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Álcool e direção Mistura que leva a muitos acidentes As vozes do trânsito O rádio, aliado e amigo do trânsito Paraná reduz acidentes Revista do Detran/PR - ano V/ Número 45 DETRÂNSITO DETRÂNSITO Seu exemplo vai ser seguido. Dirija com responsabilidade.

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Page 1: DE TRÂNSITO 45 FINAL - DETRAN/PR

Álcool e direçãoMistura que leva a muitos acidentes

As vozes do trânsitoO rádio, aliado e amigo do trânsito

Paraná reduz acidentes

Revista do Detran/PR - ano V/ Número 45

DETRÂNSITODETRÂNSITOSeu exemplovai ser seguido.Dirija comresponsabilidade.

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A violência tolerada

Expediente:Detrânsito é uma publicação do Detran/PR, ano V, nº 45, abril/maio 2007.Editor: jornalista José Fernando da Silva (DRT – 3936)Impressão, Imprensa Oficial/ Tiragem: 30 mil exemplares Projeto gráfico e editoração – Almir FeijóDetran/PR – Diretor Geral: David Antonio Pancotti

Cartas

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Quero cumprimentá-los pela revista Detrânsito, conteúdos com qualidade e que me auxiliam até nas aulas teóricas bem como nos cursos de renovação.

Artur Roscoche dos SantosSão Mateus do Sul – PR

Quero externar minha admiração pela excelente qualidade dos assuntos veiculados na Detrânsito e pela qualidade do papel e fotos. Com certeza é a melhor publicação das que eu conheço sobre o tema. Tomei conhecimento dela, através da Sra. Érica, que é professora do CIENTEC (Curitiba/PR). É inegável a grande contribuição que ela presta para melhorar a Segurança Viária. Solicito, se possível, o recebimento regular dela, será de grande valia para mim, pois sou educador de trânsito e trabalho também na área de fiscalização de trânsito em Erechim (Sou 2º Sargento do Comando Rodoviário da Brigada Militar/RS).

Lauro Cesar Pedot Getúlio Vargas-RS

Quero parabenizar a revista Detrânsito. Como instrutor de trânsito em um CFC a tenho utilizado com freqüência. Mostro aos meus alunos que, mesmo nos dias de hoje, com tanta violência em nosso trânsito, existem Estados que investem na educação e conscientização de trânsito. Acho que todos os Estados deveriam ter uma publicação como esta. Meu muito obrigado a toda equipe da Detrânsito. Parabéns ao estado do Paraná

Djeison de Castilho Rio Negrinho - SC

Escreva para a Detrânsito:

[email protected]

Ler é libertar-se das amarras do tempo. Nos libertemos, pois, até chegarmos ao tempo que deu fundo às crônicas de Rubem Braga, Nélson Rodrigues e Sérgio Porto, nosso Stanislaw Ponte Preta. Linha após linha, o leitor vai encontrar, nesses quase esqueci-dos escritos, um Brasil dos anos 1950 e 60, alegremen-te perdido em molduras inocentes de retratos em branco e preto; o Brasil das senhoras que trocavam mexericos encostadas nas cercas de suas casas; o Brasil da ingenuidade e onde, pelo que parece, a maldade ainda não tinha nascido.

Nas páginas dos jornais desta época dourada, afora o necrológio, a morte se fazia praticamente ausente. Por isso, na escassez das tragédias, para animar aqueles dias mansos, restava ao cronista abusar da ficção; inventar personagens; passear pelas praias vazias e de lá tirar elementos para comentários diários abusados em humor.

Mas havia um momento em que o humor dava lugar ao dramático, a histórias verdadeiras. Bastava alguém morrer de tiro ou acidente para que nossos cronistas vertessem para suas linhas considerações sobre a fragilidade da vida e seus significados. Verifique que a morte, a vida, neste tempo, não estavam entregues ao descaso e nem freqüentavam o profundo abismo da banalidade aberto em nossas almas pela indiferença.

Nesses escritos do horror, invariavelmente apareceriam personagens esticados no asfalto, portando em suas mãos velas que outras mãos piedosas ali deixaram. Personagens com nome, endereço e biografia. “Fulano morreu atropelado”. Pronto, estava aí a notícia na redação, razão para o repórter ir ao enterro e comparecer à missa. Para os jornais, este fulano certamente não era apenas um candidato a número de estatística. Algarismo sem rosto, nome, sem história, sem laços com a comunidade. Ah, sim, o incidente seria investigado e o povo, informado, pediria providências aos órgãos competentes.

Voltemos agora ao nosso tempo. Liguemos o rádio e a TV, folhemos os jornais e o que encontrare-mos? Nada. Nada além do que belas estatísticas apontando o número de pessoas que deixaram este

mundo por causa de nossa pressa e descaso. “Morreu fulano”, passemos ao largo. Talvez seja

melhor assim. Ao nos depararmos somente com números, isso nos aliviará a alma, nos impedirá da participação de tragédias, que devem ficar restritas apenas à família ou aos mais próximos da vítima individualizada em dígitos.

Neste contraste temporal, há de se observar que em algum tempo, e não sabemos como, perdemos a capacidade de nos comover. Perdemos a capacidade de ver nos números os rostos das pessoas e os dramas neles representados. A verdade é que crescemos na indiferen-ça, provocada por uma sociedade fundamentada num individualismo cada vez mais absurdo.

Assim, morrer em acidente de trânsito, ou de tiro, seja lá com qual idade e sonhos, virou algo tão banal quanto dobrar uma esquina. Nas redações, hoje sem cronistas, algum jornalista apanhará esses números e, se houver espaço, irá publicá-los, com os devidos comen-tários dos especialistas no assunto, que apontam sempre as mesmas causas para a tragédia anunciada e repetida nesses dias tão ao gosto da loucura.

Nesta revista, o leitor encontrará por certo números e estatísticas, mas não queremos que eles sejam vistos somente assim. Aqui, cada número tem um nome como nas crônicas antigas. É o João, pai de família, que perdeu a vida por imprudência de alguns meninos que faziam um racha. É a Magali que está paraplégica porque um irresponsável bebeu na balada e provocou um acidente. É o Jorginho, criança de 4 anos, que foi atropelado quando voltava do culto dominical junto com seus pais.

É possível que tenhamos perdido a ternura e caminhemos por aí com nossas almas de concreto e asfalto. Afinal, a violência é tanta. Entretanto, há de se fazer um esforço em busca desta grande capacidade humana que consiste em revoltar-se com as injustiças e abusos.

Cremos que a lucidez ainda não deixou de vez este mundo e é por isso que vamos sempre insistir nesse contar contínuo de tragédias. Vamos sempre dizer que é possível um mundo sem elas e que cabe a nós, cronistas e leitores, enfim brasileiros, dar fim à violência, qualquer que seja ela.

Lendo esta revista deixe o pensamento ir além: a violência até pode existir, mas jamais deve ser tolerada.

EDITORIAL

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NOTAS DO DETRAN

COMPORTAMENTO

De acordo com o artigo 165 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) dirigir sob influência de álcool é cri-me de trânsito. No ano passado, em Curitiba foram registrados 500 aci-dentes de trânsito em que ao menos um motorista apresentava sinal de embriaguez. Neste ano, até o mês de abril, este número chegou a 108. Quando o condutor embriagado se envolve em acidente que resulta em mortes, o processo é encaminhado para um juiz da Vara de Delitos de Trânsito, que pode concluir o proces-so ou apresentá-lo a um promotor que irá analisar se o caso deve ou não ser julgado no Tribunal do Júri (ver box).

O primeiro desembargador a de-fender os acidentes de trânsito como dolo eventual no Brasil foi Octávio César Valeixo, no Paraná. Depois de-le, muitos desembargadores abraça-ram a causa, mas com o tempo, o ato

João Kopytowski, desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná, defende que todo causador de acidentes de trânsito, com vítimas, deva ser julgado no Tribunal do Júri

Misturar bebidas alcoólicas com direção pode ser a causa de muitos acidentes gravíssimos

Álcool e direção: um crime de trânsito

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de dirigir embriagado e outros cri-mes de trânsito deixaram de ser leva-dos a júri popular. “Acredito que só o fato do culpado sentar no banco dos réus perante advogados, juiz, promo-tores, faz com que ele sofra uma puni-ção moral”, diz o desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná, João Kopytowski. Ele defende que todo causador de acidentes de trânsito, com vítimas, deva ser submetido ao Tribunal do Júri.” Pois, ao enfrentar o Tribunal, o culpado tem a possibili-dade de receber uma pena maior”, ob-serva Kopytowski.

Pra tentar coibir a prática de diri-gir embriagado, a lei federal 11.275/06 permite que o agente de trânsito, verificados os sinais de em-briaguez, autue o condutor, mesmo que ele se negue a realizar o teste do bafômetro. Para isto é necessário que haja testemunhas. Um dos meios de comprovar a inocência é aceitar o

uso do etilômetro (aparelho utilizado para medir o índice de álcool no san-gue).

O comandante geral do Batalhão da Polícia de Trânsito de Curitiba (BPTran), coronel Eduardo Tachibana, explica que os efeitos do álcool são relativos. “Depende muito do tanto que a pessoa está acostuma-da a beber e do tamanho da pessoa”, afirma. Um exemplo comum que o coronel Tachibana cita é o pai de fa-mília que bebe na casa de um amigo ou parente nos finais de semana. “Apesar de dirigir embriagado ele vai ter mais cautela porque vai pen-sar na família dele, mas nem por isto deixa de ser imprudente”, afirma.

O médico especialista em tráfe-go Alberto Sabag explica que o álcool age no sistema nervoso central, ini-bindo o bom funcionamento do cére-bro, principalmente nas funções de re-ceber e interpretar os mais simples si-

Vanussa Popovicz

Aquecimento global é o assunto que está em pauta na imprensa e preocupa a população. Refere-se ao aumento excessivo da temperatura devido ao buraco na camada de ozônio. A variação da irradiação solar contribui cerca de 45% com o aquecimento global.

A poluição excessiva é o fator que mais contribui para o aquecimento global. Os veículos são responsáveis por 40% da poluição, o qual é gerado pelo gás eliminado, monóxido de carbono (CO). Além disto, os veículos geram energia que também contribui para o aquecimento global. Quanto mais antigo o veículo for, mais gases poluentes ele vai emitir. No Paraná, a frota de veículos com mais de dez anos soma 47,46% do total de pouco mais de 3,5 milhões de veículos.

Para prevenir a liberação excessiva de CO, é extremamente importante realizar uma manutenção periódica no veículo. O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) prevê a inspeção técnica veicular obrigatória, para fiscalizar as condições de conservação dos veículos. Esta modalidade infelizmente ainda não está regulamentada, o que permite que muitos carros circulem com a lataria, o motor, os equipamentos de segurança e de controle de poluentes comprometidos.

O combustível mais poluente é o diesel utilizado principalmente por caminhões e camionetas. Um meio econômico de diminuir a poluição gerada por estes veículos são os combustíveis alternativos, como os biocombustíveis, feitos de cana-de-açúcar, milho, soja, e o Gás Natural Veicular (GNV), que é utilizado por apenas 37 veículos em todo o estado do Paraná. Os demais veículos utilizam a combinação de GNV com outro combustível, que também não deixa de ser uma maneira econômica de ajudar, ao menos de vez em quando, o meio ambiente. A usina de Itaipu desenvolveu um veículo movido a energia que não solta nenhum poluente atmosférico. É uma maneira barata de preservar o meio ambiente, só falta agora este veículo chegar no mercado automobilístico com a mesma facilidade que é oferecida à compra dos carros populares.

