsulto

, título-valor, que as portador, conforme o ,cada companhia são l" ("Tratado", voI. 33,

:a:

da emissão de um ulo negociável que o o documento e prova êsse título é passado prova o direito, mas

DARCY ARRUDA MIRANDA JR. 31

Doutrina Paul Pie, na sua conhecida obra sôbre soci­edades comerciais:

"Lobligation est un droit résulte d'un prét consenti par obligataire à la sociéte et sonsaté par un titre nego­ciable" e encerra assim o mestre gaulês: "Le même ter­me, obligation, sert d'ailleurs à designer et le droit incor­poreI et le titre qui le matérialise" (tome 111, p. 224, n. 1.610) .

O insígne Carvalho de Mendonça assim a conceitua:

"Os títulos uniformes, de valor igual, emitidos pela sociedade anônima como frações daquele empréstimo, servindo de prova dos direitos dos mutuantes e da obri­gação da mutuária, denominam-se obrigações ou debên­turas" ("Tratado", voI. IV, p. 97, n. 1~55).

Para Kramata debêntura é:

"Le trait distinctif de l'obligation, au sens restreint ou l'usage fait employcer ce mot en matiere de société par actions, est de constituer un titre negociable par les voies commerciales et donnant au titulaire ou au porteur le droit de recevoir de la société pendant un temps et à des echéances determinées un intérêt fixe du capital par lui prête" ("La protection de l'épargné dans les sociétés anonymes", p. 148).

As definições apresentadas têm poucas discrepâncias entre si. Não divergem quanto a considerar a debênture um título de crédito. Aliás, concordam em quase tudo. A exceção é Pontes de Miranda. Os demais a apontam como proveniente de um empréstimo. A verdade, porém, é que nenhuma delas é satisfatória. Agrada-nos mais, entre as nacionais, a de Carvalho de Mendonça, entre as aliení­genas, a de Kramata, porém, preferimos enunciá-la as­SIm:

"A debêntura é título de crédito, correspondente, a um empréstimo tomado ao investidor, por uma sociedade por ações ou por qualquer outra sociedade especialmente

l

Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos, n. 1, jan./jul. 1966

32 INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO - ANO I

autorizada por lei, que serve de prova do direito do mu­tuante e da obrigação da mutuária, título êsse ao porta­dor ou nominativo - endossável, que dá direito ao rece­bimento, durante um prazo determinado, de juros prefi­xados e em época certa, integral, gradualmente ou por sorteio, ao reembôlso do capital mutuado ou à ações da mutuária".

Tomada parte de uma, trecho de outra definição, submetemos a nossa, longa e talvez insatisfatória, à crí­tica dos doutos, que por certo saberão escoimá-Ia.

12. É evidente, pela definição acima exposta, a nossa posição, frente ao problema da natureza jurídica de tais títulos.

Se a definição da debêntura oferece margem para di­vergencias, não mais tranqüilo é o problema da sua na­tureza jurídica.

Os compêndios especializados registram as mais va­riadas teorias sôbre a natureza jurídica das debênturas, algumas das quais fizeram fortuna, outras, porém, fica­ram no esquecimento, lembradas aqui e acolá, mais pelo prestígio de seus autores do que pelos seus próprios mé­ritos.

As teorias são numerosas, o que vem revelar as difi­culdades encontradas pelos doutos na explicação da na­tureza jurídica de tais obrigações. Algumas como já dis­semos, não merecem registro especial, sendo que as que encontram no contrato aleatório e na venda e compra, assemelhação, são, fàcilmente, refutáveis, como assinala Alfredo Russel, em seu livro "Sociedades Anônimas", p. 514:

"Faltam características do contrato de compra e ven­da e do contrato aleatório, na operação realizada entre a sociedade que emite um título de dívida, dividido em

DARCY ARRUDA MIRANDAJR.

parcelas iguais e aE êsses títulos".

