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V SENAL | 2 | UESB/2018
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA
ANAIS DO V SENAL:
O desafio da proficiência em leitura e escrita no Brasil
SEMINÁRIO NACIONAL DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
VI SEMINÁRIO DO PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES
12 a 14 de novembro de 2018
Juliana Teixeira de Assunção– CRB-5/1890
Bibliotecária – UESB - Campus de Vitória da Conquista-BA
VITÓRIA DA CONQUISTA, BAHIA, BRASIL
S474
V SENAL, V Seminário Nacional de Alfabetização e Letramento e VI
Seminário do Programa de Formação de Professores.
Anais do V SENAL: o desafio da proficiência em leitura e escrita no
Brasil. / Organização Adriana Cardoso Lessa... [et al.]. 12, 13 e 14
Novembro 2018 em Vitória da Conquista, Ba. - Fonema e Grafema - Vitória
da Conquista, UESB, PARFOR, Fonema e Grafema, 2018. 358p.; 00cm.
ISBN: 978-85-94072-02-3
1. Letramento - Eventos. 2. Formação de professores. 3. Práticas
pedagógicas. I. Lessa, Adriana Cardoso. II. Universidade Promotora II.
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. III. T.
CDD: 372.4
V SENAL | 3 | UESB/2018
V SENAL
V SEMINÁRIO NACIONAL DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
VI SEMINÁRIO DO PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Universidade promotora
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
Universidades parceiras
Universidade Federal da Bahia
Universidade Federal do Ceará
Universidade Federal de Sergipe
Universidade do Estado da Bahia
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Universidade Federal de Santa Catarina
Apoio
Pró-reitoria de Extensão da UESB
PARFOR
Laboratório de Aquisição da Linguagem e Aspectos Linguísticos
Programas de pós-graduação:
Programas de Pós-Graduação da UESB
Programa de Pós-Graduação em Linguística
Programa de Pós-Graduação em Ensino
Programa de Pós-Graduação em Educação
Programa de Pós-Graduação em Letras
ProfLetras
V SENAL | 4 | UESB/2018
Comissão organizadora
Adriana Cardoso Lessa (UESB)
Ana Claudia Oliveira Azevedo (UESB)
Benedito Eugenio (UESB)
Claudionor Alves (UESB)
Cristiane Vieira Costa (UESB)
Denise Viana (UESB)
Elizama Silva Dias de Oliveira (UNEB)
José Ricardo Carvalho (UFS)
Lídia Santos Lopes Pinto (UESB)
Lucimauro Palles da Silva (UESB)
Marcolino Sampaio dos Santos (UNEB)
Maria Aparecida de Souza Guimarães (UNEB)
Maria de Fátima de Almeida Baia (UESB)
Ronei Guaresi (UESB)
Comitê científico
Adilson Ventura
Adriana Cardoso Lessa
Augusto Buchweistz
Benedito Eugenio
Cláudia Cardoso Martins
Claudionor Alves
Elizama Silva Dias de Oliveira
Eulália Leurquin
Felipe Pegado
Halysson Frankleynyelly Dias Santos
José Ricardo Carvalho
Marcelo Lacerda de Oliveira
Márcia Helena de Melo Pereira
Marcolino Sampaio dos Santos
Maria Aparecida de Souza Guimarães
Maria de Fátima de Almeida Baia
Maria Aparecida Gusmão
Maria Regina Maluf
Marian Oliveira Ronei Guaresi
Rosimeiry Prado Rodrigues
Silvia Regina Jardim
Sara Mourão Monteiro
Vera Pacheco
Zenaide Viana Soares Fortunato
V SENAL | 5 | UESB/2018
PROGRAMAÇÃO GERAL
12 DE NOVEMBRO 2018
Manhã
8h às 10h Credenciamento
10h às 10h30 Cerimônia de abertura
10h30 às 12h Conferência de abertura
Título: Alfabetização e letramento são solidários
Conferencista: Dra. Leonor Scliar-Cabral
Tarde
14h às 15h30 Conferência 1:
Título: O cérebro das crianças: as adaptações para a aprendizagem da leitura e
o funcionamento atípico na dislexia do desenvolvimento
Conferencista: Dr. Augusto Buchweitz (PUCRS)
15h30 às 16h Café
16h às 17h30 Simpósios Temáticos
13 DE NOVEMBRO 2018
Manhã
8h às 10h Mesa redonda:
Título: Gêneros orais e escritos e sequências didáticas no Ensino Fundamental
Debatedores: Dr. José Ricardo (UFS) e Dra. Eulália Leurquim (UFC)
10 às 10h30 Café
10h30 às 12h Minicursos
Tarde
14h às 15h30 Conferência 2:
Título: Por que tantas crianças vão à escola e não aprendem a ler?
Conferencista: Dra. Maria Regina Maluf (PUC-SP)
15h30 às 16h Café
16h às 17h30 Simpósios Temáticos
14 DE NOVEMBRO 2018
Manhã
8 às 10h Minicursos
10 às 10h30 Café com Livros
10h30 às 12h: Conferência 3:
Título: Caminhos possíveis para a qualificação do ensino da língua materna
Conferencista: Dr. Ronei Guaresi (UESB)
Tarde
13h30 às 14h: exposição de pôsteres
14h às 15h30 Mesa Redonda de especialistas
Título: Termos do Manifesto pela qualificação do ensino no sudoeste da Bahia
15h30 Encerramento
V SENAL | 6 | UESB/2018
Relação de Minicursos
Minicurso 1
Título: Questões de Fonética e Fonologia na alfabetização em contextos típico e atípico
Ministrantes: Marian dos Santos Oliveira e Vera Pacheco
Este minicurso abordará questões de fonética e fonologia presentes no processo de alfabetização
tanto em contexto típico quanto atípico, em especial de escolares com Síndrome de Down.
Minicurso 2
Título: O sistema de escrita para língua de sinais SEL: uma proposta para alfabetização de
surdos em sua língua natural
Ministrante: Adriana Stella Cardoso Lessa de Oliveira
O estatuto de língua natural das línguas de sinais: caráter linear e tridimensionalidade do
significante, o princípio da arbitrariedade e a iconicidade nas línguas de sinais,
gramaticalização/lexicalização. O fundamento para construção de um sistema de escrita
alfabética em Libras: a estrutura articulatória do sinal. Como funciona o sistema de escrita para
línguas de sinais SEL. Desafios ainda a superar: classificadores e ações construídas.
Minicurso 3
Título: O texto como ponto de partida/chegada para o ensino da língua
Ministrante: Claudionor Alves
O minicurso partirá da ideia da utilização do texto como objeto de ensino dos diversos níveis
da língua baseando-se nos pressupostos da Linguística Textual
Minicurso 4
Título: Metalinguagem e Alfabetização: o papel da consciência fonológica
Ministrante: Maria Regina Maluf e Denise Viana
Neste minicursos abordaremos a relação entre o desenvolvimento de habilidades
metalinguísticas e o processo de alfabetização, e como o conhecimento dessa relação,
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especialmente sobre a consciência fonológica, podem auxiliar as práticas pedagógicas no
ensino inicial da leitura e da escrita.
Minicurso 5
Título: A perspectiva da Complexidade aplicada aos estudos de desenvolvimento da linguagem
oral e escrita.
Ministrante: Maria de Fátima de Almeida Baia
Neste curso, falarei sobre o terceiro momento das Ciências Cognitivas, a Teoria de Sistemas
Adaptativos Complexos (THELEN; SMITH, 1994; KELSO, 1995; LARSEN-FREEMAN;
CAMERON, 2008, MORIN, 2011, 2015). Em específico, discutirei os conceitos fundamentais
da teoria, a saber, auto-organização, atratores, não linearidade, variabilidade e representação
não estática, aplicados ao desenvolvimento da linguagem oral e escrita.
Minicurso 6
Título: Representações de professores a respeito da leitura e da escrita na escola
Ministrante: Maria Vitória da Silva
Representações de professores a respeito da leitura e da escrita na escola. Diálogo entre a teoria
das representações, a literatura que discute a formação de professores, a leitura e a escrita. A
leitura e escrita como processos complexos, contínuos e plurais.
Minicurso 7
Título: Rastreio e diagnóstico de aspectos em caso de escolares nas séries iniciais com
dificuldades de aprendizado
Ministrante: Patrícia Freitas Martins
Competências do professor e do especialista no processo de rastreamento e diagnóstico de
patologias envolvidas no aprendizado inicial da leitura e da escrita. Esse minicurso buscará
responder questões importantes nessa etapa de ensino como: quando é caso de intervenção ou
simples processo de aprendizado? Quais ferramentas disponíveis para rastrear e intervir?
Ademais, enfatizaremos a importância do diagnóstico e da intervenção precoce.
Minicurso 8
Título: O desafio da leitura compreensiva no processo de apropriação de sistemas de escrita
Ministrante: Ronei Guaresi e Cristiane Vieira Costa
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Este minicurso abordará desafios que se impõem ao aprendiz no desenvolvimento das
competências de ler e escrever, em especial o desafio da compreensão leitora, especialmente
sua relação com fluência leitora (componentes velocidade e acurácia de conversão
grafofonêmica).
Minicurso 9
Título: O Letramento na Educação Infantil na perspectiva da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC)
Ministrante: Rosângela Alves de Oliveira Santos
Este minicurso vai abordar sobre as especialidades do letramento, os usos sociais da linguagem
e da comunicação, na perspectiva da BNCC.
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Simpósios Temáticos
PROGRAMAÇÃO GERAL ......................................................................................................................... 5
SIMPÓSIO TEMÁTICO 1: LETRAMENTO E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS ........................................ 12
A IMPORTÂNCIA DO DOCENTE NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO DOS
EDUCANDOS .................................................................................................................................................. 12
A IMPORTÂNCIA DO LETRAMENTO NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM .......................... 18
A IMPORTÂNCIA DOS SABERES LINGUÍSTICOS NA PRÁTICA DOCENTE DO PROFESSOR
ALFABETIZADOR ......................................................................................................................................... 24
A MÚSICA E SUA CONTRIBUIÇÃO NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA
LINGUAGEM DE CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN ...................................................................... 30
A PLATAFORMA EDMODO E SUAS POTENCIALIDADES DE LEITURA E ESCRITA NA ESCOLA ..... 36
MODELO NEUROCOGNITIVO DA DISLEXIA E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O DIAGNÓSTICO
REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA ............................................................................................... 41
O EMPREGO DO GÊNERO MÚSICA COMO PRÁTICA DE LETRAMENTO NAS AULAS DE ENSINO
FUNDAMENTAL ............................................................................................................................................ 47
O ESTÁGIO SUPERVISIONADO COMO CAMPO DE INVESTIGAÇÃO: REFLETINDO SOBRE PRÁTICAS
PEDAGÓGICAS .............................................................................................................................................. 52
RELACIONANDO AS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS DE GARDNER COM OS SETE SABERES DE
MORIN ............................................................................................................................................................ 57
UM ESTUDO SOCIOINTERACIONAL SOBRE O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA COMPREENSÃO
LEITORA EM UMA TURMA DO 8º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL .................................................. 63
SIMPÓSIO TEMÁTICO 2: SEMÂNTICA E LIVROS DIDÁTICOS ......................................................... 69
DIFUNDINDO PRECONCEITO: TRATAMENTO DA DIVERSIDADE LINGUÍSTICA NO LIVRO
DIDÁTICO ....................................................................................................................................................... 69
HUMOR, LIVRO DIDÁTICO E ALFABETIZAÇÃO: UMA ANÁLISE SEMÂNTICA .................................. 75
IMPLICAÇÕES SEMÂNTICAS DA PALAVRA LEREM LIVRO DIDÁTICO ............................................... 81
O USO DO GÊNERO PROPAGANDA NO LIVRO DIDÁTICO: UM RECURSO PEDAGÓGICO E
IDEOLÓGICO .................................................................................................................................................. 86
SENTIDOS DE LINGUAGEM NOS PCN DE LÍNGUA PORTUGUESA ....................................................... 91
USO DE CONJUNÇÕES E O(S) SENTIDO(S) NO TEXTO: MECANISMOS ESSENCIAIS À PRODUÇÃO DE
UMA ESCRITA CONSISTENTE..................................................................................................................... 95
SIMPÓSIO TEMÁTICO 3: AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM POR SURDOS EM MODALIDADE
FALADA E/OU ESCRITA ........................................................................................................................... 101
A MARCAÇÃO TEMPORAL NA APROPRIAÇÃO DA ESCRITA POR ALUNOS SURDOS NA EDUCAÇÃO
BÁSICA ......................................................................................................................................................... 101
AQUISIÇÃO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS COMO L1 ............................................................... 107
CLASSIFICADORES E AÇÕES CONSTRUÍDAS EM LIBRAS................................................................... 113
O COMPORTAMENTO DAS CATEGORIAS NOME E VERBO NA LIBRAS ............................................ 118
O SINAL EM LIBRAS, SEU CONCEITO E CONTRIBUIÇÕES PARA A ANÁLISE DE CONSCIÊNCIA
LINGUÍSTICA ............................................................................................................................................... 123
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TECNOLOGIA E LIBRAS: A PLATAFORMA SIGNUMWEB COMO FERRAMENTA NA AQUISIÇÃO DA
LÍNGUA DE SINAIS ..................................................................................................................................... 128
UM ESTUDO SOBRE A COMPREENSÃO DO SURDO EM RELAÇÃO ÀS METÁFORAS DA LÍNGUA
PORTUGUESA .............................................................................................................................................. 134
SIMPÓSIO TEMÁTICO 4: QUESTÕES DE FONÉTICA E FONOLOGIA NA ALFABETIZAÇÃO EM
CONTEXTOS TÍPICO E ATÍPICO .............................................................................................................. 140
MARCADORES PROSÓDICOS E LEITURA EM VOZ ALTA: ANÁLISE PRELIMINAR ......................... 140
O (DES)USO DE CONECTIVOS EM PRODUÇÕES ESCRITAS DE ADOLESCENTES COM SÍNDROME DE
DOWN ........................................................................................................................................................... 145
A ENTRADA NA ESCRITA DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: BRASILEIRO DESENVOLVENDO O SISTEMA
DE ESCRITA DO ARMÊNIO ........................................................................................................................ 150
JOGOS DIGITAIS E O ESTÍMULO DAS HABILIDADES DE CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA ................ 157
O PROCESSO DE ESCRITA DE ADOLESCENTES COM SÍNDROME DE DOWN: ARTICULAÇÃO E
CONTINUIDADE TEXTUAL ....................................................................................................................... 162
REEDUCAÇÃO FONOLÓGICA POR MEIO DE SOFTWARE EM ESCOLARES COM DEFASAGEM
ESCOLAR NOS ANOS INICIAIS DE EDUCAÇÃO FORMAL .................................................................... 167
TEMPO DE LEITURA E ACURÁCIA DE CONVERSÃO GRAFOFONÊMICA NA RELAÇÃO ENTRE
FLUÊNCIA E COMPREENSÃO LEITORA .................................................................................................. 174
SÍNDROME DE DOWN: A UTILIZAÇÃO DE PROCESSOS ALTERNATIVOS DE SIGNIFICAÇÃO EM
SITUAÇÕES COMUNICACIONAIS ............................................................................................................. 179
SIMPÓSIO TEMÁTICO 5: A PRODUÇÃO TEXTUAL DE CRIANÇAS: O TEXTO COMO PONTO DE
PARTIDA ...................................................................................................................................................... 185
AQUARELA DIGITAL: COM UM CLIQUE OU UM TOQUE NA TELA LEMOS E GRAFAMOS O MUNDO
....................................................................................................................................................................... 185
BREVE ANÁLISE DOS ERROS ORTOGRÁFICOS TEXTUAIS DE UMA CRIANÇA EM SEU PROCESSO
DE AQUISIÇÃO DA ESCRITA..................................................................................................................... 191
LETRAMENTO NO ENSINO FUNDAMENTAL II: DA LEITURA EXTRACLASSE À PRODUÇÃO
TEXTUAL ...................................................................................................................................................... 197
QUANDO A HIPO E A HIPERSEGMENTAÇÃO PERSISTEM EM TEXTOS DE ALUNOS DE ENSINO
MÉDIO: PROBLEMAS COM A ALFABETIZAÇÃO? .................................................................................. 203
SIMPÓSIO TEMÁTICO 6: LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL .......................................... 208
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: CONCEPÇÕES E DESAFIOS NO CONTEXTO DA SALA DE AULA
....................................................................................................................................................................... 208
AVALIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA SINTÁTICA E SUA POTENCIALIDADE PREDITORA DE
APRENDIZADO INICIAL DA LEITURA E DA ESCRITA .......................................................................... 214
CONDIÇÕES ESTRUTURAIS DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE BARRA DOCHOÇA NA PROMOÇÃO DO
LETRAMENTO DIGITAL ............................................................................................................................. 221
DIAGNÓSTICO DO NÍVEL DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM ESCRITA .............................................. 232
DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE EDUCATIVO PARA O PROCESSAMENTOAUDITIVO: UMA
FERRAMENTA PARA A ALFABETIZAÇÃO ............................................................................................. 237
SIMPÓSIO TEMÁTICO 7: ALFABETIZAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS ......................................... 242
LETRAMENTO CRÍTICO: ESTADO DO CONHECIMENTO DAS PUBLICAÇÕES NO PERÍODO 2008-2018
....................................................................................................................................................................... 242
V SENAL | 11 | UESB/2018
ALFABETIZAÇÃO, INTERAÇÃO E AS RELAÇÕES AFETIVAS NO ENSINO APRENDIZAGEM DA
LEITURA E DA ESCRITA ............................................................................................................................ 247
IMPLICAÇÕES SEMÂNTICAS DA PALAVRA LER EM LIVRO DIDÁTICO ............................................ 253
CONTRIBUIÇÕES DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO PARA A
FORMAÇÃO DAS CURSISTAS ................................................................................................................... 258
PROPOSTA DE INSTRUMENTO PARA RASTREIO DE DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM
ALUNOS DAS SÉRIES INICIAIS ................................................................................................................. 264
ANÁLISE DOCUMENTAL DE LIVRO DIDÁTICO ..................................................................................... 272
A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO ALFABETIZADOR EM CLASSE MULTISSERIADA EM ESCOLA DO/NO
CAMPO: DESAFIOS E PRESPECTIVAS ..................................................................................................... 278
PRÁTICAS DE LEITURA: UMA ANÁLISE APLICADA DA METODOLOGIA DOCENTE COM BASE NA
MATRIZ DEREFERÊNCIA DA LÍNGUA PORTUGUESA .......................................................................... 284
CAMINHOS INICIAS DA LÍNGUA ESCRITA POR FERREIRO E LURIA ................................................ 298
INFÂNCIA, EDUCAÇÃO, RACISMO E IMPLICAÇÕES DA LEI 11.645/08 .............................................. 304
A PROPOSTA CURRICULAR PARA A EJA NA BAHIA: O PROGRAMA TEMPO JUVENIL .................. 312
SIMPÓSIO TEMÁTICO 8: ALFABETIZAÇÃO E ESCOLARIZAÇÃO DE PESSOAS JOVENS E
ADULTAS ..................................................................................................................................................... 320
LETRAMENTO LITERÁRIO E ENSINO DA LÍNGUA MATERNA ........................................................... 320
MEDIDAS DE FLUÊNCIA LEITORA: INSTRUMENTOS DE MONITORAMENTO DO DESEMPENHO DE
LEITURA EM ADOLESCENTES ................................................................................................................. 320
MOBRAL: UM PROGRAMA DO REGIME MILITAR PARA A ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS ........ 328
O USO DE TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO: A INSERÇÃO NA PRÁTICA ESCOLAR E
APERFEIÇOAMENTO NO ENSINO. ........................................................................................................... 335
LITERATURA INFANTIL: IMPORTANTE INSTRUMENTO EDUCACIONAL NA FORMAÇÃO DE
LEITORES ..................................................................................................................................................... 341
O ESTUDO DA LITERATURA E A UTILIZAÇÃO DAS NOVAS TECNOLOGIAS EM SALA DE AULA DO
ENSINO MÉDIO ............................................................................................................................................ 347
MANIFESTO PELA QUALIFICAÇÃO DO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA NO SUDOESTE DA BAHIA
....................................................................................................................................................................... 353
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SIMPÓSIO TEMÁTICO 1: LETRAMENTO E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
COORDENAÇÃO: MARIA APARECIDA GUIMARÃES
E MARCOLINO SAMPAIO DOS SANTOS
A IMPORTÂNCIA DO DOCENTE NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E
LETRAMENTO DOS EDUCANDOS
Eliane Gomes Oliveira de Carvalho¹
Álex de Carvalho Ferreira²
Liliane Gomes de Carvalho Rocha³
Resumo: Este Texto apresenta uma revisão bibliográfica destacando a importância do papel do professor no
processo de alfabetização e letramento dos educandos, bem como o seu papel de mediador neste processo, para
ampliação e apropriação da leitura e escrita pelos alunos, colocando em ênfase a busca por realização de novas
propostas de alfabetização, que devem estar pautadas na interatividade e confiança entre professor e aluno, pois,
consideramos e entendemos tais elementos como sendo cruciais para promover uma aprendizagem significativa
para os educandos, reconhecendo o conhecimento prévio do aluno como ponto de partida para o conhecimento,
bem como o nível de maturidade de cada um, respeitando a singularidade de cada um.
Palavras-Chave: Alfabetização; Docente; Educando; Letramento.
Introdução
Tendo em vista a preocupação em que se encontra o cenário educacional nos dias atuais,
onde predomina a incessante busca por um ensino-aprendizagem que seja eficaz e significativo
no processo de alfabetização e letramento, assunto bastante polêmico, e que tem sido alvo de
inúmeras pesquisas, que enfatizam a importância do professor no processo de aprendizagem,
bem como a reflexão sobre o seu fazer pedagógico, como forma de modificar e inovar suas
práticas e métodos, buscando instruir os alunos de forma afetiva, para que atinja os objetivos
propostos para uma educação de qualidade, capaz de interferir positivamente para ampliação
de conhecimentos, e saberes dos educandos
Assim, torna-se importante realizar uma revisão bibliográfica abordando a importância
do professor nesse processo de alfabetização e letramento, pois, consideramos a temática de
suma importância para compreendermos como o professor pode influenciar e mediar de forma
positiva nesse processo, reconhecendo o aluno como protagonista do seu desenvolvimento
cognitivo.
Revisando conceitos - Alfabetização e Letramento
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A alfabetização e letramento são fatores propulsores para o exercício e desenvolvimento
do educando, devendo ser compreendidos em suas totalidades pelo professor, para o mesmo
repassá-los aos seus educandos, a fim de desenvolver a sua real compreensão. Com isso, nos
atentamos em apresentar esses dois distintos e indissociáveis processos, para melhor
compreensão de ambos os conceitos. É importante em primeiro momento esclarecer que a
alfabetizar e letrar, embora, sejam distintos, são também indissociáveis, pois um complementa
o outro. Sendo assim, de acordo com Soares citada por Morais e Albuquerque:
Alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas inseparáveis do contrário:
O ideal seria alfabetizar letrando, ou seja, ensinar a ler e escrever no contexto das
práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se tornasse ao mesmo
tempo alfabetizado e letrado (2007, p. 47).
Assim, a alfabetização é vista como o processo de apropriação da escrita e compreensão
do alfabeto. Nesse sentido:
A alfabetização - Processo de aquisição da “tecnologia da escrita”, isto é, do conjunto
de técnicas – procedimento habilidades de codificação de fonemas em grafemas e de
codificação de grafema em fonemas, isto é, o domínio do sistema de escrita (alfabeto
ortográfico) (MORAIS; ALBUQUERQUE, 2007, p. 15).
O conceito de Letramento ao qual nos referimos se baseia no texto de Soares, que diz
“[...] letramento é o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o Estado ou a
condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter se apropriado
da escrita” (1999, p. 18).
Partindo dos conceitos de ambos os processos, consideramos que alfabetizar e letrar tem
sido um constante desafio para os profissionais da educação, desafio esse, que exige uma
reflexão das práticas e métodos pedagógicos, ao introduzir a leitura e escrita na escola.
Refletindo a alfabetização e letramento na docência
Buscando analisar a importância do professor neste processo de alfabetização e
letramento, é que priorizamos destacar que os profissionais da educação devem se desprender
de velhos métodos, que acontece por repetição e memorização do sistema alfabético de leitura
e escrita. Não considerando o aluno como protagonista nesse processo de aprendizagem,
deixando dessa forma o professor no centro do processo, como detentor de todos os saberes
necessários. Resultando em um ensino totalmente tradicionalista.
V SENAL | 14 | UESB/2018
O processo de alfabetização e letramento deve ser visto em seu sentido mais amplo,
considerando o aluno como co-produtor do seu conhecimento, cabendo ao professor mediar
este processo de forma ética, não apenas como um mero transmissor de conteúdo, mais como
alguém que busca ampliar os seus conhecimentos, a fim de refletir sobre sua atuação em sala
de aula, propiciando um ensino que seja realmente significativo no desenvolvimento integral
do aluno. Fazendo com que os alunos se apropriem da leitura e da escrita, como resultado dessa
significante atuação. Reconhecendo o aluno como construtor do seu do seu próprio
conhecimento, sendo o professor um intermediário nesse processo, como nos relata Antunes:
Nunca é demais destacar que o aluno constrói seu próprio conhecimento, jamais
recebe pronto do professor, salvo em ações mecânicas onde esses conhecimentos
jamais ajudarão a construir outros; ser professor na verdade é ajudar nessa tarefa de
construção, intermédia a relação entre aluno e o saber (2003, p, 22).
As dificuldades encontradas pelos professores em ensinar de modo inovador e eficaz , e
a dificuldade de apropriação da leitura e escrita pelos alunos no processo de alfabetização, tem
perpassado anos, e a busca por solucionar esses problemas tem aumentado, através de pesquisas
de várias áreas da educação, que se preocupam com o real estado do processo de ensino–
aprendizagem da alfabetização atual, com o objetivo de trazer melhorias as práticas
pedagógicas, a fim de ampliar de forma reflexiva seus conceitos e métodos acerca de como se
dá o processo de apropriação do conhecimento pelos educandos, reconhecendo a alfabetização
como pilar importante na vida escolar de um aluno. Tendo em vista a compreensão e
reconhecimento das experiências e saberes prévios que os alunos já trazem consigo, quando
chegam a escola, observando sua interação social, bem como os fatores econômicos e
linguísticos, que embarcam a vida desse aluno, para que desse modo, o professor possa conduzir
e mediar de forma produtiva o processo de alfabetização para apropriação da leitura e escrita
dos educandos.
Nesse contexto, a escola também tem o dever de propiciar aos alunos esses hábitos de
leitura e escrita, e aos diferentes tipos de textos, levando em consideração as múltiplas formas
de leitura e escrita em seu cotidiano, que vai desde uma simples embalagem de biscoitos, a uma
revistinha em quadrinhos, possibilitando a compreensão e o exercício da leitura e escrita,
favorecendo um ambiente que promova a produção de textos, bem como a participação em
atividades sócias coletivas em volvendo a leitura e escrita. Como está proposta nas PCNs
(Parâmetros Curriculares Nacionais) em relação ao uso diversificado de textos: cabe, portanto,
a escola viabilizar o acesso do aluno ao universo dos textos que circulam socialmente, ensinar
V SENAL | 15 | UESB/2018
a produzi-los e a interpreta-los. “Isso inclui os textos das diferentes disciplinas com os quais o
aluno se consegue manejar, pois não há trabalho planejado com essa finalidade” (PCNS, 1997,
p.30).
Dessa forma, fica explícito a participação da escola nesse processo de alfabetização e
letramento, bem como no desenvolvimento intelectual e social dos alunos, em busca de novos
conhecimentos, pois o processo de alfabetização e letramento implica em refletir sobre as
práticas profissionais, de modo inovador e eficaz, ao ensinar a leitura e a escrita aos seus alunos.
Um fator importante nesse processo de alfabetização e letramento, é justamente
questionar e analisar a atuação e práticas adotadas pelo professor, pois é necessário que o
mesmo, considere e conheça o nível de maturidade de cada aluno, levando em conta a sua
singularidade, tendo em vista que a apropriação dos conteúdos e ensinamentos, que são
absorvidos e internalizados de modo diferente por cada aluno. Devendo o professor se atentar
em desenvolver um trabalho pedagógico totalmente lúdico e didático, bem como relacionar
teoria e prática de modo a refletir sobre a sua atuação, se apropriando de novos métodos e
estudos, que lhe possibilite ensinar e alfabetizar os seus alunos, para que eles aprendam de
forma prazerosa o ato de ler e escrever.
É relevante ressaltar, que a escrita é um objeto sociocultural do conhecimento, e que por
esse motivo deve-se levar em consideração, que a criança mantém o contato com linguagem
escrita, antes mesmo de começar a frequentar a escola. O que exige um maior esforço por parte
dos professores, em conhecer as aprendizagens e experiências prévias dos seus alunos, tendo-
as como ponto inicial desse processo de alfabetização. Assim, “[...] toda criança, ao se inserir
na cultura letrada, apropria-se do sistema de escrita, um objeto cultural, resultado de uma
construção social, em interação dialógica com pessoas” (OLIVEIRA, 2005, p. 27).
Cabe então o educador compreender a realidade, experiência e nível de conhecimento de
cada aluno. Por que na maioria das vezes passa despercebido ou até mesmo é tida como algo
insignificante, como se eles fossem uma tábua rasa, totalmente desprovidos de conhecimentos,
o que acaba comprometendo a sólida formação do educando.
Portanto, deve-se considerar toda a bagagem de vivencias e experiências do aluno, para
que o processo de alfabetização seja consolidado de forma eficiente, criando um laço afetivo
com seus alunos. Nessa perspectiva, “Os professores devem acreditar sinceramente nas
capacidades dos alunos, ganhando a confiança deles a partir do respeito mútuo. Tem que avaliar
o aluno a partir do que ele é, confiando nele e dando condições para que se aprenda a confiar
em si mesmo (ZABALA, 1998, p. 95). Por isso, deve-se levar em consideração o nível de
V SENAL | 16 | UESB/2018
maturidade do aluno, para que o mesmo possa evoluir gradativamente no processo de
consolidação efetiva da alfabetização.
Com base nesse levantamento, fica evidente que o papel do professor é de suma
importância para todo o processo de escolarização e ensino, e que vem sendo tratado neste
trabalho com maior ênfase no processo de alfabetização, fazendo com que os conhecimentos
por eles adquiridos, sejam passados aos alunos a fim de serem consolidados, compreendidos e
internalizados pelos seus educandos de forma eficaz. O que requer uma reflexão crítica da sua
prática pedagógica.
Portanto, é evidente que a profissão docente não se resume somente a métodos e técnicas,
mas, também é preciso entender o que ensina e como ensina, refletindo no seu fazer pedagógico,
e ampliando seus conhecimentos para contribuir na aprendizagem e desenvolvimento da
formação integral dos alunos.
Considerações finais
A partir das pontuações refletidas a cima, é notória a importância do professor no
processo de alfabetização e letramento de seus educandos. O que exige um esforço incessante
por inovações em sua atuação, aprimorando seus conhecimentos, de modo a impactar de forma
positiva no processo de ensino- aprendizagem, para mudar o real quadro que se encontra a
alfabetização atualmente. Fazendo com que seus alunos aprendam de fato, a ler e escrever de
forma afetiva e prazerosa. E para que isso ocorra, os profissionais da educação, precisam
refletir sobre sua prática e método, reconhecendo o aluno como protagonista neste processo,
reinventando sua proposta de alfabetização e letramento, que deve estar pautada na
interatividade entre professor e aluno, transmitindo confiança na potencialidade do aluno, para
que o mesmo desenvolva de forma autônoma seu próprio conhecimento, onde o professor é um
mediador que interage de forma significativa para a aprendizagem integral do aluno.
Referências
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2003.
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sistema municipal de Ensino de Vitória. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do
Espírito Santo, 2005.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. São Paulo: Autêntica, 1999.
ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensina. Porto Alegre: Artmed. 1998.
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A IMPORTÂNCIA DO LETRAMENTO NO PROCESSO DE ENSINO
APRENDIZAGEM
Marcolino Sampaio dos Santos1
Jaciara de Oliveira Sant´Anna2
Maria Aparecida de Souza Guimarães3
Resumo: Este trabalho tem por objetivo refletir sobre a importância do letramento no processo de ensino
aprendizagem. Partimos do pressuposto de que para o sujeito exercer sua cidadania e ter mais oportunidades de
agir no mundo de forma autônoma e crítica é indispensável que ele saiba a funcionalidade da linguagem em suas
representações oral e escrita. A metodologia utilizada neste trabalho será a pesquisa bibliográfica, pois a mesma
oferece meios que auxiliam na definição e resolução dos problemas já conhecidos, como também permite explorar
novas áreas onde os mesmos ainda não se cristalizaram suficientemente. O aporte teórico será fundamentado em
Paulo Freire e Magda Soares, entre outros autores que debatem a temática. Espera-se que esta pesquisa possa
contribuir para maiores discussões a respeito do letramento no processo de ensino aprendizagem.
Palavras–Chave: Aprendizagem; Ensino; Letramento.
Abstract: This work has for objective to contemplate on the importance of the in the literacy process of teaching
learning. We broke of the presupposition that for the subject to exercise his/her citizenship and to have more
opportunities to act in the world in an autonomous and critical way is indispensable that he knows the functionality
of the language in their representations oral and writing. The methodology used in this work will be the
bibliographical research, because the same offers means that aid in the definition and resolution of the problems
already known, as well as it allows to explore new areas where the same ones still didn't crystallize sufficiently.
The theoretical contribution will be based in Paulo Freire and Magda Soares, among other authors that debate
the theme. It is waited that this research can contribute for larger discussions regarding the literacy in the process
of teaching learning.
Keywords: Learning; Teaching; Literacy
Introdução
O processo de ensino aprendizagem não acontece de forma isolada, são vários os fatores
que interferem direta ou indiretamente nesse processo. Acreditamos que a aprendizagem
significativa não é aquela em que o educando se aproprie de vários conceitos teóricos e fórmula,
1Mestre em Teologia e Educação pela UFRGS/EST , professor de Prática Pedagógica do curso de Letras da
Universidade do Estado da Bahia, professor do curso de Pedagogia da Faculdade Maurício de Nassau, membro do
grupo de pesquisa em Linguagens e Educação: Alfabetização, Leitura, Linguística e Literatura/Uneb.
[email protected] 2Mestranda em Docência Universitária pela Universidade Tecnológica Nacional de Buenos Aires, Argentina,
professora de Estágio e Prática Pedagógica do curso de Letras pela Universidade do Estado da Bahia, membro do
grupo de pesquisa em Linguagens e Educação: Alfabetização, Leitura, Linguística e Literatura/Uneb.
[email protected] 3Mestra em Linguística pela Universidade do Estado da Bahia (UESB), professora de Linguística da Universidade
do Estado da Bahia (UNEB), membro do grupos de pesquisa JANUS/UESB e LEALL – Linguagens e Educação:
Alfabetização, Leitura, Linguística e Literatura/UNEB e Coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em
Alfabetização, Leitura e Literatura/UNEB. [email protected]
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mas para que a aprendizagem seja útil na vida do educando faz-se necessário que ele siba fazer
uso dos conceitos em sua vida social como cidadão.
Partindo deste pressuposto, este artigo pretende discutir a importância do letramento no
processo de ensino aprendizagem, buscando esclarecer o conceito de letramento em seus
diversos contextos. Diante dessa temática, propõe-se a seguinte indagação: Qual a importância
do letramento no processo de ensino aprendizagem?
Tendo como anseio compreender a importância do letramento no contexto escolar e
visando uma necessidade de analisar como se dá o processo, seus conceitos, importâncias e
história, fazendo assim, uma associação entre teoria e prática educacional de como se
alfabetizar/letrando.
Conceituando Letramento
No Brasil, o termo letramento faz parte há pouco tempo do discurso de especialistas das
áreas de educação e da linguística. Foi na segunda metade do século passado, mais
especificamente em 1986, que o termo letramento surgia no cenário educacional brasileiro.
Um dos avanços consideráveis, atualmente, é talvez o uso da denominação letramento,
(que muitos teóricos postulam ser sinônimo de alfabetização) em suas diferentes concepções.
Segundo Soares (1998), letramento é uma palavra recém-chegada ao vocabulário da Educação
e das Ciências Linguísticas. Consultando o Dicionário Houaiss (2001) que contempla a
denominação letramento, são atribuídos três significados ao termo:
1.Representação da linguagem falada por meio de sinais; escrita. 2. Alfabetização
(‘processo’). 3. (década de 1980) conjunto de práticas que denotam a capacidade de
uso de diferentes tipos de materiais escritos (Dicionário Houaiss, 2001, p.1474).
Por indicar uma vasta gama de práticas sociais no âmbito da cultura escrita, o conceito
letramento vem sendo acompanhado por adjetivos que buscam delimitar cada uma de suas
dimensões, sendo possível encontrar estudos sobre letramento matemático, literário, musical,
científico, etc. Soares (1998) afirma que, a denominação letramento é uma versão, em
português, da palavra inglesa “literacy”. Palavra essa que quer dizer pessoa educada,
especialmente capaz de ler e escrever.
Assim, na concepção acima delineada, entendemos que a referida autora parte do
pressuposto de que existe um “elo”, uma “conexão”, entre alfabetização e letramento. Vamos
mais adiante ainda: a autora concebe a alfabetização (aquisição do código da leitura e da escrita
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pelo sujeito) como pré-requisito para o letramento (apropriação e uso social da leitura e da
escrita pelo sujeito). Subjacente a essa concepção de letramento está a ideia de que a escrita
pode trazer consequências de ordem social, cultural, políticas, econômicas e linguísticas, “quer
para o grupo social em que seja introduzida, quer para o indivíduo que aprende a usá-la”
(SOARES, 1998, p.17).
Partindo do princípio de que afirmar que um sujeito, para ser considerado letrado ou
estar em processo inicial de letramento, segundo Soares, precisa ser no mínimo alfabetizado,
ou seja, ter adquirido a tecnologia da leitura e da escrita, equivale a afirmar, também, que
pessoas que não adquiriram a tecnologia da leitura e da escrita, portanto pessoas “analfabetas”,
pois não “sabem” codificar/decodificar letras e palavras, são consideradas iletradas. Essa
questão é muito polêmica, uma vez que existem teóricos que afirmam que, em uma sociedade
moderna, marcada pelo avanço científico e tecnológico, onde a escrita está presente em todo o
contexto social do indivíduo, é impossível afirmar que existem pessoas iletradas.
Assim, Soares (2009) conclui que seria impossível uma definição precisa para
letramento, pois, do ponto de vista sociológico, mesmo dentro de uma única sociedade, há
contextos sociais heterogêneos bem como demandas funcionais que diferem entre si, como:
sexo, idade, residência rural ou urbana e etnia, bem como outros fatores que determinam a
natureza do comportamento letrado. E quando se pensa em ampliar esta definição para
contextos globais os parâmetros se distanciam ainda mais. Nesse sentido, a Declaração de
Persépolis (apud Soares, 2009) considera o letramento como:
... não apenas o processo de aprendizagem de habilidades de leitura, escrita e cálculo,
mas uma contribuição para a liberação do homem e para o seu pleno desenvolvimento.
Assim concebido, o letramento cria condições para a aquisição de uma consciência
crítica das contradições da sociedade em que os homens vivem e dos seus objetivos;
ele também estimula a iniciativa e a participação do homem na criação de projetos
capazes de atuar sobre o mundo, de transformá-lo e de definir os objetivos de um
autêntico desenvolvimento humano (UNESCO, citado em Bhola 1979, p. 38 apud
SOARES, 2009, p. 77).
Assim, o letramento tem sido usado para designar o processo de desenvolvimento de
habilidades de leitura e de escrita nas diversas práticas sociais do ser humano, por isso o termo
letramento tem causado diversas discussões, pois, para alguns estudiosos, ele é equivalente ou
mais amplo que a alfabetização.
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A importância do Letramento
No processo de alfabetização não basta ensinar a simples decodificação das letras, mas
é preciso “levar os educandos– crianças e adultos – a fazer uso da escrita, envolver-se em
práticas sociais de leitura e de escrita” (SOARES 2001, p. 58). Nesse sentido, cabe aos
professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental, ou seja, para aqueles que ensinam as
primeiras letras aos alunos, alfabetizar letrando, visto que o trabalho voltado para o letramento
não deve ser feito separado do trabalho específico de alfabetização.
Diante disso, faz-se necessário compreender que o que é escrito é para ser lido por nós
mesmos e pelos outros, agora e algum tempo depois. Portanto, a escrita tem uma função social,
uma vez que, ela transmite uma mensagem, faz o registro de um acontecimento social que
pretende eternizar. Mas, para que a escrita desempenhe este papel social é preciso escrever de
maneira ordenada, isto é, obedecer ao padrão estabelecido, por isso há um alfabeto padronizado,
que é um sistema de signos. Ao apropriar-se do uso da escrita, esta apropriação por parte do
sujeito traz consequências no âmbito social, cultura, político, econômico e cognitivo, tanto para
o indivíduo quanto para a comunidade na qual está inserido. Desta forma, pode-se afirmar que
o letramento traz melhores condições de vida para o sujeito e para a sua comunidade, uma vez
que ao saber fazer uso social da escrita e da leitura, a pessoa é capaz, por exemplo, de ler um
contrato e saber se aquele negócio é viável ou não. Cabe destacar que, para que o letramento
ocorra, conforme salienta Soares (2001), é necessário que haja escolarização real e efetiva da
população e que também se tenha disponibilidade de material de leitura. Dessa forma, a autora
esclarece que:
[...] o que ocorre nos países do Terceiro mundo é que se alfabetizam crianças e adultos,
mas não lhes são dadas as condições para ler e escrever: não há material impresso
posto à disposição, não há livrarias, o preço dos livros e até dos jornais e revistas é
inacessível (SOARES, 2001, p.58).
Repensar as práticas pedagógicas, torna-se condição para o desenvolvimento do
trabalho educativo. O contato da criança com a cultura na escola deveria ser organizado
intencionalmente pelo professor como espaço de aprendizagem e convivência entre adultos e
crianças. Torna-se de fundamental a importância criar necessidades na criança: curiosidade,
interesse, uma vez que é o papel da escola criar o desejo para o novo, para o desconhecido, para
o conhecimento.
É possível perceber que, letramento e alfabetização são fenômenos distintos, embora
devam acontecer concomitantemente no processo de formação humana do sujeito.
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Concordando com isso, (FREIRE,1989, p. 58-59) afirma que “[...] ato de estudar, enquanto ato
curioso do sujeito diante do mundo é expressão da forma de estar sendo dos seres humanos,
como seres sociais, históricos, seres fazedores, transformadores, que não apenas sabem mas
sabem que sabem”.Podemos perceber que só uma formação de indivíduos autônomos e críticos
proporcionam ações reflexivas e conscientes sobre informações adquiridas e produzidas.
Soares (2001, p. 31 e 39) elabora definições bem claras de, alfabetização e letramento:
Alfabetizar é “ensinar a ler e a escrever, é tornar o indivíduo capaz de ler e escrever”.
Alfabetização é “a ação de alfabetizar”.
Letramento é ‘o estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo
como conseqüência de ter-se apropriado da escrita e de suas práticas sociais’.
Sendo assim, o professor tem um primordial papel no sentido de transformar esta pessoa
alfabetizada, em uma pessoa letrada e isso se dá através de incentivos variados, no que diz
respeito à leitura de diversas tipologias textuais e também se utilizando de exercícios de
interpretação e compreensão de diferentes tipos de textos, em que vários tipos de ferramentas
podem ser utilizados. Podem ser usados materiais mais convencionais como livros, revistas,
jornais, entre outros e materiais mais modernos como Internet, blogs, e-mails, etc. Também
existem muitos jogos, materiais lúdicos e brincadeiras que incorporam a leitura e tornam o
aprendizado mais natural e um pouco mais instintivo - principalmente por parte das crianças.
Portanto, mais importante que decodificar símbolos (letras e palavras), é preciso
compreender a funcionalidade da linguagem em suas representações oral e escrita, pois é assim
que o sujeito exerce sua cidadania e tem mais oportunidades de agir no mundo de forma
autônomo e crítica. Conhecer as letras é apenas um caminho para o letramento, que é o uso
social da leitura e da escrita.
O letramento é cultural, por isso muitas crianças já vão para a escola com o
conhecimento alcançado de maneira informal absorvido no cotidiano. Ao conhecer a
impotância do letramento, deixamos de exercitar o aprendizado automático e repetitivo,
baseado na descontextualização. Os pais exercem uma grande influência neste processo, pois é
através deles que as crianças se sentem motivadas a explorar este mundo letrado.
Na escola a criança deve interagir firmemente com o caráter social da escrita, ler e
escrever textos significvativos. A alfabetização se ocupa da aquisição da escrita pelo indivíduo
ou grupos de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos sócio- históricos da aquisição de um
sistema escrito por uma sociedade. Neste momento o professor entra com um papael muito
importante que é os de motivador e facilitador oferecendo ao aluno recursos significativos que
permitem que ele aprenda de forma natural e prazerosa.
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Letramento é informar-se através da leitura, é buscar noticias e lazer nos jornais, é
interagir selecionando o que desperta interesse. Letramento é ler histórias com o livro nas mãos,
é emocianar-se com as histórias lidas, e fazer, dos personagens, os melhores amigos.
Letramento é descobrir a si mesmo pela leitura e pela escrita, é entender quem a gente é, e
descobrir quem podemos ser.
Considerações
“Alfabetizar letrando” é um desafio permanente, que requer reflexão sobre as práticas
pedagógicas dos professores, não só dos anos iniciais do Ensino Fundamental, mas em todos
os níveis escolares, considerando que somos seres em constante processo de aprendizagem e,
portanto, passíveis ao letramento nas diversas áreas do conhecimento.
Dessa maneira percebe se que o processo de ensino aprendizagem só se concretiza
eficazmente se for permeado pelo letramento. Somente um indivíduo letrado poderá ser inserido
na sociedade como cidadão crítico e reflexivo.
Referências bibliográficas
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo:
Autores Associados, 1989.
HOUAISS, Antônio. Dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
SOARES, Magda Becker, (1998). Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte:
Autêntica, 1998.
__________.Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte, Autêntica, 2001.
______. Letramento: um tema em três gêneros. 3 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
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A IMPORTÂNCIA DOS SABERES LINGUÍSTICOS NA PRÁTICA DOCENTE DO
PROFESSOR ALFABETIZADOR
Jaina de Sousa Ribeiro4
Resumo: Este artigo pretende mostrar, a partir de um referencial bibliográfico sólido, que o alfabetizador é um
profissional do ensino de línguas, para além de saber os métodos e as técnicas de pedagógicas, deve ter uma base
linguística adequada para garantir que as crianças aprendam a ler e a escrever no tempo adequado. Precisa adquirir
saberes que dizem respeito à aquisição da linguagem verbal escrita, variação linguística, da ortografia e da estrutura
e do funcionamento da língua que pretende ensinar.
Palavras chaves: Alfabetização; formação docente; letramento; saberes linguísticos.
Abstract: This article intends to show, using solid bibliographical references, that the reading and writing tutor
is a professional language teacher. Besides knowing teaching methods and techniques, he or she should have an
adequate linguistic base in order to guarantee that children learn to read and write at the right time. He or she
needs to acquire knowledge related to the acquisition of verbal and written language, linguistic variations,
orthography and the structure and functioning of the language he intends to teach.
Keywords: Basic literacy; Literacy; Linguistic knowledge; Teacher formation.
Introdução
O presente artigo objetiva investigar a relevância dos saberes linguísticos necessários à
formação e atuação competente do professor alfabetizador. O interesse pela temática nasceu a
partir da observação e coordenação de turmas de 1º ano do Ensino Fundamental na Rede
Privada e pública, etapa que tem como foco o processo de letramento e alfabetização.
O texto está organizado de forma a discutir o significado da alfabetização e letramento
na atualidade; a refletir sobre os saberes necessários à formação do professor alfabetizador e a
identificar, nas teorias linguísticas, os conhecimentos importantes para formação e atuação
competente desse profissional.
Fundamentação teórica
a. Alfabetização e letramento na atualidade
Nas últimas três décadas ocorreram mudanças de paradigmas teóricos no campo da
alfabetização. Assim como aconteceu nos Estados Unidos, também no Brasil entre os anos de
1980 e 1990 ocorreu o domínio hegemônico do paradigma cognitivista (construtivismo,
4Pós-graduada em Psicopedagogia – UNOESC; e em Metodologia da Língua Portuguesa e Literatura - FAEL;
Graduada em Licenciatura Plena da Língua Portuguesa – UESPI; Segunda Licenciatura em Pedagogia -
UNINTER. Coordenadora da Educação Infantil da Rede Privada, Santo Antônio de Jesus-BA.
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posteriormente, sócio construtivismo). Todavia, nesse caminho aconteceram equívocos, nos
quais houve momentos em que se privilegiou só a alfabetização e posteriormente só o
letramento.
De acordo com Magda Soares (2003), o que se percebe nas escolas foi uma dissociação
dos processos de alfabetização e letramento. A autora defende esses dois processos são
interdependentes e inseparáveis, portanto é necessário integrá-los sem perder a especificidade
de cada um. O termo letramento carrega a ideia de participação em experiências variadas de
leitura e escrita, conhecimento e interação com diferentes tipos e gêneros de material escrito.
Já a alfabetização, de que também são muitas as facetas, depende da consciência fonológica e
fonêmica, identificação das relações fonema-grafema, habilidades codificação e decodificação
da língua escrita, conhecimento e reconhecimento dos processos de tradução da forma sonora
da fala para a forma gráfica da escrita. É necessário conhecer as muitas facetas de um e de
outro, e, consequentemente, a necessidade de métodos e procedimentos para ensino de um e de
outro.
b. Saberes necessários a formação do professor
A partir da década de 1990, com o surgimento do movimento pela profissionalização do
ensino e da profissionalização docente, emerge no Brasil o campo de pesquisa dos saberes
docentes. As pesquisas nesta área pretendem confirmar a identidade do profissional docente e
formar educadores mais coerentes com as finalidades da educação do país.
De acordo com Tardif, Lessard e Lahaye (1991, p.218) apud Cunha (2007, p. 34), “os
professores comumente utilizam: os saberes das disciplinas, os saberes curriculares, os saberes
da formação profissional e os saberes da experiência.” Deste modo, tais saberes constituem o
que é necessário saber para ensinar. Conforme preconizam os teóricos citados, todos os saberes
são importantes para a ação pedagógica do professor, todavia, em se tratando do professor
alfabetizador, destacamos neste trabalho o saber linguístico (grifo nosso).
Cagliare (2009) afirma que a linguística não é método de ensino. A missão do linguista
é garantir o conteúdo e as técnicas de investigação, mas cabe ao professor e os demais
colaboradores do processo escolar dosar o ensino, programá-lo na sequência mais adequada e
buscar as melhores estratégias motivacionais para que o aluno queira estudar a matéria. Neste
sentido, o professor é o principal agente da aprendizagem de seus alunos, pois é ele quem decide
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o que deve ser ensinado, quais os materiais a serem usados, a organização do trabalho e da
atividade, a forma de avaliação, dentre outros.
c. Conhecimentos linguísticos para o alfabetizador
A Linguística é o estudo cientificoda linguagem humana em seus aspectos fonético,
morfológico, sintático, semântico, pragmático, social e psicológico. Portanto, pensar nessa área
do conhecimento, é automaticamente pensar em linguagem e língua. Cagliare (2009) defende
que não é função do professor ser um linguista, deve apenas ter conhecimentos teóricos e
práticos dessa área. A formação linguística do alfabetizador deve incluir conhecimentos
linguísticos, mas devido à amplitude, segue apenas uma síntese dos considerados mais
relevantes à formação do professor alfabetizador:
Saberes sobre Linguagem e língua: De acordo com o Manual de Linguística (2016,
p.16), a linguagem é entendida como uma habilidade, ou seja, como a capacidade que apenas
os humanos possuem de se comunicar por meio de línguas. Enquanto que o termo “língua” é
comumente definido como um sistema de signos vocais. Uma vez que o objetivo do
alfabetizador é transportar a criança do domínio oral para o domínio do código escrito, deve-se
esperar deste profissional um profundo conhecimento dos mecanismos de funcionamento da
linguagem infantil e de seu desenvolvimento.
Saberes da Estrutura e Funcionamento da língua: A língua é uma realidade
estrutural infinita. Por isso, Cagliari afirma:
O número de sons da fala de que se serve a língua é finito (em torno de três dezenas).
O número de suas palavras (ainda que imenso) é finito (calcula-se que uma língua como
o português tem algo em torno de meio milhão de palavras). O número de regras com
as quais organizamos os enunciados é também finito (embora não tenhamos ainda ideia
clara de sua quantidade). (CAGLIARI, 2009, p.15).
No entanto, quando se trata de enunciados possíveis numa língua qualquer, passa a ser
algo infinito, é uma organização tal que permite ao usuário fazer uso infinito dos meios finitos.
Pode-se imaginar que sendo finitos os meios estruturais, bastaria que eles fossem descritos para
que cada falante pudesse alcançar uma apresentação científica completa da língua. Todavia, a
língua vai além da estrutura, e, para analisá-la corretamente, é necessário considerar também
seu funcionamento social. Outro elemento a ser considerado é o aspecto plural, isto é, são
muitas as variedades que se multiplicam a partir de uma mesma língua.
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Saberes da Sociolinguística: Um bom conhecimento de variação linguística será útil
para lidar com a ideia de certo e errado, uma vez que só existe “erro” na língua em relação a
sua estrutura. Conforme Faraco e Tezza (2003), variação linguística são as diversas formas em
que os falantes de uma língua se manifestam.
Saberes sobre a Escrita alfabética ortográfica do português brasileiro: Em primeiro
lugar, o professor precisa entender que existem várias línguas que usam sistemas diferentes de
escrita. De acordo com Massini-Cagliari (1999, p.30), para representar foneticamente as
palavras de uma língua, é preciso registrar todos os detalhes de pronúncia. Em segundo lugar,
em se tratando de alfabetização no Brasil, o professor precisa entender que a ortografia surgiu
como forma de neutralização da variação linguística. Desta forma, escrever ortograficamente
significa escolher uma única forma para as palavras de uma língua, independentemente de
quantas pronúncias diferentes possam estar ligadas a elas. A escolha de qual seja a forma
ortográfica de cada palavra é, em geral, arbitrária. Ás vezes, nem sequer corresponde a uma das
possíveis pronúncias da palavra na língua.
Infelizmente, a maioria das graduações em pedagogia ainda privilegia uma formação
pautada no como ensinar, ou seja, nas metodologias e esquecem que para além do COMO está
O QUE ensinar. É sabido que os docentes, em sua maioria, são oriundos de uma educação
básica que não lhes garantiu uma apropriação e reflexão da sua língua materna de forma
adequada; que ao contrário, privilegiou o ensino da gramática normativa, acentuando o erro e
o acerto. O professor com uma base linguística fraca terá dificuldade de conduzir os processos
de alfabetização e tenderá a ser escravo dos livros didáticos.
Metodologia
Este corpus utilizou-se da pesquisa “descritiva-qualitativa” e para a confecção desse
trabalho foram revisitadas obras de referência e realizou-se uma extensa pesquisa bibliográfica
em revistas, periódicos acadêmicos e livros voltados para a formação docente e sobre a
linguística, visando buscar argumentos e contra-argumentos sobre a importância da formação
linguística na prática docente do professor alfabetizador.
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Considerações finais
O objetivo deste trabalho foi analisar a relevância dos saberes linguísticos necessários à
formação e prática docente do professor alfabetizador a partir da revisão bibliográfica dos
principais teóricos que discorrem sobre a temática. A partir de Poersch (1990), Tardif e Gauthier
(1996), Soares (2003), Cagliari (1999; 2009) e Faraco (2012), e tantos outros, foi possível
compreender que na bagagem do professor alfabetizador são necessários muitos saberes
didáticos e pedagógicos, porém, sem o saber linguístico aqueles são insuficientes. Somente um
professor devidamente consciente das interferências do meio social e das variedades dialetais,
do funcionamento da estrutura da língua, conhecedor profundo dos aspectos contrastantes do
sistema ortográfico, reúne condições satisfatórias para diagnosticar os problemas que o aluno
manifesta e para descobrir as exatas causas, assim como para planejar um adequado trabalho
de intervenção e superação.
Por entender os limites de uma pesquisa meramente bibliográfica, embora em fontes
confiáveis, a proposta desse trabalho, em vias futuras, é de desdobramento numa pesquisa-ação
para, desta forma, unir teoria e prática, e assim verificar, com mais precisão, se o professor bem
fundamentado linguisticamente obterá mais sucesso na sua prática educativa.
Referências
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V SENAL | 30 | UESB/2018
A MÚSICA E SUA CONTRIBUIÇÃO NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO E
DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM DE CRIANÇAS COM SÍNDROME DE
DOWN
Jhenifer Vieira da Silva5
Laise Araújo Gonçalves6
Carla Salati Almeida Ghirello-Pires7
Resumo: O Presente trabalho apresenta os resultados parciais de uma pesquisa intitulada, “A música e sua
contribuição no processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem de crianças com Síndrome de Down”- SD
realizado no Laboratório de Pesquisa e Estudos em Neurolinguística - Lapen na Uesb, cujo objetivo é o de trabalhar
o desenvolvimento da linguagem, por meio de atividades da percepção auditiva, diferentes timbres e o movimento,
em situações lúdicas de vivência musical.
Palavras chave: Linguagem; Música; Síndrome de Down.
La música y sucontribuciónenelproceso de adquisición y desarrollodellenguaje de niñoscon Síndrome de Down
Resumen: El presente trabajo presenta los resultados parciales de una investigación titulada, "La música y
sucontribuciónenelproceso de adquisición y desarrollodellenguaje de niñoscon Síndrome de Down" - SD
realizado enelLaboratorio de Investigación y EstudiosenNeurolinguística - LapenenlaUesb , cuyo objetivo es el
de trabajareldesarrollodellenguaje, por medio de actividades de lapercepción auditiva, diferentes timbres y
elmovimiento, ensituaciones lúdicas de vivencia musical.
Palabras clave: Lenguaje; la música; Sindrome de Down.
Introdução
O objetivo deste trabalho é o de analisar a contribuição da música no processo de
aquisição e desenvolvimento da linguagem de crianças com Síndrome de Down (SD) por meio
de atividades lúdicas realizadas em situação de vivência musical.
5Graduanda em Pedagogia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Pesquisadora de Iniciação
Científica (UESB), do Laboratório de Pesquisa e Estudos em Neurolinguística (LAPEN), na Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia, campus de Vitória da Conquista. E-mail: [email protected]. 6Mestranda em Linguística (FAPESB), vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGLin), pela
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Graduada em Letras Vernáculas pela Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia (UESB), campus de Vitória da Conquista. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa e estudo em
Neurolinguística (GPEN). E-mail: [email protected]. 7Professora Doutora em Linguística, no Departamento de Estudos Linguísticos e Literários (DELL/UESB),
campus de Vitória da Conquista, CEP: 45083-900. Professora efetiva do Programa de Pós-graduação em
Linguistica (PPGLin/UESB). Membro titular do Grupo de Pesquisa e de Estudo em Neurolinguistica (GPEN)
cadastrado no CNPq com atuação na área de pesquisa em Síndrome de Down e Linguagem. E-mail:
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Pesquisadores como Schwartzman (1999) e Cunningham (2008) consideram que a área
da linguagem é a mais comprometida em crianças com SD. Elas apresentam dificuldades na
internalização e no funcionamento da linguagem, bem como distorções articulatórias em sua
produção oral. Segundo Schwartzman (1999) crianças com SD emitem as primeiras palavras,
em média, aos 18 meses e por volta dos 30 meses começam a junta-las para formar frases. Após
a fase das duas palavras, demonstram dificuldades crescentes para a aquisição das regras
gramaticais e da construção das sentenças. Assim, podem compreender bem mais do que emitir.
Para Voivodic (2004), a criança com SD possui um aprendizado em ritmo mais lento,
tendo dificuldades para se concentrar, dificuldade na percepção, coordenação motora e atraso
na fala. A autora considera que para que o desenvolvimento dessas crianças aconteça de uma
forma mais eficiente é necessário levar em consideração algumas características como o tempo
de aprendizado e especificidades de cada criança. Além disso, é preciso considerar que em
relação a aquisição e desenvolvimento da linguagem, crianças com SD apresentam dificuldades
na organização das frases (sintaxe), e na fonologia (na produção articulatória e na seleção de
fonema). Para que o trabalho na área da linguagem possa se desenvolver com efetividade é
preciso que tenhamos total atenção da criança, pois ela vai necessitar visualizar e internalizar
todos os movimentos produzidos pelo adulto na emissão das palavras. Nesse sentido a
utilização da música pode se tornar um forte aliado ao trabalho de estimulação, pois segundo
Moreschi e Ghirello-Pires (2016) a música capta a atenção das crianças e as induz ao
movimento em função dos intervalos melódicos.
Considerando que a música é algo que faz parte de nosso cotidiano e que ela mobiliza
tanto crianças quanto jovens, levando-os ao movimento, direcionamos este estudo para o
trabalho com crianças com deficiência intelectual com o objetivo estimular a produção de
linguagem. As atividades foram pensadas tendo como foco do trabalho a percepção e
discriminação auditiva, o ritmo e o movimento de forma global. A percepção e discriminação
auditiva são elementos básicos para o desenvolvimento e produção da linguagem, bem como
ritmo e o movimento. A criança com SD será sempre singular, pois embora apresentem algumas
semelhantes em função da trissomia 21, elas sempre terão características físicas, cognitivas e
de linguagem diferenciadas. Cada criança habita em um ambiente diferente das demais e cada
família tem sua própria história. Assim, as inferências físicas, cognitivas e emocionais que a
síndrome determina influenciarão de forma diferente para cada criança no aspecto da
linguagem. (Schwartzman, 1999)
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Considerarmos a partir dos estudos mencionados já nesta pesquisa que crianças com SD
apresentam dificuldades de linguagem, entretanto nos fundamentamos na teoria histórico
cultural pautada em Vygotski (1997), considerando que todas as crianças podem aprender se
lhes forem dadas as condições necessárias. O autor soviético considera também que crianças
com deficiência intelectual seguirão as mesmas etapas, mas por caminhos diferentes. Desta
forma nosso trabalho busca, com a música, encontrar novos caminhos para atingirmos nossos
objetivos.
Metodologia
Sujeitos: Os sujeitos da pesquisa são crianças com SD, divididas em dois grupos por faixa
etária, o primeiro grupo de 4 a 6 anos e o segundo grupo de 7 a 10 anos.
Compõe o primeiro grupo três crianças. VA, LZ e AL. VA é de gênero feminino e tem quatro
anos. LZ é de gênero masculino e tem seis anos de idade. AL é de gênero masculino e tem cinco
anos. O segundo grupo é composto por três crianças. AR, ST, e LV. AR é de gênero feminino,
tem nove anos de idade. ST é de gênero feminino, tem dez anos. LV é de gênero masculino,
tem seis anos. Para a realização das atividades participam do grupo a pesquisadora, a
coordenadora do grupo, e duas alunas da pós-graduação.
Local: As sessões foram realizadas no Laboratório de Pesquisa e Estudos em Neurolinguistica
– Lapen na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, onde são realizados atendimentos em
grupo e individuais de crianças com SD.
Materiais: Fazemos uso de figuras, fichas, histórias sonorizadas, músicas do repertório
folclórico e instrumentos musicais como teclado, flauta doce, chocalhos e outros brinquedos
musicais.
Procedimentos: Para a realização desta pesquisa, dividimos os atendimentos em dois grupos.
Os encontros são realizados duas vezes na semana, segunda e quarta-feira. com duração de uma
hora cada sessão. Ao total foram realizados dezesseis encontros. A sala onde acontece os
encontros possui uma mesa, um espelho, e diversos brinquedos. Seguimos uma ordem fixa para
o desenvolvimento das atividades, qual seja: as crianças chegam e sentem todas em roda em
cima de um tatame. Primeiro trabalhamos a percepção auditiva, para sons ambientais, para
sons de animais e para melodias. Para os sons de animais utilizamos cartões com as figuras dos
seguintes animais: cachorro, cavalo, vaca, ovelha, porco, pato, galinha e galo. Os sons dos
animais são reproduzidos em um gravador e após termos mostrado para as crianças quais sons
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correspondem a que animais realizamos a atividade na qual os animais estão dispostos no
tatame à frente das crianças e elas terão que encontrar o animal que corresponde ao som
produzido.
Logo em seguida usamos o mesmo procedimento com diferentes sons ambientais que
são: barulho da chuva, zunido de abelha, barulha de moto, som de apito e som de sino. Depois
da atividade de discriminação auditiva, trabalhamos com músicas folclóricas conhecidas pelas
crianças, como: “O sapo não lava o pé”; “Se eu fosse um peixinho”, “A dona aranha”, “A
galinha pintadinha”, “Meu pintinho amarelinho” e “Lá vem o caracol”. Selecionamos as figuras
de um sapo para a Música “O sapo não lava o pé”, a figura de um peixe para a música “Se eu
fosse um peixinho”, uma aranha para a música “A dona aranha”; a figura de um pintinho para
a música “Meu pintinho amarelinho” e a figura de um caracol para a música “Lá vem o caracol”.
Depois de termos feito a correlação entre qual a figura correspondente a cada melodia, tocamos
as músicas no teclado e na flauta doce, e as crianças devem fazer a correspondência solicitada.
A finalidade desta atividade é a de que as crianças desenvolvam a atenção dirigida e em seguida
apurem a percepção auditiva fazendo a correlação.
Dando continuidade, fazemos uma atividade de improvisação, com a música “Faço
assim”. Nesta atividade em um determinado trecho da música cada criança, uma de cada vez,
fará a improvisação de um gesto em seu corpo, o qual, na sequência, será seguido por todas as
outras crianças em frente ao espelho.
Em seguida é realizada a ginástica das notas, umas escala musical que tem em cada nota
musical uma parte do corpo correspondente seguindo uma ordem ascendente dos pés até a
cabeça, ou seja, Dó: nos pés, Ré: na canela, Mi: nos joelhos, Fá: na cintura, Sol: na altura dos
ombros com os braços esticados para frente, Lá: mãos acima do ombro, Si: na orelha, Dó:
braços esticados acima da cabeça. Esse exercício é muito importante, pois além de trabalhar a
percepção auditiva em uma escala musical ascendente e descendente, trabalha-se a coordenação
motora, o reconhecimento das partes do corpo e a afinação.
È valido ressaltar que as atividades se repetem nos dois grupos. As atividades são
realizadas visando estimular a produção de linguagem dessas crianças por meio de situações
direcionadas para o desenvolvimento a percepção auditiva, o ritmo e o movimento de forma
global.
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Resultados
Em relação às crianças do primeiro grupo, na primeira e segunda sessão nenhuma
criança conseguiu fazer a correlação do som ouvido com as figuras correspondentes dos animais
demonstrando não discriminar os sons produzidos pelos animais, sons ambientais, e pelas
músicas tocadas na flauta doce e no teclado. A partir da terceira sessão apenas uma criança
(MV), conseguiu identificar dois sons (cachorro, e gato). As outras duas crianças LZ e AL ainda
não conseguiam identificar. Em relação aos sons das músicas tocados na flauta e no teclado as
três crianças apresentaram dificuldades na identificação. Na ultima sessão, MV e AL
conseguiram identicar todos os sons produzidos pelos animais e três músicas (sapo, pintinho e
dona aranha) das cinco músicas apresentadas, não identificando a música da galinha pintadinha
e do caracol. LV não conseguiu identificar nenhum som e nenhuma música apresentada.
No segundo grupo, apenas uma criança AR conseguiu reconhecer alguns sons, como o
do gato e do cachorro na primeira sessão. As outras duas crianças não conseguiam identificar
os sons. Percebemos que a cada sessão realizada as crianças conseguiam avançar discriminando
os sons das músicas e dos animais produzidos. Na última sessão todas as
Crianças do primeiro grupo conseguiram discriminar os sons produzidos pelo cachorro,
cavalo, vaca, sapo e pato, galinha. Em relação aos sons emitidos pela flauta e pelo teclado,
apenas três crianças conseguiram todos os sons emitidos. Na atividade de improvisação da
música faço assim, no início apenas AR conseguia realizar todos os movimentos produzidos,
mas a partir do quarto encontro as crianças já conseguiam realizar e imitar todos os gestos
solicitados. Os gestos e movimentos são realizados em frente ao espelho, facilitando assim a
visualização.
Conclusão
Podemos concluir que as crianças com SD se apropriaram e conseguiram responder com
efetividade às atividades solicitadas, melhorando a cada sessão, mostrando que incorporaram
os aspectos musicais que ajudam na produção da linguagem, melhorando e ampliando a
percepção auditiva, pois conseguiram internalizar e reconhecer os sons produzidos pelos
animais e pelas músicas apresentadas na flauta doce e no teclado, também conseguiram criar
situações de improvisação através da música “faço assim”. Segundo Vygotski (2008), a
mediação é essencial, pois o que a criança consegue fazer em cooperação, com auxilio hoje,
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será capaz de fazer sozinha amanhã. È valido salientar, que a pesquisa está em andamento, estes
são resultados iniciais, e que para a próxima etapa da pesquisa visamos introduzir elementos da
escrita correspondentes as letras das músicas utilizadas.
Referências
GHIRELLO-PIRES, C.S.A., MORESCHI, S. Especificidades no acompanhamento inicial de
linguagem em crianças com síndrome de Down. In; Síndrome de Down: perspectivas atuais.
Edições Uesb. Vitoria da Conquista. 2016.
CUNNINGHAN, C. Síndrome de Down: uma introdução para pais e educadores. Porto
Alegre. Artmed, 2008
SCHWARTZMAN, S. (org.). Síndrome de Down. São Paulo: Memnon/Mackenzie, 1999.
VYGOTSKI, L.S. Pensamento e Linguagem. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
VYGOTSKI, L.S. Fundamentos de defectologia. Havana: Editorial Pueblo. Obras Completas
TomoV. 1997
VOIVODIC, M.A. Inclusão Escolar de Crianças com Síndrome de Down. Vozes, 4.ed.
Petrópolis, 2004.
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A PLATAFORMA EDMODO E SUAS POTENCIALIDADES DE LEITURA E
ESCRITA NA ESCOLA
Margarete Trevizani8
Caíque Azevedo9
Daniele Santos Rocha10
Resumo: É sabido que a evolução dos meios de comunicação bem como suas ferramentas se mostram um caminho
sem volta tanto para a geração atual, quanto para as gerações futuras, por isso ao lidar com a educação neste século,
é cobrado ao professor que também busque a modernização em suas técnicas de ensino e aprendizagem. Diante
desta relevância, o presente artigo apresenta algumas indagações sobre tecnologias no âmbito educacional, para
isso alguns conceitos imbricados dentro dessa temática tornam-se cruciais nessa discussão. A partir da inquietação,
como o ambiente virtual Edmodo pode potencializar a leitura e a escrita na escola? Foi desenvolvido este trabalho
fundamentado nos seguintes teóricos: i) Lemos (2003) ii) Fernandes (2016) e iii) Ramal (2000). No discorrer
também deste artigo encontram-se outros conceitos ligados à temática apresentada como cibercultura e
ciberespaço, tendo por foco a apresentação da plataforma digital Edmodo. Entendemos que esse novo contexto
tecnológico se tornou fundamental porque atende uma nova demanda de ensino aprendizagem, que é pautada pela
necessidade da utilização dessas tecnologias em sala de aula acompanhando o novo cenário da mídia digital no
Brasil.
Palavras- Chave:Cibercultura. Ciberespaço. Edmodo.
La plataforma Edmodo y sus potencialidades de lectura y escritura em laescuela
Resumen: Es sabido que laevolución de losmedios de comunicaciónasí como sus herramientas se
muestranuncaminosin retorno tanto para lageneraciónactual, como para lasgeneraciones futuras, por eso al
lidiarconlaeducaciónen este siglo, es cobrado al profesor que también busque lamodernizaciónen sus técnicas de
enseñanza y aprendizaje. Ante estarelevancia, el presente artículo presenta algunasindagaciones sobre
tecnologíasenelámbito educativo, para esoalgunos conceptos imbricados dentro de esa temática se
vuelvencrucialesenesadiscusión. A partir de lainquietud, cómoel entorno virtual Edmodopuede potenciar
lalectura y la escritura enlaescuela? Se desarrolló este trabajo fundamentado enlossiguientes teóricos: i) Lemos
(2003) ii) Fernandes (2016) y iii) Ramal (2000). Enel discurso también de este artículo se encuentranotros
conceptos ligados ala temática presentada como cibercultura y ciberespacio, teniendo como foco lapresentación
de la plataforma digital Edmodo. Entendemos que esenuevo contexto tecnológico se havuelto fundamental porque
atiende una nueva demanda de enseñanza y aprendizaje, que está pautada por lanecesidad de lautilización de
esastecnologíasenel aula acompañandoelnuevoescenario de losmediosdigitalesen Brasil.
Palabras clave: Cibercultura. Ciberespacio. Edmodo.
Introdução
Com o advento da internet, o mundo passou por grandes mudanças e avanços
principalmente no que diz respeito ao uso das tecnologias e o surgimento de novos dispositivos
de comunicação (mídias digitais) que modificaram a forma de leitura, aplicabilidade e registro
de todos os tipos de informações e dados existentes. Para tanto é indispensável que se utilize
8Discente do Curso de Letras Vernáculas; UNEB; Eunápolis, Bahia, Brasil; [email protected] 9Discente do Curso de Letras Vernáculas; UNEB; Eunápolis, Bahia, Brasil;[email protected] 10Discente do Curso de Letras Vernáculas;UNEB; Eunápolis, Bahia, Brasil; [email protected]
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também dessas atribuições na educação uma vez que em uma sociedade agora conectada torna-
se necessário que se busque novas formas de ensino e aprendizagem.
Traremos discussões e conceitos de: cibercultura e hipertexto, bem como as múltiplas
possibilidades de utilização dos ciberespaços na educação, como nova forma de comunicação
entre professores e estudantes. Também apresentaremos neste artigo a ferramenta do
ciberespaço que se encontra na plataforma edmodo como dispositivo de leitura e escrita na
escola.
A pesquisa aqui desenvolvida foi de caráter exploratório de revisão bibliográfica. Foram
fundamentados nos seguintes textos: Ramal (2000) Ler e Escrever na Cultura Digital, que
inicia contando um pouco da história e evolução da escrita e sua importância para todos os
povos, traz também conceitos e aplicabilidade das mídias digitais nos campos educacionais.
Lemos (2003) com o texto Olhares sobre a Cibercultura, explicitando os conceitos de
cibercultura, ciberespaço e a forma de demostrar a influência das tecnologias digitais na
educação. Nessa perspectiva de ensino/aprendizagem online nos baseamos na dissertação de
Fernandes (2016), Design didático na web: Autoria colaborativa do professor no contexto da
EJA (Educação de Jovens e Adultos), que apresenta uma plataforma de ensino/aprendizagem
online, que visa facilitar a interação professor/aluno no ciberespaço como forma de melhoria
educacional na era digital.
Nesse sentido, baseado nas contribuições dos autores acima citados, apresentaremos a
plataforma Edmodo como dispositivo online, que estreita a relação docente/discente.
A autora Ramal (2000) traz um pouco da história e importância da escrita para todos os
povos, além do conceito de cibercultura, hipertexto e uma reflexão diacrônica sobre a inserção,
o papel da escola e sua adaptação mediante as rápidas mudanças trazidas pela era digital.
Até então, todo registro era feito apenas na memória e transmitido através da oralidade.
Temos o surgimento da escrita, o que para essa nova perspectiva, afirmou os espaços para a
sequência de fatos, ou seja, o que antes era pulverizado, com a escrita tornou-se linear.
Da oralidade para a escrita, chegamos à cultura digital, com várias particularidades em
evidência, sendo uma delas o hipertexto. O hipertexto [...] “permite aos membros ampliar seu
conhecimento e exteriorizar subjetividades, navegando de um ponto a outro e elaborando
definições, associações semânticas, relacionando conceitos, construindo novas conexões”.
Fernandes (2016).
Fato que torna o hipertexto subversivo em muitas vertentes seja através da perda da
linearidade adquirida no surgimento da escrita, seja nas mudanças de suporte e
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consequentemente na relação autor e leitor; seja na forma, possibilitando o surgimento de uma
nova modalidade de texto, aquele que tem as palavras substituídas por imagens e sons.
Contendo dessa maneira uma nova linguagem que traz o mesmo sentido de um texto escrito.
Mas, o que muda nos processos educacionais com essa nova cultura digital? Ramal
(2000) compreende ser necessário que o educador reveja novos conceitos, novos autores e que
estes tenham uma visão atualizada e um conhecimento com os novos dispositivos tecnológicos.
Todo esse avanço tecnológico propiciou ao homem novas formas de relações sociais e
interpessoais de maior interatividade. A humanidade experimenta agora uma velocidade
comunicativa jamais imaginada.
Dessa relação entre as tecnologias de comunicação de massa e as tecnologias digitais
surge a cibercultura. Mas, o que é cibercultura? Segundo Lemos (2003), [...] podemos
compreender a cibercultura como a forma sociocultural que emerge da relação simbiótica entre
a sociedade, a cultura e as novas tecnologias de base microeletrônica que surge com a
convergência das telecomunicações com a informática na década de 70 (s/p).
As tecnologias digitais estão diretamente ligadas ao convívio social contemporâneo, as
pessoas estão cada vez mais conectadas. Os computadores que antes eram usados apenas no
processamento e armazenamento de dados, agora estão interligados por redes online. A
cibercultura passa a fazer parte do convívio social com a emergência do ciberespaço.
O homem sempre teve a necessidade de transmitir informações, desde os desenhos nas
cavernas até o surgimento da escrita, a preocupação de registrar os acontecimentos da história
esteve presente no pensamento humano. Agora com as tecnologias digitais, essas informações
são transmitidas em tempo real alterando as percepções de espaço e tempo.
Nesse sentido, tornou-se necessário a criação de um modelo de educação a distância que
é pensado a partir dessa mídia online, que permite configurar um novo modelo de ensino.
Com o intuito de atender a essa demanda a plataforma edmodofoi criada em 2008 na Califórnia
nos Estados Unidos por Nicolas Borg e Jeff O’Hara e surge como um processo de
ensino/aprendizagem em qualquer contexto, e que poderá ser utilizado dentro da sala de aula
ou em momentos diversos. Segundo Fernandes (2016), a edmodo é uma rede social [...] de
comunicação entre professores e alunos com possibilidades de acompanhamento de familiares,
pode ser incorporada nas salas de aula através de uma variedade de aplicações, incluindo leitura,
atribuições e material estudado (p.100).
Além disso, a plataforma permite um novo conceito de interação que é comum nesse
novo espaço tecnológico digital, o ciberespaço. Através da plataforma os conhecimentos são
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produzidos de forma coletiva por alunos e professores que são os confeccionadores dessa nova
mídia, permitindo o que o autor chama de “autoria” e “coautoria”.
É uma ferramenta de simples acesso e está disponível de forma gratuita na sua página,
(edmodo.com) sendo possível ser utilizado nos computadores pessoais, tablets e smartphones,
podendo ser acessado em diferentes espaços geográficos. Com características de um Ambiente
Virtual de Aprendizagem (AVA), oportuniza desde a organização de cursos até discussões de
uma disciplina.
Contudo, existe uma resistência por parte dos professores e escolas em romper com o
processo tradicional de ensino, não percebendo a importância da interatividade que a ferramenta
proporciona. Fernandes (2016), entende que “levar em consideração esse aspecto, permitiria
aos sujeitos construir um novo sentido à vida e aos saberes” (p. 108).
Considerações Finais
Ao analisar o processo de mudança que ocorreu desde a oralidade passando pela escrita
e finalmente chegando ao contexto moderno da cultura digital. Percebemos, que esse processo
de transformação que advém das novas tecnologias digitais merece destaque, pois esse novo
contexto tornou-se fundamental porque atende uma nova demanda de ensino aprendizagem,
que é pautada pela necessidade da utilização dessas tecnologias em sala de aula acompanhando
o novo cenário da mídia digital no Brasil.
Entendemos que essa transformação se tornou indispensável com o surgimento de um
novo espaço de comunicação da contemporaneidade. A cibercultura é um fenômeno configurado
da relação entre sociedade, cultura e as novas tecnologias digitais.
Desse modo, recomendamos o uso da plataforma digital edmodo disponível em
https://www.edmodo.com/?language=pt-br, que funciona como Rede Social e (AVA) Ambiente Virtual
de Aprendizagem sendo fundamental diante das novas relações de interação que se configuram na
modernidade. Potencializando-se como um novo conceito na produção de
ensino/aprendizagem.
Referências
FERNANDES, Gilberto Pereira. Design didático na web: Autoria colaborativa do professor
em contexto da EJA. 2016. Fls 196. Dissertação 374. Mestrado Profissional em Educação de
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Jovens e Adultos - MPEJA. – Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação.
Campus I. 2016.
LEMOS, André. Paulo (orgs). Olhares sobre a Cibercultura. Sulina, Porto Alegre, 2003; p. 11-
23.
RAMAL, Andrea Cecilia. Ler e Escrever na Cultura Digital. Pátio. Revista Pedagógica.
Artmed. Porto Alegre: v. IV, N. 14, pp. 21-24, 2000.
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MODELO NEUROCOGNITIVO DA DISLEXIA E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O
DIAGNÓSTICO REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA
Heloísa dos Santos Peres Cardoso11
Patrícia Martins de Freitas12
Resumo: Com o objetivo de verificar a contribuição do modelo da dupla rota nos estudos de diagnóstico da
dislexia, o estudo apresenta uma revisão sistemática da literatura, alicerçada na análise de 52 trabalhos recuperados
a partir das bases de dados Medline, Scieloe Google Acadêmico (2013-2018).Todos os estudos que utilizaram o
modelo de dupla rota, mostraram evidências empíricas do uso desse modelo, demonstrando como déficits nos
componentes do processamento fonológico e lexical explicam a presença da dislexia. As pesquisas analisadas
demonstraram a consistência do modelo para investigação e diagnóstico da dislexia, em diferentes idades, desde
crianças muito novas até adultos. No entanto, como existe uma urgência em solucionar dificuldades de
aprendizagem nos primeiros anos de escolarização, houve um número maior de pesquisas envolvendo
crianças.Observou-se um número maior de pesquisas empíricas internacionais, que utilizaram o modelo
neuropsicológico. No contexto brasileiro, essas pesquisas são raras, por sua vez, existe um grande número de
revisões de literatura nacional envolvendo essa temática. Recomenda-se que, futuras pesquisas empíricas no
contexto brasileiro busquem investigar o diagnóstico da dislexia com base no modelo neurocognitivo.
Palavras-Chave: Diagnóstico; Dislexia; Dupla Rota; Modelo Neurocognitivo
Abstract: In order to verify the contribution of the double route model in the diagnostic studies of dyslexia, the
study presents a systematic review of the literature, based on the analysis of 52 studies retrieved from the Medline,
Scielo and Google Academic databases (2013- 2018). All the studies that used the double route model showed
empirical evidence of the use of this model, demonstrating how the component deficits in phonological and lexical
processing explain the presence of dyslexia. The studies analyzed demonstrated the consistency of the model for
both investigation and diagnosis of dyslexia, at different ages, from very young children to adults. However, as
there is an urgency in solving learning difficulties in the first years of schooling, there has been a greater number
of research involving children. A greater number of international empirical researches were observed using the
neuropsychological model. In the Brazilian context, these researches are rare in turn there are a large number of
national literature reviews involving this theme. It is recommended that future empirical research in the Brazilian
context seek to investigate the diagnosis of dyslexia based on the neurocognitive model.
Keywords: Cognitive model; Diagnostic; Dyslexia; Dual Route
Introdução
A dislexia é um transtorno de aprendizagem da leitura que pode afetar a escrita e que
tem causas neurobiológicas (ALVES et al., 2011). É definida como uma perturbação
neurológica, de origem congênita, que ocorre em crianças com capacidade intelectual normal,
sem deficiência sensorial e com suporte educacional adequado, mas que não conseguem
11 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino – PPGEn, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
– UESB. Vitória da Conquista, BA – Brasil. E-mail: [email protected] 12Professora do Programa de Pós-Graduação em Ensino – PPGEn, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
– UESB. Vitória da Conquista, BA – Brasil. E-mail: [email protected]
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alcançar ou realizar adequadamente a habilidade para ler e escrever (GIACHETI e
CAPELLINI, 2000).
Algumas pesquisas têm investigado o diagnóstico da dislexia com base em uma
abordagem cognitiva, usando o modelo teórico de dupla rota, que utiliza duas estratégias: a
fonológica (rota fonológica), desenvolvida na fase alfabética; e a lexical (rota lexical),
desenvolvida na fase ortográfica (COLTHEART et al, 2001; MONTEIRO e SOARES 2014;
BOUKADI et al, 2016; GVION e FRIEDMANN, 2016; SIMÕES e MARTINS, 2018).
A dislexia possui um perfil cognitivo que consiste em déficits em componentes da leitura,
descritos através do modelo da dupla rota. O diagnóstico tem sido realizado através de
avaliações cognitivas com ferramentas psicométricas que avaliam funções específicas. Os
estudos sobre o diagnóstico usam o modelo para validar as avaliações.
Diagnóstico da dislexia
Na avaliação diagnóstica da dislexia, é necessário investigar as funções cognitivas que
estão preservadas ou não, identificando o perfil cognitivo da criança. A dislexia afeta as
habilidades de leitura interferindo em diferentes componentes da leitura como a fluência ou
velocidade, as trocas fonológicas, falhas na compreensão, erros lexicais, que podem ser
apresentados na leitura e em muitos casos na escrita (FLETCHER e VAUGHN, 2009; PIASTA
e WAGNER, 2010; FUKUDA e CAPELLINI, 2012).
O diagnóstico é baseado no desempenho da leitura e da escrita da criança. Para Frith
(1990), verificar e analisar os tipos de erros baseado no modelo cognitivo de dupla rota
possibilita investigar os vários tipos de dificuldades na leitura.
Alguns aspectos precisam ser considerados na realização do diagnóstico da dislexia:
história familiar (alguém da família com diagnóstico); atrasos na fala; atraso na aquisição da
leitura e escrita; sintomas de ansiedade na realização de testes ou provas; problemas na
soletração; capacidade cognitiva elevada que não justifica o problema na leitura e escrita;
entende a informação principal do texto, mas não lembra das particularidades; confusões de
letras com diferente orientação espacial (b/d); alteração de fonemas surdos por sonoros, ou o
contrário; dificuldades com rimas; transposição e/ou adição de fonemas; substituições de
vocábulos com arranjos semelhantes; segmentação incorreta em frases; problemas para
compreender o texto lido, além de leitura lenta e silabada (SHAYWITZ, 2006., ROTTA e
PEDROSO, 2016).
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Esse estudo objetiva analisar, de forma sistemática, a literatura dos últimos cinco anos,
verificando a contribuição do modelo da dupla rota para os estudos de diagnóstico da dislexia.
Foram selecionados estudos nacionais e internacionais publicados nos últimos cinco anos (2013
a 2018), indexados nas bases de dados, Medline, Scielo e Google Acadêmico. Os descritores
utilizados para a realização da busca foram:1- dislexia, leitura e dupla rota; 2- dislexia, leitura
e dupla via; 3- dyslexiaandreadingand dual androute; 4- dyslexiaandreadinganddoubleandway;
5- avaliação da dislexia; 6-evaluation dyslexia; 7- diagnóstico da dislexia; 8-
diagnosisofdyslexia.
Resultados
Ao todo, foram selecionados e analisados 52 estudos, incluindo artigos, teses e
dissertações. Os trabalhos identificados pela estratégia de busca inicial, após a leitura dos
resumos/abstracts, foram avaliados segundo os seguintes critérios de inclusão: estudos
empíricos, baseados no modelo neurocognitivo da dislexia, publicados no período de 2013 a
2018. Foram excluídos estudos de revisão, estudos publicados há mais de cinco anos ou que
não versavam sobre o tema. Dos 52 estudos analisados, 40 (76,92%) se apoiaram no modelo
neurocognitivo de dupla rota, demonstrando que o modelo é consistente para investigar e
diagnosticar pacientes com dislexia, oferecendo respostas substanciais sobre déficits
específicos, o que potencializa a elaboração de programas de estimulação cognitiva.
De acordo com o critério de inclusão, a comparação de grupos (de leitores, com e sem
dificuldades de leitura) foi o tipo de estudo mais usado utilizado, 32 ao todo, abarcando 61,53%
do total geral; seguido de 07 estudos descritivos (13,46%); 05 estudos de caso (9,61%); 03
estudos experimentais (5,76%); 02 estudos pré e pós teste e retrospectivo (3,84%) e 01 estudo
longitudinal (1,92%).
Para a variável país, o Brasil realizou 17 (32,69%) estudos; seguido de Portugal com 5
(9,61%); Estados Unidos, Itália e Reino Unido com 4 (7,69%); Israel e Espanha com 03
(5,77%); Holanda, Austrália, China, e Canadá com apenas 02 (3,85%); Nova Zelândia, Áustria,
Noruega, França com apenas 01(1,92%) estudo.
Em relação a variável participantes da pesquisa, a média de participantes foi de 89.4,
com exceção dos estudos de caso. A média da idade dos participantes da pesquisa foi de 9,74.
A função cognitiva mais investigada foi a leitura, presente em 27 (51,92%) estudos; seguida de
consciência fonológica, presente em 15 (28,84%) estudos; escrita, presente em 7 (13,46%)
estudos; leitura de pseudopalavras presente em 5 (9,61%) estudos; memória de trabalho,
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ortografia, habilidade auditivas presente em 4 (7,69) estudos. Outras funções cognitivas
apareceram em apenas um (1,92%) dos estudos: atenção e funções executivas; motricidade fina
e motricidade global; equilíbrio e esquema corporal; rapidez, organização espacial, organização
temporal, lateralidade; tarefas visuais no controle postural; dificuldades matemáticas.
As análises dos estudos foram conduzidas por meio de instrumentos de avaliação que
estão associados com ás funções cognitivas que se pretendia avaliar. Instrumentos relacionados
com a avaliação da leitura aparecem como o mais utilizado, em 32 (61,53%) estudos. O segundo
instrumento mais usado, presente em 14 (26,9%) estudos, foi o de avaliação da consciência
fonológica.
A maioria dos estudos além de avaliar funções cognitivas associadas às dificuldades
presentes na dislexia, avaliou também o nível cognitivo dos participantes. Para esse objetivo os
instrumentos mais utilizados foram: Escala de Inteligência Wechsler para crianças -WISC III,
Matrizes Progressivas Coloridas de Raven, Escala Wechsler de Inteligência para adultos –
WAIS-III, presentes em 18 (34,61%) estudos.
Discussão
A análise dos estudos aponta que diferentes países investigaram a dislexia, com base no
modelo neuropsicológico da dupla rota, demonstrando que o modelo é consistente tanto em
línguas opacas quanto transparentes. São consideradas línguas transparentes, aquelas em que
existem uma similaridade entre letra e som, por exemplo, a língua italiana. Em línguas opacas
existe um grau de complexidade maior, onde a aquisição da leitura será mais lenta, por
necessitar de uma maior manipulação com as irregularidades da língua, um exemplo é a língua
inglesa (DEHAENE, 2012).
Oliveira et al (2016) investigou desempenho de 262 alunos em provas de processo de
identificação de letras e do processo léxico, os resultados evidenciaram que alunos das séries
iniciais fazem maior uso da rota fonológica do que da rota lexical, tanto no contexto de escolas
públicas quanto particulares, no entanto, alunos do 4º e 5º ano, usaram mais a rota lexical. As
autoras indicam a necessidade de o sistema de ensino eleger no processo de alfabetização, o
ensino de correspondência letra-som, agilizando a aquisição da leitura e melhorando a rapidez
na identificação das palavras e compreensão da leitura de textos.
Embora tenha havido uma predominância de estudos com crianças, as pesquisas que
investigaram dislexia em adultos, estão de acordo com a literatura, que mostra que a dificuldade
de leitura persiste ainda na vida adulta (LEFLY e PENNINGTON, 1991). Nos estudos
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analisados, o gênero mais pesquisado foi o masculino presente em 33 (63,46%) estudos, esta
prevalência também é apontada na literatura (BERGER et al, 1975).
O modelo neurocognitivo de dupla rota permite uma compreensão do desempenho
satisfatório, mas também dos déficits nas funções cognitivas específicas, possibilitando
compreender se a dificuldade está na rota fonológica, lexical ou em ambas as rotas
(COLTHEART, 2006). Assim, é importante avaliar cada função cognitiva específica, para não
ter apenas o diagnóstico, mas saber qual função específica precisa ser estimulada.
Sobre instrumentos que avaliam leitura de palavras e pseudopalavras, segundo o modelo
de dupla rota, os autores ressaltaram a necessidade dos estímulos inseridos nas tarefas
contemplar os critérios psicolinguísticos de regularidade, lexicalidade, extensão e frequência, a
fim de analisar os componentes cognitivos compreendidos nesse processo.
Conclusões
Com base nos dados encontrados, observou-se que o modelo da dupla rota é muito usado
para investigar e diagnosticar a dislexia, permitindo identificar em qual rota (fonológica ou
lexical) existe o déficit, o que contribui para o diagnóstico. O modelo também mostrou-se
consistente para construção de instrumentos que avaliam dificuldades de leitura e escrita.
