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SESSÃO ESPECIAL EM HOMENAGEM AO NASCIMENTO DO POETA CASTRO ALVES REALIZADA NA CÂMARA MUNICIPAL DE SALVADOR NO DIA 14 DE MARÇO DE 2013 SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: - Sob a proteção de Deus, declaro aberta a sessão especial em comemoração ao nascimento do poeta Castro Alves, conforme preceitua o Artigo 244 do Regimento Interno desta Casa Legislativa, requerida pelo vereador que lhes fala, Odiosvaldo Vigas. Vamos solicitar para compor a nossa Mesa o presidente da Fundação Gregório de Mattos, Dr. Fernando Guerreiro. Por favor, uma salva de palmas. Convidamos para compor a Mesa o nosso palestrante de hoje, o presidente do NEM, o ilustríssimo professor, jornalista, Nilton Nascimento. Convidamos para compor a Mesa o vereador Sílvio Humberto, presidente da Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Lazer desta Casa. Convidamos o ilustríssimo Sr. Professor Elísio Brasileiro, professor de História - a cidade e o Estado o conhecem -, para compor a Mesa. Convidamos o Sr. tenente Leandro Batista, representando a Companhia de Polícia de Proteção ao Meio Ambiente. Convidamos a Ilustríssima Sra. diretora da Escola Estadual Castro Alves, professora Tânia Cerqueira, para compor a Mesa, representando as demais escolas. Convidamos a todos a ficarem de pé para ouvirmos o Hino da Cidade do Salvador.

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Page 1: DE SALVADOR NO DIA 14 DE MARÇO DE 2013 SR. … · do Rio de Janeiro, onde é colega de outro ilustre baiano, Ruy Barbosa. O jovem Castro Alves, 166 anos menos 24 vividos. Quero fazer

SESSÃO ESPECIAL EM HOMENAGEM AO NASCIMENTO

DO POETA CASTRO ALVES REALIZADA NA CÂMARA MUNICIPAL

DE SALVADOR NO DIA 14 DE MARÇO DE 2013

SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: - Sob a

proteção de Deus, declaro aberta a sessão especial em

comemoração ao nascimento do poeta Castro Alves, conforme

preceitua o Artigo 244 do Regimento Interno desta Casa Legislativa,

requerida pelo vereador que lhes fala, Odiosvaldo Vigas.

Vamos solicitar para compor a nossa Mesa o presidente da

Fundação Gregório de Mattos, Dr. Fernando Guerreiro. Por favor,

uma salva de palmas.

Convidamos para compor a Mesa o nosso palestrante de

hoje, o presidente do NEM, o ilustríssimo professor, jornalista,

Nilton Nascimento. Convidamos para compor a Mesa o vereador

Sílvio Humberto, presidente da Comissão de Educação, Cultura,

Esporte e Lazer desta Casa. Convidamos o ilustríssimo Sr. Professor

Elísio Brasileiro, professor de História - a cidade e o Estado o

conhecem -, para compor a Mesa. Convidamos o Sr. tenente

Leandro Batista, representando a Companhia de Polícia de Proteção

ao Meio Ambiente. Convidamos a Ilustríssima Sra. diretora da

Escola Estadual Castro Alves, professora Tânia Cerqueira, para

compor a Mesa, representando as demais escolas. Convidamos a

todos a ficarem de pé para ouvirmos o Hino da Cidade do Salvador.

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(HINO DA CIDADE DO SALVADOR)

SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: -

Vamos fazer a apresentação de um vídeo, tendo como fundo a

declamação feita por Paulo Autran, do poema Navio Negreiros, e

algumas imagens do filme Amistad.

Queremos registrar a presença dos vereadores Arnando

Lessa e Everaldo Augusto.

Uma salva de palmas para os dois vereadores que estão aqui

abrilhantando com as suas presenças.

(APRESENTAÇÃO DE VÍDEO)

SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: -

Convidamos o presidente do PDT, Hari Alexandre Brust, para

compor aqui a Mesa. Por favor, presidente.

Vamos assistir, agora a apresentação de Elivan Nascimento e

Olara, sobre o canto Cidadão.

(Apresentação da Música Cidadão, de autoria de Margarete

Menezes)

SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: -

Comunico a apresentação dos alunos da Escola Estadual Castro

Alves.

ALUNA: - Boa-tarde a todos e a todas aqui presentes. É um

prazer para nós, alunos da Escola Estadual Castro Alves, fazer

uma homenagem aos poetas baianos, principalmente ao poeta

Castro Alves.

Obrigada a todos e também aos professores e gestores de

nossa escola, especialmente a nossa professora e diretora Tânia

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Cerqueira, que nos ajuda para que sejamos o futuro de nosso país.

É por isso que digo: obrigada, meu poeta, por seu espírito amigo

que nos contagia com essa festa.

(APRESENTAÇÃO DE ALUNOS DA ESCOLA CASTRO ALVES)

SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: -

Convido o vereador Sílvio Humberto para assumir a presidência

enquanto faço meu discurso na tribuna.

Sr. presidente, vereador Sílvio Humberto, quero saudar a

Mesa: o Sr. Fernando Guerreiro, presidente da FGM; o professor,

jornalista Milton; o tenente Leandro; o professor Elísio Brasileiro;

Tânia Cerqueira; o presidente do meu partido, Alexandre Brust;

todas as escolas presentes; as lideranças presentes; a comunidade

presente; os artistas.

Não poderia deixar, na tarde de hoje, de registrar essa minha

fala, dizendo que no ano passado fizemos Castro Alves, o seu

universo de pensamento, na obra de Jorge Amado. E assistimos,

agora também, a sua implicação com a obra artística de Luiz

Gonzaga, que fez 100 anos. E também, com Vinícius de Morais, que

se estivesse vivo estaria fazendo 100 anos. E hoje, também, se

comemora o nascimento de Glauber Rocha e de Abdias de

Nascimento, primeiro senador negro deste país, pelo PDT, que fez,

inclusive, o Teatro Experimental do Negro, dizendo o quanto é

viva esta obra de Castro Alves. Castro Alves, 166 anos,

abolicionista, a atualidade do poeta nos 125 anos da abolição.

A escravidão e o racismo são uma realidade bastante cruel

que macula a trajetória histórica do Brasil. Desde os séculos

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passados até o presente, uma herança que guardamos e hoje com

uma nova configuração na sociedade brasileira, é necessário

compreendermos em toda a sua plenitude o fato histórico da

abolição, entendendo que os negros foram contra a escravidão e

construíram a sua própria história.

Sabe-se que a abolição aconteceu diante de um amplo

espectro de alianças e fatores diversos, inclusive, econômicos

internacionais. Podemos citar a Inglaterra que vem, desde a

participação dos negros se rebelando, como negros fugidos, os

quilombos organizados, as senzalas e o surgimento de grupos

abolicionistas.

Em pleno século XXI, faz-se a seguinte pergunta,

acompanhada da devida reflexão: ―Onde estão situados os negros

na sociedade brasileira? E como está incrustado o racismo nessa

mesma sociedade‖? A obra do poeta Castro Alves responde

plenamente a essas indagações e percebemos a atualidade do poeta

nos 125 anos da abolição que precisa acabar por completo a

escravidão e o racismo.

Avançamos? Sim, avançamos quando o Estado, por pressão

da sociedade civil organizada, consegue determinar a política de

cotas para vagas nas universidades públicas para negros e

afrodescendentes, porque traz para o seio da sociedade a discussão

básica do racismo existente neste país, uns a favor, outros contra.

No dia 20 de dezembro de 1985, uma lei federal estabelecia

como crime o tratamento discriminatório no mercado de trabalho,

entre outros ambientes, por motivo de raça e cor, de um deputado

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também federal, do PDT, de meu partido. A Lei 7.437 classifica o

racismo e o impedimento de acesso a serviços diversos por motivo

de raça, cor, sexo ou estado civil como crime inafiançável, punível

com prisão de até 5 anos.

Porém, os negros, na sua quase totalidade, ainda hoje

encontram-se nas favelas, nessa nova configuração da escravidão e

nas piores condições de trabalho e, muitas vezes, numa relação

trabalhista de precarização.

