david s. russell - entre o antigo e o novo testamentos

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Digitalizao e Reviso: Levita Digital 26/10/2009

Aviso: Os e-books disponiveis em nossa pgina, so distribuidos gratuitamente, no havendo custo algum. Caso voc tenha condies financeiras para comprar, pedimos que abenoe o autor adquirindo a verso impressa.

Entre o Antigo e o Novo Testamentos

O Perodo Interbblico D.S.Russell Abba Press Editora e Divulgadora Cultural Ltda. Categoria: Histria Cd. 01.12101.0507.2 2" Edio no Brasil Maio de 2007 Traduo Eliseu Pereira Reviso Irene Pereira Maria Isabel C. Dutra Coordenao Editorial Oswaldo Paio Impresso Grfica Sumago ISBN 978-85-85931-58-2 E permitida a reproduo de partes desse livro, desde que citada a fonte e com a devida autorizao escrita dos editores.

Abba PressR. Manuel Alonso Medina, 298 - CEP 04650-031 - So Paulo / SP Tels./Fax ( 1 1 ) 5686-5058 / 5686-7046 / 5523-9441 Site: www.abbapress.com.br E-mail: [email protected]

Contedo Prefcio PARTE UM O FUNDO CULTURAL E LITERRIO 1. Judasmo versus Helenismo 1. Surgimento e Expanso do Helenismo A. Os Gregos e os Romanos B. A Septuaginta e a Literatura Helenstica C. A Cultura Grega na Palestina D. A Influncia Religiosa do Helenismo 2. A reao contra o Helenismo A. O Partido Helenista em Jerusalm B. A Vingana de Antoco C. Os Macabeus e a Revolta dos Macabeus D. A Casa de Hasmoneu E. Herodes e os Romanos 2. O Povo do Livro 1. A Religio da Torah A. Do templo Torah B. O Ponto de Levante da Revolta C. A Santa Aliana 2. A Torah e as seitas A. Os Fariseus B. Os Saduceus C. Os Essnios D. Os Zelotes E. Os Pactuantes de Qumran 3. Os Escritos Sagrados 1. As Sagradas Escrituras A. O Cnon Hebraico B. As Escrituras na Disperso 2. A Tradio Oral A. Sua Origem e Desenvolvimento B. Sua Forma e Contedo

3. Os "Livros No Includos" A. A Literatura No-Cannica B. O Ambiente dos Apocalpticos 4. A Literatura Apcrifa 1. Os Livros Comumente Chamados "Apcrifos" A. Sua Identidade B. Seu Contedo e Gnero Literrio C. Seu Valor Histrico e Religioso 2. Os Outros Livros "Apcrifos" (ou Pseudepgrafos) A. Sua Identidade B. Na Comunidade de Qumran 3. Os livros Apcrifos no Cristianismo A. No Novo Testamento B. Na Histria da Igreja PARTE DOIS Os APOCALPTICOS 5. A Mensagem e o Mtodo dos Apocalpticos 1. A Tradio Apocalptica A. O Segredo Oculto B. A Linguagem do Simbolismo C. A Lenda de Esdras 2. Os Apocalpticos e a Profecia A. A Unidade da Histria B. As ltimas Coisas C. A Forma de Inspirao 3. Pseudonmia A. Um Recurso Literrio B. Extenso de Personalidade C. O Significado do "Nome" 6. O Messias e o Filho do Homem 1. O Pano de Fundo do Antigo Testamento

2. O Messias Tradicional ou Nacional A. O Messias No Indispensvel B. O Messias Levtico C. O Messias Davdico D. O Messias e os Rolos do Mar Morto E. Jesus e o Messias 3. O Messias Transcendente e o Filho do Homem A. O Filho do Homem Apocalptico B. O Pano de Fundo do Oriente C. O Filho do Homem como Messias D. Sofrimento e Morte E. Jesus e o Filho do Homem 7. A Ressurreio e a Vida Aps a Morte 1. A Ressurreio: Origem e Desenvolvimento A. A preparao no Antigo Testamento B. Sua Origem Histrica C. Desenvolvimento Subseqentes D. A Ressurreio e o Reino Messinico 2. A Natureza da Sobrevivncia A. Sheol, a Morada das Almas B. Distines Morais no Sheol C. Mudana Moral na Vida Alm D. A Alma Individual e o Julgamento Final 3. A Crena na Ressurreio e a Natureza do Corpo da Ressurreio A. A Ressurreio do Corpo e a Sobrevivncia da Personalidade B. A Ressurreio do Corpo e sua Relao com o Ambiente C. A Relao do Corpo "Espiritual" com o Corpo Fsico Bibliografia Selecionada Literatura Apcrifa Governantes e Principais Acontecimentos Dedicado a Marion, Helen e Douglas