Outro problema ocasionado pelo excesso de poluição é a inversão térmica. Ela ocorre quando o sol esquenta o solo e o ar quente, por ser menos denso, sobe e dá espaço para o ar frio, que é mais denso e fica embaixo. O excesso de poluição não permite a troca do ar frio com o ar quente. O ar quente sobe com os poluentes e formam uma névoa de gases poluentes, que são prejudiciais à saúde. Isto ocorre diariamente nas grandes metrópoles devido a grande quantidade de veículos nas ruas se intensificam ainda mais no inverno.

A quantidade de veículos nas ruas da capital do Paraná e de diversas outras cidades do Brasil é assustadora. Em Curitiba, a frota por habitante representa 54,33%. Este número mostra que para cada dois moradores de Curitiba, um possui veículo. A tendência deste número é aumentar cada vez mais. Com um crescimento de 0,56% ao mês, é previsto que até o final de julho a frota curitibana alcance a marca de um milhão de veículos, o que preocupa, pois em breve a estrutura viária da capital não irá comportar a quantidade de veículos circulantes nas vias.

Uma das possíveis medidas a serem adotadas para evitar um transtorno e um caos maior é o rodízio de carros, já adotado por São Paulo. Outra opção seria orientar a população a utilizar o transporte coletivo, mas para isto é necessário aumentar a frota para que o tempo gasto dentro dos ônibus e o conforto de utilizá-los possam existir.

A carona é outra solução para reduzir o número de carros em circulação. Para isto, basta apenas ter uma rota que se concilie com o caminho do vizinho e combinar a carona. Com certeza são métodos fáceis, simples e baratos para diminuir a circulação de carros nas vias, juntamente com a poluição emitida por estes veículos.

Um grande contribuinte do aquecimento global

Cel. David Antônio Pancotti é Diretor Geral do Detran/PR O Detran/PR realizou um leilão

de 858 veículos de 38 municípios, no dia 13 de junho em Foz do Iguaçu. Foram vendidos todos os lotes e o total da arrecadação foi de R$ 666.754,00, que serviu para pagar os débitos dos veículos leiloados, como impostos atrasados e multas de trânsito.

Os veículos leiloados pelo Detran/PR são apreendidos em blitze e vendidos em condição de sucata para ferro-velho que estejam cadastrados junto ao Detran/PR. Quando o proprietá-rio tem o veículo apreendido, ele tem até 90 dias para regularizar a situação de débitos do veículo e retirá-lo do pátio. Passado o prazo, o veículo pode ir a leilão a qualquer momento, mas não sem antes de uma comunicação formal ao proprie-tário com uma segunda chance de regularização.

O Detran/PR realiza várias reuniões nos diversos municípios paranaenses para expandir o projeto Co-munidade e Trânsito. Essas reuniões pretendem mobilizar a população local para a criação de uma comissão de trânsito.

Em duas horas são abordados os temas Educação para o Trânsito, o que é o projeto e quais os benefícios que trarão para a comunidade e trânsito locais.

Logo após são formados núcleos para a discussão de propostas para reduzir o número de vítimas no trânsito.

O Detran está treinando os funcionários de todas as Ciretrans para capacitação e conhecimento sobre infrações. No total, 200 funcionários participarão do curso, sendo dois de cada Ciretran. As Ciretrans de Londrina, Cornélio Procópio, Francisco Beltrão e Cascavel foram sede dos primeiros treinamentos. Pela manhã os funcionários aprendem a parte teórica de como funciona o sistema de multas, o Registro Nacional de Infrações (Renainf), como identificar o órgão emissor da infração, entre outros. À tarde a capacitação é prática; os funcioná-rios aprendem a cadastrar e a consultar as multas no sistema, encaminhar e ajudar a preencher recursos, etc.

Detran realiza leilão em Foz do Iguaçu

Comunidade e Trânsito

Treinamento de infrações

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nais. “A receptação de perceber e rea-gir no tempo certo fica prejudicada. O álcool deixa as percepções de tempo, espaço e velocidade distorcidas”, afir-ma. Além dos reflexos e da coordena-ção, o álcool também diminui a capa-cidade da visão. A pessoa perde a capa-cidade de ver e ser visto no trânsito, que é uma das principais regras da Direção Defensiva.

Sabag afirma que o álcool con-tribui para um índice maior de mor-talidade. “Uma pessoa alcoolizada fi-ca com os vasos sanguíneos dilata-dos. A pessoa não consegue fazer com que a pressão arterial se estabili-ze e fica mais frágil”, explica. Uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (ABRAMET), cita que “ dados sobre a sobrevivência dos condutores e pas-sageiros embriagados eram desco-nhecidos até há pouco tempo. Trata-se do seguinte: para um mesmo im-pacto físico, todas as outras variáveis mantidas constantes, quanto mais o indivíduo tiver bebido, maior sua chance de morrer. Isso porque, um mesmo impacto causa mais ferimen-tos numa pessoa que bebeu”.

Uma das maiores vítimas da peri-gosa mistura de álcool e direção, segun-do Sabag, são os jovens. “Eles saem pa-ra as baladas, ingerem uma quantidade grande de bebidas alcoólicas. Depois, muitos ocupam o mesmo carro e com um embriagado no volante. Isto se tor-na um grande fator de risco”, afirma. O cel. Tachibana delimita a faixa etária de acordo com a quantidade de acidentes atendidos em Curitiba. “São jovens en-tre 18 a 25 anos”, afirma. Outra vítima frágil da embriagues é o dependente, que já possui grande parte do organis-mo debilitado.

Um dos fatores para o alto con-sumo de álcool seria a facilidade na compra deste produto. “Não existe controle de venda no Brasil. A fisca-lização fica a critério das pessoas que estão em volta de quem compra a be-bida. Em alguns países quem vende a bebida também tem responsabilida-de nas conseqüências”, diz Sabag, que identifica que as mulheres estão consumindo cada vez mais bebidas alcoólicas. “As propagandas estão mais focadas nas mulheres”, analisa.

A pesquisa da ABRAMET con-firma que as mulheres são mais frá-geis aos efeitos do álcool, devido à massa corpórea, assim como os jo-vens menores de 18 anos e as pessoas acima dos 60 anos. A ingestão de be-bidas alcoólicas com o estômago va-zio também contribui para que o efei-to do álcool aconteça mais rápido.

O coronel Tachibana explica que a melhor atitude a ser tomada em caso de embriaguez é esperar o efeito passar ou pedir carona a alguém que não tenha bebido. “Tomar banho frio, café amargo ou suco de couve para cortar os efeitos do álcool são mitos. O máximo que pode aconte-cer nestas situações é a pessoa ficar mais acordada, nada além disto”, afir-ma.

A eliminação do álcool no cor-

po é lenta e, assim como na quantida-de de consumo, varia de acordo com a estrutura e costume do indivíduo. É possível detectar o álcool no organis-mo um dia depois da ingestão. A pes-quisa da ABRAMET mostra que a eli-minação do álcool pelo organismo “pode variar de 0,08% a 0,22% por hora, de acordo com o funcionamen-to do fígado (que é o responsável pe-la quase total degradação do álcool ingerido). Admite-se, porém, que a média de eliminação seja de 0,15% por hora”.

Para inibir os acidentes causa-dos pelo consumo excessivo de álco-ol, Tachibana tem projetos de fiscali-zação intensa na capital. “Vou traba-lhar para o trânsito ficar com índices de acidentes aceitáveis. Os acidentes irão acontecer por acaso e não por im-

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Coronel Eduardo Tachibana, comandante do BPTran: “A melhor atitude a ser tomada em caso de embriaguez é esperar o efeito passar ou pedir carona a alguém que não tenha bebido”

casos o etilômetro não resolve. O con-dutor é encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML) e lá realiza o exame de sangue que vai ou não com-provar o uso de entorpecentes. Caso ele não efetue o procedimento, pode ser autuado pelo agente diante de tes-temunhas, como no caso da bebida al-coólica.

O uso de medicamentos contro-lados que alteram os sinais de reflexo também se enquadra no artigo 165. “Mas uma pessoa que toma remédios fortes tem consciência da sua real si-tuação e geralmente chama alguém para levá-la a determinado lugar ou fica em casa, já com o intuito de evi-tar qualquer possível acidente”, es-

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prudência”, afirma. No ano passado, no Paraná, fo-

ram registrados 3.012 infrações por dirigir sob influência de álcool em ní-vel superior ou entorpecente. “O BPTran vai continuar atento para aplicar as leis com rigor, principal-mente nas infrações que contribuem para o aumento dos índices de aci-dentes de trânsito, como é o caso da embriaguez”, diz o coronel Tachibana. Outras drogas Em casos de consumo de substâncias ilícitas, o condutor é flagrado pelas atitudes e pelo nervosismo. Nestes

clarece Tachibana.“Vários países têm adotado me-

didas restritivas com relação ao ato de dirigir após ingestão de álcool. Desde 1974, os Países Baixos ado-tam como alcoolemia máxima ad-missível 0,5%, assim como a Finlândia, a Grécia, a Noruega e a Bélgica atualmente utilizam esse pa-râmetro. A Suécia 0,2% e Portugal 0,4%, e a Alemanha, em caso de aci-dente, 0,3%. Desde 1989 a União Européia sugeriu adotar 0,5%. Alguns países ainda admitem 0,8%, mas a tendência é que essa taxa seja progressivamente reduzida,” infor-ma a ABRAMET.

O julgamento de crime de trânsitoQuando ocorre um acidente de trânsito, o processo é aberto e encaminhado pa-ra o juiz da Vara de Delitos de Trânsito. Se o juiz condenar, o réu pode recorrer ao Tribunal de Justiça, onde três desembargadores avaliam se realmente foi ho-micídio culposo.Em caso de dolo eventual (quando o agente sabe das conseqüências, mas não se importa com os possíveis resultados), há uma denúncia de um promotor, os autos são encaminhados para o Tribunal do Júri e quem avalia a sentença são os jurados. O culpado também pode recorrer da sentença junto ao Tribunal de Justiça, que irá rever o caso e confirmar ou alterar a decisão.

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INTERNACIONAL

O centro de pesquisas de aci-dentes da Universidade Monash de Melbourne examinou a relação entre 17 cores de veículos e o risco de bati-das. Ao analisar dados da polícia de dois Estados australianos, o relatório acabou apontando a existência de uma relação estatística significativa.

“Comparado com os carros brancos, diversas cores estão associ-adas ao maior risco de batidas", in-formou o relatório publicado no site do centro.

“Estas cores são geralmente

aquelas com menor índice de visibi-lidade e incluem a preta, azul, cinza, verde, vermelha e prata."

Os pesquisadores descobri-ram que há 12 por cento a mais de chance de se ter um acidente em um carro preto durante as horas do dia do que com um veículo branco. Depois do preto, a cor de automóvel com o maior risco é a cinza, seguida pela prata, azul e vermelha.

"Todos os resultados estatis-ticamente significativos são para as cores baixas no espectro de visibili-

dade ou baixas em contraste em rela-ção às cores das estradas, como o cin-za da superfície de rodovias", escre-veu no relatório o líder da equipe Stuart Newstead.