O que nos falta, em verdade? O que nos falta é uma classe

média forte, composta por negros e por afrodescendentes com

grande poder aquisitivo para termos influência nas decisões

políticas e na construção de um poder político e econômico

participando, efetivamente.

Vejam, senhores, que depois de 125 anos o Brasil estampa

na sua mídia: " Temos o primeiro presidente do Supremo Tribunal

Federal negro". Depois de 125 anos, vemos em outdoors, nessa

cidade, uma juíza negra, e ainda mostrando que continuamos na

escravidão, nas favelas, onde estão os negros.

As conquistas e lutas desse povo negro não terminaram com

a escravidão e o racismo, que hoje tem novos aspectos, não sendo

extirpada do seio da sociedade brasileira a perversa herança da

escravidão, na falta de políticas de Estado voltadas principalmente

para a educação em todos os níveis, como fator primordial da busca

pela igualdade social, políticas de educação e também reformas de

base que devem ser feitas para concluir o fato histórico da abolição.

Então, senhores, a obra de Castro Alves está viva e atual

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diante da realidade vivida pelo povo negro brasileiro, mesmo com o

nível de consciência da nossa realidade racial e social alcançada.

Castro Alves vive.

Muito obrigado.

SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: -

Antes de passar a palavra ao nosso palestrante principal, o

professor Elísio Brasileiro, para fazer uso de sete minutos, por

causa do tempo, quero também registrar a presença do poeta

Cláudio Dória, de Simões Filho. Também queremos uma salva de

palmas para o Centro de Cultura Marise Ribeiro. Uma salva de

palmas para a coordenadora do Grupo Arte Nossa Poesia, artista

plástica. Registrar a presença do vice-presidente da Fecaba, Mestre

Raimundo, aqui representando e participando. Do professor

Germano Machado, que está aqui também representado. Do Dr.

João Machado, presente aqui, companheiro nosso, médico

pneumologista. Do pessoal da Fundação Cidade Mãe: Célia, Ariela,

Marli e Valéria, e nosso psicólogo, uma salva de palmas para nosso

companheiro. Da secretária da Reparação, aqui representando a

secretária o Sr. Valdo, uma salva de palmas, sinta-se como se

estivesse compondo a Mesa aqui conosco.

SR. ELISIO BRASILEIRO: - Caro querido amigo, vereador

Odiosvaldo Vigas Bonfim, quero lhe saudar em nome dos demais

componentes da Câmara de Vereadores de Salvador; demais

autoridades presentes; senhoras e senhores; sinto-me muito

honrado em voltar a esta tribuna em um momento tão especial

quanto este.

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Cento e sessenta e seis anos passados de um jovem que

morreu aos 24 anos. Tuberculoso, sim, sem um pé, havia sido

amputado; sem um pé, com uma passagem difícil pela vida

acadêmica; reprovado duas vezes no exame para ingresso na

Faculdade de Direito de Recife, só logrou êxito na sua 3ª tentativa;

mais adiante, abraçado à sua grande musa, Eugênia, consegue

estudar Direito, sim, ingressar no 3º ano na faculdade de Direito

do Rio de Janeiro, onde é colega de outro ilustre baiano, Ruy

Barbosa.

O jovem Castro Alves, 166 anos menos 24 vividos. Quero

fazer essa operação com rapidez: 142 anos, como disse muito bem

Odiosvaldo, ele está vivo, vivíssimo, porque ele assumiu a grande

campanha de sua vida. Ele abraçou uma causa nobre, e quem

abraça uma causa nobre, que é a promoção social, não morre.

Castro Alves está vivo, tanto tempo se passou, e mais anos

se passem. Não se revelou como acadêmico, advogado, sequer,

jurista, se destacou como grande poeta do Brasil, se apoiando nos

ensinamentos do romantismo francês de Victor Hugo. A sua obra é

dividida em dois planos: a obra social, em que ele abraça a causa

da defesa do negro, do afro, daquele que vem como escravo e

assume, acima de tudo, a grande bandeira da liberdade. E o outro

lado, o poeta lírico, apaixonado, cujo coração transborda, se deixa

levar pelo amor, suas musas, da atriz a outras tantas.

Praticamente órfão muito cedo, nasceu no município de

Muritiba, hoje município Cabaceiras do Paraguaçu. Logo, muito

cedo, ele fica órfão de mãe, vai morar em São Félix, estudando em

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Cachoeira. De lá, também muito jovem, se desloca para Salvador e

aqui avança nos seus estudos, com muitos irmãos, e aos 13 anos

já declamava seu primeiro poema e não para mais. E construindo

versos, traduzindo seu coração, assume a grande causa que

abalava o mundo, o capitalismo industrial ou financeiro, ele não

abrigava mais o escravismo.

A segunda Revolução Industrial, da segunda metade do

século XIX, precisava de consumidores e escravo não consome, e o

grande berço da indústria no mundo, a Inglaterra, não toleraria

mais a escravidão.

Em 1845, dois anos antes de Castro Alves nascer, a

Inglaterra começa a atacar os navios negreiros, unilateralmente, ela

decide o fim do tráfico negreiro. Cinco anos depois, Castro Alves

tinha três anos, o império brasileiro se rende à pressão inglesa, que

era acima de tudo uma pressão do capitalismo precisando ampliar

mercados consumidores, e produz a Lei Eusébio de Queiroz.

O próprio império brasileiro proíbe o tráfico negreiro, no

entanto, a escravidão persistia, se mantinha, e Castro Alves muito

cedo interpretou isso e trouxe para dentro do seu coração e de

forma intensa deixou essa obra memorável. Ao morrer só havia

conseguido publicar uma obra, Espumas Flutuantes.

Depois de sua morte, aquele grande poeta que

declamava no Rio de janeiro, na Bahia, aqui nessa praça próxima,

no Teatro São João, aqui descendo a Rua Chile, ele fazia O Canto do

Condor, como vai ser mais tarde chamado para ser um dos

patronos da Academia Brasileira de Letras, com a cadeira de

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número sete. Depois dela criada, esse homem abraça a causa da

liberdade e, naquele momento, ele nada teme, no lugar de ser um

acadêmico, um juiz, um advogado, ele vai ser o nosso grande poeta,

cantar por todos nós.

E como dizia há pouco um garoto, e aquilo me

emocionou, e uma garota continuou: "Essa luta tem que continuar".

A escravidão não acabou. Ficamos envergonhados quando vamos -

a novela hoje traduz aquilo que sabemos da escravização de

mulheres brasileiras em outros países do mundo pelo uso do sexo -

ao campo e vemos crianças sendo escravizadas e exploradas,

quando o lucro capitalista não hesita em sacrificar a liberdade e a

dignidade do ser humano. É uma bandeira que ele desfraldou no

século XIX e que todos nós, neste século XXI, senhores, senhoras,

jovens, certamente iremos desfraldar por muito tempo. Que a luta

pela liberdade, pela emancipação do povo brasileiro

afrodescendente, pela igualdade, continue e se fortaleça em nossos

corações e que transborde nos versos do poeta e no grito de cada

um de nós.

Castro Alves, viva a liberdade irmão! Viva a liberdade!

Sem ela não há construção da civilização.

Parabéns à Câmara de Vereadores, ao Odiosvaldo por

esse evento significativo, e que em cada um de nós essa luta não

deve parar.

Viva a liberdade! Viva Castro Alves!

SR. VEREADOR PRESIDENTE ODIOSVALDO VIGAS

- Obrigado, professor Elísio.

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Convidamos agora o professor Fernando Guerreiro, da

Fundação Gregório de Matos, para fazer uso da palavra por sete

minutos.

SR. FERNANDO GUERREIRO: - Boa tarde a todos os

presentes; ao vereador Odiosvaldo que teve essa ideia brilhante de

realizar, como sempre vem fazendo, essa sessão solene em

homenagem a esse grande artista, esse grande poeta e esse grande

homem, Castro Alves; a todos os presentes e a todos os vereadores

presentes, a todos os meus colegas, ao professor patriota que fez

um pronunciamento maravilhoso, aqui agora, emocionante. Eu

acho muito interessante esse poder da palavra, como algumas

pessoas sabem usar isso muito bem e emocionam e prendem a

atenção.