Três teorias, por têm por parte dos e cem especial referêr

A primeira não. a seguir, não há COIl

o contrato de sociei ras conversíveis em

O nosso vetustc definição de socieda tores prefere aquela com um pequeno ac:

"Art. 1.363 - Ce soas, que mutuamel ços ou recursos, pa do comércio" ou a dE

"A sociedade COI

qual duas ou mais contribuição para 1:

ao exercício do com4 cros entre si" ("Trat

Estudando algw gaulês, A. Françon voI. VII, ps. 513/539 pressupõe quatro co participação nos luc "affectio societatis", ção de quase todos I

to, que não é unâIl

pois o elemento difE ria a "afrectio sociei de Gella) ou a "coop de, porém, é que o sente na formação I

Revista do Instituto de Pesquisas e Estudos, n. 1, jan./jul. 1966

IÇÃO TOLEOO DE ENSINO - ANO I

'ova do direito do mu­i, título êsse ao porta­ue dá direito ao rece­o.inado, de juros prefi­gradualmente ou por lutuado ou à ações da

o de outra definição, iZ insatisfatória, à crí­ão escoimá-Ia.

.cima exposta, a nossa ;ureza jurídica de tais

!rece margem para di­. problema da sua na­

~egistram as mais va­1dica das debênturas, i, outras, porém, fica­qui e acolá, mais pelo ~los seus próprios mé­

e vem revelar as difi­na explicação da na­

Algumas como já dis­ial, sendo que as que na venda e compra,

táveis, como assinala ~dades Anônimas", p.

'ato de compra e ven­Lção realizada entre a , dívida, dividido em

DARCY ARRUDA MIRANDA JR. 33

parcelas iguais e as pessoas em cujo favor são passados êsses títulos".

Três teorias, porém, pela receptividade que tiveram e têm por parte dos estudiosos do direito comercial, mere­cem especial referência.

A primeira não pode ser acolhida, pois como veremos a seguir, não há como se aparentar o título estudado com o contrato de sociedade, ainda na hipótese das debêntu­ras conversíveis em ações.

O nosso vetusto Código Comercial não oferece uma definição de sociedade, razão pela qual a maioria dos au­tores prefere aquela dada pelo art. 1.363 do Código Civil, com um pequeno acréscimo:

"Art. 1.363 - Celebram contrato de sociedade as pes­soas, que mutuamente se obrigam a combinar seus esfor­ços ou recursos, para lograr fins comuns", "no exercício do comércio" ou a de Carvalho de Mendonça:

"A sociedade comercial surge do contrato mediante o qual duas ou mais pessoas se obrigam a prestar certa contribuição para um fundo, o capital social, destinado ao exercício do comércio, com a intenção de partilhar lu­cros entre si" ("Tratado", voI. IH, p. 14, n. 514) .

Estudando alguns aspectos das obrigações no direito gaulês, A. Françon ("Rev. Trim. de Droit Commercial", voI. VII, ps. 513/539), lembra que o contrato de sociedade pressupõe quatro condições: a) contribuição dos sócios; b) participação nos lucros; c) participação nas perdas; e d) "affectio societatis", condições essas que refletem a posi­ção de quase todos os doutrinadores. Anote-se, entretan­to, que não é unânimemente aceita a última condição, pois o elemento diferenciador do contrato social, não se­ria a "affectio societatis", mas sim a "ligabilidad" (teoria de Gella) ou a "cooperação" (teoria de Paul Pie). A verda­de, porém, é que o elemento subjetivo está sempre pre­sente na formação de qualquer sociedade, pois como es­

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I

34 INSTITUIÇAO TOLEDO DE ENSINO - ANO I

creve A. Françon: "il n'y a pas de société et, dans une cer­taine mesure, egalitaire entre tous les associés".

Pergunta-se: a subscrição das debênturas satisfaz as condições supra-enunciadas? Assemelha-se a situação do debenturista ao do sócio. Parece-nos que não. É o que procuraremos demonstrar, apoiados, nas lições do citado mestre francês.