O estudo foi baseado em da-dos do Estado de Victoria envolven-do 102.559 motoristas acidentados em veículos de modelos fabricados entre 1982 a 2004 e do Estado da Austrália Ocidental com dados de cerca de 752.699 motoristas em car-ros feitos entre 1982 e 2004.

Acidentes em carros pequenos ma-tam quatro vezes mais Pesquisa realizada na Grã-Bretanha concluiu que, apesar de ser mais segu-ro para seu próprio motorista, um car-ro grande e moderno é muito mais pe-rigoso para o ocupante do outro carro envolvido no acidente. Motoristas atingidos por carros grandes têm duas vezes mais chances de morrer do que se o outro carro for menor. A pesquisa foi realizada pelo Laboratório de Pesquisa de Transportes (TRL, na si-gla em inglês) para o Depar-tamento de Transportes da Grã-Bretanha. Segundo o estudo, motoristas têm 46% mais chances de morrer em um acidente se o outro carro for registra-do entre 2000 e 2003 do que se forem atingidos por um veículo mais antigo, fabricado entre 1988 e 1991.

Maiores e mais pesadosOs carros modernos têm mais aces-

sórios para segurança, como múlti-plos airbags, proteção para colisões laterais e carrocerias mais fortes. O problema é que esses extras tornam os carros atuais cerca de 20% mais pe-sados do que os veículos fabricados há dez anos. Os fabricantes também aumentaram o tamanho dos veículos para atender a demanda por carros maiores e mais possantes. O Golf mo-derno da Volkswagen, por exemplo, é meia tonelada mais pesado do que o modelo original de 1976, além de ser 60 centímetros mais longo e 12 centímetros mais alto. Isso significa que, no caso de uma colisão lateral, há mais chances de que a estrutura de um veículo moderno esteja localiza-da acima da estrutura de um carro me-nor. Sem a proteção da parte mais for-te da estrutura, o motorista do veícu-lo menor tem mais chances de mor-rer no acidente.

Acidentes não diminuem"As melhoras vieram a um custo: um

NOTAS carro mais moderno tende a ser mais agressivo do que um carro mais ve-lho no caso de uma colisão", aponta o estudo britânico.Segundo o TRL, o fato de que os carros mais modernos são mais seguros para seus próprios ocupantes e mais perigosos para os outros ajuda a explicar porque as mortes no trânsito não caíram signi-ficativamente nos últimos anos. Em 1998, 1.696 ocupantes de veículos morreram em acidentes na Grã-Bretanha, comparado com 1.675 em 2005, uma redução de apenas 1.2%. Os carros modernos costumam ter re-sultados melhores em testes de coli-são do que em 1998. Mas esses testes medem apenas o quanto o veículo protege seus ocupantes e pedestres, mas não a destruição que causa em outros veículos. Grupos de seguran-ça no trânsito pediram para que a in-dústria automobilística realize testes extras para medir o risco que um car-ro apresenta para ocupantes de ou-tros veículos.

Carros pretos têm maior probabilidade de se envolverem em acidentes, enquanto

os automóveis de cor branca são os mais seguros, concluiu estudo australiano

O perigo da Sexta-feira 13 As incidências de acidentes de carro são maiores nas sextas-feiras que caem no dia 13 do qualquer outro dia do mês, de acor-do com pesquisa de uma companhia de seguros britânica. O índi-ce de acidentes, curiosamente, é 13% maior quando o dia 13 do mês cai numa sexta-feira, tornando o dia o mais azarado para motoristas de carro. O estudo da Norwich Union foi feito com base em estatísticas de acidentes notificados por seus clientes en-tre 2002 e 2006 - período em que foram registradas seis sextas-feiras caindo em dias 13. Quando o dia 13 cai em qualquer outro dia da semana, o número de acidentes notificados à seguradora por motoristas chega a ser inferior à média dos outros dias. "Nos-sa análise sobre os dias perigosos para dirigir deu algum crédito às supertições das pessoas em torno da sexta-feira 13", disse Nigel Bartram, da Norwich Union.

Comportamento para um dia sem sorte"Embora seja difícil dizer ao certo porque isso ocorre, uma ra-zão pode ser que as pessoas mudam sua atuação ao volante em resposta a um dia visto como 'azarado'. Na verdade, mudar o comportamento ao volante numa reação ao que é visto como ris-co - e não a um risco real como neve ou gelo (na pista, que pode levar a derrapagens) - não se traduz necessariamente em dire-ção mais segura", concluiu Bartram. Ele acredita que ao alterar seu comportamento para mudar 'a sorte', os motoristas podem confirmar a crença de que alguma coisa ruim vai acontecer. O dia mais seguro, aparentemente, é o dia 26 do mês. Nesta data, o número de notificações de motoristas à seguradora britânica costuma ficar 8% abaixo da média diária.

Carros pretos sofrem mais

acidentes

Carros pretos sofrem mais

acidentes

(BBC - organização das notas: Jeniffer Costa Pimenta)

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cete sem estar completamente preso e ajustado na cabeça. Na colisão com um carro, o capacete se desprendeu, o que resultou em um corte profundo na nuca do motociclista. Já o segun-do nem ao menos fazia o uso do cinto de segurança. Resultado: em uma co-lisão com a traseira de um outro car-ro, sobrou para o condutor “esqueci-do” um corte na testa, outro no quei-xo e o peito marcado pelo volante do carro.

No último dos três aciden-tes, um motorista cansado dormiu ao volante e bateu com seu carro na tra-seira de outro veículo. Para o dor-minhoco sobrou sorte, já que teve apenas algumas escoriações e em pouco tempo já estava liberado pelos médicos. “Cometi um erro grave. Trabalhei dois turnos seguidos, esta-va muito cansado e com bastante so-no. Jamais deveria ter pegado no vo-lante. Pena que tive que aprender a li-ção do pior jeito. Da próxima vez tal-vez a sorte não esteja do meu lado. Melhor não arriscar”, confessou o motorista, já acordado e consciente do erro cometido. Para a vítima do carro da frente, além do azar de ter seu carro batido, faltou juízo, pois, mesmo sem culpa direta pelo ocorri-do, ela não utilizava o cinto de segu-rança, contribuindo ainda mais para que a sorte ficasse apenas com o mo-torista dorminhoco. Mesmo sem feri-mentos graves, ela teve que perma-necer em observação no hospital, já que com a colisão ela bateu a cabeça contra o volante do automóvel.

As horas passam, já é ma-drugada, e mais vítimas chegam ao hospital. Depois de passar pela en-trada do Pronto Socorro e receberem os primeiros cuidados, elas são enca-minhadas ou para o setor de sutura, ou para o setor de radiografia. Logo depois as vítimas de acidentes de trânsito recebem a visita de Leonardo Caraiola, que trabalha no setor de atendimento do seguro DPVAT do Hospital Cajuru. “É pre-ciso pegar os dados da vítima, para que se possa dar entrada no seguro obrigatório (DPVAT). Essa parte do meu trabalho tem dois lados muito in-teressantes. É complicado conversar com uma pessoa que acabou de so-

frer um acidente de trânsito, muitas vezes é até impossível em razão do es-

casos em que o motorista embriagado, além de causar o acidente, ainda resis-te a receber atendimento médico, tu-multuando todo o Pronto Socorro”, completou Gleicon.

Ainda durante o plantão, ou-tros condutores alcoolizados foram atendidos. Um deles bateu o carro contra um muro. No acidente, sua fi-lha que estava no banco traseiro, sem o cinto de segurança, foi lançada con-tra o pára-brisa. Apesar do grave aci-dente, tanto o pai quanto a filha não ti-veram ferimentos graves, mas a cri-ança permaneceu em observação. “O susto foi grande. Foi uma enorme ir-responsabilidade colocar em risco a vida da minha filha desta maneira”.

Outros dois motociclistas embriagados não puderam contar com a mesma sorte e chegaram ao hospital em estado grave. Um deles, em coma, foi direto para UTI e o ou-tro, em razão de ter sofrido fraturas no fêmur, esperava a hora de entrar na sala de cirurgia. Ambos não fugi-ram do que Gleicon havia dito e além deles próprios, também vitimaram os passageiros das motos que condu-ziam. “Eu vi que ele estava bêbado, mas acabei aceitando a carona. Talvez se eu tivesse ido a pé já estaria em casa e não aqui no hospital com a perna machucada e sentindo muita dor”, dizia o passageiro do motoci-clista em coma. Leonardo sempre alerta os passageiros sobre as res-ponsabilidades que eles devem ter com o trânsito e zelar pelas próprias vidas. “O passageiro tem que fazer o possível e o impossível para que a pessoa alcoolizada não dirija. E ja-mais se arriscar como carona de um motorista embriagado”, recomen-dou.

Manhã de domingo, 7h, dia claro. Equipes do hospital se movi-mentando para a troca de turno. Quase uma hora sem ocorrência alguma de acidente de trânsito. A calma estava tanta que era possível até escutar os pássaros cantando do lado de fora do hospital. Mas aqui a paz é passageira. De repente, soa mais uma vez a sirene da ambulância, que traz duas jovens, vítimas de mais um acidente. Uma de-las, a motorista, chegou inconsciente. Sua colega, que estava no banco do

SAÚDE

“Doutor, meu filho está bem? Ele está muito machucado? Por favor, diz que ele está bem!”, as-sim uma mãe aguarda notícias sobre o estado de saúde do filho, que aca-bara de sofrer um acidente de trânsi-to e fora encaminhado para o Pronto Socorro do Hospital Cajuru. Para alí-vio da mãe, até então muito apreensi-va e angustiada, na sala de espera do Pronto Socorro, seu filho não conta-va com nenhum ferimento grave. Porém, os cortes e arranhões sofri-dos por ele, após uma queda de moto-cicleta, refletem um pouco da rotina em uma emergência de hospital.

A revista Detrânsito acom-panhou um plantão médico para ver de perto o que os dados estatísticos sobre acidentes de trânsito tentam mostrar por meio dos números. No

Quando a dor mistura-se ao canto dos pássaros

Detrânsito acompanha 12 horas de agitação no Pronto Socorro de um Hospital em Curitiba

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Anderson Maciel

dia 28 de abril, um sábado de tempe-raturas baixas, às 19h iniciava o tur-no da equipe, que pelas 12 horas se-guintes estaria incumbida de atender as emergências do Pronto Socorro do Hospital Cajuru. Em respeito às re-gras do hospital e aos pacientes, os nomes das vítimas de acidentes aqui relatadas foram omitidos, assim co-mo as imagens internas do hospital.

Nos primeiros 45 minutos de plantão tudo tranqüilo. Apenas o atendimento de rotina aos pacientes que já estavam na emergência. Nada muito grave. “Estamos na véspera de um feriadão. Sábado gelado. Dia atí-pico, hoje provavelmente vai ser light”, previa o médico plantonista, Gleicon Oliveira. Mas, Gleicon já ha-via dito anteriormente que acidente de trânsito, apesar de alguns picos de

incidência, não tem hora nem local marcado para acontecer.

Tão logo começou a soar as sirenes das primeiras ambulâncias, a calmaria prevista deu lugar à correria comum de um Pronto Socorro de hos-pital. Em menos de uma hora regis-trou-se a entrada de quatro pessoas fe-ridas em decorrência de acidentes de trânsito. Excluindo as eventualida-des dos três acidentes que resultaram estas quatro vítimas, todos apresen-tam algumas características em co-mum: desatenção e imprudência.