PrefcioNa maioria das Bblias, o perodo entre o Antigo e o Novo Testamentos representado por uma nica pgina em branco o que, talvez, tenha um significado simblico. O perodo "de Malaquias a Mateus" por muito tempo tem permanecido vago e desconhecido para muitos leitores da Bblia. Vrios mistrios permanecem, mas nos ltimos tempos, muita luz tem sido lanada sobre todo esse perodo. Os escritos de grande nmero de eruditos e algumas notveis descobertas arqueolgicas tm fornecido novos e deslumbrantes pontos de vista a respeito do assunto. No incio deste sculo, o Dr. R.H.Charles escreveu com freqncia sobre o assunto, e a publicao, em 1914, de seu pequeno livro Desenvolvimento Religioso entre o Antigo e o Novo Testamento, incluiu um outro pblico de leitura nesse campo de estudo e auxiliou grandemente a preencher a lacuna no entendimento das pessoas em relao a esse assunto. Mas ningum poderia prever que esse perodo ainda se tornaria um foco de ateno, no apenas para os eruditos, mas tambm para o "cidado comum". A descoberta dos pergaminhos do Mar Morto despertou a imaginao popular e atraiu a ateno de eruditos do mundo inteiro. Esses escritos so de extrema importncia, no somente pelos relatos que fornecem sobre as crenas e prticas dos Pactuantes de Qumran, mas tambm pelo novo interesse e conhecimento que trazem a todo o perodo interbblico.

Neste pequeno volume, fiz uma tentativa de revisar esses anos, luz dos recentes estudos e descobertas, e em particular para avaliar a contribuio religiosa desse grupo de homens, um tanto estranhos, conhecido como "os apocalpticos". Muitas outras questes pertinentes a esse perodo interbblico poderiam ter sido tratadas, mas o propsito deste livro seletivo e no, exaustivo, indicando a participao que os apocalpticos tiveram no desenvolvimento religioso do Judasmo e na preparao das mentes dos homens para a vinda do Cristianismo. Espero que este breve estudo estimule o apetite do leitor, levando-o a aprimorar estes estudos, ainda mais, com ajuda da bibliografia sugerida. DAVID S. RUSSELL College Rawdon, Leeds

Parte Um O PANO DE FUNDO CULTURAL E LITERRIO 1 Judasmo Versus HelenismoOs anos que se estendem de 200 a.C. a 100 d.C, geralmente citados como "o perodo interbblico", so de fundamental importncia tanto para o Cristianismo como para o Judasmo rabnico, porque foi durante esses sculos que, num sentido muito especial, o caminho foi sendo preparado para o aparecimento dessas duas grandes crenas religiosas. O propsito deste livro examinar, embora resumidamente, a cultura e a literatura desses importantes anos e analisar o desenvolvimento de certas crenas religiosas, cuja influncia foi sentida particularmente dentro da Igreja Crist em crescimento. Ao longo de todo esse perodo, os judeus estavam rodeados pela cultura e civilizao gregas e, particularmente na Disperso, muitos tiveram que adotar a lngua grega ou como seu nico idioma ou como alternativa sua prpria lngua, o aramaico. Era inevitvel que eles fossem influenciados, e profundamente, pelo ambiente

helenstico em que viviam; o surpreendente que a reao deles a esse ambiente no foi to marcante e que, apesar da presso trazida sobre eles, eles conseguiram manter sua distinta f judaica. No perodo de 170 a.C. a 70 d.C, o nacionalismo judaico desempenhou um papel mais importante na resistncia ao avano do helenismo. Como veremos, esse nacionalismo no foi motivado apenas por objetivos polticos, mas tambm por ideais religiosos oriundos de uma devoo profunda por parte de muitos e arraigados em firmes convices teolgicas. Porque o Judasmo, ao contrrio do Helenismo, representava no tanto um modo de vida, mas um movimento religioso nacional. O Dr F. C. Burkitt, escrevendo sobre o Judasmo desses dois sculos e meio, descreve-o como "uma alternativa para a civilizao como se considerava ento". Ele no era apenas uma alternativa, mas era a alternativa, pois, na convico de muitos, o judasmo conduziria afinal os homens para o Reino de Deus, cuja vinda precederia Nova Era determinada por Deus. 1. SURGIMENTOE