Na condição nova de presidente da Fundação Gregório de

Matos, eu que sempre fui um apaixonado por esta cidade, hoje

percebo o estado muito grande de abandono em que a gente vive,

de políticas públicas na área municipal para a cultura. A cada

evento, cada momento, eu estou tentando construir passo a passo

uma nova realidade, um novo momento.

O Castro Alves representa o grande artista, porque para

mim o grande artista não marca apenas por ser um talento, ele

marca também pelas posições que ocupa durante sua vida. Muitas

vezes nós vimos artistas talentosos, brilhantes, mas eles são

esquecidos, porque durante as suas vidas eles não assumiram uma

posição, uma postura diante da sociedade que tenha deixado

marcas. E o grande diferencial de Castro Alves é esse, além de ter

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sido um artista brilhante, um poeta interessantíssimo, reconhecido

pelo mundo inteiro, foi talvez um dos primeiros artistas do mundo a

abordar o tema da escravidão, se eu não estiver enganado

Ele foi absolutamente pioneiro nesta abordagem,

corajoso, porque na época isso obviamente poderia ser condenado,

como foi, poderia transformá-lo até num poeta maldito. E ele fez

isso de uma forma tão brilhante, tão elegante, que conseguiu

passar por tudo isso e ficou até hoje.

Me emociona também a possibilidade da gente

homenagear o Castro Alves durante o ano inteiro. Eu acho que o

evento é importante para chamar atenção, mas o dia do Castro

Alves passa, o aniversário passa e todos nós mergulhamos no

esquecimento de uma série de questões.

Então, eu defendo sempre que Castro Alves deve estar

presente através de políticas de cultura. durante todo o ano, sendo

lembrado, recordado, encenado, discutido, homenageado, e não

apenas no dia dele. Como também a poesia, que existe uma

discussão, qual é o dia da poesia? É hoje? É novembro? É outubro?

Eu acho que nada mais justo do que se chamar este dia do Dia da

Poesia. E tentar aproveitar, aí eu digo aos professores, a todos os

componentes da rede municipal de ensino, ao pessoal direcionado à

educação, à poesia, que a poesia precisa voltar aos bancos

escolares, a poesia precisa voltar à nossa cultura, à nossa vida

diária. A poesia está esquecida. A poesia está marginalizada. É uma

das formas literárias mais brilhantes, mais difíceis.

Hoje pela manhã eu estive lá na praça, num pequeno

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evento realizado pelos grandes batalhadores da poesia, que eu

conheço há trinta e tantos anos, quase quarenta, que ainda estão aí

na luta, na resistência, levantando sempre a bandeira desse gênero

literário, que é tão sublime, tão impactante, tão forte e que

emociona tão facilmente. Mas, infelizmente, me desculpem usar

essa palavra, nesta rede de emburrecimento que a gente vive hoje,

neste país, cada vez mais em cima de fórmulas fáceis, a educação

caminhado cada vez mais, em muitos aspectos, para facilitações,

que a gente caminhe para achar a poesia difícil, para achar a poesia

inacessível, e não para dizer para que eu vou apresentar uma

poesia para um aluno se ele não vai entender, porque o vocabulário

dele está empobrecido.

Claro que isso tudo é consequência do que nós vivemos.

Desde essa época de Castro Alves, fazendo um panorama, muito

pouca coisa mudou e a consequência é essa hoje: a dificuldade de

se entender a poesia, de se perceber o brilho, a importância dessas

palavras, dessas junções, dessa criatividade e talento desses

poetas.

Então, eu terminaria minha fala dizendo Viva a Poesia!

Viva esta cidade e esta praça e este poeta que tem que ser

homenageado e tem que ser trabalhado durante todo o ano!

SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSLVALDO VIGAS: -

Obrigado presidente Fernando Guerreiro.

Convidamos agora, o palestrante, nosso principal, Nilton

Nascimento, presidente do NEIM, negro em movimento (inaudível), o

jornalista que fará o uso da palavra pelo tempo de vinte minutos.

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Queremos registrar a presença da Escola Cantinho do

Saber de Sra. Zenite, diretora da Federação Espírita da Bahia; e da

Sra. Juçara Rosa, representando a Secretaria de Educação do

Município, sintam-se aqui apresentados pela Mesa, e uma salva de

palmas para a Sra. Juçara.

SR. MILTON NASCIMENTO: - Exmo. Senhor vereador

Odiosvaldo Vigas, presidente da Mesa; Exmo. vereador Sílvio

Humberto, presidente da Comissão de Educação, Cultura, Esporte

e Lazer desta Casa; Ilmo. Sr. Fernando Guerreiro, presidente da

Fundação Gregório de Matos; Ilmo. professor, brilhante orador,

Elísio Brasileiro; Ilmo. Leandro Batista, representando a

Companhia de Polícia de Proteção ao Meio Ambiente; Ilma. diretora

da Escola Estadual Castro Alves, professora Tânia Cerqueira; Ilmo.

Sr. Dr. Alexandre Brust, presidente do PDT; senhoras e senhores.

Antes de iniciar a minha conversa, eu desejaria fazer duas

homenagens: a primeira pedindo uma salva de palmas em

homenagem a um companheiro nosso do negro movimento, o

jornalista Agnaldo Joaquim de Santana, recentemente e

subitamente falecido, que comungava dos mesmos ideais

libertários que nós e era um grande admirador de Castro Alves. A

ele, dedicamos esta palestra.

A segunda homenagem se impõe, mas já foi feita, na

verdade, por Odiosvaldo, que é o dia de hoje; também, se estivesse

vivo completaria 99 anos o nosso Abdias Nascimento, um pioneiro,

um grande lutador, por acaso também, militante do Partido

Democrático Trabalhista, antes do Partido Trabalhista Brasileiro, e

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que foi o iniciador da luta pela redenção do negro no Brasil.

Evidentemente, no século passado, depois de tantos outros, depois

dos escravos lutadores, depois dos abolicionistas, o Abdias reiniciou

essa luta em meados do século passado. Ele merece, também, a

nossa homenagem hoje, aqui. O Alexandre me lembra que o Abdias

foi o primeiro deputado negro e o primeiro senador da República

negro no Brasil.

Essa minha apresentação pretende ser apenas a

contribuição de um jornalista e ativista social que aceitou a

proposta de um admirador de Castro Alves, o vereador Odiosvaldo

Vigas, que também cultiva uma alma condoreira. O condoreirismo é

a escola libertária da poesia brasileira marcada pela temática social

e pela defesa de ideias igualitárias que produziam uma poesia

social comprometida com a causa abolicionista e que tem como

principais representantes Castro Alves e Tobias Barreto.

Odiosvaldo todos os anos reúne a sociedade baiana aqui,

nesta Casa Legislativa, para saudar na sua data de nascimento, o

nosso grande poeta Castro Alves. Não vou fazer, até porque não me

cabe, Sr. presidente, uma análise estética da poesia castroalvina

para a qual não estou preparado. Vou apenas tentar lançar

algumas luzes sobre o sentido social da poesia de Castro Alves,

especialmente sob o aspecto do seu engajamento na luta

abolicionista pela libertação dos escravos, que é o tema que me foi

proposto. O meu objetivo é com isso prestar uma homenagem

singela no transcurso de seus 166 anos de nascimento a esse

intelectual baiano que pautou sua breve vida sob o signo da

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integridade intelectual e moral e pela defesa dos mais humildes.

Vamos, então aos fatos.

A vida de Antônio Frederico de Castro Alves foi marcada por

uma brevidade angustiante. Nasceu na Fazenda Cabaceiras, na

Vila de Nossa Senhora da Conceição do Curralinho, em 14 de

março de 1847, e faleceu em Salvador, em 06 de julho de 1871,

vivendo portanto, apenas 24 anos.

Ontem, um amigo nos dizia que se Castro Alves vivesse por

pelo menos 45 anos, certamente..

SR. MILTON NASCIMENTO: - ...apenas 24 anos. Ontem,

um amigo nos dizia que se Castro Alves vivesse por pelo menos 45

anos, certamente, seria o maior poeta das três Américas e um dos

maiores do mundo em todos os tempos.

Seu pai, o médico Antônio José Alves, filho de um

comerciante lusitano pobre, casou-se com Clélia Brasília Castro,

filha natural de um rico fazendeiro. A família de Castro Alves havia

sido atingida pela enfermidade do século, a tuberculose. Sua mãe

morreu jovem, em 1859, e seu pai também sofria dos pulmões.