Os primeiros a chegar, um motociclista e um motorista de carro, envolveram-se em acidentes dife-rentes, mas os dois cometeram erros semelhantes: não utilizavam os equi-pamentos de segurança da maneira correta. O primeiro utilizava o capa-

Ambulância do Siate deixa o hospital Cajuru para mais uma missão de socorro

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passageiro contou como foi o aciden-te. “Saímos de uma festa. Eu disse a ela para passar a direção a alguém que não tivesse bebido. Ela é muito teimo-sa e insistiu em dirigir. Eu cochilava no banco do passageiro e quando vi já estava sendo socorrida pelo Siate”. A motorista após recuperar a consciên-cia, confessou ter dirigido alcooliza-da, e pior, é mais uma que vai entrar para a desagradável lista dos motoris-tas que não utilizavam o cinto de segu-rança. As conseqüências de tantos abu-sos ficaram visíveis. A motorista alco-olizada e sem cinto de segurança teve vários ferimentos, quebrou o braço e uma costela. A colega que utilizava o cinto de segurança nada sofreu além do susto. Mas uma lição ela disse ter aprendido. “Se o motorista bebeu e quis arriscar sua vida, o problema é dele. Vou insistir para que ele não diri-ja. Mas se não conseguir, eu pego um táxi. Nunca mais quero passar por is-so”.

“Como eu havia dito, hoje era um dia atípico. Não é todo dia que escutamos os pássaros cantando ao amanhecer. Final da madrugada coin-cide com o fim da 'balada', e isso sig-nifica que ainda há muito trabalho a fazer. Infelizmente, sempre tem o aci-dente de fim de festa”, diz Gleicon. Ao final do plantão em que estavam trabalhando Gleicon e Leonardo, fo-ram contabilizadas 18 vítimas de aci-dentes de trânsito. As duas jovens que se acidentaram na saída da “bala-da” entraram na contagem do turno iniciado às 7h do domingo.

Dezoito pessoas vítimas de acidentes de trânsito foi considerado um número baixo para quem está acostumado com os plantões de um sábado à noite. Mas mesmo assim não deixa de impressionar, ainda mais se considerarmos que seis pessoas conduziam os veículos após ingerirem bebida alcoólica, sete não estavam utilizando o cinto de segurança e dois não estavam com o capacete enquanto transitavam em motocicletas. Por isso, as recomen-dações de Leonardo caem como uma luva neste momento. “Escuto algumas pessoas dizerem que cinto de segurança é um detalhe dispensável. Sempre retruco que é um detalhe que faz muita diferença. A principal é que se ele utilizasse, muito provavelmente não estaria aqui na minha frente.”

Socorristas do Siate atendem mais um motociclista vítima de acidente de trânsito em Curitiba

EDUCAÇÃO

Lápis e caneta em mãos. A úl-tima revisada nas apostilas para con-ferir a matéria. E pronto, agora é só esperar a hora de entrar na sala, afi-nal, hoje é dia de prova! Mas não pre-cisa ficar nervoso, trata-se apenas de um teste simples, rápido e fácil para a renova-ção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), e ao con-trário do que muita gente pen-sa, esta é uma prova teórica, e não será preciso exame práti-co, como o de 1ª habilitação, tão temido e motivo de arre-pios nos candidatos.

A prova para renova-ção da CNH é uma das determina-ções da resolução 168 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), e co-meçou a ser aplicada no Paraná em 2006. Eram previstos que 2,1 mi-lhões de motoristas passassem por es-te novo método de renovação em to-do o estado. De acordo com levanta-

De volta às salas de aula Renovação da carteira de motorista requer atualização de conhecimentos

Anderson Maciel

mentos do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran/PR), até o dia pri-meiro de maio de 2007, 138.387 con-dutores já haviam realizado a prova de renovação.

O objetivo desta prova é fa-zer com que os motoristas habilita-dos antes de 21 de janeiro de 1998, quando entrou em vigor o atual Código de Trânsito Brasileiro (CTB), atualizem seus conhecimen-tos de direção defensiva e primeiros socorros. Além de oferecer conheci-

mentos que contribuem para uma me-lhoria do trânsito, também se possi-bilita uma maior uniformidade entre os motoristas, já que o atual CTB es-tabelece, para todos os candidatos à

obtenção da 1ª habilitação, a obrigatoriedade de freqüen-tar curso básico de primeiros socorros e direção defensiva, como também a realização de uma prova para testar o aprendizado destes temas. George Luiz Morsalik (55)

acredita ser responsabilidade de todo motorista procurar atualizar seus conhecimentos e contribuir com a melhoria

do trânsito e por isso a prova não re-presentou nenhum bicho de sete cabe-ças. “Foi muito tranqüilo, até mais do que eu esperava. É preciso fazê-la com calma e atenção, assim não há outro resultado possível que não seja a aprovação”, afirma Morsalik, moto-rista habilitado desde 1970 e que, pa-

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A prova para renovação da CNH começou a ser aplicada no Paraná em 2006

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A prova para renovação da CNH é uma das determinações da resolução 168 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran),

e começou a ser aplicada no Paraná em 2006.

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ra se preparar para o teste, utilizou as apostilas oferecidas gratuitamente na página do Detran/PR na internet (www.detran.pr.gov.br). “O acesso ao conteúdo foi muito simples. Entrei no site do Detran e pude ler ali mesmo, na tela do computador as apostilas, que por sinal são de fácil leitura”. As apostilas também são vendidas nos postos de aten-dimento do Detran/PR, e cus-tam R$ 15,36.

F e r n a n d a M a y a Gomes (29) partilha da mes-ma opinião de Morsalik com relação à simplicidade e faci-lidade em estudar e fazer a prova, porém, antes de ler as apostilas e fazer o teste ela não acreditava na funcionali-dade deste novo método de re-novação da CNH. “Achava que não me seria útil em nada esta prova. Depois de ler as apostilas, pude perceber co-mo esquecemos alguns pro-cedimentos importantes do trânsito”. Fernanda ainda re-lembra a importância do pa-pel do motorista para efetivi-dade deste processo. “Acre-dito que esta prova pode con-tribuir para atualizar e relem-brar conhecimentos. Mas, mais do que a prova os moto-ristas precisam se conscienti-zar de suas responsabilida-des. Não basta ir bem na pro-va e continuar desrespeitan-do as leis de trânsito e diri-gindo de maneira imprudente. É pre-ciso aplicar o que está nas apostilas também no dia-a-dia”, conclui a mo-torista aprovada com 28 acertos.

No Paraná, a prova é feita no próprio Detran, e não tem custo adi-cional para realizá-la. Ela contém 30 questões de múltipla escolha, sendo necessário acertar no mínimo 70% (21 questões) para ser aprovado. Mas, para quem não conseguir ser aprovado na primeira tentativa, exis-te uma segunda chance de fazer a pro-va. Das pessoas que fizeram a prova até maio de 2007, apenas 17% (23.631) reprovaram e destas, 10.456 tiveram êxito na segunda ten-tativa. Apenas 5,9 %, ou seja, 8.133

pessoas reprovaram nas duas tentati-vas. “Não passei no primeiro teste. Mas não desisti. Preparei-me me-lhor, estudei um pouco mais, e na se-gunda tentativa fui aprovada”, conta Dolores Hass Krelling (61), aluna no-ta 10 e que na segunda prova realiza-da acertou as 30 questões.

Motoristas como Dolores são

sempre motivos de alegria para Marinez Bassanello, uma das aplica-doras da prova de renovação do Detran/PR. “Às vezes, antes mesmo de tentarem a prova, algumas pessoas sentem-se incapazes de conseguir pas-sar. Por isso, é muito bom ver a vibra-ção das pessoas depois da aprovação. Já ganhei até beijo no rosto de uma candidata que não se continha de tanta alegria depois de ter passado na pro-va”, conta Marinez.

A prova é agendada com an-tecedência, e dependendo do número de vagas pode ser realizada no mes-mo dia em que o condutor inicia o processo de renovação da CNH. “Algumas vezes vejo as pessoas irri-

tadas com o fato de ter que fazer o tes-te. Porém, depois de feito percebo a mudança de comportamento das mes-mas pessoas, antes descontentes com o novo método de renovação. Isso é o mais importante, a consciência de que esta medida é em prol de um trân-sito mais seguro, com menos aciden-tes e mortes”, conclui Marinez.

Alternativas à prova

Para quem não quer fazer a prova no Detran, ou reprovou nas duas tentativas do teste, existe o curso presencial reali-z a d o n o s C e n t r o s d e Formação de Condutores (CFC). Nestes cursos, os can-didatos terão aulas teóricas de primeiros socorros e direção defensiva, com duração total de 15 horas.

A mudança de comporta-mento dos motoristas também é nítida nos cursos realizados nos CFC’s. “Pelo menos um aluno de cada turma inicia o curso reclamando. Reclama do Detran, reclama do CFC, re-clama do curso, e lógico, da professora também. Mas, no último dia do curso é sempre este aluno, que antes xingava a tudo e a todos, a pessoa que mais reconhece os conheci-mentos adquiridos durante o tempo que esteve aqui. Isso sem contar aqueles que vol-tam para contar algo que

aprenderam no curso e aplicaram em determinada situação. Ou seja, é notá-vel a eficácia e importância do cur-so”, conta Danielle Moro Silveira (30), instrutora de curso presencial em Centro de Formação de Condutores. Ela diz ser freqüente a chegada de motoristas desatualiza-dos com relação ao trânsito atual. “Tem pessoas que não sabem da im-portância em sinalizar bem um aci-dente e nem como fazer em acidentes com vítimas. Não sabem quem cha-mar, para onde ligar e já ouvi pessoas dizendo que se verem alguém aci-dentado saem correndo”, revela Danielle.

Adulce de Souza (53), habi-

Fernanda Maya: “Depois de ler as apostilas, pude perceber como esquecemos alguns pro-cedimentos importantes do trânsito”

litada a dirigir desde 1976, preferiu fazer o curso por acreditar em ser uma maneira mais consistente de aprender e se atualizar sobre primei-ros socorros e direção defensiva. “Como tinha tempo para freqüentar as aulas optei pelo curso, pois assim acompanho passo a passo às explica-ções e se tiver dúvida já pergunto na hora para o professor. Tanto o curso quanto a prova são válidos. Qual dos dois fazer fica a critério de cada um, o ideal seriam os dois”. Ela ainda con-fessa ter sido uma motorista impru-dente e acredita que, assim como ela, outras pessoas podem melhorar o comportamento no trânsito depois de realizado o curso. “Eu fui apren-dendo com o tempo a ser uma moto-rista mais prudente. Mas tem gente que não aprende, nem com várias multas pesando no bolso. Algumas pessoas transpareciam um compor-tamento nervoso e agressivo antes de começar o curso. Ficava imaginando como seriam elas no trânsito. Quando terminava o curso, essas mesmas pessoas reconheciam que es-tavam abusando da sorte no trânsito e repensavam sobre seu comporta-mento como condutores”, diz Adulce, esperançosa de que seus co-legas de curso possam utilizar no dia-a-dia o conteúdo aprendido du-rante as aulas.

Maria Aparecida Farias, co-ordenadora do setor de habilitação do Detran/PR, explica que os condu-tores que já fizeram o curso de pri-meiros socorros e direção defensiva podem tentar validá-lo junto ao de-partamento. “Existem motoristas, principalmente os de empresas de transporte, que já realizaram curso si-milar oferecido pelas próprias em-presas. Estes poderão pedir a análise de seus certificados, e caso aceitos não precisarão fazer a prova”. Neste caso será verificada a carga horária, a qual deve ser de no mínimo 10 ho-ras/aula de direção defensiva e 5 ho-ras/aula de primeiros socorros, como também a validade do certificado le-vando-se em conta a data de realiza-ção e a instituição onde foi realizado o curso, que deve ser reconhecida e autorizada pelas entidades de trânsi-to brasileiras.