O capital da sociedade, formado com as contribuições dos sócios, constitui garantia única e exclusiva dos cre­dores, tanto assim que em caso de dissolução e liquida­ção - nas sociedades por ações não há a primeira fase, com exceção da hipótese do art. 167 -, somente depois de pagos todos os credores é que o sócio ou acionista tem a oportunidade de participar do acêrvo social. O debentu­rista, contràriamente, tem o direito de receber no têrmo convencionado, não só o seu capital como os benefícios, a que tiver direito, independente da dissolução ou liquida­ção das sociedades por ações, as únicas que no direito brasileiro não dependem de autorização legislativa para emitir obrigações ao portador ou nominativas­endossáveis. Em caso de falência o debenturista é credor da sociedade, o acionista não. O debenturista tem direito de receber, durante o prazo do empréstimo, haja ou não lucros, os juros e no vencimento do mesmo o reembôlso de seu capital. O acionista não. Inexistindo lucros não há distribuição de dividendos, mesmo entre os portadores de ações preferenciais com a participação previamente fixa­da.

É verdade que o debenturista pode ter o seu capital sacrificado pela má administração imprimida aos negóci­os sociais e com isso sofrer prejuízos, especialmente, em caso de falência, dada a classificação do seu crédito (pri­vilégio geral). Mas tais perdas ocasionais são iguais àquelas sofridas pelos acionistas? Esforçam a tese dos que sustentam a teoria ora estudada? Parece-nos que não. Não se pode equiparar a situação jurídica do deben-

DARCY ARRUDA MIRANDA JR.

turista com a do aci em nossa opinião, a dade concedida ao transponível.

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J1ÇÃO TOLEDO DE ENSINO - ANO I

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DARCY ARRUDA MIRANDA JR. 35

turista com a do acionista, bastando para diferenciá-la, em nossa opinião, a preferência no reembôlso. A priori­dade concedida ao debenturista torna-se obstáculo in­transponível.

Não há, pois com se confundir a posição do debentu­rista com a do acionista. Aliás, Vivante deixou isso bem claro, em magnífica síntese constante do n. 613 do se­gundo volume do seu "Trattato".

Outra, das explicações existentes sôbre a natureza jurídica das debêntures, é, sem dúvida, aquela defendida por um dos mais insígnes juristas patrícios, ou seja, Pon­tes de Miranda ("Tratado", v. 33, p. 306). Preleciona o mestre:

"Os títulos ao portador, debêntures ou outros, de modo nenhum são negócios jurídicos bilaterais. Não se pode dizer que os negócios que se fazem mediante debên­tures seja contrato de mútuo, definido no art. 247 do Có­digo Comercial, apenas com a diferença de ser dividida a quantia mutuada, expressa em títulos ao portador, com reembôlso gradual, por pequenas parcelas, quase sempre com longos prazos, ou de todo o quanto do empréstimo.

As debêntures são títulos-valor, de modo que cada tí­tulo é negócio jurídico unilateral."

Título-valor, segundo o art. 939 do projeto do "Código das Obrigações", de 1965, é aquêle que incorpora "o direi­to de participação do seu possuidor nas vantagens por êle atribuídas", e é definido por Pontes de Miranda (ob. e voI. citados, p. 261) como sendo o título que incorpora na cár­tula o direito de crédito, ou seja,

"incorpora a declaração unilateral de vontade, que, pela satisfação de todos os pressupostos necessários, en­trou no mundo jurídico e vale" (p. 308) e acrescenta a fls. 262:

"... todos os títulos-valor têm os três momentos: o momento da criação, em que conclui o negócio jurídico

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36 INSTITUIÇÁO TOLEDO DE ENSINO - ANO I

unilateral; o momento da posse de boa fé perante o subs­critor, em que nasce a relação jurídica de dívida; e o mo­mento da apresentação, em que se irradia a relação jurí­dica da obrigação".

Ensina, no mesmo sentido, o eminente jurista espa­nhol José Ignacio de Arrillaga, no seu livro "Emission de Obligaciones y protección de los obligacionistas", p. 25. Devemos, entretanto, anotar que o ilustre escritor divide em dois momentos o negócio jurídico: o empréstimo (em­préstimo obrigacionista) e as obrigações (obligaciones), considerando aquêle um mútuo, êstes títulos-valor, em­bora não vejamos como se possa cindí-Ios, especialmente se considerarmos que o título de crédito (obrigação ao portador ou nominativa-endossável) está irremediàvel­mente vinculado à causa primeira, não só pelas garanti­as oferecidas (patrimônio social ou hipotecas, ou penho­res, ou títulos da dívida pública) como também pela sua validade. Por exemplo, a emissão não autorizada por uma sociedade, de debênturas. Tal emissão, punida pelo decr. 177-A, com prisão e multa, é nos têrmos do art. 1511 do Código Civil, nula. Acrescente-se ainda que não se trata de um título abstrato, conforme pretendem Francesco Ferrara J. ("Gli imprenditori e le società", p. 362), Pontes de Miranda (ob. e voI. citados, p. 309), e Tu­lio Ascarelli ("Teoria Geral dos Títulos de Crédito") mas sim causal como assinala Langle, citado por Arrigalla (ob. cit., p. 32), pois