Em termos gerais, observou-se um número maior de pesquisas empíricas internacionais
que utilizaram o modelo neuropsicológico. Já no contexto brasileiro, de acordo com os critérios
de inclusão, são raras as pesquisas empíricas. Por sua vez, existe um grande número de revisões
de literatura nacional envolvendo essa temática. As limitações, inerentes aos achados desses
estudos, certamente trazem informações importantes para que futuras pesquisas empíricas, no
contexto brasileiro, busquem investigar o diagnóstico da dislexia com base no modelo
neurocognitivo.
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V SENAL | 47 | UESB/2018
O EMPREGO DO GÊNERO MÚSICA COMO PRÁTICA DE LETRAMENTO NAS
AULAS DE ENSINO FUNDAMENTAL
Jucenilton Alves dos Santos13
Resumo: Este trabalho pretende provocar e suscitar, em quem possa lê-lo, a percepção indispensável e necessária
para o entendimento do processo e da dinâmica do fenômeno musical dentro das instituições escolares de ensino
fundamental. Dessa forma, torna-se relevante uma vez que o interesse pela educação como um todo e, em
particular, pela educação musical, nos estimula a uma reflexão sobre o momento atual da prática musical na escola
de ensino fundamental de nosso país. A música vem desempenhando, ao longo da história, um importante papel
no desenvolvimento do ser humano, seja no aspecto religioso, seja no moral e no social, contribuindo para a
aquisição de hábitos e valores indispensáveis ao exercício de cidadania.
Palavras-Chave: Gênero Música; Ensino Fundamental; Educação; Escola.
L'emploi du genre de la musique en tant que pratique de la lettre dans les leçons fondamentales d'enseignement
Resumen: Ce travail vise à provoquer et à susciter, chez ceux qui peuvent le lire, la perception indispensable et
nécessaire à la compréhension du processus et de la dynamique du phénomène musical au sein des institutions
scolaires élémentaires. De cette manière, cela devient pertinent puisque l’intérêt pour l’éducation dans son
ensemble et, en particulier, pour l’éducation musicale, nous incite à réfléchir au moment actuel de la pratique
musicale à l’école primaire de notre pays. Tout au long de l'histoire, la musique a joué un rôle important dans le
développement de l'être humain, qu'il soit religieux, moral ou social, contribuant à l'acquisition d'habitudes et de
valeurs indispensables à l'exercice de la citoyenneté.
Palabras claves: Musique de genre; École élémentaire; Éducation; École
Introdução
A educação tem que ser vista como um processo global, progressivo e permanente,
necessitando assim de diversas maneiras de estudos para seu aperfeiçoamento, pois em qualquer
meio sempre haverá diferenças individuais, diversidade das condições ambientais que são
originários dos alunos e que necessitam de um tratamento diferenciado.
Neste sentido os professores devem desenvolver, planejar atividades que contribuam
para o desenvolvimento da inteligência e pensamento.
Partindo deste princípio, pensamos que os estudantes devem ser sensibilizados para o mundo
da música, pois, é pelo órgão da audição que elas possuem o contato com os fenômenos sonoros
e com a musicalidade. Quanto maior for a sensibilidade da criança para o som, mais ela
descobrirá as suas qualidades.
13Mestre em Letras pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB; Itiruçu, Bahia, Brasil; E-mail:
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Na aprendizagem a música é muito importante, pois o aluno convive com ela desde
muito pequeno. A música quando bem empregada em sala de aula desenvolve o raciocínio, a
criatividade e outros dons e aptidões, por isso, deve-se aproveitar esta tão rica atividade
educacional dentro das salas de aula, principalmente em turmas do Ensino Fundamental cujo
público ainda está em formação.
Os professores precisam criar situações de aprendizagem nas quais as crianças possam
estar em relação com um número variado de produções musicais não apenas ligadas ao seu
ambiente sonoro, mas se possível também de origens diversas, como, de outras famílias, de
outras comunidades, de outras culturas de diferentes qualidades: folclore, música popular,
música erudita e outros.
Na sala de aula, a música poderá auxiliar de forma muito significativa à aprendizagem.
É preciso que os professores se reconheçam como sujeitos mediadores de cultura dentro do
processo educativo e que levem em conta a importância do aprendizado das artes no
desenvolvimento e formação das crianças como indivíduos produtores e reprodutores de
cultura. Dessa maneira poderão procurar e reconhecer todos os meios que têm em mãos para
criar, à sua maneira, situações de aprendizagem que possibilitem condições às crianças de
construir conhecimento sobre música e dança.
A importância da música para crianças e adolescentes
O contato da criança com a música surge desde sua formação no ventre da mãe; é no
ventre da mãe que ela já conhece o som, ouvindo as batidas do coração. De acordo com Cunha
(2006, p. 70) “o que move o bebê e a mãe é a necessidade de comunicação”. Ela afirma que nos
primeiros dias de vida, a criança em sensação com os sons, já pode iniciar o que chamamos de
processo de musicalização, através da percepção auditiva. Além das batidas do coração e as
vozes que podem ouvir, de acordo com Cunha (2006), nos primeiros dias um bebê já pode
conseguir fazer a distinção da voz masculina da feminina, além de já reconhecer a voz de sua
mãe.
Logo depois do nascimento a criança pode começar a ter vínculo com a música, ao
participar do ambiente sonoro do lugar em que vive com seus familiares. Esse pode ser o motivo
pelo qual muitas crianças não têm vergonha de se expressar pela música, por se sentirem seguras
a partir da naturalidade com que os sons fizeram (e fazem) parte de sua vida cotidiana.
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Para grande parte das pessoas, a música tem apenas o objetivo de diversão e para outras
possibilita momentos de reflexão, mas o fato é que muitos não conhecem o poder que a música
tem sobre uma criança ou até mesmo sobre um adulto, em sua vida pessoal ou na aprendizagem.
São muitas as possibilidades de estimulação da criança, através da música, do som que
pode nascer de inúmeros materiais e objetos até mesmo na sala de aula. É perceptível a mudança
causada pelas atividades com sons, que podemos observar analisando em nosso cotidiano
escolar, quando as crianças, cantando, batendo no chão ou em objetos demonstram o prazer ou
a raiva e a importância atribuída àquela interação.
Atualmente, tem-se explorado pouco a música na escola, menosprezando sua
capacidade de, além de trazer entretenimento e oportunizar expressão, ela melhora o rendimento
escolar aumentando o grau de aprendizagem das crianças e adolescentes.
Fundamentalmente a música permite às crianças uma conscientização sonora, propondo
atividades que exigem delas, primeiramente apenas ter o aparelho auditivo em funcionamento.
Aí é que nasce o prazer pela música, que tem o poder de contribuir para ampliar novos
horizontes em busca de uma aprendizagem única, que leva a criança a poder imaginar, sentir, e
expressar suas emoções de diversas maneiras. Para Coelho,
a escola é entendida como o primeiro espaço formal onde se dá o desenvolvimento de
cidadãos, nada melhor do que o contato sistematizado com o mundo musical, suas
linguagens e comunicação, não podem ser excluídas da interação com as demais áreas
do conhecimento (COELHO,2004, p. 22).
Através da música, a criança manifesta sua cultura e seus sentimentos por isso
acreditaram que ela deva estar presente no cotidiano da escola e não somente em ocasiões
isoladas como, por exemplo, em comemorações nas datas festivas, final de ano com música,
apresentações de grupos extraclasse ou outras coisas do tipo como acontece em nossas escolas.
Aprender música aguça a percepção e desenvolve o raciocínio, mas não é só isso. A
música também ensina autodisciplina, paciência e sensibilidade. Todos precisamos de uma
válvula de escape, algo que nos ajude a expressar nossas emoções, sentimentos e vontades. A
música proporciona essa liberdade e isto ajuda a vida a ser mais leve.
O saber fazer do professor
O saber fazer do professor inclui saberes disciplinares nas áreas de conhecimento sendo
eles pedagógicos e práticos que dependem de formação profissional. É necessário que o
professor aprimore e aperfeiçoe sua prática, profissional, que se torne competente e
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comprometido com resultados na sua tarefa de educador. Se a formação não estiver em primeiro
lugar na carreira, a atração profissional perderá seu encanto.
A qualidade do bom professor envolve sempre: emoção, política, ética, reflexão e
crítica, além do caráter do saber, e acima de tudo conhecimento e pesquisa constante. O
professor educador deve ter em mente que o conhecimento, deve ser desenvolvido numa
trajetória conscientizada de mundo no mundo. A atuação do mesmo requer prática que este
adquire com competência e com autonomia, comprometimento e responsabilidade, com os
resultados de sua atividade profissional, que lhes são conferidas, com ética e desempenho.
Segundo Freire,
a nova educação exige um educador, consciente que desmistifique o processo de
ensino aprendizagem e estando disposto a aceitar-se como inacabado, que se assume
politicamente com ética, com esperança de modificar sua prática pedagógica
(FREIRE 2002, p.65)
Ainda é primordial de o professor ser gestor no que faz, e fazer com prazer, com amor.
Aprender é uma aventura geradora, construtora, e reconstrutora, transformar é mudar, levando
ao saber geral, dos vários saberes especiais ligados a prática docente, levando a
interdisciplinaridade, a confluência de vários conhecimentos em prol da melhoria do
aprendizado, sonhando um sonho possível, pensando que a prática diária, dentro dos limites
diretamente e dinamicamente, buscando espaços livres, preenchendo, denunciando, pondo-se
no mundo. Perceber as falhas e aprimorar a prática é importante para a promoção do
aprendizado do aluno, a desenvolver-se continuamente, olhar para a própria trajetória
assumindo desafios de ser melhor a cada dia.
O novo desafio da profissão é com certeza enfrentada na sala de aula, que é o lugar onde
deve ensinar com qualidade, liberdade, justiça, cidadania e criatividade, pois é no coletivo da
sala de aula que acontece aprendizagem complexa e modificada das atividades educativas. O
conhecimento passa por sérias dificuldades no que concerne à sua transmissão e principalmente
à sua construção, não só no interior da escola, mas também na sala de aula, em qualquer grau
de ensino. Essas reflexões devem passar também, pelos percalços que enfrenta o professor
durante seu processo de formação profissional e da dependência deste processo não só a
questões pedagógicas, mas também, ao contexto político, condições que revelam por se mesmo
a concepção política na educação que predomina em nossa sociedade. Vários autores aqui
consultados defendem que não apenas o educador deve ser educado na a própria estrutura
educacional e social em seu conjunto.
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Considerações finais
A educação básica no Brasil tem enfrentado grandes dificuldades, entre elas podemos
destacar: a indisciplina, o desinteresse e a evasão. Solucioná-los não é tarefa fácil. Programas
como o PDE, podem não ser a solução, mas é um grande aliado nestas questões. O ensino da
arte e consequentemente da música sofreram influências de diferentes concepções pedagógicas
em sua trajetória. Desde que a música deixou de ser conteúdo específico a ser trabalhado nas
séries iniciais, o seu entendimento e sua utilização tem se centrado principalmente em:
recreação, animação de datas comemorativas, pontuar tarefas – música do lanche, música para
entrar na sala, música para guardar o material. Isso acaba por enfraquecer a música como área
de conhecimento. Hoje com a volta da obrigatoriedade do ensino da música na educação
fundamental pela Lei 11769 de 2008, como disciplina curricular, a escola enfrenta sérios
problemas para sua efetivação.
Dentre os problemas enfrentados, um dos principais está na formação do docente,
principalmente das séries iniciais do ensino fundamental, do professor unidocente. Este
professor tem a tarefa de ensinar os conteúdos de todas as disciplinas previstas na lei, e agora,
mais o ensino da música, que se tornou obrigatório pela lei acima referida.
Sabemos que a humanidade passou por várias mudanças no decorrer dos anos. Essas
mudanças estão ligadas ao processo do desenvolvimento e de modo específico, a globalização.
Sofremos influências de todas as raças, de todos os lugares do mundo. Como nosso enfoque é
a música, não podemos deixar de destacar a diversidade musical existente em nosso planeta. A
música retrata através dos sons as diferenças culturais de um povo.
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dramática no cotidiano da criança. Porto Alegre: Mediação, Ed. 6, 2006.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa -21ª Edição-
São Paulo. Editora Paz e Terra, 2002.
V SENAL | 52 | UESB/2018
O ESTÁGIO SUPERVISIONADO COMO CAMPO DE INVESTIGAÇÃO:
REFLETINDO SOBRE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
Andréia Cristina Freitas Barreto14
Jaciara de Oliveira Sat´Anna Santos15
Daniele Santos Rocha16
Resumo: Esta estudo tem como objetivo apresentar o estágio como um momento de ensino e aprendizagem do
fazer pedagógico. Ele surge como um momento importante na formação, uma vez que, utilizado como campo de
investigação contribui para o desenvolvimento de saberes docente e identidade profissional. Metodologicamente,
realizou-se uma pesquisa bibliográfica a partir de estudos de autores como: (STENHOUSE, 1975; GIROUX, 1997;
PIMENTA, 1999; ANDRÉ, 2005; ALARCÃO, 2012; MORAES, 2012). Dentre os resultados, destaca-se que, o
estágio traz momentos de investigação, e quando bem orientados, gera um processo dialético das práticas
pedagógicas, abre possibilidades para o futuro professor compreender as situações vivenciadas e observadas nas
escolas possibilitando uma formação de inicial de um profissional crítico, reflexivo.
Palavras-Chave: Estágio Supervisionado; Investigação; Prática Pedagógica.
Abstract: This study aims to present the internship as a teaching and learning moment of pedagogical doing. It
emerges as an important moment in training, since, used as a field of research contributes to the development of
teacher knowledge and professional identity. Methodologically, a bibliographic research was carried out from
studies of authors such as: (STENHOUSE, 1975; GIROUX, 1997; PIMENTA, 1999; ANDRÉ, 2005; ALARCÃO,
2012; MORAES, 2012). Among the results, it is worth highlighting that the stage brings moments of investigation,
and when well oriented, generates a dialectical process of pedagogical practices, opens up possibilities for the
future teacher to understand the situations experienced and observed in the schools allowing an initial formation
of a professional critical, reflective.
Keywords: Supervised Internship; Investigation; Pedagogical Practice.
Introdução
A investigação é um elemento essencial na formação profissional do professor (André,
2005). A construção da concepção de professor investigador parte do pressuposto de uma
prática pedagógica em que o professor torna-se agente ativo da produção de conhecimentos,
visando à construção da autonomia como método dinâmico e eficiente para o enfoque à
pesquisa e reflexão a serem explorados em ambiente escolar (GIROUX, 1997; ANDRÉ, 2005;
PIMENTA, 2002; ALARCÃO, 2012; MORAES, 2012).
Nesta conexão, Pimenta (1999) argumenta que a pesquisa é componente essencial das
práticas de estágio, uma vez que aponta novas possibilidades de ensinar e aprender a profissão
docente.
14Mestra; Universidade do Estado da Bahia - UNEB; Eunápolis, BA e Brasil; e [email protected]. 15Especialista; Universidade do Estado da Bahia - UNEB; Brumado, BA e Brasil; e [email protected]. 16Graduanda em Letras; Universidade do Estado da Bahia - UNEB; Eunápolis, BA e Brasil; e
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Mas o que é estágio? Um rito de iniciação profissional? Uma estratégia de
profissionalização? Conhecimento da realidade? Momento de colocar na prática a teoria
recebida? Um treinamento? (PIMENTA e LIMA, 2011). É um campo de investigação e
produção de conhecimento sobre a educação? Um lugar para refletir sobre as práticas
pedagógicas?
Com base nessas inquietações, esta pesquisa tem como objetivo apresentar o estágio
como um momento de ensino e aprendizagem do fazer pedagógico. Diante desta relevância, foi
desenvolvido uma pesquisa bibliográfica a partir de estudos de autores como: (STENHOUSE,
1975; GIROUX, 1997; ANDRÉ, 2005; PIMENTA, 1999; ALARCÃO, 2012; MORAES,
2012). De acordo com Gil (2008), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material
já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Os exemplos mais
característicos desse tipo de pesquisa são sobre investigações sobre ideologias ou aquelas que
se propõem à análise das diversas posições acerca de um problema. (GIL, 2008).
Um olhar para a legislação do estágio
O Estágio conforme define na Lei n. 11.788, de 25 de setembro de 2008, no seu Art. 1º,
consiste no ato educativo escolar supervisionado, com vistas à preparação para o trabalho
produtivo de educandos cursando o ensino regular nas Instituições de Educação Superior (IES),
de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino
fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos (BRASIL, 2008).
Conforme consta no Art. 1º, parágrafo 2º, da referida lei, o Estágio é um momento
importante para a vida do estudante de licenciatura, pois promove o aprendizado de
competências da atividade profissional, além da contextualização curricular, com o objetivo de
desenvolver o educando para a vida cidadã e para o trabalho (BRASIL, 2008).
As novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior,
instituída pela Resolução n. 02/2015, traz o Estágio Curricular Supervisionado como
componente obrigatório da organização curricular das licenciaturas, sendo uma atividade
específica intrinsecamente articulada com a prática e com as demais atividades de trabalho
acadêmico. Ela dispõe que 400 (quatrocentas) horas sejam dedicadas ao Estágio
Supervisionado, “na área de formação e atuação na educação básica, contemplando, também,
outras áreas específicas, se for o caso, conforme o projeto de curso da instituição” (BRASIL,
2015, p.11).
V SENAL | 54 | UESB/2018
A obrigatoriedade do estágio curricular na formação profissional, foi definida na
legislação federal LDB 9394/96, que estabeleceu sua realização em escolas de educação básica,
seja instituições de ensino público: municipais ou estaduais. Deve ser vivenciado durante o
curso de graduação, com tempo suficiente para abordar as diferentes dimensões da atuação
profissional, além de que, deve, de acordo com o projeto pedagógico próprio, ser desenvolvido
a partir da segunda metade do curso reservando-se um período final para a docência
compartilhada, sob a supervisão do curso.
O estágio como um lugar de investigação
A origem do conceito de professor-pesquisador aconteceu entre as décadas de 60 e 70 a
partir do trabalho de Stenhouse (1975). A partir dessa década, esse conceito passou a ser objeto
de estudos de diversos autores nos mais variados países e contextos.
Baseado na investigação sobre o seu ensino” (Stenhouse, 1975:141) e defende a ideia
de "uma ciência educativa em que cada sala de aula é um laboratório e cada professor um
membro da comunidade científica (1975:142). “Os professores levantam hipóteses que eles
mesmos testam ao investigarem as situações em que trabalham” (1975:141). Este, professor
do ensino secundário e, posteriormente, professor de Educação na Universidade de EastAnglia,
no Reino Unido. Afirma ainda: “o desenvolvimento curricular e a investigação sobre o ensino
devem fornecer uma base para este profissionalismo”. E admitindo que esse processo já se tinha
iniciado, afirma também: “ainda há um longo caminho a percorrer para que os professores
tenham uma base de investigação em cima da qual construam um programa do seu
desenvolvimento profissional” (Stenhouse, 1975:39).
Esta concepção de professor como investigador da própria prática pedagógica, passa
necessariamente pela concepção de formação inicial e também nela pela proposta de estágio
supervisionado em que a investigação da sala de aula (André, 1999) e da escola é uma constante.
A perspectiva da pesquisa, enquanto estratégia metodológica para o estágio e para a prática de
ensino está alicerçada tanto no suporte epistemológico dos saberes docentes, que lhes serão
exigidos pela escola, tanto como na concepção de que a teoria e a prática são elementos
indissociáveis da atividade docente.
Diante desta relevância, o componente curricular estágio supervisionado é o espaço de
investigação e construção dos saberes docentes de uma forma mais complexa e elaborada.
Juntamente e mediado por um professor supervisor, de acordo Pimenta e Lima (2011) estes
saberes passam pela compreensão do exercício da docência, dos processos de construção da
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identidade docente, da valorização dos professores como sujeitos e intelectuais capazes de
produzir conhecimento.
De acordo com Pimenta e Lima (2011), o estágio, por meio da pesquisa e investigação
abre possibilidades para o futuro professor compreender as situações vivenciadas e observadas
nas escolas e seus respectivos sistemas de ensino, formando assim professores “críticos-
reflexivos” e “pesquisadores.”
Pimenta e Lima (2011) salientam que a pesquisa no estágio é um conhecimento
necessário nos cursos de formação, e particularmente nos estágios. Para as autoras a pesquisa
no estágio se considerado “como método” de formação de professores, se traduz na mobilização
de pesquisas que permitam a ampliação e a análise dos conteúdos onde os estágios se realizam.
Diante desta relevância, o estágio como campo de investigação surge como uma oportunidade
de aprendizagem da profissão docente e da construção da identidade profissional.
Considerações Finais
Assim, observa-se que investigar situações de ensino/aprendizagem no estágio
supervisionado é um ponto fundamental para a compreensão do processo de construção de sua
profissionalidade. Conforme propõem Pimenta & Lima (2011), é necessário trabalhar o estágio
curricular como momento de práxis, ou seja, “como atividade teórica de conhecimento,
fundamentação, diálogo e intervenção na realidade” (p. 45). Tratamos como um espaço
coletivo, integrado por professores da universidade, estudantes de licenciatura, monitores da
disciplina, e professores da educação básica, voltado à apropriação, análise e questionamento
da realidade, a luz de discussões e referenciais teóricos.
Nessa perspectiva, os cursos de formação, por meio do estágio, devem valorizar as
atividades que desenvolvem capacidades e habilidades de diálogo, reflexão, pesquisa,
investigação e análises críticas dos contextos educativos.
Referências bibliográficas
ANDRÉ, M. E. Pesquisa, formação e prática docente. In: (Org.). O papel da pesquisa na
formação e na prática dos professores. 4. ed. São Paulo: Papirus, 2005. p. 55-67.
ALARCÃO, Isabel. Professor-investigador: Que sentido? Que formação? 1996. Disponível
em: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/jponte/sd/textos/alarcao01.pdf Acesso em:20 dez.
2016.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96. Disponível em:
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm. Acesso em: 20/02/2018.
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______. Lei nº 11.788 - Planalto. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11788.htm. Acessado em 15 de
fevereiro de 2018.
02/2015 –Parecer CNE-CP nº 2/2015. Disponível em http://portal.mec.gov.br/docman/abril-
2016/37541-cne-seminario-formacao-professores-2016-apresentacao-06-marcia-gurgel-
pdf/file. Acessado em 13 de 05 de 2018.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
GIROUX, Henry A. Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica
daaprendizagem. Tradução Daniel Bueno – Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
MORAES. Gisele Lima de. Estágio nas licenciaturas: projetos de leitura/ Gisele Lima de
Moraes. Petrópolis, RJ: Vozes; Maceió, AL: Edufal, 2012
PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Formação de Professores:
identidade e saberes da docência. São Paulo: Cortez, 1999.
______; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e docência. São Paulo: Cortez, 2011. (Coleção
Docência em Formação).
STENHOUSE, L. An introduction to curriculum research and development. Londres:
Heinemann, 1975.
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RELACIONANDO AS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS DE GARDNER COM OS
SETE SABERES DE MORIN
Gabriela Alves Rodrigues dos Santos17
Maria de Fátima de Almeida Baia18
Resumo: Neste estudo, propomos que as inteligências múltiplas de Gardner (1998) e os sete saberes de Morin
(2000) sejam trabalhados em conjunto na estimulação do conhecimento. Damos destaque para as inteligências
linguística e musical.
Palavras-Chave: sete saberes; inteligências múltiplas; Sistemas Adaptativos Complexos.
Abstract: In this study, we propose that the multiple intelligences (GARDNER, 1998) and the seven complex
lessons (MORIN, 2000) should be approached altogether in the stimulation of knowledge. We emphasize linguistic
and musical intelligences.
Keywords: seven complex lesson; multiple intelligences; Adaptive Complex Systems.
Introdução
Gardner (1994) ao criticar o conceito de inteligência única e o escore de inteligência,
aquele que mede, por exemplo, a capacidade de resolver problemas, destaca a importância de
um estudo sobre inteligência que preveja o sucesso na vida posterior do indivíduo. Por essa
razão, ele apresenta diferentes inteligências: espacial, naturalista, musical, lógico-matemática,
existencial, interpessoal, corporal-cinestésica, linguística e intrapessoal.
Com base na proposta de Gardner, Antunes (1998) apresenta atividades de estimulação
de cada inteligência na sua obra e destaca que toda e qualquer estimulação não deve ser
excessiva, pois se for tonar-se-á, na verdade, um desestímulo. O autor apresenta jogos que ao
serem aplicados estimulam cada uma das inteligências. Neste estudo, enfatizamos as
inteligências linguística e musical por serem, ao nosso ver, complementares no exercício da
estimulação da expressão verbal.
Todavia, a nossa proposta não se encerra nas inteligências múltiplas, acrescentamos os
setes saberes de Morin (2000), que atrelados aos diferentes tipos de inteligências podem
enriquecer ainda mais a estimulação de diferentes áreas de conhecimento. Esses saberes, como
apresentamos a seguir, vêm reforçar as vantagens de uma educação interdisciplinar.
17Doutora em Linguística e docente na UESB e no PPGLin, em Vitória da Conquista – BA;
18Graduanda em pedagogia na UESB de Vitória da Conquista-BA; [email protected]
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As inteligências múltiplas
Gardner (1994), em sua obra Estruturas da mente: a teoria das inteligências múltiplas,
busca melhor descrever e analisar o conceito de inteligência ao criticar o conceito de
inteligência única. Para apresentar um novo olhar para a inteligência, o autor propõe uma nova
visão da mente, a qual reconhece facetas diferentes e discretas da cognição, que caracterizam
pessoas com diferentes “pontos fortes” cognitivos. Além disso, sua proposta vai contra a ideia
de uma inteligência fixa e sugere uma expressão qualitativa das inteligências do indivíduo.
No que se refere ao que seria inteligência para o autor, é proposto que ela deva ser
caracterizada com base no que o sujeito pode fazer e nos produtos que ele cria. Ademais, as
oito inteligências propostas por Gardner seriam universais por terem sido identificadas em um
vasto número de culturas. Todavia, o ser humano, apesar de trazer todo o conjunto, apresenta
variação no uso e na performance de cada uma.
As oito inteligências levantadas por Gardner são:
i.) Linguística – habilidade para usar as palavras efetivamente, tanto oralmente quanto na escrita.
Nela encontramos a habilidade de manipular as diferentes estruturas da língua (fonologia,
morfologia, sintaxe, semântica, pragmática e discurso). Em geral, ela se encontra fortalecida em
linguistas, jornalistas, e demais pessoas envolvidas com comunicação. Segundo Gardner (1994,
p. 76), “[...] enterradas há muito na evolução, a música e a linguagem podem ter surgido de um
meio expressivo comum.
ii.) Musical – habilidade para perceber formas musicais e de discriminá-las. Ela se encontra
fortalecida em músicos, musicoterapeutas, e demais pessoas envolvidas com o setor musical.
iii.) Lógico-Matemática – habilidade de lidar com números, padrões lógicos, cálculo, etc. Encontra-
se fortalecida na mente de matemáticos, contadores, estatísticos, e demais pessoas que lidam
com esse tipo de conhecimento.
iv.) Espacial – habilidade para perceber o espaço visual no mundo, cores, formatos, linhas e afins
acuradamente. Encontra-se fortalecida na mente de arquitetos, designers e demais pessoas que
lidam com este tipo de habilidade.
v.) Corporal Cinestésica – habilidade de usar o corpo sara expressar ideias, vontade e sentimentos.
Ela requer um uso avançado de coordenação motora e, também, flexibilidade corporal. Encontra-
se fortalecida na mente de dançarinos e demais pessoas que utilizam frequentemente esse tipo
de habilidade.
vi.) Intrapessoal – habilidade de conhecer suas fraquezas e ponto forte. Também se refere à
capacidade de ter um alto índice de autoconhecimento. Gardner (1994, p. 203) explica que “[...]
é a nossa sensibilidade aos nossos próprios sentimentos, às nossas próprias vontades e medos,
às nossas próprias histórias pessoais”. O ideal é que ela esteja fortalecida em todos os indivíduos.
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vii.) Interpessoal – habilidade de perceber e distinguir humores, intenções e sentimentos de outras
pessoas. Gardner (1994, p. 293) completa afirmando que é nossa capacidade de “[...] reconhecer
seus rostos, suas vozes e suas personalidades; de reagir adequadamente a elas”. Essa inteligência
encontra-se fortalecida em pessoas de áreas terapêuticas, educacionais e afins.
viii.) Naturalista – habilidade de agir apropriadamente em um ambiente natural, como também a de
reconhecer diferentes seres da natureza. Encontra-se fortalecida na mente de biólogos e pessoas
que lidam com áreas afins.
É importante mencionarmos que para Gardner as inteligências são educáveis, no sentido
de que podem e devem ser estimuladas no intuito de serem fortalecidas. Além disso, é
importante que sejam trabalhadas em conjunto.
Os sete saberes
Morin (2000) em sua obra Ossete saberes necessários à educação do futuro, se pauta
na complexidade, na interdisciplinaridade e na reforma do pensamento. Uma educação que não
seja conduzida pela fragmentação do conhecimento, mas que una as suas diversas dimensões
em detrimento de um pensamento redutor.
Os sete saberes apresentam enfoques importantes para essa educação do futuro. Sob a
perspectiva da complexidade de Morin temos:
i.) As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão – Morin aborda faces dos erros possíveis na
construção do conhecimento. Ressaltamos os erros mentais, segundo o qual a memória é fonte
de diversos equívocos; os erros intelectuais, segundo o qual o nosso sistema de ideias protege a
si próprio, às suas teorias, doutrinas e ideologias); e os erros da razão, segundo o qual o centro
está na atividade racional da mente e no embate entre racionalidade e racionalização, além das
cegueiras paradigmáticas, que refletem nos sujeitos conhecimentos, pensamentos e ações
segundo os paradigmas inscritos culturalmente no indivíduo.
ii.) Os princípios do conhecimento pertinente –elementos de destaque incorporam ainda mais a
perspectiva complexa: o contexto, que prioriza a contextualização como requisito fundamental
da eficiência cognitiva; o global, que relaciona as partes distintas com o todo e também considera
importante a recomposição do todo para o conhecimento das partes; o multidimensional, que
reconhece a sociedade e o ser humano como unidades complexas; e o complexo, que valoriza a
inseparável constituição do todo com suas diversas unidades múltiplas. Além disso, ressaltamos
o conceito de inteligência geral, que compreende a mobilização dos conhecimentos de conjunto
em função das especificidades, dinâmica extremamente importante para a potencialidade do
conhecimento.
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iii.) Ensinar a condição humana - enfatiza o ser humano em sua condição enraizada na natureza,
dando destaque para as condições cósmica (auto-organização viva no cosmos em expansão),
física (vida solar), terrestre (seres pertencentes à Terra), e humana (hominização e linguagem).
Ademais, mostra a unidualidade intrínseca do ser humano refletida nos aspectos biológico e
cultural. É importante mencionarmos que Morin também retrata três circuitos de grande
relevância para a discussão vigente, são eles: o circuito cérebro/mente/cultura, no qual a mente
humana é criada a partir do surgimento e afirmação da relação cérebro-cultura; o circuito
razão/afeto/pulsão, numa tríade indissociável e dotada de fragilidade, na qual a afetividade pode
influenciar positiva ou negativamente na racionalidade do sujeito; e o circuito
indivíduo/sociedade/espécie, que apresenta as interações entre os indivíduos como produtoras
da sociedade, que promovem o surgimento da cultura, e no qual os elementos principais do
circuito são todos, ao mesmo tempo, meio e fim.
iv.) Ensinar a identidade terrena - apresenta o planeta numa perspectiva de movimento destituído
de um centro que o organize. Destacamos aqui a noção de era planetária, que trata da
mundialização e também alerta sobre a importância da diversidade criadora da humanidade e
sua unidade geradora. Outrossim, Morin ressalta a identidade e a consciência terrena como
fundamentais para o reconhecimento do ser humano como pertencente da Terra e produto do
desenvolvimento da vida terrena, e, assim, o dever de promover a civilização e solidarização da
Terra.
v.) Enfrentar as incertezas - a discussão se baseia sobre a noção do futuro como aberto e
imprevisível, além da importância do enfrentamento do que é incerto. Salientamos a concepção
de incerteza histórica que expressa a história como um complexo dotado de antagonismos como,
por exemplo, a ordem e a desordem, além de não conceber evolução de maneira linear. Ademais,
alguns princípios existentes são apontados como, por exemplo, um princípio de incerteza
cérebro-mental, esse resulta do processo de tradução/reconstrução inerente a todo tipo de
conhecimento. No enfrentamento das incertezas, o autor mostra a ideia de ecologia da ação, na
qual são considerados os imprevistos e transformações que sofrem a ação e dessa forma
possibilitam ao indivíduo o escape das suas intencionalidades iniciais da ação, independente de
qual seja essa última. A ecologia da ação abrange três princípios: o circuito risco/precaução, uma
contradição necessária à sua própria união; o circuito fins/meios, afirmando que a pureza ou
impureza dos meios não configura certeza dos fins almejados; o circuito ação/contexto, no qual
o ato foge à intencionalidade de seu autor através da intervenção inter-retroativa do meio.
vi.) Ensinar a compreensão - Morin aborda a compreensão com um problema de polarização dupla,
na qual um extremo é o da compreensão entre humanos e o outro extremo é o das relações
ocorridas particularmente entre próximos. Ademais, afirma ainda a existência de duas
compreensões: a intelectual e intersubjetiva - a primeira corresponde à inteligibilidade e a
explicação, e a segunda ocorre para além da explicação. Nesse capítulo, ressaltamos também a
concepção de espírito redutor, que consiste na redução do conhecimento complexo a um de seus
componentes, impedindo assim a compreensão plena.
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vii.) A ética do gênero humano - percebe o gênero humano como complexo e composto pela tríade
inseparável indivíduo/sociedade/espécie. Esses elementos são considerados pelo autor como co-
produtores um do outro, e dão a si mesmos meio e fim. Além disso, menciona a antropo-ética
como essencial no surgimento da consciência e do espírito humano, sugerindo a consciência
pessoal para um alcance da humanidade em nós mesmos.
Como apresentado, os sete saberes de Morin trazem aspectos culturais, históricos e
filosóficos a serem trabalhados junto com o conteúdo em sala de aula. Acreditamos que a junção
da sua proposta com a de Gardner (1994) possa enriquecer a estimulação do conhecimento.
Relacionando as duas propostas
Nossa proposta é a de que as de Gardner (1994) e de Morin (2000) são complementares.
De um lado, está a proposta que chama atenção para uma avaliação qualitativa de diferentes
tipos de inteligência, de outro, a proposta que defende sete diferentes saberes para uma
educação excelente. Dessa maneira, nossa defesa é a de que as oito inteligências podem ser
trabalhadas em cada saber. No entanto, damos destaques para algumas relações como: i.) a dos
saberes Ensinar a condição humana e Ensinar a compreensão vinculados àsinteligências intra
e interpessoal; ii.) a do saber Ensinar a identificação terrena vinculado à inteligência
naturalista.
A seguir, apresentamos duas propostas de estimulação de inteligências múltiplas de
Antunes (1998) relacionadas com dois saberes de Morin (2000):
Quadro 1: vinculando duas inteligências múltiplas de Gardner aos dois saberes de Morin com base na proposta
de jogos de Antunes (1998).
ESTIMULAÇÃO DA INTELIGÊNCIA LINGUÍSTICA ESTIMULAÇÃO DA INTELIGÊNCIA MUSICAL
Atividade:
• Autódromo ao contrário
Preparação:
Reunião dos alunos em grupos
Escrita de um placar quadriculado no quadro.
Desenvolvimento:
Proposição das regras feita pelo(a) professor(a)
(Exemplo: para cada palavra, avanço de uma casa para o grupo que apresentar um
sinônimo ou um antônimo)
O(a) professor (a) diz palavras previamente selecionadas
O grupo ou um representante do grupo, por rodízio, apresenta a
resposta
Registro do placar no quadro durante a atividade.
Variações:
• Para cada palavra: apresentar feminino e masculino, singular e
plural, entre outros.
Objetivos:
• Estimular a inteligência linguística
• Trabalhar a percepção visual
• Desenvolver as habilidades gramaticais e de vocabulário
Atividade:
• Os sons do pátio
Preparação:
• Não há necessidade de recursos materiais
• Preparação dos alunos para a importância da atividade,
entendendo-a para além da brincadeira
Desenvolvimento:
• Saída dos alunos da sala de aula
• Condução feita pelo professor (a) dos alunos ao pátio
• Convite aos alunos à permanência em silêncio por alguns
instantes ( máximo: 30 segundos)
• Os alunos devem ser instruídos a anotarem mentalmente os
sons que ouvirem no pátio
• O professor deve anotar a diversidade
Variações:
• Escolha de outros locais previamente escolhidos para a
atividade
• Próximas etapas: treinar a direcionalidade do som, os
timbres e a intensidade.
Objetivos:
• Estimular a inteligência musical
• Trabalhar a identificação de fontes sonoras
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• Desenvolver a habilidade da percepção auditiva
Os sete saberes:
O segundo saber – Os princípios do conhecimento pertinente– relacionamos as duas atividades ao saber que traz o conceito de inteligência geral como fundamento para
a eficiência dos conhecimentos específicos. Nas atividades, os alunos irão utilizar tanto a sua inteligência geral quanto as suas percepções visual/auditiva, gramaticais,
verbais e espaciais para resolverem as situações específicas da linguística e da música.
O quinto saber – Enfrentar as incertezas– Relacionamos as duas atividades com esse saber, especialmente, no item que diz respeito a um princípio de incerteza. Nas
atividades, os discentes irão traduzir e reconstruir o conhecimento, processo o qual fará o discente lidar com as incertezas que ocorrem no treino das habilidades
almejadas, como também na provocação da atenção da criança, característica essencial na percepção do incerto para que haja o enfrentamento.
Considerações finais
Neste estudo, defendemos, mesmo que brevemente, que a proposta de Gardner das
inteligências múltiplas e a de Morin dos sete saberes podem ser conciliadas. A união é vantajosa
e enriquecedora, pois unimos achados a respeito dos diferentes tipos de inteligência com uma
proposta que visa um conhecimento interdisciplinar e transformador.
Referências
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Vozes, 1998.
GARDNER, H. Estruturas da mente: a teoria das inteligências múltiplas. Porto Alegre:
Artmed, 1994.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 2ª ed. São Paulo: Cortez;
Brasília, DF: UNESCO, 2000.
V SENAL | 63 | UESB/2018
UM ESTUDO SOCIOINTERACIONAL SOBRE O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO
DA COMPREENSÃO LEITORA EM UMA TURMA DO 8º ANO DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Edivanda Trindade Damasceno19
Ester Maria de Figueiredo Souza20
Lucas Santos Campos21
Resumo: Diante do cenário apresentado pelas avaliações nacionais, no que diz respeito à proficiência leitora
apresentada pelos discentes da educação básica, esta pesquisa objetivou investigar as estratégias que estão sendo
utilizadas pelos professores de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental II no trabalho para ampliação da
compreensão leitora, como as atividades de leitura têm sido potencializadas no ambiente escolar. Como aporte
teórico este estudo deixou-se envolver pelos estudos sociointeracionistas de Vigotsky, pelas concepções de leitura
e formação do leitor de Soares e Kleiman e pela teoria dialógica da linguagem de Bakhtin. Os dados analisados
foram coletados em uma escola pública da rede estadual de ensino do município de Vitória da Conquista e a
intervenção foi realizada em uma turma do 8º ano do ensino fundamental na mesma escola. Como proposta
interventiva, foi apresentada a sequência didática planejada a partir das indicações de Dolz e Schneuwly com foco
na pausa protocolada como estratégia de leitura. No decorrer da análise dos instrumentos aplicados por esta
pesquisa, observou-se que as atividades de leitura desenvolvidas na sala de aula são quase sempre pretexto para as
atividades de escrita e não oferecem espaço para a fala do aluno, para os exercícios de dialogicidade e que não
existe uma metodologia voltada para o ensino de leitura. Nesse sentido, o trabalho através da oferta de andaimes,
ações planejadas de ensino, onde são disponibilizadas ao educando o máximo possível de assistências no momento
da construção de aprendizagens, estabelecidas pela teoria de andaimagem se apresenta como uma proposta
eficiente no desenvolvimento das atividades de leitura a partir de ações interativas e dialógicas22.
Palavras-chave: Andaimagem; Compreensão leitora; Interação; Leitura.
Introdução
Os dados apresentados pela Prova Brasil e pelo Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Básica (Saeb) revelam que os níveis de proficiência de leitura e de interpretação de
textos dos estudantes matriculados na educação básica se encontram abaixo do esperado.
Nas análises e reflexões realizadas acerca dos problemas de leitura dos alunos raramente
são avaliadas as metodologias aplicadas, as estratégias de ensino empreendidas, os
desdobramentos pedagógicos, os encaminhamentos previstos no planejamento da área e os
saberes docentes que devem integrar a formação do professor.
19Mestra em Letras, UESB, Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. ([email protected]) 20Pós-Doutora em Linguística, Professora Plena - UESB, Vitória da Conquista, Bahia, Brasil.
([email protected]) 21Pós-Doutor, Professor Pleno – UESB, Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. ([email protected]) 22 Trabalho apresentado para obtenção do título de Mestra pelo PROFLETRAS/UESB- 2015.
V SENAL | 64 | UESB/2018
Nesse contexto, algumas questões se apresentam no intuito de compreender os motivos
pelos quais a escola não tem conseguido articular e promover o desenvolvimento das atividades
de leitura de forma eficiente. Dentre as hipóteses levantadas por esta pesquisa destacam-se os
objetivos e/ou a falta de objetivos dados às atividades de leitura, pois os alunos não leem
livremente, não são orientados para essas atividades, não fazem análises a partir do trabalho
com os gêneros, mas fazem redações, resumem textos, identificam personagens, respondem
questões de interpretação etc.
Outras possibilidades estudadas para explicar a ineficiência do trabalho de leitura nas
escolas dizem respeito à disciplinarização das atividades de leitura, onde apenas os professores
de Língua Portuguesa se preocupam em desenvolver tal competência e a ausência da
compreensão de que o processo de ensino da leitura não se encerra na etapa da decodificação,
mas que o aprimoramento de tal habilidade ocorre durante todo o percurso da educação básica
e por isso as estratégias de aperfeiçoamento do processo de leitura, interpretação e compreensão
de textos e o estudo sistematizado dos mais diversos gêneros devem ser disponibilizadas a todo
tempo objetivando a formação do leitor competente.
Este trabalho pretendeu discutir as estratégias empregadas no ambiente de sala de aula
com vistas ao desenvolvimento da compreensão leitora, analisar as estratégias que estão sendo
utilizadas pelos professores a fim de garantir este objetivo, perceber como as atividades de
leitura têm sido potencializadas no ambiente escolar para garantir uma prática articulada,
eficiente e capaz de dar conta da interpretação e compreensão e propor as estratégias capazes
de redimensionar a prática pedagógica com vistas ao desenvolvimento desta habilidade.
Numa perspectiva sociointeracionista, enfatizando a importância dos processos
interativos e discursivos na construção das aprendizagens significativas, esta pesquisa
apresentou como proposta interventiva a atividade pausa protocolada planejada a partir dos
pressupostos apresentados pela teoria de andaimagem que se sustenta nos processos de
mediação e na oferta de andaimes no momento do desenvolvimento das atividades cognitivas.
As concepções teóricas que fundamentaram a pesquisa se ampararam nas concepções
de aquisição de leitura, letramento e formação do leitor a partir dos escritos de Kleiman (2008)
e Soares (2004); a formação de leitores e as estratégias de andaimagem a partir dos pressupostos
de Bortoni-Ricardo (2012); a perspectiva sócio-histórica do conhecimento e a mediação como
necessidade intrínseca ao processo de construção dos saberes, estudos estes desenvolvidos por
Vigotsky (1998, 2008) e a visão sociointeracionista da linguagem foi considerada respeitando
os pressupostos de Bakhtin (2003, 2006).
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Metodologia
A pesquisa foi desenvolvida em uma instituição da Rede Estadual de ensino do
Município de Vitória da Conquista, Bahia no período de agosto a dezembro de 2014. Estão
compreendidos neste período momentos de observação, análises de documentos e aplicação da
proposta didática numa turma do 8º ano do ensino fundamental.
Os caminhos metodológicos da pesquisa apresentaram a pesquisa etnográfica como
lógica da investigação. O próprio objeto da pesquisa, a sala de aula e os fazeres pedagógicos
que nela são desenvolvidos, motivou a escolha de tal metodologia. Tal caminho foi adotado por
compreender que este tipo de pesquisa, quando voltado para o estudo do cotidiano escolar,
contribui para repensar e reconstruir o espaço da escola.
Os instrumentos de produção de dados utilizados foram a análise dos documentos que
orientam o planejamento pedagógico, observação participante, a entrevista com docente e a
sequência didática aplicada como intervenção, sequência esta elaborada a partir das teorias de
Dolz e Schneuwly (2011), da discursividade nos gêneros textuais e dos multiletramentos Rojo
(2012).
Resultados e discussões
A pausa protocolada foi a estratégia escolhida para exemplificar o trabalho a partir da
oferta de andaimes sugerida pela teoria de andaimagem. O professor, por meio de uma série de
perguntas, provoca o estudante a fazer previsões e checá-las; a articular o repertório prévio –
aquilo que já sabe – com as informações do texto; a compreender e refletir sobre o que foi lido.
Assim, com a aplicação da pausa protocolada, numa ação dialógica e interativa a partir de
perguntas, da oferta de pistas sobre o texto, são construídos os andaimes que favorecem aos
alunos alcançarem a compreensão do material lido e avançarem no desenvolvimento das outras
leituras planejadas.
Segundo Solé (1998, p.23), “o leitor precisa envolver-se em um processo de previsão e
inferência contínua, e em um processo que permita encontrar evidências ou rejeitar as previsões
e inferências antes mencionadas.” Por isso, a função do professor no momento da leitura deve
ser a de fornecer instruções para que os próprios leitores cheguem ao entendimento dos textos.
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A compreensão leitora deve ser vista como uma construção ativa por parte do aluno
tendo o professor como mediador desse processo. A mediação atua para que as lacunas do texto
sejam preenchidas. Assim, a leitura a partir da técnica apresentada provoca o aluno a fazer
inferências, verificá-las e/ou descartá-las; a articular o conhecimento prévio – aquilo que já sabe
– com as informações do texto; a compreender e refletir sobre o que foi lido desvendando as
diversas camadas do texto, ampliando assim a compreensão do sentido.
A partir do momento em que o professor vai apresentando partes do texto, obedecendo
a uma sequência crescente, o aluno vai fazendo suas construções e suas previsões a partir das
pistas que o professor vai oferecendo. Para isso ele deve compreender o que foi lido e fazer
projeções a partir do que pode vir a acontecer. Quanto mais se avança no texto mais elementos
devem ser recapitulados e considerados para que se avance na compreensão do texto.
O planejamento dessa ação interventiva se amparou no pressuposto de ser a leitura uma
construção ativa do aluno tendo o professor como mediador desse processo, assim, quando o
professor faz a leitura pausadamente e faz perguntas sobre essa leitura levando os alunos a
realizarem previsões e checar hipóteses, ele está na verdade oferecendo andaimes para que estes
atinjam os pontos mais elevados na compreensão do texto.
No desenvolvimento da atividade, a pausa protocolada se apresentou como uma
importante estratégia para as aulas de leitura, pois estas devem ser planejadas com vistas a
formação de um leitor que consiga decodificar de forma rápida e autônoma, que dê sentido a
leitura utilizando seu conhecimento prévio, que seja capaz de supervisionar sua compreensão
enquanto lê, que consiga levantar hipóteses acerca do material lido, checá-las, descartá-las ou
ratificá-las e que consiga manter um profundo diálogo com o material lido.
Considerações finais
Dentre os vários desafios que se apresentam no contexto escolar existe uma
compreensão entre os envolvidos no processo da urgente necessidade de que os fazeres
pedagógicos sejam revistos e ressignificados com vistas à formação do leitor competente.
No redimensionamento das práticas até então efetivadas pela escola é necessário que a
instituição compreenda que a leitura é uma prática social, portanto um instrumento de
comunicação e de ação dialógica e que o seu ensino só terá sentido quando estiver amparada
numa perspectiva sócio - discursiva que a compreenda dentro de um processo interacional,
uma atividade capaz de gerar sentidos e de produzir conhecimentos a partir de um constante
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diálogo que deve ser estabelecido entre o texto e o leitor, entre leitor e leitor e entre texto
econtexto.
No processo de reconstrução dessas práticas é de fundamental relevância reconhecer a
sala de aula como um espaço mediado e determinado pela linguagem., pois esta é mediação por
excelência e a sala de aula deve ser compreendida como uma arena discursiva, um contexto que
deve ser sustentado por uma mediação clara, precisa e respeitosa, que parta da dialogicidade e
da interação entre os envolvidos no processo e não por práticas monológicas, mecânicas e
unidirecionadas.
No planejamento das atividades de leitura é importante compreender que o
conhecimento só se torna produtivo, significativo, na medida em que se é edificado em grupo
e colocado a serviço de todos e que o domínio eficiente desta habilidade está intrinsecamente
ligado ao empoderamento, a conquista da autonomia e a emancipação dos sujeitos.
Referências
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V SENAL | 69 | UESB/2018
SIMPÓSIO TEMÁTICO 2: SEMÂNTICA E LIVROS DIDÁTICOS
COORDENAÇÃO: ADILSON VENTURA
DIFUNDINDO PRECONCEITO: TRATAMENTO DA DIVERSIDADE
LINGUÍSTICA NO LIVRO DIDÁTICO
Karina Mendonça Miranda23
Carmen Leila Costa Giraldi24
Jariana de Jesus Santos25
Resumo: Esse artigo tem a finalidade de apresentar a discussão das variedades linguísticas presentes no livro
didático. Para isso, utilizamos os conhecimentos advindos da Sociolinguística sobre variação linguística, bem
como os estudos que os autores: Bagno (2002) e (2007), Bortoni-Ricardo (2005), Mattos e Silva (2004),
apresentam sobre essas variedades no ensino/aprendizagem de língua portuguesa no Livro Didático, analisamos
fragmentos do livro “Projeto Buriti – Componente curricular: Língua Portuguesa” da editora responsável Marisa
Martins Sanchez (2011) pertencente ao Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) do 4º ano do ensino
fundamental de escola pública, e discorremos sobre o tratamento à variedade linguística trazido no LD. Por
intermédio das análises desses fragmentos, verificamos que o LD cita superficialmente o conceito das variedades,
mas, apresenta limitações relacionadas ao seu tratamento. Uma vez que favorece uma variedade e desfavorece a
outra, estabelecendo o paradigma entre o “certo” e o “errado”, criando o preconceito linguístico.
Palavras-Chave:Livro Didático; Sociolinguística; Variedades Linguísticas; Preconceito Linguístico.
Resumen: Este artículo tiene el propósito de presentar la discusión de las variedades lingüísticas presentes en el
libro didáctico. Para ello, utilizamos los conocimientos provenientes de la Sociolingüística sobre variación
lingüística, así como los estudios que los autores: Bagno (2002) y (2007), Bortoni-Ricardo (2005), Mattos e Silva
(2004), presentes en estas variedades ensenãnza / aprendizaje de lengua portuguesa en el libro de texto, análisis
de fragmentos del libro "Buriti Proyecto - Componente curricular: Lengua Portuguesa" con el editor responsable
Marisa Martins Sánchez (2011) perteneciente al Programa Nacional del Libro de Texto (PNLT) del 4º año de la
enseñanza primaria de la escuela pública, y hablamos sobre el tratamiento a la variedad lingüística traído en el
LD. Por intermedio de los análisis de esos fragmentos, verificamos que el LD cita superficialmente el concepto
de las variedades, pero, presenta limitaciones relacionadas a su tratamiento. Una vez que favorece una variedad
y desfavorece a la otra, estableciendo el paradigma entre lo "correcto" y lo "erróneo", creando el prejuicio
lingüístico.
Palabras Clave: Libro Didáctico; sociolingüística; Variedades lingüísticas; Preconcepto lingüístico.
Introdução
23Discente do V semestre de Letras na Universidade do Estado da Bahia – Campus XVIII; Eunápolis-BA, Brasil;
e-mail: [email protected] 24Discente do V semestre de Letras na Universidade do Estado da Bahia – Campus XVIII; Eunápolis-BA, Brasil;
e-mail: [email protected] 25Discente do V semestre de Letras na Universidade do Estado da Bahia – Campus XVIII; Eunápolis-BA, Brasil;
e-mail: [email protected]
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Compreender a Sociolinguística como ciência que estuda a língua falada, observada,
descrita e examinada em seu âmbito social, nos possibilita o reconhecimento da existência dessa
heterogeneidade da língua. A partir dos estudos sociológicos entendemos que a homogeneidade
é sistêmica e que a língua em uso é heterogênea, esta heterogeneidade identifica o falante em
seus aspectos sociais, culturais e políticos. Sob a tutela de uma pesquisa observa-se que o ensino
da língua materna persiste em manter a ideologia de uma língua homogênea relacionada a
norma padrão. A transformação dessa ideologia inicia a partir da conscientização na educação
da nação brasileira. Nesta questão, a instituição de ensino tem a função primordial de assumir
uma atitude realista perante essa diversidade e revisar o ensino preconceituoso da língua
portuguesa, além de propagar novas pesquisas acerca da diversidade multilinguística de nossa
sociedade.
A metodologia se insere na abordagem qualitativa e bibliográfica. Utilizando
conhecimentos advindos da Sociolinguística sobre variação linguística, bem como os estudos
que os autores: Bagno (2002) e (2007), Bortoni-Ricardo (2005),Mattos e Silva (2004),
apresentam sobre essas variedades no ensino/aprendizagem de língua portuguesa no Livro
Didático (LD), analisamos fragmentos do livro “Projeto Buriti – Componente curricular:
Língua Portuguesa” da editora responsável Marisa Martins Sanchez (2011) pertencente ao
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) do 4º ano do ensino fundamental de escola
pública, e discorremos sobre o tratamento à variedade linguística trazido no LD.
Livro Didático
O Livro Didático foi incorporado à escola no Brasilcom a Legislação criada em 1938,
pelo Decreto-Lei n. 1006. Para Lorenset e Casal (2017), por ser considerado um documento
ideológico e político, assumiu o lugar de grande relevância para a educação. Nas cartilhas
escolares vinham estabelecidas leituras e normas a serem aplicadas pelo professor aos alunos.
A função do professor era repassar o conteúdo a criança, assim, o livro didático começou a ser
usado em favor das ideias e discursos que eram estabelecidos na sociedade, com o objetivo de
padronizar, controlar e levar o conhecimento a todos.
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Tradição Gramatical Normativo-Prescritiva e Sociolinguística
A Tradição Gramatical Normativo-Prescritiva (TGNP) surgiu a partir da compreensão da
unidade linguística do grego. Para Mattos e Silva (2004), apesar de a diversidade existir, a
TGNP foi desenvolvida para fixação da língua como um “estado de pureza”, permitindo os
estudos dos escritos clássicos grego, para posteriormente servirem de modelo. A visão
hegemônica da língua se propagou por mais de vinte séculos, estabelecendo a TGNP como
“correta”, desconsiderando as variantes faladas. Observa-se que sob esta visão hegemônica da
língua a construção do LD se pauta, com a finalidade de manutenção de usos linguísticos, sem
observância das diversidades próprias das sociedades e culturas que fazem uso desta.
Segundo Bortoni-Ricardo (2005), a evolução de pesquisas e observações instituiu um dos
avanços a partir da conceituação de língua, “como um sistema intrinsecamente heterogêneo”
(p. 114), advindo dos estudos de William Labov denominado de Sociolinguística, associados a
diversidade de uso da língua, aos fatores intra e extralinguísticos, alicerçados nos fatores
estruturais e sociais, como a classe social, sexo, idade, etnia, escolaridade e estilo de cada
indivíduo. A Sociolinguística contemporânea, com base nas orientações labovianas, acredita
que qualquer mudança diacrônica implica em variação sincrônica, onde a mudança pelo recurso
utilizado do “tempo aparente” pode ser analisada na sua complexidade.
Análise de dados
Tais fragmentos estão concentrados na página 90 nos exercícios de grámatica trazendo
por título “Para falar e escrever melhor”, que nos possibilita questionar como a variação
linguística é apresentada no ensino/aprendizagem de língua portuguesa no LD.
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Fragmento 1 – Atividade 1 - SANCHEZ, M. M. Projeto Buriti: Português(2011, p. 90).
Ao tentar abordar o tema Variedades da Língua, o LD apresenta uma tirinha em
quadrinhos (fragmento 1) com os personagens Chico Bento e seu primo Zé Lelé, dialogando
entre si. Com base nesse diálogo, se iniciam as observações de variedade linguística
comparando o texto original com uma possível reeleitura elaborada pelo aluno e fundamentada
na norma padrão, aqui mencionada como sendo do jeito que você aprende na escola. Mais
adiante, o LD incita o aluno através do processo de comparação do texto original com o seu
texto, a decidir qual variedade é mais expressiva. Observamos como é comum a ocorrência de
problemas no trato das variações linguísticas no ensino da língua portuguesa, tomando como
base o conceito do “certo” e do “errado”, estabelecendo por este viés o estigma do preconceito
linguístico.
Percebemos no tratamento dado pelo LD, a intenção ou preocupação em determinar uma
norma de prestígio, criando uma perspectiva de “certo” e “errado”, a partir de uma relação
hegemônica da língua, desconsiderando a heterogeneidade presente no português brasileiro,
principalmente quando levamos em consideração o fato de que “a língua é essencialmente
heterogênea, variante e mutante” (BAGNO, 2007, p. 130).
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Fragmento 2 – Conceitos - SANCHEZ, M. M. Projeto Buriti: Português (2011, p. 90).
No fragmento apresentado, os conceitos de variedade da língua destacam que não existe
nenhuma variedade errada, pois todos promovem a comunicação. Contudo, o LD valora a
norma urbana de prestígio que aqui é comparável à norma culta, e considerada a norma mais
usada e prestigiada na escola, em detrimento das outras variedades existentes na língua. A partir
desta proposição o LD fragmenta e hierarquiza as variedades linguísticas dando início ao que
podemos chamar de preconceito linguístico.
Conforme os estudos de Bagno (2002), o preconceito linguístico costuma ser sustentado
pelas classes dominantes, afirma que os meios comunicacionais quase sempre estão a serviço
delas, como por exemplo, os jornais, rádios e a rede televisiva, que são também sustentados
pelos meios tradicionais de ensino da língua materna, como é o caso da gramática normativa,
caracterizada como aquela que dita o que é “certo” e “errado”, tais representações são
encontradas até mesmo nos livros didáticos. A discussão apresentada pelo autor desmitifica o
ideal de homogeneidade, contudo nos chama atenção de como o preconceito linguístico se
estrutura sob bases oficiais.
Conclusão
Conforme os estudos que ora realizamos, foi possível constatar que o LD estabelece
responsabilidade de natureza social e política, podendo, contudo, ser considerada uma questão
complexa que, segundo Bagno (2007), em relação à postura do LD, no que tange a sua
superficialidade nas abordagens linguísticas, limitando-se apenas a aspectos como o sotaque e
o léxico, sem aprofundamentos mais importantes que identificam o sujeito falante, em suas
diversidades sociais e culturais.
Contudo, torna-se válido ressaltar que existem tentativas positivas, com o objetivo de
mudar essa realidade, como o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), porém, “o
tratamento da variação linguística nos livros didáticos continua sendo um tanto problemático”
(BAGNO, 2007, p. 119), já que os conteúdos presentes no LD continuam a tratar do “certo” e
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do “errado”, quando favorece a variedade denominadacomo norma urbana de prestígio(padrão
e formal) e desfavorece asoutras variedades da língua (informal/coloquial). O termo
preconceito já constitui em sua enunciação a relação de preestabelecer julgamento antes de
conhecer.
Referências
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V SENAL | 75 | UESB/2018
HUMOR, LIVRO DIDÁTICO E ALFABETIZAÇÃO: UMA ANÁLISE SEMÂNTICA
Poliana Miranda Sampaio Almeida26
Resumo: Buscou-se analisar, neste trabalho, como o texto humorístico piada, presente em um livro didático de
alfabetização, contribui para a compreensão do funcionamento da linguagem ou se ele foi empregado apenas como
pretexto para aferir questões gramaticais. Optou-se por analisar a piada em um livro didático de Língua Portuguesa
da alfabetização, por reconhecer que ele é uma importante ferramenta no processo ensino-aprendizagem já que é
muito utilizado pelo professor em sala de aula. Definiu-se, então, como aporte teórico a Semântica do
Acontecimento, proposta por Eduardo Guimarães (2002), que compreende que os sentidos se constituem na
enunciação, no acontecimento do dizer. Definida a base teórica, utilizou-se para a análise os procedimentos
enunciativos de produção de sentido – a reescrituração e a articulação – e a construção de um DSD (Domínio
Semântico de Determinação). Além disso, por se tratar do Manual do Professor, considerou-se também, para a
análise, as orientações e as respostas propostas para as questões (já que a piada encontra-se em um exercício) pelas
autoras do livro didático. Palavras-chave: Alfabetização; Livro didático; Piada; Humor; Sentido e acontecimento.
Introdução
“Interpretar é atribuir sentidos a um texto” (GUIMARÃES, 2011, p. 44), considerando-
se o “funcionamento da linguagem pensando nas condições em que os acontecimentos
enunciativos se produzem” (GUIMARÃES, 2011, p. 45). Pensando-se nisso, pretende-se neste
trabalho analisar como o texto humorístico (piada), presente em um livro didático de
alfabetização, contribui para a compreensão do funcionamento da linguagem ou se ele foi
empregado apenas como pretexto para aferir questões gramaticais.
O texto humorístico (piada) foi escolhido como objeto de estudo para este trabalho
devido a “sua enorme presença e disseminação em todas as áreas da vida humana, com funções
que ultrapassam o simples fazer rir” (TRAVAGLIA, 1990, p. 55), podendo, pois, ser uma
importante ferramenta no processo de ensino-aprendizagem da língua. Note que Travaglia
(1990) diz que o humor, apesar de ser associado ao riso, “ultrapassa” o fazer rir; ele é visto
como uma “arma de denúncia”, “uma forma de revelar e de flagrar outras possibilidades de
visão do mundo” (TRAVAGLIA, 1990, p. 55). Considerando-se isso, pretende-se observar
ainda qual o papel do humor dentro deste livro didático: arma de denúncia ou instrumento para
provocar o riso?
26Mestra em Linguística pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGLin) da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia, campus de Vitória da Conquista; Professora do Colégio Estadual Professor Alexandre Leal
Costa; Barreiras, Bahia, Brasil; e-mail: [email protected].
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Além disso, sabe-se que é (ou, pelo menos, deveria ser) na alfabetização que se inicia o
estudo sistemático da língua, sendo o livro didático o recurso mais utilizado pelo professor na
sala de aula em escolas públicas. Daí a importância de se analisar a piada em um livro didático
de Língua Portuguesa da alfabetização.
Material e métodos
A piada analisada neste trabalho aparece em um material de divulgação da Editora SM,
PNLD – 2019, no volume 1 (referente à alfabetização), do livro didático “Aprender Juntos –
Língua Portuguesa”, das autoras Cínthia Cardoso de Siqueira, Denise Guilherme Viotto,
Elizabeth Gavioli de Oliveira Silva e Márcia Cristina Abromovick.
Adotou-se a Semântica do Acontecimento, proposta por Eduardo Guimarães, como
pressuposto teórico para embasar esta pesquisa. De acordo com esta teoria, o texto deve ser
tomado como objeto de análise de funcionamentos de expressões linguísticas, isto porque,
segundo Guimarães (2011, p. 40), “o sentido das expressões linguísticas tem a ver com os textos
em que estão”. Desse modo, para se analisar a piada neste trabalho, foram utilizados os
procedimentos enunciativos de produção de sentido – a reescrituração e a articulação – e a
construção de um DSD (Domínio Semântico de Determinação), adotados pela Semântica do
Acontecimento.
De forma breve, é possível dizer que a reescrituração é entendida como uma expressão
reporta a outra, redizando o “já dito”, mas atribuindo algo ao reescriturado; já a articulação é
responsável por estabelecer as relações semânticas entre os elementos linguísticos dentro do
texto. A partir disso, constrói-se um DSD (Domínio Semântico de Determinação),
demonstrando quais palavras determinam os sentidos dentro do texto.
Considerando-se ainda que dentro da Semântica do Acontecimento, o sentido da
linguagem localiza-se no estudo da enunciação, entendida como um acontecimento, que
instaura a própria temporalidade, o memorável (rememoração de enunciações) e a futuridade
(possibilidades de interpretação do enunciado) também serão observados.
Convém lembrar ainda que, por se tratar de um livro didático que é o Manual do
Professor, as respostas propostas para as questões assim como as orientações das autoras deste
livro direcionadas ao professor também serão levadas em consideração nesta análise.
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Resultados e discussões
A piada analisada neste estudo aparece em um exercício do livro didático, no capítulo
5, intitulado “Pura Diversão”. Nesse acontecimento, “Pura Diversão” determina o sentido de
humor, visto que este é empregado como sinônimo de “anedota ou piada” e aparece articulado
a “provocar riso e divertir as pessoas”.
Ainda convém ressaltar que a piada em questão encontra-se em uma subseção que
recebe o nome “Navegar na leitura”. É possível compreender por essa expressão que a piada
será empregada com o intuito de se analisar os sentidos do texto. Nesse acontecimento,
“Navegar na leitura” traz o memorável de que a atividade proposta será de “interpretação de
texto”.
As autoras do livro didático apresentam também o objetivo para o estudo da referida
piada. Segundo elas,
Nesta seção são sugeridas atividades que promovam o trabalho com o gênero textual
anedota ou piada. Presentes em diversas culturas, as anedotas têm como objetivo
provocar o riso no leitor/ouvinte, rompendo com suas expectativas e, na maioria das
vezes, apresentando um final surpreendente e bem-humorado. Os alunos são
convidados a ler e a conversar sobre uma anedota, buscando interpretá-la e também
identificar algumas de suas características. (SIQUEIRA; VIOTTO; SILVA &
ABROMOVICK, 2017, p. 132, grifos nossos).
Considerando-se o objetivo dessa atividade, pode-se dizer que ler e compreender uma
piada traz o sentido de que “Navegar na leitura” é algo prazeroso. E esse sentido será reforçado
ao se analisar a piada.
Antes da leitura do texto, as autoras do livro didático propõem duas questões:
Você já ouviu alguém contar uma anedota ou piada? Se souber alguma, conte
aos colegas.
A anedota que o professor vai ler a seguir é sobre um bicho de estimação
bem diferente. Que bicho você imagina que é? (SIQUEIRA; VIOTTO;
SILVA & ABROMOVICK, 2017, p. 132)
As questões acima propõem uma reflexão e a interação dos alunos antes da leitura da
piada. Faz-se necessário ressaltar que a piada aí é tratada por “anedota”. Entretanto, no decorrer
deste trabalho, será empregado o termo piada para se referir ao texto em estudo.
A piada traz a história de um sujeito que vivia sozinho e decidiu que teria um
animalzinho de estimação, mas não seria um animal comum, ele preferiu uma centopeia. Nesse
acontecimento, “sujeito” aparece articulado a “vivia sozinho” e a “sua vida seria melhor se
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tivesse um animalzinho de estimação” e isso traz o sentido de que o bicho de estimação
determinaria a felicidade do sujeito; já “bicho de estimação” é reescriturado por “animalzinho
de estimação, bichinho incomum, centopeia, bicho pequeno, nova companhia, nova amiguinha
e pequena amiga” e essas reescriturações trazem os sentidos de fragilidade e afetividade.
O efeito de humor desta piada ocorre no final do texto, na fala da centopeia: “Ei, não
precisa gritar tanto! Eu ouvi desde a primeira vez. Estou calçando os sapatos”. Isso ocorre
porque o sujeito perguntou duas vezes à centopeia se ela gostaria de ir à lanchonete, mas ela
não respondeu. Por conta disso, na terceira vez ele gritou. A associação do grito do sujeito à
resposta da centopeia traz o humor para o texto, isso porque a resposta da centopeia traz o
sentido de que ela não é surda (daí não ser necessário gritar), mas ela tem “muitos pés” e, por
isso, demora para calçar os sapatos.
É importante observar que a piada em questão não traz estereótipo, apenas uma
historinha infantil27 com um final inesperado (final inesperado ┤humor ...... riso / diversão). É
possível, pois, dizer que “Navegar na leitura” do texto humorístico piada proporciona prazer,
já que a piada, nesse acontecimento, é determinada por humor e este aparece numa relação
sinonímica com riso / diversão.
O livro didático traz ainda 12 questões (algumas objetivas e outras subjetivas) sobre a
piada. Tanto as questões objetivas quanto as subjetivas foram empregadas com o intuito de
“compreender” o sentido do texto. Nota-se, entretanto, que as autoras deste livro direcionam
para as “respostas corretas”; apenas três questões subjetivas proporcionam ao aluno uma
“resposta pessoal”.
Apesar disso, é possível dizer que, diferentemente do que se observou em Almeida
(2018), esse livro didático de Língua Portuguesa utiliza a piada com o objetivo de se interpretar
o sentido do texto. Almeida (2018) analisou piadas e tiras cômicas presentes em três livros
didáticos de Língua Portuguesa, utilizados no Ensino Médio, e constatou que estes textos
humorísticos são empregados, na maioria das vezes, com o propósito de se aferir conhecimentos
gramaticais. Pouco se explora os sentidos destes textos, deixando de promover uma reflexão
crítica sobre os mesmos. Nesse trabalho, constatou-se que as piadas foram empregadas apenas
como “pano de fundo” para as questões gramaticais (gramática normativa).
Desse modo, é possível dizer que o livro didático de Língua Portuguesa, utilizado no 1º
ano do Ensino Fundamental (correspondente à alfabetização), ao empregar o texto humorístico
27O título da obra de onde foi retirada esta piada é “O melhor do proibido para maiores”, logo, subentende-se que
o texto é direcionado para crianças.
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piada, possibilita (ainda que as respostas para algumas questões sejam direcionadas) um estudo
sobre o funcionamento da linguagem.
Conclusões
Este trabalho teve por objetivo investigar como o texto humorístico piada, presente em
um livro didático de Língua Portuguesa da alfabetização, contribui para a compreensão do
funcionamento da linguagem ou se ele foi empregado apenas como pretexto para aferir questões
gramaticais. Pôde-se observar na análise aqui feita que a piada é vista como sinônimo de humor,
provocando riso. Não é à toa que ela se encontra em um capítulo intitulado “Pura Diversão”.
Isso reforça o sentido que se tem construído acerca dos textos humorísticos (textos humorísticos
....... riso).
Notou-se, ainda, que a utilização da piada neste livro didático de Língua Portuguesa da
alfabetização foi uma estratégia para despertar o interesse dos alunos para a leitura e a
interpretação do texto, visto que as autoras deste livro didático compreendem que “Navegar na
leitura” de uma piada é algo prazeroso, pois a piada tem, segundo as mesmas, o objetivo de
“provocar o riso no leitor/ouvinte, rompendo com expectativas”.
Foi possível observar também que a piada em estudo não traz estereótipo, característica
comum deste gênero humorístico; ela explora a ludicidade, surpreende o leitor através da quebra
de expectativa no final do texto. As autoras deste livro didático escolheram esta piada,
provavelmente, por o livro ser direcionado para crianças em fase de alfabetização, sendo o
lúdico, o engraçado mais fácil para atingir este público alvo. Isso reforça o sentido de que ler e
interpretar um texto deve ser uma atividade prazerosa.
Pôde-se observar neste trabalho que as autoras do livro didático em estudo utilizaram a
piada como pretexto não para aferir conhecimentos gramaticais, mas com o propósito de
explorar os sentidos do texto. Embora tenha sido observado que a maioria das questões da
atividade de interpretação de texto direciona para uma “resposta correta”, notou-se que a
proposta das autoras foi a de compreender o sentido do texto.
Referências
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lúdica dos sujeitos ou disseminação e propagação de preconceitos? 2018. 113 f. Dissertação
V SENAL | 80 | UESB/2018
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V SENAL | 81 | UESB/2018
IMPLICAÇÕES SEMÂNTICAS DA PALAVRA LEREM LIVRO DIDÁTICO
Lívia Cristina de Souza Sigliani28
Érica Costa Rêgo29
Adilson Ventura30
Resumo: Este trabalho apresenta uma análise de sentidos da palavra ler em um livro didático de língua portuguesa.
A análise é construída a partir dos pressupostos da Semântica do Acontecimento. A hipótese é a de que ler
signifique um exercício voltado apenas para o conteúdo do próprio texto. A conclusão é a de que, mesmo se
propondo a oferecer mecanismos que façam do ato de ler algo que extrapole a leitura do texto pelo texto, ler no
livro didático é ler uma ordem lógica de palavras, o que faz com que, no livro, ler sustente sentidos diferentes de
ler.
Palavras-Chave: Livro didático. Ler. Semântica do Acontecimento. Sentidos. Leitura.
Semantic implications of the word read in a textbook
Abstract: This work presents an analysis of meanings of the word read in a Portuguese language textbook. The
analysis is constructed from the assumptions of Semantics of the Event. The hypothesis is that reading means an
exercise focused only on the content of the text itself. The conclusion is that even proposing to offer mechanisms
that make reading something that extrapolates the text through the text, reading in the textbook is reading a logical
order of words, which means that in the book, read hold different directions of reading.
Keywords: Textbook. Read. Semantics of the Event. Senses. Reading.
Introdução
O livro didático, além de elemento balizador para o planejamento e realização de
diversas atividades em sala de aula, é um recurso bastante utilizado para fomentar a prática da
leitura. Dada a importância dessa materialidade para a formação de leitores, nossa questão é: o
que é leitura no livro didático de Língua Portuguesa? A partir desse questionamento, temos
como objetivo analisar os sentidos da palavra leitura no livro didático, pois partimos da hipótese
de que leitura nessa materialidade é marcada como um exercício meramente conteudístico.
Materiais e Métodos
A fim de realizarmos a análise, optamos por selecionar excertos do livro “Português:
Linguagens, 8º ano (edição do professor)” dos autores William Roberto Cereja e Thereza
Cochar Magalhães, livro de grande distribuição pelo PNLD (Programa Nacional do Livro
Didático) 2017, nas turmas do ensino fundamental das escolas públicas do país, segundo dados
28Mestranda em linguística. UESB/PPGLIN/CAPES. Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. [email protected] 29Graduanda em Letras. UESB. Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. [email protected] 30Doutor em Línguistica. UESB. Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. [email protected]
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do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). Sobre os excertos do livro
didático referido, primeiramente selecionamos o tópico Ler é da seção Manual do Professor,
parte instrucional do livro. Na respectiva seção, são explicitados os propósitos da leitura citados
em tópicos da composição do livro: Ler é um prazer, Ler é emoção, Ler é descoberta, Ler é
diversão e Ler é reflexão. Para o estudo, fizemos um recorte, selecionando, além dessa parte
instrucional, os tópicos Ler é um prazer, Ler é diversão e Ler é reflexão. O corpus foi recortado
dessa maneira por apenas esses três tópicos estarem presentes no volume avaliado.
A Semântica do Acontecimento,proposta por Eduardo Guimarães (2002, 2007, 2009),
possibilita observar o funcionamento dos sentidos nos enunciados, os quais são concebidos
enquanto integrando um texto. A língua e o sujeito não são transparentes. Este sujeito é
agenciado a dizer o que diz pelo espaço de enunciação que ocupa.
A teoria oferece dois métodos para análise: a reecritura, que consiste em “redizer o que
já foi dito” (2009, p. 53) e a articulação, por sua vez, configura-se pela relação de proximidade
entre os elementos. Além destes, são elaborados Domínios de Semântico de Determinação
(DSDs) que representam “[...] uma interpretação do próprio processo de análise e deve ser capaz
de explicar o funcionamento do sentido da palavra no corpus especificado” (GUIMARÃES,
2007, p. 81).
Resultados e Discussão
A análise empreendida aqui se divide da seguinte forma: em O que é ler para o livro
didáticoanalisam-se sentidos de ler em um excerto retirado do manual do professor. Em O que
é ler no livro didático, verificam-se sentidos de ler no corpo do livro. Nesse caso, apresentam-
seas análises e os DSDs respectivos.
O que é ler para livro didático
O excerto analisado foi retirado da página 06 do manual do professor. O manual tem 48 páginas.
Apenas no excerto retirado para a análise é tratada a questão da leitura. Segue a transcrição do
enunciado:
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(1) Este tópico finaliza os trabalhos de leitura e tem por objetivo despertar o prazer de
ler e, com isso, favorecer um contato “amigável” com o texto, despertar a curiosidade,
desenvolver o gosto pela leitura, estimular a observação, a reflexão, o debate, etc. Seu
título também é variável, dependendo do tipo de texto e de atividade proposta. Assim,
ele ora se chama Ler é um prazer, em que se propõem textos de pura fruição, ora se
chama Ler é emoção, em que se propõe a leitura de um texto que provoque a emoção.
Outros títulos são: Ler é descoberta, Ler é diversão, Ler é reflexão.
O enunciados (1) projeta duas significações sobre lerque podem ser apresentadas
enquanto sentidos sobre: a) o que é ler; b) o que o livro propõe para a leitura. O ato de ler é
apresentado como atividade enfadonha, desagradável e hostil. Esses sentidos são sustentados
pois, o objetivo da leitura é apresentado como o de despertar para o prazer de ler.Lerse articula
com prazere com favorecer um contato “amigável”, desenvolver o gosto pela leitura, despertar
a curiosidade, estimular a observação, a reflexão, o debate.Nesse caso, podemos ter o seguinte
DSD de Ler:
Quadro 1: DSD de Ler
Enfadonho ┤LER ├ hostil
┬
Desagradável
Fonte: Elaboração própria.
O enunciado segue construindo os sentidos de leitura. Em (1b) Ler é algo com finalidade
específica: seja dar prazer, divertir, fazer refletir ou causar emoções ao leitor. Esses sentidos
são apontados pelo locutor-autor-instrutor como caminhos a serem construídos a partir do uso
da ferramenta livro didático. Eis o que o livro propõe a ser leitura, conforme DSD a seguir:
Quadro 2: DSD de Ler
Prazer
┴
Diversão ┤LER ├ reflexão
Fonte: Elaboração própria.
O que é ler no livro didático
Em ler é diversão, analisamos a ligação entre o título geral e o texto que segue
imediatamente a esse título. Uma primeira observação é a de que há uma relação de articulação
de diversão com ler. Nesse ínterim, o texto que se segue é intitulado: Sabe aquele que ri no
velório? Não é ele. A palavraelereescreve humorista, que, por sua vez, também será reescrita
ao longo de praticamente todo o texto, tal como se observa a partir de (2):
(2) [...] quem nota a cena [...] o que se dá conta. O que vê a incongruência, percebe
o insólito, registra o inusitado, flagra a anomalia e registra o cômico.
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O trecho transcrito pode ser resumido pela expressão papel do humorista, pois o texto
faz uma reflexão sobre qual a função que esse profissional desempenha. Se ler é determinado
por diversão no título, e o conteúdo do texto apresenta, assim, uma reflexão sobre o papel do
humorista, diversão determina o papel do humorista. Com base nisso, temos o próximo DSD:
Quadro 3: DSD de Ler
LER ----- diversão├ papel do humorista
Fonte: Elaboração própria.
Pelo DSD, percebemos que diversão acaba sendo determinada semanticamente pelo
papel do humorista. Ou seja, refletir sobre como o humorista deve se portar é o próprio fim da
diversão.
Em ler é reflexão a palavra reflexão se articula semanticamente a ler. Logo após o título,
segue-se uma imagem retratando uma mulher com roupas e adereços que a faz com que se
pressuponha que ela pertença a elite. Ao descer uma escadaria com um tapete vermelho, ela é
apoiada por cinco mulheres negras com trajes de empregada doméstica. Abaixo da imagem,
segue um diálogo: “- Querida, você está um luxo! Aonde vamos? - Participar de uma passeata
contra a concentração de renda e a discriminação social”.A imagem, no entanto, não vem
acompanhada de trechos explicativos de seu conteúdo. Apenas ela compõe, por si,o que seria a
reflexão.
Em Ler é um Prazer, apresenta-se um texto intitulado Sofrer por Antecipação. O texto
constrói sentidos de uma garota vestida de maneira elegante para ir a algum baile e segue com
frases como Se ninguém dançar comigo, depois de deixar meus jeans folgados, pico este luxo
todo e me jogo com ele no lixo. Após o fim do texto, já se inicia outra sessão no livro.A questão
do prazer não é explorada ou apresentada.
O que se destaca é que, por se tratar de uma ferramenta de ensino, o livro não propõe
qualquer prática além da leitura pela leitura dos textos – que abordam diversas questões, desde
as da adolescência de uma garota até críticas sociais.
Considerações Finais
Em Ler é diversão, não há qualquer fragmento que proporcione ao que o título alude.
Em Ler é reflexão também há ausência de um encaminhamento para a leitura da charge. O
mesmo se dá em Ler é um prazer. Ademais, não se explica a proposta de leitura para o aluno,
ou seja, não há fatores que o convide a ler. Esses apontamentos nos fazem perceber que o livro
didático não contribui para romper com os estereótipos existentes em torno da leitura.
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Ao observar as partes do livro – que supostamente deveriam extrapolar os limites da
leitura do texto pelo texto, criar emoções, divertir, etc – percebe-se que os textos são trabalhados
de maneira conteudística, ou, em outras palavras, sem apresentar qualquer sugestão de reflexão
ou provocação que cause qualquer emoção tal qual o manual do professor propõe.
Portanto, conclui-se que ler é diferente de ler, conforme DSD.
Quadro 4: DSD de Ler
LER
____________________________________
LER
Fonte: Elaboração própria.
Ler na proposta do livro seria explorar os textos a fim de atingir emoções e sensações,
criando novos paradigmas para a prática da leitura, ao passo que ler na prática – no livro
didático – não oferece essas possibilidades ao estudante/leitor visto que apresenta o texto sem
que se direcionem quaisquer reflexões a partir da leitura: são textos soltos. Nesse sentido, o
objetivo proposto de ler como prazer, diversão ou reflexão não é atingido. Resta ao professor a
tarefa de perceber e preencher tal lacuna.
Referências
CEREJA, William Roberto, MAGALHÃES, Thereza Cochar.(2009) Português: linguagens 8º
ano. Manual do professor. 5ª ed. Reform – São Paulo: Atual. (Obra Completa)
GUIMARÃES, Eduardo. (2002) Semântica do Acontecimento. Campinas-SP: Pontes (Obra
completa)
_____. (2007) Domínio semântico de determinação. In: Guimarães, E. & M.C. Mollica. A
palavra. Forma e sentido. Campinas, Pontes. (Capítulo de Livro)
______. (2009) A enumeração: funcionamento enunciativo e sentido.Cadernos de Estudos
Linguísticos, Campinas, v. 51, n. 1, p. 49-68. (Capítulo de Livro)
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O USO DO GÊNERO PROPAGANDA NO LIVRO DIDÁTICO: UM RECURSO
PEDAGÓGICO E IDEOLÓGICO
Caique Azevedo Souza 31
MargareteTrevizani32
Daniele Santos Rocha33
Resumo: A propaganda é um dos gêneros mais utilizados nos meios comunicativos e de produções de textos. É
possível notar a sua presença nos mais diversos suportes, como suportes impressos, eletrônicos e urbanos. Assim,
como o gênero propaganda tem estado presente no LDP, visamos a partir da teoria dos gêneros textuais e das
características da propaganda analisar a sua relação com o livro didático, e o intuito das propagandas serem
veiculadas, observando – as como um objeto transmissor de ideologias. Será utilizada como base teórica o conceito
de gênero do discurso (BAKHTIN, 2003) para a compreensão do processo enunciativo e discursivo do gênero
propaganda dentro do LDP. Para a análise selecionamos uma propaganda pertencente ao livro didático de Língua
Portuguesa Projeto Teláris do 8°ano, 2° edição (BORGATTO; BERTIN; MARCHEZI; 2016). Portanto, essa
pesquisa cumpre o objetivo de apresentar o gênero propaganda dentro do livro didático mostrando que o mesmo
está fortemente carregado de caráter ideológico por meio do discurso que consta em seu enunciado. Assim,
chegamos ao resultado de que qualquer esfera social como nos afirma Bakhtin (2003), possui um tipo de gênero
próprio para se adaptar a uma determinada situação e alcançar determinado fim.
Palavras chaves: Gênero Propaganda; Livro didático; Ensino de Língua Portuguesa
El uso del género propaganda enel libro didáctico: un recurso pedagógico e ideológico
Resumen: La propaganda es uno de los géneros más utilizados en los medios comunicativos y de producciones
de textos. Es posible notar su presencia en los más diversos soportes, como soportes impresos, electrónicos y
urbanos. Así, como el género propaganda ha estado presente en el LDP, visamos a partir de la teoría de los
géneros textuales y de las características de la propaganda analizar su relación con el libro didáctico, y el
propósito de las propagandas ser vehiculadas, observándolas como un objeto transmisor de ideologías. Se
utilizará como base teórica el concepto de género del discurso (BAKHTIN, 2003) para la comprensión del proceso
enunciativo y discursivo del género propaganda dentro del LDP. Para el análisis seleccionamos un anuncio en el
librodidácticode Lengua Portuguesa ProyectoTelárisdel 8°ano, 2ª edición (BORGATTO; BERTIN; MARCHEZI;
2016). Por lo tanto, esa investigación cumple el objetivo de presentar el género propaganda dentro del libro
didáctico mostrando que el mismo está fuertemente cargado de carácter ideológico por medio del discurso que
consta en su enunciado. Así, llegamos al resultado de que cualquier esfera social como nos afirma Bakhtin (2003),
posee un tipo de género propio para adaptarse a una determinada situación y alcanzar determinado fin.
Palabras chaves: Género Propaganda; Libro didáctico; Ideologia
Introdução
O gênero propaganda é um dos mais vistos e utilizados nos suportes comunicativos. Um
dos motivos para esse gênero ser bastante explorado, são os recursos linguísticos e visuais, que
contribuem para que se concretizem os objetivos propostos pelo emissor, a fim de persuadir o
receptor, e também o seu poder de construção social. Isso é feito por meio de uma linguagem
31Discente do curso de letras vernáculas; UNEB; Eunápolis, Bahia, Brasil; [email protected] 32Discente do curso de letras vernáculas; UNEB; Eunápolis, Bahia, Brasil; [email protected] 33Discente do curso de letras vernáculas; UNEB; Eunápolis, Bahia, Brasil; [email protected]
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rica em elementos não verbais, que dependendo de como for analisada, pode contribuir para
com o leitor no processo de compreensão do texto. Visto esse gênero tão presente no cotidiano
social, as escolas seguem o que é proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)34,
nos quais afirmam que “todo texto se organiza dentro de um determinado gênero”, passaram a
inserir os gêneros nos livros didáticos afim de preparar os alunos a se tornarem mais
competentes por meio da linguagem.
Assim, como o gênero propaganda tem estado presente no LDP, visamos a partir da
teoria dos gêneros textuais e das características da propaganda analisar a sua relação com o
livro didático, e o intuito das propagandas serem veiculadas, destacando uma das características
desse gênero: a ideologia.
Caminhos Metodológicos
Em meio a muitos livros didáticos que possuem propagandas em suas páginas, foi
selecionado o livro didático de Língua Portuguesa Projeto Teláris, 8°ano da Editora Ática, 2°
edição (BORGATTO, Ana Maria; BERTIN, Terezinha Costa; MARCHEZI; Vera Lúcia,
2016), para ser feita uma análise descritiva de um anúncio publicitário, utilizando como base
conceitos do círculo de Bakhtin. O capítulo 6, no qual está inserido esse anúncio, convida aos
leitores (estudantes e professores) a realizarem uma análise discursiva que desnaturaliza a
linguagem texto, chamando a atenção para o seu processo de construção. Nele traz um anúncio
publicitário que tem como objetivo implícito a questão da indução ao consumo, isso é realizado
por meio de algumas ilustrações organizadas por letras A, B, C, D e E, mas foi realizada a
análise apenas das imagens A, D e E. Além de Bakhtin (2003), foram utilizados como fonte
teórica para a análise: Freitag (1989), Souza (2014) e os PCNs – Parâmetros Curriculares
Nacionais (BRASIL, 1988).
O Gênero propaganda e sua relação no LDP
Dentro dos gêneros discursivos existem os parâmetros das condições de
produção/recepção dos gêneros do discurso, que correspondem as condições enunciativas que
presidem toda produção de linguagem. Uma delas é a finalidade que o discurso tem, em que o
34Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) são um documento oficial do governo federal que tem por
finalidade constituir-se como referência para as discussões curriculares das áreas específicas dos conteúdos de
ensino e contribuir com os professores no processo de elaboração, revisão e ampliação de propostas didáticas.
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objetivo orientado do ato de comunicação é, por exemplo; convencer a comprar, persuadir a
assumir determinada posição política, e até a informar sobre determinado fato.
Segundo Bakhtin (2003), todos os gêneros devem ser analisados como objetos de
ensino, e devem ser levados em conta os três elementos que os caracterizam: o conteúdo
temático, a construção composicional (no caso sua estrutura) e o estilo, que é definido pelos
recursos linguísticos – discursivos contidos no gênero. Ainda sobre a análise do gênero como
objeto, é por meio do texto que o receptor transmite suas ideias, seus pontos de vista e seu
objetivo, portanto, o texto se torna de caráter ideológico, em que a linguagem reflete a ideologia.
Para Bakhtin (2003), o gênero precisa ser trabalhado dentro do processo de leitura, com um
objetivo pedagógico, na qual auxilie os educadores no agrupamento a ser trabalhado em sala, e
nos educandos na compreensão da variedade de gêneros e em quais situações emprega-los.
Dentro do LDP é possível enxergar essa diversidade de gêneros, e dentre esses, focaremos na
propaganda, por ser um dos gêneros mais presentes no cotidiano das pessoas e
pelo seu caráter ideológico. Além disso, como afirmam os PCN’s (1998, p. 53) “é preciso
priorizar os gêneros que merecerão abordagem mais profundada”, e o gênero propaganda nos
permite fazer essa análise. Como já dito, a escola teve que acrescentar no seu campo pedagógico
os gêneros discursivos, visto que, como afirmou Bakhtin (2003), a vontade comunicacional de
um falante se manifesta, primeiramente, na escolha de um gênero do discurso. Esse foi um dos
motivos para que o gênero propaganda fosse exposto nos livros didáticos, a preparação dos
alunos em várias situações do uso da linguagem. As propagandas a partir do momento em que
se encontram em livros didáticos, se tornam também uma ferramenta pedagógica, e deixam de
ser apenas uma forma de se vender o produto. Mas isso só é aplicado quando o professor faz
um estudo da propaganda em sala de aula, direcionando os educandos a compreender a
construção do texto e a sua intencionalidade. O problema é que análise feita sob a discursividade
que o texto proporciona, na maioria das vezes, não é realizada pelos educadores, e
consequentemente os alunos não são levados a pensar criticamente sobre a propaganda, a
intenção que ela quer passar, o motivo dela estar presente no livro, e o porquê de se trabalhar
essa propaganda em sala. Uma das características marcantes da propaganda, e que acaba sendo
como um contribuinte ideológico, no livro didático, é o enunciado. Em cada enunciado é
possível notar a intencionalidade do discurso do falante, e para quem esse discurso é
direcionado. Logo, os enunciados em muitas vezes nos livros didáticos, manipulam a leitura do
aluno, através de sua construção, e da sua entonação, que faz com que eles não observem todos
os elementos que contém na propaganda. Para que a leitura deles seja realizada sem restrições,
V SENAL | 89 | UESB/2018
o aluno irá precisar de um grau alto de letramento, e não apenas o que traz como bagagem
cultural.
Análise de dados
O capítulo 6, no qual está inserido esse anúncio, por si já começa com um título que
mostra a sua finalidade “Publicidade, uma forma de persuadir” o título sugere a possibilidade
uma interpretação crítica ao caracterizar a propaganda como forma de persuasão. Uma das
imagens foi a figura D, que vem acompanhada da seguinte legenda “Bem-vindo à vida’’ e a
figura E que fecha a propaganda com a frase final “Chegou o Ford EcoSport”, induzindo ao
consumismo de forma subjacente, estabelecendo uma relação comunicativa direta com o futuro
consumidor em potencial, estimulando o ter para ser, como se a vida fosse apenas realmente
acontecer se o mesmo adquirisse um automóvel como aquele exposto no anúncio.
Fonte: Livro de Língua Portuguesa – Editora Ática (BORGATTO, Ana Maria; BERTIN, Terezinha Costa; MARCHEZI;
Vera Lúcia, 2016, 2016)
Assim, fica perceptível uma certa imparcialidade, quando o objeto de análise se utiliza
da legenda ‘Bem-vindo à vida”. Desse modo, é evidente como as imagens são fortes portadoras
de concepções ideológicas, elas, muitas vezes se utilizam de um discurso que pode parecer
totalmente despretensioso no primeiro momento ao leitor, mas estão fortemente carregados de
conceitos. De acordo com Bakhtin (1992) todo signo é ideológico, ideologias estas que exercem
uma forte influência sobre os discentes em formação que se tornarão futuros formadores de
opiniões. Dessa forma, surge a necessidade de um olhar interdisciplinar analítico que contribua
para a construção do conhecimento e consiga desvelar esquemas de difusão ideológica inseridas
sub-repticiamente nos livros didáticos
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Considerações Finais
Em nossa análise, chegamos à conclusão de que o gênero propaganda tão presente no
LDP, é fundamental para o processo de aquisição de competência linguística e semântica, e
precisa ser sempre trabalhado na escola, pois reúne em si elementos essenciais para a formação
social e discursiva de todo aluno.