EXPANSO

DO

HELENISMO

A. Os Gregos e os Romanos A palavra "helenismo" comumente usada para descrever a civilizao dos trs sculos aproximadamente desde o tempo de Alexandre, o Grande (336-323 a.C.) durante os quais a influncia da cultura grega era sentida de Leste a Oeste. Era o forte desejo desse imperador fundar um imprio mundial associado unidade da lngua, costume e civilizao e, em suas grandes conquistas militares,

ele se empenhou em concretizar tal idia. Aps sua morte, quando seu Imprio no Leste foi dividido entre os Selucidas na Sria e os Ptolomeus no Egito, o processo de helenizao continuou rapidamente nos pases sobre os quais eles governaram. Desde o incio, os judeus devem ter sentido o impacto dessa cultura sobre seu estilo de vida e particularmente sobre sua religio. A exceo de uma rea comparativamente pequena ao redor de Jerusalm, eles no constituam um Estado, pelo contrrio, uma Disperso, espalhados no apenas por toda a Palestina, mas por todas as regies do Imprio. Eles ficaram especialmente vulnerveis influncia do helenismo por intermdio dos negcios e das trocas comerciais. A poltica de Alexandre e de seus sucessores era enviar os colonos gregos no rastro de seus exrcitos e plant-los como comerciantes nas terras conquistadas. Nessas terras, particularmente no leste, viviam muitos judeus que haviam sido exilados da Palestina muitos anos antes, e outros que, at mesmo antes do tempo de Alexandre, haviam emigrado e se instalado em cidades gregas no extremo oeste. Muitas comunidades judias podiam ser encontradas em lugares tais como Sria, Antioquia, Damasco, sia Menor, Macednia, Grcia, Chipre, Cirene e Roma. Onde quer que os judeus estivessem, sob o governo dos Selucidas ou dos Ptolomeus, eles haviam desfrutado por muito tempo das bnos da liberdade religiosa sob uma poltica de tolerncia religiosa que, sem dvida, os deixaria abertos influncia sutil da cultura helenstica. Os romanos, por sua vez, continuaram a estimular o desenvolvimento dessa cultura, especialmente nas provncias orientais, e

buscaram por esses meios realizar os sonhos de Alexandre, o Grande. Nesse sentido, no houve um verdadeiro rompimento entre o regime grego e o romano, ou, realmente, entre os anos antes de Cristo e os anos depois de Cristo. A cultura e a civilizao helensticas foram caractersticas de todo o perodo greco-romano e com esse amplo fundo histrico e cultural que vamos estudar as reaes do povo judeu e sua f religiosa. B. A Septuaginta e a Uteratura Helenstica Desde tempos remotos, houve assentamentos de judeus no Egito, e Alexandria logo alcanou um honrado nome, particularmente como centro literrio. Foi aqui que a traduo Septuaginta das Escrituras para a lngua grega foi apresentada para uso dos judeus de fala grega do Egito, que no mais conseguiam ler hebraico e para quem as tradues disponveis nos ofcios das sinagogas mostravam-se inadequadas. A traduo da 'Torah" ou Pentateuco aconteceu, provavelmente, durante o reinado de Ptolomeu II (285-247 a.C), com o nome "Septuaginta" sendo estendido para abranger tambm as outras partes do Antigo Testamento. Na Carta de Aristia, que mais tarde acompanhou a Bblia grega, h uma lenda de que a Septuaginta foi o resultado de uma ordem real de Ptolomeu II, do Egito, que teria delegado a tarefa da traduo a 72 "ancies". Em formas posteriores da histria, o nmero citado como 70. Esses homens levaram a cabo a obra de traduo em ambientes separados e produziram resultados precisamente semelhantes! Porm, provvel que a Septuaginta tenha vindo a existir como um Targum1, assim como na Palestina passou a existir um Targum1 para ajudar aqueles