Quando a família Castro se mudou para Salvador em 1854,

Castro Alves tinha 7 anos. A família foi morar no antigo Solar do

Sodré, onde fica o Colégio Ipiranga, no Largo 2 de Julho. Em 1858,

aos 11 anos, Castro Alves foi matriculado no Ginásio Baiano, onde

Ruy Barbosa também estudara. Seu proprietário, o educador e

médico, Abílio César Borges, era o inovador pedagógico e também

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um pioneiro do abolicionismo, tendo fundado a Sociedade

Libertadora 7 de Setembro, que publicava o Jornal Abolicionista.

Em 1863, com apenas 16 anos, uma primeira hemoptise, revela a

Castro Alves que o mal da tuberculose também lhe alcançara e ele

sabia que esse mal em breve determinaria a sua morte.

Na breve vida que teve Castro Alves, muito se fala da sua

obra poética e dos seus tórridos amores, principalmente, da relação

com a atriz portuguesa Eugênia Câmara, mas pouco se fala da sua

verve abolicionista, professor Elísio, do espírito revolucionário

contra o regime servil que se entranhou na obra em que escreveu e

que contrariava os seus contemporâneos do romantismo. Professor

Fernando Guerreiro falou um pouco disso aqui agora, que era o

estilo literário da épocam como José de Alencar, Gonçalves Dias,

entre outros, que, naquele momento do Brasil pós-independência,

procuravam, com seus escritos, criar uma espécie de espírito

nacional para construir a nova nação, que sabemos que nos é

devida até hoje.

Antes de prosseguir, quero falar um pouco do que se

passava no Brasil naquele momento. O império, especialmente com

Dom Pedro II, tinha um projeto de querer se diferenciar das

repúblicas da América Latina, buscando assemelhar-se aos modelos

europeus de civilização e modernidade. Para a constituição da

nação, ele tinha também um projeto literário nacionalista, baseado

no projeto historiográfico do Instituto Geográfico Histórico

Brasileiro, que foi fundado por Dom Pedro, que começava as

primeiras formulações para a história brasileira, e no projeto

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iluminista de miscigenação para a construção da identidade

nacional.

Reparem bem, a miscigenação entrava no projeto do governo

independente se o povo, especialmente o negro ou o índio, entrava

ou não entrava. Dom Pedro queria unir a história e a geografia em

um território constituído por um povo, isto é, por três povos

distintos, o índio, o branco e o negro no Brasil, e neste sentido criou

e fundou os Institutos Geográficos e Históricos para dar

organicidade a esta idéia e criar a história nacional. Era preciso

consolidar as imagens dos seus mitos fundadores com vista a

tornar o Brasil uma nação.

Como complemento, surgiram, também, os cursos de direito

em São Paulo e em Olinda, inicialmente, em 1827. A ideia era

formar pessoas para dirigir as instituições. Enquanto isso, a maior

parte da população era analfabeta. A elite forjava um projeto

político centrado no progresso, na civilização do país, só que o

caminho para esse progresso estava em duas coisas, na agricultura

e na escravidão, com esteio da chamada civilização do progresso.

O Brasil queria manter a escravidão, ele achava que o

progresso estava na escravidão, na manutenção da escravidão,

naquele momento, o preconceito racial já era uma coisa patente no

Brasil. Vejamos um exemplo: o Instituto Geográfico e Histórico,

recém-criado, promoveu em 1844 um concurso sobre como escrever

a história do Brasil e foi vencedor Von Martius, um alemão,

Friedrich Von Martius. Este apresentou o desenvolvimento da

história da nação a partir das três raças mescladas e formadoras.

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Só que era assim: ao branco cabia ser o civilizador, ao índio a

possibilidade de ser civilizado, e ao negro o espaço de detração,por

falta de mérito, já que representava motivo de impedimento ao

progresso da Nação e com isso atrapalhava a formação de uma

verdadeira identidade nacional. O negro servia para sustentar a

agricultura, mas na hora da formação da Nação, a ideia e o conceito

que apareciam era de que ele não tinha papel e nenhuma

importância.

Imitando a política, que definia a terra e a escravidão como

os motores de desenvolvimento da Nação, a arte, a literatura e a

poesia no Brasil viviam o Romantismo, cujo projeto literário se

expressava por meio do Indianismo e do Regionalismo. Os literatos

se voltavam para o índio, todos aqui se lembram de Iracema, de

José de Alencar, de Juca Pirama, de Gonçalves Dias, se lembram

dos poemas de Cassemiro de Abreu dentre outros?

Outros escritores, ainda, como Bernardo Guimarães, autor

da bela, clara e cobiçada Escrava Isaura, que até hoje as televisões

não se cansam em passar, em repetir e repetir eternamente - eu

particularmente não entendo o porquê -, eles foram buscar

inspiração no matuto sertanejo como tema de sua obra, de sua

arte.

Como vemos, já naquele momento, o projeto de Nação

excluía o negro como uma das raças na formação da sociedade

brasileira. E Castro Alves vislumbrou isso. As ruas de Salvador,

assim como as do Rio de Janeiro, eram repletos de africanos,

cativos ou libertos, vestidos com coloridos turbantes e panos nas

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costas. Eram "pau para toda obra", trabalhavam no serviço

doméstico, nos transportes, nos mercados, nos portos. Falavam a

língua da Costa Africana, vivendo segundo padrões africanos,

aclimatados no Brasil.

Castro Alves vai, então, na contramão do ideal romântico dos

artistas engajados no projeto imperial. Ele inventou uma linguagem

capaz de quebrar o silencio sobre o negro escravo e a escravidão,

produzido pelo romantismo vigente, ditado pela colonização na

historia e na literatura do país, desconstruindo, desse modo, com

seu condoreirismo, os discursos literários hegemônicos que

celebravam o índio, o amor, os costumes e a cultura urbana.

Em sua singular biografia, ABC de Castro Alves, Jorge

Amado lembra que a presença da população escrava de Salvador

determinou a formação de Castro Alves. Foi a partir dessa visão

cotidiana e da companhia de outros intelectuais, como Ruy

Barbosa, que ele passou os primeiros sentimentos abolicionistas

aos seus primeiros escritos. Já, em 1861, declamando em

homenagem à Independência, referiu-se à escravidão apresentando-

a como contingência histórica, insinuando a contradição entre

cativeiro e nacionalidade.

SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: - Um

momento por favor, professor, quero só anunciar a presença de

nosso presidente da Câmara, vereador Paulo Câmara.

Se quiser compor a Mesa de nosso trabalho, abrilhantando o

compromisso dele, Castro Alves, com a liberdade.

SR. MILTON NASCIMENTO: - Em 1863, Castro Alves publica

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seus primeiros versos abolicionistas, A Canção do Africano, no

numero inaugural do jornal acadêmico, A Primavera. Mas apenas o

jornal lhe parecia insuficiente para disseminar seu imaginário

abolicionista e, logo, ele se utiliza da declamação, era uma coisa em

voga na época, em teatros e comícios estudantis, muitas vezes de

improviso, quebrando, para os jovens estudantes e seus familiares,

o silêncio sobre escravos e escravidão, imposto pela marca colonial

e difundido pelo Império.

Em 1865, na abertura dos Cursos Jurídicos, recita o poema,

O Século, na Faculdade de Recife. Esse poema, escrito quatro

meses após a abolição da escravidão, nos Estados Unidos, canta a

liberdade dos escravos e conclama a participação de todos os

brasileiros para a luta por justiça e liberdade:

Lutai... Há uma lei sublime

Que diz: "À sombra do crime

Há de a vingança marchar."

Não ouvis do Norte um grito,

Que bate aos pés do infinito,

Que vai Franklin despertar?

Basta!... Eu sei que a mocidade

É o Moisés no Sinai;

Das mãos do Eterno recebe

As tábuas da lei! — Marchai!

Quem cai na luta com glória,

Tomba nos braços da História,

No coração do Brasil!

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Moços, do topo dos Andes,

Pirâmides vastas, grandes,

Vos contemplam séc'los mil!