Portanto, essa pesquisa cumpre o objetivo de apresentar o gênero propaganda dentro do
livro didático mostrando que o mesmo está fortemente carregado de caráter ideológico por meio
do discurso que consta em seu enunciado. Assim, chegamos ao resultado de que qualquer esfera
social como nos afirma Bakhtin (2003), possui um tipo de gênero próprio para se adaptar a uma
determinada situação e alcançar determinado fim.
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Os Gêneros do discurso. 2° ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2003.
BORGATTO, Ana Maria; BERTIN, Terezinha Costa; MARCHEZI; Vera Lúcia. Publicidade,
uma forma de persuadir. In:______. Projeto Teláris – Português – 8°ano – ensino
fundamental II. São Paulo: Editora Ática, 2016. Cap. 6, p. 193-198.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Introdução. Ensino Fundamental.
Brasília: MEC/SEF, 1998.
FREITAG, Barbara. O livro didático em questão. São Paulo: Cortez, 1989.
SOUZA, Sueli. O livro didático e as influências ideológicas das imagens: por uma educação
que contemple a diversidade social e cultural. 188 f. Programa de pós-graduação em educação
– Departamento de educação, Universidade estadual de Feira de Santana, 2014.
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SENTIDOS DE LINGUAGEM NOS PCN DE LÍNGUA PORTUGUESA
Danilo Sobral de Souza35
Priscila Taylana Carvalho De Souza36
Adilson Ventura37
Resumo: Este trabalho propôs analisar a construção de sentidos de linguagem em um recorte dos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN), a partir dos pressupostos teóricos da Semântica do Acontecimento. Segundo a
realização de uma análise inicial, observamos que linguagem aparece com o sentido de diferentes formas de falar
a mesma língua, como marca de identidade de um grupo social.
Palavras-Chave: Semântica do Acontecimento. Sentidos. Língua. Linguagem. PCN.
Sensesoflanguage in Portuguese NCP
Abstract: This work proposes to analyze the construction of meanings of language in a cut of the National
Curricular Parameters (NCP), from the theoretical assumptions of Semantics of the Event. According to the
accomplishment of an initial analysis, we observe that language appears with the sense of different ways of
speaking the same language, like mark of identity of a social group.
Keywords: Semantics of the Event. Senses. Language. Language. NCP.
Introdução
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) são diretrizes elaboradas pelo Governo
Federal que orientam a educação brasileira. São separados por disciplina e pelas etapas do
ensino (fundamental 1 e 2 e ensino médio).Neste trabalho, analisamos sentidos de linguagem
em um excerto do PCN de língua portuguesa do ensino fundamental 2. A hipótese é de que
língua e linguagem sejam termos sinônimos no corpus.
Materiais e Métodos
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) são um documento que visa orientar as
práticas pedagógicas do Ensino Básico, bem como delimitar os objetivos da educação escolar.
Dada a sua relevância no ensino, selecionamos as páginas 46 e 47 do referido material como
corpus deste trabalho para analisarmos a construção de sentidos da palavra linguagem. O
material de análise é um recorte do tópico O aluno adolescente e o trabalho com a linguagem,
35Mestrando em linguística (PPGLIN). UESB. Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. [email protected] 36Graduanda em Letras Modernas. UESB. Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. [email protected] 37Doutor em Línguistica. UESB. Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. [email protected]
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parte integrante do primeiro capítulo do PCN de língua portuguesa para o ensino fundamental
II.
Este trabalho teve como suporte teórico – metodológico a Semântica do Acontecimento,
idealizada pelo professor Eduardo Guimarães. Ele considera que “o sentido é produzido pelo
acontecimento da enunciação” (Guimarães, 2009, p. 49). E isso implica que para estudar a
significação, é necessário estudar a enunciação, o acontecimento do dizer. Para Guimarães
(2002), o sentido de uma palavra está ligado ao modo “como seu funcionamento é parte da
constituição de sentido do enunciado, enquanto enunciado de um texto” (p. 7). Desse modo, os
significados de um elemento linguístico se constroem de acordo com o modo como ele integra
uma unidade maior, o texto.
A análise se constrói a partir da Semântica do Acontecimento, teoria proposta por
Eduardo Guimarães (2002, 2007, 2009). Neste escopo teórico, é possível observar o
funcionamento de enunciados a partir da relação língua/língua, língua/sujeito e língua/história
a partir da opacidade da língua e opacidade do sujeito.
A análise é empreendida a partir das relações de reescritura e articulação. A primeira
consiste em “redizer o que já foi dito” (GUIMARÃES, 2009, p. 53) e a segunda, por sua vez,
configura-se pela relação do termo analisado com as suas proximidades. Outro aspecto da teoria
é o Domínio de Semântico de Determinação (DSD): um gráfico que ilustra “[...] uma
interpretação do próprio processo de análise” (GUIMARÃES, 2007, p. 81) e exibe o
funcionamento de sentidos do termo analisado.
Resultados e Discussões
No corpus deste estudo, encontramos a ocorrência da palavra linguagem no seguinte
fragmento:
Finalmente, é preciso considerar o fato de que os adolescentes desenvolvem um tipo
de comportamento e um conjunto de valores que atuam como forma de identidade,
tanto no que diz respeito ao lugar que ocupam na sociedade e nas relações que
estabelecem com o mundo adulto quanto no que se refere a sua inclusão no interior
de grupos específicos de convivência. Esse processo, naturalmente, tem repercussão
no tipo de linguagem por eles usada, com a incorporação e criação de modismos,
vocabulário específico, formas de expressão etc. São exemplos típicos as falas das
“tribos” - grupos de adolescentes formados em função de uma atividade (surfistas,
skatistas, funkeiros etc.). (BRASIL, 1998)
Observamos que “tipo de linguagem” articula-se com “processo”, que, por sua vez,
reescreve “os adolescentes desenvolvem um tipo de comportamento e um conjunto de valores
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que atuam como forma de identidade”. “Tipo de linguagem” está, ainda, articulado com
“modismos”, “vocabulário específico” e “formas de expressão”, e reescriturado, por elipse,
após “exemplos”, articulando-se a “falas”, estabelecendo uma relação de sinonímia com esse
termo. De acordo com as reescrituras e articulações descritas, pode-se representar as relações
de sentido com o seguinte DSD:
Quadro 1: DSD de tipos de linguagem
Fonte: Elaboração própria.
Em seguida, na página 47, temos “É possível, assim, falar em uma linguagem de
adolescentes, se se entender por isso não uma língua diferente, mas sim um jargão, um estilo,
uma forma de expressão.” (BRASIL, 1998), em que linguagem articula-se com “adolescentes”.
Tal articulação – linguagem de adolescentes – opõe-se a “língua diferente” e é reescriturada por
“jargão”, “estilo” e “formas de expressão”. Essas relações semânticas podem ser representadas
da seguinte maneira:
Quadro 2: DSD de linguagem de adolescentes
Fonte: Elaboração própria.
Conclusão
Os sentidos de linguagem e língua tem relações interessantes. Pode-se sustentar que, no
corpus, linguagem tem sentidos de diferentes formas de falar a mesma língua, como marca de
identidade de um grupo social. Todos falam língua portuguesa, mas os adolescentes falam uma
língua portuguesa definida por jargão, formas de expressão, estilo e identidade, com
vocabulário específico. Logo, linguagem é uma fala da língua portuguesa.
formas de expressão
┴
identidade ┤ tipos de linguagem -------- falas
┬ ┬
vocabulário específico modismo
formas de expressão
┴
jargão ┤linguagem de adolescentes ├ estilo
língua diferente
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Quadro 3: DSD de linguagem
Fonte: Elaboração própria.
O curioso é que em gramáticas da língua portuguesa como a Gramática do Português
Contemporâneo de Celso Cunha e Lindley Cintra (1998)língua é sustentada por ser um tipo de
linguagem. Já, sobre a relação entre língua e fala,
podemos afirmar que língua, [na gramática], apresenta um sentido de sistema
organizado de acordo com uma gramática, determinado por uma convenção social,
cuja função maior é estabelecer (intermediar) a relação (interação) entre os indivíduos
e o mundo. A língua é, nessa gramática, diferente do dialeto e da fala. Enquanto
dialeto diz respeito às marcas regionais de uso da língua, falar corresponde às
manifestações orais, às peculiaridades de expressão. (REIS, SOUZA, SILVA, 2017).
Nesse sentido, podemos sustentar conclusões de que neste recorte do PCN o sentido de
linguagem é uma variação do que é chamado de língua, uma variação falada. Nesse caso,
linguagem seria variação do português falado, o que não confirma a nossa hipótese inicial.
Podemos assumir que, nos PCN de língua portuguesa, linguagem é sinônimo de fala e uma
variação de língua. Na gramática, linguagem determina língua, enquanto que nos PCN, língua
determina linguagem.
Referências
BRASIL. (1998) Parâmetros Curriculares Nacionais. Língua Portuguesa. Ensino
Fundamental. Terceiro e quarto ciclos. Brasília: MEC/SEF.
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Jornada do GELNE, 2017, Recife. ANAIS ELETRÔNICOS da 26° Jornada do Grupo de
Estudos Linguísticos do Nordeste.
língua ┤ linguagem -------- fala
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USO DE CONJUNÇÕES E O(S) SENTIDO(S) NO TEXTO: MECANISMOS
ESSENCIAIS À PRODUÇÃO DE UMA ESCRITA CONSISTENTE
Maria da Glória Reis da Silva38
Adilson V. da Silva39
Resumo: Pretendeu-se, com este trabalho, realizar um estudo sobre os mecanismos de coesão textual,
essencialmente, as conjunções, na perspectiva da Semântica da Enunciação, da Semântica Argumentativa, num
diálogo com a Análise de Discurso, visando (re)pensar o modo como se trabalha essa classe de palavras. Esta
pesquisa teve como objeto de estudo as conjunções e o(s) sentido(s) no texto, com o objetivo de promover uma
melhoria significativa na habilidade de escrita dos discentes. Para tanto, fundamentou-se no aporte teórico da
Semântica da Enunciação, da Semântica Argumentativa, da Análise de Discurso e da Tradição Gramatical.
Apresenta na metodologia, uma abordagem quali-quantitativa de natureza aplicada; quanto à dimensão, houve
uma mesclagem nos tipos de pesquisa; e, em relação aos procedimentos, além da pesquisa bibliográfica, utilizou-
se a pesquisa-ação. Como proposta de intervenção pedagógica, realizou-se uma Sequência Didática sobre
conjunção, com ênfase no(s) sentido(s), a partir do gênero textual crônica. Os resultados obtidos, nessa pesquisa,
apontam a necessidade de trabalhar produção textual, contemplando as conjunções, com o olhar para o(s)
sentido(s). Acredita-se que, se este trabalho for desenvolvido, continuamente, nas aulas de Língua Portuguesa,
poderá contribuir, para que os alunos compreendam a importância dos articuladores conjuntivos na organização
textual e na construção do(s) sentido(s) no texto.
Palavras-chave: Texto. Conjunções. Sentidos.
Introdução
É recorrente, nas produções textuais dos alunos, algumas ocorrências relacionadas ao
mau uso dos elementos coesivos na organização de períodos e parágrafos. Isso acontece, devido
ao fato de eles não utilizarem de forma adequada os mecanismos de coesão gramaticais e
lexicais que garantem ao texto uma unidade de significados encadeados. Em decorrência disso,
o fluxo lógico e contínuo das ideias, que confere ao texto uma unidade formal e contribui para
que haja coerência, quase sempre, fica comprometido.
Logo, sabendo que para produzir qualquer gênero textual, os conectores são
fundamentais na articulação entre as informações, a fim de garantir a compreensão e a unidade
formal do texto, é pertinente, então, questionar: Por que os alunos do 8º ano do Ensino
Fundamental II, do Colégio Estadual de Igaporã (CEIGA), possuem enorme dificuldade em
produzir textos, com proficiência, observando os mecanismos de coesão e coerência textual,
especialmente, no que se refere ao uso de determinadas conjunções?
38 Mestranda (ProfLetras/UESB/ Capes). UESB. Vitória da Conquista, Bahia, Brasil.
[email protected] 39 Orientador (ProfLetras/PPGLin/UESB). UESB. Vitória da Conquista, Bahia, Brasil.
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Podemos inferir que diversos fatores impedem que o discente evolua como produtores
de uma escrita consistente. Em relação à coesividade e à coerência, por exemplo, somos levados
a hipotetizar que pelo fato de, nas escolas, as conjunções serem trabalhadas somente do ponto
de vista gramatical, com ênfase nas classificações e subclassificações, o aluno não percebe a
diferença no emprego dessas palavras. Ademais, o discente, ao produzir um texto, não
compreende as alterações de sentidos decorrentes do uso dos mecanismos de coesão textual.
Sendo assim, a partir de um trabalho com conjunções no qual ele compreenda esses sentidos,
ele poderá ter mais cuidado ao escolhê-las e ao utilizá-las.
Diante dessas hipóteses, constatamos que é imprescindível (re)significar os trabalhos
com produção textual, mais especificamente, em relação ao uso das conjunções, visando a uma
melhoria na escrita dos alunos. Com isso, esperamos que os discentes não se limitem a decorar
o conceito dessa classe de palavras e a memorizar suas classificações, mas que compreendam
os mecanismos de coesão como responsáveis pela construção dos sentidos no texto. Além disso,
é mister trabalhar a reescritura de textos, com o propósito de mostrar-lhes que um texto não é
um mero amontoado de palavras transpostas para o papel sem coesão nem coerência, mas que
esses elementos – operadores conjuntivos – são impregnados de sentido, e, portanto, deve-se
ter cuidado ao empregá-los.
Destarte, realizaremos uma proposta de trabalho que consiste na aplicação de uma
Sequência Didática: oficinas de crônicas, com o objetivo de promover uma melhoria
significativa nas produções textuais, em relação ao uso dos operadores conjuntivos, bem como
fomentar a autonomia dos educandos, enquanto leitores/autores, no momento de avaliar e de
reescrever as próprias redações.
Material e Métodos
Sabendo que, em geral, grande parte dos professores, senão todos, apoia-sesomente na
Tradição Gramatical, por meio dos compêndios como as gramáticas normativas, gramáticas
escolares e/ou livros didáticos, que a rigor, costumam apresentar conteúdos equivalentes aos
prescritos pela Tradição Gramatical, procuramos conhecer as prescrições da Gramática
Normativa, acerca da classe gramatical conjunção, através das contribuições dos gramáticos
Bechara (1982), Sacconi (1994), Terra e Nicola (2001) e Sarmento (2005).
Para compreender e explicar os fenômenos linguísticos, relacionados aos sentidos,
buscamos suporte na Semântica da Enunciação e na Argumentativa num diálogo com a AD.
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Assim, no que concerne à Semântica, tomamos por base, sobretudo, as contribuições dos
semanticistas Ducrot (1989), Guimarães (2002, 2007) e Silva (2006), além de outras fontes
referenciadas ao final deste trabalho. E, em relação à AD, apoiamo-nos nos estudos de Brandão
(2004) e de Orlandi (2015).
É válido registrar que, para a execução dessa atividade, utilizamos a abordagem quali-
quantitativa, de natureza aplicada, por entendermos que as próprias redações produzidas pelos
discentes apontariam as lacunas e/ou fragilidades concernentes ao uso das conjunções e o(s)
sentido(s), mas também indicariam caminhos para que, através de uma proposta de intervenção,
os alunos superassem as referidas dificuldades e promovessem melhorias significativas na
escrita. Em relação à dimensão, houve uma mesclagem nos tipos de pesquisa; e quanto aos
procedimentos, além da pesquisa bibliográfica, que fundamentou o referencial teórico do nosso
trabalho, fizemos uso da pesquisa-ação, pois para intervirmos, com mais propriedade, na
situação-problema, juntamente com nossos alunos, fez-se necessário, pesquisarmos em fontes
diversas, tanto de gramáticos como de teóricos, para, em seguida, aplicarmos uma proposta de
intervenção pedagógica sobre conjunções, com ênfase no(s) sentido(s).
Resultados e Discussões
Constatamos que, nesses manuais de gramática, em apreço, os referidos gramáticos dão
ênfase ao aspecto coesivo, tendo em vista que sempre falam em “ligar orações, palavras, termos,
elementos”, deixando para segundo momento, na expressão taxonômica, ou mesmo em
segundo plano, o aspecto semântico, isto é, os sentidos que essas palavras constroem no texto.
Embora os semanticistas reconheçam nas conjunções, a relevante função de ligar
termos, orações, períodos e até partes maiores de um texto, eles divergem da Tradição
Gramatical (e/ou da forma como esse assunto é tratado nas escolas), por entenderem que o papel
dos conectivos vai para além disso. Na organização textual, os operadores conjuntivos
contribuem para a produção de sentido e para dar consistência ao texto.
Ao analisar os dados apresentados nos recortes enunciativos, extraídos das produções
textuais dos alunos, constatamos que corroboram as nossas hipóteses. Efetivamente, os alunos
sentem dificuldade em relação ao emprego dos articuladores conjuntivos. Isso se revela tanto
nos aspectos gramaticais quanto nos aspectos semânticos, pois a maioria dos discentes não
observou o(s) efeito(s) de sentidos produzidos, pelos conectivos, ao escrever e, mesmo, ao
reescrever os textos.
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Com a análise dos comentários dos discentes, observamos a necessidade de se levar para
a sala de aula discursos outros, a fim de estabelecer reflexões sobre o uso da língua, para que
possa constituir uma ruptura com o que já está estabilizado. Essa necessidade é posta por conta
de que, mesmo havendo mudanças nos métodos de ensino, sem atingir e especificar a questão
do sentido, os resultados quanto à leitura e escrita continuam os mesmos. Dito de outro modo,
geralmente há mudanças superficiais nas práticas em sala de aula, porém continuam
trabalhando os mecanismos de coesão, essencialmente as conjunções, na mesma perspectiva,
não alteram o essencial, não observam a movimentação dos sentidos que, segundo a AD,
sempre podem ser outros. Ou seja, a escola sofre determinação do discurso dominante. Para
que isso ocorra, faz-se necessário trabalhos que abriguem possibilidades de se observar os
sentidos nas construções textuais, tais como este que propusemos neste trabalho.
Inferimos que, apesar da realização de um trabalho direcionado para o uso das
conjunções e o(s) sentido(s), boa parte dos discentes, ainda, não consegue compreender a
relevância desses mecanismos de coesão para a construção dos sentidos no texto. Diante dessas
evidências, defendemos a necessidade de um trabalho contínuo sobre conjunções, com ênfase
para a produção dos sentidos.
Conclusão
Como o nosso objeto de estudo foi as “conjunções e o(s) sentido(s) no texto”, estudamos
as conjunções, com o olhar para os sentidos. Para esse fim, a nossa pesquisa foi embasada na
Semântica da Enunciação, na Semântica Argumentativa, num diálogo com Análise de Discurso,
mas também foi subsidiada pela Tradição Gramatical, pois esta nos deu o suporte necessário
para conhecermos como, em geral, se dá o ensino das conjunções nas aulas de Língua
Portuguesa.
Com o objetivo de promover uma melhoria significativa nas produções textuais, em
relação ao uso dos operadores conjuntivos, mas também fomentar uma maior autonomia dos
educandos, enquanto leitores/produtores de textos, apresentamos uma proposta de intervenção
que consistiu na realização de uma Sequência Didática, através da qual trabalhamos produção
de texto e as conjunções, a partir do lugar teórico da Semântica da Enunciação e Argumentativa.
A aplicação da Sequência Didática permitiu-nos fazer um diagnóstico, mesmo que
subliminar, dos problemas recorrentes nas produções textuais dos alunos, no que concerne ao
uso dos articuladores conjuntivos. A partir dos dados coletados da 1ª versão da crônica,
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delineamos os passos para o restante do trabalho, isto é, para intervenção propriamente dita.
Estudamos os mecanismos de coesão, em especial, as conjunções, com um enfoque
diferenciado do que, normalmente, se costuma trabalhar nas aulas de Língua Portuguesa, haja
vista que não detivemos apenas nas classificações e subclassificações dessa classe de palavras.
Demos ênfase à produção de sentidos, procurando salientar que cada operador conjuntivo
produz um efeito(s) de sentido(s) e, a depender de como for usado, pode comprometer o texto
parcial ou até integralmente. Ademais, foi com base nas crônicas produzidas em sala de aula,
que os alunos elaboraram os comentários, confrontando as versões escritas por eles e pelos
colegas, a fim de descobrir se após estudar as conjunções, eles realizaram alterações
significativas nos textos.
Reconhecemos a relevância deste trabalho para a formação dos discentes do 8º ano do
Ensino Fundamental II, público-alvo deste trabalho, bem como para toda a Comunidade Escolar
na qual esses sujeitos estão inseridos. Ademais, a pesquisa acrescentou à docente/pesquisadora
uma gama de conhecimentos que poderá contribuir para uma melhoria na sua prática
pedagógica e, quiçá, deixar alguma contribuição para outros professores e estudantes que
pretendem conhecer e aprofundar mais sobre esse objeto de estudo.
Sabemos da existência de muitos estudos empreendidos em torno da temática estudada
neste trabalho, inclusive alguns deles fundamentaram a nossa pesquisa. Reafirmamos, aqui,
que, ao desenvolver este estudo, nossa pretensão não foi abranger todos os aspectos relativos
ao assunto uso de conjunções e o(s) sentido(s) no texto, nem esgotar a discussão sobre essa
temática. Portanto, reconhecemos a necessidade de perscrutar mais sobre esse objeto de estudo,
devido, sobretudo, à sua relevância quer para estudantes, quer para professores, ou mesmo para
qualquer pessoa/falante que tenha interesse em conhecer melhor os mecanismos de
funcionamento da língua, para dela fazer uso e, com ela, interagir, tendo em vista que a língua
está submetida a um dinamismo constante.
Referências
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LAGINESTRA, Maria Aparecida e PEREIRA, Maria Imaculada (equipe de produção). A
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OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA Escrevendo o Futuro (equipe de produção).
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RUDIO, Franz Victor. Introdução ao Projeto de Pesquisa Científica. 26 ed. Petrópolis: Vozes,
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THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-ação. 8 ed. São Paulo: Cortez, 1998.
V SENAL | 101 | UESB/2018
SIMPÓSIO TEMÁTICO 3: AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM POR SURDOS EM
MODALIDADE FALADA E/OU ESCRITA
COORDENAÇÃO: ADRIANA LESSA
A MARCAÇÃO TEMPORAL NA APROPRIAÇÃO DA ESCRITA POR ALUNOS
SURDOS NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Marcelo Meira Alves40
Resumo: O presente trabalho é resultado de uma pesquisa de mestrado que teve como objetivo analisar a marcação
temporal na apropriação do português escrito como segunda língua (L2) por surdos. Este estudo surgiu da
necessidade de investigar em que medida a escrita da interlíngua (IL) português-libras apresenta características da
língua nativa (libras), alvo (português) ou nenhuma delas, considerando a limitação dos surdos em adquirir o
sistema fonológico da língua alvo, por ser sonoro. Como pressuposto teórico, assumimos a teoria gerativista
(CHOMSKY, 1995), que admite a existência de uma Gramática Universal (GU) e hipótese inatista de aquisição
da linguagem. Os dados que compôs esse corpus foram coletados por meio de amostras naturalísticas de IL
português-libras produzidos por sujeitos-informantes surdos, alunos da educação básica no munícipio de Vitória
da Conquista- BA. Os resultados desta pesquisa indicam ocorrência, na interlíngua estudada, de operadores
temporais específicos – os itens lexicais passadoe futuro,além de advérbios. Marcando tempo passado, observou-
se ocorrência de operador lexical em casos de aspecto verbal não pontual e a dispensa desse em casos de verbos
com aspecto perfectivo, como ocorre na Libras, conforme estudo de Silva (2015), o que caracteriza acesso indireto
à GU no processo de aquisição da L2. Os sujeitos-informantes apresentaram também nas produções escritas flexão
temporal conforme os parâmetros do PB, bem como a realização de verbos auxiliares, marcando o tempo futuro.
Palavras-Chave: Categoria Tempo; Aquisição da Linguagem; Gramática Gerativa.
Resumen: El presente trabajo es el resultado de una investigación de maestría que tuvo como objetivo analizarel
marcado temporal de portugués em laapropiación escrito como segunda lengua (L2) por sordos. Este
estudiosurgió de lanecesidad de investigar enqué medida la escritura de lainterlengua (IL) portugu´s-libras tiene
características el idioma nativo (libras), alvo (portugués) o ninguno, considerando lalimitación de lossordosen
adquirir el sistema fonológico de lalengua alvo, por ser sonoro. Como presupuesto teórico,
asumimoslateoríageneradora (CHOMSKY, 1995), que admite laexistencia de una Gramática Universal (GU) e
hipótesis inatista de adquisicióndellenguaje. Los datos que compone este corpus se recogieron a través de
muestras naturalistas de IL portugués-libras producidos por sujetos-informantes sordos, alumnos de laeducación
básica enelmunicipio de Vitória da Conquista- BA. Los resultados indican que, en la interlengua que se estudió,
aparecen elementos temporales específicos - los elementos léxicos pasado y futuro, además de adverbios.En el
tiempo pasado, se observó el uso de operador lexico en casos de aspecto verbal no puntual y su dispensa en el
caso de los verbos con aspecto perfectivo, como ocurre en Libras, según un estudio de Silva (2015), lo que
constituye acceso indirecto a la GU en el proceso de la adquisición de la L2.En sus producciones escritas, los
sujetos investigadostambién presentaron la flexión temporal de acuerdo a la del Portugués Brasileño, así como,
recurrieron al uso de verbos auxiliares para referirse al tiempo futuro.
Palabras-Claves: CategoríaTiempo; AdquisicióndelLenguaje; Gramática Gerativa.
40 Mestre em Linguística; Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. Vitória da Conquista, Bahia,
Brasil. E-mail: [email protected]
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Introdução
A dificuldade dos surdos na apropriação da língua portuguesa, isto é, aprender a ler e
escrever, tem se tornado um fato que vem despertando a atenção de educadores e pesquisadores
da área. Apesar do reconhecimento linguístico da comunidade surda acontecer a bem pouco
tempo, os surdos utilizam um sistema linguístico de sinais para se comunicar a muito tempo.
A língua portuguesa assume para os surdos, então, o papel de segunda língua (L2).
Pesquisadores da área tem chamado de Interlíngua (IL) a língua adquirida como L2
(SELINKER, 1994). Para analisar a categoria temporal identificada na interlíngua português-
libras, tomamos por base o quadro teórico gerativista desenvolvido pelo linguista Noam
Chomsky, assumindo a existência da Gramática Universal (GU) e a hipótese inatista de
aquisição da linguagem.
Nesse contexto, investigaremos como se caracteriza a aquisição da categoria tempo e se
há ou não características da L1 presentes na L2. Assumimos a hipótese de acesso indireto a
Gramática Universal e que os surdos apesentam em suas produções escritas do Português, a
categoria adverbial e itens lexicais específicos de marcação temporal, semelhantemente ao que
se verifica em Libras, ocorrendo concomitantemente a estes operadores morfemas verbais de
flexão de tempo, como em Português, o que caracteriza essa produção como IL.
Procedimentos Metodológicos
Este estudo investigou amostras escritas de interlíngua Português-Libras, produzidas
por sujeitos-informantes surdos das séries do Ensino Fundamental II, do Ensino Médio e mais
um informante que já concluiu o Ensino Médio, perfazendo um total de 7 sujeitos-informantes,
o que caracteriza esta como metodologia transversal, pelo corte realizado, e naturalística, pelo
tipo de amostra, todos alunos da educação básica do Colégio Estadual Abdias Menezes, no
Município de Vitória da Conquista – BA.
Sobre a coleta dos dados, estes foram obtidos da seguinte maneira: coletaram-se
amostras naturalísticas da Libras por meio de produções em Libras gravadas em vídeo. Essas
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amostras foram posteriormente transcritas em SEL (Sistema de Escrita para Língua de Sinais)41,
objetivando tornar a transcrição mais próxima do sinal articulado. Também foi feito a
transcrição em glosa e em Português para tornar os dados acessíveis aos não falantes da Libras.
Posteriormente, obtiveram-se amostras naturalísticas da interlíngua Português-Libras,
através de textos escritos. Os dados da interlíngua foram traduzidos para o Português e
submetidos à análise, por meio de comparação também com a Libras.
Nos dados da interlíngua analisados, procuramos verificar se, nos contextos em que a
categoria temporal ocorre, esses apresentam convergência com as características do Português,
da Libras ou de nenhuma dessas línguas.
Resultados e discussão
Para análise de nossos dados, tomaremos por base os estudos de Felipe (1998) e Ferreira
(2010), que consideram que na Libras a marcação temporal em certos contextos se realizam
sintaticamente via advérbios e Finau (2008) que considera a presença de operadores temporais
específicos representados por PASSADO, HOJE, AGORA e FUTURO, aparecendo no início
ou no final das frases para denotar tempo indefinido; e indo mais adiante, nos apoiaremos
principalmente nos estudos Silva (2015) e Silva e Lessa-de-Oliveira (2016) que partem do
pressuposto que a marcação temporal em Libras não está reduzida aos operadores de tempo,
mas se constitui via sistema, que faz oposição entre passado e presente, baseada na natureza
aspectual do verbo e operadores de tempo presentes ou ausentes, e futuro marcado por um item
lexical, conforme os exemplos abaixo.
(1) a.
EU MOR[ar] AQUI
‘Eu moro aqui.’
b.
41 Sistema de escrita produzido por Lessa-de-Oliveira (2012). Utilizamos para a transcrição a versão atualizada em
Lessa-de-Oliveira (2017). Para informações sobre a escrita SEL consultar o Blog Escrita SEL em : http://sel-
libras.blogspot.com.br/
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PASSADO EU MOR[ar] AQUI
‘Eu morava/morei aqui.’
c.
FUTURO EU MOR[ar] AQUI
‘Eu vou morar aqui’ ou “Eu morarei aqui.’
(2) a.
J-O-Ã-O CHEG[ar]
‘João chegou.’
b.
J-O-Ã-O CHEG[ar] HOJE
‘João chegou/chegará hoje.’
c.
J-O-Ã-O CHEG[ar] AMANHÃ
‘João chegará amanhã.’ (SILVA E LESSA-DE-OLIVEIRA, 2016, p.
174)
Em (1) Silva e Lessa-de-Oliveira (2016) demonstram que o verbo de aspecto não
pontual ‘morar’ não implica a presença de um operador na marcação do presente, mas implica
a presença de operador na marcação do passado. Já com o verbo de aspecto pontual ‘chegar’,
em (2), ocorre o inverso disso. No caso do tempo futuro esse marcador é sempre exigido.
Observamos algo semelhante nos dados da interlíngua Português-Libras que estamos
estudando, como em (3), (4) e (5).
(3) /eu sou passado semprecasa dentro/
eusoupassado [ficava] sempre dentro [de] casa [.]
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‘Eu ficava sempre em casa.’42
(4) /NascerVitoira da conquista./
Nasc[i] [em] Vito[ó]ria da c[C]onquista.
‘Nasci em Vitória da Conquista.
(5) /futuro Saudade legal/ esenobar estuda não quero./
/[Sentirei] saudades, [foi] legal/ [não quero] esenobar [o] estud[o]a.
Sentirei saudades, foi legal, não quero esnobar o estudo.
Observamos nesses dados que, em (3), enquanto o verbo copulativo (ser/ficar), de
aspecto não pontual, implicou a presença do operador passado, o verbo pontual ‘nascer’ em (4)
não implicou esse operador de tempo, embora ambas as frases estejam no passado. Também
verificamos, em (5), a presença de um operador lexical marcando o futuro (futuro),
semelhantemente ao que ocorre em Libras.
Conclusão
Os resultados deste, confirmaram a nossa hipótese inicial de acesso indireto a GU, ou
seja, que a aquisição da categoria tempo em português escrito como segunda língua, por surdos,
apresentaria interferência da L1, a Libras, que leva os surdos a apesentarem, em suas produções
escritas, além de flexão verbal, como ocorre na língua alvo (português), também, em certas
circunstâncias, um tipo de marcação de tempo via marcador temporal lexical específico ou via
categoria adverbial ou aspectos pragmáticos.
Referências
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42 Os sinais CASA+DENTRO em Libras significam ‘em casa’. Não há corriqueiramente um realce para a
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AQUISIÇÃO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS COMO L1
Ione Barbosa de O. Silva43
Lucinéa Silva Santana44
Resumo: Tem-se notado que as pesquisas em aquisição da libras por surdos, filhos de surdos usuários da língua
de sinais, demonstram que esta aquisição acontece de forma natural e bastante similar a de crianças ouvintes filhos
de ouvintes. Porém quando se trata de surdos filhos de ouvintes essa aquisição apresenta-se bastante diversa, visto
que são considerados alguns aspectos, por exemplo, se os pais conhecem a língua de sinais, se tem algum familiar
surdo ou em qual contexto linguístico o surdo é exposto. Pensando nisso, este trabalho se propõe a analisar alguns
aspectos da aquisição da libras como primeira língua (L1) por surdos filhos de ouvintes adquirindo a língua em
um ambiente linguístico não natural. Este trabalho resulta de um estudo em andamento que busca compreender
como acontece a aquisição da libras por uma surda com exposição tardia ao input, aos 7 anos de idade e na escola.
Para tanto, nosso trabalho respalda-se na hipótese inatista de aquisição da linguagem postulada por Chomsky e em
autores que abordam sobre a língua de sinais como Quadros e Cruz (2011). Diante disso, nossas considerações
preliminares são de que mesmo exposta tardiamente ao input linguístico, no ambiente escolar, é possível ao surdo
adquirir a libras com L1 tendo em vista que os resultados da nossa pesquisa têm se mostrado satisfatórios para essa
aquisição.
Palavras-Chave: Aquisição da linguagem, Ensino de L1, Libras, Surdos.
Acquisition of Brazilian Sign Language as L1
Abstract: It has been noted that research into the acquisition of Libras by the deaf, children of deaf who is sign
language users, demonstrates that this acquisition occurs naturally and quite similarly to the listeners' children.
However, when it comes to deaf children of listeners this acquisition is quite different, since some aspects are
considered, for example, if the parents know the sign language, if there is a deaf family member or in what
linguistic context this acquisition happens. Thinking about this, this paper proposes to analyze some aspects of the
acquisition of Libras as L1 by deaf children of listeners acquiring the language in an unnatural linguistic
environment, in the school. Thus, this study results from an ongoing study that seeks to understand how the
acquisition of Libras by a deaf person with late exposure to input, at 7 years of age and at school, happens. To
that end, our work is based on the inauspicious hypothesis of language acquisition postulated by Chomsky and on
authors who approach on sign language such as Quadros and Cruz (2011). In view of this, our preliminary
considerations are that even late exposed to the linguistic input and in the school environment, it is possible for
the deaf to acquire the first language (L1) Libras, since the results of our research have been satisfactory for this
acquisition.
Key Word: Acquisition of language, Teaching of L1, Libras, Deaf.
Introdução
Um aspecto importante e que devemos considerar quando se trata do processo de
aquisição da língua por uma criança surda é o contato inicial com o input, visto que a maioria
delas não tem esse contato nos primeiros anos de vida. Essa questão, além de inquietar os
educadores, tem sido abordada por muitos pesquisadores, que relatam o seguinte: A grande
maioria das crianças surdas é filha de pais ouvintes que normalmente não conhecem a língua
de sinais e muitas vezes nunca tiveram contato com um surdo. Esse fator interfere diretamente
43 Mestre em Linguística, professora de Libras da Universidade Estadual da Bahia-UESB, Jequié, Bahia, Brasil-
44 Mestre em Linguística; professora de Libras e Língua Portuguesa do CEEP Regis Pacheco; Jequié, Bahia, Brasil;
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no processo de aquisição da linguagem dessas crianças, uma vez que, até os pais tomarem
conhecimento da língua de sinais e admitirem o seu uso, as crianças ficam praticamente sem
input linguístico (QUADROS; CRUZ, 2011, p. 25). Destarte, muitas crianças surdas por serem
filhas de pais ouvintes, não falantes de uma língua de sinais, ficam impossibilitadas de adquirir
a linguagem de forma natural, visto que a falta de audição se torna um obstáculo para a
aquisição natural da língua de seus pais, oroauditiva, e a falta de contato com uma língua de
sinais impossibilita sua aquisição. Ou seja, essas crianças nem adquirem uma língua oral nem
tem oportunidade de adquirir uma sinalizada.
Segundo alguns autores, o surdo, mesmo tendo uma aquisição tardia, consegue adquirir
a libras com tanta naturalidade quanto o surdo com uma aquisição na primeira infância. Por
outro lado, Quadros (2009, p. 162) afirma que “sujeitos expostos tardiamente à Língua de
Sinais, mesmo diante de um input consistente e prolongado, apresentam alguns desvios na
consolidação da linguagem”. Esse contexto nos leva a alguns questionamentos, ainda não
respondidos:É possível alguém passar a primeira infância sem adquirir língua nenhuma? E o
que acontece com essa aquisição depois do período crítico, é possível adquirir uma língua de
sinais? Ou ainda,como definir os sinais caseiros utilizados por essa criança em seu ambiente
familiar?
Dessa forma, na busca pelos nossos objetivos tentaremos responder em nosso trabalho
alguns desses questionamentos. Pretendemos aqui verificar como se da o processo de aquisição
da libras por uma informante surda filha de ouvintes, que tem contato com a libras a partir dos
7 anos, assim como verificar se as estratégias utilizadas pelas pesquisadoras contribuem para
uma aquisição de primeira língua, já que o input linguístico da informante é, na maior parte, de
professores ouvintes.
Hipótese Inatista e a Aquisição da linguagem
A noção básica da hipótese inatista é que o indivíduo nasce com uma capacidade inata
para linguagem, negando assim a ideia de que a linguagem seja uma habilidade humana ou
resultado da ação do meio sobre o sujeito, como postulam outras teorias. De acordo com essa
hipótese, a criança não é ensinada, pois ela já traz em si mecanismos que lhe possibilitem essa
aquisição.
Assim sendo, a linguagem, nessa concepção não pode ser confundida com um tipo de
habilidade. É justamente o uso criativo da linguagem que evidencia que não é uma
questão de habilidade que entra em jogo quando uma pessoa a utiliza. Esse é o
principal argumento de Chomsky, e talvez o mais contundente, em sua crítica à teoria
comportamentalista desenvolvida por Skinner (QUADROS, 2008, p. 47).
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A hipótese inatista surge como resposta ao Problema de Platão: Como um ser tão
pequeno pode aprender a usar a língua, que é tão vasta e complexa e como pode produzir
sentenças nunca vistas antes de uma forma tão rápida e criativa diante de tão poucas evidências?
Chomsky responde com uma explicação lógica: A criança já nasce sabendo. De acordo com o
autor, somente o fato de a criança trazer uma Gramática Universal (GU) inscrita na mente como
herança genética pode explicar como essa criança pode saber tanto, elaborar sentenças tão
complexas em pouco tempo e com tão pouco estímulo. Por isso, essa teoria é capaz de explicar
porque aprendemos a língua materna com tanta rapidez e temos um vasto conhecimento dessa
língua sem que alguém tenha ensinado. Porém, quando se trata de surdos filhos de ouvintes,
essa aquisição pode não acontecer de forma tão natural assim.
Processos de aquisição de Libras por surdos
A aquisição da linguagem acontece natural e espontaneamente e assim que a criança
começa estabelecer relações com o mundo a sua volta, ela se desenvolve linguisticamente. Para
Quadros e Cruz (2011), a criança experimenta a linguagem em cada momento de interação,
acionando sua capacidade para a linguagem em contato com a língua usada no ambiente.
Entende-se com isso que a criança surda pode adquirir a linguagem nas mesmas condições da
criança ouvinte, se ela for exposta a um ambiente linguístico favorável, ou seja, se tiver as
oportunidades naturais para a aquisição.
Porém, muitas crianças surdas por serem filhas de pais ouvintes, que não conhecem a
língua de sinais, ficam impossibilitadas de desenvolverem a linguagem de forma natural, por
não ter contato com o input. Assim, a criança surda, filha de pais ouvintes, cresce com
defasagem na linguagem, visto que o ambiente linguístico não lhe foi favorável. Quadros (2009,
p. 162) afirma que “sujeitos expostos tardiamente á Língua de Sinais, mesmo diante de um
input consistente e prolongado, apresentam alguns desvios na consolidação da linguagem”.
Dessa forma, muitas pesquisas têm caminhado nessa direção, de investigar se mesmo com
aquisição tardia os surdos conseguem desenvolver a língua de forma consistente e como essa
língua é desenvolvida em um ambiente linguístico não natural. Devemos levar em conta o fator
período critico, que para maioria dos autores esse período vai dos dois anos a puberdade. Dessa
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forma, nossa informante ainda se encontra no período ideal para aquisição, porém em uma
ambiente linguístico não tão favorável.
Discussões e resultados
O informante de nosso trabalho é uma criança com surdez bilateral profunda, com oito
anos de idade, do sexo feminino. A mesma é filha de pais ouvintes, residente numa zona rural
bastante distante, onde não há nenhum outro surdo. Estuda numa escola pública da comunidade
onde mora, não há instrutor surdo nem intérprete de libras e sua professora não sabe libras.
Frequenta o Atendimento Educacional Especializado – AEE, na cidade de Jequié, apenas uma
vez por semana para aprender libras e o português como L2. Como sua mãe a acompanha toda
semana, o trabalho desenvolvido também a envolve no que se refere ao ensino de libras. A
estratégia é que haja alguém no ambiente familiar sustentando a comunicação na língua de
sinais.
Quando chegou ao AEE, no segundo semestre de 2016, era atendida por uma
professora especializada e um professor surdo. Atualmente, o trabalho segue com a mesma
professora e uma intérprete de libras. No início do trabalho, para se comunicar, a criança
apontava para as coisas que queria ou levava a mãe até o lugar onde ela desejava pegar algo.
Não mantinha nenhuma comunicação em libras nem na língua portuguesa,já que não é
oralizada, apenas gestos. A criança é muito ativa, participativa, porém tímida. Na tentativa de
comunicação em libras com ela, percebíamos que ela não compreendia.
Para que o ambiente de aprendizagem torne-se mais natural possível a professora cria
estratégias que vêm dando certo. Mãe e filha saem de casa as quatro horas da manhã, não
conseguindo fazer esta primeira refeição, então, uma das atividades propostas é um café da
manhã todo dia de atendimento, no intuito de suprir esta necessidade e estabelecer uma
conversação em libras. A aluna pouco se expressa, geralmente responde que não quer, acenando
negativamente, quando lhe é oferecido determinado alimento que não gosta.
Todas as atividades propostas partem de situações práticas ou vivenciadas. Temos
momentos de contação de histórias infantis em libras e com a utilização de imagens, momento
em que a informante demonstra interesse, curiosidade e certa compreensão da história. Isso é
percebido ao ser questionada, acena positivamente ou aponta para a imagem. Porém, não
percebemos iniciativa por parte dela em inferir algo sobre a narrativa, mas demonstra domínio
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dos sinais apresentados e compreensão da história quando são realizadas atividades com
imagens de sequência lógica dos acontecimentos dos fatos da narrativa.
Como ela mora na zona rural, construímos uma maquete simulando o local onde reside,
representando os elementos do cotidiano dela, a casa da fazenda, os animais, a vegetação, entre
outros. Também foi construída maquete de ambientes da casa: quarto, sala e cozinha. Todos os
elementos que compõem os espaços trabalhados fora identificados com seus respectivos sinais.
Na tentativa de que ela fizesse usos desses sinais, confeccionamos o material com estes sinais
para que fossem afixados devidamente nos locais de sua residência.
Vale acrescentar que no primeiro semestre de 2018 uma criança surda, seis anos de
idade, filha de pais surdos, usuária da libras desde a mais tenra idade, começou a ser atendida
no mesmo espaço, nos mesmos dias e horário. O objetivo do atendimento das duas crianças
juntas é para que ela tenha contato com um falante nativo, estar em pares e, sobretudo, construir
a identidade surda.
Sempre que chega ao AEE nos cumprimenta com o sinal de “bom dia” e faz o sinal de
“banheiro” quando quer fazer xixi. Certa vez, a coleguinha surda (filha de pais surdos) a
chamou para desenhar no quadro e havia algo escrito pela professora. Sempre atentas a tudo
que acontece, a professora e a intérprete foram surpreendidas com a comunicação das duas e
pela primeira vez ela sinalizou uma sentença completa: “Não pode apagar o quadro, a
professora escreveu”.
Diante das evidências nossa informante tem demostrado avanços na aprendizagem e
aquisição da língua de sinais, principalmente quando iniciou a convivência em pares com outra
criança surda.
Conclusões
Considerando os pressupostos da teoria inatista, podemos afirmar que tanto ouvintes
quanto surdos têm as mesmas condições biológicas para a aquisição da linguagem, já que a
língua é uma condição humana. Porém, o que torna diferencial na aquisição de suas respectivas
línguas éo input, pois enquanto o ouvinte entra em contato com sua língua logo ao nascer, o
surdo ao contrário, sendo filho de pais ouvintes, fica impossibilitado de marcar os parâmetros
de sua língua de sinais ou faz isso um pouco mais tarde que o natural, pois a exposição a essa
língua geralmente é tardia. Contudo, não descartamos a possibilidade de uma aquisição da libras
pelo surdo, mesmo não tento um input linguístico favorável, como pudemos observar nas
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atividades realizadas com nossa informante surda. Assim, a libras mesmo não sendo adquirida
em um ambiente natural, foi possível perceber que há aquisição da língua, pois notamos o
amadurecimento e o desenvolvimento do nível linguístico.
Em nosso trabalho discutimos a aquisição tardia de uma surda mediada por professores
ouvintes e também em contato com outros surdos usuários da libras. Apesar de ser uma pesquisa
em andamento, notamos que é possível uma aquisição de L1 na fase em que a surda se encontra,
mas ainda resta-nos saber se poderemos considerar como uma aquisição perfeita e sem
prejuízos no uso de sua língua. Ressaltamos ainda a importância dessa pesquisa, pois estudos
como este poderá demonstrar que mesmo em um ambiente linguístico não natural e não tão
ideal o surdo pode adquirir a libras como língua materna e com tanta fluência como um surdo
de filhos de pais surdos. Portanto, salientamos a continuidade dos nossos estudos que
possivelmente embasará e contribuirá para novas pesquisas no campo de aquisição.
Referências
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FINGER, Ingrid. (Orgs.) Teorias de Aquisição da Linguagem. Florianópolis, Ed. UFSC, 2008.
________. Aquisição das Línguas de Sinais In: ________; STUMPF, M. R (Orgs.). Estudos
Surdos IV. Petrópolis: Arara Azul, 2009.
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Artmed, 2011.
SCARPA, Ester Mirian. Aquisição da Linguagem. In: MUSSALIM, F; BENTES, A.C. (Orgs.)
Introdução à Linguística: domínios e fronteiras, V. 2 8 ed. São Paulo: Cortez, 2012.
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CLASSIFICADORES E AÇÕES CONSTRUÍDAS EM LIBRAS
Thamires Oliveira de Souza 45
Adriana Stella Cardoso Lessa de Oliveira46
Resumo: Esse trabalho tem por objetivo apresentar a primeira etapa de pesquisa em andamento que discute
sobre Classificadores e Ações Construídas em língua brasileira de sinais (Libras), com a presente pesquisa
pretende-se identificar como esses conceitos são apresentados tanto no senso comum, quanto na literatura, além
de investigação a sua natureza (não-) gramatical e verificar a recorrência e produtividade dessas estruturas. Para
isso teremos como corrente de estudos a proposta da teoria Gerativa de Noam Chomsky. A coleta de dados será
realizada a partir de corpus constituído de amostras de fala em libras produzidas por sujeitos-informantes surdos
e ouvintes bilíngues, gravadas em vídeo. Para a transcrição dos dados, utilizamos o SEL (Sistema de Escrita para
Língua de Sinais), desenvolvido por Lessa-de-Oliveira (2012). A análise de Classificadores e Ações
Construídas neste estudo considera dois níveis o sintático e fonológico a partir dos quais avaliamos a natureza e
caracteíriscas dessas estruturas que as possam identificar como gramaticais ou não. Para tal análise
nos fundamentaremos quadro teórico gerativista (CHOMSKY, 1995) e na hipótese da unidade MLMov (Mão-
Locação-Movimento) levantada também por Lessa-de-Oliveira (2012) para a identificação dos sinais da Libras do
ponto de vista fonológico.
Palavras-Chave: Aquisição da Linguagem; Natureza Gramatical; Sinal; Classificadores e Ações Construídas.
Abstract: This work aims to present a first stage of ongoing research that discusses Classifiers and Literatures
Built in Brazilian Sign Language (Pounds), as well as researching its nature (non-grammatically) and verifying
the occurrence and structure of the structures. For this, it is necessary to present a proposal of the Gerativa theory
of Noam Chomsky. Data collection will be performed from corpus consisting of speech samples in pounds by deaf
users and bilingual listeners recorded on video. For the transcription of data, uses the SEL (System of Writing for
Sign Language), developed by Lessa-de-Oliveira (2012). The Analysis of Classifiers and Actions On this issue
consider the differences and structural characteristics of nature and character traits of structures as those that
are as a whole or are not grammatical. For the analysis of managerial theoretical foundations (CHOMSKY, 1995)
and in the formation phase of MLMov (Hand-Lease-Movement) was also created by Lessa-de-Oliveira (2012) for
the identification of indicators of the Phonological Viewpoint Pound .
Keywords: Acquisition of Language; Grammatical Nature; Signal; Classifiers and Built Action
Introdução
O presente trabalho é uma pesquisa em andamento, que tem como objetivo apresentar
os estudos de conceitos dos elementos presente na língua brasileira de sinais (Libras), a saber:
classificadorese ações construídas, esses conceitos não estão bem delineados, tanto no senso
45Especialista em Libras; Discente do Programa de Pós-graduação do Mestrado em Linguística (PPGLin) pela
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Professora Auxiliar do Departamento de Estudos
Linguísticos e Literários da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), atuando na graduação dessa
universidade. Vitória da Conquista, Bahia, Brasil; e e-mail: [email protected].
46Doutora em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas. Professora Titular do Departamento de
Estudos Linguísticos e Literários da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), atuando na graduação
e no Programa de Mestrado em Linguística dessa universidade.Vitória da Conquista, Bahia, Brasil; e e-
mail:[email protected].
V SENAL | 114 | UESB/2018
comum, quanto na literatura, isto levam os seus usuários, sejam surdos ou não surdos, a
defininem de maneira “aleatória” o que seja um classificador e uma ação construída, este
último contamos ainda com pouquíssimas pesquisa na área.
Diante disso, a presente pesquisa busca encontrar na literatura os conceitos definidos
para classificadores e ações construídas na libras, além de compreender o que os usuários da
libras consideram quanto ao que sejam esses elementos na língua. Assim buscaremos ao longo
da pesquisa identificar natureza (não-)gramatical desses elementos e verificar sua recorrência
e produtividade.
A análise de Classificadores e Ações Construídas neste estudo considera dois níveis o
sintático e fonológico a partir dos quais avaliamos a natureza e caracteíriscas dessas estruturas
que as possam identificar como gramaticais ou não. Para tal análise nos fundamentaremos
quadro teórico gerativista (CHOMSKY, 1995) e na hipótese da unidade MLMov (Mão-
Locação-Movimento) levantda também por Lessa-de-Oliveira (2012) para a identificação dos
sinais da Libras do ponto de vista fonológico.
Material e Método
O procedimento metodológico adotado nesta pesquisa se caracteriza como de natureza
experimental. Quanto ao seu desenvolvimento teremos um delineamento com corte transversal.
Para obtenção dos dados realizaremos testes experimentais, por meio da produção de vídeos
que serão exibidos para os participantes.
Os testes de elucidação serão realizados de maneira controlada por meio de vídeos
compostos de conteúdos distintos, utilizando a linguagem não verbal, os vídeos serão divididos
em três seções, a saber: teste de recorrência de classificadores e ações construídas: iremos
verificar neste teste a recorrência e produtividade de (sinais e/ou classificadores e/ou ações
construídas) observando as estruturas nos dados dos três diferentes grupos de sujeitos-
informantes pesquisados.
No segundo teste nos certificaremos do grau de aceitabilidade de narrativas com sinais
padrões e com ações construídas: teremos como objetivo comparar o grau de compreensão e
aceitação entre a sinalização, em libras, que contém apenas sinais padrões com a que contém
ações construídas, após os sujeitos informantes terem escolhido qual vídeo foi mais claro na
apresentação da narrativa e qual mais lhe agradou.
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E, por fim, o terceiro teste tem por finalidade verificar o estatuto de gramaticalidade e o
grau de produtividade de classificadores em libras. Os sujeitos informantes deverão indicar,
através de múltipla escolha, o traço semântico-formal correspondente a tal classificador em
libras.
Após a aplicação dos testes faremos a transcrição dos dados para realização dessas
transcrições usaremos o SEL (Sistema de Escrita para Língua de Sinais), desenvolvido por
Lessa-de-Oliveira (2012). Como instrumento de análise da pesquisa, utilizaremos o modelo da
unidade MLM ((Mão (M), Locação (L) e Movimento (Mov)), também proposto por Lessa-de-
Oliveira (2012), esse instrumento é subdividido em três macrossegmentos de acordo com as
especificidades articulatórias dos sinais.
Resultados e Discussão
Uma investigação sobre a natureza gramatical dos classificadores e ações construídas
em libras envolve questões relativas às propriedades (não-)gramaticais das mesmas, bem como
envolve os aspectos que dizem respeito ao processo de aquisição desses elementos por surdos
e ouvintes bilíngues. Para Finau e Mazzuchetti (2015), os classificadores da libras ainda são
elementos “obscuros do ponto de vista linguístico [...] tais elementos ainda não têm uma
descrição unânime entre os linguistas no que tange ao seu status morfológico, sua posição
sintática e nem mesmo quanto a suadefinição”. Já de acordo com Bernardino (2012, p. 3), os
classificadoresfazem parte do núcleo lexical (Quadros; Karnopp, 2004) dessas línguas. Eles são
responsáveis pela formação da maioria dos sinais já existentes, assim como pela criação de
novos sinais.
Com base nos estudos de McCleary e Viotti (2011, p. 9), outro recurso que precisa ser
estudado são as ações construídas. Os autores descrevem tais acões como sendo movimentos
corporais do sinalizador, isto é, “[...] parte do corpo do sinalizador se movimenta de maneira
a representar iconicamente o corpo de um personagem humano ou animal, ou para representar
a localização, o posicionamento e a movimentação de algum objeto ou entidade". Os
pesquisadores explicam que esse recurso é bastante explorado em gêneros textuais, como, por
exemplo, emnarrativas. Bolgueroni eViotti (2013, p.23) descrevem um fenômeno que explica
a construção das ações construídas, intitulado espaço sub-rogado, o qual resulta da integração
conceitual de partes do corpo do sinalizador – que pertencem ao espaço real – com entidades
pertencentes ao espaço do evento (Figura 1). Em função dessas caracteríticas, essa esstrutura
V SENAL | 116 | UESB/2018
se diferencia do sinal (Figuras 2) e dos Cassificadores (Figuras 3).
Figura 1 Figura 2
Figura 3
Fonte:Bolgueroni; Viotti (2013, p.23)
Conclusão
O estudo que procure caracterizar estruturas presentes na libras como classificadores e
ações construídas,avaliando a condição de gramatical ou não de tais estruturas, em comparação
com o comportamento do sinal, leva a uma maior compreensão da estrutura gramatical das
línguas de sinais, bem como de outros recursos comunicativos que talvez estejam coocorrendo
com essas estruturas.
Referências
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brasileira. In: ReVEL, v. 10, n. 19, 2012. [www.revel.inf.br].
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Cristina de Assis. (Org.). Língua Portuguesa e libras: teorias e práticas. 1ed.João Pessoa:
Editora Universitária da UFPB, 2011, v. 4, p. 9-53.
FINAU, Rossana A.; MAZZUCHETTI, Vinicios. A incorporação de numeral em estruturas
classificadoras de língua brasileira de sinais. ReVEL, v. 13, n. 24, 2015.
LESSA-DE-OLIVEIRA, Adriana S. C. As sentenças relativas em português brasileiro:
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MCCLEARY, Leland; VIOTTI, Evani. Língua e gesto em línguas sinalizadas. In: VEREDAS
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V SENAL | 117 | UESB/2018
VELOSO, B. S. Construções classificadoras e verbos de deslocamento, existência e
localização na língua de sinais brasileira. - 2008. 172 f. Tese (Doutorado) - Instituto de Estudos
da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2008.
V SENAL | 118 | UESB/2018
O COMPORTAMENTO DAS CATEGORIAS NOME E VERBO NA LIBRAS
Ediélia Lavras dos santos Santana 47
Adriana Stela Cardoso Lessa-de-Oliveira48
Resumo: Este estudo objetiva identificar as categorias nome e verbo na Libras, por meio do critério sintático.
Hipotetizamos que, nessa língua, não há um morfema categorialmente explícito que os difere que, somente por
meio da análise da posição sintática frente aos demais constituintes na sentença é que podemos delimitar os traços
de N e V. A fim de verificar a existência ou não de morfemas categorias para N e V em Libras, realizamos
investigação por meio de um teste de eliciação, com imagens contendo 25 pares de N e V, com o objetivo de obter
frases em Libras como esses 25 pares de V e N estudados. O teste foi aplicado a 10 surdos, com aquisição da
Libras, 5 em período crítico, e 5 com aquisição em período tardio, e também a 9 ouvintes fluentes em Libras. Para
constituição do aporte teórico, fundamentamo-nos na teoria gerativa e aquisição da linguagem (CHOMSKY,
1995), em estudos a respeito da gramática da Libras (SUPALLA; NEWPORT,1978; QUADROS; KARNNOP,
2004; PIZZIO, 2011; LESSA-DE-OLIVEIRA, 2012). Os resultados revelam que somente por meio do contexto
sintático é possível a identificação das categorias N e V, pois os usuários independentes de sua aquisição não
fazem diferenciação morfofonologica dessas categorias na realização do sinal. Durante as análises também foram
encontradas estruturas com traços adjetivais, e outras impossíveis de serem identificadas, ficando a cargo do
contexto semântico pragmático distingui-las.
Palavras-chaves: Categorias gramaticais; Contexto sintático; Libras; Nome; Verbo;
Abstract: This study aims to identify the name and verb categories in the Libras, through the syntactic criterion.
We hypothesize that in this language there is not a categorically explicit morpheme that differs them, it is only
through the analysis of the syntactic position in front of the other constituents in the sentence that we can delimit
the traces of N and V. In order to verify the existence or not of morphemes categories for N and V in Pounds, we
carried out an investigation through an elicitation test, with images containing 25 pairs of N and V, in order to
obtain phrases in Pounds like these 25 pairs of V and N studied. The test was applied to 10 deaf people, with
acquisition of Libras, 5 in critical period, and 5 with acquisition in late period, and also 9 fluent listeners in
Pounds. For the constitution of the theoretical contribution, we are based on the generative theory and language
acquisition (CHOMSKY, 1995), in studies about the grammar of Libras (SUPALLA; NEWPORT, 1978;
QUADROS; KARNNOP, 2004; PIZZIO, 2011; LESSA DE OLIVEIRA, 2012). The results show that only through
the syntactic context is it possible to identify the categories N and V, since the independent users of their acquisition
do not differentiate morphophonologically from these categories in the realization of the signal. During the
analyzes, structures with adjectival traits were also found, and others were impossible to identify, being in charge
of the pragmatic semantic context.
Keywords: Pounds; grammatical categories; name; verb; syntactic context.
Introdução
Supalla e Newport (1978) investigaram 100 pares de Nomes (N) e Verbos (V) da ASL
e chegaram a resultados que indicam a existência de a um padrão de distinção dessas categorias,
pelo parâmetro de movimento. Essa generalização foi assumida por Quadros e Karnopp (2004)
para Libras. O objetivo deste estudo é verificar por meio de metodologia experimental se, de
47 (Mestranda em linguística; UESB; Vitória da Conquista, BA-Brasil; [email protected]).
48(Doutora em linguística; UESB; Vitória da Conquista, BA-Brasil; [email protected])
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fato, há um padrão de movimento categorizador, curto e reduplicado para N e único e alongado
para V em Libras, como as autoras preconizam. Levantamos a hipótese de que não há morfema
categorial explicitamente realizado para distinção dessas categorias em Libras e defendemos
que, somente pelo contexto sintático, através da seleção argumental dos predicadores seja
possível identificar o que é N e o que é V nessa língua.
Procedimentos Metodológicos
A fim de testar a hipótese de ocorrência de marca categorial morfológica em Libras,
definidora de N e V, defendida por Quadros e Karnopp (2004), realizamos testes de eliciação
por meio de imagens em contexto com 10 surdos e 9 ouvintes fluentes em Libras. Selecionamos
os informantes da pesquisa por características que os dividem nos seguintes grupos: a) surdos
que adquiriram a Libras no período crítico (GC); b) surdos que adquiriram a Libras tardiamente
(GT); c) ouvintes que adquiriram a Libras como segunda língua-L2 (GO), conforme critérios
de estudos de gerativistas sobre a aquisição da linguagem. Durante os testes, os informantes
observavam a imagem apresentada a eles e produziam frases em Libras, as quais compõem
nosso corpus. Escolhemos um contingente de 480 frases com ocorrências dos pares eliciados.A
transcrição dos dados deste estudo se dá com a utilização do Sistema de Escrita para as Línguas
de Sinais- SEL, elaborado por Lessa-de-Oliveira (2012)49, pois nospropusemos a utilizar uma
metodologia de transcrição que representasse os dados o mais próximo possível da Libras.
Frisamos ainda que estamos analisando neste trabalho dados da modalidade falada da Libras, e
é isso que a transcrição em SEL procura abarcar.
Resultados e discussões
Na etapa de identificação de Nomes e Verbos correspondentes aos 25 item investigados,
nas frases produzidas pelos 19 informantes de nosso estudo, chegamos aos seruintes números:
houve 225 ocorrências de estruturas em que o traço licenciado para os itens investigados foi +N
e 279 ocorrências de estruturas em que o traço licenciado para os itens investigados foi +V. A
seguir apresentamos um exemplo de como realizamos a identificação da categoria desses sinais
pelo critério sintático.
49 Para saber mais sobre a SEL acesse o blog Escrita SEL (http://sel-libras.blogspot.com.br/)
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(1)
TRÊS AMIG[os] BICICLET[avam] (INF1-GC)
‘Três amigos passeiam(ou andavam) de bicicleta. ’
Conforme o critério sintático que adotamos, verificamos que o sinal ocupa a
posição de um predicador, que seleciona um argumento externo, (TRÊS
AMIGOS), que se move para a posição de sujeito. Portanto, o sinal corresponde ao
verbo BICICLETAR (sem correspondente em Português), ou seja, é o eixo verbal da oração e
não o nome BICICLETA.
Em nossos dados encontramos alguns itens dos nossos 25 sinais investigados em que os
informantes dos grupos GC, GO, GT os colocaram em posições adjetivas, especificamente
houve 8 ocorrências como o adjetivo SENTADO, e 1 ocorrência como o adjetivo LADRA (ou
LADRONA). Por exemplo, no teste, nosso objetivo, ao elucidar as imagens, seria provocar a
realização do verbo SENTAR ou do nome CADEIRA, no entanto nos deparamos com um
constituinte adjetival (categoria A), como podemos constatar na frase:
(2) (INF11-GO)
HOMEM SENT[ar/ado] PENS[ar] FUTURO
‘O homem sentado pensa no futuro’ ou
‘O homem senta e pensa no futuro’
Na primeira possibilidade de interpretação dessa frase, o eixo verbal da sentença é o
verbo PENSAR, um verbo transitivo que seleciona o sujeito O HOMEM SENTADO como
argumento externo. O sinal SENTADO é um adjetivo na função de adjunto adnominal. Mas há
também a possibilidade de interpretação desse sinal como verbo numa sentença complexa
coordenada – ‘O homem senta e pensa no futuro’.
Mesmo utilizando o critério sintático, em 36 frases produzidas pelos informantes, não
foi possível identificar qual a categoria dos sinais testados, como podemos observar no exemplo
abaixo. Fizemos, em alguns casos identificação apenas pelo contexto semântico pragmático,
em outros casos não houve alternativa de identificação da estrutura.
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(1)
PRÉDIO COMEÇ[ar] CONSTR[uir] (INF10-GO
‘Começaram a construir o prédio.’ ou ‘Começaram a construção do
prédio.’
O verbo COMEÇAR na sentença acima pode ter como complemento um VP eventivo
ou um DP. Assim fica difícil identificar a categoria do sinal (CONSTR[uir/ução])
complemento dessa verbo, a partir da análise do estrutura argumental.
Quanto critério do parâmetro de movimento para definição das categorias N e V não foi
localizado um padrão de movimento único e alongado para verbos e curtos e reduplicados para
nomes, pois a variabilidade da produção do sinal foi o mesmo em ambos os pares, sendo que
ocorrências dos mesmos tipos de movimentos se manifestadas tanto em N como em V, como
se observa no gráfico abaixo, o qual também atesta que tal variabilidade independe do caráter
de primeira ou segunda língua da Libras adquirida.
Gráfico único: Parâmetro de movimento para Nomes e Verbos
Fonte: Do autor (2008)
Conclusões
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Analisamos os pares de N e V, partindo do critério sintático para identificar sua
categoria. Os resultados indicaram não haver produtividade do parâmetro movimento como
elemento categorizador para N e V nos grupos de informantes, pois as ocorrências de
variabilidade de movimentos foram localizadas tanto em N como em V, ficando difícil agrupa-
los em um padrão que os categorizassem. Houve ocorrências de estruturas que não se
encaixavam nos traços N e nem em V, mas em A, estruturas adjetivas. Houve também
ocorrências difíceis de serem identificadas, muitas vezes observamos o contexto semântico-
pragmático para identificarmos as categorias. Assim, este trabalho visa contribuir com futuras
pesquisas sobre aquisição dessas categorias em Libras na modalidade falada como também na
interlíngua dos surdos na modalidade escrita do português como L2.
Referências
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1995.
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nomes de verbos. Florianópolis, UFSC: Tese de doutorado, 2011.
QUADROS, Ronice Müller. KARNOPP, Lodenir Becker. Língua de sinais brasileira: estudos
linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
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verbs in american sign language.Disponível em:
<https://www.researchgate.net/publication/313223392_How_many_seats_in_a_chair_The_de
rivation_of_nouns_and_verbs_in_American_Sign_Language.> Acessado em: 20/06/2018.
V SENAL | 123 | UESB/2018
O SINAL EM LIBRAS, SEU CONCEITO E CONTRIBUIÇÕES PARA A ANÁLISE
DE CONSCIÊNCIA LINGUÍSTICA
Carine Gurunga de Matos50
Daniele dos Santos Barreto51
Adriana Stella Cardoso Lessa de Oliveira 52
Resumo: O objetivo deste trabalho é investigar o conceito de sinal em Libras em nível sintático. Tais pesquisas
objetivam examinar o nível de consciência linguística com foco sintático e fonológico de sujeitos surdos e ouvintes
usuários das línguas de sinais como L1 e como L2. Para avaliar a consciência linguística de qualquer indivíduo é
preciso, antes de tudo, delimitar os conceitos de sinal em Libras, de frase e de sintagma, para posteriormente
mensurar se tal sujeito apresenta consciência da definição e uso de sinal e da língua que usa. A pesquisa também
tem como objetivo analisar se aprender uma escrita de sinais contribui para o surgimento ou aumento desse nível
de consciência.
Palavras-Chave: Escrita de Libras; Libras; Sinal; Aquisição de Linguagem; Consciência Linguística.
Abstract: The objective of this work is to investigate the sign concept in Libras at the syntactic level. These studies
aim at examining the level of linguistic awareness with syntactic and phonological focus of deaf subjects and
listeners using sign languages like L1 and L2. In order to evaluate the linguistic awareness of any individual, it is
necessary, first and foremost, to delimit the concepts of sign in Libras, phrase and syntagma, and then measure if
the subject is aware of the definition and use of the sign and the language that he uses. The research also aims to
analyze whether learning a writing of signs contributes to the emergence or increase of this level of consciousness.
Keywords: Writing of Libras; Libras; Signal; Acquisition of Language; Linguistic Awareness.
Introdução
O objetivo da pesquisa é investigar o nível de consciência linguística (sintática e
fonológica) em usuários da Libras sem e com o auxílio de um sistema de escrita.
Especificamente, objetivamos: 1) analisar o nível de consciência linguística sobre a Libras em
usuários antes do contato com um sistema de escrita; 2) promover a aquisição inicial do Sistema
de Escrita da Libras – SEL para os informantes deste estudo; 3) analisar o nível de consciência
linguística sobre a Libras em falantes da língua após o contato com a SEL; e 4) analisar se os
sujeitos-informantes apresentam consciência do sinal a partir da estrutura articulatória da
língua.
Falar de conhecimento de língua e de consciência linguística implica falar das seguintes
competências: compreensão e expressão oral; compreensão da leitura; expressão da escrita; e
conhecimento explícito. Teremos aqui o foco em nível sintático dessa abordagem, que é a
identificação e extração das regras de organização frásica da língua, que chamaremos de
50Mestranda do Programa de Pós-graduação em Linguística (PPGLIN) pela UESB; Vitória da Conquista – Ba –
Brasil;[email protected].
51Mestranda do Programa de Pós-graduação em Linguística (PPGLIN) pela UESB; Vitória da Conquista – Ba –
Brasil;[email protected]
52 Docente e orientadora do Programa de Pós-graduação em Linguística (PPGLIN) pela UESB; Vitória da
Conquista – Ba – Brasil;[email protected]
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sintagma, na definição apontada por Chomsky: o nível intermediário entre a palavra e a frase,
bem como em nível fonológico que trará inferências nos traços que estão abaixo dos sinais.
As perguntas que motivam esta pesquisa são:
1. O usuário de Libras tem consciência do que é sinal a partir da estrutura articulatória
da língua?
2. A ausência de conhecimento de uma escrita para Libras interfere no nível de
consciência sintática dessa língua?
3. Existe diferença de consciência sintática entre surdos que adquiriram a Libras na
infância, surdos que adquiriram a Libras tardiamente, e ouvintes bilíngues (Português/Libras)?
A fim de responder a tais questões levantamos as hipóteses a seguir, que assumimos
neste estudo:
1. O usuário de Libras apresenta consciência parcial dos sinais em Libras no nível
articulatório da língua.
2. A aquisição de um sistema de escrita para Libras contribui para que o usuário dessa
língua tenha consciência sintática e fonológica da mesma, uma vez que pesquisas anteriores
apontam que quanto mais se aprende sobre escrita mais se desenvolve a consciência sintática.
3. Existe diferença no nível de consciência sintática e fonológica em usuários da Libras
que tiveram algum tipo de contato com o ensino de línguas.
Material e Método
O presente estudo é de caráter transversal e de cunho experimental. Utilizaremos como
instrumentos testes linguísticos adaptados da metodologia utilizada por Capovilla (2006) e Cruz
(2016), em Prova de Consciência Sintática em Libras, e em Teste de Consciência Fonológica
da Libras, respectivamente.
Primeiramente os testes realizados deverão investigar se existe consciência sintática e
fonológica, e em que nível, em usuários de Libras, que ainda não tiveram contato com nenhum
tipo de escrita das línguas de sinais, separados em três grupos: surdos que adquiriram Libras na
infância, surdos que adquiriram Libras tardiamente, após a infância, e ouvintes bilíngues
Português/Libras. Num segundo momento, estes grupos passarão por um processo simplificado
de aprendizagem da SEL – Sistema de Escrita da Libras desenvolvida por Lessa-de-Oliveira
(2009). Após essa etapa, os sujeitos-informantes serão novamente submetidos a testes
adaptados de consciência sintática e fonológica, para verificar se houve alteração no
V SENAL | 125 | UESB/2018
desenvolvimento de níveis de consciência línguística nesses sujeitos a partir do contato com a
língua em modalidade escrita.
Todos os testes realizados passarão antes de sua execução por um grupo de controle,
com sujeitos-informantes diferentes do grupo teste, para validação dos instrumentos de
pesquisa.
2.1 Sujeitos-informantes e Corpus
A presente pesquisa realizar-se-á com três grupos de sujeitos-informantes: 1) surdos
com aquisição natural da Libras; 2) surdos com aquisição tardia da Libras; e 3) ouvintes
bilíngues fluentes em Libras. Os corpora se constituirão de respostas aos testes em material
escrito e visual (imagens e vídeos). Para analisá-los usaremos o software de anotação Elan
(EUDICO-Linguistic Annotator), e a escrita SEL (Sistema de Escrita para Língua de Sinais)
acompanhada de glosas.
Os dados dos aspectos sintáticos e fonológicos serão analisados, procurando-se verificar
os níveis de consciência tanto nos sujeitos surdos, quanto nos sujeitos ouvintes que compõem
o grupo de informantes da pesquisa. Após análise e tabulação dos dados, proceder-se-á a
discussão dos resultados com base nos dados dos teóricos que fundamentam o trabalho, bem
como de Capovilla e Capovilla (2006), Castro (2007) e CRUZ (2016) que também fizeram
testes de consciências sintática e fonológica, embora tenham apresentado um viés diferente do
aqui proposto. Para o teste de consciência fonológica serão apresentadas gravuras para resposta
esperada sobre sinais da Libras para avaliação de nível lexical. Será solicitado aos informantes
que demonstrem sinais, em dada ficha com gravuras, com os mesmos traços e com traços
distintivos.
Levantamento Bibliográfico
Para elaboração dos testes e realização das análises dos resultados, faz-se necessário a
definição de conceitos fundamentais de elementos que constituem a estrutura sintática da
Libras. Na base desses conceitos está o de sinal. Somente após a elaboração de um conceito de
sinal, com base em instrumental teórico específico, será possível testar os níveis de consciência
linguística dos sujeitos informantes, a partir de instrumentos que têm como base fazer
julgamentos de gramaticalidade.
É certo que há uma carência muito grande de trabalhos acadêmicos na área de Libras,
que teve seus estudos iniciados muito recentemente. Devemos considerar ainda o fato de que
definir o que é sinal pode ser um problema tão grande quanto definir palavra em língua oral.
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Em nossa análise partimos de conceitos como de signo linguístico postulado de Saussure
(1916), considerando que este se fundamenta em dois princípios básicos: arbitrariedade e
linearidade. Partimos também do conceito de Camara Jr (2007, p 86) para vocábulos, definido
por esse autor como elementos idênticos existentes em múltiplas frases, o modelo mental com
individualidade ao mesmo tempo significativa e formal.
Em Libras, para Ferreira (1995, p.36), todos os sinais que incorporam ao léxico utilizam
os parâmetros considerados gramaticais e, mesmo sinais com interferência da língua oral, a
serem incorporados à língua de sinais, obedecem às regras e restrições de sua estrutura. Temos
também uma definição como a de Lessa-de-Oliveira (2009) que postula a estrutura articulatória
de sinal em nível fonológico. A autora considera que a unidade articulatória da Libras é o que
ela trata como unidade de MLMov (Mão, Locação e Movimento).
Conclusões
O presente trabalho, em andamento, objetiva, a partir de testes de consciência
fonológica e consciência sintática, investigar se a aquisição da escrita interfere no nível de
consciência linguística sobre a Libras, semelhantemente ao que ocorre com as línguas orais.
Como contribuição aos estudos na área de Aquisição da Linguagem, o presente trabalho de
pesquisa intenta trazer recursos para uma definição técnica de sinal e para ampliação da visão
sobre a percepção dos falantes de Libras quanto às suas estruturas constitutivas elementares em
nível fonológico e sintático. Tal investigação é de grande importância aos estudos sobre a Libras
e sua aquisição, uma vez que a Libras ainda é uma língua agrafa e detecta-se ainda várias
dificuldade para os surdos no que diz respeito à aquisição da escrita.
Referências
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Vozes.
CAPOVILLA, F. C.; CAPOVILLA, A. G. S. Prova de consciência sintática (PCS):
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CAPOVILLA, A. G.S; CAPOVILLA, F. C; SOARES, J. V. T Fonte: do autor, 2018.
Consciência sintática no ensino fundamental: correlações com consciência fonológica,
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SAUSSURE, F. (1916). Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 1988. Edição original:
1916.
V SENAL | 128 | UESB/2018
TECNOLOGIA E LIBRAS: A PLATAFORMA SIGNUMWEB COMO
FERRAMENTA NA AQUISIÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS
Louise Henrique Santana dos Anjos53
Ione Barbosa de Oliveira Silva54
Resumo: O presente estudo propõe uma abordagem descritiva acerca da utilização de recursos tecnológicos
atrelados à Libras, observando as necessidades comunicativas da pessoa surda e do ouvinte aprendiz da língua de
sinais. Assim, a questão norteadora se constrói a partir da percepção de que a acessibilidade comunicativa pode e
deve ser melhorada, portanto, a necessidade de fazer conhecida essa nova modalidade tecnológica de comunicação
proposta pela plataforma Signumweb e identificar quais suas reais contribuições para a aquisição da língua de
sinais é o objetivo primordial desse artigo Por se tratar de uma empresa idealizada e liderada por um surdo,
acreditamos que suas intenções são realmente direcionadas para a promoção da acessibilidade em suas atividades
cotidianas. Nessa perspectiva, agregaremos ao nosso estudo um referencial teórico voltado para as políticas de
acessibilidade do surdo no Brasil. Podemos citar o texto dodecreto nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004 e a lei nº
13.146, de 6 de julho de 2015, que trazem contribuições para a apropriação dos direitos comunicativos pelos surdos
e a partir de então a adesão e utilização de recursos de natureza tecnológica para aperfeiçoar esse processo. Para
efetivação desse estudo, estabelecemos a hipótese de que esta plataforma pode contribuir positivamente para a
acessibilidade comunicativa dos surdos, garantindo seus direitos em relação à comunicação e diminuindo os
impactos causados pelo processo histórico de segregação da comunidade surda. Certamente a partir dessa pesquisa
descritiva, surgirão novas inquietações que nortearão outros estudos tendo como base essas propostas tecnológicas
de acessibilidade.
Palavras-chave: Acessibilidade; Comunicação; Plataforma Signumweb; Surdo; Tecnologia.
Technology and Libras: The Signumweb platform as a tool in the acquisition of Sign Language
Abstract: The present study proposes a descriptive approach on the use of technological resources linked to
Libras, observing the communicative needs of the deaf person and the listener who is learning. Thus, the guiding
question is built from the perception that communicative accessibility can and should be improved, therefore, the
need to make known this new technological modality of communication proposed by the Signumweb platform and
to identify what their real contributions to the acquisition of the language of signs is the primary objective of this
paper. Because it is an idealized and led by a deaf person, we believe that their intentions are really directed
towards the promotion of accessibility in their daily activities. From this perspective, we will add to our study a
theoretical reference aimed at the accessibility policies of the deaf in Brazil. We can focus the text of Decree No.
5.296 of December 2 of 2004 and Law No. 13.146 of July 6 of 2015, which bring contributions to the appropriation
of communicative rights by the deaf and from then on the adhesion and use of resources of technological nature
to perfect this process. In order to carry out this study, we hypothesized that this platform can contribute positively
to the communicative accessibility of the deaf, guaranteeing their rights in relation to communication and reducing
the impacts caused by the historical process of segregation of the deaf community. Certainly from this descriptive
research, new concerns will arise that will guide other studies based on these technological proposals of
accessibility.
Keywords: Accessibility; Communication; Deaf; Signumweb Platform; Technology.
53Especialista em Libras, professora substituta de Libras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia-UFRB,
Amargosa, Bahia, Brasil- [email protected].
54 Mestre em Linguística, professora de Libras da Universidade Estadual da Bahia-UESB, Jequié, Bahia, Brasil-
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Introdução
A Língua Brasileira de Sinais foi oficializada através da Lei 10436 no ano de 2002,
muitas conquistas foram alcançadas desde então, entretanto, nos nossos dias, a comunidade
surda ainda enfrenta situações adversas em relação à comunicação e sua verdadeira inclusão na
sociedade. Nessa perspectiva nos inquietamos para discutir e divulgar ideias e inovações a
respeito da comunicação para surdos através do uso da tecnologia.
A legislação brasileira sobre acessibilidade e inclusão, de uma forma geral, delineia o
que deve ser feito e quais as estratégias para que o indivíduo sinta-se incluído na sociedade.
Seguindo essa linha de pensamento podemos afirmar que a expressão tecnologias assistivas
vem reforçar a ideia de minimizar os efeitos da segregação e da exclusão normalmente
vivenciados com frequência por pessoas com deficiência. Quando atrelamos tecnologia e Libras
identificamos que há alguns softwares criados para auxiliar no processo de tradução e facilitar
a comunicação. O objetivo principal desse artigo é fazer conhecida essa nova modalidade
tecnológica de comunicação proposta pela plataforma Signumweb e identificar quais suas reais
contribuições para a aquisição da língua de sinais.
Acreditamos que essa plataforma pode contribuir positivamente no processo de
aquisição da língua de sinais. Para contemplar os objetivos propostos falaremos sobre
acessibilidade no âmbito da pessoa surda, a fim de compreender qual é a real necessidade e
quais as iniciativas têm correspondido. Em sequência abordaremos aspectos referentes à
plataforma Signumweb, apontando sua origem e objetivos. Ainda analisaremos as
contribuições resultantes da utilização desta plataforma para a aquisição da Língua de Sinais.
Assim, concluiremos o estudo com as considerações finais mostrando o cenário atual da Libras
e as perspectivas de implementação através dessa inovação tecnológica de comunicação.
Tecnologia e Libras
A questão da acessibilidade
O termo acessibilidade nos remete à ideia de livre acesso, liberdade de acessar algo. Em
concordância com essa afirmação podemos pensar que quando se trata da comunidade surda, a
acessibilidade comunicativa sempre o alvo principal das discussões, visto que essa comunidade
se apropria de uma língua de modalidade gestual visual, estruturalmente diferente da Língua
Portuguesa. Por esse motivo ainda há uma grande resistência frente a aceitação da Libras como
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língua natural. É fundamental desmistificar algumas crenças a respeito da língua de sinais.
Gesser (2009) em seu livro: Libras, que língua é essa? Traz diversas questões e desconstrói
conceitos socialmente estabelecidos sobre a Libras. Portanto é imprescindível compreender que
a Libras é a língua oficial da comunidade surda do Brasil, por isso precisamos pensar na
acessibilidade dessa comunidade através desse viés.
Dito isto, vejamos o que podemos extrair da legislação brasileira acerca da
acessibilidade para os surdos. O decreto nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004 abarca
direcionamentos para promover e garantir a acessibilidade a todas as pessoas.
Art. 6o O atendimento prioritário compreende tratamento diferenciado e atendimento
imediato às pessoas de que trata o art. 5o.
§ 1o O tratamento diferenciado inclui, dentre outros:
III - serviços de atendimento para pessoas com deficiência auditiva, prestado por
intérpretes ou pessoas capacitadas em Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS e no trato
com aquelas que não se comuniquem em LIBRAS, e para pessoas surdocegas,
prestado por guias-intérpretes ou pessoas capacitadas neste tipo de atendimento;
(BRASIL, 2004)
O fragmento destacado permite a compreensão de que os surdos têm direito a
atendimento diferenciado, ou seja, o surdo não precisa levar um parente ou amigo para mediar
a comunicação sempre que precisar ir ao médico, ao banco, à farmácia e outros locais. Há uma
legislação que os ampara. Infelizmente muitas coisas que estão previstas nas leis e decretos não
acontecem, principalmente porque grande parcela da sociedade ainda desconhece ou as vezes
prefere não insistir nessa luta por acessibilidade.
A lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 é muito clara quando fala sobre acessibilidade e
chama a atenção também para a tecnologia assistiva.
Art. 3o Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se:
I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança
e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes,
informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de
outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso
coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com
mobilidade reduzida;
III - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos, equipamentos, dispositivos,
recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a
funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência
ou com mobilidade reduzida, visando à sua autonomia, independência, qualidade
de vida e inclusão social; (BRASIL, 2015. grifos próprios)
Os termos destacados na citação merecem uma explanação, visto que a lei 13.146 é
chamada de lei da inclusão e esta não pode ser confundida com inserção. Ou seja, incluir não é
apenas inserir. O surdo que está inserido na sociedade não se sente incluído, não se sente parte
dessa organização social. Primordialmente por causa da barreira de comunicação e do
preconceito linguístico. Assim, quando lemos que a acessibilidade deve ser garantida também
V SENAL | 131 | UESB/2018
no âmbito da comunicação, percebemos que existem mais lutas para a comunidade surda. A
garantia de intérpretes nos ambientes educacionais é uma conquista, mas essa garantia precisa
se estender a toda a sociedade.
Ao abordar aspectos sobre as tecnologias assistivas o texto da lei explica que o objetivo
é garantir a funcionalidade [...] visando a sua autonomia, independência, qualidade de vida e
inclusão social. Assim, compreendemos que a tecnologia precisa estar aliada aos dispositivos
de inclusão para proporcionar a acessibilidade verdadeira. Nesse intuito reafirmamos que a
sociedade precisa utilizar os recursos disponíveis, principalmente tecnológicos a fim de garantir
esses direitos comunicativos.
A Plataforma Signumweb
Registrada em abril de 2017 a plataforma Signumweb surgiu da inquietação de seu
idealizador, Felipe Barros Silva (surdo), a respeito da barreira de comunicação existente ente
surdos e ouvintes. De acordo com informação do site próprio (www.signumweb.com.br - 2018),
a empresa “éuma das vencedoras da sétima edição do “Lemonade BH” – pré- aceleradora de
Startup. Atualmente está sendo acelerada no Techmall, com apoio do SEBRAE, UFMG,
BDMG, entre outros”.
Trata-se de uma plataforma de videoconferência com o intuito de intermediar a
comunicação entre surdos e ouvintes nas mais diversas situações. O ponto de partida para
idealização dessa empresa foi justamente acreditar que a comunicação é um direito do ser
humano e tentar dissolver os efeitos da barreira de comunicação estabelecida. Mesmo sendo
muito recente, algumas empresas já utilizam esse sistema de comunicação.
A Signumweb funciona com intérpretes online que estabelecem a comunicação entre
surdos e ouvintes de qualquer lugar, é necessário apenas ter um celular, tablet ou computador
com acesso a internet. A empresa aposta que essa inovação no processo de tradução trará ótimos
benefícios para a comunidade surda, visto que não será necessário chamar um intérprete para
acompanhá-lo, tudo é feito virtualmente. Ainda assim é importante ressaltar que nesse formato,
a privacidade do surdo também é protegida, pois o sistema não armazena os dados das
chamadas.
Logicamente essa plataforma tem uma logística financeira para manter os atendimentos.
Inicialmente a ideia é que as empresas se conscientizem e adotem essa forma de comunicação
a fim de permitir liberdade comunicativa em seus ambientes para os surdos, pagando pela
V SENAL | 132 | UESB/2018
adesão e pelos atendimentos. Além disso, o próprio surdo pode se cadastrar e utilizar a
plataforma, chamando um intérprete online sempre que precisar, pagando por esses
atendimentos.
No site da plataforma ainda encontramos um blog com diversas informações, textos,
entrevistas e curiosidades sobre comunicação, Libras, acessibilidade e surdez. É muito
interessante contemplar o desenvolvimento da tecnologia a favor da comunidade surda, e em
defesa da acessibilidade comunicativa.
Contribuições para a aquisição da Língua de Sinais
Diante das percepções adquiridas acerca da acessibilidade e da plataforma Signumweb,
a proposta é refletir sobre as possíveis contribuições que podem ser geradas a partir da utilização
dos serviços dessa empresa. Nessa linha, é importante pontuar que já existem no mercado
tecnológico digital alguns aplicativos que disponibilizam tradução da língua portuguesa para a
Libras. Entretanto esses sistemas usam avatar, a partir de uma tradução automática e
programada. O grande diferencial da Signumweb é justamente a utilização de intérpretes reais
através de videoconferência.
Quando um surdo solicita um intérprete através da plataforma, ele não sabe quem o
atenderá, assim como o intérprete também não sabe qual será o atendimento feito. Esse fator é
muito interessante porque promove a disseminação da língua de sinais por meio das variações
linguísticas e a ampliação do vocabulário. Assim, quando há divergências entre sinais, os
interlocutores têm a possibilidade de questionar, interagir e sanar as dúvidas, estabelecendo
assim um diálogo produtivo. Observando por esse viés os aplicativos que usam tradução
automática não dispõem dessa possibilidade de estabelecer comunicação, mas apenas traduzir
palavra por palavra.
Em relação à aquisição da Língua de Sinais é imprescindível pontuar que uma pessoa,
surda ou ouvinte, que está em fase de desenvolvimento linguístico consegue utilizar a
plataforma e ter ótimos resultados, justamente por conta dessa possibilidade de comunicação
pessoal e direta. Acreditamos que trata-se de uma inovação promissora no âmbito das
tecnologias assistivas para a comunidade surda e poderá contribuir de forma valiosa para o
fortalecimento cultural e identitário dessa comunidade.
V SENAL | 133 | UESB/2018
Conclusões
Esta pesquisa delineou-se a partir da inquietação de fazer conhecida a plataforma
Signumweb e seu recente trabalho na área de acessibilidade comunicativa para surdos.
Percebemos que essa iniciativa vem se encaixar no âmbito das tecnologias assistivas e traz
inovação para o mercado tecnológico nessa área. É uma proposta muito interessante e deve ser
disseminada a fim de que a comunidade surda possa se beneficiar dessa ferramenta e diluir os
impactos dessa barreira de comunicação que persiste em nossa sociedade.
No que se refere ao processo de aquisição da língua de sinais é fundamental contemplar
que a melhor escola para aprender uma língua é a prática. Acreditamos que a partir do diálogo
estabelecido por meio da plataforma, haverá um desenvolvimento linguístico considerável, para
ambos os envolvidos no processo. Assim, essa pesquisa propôs analisar de forma descritiva os
aspectos atrelados a acessibilidade e a Signumweb e suas contribuições na aquisição da Língua
de Sinais, portanto, o objetivo foi atingido, visto que conseguimos esclarecer proposições e
vislumbrar também algumas novas propostas de pesquisa, como por exemplo a análise dos
impactos dessa plataforma na sociedade, como tem sido a chegada dessa nova ferramenta e
quais discursos estão sendo produzidos pela comunidade surda a esse respeito.
Referências
BRASIL. “Decreto nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004”. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm> Acesso
em: 29/09/18
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm> Acesso em:
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Comitê de Ajudas Técnicas. “Tecnologia Assistiva”. Brasília, 2009. p.138.
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sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola, 2009.
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<http://blog.signumweb.com.br/>. Acesso em: 29/09/18
SONZA, A. P. “Acessibilidade e Tecnologia Assistiva: pensando a inclusão sociodigital de
pessoas com necessidades especiais”. Bento Gonçalves – RS. 2013. p. 199. Disponível em:
http://www.planetaeducacao.com.br/portal/conteudo_referencia/acessibilidadetecnologia-
assistiva.pdf>. Acesso em 29/09/18.
V SENAL | 134 | UESB/2018
UM ESTUDO SOBRE A COMPREENSÃO DO SURDO EM RELAÇÃO ÀS
METÁFORAS DA LÍNGUA PORTUGUESA
Louise Henrique Santana dos Anjos55
Ione Barbosa de Oliveira Silva56
Resumo: O presente artigo traz uma temática que propõe uma análise interessante acerca da compreensão do surdo
em relação às metáforas da Língua Portuguesa, que permeiam nossos discursos cotidianamente. Também propõe
uma reflexão sobre a grande importância para o trabalho de tradução e interpretação, uma vez que é através dessas
mãos que as mensagens são transmitidas. Nesse âmbito serão abordadas diversas publicações acerca das vertentes
que incorporam este tema. Sendo esta uma pesquisa bibliográfica, é relevante citar a autora Sandra Patrícia de
Faria (2006) que tem contribuído de forma grandiosa para o desenvolvimento deste estudo por intermédio de suas
construções cientificas, sempre baseados em experiências e pesquisas de campo. Ainda pontuamos as
contribuições de Priscila Barbosa e Vanessa Teixeira (2013) que efetivaram um estudo sobre metáforas, Língua
Portuguesa e alunos surdos estabelecendo critérios importantes e desmitificando algumas crenças. Assim, é
possível apreender que as nuances da Língua Portuguesa desenhadas nesse estudo por meio das metáforas,
merecem ser pesquisadas a fim de corroborar para a implementação de estratégias no processo de tradução e
interpretação, para que o entendimento do surdo não seja comprometido ou limitado.
Palavras-chave: Libras; Língua Portuguesa; Metáforas; Surdo.