"va ligado aI contrato de que deriva y se rige funda­mentalmente por las normas deI mismo".

Sendo o título-valor (4) aquele que incorpora, retor­nando às afirmações de Pontes de Miranda, os direitos que representa é evidente que não constitui explicação

(4) Não se deve esquecer que tal locução, "títulos-valor", tem sido em­pregada na doutrina em lugar de "títulos de crédito" como informa o notável mestre italiano, falecido há alguns anos, Tullio Ascarelli, no seu extraordi­nário livro "Teoria Geral dos Títulos de Crédito", p. 26, nota 1.

DARCY ARRUDA MIRANDA JR.

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ÇÃO TOLEOO DE ENSINO - ANO I

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DARCY ARRUDA MIRANDA JR. 37

suficiente da natureza jurídica das debênturas. Primei­ramente por que não diz o que seja debêntura e em se­gundo lugar porque diz o que seja o título não a debêntu­ra, explica o continente não o conteúdo.(5)

Finalmente, é conveniente esclarecer que os defenso­res do mútuo, como explicação da natureza jurídica da debêntura, não negam que tal título incorpore direitos (cf. Inglês de Souza, "Títulos ao Portador", p. 267), mas não o dissociam de sua causa originária. A respeito, pre­cisa é a lição de Brunetti (ob. e voI. cits., p. 434) :

"Nel titolo viene incorporata una obligazione di cui e expressamente richiamata la causa (il mutuo) onde i di­ritti relativi sono assoggettati aBa disciplina propria di tale contratto. Convien dedurne che si tratta di titulo di credito causale per tal e suo stretto legame aBa causa...".

Procurando esforçar a sua tese, o ilustre jurista Pon­tes de Miranda, afirma que não se pode confundir a exis­tência do negócio jurídico com sua eficácia. Indaga-se, porém: - Se o negócio jurídico nasceu da necessidade que a entidade emissora tinha do empréstimo, para êste ou aquêle objetivo, e se êste empréstimo só se concretiza no momento que chega o título às mãos de terceiro, como dissociar a existência da eficácia? E se os títulos forem inutilizados totalmente, antes de serem colocados em cir­culação, ou jamais forem colocados no mercado? Carva­lho de Mendonça chegou certa vez a afirmar:

"... que sem a figura do mutuante não havia emprés­timo, e para realização do empréstimo era essencial a subscrição, sem a qual o título não tinha vida jurídica, porque só assim entrava em circulação, podendo tornar­se objeto de relações contratuais" ("Tratado", voI. IV, p. 120).

CO) Para nós, a debêntura é um título de crédito causal, não abstrato como a consideram entre outros, Pontes de Miranda e Tullio Ascarelli.

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38 INSTITUIÇÁO TOLEDO DE ENSINO - ANO I

Parece-nos, pois, que não se pode separar, no caso, a existência do negócio jurídico de sua eficácia, ainda na hipótese do art. 1506 do Código Civil, pois a responsabi­lidade daí decorrente é mais um argumento em prol de nossa assertiva.

Mas não é só. Insistindo, no seu ponto de vista, es­creve Pontes de Miranda, que

"Com a subscrição da debênture, está perfeito o negó­cio jurídico unilateral. Tanto assim que, se, sem ou con­tra a vontade do órgão ou dos órgãos da sociedade por ações, a que incumba a emissão, a debênture vai às mãos de possuidor de boa fé em relação a ela, nasce a relação jurídica de dívida" (ob. e vol. cits., p. 308), apoiando-se, evidentemente, nos artigos 1.506 e 1.507 do Código Civil. Mas data vênia, em face da lei n. 4.728/65 que criou as obrigações nominativas endossáveis, tal argumento per­deu tôda a autoridade.