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Em 1 ano

FIZERAM A PROVA NO Detran

REPROVARAM 2 VEZES NA PROVA

REPROVARAM 1 VEZ E PASSARAM NA SEGUNDA TENTATIVA

138.387

8.133

10.456

Passo a Passo da Renovação

Antes de procurar o Detran verifique a data de vencimento da sua habilitação. No Paraná só poderá ser feita a renovação 30 dias antes de expirar a data de validade da CNH. Só precisarão fazer a prova ou o cur-so, os condutores habilitados antes de 21 de janeiro de 1998.

As questões da prova são baseadas nas apostilas fornecidas gratuitamente no site do Detran/PR (www.detran.pr.gov.br), as quais também são vendi-das nos postos de atendimento no valor de R$ 15,36.

Quem optar em fazer o curso em Centro de Formação de Condutores (CFC) pode iniciar a monta-gem do processo pela internet, no Detran ou no pró-prio CFC. As taxas referentes aos serviços do Detran/PR podem ser pagas pelos próprios motoristas nas agências do Banco do Brasil.

Lembre-se que o CFC deve ter autorização do Detran/PR para ministrar o curso. Confira a relação dos CFC autorizados na página do Detran/PR na inter-net. No site você também terá acesso a outras informa-ções, como, valor de taxas, documentação a ser apre-sentada e demais serviços realizados pelo Departamento.

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ENTREVISTA

Acontece um acidente em um cruzamento bastante movimen-tado de Curitiba. Para piorar, este cru-zamento faz parte da sua rota diária de ida e volta do trabalho ou dos estu-dos. Você ainda não tem conheci-mento de que o tráfego se intensifi-cou e que certamente enfrentará um congestionamento em razão do aci-dente. E agora quem poderá lhe aju-dar?

Na capital paranaense, o rádio tornou-se um aliado na busca

por um trânsito melhorAnderson Maciel

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S Jurandir Ambonatti: “Os veículos de comunicação poderiam participar mais das campanhas educativas, como parceiros, ou criando campanhas próprias”

A resposta está nas ondas do rádio: Jurandir Ambonatti e Flávio Krüger. Munidos de suas armas, os microfones e telefones, os dois comu-nicadores fazem do rádio um meio ca-paz de auxiliar os motoristas e auto-ridades ligadas ao trânsito a mante-rem o tráfego fluindo da melhor ma-neira possível. Ambonatti (54), que é radialista há 35 anos, e Krüger (39), jornalista há 16 anos, são as vozes

dos boletins de trânsito transmitidos diariamente por 15 rádios da capital paranaense.

Os dois também são os res-ponsáveis pela produção dos bole-tins e para isso contam com o apoio e colaboração de órgãos de trânsito da capital e do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran). A entrevista des-ta edição da Detrânsito mergulha nas ondas do rádio com esta dupla de co-

municadores do trânsito.

Como surgiu a idéia dos bo-letins de trânsito?

Jurandir Ambonatti: Em abril de 1997 um ouvinte sugeriu o serviço ao diretor de jornalismo da CBN, José Wille, que repassou a idéia à Prefeitura de Curitiba e esta por sua vez, firmou a parceria com o BPTran. Um mês depois, em maio, começou a transmissão dos boletins. Eu pela manhã e o Flávio Kruger à tarde. O trânsito de Curitiba estava apresentando os primeiros sinais de problemas mais sérios, com lentidão nas ruas mais movimentadas. No iní-cio, os boletins foram ao ar apenas na CBN. Não demorou muito e outras emissoras se interessaram pelas in-formações.

Como funcionam esses bo-letins (periodicidade, assuntos abordados, onde são veiculados)?

Flávio Krüger: As informa-ções são transmitidas em 15 rádios, entre elas quatro FM, sete AM, duas rádios comunitárias, uma rádio uni-versitária e também a rádio web da prefeitura de Curitiba. São, em mé-dia, 100 boletins diários, de segunda à sexta-feira. Os alertas são, na maio-ria das vezes, de acidentes, obras e mudanças de sentido das vias.

Quais são as dificuldades de se trabalhar com este tema no rádio?

Jurandir Ambonatti: Não seria dificuldade, mas preocupação em transmitir a informação com pre-cisão, porque dependemos do que é passado pelos policiais do BPTran, no caso dos acidentes, e pelos agen-tes da Diretran, em outras situações, como passeatas e serviços de emer-gência, por exemplo. É muito raro, mas às vezes uma informação incor-reta atrapalha um pouco nosso traba-lho. Mas por outro lado, a satisfação de realizar este trabalho é imensa. Tanto que um fato curioso e inusita-do representa como é gratificante es-te serviço por nós realizado. Uma vez me ofereci para ajudar um defici-ente visual a atravessar a rua. Eu dis-se: “Quer ajuda?”. Ele respondeu de

imediato: “Quero sim, Jurandir Ambonatti”. Perguntei então como ele sabia quem eu era, e ele disse que me conhecia pela voz, de tanto ouvir os boletins de trânsito. Sinceramen-te, fiquei emocionado.

Flávio Krüger: É impor-tante explicar para o ouvinte exata-mente onde está o problema, seja ele um acidente, congestionamento, obras, etc. Se ele conhecer a cidade, certamente conseguirá fugir dos transtornos. Nem sempre, o ouvin-te/motorista consegue entender rapi-damente a informação. Por isso, às vezes, ao final do boletim de trânsito é importante repetir de forma muito simples a informação. O boletim tem, aproximadamente, um minuto de duração. No final de cada boletim, reforçamos a informação: “... por-tanto, trânsito complicado na Marechal Deodoro, na região central da cidade, por causa de um aciden-te”. Por mais que o ouvinte não tenha entendido toda a informação, ele sa-berá onde está a situação.

Como surgiu o seu interesse pelo te-ma trânsito?

Flávio Krüger: Bem antes do nosso serviço, em 1997. Na ver-dade, quando tirei a CNH, em 1986, já percebia quantos problemas exis-tiam no trânsito, principalmente, por culpa do motorista, muitas vezes im-prudente e impaciente. Aquilo sem-pre me incomodava. Como até hoje ocorre. Mas felizmente, pelo menos agora, existe alguém que também es-tá preocupado com o seu bem-estar no trânsito. E depois do início do nos-so trabalho, o interesse aumentou ain-da mais.

Jurandir Ambonatt i : Profissionalmente, com o surgimen-to dos boletins, em 1997. Já trabalha-va na CBN e recebi a proposta para fa-zer os boletins. A partir daí, passei a ler sobre o assunto e a observar o comportamento dos motoristas, para criar algumas frases. Dois exemplos: “Motorista, seja educado no trânsito. Trate os outros do jeito que você gos-ta de ser tratado”; e “Motorista, dirija com cuidado.No trânsito, um descui-do pode ser fatal”. As frases até se tor-naram um caso interessante. As pes-

soas repetem, em conversas infor-mais, algumas frases usadas nos bole-tins de trânsito. A mais comum é: “motorista, utilize caminhos alterna-tivos”.

Recentemente foi inaugu-rada uma rádio em São Paulo to-talmente dedicada ao trânsito. Você acredita ser possível implan-tar o mesmo concei to em Curitiba?

Jurandir Ambonatti: En-tendo que ainda é cedo para a implan-tação de um projeto semelhante. O trânsito de São Paulo é um caso a par-te, com longos congestionamentos diá-rios. Para muitas pessoas a maior preo-cupação é saber como estão as ruas da cidade, principalmente nos horários de maior movimento. Algumas rádios usam helicópteros para transmitir os boletins. Daqui a alguns anos o trânsi-to será a principal informação tam-bém aqui em Curitiba.

Flávio Krüger: O trânsito de Curitiba tem ficado cada vez mais difícil. A frota cresce a cada dia. Além disso, as pessoas têm maior fa-cilidade para aquisição de um veícu-lo, até pelas facilidades e promoções que as lojas oferecem. Atualmente, penso que a capital do estado ainda não tenha a necessidade de uma emis-sora com informações exclusivas so-bre o trânsito. Mas se continuar nesse ritmo, talvez isso seja necessário. Acho que não dá para comparar o trânsito de São Paulo com o de Curitiba. Aqui temos trânsito lento em horários de pico, mas não engar-rafamentos.

E como você analisa o pa-pel dos meios de comunicação em relação ao trânsito?

Jurandir Ambonatti: Os veículos de comunicação poderiam participar mais das campanhas edu-cativas, como parceiros, ou criando campanhas próprias. Reportagens pouco ajudam, porque são muito rápi-das. Por que não fazer uma campa-nha pedindo para o pedestre atraves-sar a rua na faixa? Segundo o Corpo de Bombeiros, os atropelamentos re-presentam 20% do número de aci-

As vozes do trânsito em Curitiba

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dentes com vítimas em Curitiba.

Flávio Krüger: É funda-mental o papel dos meios de comuni-cação. E o rádio mais ainda. Tem mais facilidade de alcance para o motorista que está no trânsito. O condutor não pode ler um jornal ou instalar uma tele-visão no carro e dirigir ao mesmo tem-po. Mas com o rádio é diferente. Ele está sintonizado numa determinada emissora e já recebe a informação. Agora, o papel da mídia não é só in-formar. Também é fazer com que o ou-vinte reflita, pense na informação e passe a ter uma opinião formada sobre o assunto. Por exemplo, quando ocor-re um atropelamento com morte. É preciso passar para o ouvinte porque aquilo ocorreu. De quem foi à culpa? É possível amenizar a situação? O que fazer para não ocorrer novamente, ou pelo menos diminuir a incidência des-

Flávio Krüger: “É muito mais importante uma campanha de educação no trânsito. Só que o brasileiro só respeita as leis quando pesa no bolso”

PEDESTRES

A correria da vida moderna, marcada pelos horários e inúmeros compromissos a cumprir, faz com que os pedestres caminhem em ritmo cada vez mais acelerado. Os curiti-banos não escapam desta tendência mundial. Em recente estudo realiza-do com intuito de medir a velocidade com que os pedestres transitam, Curitiba foi a sexta colocada entre vá-rias cidades pesquisadas ao redor do mundo.

A pesquisa contou com a par-ticipação do Conselho Britânico de promoção cultural e da Universidade de Hertfordshire na Inglaterra, e con-sistiu na análise da velocidade média com que os pedestres percorriam 18,3 metros em uma rua movimenta-da, com calçada larga, nivelada, livre de obstáculos, vazia o suficiente, de modo que fosse possível as pessoas percorrem o trajeto em sua máxima

Cuidado, eles voam!

Curitibanos ocupam o sexto lugar no ranking da velocidade dos pedestres

velocidade. Foram analisados ape-nas os pedestres adultos, sozinhos e que não utilizavam celulares e/ou car-regavam sacolas de compras.