A study on the understanding of the deaf in relation to the metaphors of the Portuguese Language
Abstract: This paper presents a thematic that proposes an interesting analysis about the understanding of the deaf
in relation to the metaphors of the Portuguese Language, that permeate our discourses daily. It also proposes a
reflection on the great importance for the work of translation and interpretation, since it is through these hands
that the messages are transmitted. In this context will be approached several publications on the aspects that
incorporate this theme. This is a bibliographical research, it is relevant to mention the author Sandra Patrícia de
Faria (2006) who has contributed in a great way to the development of this study through its scientific
constructions, always based on experiences and field research. We also point out the contributions of Priscila
Barbosa and Vanessa Teixeira (2013) who carried out a study on metaphors, Portuguese Language and deaf
students establishing important basis and demystifying some beliefs. Thus, it is possible to realize that the routes
of the Portuguese Language designed in this study through metaphors deserve to be researched in order to
corroborate the implementation of strategies in the process of translation and interpretation, so that the
understanding of the deaf is not compromised or limited.
Keywords: Deaf; Libras; Metaphors; PortugueseLanguage.
Introdução
Sabemos que todo processo de tradução tem suas peculiaridades, a proposta deste
trabalho é tratar de uma vertente atrelada às metáforas da Língua Portuguesa (LP) e sua
55Especialista em Libras, professora substituta de Libras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia-UFRB,
Amargosa, Bahia, Brasil- [email protected].
56 Mestre em Linguística, professora de Libras da Universidade Estadual da Bahia-UESB, Jequié, Bahia, Brasil-
V SENAL | 135 | UESB/2018
compreensão pelos surdos. Nessa perspectiva é fundamental reforçar a afirmação de que a LP
é a segunda língua (L2) para os surdos, então, é necessário perceber que há uma metodologia
direcionada para essa finalidade, não se considera simplesmente a tradução literal do termo,
mas uma interpretação de significado.
Compreendemos que existem situações no ato de interpretar que podem ser
consideradas complicadas ou de difícil discernimento. Essa afirmação configura o caso das
metáforas. As quais dependem de outros fatores para serem compreendidas pelos alunos surdos
por intermédio da tradução feita pelo intérprete em Libras. Assim, a questão norteadora está
ligada com a necessidade de entender como se dá a compreensão das metáforas da LP e quais
as estratégias que integram esse processo.
O objetivo geral deste artigo é analisar a compreensão do surdo em relação às metáforas
da Língua Portuguesa. Para que esta finalidade seja alcançada com êxito é necessário listar os
aspectos envolvidos no processo de tradução das metáforas do Português para Libras, dissociar
os recursos apropriados e desapropriados envolvidos neste processo metodológico e averiguar
quais as implicações resultantes na compreensão dos surdos. Todo esse aparato será pautado
em pesquisas feitas por alguns estudiosos da educação especial e também de áreas afins.
Língua Portuguesa, Libras e surdez
Língua Portuguesa como Segunda Língua
Um aspecto importante que deve ser considerado quando falamos de aquisição de escrita
por surdos, é que estes são, em sua maioria, usuários de uma língua de sinais, mas no processo
da escrita eles têm que adquirir a língua portuguesa, mesmo não sendo sua língua natural. Dessa
forma, a Língua Portuguesa é para o aluno surdo sua segunda língua e nesse sentido a aquisição
dessa língua se torna um desafio tanto para os surdos quanto para os profissionais envolvidos
no processo. Nesse sentido, é a libras que vai dar suporte para a apreensão da língua portuguesa
na modalidade escrita. “É por meio dela que se faz a leitura do mundo para depois se passar á
leitura da palavra em língua portuguesa” (SALLES et al, 2004, p. 21).
Conforme Botelho (2005), para o surdo fazer uso competente da leitura e da escrita é
indispensável à aquisição da língua de sinais. Nesse sentido, percebe-se que uma das causas da
não aquisição da linguagem escrita por surdos de forma satisfatória, pode ser a falta de uma
língua definida. Pois, adquirindo a libras, a criança se torna capaz de significar o mundo,
V SENAL | 136 | UESB/2018
vivenciar situações em seu meio, como também contribui para aquisição do português escrito.
E muitos surdos não conhecem a sua própria língua, então como adquirir uma escrita de outra
língua?
Conforme Begrow (2009), aprender a língua portuguesa para os surdos, é mais do que
aprender a linguagem escrita, é apropriar-se de um idioma que não é o seu, uma língua até então
tida como estrangeira.
Compreendendo Metáforas
As metáforas são muito utilizadas e de fácil acesso na comunicação oral. Normalmente
externamos uma metáfora com tamanha sutileza que muitas vezes nem nos damos conta do
sentido que aquela expressão carrega. As Línguas de Sinais também possuem suas
particularidades e suas expressões. Mas ao se tratar da tradução da Língua Portuguesa para
Libras percebemos que nem sempre há uma equivalência real, até porque a Libras não é uma
versão sinalizada da língua oral, como afirma Gesser(2009). Então não há um sinal para
exatamente cada palavra. Normalmente é necessário utilizar sinônimos ou expressões para
traduzir, trata-se de uma busca por equivalência de significado.
De acordo com os aspectos discutidos acerca da estrutura da metáfora sintetizamos que
o sentido metafórico coexiste juntamente com nossa rotina, é algo normalizado e comum.
Entretanto no âmbito das Línguas de Sinais podemos compreender que não há esse simples
relacionamento quando se trata de traduzir esse sentido metafórico do português para Libras.
Interação Entre Metáforas e Libras
No caso que está sendo estudado, tratamos das metáforas. Como é sabido, esta classe de
palavras ou expressões se caracterizam pela excessiva carga significativa que carrega, ou seja,
uma metáfora tem um significado específico, mas ao mesmo tempo amplo. Que pode significar
literalmente uma coisa, mas em determinado contexto outra. Normalmente utilizamos muitas
metáforas no nosso dia-a-dia. Entretanto para ouvintes existe uma facilidade na compreensão,
pois trata-se de um contexto cultural, e o surdo não tem acesso a esses aspectos culturais porque
são veiculados de forma oral. Isso não significa que os surdos não possam compreender as
metáforas da Língua Portuguesa. Eles precisam de uma interpretação adequada para que esse
entendimento seja eficaz.
V SENAL | 137 | UESB/2018
Compreendemos que um dos maiores problemas em relação ao ato de interpretar da
Língua Portuguesa para Libras é a literalidade. Pois os surdos entendem o sentido literal do que
está sendo sinalizado. No artigo “Ao pé da letra não” de Sandra Patrícia (2006) encontramos
alguns exemplos que podem esclarecer perfeitamente a questão da tradução literal, vejamos:
EXEMPLO: “Minhas veias saltaram”
– Transcrição, em Português sinalizado, extraída do vídeo: VEIA PULAR
– Uma possibilidade de tradução, do exemplo, em Libras, seria:
VEIA CL , partindo das veias do braço como que saindo do mesmo.
Podemos entender que a figura do exemplo mostra como seria a transcrição da frase em
Português sinalizado, ainda percebemos também que essa figura ilustra perfeitamente a
compreensão do surdo em relação ao que foi interpretado. Ainda visualizamos a possível
tradução feita em Libras, usando a configuração de mão em “x” e os movimentos verticais
saindo do braço. Nesse momento podemos pontuar algumas circunstâncias. Primeiro, para que
o surdo possa compreender o sentido real da metáfora, ele precisa conhecê-la. Caso ele não a
conheça o intérprete precisa traduzir o significado daquela metáfora naquele contexto e não
apenas o que foi dito. Em segundo lugar podemos compreender que o Português sinalizado e a
Libras são diferentes. Na primeira a tradução ocorre pela troca de palavra em português por
sinais em Libras. No segundo caso, utilizam-se regras de gramática própria da Libras.
Podemos portanto, inferir que a implicação mais pertinente resultante da tradução de
metáforas na comunicação com os surdos é justamente a aprendizagem e a inclusão. Ou seja,
se o aluno está em determinado ambiente e é por meio de Libras que compreende os discursos,
ele precisa e tem direito de receber uma tradução efetivamente coerente e eficaz. Dessa forma
voltamos novamente o foco para a qualificação do intérprete, este é um fator muito importante
para que todo esse processo seja melhorado.
V SENAL | 138 | UESB/2018
Conclusões
No decorrer desta pesquisa foi possível perceber que ainda temos muito a aprender sobre
essa interação entre Libras e Língua Portuguesa. Surgem muitas indagações que possivelmente
gerarão novas pesquisas nesse âmbito. A introdução da análise acarretou uma série de
constatações acerca do processo comunicativo, inclusivo, de tradução e até mesmo de
capacitação dos intérpretes.
O objetivo primordial foi cumprido, visto que estabelecemos uma análise direcionada
sobre o processo de tradução de metáforas de Língua Portuguesa para Libras, mediante
argumentos e abordagens encontrados em textos de pesquisadores e estudantes que se dedicam
à área da educação especial. Diante de todas essas constatações concluímos que a caminhada
no âmbito da educação para surdos é árdua e ao mesmo tempo apaixonante. Finalizamos este
artigo com a certeza de que cumprimos os objetivos propostos e alcançamos respostas para as
inquietações que moviam esta pesquisa. Entretanto, novas perspectivas foram vislumbradas e
certamente serão contempladas com novos estudos e pesquisas a fim de contribuir para o
enriquecimento desta área, como por exemplo estudos na área da tradução e interpretação a fim
de compreender quais as estratégias que estão envolvidas no processo de tradução de metáforas
e como os intérpretes buscam explicar os contextos.
Referências
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português: o processo investigativo como objeto de conhecimento. In: SANTIAGO, Vania de
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de Janeiro: CiFEFiL, 2013.
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surdos: contribuições de estratégias metalinguísticas em língua de sinais. Salvador,2009. Tese
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2009.
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FARIA, Sandra Patrícia de. Ao pé da letra não! Mitos que permeiam o ensino da leitura para
surdos.In: QUADROS, Ronice Muller de. (Org.). Estudos Surdos I. Petrópolis. RJ. Arara Azul,
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FARIA, Sandra Patrícia de. Metáfora na LSB: debaixo dos panos ou a um palmo de nosso
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Surdos - Brasília : MEC ; SEESP, 2004. 94 p. : il.
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SOARES, Maria Aparecida Leite. A educação dos surdos no Brasil. Campinas: Autores
Associados, 1998.
V SENAL | 140 | UESB/2018
SIMPÓSIO TEMÁTICO 4: QUESTÕES DE FONÉTICA E FONOLOGIA NA
ALFABETIZAÇÃO EM CONTEXTOS TÍPICO E ATÍPICO
COORDENAÇÃO: MARIAN OLIVEIRA E VERA PACHECO
MARCADORES PROSÓDICOS E LEITURA EM VOZ ALTA: ANÁLISE
PRELIMINAR
Hergon Henrique B. R. Leite
Marian Oliveira
Vera Pacheco
Thalita F. Santos
Resumo: Pesquisas de Stoel-Gammon (2001), Oliveira, Pacheco e Pereira-Souza (2017) mostram que diferenças
anatômicas e fisiológicas são fatores que alteram e dificultam a produção da fala de pessoas com síndrome de
Down (doravante, sD). Essas características, associadas a outros fatores intrínsecos (alterações auditivas, motoras
e orofaciais) e a fatores extrínsecos (estatuto social da criança, ambiente familiar) influenciam o desenvolvimento
da leitura da criança com sD, embora exista variação entre os indivíduos dessa população (SNOWLING, 2008).
Sabendo da relação entre prosódia e fluência de leitura, desenvolvemos o presente estudo cuja hipótese é a de que
a falta de conhecimento dos marcadores prosódicos gráficos, associados ao déficit cognitivo e a complicações no
trato vocal que comprometem a demarcação de nuances prosódicas na fala dessas pessoas prejudicam a precisão
da leitura em voz alta feita pelo sujeito com sD. Para análise, foram selecionados seis vídeos do banco de dados
do Núcleo Saber-Down/UESB. Avaliamos a leitura de dois sujeitos, a saber: SE., sexo feminino, 16 anos, e SK.,
do sexo masculino, 15 anos, naturais de Vitória da Conquista - BA e Poções - BA, respectivamente. Os resultados
confirmam a nossa hipótese e sugerem que o treino da prosódia pode contribuir no ensino-aprendizado da leitura.
Palavras-chave: Fluência de leitura; Marcadores prosódicos; síndrome de Down.
Introdução
A sD é o resultado de uma alteração cromossômica, que acarreta no acréscimo de um
cromossomo extra em cada uma das células do indivíduo. As características dessa síndrome
têm sido relacionadas à trissomia da banda cromossômica 21q22, referente a 1/3 do
cromossomo. Atualmente, sabe-se que o sujeito com sD apresenta particularidades que estão
atreladas basicamente ao atraso no desenvolvimento e a problemas de saúde, a saber: 1-
cardiopatia congênita (40%); hipotonia (100%); problemas auditivos (50 a 70%); alterações de
visão (15 a 50%); alterações na coluna cervical (1 a 10%); distúrbios de tireóide (15%);
V SENAL | 141 | UESB/2018
problemas neurológicos (5 a 10%); obesidade e envelhecimento precoce (GUSMÃO ET AL,
2000).
Há mais de um século John Langdon Down se encarregou da tarefa de descrever
minuciosamente os aspectos clínicos da sD. Embora atualmente exista uma profusão de estudos
que dão conta de atualizar as pesquisas do estudioso supracitado, ainda há uma necessidade
premente de investigações acerca da sD, que visem, sobretudo, a definição de estratégias
(ancoradas em bases científicas sólidas) para promover o desenvolvimento global e garantir
uma vida mais funcional para o sujeito com sD. Um aspecto que pode ser beneficiado por essas
estratégias é o desenvolvimento cognitivo.
Embora o grau de comprometimento intelectual em pessoas com sD seja bastante
dessemelhante de criança para criança, a intervenção precoce é recomendada desde os primeiros
meses de vida. Dentre as possibilidades de estimulação destacamos o papel da Fisioterapia, da
Fonoterapia e do Atendimento Educacional Especializado no desenvolvimento da criança com
sD. Além disso, a Linguística tem oferecido aportes teóricos que auxiliam e apontam caminhos
tanto na terapia de fala desses sujeitos como no ensino-aprendizado da leitura e da escrita.
No que diz respeito à leitura, há três componentes básicos que devem ser levados em
consideração na avaliação da fluência, a saber: precisão, automaticidade e prosódia. O primeiro
e o segundo componente estão associados à decodificação precisa, à automatização e à
velocidade do reconhecimento das palavras, e o terceiro ao ritmo, à expressão e à entonação
(PULIEZI; MALUF, 2014).
Pacheco (2003) preconiza que a leitura é um ato pautado na conversão do sinal gráfico
numa representação linguística. Estudo de Oliveira, Pacheco e Santos (2017) destaca a
importância da prosódia no processo de leitura, sobretudo na sua correlação com a
compreensão.
Com interesse em investigar a prosódia e a fluência de leitura de sujeitos com sD,
delineou-se este estudo que tem como objetivo determinar a que ponto a dificuldade em
estabelecer demarcações prosódia na fala e de reconhecer marcadores prosódicos gráficos da
escrita pode gerar implicações para fluência de leitura de dois sujeitos com sD.
A nossa hipótese é de que o desconhecimento dos marcadores prosódicos gráficos,
associados ao comprometimento intelectual e às complicações no trato vocal prejudicam a
precisão da leitura em voz alta feita pelos sujeitos com sD. Para Cagliari (1989) os marcadores
prosódicos gráficos são: tipologia das letras, os sinais de pontuação, a formatação do texto etc.
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No presente estudo tomamos como foco de análise apenas os principais sinais de pontuação,
quais sejam: vírgula, ponto, interrogação e exclamação.
Para tanto, foi feito um levantamento de vídeos do Banco de Dados do Núcleo Saber
Down/UESB. Esses vídeos foram gravados durante as sessões de atividades pedagógicas
desenvolvidas naquele espaço de pesquisação. Os dados confirmam a nossa hipótese e apontam
para a necessidade de desenvolvimento de estudos mais aprofundados acerca do processo de
leitura em sujeitos com sD.
Metodologia
O presente estudo57 foi desenvolvido a partir da análise de dados naturalísticos que
fazem parte do Banco de Dados do Núcleo Saber Down (CNPq-MEC-UESB). Esses dados são
provenientes das gravações em vídeo realizadas durante as sessões que acontecem nas
dependências do Núcleo.
Para a realização desse estudo selecionamos seis vídeos de atividades pedagógicas de
dois sujeitos com sD que estão cursando o Ensino Fundamental II, a saber: SE, adolescente de
16 anos, do sexo feminino, natural de Vitória da Conquista – BA; SK, adolescente de 15 anos,
do sexo masculino, natural de Poções – BA. Utilizamos três vídeos com SE e três com SK.
O critério de busca dos vídeos consistiu basicamente no tipo de atividade desenvolvida
com os sujeitos supracitados. Sendo assim, foram selecionados no banco de dados apenas os
vídeos em que os sujeitos participantes desse estudo realizam leitura em voz alta durante os
atendimentos. Durante o levantamento dos vídeos tivemos o cuidado de selecionar apenas
aqueles em que SE e SK leem textos. Sendo assim, não foi utilizado material com leitura de
palavras isoladas e descontextualizadas. Esses vídeos tem duração média de 50 (cinquenta)
minutos e são captados em uma câmera semi-profissional Panasonic que grava em HD. Em
seguida, procedeu-se a análise de oitiva e a identificação das questões atreladas à prosódia e à
fluência de leitura.
57 Essa pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética (CAAE 04853012.60000.0055).
V SENAL | 143 | UESB/2018
Resultados e discussão
Como é possível observar no quadro abaixo, os dados sugerem estreita relação entre as
particularidades (comprometimento intelectual, dificuldade de aprendizagem e déficit cognitivo
e alterações de fala etc) dos sujeitos com sD e o baixo desempenho em fluência de leitura,
sobretudo no que tange às habilidades que envolvem a prosódia.
Quadro 1 – Recuperação e interpretação de marcadores prosódicos gráficos durante a
leitura feita por sujeitos com sD.
MARCADORES
PROSÓDICOS
SE SK
Interrogação Não recuperou/Não
interpretou
Não recuperou/Não
interpretou
Exclamação Não recuperou/Não
interpretou
Não recuperou/Não
interpretou
Ponto Não recuperou/Não
interpretou
Recupera eventualmente
Vírgula Não recuperou/Não
interpretou
Não recuperou/Não
interpretou
Fonte: elaboração própria
Os sujeitos participantes desse estudo não leem com precisão adequada e boa parte dos
marcadores prosódicos não é recuperada, trazendo complicações para a fluência de leitura.
Além disso, embora a leitura de SK seja mais precisa do que a de SE, ambos leem lentamente
e com dificuldade acentuada na identificação das palavras do texto. Isso indica que,
possivelmente, o foco da leitura realizada por esses sujeitos incide na identificação consciente
das palavras e na simples decodificação. Sendo assim, a leitura realizada por eles torna-se pouco
automatizada e muito vagarosa.
Embora não seja escopo do presente trabalho, na análise de oitiva ficou evidente a
dificuldade de compreensão de SE e SK. Muito provavelmente isso pode estar associado ao
baixo desempenho em prosódia, uma vez que a recuperação e a devida interpretação dos
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marcadores prosódicos gráficos durante a leitura é uma das condições para que o texto seja
minimamente inteligível.
Conclusões
As alterações orofaciais parecem comprometer a leitura em voz alta realizada pelos
sujeitos SE e SK. Provavelmente o déficit cognitivo também gera implicações na fluência de
leitura desses sujeitos, uma vez que boa parte dos marcadores prosódicos não foi interpretada e
consequentemente executada com a precisão necessária durante a leitura. Os dados aqui
discutidos sugerem, ainda, que o treino da prosódia pode aprimorar a leitura feita por pessoas
com sD. Nesse sentido, vemos como necessária a elaboração e a validação de protocolos
interventivos que levam em consideração as particularidades desses sujeitos. Pouco se sabe
acerca da relação entre prosódia e fluência de leitura em pessoas com sD. Portanto, os resultados
desse estudo apontam para um relevante nicho de pesquisa ainda a ser explorado por linguistas
e educadores.
Referências
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Lingüísticos,18, 1989, Lorena. Anais. Lorena: Grupo de Estudos Linguísticos de São Paulo,
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O (DES)USO DE CONECTIVOS EM PRODUÇÕES ESCRITAS DE
ADOLESCENTES COM SÍNDROME DE DOWN
Glaubia Ribeiro Moreira58
Letícia Matos Santos da Silva59
Dra. Marian oliveira60
Resumo: As pessoas com síndrome de Down (doravante SD), alteração genética causada por um cromossomo
extra no par 21, apresentam comprometimento no desenvolvimento global em decorrência de uma série de
especificidades, tais como: atraso cognitivo, hipotonia, dificuldade auditiva e na linguagem etc (MUSTACCHI,
2009). Além de outras, essas características podem influenciar a apropriação da escrita, dificultando, assim, o
desenvolvimento desse processo. Em fase inicial de aquisição da escrita, por exemplo, tomamos a fala como base.
Assim sendo, uma dificuldade na linguagem influenciará a aprendizagem da escrita, como evidenciado nos estudos
de Pereira-Souza (2018). Diante disso, considerando que as pessoas com Down apresentam uma fala telegráfica
(OLIVEIRA, 2010), partimos da hipótese de que suas produções escritas também apresentam essa característica
e, portanto, não há uso de elementos de coesão. Com isso, objetivamos analisar seis textos escritos por dois
adolescentes com SD, SE e SK, observando, principalmente, o (des)uso de conectivos. Os textos pertencem ao
Banco de Dados Núcleo Saber Down (UESB/CNPq/MEC). Após análise, verificamos que os dois adolescentes
fazem uso de elementos de coesão, mas, apenas, dentro dos enunciados e com pouca frequência de uso.
Palavras-Chave: Coesão textual; Escrita; Síndrome de Down.
Resumen: Las personas con síndrome de Down (en adelante SD), alteración genética causada por un cromosoma
extra en el par 21, presentan comprometimiento en el desarrollo global como consecuencia de una serie de
especificidades, tales como retraso cognoscitivo, hipotonía, dificultad auditiva y en el lenguaje, etc.
(MUSTACCHI, 2009). Además de otras, estas características pueden influir en la apropiación de la escritura,
dificultando así el desarrollo de ese proceso. En la fase inicial de adquisición de la escritura, por ejemplo,
tomamos el habla como base. Así, una dificultad en el lenguaje influenciará el aprendizaje de la escritura, como
evidenciado en los estudios de Pereira-Souza (2018). En el caso de las personas con Down presentan un discurso
telegráfico (OLIVEIRA, 2010), partimos de la hipótesis de que sus producciones escritas también presentan esa
característica y, por lo tanto, no hay uso de elementos de cohesión. Con eso, objetivamos analizar seis textos
escritos por dos adolescentes con SD, SE y SK, observando, principalmente, el (des) uso de conectivos. Los textos
pertenecen al Banco de Datos Núcleo Saber Down (UESB, CNPq, MEC). Después de análisis, verificamos que
los dos adolescentes hacen uso de elementos de cohesión, pero, sólo, dentro de los enunciados y con poca
frecuencia de uso.
Palabras claves: Cohesión textual; Escritos; Sindrome de Down.
Introdução
Os elementos de coesão, segundo Koch (2002), são recursos semânticos que ligam
sentenças novas àquelas já usadas no texto, fazendo com que uma relação de sentido seja
estabelecida. A autora ainda afirma que são esses os elementos responsáveis pela tessitura
58Mestre em Linguística; UESB; Vitória da Conquista, Bahia-Brasil; [email protected]. 59Graduanda em Letras Vernáculas; UESB; Vitória da Conquista, Bahia, Brasil; [email protected]. 60Doutora em Linguística; UESB; Vitória da Conquista, Bahia, Brasil; [email protected].
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textual. De acordo com Fávero (2005), os principais elementos coesivos são: advérbios e
locuções adverbiais, conjunções coordenativas e subordinativas, locuções conjuntivas,
preposições e locuções prepositivas, itens continuativos como então, daí etc. A autora coloca
que a coesão textual, ou seja, a relação de sentido entre os elementos linguísticos, depende da
escolha dos conectivos adequados. Assim sendo, a falta desses elementos no texto tanto escrito
quanto falado pode comprometer seu sentido e, por consequência, sua compreensão.
(FÁVERO, 2005)
Uma das características da fala de pessoas com síndrome de Down (doravante SD),
alteração genética causada pela presença de um cromossomo extra no par 21 (MUSTACCHI,
2009), por exemplo, é o estilo telegráfico, isto é, enunciados com uma palavra núcleo, como
evidenciado no estudo de Oliveira (2010). Segundo Pereira-Souza (2018) a dificuldade de fala
das pessoas com SD influencia a produção de textos escritos. Assim sendo, considerando que
a fala é, muitas vezes, a base para a escrita, principalmente, em fase inicial de aquisição,
partimos da hipótese de que os textos escritos por pessoas com SD também apresentam essa
característica e, portanto, elementos de coesão não são recursos utilizados na escrita delas. Com
isso, objetivamos analisar seis textos escritos por dois adolescentes com Down, doravante SE e
SK, observando, principalmente, o (des)uso de conectivos.
Para isso, organizamos este trabalho da seguinte forma: 1. Introdução; 2. A escrita de
pessoas com síndrome de Down; 3. Resultados e discussões e 4. Conclusões.
A escrita de pessoas com síndrome de Down
Características como atraso cognitivo, hipotonia, dificuldade auditiva e de linguagem
são alguns dos fatores que influenciam o desenvolvimento global das pessoas com SD, inclusive
a aprendizagem de processos cognitivos, como a escrita. Apesar disso, a estudos (GOMES,
2013, COMIN; COSTA, 2014, PEREIRA-SOUZA, 2017) reportam um desenvolvimento de
escrita similar ao de crianças com desenvolvimento típico, pelo menos em fase inicial.
Observando os padrões de escrita estabelecidos por Emília Ferreiro em dados de jovens
com SD, Comin e Costa (2014) mostram que os textos produzidos por eles seguem os mesmos
padrões estabelecidos por Ferreiro. Diante desse resultado, as autoras afirmam que o
desenvolvimento de escrita de pessoas com SD, apesar do atraso e de uma maior dificuldade, é
a mesma de uma pessoa sem a síndrome.
Gomes (2013) também não encontra especificidades nos textos escritos por pessoas com
Down. No entanto, ao apresentar um estudo comparativo entre crianças com e sem Down, a
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autora observa que mesmo apresentando um número maior de participantes, o grupo de pessoas
com a síndrome apresenta menor quantidade de produções com coerência. A autora observa,
por exemplo, que os alunos com SD têm dificuldade em fazer o desfecho do texto. Além disso,
ela salienta que os textos dos alunos sem a síndrome são qualitativamente melhores do que os
dos alunos com SD.
Pereira-Souza (2017), por sua vez, mostra particularidades na escrita de pessoas com
SD. A autora analisa processos fonológicos de dados de fala e escrita, estabelecendo uma
relação entre eles. Ela observa que os mesmos processos encontrados na fala dos sujeitos
analisados estão presentes nas produções textuais deles. Com isso, mostra que há uma
influência da dificuldade de fala, causada pelas especificidades da síndrome, na escrita. Diante
disso, as características da SD influenciam o desenvolvimento do processo de escrita, causando
um atraso e dificultando o avanço da aprendizagem.
Metodologia
Analisamos seis textos escritos produzidos por dois adolescentes com síndrome de
Down, SE e SK, sendo três textos de cada um. Os dados foram coletados em atendimentos no
projeto de extensão Núcleo Saber Down (UESB/CNPq/MEC) e pertencem ao banco de dados
do Núcleo que entrou em vigor em 2012 e, desde então, nesse espaço, são desenvolvidas
atividades de estimulação motora, cognitiva e linguística com crianças e adolescentes com SD.
Os dois adolescentes, SE, feminino, e SK, masculino, são alfabetizados e frequentam
escola da rede municipal de ensino. Os textos produzidos pelos adolescentes são: SE- O telefone
- 03/2016, Magali - 10/2016 e A vida do cavalo Luis - 03/2017 e SK- Cascão - 09/2016, Magali
- 09/2016 e Reescrita da fábula O leão e o ratinho - 11/2017. Essa pesquisa tem autorização do
Conselho de Ética e os responsáveis pelos participantes assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (CAAE 04853012.6.0000.0055).
Resultados e discussões
A escrita de pessoas com SD, conforme literatura (GOMES, 2013; PEREIRA-SOUZA,
2017), é influenciada pelas características causadas pela síndrome, principalmente, o atraso
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cognitivo e a dificuldade de fala. Nos textos produzidos por SE e SK, também observamos essa
influência, como podemos visualizar no texto A vida do cavalo Luis, produzido por SE.
Figura 1: Texto “A vida do cavalo Luis”.
Fonte: Banco de Dados Núcleo Saber Down.
No texto de SE, observamos que há uso do elemento de coesão quando ligando os dois
parágrafos e a preposição em ligando dois termos dentro do enunciado. Além disso, SE retoma
termos do texto com uso do pronome ele, usado quatro vezes. Note-se, também, que o único
sinal de pontuação do texto é o ponto final. O uso de conectivos também foi observado nos
outros dois textos, O telefone e Magali. No texto O telefone, três conectivos foram observados:
que, em e para, todos dentro do enunciado. Na produção Magali, por sua vez, duas preposições,
para e em, são usadas por SE para ligar termos dentro do enunciado. Assim como em A vida
do cavalo Luis, os demais textos apresentam, apenas, pontuação final e retomada de termos por
meio de pronomes. Diante disso, apesar de pouco, SE faz uso de conectivos para ligar termos
dentro dos enunciados, o que faz com que seus textos apresentem um mínimo de coesão. SK
também faz uso de conectivos, no entanto, suas produções apresentam menos coesão do que os
de SE. Na reescrita da fábula O leão e o ratinho podemos visualizar esses resultados:
Figura 2: Texto “Rescrita da fábula o leão e o rato”.
Fonte: Banco de Dados Núcleo Saber Down.
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No texto exposto na figura 2, apenas um elemento de coesão pode ser observado: o
pronome eu, usado uma vez. Note, no texto, que as frases não estão relacionadas entre si e
apenas o ponto final é usado por SK, mas nem sempre quando necessário, demonstrando, assim,
ausência da coesão textual. Nos demais textos, Cascão e Magali, observamos a ausência de
pontuação, além do uso do conectivo e no texto Cascão e do pronome ela e da preposição de
no texto Magali. SK retoma os termos repetindo-os ao longo do texto. Apesar do uso de
conectivos, a coesão dos textos de SK está comprometida, já que apresentam sequenciamento
de frases soltas, em sua maioria.
Conclusões
Os elementos de coesão são recursos pouco utilizados na escrita dos adolescentes com
SD, sendo a dificuldade de fala, um dos influenciadores desse resultado. Assim sendo, o
trabalho de escrita com pessoas com SD pode ser mais eficaz quando trabalhados, também,
oralidade e conhecimento lexical, já que o comprometimento nesses dois aspectos prejudica o
desenvolvimento de escrita.
Referências
COMIN, B. C; COSTA, M. P. R. Os jovens com síndrome de Down e sua escrita. Espaço
pedagógico, v. 22, n. 1, p. 155-172, Passo Fundo, 2015.
FÁVERO, L. L. Coesão e Coerência textuais. São Paulo: Ática, 2005.
GOMES, A. L. L. A produção escrita de anos com e sem síndrome de Down: uma análise da
coerência textual. Educar em Revista, n. 47, P. 285-300, Curitiba, 2013.
KOCH, I. G. V. Coesão Textual. São Paulo: Contexto, 2002.
MUSTACCHI, Z. (Organizador.). Guia do bebê com síndrome de Down. São Paulo: Campanha
Editorial Nacional, 2009.
OLIVEIRA, M. S. Questões de linguagem em sujeitos com síndrome de Down. Revista
Prolíngua, v. 1, n. 1, 2010.
PEREIRA-SOUZA, L. Processos fonológicos na fala e escrita de sujeitos com síndrome de
Down: uma interpretação via Geometria de Traços e Teoria Métrica da sílaba. Dissertação
(mestrado), Vitória da Conquista, UESB, 2017.
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A ENTRADA NA ESCRITA DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: BRASILEIRO
DESENVOLVENDO O SISTEMA DE ESCRITA DO ARMÊNIO
Maria de Fátima de Almeida Baia61
Jéssica Caroline Aguiar62
Laís Bockorni63
Resumo: Neste estudo, analisamos dados da escrita de uma estudante brasileira desenvolvendo a língua armênia
como sua L3. Após análise da sua escrita no momento inicial (básico) e no segundo momento (intermediário),
observamos que além da tarefa de desenvolver o desenho de novos grafemas, aspectos de marcação podem prever
e explicar dificuldades na alfabetização quando um novo alfabeto deve ser aprendido.
Palavras-Chave:língua armênia; alfabeto armênio; escrita; língua estrangeira.
Abstract: In this study, we analyse writing data from a Brazilian student learning Armenian language as her L3.
After analysing her writing at an initial (basic) and a later (intermediate) moments, we observed that besides the
task of learning how to draw new graphemes, markedness aspects can predict and explain difficulties found in
literacywhen a new alphabet must be learnt.
Keywords: Armenian language; Armenian Alphabet; writing; foreign language.
Introdução
Neste estudo, apresentamos um estudo piloto sobre o desenvolvimento da escrita da
língua armênia por informante brasileira, no intuito de apresentar os desafios da tarefa e no que
difere em relação à alfabetização da língua materna, tais como: transliteração, desenhar um
novo alfabeto e associar os grafemas aos sons. Com base em Eckman (1977), que apresenta um
modelo de marcação diferencial para o desenvolvimento oral da língua estrangeira, segundo o
qual o grau de dificuldade corresponderia ao grau relativo de marcação, propomos que aspectos
de marcação podem explicar erros e dificuldades mais frequentes no percurso do
desenvolvimento da escrita em um novo alfabeto. Ressaltamos, no entanto, que assumimos aqui
o conceito de marcação no sentido de menos complexo e mais frequente nas línguas.
O alfabeto e a escrita armênia
Conforme Patulo (2001), devemos a Mesrop (360-440) o grandioso alfabeto da
Armênia, composto de 36 grafemas e com uma história impressionante. Por volta de 301 d.C.,
61Doutora e docente do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários da UESB e do PPGLin, Vitória da
Conquista- BA; [email protected]. 62Mestranda do PPGLin (Programa de pós-graduação em Linguística) da UESB, bolsista FAPESB, Vitória da
Conquista- BA; [email protected]. 63Graduanda em Letras Vernáculas na UESB, bolsista IC da FAPESB, Vitória da Conquista-BA,
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a Armênia adotou o Cristianismo como sua religião oficial, o que irritou nobres armênios da
coroa sassânida devido às divergências religiosas e de oposição ao Catolicossato de Bertev.
Concomitantemente, a terra armênia foi invadida por clérigos gregos, bizantinos e persas, que
helenizavam ou persificavam o povo. Adepto do Cristianismo, Mesrop almejava evangelizar
toda a terra de seu povo. Contudo, para abolir os costumes pagãos era necessário que todo o
povo –e não só a elite- compreendessem os ritos e cultura da nova religião, antes só escrita em
grego, persa, siríaco ou em idiomas de outros países que também estavam representados ali.
Foi assim que surgiu, então, o ideal da formulação de um alfabeto armênio, sendo este uma
arma que superaria todos os exércitos na manutenção da segurança e identidade de seu povo.
Mesrop buscou então, ainda segundo Patulo (2001), apoio do rei Vramshabuh, que,
convencido da importância do plano, apoiou-os financeiramente e indicou a Mesrop e seus
alunos um bispo siríaco chamado Daniel que poderia lhes ensinar grafemas mesopotâmios.
Porém, essas letras eram insuficientes para representar os fonemas e inflexões da língua, assim
como o aramaico, o grego, o siríaco e o balavi. Mesrop convenceu-se, então, de que o ideal
seria criar, ele mesmo, o alfabeto de seu povo. A criação do alfabeto da Armênia se deu por
volta de 404 e 406 d.C e este consiste em 36 grafemas que representam os fonemas da língua,
representando o idioma falado em todas as regiões da terra. É importante mencionarmos a lenda
de que o criador do alfabeto armênio teria se baseado em sonhos com pássaros desenhando os
grafemas no céu.
A seguir, apresentamos o alfabeto armênio destacando os grafemas que representam
sons que inexistem no sistema fonético do português brasileiro (doravante PB).
Figura 1: sistema alfabético armênio (oriental) com IPA64 (DUM-TRAGUT, 2009)
Dessa maneira, a língua armênia oriental65, além de exibir um maior número de grafemas
do que o PB, apresenta no seu inventário fônico fones que não fazem parte do sistema do
português.
64IPA: InternationalPhoneticAlphabet - alfabeto fonético internacional.
65Existem duas vertentes do alfabeto armênio que, embora apresentem os mesmos grafemas, apresentam diferentes
representações sonoras: armênio oriental e armênio ocidental (da diáspora). Em geral, as duas vertentes se diferem
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Desenvolvendo uma LE com um diferente sistema de escrita
Neste estudo, assumimos a perspectiva da Complexidade para explicar o
desenvolvimento da língua estrangeira, em particular, o da escrita (LARSEN-FREEMAN;
CAMERON, 2008). Segundo a perspectiva, o desenvolvimento da primeira e/ou segunda
língua é sensível às condições iniciais, isto é, a entrada na escrita da LE do estudante depende
de como ocorrerá e, também, como está sua escrita na língua materna. Além disso, a perspectiva
leva em consideração outros fatores na análise do percurso do desenvolvimento, tais como
aspectos extralinguísticos, culturais, psicológicos e até neurológicos.
O desenvolvimento de uma língua apresenta características psicológicas que devem ser
consideradas no estudo desse fenômeno. Conforme aponta Annoussamy (2006), há, sem
sombra de dúvida, um esforço para o desenvolvimento de uma língua, mesmo que da língua
materna. Com toda a certeza, há uma grande dificuldade, também e principalmente, no
desenvolvimento de uma língua estrangeira.
Segundo Annoussamy (2006), as dificuldades no desenvolvimento de uma segunda
língua podem ser previstas baseando-se na comparação entre a língua alvo e a materna. Para
ele, se a forma de escrita é diferente da primeira língua, o indivíduo tem mais a aprender, mas
os erros de pronuncia seriam menores. Se o alfabeto é o mesmo, entretanto, o aprendiz poderá
ser tentado a ler a língua alvo no mesmo modo em que lê a primeira. Nesse caso, o autor indica
que a leitura comece após uma exposição grande à língua oral.
Além dos aspectos psicológicos, há também aspectos neurológicos envolvidos no
processo de desenvolvimento de uma LE. De acordo com Mel et al. (2004), há três hipóteses
sobre os efeitos da aprendizagem da leitura de palavras de uma nova língua na leitura de
palavras da língua nativa: a hipótese de separação, de integração e de integração parcial. Na
primeira, as palavras da língua nativa e da que está sendo aprendida são representadas
separadamente e não afetam uma à outra. Na segunda, as palavras das duas línguas formam um
sistema unificado, podendo haver apenas uma variação no nível de sobreposição das palavras
a depender do seu grau de concretude. Na terceira, as línguas compartilham o mesmo sistema
semântico, mas não o ortográfico e o fonológico, sendo, assim, representadas separadamente.
O mesmo estudo comprova, por meio dos seus achados, que aprender a ler palavras em
uma nova língua altera a organização neural de línguas desenvolvidas previamente.
em relação à sonoridade, por exemplo, a palavra “olá” Բարև é pronunciada “barev” no armênio oriental e “parev”
no ocidental.
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Experimentos feitos pelos autores, nos quais falantes nativos de chinês, que tinham o inglês
como segunda língua, foram expostos a 120 palavras de uma língua artificial durante o período
de 8 a 13 dias, mostraram que palavras de uma língua artificial afetaram a organização neural
das línguas prévias dos falantes, mais especificamente nas áreas ativadas no momento de
leitura. Os experimentos foram feitos de duas maneiras: a) envolvendo forma visual, som e
significado das palavras; e b) envolvendo apenas forma visual e som das palavras. Notou-se
que apenas as situações que envolveram o nível semântico tiveram influência na organização
neuronal. Percebeu-se também que quanto maior o nível de proficiência na nova língua, menor
é sua capacidade de afetar as línguas prévias. Cabe destacar que, além das palavras das línguas
prévias e da língua artificial, foram adicionadas 60 pseudo-palavras no segundo experimento
para verificar se estas afetariam o processamento das palavras das línguas já desenvolvidas.
Constatou-se que as pseudopalavras, por não terem um significado, não afetaram as línguas
anteriores. Todos esses fatores apontam para a hipótese da integração parcial dos sistemas
linguísticos, a que perseguimos neste estudo.
Dessa forma, quando aprendemos uma língua estrangeira, há uma mudança neuronal
não só por aprender a nova língua, mas também nas línguas já preexistentes no cérebro. O
mesmo é válido quando se trata de um novo sistema de escrita, como no caso abordado no
presente estudo.
Metodologia e hipóteses
Trata-se de um estudo piloto, qualitativo e de caso de desenvolvimento de escrita de
língua estrangeira. Os dados coletados foram produzidos em dois momentos: a) momento 1:
produzidos no ano de 2003, por uma estudante (F) de 21 anos, estudante de Linguística
(bacharelado) na Universidade de São Paulo. A estudante aprende a língua armênia oriental em
curso de língua armênia, oferecido pelo Departamento de Letras Orientais da universidade. Sua
primeira língua é português na variante brasileira e paulistana. No momento da coleta de dados,
a segunda língua de F é o inglês, o que faz o armênio ser sua possível L3; b) momento 2: a
mesma estudante F já é graduada e doutoranda em Linguística, realizando estágio de doutorado
na cidade de York na Inglaterra em 2010. A língua inglesa permanece sendo a sua L2 e a língua
armênia a L3, apesar do contato prévio da aluna com francês e espanhol. F. ficou mais de cinco
anos sem estudar armênio e continua os estudos com aula particular via skype.
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No que se refere a hipótese a ser perseguida, neste nosso estudo piloto, com base na
proposta do estudo de Eckman (1977) e nos pressupostos dos Sistemas Adaptativos Complexos
(LARSEN-FREEMAN; CAMERON, 2008), acreditamos que:
F. apresentará mais dificuldade no desenvolvimento e automatização da escrita de
segmentos que correspondem a elementos mais marcados e ausentes no sistema fônico
da sua L1.
Discussão e análise dos dados
Momento 1 - básico: ao analisarmos dados de F no contato inicial com a escrita armênia,
observamos dificuldade no desenho dos grafemas do nosso sistema alfabético sendo aprendido,
apesar do seu conhecimento prévio de IPA:
Figura 2: escrita inicial de F. aprendendo o alfabeto armênio
Ao avançar para o estudo dos pronomes e o verbo ser, F. mostra falta de fluência na
escrita e dificuldade na escrita de dois grafemas que têm a mesma representação sonora na
transliteração para o alfabeto latino ե e է:
Figura 3: escrita inicial de F. aprendendo o verbo ser
Na sequência, F. faz uso da sua L2 (sure – com certeza) para anotar significado da L3
em estudo e deixa tradução em aberto:
Figura 4: escrita inicial de F. aprendendo algumas expressões
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No estudo dos verbos, em uma lição posterior, nota-se o uso frequente de corretivo e de
anotação utilizando o alfabeto latino:
Figura 5: escrita inicial de F. aprendendo verbos
Notamos que, neste primeiro momento, referente ao primeiro módulo da língua, F. tende
a selecionar palavras que têm fones que estão presentes no sistema fônico da sua L1, o que
fortalece a nossa hipótese i.
Momento 2 - intermediário: neste momento, a escrita de F está mais fluente, com menos
espaço entre as letras, como o exercício de versão para o armênio exemplifica:
Figura 6: escrita intermediária de F. fazendo versão de português para armênio
Além disso, notamos que os elementos mais marcados, presentes no armênio, não são
motivos de rasuras e dúvidas como as anotações do momento 1 mostram, o que parece
corroborar nossa hipótese. Todavia, precisamos de mais dados e de mais sujeitos.
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Considerações finais
Neste estudo piloto, mostramos, mesmo que brevemente, que a alfabetização para
posterior letramento em uma LE com outro alfabeto apresenta desafios. O primeiro é a entrada
em um novo alfabeto, novos desenhos, novas associações entre o símbolo e a representação
sonora. Além disso, a marcação parece não exercer apenas um papel no desenvolvimento da
oralidade, mas também na escrita da língua. Todavia, precisamos analisar mais dados e de mais
sujeitos para aprofundamento.
Referências
ANNOUSSAMY, D. Psychological Aspects of Language Acquisition. Journal of the Indian
Academy of Applied Psychology, Vol. 32, No.2, 84-92, 2006.
ECKMAN, F. R. Markedness and the contrastive analysis hypothesis,Ioup, G. & Weinberger,
S. H. (org.) Interlanguage phonology: the acquisition of a second language sound system.
Cambridge: Newbury House Publishers, 1977.
MEI, L. et al. Learning to read words in a new language shapes the neural organization of the
prior languages. Neuropsychologia, vol. 65, p. 156-168, 2014
PATULO, A.A.P. Mesrob e a criação do alfabeto armênio. In: Armenusp I- Cadernos de
armênio. São Paulo, Humanitas/FFLCH/USP, 2001, p.23-34.
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JOGOS DIGITAIS E O ESTÍMULO DAS HABILIDADES DE CONSCIÊNCIA
FONOLÓGICA
Josué Alves Sousa66
Resumo: Este trabalho tem como propósito, apresentar uma síntese do resultado da pesquisa de mestrado
intitulada: Artefatos Tecnológicos e o desenvolvimento das Habilidades de Consciência Fonológica, apresentando
as TICs e mais especificamente os jogos digitais, como alternativa metodológica no processo de alfabetização de
crianças a partir de todas as possibilidades que os games podem oferecer para o processo de ensino aprendizagem
no contexto da alfabetização. Com a criação de três jogos que buscam exercitar asHabilidades de Consciência
Fonológica (HCF), foi possível observar a interação dos estudantes com os artefatos e colher significativas
respostas para o trabalho com games no que diz respeito ao ensino das primeiras letras, a partir do estimulo das
Habilidades de Consciência Fonológica, que tem mostrado em estudos nacionais e internacionais, como fator
preponderante para promover a aprendizagem inicial dos alunos que estão em processo de alfabetização.
Palavras-Chave: Consciência Fonológica, Jogos Digitais, Alfabetização.
Resumen: Este trabajotiene como propósito presentar una síntesisdel resultado de lainvestigación de maestría
titulada: Artefactos Tecnológicos y eldesarrollo de las Habilidades de Conciencia Fonológica, presentando las
TIC y más específicamentelosjuegosdigitales, como alternativa metodológica enelproceso de alfabetización de
niños a partir de todas lasposibilidades que losjuegospuedenofrecer para elproceso de enseñanzaaprendizajeenel
contexto de laalfabetización. Conlacreación de tresjuegos que buscanejercitarlas HCF, fueposible observar
lainteracción de losestudiantesconlosartefactos y cosechar significativas respuestas para eltrabajoconjuegosenlo
que se refiere a laenseñanza de lasprimeras letras, a partir del estímulo de las Habilidades de Conciencia
Fonológica , que ha mostrado enestudiosnacionales e internacionales, como factor preponderante para promover
elaprendizaje inicial de losalumnos que estánenproceso de alfabetización.
Palabras Clave: Conciencia Fonológica, JuegosDigitales, Alfabetización.
Introdução
A cada edição da Avaliação Nacional da alfabetização (ANA), tem-se a certeza da
lacuna existente no ensino brasileiro voltado para o a alfabetização plena dos estudantes em
nossas escolas. Estes resultados nada satisfatórios colocam a tona um problema histórico e que
infelizmente nos parece estar longe de resolver: o analfabetismo, sugerindo a necessidade de
políticas públicas mais enérgicas e menos pontuais para a superação deste mal, que perdura na
população brasileira.
Diante desta problemática, vem figurando no país desde a década de 70, estudos que colocam
o desenvolvimento de habilidades voltadas para a consciência fonológica, como um aspecto
preponderante para a alfabetização no tocante a aquisição da aprendizagem da leitura e da
escrita pelos estudantes. A consciência fonológica é a capacidade de perceber os sons dos
fonemas e através da reflexão consciente desses sons, dominar de forma satisfatória o sistema
66 Mestre em Gestão e Tecnologias Aplicadas à Educação - SME – Secretaria Municipal de Educação
Morro do Chapéu – Bahia. Email [email protected]
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de escrita alfabética, conforme se observa nos estudos nacionais e internacionais referentes a
consciência fonológica.
A partir do exposto, apresentamos neste trabalho a possibilidade de estimular as HCF,
dos estudantes que estão em processo de alfabetização, através de jogos digitais que, foram
desenvolvidos por um docente do segundo ano do Ensino Fundamental I, como busca de
alternativa para aproximar o trabalho em sala de aula com a vivencia dos alunos, nativos
digitais, que hoje frequentam esse segmento de ensino, buscando a alfabetização plena destes
estudantes que já nasceram em um mundo completamente tecnológico e digital.
Com a ascensão das tecnologias, os alunos do ciclo de alfabetização trazem consigo,
inúmeras experiências com artefatos tecnológicos, inclusive com os jogos digitais, pois são
artefatos lúdicos, desafiadores e que podem promover inúmeras situações de aprendizagens
para seus usuários, pelo seu potencial mediador de aprendizagens, conforme expõe a
pesquisadora Lynn Alves, ao afirmar “que os jogos digitais de diferentes narrativas e conteúdos
atuam na Zona de Desenvolvimento Proximal dos sujeitos, de forma lúdica, prazerosa e
atrativa” (ALVES, 1998, p.7) tal colocação nos permite conceber que os jogos digitais podem
vir a contribuir significativamente para o processo de alfabetização dos alunos, aliando as
descobertas dos estudos voltados para o estimulo das HCF.
O estímulo das Habilidades de Consciência Fonológica através dos Jogos Digitais
A consciência fonológica pode ser definida como a habilidade metalinguística que
consiste na reflexão sobre os sons que compõem a fala (Cardoso-Martins, 1995), em outras
palavras pode-se inferir, que a CF é a capacidade de refletir de forma intencional e sistemática
na percepção dos sons que são emitidos pela fala, manipulando-os de maneira consciente. Desta
maneira, quanto mais sensibilidade fonológica o sujeito possui, melhor será a compreensão e o
uso do sistema alfabético para representar de maneira satisfatória este sistema, através da
escrita. A partir dessa concepção, a ideia de que alfabetizar seria um processo mecânico
marcado por repetições e atos de decorar letras, sons, etc. começa a se fragilizar, surgindo uma
nova concepção sobre o ensino inicial da leitura e escrita, pondo o sujeito cognoscente como
alguém ativo dentro do processo de aprendizagem.
Essa nova concepção que vem de encontro ao ensino tradicional, praticado no Brasil
desde o império, e porque não afirmar até os dias atuais, serviu de base para que se consolidasse
uma nova perspectiva de ensino a partir da reflexão sobre a língua e as nuances dos fonemas.
Despontando assim, as contribuições dos estudos da consciência fonológica.
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Para Morais (2012, p. 46), “a CF é na realidade um grande conjunto ou uma “grande
constelação” de habilidade de refletir sobre os segmentos sonoros da palavra”. Alem disso,
ratificamos, com a ajuda desse autor, que o desenvolvimento das habilidades de CF é de
fundamental importância para o processo de alfabetização de crianças quando endossa que esse
processo se inicie ainda na educação infantil, importante etapa da educação básica.
O trabalho de estimulo a estas habilidades é bastante comum nas classes de
alfabetização, através de desafios que englobam: encontrar rimas, decompor a palavra em
silabas, suprimir e acrescentar silaba de palavras para encontrar novas palavras, dentre outras.
No entanto, estes exercícios algumas vezes são enfadonhos e não apresentam nenhuma
inovação para os alunos nativos digitais. O que poderia acontecer utilizando toda a
dinamicidade dos jogos digitais.
São raros os relatos de utilização de jogos digitais como estratégia metodológica em
nossas escolas, por inúmeras razões, sejam elas de cunho estruturais, a exemplo da ausência de
equipamentos tecnológicos ou aparelhos obsoletos, seja pela formação incipiente dos docentes
para utilizar com segurança jogos digitais e outras mídias que poderiam favorecer o aprendizado
dos estudantes.
Diretamente ligado ao brincar, a diversão e ao lúdico, o jogo, exerce um importante
papel na vida das crianças em seu desenvolvimento intelectual, físico, emocional, etc. Em
essência o jogar faz parte da vida do sujeito e esta não é uma atividade exclusiva do universo
infantil, pelas características envolventes e desafiadoras da ação de jogar. Dentro desta
proposta, entender o sentido do jogo como elemento motivador para a aprendizagem das
crianças, torna-se algo indispensável para a compreensão dos objetivos desteestudo.
As habilidades de consciência fonológica aliadas aos jogos, dentro do processo de
alfabetização, mostram-se como alternativa para potencializar a aprendizagem destas
habilidades.
Nos momentos de jogos as crianças mobilizam saberes acerca da lógica de
funcionamento da escrita, consolidando aprendizagens já realizadas ou se
apropriando de novos conhecimentos nessa área. Brincando, elas podem
compreender os princípios de funcionamento do sistema alfabético e podem
socializar com os colegas (BRANDAO, 2009 Apud, SILVA, LIMA 2012, p.
21).
Atividades que promovam as habilidades de rima, silábica, aliteração, fonêmica e
consequentemente a reflexão fonológica, certamente já fazem parte do planejamento dos
educadores que trabalham em turmas de alfabetização. Todavia, estimular essas habilidades
através dos jogos digitais, corrobora com a inserção de uma nova metodologia bem mais
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envolvente e menos enfadonha para os estudantes que, estão completamente imersos em
contextos tecnológicos.
Nesta perspectiva, utilizando o Scratch, uma plataforma online que possibilita a criação
de jogos e animações gratuitamente e de maneira fácil, foram desenvolvidos três jogos que, têm
como objetivo desenvolver a consciência de rima, aliteração e silábica de alunos em processo
de alfabetização. Após o desenvolvimento destes artefatos os mesmos foram submetidos à
manipulação de alunos do 2o ano do ensino fundamental, com o intuito de observar a interação
dos estudantes com os mesmos, verificando as reais possibilidades dos jogos estimularem as
habilidades fonológicas dos alunos, bem como aprimorar os jogos a partir das considerações
dos estudantes, para que estes artefatos desenvolvidos pudessem ser levados para a sala de aula.
A aplicação dos jogos aos alunos com maiores dificuldades, a principio revelou
encantamento dos estudantes em manipular o mouse e adentrar nos desafios que os três jogos
elaborados no âmbito da pesquisa proporcionavam. Foi perceptível que os alunos
empreenderam esforços para a superação dos desafios que consistiam em encontrar rimas,
juntar silabas e atividades de aliteração e foi notória a reflexão a respeito da construção do
sistema de escrita.
Conclusão
Levar jogos digitais para o contexto das salas de aula, e principalmente para as series
inicias, a princípio revela um grande desafio, sobretudo se a proposta tiver como intenção que
o professor desenvolva esses artefatos de acordo com objetivos de aprendizagem pautados. No
entanto, esta experiência proporcionou reflexões importantes para a prática docente ao se
observar a interação dos alunos com os games e a empolgação dos mesmos em superar os
desafios propostos.
Ao serem questionados se gostaram dos games, os alunos responderam que sim, e que
ia ser bastante significativo que o professor levasse para a sala de aula jogos como aqueles,
onde eles aprenderam muito, enquanto se divertiam. Manipular a plataforma Scratch, também
se revelou em um desafio para o docente, no entanto por ser uma plataforma de
desenvolvimento autoinstrucional facilitou o desenvolvimento dos três jogos, ficando como
proposição, que outros pesquisadores/professores desenvolvam propostas semelhantes, no
intuito de que artefatos tecnológicos de várias naturezas possam contribuir de maneira
significativa para a aprendizagem dos alunos, principalmente no ciclo de alfabetização.
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Referências
ADAMS, Marilyn Jager. Consciência fonológica em crianças pequenas. Porto Alegre: Artmed,
2006.
ALVES, Lynn. Game over – jogos eletrônicos e violência. São Paulo: Futura, 2005.
CARDOSO-MARTINS, Cláudia. Consciência fonológica e alfabetização. Petrópolis: Vozes,
1995.
MORAIS, Artur Gomes de. Sistema de escrita alfabética. São Paulo. Editora Melhoramentos.
2012.
SILVA, José Nunes da. LIMA, Leila Britto de Amorim. Jogos na alfabetização: contemplando
diferentes percursos e conhecimentos sobre a escrita. In. Brincando na escola. MEC. Brasilia,
2012.
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O PROCESSO DE ESCRITA DE ADOLESCENTES COM SÍNDROME DE DOWN:
ARTICULAÇÃO E CONTINUIDADE TEXTUAL
Blenda da Silva Almeida Moreira67
Gizele Oliveir68
Marian oliveira 69
Resumo: Pessoas com Síndrome de Down (SD) apresentam algumas características específicas, dentre elas,
destaca-se o atraso cognitivo. Essas especificidades irão interferir no seu desenvolvimento, inclusive, no processo
de apropriação da modalidade escrita. No entanto, estudos sobre o aprendizado de leitura e escrita com crianças
com síndrome de Down apontam semelhanças em relação ao desenvolvimento de crianças sem a síndrome. Porém,
esse processo será mais demorado e mais árduo. Outro fator que merece ser ressaltado é que crianças, adolescentes
e até mesmo adultos, em fase de aquisição da escrita, irão utilizar os conhecimentos linguísticos que já possuem
(a oralidade) para construir os conhecimentos de escrita. De acordo com Oliveira (2010), isso caracteriza um
processo completamente normal de aprendizagem, cabendo ao professor orientá-los sobre as particularidades entre
fala e escrita. E segundo ela, esse processo também irá ocorrer com pessoas com síndrome de Down. Diante disso,
tendo esses sujeitos uma fala pautada no estilo telegráfico, partimos da hipótese de que suas produções textuais
terão comprometimento da articulação (ligação dos parágrafos e do assunto de um texto) e na continuidade textual
(fechamento de uma ideia). Dessa forma, temos como objetivo, neste trabalho, analisar a articulação e a
continuidade nos textos de dois sujeitos (SE e SK), na intenção de demonstrar como pessoas com (SD) se portam
diante do processo de aquisição da escrita.
Palavras chave: Articulação; Continuidade; Desenvolvimento; Escrita; Síndrome de Down.
El Proceso de la Escritura de Adolecentes con la Síndrome de Down: Articulación y Continuidad Textual
Resumen: Las personas con síndrome de Down (SD), presentan algunas características específicas, entre ellas
se destaca el atraso cognitivo. Estas específicamente irán interferir en su desarrollo, incluyendo en el proceso de
apropiación de la modalidad escrita. Sin embargo, estudios sobre la aprendizaje de lectura y escritura con niños
con síndrome de Down apuntan similitudes en relación al desarrollo de niños sin síndrome. Pero ese proceso será
más despacio y más difícil. Otro factor que merece ser destacado es que los niños, adolecentes y hasta mismo
adultos en fase de adquisición de la escritura, irán utilizar los conocimientos lingüísticos que tiene (la oralidad),
para construir los conocimientos de escritura. De acuerdo con Olivera (2010), esto caracteriza un proceso normal
y aceptable, sabiendo el profesor guiarlos sobre las diferencias entre discurso y escritura. Este proceso también
ira ocurrir con personas con síndrome de Down. Delante de eso, teniendo un discurso basado en el estilo
telegráfico, partimos de la hipótesis que la articulación (conexión de los párrafos y del asunto de un texto) y la
continuidad textual (cerrar una idea) de sus producciones textuales serán afectadas. De esa forma, nuestro
objetivo es analizar la articulación y la continuidad en textos de dos sujetos (SE y SK), con la intención de
demostrar como personas con (SD) se portan delante el proceso de adquisición de la escritura.
Palabras Clave: Articulación. Continuidad; Desarollo; Escritura; Síndrome de Down.
Introdução
Pessoas com Down, alteração genética provocada por um cromossomo extra
(MUSTACCHI, 2009), apresentam algumas peculiaridades que irão influenciar no seu
desenvolvimento, como: atraso cognitivo, problemas de audição, dificuldade de concentração
67 Graduanda/UESB Email: [email protected] 68 Graduanda/UESB [email protected] 69 Professora doutora/UESB/DELL) Email: [email protected]
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etc. Essas peculiaridades, por sua vez, interferirão na apropriação da escrita, como apontam os
estudos de Pereira-Souza (2017). Por outro lado, apesar desses fatores, estudos sobre o
aprendizado de leitura e escrita com crianças com síndrome de Down mostraram semelhança
em relação ao desenvolvimento de crianças sem a síndrome. Entretanto, esse processo é mais
demorado e, consequentemente, mais difícil. (ALVES, 1987, BONETI, 1995, MARTINS,
1999, GOMES, 2001).
Considerando a definição de texto, Gomes (2013) afirma que essa se apoia na concepção
de textualidade: conjunto de propriedades que permitem a organização de uma sequência
linguística e não um amontoado de frases e expressões sem relação entre si. Dessa forma, tendo
em vista a estrutura do texto, consideramos que os fatores de textualidade e coerência estão
contidos um no outro.
Partindo dessa perspectiva, ressaltamos que crianças, adolescentes e até mesmo adultos
que chegam à escola vão aproveitar os conhecimentos linguísticos que possuem (a oralidade)
para construir os conhecimentos de escrita (OLIVEIRA, 2010). Isso também vai ocorrer com
pessoas com síndrome de Down. Diante disso, tendo esses indivíduos uma fala pautada no estilo
telegráfico, partimos da hipótese de que as produções textuais de pessoas com síndrome de
Down terão um comprometimento na articulação (ligação dos parágrafos e do assunto), bem
como na continuidade textual (fechamento das ideias de um texto). Sendo assim, objetivamos,
neste trabalho, analisar a articulação e a continuidade nos textos de dois sujeitos (SE e SK), no
intuito de demonstrar como sujeitos com SD se portam diante do processo de aquisição da
escrita.
Metodologia
Os textos analisados pertencem ao banco de dados Núcleo Saber Down
(UESB/CNPq/MEC). O Núcleo Saber Down foi criado em 2012, na Universidade estadual do
Sudoeste da Bahia – UESB, campus de Vitória da Conquista, e tem como objetivo a melhoria
da qualidade de vida das pessoas com Down, a promoção da informação sobre a síndrome e o
combate ao preconceito. Para tanto, crianças e adolescentes com SD são auxiliados em questões
pedagógicas, como a alfabetização e o desenvolvimento da leitura e da escrita. Essas
intervenções ocorrem semanalmente e o presente trabalho é fruto dessas intervenções, cujo foco
foi o aprimoramento da escrita de dois adolescentes com síndrome de Down (SE e SK). As
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intervenções ocorreram entre 2016 e 2017, ambos alfabetizados e frequentes em escola regular
da rede pública de ensino.
A proposta de atividade consistiu na produção de três textos. (SE) produziu os textos:
O telefone; Magali e A vida do cavalo Luís, respectivamente. (SK), por sua vez, produziu os
textos: Cascão; Magali e reescreveu o texto “O leão e o rato”.
Resultados e Discussões
Os resultados obtidos a partir da coleta dos dados – textos produzidos pelos adolescentes
(SE) e (SK) - nos permitem observar uma falha nos elementos fundamentais para a construção
de um texto, que são a continuidade e a articulação. Segue a transcrição das produções textuais
de (SE) e (SK). Sendo de (SE) as três primeiras transcrições.
Transcrição 1:
“O telefone”
Era uma (fez) vez uma (borxa) bruxa que estava dormindo no sofá da casa (ela) dela. O gato
estava olhado para a bruxa.
Transcrição 2:
“Magali”
A Magali estava no campo ela fai uma garrafa. Tem uma lixeira no camilho para casa.
Perto do campo ele pegou garrafa e na lixeira.
Transcrição 3
“A vida do cavalo Luis”
O cavalo Luis (nassau) nasceu no sítio. Ele nasceu azul e as pessoas gostavam dele.
Quando (Eli) ele tinha 17 anos começou a (trana) trabalhar. Ele era (un) um corredor.
As próximas três transcrições referem-se às produções de (SK).
Transcrição 1
O texto “Cascão” foi produzido em duas etapas, em dias diferentes: em 28/09/16 e 05/10/16. A
transcrição das etapas segue a ordem cronológica das produções.
“Cascão”
Cascão ficou andando e feio um trovão e Cascão tirou e dela pegou um guarda-chuva.
“Cascão”
Cascão estava andando no parque (cando) quando viu um trovão e Cascão teve uma (indeia)
ideia. Ele pegou (ceu) seu guarda chuva.
Transcrição 2
“Magali”
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Ela ficou andando ela (fiu) viu uma garrafa ela pegou garrafa jogou no lixo.
Transcrição 3
“O rato e o leão”
O rato (savou) salvou leão diz não machuca peruei você rato.
Leão sauva rato diz eu vou ajuda leão me savou obrigado portudo.
Analisando as produções textuais dos dois adolescentes (SE) e (SK) pudemos perceber
que há um comprometimento dos aspectos aos quais nos debruçamos neste trabalho, articulação
e continuidade, além de outros elementos que não são foco da pesquisa, nos quais não iremos
no deter neste momento.
É perceptível que as construções dos sujeitos apresentam um nexo, porém a capacidade
de articular as ideias para a construção de um texto claro e objetivo não acontece, tendo em
vista que os textos produzidos por (SE) e (SK), para serem compreendidos, dependem da
capacidade de inferência do leitor.
A questão do uso de conectivos também foi observada, pois a ocorrência e o emprego
adequado destes nos textos são raras, o que exige constante inferência por parte do leitor. O
texto “Cascão”, por exemplo, omite um elemento que é fundamental para a efetivação do
sentido completo, no momento em que se diz...”Cascão tirou dela e pegou o guarda-chuva”; o
quê Cascão teria tirado? De onde? O que seria “dela”? Assim, apenas por inferências e
conhecimento do contexto se pode atribuir sentido completo ao texto.
Os textos produzidos por (SE) e (SK) apresentam estruturas frasais um tanto
fragmentadas de modo que o sentido do texto não se completa de maneira satisfatória.
Considerações Finais
A partir das produções textuais e as falhas observadas, podemos confirmar a hipótese
de que a escrita dos adolescentes (SE) e (SK) apresenta comprometimento na articulação e na
continuidade textual. Isso pode ser observado pelo estilo telegráfico presente na escrita dos
sujeitos. A maneira com que escrevem evidencia a dificuldade na construção de textos bem
estruturados e articulados, bem como na continuidade e fechamento das ideias essenciais do
texto.
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Referências
GOMES, Adriana Leite Limaverde. A produção escrita de alunos com e sem síndrome de
Down: uma análise da coerência textual. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 47, p. 285-300, jan./mar. 2013. Editora UFPR
MUSTACCHI, Z. (Organizar.). Guia do bebê com síndrome de Down. São Paulo: Campanha
Editorial Nacional, 2009.
OLIVEIRA, M. S. Questões de linguagem em sujeitos com síndrome de Down. Revista
Prolíngua, v. 1, n. 1, 2010.
PEREIRA-SOUZA, L. Processos fonológicos na fala e escrita de sujeitos com síndrome de
Down: uma interpretação via Geometria de Traços e Teoria Métrica da sílaba. Dissertação
(mestrado), Vitória da Conquista, UESB, 2017.
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REEDUCAÇÃO FONOLÓGICA POR MEIO DE SOFTWARE EM ESCOLARES
COM DEFASAGEM ESCOLAR NOS ANOS INICIAIS DE EDUCAÇÃO FORMAL
Denise Viana Silva70
Ronei Guaresi 71
Resumo: Apresentamos nesta comunicação resultados parciais de pesquisa de mestrado que buscouinvestigar a
relação entre consciência fonológica (CF) e desempenho em leitura e escrita em escolares com defasagem/atraso
escolar na relação idade/sérieque apresentam desempenho em leitura e escrita abaixo do esperado para a
escolaridade em que se encontram. Avaliou-se ainda, a eficácia da aplicação de software educativono
desenvolvimento de habilidades de CF e na performance de apropriação do sistema alfabético de escrita. Foram
avaliadastrinta escolares de 09 a 12 anos de idade, matriculados no 3° e 4º e ano do ensino fundamental em escolas
públicas. O estudo, de característica experimental, contou com dezessete crianças no grupo controle (GC) e treze
no grupo experimental (GE). Inicialmente, apresentaremos de modo geral o suporte teórico dinamicista, que tem
revelado grande potencial explicativo dos fenômenos cognitivos de processamento da leitura e da escrita.
Posteriormente, elencaremos como ocorreu a investigação e, finalmente, apresentaremos os resultados obtidos até
então e a análise destes à luz da Teoria dos Sistemas Dinâmicos.
Palavras-Chave:Alfabetização; Consciência fonológica; Reeducação; Teoria dos Sistemas Dinâmicos.
Phonological reeducation by software in students with school delay in the initial years of formal education
Abstract: We present in this communication partial results of masters research that sought to investigate the
relationship between phonological awareness (CF) and performance in reading and writing in schoolchildren
with school delay/delay in the age/grade relationship who present below reading and writing performance for the
their schooling. The effectiveness of the application of educational software in the development of CF skills and
in the performance of the alphabetical writing system was evaluated. Thirty students from 9 to 12 years old,
enrolled in the 3rd and 4th year of primary school in public schools were evaluated. The experimental study
consisted of seventeen children in the control group (GC) and thirteen in the experimental group (GE). Initially,
we will present in a general way the theoretical support dynamics, which has revealed great explanatory potential
of the cognitive phenomena of processing of reading and writing. Subsequently, we will list how the investigation
occurred and, finally, we will present the results obtained until then and their analysis in the light of Dynamic
Systems Theory.
Keywords: Literacy; Phonological awareness; Reeducation; Theory of Dynamic Systems.
Introdução
Mostra-se consenso na literatura a afirmação de que a escrita é uma invenção humana
(KRISTEVA, 1969; CAMARA JR., 1975; KATO, 1990; DEHAENE, 2012), e como tal,
apareceu tardiamente em relação à linguagem oral. A Psicolinguística, sustentada por
experimentos das Neurociências, também apoia essa tese e por isso afirma que “os neurônios
da leitura não são geneticamente programados para o reconhecimento da palavra escrita”
70Psicóloga (CRP03/9620), Especializada em Psicopedagogia e Neuropsicologia; Discente do Mestrado em
Linguística do PPGLin/UESB; Vitória da Conquista, Bahia – Brasil; E-mail: [email protected]
71Doutor em Letras e Mestre em Linguística Aplicada pela PUC-RS; Docente do DELL e do PPGLin/UESB;
Vitória da Conquista, Bahia – Brasil; E-mail:[email protected]
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(SCLIAR-CABRAL, 2015, p. 115), sendo então necessário o processo de ensino para que se
obtenha o conhecimento mínimo da escrita e da sua decodificação (leitura).
Ao longo da história humana, percebemos a frequente busca por compreender como
acontece e se processa o percurso que nos leva ao conhecimento. Destacamos as Ciências
Cognitivas,a partir da segunda metade do século XX, como um esforço empírico de
fundamentar os estudosdedicados ànatureza do conhecimento, isto é, seus componentes,
origens, desenvolvimento e usos (MANGUEIRA; GUARESI, 2015). Embora jovem, essa área
científicavoltada à cognição mostra-seamplamente produtiva, principalmente com os avanços
tecnológicos que permitiram técnicas que possibilitassem o estudo do cérebro em
funcionamento. Conforme Mangueira e Guaresi (2015), entende-se que o desenvolvimento
científico, em todas as áreas, tem como foco, dentre outros aspectos, a sistematização e
verificaçãodos padrões de regularidades estatísticas. Nesse sentido, verifica-se que diferentes
corrente teóricas dos programas de pesquisa cognitivas têm exposto diferentes pressupostos a
respeito dos processos cognitivos, um desse processos e essencialmente complexo, é a
linguagem, e as pesquisassobre seus fenômenos vem conduzindo pesquisadores a mudanças de
paradigmas visando uma melhor compreensão dos dados observados.
Um panorama dos pressupostos teóricos da ciência cognitiva foi apresentado pelas
psicólogasThelen e Smith (1994, apud BAIA, 2013), onde sinalizaram, agrupado e
comparativamente três momentos: o modelo mentalista/simbólico, compondo a primeira
geração; o modelo conexionista,a segunda; e os sistemas dinâmicos, aterceira.
Uma das principais características do paradigma dinâmico, a perspectiva emergentista
nos estudos do desenvolvimento cognitivo, diverge dos pressupostos da primeira geração que
tinham a cognição como um módulo separado, trabalhando de modo isolado e confinado ao
cérebro (THELEN e SMITH, 1994). A cognição é um sistema dinâmico na terceira geração da
Ciência Cognitiva e, por isso, é entendida como emergente e inter-relacionada com três níveis:
o sistema nervoso, o corpo e o ambiente (BAIA, 2013). Esse paradigma tem auxiliado as
pesquisas linguísticas que exploram, no percurso de desenvolvimento da linguagem, a
“diversidade, variedade, flexibilidade e assincronia” (BAIA, 2013, p. 26), atributos que não
podem ser ignorados nas pesquisas empíricas.
Podemos definir Sistema Dinâmico como “um sistema composto por variáveis que
interagem e estão em constante modificação simultânea ao longo do tempo” (MANGUEIRA;
GUARESI, 2015, p. 356). Originada em áreas das Ciências Exatas, a Teoria dos Sistemas
Dinâmicos(TSD) tornou-se multidisciplinar e seus pressupostos têm sido apropriados para as
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áreas da Biologia, Meteorologia, Medicina, Economia, Engenharia, Oceanografia, Educação e
Literatura (THELEN; SMITH, 2006; MANGUEIRA; GUARESI, 2015). Nas Ciências
Cognitivas foi aplicada a partir das décadas de 1980 e 1990, principalmente na área da
Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem, com propostas de Thelen e Smith (1994),
Van Gelder e Port (1995) dentre outros.
O sistema dinâmico não é fixo, está em constante interação com o seu ambiente e a
fontes internas, e assim, seus múltiplos elementosinteragem e produzem um ou muitos pontos
de equilíbrio auto-organizados, cujas formas e estabilidade dependem das limitações do sistema
(MANGUEIRA; GUARESI, 2015). Deste modo, empreendemos que a TSDapresenta bom
potencial de explicação sobre os processos de desenvolvimento da leitura e da escrita. Essa
concepção dinâmica demostra que o desenvolvimento dentro de um sistema complexo é
descrito como não linear, auto-organizado e emergente (SMITH & THELEN, 2003). Tais
características revelam que o sistema dinâmico é altamente condicionado por seu estado inicial,
que permite inferir que menores perturbações no início podem conduzir a consequências
maiores (MANGUEIRA; GUARESI, 2015).
Com os avanços nas técnicas de investigações neurocientíficas, foram possíveis
descobertas de evidências sobre como o ser humano aprende a ler e a escrever, assim como os
fatores que fazem com que alguns indivíduos encontrem dificuldades acentuadas nessa
aprendizagem (DEHAENE, 2012; GUARESI, 2014). É fato que dificuldades fazem parte do
processo inicial do aprendizado da leitura e da escrita, uma vez que nosso cérebro não evoluiu
para a natural aquisição, como a aquisição da modalidade oral, em que não há bloqueios
biológicos ou socioculturais que a limite (DEHAENE, 2012; MORAIS, 2013), contudo,
algumas crianças podem ter dificuldades maiores do que outras, ao ponto de ficarem com um,
dois ou mais anos de atraso escolar, por não conseguirem alcançar o mínimo exigido, ao
esperado para sua idade, no que se refere à apropriação do sistema alfabético de sua língua
nativa.
Literaturas científicas, estrangeiras e nacionais, apontam o treino e o desenvolvimento
da consciência fonológica (CF) como a melhor forma de aprender a ler e escrever
(CAPOVILLA, CAPOVILLA, 2000; KUJALA et al., 2001; TEMPLE et al., 2003
LAMPRECHT et al., 2004; LAMPRECHT; COSTA, 2005; DEHAENE, 2012). Segundo
Bryant e Bradley (1985), a CF é como uma série de habilidades que inclui a percepção geral do
tamanho da palavra e de semelhanças fonológicas com outras palavras além da capacidade de
segmentação e manipulação das sílabas e fonemas. Com base em tais conhecimentos, estudos
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revelam que programas de reeducação, aplicados aos estudantes com dificuldade acentuada no
aprendizado de leitura e escrita (KUJALA et. al. 2001, TEMPLE et al., 2003; DEHAENE,
2012).
Consideração esses estudos, o Grupo de Estudos de Aquisição e Aprendizado Típico e
Atípico da Leitura e da Escrita, em parceria com profissionais do curso de Ciência da
Computação da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, campus de Vitória da Conquista,
desenvolveu um programa de computador na forma de jogo educativo, denominado LEGERE,
indicado às crianças que possuem dificuldades acentuadas no desenvolvimento inicial da leitura
e da escrita e com o objetivo (SILVA; GUARESI,2017) de robustecer interconexões das áreas
de processamento visual e auditivo, aspecto subativado em estudos de neuroimagem que
investigam dificuldades de aprendizado (DEHAENE, 2012).
Assim, apresentamos neste resultados parciais de pesquisa de mestrado que buscou
investigar a relação entre habilidades de CF e desempenho em leitura e escrita da Língua
Portuguesa em escolares com defasagem/atraso escolar na relação idade/série que
apresentavam desempenho alfabético abaixo do esperado, assim como avaliar a eficácia do
referido software no desenvolvimento de todas as habilidades avaliadas, CF e leitura e escrita.
Desenvolvimento
Foram realizadas avaliações das habilidades de CF e de leitura e escrita, pré e pós teste,
com trinta escolares de 09 a 12 anos de idade, matriculados no 3° e 4º e ano do ensino
fundamental em escolas públicas, dentro do perfil da pesquisa. Na realização da pesquisa
experimental, este estudo piloto contou com dezessete crianças no grupo controle (GC) e treze
no grupo experimental (GE). Para avaliar quais crianças apresentam dificuldade acentuada na
leitura e na escrita, foi aplicada a ferramenta de monitoramento de aprendizado72 desenvolvida
no âmbito do Grupo de Estudos de Aquisição e Aprendizado Típico e Atípico da Leitura e da
Escrita e do projeto de pesquisa Dislexia: desenvolvimento de conhecimentos e
ferramentas,implementado no Laboratório de Aquisição da Linguagem e Aspectos Linguísticos
da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, que permite a identificação do nível de
apropriação do sistema alfabético de escrita.As habilidades em CF foram mensuradas através
da aplicação do Instrumento de Avaliação Sequencial da Consciência Fonológica (CONFIAS),
que avalia a CF no nível da sílaba, do fonema e geral.
72 Disponível no endereço http://www.fonemaegrafema.com/#!download/c11m6
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O uso do software pelos escolares participantes do GEfoi de quinze (15) minutos diários,
de segunda a sexta, no ambiente escolar, pelo período aproximado de três meses, objetivando
o robustecimento das interconexões das áreas responsáveis pelo processamento da visão e da
audição. Cada escola cedeu um colaborador, que foi treinado pela equipe criadora do softwares,
para instruir, registrar o desempenho e o progresso de cada aluno no software em protocolo
específico de intervenção.
Os dados foram analisados qualitativamente e quantitativamente, de forma descritiva
(cálculos de medidas de tendência como média, nível de significância, desvio padrão) e
correlacional (através da apresentação numérica do índice relacional e da diferença de médias
entre os grupos).
Resultados e Análise
Com base nos parâmetros de Dancey e Reidy (2006), que avaliam resultados entre 0 a
0,1 ou -0,1 como correlação ínfima; 0,3 ou -0,3 como correlação fraca; até 0,6 ou –0,6 como
correlação moderada, e acima disto como correlação forte, observamos que quanto ao primeiro
objetivo, os resultados revelaram uma correlação forte entre habilidades de CF e desempenho
em leitura e escrita, em ambos os grupos no pré (1,9) e no pós-teste (3,8).
Em relação à eficácia do software, não foi encontrada diferença estatística significativa
no pós-teste entre os grupos, porém, é constatado que houve maior ganho, tanto em CF quanto
em leitura e escrita, nos escolares participantes do GE. Ademais, percebeu-se que os ganhos em
leitura e escrita no pós-teste do GE teve correlação estatística forte (1,2) com o número de usos
do jogo que cada escolar teve, isto é, quanto mais sessões foram realizadas, maior foram os
resultados de crescimento nas habilidades avaliadas.
Conclusões
Os resultados deste estudo sugerem que a CF está inter-relacionada ao processo
alfabético, embora o desenvolvimento de ambas as habilidades dependerá de outros fatores
também importantes no complexo feixe de variáveis que envolvem seu complexo sistema de
funcionamento. Os resultados corroboram para a dinamicidade que emerge no desenvolvimento
não natural da leitura e escrita. Podemos entender a CF como parte importante do complexo
feixe de variáveis envolvidos no processo de alfabetização, mas que dependerá de outros fatores
para que ocorra com maior eficácia.
Espera-se que o presente estudo piloto auxilie em experimentos futuros no que tange a
remediação fonológica e a práticas de ensino direto, explícito, ordenado e fonêmico dos
V SENAL | 172 | UESB/2018
conteúdos alfabéticos iniciais, considerando a emergência e autorregularão, conforme o modelo
dinâmico de desenvolvimento da linguagem utilizado.
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V SENAL | 174 | UESB/2018
TEMPO DE LEITURA E ACURÁCIA DE CONVERSÃO GRAFOFONÊMICA NA
RELAÇÃO ENTRE FLUÊNCIA E COMPREENSÃO LEITORA
Cristiane Vieira Costa Abreu73
Ronei Guaresi74
Resumo: Sustentado em pressupostos teóricos psicolinguísticos no tocante ao processamento cognitivo da leitura,
inclusive e especialmente por meio dos modelos Bottom-up e Top-down e Dupla Rota e, ainda, em estudos de
revisão de literatura que tratam da relação entre fluência e compreensão leitora, este estudo objetiva avaliar a
relação entre fluência e compreensão leitora. Avaliou-se a fluência leitora por meio dos critérios tempo e acurácia
na conversão grafema-fonema e a compreensão leitora por meio de respostas orais aquestões abertas de
compreensão leitora. Participam da pesquisa 190 estudantes do 4º ano do Ensino Fundamental, entre 9 e 12 anos,
de ambos os sexos, de escolas pública e particular no interior da Bahia. Observamos, a partir de dados, uma
correlação forte entre as variáveis estudadas, quanto maior o tempo de leitura e a ocorrência de trocas, omissões,
repetições, adições e inversões de letras, silabas ou/e palavras na leitura oral do texto, menor a compreensão
leitora,. Leitores iniciantes usam preferencialmente a rota fonológica e o modelo ascendente. Ao que parece, a
falta de reconhecimento automático dos grafemas impõe maior custo de processamento cognitivo, ou seja, o
processamento pelas vias fonológica e ascendente parece consumir a gama essencialmente limitada de recursos
cognitivos da memória de trabalho, como consequência, não restam recursos cognitivos para acesso ao significado.
Palavras-chave: Tempo. Acurária. Fluência. Compreensão.
Introdução
Embora Saussure (1995) tenha delimitado o objeto linguístico, no início do século
passado, isto não impediu que, a depender do seu delineamento pudesse manter relações
bastante estreitas com outras ciências, que tanto podem lhe tomar emprestados como lhe
fornecer dados. Nesse sentido, inúmeras pesquisas têm apresentado discussões que envolvem
diversas interfaces, dentre outros aspectos, estudos que se referem aos processos relacionados
à decodificação e à compreensão textual, habilidades que precisam ser desenvolvidas
especialmente na escola.
Sob a perspectiva Psicolinguística, há modelos de processamento da leitura que
sustentam teoricamente este estudo, o Modelo Bottom-up e o Top-down e o Modelo da Dupla
Rota. Estes modelos orientam a investigação do processamento cognitivo da leitura e permitem
especularmos acerca da compreensão de textos, objeto de análise neste estudo. Aqui, a análise
de nossos dados ocorre em diálogo com as contribuições dos estudos das neurociências, com o
propósito de entender como certos fenômenos do processamento da linguagem ocorrem no
cérebro. Por fim, este estudo situa-se em um campo de abordagem que contempla a aquisição
73Psicopedagoga e mestranda em Linguística na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Email
[email protected]. 74Doutor em Letras pela PURS. Professor adjunto da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Email
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e o aprendizado inicial da leitura e da escrita, a fim de melhor compreender a relação entre o
desempenho da fluência, em especial aspectos do âmbito do tempo de leitura, da acurácia na
conversão grafofonêmica, da prosódia e da compreensão leitora em escolares do 4º ano do
ensino fundamental.
Segundo Dehaene (2012), para o aprendizado da leitura, é necessário reciclar certas
áreas do cérebro, já que seu aprendizado não é natural, assim como é a fala. A principal dessas
áreas é a região occípito-temporal ventral do hemisfério esquerdo.
Nessa perspectiva, a presente pesquisa pretende investigar qual a relação entre a fluência
leitora (tempo de leitura, conversão grafofonêmica ) e a compreensão da leitura em escolares
do 4º ano do ensino fundamental, considerando, como hipótese, que há uma estreita relação
entre fluência e compreensão, ou seja, espera-se que quanto melhor seja o processo de
automatização na leitura oral, melhor será o desempenho em compreensão leitora. O objetivo
do estudo é avaliar a relação entre fluência e compreensão em escolares do 4º ano por meio do
tempo de leitura, medido em segundos, utilizado na realização da leitura oral do texto e da
acurácia na conversão grafofonêmica, avaliada pelas trocas, repetições, adições, omissões,
trocas/substituições, inversões e a compreensão do texto lido.
Processamento da leitura na aquisição e no aprendizado inicial de sistemas alfabéticos de
escrita
Conforme afirma Guaresi (2012), a leitura proficiente, como uma das atividades
cognitivas mais impressionantes do cérebro humano, pressupõe automatização de certos
subprocessos, dentre os quais a decodificação. À medida que a correspondência grafema-
fonema é automatizada, mais recursos cognitivos – conscientes e limitados – serão
redirecionados para o acesso ao significado, sendo a automatização uma condição para uma
leitura efetiva (PEGADO, 2015).
A escrita consiste em um sistema de representação da fala (SOARES, 2016), em que
organização e funcionamento são de grande complexidade. Por isso, inicialmente o aprendizado
da leitura e da escrita exige atenção e esforço intelectual, processo que, conforme é
automatizado o conhecimento da correspondência entre fonemas e grafemas, torna-se fluido e
facilitado (PEGADO, 2015). Esse conhecimento dos processos cognitivos e linguísticos da
leitura e da escrita é, segundo Soares (2016), indispensável ao profissional alfabetizador para
que se compreenda como ocorrem a aquisição e o aprendizado inicial da leitura e da escrita,
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bem como para fundamentar métodos de alfabetização que assegurem condições necessárias à
leitura e à produção de textos.
A apropriação da leitura assume um papel de grande destaque, uma vez que o seu
domínio é essencial para o acesso aos saberes e às situações gerais do cotidiano. A leitura é um
instrumento imprescindível à vida em sociedade em nosso tempo. O sucesso escolar e
profissional, a promoção social, assim como a emancipação do indivíduo enquanto cidadão,
dependem, em grande parte, da capacidade de ler e, acima de tudo, de compreender. A
competência de ler tem um papel preponderante na sociedade de hoje, facilitando o acesso à
cultura e ao conhecimento.
Anderson (2005) afirma que os processos automáticos são importantes, necessários e não
envolvem controle consciente. Eles demandam pouco ou nenhum esforço atencional ou mesmo
intenção, e são implementados como processos paralelos aos processos monitorados pela
atenção. As ações podem ocorrer ao mesmo tempo ou sem qualquer ordem sequencial
específica, sendo relativamente rápidas já que os processos ocorrem paralelamente
(ANDERSON, 2005).
Para Morais, Leite e Kolinsky (2013), a leitura é uma forma específica de processamento
de informação, e a aprendizagem da leitura é, portanto, a aprendizagem desses processos. Os
autores definem leitura, de forma mais profundada, afirmando que ler significa transformar
representações gráficas da linguagem em representações mentais da sua forma sonora e do seu
significado (MORAIS; LEITE; KOLINSKY, 2013). Nesse sentido, o objetivo da leitura é poder
ressignificar pelo menos proximamente o sentido pretendido pelo escritor. Observa-se, aqui,
em relação a aspectos de ordem prática, que essa concepção de leitura sugere um papel
fundamental ao exercício constante da leitura e à riqueza lexical dos textos lidos, assim a
aprendizagem da leitura não depende tão somente da aprendizagem de processos, mas, também,
do que se lê e de quanto se lê.
O conhecimento de como o código alfabético permite decodificar grafemas em fonemas
é crucial à aprendizagem da leitura por decodificação grafofonêmica, pois permite converter
grafemas em fonemas, quer durante a leitura em voz alta, quer na leitura silenciosa, conforme
ressalta Capovilla (2011). Segundo o autor, um determinado grafema será tão mais fácil de
decodificar fonemicamente quanto menor for o número de fonemas concorrentes a ele
aplicáveis, a exemplo do grafema “f” que corresponde a apenas um fonema e vice-versa
(CAPOVILLA, 2011).
V SENAL | 177 | UESB/2018
Para Morais (2013), o aprendizado da leitura tem como condição, inicialmente, o
reconhecimento pelo aprendiz do princípio alfabético e, posteriormente, o conhecimento das
correspondências entre fonemas e grafemas, entre fala e escrita. O passo seguinte no curso de
apropriação da leitura é o da compreensão leitora, competência estreitamente relacionada ao
processamento automático do conhecimento relativo às correspondências entre grafemas e
fonemas, a que nos referimos anteriormente.
Conclusão
É possível, a partir da observação dos dados, afirmarmos que leitores iniciantes e/ou
menos fluentes apresentam maior número de desvios de conversão grafofonêmica por,
provavelmente, usarem, preferencialmente, a rota fonológica e o modelo ascendente. Ou seja,
ao que parece, a falta de reconhecimento automático dos grafemas impõe uma conversão
grafofonêmica no nível de cada grafema individualmente (via fonológica) e isso expõe o leitor
iniciante a maior probabilidade de cometer desvio de conversão. Ou seja, a falta de fluência
força o processamento pelas vias fonológica e ascendente, as quais, além de consumir a gama
essencialmente limitada de recursos cognitivos da memória de trabalho, sujeita o indivíduo a
maior possibilidade de desvios de conversão. A ausência de fluência, a nosso ver, consumiu
com os recursos de memória de trabalho e não permitiu o acesso aos conhecimentos prévios,
comprometendo eventuais antecipações e predições, características caras da leitura
compreensiva, segundo Machado (2012) e Scliar-Cabral (2008), incorrendo em maiores
desvios de conversão grafofonêmica.
Os resultados desta pesquisa estão, portanto, de acordo com a literatura que aponta para
o reconhecimento das palavras como uma habilidade necessária para compreender um texto,
ou seja, a leitura fluente é uma habilidade preditiva para a compreensão ( MARTINS e
CAPELLINI, 2014).No entanto,índices muito baixos de fluência e compreensão, encontrados
em escolares com a mesma faixa etária e mesmo nível escolar nosso estudo, permitem
questionamentos que podem ser discutidos em estudos futuros: a) a fluência leitora é condição
determinante para a compreensão? E ainda, b)que outras variáveis cognitivas e psicossociais
colaboram na explicação de atraso no aprendizado inicial da leitura? e c) A entonação é uma
variável que colabora na compreensão?
Referências
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V SENAL | 179 | UESB/2018
SÍNDROME DE DOWN: A UTILIZAÇÃO DE PROCESSOS ALTERNATIVOS DE
SIGNIFICAÇÃO EM SITUAÇÕES COMUNICACIONAIS
Maristela Amaral Ribeiro1
Carla Salati Almeida Ghirello-Pires2
Resumo: A síndrome de Down apresenta peculiaridades lingüísticas que envolvem não somente questões
correlacionadas aos domínios lingüísticos, mas também referentes à fluidez da fala e dos processos alternativos de
comunicação elaborados por estes sujeitos em situações de interação comunicativa. Considerando que a evolução
lingüística e o desenvolvimento cognitivo destes sujeitos ocorrem de forma mais lenta como também as
dificuldades de interação social estão presentes se forem equiparados aos “sujeitos ditos normais”. O presente
trabalho tem como objetivo verificar quais os processos alternativos de significação são utilizados por 02
adolescentes com síndrome de Down no que diz respeito à compreensão e formulação de enunciados em situações
comunicacionais. Para tanto, foram analisadas as falas de dois sujeitos com síndrome de Down (JV) 19 anos e
(RL) 13anos, ambos são atendidos no LAPEN (Laboratório de Pesquisa e Estudos Neurolinguísticos) na
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. O presente estudo foi ancorado a partir dos pressupostos da
Neurolinguística Discursiva (ND) e da Teoria Histórico Cultural. Ademais, utilizou-se, também, como recurso
metodológico, vídeo gravações das sessões realizadas semanalmente com os sujeitos da pesquisa sendo feitas de
duas formas: individualmente e em dupla em situações comunicacionais de interação, a partir de atividades de
contação e recontação de histórias, bem como fábulas e canções em seções de 50 minutos para cada sujeito em
dois dias da semana. Os resultados desse trabalho evidenciaram alguns processos de comunicação alternativos de
significação, a saber: os gestos, expressões, pausas, entoações, repetições, trocas, fala telegráfica, que são usados
pelos adolescentes como modo relevante para compreensão e ressignificação da sua fala.