Não nos parece despropositado recordar, a esta altu­ra, o ensinamento do saudoso mestre Waldemar Ferrei­ra, aplicável à hipótese:

"o vínculo, que a sociedade assume no título, e que lhe dá valor, pressupõe já que se haja efetuado, por parte daquele a quem corresponde (por ter subscrito ou aderi­do) o pagamento da quantia respectiva, ou que tenha se obrigado a realizá-lo. Êste ponto, logicamente anterior, é que deve ser tomado em consideração. Nesse momento, com efeito, quem subscreve assume a obrigação de pagar, se não o faz, determinada importância à sociedade, em troca da obrigação, que ela, por seu turno assume de lha devolver: a sucessiva entrega do título, que precisamente documenta tal obrigação da sociedade, não é mais que conseqüência daquêle acôrdo" ("Tratado das Debêntu­ras", p. 151).

Parece-nos mais acertada a posição daqueles que ex­plicam a natureza jurídica das debênturas como sendo

DARCY ARRUDA MIRANDA JR.

um contrato de mútl grande arauto:

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ÇÁ.O TOLEOO DE ENSINO - ANo I

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,sição daqueles que ex­ebênturas como sendo

DARCY ARRUDA MIRANDA JR. 39

um contrato de mútuo e que encontram em Vivante o seu grande arauto:

"Il contratto che si conclude fra l'istituto emittente e i sotoscrittori di obbligazioni e un prestito. Chi piglia il ti­tolo o si obliga colla sua sottoscrizione a pigliarlo piu tardi é un mutuante; l'istituto che riceve il prestito e si obbliga di pagare l'interesse annuale di rimborsarne il capitale e il mutuatario" ("Trattato", lI, p. 334).

Reconhece, outrossim, o ilustre jurista italiano, como o faz Waldemar Ferreira ("Tratado das Debênturas", p. 150), que não se trata de um mútuo normal. Não é, exa­tamente, aquêle do art. 247 do Código Comercial, nem tampouco o do art. 1.256 do Código Civil. Aquêle apenas diz quando o mútuo pode ser considerado um emprésti­mo mercantil; êste, mais preciso, conceituou-o como em­préstimo de coisas fungíveis. Foi mais além. Todo o mú­tuo é empréstimo, mas nem todo o empréstimo é mútuo. O empréstimo é gênero do qual são espécies o comodato (art. 1.248) e o mútuo (art. 1.256). A distinção não encon­tra ressonância quer na linguagem jurídica, quer na lin­guagem comum, como acentua Waldemar Ferreira, no seu "Tratado das Debênturas", p. 62:

"mercê de sinédoque..." emprega-se o gênero pela es­pécie o comodato (art. 1.248) e o mútuo (art. 1.256).

Mas a diferença é de forma, não de substância, dife­rença essa que se acentua na divisão da quantia mutua­da e no processo de amortização, como anota Ruy Car­neiro Guimarães ("Sociedade por Ações", vol. lI, p. 293).

"Esso si distingue", escreve Vivante, "infine daI mu­tuo normale perche la prova deI credito e affidata ad un titolo aI portatore; ma se questa forma serve a rendere piu agevole la circolazione e la riscossione deI credito, essa non toglie punto aI rapporto fondamentale, donde il titolo e uscito, il carattere di un prestito, perche il docu­

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INSTITUlçAo TOLEDO DE ENSINO - ANO I 40

mento di un credito produttivo d'interessi e il documento di un mutuo" (ob. e voI. cits., p. 334).

Trata-se, pois, de uma construção jurídica mais com­plexa do que um simples contrato de mútuo (ver tb. Car­valho de Mendonça, ob. e voI. cits., n. 1254). Poderíamos dizer que se trata de um contrato de mútuo "sui generis", ainda que incidindo na sarcástica censura de Jean Es­carra, citada por Waldemar Ferreira, em suas "Institui­ções":

"sans parler de l'opinion qui fait ici entrer en scene le traditional e si commode contrat "sui generis", ou esfor­çar as razões que inspiraram a célebre "Prolusione" de Vivante (6).