Ainda como parte desta pes-quisa, foi feita a comparação com um estudo sobre a velocidade dos pedes-tres realizado em 1994, e descobriu-se que hoje os pedestres andam, em média, 10% mais rápidos. De certa forma acompanhando até mesmo o crescimento de suas economias, a Cidade de Cingapura e o município chinês, Guangzhou, foram as cidades que apresentaram o maior crescimen-to, com pedestres caminhando em ve-locidades superiores em 30 e 20 por cento, respectivamente, em compara-ção à década passada. As capitais da Dinamarca (Conpenhagen) e da Espanha (Madrid) mostraram que pos-suem os pedestres mais velozes da Europa, superando Londres e Paris.

CuritibaA capital paranaense foi a

única cidade sul-americana presente na lista das dez primeiras classifica-das na pesquisa. O aposentado Délcio de Oliveira (82) também já havia per-cebido que nos últimos anos os pe-destres estão com os passos mais apressados. “Antigamente as pessoas não andavam tão apressadas. Acredito que nos últimos dez anos os curitibanos aceleraram o caminhar. “O que é ruim. Sempre procuro vir até a praça Ozório e olhar o movi-mento. Vejo as pessoas tão apressa-das que nem reparam mais ao seu re-dor. Se mudarem alguma coisa na rua XV ou na Ozório, tem gente que vai demorar meses para reparar nessas mudanças”, afirma o observador Délcio.

Outro observador das ruas de Curitiba é Valdir Alves da Cruz

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te tipo de acontecimento? Enfim, ana-lisar um “simples” acidente em diver-sos contextos: educacional e social, por exemplo.

O que é mais eficaz, aplica-ção de multas única e exclusiva-mente, ou deve existir uma consci-entização e reeducação de trânsito atuando em conjunto com as medi-das punitivas?

Jurandir Ambonatt i : Apenas campanhas de reeducação e de conscientização não bastam. Infelizmente, muitos motoristas só aprendem depois de receber uma multa. A partir daí passam a respeitar as leis de trânsito, pensando mais no lado financeiro. O motorista precisa ter consciência que o carro é uma ar-ma poderosa. Para o bem ou para o mal. Prepa-rar os motoristas do futu-ro pode ser uma boa saída. Nesta li-

nha aparecem trabalhos importantes, como as blitze educativas realizadas pelo Detran, e as atividades desen-volvidas pelo Núcleo de Educação e Cidadania, da Diretran.

Flávio Krüger: É muito mais importante uma campanha de educa-ção no trânsito. Só que o brasileiro só respeita as leis quando pesa no bolso. Quando houve a implantação do radar de velocidade, em Curitiba, as duas pri-meiras multas eram apenas educativas. Mesmo assim, a maioria dos motoris-tas que recebeu multas educativas aca-bou efetivamente multada, porque pe-la terceira vez, acabou excedendo o li-mite máximo de velocidade permitido. Além da educação, é preciso uma fis-calização rigorosa. O que falta é mais respeito as leis de trânsito.

Andréa e Arquimedes: traba-lho e estudo justificam a pres-sa dos curitibanos

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(35) que trabalha em um hotel locali-zado no calçadão da rua XV, no cen-tro da cidade. “Eu até entendo a cor-reria das pessoas. A jornada de traba-lho é longa e temos nossa vida parti-cular também. Aí é um corre daqui e corre de lá. Eu mesmo sempre estou

em cima da hora, e também ando rápi-do”, diz Valdir, que ainda garante es-tar em Curitiba o mais rápido de to-dos os pedestres do mundo. “Olha, se fizerem uma pesquisa do pedestre mais rápido, tenho certeza que um ra-paz que trabalha em uma loja aqui da

Em janeiro do próximo ano, o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) completa dez anos. Foi refor-mulado com o objetivo de reduzir os acidentes por meio da educação para o trânsito e da severidade com os mo-toristas. Porém, temos que infe-rir que estes dois objetivos prin-cipais ainda precisam ser apri-morados na prática, mas por ou-tro lado, os sistemas nacionais de controle de habilitação e de veículos sofreram saltos de qua-lidade significativos nesses anos de história.

Como legislação de trân-sito, temos apenas pontos positi-vos para apresentar. “As leis es-tão mais claras”, diz Cícero Pereira da Silva, coordenador da área de veículos do Detran/PR. Os motoristas conhecem as leis de

Apesar do tempo de existência, a prática e algumas regulamentações precisam de aprimoramentos

Código de Trânsito Brasileiro completa uma década

LEGISLAÇÃO

Pedro Chalus, membro do sindi-cato dos taxistas de Curitiba: “Não é por falta de leis que o trân-sito está assim”

Vanussa Popovicz

trânsito e se cometem alguma infra-ção “é por falta de atenção”, afirma o empresário Davi Francisco de Souza, motorista há 15 anos. Souza acredita que, com a chegada do atual CTB, o trânsito “melhorou muito,

com exceção de alguns motoristas es-tressados”.

Para Silva, a falta de uma fis-calização mais intensa acabou afrou-xando o cumprimento da lei. “No princípio do CTB, os motoristas se adequaram rápido às novas leis, as respeitavam.”

Segundo o especialista em trânsito Alan Cannell, a pouca fiscalização não justifica o des-caso com a lei. “Comportamen-to é uma questão de educação, informação e respeito. O respei-to à velocidade máxima, por exemplo, que é um fato em mui-tas cidades; como Brasília, São Paulo, Curitiba, etc, é conse-qüência direta da informação”.

A psicóloga especialista em trânsito Adriane Picchetto Machado sustenta que o trânsito é um local público e que a ética

deveria estar acima de qualquer com-

Curitiba foi à única cidade sul-americana presente na lista das dez primeiras classificadas na pesquisa dos pedestres “apressadinhos”

XV ganharia. Ele sempre tem que le-var algum produto a outra filial da lo-ja, que fica na XV mesmo. Ele parece um carro de fórmula 1”.

Os inúmeros afazeres do dia-a-dia também foram enumerados pe-los amigos Andréa Calgaroto (20) e Arquimedes dos Santos (24). “Traba-lho o dia inteiro, estudo a noite, não moro tão perto nem da faculdade, nem do meu local de trabalho. Assim não tem como não estar sempre com pressa não é mesmo!”, diz Andréa. Já Arquimedes diz que se tivesse um tempo mais extenso durante o almo-ço, poderia diminuir o ritmo dos pas-sos. “Não são só os passos que ficam acelerados com o tempo curto. Almoçar às vezes parece uma prova olímpica de velocidade”, conta Arquimedes, que se despede com pressa, já que o fim do seu horário de almoço está se acabando.

1) Cidade de Cingapura (Cingapura): 10,552) Copenhague (Dinamarca): 10,823) Madri (Espanha): 10,894) Guangzhou (China): 10,945) Dublin (Irlanda): 11,036) Curitiba (Brasil): 11,137) Berlim (Alemanha): 11,168) Nova York (Estados Unidos): 12,009) Utrecht (Holanda): 12,0410) Viena (Áustria): 12,0611) Varsóvia (Polonia): 12,0712) Londres (Grã-Bretanha): 12,1713) Zagreb (Croácia): 12,2014) Praga (República Tcheca): 12,3515) Wellington (Nova Zelândia): 12,6216) Paris (França): 12,6517) Estocolmo (Suécia): 12,7518) Liubliana (Eslovênia): 12,7619) Tóquio (Japão): 12,8320) Ottawa (Canadá): 13,72

VoadoresOs tempos, em segundos, cronometrados em 32 ci-dades ao redor do mundo estão listados abaixo:

O trânsito é um local público e que a ética deveria estar acima

de qualquer comportamento

Anderson Maciele agências internacionais.

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22 23

portamento. “É preciso que cada um tenha a certeza de que está fazendo o seu melhor no trânsito e, assim, ter um comportamento educado e res-ponsável, mirando a segurança de to-dos no espaço público”, afirma. Como isto não é visível na atualida-de, a fiscalização e o investimento em educação de trânsito seriam bons caminhos para mudar a realidade. “A presença da fiscalização é muito im-portante, garantindo que o infrator se-ja penalizado e sofra sanções por não observar as regras gerais no espaço de circulação. Somente a certeza da punição poderá controlar os compor-tamentos inadequados e inseguros. Acredito que não avançamos muito nesses dez anos no sentido da educa-ção para o trânsito e nem na fiscali-zação, infelizmente. Enquanto não forem prioridades de toda sociedade, será difícil qualquer mudança”, argu-menta Adriane.

Cannell acredita que o com-portamento dos motoristas em geral está mais maduro, porém “é uma tra-gédia ver que alguns jovens motoris-tas adquiriram o péssimo hábito de 'colar' na traseira do veículo na frente e de ultrapassar pela direita na estra-da”.

A conscientização de que um trânsito mais seguro deve come-çar desde cedo é defendida pelo dire-tor geral do Detran/PR, coronel David Antonio Pancotti. “As ações e as resoluções são feitas com proje-ções futuras. Daqui alguns anos o trânsito irá mudar, por isto devemos investir agora para ter as respostas po-sitivas”, afirma. Pensando desta ma-neira, a educação no Paraná começa desde cedo. “As crianças aprendem mais fácil e cobram o comportamen-to correto dos pais. Elas acabam sen-do os fiscais dos adultos”, completa.

O Conselho Nacional de Trânsito (Contran), por meio da reso-lução 207, estabeleceu padrões para as escolas públicas de trânsito. O ob-jetivo principal destas escolas é ensi-nar regras e éticas no trânsito.

O Detran/PR investe em edu-cação de trânsito com blitze nas esco-las e nas ruas. “Desta maneira atingi-mos todas as faixas etárias dos com-ponentes do trânsito”, afirma

Pancotti. Além das blitze, a psicolo-gia também pode contribuir para a educação no trânsito. “Creio que os trabalhos que se voltam à educação de trânsito e à fiscalização devem considerar firmemente as condições psicológicas e as formas de controle e mudança de comportamento, obje-tos de estudo da psicologia”, afirma a psicóloga Adriane Picchetto Machado.

Outra prática que poderia contribuir para diminuir os aciden-tes de trânsito, mas que ainda não foi regulamentado, é a inspeção técnica veicular. Cannell vê neste fato uma falha trágica. “Sem temer as conse-qüências, os Sem Freios, Sem Amor-tecedores e Sem Faróis po-dem circular quase que livremente. A desgraça do processo deu-se justa-mente na briga, durante o governo

do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, entre grupos que enxergaram na Inspeção Técnica uma maneira fabulosa de ga-nhar dinheiro. Brigaram e o assunto ficou pendurado.”

Há outros pontos no CTB que temos que admitir que não estão muito claros. Os artigos 119 e 260 do Código de Trânsito Brasileiro esta-belecem que carros estrangeiros não podem deixar o País sem que as mul-tas sejam pagas. A mesma lei, no en-tanto, impede que os infratores se-jam cobrados no ato da infração. Com isto, muitos motoristas estran-geiros têm saído do país sem quitar suas dívidas que poderiam contribuir para investimentos no trânsito.

Ainda sobre as falhas na apli-cação do CTB, a resolução 182 do Contran deixa a desejar em sua práti-

Para Davi Francisco de Souza, motorista há 15 anos, o trânsito melhorou muito, com exceção de alguns motoristas “es-tressados”

ca. Alguns estados não conseguem cumprir corretamente as penalidades da suspensão do direito de dirigir. Os crimes de trânsito também não são julgados no Tribunal do Júri como de-veriam. Em boa parte dos estados, as penalidades para o ato de dirigir em-briagado e outros crimes dolosos fi-cam por conta da Varas de Delitos de Trânsito. Nestes casos, o condutor re-cebe apenas penalidades educativas, como trabalhos sociais, e dificilmen-te sente o valor da vida que, por ne-gligência, ele tirou.