Palavras-Chave:Fala Telegráfica; Gestos. Linguagem oral; Síndrome de Down
Resumen: El síndrome de Down presenta peculiaridades lingüísticas que involucran no sólocuestiones
correlacionadas a losdominioslingüísticos, sino también referentes ala fluidez delhabla y de losprocesos
alternativos de comunicación elaborados por estossujetosensituaciones de interacción comunicativa.
Considerando que laevoluciónlingüística y eldesarrollo cognitivo de estossujetosocurren de forma más lenta y
tambiénlasdificultades de interacción social están presentes si se equiparan a los "sujetosnormales". El presente
trabajotiene como objetivo verificar quéprocesos alternativos de significaciónson utilizados por 02 adolescentes
con síndrome de Down enlo que se refiere a lacomprensión y formulación de enunciados
ensituacionescomunicacionales. Para ello, se analizaronlaspalabras de dos sujetoscon síndrome de Down (JV)
de 19 años y (RL) 13 años, ambos son atendidos enel LAPEN (Laboratorio de Investigación y
EstudiosNeurolingüísticos) enlaUniversidad Estadual del Sudoeste de Bahía. El presente estudiofueanclado a
partir de lospresupuestos de laNeurolinguísticaDiscursiva (ND) y de laTeoría Histórico Cultural. Además, se
utilizó, también, como recurso metodológico, videograbaciones de lassesiones realizadas semanalmente
conlossujetos de lainvestigaciónsiendohechas de dos formas: individualmente y en doble
ensituacionescomunicacionales de interacción, a partir de actividades de cuenta y recontación de historias, así
como fábulas y cancionesen secciones de 50 minutos para cada sujetoen dos días de la semana. Los resultados de
este trabajoevidenciaronalgunosprocesos de comunicación alternativos de significación, a saber: los gestos,
expresiones, pausas, entonaciones, repeticiones, intercambios, habla telegráfica, que son usados por los
adolescentes como modo relevante para comprensión y resignificación de suhabla.
Palabras Clave: Habla Telegráfica; Gestos. Lengua oral; Sindrome de Down
__________________________________ Mestranda em Linguística pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (PPGLin/UESB), e-mail
[email protected], autora.
Professora titular da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, lotada no Departamento de Estudos
Linguísticos e Literários (DELL), docente do programa de Mestrado em Linguística (PPGLin/UESB),
e-mail [email protected], orientadora.
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Introdução
Algumas crianças, jovens e adultos com síndrome de Down (SD) comumente
apresentam dificuldades variadas nas habilidades lingüísticas, em decorrência do atraso na
aquisição e desenvolvimento da linguagem. Apesar deste atraso, o desenvolvimento da
linguagem nesses sujeitos segue as mesmas seqüências e estabelece as mesmas estruturas
mentais que o resto da população, a diferença é que o desenvolvimento se dá mais lentamente,
às vezes fica incompleto e nem todos seus componentes avançam no mesmo ritmo (RONDAL,
1987; MILLER, 1987). Dessa forma, surgem os seguintes questionamentos: Como se dá a
aquisição da linguagem da pessoa com síndrome de Down? Quais os processos alternativos de
significação que crianças, adolescentes e jovens com síndrome de Down utilizam quando se
deparam com dificuldades na sua comunicação? Quais processos alternativos de significação
aparecem na comunicação verbal desses sujeitos e de que forma a intervenção lingüística pode
contribuir para atenuar o uso desses recursos e estimular o uso da comunicação oral?
Trazendo um dos aportes teóricos, a teoria histórico-cultural, percebe-se que para
Vygotsky (1997), a apropriação da cultura por parte da criança se dá pela significação, dessa
forma, ela precisa internalizar os significados do mundo para que possa relacionar-se com os
outros e esse processo é realizado pela apropriação da linguagem, que é considerada a porta de
entrada para o mundo cultural, nesse contexto, o papel do mediador para o desenvolvimento da
linguagem é de grande valia, pois é ele quem vai dá os modelos, dando possibilidade e
oportunizando a internalização dos significados culturais do contexto em que vivem.
Numa perspectiva de intervenção utilizaremos como aporte a neurolinguística
discursiva (COUDRY 1996) e a teoria histórico-cultural de (VYGOTSKY 1997).
Como objetivo principal este estudo busca verificar e analisar a linguagem oral de dois
sujeitos com síndrome de Down e caracterizar os processos alternativos de comunicação
utilizados por eles em situações comunicacionais de interação. Considerando que a evolução
lingüística e o desenvolvimento cognitivo destes sujeitos ocorrem de forma mais lenta como
também as dificuldades de interação social estão presentes se forem equiparados aos “sujeitos
ditos normais”.
Material e método
Os participantes da pesquisa foram sujeitos com síndrome de Down, um de 19 e outro
de 13 anos de idade respectivamente, ambos, incluídos na rede de ensino de Vitória da
V SENAL | 181 | UESB/2018
Conquista, participantes do Grupo de pesquisa FALA DOWN, são atendidas no Laboratório de
Pesquisas e Estudos em Neurolinguística (LAPEN).
Foram realizadas sessões de 50 minutos para cada sujeito da pesquisa, individual e em
dupla no Lapen com os Sujeitos JV e RL, trabalhamos com a fábula: A ASSEMBLÉIA DOS
RATOS (Ciranda Cultural, 2016), primeiro foi apresentado o livro, foi feita a leitura da história,
depois eles fizeram o reconto no coletivo e a partir daí foram criadas várias possibilidades de
atividades específicas para trabalhar a fábula, todas com o objetivo de estimular a linguagem
oral, a leitura, ordenação de frases e associação da frase a imagem , memória, atenção e
produção da fala.
Posteriormente, foram descritas as demandas específicas (os processos alternativos de
comunicação: gestos, entoação, expressões, pausas, repetições, trocas, fala telegráfica, etc.)
apresentadas na linguagem dos sujeitos da pesquisa com síndrome de Down.
Resultados e discussões
Os dados serão dispostos a seguir, seguindo a ordem das sessões em que foram propostas
atividades de interação, leitura e escrita. Após a apresentação de cada dado, abaixo de cada
dado, faremos a descrição do que foi proposto e de como o sujeito falou, leu e/ou escreveu,
considerando tanto a imagem como a descrição como um conjunto de informações relevantes
para o entendimento do fenômeno verificado: Os processos alternativos de significação em
situações comunicacionais.
Figura 01: Dado de JV de 19 anos, 2018
Primeira sessão: Após a leitura da história A Assembléia dos Ratospropomos a atividade
de fatiação das frases que compunham o texto lido, partimos do primeiro parágrafo para a
sistematização e ordenação das idéias. Dando sentido ao texto sem as imagens para associação.
A atividade foi realizada com mediação.
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Figura 02: Dado de JV de 19 anos, 2018
Segunda sessão: Propomos a mesma atividade anterior, agora com a fatiação das
palavras que compunham o primeiro parágrafo da história: A Assembléia dos Ratos, foi
possível identificar a dificuldade em sistematizar o texto a partir das palavras “soltas”, sem as
imagens para nortear, foi notável a exclusão dos conectivos, artigos e pronomes na montagem
das frases, com isso pode-se detectar que estas classes de palavras não fazem parte do discurso
dos sujeitos com SD, por isso ocorre a omissão.
Outro fato relevante foi na sistematização da frase: UM DIA APARECEU UM GATO.
JV teve dificuldade para ler a palavra apareceu, fez três tentativas e na quarta leu a frase da
seguinte forma: UM DIA CHEGOU UM GATO, substituiu a palavra apareceu por chegou,
dessa forma fica evidente que JV entendeu o contexto da palavra apareceu na frase e utilizou
como processo alternativo uma outra palavra que não teria prejuízo no entendimento da frase
e/ou na comunicação. Ele fez a seleção e combinação de forma eficaz, entre os eixos
paradigmáticos e sintagmáticos totalmente coerentes com o contexto, utilizando “chegou”
como equivalente a “apareceu. JV realizou a atividade com mediação, o mesmo nomeou e
colocou data.
Figura 03: Dado de JV e RL (19 e 13 anos respectivamente) 2018
Terceira sessão: Trabalho em dupla para construção da história: A Assembléia dos
Ratos, agora associação das frases as imagens da história. JV e LR realizaram a atividade com
V SENAL | 183 | UESB/2018
mediação. Outros materiais foram confeccionados para oportunizar diferentes possibilidades de
apropriação da linguagem oral. Abaixo alguns desses materiais:
Conclusões
Diante das discussões expostas nas discussões dos dados, e das questões que nortearam
esse trabalho, fica evidente que JV, o sujeito com Síndrome de Down, embora mais lento na
apropriação da linguagem, pode utilizar de outros modos, possibilidades e criatividade para dar
sentido ao que é produzido, ou seja, utiliza processos alternativos de significação na
comunicação efetiva com seu interlocutor, fato este analisado a partir a partir da
Neurolinguística Discursiva.
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SIMPÓSIO TEMÁTICO 5: A PRODUÇÃO TEXTUAL DE CRIANÇAS: O TEXTO
COMO PONTO DE PARTIDA
COORDENAÇÃO: MARCIA HELENA MELO
AQUARELA DIGITAL: COM UM CLIQUE OU UM TOQUE NA TELA LEMOS E
GRAFAMOS O MUNDO
Gilberto Pereira Fernandes 75
Daniele dos Santos Rocha 76
Resumo: A aquarela da vida está se desenhando digitalmente na contemporaneidade. Somos sujeitos com
inteligências múltiplas, desenvolvidas em múltiplos espaços de interação. Nesse estudo apresentamos conjecturas
e resultados preliminares de uma pequena amostra em análise, de uma atividade de interação de crianças com a
máquina (o celular) em uma de pesquisa de inspiração netnografica. Esse tipo de pesquisa nos permite interagir
com os sujeitos, sem nenhum contato presencial com eles, enviando e coletando informações por meio de
aplicativo de rede social, com fornecimento de links, pelos qual os sujeitos podem acessar e responder
questionamentos sem que haja necessidade de identificação ao responder as provocações. Nessa pesquisa, por
meio de formulário digital, os sujeitos entraram em contato com dois textos, um em linguagem verbal e outro em
linguagem não verbal e a partir deles, expressaram por escrito sua percepção. Tais percepções foram sistematizadas
em um gráfico e tabela, seguidas por uma minimalista e despretensiosa análise dosenunciados. A partir dos
discursos produzidos, surgiram as “compreensões de compreensões”, fulcrais nesse processo, pois permitem
entender o que os sujeitos pensam sobre o processo de leitura e escrita a partir da tela do celular.
Palavras-Chave: Aquarela digital; Criança. Produção textual; Tecnologias digitais.
Acuarela digital: conunclic o un toque enlapantallaleemos y grafamos el mundo
Resumen: La acuarela de la vida se está dibujando digitalmente en la contemporaneidad. Somos sujetos con
inteligencias múltiples, desarrolladas en múltiples espacios de interacción. En este estudio presentamos
conjeturas y resultados preliminares de una pequeña muestra en análisis, de una actividad de interacción de niños
con la máquina (el celular) en una de investigación de inspiración netnográfica. Este tipo de investigación nos
permite interactuar con los sujetos, sin ningún contacto presencial con ellos, enviando y recogiendo informaciones
a través de una aplicación de red social, con suministro de enlaces, por los cuales los sujetos pueden acceder y
responder cuestionamientos sin que haya necesidad de identificación al responder a las provocaciones. En esta
investigación, por medio de formulario digital, los sujetos entraron en contacto con dos textos, uno, en lenguaje
verbal y otro en lenguaje no verbal ya partir de ellos, expresaron por escrito su percepción. Tales percepciones
fueron sistematizadas en un gráfico y tabla, seguidas por una minimalista y no pretensiosa, análisis delos
enunciados. A partir de los discursos producidos, surgieron las "comprensiones de comprensiones", centrales en
ese proceso, pues permiten entender lo que los sujetos piensan sobre el proceso de lectura y escritura a partir de
la pantalla del celular.
Palabras clave: Acuarela digital; Niño. Producción textual; Tecnologías digitales.
Aquarela introdutória: contexto e desenho da pesquisa
75 Doutorando em Difusão do conhecimento; UFBA; Salvador, Bahia, Brasil; [email protected] 76 Discente do curso de letras vernáculas; UNEB; Eunapolis, Bahia, Brasil; [email protected]
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A vida em cena é uma aquarela. A aquarela refrata a natureza, expõe a beleza, o abstrato.
A aquarela desenha a vida repleta de cores do imaginário humano. O imaginário desenhado
com os dedos como fizeram os nossos ancestrais na caverna, como fizeram e fazem as crianças
com a mão, com um lápis na mão, com um clique do mouse, com um toque.
Atualmente somos movidos pelo toque, pelo sensível, pelo ideal de leveza, em busca de
notoriedade, de reconhecimento, de sermos seguidos em rede, sedentos de interação e
interatividade. A criança é o ser da interação e da interatividade. As redes comunicacionais, os
dispositivos móveis, e a vida conectada repleta de nuvens, cores, imagens, sons, palavras,
linhas, círculos, formas e sujeitos, remonta o desenho em aquarela.
Nessa pesquisa netnográfica, criamos uma situação de interação online,
disponibilizando um formulário digital e encaminhamento de um link por meio do aplicativo
de comunicação whatsapp para mais de 20 crianças com idade entre 5 e 12 anos de idade. Ao
clicar no formulário preenchido integralmente através do próprio celular ou celular de um de
seus pais ou familiares, a criança conseguia visualizar os textos, responder questões, e escrever
sua própria impressão sobre os mesmos. Ao encaminhar o formulário digital, não entramos em
contato com a criança e o seu texto foi produzido a partir de textos inseridos no próprio
formulário, os quais eram: um texto com linguagem verbal e outro não verbal.
Em que tipo de suporte a criança gosta de ler nesses dias? Tal questão suscita
investigação sobre as potencialidades da escrita a partir de textos com diferentes linguagens e
suportes. Permite compreender a motivação, a percepção, o enunciado, o discurso em uma dada
situação de comunicação, para produção de efeitos de sentido, em condições de produção
individual, mas na perspectiva de extrapolação de ideias, pensamentos e saberes.
O design de leitura e escrita simuladas e transmitidas pelas multimídias, são bastante
atrativas para as crianças que se sentem motivadas a interagir com os diversos gêneros textuais
que se apresentam na tela, a qual se revela não mais como espaço em branco para o desenho,
mas como um tecido textual, com hiperlinks e hipermídias que geram institivamente novos
textos, ainda que a motivação seja o suporte.
A funcionalidade do texto digital para a criança com um clique, um toque
Com um simples toque, a criança desenha o mundo. O desenho agora toma forma de
design, pois a criança, planeja e utiliza o suporte digital para criar e recria, sem medo de errar,
porque é fácil apagar e recomeçar. O tempo e espaço são infinitos, e infinitas também são as
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possibilidades. Os instrumentos são muitos, a palavras são mais ainda, elas falam, se
reproduzem como a células, se auto corrigem, o desenho se autocria, é fácil contornar as cores
elas estão disponíveis e não acabam, não há economia para desenhar no mundo artificial.
A leitura e a escrita são desenhos individuais, com grafos conhecidos por uma
coletividade, mas, próprios de cada sujeito. A leitura e escrita na tela e a partir dela, são
singulares, embora reflitam o compasso do mundo contemporâneo. A atuação das crianças
refrata a manifestação da linguagem humana em amadurecimento, em formação.
Em práticas de letramento digital somos convidados a conhecer diferentes tipologias
textuais fazendo uso dos novos suportes tecnológicos, sejam eles, os celulares, tabletes,
computadores e consoles de games; que no atual momento tem se mostrado uma ferramenta
eficaz para o letramento digital. Podemos definir “o letramento digital como conjuntos de
letramentos (práticas sociais) que se apoiam, entrelaçam, e apropriam mútua e continuamente
por meio de dispositivo digitais para finalidades especificas” (BUZATO, 2006, p. 16).
O termo letramento digital é trazido aqui para caracterizar a manifestação da atividade
leitora e criativa na construção de mensagens encaminhadas digitalmente. Nessa pesquisa fica
evidente que a criança fazendo uso da linguagem em novos meios de acesso a informação e
novos espaços de aprendizagem, digitalizam também excertos dos seus desejos, suas
extrapolações, seu saberes e conhecimentos.
Quando consideramos a linguagem escorrendo por entre os dedos na tela, notamos
sujeitos participantes de uma situação de comunicação definida, em uma determinada esfera de
domínios do discursivo, estamos construindo um discurso, em que dançam em aquarela “as
combinações de elementos linguísticos (frases ou conjuntos constituídos de muitas frases)
usadas pelos falantes com o propósito de exprimir seus pensamentos de falar ao mundo
exterior”.(FIORIN, 1998, p. 11).
Todo discurso tem um caráter de história pessoal impressa, é um ato único e, portanto,
impossível de repetir, ainda que possamos repetir o mesmo enunciado, ou seja, o texto e
sua materialidade; nunca conseguiremos reproduzir o mesmo discurso, ainda que tenhamos
todas as cores e queiramos dar o mesmo tom. Nas redes digitais, ao enunciar um texto temos
um novo ato de discursivo, um novo desenho, com as mesmas cores.
A educação escolar precisa compreender e incorporar mais as novas linguagens,
desvendar os seus códigos, dominar as possibilidades de expressão e as possíveis manipulações.
A criança desde o nascimento gosta de manipular as coisas, busca conhecer a si e o outro, o
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mundo e isso “revela o exterior, o social, atuando na produção da subjetividade e determinando
as formas de comportamento dos sujeitos na atualidade” (FERNANDES, 2011, p.3).
O traçado e a forma dos discursos ganham funções e formulações mais ou menos
estáveis, organizando-se em gêneros, que em Baktin, são “[...] tipo de enunciados,
relativamente estáveis, que estão vinculados a situações típicas da comunicação social”
(BACKTIN apud RODRIGUES, 2004, p. 423) próprio de “como formas sociais de
organizações e expressões típicas da vida social” em rede (MARCUSCH, 2005).
A representação da linguagem é desenhar a comunicação seja na fala ou na escrita, há
ai um letramento, e tem que estar imbricado com as práticas sociais,[...] “para fazê-lo, é preciso
que a educação linguística leve em conta hoje, de maneira ética e democrática, os
multiletramentos ou letramentos múltiplos e os letramentos multissemióticos”, os quais vemos
nas redes. (SANTOS, 2012, p. 678).
Desenho final: interpretando compreensões das crianças
Na aquarela da vida somos movidos para produzir inúmeros discursos, e, portanto,
realizar uma interação. Nas mais diversas esferas de atividade humana, as crianças são as que
mais gostam de mesclar, colar, recortar, interagir, atuar, e é a linguagem que dá forma a essas
ações. No gráfico a seguir, o livro é apontado como o suporte ainda preferido pelas crianças,
quando lhes é permitido escolher mais de um. (Por isso os dados somam mais de 100%).
Gráfico 1 – Em que meio você gosta de ler?
Fonte - Elaborado pelos autores (2018)
Assim como a aquarela desenhada revela deslumbramento, a pesquisa trouxe um
elemento surpresa. As crianças afirmaram diante de três tecnologias mecânicas, gostar mais de
ler em livros impressos. Essa constatação abre possibilidade para diversas interpretações: a) as
crianças relacionam o ato de ler ao livro impresso; b) não consideram leitura o que fazem em
suporte digital; c) o contato com o livro na infância ainda tem uma posição de destaque na vida
delas; d) a escola e a família diminuem o valor de aprender em eletrônicos.
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Com base nessas interpretações e na fala dos próprios sujeitos, trazidas na tabela abaixo,
percebemos que o contato com o texto digitalizado, tipos de interação possíveis e, portanto, os
papéis sociais que podemos desempenhar com as tecnologias digitais ainda não se combinam
com a atividade de leitura e escrita para algumas crianças.
Tabela 1 - Como é para você ler e escrever usando o celular?
Não gosto muito porque sinto que não entro na história. Já no livro de papel me sinto dentro da história que
estou lendo, por isso prefiro sempre o livro de papel. (11 anos)
Escrever no celular é bom porque é rápido e ele corrige a gente. Não gasta lápis ou papel.(12 anos).
Eu leio e escrevo no celular mais eu sei que não é bom para meu desenvolvimento. (10 anos)
Eu gosto de ler pois e pratico, posso mecher no tamanho das letras e eu prefiro escrever no celular. (9 anos)
É muito facio escrever com o celular você olha para ele e escreve com a caneta. (7 anos)
Gosto de fazer muitas coisas no celular brincar de jogoe pesquisa da escola. (10 anos)
Eu não escrevo no celular ainda. (6 anos).
Gosto de fazer muitas coisas no celular brincar de jogoe pesquisa da escola. (8 anos)
Fonte - Elaborada pelos autores (2018).
Nos enunciados produzidos pelas crianças respondendo “como é para você ler usando o
celular”, revelam que cada ato de discursivo que é diferente e carrega um significado. Eles
preferem usar os aparelhos celulares em atividades lúdicas de entretenimento, e não
pedagógicas. A ausência de experiências pedagógicas de ensino/aprendizagem nesse tipo de
recurso digital ainda é incipiente no contexto educacional, apontando que há pouca habilidade
de leitura e escrita na tela, mediando às práticas sociais de letramento digital.
Contornando os espaços do digital a criança se depara com manifestações linguísticas
verbais e não verbais, e também consegue definir seu traçado desempenhando a função
comunicativa de diferentes formas de interação. As próprias crianças que flutuam no mundo
imaginário e criativo das inteligências múltiplas presentes no campo digital, nos dão indicativos
de como podemos transformar a esfera educacional, criando um espaço hibrido de
aprendizagem cognitiva no uso da escrita, falada, desenho, nas redes digitais.
Desenhar é rotina da criança, é interação. Pelo desenho a criança poetiza o mundo,
numa folha qualquer, num muro, no chão, na parede, na carteira escolar, no próprio corpo e
atualmente, na tela. Carecemos de uma abordagem pedagógica de fomento a leitura e produção
textual combinando diferentes tipos de texto, mídias e suporte, com as tecnologias digitais,
elemento lúdico, interessante, uma vez que as interações nas redes de comunicação exigem uma
produção textual com competência, para que haja compreensão e audiência.
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Referências
BUZATO, M. Letramentos digitais e formação de professores. In: congresso ibero-americano
educarede, 3., 2006, São Paulo. Anais. São Paulo: CENPEC, 2006. p. 1-7
FERNANDES, C. A. Discurso e Produção de subjetividade em Michel Foucault. UNESP. Car,
durante o período de janeiro de 2010 a agosto de 2011. Bolsista CNPq.
FIORIN, J. L. Linguagem e Ideologia. São Paulo: Ed. Ática, 2009.
MARCUSCHI, L. A. Orgs. XAVIER. A. C. Hipertexto e generos digitais: Novas Formas de
Construção de Sentidos. Rio de Janeiro: Ed. Lucerna, 2005.
RODRIGUES, R. H. Análise de gêneros do discurso na teoria bakhtiniana. Linguagem em
(Dis)curso, Tubarão, v.4, n.2, p. 415-440, jan/jun. 2004.
SANTOS, M. M. Gêneros digitais e letramentos: uma multirrelação. Unigranrio. Cadernos do
CNLF, Vol. XVI, Nº 04, T.1- Anais do XVI CNLF, p. 674-681. 2012.
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BREVE ANÁLISE DOS ERROS ORTOGRÁFICOS TEXTUAIS DE UMA CRIANÇA
EM SEU PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA ESCRITA
Jessica Baroni Queiroz 77
Emília Lima Macêdo 78
Maria Aparecida Gusmão Pacheco 79
Resumo: O presente artigo, intitulado ‘Breve análise dos erros ortográficos textuais de uma criança em seu
processo de aquisição da escrita’ é resultado de um trabalho desenvolvido durante a disciplina Escrita e Ensino,
ministrada pela professora Maria Aparecida Gusmão Pachecona Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia,
Uesb, como componente curricular do curso de Pedagogia. Sendo assim, procuramos analisar a produção textual
de uma graduanda de Pedagogia durante a sua infância e perceber os erros que mais apareciam tendo como base
teórica o texto de Cagliari (2009) “Análise dos ‘erros’ ortográficos dos textos” relacionado aos erros da criança, a
partir dos estudos do autor referentes à temática. Os resultados destas análises, oferecem contribuições diretas para
entender a maneira como as crianças representam a escrita ortográfica, permitindo o acompanhamento tanto das
dificuldades e da obtenção de melhorias na aquisição da escrita das crianças.
Palavras-Chave: Alfabetização; Erro ortográfico; Escrita; Dificuldades.
Brief Analysis of a Child's Spelling Errors in their Writing Acquisition Process
Abstract: This article, entitled 'Brief analysis of the textual orthographic errors of a child in his process of
acquiring writing' is the result of a work developed during the Writing and Teaching discipline, given by the
teacher Maria Aparecida Gusmão Pacheco at the State University of Southwest of Bahia, Uesb, as a curricular
component of the Pedagogy course. Thus, we try to analyze the textual production of a pedagogical student during
her childhood and to perceive the errors that appeared the theoretical basis of the text of Cagliari "Analysis of the
'errors' orthographic texts" related to the errors of the child, from of the author's studies on the subject. The results
of these analyzes offer direct contributions to understand the way children represent orthographic writing,
allowing the monitoring of both difficulties and improvements in the acquisition of children's writing.
Keywords: Literacy; Orthographic error; Writing; Difficulties.
Introdução
Sabemos por meio de estudos da pedagogia (FERREIRO; TEBEROSKY, 1996) e da
linguística (CAGLIARI, 2009) que ao realizar atividades de escrita na produção de textos
espontâneos as crianças apresentam reflexões sobre o sistema de escrita alfabético.
O objetivo do presente texto é a análise dos ‘erros’ ortográficos de uma criança, a fim
de entender como se dá o processo de construção de um texto espontâneo. As questões de ordem
ortográfica sempre incomodaram os professores, principalmente durante o processo de
77Graduanda em Licenciatura em Pedagogia; Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB); Vitória da
Conquista, Bahia, Brasil; Endereço eletrônico: [email protected]. 78Graduanda em Licenciatura em Pedagogia; Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB); Vitória da
Conquista, Bahia, Brasil; Endereço eletrônico: [email protected]. 79Professor Adjunto da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Uesb. Vitória da Conquista,
Bahia, Brasil; Endereço eletrônico: [email protected].
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alfabetização dos educandos. Mas é necessário considerarmos a essência das produções textuais
espontâneas das crianças. Dessa maneira iremos motivá-las cada vez mais a escreverem. E a
escrita não será mais considerada algo desagradável e sim, prazeroso e construtivo apesar da
existência dos erros ortográficos comuns durante esse processo. A alfabetização é uma trajetória
fantástica, porque por meio da aquisição da tecnologia, que em outras palavras, consiste na
aquisição da escrita alfabética e das habilidades de usá-las para ler e escrever. Os alunos
demonstram muitos conhecimentos. Quando a criança está nesse processo de alfabetização, o
desenvolvimento e o uso efetivo da escrita ocorre em uma condição diferenciada na sua relação
com o mundo, ou seja, a aprendizagem da leitura e da escrita não é somente para conhecer as
letras, mas utilizar desse conhecimento para poder se expressar e comunicar algo e esse é o caso
do texto analisado. Então, para aprender a ler e escrever uma das dificuldades principais que os
educandos enfrentam é a compreensão da relação entre os fonemas e os grafemas e o domínio
das regras de ortografia, que são muitas e acabam confundindo o pensamento infantil. A
linguagem escrita consiste na codificação de fonemas e grafemas. Assim sendo, a sua
decifração são aspectos centrais e existe uma preocupação excessiva. com o erro ortográfico.
Por isso, a leitura e a escrita são processos de interpretação de textos orais e escritos e a
expressão de ideias e sistematização dos pensamentos dos indivíduos. (LEITE; AMARAL,
2000). A aquisição da escrita também está relacionada a consciência fonológica, porque para
apreender o código escrito é necessário refletir sobre os sons da fala e a sua representação
gráfica.
Desse modo, a partir do texto ‘Análise dos erros ortográficos’, de Cagliari (2009)
discutiremos sobre esse processo da escrita por meio de um texto espontâneo para que assim,
seja compreendido como se dá o desenvolvimento da escrita da criança, durante a trajetória
escolar que consiste na alfabetização. No entanto, analisamos que antes de ingressarem em
instituições educativas algumas crianças possuem contato com materiais escritos livros infantis,
revistas, cartas e até tentam imitar a letra e escrita dos pais. Por isso, encontramos crianças
pequenas fazendo garatujas. E elas são capazes de contar uma história bastante criativa,
somente a partir daquelas garatujas que os adultos não entendem. Assim sendo,
compreendemos que as crianças desenvolvem hipóteses em relação à escrita, ou seja, tentam
escrever do modo como imaginam que possa ser e não se preocupam muito com erros
ortográficos presentes em bilhetes, cartinhas e outros registros.
Análise dos textos de uma criança a partir de seus ‘erros’ ortográficos
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Para tal análise, partimos dos textos de uma criança de seis anos de idade com o intuito
de compreender como se desenvolve o processo de escrita e como ela lida com isso,através de
um texto espontâneo encontrado em seu diário. Para isso, será utilizado a classificação de
Cagliari (2009) e as suas concepções relacionadas ao erro, para o entendimento do movimento
que uma criança faz durante a sua escrita espontânea. Os dois textos são os seguintes:
Texto 1
Texto 2
Fotografia 1 – Os dois textos espontâneos analisados
Transcrição do Texto 1 memãe 233 de feveleilo
gata disso Julio batata paipa corra brinquedo de Jessica eu fiz uma defere bunita
Vovó colação e vovô goto de Julio e de mamãe namo muita dessica ganhou um brintedo cola nalfa Julio toco o tabelo nanãe fazer conpradessica fica em cassa e Julio.
Vovovovõ
Transcrição do Texto 2 Jessica Baroni
Julio Cesar Baroni Neto
25 Maio Mamae
Eu sou bonita
Eu goto de batatafirta Mamae e gata
Papai e bonito 20 de novero Aniversario de Jessica
HolaQndoporvecorafanilavidanovaparsabrparni Mamãe dia de papai ri parenião
Dia de Jessica fica dorni dia de Julioficapalido
Inicialmente, no texto 1, identificamos o seguinte ‘erro’ durante a tentativa da escrita da
palavra bonita, [bunita]. Sendo assim, entendemos que a criança escreve o [u] em vez de [o], o
que de acordo com Cagliari é classificado como transcrição fonética, pois a criança escreve da
maneira que ela ouve/fala. Cagliari (2009) ressalta que esse tipo de erro é o mais comum durante
o processo da aquisição da escrita. Posteriormente, localizamos a tentativa da escrita da palavra
brinquedo, [binquedo]. O educando não escreve o [r], porque pronuncia a palavra que o
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antecede de forma mais longa, englobando o som de [r]. Localizamos a tentativa de escrever
coração, [colação].
Também, encontramos a palavra gosto, na qual foi escrita [gotu]. Sendo assim, a criança
não escreve o [s], por não haver um som correspondente em sua fala. A criança tentou escrever
escola, [cola]. O uso indevido de letras também foi encontrado, porque houve a tentativa de
escrever cortou, [toco] e cabelo [tabelo]. Então, alerta-se que, “o uso indevido de letras se
caracteriza pelo fato de o aluno escolher uma letra possível para representar o som de uma
palavra, quando a ortografia, usa outra letra.” (CAGLIARI, 2009,p.123). Houve também a
modificação da estrutura segmental das palavras, havendo troca de letras nas palavras mamãe
[nanãe] e Jessica [Dessica]. Por isso, referente a estrutura segmental também
encontramos compra, [conpra] e casa, [cassa]. Isso acontece porque de acordo com Cagliari
“São erros de troca, supressão, acréscimo e inversão de letras no sistema de escrita e
representam, às vezes, maneiras de escrever de que o aluno lança mão porque ainda não domina
bem o uso de certas letras” (p. 124). Foi localizado o ‘erro’ na tentativa de escrita do nome da
escola em que ela a criança estudava, Alfa, [nalfa]. Foi localizado também a inversão de letras
na tentativa de escrever papai [paipa] e compra [conpra].
No texto 2, também foi localizado o uso indevido de letras na tentativa de escrever
quando, [qnado]. Na modificação das estruturas das palavras temos a palavra olá, que sofreu
acréscimo de letras [hola]. Foi localizada a modificação da estrutura segmental das palavras, na
escrita de ir, [ri]. Sendo assim, notamos a presença do ‘erro’ referente a inversão de letras. A
juntura intervocabular e segmentação foi o ‘erro’ mais presente nesse segundo texto. Assim
sendo, encontramos as tentativas de escrita das palavras batata-frita, [batatafirta], para saber
[parsabr], para ir, [parni], para escola[paracurtola], para a reunião [parenião] e fica pálido,
[ficapalido], vida nova [vidanova]. Por isso, Cagliari (2009) esclarece que durante a escrita
de textos espontâneos os educandos costumam juntar todas as palavras, porque na fala não
existe a separação de palavras, a não ser quando ocorre a marcação da entonação do locutor.
Na transcrição fonética podemos apontar dois ‘erros’: um em relação de não escrever o [r], por
não haver som correspondente e sua fala, na palavra ficar [fica]. Localizamos também o
seguinte ‘erro’ na tentativa de escrever dormindo [dorni]. Foi encontrado o ‘erro’ na tentativa
de escrever professora, [porvecora]. Para escrever professora, a criança desfaz o grupo
consonantal [pr], já que é assim que fala.
E foi localizada a tentativa de escrita da palavra aniversário, [Aniversário] e novembro,
[novero]. A palavraaniversário consiste no erro comum, referente ao uso indevido de letras
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maiúsculas e minúsculas, porque essa palavra é encontrada no meio do texto. Mas a criança
ainda não compreendeu segundo Cagliari (2009) que as letras maiúsculas são utilizadas
somente no início das produções textuais e para nomes próprios. A palavra novembro foi escrita
incorretamente, porque ocorreu o uso indevido de letras, porque o [m] foi substituído pelo [n],
ficando da seguinte maneira: [novenbro]. Cagliari explica que isso acontece por conta de o
“aluno escolher uma letra possível para representar um som de uma palavra quando a ortografia
usa outra letra” (p. 123).
Por fim, foi encontrada a palavra família que foi escrita da seguinte forma: [fanila], mas
Cagliari não classifica algo do tipo, pois a criança nesse caso suprimiu uma letra na escrita da
palavra.
Considerações finais
Após a breve análise textual de uma criança em seu processo de aquisição da escrita
ressaltamos a importância da valorização das produções textuais das crianças, apesar dos erros
ortográficos. Enfatizamos que não é justo os professores cobrem que uma criança que ainda
está no início do processo de alfabetização escreva tudo ortograficamente correto. O fato de
analisar e categorizar os erros ortográficos possibilita estabelecer uma referência com o objetivo
de perceber quais são os tipos de erros que frequentemente são cometidos pelas crianças e
identificar os processos cognitivos que acontecem na escrita de um texto espontâneo, além de
facilitar o estabelecimento de estratégias com a finalidade de que ela consiga entender o
funcionamento ortográfico. Dessa maneira, será possível incentivar o prazer pela escrita sem
‘podar’ a criatividade infantil, através de atividades repetitivas, ou seja, atividades de cópia, em
que quando o aluno erra algumas palavras elas são obrigadas a
Escrever muitas vezes a mesma palavra, ou seja, a escrita acaba se tornando um
‘castigo’.
Essa pesquisa nos fez compreender que o melhor trabalho que o professor faz nesse
processo ensino-aprendizagem é o de reconhecer os ‘erros’ ortográficos dos alunos e ajudar
eles a melhorarem cada vez mais a escrita e não os recriminar. O aluno está em processo de
aquisição da língua escrita e da leitura. E por isso, ele deve ter um bom respaldo, para que
também tenha um bom desenvolvimento durante o processo de escolarização.
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Referências
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização & linguística. 11. ed. São Paulo: Scipione, 2009.
FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. A psicogênese da língua escrita. Porto Alegre:
Artmed, 1996.
LEITE, Sérgio Antônio da Silva; AMARAL, Cíntia Wolf. O processo de alfabetização numa
perspectiva crítica. Revista Online. Prof. Joel Martins, Campinas, SP, v.2, 2000. Disponível
em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/etd/article/view/565/580>. Acesso em:
21 set. 2018.
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LETRAMENTO NO ENSINO FUNDAMENTAL II: DA LEITURA EXTRACLASSE À
PRODUÇÃO TEXTUAL
Adriana Ferreira de Souza80
Resumo: O artigo trata de um relato de experiência pedagógica sobre um projeto de leitura extraclasse e produção
textual, da disciplina de Português, no 8º ano matutino, desenvolvido na Escola Municipal Dr. Jairo Azi, em Riacho
da Guia, distrito de Alagoinhas, Bahia. O presente texto tem por objetivo refletir sobre o ensino de português, no
que concerne à aquisição de habilidades de leitura e escrita no Ensino Fundamenta II. Para tanto, apresentamos as
linhas gerais da proposta de trabalho e o desenvolvimento da mesma em sala de aula. As atividades de leitura
extraclasse e produção textual do projeto da disciplina de português buscam principalmente recuperar o prazer
pela leitura e, consequentemente, desenvolver habilidades de leitura e escrita.O projeto tem por base a metodologia
qualitantiva, fundamentando-se em autores que abordam esse tema: Freire, Geraldi, Zilberman, Koch, Colomer,
entre outros. Até o momento, os resultados obtidos mostram um aumento na quantidade de livros lidos pelos
alunos, com suas respectivas produções escritas com base nos livros lidos.Assim, concluímos que os alunos podem
desenvolver a competência de leitura e escrita que o auxiliará a ser um sujeito ativo do ato de ler e escrever.
Palavras-chave: Competência de leitura e escrita; Leitura extraclasse; Produção textual; Sujeito ativo.
Resumen: El artículo es un informe de experienciaenlaenseñanzaen una produccióndelproyecto extracurricular
de lectura y textual, elportugués, por supuesto, enelaño 8 de lamañana, desarrolladoenlaEscuela Municipal Dr.
Jairo Azien Riacho da Guia, distrito Alagoinhas, Bahía. Este trabajotiene como objetivo reflexionar sobre
laenseñanzadelportugués, enrelaciónconlaadquisición de lalectura y la escritura enel contexto escolar II. Para
ello, presentamos las líneas generales de lapropuesta de trabajo y eldesarrollo de lamismaenel aula. La
actividades de lectura extracurriculares y producción textual de la disciplina diseñoportuguésbuscan
principalmente para recuperar elgusto por lalectura y por lo tanto eldesarrollo de las habilidades de lectura y
escritura. El proyectotiene como base lametodologíacualitativa, fundamentándoseen autores que abordanese
tema: Freire, Geraldi, Zilberman, Koch, Colomer, entre otros. Hasta el momento, los resultados
obtenidosmuestranun aumento enlacantidad de librosleídos por losalumnos, con sus respectivas producciones
escritas con base enloslibrosleídos. Así, concluimos que losalumnospuedendesarrollarlacompetencia de lectura y
escritura que leayudará a ser unsujetoactivodelacto de leer y escribir. Palabras clave: Competencia de lectura y
escritura. Lecturaextraclase. Producción textual. Sujetoactivo.
Palabras clave: Competencia de lectura y escritura; Lectura extraclase; Producción textual; Sujeto activo.
Introdução
Muitos linguistas questionam sobre o que é ensinar português, uma vez que os alunos
já dominam a língua materna necessária para se expressarem e interagirem com os seus
interlocutores. O que seria necessário ensinar: Gramática? Literatura? Expressão oral e escrita?
São muitos os questionamentos que envolvem o ensino de português. Com base nesse contexto,
há professores que buscam um trabalho de integração entre a prática de leitura e a produção de
texto. Dessa forma, por meio da leitura, a escola pressupõe que o aluno pode ter cada vez mais
contato com a língua escrita, aumentando seu repertório com relação as formas padrão que
deseja que ele aprenda (PONTY, 1999).
80 Mestranda do Programa em Crítica Cultural. Linha 2- Letramento, Identidades e Formação de Professores do
Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural – UNEB. Endereço eletrônico: [email protected].
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Assim, a escola não ensina o aluno a ler e produzir textos. São feitos exercícios de
interpretação e análise de textos e a produzir redações. O que significa que há simulações de
leituras e do uso da língua escrita (GERALDI, 1999). No entanto, a leitura não deve ser uma
decifração do sentido de um texto, ela deve partir da leitura de mundo para a leitura da palavra,
o que possibilita uma compreensão crítica e interpretação do texto, finalizando em sua recriação
(FREIRE, 2011). A utilização do código da escrita não serve apenas para produzir textos, mas
para entendê-los a partir das experiências, do conhecimento e da visão de mundo do
aluno(KOCH, 2002). Leitura e escrita estão vinculadas e sua prática se dá no ambiente escolar
(ZILBERMAN, 2009).
Para Barbosa e Rovai (2012), “a leitura não é um hábito, uma ação que repetimos
irrefletida e automatizamente. A leitura é uma prática social refletida, sentida, fruída, que
precisa ser internalizada e fazer sentido”. (BARBOSA; ROVAI, 2012, p. 51), mas a resistência
do aluno à leitura irá depender das experiências significativas ou das dificuldades de
compreensão que o aluno tiver com ela.
Para isso, a prática de leitura deve levar em consideração os interesses dos alunos, desde
as obras que valorizam a cultura local, assim como obras contemporâneas, incluindo os
clássicos, que podem ser selecionados pelos próprios alunos de acordo com suas expectativas.
Além disso, o professor continuará exercendo a tarefa de mediador de leitura, ensinando a ler e
criando condições de interpretação, “o que passa pelo desenvolvimento de habilidades de
leitura, mas também pela oportunização de experiências estéticas significativas que nos
permitam identificação e alteridade, que nos provoquem torcida, raiva, indignação, alegria, que
nos façam rir e chorar.” (BARBOSA; ROVAI, 2012, p. 53).
Desde de séculos passados, a leitura e a escrita ocupam um lugar relevante na sociedade,
cujo domínio dessas habilidades distingue as pessoas entre si. Assim com a crise da leitura e da
escrita que gera a crise da escola e vice-versa, as desigualdades sociais se ampliam cada vez
mais.
Diante desse contexto, é necessário que os profissionais de educação busquem soluções
para superar as dificuldades relacionadas ao domínio das habilidades de ler e escrever textos.
O presente texto tem por objetivo refletir sobre o ensino de português no que concerne
à aquisição de habilidades de leitura e escrita no Ensino Fundamenta II. Para tanto,
apresentamos as linhas gerais da proposta de trabalho e o desenvolvimento da mesma em sala
de aula. As atividades de leitura extraclasse e produção textual do projeto da disciplina de
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português buscam principalmente recuperar o prazer pela leitura e, consequentemente,
desenvolver habilidades de leitura e escrita.
A metodologia é de base qualitativa, uma vez que parte da análise da atividade de leitura
e produção textual, aplicada com as turmas do 8º ano, onde buscamos explicar o andamento da
atividade de forma parcial e limitada, pois torna-se imprevisível o desenvolvimento da
atividade, ao mesmo tempo em que tentamos quantificar, com base na análise de dados, o
andamento da mesma entre as duas turmas de 8º ano. A junção da pesquisa qualitativa e
quantitativa nos permite ter mais informações do que poderíamos ter se fossem aplicadas
separadamente (GERHARDT, 2009).
Linhas gerais
O projeto de atividade de leitura extraclasse e produção textual, se iniciou a partir de
leituras que tratam sobre este tema, em especial, com base na leitura do livro “O texto na sala
de aula”, de Geraldi (1999), que apresenta sugestões de atividades para o desenvolvimento de
habilidades de leitura e escrita em sala de aula. Não é um roteiro a ser seguido, como afirma o
próprio autor, apenas serve de base para a orientação da prática pedagógica de profissionais da
área de Letras, que podem adaptá-lo, criando seus próprios projetos, levando em conta a
realidade de cada um.
Foi aplicado na Escola Municipal Dr. Jairo Azi, do ensino fundamental II, em Riacho
da Guia, distrito de Alagoinhas, Bahia, com as turmas do 8º ano, do turno matutino. Consiste
na leitura de dez livros de narrativas longas (romances, novelas, peças teatrais), que
contemplem estilos variados: romances de aventura, policial, amor, drama, entre outros,
distribuídas entre as quatro unidades do ano letivo: dois livros na I e IV unidades, três livros na
II e III unidades. Os livros utilizados pelos alunos pertencem em parte à biblioteca da escola,
pois a mesma não dispõe de um grande acervo, livros dos próprios alunos, emprestados ou que
baixaram na biblioteca virtual, através do celular.
Com base na leitura do livro selecionado, o aluno escolhe uma atividade sugerida para
a produção textual que, no final do ano letivo, deverá escolher uma das atividades realizadas
para apresentar à turma e outra para expor no mural da sala ou da escola.
São essas as atividades propostas aos alunos com base na leitura dos livros selecionados
para a leituraextraclasse:
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1. Escrever uma carta para o autor, falando sobre o livro, questionando as
personagens, suas atitudes, pedindo informações sobre a vida dele.
2. Transformar o livro em história em quadrinhas, procurando destacar os aspectos
mais importantes, aqueles que merecem mais atenção.
3. Fazer uma colagem (ou desenho, ou pintura...) que recrie trechos decisivos na
história.
4. Escolher uma música bem conhecida e fazer uma paródia, recontando a história do
livro.
5. Escrever a história em forma de cordel.
6. Selecionar uma música de sucesso que tenha letra relacionada a momentos da
história do livro.
7. Fazer a propaganda do livro.
8. Confeccionar a primeira página de jornal, contendo manchetes, texto com ilustração
sobre fatos que compõem a história do livro.
9. Criar uma nova versão da história lida.
10. Escrever um poema com base na história do livro lido.
11. Compor uma letra de música (hip-hop, rap, funk) considerando a história do livro.
Consta também de um regulamento que os alunos devem seguir para um bom
desempenho das tarefas.
1. Primeiramente, os alunos deverão ler, no mínimo, dez livros durante o ano letivo
para realizar as atividades propostas, escolhendo uma atividade diferente para cada
livro lido.
2. Na quarta unidade, cada aluno escolherá uma atividade realizada para apresentar em
sala de aula e outra para expor no mural da sala ou da escola.
3. As atividades realizadas no caderno pelos alunos e a apresentação da atividade
escolhida pelos mesmos em sala de aula serão avaliadas e pontuadas pelo professor.
4. Para isso, os alunos devem escolher narrativas com histórias variadas: histórias
românticas, policiais, de aventura, de ficção científica, de suspense de humor, de
terror, etc.
5. A seleção dos livros deve ser feita sob a orientação do professor.
6. Devem ler livros, de preferência, que ainda não leram.
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Resultados
Até o momento, temos como resultados obtidos, a quantidade de livros lidos pelos
alunos até a terceira unidade e as produções escritas com base nos romances lidos. No entanto,
há alunos que ainda não completaram a leitura dos livros e, consequentemente, não fizeram as
respectivas produções. Mas há casos de alunos que já ultrapassaram o mínimo de leitura
estabelecida com as produções escritas. Observamos que há uma quantidade significativa de
alunos que ficam na “lista de espera” e que pegam mais de um livro para ler simultaneamente,
mas isso não ocorre em todas as turmas.
A tabela abaixo representa o andamento dessa atividade nas duas turmas de 8º anos A e
B, do turno matutino.
Esclarecemos que a terceira unidade ainda está em andamento, o que pode alterar os
resultados até o encerramento da mesma.
Tabela 1: Andamento do projeto nas turmas Turmas Quantidade
de alunos
Alunos que leram os
livros
Alunos que não
conseguiram ler a
quantidade solicitada de
livros
Alunos que ultrapassaram a
quantidade mínima de livros
lidos
I II III I II III I II III
8º A 31
26 27 27 4 3 2 7 8 10
8º B 28
22 21 23 6 7 5 3 4 7
Com base na tabela acima, podemos observar que a turma do 8 ano A, até o momento,
é a que tem o maior número de alunos que já completaram as atividades propostas, onde muitos
ultrapassaram a quantidade mínima de romances lidos já na terceira unidade. O mesmo não
ocorre com os alunos do 8º ano B, pois os mesmos estão atrasados na leitura e na produção dos
textos. Mas se comprometeram em ler a quantidade mínima de romances estabelecida na
unidade, com suas respectivas produções.
No início da atividade de leitura extraclassse, muitos alunos se queixaram de suas mães,
uma vez que não permitiam que os mesmos lessem os romances quando estavam, alegando que
tinham que cumprir com as tarefas domésticas. Diante dessa situação, propomos que
conversassem com suas mães ou responsáveis sobre a atividade e, em comum acordo,
gerenciassem o seu tempo. Dessa forma, foi possível que os alunos dessem continuidade a
atividade, sem deixarem de cumprir suas obrigações domésticas.
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Além dessas análises, ao conversar com os alunos a respeito da atividade, alguns
disseram que passaram a ler mais rápido, compreendendo melhor o que está escrito.
Conclusões
O objetivo dessa atividade não é formar escritores, embora as produções escritas sejam
resultados de sugestões de atividades aplicadas no final do exercício de leitura que tem por
objetivo auxiliar o aluno a construir adequadamente um texto, de acordo com o gênero textual
solicitado. A prioridade está na formação de leitores para que passem a ter um comportamento
ativo, criativo, com a capacidade de refletir, de forma crítica, sobre o mundo que o cerca.
Com o projeto de leitura extraclasse e produção textual, acreditamos estar contribuindo
para o aperfeiçoamento do profissional de Letras que se preocupa em criar condições que levem
o educando a desenvolver competências de ler, interpretar e produzir textos, para que o mesmo
não seja apenas um receptor de conteúdo, um ser passivo durante as aulas.
Referências
BARBOSA, J. P.; ROVAI, C. F. Gêneros do discurso na escola: rediscutindo princípios e
práticas. – 1ª ed. – São Paulo: FTD, 2012.
FREIRE, P. A importância do ato de ler. Editora Cortez. 51ª edição, vol. 22. GERALDI, J. et
al. (Org.). O texto na sala de aula. Editora Ática. Coleção na sala de aula. 3ª ed. 1999.
GERHARDT, T. E.; TOLFO, D. S. [organizadores] Métodos de pesquisa / coordenado pela
Universidade Aberta do Brasil – UAB/UFRGS e pelo Curso de Graduação Tecnológica –
Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural da SEAD/UFRGS. – Porto Alegre:
Editora da UFRGS, 2009.
KOCH, I. G. V. A argumentação e linguagem. Editora Cortez. 8ª edição, 2002.
ZILBERMAN R.; ROSING T. M. K. et al (Org.). Escola e leitura: velhas crises, novas
alternativas. – São Paulo: Global, 2009. (Coleção Leitura e Formação).
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QUANDO A HIPO E A HIPERSEGMENTAÇÃO PERSISTEM EM TEXTOS DE
ALUNOS DE ENSINO MÉDIO: PROBLEMAS COM A ALFABETIZAÇÃO?81
Anne Carolline Dias Rocha Prado82
Márcia Helena de Melo Pereira83
Resumo: Neste trabalho, analisaremos ocorrências dos fenômenos fonológicos hipossegmentação e
hipersegmentação em 49 textos produzidos por estudantes do Ensino Médio, na tentativa de compreendermos as
razões pelas quais indivíduos que já deveriam ser proficientes na modalidade escrita da língua ainda registram, em
suas produções, segmentações não convencionais. Acreditamos que, além da influência dos fatores fonológicos,
prosódicos e morfossintáticos, e dos fatores extralinguísticos, esses problemas decorrem, também, do trabalho
deficiente com a escrita, nos anos iniciais de escolaridade. Tomaremos como base para a nossa investigação a
noção de consciência fonológica e sua importância para a aquisição da escrita, a partir de Moojen et al. (2003) e
Nunes (2016). Nossos dados confirmam que fatores relativos ao uso e experiência com a língua têm impacto sobre
as generalizações feitas pelos indivíduos enquanto escrevem, o que explica a recorrência de segmentações não
convencionais mesmo em textos de jovens em etapas mais avançadas de escolarização.
Palavras-Chave:escrita; hipossegmentação; hipersegmentação; consciência fonológica.
Cuando el Hipo y la Hipersegmentación persisten em el texto de Estudiantes de secundaria: ¿problemas con la
alfabetización?
Resumen: En este trabajo, analizaremos las ocurrencias de los fenómenos fonológicos Hiposegmentación y
laHipersegmentaciónen 49 textos producidos por losestudiantes de secundaria, enel intento de entender
lasrazones por las que las personas que yadeberian ser competentes enel modo escrito de
lalenguatodavíaregistran, en sus producciones, segmentos no convencionales. Creemos que, además de
lainfluencia de losfactores fonológicos, prosódica y morfosintactico, y de losfactores extralinguísticos, estos
problemas tambiénsurgendel pobre trabajoconla escritura, enlosprimerosaños de escolarización. Tomaremos
como base para nuestrainvestigaciónlanoción de conciencia fonológico y suimportancia para laadquisición de la
escritura, de moojen et al. (2003) y Nunes (2016). Nuestrosdatosconfirman que losfactores relacionados conel
uso y laexperienciaconellenguajetienenun impacto enlasgeneralizacioneshechas por
losindividuosmientrasescriben, lo que explica larecurrencia de lassegmentaciones no convencionales, incluso
enlos textos de losjóvenesenlas etapas más avanzadas de laescolarización.
Palabras claves: escritura; hiposegmentación; hipersegmentación; conciencia fonológico.
Introdução
Ao ingressar na escola, a criança já tem domínio sobre a oralidade e, embora já conheça
o mundo da escrita, por meio das práticas sociais, não há domina. Segundo Cunha (2004), é no
ambiente escolar que a criança irá testar as concepções e hipóteses que ela tem a respeito da
escrita e adquiri-la de maneira mais estruturada e, por isso, a fase de aquisição da escrita deve
ser acompanhada pelo professor com muita atenção.
Cunha e Miranda (2009) explicam que a fala é uma cadeia contínua de sinais acústicos
e, portanto, não é segmentada em unidades linguísticas, e é só durante o processo de aquisição
81 O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
- Brasil (CAPES) - Código 001. 82 Mestranda em Linguística; Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia; Vitória da Conquista – Bahia – Brasil;
[email protected] 83Doutora em Linguística Aplicada; Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia; Vitória – Bahia – Brasil;
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da escrita que a criança passa a ter consciência disso. É aí que surgem as dúvidas de onde ela
deve ou não segmentar o texto, e ela começa a levantar hipóteses a respeito dos limites das
palavras. É nesse momento que começam a surgir as segmentações não convencionais,
caracterizadas pela presença ou ausência de espaço em locais que, segundo às convenções
ortográficas, são indevidos.
O problema é que as ocorrências de segmentações não convencionais continuam, em
números bastante significativos, mesmo depois de a criança passar pela fase inicial de
alfabetização, e persistem até jovens em uma etapa de escolarização mais avançada. Nessa
perspectiva, perguntamo-nos: Por que indivíduos que já adquiriram a escrita ainda realizam
segmentações não convencionais em suas produções?
Para respondermos a esse questionamento, discutiremos a noção de consciência
fonológica, bem como a sua importância para a aquisição da escrita, a partir de Moojen et al.
(2003) e Nunes (2016).
Acreditamos que, além da influência dos fatores fonológicos, prosódicos e
morfossintáticos, e dos fatores extralinguísticos, esses problemas decorrem, também, do
trabalho deficiente com a escrita, nos anos iniciais de escolaridade.
Consciência fonológica
A consciência fonológica, segundo Moojen et al. (2003), envolve o reconhecimento de
que as palavras são formadas por sons variados, abrangendo não apenas a capacidade de
constatar e comparar, mas, também, a capacidade de contar, segmentar, unir, adicionar,
suprimir e transpor.
De acordo com Nunes (2016), a consciência fonológica é formada por diferentes níveis,
a saber, a noção de palavra, a noção de rima, a aliteração, a consciência silábica e a consciência
fonêmica. Segundo a autora, não é tão simples e óbvio pensar na decisão de fragmentação da
fala e transposição para a escrita, e é exatamente porque a escrita não é uma transposição da
escrita, além de não ser um processo natural como a fala. Nesse sentido, ela aponta para a
existência de uma relação de reciprocidade e interdependência entre a consciência fonológica e
a aquisição da leitura e da escrita. Assim, conhecer os sons da língua é de suma importância
para o processo de alfabetização
Dessa forma, a autora chama a atenção para a necessidade de o professor trabalhar,
desenvolver e estimular esse conhecimento adquirido e preparar o educando para estruturas
V SENAL | 205 | UESB/2018
mais complexas da língua: “O professor deve desenvolver a habilidade da criança de perceber
a relação entre os fonemas e os grafemas, estimulando e desenvolvendo a habilidade de refletir,
identificar e testar, nas mais variadas formas, os sons da língua, e fazer correlação com suas
formas (escrita)” (NUNES, 2016, p. 34). Ela ainda completa, dizendo que o trabalho com a
consciência fonológica dos alunos permite compreender o conceito de palavra de forma mais
ampla e, assim, segmentar corretamente na escrita, visto que, sem essa consciência, o indivíduo
não consegue isolar as unidades vocabulares, e, dessa maneira, também não consegue grafá-las
com a fronteira adequada, surgindo, então, as dificuldades de segmentação, além de
dificuldades de compreensão do texto.
Sobre as segmentações não convencionais
As segmentações não convencionais de palavras são caracterizadas pela presença ou
ausência de espaço em locais que, segundo às convenções ortográficas, são indevidas. Essas
segmentações não classificadas por diversos estudiosos em hipossegmentação e
hipersegmentação.
Moreira (1991 apud CUNHA, 2004) define a hipossegmentação como a “ausência do
espaço entre fronteiras vocabulares” e constata que elas ocorrem em maior número do que a
hipersegmentação. Ou seja, a hipossegmentação ocorre quando não há separação entre palavras
onde deveria haver. É o que acontece em cesquece(se esquece), podentrar (pode entrar),
chamavase (chamava-se), matalo (mata-lo), praque (para que), por exemplo.
Já a hipersegmentação, de acordo com Moreira (1991 apud CUNHA, 2004), é a
“alocação de espaço no interior da palavra”. Ou seja, a hipersegmentação ocorre quando há uso
indevido de separação de palavras. Nesta separação de sílabas, observa-se a tentativa de
controlar a produção de uma sílaba complexa, como CVC, como em com migo (comigo) e em
sol tar (soltar). Há, também, casos em que ocorre o apagamento de sílabas para a formação de
pés binários ou a manutenção da estrutura silábica CV, como em cherando (cheirando) e
robando (roubando).
Materiais e métodos
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Neste trabalho, analisamos 49 textos produzidos por um mesmo grupo de alunos de uma
escola pública de Vitória da Conquista – BA, enquanto cursavam o 1º e o 2º ano do Ensino
Médio.
As produções não foram feitas para fins de pesquisa, apenas foram resultados de
projetos de intervenções didático-pedagógicas realizados no período em que cursávamos a
graduação em Letras Vernáculas. Todavia, as ocorrências de segmentações não convencionais
nos chamaram a atenção e percebemos a necessidade de investigá-las.
Assim, fizemos um levantamento das hipo e das hipersegmentações registradas nos
textos, observando com que frequência ocorreram. Daí, a partir de leituras e discussões,
buscamos compreender as razões para que elas acontecessem. É o que passamos a apresentar
na próxima seção.
Análise dos dados
Em nossa análise, verificamos a ocorrência de 19 segmentações não convencionais,
treze delas do tipo hipossegmentação, e seis do tipo hipersegmentação. Vejamos essas
ocorrências abaixo:
TABELA 1 – Ocorrências de segmentações não convencionais
HIPOSSEGMENTAÇÕES HIPERSEGMENTAÇÕES
“Porisso, irei faltar nos dias de provas” “esto bem”
“porque ele está passando porumasituação difícil” “Eu so do bairro Brasil”
“Gostaria de uma ideia para ajudalo a
passarporessesofrimento”
“Não tenho nem um documento comprovando, mas mesmo
a sim posso fazer as provas?”
“Está apartirde R$ 49,95” “Mas se não tomar- mos uma providência isso pode atingir
mais alunos”
“Mas não esquece que deve ser tudo avontade” “Descupa me meter em sua vida”
“Estão comedo de revelar” ---
“Qual importância o e-mail tem prajente.” ---
“Que cadavez possa ter sabedoria para ensinar seus alunos” ---
“Mas agente releva” ---
“Ontem anoite eu estava passando” ---
“por eu conhecelo” ---
“suasemvergonha” ---
Fonte: Elaborada pelas autoras
Como dispomos de pouco espaço para discussão, não há como fazermos uma análise
completa das ocorrências, buscando encontrar explicações fonológicas para que elas sejam
realizadas, mas podemos dizer, primeiramente, que: assim como Nunes (2016) observou, a
hipossegmentação é mais recorrente. Segundo a autora, essa é uma tendência registrada em
diversos outros trabalhos, como Ferreira e Pontecorvo (1996), Cunha (2004) e Tenani (2011),
por exemplo.
V SENAL | 207 | UESB/2018
Podemos afirmar, ainda que, embora 20 pareça ser um número pequeno de ocorrências,
diante da quantidade de textos que foram analisados, precisamos considerar que, dos 49 textos,
em 17 foram registrados casos de segmentações não convencionais, o equivalente a 35% das
produções. Vale lembrar, que os textos foram escritos por um mesmo grupo de alunos, em anos
letivos diferentes, o que significa que o esperado era que, de um ano para o outro, as ocorrências
diminuíssem. Mas, dessas 17 produções, 7 foram feitas no segundo ano, e, dessas 7, 5 foram
elaboradas por alunos que também registraram segmentações não convencionais no ano
anterior, o que nos mostra que não houve um trabalho, em sala de aula, em torno desses
problemas, e, mais ainda, esses problemas não foram tratados no período inicial da aquisição
da escrita, o que impactou na forma como a língua foi armazenada na organização gramatica,
ou, em outras palavras, influenciou nas informações a respeito da grafia dos itens lexicais.
Nossos dados apontam para a necessidade de se trabalhar com a consciência fonológica,
nos anos iniciais de escolarização, para que, dessa forma, o aluno não chegue em etapas mais
avançadas ainda apresentado problemas, não apenas de segmentações não convencionais, mas,
também, de diversos outros fenômenos fonológicos em sua escrita.
Conclusão
Neste trabalho, buscamos verificar motivos que levam indivíduos que já deveriam ter
adquirido a escrita a ainda registrarem segmentações não convencionais em seus textos, a partir
da análise de 49 textos escritos por alunos de Ensino Médio.
Nossos dados apontam para a necessidade de se trabalhar com a consciência fonológica,
nos anos iniciais de escolarização, para que, dessa forma, o aluno não chegue em etapas mais
avançadas ainda apresentado problemas, não apenas de segmentações não convencionais, mas,
também, de diversos outros fenômenos fonológicos em sua escrita.
Referências
CUNHA, A. P. N. da. A hipo e a hipersegmentação nos dados de aquisição da escrita: um
estudo sobre a influência da prosódia. 2004. 132 f. Dissertação (Mestrado em Educação) –
Faculdade de Educação, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2004.
CUNHA, A. P. N. da; MIRANDA, A. R. M. A hipo e a hipersegmentação nos dados de
aquisição de escrita: a influência da prosódia. Alfa, São Paulo, v. 53, n. 1, 2009, p. 127-148.
MOOJEN, S. et. Al. Consciência fonológica: instrumento de avaliação sequencial – CONFIAS.
São Paulo: Casa do psicólogo, 2003.
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NUNES, L. de L. As segmentações não convencionais nas escritas dos alunos do 5º e do 9º
anos do ensino fundamental. 2016. 115 p. Dissertação (Mestrado em Linguística e Ensino.
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2016.
SIMPÓSIO TEMÁTICO 6: LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
COORDENAÇÃO: CLAUDIONOR ALVES
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: CONCEPÇÕES E DESAFIOS NO
CONTEXTO DA SALA DE AULA
Maria das Graças Porto Pires84
Resumo: Esse texto tem como finalidade mostrar um relato de experiência da coordenação de uma
escola rural, no ano de 2016, caso real de uma criança que traçou seu caminho alfabetizador
com muitas e variadas dificuldades, passando por vários tipos de métodos e professores no seu
processo alfabetizador que conseguiu vencer essas dificuldades relatando seu mundo e sua vida
nas cartas enviadas a coordenadora. A partir dessa diferenciação, identificaremos o desafio dos
professores durante o processo de alfabetizar e letrar. Por fim apresentaremos algumas
considerações e provocações que ocorrem durante o processo alfabetizador.
Palavras-Chave: Alfabetização; Desafios; Dificuldades; Letramento.
Introdução
No mundo contemporâneo, ser alfabetizado, não significa somente conhecer as letras
do alfabeto, é necessário além do conhecimento das letras ser competente no uso da língua
escrita. Mas também participar de práticas sociais sem saber codificar e decodificar não habilita
o sujeito como alfabetizado. Então uma competência exigida pelos avanços tecnológicos que
requerem uma nova construção de alfabetização, um novo olhar para o letramento, um
fenômeno que envolve saberes que estão presentes nos contextos sociais de leitura e escrita.
Buscar uma concepção que concilie alfabetização e letramento é um desafio que se
coloca para os professores que atuam nos primeiros anos do fundamental, pois esses dois
processos são diferentes cada um com metodologias diferenciadas, contudo inseparáveis
(SILVA, 2010). E diante dessas diferenças e dessa necessidade de caminhar juntos que
84 Mestranda em Educação pela Universidade Federal da Bahia – UFBA. Brasileira. Email:
V SENAL | 209 | UESB/2018
buscaremos neste trabalho compreender as concepções de alfabetização e letramento, no
desafio do contexto da sala de aula.
Para mostrar esses desafios veremos o caso real de uma menina que antes de apropriar
da leitura e da escrita, possuía um nível de letramento capaz de exercer práticas sociais na sua
comunidade, contudo carregava uma grande dificuldade na aprendizagem grafo-fônica.
Assim, alfabetizar e letrar necessariamente devem ser simultâneos, pois no mundo atual
não podemos compreender um alfabetizar sem letrar, ou vice-versa, visto que nesta sociedade
tecnológica exigem os dois processos.
Desafios de alfabetizar e letrar: caso de flor
Flor tem 12 anos, estava cursando o 4º ano do fundamental I pela terceira vez, era
considerada aluna com defasagem idade-ano. Ela lia e escrevia com tanta dificuldade que não
se considerava alfabetizada. Numa conversa com a professora de sua escola, ela disse: “não sei
escrever direito; quando faço alguma coisa, faço errado ”. Na mesma conversa, quando
indagada sobre as pessoas que, em sua casa, sabem ler e escrever, ela respondeu que todos
sabiam, menos ela e seu irmão. Seu irmão está no 1º ano e tem 6 anos.
Flor nora em uma fazenda na região da zona rural num município baiano. Sua família é
de baixa renda e, às vezes, no período da seca passa por dificuldades, por isso necessitam mudar
de fazenda, assim Flor muda de escola com frequência. Mas seus pais são alfabetizados e, de
acordo com ela, sua mãe “anota as coisas para não ficar devendo” e seu pai “costuma escrever
as contas e lembretes de como anda o gado para passar para o gerente da fazenda”. De outras
pessoas que, na sua convivência, usam a escrita, Flor lembra-se de uma tia que escreve “para
saber como anda seu namorado e também anota versos da bíblia para decorar.
A coordenadora das escolas rurais do município, na tentativa de ajudar a professora no
desafio de alfabetizar Flor e a turma, (mesmo porque na mesma turma de Flor, outras crianças
apresentavam dificuldades parecidas, mais da metade das crianças de 4ª ano desta escola
manifestavam tantas dificuldades que não podiam ser consideradas alfabetizadas, ou
alfabetizadas funcionalmente), combinou com os cinco alunos do 4º ano em se corresponderem
por cartas (essa escola era composta por uma única turma de 18 alunos de uma classe
multisseriada). Na primeira carta de Flor, ela escreve:
Bom dia,
Bigado (obrigada) pela carta ce (você) mangou (mandou) para mim acho ce muito ledal (legal)
e boa e bonita Co (com) o despertar vai tugo (tudo) bem pratamos (plantamos) muitas coizas
(coisas) o jardim o dado (gado) não comeu. Não presiza (precisa) se desipre ocupa (se
V SENAL | 210 | UESB/2018
preocupar) tugo (tudo) ficara (ficará) co fome (conforme) ce dota (gosta) Decupe (desculpe)
pela leta (letra).
Um abraço cariozo (carinhoso)
Podemos perceber nesta carta as grandes dificuldades de Flor, ela já sabe que a escrita
representa sons da língua, o que é um passo muito importante em seu processo de alfabetização.
Ela escreve e lê corretamente poucas palavras: algumas porque decorou sua forma; outras
porque são mais simples. Por exemplo, num ditado, escreveu corretamente “cavalo”, “mata” e
“boi”, dentre outras palavras.Mas, apresenta também erros estranhos de escrita, que não
condizem com seus acertos: ela troca sempre, D pelo G, duas letras muito diferentes
graficamente e que representam sons muito diferentes, escrevendo “dalo”, em vez de “galo”;
“dalinia”, em vez de “galinha”. Flor também escreve de maneira pouco previsível, as vezes
acerta palavras diferentes do seu modo de falar, as vezes escrever como fala, como por exemplo:
escreve “flor” e fala “fror”, escrever e fala “barboleta”
Na leitura Flor manifesta várias dificuldades: não consegue ler globalmente as palavras;
sílabas pouco comuns, terminam por exigir um grande dispêndio de tempo e de energia, como
em “man...mi ...fé...rooo”, “ca...zi..nhhha”, “te...te...lhhhhaaa...do” e “chhhhhaaa...pe...u”, a
lentidão, a hesitação e a necessidade de decompor cada sílaba mostram como, para ela, é difícil
decodificar palavras. Flor fica muito tensa na leitura de um pequeno texto, quando olha para as
palavras acha tão difícil que, lendo o sentido de palavras e passagens do texto se perde, quando
termina não se lembra do que leu, não consegue dizer nada sobre o texto.
Com certeza, Flor já sabe muitas coisas importantes sobre a língua escrita. Mas deveria
saber muito mais aos 12 anos e cursando o 4º ano. Em razão de suas dificuldades na codificação
e na decodificação de palavras, apresenta sérias limitações para escrever e ler textos; apresenta
também sérias limitações para usar a escrita na escola, para aprender novos conteúdos e para
desenvolver novas habilidades.
De acordo com as informações das professoras das escolas onde Flor estudou, ela é uma
menina bem-comportada e participativa. Está sempre com o uniforme limpo, cheirosa, o cabelo
arrumado. No recreio, conversa com os colegas, brinca, corre, Flor é uma menina normal.
Quanto ao letramento percebemos que Flor tem contato com práticas sociais que dar a
ela segurança para se expressar e não ter medo de reivindicar suas ideias, tem uma posição de
destaque na igreja que frequenta com a família, que ela mesmo enfatiza, “sou boa para falar e
pregar na igreja, gosto de falar, de glorificar o nome de Jesus”, Flor tem uma boa oralidade, é
expansiva e podemos dizer que possui um nível de letramento, porque “faz uso da escrita,
envolve-se empráticas sociais de leitura e escrita” (SOARES, 2006.p. 24). Por ser tão expansiva
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foi eleita como Agente Despertar (programa socioambiental que a escola participa) para
representar a turma e liderar as ações, posição que Flor exerce muito bem, por causa do seu
nível de letramento.
Magda Soares (2006) fala que ser letrado não é ser alfabetizado ou ter uma mudança de
nível ou classe social, cultural, mas sim mudar sua “[...] relação com os outros, com contexto,
com bensculturais torna-se diferente” (2006. p. 37). Flor consegue com sua prática social
interagir culturalmente, agir diferente, então podemos dizer que Flor é, de certa forma, letrada
“[...] porque faz uso da escrita, envolve-se em práticas sociais de leitura e escrita” (2006.p. 24).
Ainda devido a esta opção, foi possível estabelecer uma relação entre práticas sociais e práticas
letradas, mais especificamente, práticas discursivas letradas.
A questão da alfabetização, que antes era tratada como sendo algo que ocorria apenas
dentro da escola, sofreu um deslocamento com estes fatos, visto que, do ponto de vista que está
sendo aqui adotado, são letrados todos os indivíduos que vivem em uma sociedade letrada,
sejam eles alfabetizados ou não, sendo que o que diferencia uns e outros é o grau de letramento,
que permite maior ou menor participação nas práticas letradas.
Quanto a Flor, percebemos que apesar de possuir um certo nível de letramento, era
incapaz de se apropriar da leitura e da escrita na escola. Todavia, levar em conta acultura dos
alunos e o meio no qual eles estão inseridos, pode ser um passo importante para alfabetizar Flor,
pois as práticas escolares também são práticas de letramento. A esse respeito, Rojo (2008, p.
585) ressalta que “um dos objetivosprincipais da escola é justamente possibilitar que seus
alunos possamparticipar das várias práticas sociais que se utilizam da leitura e da
escrita(letramento) na vida da cidade, de maneira ética, crítica e democrática. ” Utilizar da
leitura para o desenvolvimento cultural já fazia parte da vida social de Flor, pelo menosna
oralidade ela usufruía desta prática, então escrever carta contando do seu mundo daria a Flor
uma possibilidade de apropriar-se também da escrita.
O que Flor precisava era construí um conhecimento de natureza conceitual, ou seja, ela
precisava compreender não só o que a escrita representa, mas também de que forma ela poderia
representar graficamente sua linguagem. De certa forma alfabetizar Flor significava descontruir
dela a ideia de não saber, pois ela desenvolveu o letramento dissociado da leitura e da escrita.
Quanto isto Silva (2010), relata que:
...as atividades de letramento e alfabetização devem desenvolver-se
articuladamente; quando se desenvolvem de forma dissociada, ou
quando se desenvolve o letramento sem se desenvolver a alfabetização,
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ou vice-versa, a criança tem, certamente uma visão parcial e, portanto,
distorcida do mundo da escrita. (p. 64)
Sendo assim, as atividades que tratam do domínio do sistema alfabético precisam
acontecer paralelamente àquelas que visam o letramento. O interessante, ou podemos dizer o
“certo”, seria que ao mesmo tempo em que o aluno se apropria do sistema alfabético, vá se
tornando usuário do sistema. No caso de Flor as escolas que ela passou não foram capazes de
dar a ela o domínio da escrita o que sabe é resultante de outras fontes, o letramento que possui
foi adquirido no seu meio social, pois o escolar, deixava Flor tensa, incapaz de mostrar o que
sabia. Pois entendemos como letramento, oprocesso de aprendizagem social e histórica da
leitura e da escrita em contextos informais e para usos utilitários e como alfabetização o
aprendizado mediante ensino, domínio ativo e sistemático das habilidades de ler e escrever.
Considerações finais
Com base na reflexão mencionada neste trabalho, é necessário compreender a prática
pedagógica como elemento de produção do conhecimento, dessa forma, ocorre a necessidade e
precisão do alfabetizar letrando. Assim constitui-se em um trabalho feito pelo educador e
também pelas pessoas que participam do aprendizado da criança, requerendo mudanças
significativas acerca de práticas pedagógicas através do ensino da leitura e da escrita para o seu
aprimoramento nas séries iniciais.
No caso de Flor, o processo alfabetizador foi concluído, quando deu a ela a oportunidade
de entender que as práticas sociais em que vivia poderia também se tornar, fatos escritos.
Quando Flor falou de sua vida do seu mundo se sentiu inserida no mundo da leitura e percebeu
que já sabia ler e escrever, que precisa só aprimorar e praticar a leitura que para ela parecia algo
inalcançável.
A grande dificuldade de Flor era compreender a associação dos fonemas, ou seja, ela
precisava entender no sentido primeiro a parte mínima, as estruturas linguísticas como letra,
sons, silabas, palavras, frases, compreender o sentido mínimo para chegar no todo. Pois quando
era lido para ela o todo ela compreendia e se posicionava, mas quando a colocava para ler sentia
dificuldade em juntar silabas para formar palavras. Então notamos que seria mais adequado
ensinar Flor o Sistema de Escrita Alfabética, utilizando pequenos textos significativos do
cotidiano dela, levando-acompreender a associação dos fonemas.
V SENAL | 213 | UESB/2018
É preciso formar cidadãos letrados capazes de, não só decodificar sinais e símbolos, mas
de representar as suas ideias e pensamentos em textos orais e escritos, bem como compreender
os diversos discursos que circulam socialmente. Este sim é o grande desafio da prática
pedagógica da maioria dos alfabetizadores.
Referências
ROJO, Roxane, O letramento escolar e os textos de divulgação científica – a apropriação dos
gêneros de discurso na escola. Linguagem em (Dis) curso, v.8, n.3, set/dez, 2008.
SILVA, Ceris Salete Ribas. O processo de alfabetização no contexto do ensino fundamental
de nove anos. In Língua Portuguesa: ensino fundamental,(Coleção Explorando o Ensino; v.
19), Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica 2010.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica,
2006.
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AVALIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA SINTÁTICA E SUA POTENCIALIDADE
PREDITORA DE APRENDIZADO INICIAL DA LEITURA E DA ESCRITA
Elizama Silva Dias de Oliveira85
Ronei Guaresi86
Resumo: A respeito da consciência sintática, os estudos documentados na literatura científica ainda são bastante
controversos, demonstrando a necessidade de novas evidências científicas. Este estudo objetivou avaliar a variável
consciência sintática e seu papel preditor de aprendizado inicial da leitura e da escrita. Esta pesquisa é um estudo
de campo, de abordagem tanto quantitativa quanto qualitativa, do tipo exploratório, descritivo e longitudinal. Os
participantes foram vinte e duas (22) crianças, de 6-7 anos de idade, as quais foram submetidas à administração de
testes neuropsicológicos em dois momentos: no 1º ano de alfabetização e no 2º ano de alfabetização, a fim de
analisarmos de forma transversal e longitudinal o aprendizado da criança. As variáveis consciência sintática, leitura
e escrita, foram avaliadas nos dois momentos. Os dados coletados foram tabulados e tratados qualitativa e
quantitativamente, por meio da análise descritiva e análise correlacional, mediante o Coeficiente de Correlação de
Pearson. Sob a perspectiva transversal, a consciência sintática se correlacionou de ínfima à moderada com a leitura
e escrita. Sob a perspectiva longitudinal dos nossos resultados, tanto da análise quantitativa quanto qualitativa,
crianças com níveis mais elevados de consciência sintática, no primeiro momento de aplicação dos testes,
apresentam melhor desempenho em aquisição e aprendizagem de leitura e escrita, quando comparados com
crianças com baixos escores em consciência sintática, ou seja, bons níveis de consciência sintática colaboram para
a aquisição e o aprendizado da leitura e da escrita e isso, por sua vez, colabora para o aumento da consciência
sintática.
Palavras-Chave: Consciência Sintática; Escrita; Leitura; Predição.
Evaluation of syntactic awareness and its predictive potential of initial reading and writing learning
Resumen: En cuanto a la conciencia sintáctica, los estudios documentados en la literatura científica todavía son
bastante controvertidos demostrando la necesidad de nuevas evidencias científicas. Este estudio objetivó evaluar
la variable conciencia sintáctica y su papel predictor de aprendizaje inicial de la lectura y de la escritura. Esta
investigación es un estudio de campo, de abordaje tanto cuantitativo como cualitativo, del tipo exploratorio,
descriptivo y longitudinal. Los participantes fueron veintidós (22) niños, de 6-7 años de edad, quienes fueron
sometidos a la administración de pruebas neuropsicológicas en dos momentos: en el primer año de alfabetización
y en el 2º año de alfabetización, a fin de analizar de forma transversal y longitudinal el aprendizaje del niño. Las
variables conciencia sintáctica, lectura y escritura, fueron evaluadas en los dos momentos. Los datos recolectados
fueron tabulados y tratados cualitativa y cuantitativamente, por medio del análisis descriptivo y análisis
correlacional, mediante el Coeficiente de Correlación de Pearson. Bajo la perspectiva transversal, la conciencia
sintáctica se correlacionó de ínfima a la moderada con la lectura y la escritura. Bajo la perspectiva longitudinal
de nuestros resultados, tanto del análisis cuantitativo y cualitativo, los niños con niveles más altos de conciencia
sintáctica, en el primer momento de aplicación de las pruebas, presentan mejor desempeño en adquisición y
aprendizaje de lectura y escritura, en comparación con niños con bajos en la conciencia sintáctica, es decir,
buenos niveles de conciencia sintáctica colaboran para la adquisición y el aprendizaje de la lectura y de la
escritura y eso, a su vez, colabora para el aumento de la conciencia sintáctica.
Palabras claves: Consciencia Sintáctica; escrito; lectura; Predicción.
Introdução
O cenário educacional brasileiro, no que se refere ao aprendizado da leitura e escrita, se
encontra plenamente insatisfatório, constatado nos resultados de diversas avaliações oficiais,
85Mestre em Linguística, UESB; Guanambi, Bahia, Brasil; [email protected] 86Doutor em Letras; UESB; Vitória da Conquista, Bahia, Brasil; [email protected]
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entre as quais o Índice de desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e o Programa de
Avaliação Internacional de Alunos (PISA), nos quais a análise do desempenho em leitura e
escrita dos estudantes brasileiros mostra baixo rendimento acadêmico. A fim de entender os
motivos dos baixos escores brasileiros, no que se refere à qualidade na educação, assim como
compreender mecanismos que potencializem o desempenho dos alunos, muitas pesquisas na
Psicolinguística (BARRERA; MALUF, 2003; REIS et al., 2010; NICOLAU; NAVAS, 2015)
têm se dedicado ao estudo de potenciais preditores do aprendizado da leitura e da escrita, dentre
os quais encontra-se a consciência linguística, entre elas, a consciência sintática, variável
pesquisada neste estudo.
É de acordo com essa perspectiva que entendemos a consciência sintática, habilidade de
se refletir, manipular e mostrar controle intencional sobre a sintaxe da língua (GOMBERT,
1992), com a qual alguns estudos sugerem haver relação com desempenho em leitura e escrita
(BUBLITZ, 2010; CAPOVILLA; CAPOVILLA; SOARES, 2004; SANTOS, 2014; GAIOLA;
MARTINS, 2017; CARMO, 2011; REGO, 1993) e outros de que a relação não é tão importante
(REGO, 1995; 1997; BOWEY, 2005). Há uma vasta literatura que investiga a consciência
fonológica e, por outro lado, poucos estudos avaliam a consciência sintática e sua relação com
outras variáveis do âmbito do aprendizado da leitura e escrita.
De acordo com Jean Emile Gombert (1992), a consciência sintática consiste na
capacidade para refletir sobre os aspectos sintáticos da língua e para controlar deliberadamente
a aplicação dessa habilidade. Segundo o autor, as primeiras evidências empíricas do estudo da
consciência sintática foram sobre as correções espontâneas da fala, pois, segundo Gombert
(1992), a partir dos dois anos a criança já manifesta certa sensibilidade à gramaticalidade de
frases orais, habilidade esta que aparece sob diferentes formas nos anos pré-escolares. Em
função dessa sensibilidade gramatical no nível sintático bastante precoce, parece-nos
apropriado considerar a consciência sintática como possível preditora de aprendizado como nos
propomos avaliar neste estudo, com previsão de avalição de indivíduos a partir de 6 anos de
idade.
A partir dessas questões de trabalho temos como objetivo geral avaliar a consciência
sintática e seu potencial preditor de aprendizado inicial da leitura e da escrita. Para esse fim,
iremos (1) correlacionar transversalmente a consciência sintática, a leitura e a escrita; e (2)
relacionar longitudinalmente a consciência sintática para o entendimento do potencial papel
preditor de aprendizado inicial da leitura e da escrita.
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Delineamento do estudo
Participaram deste estudo 22 sujeitos de 6-7 anos, cursando o 1º ano do Ensino
Fundamental de uma escola pública do Município de Guanambi, na Bahia. Foram
contabilizados 12 meninos e 10 meninas.Os critérios de inclusão na pesquisa foram: a) escolares
devidamente matriculados no 1º ano do Ensino Fundamental; b) termo de consentimento
assinado pelo responsável. Os critérios de exclusão de crianças da amostra foram: a) não
assinatura do termo de consentimento; b) crianças com idade superior a idade determinada para
a sua série; c) existência de algum quadro neuropatológico, como deficiência sensorial, motora
ou cognitiva.
A aplicação dos instrumentos da coleta de dados ocorreu em dois momentos. O primeiro
momento aconteceu no primeiro semestre de 2016 e o segundo momento um ano após, em
2017. As variáveis avaliadas nas duas coletas e os respectivos instrumentos neuropsicológicos
utilizados, foram: a) Consciência sintática: avaliada pelo instrumento Prova de Consciência
Sintática;b) Leitura: avaliada pela Prova de Avaliação dos Processos de Leitura - PROLEC; e
o subeste de leitura do Teste de Desempenho Escolar (TDE);c) Escrita: avaliada no subteste de
escrita do TDE;
A Prova de Consciência Sintática de Capovilla e Capovilla (2006) é composta de
instruções, itens de treino e itens de teste. Os resultados de cada teste individualmente e do
escore total evidenciam a presença de evolução de uma série para outra em relação aos escores
apresentados. Há 4 subtestes, sendo que o escore total corresponde à soma dos acertos em cada
subteste, até o máximo possível de 55 acertos: 1) Julgamento Gramatical: a criança deve julgar
a gramaticalidade de 20 frases, sendo metade gramaticais e metade agramaticais. Dentre as
agramaticais, há frases com anomalias morfêmicas e com inversões de ordem; 2) Correção
Gramatical: corrigir frases gramaticalmente incorretas, sendo metade com anomalias
morfêmicas e metade com inversões de ordem; 3) Correção Gramatical de Frases
Agramaticais e Assemânticas: diante de frases com incorreções tanto semânticas quanto
gramaticais, corrigir o erro gramatical sem alterar o erro semântico; 4) Categorização de
Palavras: a criança deve categorizar palavras, dizendo se uma determinada palavra é
substantivo, verbo ou adjetivo (CAPOVILLA; CAPOVILLA, 2006, p. 20).
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Discussões e conclusões
Os resultados da correlação transversal da consciência sintática com a leitura e escrita
no primeiro momento da coleta (Tabela 1), mostraram que houve correlação positiva fraca entre
consciência sintática e desempenho em escrita-TDE (r=0,108; p=0,633); moderada entre
consciência sintática e leitura-TDE (r=0,320; p=0,146), total de leitura e escrita-TDE (r=0,307;
p=0,165), leitura-PROLEC (r=0,352; p=0,108. Todavia nenhuma das correlações foram
significativas.
Tabela 1 – Correlações observadas entre consciência sintática e demais variáveis
avaliadas no 1º momento de coleta de dados
Variáveis Correlação de
Pearson
Sig
Desempenho em Escrita (TDE) 0,108 0,633
Desempenho em Leitura (TDE) 0,320 0,146
Desempenho em Leitura e Escrita (TDE) 0,307 0,165
Desempenho em Leitura (PROLEC) 0,352 0,108
Fonte: Produzida pelos próprios pesquisadores.
Abaixo, na Tabela 2, constam as correlações da consciência sintática com o desempenho
em leitura e escrita, tanto no TDE quanto no PROLEC, no segundo momento de coleta dos
dados (meados do 2º ano da alfabetização), apresentando uma análise preditiva da consciência
sintática.
Tabela 2 – Correlações observadas entre consciência sintática e demais variáveis
avaliadas no 2º momento de coleta de dados
Correlação Sig.
Desempenho em Escrita (TDE) 0,378 0,083
Desempenho em Leitura (TDE) 0,359 0,101
Desempenho em Leitura e Escrita (TDE) 0,382 0,079
Desempenho em Leitura (PROLEC) 0,209 0,352
Fonte: Produzida pelos próprios pesquisadores.
Ao analisarmos a Tabela 2, na correlação entre consciência sintática e as variáveis
analisadas no 2º ano, é possível verificar que a) os resultados em consciência sintática na
primeira coleta de dados correlacionam-se positiva, moderada e significativamente com o
desempenho em escrita-TDE (r=0,378; p=0,083), leitura-TDE (r=0,359; p=0,101), leitura-
escrita-TDE (r=0,382; p=0,079); b) a consciência sintática se correlacionou de forma fraca e
positiva com a leitura-PROLEC (r=0,209), mas não foi significativo (p=0,352) ao nível de 5%.
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Na Tabela 3, adiante, demonstramos a correlação dos componentes da Prova de
Consciência Sintática – julgamento gramatical, correção gramatical 1, correção gramatical 2 e
categorização de palavras e o total da prova. Verificamos, na Tabela 4, que a maior correlação
com todas as variáveis de leitura e escrita foi encontrada com o subteste de correção gramatical
2 (leitura r=0,547, p=0,008; escrita r=0,643, p=0,005; totalTDE r=0,635, p= 0,002;
totalPROLEC r=0,514, p=0,014) e, na sequência, a correção gramatical 1 (leitura r=0,423,p
=0,050; escrita r=0,503, p=0,017; totalTDE r=0,493, p=0,020; totalPROLEC r=0,509, p=0,016.
O subteste de julgamento gramatical apresentou correlações fracas com os subtestes leitura
(r=0,193;p=0,389), escrita (r=0,127, p=0,573) e o total do TDE (r=0,148; p=0,511), e uma
relação ínfima com a leitura pelo PROLEC (r=0,015, p=0,948). O subteste categorização de
palavras apresentou correlações ínfimas com todas as variáveis. Tanto o subteste julgamento
gramatical quanto categorização de palavras não foram significativos.
Tabela 3 – Correlação dos subtestes de consciência sintática com leitura e escrita
LEITUR
A_TDE
ESCRIT
A_TDE
TotalT
DE
TotalP
ROLEC
Subteste
JG
0,193
(p=0,389)
0,127
(p=0,573)
0,148
(p=0,511)
0,015
(p=0,948)
Subteste
CG 1
0,423
(p=0,050)
0,503
(p=0,017)
0,493
(p=0,020)
0,509
(p=0,016)
Subteste
CG 2
0,547
(p=0,008)
0,643
(p=0,005)
0,635
(p= 0,002)
0,514
(p=0,014)
Subteste
CP
0,030
(p=0,896)
-0,102
(p=653)
-
0,068(p=0,763
)
-
0,073(p=0,752
)
TOTAL
PCS
0,359
(p=0,101)
0,378
(p=0,083)
0, 382
(p=0,079)
0,209
(p=0,352)
Fonte: Produzida pelos próprios pesquisadores.
Legenda: JG= julgamento gramatical; CG= correção gramatical; CP = categorização
de palavras; PCS=prova de consciência sintática
Com toda a discussão e resultados apresentados, podemos confirmar a hipótese geral
deste estudo, a saber, a variável consciência sintática pode ser considerada como variável com
seguro potencial moderado na predição de aquisição e aprendizado inicial de leitura e escrita.
Há, portanto, uma relevância desse estudo para a sociedade e para o campo da
Linguística e a ciência de forma geral, pois conhecer as variáveis que influenciam no processo
de aquisição e aprendizado inicial da leitura e escrita oferecerá: a) impactos científicos, com a
produção de novas pesquisas para o campo da psicolinguística, agregando conhecimento para
a área e disseminando evidências científicas que ainda não foram desvendadas; b) impacto
V SENAL | 219 | UESB/2018
tecnológico, de forma indireta, porque colabora para o desenvolvimento de software educativo
de identificação precoce de eventuais dificuldades de aprendizado da leitura e da escrita; c)
impacto social e pedagógico, pois conhecer o perfil dos sujeitos com dificuldades de leitura e
escrita poderá permitir a predição e/ou a identificação precoce de dificuldade de aprendizado e,
naturalmente, a intervenção necessária e suficiente para a aquisição e o aprendizado da leitura
e da escrita.Dessa forma, estimamos que este estudo irá colaborar para a melhoria do ensino e
do aprendizado inicial da leitura e da escrita, competências tão importantes em nossa sociedade
grafocêntrica.
Referências
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crianças da primeira série do ensino fundamental. Psicol. Reflex. Crit. [online]. Vol. 16, n. 3, p.
491-502, 2003. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722003000300008>.
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2017.
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CONDIÇÕES ESTRUTURAIS DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE BARRA DOCHOÇA
NA PROMOÇÃO DO LETRAMENTO DIGITAL
Karina Dias87
Ronei Guaresi 88
Resumo: O objetivo deste artigo é trazer um levantamento bibliográfico sobre o letramento digital. Além disso,
buscamos verificar se a escola, a principal agência do letramento, possui estrutura suficiente e necessária e se
osprofessores estão capacitados para fornecer aos alunos esse novo tipo de letramento. Partindo daconcepção de
letramento a partir da visão de vários autores, o nosso trabalho tem o propósito de mostrarse uma escola pública
de Barra do Choça oferece condições aos alunos na promoção do letramentodigital. Por meio de uma conversa
com um funcionário e alguns professores de Português da escola, foipossível verificar que aquela que deveria
incentivar o letramento digital entre os alunos não possuicondições para tal objetivo e que o professor, enquanto
mediador nessa construção do letramento digital,não está preparado para lidar e explorar o mundo tecnológico em
prol desse novo letramento.
Palavras-Chave:Escola. Ensino. Gêneros digitais. Letramento digital.
Abstract: The aim of this article is to bring a bibliographical and empirical survey on digital literacy. To this end,
we seek to verify if the school, the main agency of literacy, has sufficient and necessary structure and if teachers
are able to provide students with this new type of literacy. Starting from the concept of literacy from the perspective
of various authors, our work aims to show whether a public school in Barra Shack offers conditions of students in
promoting digital literacy. Through a conversation with an employee and some teachers of Portuguese school, we
found one that should encourage digital literacy among students has no conditions for such purpose and that the
teacher, as a mediator in this building digital literacy, not is prepared to handle and explore the technological
world in favor of this new literacy.