"Sui generis", mas mútuo. "Na realidade", escreve Miranda Valverde, "a figura jurídica do mútuo é a que melhor serve para caracterizar a operação da emissão de debêntures, quer quando o lançamento delas na circula­ção se faz por subscrição pública ou venda pública, quer quando a subscrição ou a venda é feita particularmente, nem sempre, porém, e já acentuamos (n. 491), é o mútuo a relação fundamental da criação dos títulos ou o fim vi­sado pelo instituto emissor. Assim, quando êle cria as obrigações ao portador, para dar em pagamento aos seus credores ou para distribuir entre os seus acionistas, ou, ainda, e tão somente, para caucioná-la" ("Sociedades por Ações", voI. 2, p. 17,).

E em se tratando de debêntures conversíveis em ações (art. 44 da lei n. 4.728/65). Subsiste a figura jurídi­ca do mútuo? A resposta é afirmativa.

Em face do texto, não muito explícito da lei, parece­nos que cabe ao obrigacionista optar pelo reembôlso do

(6) "Quella proposta mi fu inspirata originariamente daI disagio scienti­fico in cui trovasi la nostra disciplina, condanata a vivere a mezza costa fra l'empirismo della pratica e le dottrine tradizionali consacrate daI diritto ci­vile, blocandosi nell' impotenza giuridica dei contratti "sui generis" (Cesare Vivante, "Trattato", voI. I, p. XVII).

DARCY ARRUDA MIRANDAJR.

capital ou pela conv afirmamos considen do art. 44 dispõe :

"prazo ou época são".

Ora, "exercício ( nossa opinião, em OJ teria usado a frase " lizada a conversão", tendimento temos a dido artigo (... e pedi

Ainda que tal 0:(:

amos a afirmar a ex pois a conversão das ra, especialmente se te, se assim podemo dos aludidos títulos.

Há autores que] pensação (v. Pontes ( rém, para que haja das condições estipu Código Civil, em se 1 positivos êsses que I

cial que as pessoas devedoras recíprocaf acontece. Se tivésseI da, lembraríamos di Cód. Civil), jamais d

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lIÇÃO TOLEOO DE ENSINO - ANO I

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lriamente daI disagio scienti­ta a vivere a mezza costa fra :laIi consacrate daI diritto ci­mtratti "sui generis" (Cesare

DARCY ARRUDA MIRANDA JR. 41

capital ou pela conversão em ações da mutuária. E isto afirmamos considerando que o inciso "a" do parágrafo 1.0 do art. 44 dispõe :

"prazo ou época para o exercício do direito à conver­são".

Ora, "exercício do direito à conversão" implica, em nossa opinião, em opção. Se isso fôsse defeso, o legislador teria usado a frase "prazo ou época em que deve ser rea­lizada a conversão", por exemplo. Para apoiar o nosso en­tendimento temos ainda o disposto no § 4.° do retro alu­dido artigo (... e pedido escrito do seu titular).

Ainda que tal opção não fosse permitida, continuarí­amos a afirmar a existência da figura jurídica do mútuo, pois a conversão das obrigações em ações, não o desnatu­ra, especialmente se considerarmos que está êle presen­te, se assim podemos dizer, na raíz de qualquer emissão dos aludidos títulos.

Há autores que preferem falar, na hipótese, em com­pensação (v. Pontes de Miranda, ob. vol, cits., p. 346). Po­rém, para que haja compensação, além do atendimento das condições estipuladas nos arts. 1010 e seguintes do Código Civil, em se tratando de obrigação mercantil, dis­positivos êsses que em substância não diferem, é essen­cial que as pessoas sejam, ao mesmo tempo, credoras e devedoras recíprocas, o que evidentemente, no caso, não acontece. Se tivéssemos de apontar uma figura apropria­da, lembraríamos da dação em pagamento (art. 995 do Cód. Civil), jamais da compensação.

Porém seja compensação, dação em pagamento ou outro instituto qualquer, continua sendo, o contrato de mútuo "sui generis", a figura jurídica caracterizadora da emissão de debênturas.