que no conseguiam entender as Escrituras hebraicas. A influncia da Septuaginta sobre os judeus da Disperso e mesmo sobre a jovem Igreja Crist no pode ser superestimada. A exceo de certas notveis implicaes gregas aqui e ali, que poderiam lembrar seus leitores de seu fundo cultural, ela era quase desconsidervel como um veculo de helenizao. Mas como um instrumento de propagao de Judasmo durante a Disperso, sua contribuio foi de importncia inestimvel. Em Alexandria, tambm, foram escritos muitos livros gentlicos e enviados para muitas partes do mundo onde, sem dvida, foram estudados pelos mais instrudos dentre os judeus. No raro, esses livros continham acusaes difamadoras contra a raa e a religio judaica que eram normalmente considerados supersticiosos e atestas. Os judeus, por sua vez, no tentavam disfarar, em seus prprios escritos, o absoluto desprezo que unham pelos pagos. De fato, toda a literatura judaico-helenstica, da poca da Septuaginta at Josefo ao final do primeiro sculo d.C, tinha como alvo a condenao da idolatria, principalmente atravs de ridicularizaes, e a defesa do Judasmo contra as intromisses de tal influncia pag2. Muito dessa literatura conhecida por ns apenas por fragmentos ou em referncias em outras obras3, mas esses escritos que sobreviveram mostram muito claramente a mescla de pensamento grego e judeu que predominava bem antes do comeo da era crist. Isso bem ilustrado em livros tais como os Orculos Sibilinos (Livro III) e Sabedoria de Salomo. Os Orculos Sibilinos foram escritos durante a ltima metade do segundo sculo a.C, em Alexandria. So semelhantes Sibil grega que

exerceu considervel influncia sobre o pensamento pago, tanto antes como depois desse tempo. A Sibil pag era uma profetisa que, sob inspirao de um deus, podia dar sabedoria aos homens e revelar-lhes a vontade divina. Havia uma variedade de tais orculos em diferentes pases, e no Egito, em particular, eles passaram a gozar de um crescente interesse e significado._______________________ 1 A palavra "Targum" (no grego) significa uma traduo ou parfrase da Escrituras Hebraicas na lngua do povo. Nas regies de fala aramaica, a leitura das Escrituras na sinagoga era acompanhada por uma repetio oral (veja p. 63 ss). Acredita-se que esse costume reportava aos tempos de Esdras (cf. Ne 8.8). No segundo sculo d.C. os Targuns aramaicos passaram a existir na forma escrita.

Os judeus de Alexandria viam nesse tipo de literatura um excelente meio de propaganda. Por meio de alteraes e acrscimos discretos, eles usaram a estrutura dos orculos pagos para propagar a f no "nico Deus vivo e verdadeiro". De muito maior significado o livro Sabedoria de Salomo, escrito no primeiro sculo a.C. por um judeu de Alexandria que, ao apresentar sua f, demonstra que havia sido profundamente influenciado, em seu pensamento, pela perspectiva e filosofia do mundo grego gentio e que ele era, sem dvida, muito versado nesse campo. Por exemplo, essa influncia pode ser percebida ao tratar da idia de "sabedoria" que ele personifica de modo semelhante ao ensinamento estico referente ao conceito amplamente conhecido de Logos ou Verbo4. Neste ponto, de fato, trata-se de uma forte tentativa de reunir a piedade do judasmo ortodoxo e a forma de pensamento grego da poca. De acordo com outros escritos judaicos

daquele tempo, ele incorpora uma forte polmica contra os gentios e exalta a verdadeira religio que Deus revelou a seu servo Moiss. Um bom exemplo de Judasmo helenstico pode ser encontrado no escritor judeu alexandrino Philo, que foi contemporneo de Jesus e de Paulo. Ele era bem versado no apenas nas Escrituras em hebraico, como nos escritos judaico-helenistas, e tambm em filosofia grega. _____________________Este tambm era o tema de outros livros judeus, oriundos da Palestina, que no devido tempo foram traduzidos para o grego, e finalmente, acharam lugar na Septuaginta, como I Macabeus, Bel e o Drago, Judite, o Resto de Ester, Tobias e Susana (veja pp. 78 ss). 3 Ver R. H. Pfeiffer, History of New Testament Times, with a Introduction to the Apocrypha (Histria dos Tempos do Novo Testamento, com uma Introduo aos Apcrifos), 1949, p. 200 ss.2