No seu poema, A Canção do Africano, cantou a nostalgia do

cativo e colocou em contradição a África sem escravidão e o Brasil

pátria do escravismo:

―Lá todos vivem felizes,

Todos dançam no terreiro,

A gente lá não se vende

Como aqui, só por dinheiro.‖

Em 2 de julho de 1863, declamou poesia em homenagem ao

transcurso do aniversário da expulsão dos portugueses da Bahia. A

primeira parte do poema é dedicada ao cativo.

Na quarta estrofe, "Põe na boca do escravo, ao morrer, um

grito de ―vingança", o poeta retomaria, com virulência, o tema do

ódio servil. E diz:

"Um suor frio lhe passou nos membros...

No corpo a vida para sempre cansa.

Caiu por terra, mas lembrando o filho

Com os lábios hirtos repetiu - vingança.‖

Em 1865, quando a poesia antiescravista de Castro Alves

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assumiu singular radicalidade, o movimento abolicionista ainda

não existia, imperava no Brasil um estado geral de conformidade

sobre a sorte dos cativos e se acertava uma discussão casual sobre

a extinção lenta, gradual e segura da ordem maldita. Apesar do fim

da Guerra de Secessão dos Estados Unidos e do fim do cativeiro em

várias nações independentes, o Brasil afirmava sua condição de

pátria do escravismo.

No início de 1866, na Bahia, Castro Alves fundou,

juntamente com Ruy Barbosa, a Associação Abolicionista. Em

dezembro, Castro Alves publicou vibrante poema contra a repressão

policial de um comício republicano:

O Povo ao Poder.

―A praça! A praça é do povo

Como o céu é do condor.

É o antro onde a liberdade

Cria águias emseu calor!

Senhor!... pois quereis a praça?

Desgraçada a populaça

Só tem a rua seu...

Ninguém vos rouba os castelos

Tendeis palácios tão belos...

Deixai a terra ao Anteu."

Ainda neste ano, em Recife, Castro Alves escrevia o drama

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Gonzaga ou a Revolução de Minas, onde identificava a abolição com

a questão da independência e da nacionalidade.

Em 1868, em São Paulo, centro da produção escravista,

compôs e recitou o seu maior poema abolicionista. Com o Navio

Negreiro, referia-se, alegoricamente, à imensa nação que encobria

com sua bandeira o cativeiro.

Castro Alves lembrava a bastardia na nacionalidade

brasileira enquanto a cidadania não compreendesse todos os seus

filhos, coisa que para nós ainda não aconteceu.

"Auriverde pendão da minha terra,

Que a brisa do Brasil beija e balança,

Estandarte que a luz do sol encerra,

E as promessas divinas da esperança...

Tu, que da liberdade após a guerra,

Foste hasteado dos heróis na lança,

Antes te houvessem roto na batalha,

Que servires a um povo de mortalha!..."

Em junho de 1869, Castro Alves, gravemente doente dos

pulmões, teve o pé que havia sido ferido a bala em uma caçada no

Brás, lá em São Paulo, amputado em uma operação realizada no

Rio de Janeiro, e realizada a cru, sem clorofórmio, sem nada, devido

a fraqueza dele. Em novembro, embarcou para a Bahia e em janeiro

viajou para o interior, buscando melhores ares.

Em inícios de 1870, com o fim da guerra do Paraguai, a

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discussão sobre a escravidão tornou-se questão nacional, debatida

nos salões e nas praças públicas. Mesmo se sabendo condenado à

morte, Castro Alves planejava escrever um poema histórico sobre o

Quilombo dos Palmares.

Nos sertões, aqui da Bahia, escreveu sua ―Saudação a

Palmares‖, soberbo elogio da revolta negra e implacável crítica dos

intelectuais vendidos ao poder.

―Cantem eunucos devassos

Dos reis os marmóreos paços

E beijem os férreos laços

Que não ousam sacudir...

Eu canto a beleza tua,

Caçadora seminua!

Em cuja perna flutua

Ruiva, a pele de um tapir."

Em outubro deste ano, Castro Alves havia publicado seu

primeiro e único livro, enquanto ele estava vivo: Espumas

Flutuantes. Mas pouco durou. Sua última aparição em público foi

em 10 de fevereiro de 1871, numa festa beneficente. Morreu às 3 e

meia da tarde, no Largo 2 de Julho, no Solar do Sodré, em 6 de

julho de 1871.

Então, eu queria dizer algumas coisas aqui.

Ainda hoje, à exceção de alguns estudos de especialistas,

como o estudo do professor Edvaldo Boaventura, do emérito

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professor Germano Machado, de Edson Carneiro, Euclides da

Cunha também escreveu algumas coisas, nos ressentimos de uma

literatura mais abrangente sobre Castro Alves, o abolicionista. Não

se justifica a sua pouca idade, já que, mesmo vivendo pouco, foi

profícua a sua obra. É uma interrogação que deixamos aqui.

Estudiosos de literatura, igualmente admiradores da poesia de

Castro Alves, também se colocam perplexos e assinalam a crescente

desvalorização do poeta baiano nos cursos de literatura das nossas

universidades e nas escolas nos nossos dias. Sobre ele, em forma

lenta, como lembra o professor da universidade de Passo Fundo, o

Mário Maestri, lá do Rio Grande do Sul, estendeu-se uma cortina de

silêncio, uma espécie de véu de esquecimento. Criou-se também

uma mentira quando se afirma, atualmente, que a poesia do nosso

mais conhecido poeta ressente-se do tempo, tornando-se na forma e

no conteúdo um discurso estranho aos nossos dias.

Será verdade isso? Algumas pessoas aqui já falaram que

isso não é verdade.

Castro Alves é extremamente atual nos nossos dias, em

que o racismo, a discriminação e a pobreza contra a população

negra brasileira continuam vigentes como uma nova forma de

escravidão, extremamente atual nesses 125 anos de abolição

inconclusa, que se completa nesse ano de 2013.

O Brasil até hoje, enquanto nação formada por várias

etnias, não teve a coragem ou a sabedoria, ou ambas, de concluir o

processo abolicionista. Temos a abolição inconclusa, e aí, eu acho

que nós, negros, também temos responsabilidade nisso, porque não

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tivemos ainda a coragem de completar a obra dos abolicionistas e

até, às vezes, negamos esses abolicionistas, quando negamos o 13

de Maio e pagamos o preço dessa covardia com a imposição pelos

grupos dominantes da sociedade, do racismo e da discriminação, no

dia a dia, em qualquer lugar que a gente vá. E porque, a exemplo de

Castro Alves que rompeu os cânones imperialistas ao cantar o

escravo, nós não tivemos ainda a coragem de romper os cânones

republicanos que também escravizam os negros na pobreza

permanente.

Enquanto a produção literária de Castro Alves assumir a

denúncia da condição escrava como arma, nós, cidadãos negros nos

escondemos em uma conciliação vergonhosa, recebendo as

rebarbas da sociedade, esperando que os sucessivos governos

republicanos que mantêm os negros na pobreza e na miséria

solucionem o que é insolucionável. Ou nós assumimos essa luta

diretamente, ou não vai adiantar essa nova forma de escravidão que

a pobreza vai continuar a vida toda.

Castro Alves em sua criação poética foi além dos valores

culturais do seu tempo de espalhar com intensidade e de diferentes

formas do imaginário abolicionista a sinceridade de seus propósitos

e a energia empenhada que temos que ter hoje para vencer o

racismo e a discriminação racial.

Um poeta americano, chamado Ezra Pound, falava sobre

os artistas que eles são as antenas da raça. Castro Alves é a

antena do Brasil, à antena da nossa raça. Hoje, na intensidade e na

atualidade de sua obra, ele ilumina o nosso presente que se perde

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na pieguice, na mediocridade e na superficialidade dos tempos

atuais. Quando se completa 166 anos de seu nascimento, podemos

dizer um pouco mais: "Ele é o profeta da raça, um profeta do

abolicionismo que ainda precisa ser concluído no Brasil".

Para concluir, eu peço a tolerância, presidente, para ler o

trecho de um poema pequeno, é uma saudação do poeta chileno,

Pablo Neruda, que é um prêmio nobre da literatura, ao nosso maior

poeta. O título do poema é: "Castro Alves do Brasil". Diz assim, é só

três estrofes que eu vou ler.