Carvalho de Mendonça, versando assunto semelhan­te, oferece-nos precioso apoio:

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INSTITUIÇÁO TOl.EDO DE ENSINO - ANO I42

"Não é, porém, essencial que o produto do emprésti­mo entre efetivamente em dinheiro de contado para a caixa da sociedade. O empréstimo pode-se destinar ao pagamento ou resgate de dívidas anteriores e ainda ao pagamento de obras e serviços no interêsse da sociedade.

Êsse ponto ficou bem certo no parecer das Comissões de Finanças e de Justiça e Legislação do Senado de 17 de outubro de 1892: "Casos há em que a emissão do emprés­timo não é mais que um meio de pagar dívidas já con­traídas. Nessa hipótese, ocorre, às vêzes que a compa­nhia mutuária não embolsa na ocasião um real; entrega apenas aos seus credores, em fiança do reembôlso, por quantias ou serviços anteriormente recebidos, os títulos de obrigação, que subscreve, e que passam de sua cartei­ra para a do mutuante, sem troca de dinheiro, simples­mente em quitação de compromissos prestabelecidos. Como privar o comércio e a indústria dêsse meio usual de pagamento? Como tolher essa espécie jurídica de rela­ções ?"

O que se dá nos casos acima apontados é economia de tempo e trabalho. Se o credor subscreve parte do emprés­timo, para que entrar com o dinheiro para imediatamen­te o receber? Se é o vendedor quem recebe em títulos, para que idêntica operação?" ("Tratado", vol. IV, p. 119, n.1277).

"Mutatis mutandis", é a nossa tese. Se a sociedade emissora pode proceder a tôdas as operações supra­enunciadas, sem desnaturar o mútuo, por que não incluir a conversão de acões?

Podemos lançar em defesa de nossa tese, um outro argumento: o legal. O decr. lego n. 177-A, de 15-9-1893, em seu artigo 1.0, diz:

"As companhias ou sociedades anônimas poderão emitir empréstimos em obrigações ao portador (debêntu­res), de conformidade com o disposto nesta lei".

DARCY ARRUDA MIRANDA JR.

E assim tem sid disciplinação legal. : de 4-11-1862, um de já se promulgou no bênturas mereceran seu artigo 32 estava

"É permitido às préstimo de dinheir, ao portador" (Note-E tações, obedeceram ~

O decreto n. 8.82 n. ° 3.150, e introdu "debêntures" (art. 2 1890, fala claramen ce com o art. 41 do l

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:Ao TOLEDO DE ENSINO - ANO I

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lassam de sua cartei­:ie dinheiro, simples­;sos prestabelecidos. ria dêsse meio usual >écie jurídica de rela­

ltados é economia de eve parte do emprés­D para imediatamen­n recebe em títulos, :ido", vol. IV, p. 119,

Gese. Se a sociedade lS operações supra­" por que não incluir

ossa tese, um outro L77-A, de 15-9-1893,

anônimas poderão ) portador (debêntu­nesta lei".

DARCY ARRUDA MIRANDA JR. 43

E assim tem sido desde que as debênturas tiveram disciplinação legal. Na realidade, foi com a lei n. 3.150, de 4-11-1862, um dos mais notáveis diplomas legais que já se promulgou no Brasil, que pela primeira vez as de­bênturas mereceram a atenção do legislador patrício. O seu artigo 32 estava assim redigido:

"É permitido às sociedades anônimas contrair em­préstimo de dinheiro por meio de emissão de obrigações ao portador" (Note-se: a grafia desta, como de outras ci­tações, obedeceram ao Vocabulário Ortográfico de 1943).

O decreto n. 8.821, de 30-12-1862, regulamentou a lei n. o 3.150, e introduziu, na nossa legislação, o vocábulo "debêntures" (art. 21). O art. 32 do decr. 164, de 17-1­1890, fala claramente em empréstimo. O mesmo aconte­ce com o art. 41 do decr. 434, de 4-11-91, que consolidou as disposições vigentes sôbre as sociedades por ações. Não discrepa o art. 1.0 do decr.-Iei n. 781, de 12-10-38. (continua no próximo número)

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