O objetivo de seus escritos era demonstrar a relao entre a religio das Escrituras e a verdade das filosofias gregas. Ele fez uso livre da alegoria, prtica comum em Alexandria, e atravs dela demonstrou, por exemplo, que Moiss estava em consonncia com os filsofos gregos. A posio de Philo no era aceita pelo Judasmo ortodoxo de seus dias, mas sua abordagem da religio e da filosofia, e a relao entre elas, teve uma influncia considervel no desenvolvimento da teologia crist nos anos que se seguiram. C. A. Cultura Grega na Palestina O impacto do helenismo sobre o judasmo foi sentido at mesmo na prpria Palestina onde, na maior parte, os judeus passaram pela Disperso e viviam como membros de uma comunidade grega. Durante o perodo dos Selucidas, muitas cidades da Palestina foram conquistadas pelo estilo de vida grego e algumas novas cidades foram construdas

em estilo grego. Essas comunidades, governadas por um senado democrtico, semelhante ao Boul ou Conselho Ateniense, eleito anualmente e composto de representantes do povo, trouxeram para os judeus uma perspectiva mental completamente nova e uma, at ento desconhecida, viso da cultura e civilizao helenstica, muito do que, para o judeu fiel, parecia ser prejudicial e at mesmo subversivo f de Israel. Mesmo em Jerusalm e seus arredores havia muitos que adotaram o estilo de vida grego desde o incio do perodo da supremacia ptolomaica, e muitos mais sucumbiram sob a propaganda concentrada dos Selucidas. ___________________4

Para uma abordagem mais completa, ver p. 23 s.

O Primeiro Livro de Macabeus lana luz sobre a situao daquele tempo nestes palavras: "Nesta poca saram tambm de Israel uns filhos perversos que seduziram a muitos outros dizendo: Vamos e faamos alianas com as naes ckcunvizinhas, porque desde que ns nos separamos deles, camos em infortnios sem conta. Semelhante linguagem pareceu-lhes boa, e houve entre eles quem se apressasse a ir ter com o rei, que concedeu a licena de adotarem os costumes pagos. Edificaram em Jerusalm um ginsio como os gentios, dissimularam os sinais da circunciso, afastaram-se da aliana com Deus, para se unir aos estrangeiros e se escravizar ao pecado" (1 Mac 1.12-15). Comentando sobre essa passagem, A.C. Purdy escreve: "Lendo nas entrelinhas, podemos inferir que o desafio para o Judasmo aqui no era o de uma religio rival, mas o de uma cultura rival. Era o desafio do secularismo. A religio dos judeus estava ainda

para ser diretamente atacada, mas um helenismo definido e agressivo havia surgido entre eles"5. Um fator importante de expanso dessa cultura rival foi indubitavelmente a formao de ginsios que foram construdos no apenas em Jerusalm, mas em muitas regies da Disperso, na Palestina e arredores. "Eles expressavam", escreve o Dr. Edwin Bevan: "tendncias fundamentais da mentalidade grega sua inclinao para a beleza harmoniosa da forma, o prazer do corpo, a franqueza imperturbvel com respeito ao mundo natural."6 A nfase grega na beleza, forma e movimento iriam abrir o horizonte esttico, desconhecido at ento para muitos judeus._________________________________ 5

Q H. C. MacGregor e A. C. Pwdy,Jewand Greek (O Judeu e o Grego), 1937, p. 30.

Por essa razo, alguns dos ritos religiosos judaicos que pareciam inestticos para os gregos, passaram a ser negligenciados por certos judeus. Como a citao anterior de 1 Macabeus mostra, os atletas judeus, por exemplo, que iam normalmente correr nus na pista, passaram a ser "incircuncidados" por meio de uma leve operao cirrgica para evitar o escrnio da multido. Jogos e corridas no estdio e no hipdromo eram marcas distintas das cidades helenizadas e eram populares entre os jovens judeus, no menos do que entre pessoas de outras tradies religiosas e culturais. O teatro tambm desempenhou um papel importante na disseminao da cultura grega. Sabemos de judeus que escreveram tragdias em versos gregos, e cujas peas, como xodo de um certo Ezequiel, foram, com certeza, apresentadas no teatro que Herodes construiu perto do Templo de Jerusalm. Os ritos e

cerimnias religiosos, aos quais muitos dos jogos e apresentaes eram associados, tinham uma influncia inevitvel sobre a populao judia e tendiam a corromper as mentes dos jovens, acompanhadas, como eram muitas vezes, de uma medida de imoralidade e vcios. O helenismo com o qual os judeus estavam em contato durante esse perodo, embora contivesse muito do que era bom e bonito, tinha, na concepo popular, uma ntima conexo com o 'tmulo de Dafne, e os caminhos dos soldados, guardies de bordis e 7 comerciantes . _______________________Jerusalem under the High Priests (Jerusalm sob a Liderana dos Sumos Sacerdotes), 1920, p. 35.6