"Castro Alves do Brasil, para quem cantastes?

- Cantei para os escravos, eles sobre os navios

como um cacho escuro da árvore da ira,

viajaram, e no porto se dessangrou o navio

deixando-nos o peso de um sangue roubado.

- Cantei naqueles dias contra o inferno,

contra as afiadas línguas da cobiça,

contra o ouro empapado do tormento,

contra a mão que empunhava o chicote,

contra os dirigentes de trevas.

Castro Alves do Brasil, hoje que o teu livro puro

torna a nascer para a terra livre

deixam-me a mim poeta da nossa América,

coroar a tua cabeça com os louros do povo.

Tua voz uniu-se â eterna e alta voz dos homens

Cantastes bem. Cantastes como se deve cantar.‖

Muito obrigado.

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SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: -

Obrigado, professor Milton.

Vamos passar a palavra para os vereadores, inicialmente,

vereador Everaldo Augusto, que vai ter que sair, posteriormente,

vereador Sílvio Humberto.

Vereador Everaldo Augusto

SR. VEREADOR EVERALDO AUGUSTO: - Caro presidente

Odiosvaldo Vigas, que todo ano realiza esta sessão especial

brilhante, que já faz parte do calendário das sessões da Câmara de

Vereadores de Salvador e é, com certeza, uma das homenagens

mais simbólicas que a cidade, que a Bahia presta ao nosso poeta

maior, o poeta Castro Alves. Quero, portanto, parabenizá-lo

vereador, e saudar toda a Mesa.

Quero, antecipadamente, pedir desculpas aos presentes por

ter que sair para um outro compromisso, mas não poderia deixar de

vir aqui, registrar a importância das palestras que foram proferidas:

o último professor Milton Nascimento, todas as três palestras foram

importantes, claro, destacando o lado social do poeta Castro Alves,

da sua obra. Isso é uma coisa brilhante, porque além da sua

estética, além do poeta do amor, além do poeta, vamos dizer, da

natureza, é o lado social que marca muito Castro Alves e é isso que

faz, também, com que Castro Alves seja sempre um poeta atual;

isso que falou o professor Fernando Guerreiro. O que torna um

artista atual? - É ele ser a antena da raça, falar do mundo vivo, do

povo vivo, das coisas vivas, e foi isso que Castro Alves terminou

fazendo, e nós precisamos estar atentos para essa necessidade de

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atualizar Castro Alves.

Tem um crítico literário, Jamil Almansur Adad, que escreveu

muito sobre Castro Alves e copilou também outros comentários

sobre Castro Alves, destacava que em momentos de efervescência

política e social no país, a obra de Castro Alves vem à tona e fala de

alguns desses momentos. E nós vivemos um, recentemente, que foi

a luta contra o regime militar que tinha na poesia de Castro Alves

um símbolo de resistência. E, aí, Castro Alves reavivou de novo,

saiu para a memória; todo mundo falava de Castro Alves.

Hoje, nós não estamos vivendo aquele momento de viragem

política no país, como foi o fim do regime militar. Professor Brust

está aqui, que viveu, combateu e conduziu essa luta com maestria,

sabe do que nós estamos falando, mas, hoje, o Brasil vive um

momento muito propício para atualizar a obra de Castro Alves que

é, justamente, tratar dessa temática que nosso professor tratou

aqui, da necessidade do país promover um grande movimento de

reconhecimento do crime, que foi a escravidão e de reparação, e das

políticas afirmativas, porque isso está presente na nossa sociedade,

isso é um elemento importante para a construção da cidadania e da

democracia no nosso país.

Nós não podemos conviver com as marcas da escravidão

indefinidamente, " ad eternum", nós temos, portanto, de prosseguir

nessa luta pela reparação, pela igualdade de direitos, pela equidade,

pelas cotas, tudo isso que nós conquistamos até aqui.

Castro Alves, ao falar da escravidão, ele fez como o professor

muito bem destacou aqui, não criando imagem ideal do homem

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negro, como tentaram criar uma imagem ideal do índio para ser o

símbolo do nosso povo, mas desceu lá, na senzala, para falar do

negro como ele era, e não somente falar, mas, também, de acusar

aqueles que estavam colocando aquele homem, aquela mulher,

aquele filho, aquela filha, naquela determinada situação. Eu acho

que é a prova mais viva de que a obra de Castro Alves...

l

(Continuação...)

SR. VEREADOR EVERALDO AUGUSTO: - ... filha, aquela

filha, naquela determinada situação. Eu acho que a obra de Castro

Alves é a prova mais viva de que é justa toda política de reparação

hoje.

Queria concluir por aqui, dizendo também, vereador

Odiosvaldo Vigas, e anunciando aqui, nesta Casa, que ontem nós

apresentamos um projeto aqui na Câmara de Vereadores, que em

parte é uma homenagem a Castro Alves, e em parte, também, um

compromisso desta Casa com a arte, com a cultura, com a

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literatura, sobretudo.

Nós apresentamos aqui nesta Casa uma proposta, um

projeto de resolução para criação de um selo editorial, intitulado

Selo Editorial Castro Alves da Câmara Municipal de Salvador. Seria

um selo editorial com a finalidade de publicar obras literárias dos

mais diversos estilos de autores baianos ou radicados aqui, e que

teríamos justamente essa idéia.

O projeto foi apresentado, nós vamos discutir com o

conjunto dos vereadores, com a Mesa da Câmara, para ver se a

própria Câmara assume esse projeto, que não seja um projeto de

um vereador, mas de toda a Câmara, e tenhamos mais uma

homenagem permanente ao nosso poeta maior Castro Alves.

Queria, portanto, lhe agradecer. Já deixei, aqui, uma

lembrancinha do poeta com o senhor, no final nós vamos distribuir

para todos os presentes aqui.

Muito obrigado e peço desculpas, mais uma vez, por ter que

me retirar em função de outro compromisso. Viva Castro Alves!

SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: -

Obrigado, vereador Augusto. É um projeto justamente importante

essa questão do selo.

Queremos registrar à presença do vereador Orlando

Palhinha aqui, uma salva de palmas; do vereador Alemão também,

que compareceu aqui a esta sessão.

Passamos agora para o vereador Sílvio Humberto, presidente

da Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Lazer.

SR. VEREADOR SÍLVIO HUMBERTO:

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-Boa tarde a todos, boa tarde Sr. presidente Odiosvaldo

Vigas, em sua pessoa vou saudar à Mesa.

Inicialmente, eu quero parabenizá-lo por esta Sessão

especial para alguém tão importante para esta cidade, para este

Estado, para este país.

E dizer que fiquei extremamente feliz, porque, para mim que

sou um professor, e diz que professor é aquele que sempre aprende,

aprendi muito nesta tarde. Aprendi quando eu vi estas crianças,

estes adolescentes aqui que deram uma aula, e ali ao lado o

presidente da Fundação Gregório de Matos, um profundo

conhecedor da arte de fazer arte, famoso aqui na nossa cidade. Não

é famoso, não é celebridade porque é não, mas é porque faz, porque

sabe o que faz. E ele diz, aquela menina está pronta. Ainda brinquei

com ele assim, tive a ousadia quando ela sinalizou assim, ainda é

diretora. Então isso é fantástico, porque o que nós observamos

quantos talentos têm na escola pública. Quantos! E por falta de

oportunidades, do que eu diria dessas condições normais de

temperatura, de pressão que, geralmente, são encontrados na rede

pública, estes talentos não florescem.

E aqui eu quero aproveitar para parabenizar a diretoria da

escola e os professores da Escola Castro Alves, porque é fácil

quando se tem as condições, os meios e as condições. E quando

não se tem as condições, você consegui produzir, você consegue

estimular esta juventude, mantê-las ali, porque isto é uma forma de

prevenir, isto é uma forma de acarinhar, de acolher e isto é o que

faz assim, enaltecer essa profissão que é ser professor. Isso, este

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retorno, é isso que você sabe, assim, eu vou lá dar aula, eu vou

contribuir com a vida desses jovens.