Key words: School. Education. Digital genres. Digital literacy.
Primeiras palavras
A tecnologia surgiu a fim de facilitar a nossa vida. Querendo, ou não, estamos a todo
momento utilizando os aparatos tecnológicos em nosso dia-a-dia, seja pagando a passagem com
o cartão no ônibus ou fazendo uso de computadores para o envio de e-mails ou currículos para
uma vaga nas empresas, como tem acontecido atualmente. Esse contato com a tecnologia tem
transformado a nossa maneira de ler, escrever e de ver o mundo. Com isso, os gêneros
tradicionais também têm ganhado nova forma, transformando-se hoje no que chamamos de
gêneros digitais. Toda essa mudança traz consigo um novo tipo de letramento: o digital.
Quando se entende por letramento a apropriação feita pelo indivíduo dos gêneros
digitais ou a representação das práticas de leitura e escrita num determinado contexto social, o
letramento digital é por nós entendido, com base em Gama (2012), como a apropriação
gradativa dos gêneros digitais, advindos da transformação tecnológica. Nesse sentido, letrar
digitalmente significa levar o aluno a se adaptar ao universo digital, apoderando-se dos gêneros
do ambiente virtual em suas práticas sociais. Pensando assim, é preciso saber manusear os
87Mestre em Linguística pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Vitória da Conquista -BA. E-mail:
[email protected]. 88Professor Doutor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Vitória da Conquista -BA. E-
mail:[email protected].
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aparatos tecnológicos, mas, sobretudo, é imprescindível estar familiarizado com o ambiente
virtual e com os gêneros digitais. Mas como e onde se adquirir o letramento digital? Para
Velloso (2010), o letramento digital é uma questão de cidadania, de sobrevivência, de
necessidade educacional e, portanto, deve ser promovido na escola, lugar onde se forma
cidadãos.
Seguindo esse raciocínio, então, Gama (2012) afirma que a escola é a principal agência
de letramento, embora não seja a única. Ainda que haja um receio dos educadores em relação
às tecnologias e à Internet para o ensino de língua e, logo, para a prática do letramento, é
importante que a escola utilize a novidade digital e leve os seus alunos a conhecerem as
possibilidades de comunicação do ambiente virtual. Faz-se necessário também que se ensine
aos discentes que a língua tem as suas adequações a depender da situação comunicativa,
fazendo com que eles não se apeguem demais à linguagem da Internet, mas ao mesmo tempo
não desvalorize o “internetês”.
Partindo disso, a questão norteadora deste trabalho é: a escola, principal agência do
letramento, possui condições estruturais para a promoção do letramento digital? A hipótese por
nós levantada é a de que a escola possui estrutura suficiente para a promoção dessa nova
modalidade de letramento. No entanto, os educadores ainda são resistentes quanto à utilização
da tecnologia no ato de letrar seus alunos, por receio de que eles se distraiam demais e acabem
deixando a norma culta da língua de lado ao se apegarem ao internetês. Buscando respostas a
essa questão, o nosso objetivo principal é verificar, através de informações disponibilizadas por
professores e/ou gestores, se uma escola pública do município de Barra do Choça possui
condições estruturais para promover o letramento digital entre os seus alunos.
Metodologia
Esta pesquisa foi idealizada a partir de um levantamento bibliográfico a respeitodo
letramento digital. Com o intuito de investigar se a escola, principal agência deletramento,
possui estrutura necessária e suficiente e se o professor faz uso deestratégias para oferecer ao
aluno o letramento digital, fomos a uma instituição deensino em Barra do Choça para verificar
se havia um espaço que que favorecesse oletramento digital aos alunos. Além disso,
conversamos com funcionários e professorespara saber se há a utilização da sala de informática
e, caso positivo, de que forma issoacontecia. A discussão realizada, apresentada de forma
detalhada na próxima seção, foi resultado da conexão entre as respostas obtidas através da
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conversa com funcionários e professores da escola investigada com o que a literatura discute a
respeito dessa nova modalidade de letramento.
A escola
A escola escolhida para a realização desta pesquisa deveria atender aos critérios de:
possuir uma sala de informática e a disponibilidade de professores e funcionários para uma
conversa. Sendo assim, selecionamos uma escola pública de Barra do Choça que atende o
ensino fundamental II, do 6º ao 9º ano (5ª a 8ª série).
Funcionários e professores da escola em questão
Como queríamos saber como era o funcionamento da sala de informática na escola,
conversamos com professores de Língua Portuguesa e com funcionários da instituição de
ensino. Com tal objetivo, não houve critérios para selecionarmos essas pessoas, mas houve a
preocupação de que eles deveriam saber nos informar a respeito da estrutura e da utilização dos
computadores na prática do letramento digital. As perguntas feitas para os funcionários e
professores foram realizadas com o objetivo de saber se havia computadores na escola
disponíveis para a prática de letramento e, caso houvesse, se os professores, sobretudo os de
Linguagens, utilizava-os para letrar digitalmente os seus alunos e de que forma essa prática
acontecia. Os resultados serão apresentados na seção a seguir.
Resultados e discussão
Quisemos saber se aquilo que a teoria propõe está sendo de fato colocado em prática.
Entretanto, a partir da conversa com funcionário e professores da instituição de ensino do
município de Barra do Choça percebemos o contrário. Nessa conversa, perguntamos se havia
uma sala de informáticana escola e, como a resposta foi positiva, de que forma ela funcionava.
Conforme nosfoi informado, a sala de informática é utilizada apenas pelo professor da área que
dá aulas de computação para alunos que estudam o 9º ano e, raramente, para atender as
necessidades da comunidade. No caso do curso de informática para os alunos da escola, as
exigências para participação são estarem matriculados no 9º ano do turno oposto às aulas de
computação e se inscreverem para tal atividade.
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Em relação à utilização da sala de informática, como forma de facilitar o letramento
digital para os alunos, os professores disseram que não o fazem, pois, segundo eles,
dispersariam a atenção do aluno. Além disso, eles não têm a liberdade de levar os alunos à sala
de informática, já que teria que primeiro ter autorização da coordenação da escola. Nesse caso,
não seria falta de saber manusear as TDICs, já que teria o auxílio do professor de informática
da escola e, mesmo sem disponibilidade para acesso diário, os outros professores mantêm
contato com essas novas tecnologias.
Com esses dados, constatamos que aquela que deveria ser a principal agência do
letramento não fornece, mesmo possuindo uma sala de informática, condições aos alunos de se
tornarem letrados digitalmente. Isso acontece porque faltam professores que utilizem
estratégias que desenvolvam nos alunos essa capacidade comunicativa dentro de um ambiente
virtual.
Uma escola necessita de condições para promover o letramento digital entre os alunos
e para isso não basta apenas ter uma sala de informática, ela deve facilitar o acesso dos alunos
às TDICs e, consequentemente, aos gêneros digitais. Gama (2012) e Velloso (2010) também
compartilham da ideia de que ser digitalmente letrado vai além de saber manusear essas novas
tecnologias, isto é, ser letrado digitalmente é ser, sobretudo, capaz de interagir, informar e
construir conhecimentos através desses ambientes tecnológicos. Sendo assim, o professor
exerce papel fundamental na hora de utilizar a tecnologia na promoção do letramento digital
entre os alunos, levando estratégias para o ensino que desenvolvam no aluno a capacidade de
dominar os gêneros próprios do mundo digital.
Na escola em questão existe uma sala de informática que só é utilizada pelos alunos que
frequentam o 9º ano. Entretanto, percebemos que esses alunos que têm acesso aos computadores
da escola não recebem “base” suficiente para se tornarem letrados digitalmente, pois o professor
de informática está mais preocupado em mostrar como se manuseia essas novas tecnologias.
Porém, batendo sempre nessa tecla de que o letramento vai além disso e partindo da definição
de Xavier (2002) de que o letramento digital se refere às práticas de leitura e escrita em
ambientes digitais, questionamos a atitude desse professor em impossibilitar esse novo
letramento quando poderia explorar muito mais desse universo tecnológico e trabalhar os
gêneros digitais.
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Conclusões
Ainda falta muito para que o letramento digital seja favorecido dentro da escola. Como
já dito, a falta de estrutura é um problema para essa discussão, mas quando se tem sala de
informática na escola isso somente basta para promover o letramento digital? Claro que não.
Como vimos, o foco do ensino não está no letramento digital e, por isso, a prática deste não é
realizado entre os professores de língua materna.
Retomando a questão deste trabalho: a escola, principal agência do letramento, possui
condições estruturais para a promoção do letramento digital? Como vimos, a escola possui
condições estruturais para a promoção dessa modalidade de letramento, mas os professores
ainda não utilizam as tecnologias em sua prática, exceto pelo professor de informática que
utiliza os computadores a fim de ensinar aos alunos a apenas manuseá-los.
Referências
GAMA, A. M. O letramento digital e a escola como sua principal agência. Revista Memento,
ano V. 3, n. 1, jan.-jul. 2012. Revista do Mestrado em Letras Linguagem, Discurso e Cultura –
UNINCOR.
VELLOSO, M. J. M. Letramento digital na escola: um estudo sobre a apropriação das
interfaces da Web 2.0 / Maria Jacy Maia Velloso. Belo Horizonte, 2010.
XAVIER, A. C. Letramento digital e ensino. 2002. Disponível em: Acesso em: 05 ago. 2011.
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DESENVOLVIMENTO DE OBJETO DE APRENDIZAGEM DIGITAL PARA
FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DO
CAMPO
Paula Francineti Ribeiro de Araujo89
Emanoel Lucas Moraes da Luz90
Jordan Silva Barros91
Resumo: No Brasil, embora já existam alguns objetos de aprendizagem com o fim de auxiliar o processo de
alfabetização, os direcionados para o público de jovens e adultos, são infantilizados e, portanto, inadequados
às suas necessidades específicas. Este projeto visou desenvolver um software de apoio aos professores
alfabetizadores da educação de jovens e adultos da zona rural de forma que promova e atraia a comunicação,
para que desta forma desperte nestas pessoas interesses para ampliar e orientar o ensino-aprendizagem. Foram
também nossos objetivos: identificar os elementos necessários à modernização do material didático;
desenvolver interfaces gráficas amigáveis, fundamentadas em ergonomia cognitiva e semiótica sob conceitos
de design universal; implementar os conteúdos digitais de aprendizagem para plataforma digital; testar e
avaliar o objeto de aprendizagem junto ao público alvo. Trata-se do resultado parcial de um projeto
multidisciplinar, no qual além da Linguística Aplicada, dialogamos com a Informática através do Design
instrucional e Programação Web, para o seu desenvolvimento; e com a Comunicação Visual, para a editoração
audiovisual, com base na Semiótica e na Ergonomia Cognitiva, desenvolvido no âmbito do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC, no IFMA/Monte Castelo.
Palavras-chave: Comunicação visual. Alfabetização. Objeto de Aprendizagem. Interface. Ergonomia.
Introdução
De acordo com o Relatório Global sobre Aprendizagem e Educação de Adultos (AEA),
hoje, são cerca de 758 milhões de adultos dos quais, 115 milhões deles com idade entre 15 e 24
anos, ainda não são capazes de ler ou escrever uma simples frase. No Brasil acerca de 11,8
milhões de analfabetos, de acordo com a pesquisa nacional por Amostra de Domicílios
Contínua pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). O analfabetismo no país
está concentrado, sobretudo, na população com 60 anos ou mais na região nordeste,
especialmente no interior.
Só no estado do Maranhão, segundo dados do último censo (2010), 19,31% da nossa
população – cerca de 1 milhão de habitantes – é composta por pessoas que não sabem ler ou
escrever, sendo 5,30% (70.968) nas faixas etárias entre 15 a 24 anos; 21,03% (574.754) nas
89Drª posdoc em Linguística Aplicada e de Fronteira, coordenadora dos projetos “É tempo de aprender I e II.
IFMA/Campus Monte Castelo. [email protected] 90 Bolsista sob a orientação das professoras Eveline de Jesus Viana Sá e Paula Francineti Ribeiro de Araujo.
[email protected] 91 Bolsista sob a orientação das professoras Ivana Márcia Maia e Paula Francineti Ribeiro de Araujo.
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faixas entre 25 a 59 anos; 49, 40% (152. 865) entre 60 a 69 anos; 55,96% (99.378) entre 70 a
79 anos e 62,89% (51.349) entre 80 anos e mais.
Esses números mostram que essas pessoas estão sendo deixadas para trás, e que a
igualdade de oportunidades está longe de ser uma realidade. Esses números também
representam uma oportunidade perdida, porque para enfrentarem novos desafios, é necessária
sua plena participação na educação.
No Brasil, embora já existam alguns softwares educativos com o fim de auxiliar o
processo de alfabetização, a maioria, contudo, é voltado para o público infantil (BELAN;
NERY; ARAUJO, 2005) e os direcionados para o público adulto (CARVALHO; CAMPOS;
CHAGAS; NASCIMENTO, 2008) são infantilizados e, portanto, inadequados às suas
necessidades específicas.
Foi pensando nessas pessoas que desenvolvemos este projeto “É tempo de aprender:
produção de conteúdos digitais para alfabetização de jovens e adultos” que teve início em
agosto de 2017, através do PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO
CIENTÍFICA – PIBIC, do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão –
IFMA/Campus Monte Castelo, contando com a cooperação técnica dos alunos-bolsista, a ser
disponibilizado gratuitamente, com a certeza de que o conteúdo é pertinente frente ao elevado
número de analfabetos no Estado do Maranhão.
A criação do objeto de aprendizagem devido a sua natureza multidisciplinar e
longitudinal envolveu as áreas de Linguística Aplicada (elaboração dos conteúdos), da
Informática (programação dos conteúdos digitais: edição webdesign) e da Comunicação Visual
(imagens e ilustrações).
Indagações sobre o que se ensina quando se ensina a língua escrita estiveram sempre
presentes ao longo da história dos métodos de alfabetização do nosso país, transformando-se
em um problema que ainda persiste e de difícil resolução.
De acordo com Magda Soares, a aprendizagem inicial da língua escrita envolve dois
processos, que devem atuar juntos: alfabetização e letramento.
Esses dois processos possuem bases cognitivas e linguísticas específicas e embora
Soares oriente que devam acontecer ao mesmo tempo, na elaboração deste conteúdo primeiro
enfocamos o que Lemleressalta “Para que uma pessoa possa aprender a ler e a escrever, há
alguns saberes que ela precisa atingir e algumas percepções que deve realizar conscientemente”
(2007, p.7).
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Portanto, com base nesta autora, este objeto de aprendizagem está dividido em cinco
unidades que correspondem aos cinco conhecimentos básicos necessários para a alfabetização,
a saber: ideia de símbolo, discriminação das formas das letras, discriminação dos sons da fala,
consciência da unidade palavra e a organização da página escrita, contendo em cada uma delas
as atividades que visam preparar o alfabetizando para iniciar a aprendizagem de leitura e escrita.
Desenvolvimento
Para a construção deste objeto de aprendizagem digital foram utilizadas e aplicadas as
tecnologias HTML, JavaScript, Elementos para Modernização do Material Didático e Métricas
para criação e avaliação do material didático digital (GODOI et al, 2009).
Para a implementação da proposta do projeto, optou-se pelas seguintes tecnologias: 1)
HTML e CSS foi utilizada para a construção da parte visual da plataforma;2) JavaScript foi
utilizada para implementar algumas funcionalidades: construção da parte interativa com o
usuário, principalmente, porque pode funcionar em qualquer plataforma que o usuário deseja
usar, Solaris ou Windows.
Para a modernização do material didático foram utilizados conceitos do design
instrucional (FILATRO; PICONEZ, 2004), design de interface digital (PASSOS, 2011) e
design gráfico.
Para a execução deste projeto, foi definido o cronograma de atividades mensais, relativo
a um ano de projeto. Também foi definido as ferramentas digitais como o CorelDRAW para
criação dos ambientes gráficos.
A interface proposta neste projeto é simples e de fácil compreensão com o foco no
designer universal e na usabilidade (GOULD; LEWIS, 1985). A paleta de cores escolhida para
fazer parte da interface foi de diferentes tonalidades de laranja, pois além de ela ser uma cor
viva e alegre ela também proporciona uma comunicação, fortalecendo assim a comunicação e
a relação entre o software e o usuário; a tipografia selecionada foi a Arial, pois é uma das
tipografias adequadas para multimídias.
A figura 1ilustra a tela inicial do objeto de aprendizagem “É tempo de aprender”, no
qual se destaca a barra de menu fixa para facilitar o direcionamento dos usuários; o menu
apresenta paleta de cores vivas de forma a chamar atenção aos conteúdos propostos, conduzindo
o usuário por todo o objeto, dando-lhe as opções para avançar, retroagir ou deslocar-se por todo
o objeto.
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Fig. 1. Interface.
Fonte: Arquivo dos autores.
As ilustrações criadas (Fig.2) foram desenvolvidas com foco na regionalidade para que
seus usuários possam ter uma familiaridade com o aplicativo.
Fig. 2. Personagem central desenvolvido para o aplicativo.
Fonte: Arquivo dos autores.
Foram desenvolvidos variados jogos pedagógicos (Fig. 3 e 4), que poderão ser
impressos e distribuídos para os estudantes.
Fig. 3. Atividades
Fonte: Arquivo dos autores.
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Fig. 4. Atividade.
Fonte: Arquivo dos autores.
Conclusão
Este trabalho buscou apresentar o resultado parcial do projeto “É tempo de aprender”,
cujo produto servirá de apoio a professores que atuam no processo de alfabetização de jovens
e adultos do campo, visto que os poucos que existem destinam-se a professores que atuam com
o público infantil, com o objetivo de contribuir para o crescimento de oferta desse tipo de
ferramenta tecnológica para esta modalidade de ensino-aprendizagem.
Como ações futuras, serão realizadas as avaliações do objeto de aprendizagem conforme
as métricas de avaliação pesquisadas,para então colocá-lo à disposição das Secretarias
Estaduais e Municipais Públicas e demais instituições que atendem a esse público-alvo como
mais um instrumento que ajude o professor a desenvolver seu trabalho com mais qualidade
como também diminuir a carência de recursos didáticos dos quais tanto necessitam.
Referências
BELAN, P. A.; NERY, E.P.; ARAUJO, S. A. Software para auxílio à pré-alfabetização
infantil baseado em reconhecimento inteligente de caracteres manuscritos. XVI Simpósio
Brasileiro de Informática na Educação - SBIE, 2005.
BRASIL.IBGE.Brasil tem 11,8 milhões de analfabetos; metade está no Nordeste. In:
Home.<http://www.valor.com.br/brasil/5234641/ibge-brasil-tem-118-milhoes-de-
analfabetos-metade-esta-no-nordeste>, Acesso em:11/08/2018.
CARVALHO, M.; CAMPOS, M.; CHAGAS, T.; NASCIMENTO, M. D. R.
Desenvolvimento de software para alfabetização de adultos baseado nos princípios freirianos.
Anais SBIE, 2008.
FILATRO, Andrea; PICONEZ, Stela Conceição Bertholo. Design instrucional
contextualizado. In: Congresso internacional de educação a distância, 11., 2004,
Salvador. Design instrucional contextualizado. Salvador: Abed, 2004. v. 1, p. 1 - 9.
V SENAL | 231 | UESB/2018
GODOI, Katia Alexandra de; PADOVANI, Stephania. Avaliação de material didático digital
centrada no usuário: uma investigação de instrumentos passíveis de utilização por
professores. Produção, Curitiba, p.445-457, dez. 2009.
GOULD; LEWIS. Designing for usability: key and what designers think. Communications
ofthe ACM, 1985, vol. 28, issue 3 pp 300-311.
LEMLE, Miriam. Guia teórico do alfabetizador. São Paulo: Ática, 2007.
PASSOS, Paula Caroline Schifino Jardim. Interad: uma metodologia para design de
interface de materiais educacionais digitais. 2011. 182 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de
Comunicação Social - Relações Públicas, Faculdade de Educação, Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.
SOARES, Magda. Alfabetização, a questão dos métodos. São Paulo: Contexto, 2016.
UNESCO. Terceiro relatório global sobre aprendizagem e educação de adultos. Brasília,
2016.
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DIAGNÓSTICO DO NÍVEL DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM ESCRITA
Emília Lima Macêdo92
Claudionor Alves da Silva93
Resumo: Este trabalho apresenta uma breve análise acerca do nível de construção de escrita de uma criança em
processo de alfabetização. A partir das análises feitas através das expressões escritas de uma criança será descrito
todos os processos desenvolvidos nessa atividade, que consistiu em cinco etapas: o reconhecimento das letras do
alfabeto, a escrita do próprio nome, a entrevista com a utilização de consignas, o auto ditado e uma atividade extra,
em que a criança tinha que procurar palavras que começavam com a palavra ‘J’. O que sustentou essa prática, para
que idealizássemos um diagnóstico preciso, foi que pedíamos a criança que escrevesse do jeito que ela sabia,
sempre a incentivando, pois é por meio das hipóteses por elas elaboradas que elas constroem conhecimento. O
desenvolvimento só ocorre por reconstruções de conhecimentos anteriores, dando lugar a novas construções.
Palavras-Chave: Desempenho alfabético; Reconhecimento das letras do alfabeto; Escrita do nome; Utilização de
consignas.
Abstract: The diagnosis presents a brief analysis of the alphabetical performance, having as main objective the
analysis of the performance. Thus, from the analyzes made through the written expressions of a child will be
described all the processes developed in this activity which consisted of five stages: recognition of the letters of
the alphabet, how to write his name, interview with the use of slogans, the self-denying and an extra activity in
which they had to look for words beginning with the word 'J'. What sustained this practice, in order to idealize a
precise diagnosis, was that we asked the children to write in the way they knew, always encouraging them, because
it is through the hypotheses that children develop and constitute. The development only occurs by reconstructions
of previous knowledge, giving rise to new constructions.
Keywords: Alphabetical Performance. Recognition of alphabet letters. Writingthename. Use ofinstructions.
Introdução
Os processos envolvidos na aquisição da linguagem escrita no processo de alfabetização
envolvem um trabalho fundamental no dia a dia das crianças. Nessa perspectiva, a inserção do
sujeito em um meio letrado, que interage com a escrita em situações de uso objetivo e
significativo, dá a possibilidade a esse sujeito de ir construindo hipóteses acerca do
funcionamento da escrita, o que é e o que significa os signos escritos, de como e para que se
escreve.
O presente trabalho apresenta uma breve análise acerca do nível de construção de escrita
de uma criança em processo de alfabetização. A criança, deste caso, tem 6 anos de idade e
estuda o 1º ano do ensino fundamental. Neste trabalho, tomamos como base os estudos acerca
dos níveis de construção da escrita, descritos por Emília Ferreiro e Ana Teberosky. Este
92Graduanda em Licenciatura em Pedagogia; Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB); Vitória da
Conquista, Bahia, Brasil; Endereço eletrônico: [email protected] 93 Professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia; Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa em
Alfabetização e Letramento escolar; Endereço eletrônico: [email protected]
V SENAL | 233 | UESB/2018
trabalho é, assim, fruto das leituras desenvolvidas na disciplina Alfabetização III, oferecida no
curso de Pedagogia da Uesb.
No processo de construção da escrita, a criança segue uma linha de evolução na qual
podemos identificar os seguintes níveis: Nível pré-silábico, em que a escrita não tem valor
sonoro; Nível silábico, construção de escrita em que a criança representa a palavra por meio de
letras que representam o número de sílabas dessa palavra; Nível silábico alfabético e alfabético,
momento de construção em que se inicia o processo de fonetização da escrita.
A realização deste trabalho se deu por meio de cinco etapas descritas a seguir: o
reconhecimento das letras do alfabeto, como escreve o seu nome, a entrevista com a utilização
de consignas, o auto ditado e uma atividade extra, em que a criança tinha que achar palavras
que iniciavam com a letra ‘J’.
Etapas do diagnóstico
Para poder diagnosticar o nível de alfabetização que a criança entrevistada estava no
momento, utilizamos os seguintes recursos:
O reconhecimento das letras do alfabeto;
O reconhecimento das letras do seu nome e escrita do nome;
Etapas de escrita em que se encontra a partir dos registros feitos nas
consignas;
Etapas de escrita a partir dos registros feitos no auto ditado;
Atividade complementar para analisar como ela identifica palavras que
começam com a letra ‘J’, ou seja, a pseudoleitura.
Descrição e análise de J. S. L.
A criança é aqui identificada por J. S. L, tem 6 anos de idade e está no 1º ano, na turma
de alfabetização de uma escola municipal em uma cidade da região Sudoeste da Bahia.
Reconhecimento das letras do alfabeto
Fotografia 1 - As letras sorteadas por J. S. L
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J. S. L. sorteou 5 letras do alfabeto: “A”, “G”, “U”, “P” e “L”, respectivamente. As letras
“A” e “U” foram identificadas imediatamente, sem nenhuma dificuldade. Já a letra “G”
demandou um pouco de tempo para fazer esse reconhecimento, mas houve um caso especial
com duas letras: o “P” e o “L”, fugindo das “normalidades”, com uma consciência fonológica
distorcida, diante do som de cada uma. A letra “P”, ele teve que respirar fundo, suspirar, pensar
muito para responder, eis que fala: “PA”. Houve dificuldade também na identificação da letra
L. Ele teve dúvida e disse “TA”. Ao certo, ele não se lembrava nem mais das sílabas da letra
“L”, e respondeu a que estava mais fresca na sua mente.
Reconhecimento das letras do seu nome e escrita do nome:
Fotografia 2 - Escrita do nome da criança entrevistada
Nessa etapa, J. S. L., assim que lhe foi solicitado para que escrevesse seu nome numa
folha de ofício, de imediato escreveu, mas foi de forma mecânica, tanto é, que foi pedido a ele
que escrevesse o seu sobrenome, mas ele disse que não sabia. Então, pedimos para soletrar as
letras de seu nome e de prontidão conseguiu reconhecer cada uma delas.
Etapas de escrita por meio dos registros feitos nas consignas
Fotografia 3 - Escreva o nome do brinquedo que você mais gosta.
Nessa parte do diagnóstico, foi feita o registro das consignas e então foi solicitado a ele
que escrevesse o nome do brinquedo que ele mais gostava. Ele disse ‘carro’ e escreveu da
seguinte maneira “CORILE” (como pode-se ver na imagem acima). Nessa situação, a primeira
letra da palavra que ele escreveu no papel foi ‘C’, que também é a letra de início da palavra
“carro”, sendo assim a sua hipótese alfabética.
Etapas de escrita: autoditado
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Esse auto ditado foi uma forma de completar aquilo que se tinha dúvida, quanto
ao nível alfabético de J. S. L., diante das atividades anteriores feitas.
Fotografia 4 - Autoditado feito por J. S. L.
Como pode-se observar na imagem acima, o auto ditado consistiu em cinco figuras:
borboleta, bola, lata, tatu e bolo. Primeiramente, foi explicado o que era cada imagem, e foi
pedido para que ele escrevesse do seu jeito. Agora, analisando mais a fundo as palavras escritas
por ele, respectivamente: ‘LAIJOL’ (borboleta); ‘BCOILA’ (bola); ‘ELAL’ (lata); ‘TULEO’
(tatu); e ‘TLEIL’ (bolo). Quase todas os “vocábulos” tem algum signo do seu nome, como as
letras ‘J’, ‘O’, ‘L’ e ‘A’. A expressão escrita da palavra “BCOILA” foi a que mais chegou perto
do real vocábulo “Bola”, pois ela começa com a letra “B”, e termina com a sílaba “LA”, com
inserções de letras. Isso também acontece com a palavra “Tatu”, pois ele escreve da seguinte
forma “TULEO”, e a sílaba iniciada é ‘TU’. Sendo assim, ele já faz o reconhecimento de
algumas sílabas, faltando ainda a compreensão de algumas.
Pseudoleitura
Essa foi, diga-se de passagem, a mais simples para J. S. L., que ainda está caminhando
para chegar na fase silábica e isso só será possível, mediante ao entendimento e reconhecimento
que ele faz das palavras que se iniciam com a palavra ‘J’.
Qual o nível de alfabetização de J. S. L.?
Fotografia 5 – Pseudoleitura que J.S.L. fez
Fotografia 5–Pseudoleiturafeito por J. S. L.
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O nível de construção da escrita de J. S. L. é pré-silábico, por conta da forma que ele
escreve, já que as partes da escrita não correspondem as partes do nome, ou seja, a língua oral.
Nessa situação, embora que ele já saiba que existe uma quantidade mínima de caracteres e o
emprego necessário para a escrita, ainda há a tentativa de criar diferenciações entre os grafismos
produzidos, a partir do arranjo das letras que conhece, mas sua escrita continua não analisável,
pois não consegue relacionar as letras com os sons da língua falada.
[...] a criança não estabelece uma relação entre a escrita e a fala (pronúncia), ela
exerce sua escrita por meio de desenhos, rabiscos e letras utilizando-as aleatoriamente.
As principais hipóteses desse nível são: já percebe a função social da escrita
(diferenciando-a de desenhos), usa critério quantitativo. (NOGUEIRA; SILVA, 2014,
p. 03-04).
Conclusão
Essa atividade, realizada com a criança, que está em processo de alfabetização,
demonstra que cada criança tem seu ritmo de aprendizagem. Ela ainda faz uma atividade de
memorização, no qual para escrever algo que já se tinha noção, mas não havia uma ação que
fosse concreta nesse processo. Tanto é que percebe-se isso quando J.S.L. faz uma pseudoleitura
daquilo que foi escrito, que não há correspondência com o que está na imagem ou quando não
consegue reconhecer o alfabeto, sem o som propriamente dito, não há a consciência fonológica
“correta”.
Referências
NOGUEIRA, Silvana da Silva; SILVA, Priscila Cavalcante. O processo de aquisição da língua
escrita: fundamentado em Emilia Ferreiro e Ana Teberosky. Santa Maria: 2014.Anais VI
FIPED, 2014. v. 1. p. 1-9.
V SENAL | 237 | UESB/2018
DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE EDUCATIVO PARA O
PROCESSAMENTOAUDITIVO: UMA FERRAMENTA PARA A ALFABETIZAÇÃO
Iran Freitas Ribeiro94
Alzira Ferreira da Silva95
Ronei Guaresi96
Resumo: O funcionamento do processamento auditivo das crianças dentro dos padrões esperados, especialmente
o componente da alça fonológica da memória de trabalho, está intimamente relacionado à aquisição e ao
aprendizado inicial da leitura e da escrita. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho foi a construção de um software
educativo, com enfoque na melhora da memória de trabalho, especialmente do processamento auditivo, que possa
ser utilizado como uma ferramenta complementar para a alfabetização de crianças, em especial daquelas com
atraso escolar. O software aqui apresentado trata-se de um jogo de memória auditiva, em que a criança precisa
formar pares de sons correspondentes para poder pontuar e melhorar a sua posição no ranking de jogadores. Para
o desenvolvimento da interação com o jogador e da interface, foram realizadas pesquisas bibliográficas acerca do
design de software para crianças, além de análises de outros jogos educativos presentes no mercado. A
implementação do software foi feita utilizando-se a linguagem de programação Java em conjunto com editores de
áudio e imagem.
Palavras-Chave: Escrita; Jogos educativos; Leitura; Processamento auditivo; Software educativo;
Abstract: The performance of the auditory processing of children according to the expected standards, especially
the component of the phonological part of the working memory, is closely related to the initial acquisition and
learning of reading and writing. Therefore, the objective of this work was the construction of an educational
software, focusing on the improvement of working memory, especially of the auditory processing, that can be used
as a complementary tool for children literacy, especially those with school backwardness.The software presented
herein is an auditory memory game, in which the child needs to form pairs of matching phonemes in order to score
and improve its position in the ranking of players. For developing the interaction with the player and the interface,
we have done a bibliographic research about the software design for children, as well as analyzing other
educational games on the market. The software implementation was done by using the Java programming
language in conjunction with audio and image editors.
Keywords: Auditory processing; Educational games; Educational software; Reading; Writing;
Introdução
A área de educação infantil, especificamente nos primeiros anos de vida da criança, tem
sido alvo de diversos estudos nos últimos anos, principalmente no que diz respeito às práticas
pedagógicas utilizadas no processo de alfabetização. Nesse sentido, o fracasso da alfabetização
no Brasil é evidenciado quando observadas as taxas de analfabetos funcionais divulgadas pelo
Indicador de Alfabetismo Funcional (LIMA, RIBEIRO e CATELLI, 2016).
Uma das causas possíveis desse fracasso advém da dificuldade que algumas crianças
possuem de processar cognitivamente/entender os fonemas que são apresentados pelo
professor. O que, segundo Andrade (2008), em alguns casos pode ser caracterizado como um
distúrbio do processamento auditivo.
94 Bacharel; Autor; Vitória da Conquista, Bahia – Brasil; [email protected]. 95 Doutora; Orientador(a); Vitória da Conquista, Bahia – Brasil, [email protected] 96 Doutor; Co-orientador; Vitória da Conquista, Bahia - Brasil; [email protected].
V SENAL | 238 | UESB/2018
Há estudos comprovando que essa habilidade cognitiva pode ser melhorada por meio
da utilização de ferramentas interventivas (DEHAENE, 2012), entretanto, a grande maioria das
ferramentas disponíveis no mercado que tratam do processamento auditivo não estão em Língua
Portuguesa ou são muito caros, o que dificulta a sua utilização em escolas brasileiras.
Por isso, o principal objetivo deste trabalho foi a construção de um software educativo,
denominado Jogo de Memória Auditiva, com enfoque na melhora da memória de trabalho,
especialmente a do componente auditivo (alça fonológica), que possa ser utilizado como uma
ferramenta complementar à alfabetização de crianças.
Processamento auditivo e sua relação com aquisição e aprendizado inicial de leitura e
escrita
O processamento auditivo é uma parte do sistema nervoso auditivo, mais precisamente
sistema auditivo periférico e central, que é capaz de decodificar e compreender a fala (NEVES,
SCHOCHAT, 2005; ENGELMANN, FERREIRA, 2009). Sendo responsável pelo bom
funcionamento da Memória de Trabalho, especialmente o componente da alça fonológica, o
processamento auditivo se modifica, otimiza e amadurece ao longo tempo (EUGÊNIO,
ESCALDA, LEMOS, 2012) e quando, por algum motivo, isso não acontece normalmente, tem-
se o que Andrade (2008) denomina de distúrbio do processamento auditivo.
Independente da causa, crianças com problemas e distúrbios no processamento auditivo
podem apresentar déficit na fala (CHANDRASEKARAN, KRAUS, 2010), problemas de
leitura e atrasos na linguagem, entre outras dificuldades na aprendizagem escolar (MACHADO
et al., 2011). Ainda, Engelmann e Ferreira (2009, p. 69) afirmam que “indivíduos com queixas
de dificuldades escolares geralmente apresentam pior desempenho em testes de processamento
auditivo em função do atraso na maturação das habilidades auditivas”.
Em suma, a literatura científica atesta que o processamento auditivo, em especial a
capacidade de reter informações acústicas na memória de trabalho, está estreitamente
relacionado à aquisição e ao aprendizado da leitura e da escrita (PINKERING, 2001). Por outro
lado, outro conjunto de estudos sugere que competências do âmbito cognitivo podem ser
melhoradas por meio de programas interventivos (DEHAENE, 2012). Esses aspectos do âmbito
científico justificam o delineamento do jogo aqui apresentado.
Software educativo
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Software educativo “é todo aquele programa que possa ser usado para algum objetivo
educacional, pedagogicamente defensável, por professores e alunos, qualquer que seja a
natureza ou finalidade para o qual tenha sido criado” (LUCENA, 1992, apud TEIXEIRA e
BRANDÃO, 2003, p. 2).
Os softwares educativos podem ser classificados de diversas formas, uma delas é a de
jogos educativos, na qual o trabalho aqui descrito se enquadra. Neto (2012, p. 2) afirma que a
utilização de jogos educativos na educação “na educação pode proporcionar ao aluno
motivação, estimulando também hábitos de persistência no enfrentamento de desafios e
desenvolvimento de tarefas”.
Durante a busca por ferramentas com características similares à que foi desenvolvida
aqui, encontraram-se 5 jogos educativos, disponíveis para download na loja de aplicativos da
Google: Memory games for kids, SoundsMemory, Sounds Essentials, Training
withphonakeGraphogame. Um dos pontos negativos desses jogos é que eles não estão
disponíveis em Língua Portuguesa97.
Design de software para crianças
Como o público-alvo do jogo aqui desenvolvido eram crianças em processo inicial de
alfabetização, alguns aspectos da sua construção, descritos por Druin, Bederson e Hourcade
(2001) e Hourcade (2008), precisaram ser analisados: a) deve-se evitar a utilização de
informações textuais na interface do jogo e, quando possível, utilizar ícones representativos; b)
utilização do mouse de computador, embora exija um tempo de adaptação para algumas
crianças, não impedirá que elas joguem; c) o jogo deve fornecer feedbacks rápidos para as ações
dos jogadores;
Delineamento do Estudo
A primeira etapa de desenvolvimento do Jogo de Memória Auditiva consistiu no
entendimento de quais características o jogo possuiria e da construção dos protótipos das suas
interfaces, tendo como base os jogos analisados anteriormente e as informações acerca do
desenvolvimento de software para crianças.
97 O jogo Graphogame está sendo adaptado para a Língua Portuguesa por Sucenaet al.(2016).
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O Jogo de Memória Auditiva é um jogo de memória para desktops indicado para
crianças que estão nas fases iniciais de alfabetização (com idades entre 6 e 7 anos). Ele é
composto de três níveis de dificuldade com sete grupos de sons em cada nível, em que o jogador
precisa formar pares desses sons, através de cliques com o mouse em botões contendo os sons.
Para poder obter pontuação e melhorar sua posição no ranking de jogadores. Ele foi
desenvolvido utilizando a linguagem de programação java em conjunto com ferramentas grátis
de edição de áudio e imagem.
A primeira fase de desenvolvimento consistiu na implementação da interface principal
do jogo (Figura 1). A segunda parte consistiu na implementação das outras interfaces e de
funcionalidades secundárias. Por fim, realizaram-se testes a fim de verificar o funcionamento
geral do jogo.
Figura 1: Interface principal do Jogo de Memória Auditiva
Fonte: autoria própria (2018).
Conclusões
A realização dos testes mostrou que o Jogo de Memória Auditiva atende de maneira
satisfatória aos objetivos que nos propusemos atingir, de maneira que produzimos um jogo
esteticamente atrativo, com uma interface simples e divertida, que ocupa pouco espaço na
memória do computador e de fácil instalação.
Assim, considerando-se os conceitos teóricos acerca do desenvolvimento de software
para crianças e as pesquisas referentes à utilização de softwares educativos como ferramentas
interventivas para a alfabetização, conclui-se que o jogo aqui criado pode ser usado como uma
ferramenta complementar no ensino da leitura e da escrita nos anos iniciais da alfabetização em
escolas brasileiras. A próxima etapa será a validação da ferramenta tecnológica aqui
apresentada.
V SENAL | 241 | UESB/2018
Referências
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<http://acaoeducativa.org.br/wp-
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2011.
NETO, J. F. B. Uma Metodologia de Desenvolvimento de Jogos Educativos em Dispositivos
Móveis para Ambientes Virtuais de Aprendizagem. 2012.
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V SENAL | 242 | UESB/2018
SIMPÓSIO TEMÁTICO 7: ALFABETIZAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS
COORDENAÇÃO: BENEDITO EUGÊNIO
LETRAMENTO CRÍTICO: ESTADO DO CONHECIMENTO DAS PUBLICAÇÕES
NO PERÍODO 2008-2018
Andréa Santos Oliveira98
Elenilson Evangelista da Silva99
Resumo: É notória a preocupação existente no campo educacional para o desenvolvimento de práticas
pedagógicas que possibilitem aos alunos um ensino voltado à sua formação crítica e cidadã no que tange ao ensino
de línguas. A prioridade em repassar apenas os aspectos voltados às regras gramaticais torna-se um entendimento
ultrapassado sobre o sentido de uma aprendizagem significativa para os aprendizes. Pesquisadores e estudiosos
coadunam com esse pensamento e contribuem com os pressupostos desenvolvidos pela concepção de letramento
crítico, reconhecendo que o desenvolvimento de habilidades linguísticas dos sujeitos não é competência
considerada suficiente para sua inserção na sociedade letrada. Este texto apresenta os resultados de um estado do
conhecimento acerca da produção acadêmica sobre letramento crítico no período 2008-2018.
Palavras-chave: Letramento; letramento crítico; estado do conhecimento
Introdução
Ao se propor realizar um estudo sobre determinada temática, torna-se relevante efetuar
uma melhor sistematização para seu melhor desenvolvimento. A pesquisa intitulada de “estado
do conhecimento” pode facilitar bastante esse trabalho, para estudantes e/ou pesquisadores no
campo científico. Segundo Morosini e Fernandes (2014, p.155):“Estado de conhecimento é
identificação, registro, categorização que levem à reflexão e síntese sobre a produção cientifica
de uma determinada área, em um determinado espaço de tempo, congregando periódicos, teses,
dissertações e livros sobre uma temática específica”.
O estado do conhecimento possibilita analisar o que tem sido pesquisado, quais autores
têm sido utilizados, a quais conclusões tem chegado acerca da temática escolhida. No campo
98Mestranda do Programa Pós-graduação em Ensino (PPGEn) na Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia.(UESB). E-mail:[email protected] 99Mestrando do Programa Pós-graduação em Ensino (PPGEn) na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. E-
mail:[email protected]
V SENAL | 243 | UESB/2018
da linguística, é possível perceber por meio de pesquisas desenvolvidas pelos autores que se
interessam pela área, a necessidade de revisitar alguns conceitos relacionados ao uso da leitura
e da escrita, diante dos novos contextos que se apresentam na sociedade letrada e reconhecida
como grafocêntrica100.Soares (1999) descreve sobre esse momento, salientando que se
apresentou quando a capacidade de adquirir as “técnicas da leitura e da escrita” deixa de ser
considerada suficiente para que o indivíduo consiga exercer sua cidadania de forma crítica e
autônoma, diante das demandas sociais que se apresentam nos diversos espaços.
A partir dos anos 80 os Estudos sobre novos letramentos (NEL) traz ressignificações
para o conceito tradicional de alfabetização no Brasil, sugerindo que a escola se proponha a
desenvolver novas práticas nesse contexto. Como assegura Kleiman (1995, p.20):
O fenômeno do letramento, então, extrapola o mundo da escrita tal qual ele é
concebido pelas instituições que se encarregam de introduzir formalmente os sujeitos
no mundo da escrita. Pode-se afirmar que a escola, amais importante das agências de
Letramento, preocupa-se não como letramento prática social, mas com apenas o tipo
de prática de letramento, a alfabetização, o processo de aquisição de códigos
(alfabético, numérico) processo geralmente concebido em termos de uma
competênciaindividual necessária para o sucesso e promoção na escola. Já outras
agências de letramento, como a família, a igreja, a rua como lugar de trabalho,
mostram orientações deletramento muito diferentes.
Este artigo se propõe a analisar a abordagem dos letramentos nos textos selecionados
no portal scielo, no período 2008-2018. O estudo objetiva fomentar discussões que apontem
para a inserção das concepções de letramento crítico no currículo, por meio de práticas que
reconheçam a necessidade de uma formação crítica e autônoma na sociedade, apresentando ao
aluno as múltiplas possibilidades de construção de significados, os quais se encontram além do
texto verbal.
Método
A opção se deu por realizar uma análise de abordagem qualitativa empregando a
produção cientifica disponibilizada no formato de artigos. Para isso, foi consultada a base de
dadosScientific Eletronic Libraly (Scielo). O período de busca do material foram os meses de
maio a julho de 2018. A seleção inicial ocorreu levando em conta artigos escritos em língua
portuguesa por meio do emprego dos seguintes descritores: letramento; letramento crítico.
100grafocêntricas, isto é, sociedades organizadas em torno de um sistema de escrita e em que esta, sobretudo por
meio do texto escrito e impresso, assume importância central na vida das pessoas e em suas relações com os outros
e com o mundo em que vivem.MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Educação e Letramento. São Paulo: UNESP,
2004. p.98
V SENAL | 244 | UESB/2018
Diante da escolha por artigos nacionais, os critérios utilizados foram: idioma português,
texto completo, título, trabalhos relacionados com as concepções de letramento crítico e seus
desdobramentos nas práticas de ensino de línguas. O recorte temporal abarca os anos de 2008
a 2018, compreendendo que esse período trouxe uma ampliação e um maior interesse pelos
estudos voltados às concepções de letramento. Os critérios de exclusão foram: artigos escritos
em outros idiomas, e que não evidenciasse na abordagem o letramento crítico. Após o
refinamento da busca, chegou-se ao total de 12 artigos que abordam o letramento crítico.
Efetuado novo refinamento, foram selecionados 04 artigos para a análise.
A seleção dos artigos relacionados ao conceito de letramento perpassa por interesse
acadêmico e ainda por compreender que apesar de ser um tema bastante discutido por
pesquisadores ou profissionais das áreas de Letras, Linguística Aplicada e Educação, a exemplo
de Soares (1999), Kleiman (2005), Rojo (2009),dentre outras, os resultados das avaliações
nacionais demonstram o quanto ainda é necessário pesquisar sobre os letramentos.
Após a leitura flutuante, realizou-se então o agrupamento em duas categorias:
Letramento crítico e implicações do letramento crítico no ensino, apresentados a seguir.
Resultados e discussões
O contexto que apresenta a necessidade de releituras e ressignificações acerca do
conceito tradicional de alfabetização traz consigo a necessidade de mudanças nas práticas
educacionais. No cerne das discussões tem se o ensino de línguas, materna ou estrangeira com
o entendimento da aprendizagem a leitura e escrita, para além da apreensão de conceitos e a
decodificação de signos linguísticos. A capacidade de desenvolver as “tecnologias da leitura e
da escrita” como aponta Soares (1999), já não são habilidades suficientes para a inserção nessa
sociedade letrada. A formação de um sujeito autônomo capaz de refletir criticamente sobre sua
realidade, usando a linguagem como discurso em seus variados contextos sociais, evidencia um
dos objetivos presentes nas práticas de letramento crítico.
Os artigos trazem uma abordagem de materialização do letramento crítico, quando este
se apresentaem atividades específicas as quais objetivam novas leituras diante do número
significativos de imagens que se apresentam para o indivíduo na realidade contemporânea e o
primeiro no ensino de línguas.
Os artigos selecionados para análise são resultados de pesquisas realizadas em duas
regiões brasileiras: 01 região sudeste e 03 região centro-oeste. Letras, Educação e Linguística
V SENAL | 245 | UESB/2018
aplicada são as áreas em que as pesquisas foram desenvolvidas. A Revista Brasileira de
Linguística Aplicada destaca-se como o periódico com maior quantidade de artigos publicados.
As pesquisas analisaram cursos de formação continuada e documentos oficiais para a
compreensão do letramento crítico. A língua inglesa é a que conta com maior número de
estudos. Os artigos trazem uma abordagem da materialização do letramento crítico. Vale
ressaltar que apesar de seus pressupostos serem evidenciados em documentos voltados ao
ensino por meio do letramento, inclusive em línguas, como os PCNs, Orientações Curriculares,
Pró-letramento, ainda existe um distanciamento significativo entre o que é proposto para e as
práticas na sala de aula.Um dos motivos para que isso ocorra se encontra na falta de formação
para os professores. Muitos ainda privilegiam práticas tradicionais do ensino de línguas que
impossibilitam a formação crítica do aluno, focando principalmente a gramática.
Em comum, asseguram a necessidade de um ensino que possibilite a formação crítica
do aluno, seja na aprendizagem da língua materna ou de línguas estrangeiraspode trazer
consequências positivas na vida de quem a exercita, esta pode vir a tornar-se importante
elemento na formação também da cidadania. Os discursos hegemônicos presentes na sociedade
podem ser destituídos tendo em vista tal concepção.
É possível afirmar que o ensino de línguas com foco no letramento crítico exige do
professor o olhar atento para as mudanças trazidas pela sociedade globalizada. As práticas
pedagógicas desenvolvidas no ensino de línguas precisa considerar os múltiplos letramentos
presentes no dia-a-dia dos discentes.
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V SENAL | 247 | UESB/2018
ALFABETIZAÇÃO, INTERAÇÃO E AS RELAÇÕES AFETIVAS NO ENSINO
APRENDIZAGEM DA LEITURA E DA ESCRITA
Jussara Vieira DIAS101
Maria Aparecida Pacheco GUSMÃO102
Resumo: O presente trabalho traz uma discussão sobre os relacionamentos interpessoais entre professor-aluno, o
papel da afetividade e dainteração noprocesso ensino aprendizagem da leitura e escrita. Apesquisaé qualitativa e
participativa, de cunho exploratório, com o uso de entrevistas semi-estruturadas, observações, filmagens,
fotografias e análise documental de textos dos alunos. O locus da pesquisa em uma escola municipal de Vitória da
Conquista - BA, com professores e alunos dos anos iniciais do ensino fundamental. Oobjetivo geral éanalisar como
a afetividade e as relações interpessoais interferem no processo ensino-aprendizagem daleitura e escrita noprocesso
dealfabetização,anos iniciais do ensino fundamental.Para estudo e compreensão da abordagem supracitada, foram
escolhidos autores teóricoscomo Vygotsky (1987; 1984), Bakhtin (2010; 2014) eWallon (1995), buscando uma
articulação entre as reflexões e as questões teóricas e práticas dentro do processo ensino aprendizagem. Devido ao
fato da pesquisa encontrar-se em andamento, ainda não se tem resultados consolidados. Palavras-Chave:Afetividade. Leitura e escrita. Interação. Anos iniciais.
Introdução
Partimos da premissa de que os relacionamentos interpessoais e a afetividade no
processo ensino-aprendizagem mobilizam uma gama de desdobramentos. Nesse sentido,
buscamos analisar como a influência dos aspectos afetivos poderão se manifestar, produzindo
sentimentos e emoções que venham inferir positivamente ou não na aprendizagem.
Ao falarmos de afetividade é grande as abordagens e discussões que tratam do tema nas
últimas décadas e embora tenha sido objeto principal das teorias psicológicas, veio tomado uma
dimensão no campo da educação, principalmente se tratando das relações interpessoais que
permeiam o cotidiano escolar, atuando como ponto central dentro da sala de aula.
Nesse contexto pretende-se discutir como a dimensão afetiva e a interação se inter-
relacionam nas práticas pedagógicas no processo ensino aprendizagem da alfabetização, já que
esta última também é de natureza afetiva. Diante disso, é relevante compreender como as
relações afetivas ocupam o espaço de sala de aula no momento da aprendizagem e como estas
101Mestranda do Programa Pós-graduação em Ensino (PPGEn) na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
(UESB). E-mail: [email protected] 102Professora Titular da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, orientadora. Email:
V SENAL | 248 | UESB/2018
podem produzir impactos afetivos, positivos ou negativos, na relação que se estabelece entre
professor-aluno.
Para tanto, o objetivo desse trabalho se configurou em analisar como a influência dos
aspectos afetivos dentro desse contexto poderão se manifestar, produzindo sentimentos e
emoções que venham inferir positivamente ou não na aprendizagem.
Em face a experiências nos anos iniciais do ensino fundamentalem que pude
acompanhar o processo de alfabetização e também o interesse sobre a afetividade no campo da
aprendizagem, percebi quea carência afetiva era notória aos ali assistidos, durante essa fase tão
peculiar que é o da aprendizagem da leitura e escrita. Sendo assim, procuramos aqui
compreender melhor como a razão e a emoção se manifestam dentro do processo de ensino
aprendizagem no contexto escolar, principalmente na infância.
Surgiu assim, necessidade de ampliarmos estudos acerca dessatemática e, dessa forma
questionamossobre quais as influências da afetividade na relação professor aluno e como estas
interferem no processo de ensino aprendizagem da leitura e da escrita?
Por ser um tema de grande relevância e devido a sua amplitude, dentro do que propomos,
será realizado no formato de recorte e dessa forma o sentido da palavra afetividade será
analisada no âmbito estritamente pedagógico, ou seja, relação afetiva entre professor e aluno e
aluno-aluno no processo de alfabetização, em específico no ensino aprendizagem da leitura e
da escrita. Nesse processo educativo, razão e emoção serão analisados de forma conjunta e
reflexiva de modo a observamos as ações do professor, como estas constituem sua prática
pedagógica e de que forma afetam a aprendizagem dos alunos, apresentando assim a relação
que estes estabelecem com o conhecimento.
A pesquisa tem como objetivo geral analisar como a afetividade e as relações
interpessoais interferem no processo de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita. Os autores
Vygotsky, (1987; 1984), Wallon, (1995), Bakhtin, (2010; 2014), entre outros servirão de base
para que o desenvolvimento do trabalho tenha respaldo acadêmico.
Como objetivos específicos pontuamos: observar as influências das emoções na relação
professor-aluno e aluno-aluno no processo de aprendizagem;identificar os sentimentos dos
alunos ao se confrontarem com as atividades de leitura e escrita em sala de aula; compreender
os contextos indutores de sentimentos diversos que afetam as relações dos alunos com a escrita
e a leitura.
V SENAL | 249 | UESB/2018
A leitura e análise do tema em questão nos darão subsídios para identificar sob alguns
critérios, o lugar que a afetividade ocupa em sua formação enquanto sujeito e como esta é
preponderante no seu desenvolvimento não só cognitivo, mas emocional e social.
Ademais, iremos buscar nesse contexto autores que contemplem o objeto de estudo, em
sua essência para suprir as lacunas da abordagem temática visando a perspectiva de cada autor
sobre a afetividade no processo ensino-aprendizagem, no tocante a relação professor- aluno,
dessa forma motiva a melhor compreender o indivíduo em sua complexidade.
Nas construções teóricas discutidas por (LEITE, 2009; TASSONI, 2008 e 2000; ALMEIDA,
MAHONEY, 2007) têm promovido uma discussão sobre a influência da afetividade no desempenho dos alunos,
na qualidade da aprendizagem e nos movimentos de aproximação ou afastamento deles em relação aos objetos de
conhecimento. Ou seja, as experiências vividas em sala de aula contribuem para o tipo de relação que os alunos
podem estabelecer com os conhecimentos.
Nesse contexto serão discutidas as seguintes questões: a afetividade e a relação
professor-aluno, a afetividade versus o processo ensino-aprendizagem da leitura e da escrita,
construindo, assim, um arcabouço para discutir os dados coletados na pesquisa.
Para a metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho optamos pela
pesquisa qualitativa, participativa de cunho exploratório, em que será realizada uma pesquisa
de campo qualitativa, aplicandouma entrevista semiestruturada e por meio de observações com
duas professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental e seus respectivos alunos.Os dados
serão produzidos através de entrevistas semiestruturadas, observações, filmagens, fotografias e
análise documental de textos dos alunos.
Entendemos que os estudos sobre a afetividade no ensino-aprendizagem da leitura e
escrita, ainda necessitam de um aprofundamento para uma melhor compreensão da força da
interação, da mediação, dos vínculos afetivos na relação professor-aluno, aluno-aluno, aluno-
leitura-escrita.
Dimensão Afetiva interação Pedagógica
A dimensão da afetividade no âmbito educacional, cada vez mais tornando
imprescindível o papel do professor nessa inter-relação, favorecendo o processo ensino-
aprendizagem e o desenvolvimento global do sujeito aprendente.
Muitos estudos tem se debruçado sobre o papel da afetividade na escola dentro do
processo ensino aprendizagem, um deles é o de Mahoney e Almeida (2007, p. 17), apoiadas na
teoria walloniana, afirmam que a afetividade “[...] refere-se à capacidade, à disposição do ser
V SENAL | 250 | UESB/2018
humano de ser afetado pelo mundo externo e interno por meio de sensações ligadas a
tonalidades agradáveis ou desagradáveis”.
Diante desse pressuposto, podemos inferir que a depender da influência dos aspectos
afetivos em situações de sala de aula, estes poderão produzir sentimentos e emoções que irão
impactar na sua aprendizagem com o objeto do conhecimento.
Desse modo, a atuação do professor poderá afetar ou não a aprendizagem do aluno, isso
se valerá da interação social como constitutiva do processo de aprendizagem, porém o
professor deve ter um olhar sensível aos seus alunos, atentando-se para os indicadores de
emoção, de forma a diagnosticar momentos de baixa autoestima no que diz respeito a sua
capacidade de aprender. Mahoney e Almeida (2000).
Um importante teórico na discussão da afetividade em relação ao ensino e aprendizagem
é Henry Wallon (1995). Ele elaborou uma teoria psicogenética para explicar a sua visão sobre
a afetividade no processo de desenvolvimento cognitivo do ser humano. Esse estudioso dedicou
grande parte da sua vida tentando demonstrar as relações existentes entre asdimensões afetivas,
cognitivas e motoras no desenvolvimento humano, privilegiando as relações intrínsecas entre a
afetividade e a inteligência.
Dentre os teóricos que buscaram compreender as atividades humanas em sua dimensão
interativa, no processo social e interpessoal, no que concerne ao estudo da língua Vygotsky
(1987;1984) e Bakhtin (2010; 2014) merecem uma atenção especial. Cada um ao seu modo
desenvolveu estudos sobre a linguagem: o primeiro com ênfase na fala e no pensamento e o
segundo com foco no discurso e no enunciado.
Afetividade no processo ensino aprendizagem da leitura e da escrita
Ao buscarmos um conhecimento maior acerca das discussões que abarcam o tema
supracitado, pensamos logo no desenvolvimento global do sujeito e é nesse sentido que
aportamos quais as contribuições da afetividade no processo ensino-aprendizagem, pois é nessa
relação existente que ocorre a formação como um todo.
Nesse processo das relações interpessoais, destacamos o papel do professor na
internalização de conceitos como base para o desenvolvimento dos alunos, pois é por meio da
interação e nas relações estabelecidas entre professor/aluno que ocorre a aprendizagem.
V SENAL | 251 | UESB/2018
Para tanto podemos inferir que o processo ensino-aprendizagem permeia na mesma
direção, como uma unidade e que a relação interpessoal professor-aluno e aluno-aluno também
aparecem como determinante nessa configuração.
Estabelecendo um contraponto entre Wallon (1978, 1995, 1995) e Vygotsky (1991,
1993, 1998) ambos contribuíram muito para as discussões sobre a afetividade. Conforme
abordado por eles, em que defendem a integração dos aspectos afetivos e cognitivos e assumem
uma perspectiva de desenvolvimento para as emoções e sentimentos, tornando visível a
importância de se levar em conta tais aspectos como condutores da aprendizagem.
Vygotsky (1991) nos traz sua visão sobre o tema ao defender que a construção do
conhecimento ocorre a partir de um intenso processo de interação entre as pessoas, coloca em
destaque o papel do Outro no processo de construção do conhecimento e na constituição do
próprio sujeito e de suas formas de agir.
Reconhecer a relevância que há entre as emoções e a aprendizagem, requer
entendimento que a leitura e a escrita são duas atividades complexas, mas necessárias para se
ter acesso aos saberes organizados que fazem parte de uma cultura.
Dentro desse contexto, buscamos compreender essa prática pedagógicaacerca das
relações existentes entre a afetividade e educação, no sentido de como estas permeiam dentro
do entorno do ensino-aprendizagem, da interação e da mediação na sala de aula.
Os estudos discorrem que os processos afetivos e cognitivos funcionam numa ação
conjunta e inseparável no que concerne ao processo de ensino e aprendizagem. Entretantosão
nessasinterações em sala de aula que proporcionam diferentes experiências, em que irão
influenciar diretamente na apropriação do objeto de conhecimento.
(In)Conclusões
Ao refletirmos sobre a relevância da afetividade no processo de ensino e aprendizagem,
abre caminhos para repensarmos a nossas práxis no que se refere a interação pedagógica,
visando contribuir para a construção de relações interpessoais professor-aluno, aluno-aluno,
aluno-professor e as práticas de leitura e escrita.
Referências
ALMEIDA, L. R.; MAHONEY, A. A. (org.) Afetividade e aprendizagem:contribuições de
Henri Wallon. São Paulo: Edições Loyola, 2007.
V SENAL | 252 | UESB/2018
BAKHTIN, M.M./ V.N. Voloshinov. A interação verbal. In: ______. Marxismo e filosofia da
linguagem. Trad. Michel Lahud e Yara Frateschi Veira. 10. ed. São Paulo, Hucitec, 2002.
DA SILVA LEITE, Sérgio Antônio, Afetividade nas práticas pedagógicas. Temas em
Psicologia [enlinea] 2012, 20 (Diciembre-Sinmes) : [Fecha de consulta: 12 de octubre de 2018]
Disponibleen:<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=513751440006> ISSN 1413-389X
LEITE, S. A. S.; KAGER, S. Efeitos aversivos das práticas de avaliação da aprendizagem
escolar. Ensaio: aval. pol. públ. Educ. Rio de Janeiro, vol.17, nº. 62, p. 109-134, jan./mar. 2009.
TASSONI, Elvira Cristina Martins. Afetividade e produção escrita: a mediação do professor
em sala de aula. 2000. 246f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Estadual de
Campinas, SP. 2000.
TASSONI, E. C. M. A dinâmica interativa na sala de aula: as manifestações afetivas no
processo de escolarização. 2008. 305 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de
Educação, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo.
WALLON, H. (1941-1995). A evolução psicológica da criança. Lisboa, Edições 70.
______ (1959-1975).
______ . Psicologia e educação da infância. Lisboa, Estampa.
V SENAL | 253 | UESB/2018
IMPLICAÇÕES SEMÂNTICAS DA PALAVRA LER EM LIVRO DIDÁTICO
Lívia Cristina de Souza Sigliani103
Érica Costa Rêgo104
Adilson Ventura105
Resumo: Este trabalho apresenta uma análise de sentidos da palavra ler em um livro didático de língua portuguesa.
A análise é construída a partir dos pressupostos da Semântica do Acontecimento. A hipótese é a de que ler
signifique um exercício voltado apenas para o conteúdo do próprio texto. A conclusão é a de que, mesmo se
propondo a oferecer mecanismos que façam do ato de ler algo que extrapole a leitura do texto pelo texto, ler no
livro didático é ler uma ordem lógica de palavras, o que faz com que, no livro, ler sustente sentidos diferentes de
ler.
Palavras-Chave: Livro didático. Ler. Semântica do Acontecimento. Sentidos. Leitura.
Semantic implications of the word read in a textbook
Abstract: This work presents an analysis of meanings of the word read in a Portuguese language textbook. The
analysis is constructed from the assumptions of Semantics of the Event. The hypothesis is that reading means an
exercise focused only on the content of the text itself. The conclusion is that even proposing to offer mechanisms
that make reading something that extrapolates the text through the text, reading in the textbook is reading a logical
order of words, which means that in the book, read hold different directions of reading.
Keywords: Textbook. Read. Semantics of the Event. Senses. Reading.
Introdução
O livro didático, além de elemento balizador para o planejamento e realização de
diversas atividades em sala de aula, é um recurso bastante utilizado para fomentar a prática da
leitura. Dada a importância dessa materialidade para a formação de leitores, nossa questão é: o
que é leitura no livro didático de Língua Portuguesa? A partir desse questionamento, temos
como objetivo analisar os sentidos da palavra leitura no livro didático, pois partimos da hipótese
de que leitura nessa materialidade é marcada como um exercício meramente conteudístico.
Materiais e Métodos
A fim de realizarmos a análise, optamos por selecionar excertos do livro “Português:
Linguagens, 8º ano (edição do professor)” dos autores William Roberto Cereja e Thereza
Cochar Magalhães, livro de grande distribuição pelo PNLD (Programa Nacional do Livro
103Mestranda em linguística. UESB/PPGLIN/CAPES. Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. [email protected] 104Graduanda em Letras. UESB. Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. [email protected] 105Doutor em Línguistica. UESB. Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. [email protected]
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Didático) 2017, nas turmas do ensino fundamental das escolas públicas do país, segundo dados
do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). Sobre os excertos do livro
didático referido, primeiramente selecionamos o tópico Ler é da seção Manual do Professor,
parte instrucional do livro. Na respectiva seção, são explicitados os propósitos da leitura citados
em tópicos da composição do livro: Ler é um prazer, Ler é emoção, Ler é descoberta, Ler é
diversão e Ler é reflexão. Para o estudo, fizemos um recorte, selecionando, além dessa parte
instrucional, os tópicos Ler é um prazer, Ler é diversão e Ler é reflexão. O corpus foi recortado
dessa maneira por apenas esses três tópicos estarem presentes no volume avaliado.
A Semântica do Acontecimento,proposta por Eduardo Guimarães (2002, 2007, 2009),
possibilita observar o funcionamento dos sentidos nos enunciados, os quais são concebidos
enquanto integrando um texto. A língua e o sujeito não são transparentes. Este sujeito é
agenciado a dizer o que diz pelo espaço de enunciação que ocupa.
A teoria oferece dois métodos para análise: a reecritura, que consiste em “redizer o que
já foi dito” (2009, p. 53) e a articulação, por sua vez, configura-se pela relação de proximidade
entre os elementos. Além destes, são elaborados Domínios de Semântico de Determinação
(DSDs) que representam “[...] uma interpretação do próprio processo de análise e deve ser capaz
de explicar o funcionamento do sentido da palavra no corpus especificado” (GUIMARÃES,
2007, p. 81).
Resultados e Discussão
A análise empreendida aqui se divide da seguinte forma: em O que é ler para o livro
didáticoanalisam-se sentidos de ler em um excerto retirado do manual do professor. Em O que
é ler no livro didático, verificam-se sentidos de ler no corpo do livro. Nesse caso, apresentam-
seas análises e os DSDs respectivos.
O que é ler para livro didático
O excerto analisado foi retirado da página 06 do manual do professor. O manual tem 48
páginas. Apenas no excerto retirado para a análise é tratada a questão da leitura. Segue a
transcrição do enunciado:
(1) Este tópico finaliza os trabalhos de leitura e tem por objetivo despertar o prazer de
ler e, com isso, favorecer um contato “amigável” com o texto, despertar a curiosidade,
desenvolver o gosto pela leitura, estimular a observação, a reflexão, o debate, etc. Seu
V SENAL | 255 | UESB/2018
título também é variável, dependendo do tipo de texto e de atividade proposta. Assim,
ele ora se chama Ler é um prazer, em que se propõem textos de pura fruição, ora se
chama Ler é emoção, em que se propõe a leitura de um texto que provoque a emoção.
Outros títulos são: Ler é descoberta, Ler é diversão, Ler é reflexão.
O enunciados (1) projeta duas significações sobre lerque podem ser apresentadas
enquanto sentidos sobre: a) o que é ler; b) o que o livro propõe para a leitura. O ato de ler é
apresentado como atividade enfadonha, desagradável e hostil. Esses sentidos são sustentados
pois, o objetivo da leitura é apresentado como o de despertar para o prazer de ler.Lerse articula
com prazere com favorecer um contato “amigável”, desenvolver o gosto pela leitura, despertar
a curiosidade, estimular a observação, a reflexão, o debate.Nesse caso, podemos ter o seguinte
DSD de Ler:
Quadro 1: DSD de Ler
Enfadonho ┤LER ├ hostil
┬
Desagradável
Fonte: Elaboração própria.
O enunciado segue construindo os sentidos de leitura. Em (1b) Ler é algo com finalidade
específica: seja dar prazer, divertir, fazer refletir ou causar emoções ao leitor. Esses sentidos
são apontados pelo locutor-autor-instrutor como caminhos a serem construídos a partir do uso
da ferramenta livro didático. Eis o que o livro propõe a ser leitura, conforme DSD a seguir:
Quadro 2: DSD de Ler
Prazer
┴
Diversão ┤LER ├ reflexão
Fonte: Elaboração própria.
O que é ler no livro didático
Em ler é diversão, analisamos a ligação entre o título geral e o texto que segue
imediatamente a esse título. Uma primeira observação é a de que há uma relação de articulação
de diversão com ler. Nesse ínterim, o texto que se segue é intitulado: Sabe aquele que ri no
velório? Não é ele. A palavraelereescreve humorista, que, por sua vez, também será reescrita
ao longo de praticamente todo o texto, tal como se observa a partir de (2):
(3) [...] quem nota a cena [...] o que se dá conta. O que vê a incongruência, percebe
o insólito, registra o inusitado, flagra a anomalia e registra o cômico.
V SENAL | 256 | UESB/2018
O trecho transcrito pode ser resumido pela expressão papel do humorista, pois o texto
faz uma reflexão sobre qual a função que esse profissional desempenha. Se ler é determinado
por diversão no título, e o conteúdo do texto apresenta, assim, uma reflexão sobre o papel do
humorista, diversão determina o papel do humorista. Com base nisso, temos o próximo DSD:
Quadro 3: DSD de Ler
LER ----- diversão├ papel do humorista
Fonte: Elaboração própria.
Pelo DSD, percebemos que diversão acaba sendo determinada semanticamente pelo
papel do humorista. Ou seja, refletir sobre como o humorista deve se portar é o próprio fim da
diversão.
Em ler é reflexão a palavra reflexão se articula semanticamente a ler. Logo após o título,
segue-se uma imagem retratando uma mulher com roupas e adereços que a faz com que se
pressuponha que ela pertença a elite. Ao descer uma escadaria com um tapete vermelho, ela é
apoiada por cinco mulheres negras com trajes de empregada doméstica. Abaixo da imagem,
segue um diálogo: “- Querida, você está um luxo! Aonde vamos? - Participar de uma passeata
contra a concentração de renda e a discriminação social”.A imagem, no entanto, não vem
acompanhada de trechos explicativos de seu conteúdo. Apenas ela compõe, por si,o que seria a
reflexão.
Em Ler é um Prazer, apresenta-se um texto intitulado Sofrer por Antecipação. O texto
constrói sentidos de uma garota vestida de maneira elegante para ir a algum baile e segue com
frases como Se ninguém dançar comigo, depois de deixar meus jeans folgados, pico este luxo
todo e me jogo com ele no lixo. Após o fim do texto, já se inicia outra sessão no livro.A questão
do prazer não é explorada ou apresentada.
O que se destaca é que, por se tratar de uma ferramenta de ensino, o livro não propõe
qualquer prática além da leitura pela leitura dos textos – que abordam diversas questões, desde
as da adolescência de uma garota até críticas sociais.
Considerações Finais
Em Ler é diversão, não há qualquer fragmento que proporcione ao que o título alude.
Em Ler é reflexão também há ausência de um encaminhamento para a leitura da charge. O
mesmo se dá em Ler é um prazer. Ademais, não se explica a proposta de leitura para o aluno,
ou seja, não há fatores que o convide a ler. Esses apontamentos nos fazem perceber que o livro
didático não contribui para romper com os estereótipos existentes em torno da leitura.
V SENAL | 257 | UESB/2018
Ao observar as partes do livro – que supostamente deveriam extrapolar os limites da
leitura do texto pelo texto, criar emoções, divertir, etc – percebe-se que os textos são trabalhados
de maneira conteudística, ou, em outras palavras, sem apresentar qualquer sugestão de reflexão
ou provocação que cause qualquer emoção tal qual o manual do professor propõe.
Portanto, conclui-se que ler é diferente de ler, conforme DSD.
Quadro 4: DSD de Ler
LER
____________________________________
LER
Fonte: Elaboração própria.
Ler na proposta do livro seria explorar os textos a fim de atingir emoções e sensações,
criando novos paradigmas para a prática da leitura, ao passo que ler na prática – no livro
didático – não oferece essas possibilidades ao estudante/leitor visto que apresenta o texto sem
que se direcionem quaisquer reflexões a partir da leitura: são textos soltos. Nesse sentido, o
objetivo proposto de ler como prazer, diversão ou reflexão não é atingido. Resta ao professor a
tarefa de perceber e preencher tal lacuna.
Referências
CEREJA, William Roberto, MAGALHÃES, Thereza Cochar.(2009) Português: linguagens 8º
ano. Manual do professor. 5ª ed. Reform – São Paulo: Atual. (Obra Completa)
GUIMARÃES, Eduardo. (2002) Semântica do Acontecimento. Campinas-SP: Pontes (Obra
completa)
_____. (2007) Domínio semântico de determinação. In: Guimarães, E. & M.C. Mollica. A
palavra. Forma e sentido. Campinas, Pontes. (Capítulo de Livro)
______. (2009) A enumeração: funcionamento enunciativo e sentido.Cadernos de Estudos
Linguísticos, Campinas, v. 51, n. 1, p. 49-68. (Capítulo de Livro)
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CONTRIBUIÇÕES DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ALFABETIZAÇÃO E
LETRAMENTO PARA A FORMAÇÃO DAS CURSISTAS
Cleci dos Santos Monteiro106
Resumo: Este estudo tem como objetivo analisar as contribuições do Curso de Especialização em Alfabetização
e Letramento para a formação das cursistas. O referido curso foi realizado na Universidade do Estado da Bahia
(UNEB), no Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias - Campus XVII, situado em Bom Jesus da Lapa -
BA. A opção metodológica foi pela abordagem qualitativa e, como recurso de coleta de dados foram utilizadas
entrevistas semiestruturadas e análises de documentos, incluindo memorial de cursistas e documentos do curso.
As participantes da pesquisa foram 04 cursistas. No decorrer da pesquisa as participantes apresentaram suas
motivações, expectativas e contribuições do curso para a construção de suas práticas pedagógicas. Para as
entrevistadas o curso proporcionou significativas reflexões sobre as especificidades em relação à aquisição da
leitura e escrita pela criança. O que se conclui entre expectativas e aprendizados é que o propósito foi alcançado.
Para nortear dialoguei com autores como Freire (2018), Bakhtin (2013), Street (2014), Rojo (1997), entre outros
que contribuíram na realização das reflexões nesta pesquisa107.
Palavras chaves: Alfabetização e letramento. Formação continuada. Prática pedagógica
Resumen: Este estudiotiene como objetivo analizar las contribuciones del Curso de Especialización em
Alfabetización y Letramento para laformación de las cursistas. Este curso fue realizado em la Universidaddel
Estado de Bahía (UNEB), enel Departamento de Ciencias Humanas y Tecnologías - Campus XVII, situado en
Bom Jesus da Lapa - BA. La opción metodológica fue por elabordajecualitativo y, como recurso de recolección
de datos, se utilizaron entrevistas semiestructuradas y análisis de documentos, incluyendo memorial de cursistas
y documentos del curso. Las participantes de laencuestafueron 04 cursistas. Enel transcurso de lainvestigaciónlas
participantes presentaron sus motivaciones, expectativas y contribucionesdel curso para laconstrucción de sus
prácticas pedagógicas. Para las entrevistadas el curso proporcionó significativas reflexiones sobre las
especificidades enrelación a laadquisición de lalectura y escritura por elniño. Lo que se concluye entre
expectativas y aprendizajes es que el propósito ha sido alcanzado. Enel caso de lasmujeres, lamayoría de lasveces,
lamayoría de lasveces, lamayoría de lasveces,
Palavras chaves: Alfabetización y letramento. Formación continua. Práctica pedagógica
Apresentação
Este trabalho analisa as contribuições do Curso de Especialização em Alfabetização e
Letramento, considerando a importância do referido curso para a formação docente. A
especialização foi realizada na Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus XVII,
situado na cidade de Bom Jesus da Lapa – BA. A compreensão é que a realização do curso de
pós-graduação, em que foi possível refletir diversas perspectivas teóricas e metodológicas sobre
alfabetização e letramento, tenha proporcionado contribuições para o processo formativo das
cursistas.
106Graduada em Pedagogia pela UNEB. Aluna do curso de Especialização em Alfabetização e Letramento pela
Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Departamento de Ciências Humanas e Tecnologia - DCHT, Campus
XVII, Bom Jesus da Lapa-BA. 107 Artigo apresentado à Universidade do Estado da Bahia – UNEB, DCHT, Campus XVII – Departamento de
Ciências Humanas e Tecnologia, Bom Jesus da Lapa-BA, como requisito parcial para a conclusão do curso de
especialização em Alfabetização e Letramento, sob a orientação da professora Ma. Elvina Perpétua Ramos
Almeida.
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Consta no Projeto do curso que um dos fatores que motivou a oferta da pós-graduação
lato sensu foi a constatação de que os profissionais que atuam nos anos inicias têm dificuldade
de compreender as especificidades dos processos de alfabetização e letramento. Assim, o
objetivo geral desta pesquisa foi analisar as contribuições do curso de Especialização de
Alfabetização e Letramento para a formação das cursistas.
Visando a análise do problema: quais as contribuições do curso de Especialização de
Alfabetização e Letramento para a formação das cursistas? Para um melhor entendimento da
pesquisa foram formuladas as seguintes questões norteadoras: O que significou para as cursistas
a realização do Curso de Pós-Graduação em Alfabetização e Letramento? A proposta do curso
cumpriu seus objetivos almejados?
Com foco no tema em estudo, a opção foi pela pesquisa qualitativa, por ser considerada
uma abordagem flexível, que permite inserir aspectos culturais e sociais, indenitários e
experiências dos indivíduos que fazem parte da pesquisa. Os instrumentos utilizados para a
coleta de dados foram: análise documental e a entrevista semiestruturada.
A pesquisa contou com a participação de 04 cursistas, uma delas trabalha na Secretaria
de Educação de Bom Jesus da Lapa, duas atuam em sala de aula e a outra, embora não atue na
área de educação, sempre se encontra envolvida com projetos de formação de jovens e adultos.
A escolha das participantes teve como critérios a disponibilidade em participar e o
envolvimento no decorrer do curso. Foi escolhido o memorial, como um gênero para o registro
das cursistas, onde puderam anotar as suas reflexões sobre o curso, expectativas, emoções,
sucessos e dificuldades.
O artigo apresenta três sessões na primeira a apresentação, na segunda, um breve diálogo
entre teóricos e a proposta do curso, na terceira parte contamos com a análise dos dados e, por
fim, realiza-se uma reflexão final do trabalho.
Alfabetização, Letramento e perspectivas da pós-graduação
A proposta da pós-graduação lato sensu em Alfabetização e Letramento apresenta em
seu objetivo geral, já destacado no item anterior, que o curso se fundamenta nas teorias do
socioconstrutivismoe focaliza a formação continuada levando em consideração a alfabetização
e letramento como dois processos indissociáveis. Segundo Rojo (1997), a perspectiva
socioconstrutivistavygotskiana de ensino/aprendizagem tem como ponto fundamental a
interação social e, no caso da escola, destacam-se as intervenções pedagógicas na construção
dos conhecimentos e no domínio da linguagem escrita.
V SENAL | 260 | UESB/2018
Sob o ponto de vista do ensino/aprendizagem, considerar a linguagem como interação é
evidenciar entendimento do seu caráter social, aspecto que ganha destaque nas atuais pesquisas
sobre alfabetização e letramento. De acordo com Koch (1997, p. 09-10), a linguagem como
lugar de interação “possibilita aos membros de uma sociedade a prática dos mais diversos tipos
de atos, que vão exigir dos semelhantes reações e/ou comportamentos, levando ao
estabelecimento de vínculos e compromissos anteriormente inexistentes”. Esse entendimento
privilegia como característica primordial o aspecto dialógico da linguagem.
Com base no exposto, valorizar o aspecto dialógico da linguagem (BAKHTIN, 2013),
significa reconhecer a sua natureza social, isto é, considerar que o indivíduo sofre influência
significativa do contexto histórico, social, cultural etc. que vivencia. Portanto, ao mesmo tempo
em que o indivíduo atua como produtor de linguagem, está também se construindo como ser
humano.
Essa perspectiva se insere na concepção de prática pedagógica dialógica, para a qual
sempre há troca de saberes. Para Kleiman (2006), é fundamental formar professores como
agentes de letramento, isto é, que possa inserir os alunos nas práticas de letramento em contexto
escolar.
Na proposta do cursoé descrito que os letramentos na maioria das vezes ainda não são
incorporados na cultura docente e na cultura da escola.,No Projeto do curso (UNEB – DCHT/
Campus XVII, 2015, p. 15) foi constatado o seguinte:
As professoras das escolas afirmam que “aprenderam a alfabetizar na prática”, na
relação com as crianças e com os colegas, a partir das memórias de como foram
alfabetizadas e que não se lembram de ter estudado nada específico da área no curso
de graduação.
Ao analisar, fica a percepção de que as práticas pedagógicas de docentes, em muitos
casos, são pautadas nas experiências de infância e na experimentação contabilizando os acertos
e erros no processo de ensino-aprendizagem.
Revelando os olhares das cursistas sobre a relevância do curso
Ao longo do curso, várias experiências vão sendo (re) construídas pelos cursistas as
quais formam relatadas desde a as expectativas e as contribuições
Entre as expectativas das cursistas é relatado o seguinte: Adriana relatou que sempre teve o
interesse em atuar como professora alfabetizadora; Marianarra que: “poder entender os
processos e especificidades da alfabetização no momento era importante, por permitir ter mais
V SENAL | 261 | UESB/2018
segurança ao realizar as formações dos professores participante do PNAIC”.a cursista relata
que desde 2012 faz parte da organização das formações do PNAIC, a ocasião lhe permitiu
conviver com as teorias e práticas dos professores da rede Municipal de Bom Jesus da Lapa lhe
servindo de estimulo para participar da pós-graduação.
Alice considera que a motivação para enfrentar as adversidades e fazer parte da
Especialização em Alfabetização e Letramento foi ser consciente que quem atua na área da
educação não pode parar de estudar, e ainda considerou as palavras de Freire (2018) o
conhecimento do professor não se encontra pronto e acabado.
Desvelando as contribuições do curso para as práticas pedagógicas das cursistas
Prática pedagógica é aqui entendida dentro de uma concepção dialógica, na qual sempre
há troca de saberes, o ato de ensinar é entendido como algo muito mais complexo do que
transferir conhecimento, é algo que envolve intencionalidade de ensino, escolhas
metodológicas.
Tecendo algumas reflexões registradas pelas cursistas: Adriana relata que todas as
vivências do curso relacionadas as disciplinas, as trocas de experiências, os conhecimentos
teóricos, as discussões, as reflexões proporcionaram uma atitude crítico-reflexiva diante da sua
prática docente.
A partir das reflexões oportunizadas, possibilitou superação de preconceitos
relacionadas às práticas tradicionais, reconhecer as reais necessidades da
alfabetização, perceber o aluno como nosso guia, para sabermos enquanto
alfabetizadores que caminhos devemos andar (fragmento retirado do memorial de
Adriana, 10/01/2018).
Para Adriana, as reflexões na docência são aspectos importantes para mudança de
atitudes, na busca de novos conhecimentos, para rever as metodologias em uso. A cursista
Maria considerou que a pós-graduação lhe trouxe mais segurança para discutir, para apresentar
aos professores novas contribuições, novos conceitos, novos pontos de vistas tanto da
alfabetização, como dos métodos de alfabetização.
Para Aline A cursista denota que no decorrer do curso houve um aprendizado muito
significativo, passou a compreender que o alfabetizador precisa ter o domínio dos conceitos
inerentes a alfabetização e considerou ainda que antes do curso não tinha esses conceitos
solidificados. A cursista ainda afirma “ter consciência desses conceitos fica mais fácil ter
domínio da prática pedagógica”.
V SENAL | 262 | UESB/2018
Alice considerou que ao longo do curso descobriu que em algumas práticas de
alfabetização, as atividades são extremamente mecânicas e tendem, a engessar o processo de
aquisição da escrita pela criança e que esse processo pode ganhar mais leveza se o professor
entender os conhecimentos que envolvem o processo de alfabetização.
Com relação a expectativas das cursistas ao procurarem participar do curso de
Especialização em Alfabetização e Letramento foi apresentado no memorial da cursista
Adriana:
As contribuições do curso foram inúmeras. Entre tantas descobertas permiti-me
perceber o processo de alfabetização e letramento como procedimentos indissociáveis
e indispensáveis para a construção do conhecimento da lecto-escrita e seu uso social;
propiciou analisar as diferentes dimensões da alfabetização e a apropriação da
linguagem escrita; permitiu compreendemos os pressupostos teórico-epistemológicos
e consequências metodológicas nas concepções de alfabetização ao longo da história
da alfabetização; deixou compreender os métodos e processos de alfabetização
(fragmento retirado do memorial de Adriana, 10/01/2018).
A especialização possibilitou crescimento e amadurecimento importantes para a prática
docente, permitindo-lhe construir uma prática pedagógica respaldada na consciência e na
segurança do seu fazer pedagógico.
Alice apresenta em seu memorial que as contribuições foram inúmeras, permitindo lhe
realizar uma reflexão acerca do processo de aquisição da leitura e escrita das crianças, bem
como suas fases e evoluções:
Para um profissional alfabetizador, conhecer os níveis de aquisição da escrita e saber
como trabalhar com as crianças nessa fase da aprendizagem é fundamental (entrevista
da cursista Alice, 05/03/2018).
Com isso, foi possível evidenciar que, ao longo do curso, os professores exploraram as
facetas do processo e foram apresentando como a própria cursista relata o processo de
alfabetização e letramento em seus desdobramentos para melhor compreender o
desenvolvimento como um todo.
Algumas considerações
No decorrer das reflexões tecidas neste artigo, considerando as características do curso
e as considerações das cursistas sobre a pós-graduação, ao realizar uma análise das falas das
cursistas o que se evidencia que os motivos para a procura pelo curso circundam em torno das
expectativas de compreender os processos envolvidos na aquisição da leitura e escrita pela
criança e como atuar de forma crítica no desenrolar do processo de alfabetização.
V SENAL | 263 | UESB/2018
O que se evidenciou na pesquisa é que todas as cursistas consideram que o curso foi
decisivo para suas práticas pedagógicas, foram apreendidos conceitos importantes sobre os
processos de aquisição da escrita, o curso ainda contou com materiais pedagógicos importantes,
transformando em momentos ricos de trocas de experiência e de conhecimento.
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V SENAL | 264 | UESB/2018
PROPOSTA DE INSTRUMENTO PARA RASTREIO DE DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM EM ALUNOS DAS SÉRIES INICIAIS
LucimauroPalles da Silva108
Ronei Guaresi 109
Resumo: Apresentamos nesta comunicação uma proposta de rastreio das dificuldades de aprendizagem na
aquisição da leitura e escrita com possibilidade de reduzir os principais problemas que podem ser sinalizados pelo
professor durante o acompanhamento do desempenho do aluno, entendendo este professor como ator importante
no processo de identificação precoce. No primeiro momento, é feita uma apresentação da Teoria dos Sistemas
Dinâmicos que embasa a elaboração deste instrumento, uma vez que seus critérios de avaliação dos itens podem
sofrer variações ao longo do ano. No segundo momento é apresentado o instrumento composto de vinte e três itens
e cinco critérios de avaliação do aluno, este instrumento é comparado aos resultados da entrevista de anamnese
realizada pelo profissional responsável pela avaliação junto ao responsável pelo aluno. Finalizando, será
apresentado como este instrumento tem colaborado na melhora da aprendizagem de muitas crianças que procuram
por acompanhamento psicológico com uma descrição genérica e na maioria dos casos, esta dificuldade poderia ser
descrita como de “ensinagem” que não favorece a emergência do desenvolvimento peculiar de cada aluno,
respeitando suas particularidades, em especial seu contexto familiar e social. Vale ressaltar que é um instrumento
de rastreio e não de diagnóstico, que pode servir a outros profissionais que trabalham na avaliação e
acompanhamento de crianças com dificuldades de aprendizagem.
Palavras-Chave:Rastreio, Aprendizagem, Leitura, Escrita; Teoria dos Sistemas Dinâmicos.
Instrument proposal for screening learning difficulties in students in students
Abstract: We present in this communication a proposal to track learning difficulties in the acquisition of reading
and writing with the possibility of reducing the main problems that can be signaled by the teacher during the
monitoring of student performance, understanding this teacher as an important actor in the process of early
identification. In the first moment, a presentation of the Theory of Dynamic Systems is presented that bases the
elaboration of this instrument, since its criteria of evaluation of the items can undergo variations throughout the
year. In the second moment, the instrument is composed of twenty-three items and five evaluation criteria of the
student, this instrument is compared to the results of the anamnesis interview conducted by the professional
responsible for the assessment with the student responsible. Finally, it will be presented how this instrument has
helped to improve the learning of many children who seek psychological accompaniment with a generic
description and in most cases, this difficulty could be described as "teaching" that does not favor the emergence
of the peculiar development of each student, respecting their particularities, especially their family and social
context. It is worth noting that it is a screening tool and not a diagnostic tool, which can serve other professionals
who work in the assessment and follow-up of children with learning difficulties.
Keywords: Tracing, Learning, Reading, Writing; Theory of Dynamic Systems.
Introdução
Ler e escrever sempre foram considerados grandes desafios para alunos em qualquer
fase do processo de escolarização. Mesmo sabendo quedevem aprender a escrever, é muito
108Psicólogo (CRP-03/10910), Especialista Neuropsicologia; MBA em Gestão de Pessoas, Discente do Mestrado
em Linguística do PPGLin/UESB; Vitória da Conquista, Bahia – Brasil; E-mail: [email protected]
109Doutor em Letras e Mestre em Linguística Aplicada pela PUC-RS; Docente do DELL e do PPGLin/UESB;
Vitória da Conquista, Bahia – Brasil; E-mail:[email protected]
V SENAL | 265 | UESB/2018
importante que aprendam o que é a escrita, asmaneiras possíveis de escrever, a arbitrariedade
dos símbolos, a convencionalidadeque permite a decifração, as relações variáveis entre letras e
sons que permitem aleitura. É preciso saber o processo de aquisição da leitura e da escrita.
Porisso, ninguém escreve ou lê sem motivo, sem motivação.
A Teoria dos Sistemas Dinâmicos pela sua abrangência apresenta-se como uma das mais
indicadas para o estudo das dificuldades de aprendizagem, que tem várias modalidades de
apresentação, uma vez que este não apresenta de uma única forma e atinge várias etapas do
processo de escolarização. Esta teoria é entendida como um novo paradigma na ciência uma
vez que oferece conceitos que nos ajudam a entender diferentes fenômenos em diferentes áreas
do conhecimento, inclusive a Linguística Aplicada. Dinamicidade, auto-organização, e
informação aparecem como ligadas, pelo menos parcialmente, tanto em aspectos conceituais
como práticos e teóricos.
Holland (1995, p. 6) apresenta os sistemas dinâmicos como "compostos por grande
número de elementos ativos". Esses elementos se adaptam e mudam seus comportamentos por
causa de suas interações, ou seja, "qualquer elemento no sistema influência e é influenciado por
outros elementos" (Cilliers, 1998: 3).
Como ponto de partida dessa compreensão, os textos de Larsen-Freeman (1997, p. 141),
apresentam "semelhanças surpreendentes entre a ciência do caos/sistemas dinâmicos e a da
linguagem". Neste estudo são apresentados vários argumentos que ajudam na compreensão da
linguagem como um fenômeno dinâmico, complexo e não-linear.
Em parceria com Cameron (2008) Larsen-Freeman propuseram trajetórias de aplicação
destes conceitos nos estudos da língua e apresentaram elementos de investigação e implicações
práticas para a investigação da linguagem e seu desenvolvimento.
O sistema de escrita como um sistema dinâmico e complexo pela necessidade de
interações e adaptações necessárias para que se chegue ao resultado esperado com ou sem êxito.
Esses sistemas dinâmicos possuem variáveis que interagem com as estruturas que compõem
cada os subsistemas linguísticos, que pode ser de ordem fonética, semântica, morfológica,
fonológica e sintática são de natureza interdependente, sendo que a mudança em qualquer uma
delas pode resultar em mudanças nas demais.
As línguas podem ser explicadas a partir do entendimento dos conceitos de sistemas
dinâmicos. Five GracesGroup (2008, p. 1), nos oferece uma descrição completa linguagem
como um sistema complexo adaptativo:
V SENAL | 266 | UESB/2018
O sistema é composto por múltiplos agentes (os falantes na comunidade de fala)
interagindo uns com os outros. O sistema é adaptativo, ou seja, o comportamento dos falantes
é baseado em suas interações anteriores, e as interações atuais e passadas, em conjunto,
alimentam o comportamento futuro. O comportamento do falante é a consequência de fatores
concorrentes que variam de restrições perceptuais a motivações sociais. As estruturas da língua
emergem dos padrões de experiências inter-relacionadas, interação social e mecanismos
cognitivos.
Herdina e Jessner (2000) afirmam que, em determinado momento do processo de
aquisição, os esforços necessários para manter um sistema linguístico sobreporão os esforços
disponíveis para a sua aprendizagem. Como a interdependência entre os sistemas, pode se
conceber todos os sistemas linguísticos e os processos de aquisição de todas as línguas como
um único sistema, estabelecendo padrões convergentes e divergentes.
Baia (2013) afirma que o numa perspectiva dinâmica é importante o estudo da interação
que não pode ser ignorada, entendendo que a relação entre ambiente e indivíduo pode se
constitui um sistema dinâmico pela possibilidade de identificar partes que se relacionam de
alguma maneira e avançam ao longo do tempo.
Segundo Cagliari (1997): “A escrita seja ela qual for, tem por objetivoprimeiro a leitura.
A leitura é uma interpretação da escrita que consiste em traduziros símbolos escritos em fala.
Alguns tipos de escrita se preocupam com a expressãooral e outros simplesmente com a
transmissão de significados específicos, quedevem ser decifrados por quem é habilitado.”