Diante deste balanço do CTB, percebe-se que não é por falta de leis que o trânsito virou uma guer-ra, mas sim pela deficiência em seu cumprimento. “O trânsito já é uma guerra, onde os comportamentos mais visíveis são: a competição, o desres-peito, a opressão, a violência.

Podemos comparar com toda a certe-za o carro e a arma, pois os dois ofere-cem uma condição de incremento ao ego, tornando as pessoas onipotentes e com pouca condição de crítica ra-zoável. Assim, quando estamos em um carro ou quando estamos com uma arma na mão, nosso superego, responsável pelas interdições apren-didas em sociedade, falha, e por meio deles, se não temos clareza da nossa condição, podemos nos tornar violen-tos e atuar no trânsito de forma im-prudente e insegura”, afirma Adriane.

Quem vive diariamente no trânsito dá a dica para melhorar a con-duta dos condutores e a fluidez no trânsito, sugerindo dicas para as cida-des que têm o trânsito municipaliza-do. “Uma das sugestões que dou é de fazer uma pista única para os moto-ciclistas. Não me refiro à pista exclu-siva como São Paulo estava tentando fazer, mas sim única como, por exem-plo, destinar a pista da direita para as motocicletas. Assim os motoristas te-riam uma melhor visibilidade, o trân-sito ia fluir melhor e não ia existir mo-tocicleta costurando em meio aos car-ros”, sugere Pedro Chalus, membro do sindicato dos taxistas de Curitiba. “Não é por falta de leis que o trânsito está assim. Leis existem até demais e é tudo perfeito, a questão é que não há execução destas leis”, finaliza.

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25

O Detran/PR publica anual-mente um completo estudo sobre o trânsito do Paraná, que reúne as mais diversas estatísticas sobre o te-ma, disponíveis no si te www.detran.pr.gov.br. Ao con-frontarmos os dados obtidos em 2006 com os de 2005, alguns nú-meros merecem destaque. Por exemplo, a frota paranaense que, em apenas um ano, cresceu 7,09%. As motonetas lideraram o ranking deste aumento com 24,30%, seguidas pelas motoci-cletas que somaram 14,69%. Um dos motivos para o aumen-to das motocicletas e motonetas se refere à facilidade de aquisi-ção desses veículos. O baixo preço, facilidade para o financiamento, cus-to da manutenção, economia com combustível, praticidade e rapidez que permite “costurar” entre os car-ros são motivos que levam a popula-ção preferir este tipo de veículo.

Paraná reduz acidentes

ESTATÍSTICA

Em 2006, embora a frota tenha aumentado 7,09%, o total geral de acidentes no estado teve uma queda de 4,59% em relação ao ano anterior

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As motonetas lideraram o ranking do aumento da frota com 24,30% em relação a 2005, segui-das pelas motocicletas que somaram 14,69%

A frota da capital apresentou um aumento de 6,21% de 2005 para 2006. Com a média mensal de cresci-

mento de 0,56%, é possível que até julho ou agosto deste ano, a frota curi-tibana chegue a um milhão de veícu-los.

Dos municípios da Região Metropolitana, Tunas do Paraná con-tinuou em 2006 com o percentual mais elevado no crescimento da fro-

ta com 19,14%, seguido de Itaperuçu com 19,05% e Campo Magro com 18,26%. Com o aumen-

to da frota o número de veículos para cada 100 habitantes no Paraná foi de 36,21. Em Curitiba este índice de motori-zação chegou a 54,33, de onde se conclui que para cada dois ha-bitantes um possui veículo. Assim sendo, os problemas deri-vados do trânsito como, por exemplo, poluição, congestio-namento e acidentes se intensi-ficam e aparecem como princi-pais desafios enfrentados pela capital paranaense.

Na classificação por com-bustível os veículos tricombustíveis (álcool/gasolina/gás natural veicu-lar) tiveram um aumento de 183%, enquanto os bicombustíves (álco-ol/gasolina) aumentaram 100%. Este aumento derivou da oscilação dos preços dos combustíveis, o que fez

24

Mais da metade da frota

de veículos no Paraná, 52,54%,

possui até dez anos de idade,

sendo que esse percentual

aumenta para 64,74% na

capital.

Page 14: DE TRÂNSITO 45 FINAL - DETRAN/PR

26 27

Quanto ao índice vítimas / fro-ta, seis municípios continuam no ran-king, saindo Enéas Marques, Cascavel, Balsa Nova e Sarandi e entrando Pato Bragado, Apucarana, Irati e Marechal Cândido Rondon.

Os seis municípios que permaneceram, apenas trocaram de posição, mas todas tiveram se-us índices mais baixos em núme-ro de acidentes / frota. Cianorte assu-me o primeiro lugar com 242,93 víti-mas para cada 10.000 veículos, ou se-ja, 2,4 vítimas para cada 100 veícu-los.

Isto corresponde a dizer que apesar do município não apresentar o índice mais alto de acidentes, estes fo-ram mais violentos e com maior nú-mero de vítimas.

HabilitaçãoO número de condutores que

receberam a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) definitiva au-mentou 56,10% em relação a 2005.

O total geral de condutores cadastrados manteve o percentual de crescimento de 2005, 5,94%. Os ho-mens foram responsáveis pelo maior crescimento, 7,02%, enquanto as mu-lheres ficaram com 3,11%, ao con-trário do ano anterior, quando as mu-lheres tiveram 8,29% e os homens 5,07%.

A faixa etária com o maior percentual de aumento, em ambos os

sexos, foi de 18 a 24 anos, tendo as mulheres o maior crescimento na ca-tegoria E com 60,87% e os homens na categoria A, com 49,42%. Esse nú-mero, juntamente com o crescimento

da frota de mo-tonetas e moto-cicletas, con-firma o inte-resse pelo veí-culo de duas ou três rodas devido à prati-cidade e baixo

custo que oferecem.O número de condutores que

tiveram o direito de dirigir suspenso

em 2006 foi de 26.286, que corres-ponde a 0,76% do total de conduto-res cadastrados. Esse número foi infe-rior ao de 2005, quando tivemos 29.816 condutores suspensos.

Ao contrário do ano de 2005, as infrações que geraram sus-pensão direta tiveram uma maior quantidade que as que somam 20 pon-tos, havendo uma redução de 11,84% no total de suspensões. As do tipo “DIRETA” foram responsáveis por 53,35% das suspensões.

InfraçõesO número total de infração

aumentou 7,98% em relação a 2005. As infrações do tipo média lideram este aumento, tendo um acréscimo de 104,13%.

Apesar das infrações do tipo grave terem reduzido 20,02% em rela-ção ao ano de 2005, fora as que mais ocorreram neste ano, representando 33,86% do total geral das infrações o tipo gravíssima ficou com o menor percentual em relação ao total geral, 19,08%.

Abaixo, as quinze infrações de maior incidência no Paraná, cujo percentual corresponde a 81,24% do total geral:

INFRAÇÃO TOTALCÓDIGO

Estacionar o veículo em desacordo com a sinalização 163.217554

Transitar em velocidade superior à máxima em até 50% 150.891623

Transitar em velocidade superior à máxima permitidaem até 20%

138.300745

Deixar de efetuar registro de veículo no prazo de 30 dias 83.881692

Avançar o sinal vermelho do semáforo ou de parada 70.213605

Dirigir o veículo utilizando-se de fones, telefone celular 48.574736

Transitar com veículo com excesso de peso 47.847683

Multa por não indicação do condutor infrator 41.345500

Deixar o condutor ou passagem de usar cinto segurança 31.141518

Conduzir o veículo não registrado e licenciado 27.507659

Dirigir veículo sem possuir CNH ou Permissão p/Dirigir 24.250501

Conduzir o veículo sem os documentos de porte obrigat. 18.260691

Transitar em velocidade superior à máxima permitida emmais de 20% até 50%

15.999555

Estacionar veículo em local/horário proibido - Proibidoestacionar

16.699746

Transitar em velocidade superior à máxima em até 20% 14.888621

com que os motoristas buscassem al-ternativas mais econômicas e até mesmo menos poluentes.

A procura por carros novos tem se destacado no estado, haja vista o crescimento de 6,01% no ano. Mais da metade da frota de veículos no Paraná, 52,54%, possui até dez anos de idade, sendo que esse percentual aumenta para 64,74% na capital.

AcidentesAo se analisar os acidentes,

percebe-se um fato positivo em meio aos números preocupantes do trânsi-to. O total geral de acidentes no Paraná (com vítimas e sem vítimas) teve uma queda de 4,59% em relação a 2005, apesar do crescimento da fro-ta ter sido de 7,09%. Essa queda se de-ve à diminuição no número dos aci-dentes sem vítimas.

A maior redução aconteceu nas rodovias federais com 9,19%, se-guida da capital com –5,15%.

Por outro lado, o número de acidentes com vítimas aumentou 1,54% com um acréscimo de 0,19% no número de vítimas não fatais; po-rém, com redução de 5,58% no núme-ro de vítimas fatais em relação ao ano de 2005.

Curitiba seguiu tendência es-tadual e contabilizou um aumento de 5,84% nos acidentes com vítimas e redução de 8,79% no número de víti-mas fatais. Com estes dados pode-mos perceber que os acidentes estão menos violentos, mas ainda não dei-xam de preocupar.

Os finais de semana revelam ser o período com maior número de acidentes de trânsito. Em sua maio-ria foram registradas na sexta-feira e sábado, sendo nas vias municipais no final da tarde e nas rodovias à noi-te. Quanto à zona de localização, 75,79% dos acidentes com vítimas ocorrem na área urbana, sendo 53,67% durante o dia. Das mortes re-gistradas no local do acidente, 75,32% foram em rodovias estaduais e federais, e 68,06% das vítimas não fatais em vias municipais.

A imprudência dos motoris-tas, nestes casos, pode estar ligada a vários fatores desde a falta de aten-

ção, excesso de velocidade até a ne-gligência de não efetuar a revisão me-cânica necessária no veículo.

Os condutores que mais se envolveram em acidentes com víti-mas se encontram na faixa etária dos 30 aos 59 anos, a maioria habilitada, cabendo ao sexo masculino o maior percentual de envolvimento (77,79%).

Como vítimas fatais, o con-dutor de veículo automotor lidera o ín-dice com 26,17%, seguido do passa-geiro, enquanto o total de vítimas não fatais tem nos motociclistas o maior percentual, com 17,91%, seguido tam-bém pelos passageiros.

O maior número de vítimas de acidentes de trânsito continua sen-do os motociclistas, com um aumen-to de 9,08% em relação a 2005, re-presentando 31% do total de vítimas de 2006. Em cada 100 mil habitantes no Paraná, 529 pessoas foram víti-mas de acidentes de trânsito em 2006, sendo que 514 ficaram feridas e 15 morreram no local.

Pedestres são vítimas frágeis

do trânsito, principalmente quando se envolvem em acidentes. Mesmo as-sim, o número de atropelamentos nas vias municipais e rodovias estaduais diminuíram 4,31% comparando com o ano de 2005. Apesar da redução, não pode ser deixado em segundo pla-no o foco na prevenção de acidentes com pedestres, visto que este tipo de ocorrência gera pelo menos uma víti-ma com ferimentos ou fatal, sendo a maioria na faixa etária de 30 aos 59 anos.