E aí eu acho, considero que enquanto presidente da

Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, nós vamos lutar

junto com os meus pares para que este dia não seja um dia mesmo

não, porque esta proposta da poesia possa mesmo de fato ali nos

currículos escolares, porque isto estimula porque eu sei o que é a

poesia, porque eu não sou um poeta, mas a minha entrada no

movimento social se deu também com poesia. No início dos anos

80, nós tínhamos um grupo, chamado Grupo Gênese, que nós

utilizávamos, fazíamos uso da poesia, para falar das questões

raciais, para fazer movimento negro. Foi assim que eu aprendi a

fazer movimento negro, também fazendo uso da poesia.

E aqui eu quero saudar ali o meu amigo Durval, que está

ali...

(Continuação...) SR. VEREADOR SÍLVIO HUMBERTO:

- ... o meu amigo Durval, que está ali, que participou dessa

caminhada, Durval Azevedo. E quando ouvi aqui, hoje, essa história

de Castro Alves, que você compara assim, me lembro de Jimmy Cliff

falando de Bob Marley, que morreu aos 36 anos, ele disse assim:

Que tem pessoas que passam na terra feito um cometa, numa

velocidade e rapidez de uma cometa, e o seu brilho intenso.

E assim, eu diria que foi Castro Alves, que passou com 24

anos, e nem sequer viu que em 1871 teve a Lei do Ventre Livre,

mas ele foi de um brilho intenso e que continua até os nossos dias,

pois quando mantemos essa luta contra a discriminação racial,

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contar o racismo, e dessa abolição inconclusa, é porque sempre

digo que o nosso problema não foi o dia 13 e sim o day after, o

chamado dia seguinte. E esse dia seguinte é o que faz manter o que

Castro Alves denunciava lá atrás, e ali passou naquele filme O

Amistad, aquelas agruras, o quanto foi danoso para a humanidade

o tráfico de escravos e Castro Alves viu, com Espumas Flutuantes,

ele conseguia descrever, que jamais esqueçamos o que foi aquilo,

esse crime contra a humanidade que pagamos até os nossos dias.

Então, eu diria Sr. presidente, gostaria de parabenizá-lo

mais uma vez por manter essa Sessão especial, por trazer essa

juventude, e por agora, termos através de nossa TV Câmara, poder

isso alcançar milhares de lares daqui, da cidade de Salvador e aí

essa é uma forma de manter essa data como o Dia da Poesia.

E para finalizar, como hoje, também, é o dia de nascimento

de nosso Abdias do Nascimento, esse grande senador, esse grande

iconoclasta, desse quebrador de regras, daquele que tinha uma

missão que eu diria, essa missão Oguniana, de abrir caminhos, e

foi isso o que ele fez; foi o livro que li pela primeira vez, o livro

Genocídio do Negro no Brasil, que li quando eu tinha 16 anos, o

livro que mudou a minha vida, tem o Sílvio Humberto antes e

depois daquele livro, porque ele disse verdades que estavam ali na

minha frente, e eu não conseguia enxergar. Então, homenagear a

memória de Abdias do Nascimento, aquele que teve que ser tudo

porque no Brasil não bastava ele ser somente professor, ele foi

artista, foi escultor e chegou até ser senador, secretário de justiça

teve que ser tudo, teve que ser um faz tudo para mostrar o quanto

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eram as dificuldades, que teve de ser diretor de teatro, ator, ele

inclusive, começou a sua vida, se não me engano, no Exército, e as

suas dificuldades.

Eu queria terminar, lendo aqui, uma passagem do autor do

livro chamado Cadernos Negros, que, de certa forma, espelha essa

continuidade da obra de Castro Alves, esses poetas negros aqui, da

nossa cidade, José Carlos Limeira, Landeia, Marcos Guilhon,, uma

série de outros, mulheres, Mel, que têm passado aqui, que têm

mantido vivo essa chama, vou terminar lendo um poema de

Cassabouvo, que é lá de Santos, e falando sobre Abdias. Ele diz:

"Dias de Abdias, ele foi, florescer em suas noites, no teatro da tarde,

para um público vazio em negritude, aspirou o ato uma falsa falta

de ar, contou os cantos para encenar a combinação dos negros em

conto, relatou o que a melódica palavra era a ditadura da poesia,

scripts de tempo e papel de negrura. Nascimento melhor que o

comprometer da alma, corpos armados, incestos perdoando o

modo da escrita crua".

Muito obrigado.

SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS:

- Muito obrigado vereador Sílvio Humberto.

Vereador Orlando Palhinha usar da palavra, cinco minutos

vereador.

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SR. VEREADOR ORLANDO PALHINHA:

- Boa tarde a todos e a todas. Primeiro quero agradecer a

Deus, por mais essa tarde maravilhosa, aqui, na Casa legislativa,

na Casa do povo. Quero saudar a Mesa na pessoa do presidente,

companheiro e vereador Odiosvaldo Vigas, vereador que tem

mantido essa chama acesa...

(Continuação...)

SENHOR VEREADOR ORLANDO PALHINHA: - Quero

saudar a Mesa na pessoa do presidente, companheiro e vereador

Odiosvaldo Vigas, vereador que tem mantido esta chama acesa, em

demonstrar para a sociedade, para os jovens, os adolescentes,

quem foi Castro Alves na história da humanidade.

Eu sou oriundo de Muritiba, conterrâneo de Castro Alves,

não é da minha época, evidentemente, mas acompanho, inclusive,

visitei a fazenda onde nasceu, a fazenda Cabaceiras, e tenho assim,

vereador, a satisfação de estar neste momento ao lado de V. Exa.,

com as demais autoridades aqui da Mesa, onde V. Exa. não deixa

que esta chama se apague.

A Câmara Municipal de Salvador desempenha o seu papel

demonstrando para a sociedade a importância do que foi Castro

Alves.

E falar aqui, nesta tribuna, depois do professor Sílvio, que

deu uma aula, tenho pouco a falar. Só para agradecer a

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oportunidade, vereador, e dizer que continue nesta luta. Nós

estamos ao seu lado, aprovamos aqui esta sessão especial porque

essa chama jamais poderá ser apagada.

Um poeta que viveu muito pouco de tempo de vida, veio a

falecer lá, em Muritiba, inclusive, tem próxima à Praça de São Pedro

a casa onde viveu Castro Alves. Sempre que vou em minha cidade

procuro ir lá na fazenda Cabaceiras, visitar o museu, visitar a casa.

E parabéns a V. Exa., parabéns as pessoas aqui, que se

fazem presentes, porque esta chama jamais poderá se apagar.

Deus abençoe, Deus seja louvado.

Obrigado pela oportunidade.

SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: -

Queremos registrar a presença da Escola Eloá Ramani, com a sua

gestora que está aqui, Evanildes Maria dos Santos. Uma salva de

palmas.

Registramos também a presença de João Bosco,

representando aqui a UBT, União Brasileira de Trovadores da

Bahia. O grupo também GAC, o Grupo de Ação Cultural da Bahia,

presente conosco, uma salva de palmas. O IEG, o Instituto de

Educação Gratuita também aqui presente conosco, nesta tarde de

hoje.

Bem, antes de concluirmos a nossa sessão que,

posteriormente, haverá no Centro Cultural o espaço para a

declamação, a performance de poetas, onde será também servido

um coquetel, queremos ver aqui, não durante muito tempo, o poeta

Edgar Velame, que quer fazer uma apresentação sua e,

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posteriormente, o poeta Cláudio Dória.

DECLAMAÇÃO DA POESIA ―NAVIO NEGREIRO‖

apresentação e adaptação Edgar Velame.

São os filhos do deserto

Onde a terra esposa a luz.

Onde voa em campo aberto

A tribo dos homens nus...

São os guerreiros ousados,

Que com os tigres mosqueados

Combatem na solidão...

Homens simples, fortes, bravos...

Hoje míseros escravos

Sem ar, sem luz, sem razão...

São mulheres desgraçadas

Como Agar o foi também,

Que sedentas, alquebradas,

De longe... bem longe vêm...

Trazendo com tíbios passos

Filhos e algemas nos braços,

N'alma lágrimas e fel.

Como Agar sofrendo tanto

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Que nem o leite do pranto

Têm que dar para Ismael...

Lá nas areias infindas,

Das palmeiras no país,

Nasceram crianças lindas,

Viveram moças gentis...

Passa um dia a caravana

Quando a virgem na cabana

Cisma das noites nos véus...