Para Dehaene (2012), a dificuldade no aprendizado da modalidade escrita da língua,
entre outros aspectos, situa-se na capacidade de as pessoas realizarem o processo de reciclagem
neuronal. Para o autor, diferentemente da modalidade oral, o aprendizado de sistemas de escrita
não é um processo natural, pois a escrita é invenção cultural recente na histórica de nossa
espécie, a qual não houve tempo para alterações filogenéticas no nosso sistema nervoso central.
As crianças aprendemreflexivamente porque alguma pessoa as coloca em situação de
refletir, logo o educador é o ator principal ativo da aprendizagem de seusalunos (MARUNY,
2000), uma vez que auxilia os educandos com e semdificuldade na leitura e na escrita, trabalhar
a partir do pensamento de cada uma,considerando, com clareza, o que cada um pode aprender
em cada caso, ou seja,realizar atividades que trabalhem tanto com os que já sabem ler e escrever,
bemcomo os outros.
O objetivo do ensino deve ser que todos possam trabalharreflexivamente e construir o
pensamento coletivamente, sem que ninguém sejamarginalizado ou deixado de lado.
V SENAL | 267 | UESB/2018
Lamentavelmente, muitos professoresdesconhecem as causas das dificuldades de aprendizagem
da criança e as rotulamcomo fracassadas e preguiçosas. Ressalta-se que em muitos casos, a
família não participa de forma decisiva do processo educacional do educando, ampliando as
dificuldades aquisição da leitura e da escrita.
Segundo Maruny (2000): “Ler também serve para controlar e lembrar do
queescrevemos. Quando perguntamos à criança o que é que ela queria escrever,pedimos-lhe
que leia seu escrito. A própria criança pode precisar ler o que jáescreveu para avançar, tal como
nós adultos fazemos ao repassar nossos textosenquanto escrevemos. Esta atividade traz
informação decisiva para a criança.”
De acordo com Cagliari (1997): “para facilitar a leitura, a sociedade achoupor bem
decidir em favor de um modo ortográfico de escrever as palavrasindependentes dos modos de
falar dos dialetos, mas que pudesse ser lido por todosos falantes, cada qual ao modo de seu
dialeto”.
Assim, apresentamos a proposta de instrumento que rastreia as principais condições de
aprendizagem de crianças com atraso escolar, que faz parte da pesquisa de mestrado que busca
investigar o fenômeno do espelhamento em escolares com defasagem/atraso escolar na relação
idade/série que apresentavam desempenho alfabético abaixo do esperado.
Desenvolvimento
Este instrumento foi concebido a partir da experiência na prática clínica em um Núcleo
Ampliado de Saúde da Família com alta demanda pra atendimento de crianças com dificuldades
de aprendizagem advindas de escolas da rede pública e famílias de baixa renda de um município
do Sudoeste da Bahia, hoje replicado em outro Projeto de Monitoramento da aprendizagem do
Ciclo de Alfabetização.
Na concepção do instrumento, foram várias mudanças até o que se tem hoje com auxílio
do Professor Orientador desta pesquisa, Dr. Ronei Guaresi. No início eram realizadas
entrevistas com os pais, que na maioria das vezes supervalorizavam as qualidades dos filhos,
negando suas dificuldades, mesmo que estas apareçam no contexto familiar, e do outro lado os
professores através de relatórios superficiais não conseguiram expressar de forma clara qual a
demanda a ser trabalhada com o aluno encaminhado para o acompanhamento psicológico. Por
V SENAL | 268 | UESB/2018
se tratar de um serviço público e pelas dificuldades e poucos recursos, foi pensado nos
principais componentes comportamentais envolvidos no processo de aprendizagem da criança.
O instrumento é composto por 23 itens descritos abaixo, julgado pelo professor através
de cinco critérios a saber, 01: quase nada – que seria praticamente a ausência de resposta por
parte do aluno; 02: pouco - resposta pequena com maior dependência de um agente externo
para realizar e mesmo assim realiza de forma insatisfatória; 03: mediano – consegue realizar
com ajuda de terceiro; 04: bastante – consegue ter desempenho esperado para sua idade/séria;
05: muitíssimo – desempenho acima da média.
Os itens são descritos seguidos de sua descrição: 1) Realiza as atividades propostas:
neste item avalia a capacidade do aluno na realização das atividades propostas em sala de aula;
2) Participa das atividades em grupos: avaliação da interação com os colegas na realização de
tarefas; 3) Demonstra Iniciativa: avalia o quanto o aluno tem iniciativa em especial nas
atividades escolares; 4) É autônomo nas atividades escolares: a autonomia é uma dos aspectos
importantes no processo de aprendizagem, uma vez que a criança que não tem autonomia,
apresenta maior dependência na aquisição de novos conceitos; 5) Traz prontas tarefas de casa:
as atividades extraclasse também é outro elemento importante, uma vez que demonstra o quanto
a criança consegue aprender fora do ambiente escolar; 6) É capaz de prestar atenção: atenção
é uma condição para aprender, crianças que tem dificuldade atencional, tem maior dificuldade
na aquisição da leitura e escrita; 7) Lembra do que foi ensinado ontem: a memória de curto
prazo é aspecto importante, pois muitas crianças não recordam se quer o que foi dito no dia
anterior na escola, tendo com consequências a tarefas não realizada e dificuldade em assimilar
o conteúdo seguinte; 8) É organizado: organização aqui deve ser entendida o quanto este aluno
consegue ser capaz de encontrar suas tarefas e utensílios necessários no espaço escolar; 9)
Limpeza e asseio: este item avalia de forma complementar a organização, e apresenta alguns
traços comportamentais que podem auxiliar na compreensão do contexto familiar; 10)
Raciocínio lógico: o quanto a criança consegue pensar de forma rápida, tomada de decisões;
11) Pinta figura dentro dos limites: a pintura também revela traços da personalidade, bem como
as cores utilizadas com maior proporção são importantes; 12) Participa de brincadeiras: crianças
com dificuldades de aprendizagem apresentam resistência em participar de jogos recreativos e
brincadeiras por questões emocionais ou mesmo medo de se tornar motivo de pirraças; 13)
Canta e dança: a música exerce um fascínio nas crianças e aquelas que tem maior dificuldade
de aprendizagem, mesmo querendo não conseguem expressar de forma completa; 14) Timidez:
este item é muito importante, pois pode revelar ainda o quanto esta criança pode não conseguir
V SENAL | 269 | UESB/2018
expressar em especial seu pouco entendimento em determinado conteúdo e por este motivo ser
considerada como alguém que não aprende; 15) Família na escola: a família é parte integrante
do processo de aprendizagem da leitura e da escrita, quando esta se faz presente no contexto
escolar há maior probabilidade de obter resultados melhores na aprendizagem do aluno; 16)
Desempenho em escrita: este item avalia como é a criança na sua forma de escrever; 17)
Desempenho em leitura: avaliação da forma como a criança expressa a leitura em silencia e na
expressão oral; 18) Coordenação motora fina: a coordenação motora é um item que auxilia na
compreensão da dificuldade da criança, pois nela alguns aspectos da personalidade como
agressividade podem aparecer; 19) É frequente à aulas: crianças com dificuldades de
aprendizagem tendem a faltar muito nas aulas, o que dificuldade e atrasa a mais a sua
aprendizagem; 20) Fala perfeitamente compreensível: a fala é uma das formas de expressão que
denota o quanto este aluno evolui, respeitando sua idade e condições de aprendizagem; 21)
Impressão sobre si mesma: a imagem dessas crianças com dificuldades de aprendizagem quase
sempre é menosprezada seja pelo seu atraso, seja pela baixa autoestima ou mesmo estigmas que
são facilmente usados pelo professor e reproduzidos pelos colegas; 22) Aparenta ser bem
alimentada: estudos apontam a importância da alimentação para a assimilação de conteúdo, em
muitas situações, crianças vão à escola sem ter alimentado e tem como motivação a refeição
disponibilizada na escola; 23) Consegue concluir as atividades: crianças com dificuldades de
aprendizagem tem maior dificuldade em concluir as atividades, seja pela incompreensão do que
é cobrado nas atividades, seja pela crença de que não vai conseguir realizar a referida atividade
proposta.
Este é um projeto piloto com perspectivas de melhorar o instrumento que ainda está em
fase experimental, neste momento está em fase de execução um estudo piloto no Projeto de
Monitoramento do Ciclo de Alfabetização no Município de Ribeirão do Largo, sob a
Coordenação do Professor Ronei Guaresi, Projeto este de extensão da Universidade Estadual
do Sudoeste de Bahia. Com base nos resultados iniciais alguns alunos passarão por avalições
quanto aos itens com desempenho mediano, pouco e quase nada.
Ressalta-se que como a utilização do instrumento pelo professor pode haver alguns
equívocos no preenchimento, por ser um rastreio, o profissional de psicologia irá identificar os
artefatos, em especial do escopo da Neuropsicologia, que poderão ser aplicados na avaliação
desses alunos, além da entrevista com os pais e indicação de atividades que possam ser
realizados pelo professor ou mesmo auxiliar de turma.
V SENAL | 270 | UESB/2018
Os dados estão sendo analisados qualitativamente e quantitativamente, de forma
descritiva e correlacional, na primeira, com ênfase nas entrevistas com pais e/ou responsáveis
pelo aluno, na segunda, paralelos que permitem ter uma visão mais ampla da situação do aluno
na visão do professor, da família e do próprio aluno com vistas a proposição do desenho de
intervenções.
Resultados e Análise
Em relação à eficácia do instrumento de rastreio, não foi encontrada diferença
significativa, entre os dois municípios onde já foi aplicado, por terem características
semelhantes no processo educacional, porém, pelos anos em aplicação pode ser afirmar que
quando se consegue rastrear as dificuldades de aprendizagem há uma maior probabilidade de
antever problemas que podem comprometer o processo de aquisição da leitura e escrita.
Conclusões
Os resultados, mesmo sem publicação anterior, sugestiona-se que quando se utiliza
instrumentos de rastreio tem maior eficácia na tomada de decisão e contando com o maior
número de atores envolvidos no processo de aprendizagem, entendendo que a família e a escola
forma uma via de mão dupla, onde o aluno poderá ser acompanhado de forma mais ampliada,
sem desmerecer as avaliações, a exemplo da avaliação neuropsicológica.
Espera-se que o presente estudoauxilie em experimentos futuros no que se refere ao
rastreio de traços de dificuldades de aprendizagem como proposição metodológica importante
em especial nos espaços onde é limitado o acesso desses alunos à profissionais que tenham
condições de avaliar e reabilitar estas crianças naquilo que limita sua aprendizagem.
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V SENAL | 272 | UESB/2018
ANÁLISE DOCUMENTAL DE LIVRO DIDÁTICO
Camilla Maria Messias Santos110
Beatriz Silva Santos ²
Tatiane dos Santos Silva³
Resumo: A presente pesquisa trata-se de uma análise documental sobre o livro didático do 1º ano do Ensino
Fundamental com base nos estudos feitos em sala de aula e nas fundamentações teóricas sobre os métodos
tradicionais de alfabetização, especificamente sobre o método das cartilhas. A análise foi realizada pelas
discentes do V semestre do curso de Pedagogia, turno matutino, da Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia – Campus de Jequié, como avaliação da disciplina de Alfabetização II, ministrada pela professora
Nandyara Souza Santos Sampaio.O livro escolhido foi o “Novo Girassol – Saberes e fazeres do campo” da
editora FTD, sendo selecionada a I unidade da obra Letramento e Alfabetização das autoras Isabella
Carpaneda e Angiolina Bragança. Essa pesquisa tem como objetivo observar os aspectos gerais, a
cartilha e a fala (oralidade), a cartilha e a escrita, a cartilha e a leitura, assim como possíveis
problemas que podem ser encontrados no material. De acordo com o estudo bibliográfico desenvolvido,
é possível mostrar qual a realidade dos livros didáticos e as dificuldades encontradas com os problemas
apresentados pelo recurso.Para o embasamento teórico se utilizou autores como Luiz Carlos Cagliari,
Onaide Schwartz Mendonça e Olympio Correa Mendonça. O método utilizado teve a combinação de dois
tipos de pesquisa, a bibliográfica e a documental, pois utilizou-se uma fonte secundária para obtenção de
dados na realização da análise. Por fim, a pesquisa constatou muitas falhas no livro didático em estudo, no
que se refere aos principais elementos da alfabetização como a fala, a leitura e a e scrita e também
apresentou a necessidade da realização de novas estratégias metodológicas por meio do alfabetizador em
sua realidade, no intuito de tornar a aprendizagem cada vez mais significativa.
Palavras-Chave: Alfabetização; Escrita; Leitura; Livro didático; Oralidade.
Resumen: La presente investigación se trata de unanálisis documental sobre el libro didácticodel primer
año de laEnseñanza Fundamental con base enlosestudios realizados enel aula y enlasfundaciones teóricas
sobre los métodos tradicionales de alfabetización, específicamente sobre el método de lascartillas. El
análisisfue realizado por las discentes del V semestre del curso de Pedagogía, turno matutino, de
laUniversidad Estadual del Sudoeste de Bahía - Campus de Jequié, como evaluación de la disciplina de
Alfabetización II, impartida por laprofesoraNandyara Souza Santos Sampaio. El libro escogidofueel
"NuevoGirasol - Saberes y hacerdel campo" de la editorial FTD, siendoseleccionadala I unidad de la obra
Letramento y Alfabetización de las autoras Isabella Carpaneda y Angiolina Bragança. Esta
investigacióntiene como objetivo observar los aspectos generales, lacartilla y elhabla (oralidad),
lacartilla y la escritura, lacartilla y lalectura, así como posibles problemas que se pueden encontrar en el
material. De acuerdoconelestudio bibliográfico desarrollado, es posible mostrar cuál es larealidad de
loslibrosdidácticos y lasdificultades encontradas conlos problemas presentados por el recurso. Para
elbasamento teórico se utilizó autores como Luiz Carlos Cagliari, Onaide Schwartz Mendonça y Olympio
Correa Mendonça. El método utilizado tuvolacombinación de dos tipos de investigación, la bibliográfica
y la documental, pues se utilizó una fuente secundaria para laobtención de
datosenlarealizacióndelanálisis. Por último, lainvestigaciónconstatómuchasfallasenel libro
didácticoenestudio, enlo que se refiere a losprincipales elementos de laalfabetización como elhabla,
lalectura y la escritura y tambiénpresentólanecesidad de larealización de nuevasestrategias
metodológicas por mediodel alfabetizador ensurealidadconelfin de hacer que elaprendizajesea cada vez
más significativo.
Palabras Clave: Alfabetización;Escritura; Lectura; libro didáctico; Oralidad.
110(Graduanda em Pedagogia; UESB; Jequié, Bahia, Brasil; [email protected]).
² (Graduanda em Pedagogia; UESB; Jequié, Bahia, Brasil; [email protected]).
³ (Graduanda em Pedagogia; UESB; Jequié, Bahia, Brasil; [email protected]).
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Introdução
Os recursos utilizados no processo de alfabetização são os mais diversos, alguns já
sofreram muitas críticas e passaram a ser substituídos por novos modelos. Dentre eles
encontram-se as cartilhas que, apesar de não estarem sendo mais usadas em sua forma
integral, ainda estão presentes em muitos livros didáticos atualmente. A partir da análise
documental realizada, percebe-se que suas características são encontradas em cada etapa
da sua sequência didática apresentada. O livro em estudo é da turma de 1º ano do Ensino
Fundamental da Escola Municipal Corina Leal, que fica localizada no bairro Fazenda
Velha no município de Jequié-BA. Apesar de ser um livro voltado para alunos da zona
rural, poucas vezes é tratado sobre os saberes do campo. Esta é uma grande falha dos
recursos didáticos, pois isso dificulta o aprendizado dos alunos, uma vez que o
conhecimento abordado no material não se encontra contextualizado. As atividades
resumem-se na formatação do método sintético-analítico, mas não apresentam todos os
alfabetos com frequência, o que também prejudica os alunos no que se refere ao
reconhecimento dos diferentes tipos de letras existentes. Além disso, o livro também
possui um manual do professor, contendo orientações elaboradas para o alfabetizador, que
é outra característica do método das cartilhas. Por meio desse estudo, buscou-se apresentar
as falhas presentes no livro didático em estudo e também mostrar possibilidades de uma
estratégia pedagógica mais flexível para o processo de alfabetização.
Aspectos Gerais
De acordo com a análise, é possível observar uma sequência didática que praticamente
se repete nas demais unidades do livro. Primeiramente, é determinada uma temática para cada
uma delas e, logo após, apresentam uma estrutura na seguinte ordem: Leitura 1; De olho na
escrita; Texto puxa texto; Leitura 2; De olho na escrita; Produção; Texto puxa texto. Porém, no
capítulo 1 da I unidade, a qual escolhemos para análise, ocorre uma pequena diferença com
relação a essa sequência, pois enfatiza o ensino do alfabeto para depois partir para leitura e
escrita. Isso nos faz confirmar que o método utilizado na elaboração deste livro didático foi o
sintético-analítico, pois une as orientações dos dois métodos, trabalhando inicialmente o
alfabeto, em seguida o texto para leitura, partindo para a palavra, em que é destacado uma
determinada letra a ser estudada, separa-se essa palavra em sílabas e, por fim, são formadas
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novas palavras. Podemos perceber que os dois métodos são demarcados pela memorização e
mecanização, e acabam limitando os aspectos importantes da linguagem, tornando o
aprendizado muito superficial e não valorizando sua contextualização.O tipo de organização
que o método utiliza é o global, pois parte da unidade maior (texto), as que possuem significado,
rumo à menor (letra) para assim fazer sua análise (segmentação). Portanto, é possível afirmar
que, “as crianças aprendem a falar emitindo palavras inteiras e não pedaços delas, também
aprenderão a ler e escrever com mais facilidade palavras com significado (MENDONÇA;
MENDONÇA, 2007, p. 25)”.O alfabeto é apresentado pela letra bastão durante toda a I unidade.
Isso prejudica muito, pois o aluno acaba tendo acesso apenas a um tipo de letra, não explorando
as demais.São apresentadas inúmeras ilustrações coloridas, considerando sempre a diversidade
humana.
A cartilha e a fala (oralidade)
No livro didático em nenhum momento é mencionada a questão da variação linguística
e, por se tratar de exercícios simples, acredita-se que os alunos não terão dificuldades para
compreender a fala segundo a norma culta. No início das atividades, antes de tudo, é solicitado
que eles respondam oralmente para depois prosseguir com a escrita. No primeiro capítulo, por
exemplo, ocorre uma leitura de imagem, em seguida a socialização das interpretações sobre
essa leitura e por fim, faz-se a escrita do que foi trabalhado. Contudo, apesar de considerar a
fala, a variação linguística não é valorizada dentro dos gêneros textuais selecionados, pois não
são apresentadas as diferenças entre os dialetos, somente textos baseados na norma culta.
Portanto, podemos concluir que, “a variação linguística mostra como a língua é composta de
inúmeros dialetos, que apresentam semelhanças e diferenças. [...] A cartilha simplesmente
ignora tal realidade linguística da sociedade (CAGLIARI, 1998, p.83)”. O material didático
começa trabalhando no primeiro capítulo numa perspectiva pré-silábica, com a apresentação do
alfabeto e com o destaque das letras inicias nas atividades do segundo capítulo, porém com
ênfase nas sílabas.Vale ressaltar que essa didática se repete no decorrer das outras unidades,
explorando mais a consoantes do que as vogais.
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A cartilha e a escrita
Como citado anteriormente e analisando o material sob o aspecto da escrita, podemos
observar que a maioria das atividades se reduzem meramente a cópias e não explora tanto a
produção espontânea. Entretanto, apesar de utilizar-se constantemente da escrita, no início das
questões são abertos espaços para fala, dando uma oportunidade para o aluno expressar o que
pensa sobredeterminado assunto e então trabalhar a oralidade. A fala também tem um papel
muito importante no processo de alfabetização, contudo,
As pessoas esquecem-se de que sem a linguagem oral sequer poderia haver linguagem
escrita. A escrita requer decifração para ser entendida, e decifrar é devolver o texto
escrito à forma oral de realização da linguagem. É uma ilusão pensar que se pode
passar diretamente da decifração da escrita para o pensamento puro, sem passar pela
organização da linguagem humana, a qual, na sua essência mais profunda, nada mais
é do que a união de significados com sons da fala (CAGLIARI, 1998, p. 87).
O lugar da PALAVRA é trabalhado em dois movimentos simultâneos, das partes para
o todo, quando inicia o primeiro capítulo da unidade apresentando o alfabeto e parte para as
unidades maiores e, em seguida, do todo para as partes, que ocorre no segundo capítulo por
meio da apresentação dos fragmentos de textos e assim parte para as unidades menores. Ou
seja, é a representação do método sintético-analítico.Muitos dos exercícios ocorrem nessa linha
de cópia.O que torna mais evidente a reprodução de atividades de memorização e mecanização.
Na unidade que selecionamos para análise não é trabalho com tema relacionado à
natureza.Porém, o livro só trata dessa temática em uma unidade específica, que discute
abordagens sobre como plantar alimentos, criar animais, produzir artesanatos, processar
alimentos, etc. A função social e os usos dos sistemas de escrita são pouco explorados na
unidade, pois fala-se pouco sobre sua importância na sociedade, em nível de contextualização
e variedade linguística.
A cartilha e a leitura
O material ensina a ler da seguinte maneira, inicialmente apresenta o alfabeto completo,
em seguida as vogais e consoantes, depois já utiliza de palavras, trabalhando também pequenos
textos e outros gêneros textuais. No segundo capítulo são apresentados alguns fragmentos de
textos em que deles são retirados uma palavra específica para assim trabalhar suas sílabas e as
letras do alfabeto. Logo após essa análise, são produzidas novas palavras com as sílabas ou
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letras selecionadas. Nem todos os alunos têm contato com os gêneros que foram escolhidos, na
maioria das vezes quem oferece esse acesso é a escola, ou então em casa quando eles recebem
oportunidade. Em alguns exercícios, antes de partir para escrita é dado espaço ao aluno para
dizer sua opinião sobre aquele determinado assunto, para que se realize uma análise dos seus
conhecimentos prévios, para assim conhecer aquilo que eles já possuem ou não contato.
Afirma-se que,
O método das cartilhas não leva em conta, no entanto, que a maior dificuldade dos
alunos, sobretudo daqueles que não são falantes da norma culta em uso na sociedade,
é aprender que nem tudo o que eles falam fora da escola está de acordo com a norma
culta (CAGLIARI, 1998, p. 84)
Entretanto, devemos considerar que a fala não é trabalhada nesse material didático,
ficando restrita somente no diálogo inicial com o professor e os demais colegas, pois, quando
retornam para as atividades o foco central é a norma culta, sem considerar os diferentes dialetos.
Problemas que podem ser observados no material
De acordo com a análise que realizamos foi possível observar que o material adota
também o princípio da progressão controlada, variando o nível de dificuldade dos exercícios do
livro didático, visando o aumento do seu nível de complexidade. Porém, além de não considerar
o tempo de aprendizado de cada um, isso também gera grande desconforto a alguns alunos,
principalmente aos que estão iniciando na alfabetização, porque às vezes sofrem
constrangimento diante de algumas situações justamente pelo fato de ainda não compreenderem
nem dominarem a norma culta. Percebe-se que,
Como a cartilha é um livro que se propõe a tratar dos assuntos de maneira gradual,
quase sempre lidando com questões muito fáceis, pressupõe-se que os alunos
acompanhem sem dificuldade o uso da fala padrão, mesmo que em casa sejam falantes
de dialetos que apresentam enormes diferenças com relação ao dialeto da escola
(CAGLIARI, 1998, p. 83).
Contudo, esta é uma visão equivocada e não condiz com a realidade, por não considerar
as diversidades existentes na fala, nem as diversas dificuldades que surgem durante o processo
de alfabetização. Muitas vezes o que é considerável fácil para um, não é o mesmo para o outro
e vice-versa. Portanto, deve-se levar em conta também os níveis de aprendizado de cada
aprendiz.
O ensino da gramática não é tanto abordado nessa primeira unidade, apresenta-se os
principais aspectos da norma culta, mas nada muito aprofundado. Pelo que conseguimos
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também observar, o professor deve seguir a sequência do trabalho que é apresentada no livro.
Dificilmente abre espaço para adaptações pelo professor. O material apresenta atividades e
propostas temáticas muito fixas para o trabalho em sala com os alunos.
Conclusão
Desse modo, apesar dos livros didáticos ainda apresentarem diversas características das
cartilhas, constata-se que é necessário que o professor também seja flexível diante da sua prática
pedagógica, de forma que possa estar sempre atento às dificuldades apresentadas pelos seus
alunos, esteja aberto a transformações e busque constantemente novas estratégias
metodológicas para adaptá-las aos recursos didáticos que ele têm acesso, e não reduza o
conhecimento apenas ao livro, mas que também explore outras fontes de estudo, a fim que de
que torne a aprendizagem cada vez mais relevante e auxilie os alunos no processo de aquisição
da leitura e da escrita significativas.
Referências
CAGLIARI, L. C. Alfabetizando sem o bá-bé-bi-bó-bú. São Paulo: Scipione, 1998, p. 83 – 87
(Pensamento e ação no magistério).
MENDONÇA, O. S.; MENDONÇA, O. C. Alfabetização: método sociolinguístico: consciência
social, silábica e alfabética em Paulo Freire. São Paulo: Cortez, 2007, p. 25.
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A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO ALFABETIZADOR EM CLASSE
MULTISSERIADA EM ESCOLA DO/NO CAMPO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Jaciara de Oliveira Sant´Anna Santos111
Andréia Cristina Freitas Barreto112
Marcolino Sampaio dos Santos113
Resumo: As classes multisseriadas caracterizam como um fenômeno recorrente no sistema educacional brasileiro.
A organização do ensino dessas escolas baseia-se na prática em que um único professor trabalha com a mesma
sala de aula, com vários anos simultaneamente. Vale destacar que a alfabetização de crianças em nosso país,
apresenta-se como um dos maiores desafios para o sistema educacional brasileiro e quando analisamos as escolas
do campo, verificamos as grandes distorções e desigualdades. Inserido nesse contexto, o presente trabalho, tem
como objetivo discutir o processo de alfabetização em classes multisseriadas, seus aspectos teóricos e práticos. A
metodologia utilizada está ancorada no materialismo histórico dialético, de cunho qualitativo e os instrumentos de
coleta de dados utilizados foram revisão bibliográfica, através da qual pode-se compreender melhor os conceitos
alfabetização e de letramento, abordando também a temática multissérie e análise documental, a qual busca-se
informações acerca da legislação e do desenvolvimento do sistema educacional.Os estudos de Magna Soares,
Monica Molina, dentre outros, nos possibilitaram constatar que as crianças do campo necessitam que se articulem
os saberes da vida coletiva do campo no processo de alfabetização. Os resultados demonstraram que a prática
pedagógica do professor alfabetizador é desenvolvida através de estratégias de atividades diferenciada e que as
principais dificuldades são: a falta de apoio pedagógico ao professor, a ausência de planejamento e a formação dos
educadores.
Palavras-Chave: Alfabetização; classes multisseriadas; prática pedagógica.
Abstract: The classesmultiseried characterize as an appealing phenomenon in the Brazilian education system. The
organization of the teaching of those schools is based in practice in that a single teacher works with the same
classroom, with several years simultaneously. It is worth to highlight that the children's literacy in our country,
comes as one of the largest challenges for the Brazilian education system and when we analyzed the schools of the
field, we verified the great distortions and inequalities. Inserted in that context, the present work, has as objective
discusses the literacy process in classes multiseried, their theoretical and practical aspects. The used methodology
is anchored in the materialism historical dialético, of qualitative stamp and the instruments of collection of used
data were bibliographical revision, through which can be understood the concepts literacy better and of literacy,
also approaching the theme multiseried and documental analysis, which is looked for information concerning the
legislation and of the development of Great Soares' system educational.Os studies, Mônica Molina, among other,
they made possible to verify us that the children of the field need that you/they pronounce know them of the
collective life of the field in the literacy process. The results demonstrated that the pedagogic practice of the
teacher alfabetizador is developed through strategies of activities differentiated and that the main difficulties are:
the lack of pedagogic support to the teacher, the planning absence and the educators' formation.
Keywords: Literacy; classes multiseried ; pedagogic practice.
Introdução
A classe multisseriada surgiu no contexto da educação do campo como uma solução
para levar educação formal aos setores rurais que na maioria das vezes não há muita crianças
111(Mestranda em Docência Universitária, docente da Universidade do Estado da Bahia, Campus XX, Brumado.
[email protected] 112Mestre em Educação Ciências pela Universidade Estadual Santa Cruz, professora da Universidade do Estado da
Bahia, Campus XVIII – Eunapólis, Bahia, [email protected]. 113Mestre em Teologia e Educação pelaUFRGS/EST, docente da Universidade do Estado da Bahia, Campus XX,
Brumado. [email protected]
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para formação de uma turma seriada, do ponto de vista formal se inicia com a chegada dos
portugueses e jesuítas.
Salientamos que apesar da implantação crescente da política de nucleação escolar e o
consequente fechamento das unidades educacionais nas zonas rurais, o contingente de crianças
e jovens que estudam nesses contextos no país é significativo. Em sua maior parte, as escolas
do campo organizam-se no sistema de multisseriação, no qual crianças de diferentes anos e
níveis de ensino são agrupadas na mesma classe. Assim justifica-se essa pesquisa no intuito de
chamar a atenção para que a prática pedagógica alfabetizadora do professor de classe
multisseriada seja construída com vista a reconhecer o campo como um lugar com identidade
e cultura próprias.
Desse modo o objetivo do estudo é discutir o processo de alfabetização em classes
multisseriadas, seus aspectos teóricos e práticos, uma vez que a alfabetização foi e continua
sendo uma área de estudo bastante explorada por estudiosos de diversas áreas do conhecimento,
que analisam o processo de aprendizagem da linguagem escrita, bem como as abordagens
metodológicas no campo da alfabetização.
A perspectiva teórico-metodológica de abordagem da realidade é o materialismo
histórico dialético (FRIGOTTO, 2000; TRIVÑOS, 1987). De acordo com Triviños (1987,
p.129) “na pesquisa qualitativa com raízes no materialismo dialético, [...], o fenômeno tem
sua própria realidade fora da consciência. Ele é real, concreto e, como tal, é estudado”. Como
instrumentos de coleta de dados utilizamos a revisão bibliográfica, através da qual pode-se
compreender melhor os conceitos alfabetização e de letramento, abordando também a temática
multissérie e análise documental, a qual busca-se informações acerca da legislação e do
desenvolvimento do sistema educacional.
Alfabetizar em turmas multisseriadas
A luta por uma educação do campo originou-se para denunciar o descaso e o
silenciamento que historicamente envolveu a educação dessa população. Esse silenciamento
das ações governamentais não aconteceu somente no aspecto educacional, mas também na
saúde, na habitação, no saneamento básico, entre outros. Mas, o movimento por uma educação
do campo não fica apenas na denúncia, destaca o que há de mais perverso nesse esquecimento:
o direito à educação que foi negado a essa população. Foram direitos usurpados, negados
(CALDART, 2009, p. 9).
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Segundo Cardoso e Jacomeli (2010), desde a década de 80 vêm ocorrendo políticas de
substituição dessas classes, porém elas mostram-se resistentes ao tempo e, por isso, hoje ainda
funcionam. Hage (2006, p. 1) traz a seguinte reflexão:
O confronto estabelecido entre a realidade das escolas multisseriadas e os marcos
legais existentes nos permite sinalizar duas questões que merecem ser consideradas
por gestores públicos, ONGs, movimentos sociais e entidades de pesquisa na
elaboração de políticas e estratégias educacionais para o meio rural, a saber: a) no
desenvolvimento histórico do sistema de ensino em nosso País, o fator de localização
da população se constitui enquanto elemento intensificador da desigualdade na oferta
de oportunidades de escolarização, de forma que quanto mais próximo dos centros
urbanos maiores são as oportunidades de ensino da população; b) a ampliação das
oportunidades de ensino efetivada a partir da instituição da legislação vigente não tem
sido capaz de provocar alterações significativas no atendimento à escolarização dos
povos do campo.
Assim, as classes multisseriadas nos desafiam a repensar a escola, suas disciplinas,
séries, anos, conteúdos e avaliações. Em relação às práticas de alfabetização de um modo geral,
interpretações equivocadas sobre algumas implicações pedagógicas das teorias da psicogênese
da escrita, dos estudos sobre a consciência fonológica e sobre os processos de letramento
acarretaram na “desinvenção” da alfabetização (SOARES, 2003; MORAIS, 2012).
Com base no exposto, podemos afirmar que o processo da alfabetização é um processo
complexo que exige do professor uma boa formação teórica que o capacite para a
compreensão de como se dá a construção do conhecimento pela criança e, também
o auxilie na aquisição e no desenvolvimento de habilidades que facilitem o êxito no processo
de aprender a ser.
Aspectos metodológicos
A metodologia utilizada foi de caráter qualitativo. Inicialmente, foi feita uma revisão
bibliográfica e documental das políticas públicas. A análise documental “pode se constituir de
uma técnica valiosa de abordagem de dados qualitativos, seja complementando as informações
obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou problema” (LUDKE
& ANDRÉ, 1986, p. 38).
Para análise dos dados, estes tiveram como referência a metodologia dialética visto que
“a dialética é o pensamento crítico que se propõe a compreender a ‘coisa em si’ e
sistematicamente se pergunta como é possível chegar à compreensão da realidade” (KOSIK,
1997, p. 20).
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Resultados e Discussão
Diante da falta de uma política publica que dê conta da dinâmica que constitui as classes
multisseriadas, e das mazelas que compõem o senário sócio educacional das mesmas, torna-se
um desafio para qualquer professor ministrar aulas nessas classes. A visão política pedagógica
capaz de lidar com os fatores mencionados são escassos, tornando um agravante na formulação
e desenvolvimento das aulas.
Assim, constatamos que o trabalho docente desenvolvido em classes multisseriadas nas
escolas do campo ainda não atende as características heterogenias dessas classes, pois mesmo
tendo alunos de várias series, anos, idade e níveis de desenvolvimento diferentes os professores
do campo planejam e desenvolvem suas aulas seguindo uma metodologia seriada, dividindo o
espaço e o tempo das aulas, assim também com os assuntos.
No que se refere a políticas públicas voltadas ao atendimento destas classes pode-se
dizer que tem se desenvolvido pelo poder público uma atuação acanhada com ações isoladas e
que na prática sua efetivação não consegue atingir todo o país com o Programa Escola Ativa.
Basta dizer que a única política pública implementada pelo Estado brasileiro para as
classes multisseriadas, em nível nacional, é o Projeto Escola Ativa, desenvolvido a
partir do ano de 1997, mas que se configura como uma ação isolada e se alicerça numa
concepção política e pedagógica que não tem resistido às inúmeras críticas que lhe
tem sido direcionadas (SANTOS & MOURA, 2010, p. 37).
Nesse sentido, evidenciamos a ausência de políticas públicas voltada para as classes
multisseriadas o que também é apontada pelos docentes que destacam a carência de recursos
didáticos para desenvolverem suas práticas educativas e que utilizam recursos, alguns
produzidos por eles, com uso de materiais alternativos. A maioria dos professores utiliza como
estratégia no planejamento das atividades pedagógicas a realização de um único planejamento,
com atividades diversificadas, com isso, consideram que facilita o processo ensino
aprendizagem, na medida em que podem adequar ao grau de desenvolvimento dos alunos.
Conclusões
Sabe-se que todo trabalho de investigação consiste numa visão parcial da realidade e
outros elementos não são abordados em sua totalidade. A intenção da investigação realizada
que deu origem a esse trabalho foi discutir o processo de alfabetização em classes
multisseriadas, seus aspectos teóricos e práticos.
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Os resultados gerais deste estudo reforçam a ideia acerca da importância (da
manutenção) das escolas do campo e reiteram suas possibilidades pedagógicas. Além disso,
ressalta aimportância de que outros estudos em turmasmultisseriadas que investiguem as
estratégias de tratamento da heterogeneidade realizadas pelos professores – a fim de
problematizar seus possíveis limites e/ou contribuições.
Percebemos que apesar da grande importância da multisseriação para alfabetização da
população do campo, essa forma de organização de ensino é vista com descrédito no cenário
educacional o que é relevante, porém é preciso que se faça uma política pública verdadeira,
consolidada e digna para o povo do campo, que trate a Educação do Campo com seu devido
respeito, ou seja, uma Educação do e para o povo do campo.
Portanto, concluímos a relevância de possibilitar a formação docente, contemplando os
professores que atuam na alfabetização de turmas multisseriadas, no sentido de buscar ouvir
seus percursos e trajetórias profissionais, pois para que a qualidade ocorra de fato, é necessário
que as determinações legais sejam colocadas em práticas e que não fique apenas no papel, sendo
relevante pleitear propostas de políticas públicas consistes e condizentes com as diversas
realidades rurais do Brasil, para construção de uma escola do campo de qualidade.
Referências
CALDART, R. S. Educação do campo. In: CALDART, R. S. et al. (Org.). Dicionário da
educação do campo. São Paulo: Expressão Popular, 2012. p. 259-266.
CARDOSO, M. A.; JACOMELI, M. R. M. Estado da arte acerca das escolas multisseriadas.
Revista HISTEDBR On-line, Campinas, número especial, p. 174-193, maio 2010.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários á prática educativa. SP: Paz e
Terra, 2011.
FRIGOTTO, G. O enfoque da dialética materialista histórica na pesquisa educacional. In:
FAZENDA, Ivani (org.). Metodologia da pesquisa educacional. São Paulo: Cortez, 2000. p. 71-
90.
HAGE, S. A. M. A realidade das escolas multisseriadas frente às conquistas na Legislação
Educacional. In: REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 29, 2006. Caxambu. Anais. Caxambu:
ANPED, 2006. CD ROM.
KOSIK, Karel. Dialética do concreto. 6. ed. Paz e Terra: Paz e Terra, 1997.
LUDKE, M. & ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: Abordagens qualitativas. São
Paulo: EPU, 1986.
MORAIS, Artur Gomes. Sistema de Escrita Alfabética. São Paulo: Melhoramentos, 2012.
MOURA, Terciana Vidal; SANTOS, Fábio Josué Souza de. A pedagogia das classes
multisseriadas: uma perspectiva contra-hegemônica às políticas de regulação do trabalho
docente. Anais eletrônicos, I ENCONTRO LUSO-BRASILEIRO SOBRE TRABALHO
V SENAL | 283 | UESB/2018
DOCENTE VI BRASILEIRO DA REDE ESTRADO. Maceió-Alagoas, 02 a 05 de novembro
de 2011.
SOARES, Magda. A reinvenção da alfabetização. Presença Pedagógica. Belo Horizonte, v.9,
nº52, 2003.
V SENAL | 284 | UESB/2018
PRÁTICAS DE LEITURA: UMA ANÁLISE APLICADA DA METODOLOGIA
DOCENTE COM BASE NA MATRIZ DEREFERÊNCIA DA LÍNGUA
PORTUGUESA
Shirley Maclaine Lima Oliveira
Maria Karoliny Lima de Oliveira
Resumo: O presente artigo tem como objetivo investigar, através de pesquisa de campo com abordagem
qualitativa, de que forma o trabalho do professor de língua portuguesa em sala de aula promove o desenvolvimento
das habilidades e competências da leitura, tendo como base as Matrizes de referências da Língua Portuguesa da
terceira série do Ensino Médio. Para tanto, será realizada a aplicação de questionário com a atual professora do
ensino médio de uma escola estadual, situada na cidade de Catolé do Rocha/PB. Ressaltamos que o questionário
foi elaborado com base nos descritores da língua portuguesa; por conseguinte será feita uma análise dos resultados
obtidos, observando se a metodologia aplicada pela docente corresponde aos métodos de ensino e se a escola
fornece assistência aos docentes em suas dificuldades, disponibilizando meios que os auxiliem em seus métodos
de ensino. Posto isso, utilizaremos como aporte teórico as considerações deChiapini (1988), Silva (2005), entre
outros. Em linhas gerais, teremos uma investigação da metodologia do profissional, elencando os procedimentos
utilizados pelo docente que oportunizam o desenvolvimento das referidas habilidades e competências dos
discentes.
Palavras-chave: Metodologia. Habilidades. Competências. Ensino.
Reading practices: an applied analysis of the teaching methodology based on the reference matrix of the
portuguese language
Abstract: This article aims to investigate, through field research and qualitative approach, in which way the work
of a Portuguese language teacher (in the classroom) promotes the development of reading skills and competences,
taking into account the reference matrices of the Portuguese language of the third grade of High School. To do
so, a questionnaire will be applied with the current high school teacher of a public school located in Catolé do
Rocha-PB. It is important to highlight that the questionnaire was based on the Portuguese descriptors. Thereafter,
an analysis of the results will be made and it will be also observed if the teacher’s methodology is related to the
teaching methods and if the school offers assistance to teachers who are passing through difficulties regarding
teaching, providing means to help them with their teaching methods. Considering this, we will use the theoretical
contributions of Chiapini (1988), Silva (2005), among others. In general terms, we will investigate the
professional’s methodology, listing the procedures that allow the development of the mentioned skills and
competences of the students.
Keywords: Methodology. Skills. Competences. Teaching.
Introdução
Diante das várias discussões sobre a real importância do desenvolvimento das
habilidades e competências no alunado, torna-se necessário estar sempre atento aos
procedimentos metodológicos aplicados em sala de aula, bem como suas modificações ao longo
do tempo e dos avanços tecnológicos.
Nessa perspectiva, o professor deve atuar como mediador de conhecimento,
demonstrando o caminho que o discente deve seguir em sua vida profissional e acadêmica,
utilizando procedimentos que se tornam essenciais na compreensão dos mais variados estudos
da língua. Desse modo,o presente artigo objetiva investigar a metodologia do professor de
V SENAL | 285 | UESB/2018
Língua Portuguesa na turma de terceiro ano de Ensino Médio, em uma escola estadual, situada
em Catolé do Rocha, interior da Paraíba, verificando se os procedimentos que o docente utiliza
em sala de aula correspondem à Matriz de Referência da língua portuguesa, se não, quais as
maiores dificuldades que impedem o uso desses métodos.
Desse modo, serão trabalhados os seis tópicos presentes nos descritores da matriz,
unidades nas quais são definidas as habilidades e competências desenvolvidas, observando se
tais estratégias de ensino proporcionam ao discente um direcionamento adequado, no qual os
métodos utilizados despertam o interesse e contribuam para sua formação do sujeito crítico
capaz de praticar o que foi repassado em sala de aula.
Nesse sentido, é possível perceber que no um mundotecnológico, no qual a informação
chega rápido por meio de sites, é essencial que ocorra uma metodologia que acompanhe as
novidades, assim retoma-se o interesse do alunado com as atividades interativas, procurando
adequar-se a realidade do público alvo sempre de forma dialogada.
Destarte, é necessário que o professor fique atento aos seus métodos, para a eficácia de
seus procedimentos procurando desenvolvê-los de maneira que alcance a realidade do público
alvo, de forma interativa, enxergando na linguagem e nos diferentes contextos um artifício para
a interação humana.
Para tanto, nos embasaremos nos pressupostos de Ezequiel Theodoro Silva (2005), Lígia
Chiapini (1988), Maurice Tardif (2002), entre outros, que nos auxiliaram para a ampliação e
desenvolvimento deste trabalho.
Da leitura à prática metodológica docente: Algumas considerações
Na busca do aperfeiçoamento da técnica docente, está envolvido muito planejamento
sobre os métodos que o professor irá utilizar em sala de aula, métodos esses que devem sempre
buscar se encaixar nas necessidades específicas de seus alunos, no intuito de desenvolver em
seus discentes capacidades específicas, baseando-se no conhecimento que o aluno já traz
consigo, fazendo com que essa consciência seja aperfeiçoada. Nessa mesma direção, Maurice
Tardif (2002, p.39) enfatiza que os docentes “no exercício de suas funções e na prática de sua
profissão, desenvolvem saberes específicos, baseados em seu trabalho cotidiano e no
conhecimento de seu meio [...] os quais brotam da experiência e são por ela validados”.
Desse modo, ao planejar e expor seus métodos,os docentes se deparam com todos os
tipos de desafios, alguns são superados graças a sua experiência docente, no entanto, em várias
V SENAL | 286 | UESB/2018
situações esse processo planejado não é um fato consumado, pois o profissional encontra
empecilhos que dificultam a prática de suas técnicas.
Assim sendo, podemos considerar a metodologia de ensino como parte essencial na
didática do profissional, tendo em vista, que ela é a responsável por traçar caminhos de
conhecimento ilimitados, não se restringindo apenas a técnicas, regras ou procedimentos
repetitivos. É necessário que os métodos se tornem construtivos, assim como afirma Maria
Auxiliadora Bezerra, o conhecimento levado até os discentes precisa instigar a construção
permanente do conhecimento; propostas que sejam desafiadoras e reflexivas são artifícios
essenciais para a ampliação da aprendizagem, fugindo da idéia de algo pronto e acabado, de
técnicas memorizáveis. Seguindo essa linha de pensamento, Bezerra (2005) afirma que
A metodologia refere-se ao fazer do professor com seus alunos durante a disciplina,
para atingir seus objetivos. Envolve métodos (indutivo, dedutivo, dialético...),
procedimentos (exposição, análise, comparação, discussão...), técnicas (estudo
individual, em grupo, seminário, visita, entrevista...), recursos (quadro, retroprojetor,
data show, televisor, vídeo, DVD, gravador, visita, entrevista...) e quaisquer outras
formas de trabalho que favoreçam a construção do conhecimento pelos alunos
(BEZERRA, 2005, p. 37)
Desse modo, podemos perceber que para o docente exercer em sua prática uma
metodologia exitosa, são necessários diversos meios de assistência que não dependem só dele
para serem disponibilizados.
Diante disso, podemos perceber que a precariedade do ensino em nosso país é um
problema sempre presente, pois não são raras as vezes que o professor em especial de língua
portuguesa necessita utilizar a biblioteca da escola, no entanto, não consegue ter acesso aos
livros, uma das causas mais frequentes é o mau uso dos exemplares que são disponibilizados
para o ensino (não só os didáticos, como também os literários); são diversos problemas que se
estendem por todos os métodos que poderiam estar sendo usados para a eficácia da
aprendizagem e são esquecidos na própria escola ou não disponibilizados pelos órgãos
Estaduais responsáveis.
Materiais e livros que deveriam estar sendo usados pelos alunos, estão engavetados e
engolidos pela poeira. Sem acesso a esses métodos e/ou sem condições financeiras para
realizarem a compra de livros, os discentes ficam restritos a leituras rápidas e rasas encontradas
em sites de pesquisa. Referente a essa questão, Silva (2005, p.35) argumenta que: “Para que o
“hábito” da leitura se desenvolvesse seria necessário que as escolas e as famílias brasileiras
permitissem o ‘acesso ao livro’”.
V SENAL | 287 | UESB/2018
A partir disso, é preciso que o professor esteja preparado para receber e envolver de
modo especial seus alunos que apresentam essa realidade, envolvendo dessa forma na atividade
da leitura. O principal interesse deve partir do aluno, percebendo-se enquanto sujeito capaz de
decifrar informações, formular opiniões, participando criticamente do meio social que vive,
entendendo a língua como instrumento social, formando, assim, sujeitos capazes de
compreender o mundo e instigar os demais que não tiveram a oportunidade de acesso as obras.
O ato da leitura é sem dúvida de suma importância, auxiliando no desenvolvimento das
habilidades de compreensão do meio em que vive, da escrita e da oratória, aspectos essenciais
para o desenvolvimento do discente. Salientamos também que a maioria do alunado tem a
oportunidade de contato com o livro apenas na escola, e quando se deparam com essa
insuficiência, o leitor em formação fica desestimulado, causando um desinteresse que será
crucial na sua vida acadêmica.
Sabemos que nos ambientes escolares, encontramos alunos que apresentam
dificuldades em consolidar esse processo, apresentando carência em alguma etapa na
construção, não chegando a prática da leitura e a demais habilidades esperadas, essas
dificuldades começam quando o aluno não consegue decifrar as letras, o que os impede de
formular ideias e organizar os fatos do texto; logo a interação do aluno se torna insuficiente
para efetivação dos estudos da língua escrita. Quando os docentes se deparam com esse tipo de
obstáculo, é necessário aplicar uma tática que se enquadre na necessidade do aluno, trabalhando
suas dificuldades na raiz do problema, compreendendo assim que cada aluno apresenta uma
evolução diferenciada. Isabel Solé argumenta que:
Muitos alunos talvez não tenham muitas oportunidades fora da escola, de familiarizar-
se com a leitura; talvez não vejam muitos adultos lendo; talvez ninguém lhes leia livros com
freqüência. A escola não pode compensar as injustiças e as desigualdades sociais que nos
assolam, mas pode fazer muito para evitar que sejam acirradas em seu interior. Ajudar os alunos
a ler, a fazer com que se interessem pela leitura, é dotá-los de um instrumento de aculturação e
de tomada de consciência cuja funcionalidade escapa dos limites da instituição (SOLÉ, 1999,
p. 51).
Nesse sentido, o docente deve planejar suas atividades na busca de envolver seus alunos
no hábito da leitura, encaminhando e demonstrando as facilidades que o texto revela.
Incentivando seus alunos a irem além do espaço escolar. Demonstrando dessa forma os
benefícios que uma leitura eficiente pode propiciar na vida de um leitor ativo.
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O ato de ler é um processo abrangente e completo; é um processo de compreensão, de
intelecção de mundo que envolve uma característica essencial e singular ao homem:
a sua capacidade simbólica e a interação com o outro pela mediação da palavra.
(CHIAPINI, 1988, p. 17).
Toda a atenção que o professor dedicar a referida prática será de suma importância.Para
tanto o profissional deve se manter sempre atualizado e acompanhar de perto cada passo de
seus alunos. É importante salientar que o docente não deve ser o único responsável, mas toda a
comunidade escolar deve se envolver para que os resultados sejam mais abrangentes e positivos.
Destarte, é necessário refletir sobre o modo como a leitura acontece no ambiente escola
e também nos diversos espaços, para isso, é preciso verificar se há evolução no supracitado
processo, através de pesquisas que comprovem sua eficácia e aponte os obstáculos que impeçam
os alunos de alcançarem uma compreensão completa do texto já que essa compreensão auxilia
os alunos a uma melhor comunicação. O ato da leitura é visto no processo ensino aprendizagem
como uma atitude essencial para a formação.
Metodologia da pesquisa
Esse estudo, que tem como objetivo analisar se a metodologia trabalhada em sala de
aula, através de uma pesquisa de campo com abordagem qualitativa, investigando o
desenvolvimento das competências e habilidades que são esperadas pelas Matrizes de
Referências de Língua Portuguesa para turmas de 3° ano do Ensino Médio. Inicialmente, as
etapas foram divididas da seguinte forma:
Observação do campo de pesquisa:
Nesta etapa observamos o ambiente da pesquisa e os espaços escolhidos para o
desenvolvimento do trabalho;
Elencamos as questões norteadoras da pesquisa, tendo como base a Matriz de Referência
da Língua Portuguesa:
Aqui, buscamos desenvolver o questionário baseado na Matriz, levando em
consideração o espaço, a turma selecionada e a docente que se disponibilizou para a pesquisa;
Procuramos conhecer as atividades desenvolvidas na disciplina de Língua Portuguesa:
Ao conhecer as atividades, observamos a aceitação dos alunos, diante dos métodos
abordados pela docente, bem como o interesse pela leitura;
V SENAL | 289 | UESB/2018
As questões para o desenvolvimento da pesquisa surgiram a partir da observação da
Matriz de Referência da Língua Portuguesapara o 3º ano do Ensino Médio(doravante EM)com
o objetivo de saber se a metodologia aplicada em sala de aula pela docente, aqui cognominada
de X, corresponde às habilidades e competências citadas na matriz, com a finalidade de observar
se o ensino repassado no último ano do EM está ocorrendo de maneira eficaz ou apenas como
algo mecânico e sistemático.
Ademais, faremos um levantamento e leitura dos principais teóricos que abordam essa
temática, para auxiliar no desenvolvimento do estudo; posteriormente, verificaremos, por meio
de questionário, se as metodologias adotadas em sala de aula pelo docente das turmas de 3° ano
do ensino médio seguem as competências referentes ao EM; todavia se os métodos utilizados
não acompanham as matrizes, será realizado um levantamento das dificuldades que o
profissional enfrenta e que o impedem de implantar a técnica desejada de forma exitosa.
Posterior a isso, será realizada uma análise dos resultados do questionário, constatando assim a
eficiência ou insuficiência dos métodos adotados.
Para tanto, utilizaremos os pressupostos teóricos de Ezequiel Theodoro Silva,Isabel
Solé, Lígia Chiappini, Maurice Tardif (2002), entre outros que nos conduzirão para o
desenvolvimento da pesquisa.
A Matriz dereferência da Língua Portuguesa no 3 º ano do ensino médio a partir da
realidade docente
Área de estudo
Este estudo limitou-se a investigar a metodologia utilizada pela professora titular da
turma do 3º ano do Ensino Médio de uma instituição estadual, localizada na cidade de Catolé
do Rocha, localizado no interior do sertão da Paraíba, distante a 446 km da capital João Pessoa.
Análise do questionário aplicado
TÓPICO I: Procedimentos de Leitura
Descritores marcados pela docente: D1, D3, D6.
Profa. X:“Para esse procedimento são entregues aos alunos cópias do texto
selecionado. A temática do texto é voltada para o nível de compreensão dos alunos,
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fazendo um estudo do autor, para que depois disso ocorra uma leitura silenciosa do
texto, em seguida realizamos uma leitura compartilhada, comentando sobre a temática
central do texto.
Aplicados esses métodos, passamos para a parte de compreensão textual, retirando
palavras ou expressões desconhecidas por parte dos alunos para que eles pesquisem o
significado das palavras; essas pesquisas são feitas em casa, pois não acho cabível o
uso de tecnologias em sala de aula, por causar a dispersão dos alunos. Pesquisar na
escola não é uma alternativa possível, pois a instituição não tem condições de
disponibilizar dicionários para o auxílio dos alunos. Diante dessa dificuldade, é
elaborado um exercício, que é levado pelos educandos para casa, para que na próxima
aula seja realizada a correção das atividades.”
No primeiro tópico notamos que ao planejar suas atividades, a professora utiliza o tema
equivalente ao nível de compreensão da turma, mas não demonstra métodos que abarquem as
questões de interpretação contidas no D4 da matriz, apenas demonstra uma preocupação com a
temática abordada e a biografia do autor, a docente organiza a leitura em duas etapas, uma
individual e outra grupal, onde é trabalhada a interação, e a discussão da temática do texto, em
seguida é feito um estudo do vocabulário. A professora em questão deixa clara a carência que
a instituição apresenta no que diz respeito ao material para o auxílio dos alunos, o que acaba
gerando um desconforto e um atraso na continuidade da aula que foi, segundo ela, devidamente
planejada. Como a docente não trabalha as questões de interpretação, consequentemente, não
haverá discussão sobre os possíveis pontos de vista diferentes, que poderiam resultar na
ampliação da capacidade reflexiva do aluno, assim como observamos no D14 presente na matriz
de referência.
TÓPICO II: Implicações do Suporte, do Gênero e /ou do Enunciador na
Compreensão do Texto
Descritores marcados pela docente: D12
Profa. X: “Nesse tópico, costumo utilizar apenas o livro didático, pois acredito que no
livro já contem todas as informações, imagens, charges e propagandas como exemplos,
no estudo e diferenciação dos gêneros, bem como na compreensão textual. Algumas
vezes tentei usar o equipamento necessário (data show), porém a escola dispõe de
poucos exemplares e sempre que procuro já estão ocupados, o que acaba me
desestimulando e me levando a prática apenas a partir do livro didático.”
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“Na interpretação de material gráfico, seja ele charges, propagandas ou quadrinhos, o
material é escolhido por mim, às temáticas são elencadas de acordo com as minhas
experiências em anos anteriores as quais considero importante, com todo cuidado de
forma que haja um envolvimento do público discente e esse tipo de abordagem ocorra
de uma forma lúdica, despertando e conquistando o alunado através do humor,
consideramos esse uma forma de identificar e diferenciar os gêneros, incentivando na
construção de novos textos, baseando-se no que foi visto. O que infelizmente acaba
dificultando nossa metodologia é escassez de material que no nos auxilie na
demonstração dessa metodologia , como por exemplo, o uso limitado do data show, que
não atende todos os professores que dependem desse equipamento.”
No tópico II, a docente relata o método que é utilizado de forma relativamente limitada,
não exercitando a habilidade contida no D5 da matriz, pois se vê restrita somente ao material
didático, não deixando aberturas para o envolvimento discente com o assunto, exercitando em
sua prática um tipo de abordagem que não instiga a ludicidade na aula.
A professora chama atenção para a falta de equipamento necessário para a consolidação
da sua aula planejada, pois o equipamento em questão não é suficiente para os professores que
necessitam do mesmo, prejudicando a prática metodológica da docente.
TÓPICO III: Relação entre Textos D20 – Reconhecer diferentes formas de tratar
uma informação na comparação de textos que tratam do mesmo tema, em função
das condições em que ele foi produzido e daquelas em que será recebido.
Descritores marcados pela docente:
Profa. X: “Nesse aspecto é realizada apenas uma discussão sobre a temática do texto,
sobre o qual os alunos opinam e se necessário confrontam sua opinião, mas sempre
sobre o mesmo texto. Não costumo levar textos diferentes para comparação, pois
acredito que trabalhá-los separadamente obteremos um melhor resultado, tendo em
vista a grande dificuldade dos alunos.”.
Neste tópico, a docente não marca nenhuma opção, por não utilizar a metodologia
presente nos descritores D20 e D21, não exercitando o senso crítico do alunado, nem a
capacidade reflexiva, tornando o ensino mecanizado.
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TÓPICO IV: Coerência e Coesão no Processamento do Texto D2 – Estabelecer
relações entre partes de um texto, identificando repetições ou substituições que
contribuem para a continuidade de um texto.
Descritores marcados pela docente: D7, D8, D9, D10, D11
Profa. X: “No que diz respeito às relações existentes entre as partes de um texto,
procuro sempre abordar toda a temática de forma que após a segunda leitura, os
comentários sobre os fatos do texto são iniciados com questionamentos orais instigados
pela docente; desse modo, é interessante que os alunos descubram por si só a ideia
central do texto a partir das leituras, o professor apenas auxilia nesse processo com
questionamentos que despertam a busca dessa temática principal. Assim, a compreensão
do texto é realizada de forma satisfatória.”.
Ao se referir ao tópico IV, podemos perceber que a docente analisa o texto apenas
superficialmente, instigando perguntas que não promovem uma reflexão mais aprofundada
acerca do texto e das informações implícitas nele contidas. Dessa forma, não promove meios
que encaminhem os docentes à produção textual, a partir das leituras realizadas em sala e nas
suas possíveis considerações. A professora deixa os alunos a vontade para discutir a temática
central do texto, mas sempre fica na superfície da análise, não provoca indagações que incitem
a curiosidade dos alunos, atuando nesta atividade apenas como questionadora, sem alcançar os
descritores D2 e D11.
TÓPICO V. Relações entre Recursos Expressivos e Efeitos de Sentido D16 –
Identificar efeitos de ironia ou humor em textos variados.
Descritor marcado pela docente: D17, D18, D19.
Profa. X: “Sobre as relações e efeitos de sentido, é realizado um estudo do texto, no
qual são verificados e trabalhados todos os tipos de linguagem e ortografia. Considero
muito importante as discussões sobre ortografia, assim sendo procuro sempre trazer
textos que contemplem palavras que podem ser consideradas novas, no contexto em que
os alunos estão inseridos. No que se refere ao descritor D16, acredito que por focar
muito na ortografia, não me aprofundo tanto nas questões de efeitos do texto.”
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No tópico V, fica evidenciado que a referida professora adota métodos de ensino
conservadores, que priorizam a ortografia em detrimento das outras questões de sentidos que
são representadas no texto, indicando aos discentes apenas a busca do significado das palavras
que ainda são desconhecidas. As questões de sentido que são expostas no discurso da docente,
embora marcados os descritores, parecem não serem coerentes com a sua prática, de forma que
os descritores 17 e 18 não condizem com a realidade metodológica explicitada pela docente.
TÓPICO VI: Variação Linguística D13 – Identificar as marcas lingüísticas que
evidenciam o locutor e o interlocutor de um texto .
Descritores marcados pela docente: D13.
Profa. X: “Após identificarmos a temática do texto, partimos para compreender e
identificar as marcas do eu lírico, para uma melhor compreensão dos aspectos das
funções da linguagem.”
Por fim, a docente apresenta uma abordagem mais completa do que aquelas
mencionadas anteriormente nos outros tópicos. Aqui, ela fala que além da compreensão procura
entender também as funções da linguagem, a partir do eu lírico e sua intencionalidade.
Principais dificuldades do docente em sua metodologia
Diante do cenário da educação do Brasil encontrado na contemporaneidade, podemos
perceber que são muitas as exigências sociais impostas ao professor; todavia, grande parte das
vezes, não são levadas em consideração as dificuldades que cercam os docentes em sua prática
metodológica, sendo que esses problemas impedem muitas vezes que aprendizagem ocorra
eficazmente.
O papel do professor vem sendo formulado e reformulado a cada ano. De acordo com a
Proposta de Diretrizes para a formação inicial de professores da Educação Básica é dever do
professor:
orientar e mediar o ensino para a aprendizagem dos alunos;
responsabilizar-se pelo sucesso da aprendizagem dos alunos;
assumir e saber lidar com a diversidade existente entre os alunos;
incentivar atividades de enriquecimento curricular;
elaborar e executar projetos para desenvolver conteúdos curriculares;
utilizar novas metodologias, estratégias e materiais de apoio;
desenvolver hábitos de colaboração e trabalho em equipe.
(FILHO, 2000, p. 05).
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Diante disso, é necessário levar em consideração que para o docente alcançar todos esses
objetivos é preciso que ocorra um maior investimento no profissional, sendo que este precisa
diariamente adequar seus métodos às necessidades do aluno. São indispensáveis mais
formações continuadas, bem como um maior fornecimento de materiais que venham a auxiliar
o professor neste longo caminho, para uma metodologia eficaz.
O profissional da educação enfrenta ao longo de sua carreira obstáculos que precisam
ser vencidos, tendo em vista, que na maioria das vezes o professor é visto somente como
instrumento transmissor de conhecimento, sem levar em conta seus esforços para conseguir tal
êxito.
Nesse sentindo, os limites da docência são questões complexas a serem analisadas,
assim como o papel do professor em sala de aula; suas funções, interesses, posicionamento e
objetivos, tudo precisa ser discutido.
A função do professor vai muito mais além de apenas cumprir um calendário anualmente
repetido. Ele exerce o papel de formar e preparar o aluno para a sociedade política e
socialmente. Para José Carlos Libâneo
O papel do professor é o de planejar, selecionar e organizar os conteúdos, programar
tarefas, criar condições de estudo dentro da classe, incentivar os alunos, ou seja, o professor
dirige as atividades de aprendizagem dos alunos a fim de que eles se tornem sujeitos ativos da
própria aprendizagem. Não há ensino verdadeiro se os alunos não desenvolvem suas
capacidades e habilidades mentais, se não assimilam pessoal a ativamente os conhecimentos ou
se não dão conta de aplicá-los, seja nos exercícios e verificações feitos em classe, seja na prática
da vida (LIBÂNEO, 2002, p. 06).
Nessa perspectiva, transmitir conhecimento é importante, porém o mais essencial é a
maneira que esse conhecimento é repassado. O posicionamento do docente é um ponto de
grande relevância para permitir que essa aprendizagem não ocorra de forma mecânica. O
verdadeiro interesse do profissional deve ser o cumprimento de suas obrigações enquanto
educador e o desejo de colher os frutos de sua tarefa de uma forma positiva.
Assim, a atividade do profissional deve ser pensada como um processo que é
desenvolvido e ampliado no decorrer da vida docente, tendo em vista, que, são procedimentos
que se refazem continuamente nos espaços escolares, aliados a criatividade e aos
conhecimentos do sujeito.
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As principais dificuldades encontradas pela docente em análise:
Fonte: Gráfico feito com base em conversas realizadas entre a professora titular da turma e a pesquisadora.
Falta de recursos
De acordo com a própria docente, a falta de recursos é um dos índices que mais gera
dificuldades na instituição, pois para uma aula dinâmica e interativa é necessário o auxílio de
recursos como data show, computadores, aparelhos de som e até os próprios livros que deveriam
estar disponíveis na biblioteca da escola, ao alcance de todos os alunos.
Desatenção dos alunos
Para a professora X, esse se torna um dos mais difíceis de lidar, pois sem o apoio dos
recursos que deveriam estar disponibilizados pela instituição escolar, a distração dos educandos
se torna recorrente. Ela conta que nesses casos, é preciso atenção redobrada do profissional,
que tem que desdobrar para adequar-se a realidade dos alunos.
Evasão escolar
Segundo a entrevistada, o principal fator que causa essa evasão é falta de interesse dos
alunos e a carência de equipamentos que auxilie o professor a preparar aulas mais diversificadas
Falta de recursos
Desatenção dos
alunos
Evasão escolar
Outros motivos
Estruturação
da escola
Principais dificuldades para a docente em
análise:
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e interativas, levando os discentes a procurarem outra instituição que ofereça melhores
condições de aprendizado. Outro fator pertinente é a questão do transporte público, grande
maioria dos estudantes, da escola supracitada, são moradores da zona rural do município,
dificultando o acesso a escola pública da cidade.
Estruturação da escola
A instituição de ensino onde nossa pesquisa foi desenvolvida é um prédio novo.Antes
da reforma os alunos foram encaminhados para uma escola de nível fundamental, na qual não
existe biblioteca, havia somente as salas de aula, o que provavelmente causou os obstáculos
citados no decorrer do trabalho, aos poucos a escola está retomando seu amplo funcionamento,
a biblioteca da escola está sendo organizada para atender com eficiência aos interessados.
Outros motivos
Esses motivos se encontram ligados às greves e paralizações que ocorrem na escola,
pois ocorre uma quebra na sequência lógica do assunto repassado em sala de aula.
Considerações finais
A experiência adquirida com a observação da metodologia da professora nos propiciou
uma reflexão sobre como é a realidade do docente em sala de aula. A partir da experiência
obtida, em primeiro momento com a observação e em seguida com as respostas do questionário,
percebemos o quanto o planejamento é essencial. Uma metodologia bem trabalhada faz toda a
diferença no dia a dia do profissional.
Ser profissional da educação é muito mais do que repassar conhecimento é apontar o
melhor caminho para os alunos, é fazer com que o trabalho que o profissional desempenha em
sala perdure em toda a vida social e acadêmica, mas para que isso ocorra é necessário muitos
avanços e investimentos em formações para os professores.
Assim sendo, no que diz respeito à metodologia analisada, observamos os vários
fatores que ainda impedem que a metodologia planejada pelo professor aconteça, pois o docente
trabalha, por vezes, em situações precárias, aonde tem que se adaptar a todos os tipos de
situações. É notório que a falta de assistência institucional no trabalho prejudica o profissional,
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com isso, os desenvolvimentos das capacidades básicas nos alunos também são prejudicadas,
causando desinteresse, chegando a provocar a temível evasão escolar.
Sabemos que aquilo que parece prevalecer no espaço da sala de aula são ideias
mecanizadas, envoltas as regras gramaticais, o que acaba desestimulando o aluno. Assim sendo,
diante das teorizações elencadas nesse trabalho podemos comprovar a importância e a
necessidade da inclusão de leituras que sejam eficientes e interativas dentro dos processos
metodológicos do docente, pois é a partir da leitura que podemos compreender e identificar a
realidade existente no ensino da Língua Portuguesa.
Referências
BEZERRA, Maria Auxiliadora. Ensino de língua portuguesa e contextos teórico-
metodológicos In: DIONÍSIO, Ângela Paiva; MACHADO, Ana Rachel; BEZERRA, Maria
Auxiliadora (Orgs.). Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.
CHIAPINI, Lígia. Aprender e ensinar com textos didáticos e paradidáticos. 2 ed. V. 2. São
Paulo: Cortez, 1988.
___________.Elementos de pedagogia da leitura. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
FILHO, Ruy Leite Berger. Proposta de diretrizes para a formação inicial de professores da
educação básica, em cursos de nível superior, 2000. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/basica.pdf>Acesso em 10 de dezembro de 2016.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática: velhos e novos tempos. Edição do autor, 2002.
___________. Matriz de Referência –Língua Portuguesa – 3º ano do Ensino Médio. Disponível
em:http://download.inep.gov.br/educacao_basica/prova_brasil_saeb/menu_do_professor/prov
a_lingua_portuguesa/Matriz_LP_3o_anoEM_PROF.pdf<Acesso em 20 de novembro de 2016>
SILVA, Ezequiel Theodoro da. O ato de ler: fundamentos psicológicos pra uma nova pedagogia
da leitura. São Paulo: Cortez, 2005.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de Leitura. trad. Cláudia Schilling. 6 ed. Porto Alegre: ARTMED,
1998.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 2. ed. Petrópolis: Editora Vozes,
2002.
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CAMINHOS INICIAS DA LÍNGUA ESCRITA POR FERREIRO E LURIA
Laelson Almeida Miranda 114
Claudionor Alves d Silva115
Resumo: Este trabalho tem por objetivo materializar a reprodução do experimento de Alexander Romanovich
Luria, desenvolvido aqui com duas crianças, uma delas com quatro e a outra com seis anos. A primeira ainda não
iniciou o processo de escolarização e a segunda está no primeiro ano. O experimento consiste em analisar os
processos de criação da escrita pela criança diagnosticando seu estágio ou nível e propor uma espécie de
intervenção para dar continuidade ao processo de aprendizagem da língua escrita.
Palavras chave: intervenção; aprendizagem; língua escrita.
Introdução
O momento em que a criança começa a desenvolver seus primitivos traços da escrita até
chegar a forma culta leva um grande e difícil percurso, mas seu início pode ser a chave para um
bom desempenho. Tendo em vista essa chave, estudiosos como Luria, Ferreiro e Vygotsky
embarcaram em investigações da aquisição da língua escrita pelas crianças. Aqui vamos nos
dedicar a reproduzir um experimento feito por Alexander Romanovich Luria, para saber como
as crianças aprendem a escrita. Os resultados percebidos e discutidos não são inéditos, tendo
em vista que, de algum modo, já foram revisitados por outros estudiosos, ou fundamentados em
Luria ou em Ferreiro e Teberosky. Nesse caso, os resultados serviram para que pudéssemos nos
orientar na elaboração de proposta de intervenção pedagógica.
Base teórica
A criança aprende muitas vezes repetindo o que os sujeitos mais experientes fazem.
Como ela não tem medo de se arriscar, ela acaba tendo resultados de evolução se preparando
cada vez mais. O desenho serve como um elemento para lembrar as coisas. Lev Vygotsky
acredita que o signo tem um papel fundamental para as crianças, independente se for um
rabisco, uma mancha ou até mesmo um ponto, ele afirma que essas marcas gráficas não tem um
114 Graduando em licenciatura plena em Pedagogia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. (UESB).
Vitória da Conquista – BA, Brasil. E-mail: – [email protected]. 115 Professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia; Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa em
Alfabetização e Letramento escolar; Endereço eletrônico: [email protected]
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sentido, mas servem como operação auxiliar. Ferreiro e Teberosky (1999) dizem que antes de
entender o uso das letras para associar às expressões da realidade, elas trabalham com imagens
gráficas, como desenho. Antes mesmo de atingir a idade escolar, durante a pré-história
individual, a criança já desenvolve por si mesma, uma quantia de técnicas primitivas, igual
àquilo que chamamos escrita e capazes de até desempenhar funções semelhantes. As crianças
imitam, através de rabiscos, a escrita dos adultos, porém não fazem mínima ideia da sua função
comunicativa. “A possibilidade de combinar elementos dos campos visuais presente e passado
[...] num único campo de atenção leva [...] à reconstrução básica de uma outra função
fundamental, a memória” (COLE, 1994, p.48). Então, a memória é capacidade de reprodução
são a chave para o aprendizado da língua escrita. Acontece que a criança tem um limite para
essa memorização, o que dá uma brecha para experimentarmos um método utilizado por Luria
em um de seus experimentos.
Para Cole, (1994, p.34) “[...] parece que é natural e necessário para a criança falar
enquanto age. [...] a fala não só acompanha a atividade prática como, também, tem um papel
especifico na sua realização”. Para Luria (2010), a escrita é uma importantíssima técnica
sociocultural. Essa técnica tem duas funções: mnemônica e comunicativa; e as crianças só
utilizam a escrita como objeto instrumental em contextos de adultos. Luria observava que certas
características do conteúdo das frases que se apresentam para serem recordadas, ajudam a
passar dos “rabiscos” para assim chamada “pictografia”: referencias quantitativas e
substantivas fáceis de desenhar. Isso acelera o processo se isso for um passo necessário na
aquisição ou no aprendizado da escrita. Para ele, o ingresso na instituição escolar criaria por si
só, uma ruptura com os conhecimentos prévios das crianças. Neste momento há etapas nas quais
há uma substituição de uma técnica por outra. “Quando adquire a linguagem escrita ela descarta
as anteriores. Ele então identifica as fases do estágio de desenvolvimento da pré-história da
escrita infantil:
1.º) Estágio dos rabiscos ou fase dos atos imitativos, primitivos, pré-culturais e pré-
instrumentais; 2.º) Estágio da escrita não-diferenciada; 3.º) Estágio da escrita diferenciada;
4.º) Estágio da escrita por imagens (pictográfica); 5.º) Escrita simbólica.
Para Ferreiro e Teberosky (1999) existe um sujeito que conhece e que, para conhecer,
emprega mecanismos de aprendizagem. Há um papel ativo do sujeito na interação com os
objetos da realidade. Dessa forma, o que a criança aprende não corresponde ao que lhe é
ensinado, pois existe um espaço aberto de elaboração do sujeito. As crianças precisam ser
estimuladas por meio de situações que favoreçam a aprendizagem e mesmo as histórias criadas
V SENAL | 300 | UESB/2018
e contadas por elas mesmo. Saber que os primeiros registros da sílaba são feitos com apenas
uma letra, à qual se agregarão outras, posteriormente, levou à interpretação de que estes são
fatos naturais do percurso, ou seja, são erros naturais e necessários à construção da
aprendizagem. Diferente de Luria, mesmo assim semelhante, Emília Ferreiro concluiu que a
criança levanta hipótese acerca da escrita e constrói seu conhecimento em quatro fases, essas
fases vão além da pré-história da escrita infantil, elas vão do “zero” até a escrita convencional,
são elas: 1.ª) Pré-silábica - Nível 1 e Nível 2; 2.ª) Silábica - Nível 3; 3.ª) Alfabética – Nível; 4.ª)
Ortográfica - Nível 5.
Estudo de caso
Identificação caso I: No Caso I, a criança é identificada como Z. Essa criança tem quatro (4)
anos de idade, ele é o quarto (4º) filho de 6 e ainda não iniciou os estudos escolares. Seus pais
são casados, ambos são escolarizados, porém não concluíram o segundo grau. Moram no
interior do estado.
Experimento: A criança foi colocada em uma sala com lápis (sem ponta), borracha, papel e
um apontador, e foi lhe pedido que lembrasse cinco sentenças: a vaca comeu sal; o gato é
amarelo; a calça rosa; o abacate é verde; a porta fecha. A princípio não se incomodou com os
objetos, o mesmo disse não conseguir se lembrar de tantas coisas. Logo, lhe sugeri que
escrevesse no papel para que se lembrasse e reforcei afirmando que os adultos escrevem no
papel quando querem ou precisam se lembrar de algo. A criança pegou o lápis e tentou fazer a
frase, mas estava sem a ponta e ele não entendeu o porquê não riscava nada. Com a minha
intervenção ele apontou o lápis. O garoto ouvia a frase e em seguida escrevia no papel de forma
desordenada. É interessante colocar que a criança em todo momento de escrita falava o que
estava fazendo, “aqui é o rabo...”. Também é importante frisar que a criança escreveu todas as
sentenças antes do pedido para que ela as lesse.
Análise: De acordo com Luria, a criança está na terceira fase, ou Estágio da escrita
diferenciada – Nesse estágio, a criança substitui a escrita não-diferenciada pela escrita
diferenciada, ela tenta utilizar as marcas que fez para recordar o que lhe foi ditado. Para observar
este estágio, é preciso introduzir dois fatores que levam a criança da fase não-diferenciada para
a atividade gráfica diferenciada: números e formas; no caso da criança é presente o uso da forma
para grafar as sentenças.
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Identificação caso II: No Caso II, a criança é identificada como M. Essa criança tem seis (6)
anos de idade, ela é a terceira (3º) filha de 6 iniciou os estudos escolares nesse ano com também
seis anos. Seus pais são casados, ambos são escolarizados, porém não concluíram o segundo
grau. Moram no interior do estado.
Experimento: A criança foi colocada em uma sala com lápis (sem ponta), borracha, papel e
um apontador, e foi lhe pedido que lembrasse cinco sentenças: o gato é doido, o sofá é rosa, o
rato come queijo, o celular é azul e vitamina de abacate. Porém a criança disse ter vergonha
desses nomes e colocamos outros no lugar. Ficam dispostos dessa maneira: a vaca come sal; o
gato é amarelo; a calça rosa; o abacate é verde; a porta fecha.
Logo de início se incomodou com a falta de ponta no lápis e por iniciativa própria o
apontou, ela disse que não conseguia se lembrar das frases. Assim, lhe sugeri que escrevesse
no papel para que se lembrasse e reforcei afirmando que os adultos escrevem no papel quando
querem ou precisam se lembrar de algo. A criança pegou o lápis e disse que não sabia escrever
nada ainda, falei para fazer como achasse melhor. A garota ouvia a frase e em seguida escrevia
no papel de forma desordenada. É interessante colocar que a criança em todo momento de
escrita falava o que estava fazendo, “aqui é a vaca, aqui é o sal...”. Também é importante frisar
que a criança escreveu todas as sentenças antes do pedido para que ela as lesse. Pedi que
escrevesse seu nome no alto do papel.
Análise: De acordo com Luria, a criança estaria na quarta fase, ou estágio da escrita por
imagens (pictográfica): A criança chega à ideia de usar o desenho como meio de recordar, e o
fator quantidade e forma distinta levam a criança à pictografia. Embora a criança apresente mais
conhecimentos do que a criança do caso I e lê suas imagens corretamente ela está nessa fase.
Porém, depois de fazer as sentenças a garota começou a fazer algumas coisas que ela
tinha aprendido na escola espontaneamente sem o meu pedido, porém com meu consentimento.
Esses novos conhecimentos que obtive acerca da criança me faz condiciona-la no quinto
estágio que Luria (1988) chama de Escrita simbólica - O desenvolvimento, neste caso, pode
ser descrito como uma memória gradual do processo de escrita, dentro dos meios de cada
técnica, e o ponto de aprimoramento abrupto marcando a transição de uma técnica para outra.
Pouco a pouco desenvolve técnicas diferenciadas para este nível mais alto de desenvolvimento.
Ou ainda colocá-la no nível 3 em que Emília Ferreiro (1999) chama hipótese silábica que é
quando há uma tentativa de dar um valor sonoro a cada uma das letras que compõem uma
escrita. Cada letra vale por uma silaba, ou seja, a criança descobre a relação fonema-grafema.
Aqui a criança reconhece as vogais e forma pares silábicos com o “B” e com o “C”, formando
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as palavras: baba, bebi (aqui a criança explica que ela bebeu algo), e a palavra bobi que é o
nome do cachorro da tia dela. Nas silabas formadas com o “C” a garota leu “ka”, “ke”, “ki”,
“ko”, “ku”, mostrando que o aprendizado está indo por um caminho certo. Um diagnóstico
preciso desta fase necessitaria de mais testes, porém o fato é que ela está ao menos dando início
a esse nível.
Intervenção
Na criança do caso I podemos apresentar-lhe o alfabeto de modo formal, para que
conheça as letras e para que ela comece a se habituar com as formas que elas possuem, para
que aconteça um aprendizado significativo. Uma aprendizagem significativa deve vim
acompanhada de meios que condizem com sua realidade e basear-se em seus conhecimentos
prévios. As letras devem formar um novo conhecimento para essa criança como uma forma
inovadora. O garoto deve apresentar interesse. Inserir atividades como trava-línguas, parlendas,
poesias e atividades com rimas, tudo que envolver elementos com significância sonora ou
fonológica serão de muita importância neste momento da criança, ela vai aprender brincando.
Na criança do caso II podemos aprofundar seus usos com as consoantes ainda não
trabalhadas, mas de forma que tenha um sentido para que aconteça um aprendizado
significativo. Uma aprendizagem significativa deve vim acompanhada de meios que condizem
com sua realidade e basear-se em seus conhecimentos prévios. A inserção de atividades como
trava-línguas, parlendas, poesias e atividades com rimas, tudo que envolver elementos com
significância sonora ou fonológica serão de muita importância neste momento da criança, sem
retirar o lúdico dessas atividades. “É importante colocar essa criança em situações de
aprendizagem, em que possa utilizar suas próprias elaborações sobre a linguagem, sem que se
exija dela ainda o domínio das técnicas e convenções da norma culta”. (FERREIRO apud
BOCK, 2008)
Algumas conclusões
De acordo Luria, Ferreiro e até mesmo Vygotsky a criança passa por alguns estágios até
adquirir ou aprender a linguagem escrita, que não é um processo natural como o da fala, esses
estágios podem acontecer gradativamente ou serem ignorados quando parecem irrelevantes
para a criança. Esses níveis ou estágios apresentam um certo padrão nas crianças e revelam-se
V SENAL | 303 | UESB/2018
obsoletos a partir da aquisição ou aprendizado da língua escrita mesmo antes de chegar ao nível
alfabético ou ortográfico. A escrita não sendo um processo natural deve ser então favorecida
por meio do ensino direto, esse ensino deve ser explicito e ordenado, vindo com planejamento
e execução. A diferença, em relação a escrita, da criança que iniciou o processo de escolarização
e o da criança ainda não iniciada confirma essa afirmação. Sendo que uma já sabe reconhecer
letras e produzir seu nome e a outra mal consegue distinguir seus feitos. É evidente a
importância de um professor para mostrar-lhe o mundo da língua escrita e da leitura.
Referência bibliográfica
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Paulo. 1988.
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INFÂNCIA, EDUCAÇÃO, RACISMO E IMPLICAÇÕES DA LEI 11.645/08
João Diógenes Ferreira dos Santos116
Claudia Souza Santos117
Resumo: Num processo de assimilação e construção, onde a compreensão de mundo, de ser e de pertença, permeia
a cultura que conceitua o belo, o feio o bem e o mal, a criança negra subtende através de suas assimilações que ser
negra é ser feia, é um castigo, como afirma Fanon (2008, p. 109), “A evidência estava lá, implacável. Minha
negrura era densa e indiscutível. Ela me atormentava me perseguia, me perturbava, me exasperava”. Nesta
observação, os atributos físicos que o corpo negro apresenta, o coloca constantemente em desalinho com os que é
exigidos pela cultura imposta. Por tanto, esta discussão busca promover um debate sobre como a educação
influencia na construção da identidade étnico-racial de crianças negras desde a infância, que de acordo com
Corsaro (2011), é um período geracional em que as crianças atuam como membros construtoras de suas
subjetividades, assimilando as culturas adultas ao mesmo tempo em que constroem suas próprias e exclusivas
culturas. Nesta oportunidade, analisamos os processos históricos e políticos da educação no Brasil voltada para a
criança negra, observando a importância da Leis 11.645/08 que estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a temática “História e Cultura Afro-Brasileira e
Indígena”. Como política pública que visa promover através da educação a valorização da identidade étnico-racial.
Palavras Chaves:Educação. Infância. Lei. Racismo
Abstract: In a process of assimilation and construction, where the understanding of the world, of being and of
belonging, permeates the culture that conceptualizes the beautiful, the ugly good and evil, the black child subtends
through its assimilations that being black is being ugly, is a punishment, as Fanon says (2008, 109), "The evidence
was there, relentless. My blackness was dense and indisputable. She would torment me, persecute me, disturb me,
exasperate me. " In this observation, the physical attributes that the black body presents, constantly places it in
disrepair with those that are required by the imposed culture. Therefore, this discussion seeks to promote a debate
about how education influences the construction of ethnic-racial identity of black children from childhood, which
according to Corsaro (2011), is a generational period in which children act as building members of their
subjectivities, assimilating adult cultures at the same time as they build their own unique cultures. In this
opportunity, we analyze the historical and political processes of education in Brazil aimed at the black child, noting
the importance of Laws 11.645 / 08, which establishes the guidelines and bases of national education, to include
in the official curriculum of the teaching the theme "History and Afro-Brazilian and Indigenous Culture ". As a
public policy that seeks to promote through education the enhancement of ethnic-racial identity. Keywords: Education. Childhood. Law. Racism.
116Doutor em Ciências Sociais e professor do Programa de Pós-graduação em Memoria, Sociedade e Linguagem.
Docente Titular da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB. (BA). E-mail: [email protected] 117Aluna do Curso de Pós-graduação Memória: Sociedade e linguagem da Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia-UESB. (BA). E-mail: [email protected].
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Introdução
O racismo segundo as Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-
Raciais (BRASIL, 2006), é um julgamento emitido precipitadamente, a partir de
percepções acerca de pessoas, grupos e sociedades, geralmente sem fundamentos,
construídos a partir de estereótipos, que se concretizam em ações e/ou palavra de cunho
depreciativo.
Nisto, observando os direitos humanos das crianças, que foram consagrados como
lei internacional em 1990, a partir de documento oficial da Convenção sobre os Direitos
da Criança (CDC) na Assembleia Geral das Nações Unidas em 20 de novembro de 1989.
Embora esteja ainda hoje longe da sua efetivação no que diz respeito à proteção das
crianças de qualquer forma de discriminação, o artigo 2 da convenção diz:
1 – Os Estados Partes respeitarão os direitos enunciados na presente
Convenção e assegurarão sua aplicação a cada criança sujeita à sua jurisdição,
sem distinção alguma, independentemente de sexo, idioma, crença, opinião
política ou de outra natureza, origem nacional, étnica ou social, posição
econômica, deficiências físicas, nascimento ou qualquer outra condição da
criança, de seus pais ou de seus representantes legais. 2 – Os Estados Partes
tomarão todas as medidas apropriadas para assegurar a proteção da criança
contra toda forma de discriminação ou castigo por causa da condição, das
atividades, das opiniões manifestadas ou das crenças de seus pais,
representantes legais ou familiares. (CDC 1989, art. 2, inciso 1 e 2. Grifo
nosso).
Ao olhar a realidade sistemática, constatamos que os problemas atuais, referentes
à infância e seus problemas específicos; a educação e seus problemas específicos e o
negro brasileiro e seus problemas específicos, não podem ser entendidos isoladamente.
Pois estes problemas estão interligados e são interdependentes. Portanto, as ações que
visam solucionar estes problemas isoladamente, precisam estar sendo pensadas a partir
de estudos holísticos118 profundos das realidades em que estão inseridas para que os
resultados destas ações sejam progressivamente positivos. (MUNANGA, 2012).
118A palavra holístico foi criada a partir do termo holos, que em grego significa "todo" ou "inteiro". O
holismo é um conceito criado por Jan ChristiaanSmuts em 1926, que o descreveu como a "tendência da
natureza de usar a evolução criativa para formar um "todo" que é maior do que a soma das suas partes".
Disponível em: <https://www.significados.com.br/holistico/.>. Acessado em: 17/08/2018.
V SENAL | 306 | UESB/2018
Num questionamento á educação sobre qual é o seu papel; como emancipadora
do homem, ou como reprodutora das desigualdades sociais? Observamos que a mesma,
como noutros sistemas sociais é interligada por relações de poder e como tal, é um campo
de lutas, entres as instâncias políticas, acadêmicas e sociais.
Pensar a educação é pensar como está através de suas interligações pode promover
a emancipação ou a subserviência dos sujeitos envolvidos nestes processos, a partir deste
entendimento compreendemos a educação como um dos importantes instrumentos de
poder e manipulação, isso não diz respeito apenas ao currículo e a metodologia usadas
nas salas de aulas, mas também a uma reprodução cultural, política e social que perpassa
todo o contexto da vida dos sujeitos ativos e passivos dos processos educacionais
(MUNANGA, 2008).
Contextos Históricos e Leis
Adotando uma perspectiva histórica, o processo educacional no Brasil, como
qualquer processo social, sempre esteve relacionado às mudanças políticas, econômicas
e culturais que ocorreram no País, assim como com as concepções sobre o que é infância
e sobre qual o papel da criança na sociedade, de acordo com cada época. (DEL PRIORE,
1999).
Entendendo a educação como um direito de todos que deve ser oferecida logo a
partir da infância, relacionamos então, que as lutas pela educação estão diretamente
ligadas as lutas pelos direitos das crianças e as formas de se pensarem a infância no
processo histórico mundial e brasileiro.
Questionamos então de que maneira a educação em suas bases iniciais contribui
para a formação das identidades, e a valorização das diferenças? Segundo a Lei Nº
9.394/96 que Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, sobre a finalidade da
educação entres outras pautas diz no Art. 2º, que a educação deve ser [...] “inspirada nos
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando”, consiste então, que os verdadeiros objetivos da educação
são promover o desenvolvimento das capacidades individuais e social, de cultura, da
identidade e de valores, a partir das relações com o outro, com o meio e consigo mesmo.
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Ora, a educação com esse objetivo não se limita apenas as salas de aulas, mas
configura-se como sentidos subjetivos que representam uma síntese complexa de
diferentes espaços da vida do estudante, no que está implicada a vida dentro e fora da
escola. Sendo, pois [...]uma prática inserida no contexto das formações sociais que resulta
de condicionamentos sociais, políticos e econômicos, reproduzindo, de um lado, as
transformações sociais, mas de outro dinamizando e viabilizando as transformações ao
garantir aos futuros cidadãos o efetivo acesso ao saber (FIORENTINI; LORENZATO,
2007, p. 66).
As diferenças étnico-racial e de classe como fator excludente da educação
Os processos educacionais no Brasil nem sempre foram democráticos no sentido
de abrigar todos os povos, pois ao longo deste processo o povo negro no Brasil sofreu
diversas chancelas em relação a sua inserção no sistema educacional brasileiro,
porquanto, até bem pouco tempo, o privilégio de estudar como os indivíduos brancos,
pertencentes à elite socioeconômica, para uma pessoa negra era uma verdadeira raridade,
uma caridade, uma benção de Deus. (MUNANGA, 2008).
Nas primeiras décadas do século XX, com a elaboração do código de menores,
mesmo que este visava o controle através de medidas de segurança de cunho punitivo,
trouxe em sua formulação ações de cunho educacional, o que possibilitou de forma mais
democrática o acesso das camadas mais pobres a educação mesmo que de forma punitiva.
(DEL PRIORE, 1999).
Foi na Constituição de 1934 que pela primeira vez a instrução pública apareceu
como direito de todos independentes da condição socioeconômica. Dizia o
artigo 149: a educação é direito de todos e deve ser ministrada pela família e
pelos poderes públicos, cumprindo a estes proporciona-la a brasileiros e a
estrangeiros domiciliados no país, de modo que possibilite eficientes fatores
da vida moral e econômica da nação, e desenvolva num espírito brasileiro a
consciência da solidariedade humana. Três anos mais tarde, no Estado Novo,
em sua específica Constituição totalitária inspirada no fascismo italiano,
afirmava no artigo 129: à infância e à juventude, a que faltarem recursos
necessários à educação em instituições particulares, é dever da nação, dos
estados e dos municípios assegurar, pela fundação de instituições públicas de
ensino em todos os seus graus, a possibilidade de receber uma educação
adequada às suas faculdades, aptidões e tendências vocacionais (DEL PRIORE
1999 p. 360, 361).
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É conveniente dizer que a disponibilidade de vagas não era compatível com a
demanda de procura, sendo isto também um fator de exclusão.
Na constituição de 67, a educação também veio assegurada para todos, e mais
tarde na constituição de 1988 diz no artigo 205: a educação, direito de todos e dever do
Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania
e sua qualificação para o trabalho. (DEL PRIORE, 1999).
No que concerne à educação na sua forma diversificada, no que tange as etnias e
a cultura, nada se observava de singular, visto que a educação de um modo geral é pensada
e elaborada por grupos especifico oriundos das classes dominante e branca, concebia a
educação de forma linear e homogênea com o objetivo de instruir para o trabalho e a
moral – lembramos aqui que umas das matérias obrigatórias no currículo escolar desde a
educação básica até o ensino ginasial, como outrora era chamado era a matéria da
Educação Moral e Cívica, não esquecemos também do ensino da religião, que apesar do
Estado ser laico, o conteúdo desta matéria dizia respeito a uma única concepção religiosa.
(DEL PRIORE, 1999).
A partir das lutas dos movimentos negros, os debates acerca da educação dos
negros e negras passaram a fazer parte das discussões políticas no Brasil, às necessidades
de reparações propõe que o Estado e a sociedade tomem medidas para ressarcir os negros
e as negras descendentes de africanos, dos estragos psicológicos, materiais, sociais,
políticos e educacionais sofridos sob o regime escravista, estragos estes, que se arrastaram
mesmos depois da abolição, como em virtude das políticas explícitas ou tácitas de
branqueamento da população, de manutenção de privilégios exclusivos para grupos com
poder de governar e de influir na formulação de políticas, no pós-abolição. Visa também
que tais medidas se concretizem em iniciativas de combate ao racismo e a toda sorte de
discriminação. (BRASIL, 2004).
