de campos plano piloto para poesia concreta

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  • 8/7/2019 De CAMPOS Plano Piloto Para Poesia Concreta

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    Plano piloto para poesia concreta

    poesia concreta: produto de uma evoluo crtica de formas. dando porencerrado o ciclo histrico do verso (unidade rtmico-formal), a poesia concretacomea por tomar conhecimento do espao grfico como agente estrutural. espaoqualificado: estrutura espaciotemporal, em vez de desenvolvimento meramente

    temporstico-linear. da a importncia da idia de ideograma, desde seu sentido geralde sintaxe espacial ou visual at o sentido especfico (fenollosa/pound) de mtodo decompor baseado na justaposio direta analgica, no lgico-discursiva deelementos. "il faut que notre intelligence shabitue comprendre synthtico-idographiquement au lieu de analytico-discursivement" (apollinaire). eisenstein:ideograma e montagem.

    precursores: mallarm (un coup de ds, 1897): o primeiro salto qualitativo:"subdivisions prismatiques de lide"; espao (blancs) e recursos tipogrficos comoelementos substantivos da composio.

    pound (cantos): mtodo ideogrmico. joyce (ulysses e finnegans wake):palavra-ideograma; interpenetrao orgnica de tempo e espao. cummings:atomizao de palavras, tipografia fisiognmica; valorizao expressionista doespao. apollinaire (calligrammes): como viso, mais do que como realizao.futurismo, dadasmo: contribuies para a vida do problema. no brasil: oswald deandrade (1890-1954): "em comprimidos, minutos de poesia". joo cabral de meloneto (nascido em 1920 o engenheiro e psicologia da composio mais antiode):linguagem direta, economia e arquitetura funcional do verso.

    poesia concreta: tenso de palavras-coisas no espao-tempo.estrutura dinmica: multiplicidade de movimentos concomitantes.tambm na msica por definio, uma arte do tempo intervm o espao (weberne seus seguidores. boulez e stockhausen; msica concreta e eletrnica); nas artesvisuais espaciais, por definio intervm o tempo (mondrian e a srie boogie-woogie; max bill; albers e a ambivalncia perceptiva; arte concreta em geral).

    ideograma: apelo comunicao no-verbal. o poema concreto comunica aprpria estrutura: estrutura-contedo. o poema concreto um objeto em e por simesmo, no um intrprete de objetos exteriores e/ou sensaes mais ou menossubjetivas. seu material: a palavra (som, forma visual, carga semntica). seu

    problema: um problema de funes-relaes desse material. fatores de proximidade esemelhana, psicologia da gestalt. ritmo: fora relacional. o poema concreto, usandoo sistema fontico (dgitos) e uma sintaxe analgica, cria uma rea lingsticaespecfica "verbivocovisual" que participa das vantagens da comunicao no-verbal sem abdicar das virtualidades da palavra. com o poema concreto ocorre ofenmeno da metacomunicao: coincidncia e simultaneidade da comunicaoverbal e no-verbal, com a nota de que se trata de uma comunicao de formas, deuma estrutura-contedo, no da usual comunicao de mensagens.

    a poesia concreta visa ao mnimo mltiplo comum da linguagem, da sua

    tendncia substantivao e verbificao: "a moeda concreta da fala" (sapir). dasuas afinidades com as chamadas "lnguas isolantes" (chins): "quanto menosgramtica exterior possui a lngua chinesa, tanto mais gramtica interior lhe inerente" (humboldt, via cassirer). o chins oferece um exemplo de sintaxe

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    puramente relacional, baseada exclusivamente na ordem das palavras (ver fenollosa,sapir e cassirer).

    ao conflito de fundo-forma em busca de identificao, chamamos deisomorfismo. paralelamente ao isomorfismo fundo-forma se desenvolve o isomorfismoespao-tempo, que gera o movimento. o isomorfismo, num primeiro momento dapragmtica potica concreta, tende fisiognomia, a um movimento imitativo do real

    (motion); predomina a forma orgnica e a fenomenologia da composio. numestgio mais avanado, o isomorfismo tende a resolver-se em puro movimentoestrutural (movement); nessa fase, predomina a forma geomtrica e a matemticada composio (racionalismo sensvel).

    renunciando disputa do "absoluto", a poesia concreta permanece no campomagntico do relativo perene. cronomicrometragem do acaso. controle. ciberntica. opoema como um mecanismo, regulando-se a si prprio: feedback.a comunicao mais rpida (implcito um problema de funcionalidade e de estrutura)confere ao poema um valor positivo e guia a prpria confeco.

    poesia concreta: uma responsabilidade integral perante a linguagem. realismototal. contra uma poesia de expresso, subjetiva e hedonstica. criar problemasexatos e resolv-los em termos de linguagem sensvel. uma arte geral da palavra. opoema-produto: objeto til.

    post-scriptum 1961: "sem forma revolucionria no h arte revolucionria"(maiakvski).

    DE CAMPOS, Augusto, PIGNATARI, Dcio e DE CAMPOS, Haroldo. plano piloto parapoesia concreta. In: . Publicadooriginalmente em Noigandres 4, So Paulo, edio dos autores, 1958.