...Adeus! ó choça do monte!...

...Adeus! palmeiras da fonte!...

...Adeus! amores... adeus!...

Depois, o areal extenso...

Depois, o oceano em pó.

Depois no horizonte imenso

Desertos...desertos só...

E a fome, o mcansaço, a sede...

Ai! quanto infeliz que cede

SR EDGAR VELAME:( NAVIOS NEGREIROS(...)

E cai p'ra não mais s'erguer!...

Vaga um lugar na cadeia,

Mas o chacal sobre a areia

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Acha um corpo que roer.

Ontem a Serra Leoa,

A guerra, a caça ao leão,

O sono dormido à toa

Sob as tendas d'amplidão!

Hoje... o porão negro, fundo,

Infecto, apertado, imundo,

Tendo a peste por jaguar...

E o sono sempre cortado

Pelo arranco de um finado,

E o baque de um corpo ao mar...

Ontem plena liberdade,

A vontade por poder...

Hoje... cúm'lo de maldade,

Nem são livres p'ra morrer. .

Prende-os a mesma corrente

— Férrea, lúgubre serpente —

Nas roscas da escravidão.

E assim zombando da morte,

Dança a lúgubre coorte

Ao som do açoute... Irrisão!...

Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus,

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Se eu deliro... ou se é verdade

Tanto horror perante os céus?!...

Ó mar, por que não apagas

Co'a esponja de tuas vagas

Do teu manto este borrão?

Astros! noites! tempestades!

Rolai das imensidades!

Varrei os mares, tufão! ...

Quem são estes desgraçados

Que não encontram em vós

Mais que o rir calmo da turba

Que excita a fúria do algoz?

Quem são?... Se a estrela se cala,

Se a vaga à pressa resvala

Como um cúmplice fugaz,

Perante a noite confusa...

Dize-o tu, severa musa,

Musa libérrima, audaz!

São os filhos do deserto

Onde a terra esposa a luz.

Onde voa em campo aberto

A tribo dos homens nus...

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São os guerreiros ousados,

Que com os tigres mosqueados

Combatem na solidão...

Homens simples, fortes, bravos...

Hoje míseros escravos

Sem ar, sem luz, sem razão...

São mulheres desgraçadas

Como Agar o foi também,

Que sedentas, alquebradas,

De longe... bem longe vêm...

Trazendo com tíbios passos

Filhos e algemas nos braços,

N'alma lágrimas e fel.

Como Agar sofrendo tanto

Que nem o leite do pranto

Têm que dar para Ismael...

Lá nas areias infindas,

Das palmeiras no país,

Nasceram crianças lindas,

Viveram moças gentis...

Passa um dia a caravana

Quando a virgem na cabana

Cisma das noites nos véus...

...Adeus! ó choça do monte!...

...Adeus! palmeiras da fonte!...

...Adeus! amores... adeus!...

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Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus!

Se eu deliro... ou se é verdade

Tanto horror perante os céus...

Ó mar, por que não apagas

Co'a esponja de tuas vagas

De teu manto este borrão?

Astros! noite! tempestades!

Rolai das imensidades!

Varrei os mares, tufão!...

E existe um povo que a bandeira empresta

P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...

E deixa-a transformar-se nessa festa

Em manto impuro de bacante fria!...

Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,

Que impudente na gávea tripudia?!...

Silêncio!... Musa! chora, chora tanto

Que o pavilhão se lave no seu pranto...

Auriverde pendão de minha terra,

Que a brisa do Brasil beija e balança,

Estandarte que a luz do sol encerra,

E as promessas divinas da esperança...

Tu, que da liberdade após a guerra,

Foste hasteado dos heróis na lança,

Antes te houvessem roto na batalha,

Que servires a um povo de mortalha!...

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Fatalidade atroz que a mente esmaga!

Extingue nesta hora o brigue imundo

O trilho que Colombo abriu na vaga,

Como um íris no pélago profundo!...

...Mas é infâmia demais...

Da etérea plaga

Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...

Andrada! arranca este pendão dos ares!

Colombo! fecha a porta de teus mares!

Desculpe, se não foi à altura da bondade de cada um de

vocês! Obrigado!

De pé para ficar melhor.

Obrigado, Odiosvaldo, à altura da sua bondade.

Extensão a todos.

SR. VEREADOR PRESIDENTE ODIOSVALDO VIGAS: -

Convidamos agora o poeta Cláudio Dória, de Simões Filho.

Cláudio Dória, você tem o tempo de 5, 7 minutos.

SR. CLÁUDIO DÓRIA: - Obrigado. Boa tarde. Eu sou

convidado do Edgar Velame.

SR. VEREADOR PRESIDENTE ODIOSVALDO VIGAS: -

Cláudio Dória, seja breve por causa do tempo, porque nós ainda

vamos para o Centro Cultural. Se apresente, o tempo é curto e

temos horário.

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SR. CLÁUDIO DÓRIA – POETA: - Ok. Tudo bem.

Meu nome é Cláudio Dória, de Simões Filho, eu vou recitar

o poema:

"As Duas Flores".

São duas flores unidas

São duas rosas nascidas

Talvez do mesmo arrebol,

Vivendo,no mesmo galho,

Da mesma gota de orvalho,

Do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas

das duas asas pequenas

De um passarinho do céu...

Como um casal de rolinhas,

Como a tribo de andorinhas

Da tarde no frouxo véu.

Unidas, bem como os prantos,

Que em parelha descem tantos

Das profundezas do olhar...

Como o suspiro e o desgosto,

Como as covinhas do rosto,

Como as estrelas do mar.

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Unidas... Ai quem pudera

Numa eterna primavera

Viver, qual vive esta flor.

Juntar as rosas da vida

Na rama verde e florida,

Na verde rama do amor!

Obrigado.

SR. VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: - Obrigado,

igualmente. Analice, pega o microfone para o poeta, por

favor.

SR. JOSUÉ RAMIRO – POETA:

NORDESTE SEM COR

Tórrida terra

Alto sertão

Brasilidade

Nordestinos em foco

Verão assombroso

Noites

Açoites de dias calóricos

Onde é gerado morticínios e dor

Aqui tambem já se viu

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Extermínios de bichos pequenos e grandes

Até o rio secou

Alhures lobisomens

Raquíticos homens

Nordeste é dor

Esbanja o nosso saber

Aqui pulava Saci Pererê

Numa perna só

A mata está seca com a seca lá fora

Crenças Caipora

Havia até boi bumbá

E Zé Pereira toca em nosso carnavá

Mas...

Gotas de ácidas chuvas

Desaguam na rala vegetação

E no resto de vida que ainda restou

Nesse nosso esquecido sertão

Nesse Nordeste sem cor.

Viva a poesia!

Viva o Nordeste brasileiro que hoje sofre com mais de

50 anos de tanto horror, de tanta tristeza, tanta dor.

Nordestino, nós nos lembramos de você.

Viva a poesia!

SR. VEREADOR PRESIDENTE ODIOSVALDO VIGAS: - Para

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encerrar, nós vamos assistir agora um vídeo "Desde que o samba é

samba", "Uma lágrima escorrendo sobre uma pele escura", cantada

por Caetano Veloso.

APRESENTAÇÃO DE VÍDEO.

(Continuação...)

(Continuação...)

(Continuação...)

APRESENTAÇÃO DO VÍDEO DE CAETANO VELOSO -

DESDE QUE O SAMBA É SAMBA

SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS -

Bem companheiros, vocês viram aí esse texto Desde que o Samba é

Samba, a capoeira, o samba, a nossa identidade cultural deste país.

O samba, o lamento, principalmente do negro, quando o negro

cantava, cantava a sua história, cantava a sua tristeza e isso

mostra a identidade desse povo.

Quero agradecer a presença de todos os senhores e

convidamos para o encontro nosso no Centro Cultural, onde lá

teremos a apresentação da professora Graça Ramos, com seu grupo

de artistas que estarão presentes, a execução de um filme chamado

A Noiva, também de Castro Alves, e a declamação de alguns poetas

lá presentes.

Pode tocar a Abolição, de Margareth Menezes, mostrando a

praça dessa galera. Navio negreiro já era, nós vamos conquistar,

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vamos adiante, estamos avançando, vamos chegar lá.

Muito obrigado a todos vocês.