Nos acidentes com vítimas, do total de veículos envolvidos, o maiorpercentual coube aos automóveis do ti-po camioneta, com 45,50%, seguido das motocicletas com 30,49%. De 2005 para 2006, o número de motoci-cletas envolvidas em acidentes cresceu 8,77%, seguidas dos ônibus / microô-nibus com 5,34%, enquanto os demais veículos tiveram redução no percentu-al de envolvimento. Abaixo relaciona-mos os dez maiores índices de aciden-tes por dez mil veículos, em vias muni-cipais dos municípios do Paraná, no ano de 2006.

Comparando os dez municí-pios que obtiveram os maiores índi-ces de acidentes por 10 mil veículos no ano de 2005 com o ano de 2006, podemos observar que sete deles per-maneceram no ranking. Os municí-pios de Cornélio Procópio, Arapon-gas e Antonina saíram, dando lugar a Guaraqueçaba, Palmas e Apucarana.

Guaraqueçaba ficou com um alto índice de acidentes / frota de-vido ao número elevado de acidentes

em relação à sua frota que vem a ser a menor de todo o Paraná, com 181 veí-culos. Esse índice representa quase cinco acidentes para cada 100 veícu-los.

O município de Francisco Beltrão foi o único dos sete que obte-ve um índice mais alto em relação ao ano de 2005, já que o número de aci-dentes subiu 14,94%, enquanto a fro-ta aumentou 9,12%.

A = Acidentes F = Frota

ANO - 2005

ORDEM MUNICÍPIO ÍNDICE

1º PARANAGUÁ 445,39

A/F 10.000

2º MATINHOS 419,26

3º ANTONINA 359,25

4º PATO BRANCO 357,10

5º GUARATUBA 355,35

6º MARINGÁ 353,24

7º CASCAVEL 337,59

8º FRANCISCO BELTRÃO 335,90

9º CORNÉLIO PROCÓPIO 313,61

10º ARAPONGAS 313,32

ANO - 2006

ORDEM MUNICÍPIO ÍNDICE

1º GUARAQUEÇABA 497,24

A/F 10.000

2º PARANAGUÁ 364,04

3º FRANCISCO BELTRÃO 353,82

4º GUARATUBA 317,01

5º MATINHOS 313,56

6º PATO BRANCO 308,39

7º PALMAS 308,17

8º MARINGÁ 303,36

9º APUCARANA 302,04

10º CASCAVEL 289,78

Tabela: Ranking dos dez maiores índices de acidentes por dez mil veículos nos municípios do Paraná, em vias municipais

A = Acidentes F = Frota

ANO - 2005

ORDEM MUNICÍPIO ÍNDICE

1º PARANAGUÁ 242,28

A/F 10.000

2º ARAPONGAS 228,19

3º MARINGÁ 217,21

4º CIANORTE 211,59

5º TOLEDO 209,44

6º ENÉAS MARQUES 206,02

7º CASCAVEL 201,13

8º CORNÉLIO PROCÓPIO 193,89

9º BALSA NOVA 192,84

10º SARANDI 192,75

ANO - 2006

ORDEM MUNICÍPIO ÍNDICE

1º CIANORTE 242,93

A/F 10.000

2º PARANAGUÁ 219,98

3º ARAPONGAS 210,44

4º PATO BRAGADO 208,79

5º APUCARANA 201,60

6º MARINGÁ 200,31

7º IRATI 186,96

8º TOLEDO 185,13

9º CORNÉLIO PROCÓPIO 176,88

10º MAL.CÂND.RONDON 175,03

Tabela: Ranking dos dez maiores índices de vítimas por dez mil veículos nos municípios do Paraná, em vias municipais

Os números de atropelamentos

nas vias municipais e rodovias

estaduais diminuíram 4,31%

comparando com o ano de 2005.

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28 29

tuda os comportamentos e as emo-ções das pessoas que participam do trânsito. Desta forma, todos os parti-cipantes do trânsito, direta e/ou indi-retamente, são objetos da Psicologia do Trânsito: pedestre, motoristas, ci-clistas, passageiros, instrutores de au-to-escola, etc.

Através da observação, expe-rimentação e avaliação esta ciência procura investigar e entender os fato-res determinantes dos comporta-mentos neste ambiente; sob que cir-cunstâncias ocorrem; bem como qua-is os aspectos psicológicos, sociais, culturais, econômicos e políticos es-tão envolvidos nos comportamentos manifestos neste espaço.

O indivíduo leva para o trân-sito, de forma consciente ou incons-cientemente, cada papel que ele de-sempenha na sua vida: papéis da vida familiar de origem e atual, papéis afe-tivos, papel profissional, papel no la-zer, papel na administração domésti-ca e papel com os cuidados pessoais. Portanto, ao compartilhar este espa-ço com outras pessoas, faz-se neces-sário saber lidar com os aspectos indi-viduais, caso contrário, ocorrerão conflitos com os demais usuários e, consequentemente, surgirão senti-mentos diversos como: raiva, agres-sividade, ansiedade, medo, etc.

Auxiliar as pessoas a com-preender que o trânsito é um espaço de respeito e convivência social, tam-bém faz parte das atividades desen-volvidas pelo psicólogo de trânsito, uma vez que isto pode minimizar mu-itos conflitos, diminuir riscos e pre-parar os indivíduos para enfrentarem as situações estressantes provenien-

tes deste ambiente.Cabe destacar que, as raízes

Atualmente, é difícil imagi-nar a vida diária sem o ambiente do trânsito, isto porque a maioria das ati-vidades realizadas no cotidiano reme-te a uma situação de deslocamento. Além disso, o tempo gasto no transi-tar é muito grande, o que exige das

pessoas cuidados e atitudes de coo-peração.

Convém destacar que o trân-sito, por se tratar de um ambiente pú-blico, complexo e de relações diver-sificadas necessita ser avaliado e es-tudado continuamente por diversos

profissionais capacitados de forma interdisciplinar. Hoje, estes profissi-onais procuram debater os proble-mas relacionados ao trânsito como uma realidade que abrange políticas de saúde e educação.

A Psicologia do Trânsito es-

ARTIGO

A PSICOLOGIADO TRÂNSITO

ENTENDENDO

Patrícia Cavichiolo Tortato CRP 08/10653Psicóloga graduada pela PUC-PRPerita de Trânsito atuando no Setor de Avaliação Psicológica convênio PUC-PR/DetranPRPsicóloga Clínica Publique seu artigo

acadêmico na Detrânsito

[email protected]

Page 16: DE TRÂNSITO 45 FINAL - DETRAN/PR

30

Brasília - A violência no Brasil gera custos que chegam a cinco por cento do Produto Interno Bruto (PIB). A conclusão é de um levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a pedido do Ministério da Saúde, que mediu os gastos com violência do governo e do setor privado em 2004.

Os dados revelam que os custos da violência chegaram a mais de R$ 92 bilhões no período, divididos entre os governos e o setor privado. O setor público gastou cerca de R$ 32 bilhões em despesas com segurança, sistema prisional e serviços de saúde prestados às vítimas da violência.

Para o setor privado, o custo da violência estimado na pesquisa é resultado da perda de mão-de-obra com as mortes por causas violentas, como assassinatos e acidentes de trânsito, das despesas com os setores formal e informal de segurança privada e contratação de seguros, além do valor dos bens roubados e furtados. Somados, os gastos chegaram a R$ 60,3 bilhões em 2004.

Alguns dias na Europa. Uma boa oportunidade para observar o trânsito no Velho Continente. Mas para um especialista do setor, observar apenas não seria o suficien-te, era preciso compartilhar o que fora visto e, principalmente, tentar tirar da realidade de alguns países as tecnologias que possam ajudar o trânsito das cidades e rodovias brasileiras. Com essa perspectiva, em palestra no Detran/PR, o capitão Alexandre Bruel Stange relatou suas impressões colhidas durante sua passagem por Portugal, Inglaterra e França.

Stange destaca que a principal diferença do trânsito brasileiro e dos países visitados começa pelo respeito ao pedes-tre.Em muitos desses lugares, os pedestres têm preferência nas vias públicas: “o cidadão coloca o pé na faixa e o veículo logo pára. Na Inglaterra existe a prioridade absoluta ao pedestre. Vários locais de travessia são muito bem sinaliza-dos por dois postes em preto e branco com um globo amarelo em cima; a

cordialidade dos motoristas também é notável, eles não se fecham e circulam na cidade em velocidade baixa, principalmente nas rotatórias, que substituem os semáforos.”

A curiosidade do trânsito inglês não está só na sua famosa mão inglesa, também usada em outros países, como a África do Sul e a Índia. De acordo com Stange, em alguns lugares existe uma pequena

via para animais. Há ainda espaço para os ciclistas que possuem sua faixa na própria via, diferente de nossa ciclovia. “O ciclista deve usar capacete e inclusive um colete”.

Em relação ao comporta-mento dos motoristas que circulam pelos países da União Européia, Stange destaca o uso obrigatório de um colete amarelo, que deve ser colocado em situação de falha mecânica, falta de combustível ou acidente. “O veículo parou na via, o motorista já desce vestido com o colete para evitar até mesmo outros acidentes”.

U m a c u r i o s i d a d e e m Portugal são os veículos de dois passageiros, que podem ser conduzi-dos por motoristas que possuem habilitação da categoria A (moto).

Stange destacou ainda as estradas da Europa, que possuem uma engenharia de tráfego muito eficiente.

“As estradas possuem um isolamento acústico e os postos de combustíveis e locais de parada são afastados da rodovia por motivo de segurança.”

O Velho Continente ensinaPaíses europeus dão total prioridade ao trânsito de pedestres

VIAGEM

Mariele Passos

Para o setor privado, o custo da violência estimado na pesquisa é resultado da perda de mão-de-obra com as mortes por causas violentas, c o m o a s s a s s i n a t o s e acidentes de trânsito

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As informações do estudo do Ipea vão servir para direcionar ações e políticas públicas de prevenção e combate à violência

A base de dados da pequisa utilizou informações da contabilidade dos governos federal, estaduais e municipais, dados da Pesquisa

Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), feita pelo IBGE, e números do Sistema Único de Saúde (SUS). “Utilizamos dados de 1995 a 2005, mas como não havia informações completas sobre todas as variáveis para período completo, resolvemos usar o ano de 2004 como referência”, explicou o economista Daniel Cerqueira, um dos coordenadores da pesquisa.

De acordo com Cerqueira, as informações do estudo do Ipea vão servir para direcionar ações e políticas públicas de prevenção e

Violência custa aoBrasil R$ 92 bilhões

Stange destaca engenharia de tráfego eficiente nas estradas européias

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PESQUISA

combate à violência mais eficientes do ponto de vista econômico. “É preciso medir cada uma das ações para ver se elas estão gerando resultados e qual o custo para a sociedade, para então direcionar os recursos para onde eles são mais necessários”, defendeu.

No Ministério da Saúde, os resulta-dos da pesquisa vão orientar a busca de recursos para o setor, que segundo a coordenadora de Informações e Análises Epidemiológicas do ministério, Maria de Fátima Marinho, “é o grande depositário da violência, porque recebe as vítimas diretas e as pessoas sofrem o medo da violência, que têm problemas em decorrência disso”. Segundo Maria de Fátima, o estudo vai ser utilizado principalmente para sensibilizar os gestores sobre a importância de investimentos em prevenção da violência. “As pessoas sempre dizem que prevenir é melhor que remediar, vamos mostrar os custos exatos da escolha pela prevenção”, afirmou.

Luana Lourenço