Estas demandas geraram a elaboração de leis especificas para o currículo da
educação voltada para as temáticas negras, temos a Lei 11.645/08 como resultado da
alteração da lei nº 10.639/03. Sendo a lei 10.639/03, de 09 de janeiro de 2003, resultado
de uma alteração do Artigo 26 A da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB
- Lei 9.394/96).
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Estas leis que foram sendo progressivamente alteradas têm por objetivo além de
promover a valorização das identidades diversas, a valorização da cultura e o combate ao
racimo “romper com o silenciamento sobre a realidade africana e afro-brasileira nos
currículos e práticas escolares e afirmar a história, a memória e a identidade de crianças,
adolescentes, jovens e adultos negros ou negras na educação básica e de seus familiares”
(GOMES, 2010, p. 20).
Contudo, observamos arelevanciada lei nº 11.645/08, que torna obrigatório o
ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena nas instituições públicas ou privadas
de todo o País, cujo objetivo é abarcar diversos aspectos da história e da cultura que
caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos
(BRASIL, 2008).
Conclusões
Mesmo que a lei na prática apresente dificuldades de ser aplicada por conta da
dificuldade de se ter um conhecimento profundo sobre as temáticas por parte dos
professores deve se perguntar: “(1) que África ensinar e que história do negro no Brasil
ensinar; 2) quem vai ensinar e 3) a partir de que livros e materiais didáticos e
bibliográficos ensinar”? (MUNANGA, 2008, p. 63).
Ora, é necessário que a educação brasileira proporcione aos seus educandos, além
das condições técnicas que visam o desenvolvimento profissional e produtivo; mesmo
porque esta é à base da educação no Brasil, condições teóricas e práticas que visem uma
educação cidadã, crítica, uma vez que:
Tal educação convida para um olhar crítico sobre as questões relacionadas com
a construção de nossas identidades individuais e coletivas, fazendo delas uma
fonte de riqueza e de desenvolvimento individual e coletivo. Ora, a educação
habitualmente dispensada aos nossos jovens é enfocada geralmente numa visão
eurocêntrica que além de ser monocultural, não respeita nossas diversidades
de gêneros, sexo, religiões, classes sociais, “raças” e etnias, que contribuíram
diferentemente na construção do Brasil de hoje, que é um Brasil diverso em
todos os sentidos (MUNANGA, 2008, p. 01).
A partir dos estudos da história da África e dos africanos, da luta dos negros e dos
povos indígenas no Brasil, compreendemos a importância da lei 11.645/08 para a
promoção da igualdade racial, pois entendemos que no Brasil o negro e a negra se
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diferenciam do branco e da branca em razão das diferenças físicas e históricas construídas
entre esses dois sujeitos. Por isso, somente a existência de leis que exijam a discussão
sobre a temática do negro e da negra não são suficientes, pois observamos que essas
ações não bastam para que o racismo e a desigualdade entre negro(a)s e branco(a)s e
outras etnias sejam extinguidos, pois demanda uma reformulação profunda nas formas
subjetivas da sociedade, para extirpar os conceitos racistas e segregadores sedimentados
através de seus processos sociais ao longo da história do povo negro nas Américas. Para
deste modo, a identidade negra ser concebida no negro e na negra de forma positiva
devendo esta ser “como uma construção social, histórica, cultural e plural”. (GOMES,
2003, p. 42).
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Relações Étnico-Raciais - Organizado pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da
Universidade Federal de Ouro Preto - de 26 a 28 de setembro de 2012.
SANTOS, Claudia Souza. SANTOS. João Diógenes Ferreira dos. Concepções acerca dos
processos de construção da identidade étnica negra. In: VI Seminário Nacional e II
Seminário Internacional Políticas Públicas, Gestão e Práxis Educacional, 2017, Vitória
da Conquista. Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia (UESB), 2017. v. 06. p. 535-542.
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A PROPOSTA CURRICULAR PARA A EJA NA BAHIA: O PROGRAMA
TEMPO JUVENIL
Débora Silveira B. Bezerra119
Benedito Eugenio120
Resumo: A educação de jovens e adultos constitui uma modalidade de ensino com características e
demandas específicas. Neste texto, discutimos acerca do currículo proposto para a EJA no estado da Bahia.
Analisamos o documento curricular destinado especificamente para jovens em distorção idade-série.
Palavras-chave: Currículo; Educação de jovens e adultos; Educação básica.
Abstract: The education of young people and adults is a teaching modality with specific characteristics
and demands. In this text, we discuss about the curriculum proposed for the EJA in the state of Bahia. We
analyzed the curricular document specifically for young people in age-grade distortion.
Keywords: Curriculum; Education of young people and adults; Basic education.
Introdução
O currículo é um elemento-chave para a compreensão das funções da
escolarização. Para Sacristán (2000, p.15):
O currículo relaciona-se com a instrumentalização concreta que faz da escola
em um determinado sistema social, pois é através dele que lhe dota de
conteúdo, missão que se expressa por meio de usos quase universais em todos
os sistemas educativos, embora por condicionamentos históricos e pela
peculiaridade de cada contexto, se expresse em ritos, mecanismo, etc., que
adquirem certa especificidade em cada sistema educativo.
De acordo com Sacristán (2000), o currículo é um dos conceitos mais potentes
para analisar como a prática se sustenta e se expressa de uma forma peculiar dentro de
um contexto escolar. O interesse pelo currículo segue paralelo com o interesse por
conseguir um conhecimento mais penetrante sobre a realidade escolar, daí sua
importância para as pesquisas em educação.
119 Licenciada em Ciências Biológicas (UESB). Professora na Rede Estadual de Ensino da Bahia (SEE/BA)
e Mestranda pelo Programa de Pós-graduação em Ensino (PPGEn/Uesb).
120 Professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e do Programa de Pós-graduação em Ensino
(PPGEn/Uesb).
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Para o autor, é difícil ordenar num esquema e em um único discurso coerente todas
as formas e funções que parcialmente o currículo adota, devido à heterogeneidade e
tradição de cada sistema educativo. Vale ressaltar que “o currículo não é uma realidade
abstrata à margem deste sistema em que se desenvolve e para ao qual se planeja
(SACRISTÁN, 2000, p.15).”
Quando definimos o currículo “estamos descrevendo a concretização das funções
da própria escola e a forma particular e enfocá-las num momento histórico e social
determinado, para um nível ou modalidade de educação, numa trama institucional”, como
afirma Sacristán (2000, p.15).
A análise do currículo, tanto de seus conteúdos quanto de seu formato, é condição
básica para entender a missão da instituição escolar em seus diferentes níveis e
modalidades. Nesse caso, procuramos entender como a Secretaria Estadual de Educação
propôs um currículo para a EJA, procurando evidenciar as concepções de currículo e
educação de jovens e adultos nele presente, articulando com o contexto de influencia da
produção de política curricular para essa modalidade de ensino.
Considerando os conflitos de interesse que se estabelecem por trás do currículo,
Sacristán (2000, p.17) diz: “Os currículos são a expressão do equilíbrio de interesses e
forças que gravitam sobre o sistema educativo num dado momento, enquanto que através
deles se realizam os fins da educação no ensino escolarizado.”
O currículo para a Educação de Jovens e Adultos
No âmbito nacional, as Diretrizes Curriculares que normatizam o funcionamento
da Educação de Jovens e Adultos foram definidas de acordo com o Parecer 11/2000
CNE/CEB, descrito pelo relator Jamil Cury, as quais assim explicitam o termo
modalidade:
Uma modalidade da Educação Básica, nas suas etapas fundamental e média. O
termo modalidade é diminutivo latino de modus (modo, maneira) e expressa
uma medida dentro de uma forma própria de ser. Ela tem, assim, um perfil
próprio, uma feição especial diante de um processo considerado como medida
de referência. Trata-se, pois, de um modo de existir com característica própria.
(BRASIL, 2000, p. 26).
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Entendemos, pois, que tal compreensão é importante para que não haja equívoco
no concernente à visibilidade da EJA sendo parte da educação básica e não como um
mero apêndice do processo educacional da rede pública.
A EJA é direcionada aos sujeitos que em seu percurso educativo não conseguiram
acompanhar ou concluir os estudos em tempo regular e também aos que não tiveram
acesso à escolarização em algum momento de seu processo formativo. Para Arroyo
(2005), esses indivíduos, que tiveram que abandonar a escola por necessidade de trabalho
ou problemas pessoais, não o fizeram acidentalmente, mas por terem ao longo de suas
trajetórias de vida, histórias de direitos negados.
A proposta curricular da EJA no Brasil é o resultado de discussões das
Conferências Internacionais para a Educação de Jovens e Adultos (CONFINTEAs) e de
seus desdobramentos, Fóruns de EJA e os ENEJAs (Encontros Nacionais de EJA) em
todo país.
Foram seis as Conferências Internacionais para a Educação de Jovens e Adultos-
CONFINTEAS promovidas pela Unesco nas últimas décadas. A primeira conferência
ocorreu em Elsinor na Dinamarca em 1949 e teve como ponto alto elencar as
características gerais da EJA, mas sem refletir muito a dimensão internacional da
educação de adultos. A segunda ocorreu em 1960 em Montreal no Canadá e coloca a
educação de adultos como ferramenta de sobrevivência e felicidades humanas e, sendo
assim, como direitos. A terceira Confintea em Tóquio no Japão é marcada por alguns
elementos cruciais da EJA no Brasil como enfatizar que esta pode ocorrer em qualquer
etapa da vida e em outros espaços que não somente a escola (MELO e SILVA, 2017).
A IV conferência ocorreu em 1985, em Paris, França, e de acordo com Melo e
Silva (2017, p. 137) as discussões se voltaram “essencialmente para o clima econômico
da época” que estavam relacionadas às concepções neoliberais, além do desemprego e
grande inflação que atingiam principalmente os países latino-americanos. As autoras
trazem que esta conferência não teve muito êxito para as discussões em EJA como as
demais.
Na V Confitea ocorrida em Hamburgo na Alemanha em 1997, foram elaborados
documentos importantes para a EJA: a Declaração de Hamburgo e a Agenda para o
Futuro. A Declaração de Hamburgo trouxe significativos preceitos para a modalidade,
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uma vez que defende uma educação continuada por toda a vida do indivíduo adulto e as
medidas necessárias para a garantia desse direito (SESI-UNESCO,1999).
Com relação à Agenda para o Futuro essa “define de modo detalhado, os novos
compromissos em favor do desenvolvimento da educação de adultos, preconizados pela
Declaração de Hamburgo (SESI - UNESCO, 1999. p. 28)”.
Ainda sobre o resultado da V Conferência Internacional para a Educação de
Adultos (CONFINTEA) essa enfatiza que:
A educação de adultos torna-se mais que um direito: é a chave para o século
XXI; é tanto consequência do exercício da cidadania como uma plena
participação na sociedade. Além do mais, é um poderoso argumento em favor
do desenvolvimento ecológico sustentável, da democracia, da justiça, da
igualdade entre os sexos, do desenvolvimento socioeconômico e científico,
além de um requisito fundamental para a construção de um mundo onde a
violência cede lugar ao diálogo e à cultura de paz baseada na justiça (SESI-
UNESCO, 1999, p.19).
De acordo com Gomes (2013, p.32) foi a partir das mobilizações ocorridas em
todo país, provocada principalmente pelos resultados da IV CONFINTEA em Paris e da
V CONFINTEA em Hamburgo na Alemanha, além de toda preparação para a VI
CONFINTEA realizada no Brasil em 2009 que a proposta curricular para EJA na Bahia
foi construída.
Sendo assim, o documento Política de Educação de Jovens e Adultos da Rede
Estadual, elaborado em 2009 na Bahia, traz a proposta curricular Tempo Formativo para
o ensino da EJA, orientando o trabalho pedagógico na escola.
O currículo da EJA no documento busca valorizar práticas dialógicas e
emancipatórias. É uma construção coletiva que contemple a diversidade sexual, cultural,
de gênero, de raça/etnia, de crenças, valores e vivências específicas desses sujeitos
(BAHIA, 2009).
A Proposta Curricular está estruturada por Tempos Formativos. Este termo surgiu
a partir de discussões oriundas das conferências que deram origem a Declaração de
Hamburgo que definiu como “os quatros pilares da Educação: aprender a conhecer,
aprender a fazer, aprender a viver junto e aprender a ser” (SESI-UNESCO, 1999, p. 31).
A proposta está organizada da seguinte forma:
1º Tempo: Aprender a Ser, contendo 03 Eixos Temáticos, com 01 ano de
duração cada um (Identidade e Cultura; Cidadania e Trabalho; Saúde e Meio
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Ambiente).2º Tempo: Aprender a Conviver, contendo 02 Eixos Temáticos,
com 01 ano de duração cada um (Trabalho e Sociedade; Meio Ambiente e
Movimentos Sociais).3º Tempo: Aprender a Fazer, contendo 02 Eixos
Temáticos, com 01 ano de duração cada um (Globalização, Cultura e
Conhecimento; Economia Solidária e Empreendedorismo). (BAHIA, 2009,
p.20).
O professor da EJA deve levar em consideração alguns aspectos importantes em
sua prática cotidiana como o acesso que seus alunos têm ao conhecimento, a sua riqueza
cultural, diversidade de linguagem e as complexidades do mundo do trabalho. É por conta
destas especificidades que a EJA exige de seus profissionais uma formação que
contemple os conhecimentos e saberes necessários para uma boa atuação nesta
modalidade (BAHIA, 2009).
O currículo da EJA, então, deverá ser “pautado de em uma pedagogia crítica, que
considera a educação como dever político, como espaço e tempo propícios à emancipação
dos educandos e à formação da consciência crítico-reflexiva e autônoma” (BAHIA, 2009,
p.11).
Dentre os vários desafios que a educação brasileira enfrenta pode-se perceber a
distorção idade-série como um problema a ser debatido e resolvido com certa urgência
no país. Essa defasagem pode ocorrer principalmente pela evasão e repetência escolar
(BAHIA, 2009).
No estado da Bahia, programas para resolver a distorção idade-série já foram
realizados em diferentes momentos da primeira década dos anos 2000, a exemplo da
Aceleração da Aprendizagem e o Programa de Correção de Fluxo.
Situação muito presente nas escolas é o fato de muitos adolescentes entre 15 e 17
anos que não concluíram o ensino fundamental encontram-se nessa situação de
defasagem idade-série e são matriculados na EJA “convencional”, mais voltado para os
adultos.
Ocorre que alguns adolescentes muitas vezes não se adaptam à metodologia de
ensino e a forma como são trabalhadosos conteúdos e acabam por se dispersarem, o que
leva à indisciplina e evasão, trazendo prejuízos para a prática dos educadores, que se
sentem perdidos frente às expectativas, saberes e ritmos tão variados (BAHIA, 2009).
A proposta educacional, que garante aos adolescentes de 15 a 17 anos que não
concluíram o ensino fundamental o direito à formação em Programas e Projetos
específicos a esta etapa da Educação Básica e própria à atualização do percurso escolar
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está publicada no PARECER CNE/ CEB Nº: 6/2010 da RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 3,
de 15 de junho de 2010 (BAHIA, 2013).
Na Bahia, a proposta pedagógica que contempla esses adolescentes é chamado
Tempo Juvenil, a qual aprofundaremos mais adiante, e tem a sua proposta descrita em
2013 pela Superintendência de Desenvolvimento da Educação Básica junto à Diretoria
de educação e suas Modalidades e a Coordenação de Educação de Jovens e Adultos. O
objetivo desta Proposta é a valorização do repertório de vida, formação humana do
educando; currículo que contemple a heterogeneidade e o protagonismo juvenil (BAHIA,
2013).
Dentre as medidas de políticas para EJA efetivadas pelo governo do estado da
Bahia, encontra-se a Proposta Curricular Tempo Formativo, implantada em 2009, através
da Portaria nº 13.664/08 em consonância com as Diretrizes Curriculares Estaduais que
orientam a oferta da Educação Básica na modalidade de Jovens e Adultos na Rede
Estadual de Ensino, publicada em Diário Oficial em 19/11/2008 e a Proposta Educacional
para Atendimento a Adolescentes de 15 a 17 anos que não concluíram o ensino
fundamental.
A Proposta Educacional para Atendimento a Adolescentes de 15 a 17 anos, ensino
fundamental, também conhecido como Tempo Juvenil, foi desenvolvida em caráter
preliminar, em setembro de 2013, pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia. O
documento possui 45 páginas e está dividido nas seguintes seções: Apresentação,
Justificativa, Concepção, Referências Legais, Princípios Teórico-Metodológicos,
Organização e Acompanhamento do percurso de aprendizagem, além de Estratégias de
Implantação, Anexos e Referências.
Analisamos a proposta compreendendo-a como texto político e buscamos
identificar os elementos que o compõe e qual o conceito de currículo que nele está
inserido. Para isso, inicialmente fizemos uma leitura flutuante para conhecermos a
proposta e depois de forma minuciosa leituras para compreendermos como o campo
recontextualizador oficial (CRO), que neste documento é representado pelo Estado,
propõe o currículo para o Tempo Juvenil.
O documento curricular mostra a necessidade de se compreender a relação dos
jovens com a escola, problematizando o lugar que a escola deve ocupar na socialização
destes sujeitos sociais. Neste sentido, faz-se necessário:
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Compreender e dialogar com as trajetórias juvenis, suas práticas sociais e
culturais, sua relação com o mundo do trabalho, com os amigos e com o lazer
é fundamental para compreender sentidos, motivações, atitudes e práticas que
desenvolvem na sua inserção em processos educativos. (BAHIA, 2013, p.3)
O documento da proposta do Tempo Juvenil tem por objetivo propor:
uma política própria para o atendimento dos estudantes adolescentes de 15 a
17 anos, garantindo a utilização de mecanismos específicos para esse tipo de
alunado que considerem suas potencialidades, necessidades, expectativas em
relação à vida, às culturas juvenis e ao mundo do trabalho. (BAHIA, 2013,
p.4).
O documento fundamenta as concepções que devem orientar o trabalho
pedagógico com o Tempo Juvenil. Evidencia que existem visões contraditórias com
relação aos adolescentes que por um lado é visto como “protagonista” e potencial de
participação criativa, construtiva e agente de transformação social e por outro lado com
o estereótipo dos jovens como “problema social” e não como “sujeitos de direitos”
(BAHIA, 2013, p.9). O texto ressalta que a construção do currículo deve responder ao
protagonismo juvenil e que este seja voltado para humanização/emancipação.
Considerações finais
A Educação de Jovens e Adultos é marcada por um currículo excludente, com
projetos e programas de governos descontínuos e com um caráter suplementar e
compensatório. A maioria das políticas curriculares desenvolvidas para EJA sempre
esteve relacionada à necessidade do Estado prestar contas sobre a questão do
analfabetismo. Propostas aligeiradas são uma característica desta modalidade.
A análise do texto da proposta curricular, documento do campo recontextualizador
oficial, permite apontar que a concepção de currículo aproxima-se dos ideiais da educação
popular e dos escritos de Arroyo (2007; 2011).
Referências
ARROYO, Miguel. Indagações sobre currículo: educandos e educadores: seus direitos e
o currículo. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.
______. Currículo: território em disputa. Petrópolis: Vozes, 2011.
V SENAL | 319 | UESB/2018
BAHIA, Secretaria de Educação. Política de EJA da Rede Estadual. Salvador: BA, 2009.
Disponível em: http://www.sec.ba.gov.br/jp2011/document/Proposta_da_EJA.pdf.
Acesso em 5 de setembro de 2017.
______. Secretaria de Educação. Secretaria da educação. Proposta Pedagógica do
Tempo Juvenil / Ensino Fundamental para estudantes de 15 a 17 anos. Salvador: BA,
2013. Disponível em: http://www.sec.ba.gov.br/jp2011/document/Proposta_da_EJA.pdf.
Acesso em 5 de setembro de 2017.
BERNSTEIN, B. A estruturação do discurso pedagógico: classe, código, controle.
Petrópolis:Vozes, 1996.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei Nº 9394, de 26 de
dezembro de1996. Brasília, 1996.
_____. Conselho Nacional de Educação: Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação de Jovens e Adultos. Parecer CEB nº 11/2000, 2000.
SACRISTÁN, J. G. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Trad. Ernani F. da F. Rosa.
3ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
V SENAL | 320 | UESB/2018
SIMPÓSIO TEMÁTICO 8: ALFABETIZAÇÃO E ESCOLARIZAÇÃO DE
PESSOAS JOVENS E ADULTAS
COORDENAÇÃO: SONIA MARIA ALVES DE OLIVEIRA
LETRAMENTO LITERÁRIO E ENSINO DA LÍNGUA MATERNA
COORDENAÇÃO: HALLYSSON DIAS
MEDIDAS DE FLUÊNCIA LEITORA: INSTRUMENTOS DE
MONITORAMENTO DO DESEMPENHO DE LEITURA EM ADOLESCENTES
Luiz Felipe dos Santos
Lucas de Oliveira Cunha
Melyssa Tamietti Silva
Luciana Mendonça Alves[1]
Resumo: O objetivo do estudo foi realizar uma pesquisa bibliográfica, na literatura nacional e internacional,
sobre fluência leitora em adolescentes e apresentar as medidas de leitura encontradas nos artigos. A partir
de buscas realizadas nas bases de dados BVS e MEDLINE, foram selecionados e analisados na íntegra
cinco artigos, que apontaram uma correlação positiva entre o avanço nas séries escolares e as habilidades
de leitura, além de melhores habilidades de leitura e compreensão de texto em escolares sem queixas ou
transtornos de aprendizagem. Alguns artigos indicam que a fluência leitora exerce influência sobre a
compreensão de textos. As medidas de leitura encontradas com melhor aplicabilidade no ambiente clínico
e escolar foram: taxa de leitura, acurácia de leitura, percentual de palavras lidas corretamente por minuto,
presença e ausência de leitura silabada e caracteres por minuto.
Reading fluency measures: reading performance monitoring instruments in adolescentes
Abstract: The objective of the study was to carry out bibliographical research in the national and
international literature on the reader fluency in adolescents and to present the reading measures found in
the articles. From searches on the bases BVS and MEDLINE, were selected and analyzed in full five studies,
which pointed out a positive correlation between the advancement in the school series and the reading
skills, in addition to better reading skills and understanding of text in a school without complaints or
learning disorders. Some articles indicate that the reader fluency exerts influence on the comprehension of
texts. The reading measures found with better applicability in the clinical and school environment were:
reading rate, accuracy, the percentage of words read correctly per minute, presence or absence of reading
letter by letter, and characters per minute.
Introdução
O período da adolescência é marcado por adaptações e modificações de ordem
biológica, cognitiva, social, emocional e comportamental. Também, neste período, é
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comum escolares se depararem com dificuldades acadêmicas que, em grande parte, têm
como causa dificuldades de leitura.
Um bom leitor não é aquele que só consegue decodificar signos, mas,
fundamentalmente, aquele que compreende, extrai informações e atribui significado ao
texto.
Pesquisas têm demonstrado que a fluência na leitura é uma habilidade necessária
para se adquirir a compreensão leitora (MARTINS; CAPELLINI, 2014; O’CONNOR,
2017; PULIEZI; MALUF, 2014; PULIEZI, 2015; WALKER; VAUGHN, 2016;
STEVENS; WALKER; VAUGHN, 2016).
Segundo Kuhn et al. (2010) fluência combina precisão, automaticidade e prosódia
da leitura oral que, em conjunto, facilitam a construção do significado pelo leitor. A
precisão na leitura refere-se ao reconhecimento ou decodificação correta das palavras,
combinando um forte entendimento do princípio alfabético, a destreza para juntar
diferentes sons e o conhecimento de um grande número de palavras (HUDSON; LANE;
PULLEN, 2005). Logan (1997) apresenta quatro propriedades envolvidas na
automaticidade: velocidade, ausência de esforço, autonomia e ausência de atenção
consciente, que permitem o reconhecimento automático de uma palavra. O último fator
influente sobre a fluência de leitura é a habilidade de ler com prosódia, ou seja, ler com
expressão, ritmo e entonação apropriados, permitindo a manutenção do significado
(KUHN, 2010). Esses são fatores que podem dificultar ou facilitar a compreensão do
texto lido.
Uma vez que leitores desenvolveram eficiência com os aspectos básicos de leitura,
e a decodificação de palavras se torna sem esforço e rápida, a leitura eficiente de texto é
refletida em características paralinguísticas, como a prosódia (GEVA; ZADEH, 2006).
Portanto, medidas de fluência e de variações prosódicas adequadas durante a leitura em
voz alta podem ser usadas como indicadores diagnósticas para qualidade de decodificação
e compreensão (ALVES, 2014).
Objetivo deste estudo foi realizar uma pesquisa, na literatura nacional e
internacional, de artigos que investiguem a fluência leitora em adolescentes e apresentar
as medidas de leitura utilizadas nas pesquisas encontradas com aplicabilidade clínica e
escolar.
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Desenvolvimento
O presente estudo apresenta dois objetivos: o primeiro consiste em reunir
pesquisas nacionais e internacionais sobre fluência de leitura em adolescentes com
desenvolvimento típico ou não de linguagem; e o segundo de refletir criticamente sobre
as possibilidades de uso das medidas de leitura encontradas na pesquisa para avaliação da
fluência leitora em adolescentes, tanto no ambiente clínico como escolar.
Para a pesquisa bibliográfica, foram realizadas buscas nas bases de dados BVS e
MEDLINE de artigos em Português, Inglês e Espanhol, sem delimitar o período de
publicação, com os descritores: Fluência leitora (Reading fluency), Prática de leitura
(Reading practices), Compreensão de textos (Reading comprehension), Velocidade de
leitura (Reading rate), Habilidade de leitura ("Reading ability"), Dificuldade de leitura
("Reading difficulty"), Transtorno de leitura (Reading Disorders) sempre associados ao
descritor Adolescente (Adolescent), de forma isolada e combinada.
Para inclusão dos artigos foi realizada a leitura dos títulos, mantendo-se aqueles
que aparentavam relação com o objetivo deste estudo. Após a escolha dos artigos pelo
título, realizou-se a leitura dos resumos, tendo sido excluídos aqueles cujo
objetivo/metodologia não contemplassem, em seu escopo, a avaliação de leitura de
adolescentes. Considerou-se adolescência o período de idade que vai de 13 a 18 anos, de
acordo com a National Library of Medicine (EUA).
Os textos selecionados foram lidos na íntegra e destes retidos informações quanto
à avaliação da fluência de leitura em adolescentes e medidas de leitura utilizadas nos
artigos.
Resultados
Foram encontrados 170 artigos publicados entre 1982 a 2016, a maioria nos
últimos dez anos. Trinta e oito (38) trabalhos foram classificados pela leitura do título dos
artigos, dos quais se realizou a leitura dos resumos, e destes foram selecionados cinco
artigos para a leitura integral do texto.
A maioria dos estudos encontrados foi realizada no Brasil (80%) seguido de
pesquisas americanas (20%), não sendo encontradas em língua espanhola. A amostra
variou entre 26 e 146 indivíduos com idades de sete a 18 anos. Os materiais de leitura
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utilizados para coleta de dados foram textos elaborados pelos autores ou retirados de
livros didáticos ou de literatura com linguagem correspondente à faixa etária estudada. A
partir destes textos solicitou-se aos participantes: apenas a leitura, leitura e interpretação
e preenchimento de lacunas a partir da Técnica de Cloze, para comparar desempenho de
leitura entre os anos escolares ou em indivíduos com e sem queixas de aprendizagem.
Tabela 1 – análise dos artigos selecionados para leitura na íntegra.
Pesquisa Revista de
publicação
Medidas de
avaliação
Nº da
amostra Resultados
Martins
(2001).
Psicologia:
Reflexão e
Crítica.
Quociente de leitura 146
indivíduos
Nomeação seriada rápida contribui para a
variação na habilidade de leitura e escrita,
independentemente da consciência de fonemas.
Messias et al.
(2008).
Arquivos
Brasileiros de
Oftalmologia.
Velocidade de leitura (medida com o
número de caracteres
por minuto)
25
indivíduos
Desenvolvimento de textos para medida da
velocidade de leitura em português comparáveis
com outros quatro idiomas europeus.
Alves (2009).
Revista da
Sociedade Brasileira de
Fonoaudiologia.
Duração e localização
das pausas, número
de sílabas emitidas, tempo total de
elocução e taxa de
articulação.
40 indivíduos
O grupo clínico (indivíduos disléxicos)
apresentou maior quantidade e tempo de pausas, além de menos velocidade de leitura e lentidão da
produção do gesto articulatório.
Dellisa (2013).
CoDAS
Tempo de leitura, taxa de leitura ,
percentual de
palavras lidas
corretamente, presença ou ausência
de leitura silabada e
compreensão de texto.
55 Indivíduos
O estudo encontrou diminuição do tempo de
leitura, aumento da taxa de leitura e do percentual
de palavras lidas corretamente com o aumento da escolaridade. A compreensão teve resultados
homogêneos.
Komeno et al.
(2015).
Estudos de
Psicologia.
Número de palavras
lidas por minuto de
forma oral e silenciosa.
32
Indivíduos
A velocidade de leitura silenciosa se mostrou
mais alta que a da leitura oral. Houve correlação
entre a velocidade de leitura e o desempenho acadêmico.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Apresentação e discussão das medidas de leitura
A melhor forma de se avaliar a fluência de leitura de um indivíduo é através da
leitura de textos. É importante que o texto escolhido esteja adequado à faixa etária e a
realidade do escolar, com vocabulário e complexidade compatíveis. Para uma avaliação
mais objetiva é interessante que a leitura da criança seja gravada em áudio ou vídeo, assim
pode utilizar-se dos recursos de análise acústica e mensuração da taxa de acurácia.
As medidas de avaliação de leitura encontradas:
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● Taxa de leitura: é o número de palavras lidas por minuto – PPM expressa na
equação
𝑇𝑎𝑥𝑎 = 𝑁º 𝑑𝑒 𝑃𝑎𝑙𝑎𝑣𝑟𝑎𝑠 𝑜𝑢 𝑃𝑠𝑒𝑢𝑑𝑜𝑝𝑎𝑙𝑎𝑣𝑟𝑎𝑠 𝑙𝑖𝑑𝑎𝑠 𝑋 60 𝑠𝑒𝑔𝑢𝑛𝑑𝑜𝑠
𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑙𝑒𝑖𝑡𝑢𝑟𝑎 (𝑒𝑚 𝑠𝑒𝑔𝑢𝑛𝑑𝑜𝑠)
● Acurácia: representa o número de palavras lidas corretamente por minuto.
Hesitações, estratégias de revisão para correções ou falhas na decodificação ortográfica
podem ser considerados erros.
𝐴𝑐𝑢𝑟á𝑐𝑖𝑎 = 𝑁º𝑑𝑒 𝑃𝑎𝑙𝑎𝑣𝑟𝑎𝑠 𝑜𝑢 𝑃𝑠𝑒𝑢𝑑𝑜𝑠𝑝𝑎𝑙𝑣𝑟𝑎𝑠 𝑙𝑖𝑑𝑎𝑠 𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑡𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑋 60 𝑠𝑒𝑔𝑢𝑛𝑑𝑜𝑠
𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑙𝑒𝑖𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑑𝑜𝑠 𝑖𝑡𝑒𝑛𝑠 (𝑒𝑚 𝑠𝑒𝑔𝑢𝑛𝑑𝑜𝑠)
● Percentual de palavras lidas corretamente por minuto – PPC: tem como base o
número total de palavras do texto e o número de palavras lidas corretamente pelo leitor.
O resultado é obtido em % de PPC (Percentual de Palavras Lidas Corretamente). Pode
ser calculado pela regra de três:
N° total de palavras __________________100%
PPC__________________x%
● Presença ou ausência de leitura silabada: A presença pode indicar que o
indivíduo está utilizando a rota fonológica para ler. Dependendo da idade escolar, esse
tipo de leitura não é mais esperada. É importante ressaltar que palavras de baixa
frequência ou desconhecidas para o leitor podem ser lidas pela rota fonológica, o que
pode gerar uma impressão de leitura silabada.
● Caracteres por minuto: Seu cálculo corresponde ao número de letras (caracteres
e dígitos) lidos pela criança no texto em um minuto e não ao número de sons
pronunciados.
Essas medidas são de rápida e fácil aplicação, tanto no ambiente clínico quanto
escolar, não dependem de nenhum tipo de equipamento especial e permitem conhecer, de
forma simples, o nível de precisão e automatização em tarefas de leitura dos escolares.
Recomenda-se que a leitura do escolar seja gravada para facilitar a quantificação de
palavras lidas corretamente.
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● Duração e localização das pausas; número de sílabas emitidas; tempo total de
elocução; taxa de elocução; tempo de articulação; taxa de articulação; taxa de
velocidade de mudança melódica, quociente de leitura.
Estas medidas, apesar de precisas, exigem recursos mínimos: microfones,
gravadores de áudio, software e computador, um local ideal para gravação (ambiente
silente), que nem sempre se encontram disponíveis e requerem conhecimento específico
para utilização e análise de resultados. Sendo assim, são mais adequados em ambientes
de pesquisa, não demonstrando facilidade de uso clínico/escolar.
Conclusão
O presente estudo mostra a escassez na produção científica que investiga fluência
leitora em adolescentes. Os resultados dos artigos apontaram uma correlação positiva
entre o avanço nas séries escolares e as habilidades de leitura, além de melhores
habilidades de leitura e compreensão de texto em escolares sem queixas ou transtornos
de aprendizagem. Alguns artigos indicam que a fluência leitora exerce influência sobre a
compreensão de textos.
As medidas de leitura encontradas com melhor aplicabilidade no ambiente clínico
e escolar foram: taxa de leitura, acurácia de leitura, percentual de palavras lidas
corretamente por minuto, presença e ausência de leitura silabada e caracteres por minuto.
Estas podem ser utilizadas para comparar um grupo de indivíduos, por exemplo, uma
mesma sala de aula, e identificar aqueles indivíduos dentro do grupo que possuem o
menor desempenho em tarefa de leitura. Estas medidas não possuem valor diagnóstico ou
de triagem e não substituem uma avaliação clínica, mas podem ser utilizadas como uma
mensuração breve do desempenho e desenvolvimento educacional dos alunos; e, ainda,
podem ser empregadas para comparar o indivíduo com ele mesmo em dois momentos
distintos, para verificar o desenvolvimento escolar e o desempenho do aluno, seja com o
avanço escolar ou após uma intervenção. Um outro ponto a ser enfatizado é de que não
existem parâmetros precisos para a maioria das medidas de leitura para o português do
Brasil, o que dificulta a interpretação dos achados de leitura dos jovens escolares.
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V SENAL | 328 | UESB/2018
MOBRAL: UM PROGRAMA DO REGIME MILITAR PARA A
ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS
Zwinglio Alves Rodrigues121
Amarildo Lima dos Santos122
Resumo: Este estudo discute o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) levando em
consideração sua origem, o aporte de recursos, seu caráter ideológico e sua ineficiência conforme
propugnada pelos críticos. O tema é explicado e discutido a partir da metodologia de pesquisa bibliográfica.
Palavras-Chave: Alfabetização; Brasil; Erradicação; MOBRAL; Regime Militar.
Introdução
Este trabalho insere-se numa perspectiva histórica a fim de trazer a baila algumas
considerações sobreo Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), criado em 15
de dezembro de 1967 pela Lei 5.379, no governo do Presidente Arthur da Costa e Silva,
que provia alfabetização funcional e educação continuada para jovens e adultos com o
intuito de erradicar o analfabetismo. Adentra-se à discussão pontuando questões sobre a
origem do programa e referência à marcos legais, perpassando pelo apontamento de
fontes dos recursos disponibilizados para a implementação do movimento, sinalizando o
aspecto político-ideológico do movimento conforme desvela os críticos e ressaltando a
ineficiência do MOBRAL segundo a perspectiva de alguns autores. Para tanto, adota-se
a metodologia de pesquisa bibliográfica.
Origem do MOBRAL
Nos termos do Artigo 4º da Lei 5.379, instituiu-se o MOBRAL:
121Mestre em Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGEd – Uesb. Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia – Uesb. Secretária Municipal de Educação de Andaraí, Bahia, Brasil. E-
mail:[email protected]
122Mestrado Profissional em Matemática. PROFMAT – Universidade Estadual de Feira de Santana (UFES).
Secretária Municipal de Educação de Andaraí, Bahia, Brasil. E-mail: [email protected].
V SENAL | 329 | UESB/2018
Fica o Poder Executivo autorizado a instituir uma Fundação, sob a
denominação de Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL – de
duração indeterminada, com sede e foro na cidade do Rio de Janeiro, Estado
da Guanabara, enquanto não for possível a transferência da sede e foro para
Brasília (BRASIL, 1967, p. 1).
Quanto ao propósito do programa, a Lei pretende “conduzir a pessoa humana (sic)
a adquirir técnicas de leitura, escrita e cálculo como meio de integrá-la a sua comunidade,
permitindo melhores condições de vida” (JARDILINO; ARAÚJO, 2015, p. 59). A
erradicação do analfabetismo, segundo a letra da Lei, proporciona a ascensão escolar
redundando em uma condição melhor de vida. Antes da criação do MOBRAL, quatro
meses atrás, em 08 de setembro de 1967, Dia Internacional da Alfabetização,
o Ministro da Educação e Cultura, Dr. Tarso Dutra levou à consideração do
Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Marechal Costa e Silva,
decretos e anteprojetos de lei relativos à matéria. Após a avaliação do sério
problema com que a nação se defrontava, o presidente anunciou que enviaria
ao Congresso o Plano de Alfabetização Funcional e Educação Continuada de
Adultos, precedido de anteprojeto de lei pelo qual a Alfabetização Funcional e
a Educação Continuada passariam a ser atividades prioritárias permanentes do
Ministério da Educação e Cultura no qual ficaria instituída a Fundação
MOBRAL como seu órgão executor” (MOBRAL, 1973, p. 9).
Nos objetivos do Plano consta: “alfabetização funcional e educação de adultos
para os analfabetos de 15 ou mais anos, por meio de cursos especiais, básicos ou diretos,
dotados de todos os recursos possíveis, inclusive audiovisuais, com duração de 9 meses”
(MOBRAL, 1973, p. 10).
Através da Portaria Ministerial nº 28 de 28 de janeiro de 1968, uma comissão para
a escrita dos Estatutos do MOBRAL foi criada. “Os Estatutos do MOBRAL foram
aprovados pelo Decreto 62.484, de 29 de março de 1968, e registrado no Cartório Álvaro
César de Melo Meneses, sob nº 18.963, em 30 de abril de 1968” (MOBRAL, 1973, p.
11).O esforço governamental propunha erradicar virtualmente o analfabetismo ao longo
do decênio de 1970. Segundo os cômputos do censo de 1970, o analfabetismo atingia
33% da população adulta (15 anos ou mais), o equivalente a 17.936.887 pessoas.
Com o MOBRAL, o governo passa a controlar a alfabetização de adultos.
Atendendo a uma população urbana entre 15 a 35 anos, é oferecida, como já salientado,
uma alfabetização funcional – apropriação de técnicas básicas de leitura, escrita e cálculo.
Esse movimento, segundo os críticos, “não demonstrava nenhuma preocupação com a
formação integral do homem. O MOBRAL assume a educação como investimento,
V SENAL | 330 | UESB/2018
qualificação de mão-de-obra para o desenvolvimento econômico. A realidade existencial
não é questionada” (EUGÊNIO, 2004, p. 43). Evidencia-se uma alfabetização de adultos
vinculada ao desenvolvimento socioeconômico já que o analfabetismo é um dos grandes
obstáculos ao desenvolvimento do país (JANNUZZI, 1989).
Em maio de 1970, o Dr. Mario Henrique Simonsen foi designado Presidente do
MOBRAL. “A escolha do novo presidente do MOBRAL foi uma das providências
tomadas para poder implementar um programa capaz de realizar uma ‘ação extensiva’
alfabetizadora” (PAIVA, 2009, p. 347). Na década de 1970,
o MOBRAL expandiu-se por todo o território nacional, diversificando sua
atuação. Das iniciativas derivadas desse programa, o mais importante como
forma de atuação do movimento, foi o PEI, Programa de Educação Integrada,
sendo uma forma condensada do antigo curso primário” (VITÓRIA DA
CONQUISTA, SMED, 2007).
Concernente à “educação continuada”, segundo Paiva,
a oferta da ‘educaçãocontinuada’ pós-alfabetização não constituiu, ao longo da
história do MOBRAL, uma preocupação importante do movimento nem foi
pensada antes de ter sido o programa lançado. O próprio MOBRAL admite que
o programa ‘educação integrada’ não nasceu do conhecimento prévio dos
responsáveis pelo movimento dos problemas relativos à regressão da
aprendizagem e do malogro das campanhas anteriores. Ele teria surgido como
resultado da constatação ‘informal e empírica’ nas frentes de atuação da
campanha de que os egressos do curso de alfabetização ‘aspiravam por novas
oportunidades de continuidade dos estudos (2009, p. 373).
Fontes dos recursos para o MOBRAL
Uma fonte dos recursos para uma campanha de massa era o Imposto de Renda das
empresas endividadas – um percentual de 2%. O Decreto-Lei nº 1.124 de 08 de setembro
de 1970 (MOBRAL, 1973), assinado pelo então Presidente da República, Emílio
Garrastazu Médici, oficializou esta transferência voluntária. Outra fonte foi a Loteria
Esportiva da qual se destinou 24% da renda líquida, “podendo o programa contar, já em
1971, segundo cálculo do ministro Passarinho, com uma fantástica soma que atingia entre
20 a 25 milhões de dólares” (PAIVA, 2009, p. 347). Com a presidência de Simonsen, “o
MOBRAL encontrou recursos novos e uma perspectiva de grande crescimento”
(MOBRAL, 1973, p. 12).
V SENAL | 331 | UESB/2018
Aspectos político-ideológicos do MOBRAL
Críticos atribuem ao MOBRAL um caráter eminentemente político-ideológico.
Paiva (2009) é um desses. A autora argumenta: “servia ao bom entendimento entre
patrões e empregados, ao combate à luta de classes, à promoção da sua conciliação [...]”
(PAIVA, 2009, p. 358). Ela ainda explicita sua compreensão transcrevendo um trecho do
“projeto político” onde é apresentada como ponto de partida uma
visão positiva, construtiva, da sociedade e do homem... Quando ouvimos falar
dos chavões do comunismo internacional, da sua chamada ‘educação
libertadora’, da sua pedagogia dos oprimidos, ocorre-nos que tudo isso começa
com a grande contradição de que o ser humano é chamado a figurar dentro de
um esquema que tem um objetivo previamente determinado, sobre o qual esse
homem não influirá de modo algum... Ao contrário, no Mobral as pessoas
discutem com toda liberdade, e sem qualquer dirigismo, as coisas do seu
mundo... Nossos livros, nossas cartilhas são construídos com palavras
corriqueiras do universo lingüístico brasileiro... Palavras que se prestam à
discussão dos seus grandes problemas... mas que não contém uma carga de
ódio nem são desnecessariamente mórbidas... no curso da ‘pedagogia dos
oprimidos’ trata-se de palavras de cunho revolucionário que incitam..., ao ódio
entre as classes (PAIVA, 2009, p. 358).
Noutro lugar, a autora, discutindo sobre recursos para o MOBRAL, volta a
destacar o elemento político-ideológico desta feita para enfatizar interesses do governo
na manutenção do status quo. No entanto, teóricos do MOBRAL, como Arlindo Lopes
Corrêa, considerado o mais importante ideólogo do programa, expressavam outros
sentimentos sobre o programa:
O MOBRAL acredita nas posições renovadoras das relações entre os homens,
mas acredita que isso pode ser feito com a preservação de valores que dão
identidade cultural ao povo brasileiro e sem os traumatismos pregados pelos
radicais. Ao surgir em um mundo cuja tradição, propagada pelos meios de
divulgação dos extremistas, era a de programas de educação de adultos
associados a movimentos de luta revolucionária armada, o MOBRAL adotou
um programa “evolucionário”, aberto, participativo, livre dos dogmas e mitos
(CORRÊA, 1979, p. 50).
A metodologia do MOBRAL
No tocante a metodologia, de certa forma, o método de Paulo Freire foi copiado
quanto às “palavras geradoras”. “O MOBRAL define seu método como: eclético, baseado
na decomposição das palavras geradoras [...]” (JANNUZZI, 1989, p. 59). “É o método
V SENAL | 332 | UESB/2018
que denominamos de eclético [...]” (MOBRAL, 1975, p. 40). Segundo o Documento
Básico do MOBRAL:
O método do MOBRAL para Alfabetização Funcional, baseia-se em palavras
de grande uso em todo o território nacional, chamadas palavras geradoras:
escola comida, sapato, tijolo e outras. São escolhidas porque fazem parte do
dia-a-dia das pessoas (educação, alimentação, vestuário, emprego e habitação)
e, em conseqüência, tornam-se de fácil utilização (MOBRAL, 1975, p. 37).
Em ambos os métodos usa-se técnicas analítico-sintéticas conforme aponta
Jannuzzi (1989, p. 63): “O material didático é confeccionado por uma equipe central para
ser usado em todo o território nacional. É elaborado de modo que ofereça oportunidade
ao aluno de caminhar no processo de alfabetização dentro das operações mentais de
análise e síntese, isto é, dentro das técnicas analítico-sintéticas.” A distinção entre eles
consiste,segundo a autora, no fato de Freire problematizar a realidade de vida dos
estudantes com vistas à transformação da realidade. Por isso, o “método” freiriano
enaltece o diálogo entre professor e aluno, (atores capazes de mudar a realidade)
empreendimento, segundo os críticos, desconsiderado pelo MOBRAL que concebia uma
educação formadora de mão-de-obra para o mercado de trabalho e desenvolvimento de
princípios para a cidadania.
A ineficiência do MOBRAL
Em 1980, considera-se que a ineficiência do MOBRAL expõe-se quando o censo
do IBGE “registrava ainda uma alta taxa de analfabetismo: 25,5% entre pessoas de 14 ou
mais anos de idade” (GADOTTI, 2000, p. 27).
Os índices de analfabetismo caíram, nos anos 70, de 33,6% (1970) para 25,8%
(1980) – sofrendo, portanto, uma redução de 7,8%. Esses resultados são
extremamente medíocres se os comparamos com aqueles obtidos na década de
50, quando funcionaram as grandes campanhas de alfabetização de adultos e
que – diga-se de passagem – nunca sonharam em dispor dos recursos que o
MOBRAL teve à sua disposição (PAIVA, 2009, p. 371).
Em números absolutos de analfabetos, no conjunto do país, compreendendo os
anos 1970 a 1980, houve um crescimento de 18.146.891 para 19.356.092 (PAIVA,
2009).Até sua extinção em 25 de novembro 1985 pelo Decreto nº 91.980, o MOBRAL
atendeu 45 milhões de pessoas das quais, segundo o orgão, 1,5 milhões eram consideradas
alfabetizadas.
V SENAL | 333 | UESB/2018
A Fundação EDUCAR, subordinada ao Ministério da Educação e Cultura (MEC)
ocupa o lugar do MOBRAL até sua extinção, nos termos da Lei nº 8.209, de 12 de abril
de 1990, recém empossado Presidente da República Fernando Collor.
Conclusão
Frente ao elaborado, vimos que o MOBRAL tem sua origem no período do
Regime Militar com a proposta de erradicar o analfabetismo e de formar os educandos
com habilidades básicas para entrarem no mercado de trabalho e desenvolver princípios
para a cidadania. Constatamos que um substancial e invejável aporte financeiro foi
destinado ao programa. Dado o mito da neutralidade científica, evidenciou-se, a partir das
análises de alguns teóricos, que o movimento carregava em sua natureza um peso
ideológico pensado a priori a fim de legitimar o status quo do governo da época. No
entanto, a esse respeito, teóricos do MOBRAL defendiam-no contra tal apontamento. No
que tange à metodologia do MOBRAL, ele decompunha palavras geradoras apresentadas
em cartaz gerador. O método era silábico-fonético. Finalmente, pôs-se em relevo a
ineficiência do programa discutindo dados estatísticos relacionados.
Compreendemos haver a necessidade de maiores aprofundamentos dos pontos
elencados neste trabalho a fim de ir lançando maiores luzes aos fatos. Isso pode ser feito
para a confecção de outros estudos ou para o enriquecimento intelectual quanto ao
conhecimento dos fatos disponibilizados pelas referências teóricas selecionadas para
fundamentarem este estudo.
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V SENAL | 335 | UESB/2018
O USO DE TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO: A INSERÇÃO NA PRÁTICA
ESCOLAR E APERFEIÇOAMENTO NO ENSINO
Vilmar Joaquim dos Santos123
Resumo: O presente artigo visa expor através de revisões bibliográficas, uma visão contemporânea do
ponto de vista de metodologias do ensino aprendizagem, dentre elas a utilização de recurso tecnológico em
sala de aula. A justificativa para a escolha do tema paira sobre sua contemporaneidade, além da expectativa
de contribuir para o âmbito acadêmico. Nesse momento, foi possível concluir as tecnologias fazem parte
do contexto contemporâneo, permeando praticamente todas as ações do ser humano. É necessário trazer as
tecnologias para o ambiente da educação, a fim de torná-las aliadas do processo educacional, gerando
engajamento, interesse, dinamismo e interação entre alunos e conhecimentos. Quando utilizada como um
recurso didático-pedagógico, de forma adequada e bem empreendida, certamente a tecnologia se torna uma
ferramenta valiosa para gerar a aprendizagem significativa.
Palavras-chave: Educação. Tecnologia. Ensino. Aprendizagem.
Introdução
Lançar mão das tecnologias como ferramenta didática, é algo que possibilita
enriquecer o processo de ensino e aprendizagem, tornando as aulas mais dinâmicas e
interativas, contextualizando os conteúdos e tornando-os acessíveis à realidade dos
alunos. A tecnologia ao alcance da escola, se torna uma ferramenta pedagógica não
somente requerida, mas necessária, contribuindo didaticamente para atrair a atenção dos
alunos e, como consequência, seu uso adequado e coerente, promove o conhecimento
escolar e aquisição do conteúdo do currículo.
É possível inferir que o uso das tecnologias se relaciona à ampliação da qualidade do
ensino, certamente que, quando utilizado com propostas bem planejadas e em
conformidade com as concepções filosóficas e educacionais. As novas tecnologias
possibilitam aplicabilidades pedagógicas inovadoras e que podem contribuir para o
alcance de resultados diferenciados, assim como fortalecer a justiça social, o que ocorre
pela democratização do acesso ao ensino, possibilitando um processo de comunicação
tecnológica em que todos se apropriem do conhecimento.
Com o intuito de traçar um objetivo coerente para a abordagem do tema, pontua-
se como principais objetivos específicos: conceituar a tecnologia e seu uso na educação;
e, debater sobre a importância do uso da tecnologia como ferramenta educacional. Dessa
123 [Graduado em Licenciatura plena em Geografia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – Pós
Graduado em Metodologia do Ensino de Geografia e História pela Faculdade Futura]
V SENAL | 336 | UESB/2018
forma levanta-se a problemática acerca da questão: qual é a importância da inserção das
tecnologias na educação?
O artigo vem justificar a necessidade de contribuição no âmbito acadêmico, por
meio dessa pesquisa, cujo tema deve orientar outras temáticas similares no futuro.
O uso de tecnologias na educação
Damásio (2007) propõe que a tecnologia envolve artefatos, suas aplicações e
contextos de uso conforme lógicas sociais e organizacionais auto-reguladoras. Nessa
perspectiva, explica que as tecnologias da informação se desenvolvem em meio a um
processo histórico que resulta da integração entre computação e o processamento
numérico automático, e a comunicação, que trata da produção, transformação e
transmissão de representações que constituem sistemas organizados em camadas.
O autor comenta que a primeira camada é de infraestrutura de hardware e, em
seguida vem a camada das aplicações práticas que tratam da coleta, processamento,
transformação e distribuição de informações e valores sociais. A terceira camada é de
origem social e organizacional, responsável por estruturar e condicionar as duas camadas
anteriores.
Conforme Damásio (2007) ressalta-se, nessa perspectiva, que a integração entre
os elementos tecnológicos, práticas, fatores sociais e organizacionais configuram o uso
de uma tecnologia. Portanto, o conceito de uso da tecnologia ultrapassa seu manuseio
instrumental e envolve as formas de uso de uma tecnologia no campo da esfera social,
estipuladas na interação com o sistema constituído por esses elementos, propiciando e
fortalecendo a realização de experiências ativas.
Almeida (1996) comenta que os rápidos avanços socioculturais e tecnológicos do
mundo contemporâneo, geram ininterruptas mudanças nas organizações e também no
pensamento humano, revelando um novo universo no cotidiano das pessoas, que requer
independência, criatividade e autocrítica para o alcance e seleção de informações, bem
como para a construção de conhecimentos.
A autora aponta que a empresa que empregar a tecnologia computacional na
aquisição de conhecimentos, por meio da manipulação não linear de informação, do uso
de imagens, navegação entre informações diversas, estabelecimento de conexões entre
V SENAL | 337 | UESB/2018
elas, etc., permite o desenvolvimento de formas distintas de representação e entendimento
do pensamento.
Segundo Almeida (1996), os computadores permitem representar e testar ideias
ou hipóteses que levam à concepção de um mundo abstrato e simbólico, ao mesmo passo
em que inserem distintas formas de atuação e interação entre as pessoas. Essas novas
relações que, além de envolver uma racionalidade técnica operatória e lógico-formal,
também tratam de ampliar o entendimento sobre elementos sócio-afetivos, tornando
evidentes fatores pedagógicos, psicológicos, sociológicos e epistemológicos.
Kenski (2008) acredita que a educação e a tecnologia são elementos
indissociáveis, pois, ao longo do tempo, as tecnologias geraram mudanças na forma de
fazer e pensar a educação. Com as TICs, muitos paradigmas foram colocados em questão,
os alunos, muitas vezes, adentram ao espaço escolar com mais conhecimento dessas
tecnologias do que o professor. E um exemplo disso paira sobre uma iniciativa do governo
finlandês que, notando essa realidade, elegeu quinhentos alunos para oferecer formação
tecnológica aos seus professores.
Em sua perspectiva, as novas tecnologias acarreta uma série de medos,
preconceitos e exageros, como a autora considera essa iniciativa mencionada. Outro
exagero que aponta é a mistificação de que essas tecnologias podem ser a solução de
todos os problemas anteriores a elas e, por isso, passem a ser utilizadas de forma
indiscriminada, inclusive em contextos absurdos. Sobre essa percepção, a autora
exemplifica alguns exemplos em escolas norte-americanas em que, algumas disciplinas
foram retiradas dos currículos por não poderem ser trabalhadas com o uso das novas
tecnologias.
Kenski (2008) não coaduna com esse tipo de exageros, mas levanta a percepção
de que as novas tecnologias requerem, efetivamente, novas abordagens. O que significa
que, muitas vezes se faz uso de alguns aparatos tecnológicos com uma abordagem
tradicional, o que pode ser desastroso. Se em uma aula presencial em que o professor é o
único foco da atenção, pode se tornar tediosa, certamente uma aula à distância nesses
termos será ainda mais enfadonha, especialmente porque o aluno possui diversos outros
atrativos à sua disposição.
É necessário reconhecer as ambivalências e contradições presentes na educação,
em termos de padronização técnica e modelos hegemônicos, a fim de ressignificar as
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tecnologias e democratizar o debate fazendo uma leitura crítica da realidade. De forma
paradoxal, a desterritorialização do conhecimento, a aproximação virtual das pessoas, a
interconexão de performances globais, as aprendizagens formadas de maneira coletiva e
a curiosidade pelo conhecimento, formam efeitos das tecnologias na educação, gerando
formas inéditas de ser e estar no mundo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a realização dessa pesquisa, foi possível compor esse trabalho e aprofundar na
compreensão de que as tecnologias se tornaram, mais do que um instrumento pedagógico
e didático possível, mas uma verdadeira necessidade na educação contemporânea. Isso
devido às suas possibilidades de otimizar o processo de ensino e aprendizagem, tornando
as aulas mais dinâmicas, interativas e contextualizadas com a realidade dos alunos.
Dessa forma, as tecnologias possibilitadas e acessíveis a esses alunos, se tornam
instrumentos valiosos ao processo educacional, contribuindo didaticamente para o
alcance do interesse e atração dos alunos aos conteúdos ministrados. Isso, como
consequência, gera, desde que utilizadas de forma adequada e coerente, um conhecimento
escolar e a aquisição do conteúdo curricular mais significativo.
Portanto, é evidente que a inserção das tecnologias educacionais se relaciona à qualidade
do ensino, de forma que as novas tecnologias possibilitam aplicabilidades pedagógicas
mais inovadoras que podem contribuir para o alcance de resultados diferençados. Além
disso, podem fortalecer a justiça social, por meio da democratização do ensino, facilitando
ainda o processo de inclusão educacional.
Dessa forma, a maneira como os professores fazem uso dos recursos tecnológicos que
estão ao seu alcance na escola, tornando-os ferramentas pedagógicas valiosas ao processo
educacional, permite que os alunos alcancem uma aprendizagem mais significativa. Pois,
quando utilizadas de forma adequada e com finalidade pedagógica, as tecnologias
melhoram a atenção e a assimilação dos alunos em relação aos conteúdos.
Durante o desenvolvimento dessa pesquisa, foi possível observar que a temática ainda
pode ser explorada de diversas maneiras, o que essa contribuição bibliográfica apresenta
é apenas uma sucinta analise de autores importantes da educação, onde foi possível
levantar uma problemática existente, no quais os objetivos traçaram um estimulo ao
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aprofundamento que pode colaborar futuramente em analises acadêmicas e práticas
escolares. Esse trabalho de conclusão também representou uma realização pessoal, já que
existe um interesse particular pela educação e áreas afins. Foi uma soma de esforços, de
leituras, estudos baseados revisões bibliográficas e leituras de ampla abordagem,
trabalhos de campo, no intuito de aperfeiçoamento da temática.
REFERÊNCIAS
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de professores. São Paulo: PUC, 1996. (Dissertação de mestrado).
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LITERATURA INFANTIL: IMPORTANTE INSTRUMENTO EDUCACIONAL
NA FORMAÇÃO DE LEITORES
Jucenilton Alves dos Santos124
Resumo: Sabendo que a leitura é um importante instrumento para a aquisição de conhecimento,
desenvolvimento de criatividade e linguagem, ampliação de vocabulário e compreensão de texto e que deve
ser incentivada desde a mais tenra infância para que se torne um hábito prazeroso ao indivíduo, discutir a
temática literatura infantil é importante e significativo. Visto que a literatura é um aliado importante e
oferece uma gama variada de gêneros que podem ser utilizados em diferentes técnicas e abordagens, o
presente artigo de forma bibliográfica tem o objetivo de investigar a importância e singularidades que a
literatura oferece no processo de ensino e aprendizagem e na formação de leitores competentes. Sendo
assim, por considerar a literatura infantil como um instrumento rico de significados para criança e, portanto,
promissor de uma aprendizagem efetiva para a mesma, trouxemos uma abordagem sobre as potencialidades
desencadeadas a partir desse mecanismo literário, com fins à qualificação da educação das crianças nas
séries iniciais.
Palavras-Chave: Literatura; Aprendizagem; Leitor.
Children's literature: important educational instrument in the formation of readers
Resumen: Sachant que la lecture est un outil important pour l'acquisition de connaissances, la créativité et
le développement du langage, l'expansion de la compréhension du vocabulaire et du texte et devrait être
encouragée dès l'enfance à devenir une habitude agréable à l'individu, pour discuter du thème la littérature
pour enfants est importante et significative. Étant donné que la littérature est un allié important et offre un
large éventail de genres qui peuvent être utilisés dans différentes techniques et approches, cet article
Formulaire bibliographique vise à étudier l'importance et le caractère unique que la littérature fournit dans
le processus d'enseignement et d'apprentissage et dans la formation de lecteurs compétents. Ainsi, compte
tenu de la littérature pour enfants comme un instrument riche destiné aux enfants et promettant ainsi un
apprentissage efficace pour les mêmes, nous avons apporté une approche au potentiel déchaîné de ce
mécanisme littéraire à des fins de qualification de l'éducation des enfants dans la série initiale.
Palabras claves: Littérature; Apprentissage; Lecteur.
Introdução
Através da necessidade de desenvolver na criança leitora um caráter reflexivo e
crítico com relação à realidade, bem como desenvolver o gosto pela leitura, surge nesse
contexto, a leitura de textos de literatura infantil que se apresenta como um caminho
relevante para auxiliar a formação de leitores na escola, uma vez que possibilita a
construção de competências leitoras pela via da fruição e do prazer, assim como a criação
de sujeitos mais conscientes e capazes de transformar-se e transformar a realidade em que
vivem pois a leitura possibilita aos sujeitos desenvolverem sua competência leitora. Dessa
forma, acreditamos que a leitura pode colaborar para a emancipação do sujeito, tornando-
124 Mestre em Letras pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB; Itiruçu, Bahia, Brasil; E-
mail: [email protected]
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o um cidadão mais consciente, com uma visão mais ampla do mundo, e ajudá-lo na
transformação de si e da realidade em que vive, pois de acordo com os aportes teóricos
estudados para o desenvolvimento desse tema, o caráter estético, encontrado nos livros
de literatura infantil, possui um jogo de significações que exercita o imaginário a
participar de possibilidades de composição de outros mundos, desencadeando na criança
leitora uma postura reflexiva e crítica com relação à realidade.
Pensar nas crianças e na sua relação com os livros de literatura é pensar no futuro,
e pensar no futuro é ter a responsabilidade de construir um mundo com menos espaço
para a opressão das diferenças e dar lugar ao imaginário e a fantasia atrelada também a
sonhos possíveis.
O presente artigo não tem a pretensão de esgotar um assunto tão vasto e rico como
a literatura infantil, mas, pretende propor um diálogo com leitores apaixonados por livros
e apontar alguns caminhos para que possa nortear reflexões acerca de sua gênese e
história, já que a literatura infantil se tornou tão difundida e presente no cotidiano de
milhares de crianças em diferentes partes do mundo.
O presente artigo intitulado “Literatura infantil: importante instrumento
educacional na formação de leitores” vem ressaltar as características da literatura infantil
e suas contribuições para a construção de competências leitoras pela via da fruição e do
prazer.
Possibilidades e desafios da leitura na escola
Sabemos que a escola é responsável pela formação de leitores Todavia, ela não
vem desenvolvendo seu papel acerca desse processo, por vários fatores: falta de estrutura,
falta de formação adequada dos professores. Este último aspecto, acreditamos, agrava
muito a “crise da leitura” vivenciada nas escolas, pois segundo Faria (2004, p. 82), muitos
desses professores não conseguem distinguir livros didáticos, que veiculam aspectos da
ciência, de livros literários, que veiculam a arte. Assim, muitas vezes, um texto que
permite leituras diversas corre o risco de, na hora de sua recepção, ter seus significados
esvaziados, quando tomado como pretexto para o ensino explícito.
Partindo dessa perspectiva negativa sobre a leitura vivida nas escolas e
acreditando que ela pode melhorar através de um trabalho participativo, comprometido e
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embasado teoricamente por uma concepção interacionista de leitura, que compreende o
ato de ler como o envolvimento tanto de informação impressa na página quanto de
informação que o leitor traz para o texto, seu conhecimento prévio e as informações não
visuais, buscamos desenvolver essa proposta de leitura de um texto literário infantil, de
forma viável e acessível aos professores interessados em desenvolver as competências
leitoras de seus alunos, bem como o gosto pela leitura de obras literárias. A partir dessa
compreensão, o processo desenvolvimento é entendido numa perspectiva coletiva e,
portanto, pressupõe a participação do outro nos processos de aprendizagem individual.
As interações entre pares professor-aluno podem ser favorecidas por meio de propostas
de construções coletivas, em pequenos grupos ou duplas. Neste sentido é fundamental,
em termos educacionais, garantir e propor situações de aprendizagem dos processos de
leitura.
As primeiras experiências de leitura ocorrem no ambiente escolar, mediadas pelo
livro didático, pela metodologia de leitura desenvolvida pelo professor, baseada na leitura
em voz alta, nas perguntas e nas respostas relacionadas à interpretação dos textos.
O cenário descrito pelo professor e as suas primeiras experiências com a leitura
no contexto da escola são uma realidade bastante conhecida por todos nós. Grande parte
da população brasileira aprende a ler na escola e tem acesso às primeiras leituras também
nesse contexto. Por isso mesmo, a escola, de modo específico, consiste em agência de
letramento das mais importantes.
Os gêneros literários talvez sejam dos mais importantes para a formação de um
acervo cultural consistente. De um lado, como os textos literários costumam
propositadamente trabalhar com imagens que falam à imaginação criadora, muitas vezes
escondida nas entrelinhas ou nos jogos de palavras, apresentam o potencial de levar o
sujeito a produzir uma forma qualitativamente diferenciada de penetrar na realidade. De
outro lado, podem suscitar no leitor a capacidade de experimentar algumas sensações
pouco comuns em sua vida.
Literatura em sala de aula: alternativas
A defesa do uso de práticas alternativas para ler e escrever, pautadas nas atividades
literárias, tem permeado nosso discurso, práticas e pesquisas contras aquelas ligadas às
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“lições” diárias, enfadonhas – “vivenciadas” por uma grande parcela de nossas crianças
brasileiras.
Nesta perspectiva, em nosso caso, a recolha de narrativas míticas, por exemplo,
por meio da linguagem oral e escrita pelas crianças junto aos seus familiares pode ajudar
a própria família a reintroduzir em suas relações a linguagem escrita vinculada a sua
função social e contribuir para que as crianças aprendam a leitura e a escrita com todo seu
uso cultural. Durante o resgate dos mitos conhecidos pelos familiares, a criança pode
contar com a ajuda do pai, da mãe, da avó, enfim, pode receber ajuda de vários de seus
entes próximos, que também estarão se constituindo como mediadores dessa
aprendizagem.
Portanto, essa interação pode ocorrer, por exemplo, no momento em que a criança
não só tem a incumbência da recolha, como também durante a leitura do “jornal da turma”
e/ou do “livro de narrativas míticas produzidas” a relê junto aos seus; inclusive, se está
ainda aprendendo a ler, recebe a ajuda, a fim de saber o conteúdo dos mitos apreciados
por outras crianças de sua classe, de seus familiares, suscitando na família o interesse em
aprender a auxiliar o filho (a). Partindo desse pressuposto, Coelho afirma:
A proposição teórico-prática assinala para narrativas míticas configuradas em
livros
dessa natureza, uma vez que cativa e enreda o leitor, desafia o seu olhar e sua
atenção criativa na compreensão da leitura literária. Processos narrativos
antigos são redescobertos e recriados de acordo com a perspectiva
contemporânea. Desse modo, temas considerados universais, portanto,
atemporais, são tratados como uma nova roupagem, de acordo com as
peculiaridades de seus novos narradores e as circunstâncias de sua época
(COELHO, 2000, p. 187).
Como o livro literário para crianças pode vir a ser um meio de acesso à formação
do leitor polivalente, sem que o didatismo se sobreponha à estética? E, ainda, como,
indiretamente, pode colaborar para a apropriação da escrita? A criação do gosto pela
literatura infantil, como contribuinte na formação do leitor mirim, pode ocorrer nas
múltiplas linguagens que caracterizam o livro contemporâneo para crianças? Como criar
elos mediadores para uma prática pedagógica condizente com tais pressupostos?
Assim, o tema ora apresentado se propõe a ser um possível elo de mediação para
a prática voltada à formação do leitor literário e, através do encantamento pelo texto
literário, focando aqui narrativas míticas, contribuir para a formação do leitor e produtor
de textos de diferentes gêneros.
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Algumas perguntas podem ajudar o professor a organizar e avaliar suas atividades
acerca da literatura em sala de aula. Dentre elas, sugerimos as seguintes na tabela abaixo:
Qual é meu propósito ao escolher este texto para esta turma?
O que desejo de meus alunos com a leitura deste texto?
Minhas escolhas levam em consideração os interesses de meus alunos?
Que relações pretendo estabelecer, em aula, entre o texto e o mundo que nos
cerca?
Quais foram as dificuldades encontradas por meus alunos para a compreensão
do texto lido?
Se eu planejei alguma atividade para desenvolver a partir do texto lido, essa
atividade contribuiu para a melhor compreensão do texto?
E o texto contribuiu para o bom desempenho da atividade?
Tabela 1 – Perguntas avaliativas acerca do uso da literatura em sala de aula
Questões como essas têm a intenção de ajudar a tornar mais claros os objetivos da
leitura escolar. Vale lembrar que as perguntas da tabela servem apenas de parâmetros e o
professor poderá reformulá-las, acrescentando outras, caso ache pertinente.
Conclusão
O professor das séries iniciais deve procurar tornar a leitura interessante aos olhos
da criança como fonte de descobertas, através de contos de fadas, fábulas, aventuras, nas
quais o leitor reconhece o poder de reflexão e interpretação sobre a vida e o mundo.
As histórias infantis levam as crianças ao encantamento e divertimento,
estimulando a imaginação, memória e atenção, desenvolve a sensibilidade e a inteligência
e, ao mesmo tempo, aumenta o seu interesse e prazer pelos livros e leitura. As histórias
podem ser usadas para enriquecer as aulas de português, bem como, qualquer outra
matéria, mas sem deixar de lado a sua primeira função que é entreter. E a partir dessa
ludicidade, a eficácia no ensino e aprendizagem.
Diante da variedade de gêneros em circulação em nossa sociedade e dada às
especificidades da região, da escola e das turmas com que o professor trabalha, a escolha
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do material de leitura é sempre uma importante etapa do processo de organização do
trabalho docente, etapa a ser avaliada e refeita de tempos em tempos pelo professor, em
função de novos materiais de leitura disponíveis na biblioteca, de novos interesses seus,
da escola e de seus alunos, das especificidades de determinada turma, do tempo a ser
destinado à leitura individual e coletiva, na escola e em casa.
Conclui-se que a literatura infantil tem forte influência na educação e tem
representado um excelente estudo privilegiado de investigação.
Referências
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do aluno e na sua constituição como sujeito leitor. In: Pró-letramento: Programa de
formação continuada de professores dos Anos/Séries iniciais do ensino fundamental:
alfabetização e linguagem. Brasília: Ministério da Educação, Secretária de Educação
Básica, 2008. p. 21- 30.
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Língua portuguesa. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, 1997. 53p.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria, análise, didática. 1. ed. São Paulo:
Moderna, 2000.
FARIA; Maria Alice. Articulação do texto com a ilustração. In: FARIAS, M. A. Como
usar a literatura infantil na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2004.
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O ESTUDO DA LITERATURA E A UTILIZAÇÃO DAS NOVAS
TECNOLOGIAS EM SALA DE AULA DO ENSINO MÉDIO
Daniele Santos Rocha 125
Margarete Trevizani126
Caique Azevedo Souza127
Resumo: Este texto tem como objetivo discutir o ensino da literatura no século XXI diante dos novos
desafios de leitura com a popularização dos novos meios eletrônicos e assim, entender como estimular nos
alunos o prazer pela leitura. Utilizando as novas tecnologias para o ensino da literatura como facilitadora
ao acesso de textos literários. Como direcionamento para elaboração desse texto, utilizamos fundamentos
dos seguintes teóricos: Pereira (2010), Rildo Cosson (2009); Lajolo e Zilberman (2009) Martins (2006).
Além do uso de teóricos, que interpelam como deve ser o ensino médio na forma da lei, e, recomendamos
aqui a utilização dos textos canônicos bem como os contemporâneos e que os mesmos estejam imbricados
através da criação de vídeos como suporte e uso das novas mídias digitais, e sugerimos ainda, o uso do
poema “Rosa de Hiroshima” de Vinicius de Morais, como exemplo de aproximação das novas tecnologias
com o ensino da literatura clássica. Observamos que para que despertem nos alunos o hábito e o prazer
pelo texto literário, as tecnologias devem ser utilizadas, bem como o uso das múltiplas-linguagens para que,
com o uso dessas diferentes formas de interação, despertem nos alunos o hábito e o prazer pelo texto
literário
Palavras-Chave: Ensino de Literatura; Ensino Médio; Novas tecnologias
El estudio de la literatura y el uso de las nuevas tecnologías en el aula en la escuela intermedia
Resumen: Este texto tiene como objetivo discutir la enseñanza de la literatura en el siglo XXI ante los
nuevos desafíos de lectura con la popularización de los nuevos medios electrónicos y así entender estimular
en los alumnos el aprendizaje, el placer por la lectura. Utilizando las nuevas tecnologías para la enseñanza
de la literatura como facilitadora al acceso de textos literarios. Como guía para la elaboración de este
texto, utilizamos los fundamentos de los siguientes teóricos: Pereira (2010), Rildo Cosson (2009); Lajolo
y Zilberman (2009) Martins (2006). Además del uso de teóricos, que interpelan como debe ser la enseñanza
media en la forma de la ley, Y aquí, recomendamos el uso de textos canónicos, así como el moderno y están
entrelazadas a través de la creación de vídeos como apoyo y uso de los nuevos medios digitales, y sugieren
el uso del poema "La Rosa de Hiroshima" de Vinicius de Morais, como un ejemplo de la aproximación de
las nuevas tecnologías con la enseñanza de la literatura clásica. Se observa que para que despierten en los
alumnos el hábito y el placer por el texto literario, las tecnologías deben ser utilizadas, así como el uso de
los múltiples lenguajes para que, con el uso de esas diferentes formas de interacción, despierten en los
alumnos el hábito y el placer por el texto literario.
Palabras claves: Enseñanza de la Literatura; Escuela Intermedia; Nuevas Tecnologías
Introdução
125 Discente do curso de letras vernáculas; UNEB; Eunápolis, Bahia, Brasil;
[email protected] 126 Discente do curso de letras vernáculas; UNEB; Eunápolis, Bahia, Brasil; [email protected] 127 Discente do curso de letras vernáculas; UNEB; Eunápolis, Bahia, Brasil; [email protected]
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Ao longo dos anos, com o advento das novas tecnologias, a popularização e
acessibilidade aos eletrônicos em geral, surgiram novos debates no meio educacional
como forma de encontrar caminhos para adequar o ensino da literatura às crianças e
adolescentes em idade escolar, utilizando esses novos suportes tecnológicos. Tal debate
torna-se necessário, já que a tecnologia em sala de aula é uma realidade, se levarmos em
consideração a utilização da internet e a modernização dos eletrônicos.
Nessa perspectiva, a leitura, segundo os vários debates de autores que
apresentaremos, não evoluiu ao ponto de competir com as novas demandas e não
consegue atrair os jovens aos textos canônicos, considerados clássicos pela literatura.
Surge, então, a necessidade de adaptar as leituras aos novos mecanismos pedagógicos
para que a mesma se torne mais prazerosa e atrativa.
Nossa intenção é trazer à tona essa discussão suscitada principalmente no século
XXI, em que as tecnologias influenciam todos os setores e meios sociais, e desta forma,
cabe ao professor nesse sentido se adequar as mesmas, não, ignorando-as e fazendo desse
suporte seu novo aliado, uma nova prática pedagógica.
Caminhos Metodológicos
Metodologicamente, realizou-se um estudo bibliográfico. De acordo com Gil (2008),
a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído
principalmente de livros, artigos científicos e documentos oficiais. Os exemplos mais
característicos desse tipo de pesquisa são sobre investigações sobre ideologias ou aquelas que
se propõem à análise das diversas posições acerca de um problema. (GIL, 2008). Neste
trabalho, a análise baseou-se nas produções: LDB – Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL,
1996); Pereira (2012), Cosson (2009), Zilberman (2009), Martins (2006). Como forma de
incentivo ao estudo literário, nossa proposta é trabalhar o texto de diferentes formas, o objeto
aqui trabalhado será o poema “ROSA DE HIROSHIMA” de Vinicius de Morais, que
sugerimos que seja apresentado por meio de um vídeo.
Questões Teóricas: O desafio do ensino da literatura e as tecnologias
Tendo por finalidade, segundo o art. 35 da LDB de 1996, o aprimoramento do
alunado enquanto pessoa humana, incluindo-se sua formação ética, o desenvolvimento
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da autonomia intelectual, o pensamento crítico, o relacionamento da teoria com a prática
o educando estará preparado para se desenvolver, educacional e profissionalmente na vida
adulta.
A literatura no ensino médio vai muito além de despertar os educandos para a
leitura, seu papel passa ser o de transformar estes alunos com a capacidade de viver em
sociedade como cidadãos pensantes. Por isso, o surgimento das novas tecnologias foi de
grande impacto na vida cotidiana e também educacional da sociedade como um todo. Na
área do ensino de literatura no ensino médio não foi diferente, o aluno que antes só tinha
acesso ao conhecimento através dos livros, passa agora, a ter variadas opções de obtenção
de conhecimentos.
Alguns autores contemporâneos se manifestam acerca do ensino da literatura e
das novas tecnologias. Como ao longo da obra Letramento Literário: Teoria E Prática,
escrita pelo professor Cosson (2009) em que o autor discorre sobre o ensino aprendizagem
da literatura em sala de aula. Apresentando indagações, caminhos possíveis e válidos que
carregam em sua estrutura exemplos de sucesso e já utilizados em sala de aula, fornecendo
ao professor meios para realizar seu trabalho com êxito.
Cosson (2009) cria um esquema, a ser utilizados na sala de aula, com a orientação
do professor, visando a promoção, formação, compreensão, interpretação e gosto pela
leitura. Esse esquema poderia abordar desde textos da literatura clássica, obrigatória ou
fictícia entre autores renomados e não tão renomados, contanto que a leitura seja
contextualizada com reportagens, noticiários, revistas, fazendo uma ponte com temáticas
atuais.
Essa perspectiva visa driblar a dificuldade que os docentes encontram em sala de
aula, mediante as novas tecnologias. Dessa maneira, Cosson (2009) afirma que as
diversas teorias literárias já existentes podem ser resumidas em três grupos distintos:
primeiro, centrado no texto segundo que define o leitor como centro da leitura e um
terceiro grupo, o de teorias que colocam o leitor tão importante quanto o texto, fazendo
com que essa interação resulte na leitura.
Contrapondo a essa perspectiva, as autoras Marisa Lajolo e Regina Zilberman (2009),
apresentam outro olhar sobre a percepção da leitura, desde os primórdios da humanidade com
relação a escrita, até a atualidade, provenientes dos meios de comunicação em massa com
seus novos programas tecnológicos, incluindo as redes sociais. Para as autoras, atualmente a
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leitura está em evidência, tornando-se preferência de diversos seguimentos, sejam eles:
político, educacional ou acadêmico. A leitura faz parte da comunicação que representa a troca
de mensagens e linguagem, relação que segundo a obra se estabelecem entre a escrita,
oralidade e leitura. Tendo a leitura um caráter discursivo, objetivando revelar em textos, seus
problemas e tomadas de decisões, dispondo de antigas e novas tecnologias e invadindo vários
espaços e meios. Portanto, a linguagem, informação e leitura necessitam uma da outra.
Para Martins (2006), a literatura precisa ser ajustada para se adequar aos novos
contextos tecnológicos, tais como a hipermídia e outros meios de comunicação como e-
books, blogs, chats e etc. A era digital traz um novo lugar para a literatura, um espaço
cada vez mais utilizado pelos alunos que aspira cuidados, pois, segundo Martins (2006),
o leitor-navegador pode desenvolver uma leitura superficial, pela rapidez no acesso às
informações, e é necessário que o leitor atinja uma “leitura crítica atrelada a
transformação social” (MARTINS, 2006, p.97).
Resultados e Discussão
Com esse estudo foi possível apresentar diferentes métodos e a inserção de práticas
produzidas em sala de aula, tendo por foco estimular o prazer e a prática da leitura nos alunos
do ensino médio. Tais autores mostram a possibilidade do uso de novos suportes como
ferramenta fundamental dentro do ensino da literatura na sala de aula; medida que se faz
presente segundo Pereira (2012), dentro dos próprios documentos direcionados ao ensino
médio – PCN (Parâmetros curriculares Nacionais). Tal medida é despertar no aluno o
interesse da leitura de textos canônicos levando-o a sua compreensão e entendimento a
importância dos mesmos para a sua formação educacional básica.
Para estimular tal interesse, Martins (2006) defende que existem dois tipos de
literatura o que ele nomeia como adequada e inadequada, que seriam a leitura contextualizada
a realidade do aluno e a literatura isolada das práticas sociais e disciplinas sem adequações
com qualquer área de conhecimento. E além disso, explica que existe a necessidade dos
alunos terem contato com a chamada “literatura clássica”, a fim de incitar a diversidade
estética de gêneros literários habituando os alunos às mesmas.
Visando compreender as metodologias utilizadas em sala de aula, devido às
dificuldades vivenciadas, por alunos e professores, Martins (2006) propõe uma reflexão,
de qual seria o maior desafio do papel da literatura na escola, e como tornar o aluno-leitor.
A abordagem em que o texto literário é exposto para o contexto escolar é de forma
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estruturalista, cheio de roteiros de interpretação, cuja voz do aluno é reprimida, os
assuntos são mal abordados, inadequados, não conseguindo estabelecer relação com o
real sentido do texto literário.
Além disso, segundo Martins (2006), a literatura precisa ser ajustada para
acompanhar os novos contextos tecnológicos, pois os novos adventos trazem um novo
lugar para a literatura sendo necessário que o aluno atinja uma leitura crítica atrelada a
transformação social.
Considerações Finais
O que recomendamos nesse texto é o uso das novas tecnologias, que está cada vez
mais presente no cotidiano dos alunos. Nessa perspectiva, e com base nos textos
estudados, colocamos o estudo da literatura de fundamental importância no ensino médio
como ferramenta de formação de sujeitos críticos e capazes de se desenvolverem em
sociedade. Nesse sentido, a literatura deve ser ensinada de forma contextualizada, se
utilizando das tecnologias, cujos docentes tenham acesso e que não se limite apenas aos
livros. Atualmente,
os estudantes têm como meio de pesquisa, a internet, com acesso a vídeos, blogs, artigos
encontrados na web. Desse modo, a nossa proposta é que essas novas tecnologias sejam
utilizadas, como ferramenta de aprendizagem, que permite uma nova concepção de
leitura, mais dinâmica e democrática, a qual potencializa a leitura, bem como o uso das
múltiplas-linguagens que, com o uso dessas diferentes formas de interação, despertem
nos alunos o hábito e o prazer pelo texto literário. E principalmente, refletir o papel do
professor diante do novo contexto tecnológico, o qual precisa se enquadrar no novo contexto
tecnológico digital.
Referências
BUNZEN, Clécio, MENDONÇA, Márcia. Português no Ensino Médio e formação do
professor (organização) KLEIMAN, Ângela... [et al]. In: MARTINS, Ivanda. A literatura
no ensino médio: quais os desafios do professor? São Paulo: Editora Parábola, 2006. 83-102.
COSSON, Rildo. Letramento Literário: Teoria E Prática. São Paulo: Editora Contexto,
2009.
V SENAL | 352 | UESB/2018
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
LAJOLO, Marisa & ZILBERMAN, Regina. Das tábuas da lei à tela do computador: a
leitura em seus discursos. São Paulo: Editora Ática, 2009.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei Número 9394, 20 de dezembro de
1996.
PEREIRA, Marlon. Ensino da Literatura no ensino Médio e os PCNs. Pesquisa da prática
pedagógica apesentada ao curso de Letras- Português – 2ª graduação da Faculdade
Brasileira, FABRA, 2012.
V SENAL | 353 | UESB/2018
MANIFESTO PELA QUALIFICAÇÃO DO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA
NO SUDOESTE DA BAHIA128
Entendemos a proficiência em leitura e escrita como um direito humano e a
educação formal e institucional como um lugar de consolidação e, dependendo do caso,
reestabelecimento da justiça social. A escola é um lugar em que essencialmente ocorre o
acesso ao saber histórico acumulado e o lugar em que o indivíduo, sujeito de seu
conhecimento e de sua história, insere-se na vida social de sua comunidade, questiona e
intervém quando defrontado com mazelas sociais.
É de responsabilidade do poder público oferecer as condições adequadas de
ensino, desde as condições de infraestrutura física das escolas, incluindo material
pedagógico, quanto da necessária formação continuada do corpo docente. Todavia,
lamentavelmente, observamos que os indicadores de qualidade do ensino de língua
materna no Brasil, ano após ano, atestam nossa incapacidade de alfabetizar bem e a todos,
fato esse que deve obrigatoriamente promover o constante reexame de nossas práticas.
No que diz respeito ao ensino de língua materna, entendemos que o estado, do qual somos
e fazemos parte, não está cumprindo sua função social nesse momento de nossa história.
Entendemos alfabetização como aquisição do sistema convencional de escrita, a
qual pode ocorrer em diversos ambientes e momentos da vida, mas essencialmente e mais
elementarmente acontece nas classes iniciais da educação formal de nível fundamental.
O letramento, por sua vez, é o desenvolvimento de comportamentos e habilidades de uso
competente da leitura e da escrita em práticas sociais. Ademais, entendemos alfabetização
e letramento como processos tanto complementares quanto indissociáveis que se
desenvolvem concomitantemente.
O desenvolvimento da leitura e da escrita começa muito antes da educação formal
e está associado a experiências de convívio no mundo letrado a que a criança está exposta.
Da mesma forma que entendemos que a qualidade das experiências pré-escolares e
escolares determinam as condições adequadas para o ensino da língua materna,
igualmente entendemos que o ambiente pode e deve ser controlado, tanto na educação
128 Este manifesto foi resultado das discussões ocorridas no âmbito do V Seminário Nacional de
Alfabetização e Letramento e o VI Seminário de Formação de Professores, eventos que ocorreram em
Vitória da Conquista, nos dias 12, 13 e 14 de novembro de 2018.
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infantil quanto na alfabetização. A educação infantil, espaço em que entendemos que o
ensino das correspondências entre fala e escrita não é um objetivo fim, é ambiente
privilegiado para o desenvolvimento das condições necessárias para que seja possível o
aprendizado pelo aluno das relações abstratas e arbitrárias entre fala e escrita. Tal
desenvolvimento é favorecido nesse nível de ensino quando as atividades propostas,
lúdicas e não gratuitas, promovem o desenvolvimento, entre outros aspectos, da
consciência fonológica e o conhecimento do princípio alfabético.
Afirmativamente, reconhecemos que a instituição escolar brasileira popularizou o
acesso à educação formal indistintivamente aos brasileiros entre 7 e 14 anos, mas
lamentavelmente essa avaliação do âmbito quantitativo não se estende à qualidade do
ensino, desafio este que se impõe nesse momento histórico da nossa educação formal. No
que diz respeito à etapa da alfabetização, oficialmente chamado ciclo da alfabetização,
infelizmente constatamos que muitas de nossas crianças chegam ao final do ciclo sem
sequer decodificar e isso reverbera nas etapas consequentes de educação formal.
Esse fenômeno dos nossos tempos, presente especialmente nas regiões mais
pobres, provoca exclusão de milhares de brasileiros do acesso ao conhecimento
acumulado, por força de uma educação básica formal deficitária, baseada na intuição, em
concepções acientíficas, e de condução de práticas pedagógicas sem planejamento e
amadoras. Tal constatação no ensino brasileiro, em parte, é decorrente de uma dissociação
entre ciência e educação e se reflete, entre outros aspectos, na ausência de propostas
pedagógicas nas escolas, e na consequente falta de orientação que balize, entre outros
aspectos, as práticas pedagógicas e a formação continuada de professores. Entendemos
portanto que, para a qualificação do ensino de língua materna, deve haver, entre outros
aspectos, maior aproximação entre a universidade e a escola, rompendo o abismo ora
existente.
Nas classes do ciclo de alfabetização, entendemos que é prioridade o ensino
estruturado das correspondências entre a fala e a escrita, pois tal conhecimento impacta
no desenvolvimento de condições fundantes para a formação escolar consequente e para
o convívio humano. Portanto, entendemos ser necessário o resgate da alfabetização, e,
ainda, que esse necessário ensino estruturado das relações entre fala e escrita pode ocorrer
em ambiente de letramento.
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Ao mesmo tempo que entendemos que é necessário resgatar a alfabetização no
ensino brasileiro atual, entendemos que esse ensino será favorecido:
a) por um ensino direto, explícito e sistemático das relações entre fala e escrita do
nosso sistema alfabético de escrita. Lamentavelmente, as cartilhas das últimas décadas do
século passado, em que o sistema de escrita era apresentado de forma estruturada, ainda
que em contexto artificializado, não foram adequadamente substituídas pelos atuais livros
didáticos, recursos pedagógicos atuais com orientação teórica distinta da cartilha.
Entendemos, portanto, que a alfabetização será favorecida se o sistema de escrita for
apresentado de forma sistematizada;
b) pela inclusão de recursos tecnológicos contemporâneos, intrigantemente
ausentes da sala de aula e evidentemente presentes no dia a dia;
c) quando tem por base gêneros textuais com os quais a criança convive, afinal,
as pessoas se relacionam por meio de gêneros textuais, sejam orais ou escritos e, por isso,
constituem-se em importante instrumento de aprendizagem. Entendemos que somos seres
cognitivos e, ao mesmo tempo, seres que interagem. Nos eventos de comunicação,
deixam-se pistas linguísticas, orais ou escritas, para a ressignificação, pelo menos
proximamente, do sentido pretendido pelo escritor ou falante. Todavia, alertamos que não
deve ser negligenciado o fim último de um gênero que é a consecução do evento
comunicativo, logo, uma cantiga de roda deve tanto ser estudada para fins de aprendizado
linguístico em sala de aula quanto brincada pelos alunos;
d) quando as práticas pedagógicas são ciclicamente planejadas, avaliadas e
novamente planejadas, inclusive as propostas de práticas leitoras;
Admitimos que é mais difícil a alfabetização e o letramento de crianças advindas
de estatuto social baixo. Entre as razões, consta o fato de a escrita não fazer sentido, por
não ser utilizada, em muitos lares brasileiros, o que pode interferir na motivação para o
aprendizado da leitura e da escrita. Diante disso, a escola e as práticas pedagógicas dessa
população devem considerar esse fato humano de nossos tempos, sob o risco de
condenarmos essa parcela da nossa população a uma qualidade de vida inferior. Despertar
o desejo de aprender favorece o aprendizado.
Em função disso, consideramos que a literatura infantil é importante legado
cultural que deve ser aproveitado pelo professor tanto como recurso pedagógico quanto
para deleite. Leituras expressivas de literatura infantil, ao mesmo tempo que encantam,
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despertam o desejo na criança de apreender o sistema para poder ler livros, revistas,
rótulos e escrever poemas, recados, bilhetes.
Entendemos que a prática frequente da leitura traz inúmeros benefícios ao
indivíduo. Entre outros aspectos, favorece a apropriação das convenções ortográficas e a
formação escolar do educando. Diante disso, a prática leitora deve ser entendida como
prioridade e não como atividade possível aos primeiros que terminarem as tarefas
escolares, muito menos como forma de repreensão.
A família do aluno é instituição social que pode apoiar o professor e ser apoiada
por ele para a formação escolar do estudante. Embora entendemos que a instrução
acadêmica é função precípua da instituição escolar, de modo que deve haver cuidado com
a natureza e a dificuldade das tarefas escolares, a família pode e deve ser orientada pelo
docente para a importância da prática leitora no seio familiar.
Entendemos ainda que a qualificação do ensino envolve compromissos tanto dos
profissionais envolvidos quanto das instituições: universidade, gestores escolares e
docentes em sala de aula.
Para que seja possível a qualificação do ensino de língua materna, recomendamos
aos gestores escolares: a) constante reexame do Projeto Político Pedagógico; b)
consolidação de programa de formação docente continuada; c) monitoramento regular do
aprendizado dos escolares; d) permanente avaliação de práticas pedagógicas; e) condução
de programa de atendimento particularizado para estudantes com atraso escolar e/ou
necessidades especiais; f) promoção de avaliações linguísticas e cognitivas dos escolares
quando da apresentação para o início da alfabetização, pois entendemos que há fatores de
risco de dificuldade de aprendizado que podem ser identificadas e combatidas; g)
condução da gestão escolar que objetive o rigoroso cumprimento das leis vigentes.
Recomendações aos professores de língua materna nos anos iniciais: a)
planejamento de cada objeto de ensino; b) monitoramento dos conhecimentos prévios de
cada estudante matriculado na turma; c) avaliação e promoção dos encaminhamentos
necessários para todos os escolares com atraso escolar com vistas à proficiência leitora e
escrita; d) foco inicial no ensino e no aprendizado das correspondências entre fala e
escrita, somente em seguida o foco poderá ser a apropriação das convenções ortográficas;
e) condução pedagógica sem rotular ou patologizar eventuais atrasos escolares sob o risco
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de, ao transferir a responsabilidade pelo não aprendizado, fornecer ao aluno mecanismos
de acomodação.
Entendemos, finalmente, que, quando são adotadas boas práticas de apresentação
de nosso sistema de escrita, a alfabetização ocorre com sucesso e no tempo esperado. No
entendimento deste grupo de especialistas, o caminho para a adoção de boas práticas
foram apontados nos termos deste manifesto.
Especialistas participantes do V SENAL e VI Seminário de Formação de
Professores – 14 de novembro de 2018
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