D. A Influncia Religiosa do Helenismo E bvio, a partir do que se tem sido dito, que a influncia do helenismo no podia estar confinada estritamente aos aspectos sociais ou literrios ou culturais ou estticos; por sua prpria natureza, criou-se uma atmosfera definitivamente espiritual que era, em muitos aspectos, completamente estranha perspectiva religiosa dos judeus. Os vrios festivais e cerimnias, associados a quase tudo na vida social grega, deixaria sua impresso na vida religiosa e nos costumes do povo. E importante, nesta conexo, observar que o Helenismo era um sistema sincretista, sob cuja superfcie o pensamento e as crenas de muitas antigas religies orientais continuaram a exercer uma forte influncia. No ramo srio do helenismo, por exemplo, o Zoroastrismo, religio do antigo Imprio Persa, ainda estava bem vivo8. Em sua forma mais primitiva, de alguma forma o

Zoroastrismo ensinava um dualismo no qual havia uma interminvel batalha entre os poderes da luz, liderados pelo esprito bom Ahura-Mazda, e os poderes das trevas, conduzidos pelo esprito mau Angra-Mainyu. Esse princpio dualista formulado em uma doutrina de "duas eras" na qual a "presente era" de impiedade contraposta "era futura" de retido. Afinal, pelos bons ofcios de Shaoshyant, o salvador, Ahura-Mazda lana AngraMainyu no abismo. O fim do mundo sobrevm; os mortos so ressuscitados e enfrentam o julgamento. Todos os homens so sujeitados chama de um fogo purificador; por rim, todos so salvos e surge a nova era com um novo cu e uma nova terra. ______________________7 8

G.

H. C. Macgregor e A/C. Purdy, op. cit, p. 143. Ver p. 95,107 ss, 112,135.

Ao lado desse ensino do Zoroastrismo, havia o antigo culto babilnico baseado nos luminares celestes e especialmente nos sete planetas que, em suas voltas ao redor da terra, controlavam, acreditava-se, as vidas dos homens e as naes. A sobrevivncia desse culto bastante compreensvel porque o Imprio Persa que Alexandre, o Grande, conquistara, tinha, por sua vez, sucedido o antigo Imprio Babilnico e, no processo, havia incorporado muitos de seus costumes e crenas e adotara o aramaico ou "caldeu" como o idioma oficial do governo. Assim, ali emergiu o sincretismo perso-babilnico, ou "mescla" de cultura, que ao longo do tempo coloriu profundamente o helenismo srio. Por meio do helenismo srio, o impacto dessa cultura seria sentido pelos judeus na Palestina. Realmente, muitos dos judeus tinham contato

direto com o pensamento e a cultura persobabilnica porque, desde o tempo do Cativeiro, eles tinham vivido lado a lado com iranianos (ou persas) na Mesopotmia. De vez em quando esses judeus babilnicos voltavam Palestina, trazendo consigo uma avaliao simpatizante de alguns aspectos do pensamento persa, particularmente aqueles que no eram necessariamente incompatveis com sua prpria religio hebraica. Sem dvida, muitos foram atrados a voltar Palestina no tempo dos Macabeus e seus sucessores, quando um estado judeu forte comeava a surgir. A influncia do Zoroastrismo, e de fato, de toda a cultura perso-babilnica amplamente ilustrada nos escritos dos judeus apocalpticos desse perodo e mesmo, embora em menos extenso, nas obras dos Judasmo farisaico. E evidente tambm nos escritos dos Pactuantes de Qumran, nos quais aparece, por exemplo, uma forma _________________9Compare o interesse nos corpos celestes demonstrados nos escritos como Jubileus e I Enoque 72-82.

de dualismo, em muitos sentidos semelhante ao do Zoroastrismo, que no pode ser explicado simplesmente atravs da referncia religio do Antigo Testamento . Uma relao com a escatologia (isto , doutrina das "ltimas coisas") do Zoroastrismo indicada no prprio Antigo Testamento ; mas os judeus apocalpticos, incluindo o escritor do Livro de Daniel, so muito mais fortemente influenciados por ele. Toda a perspectiva deles governada pela convico de que aquela era presente maligna estava na iminncia de terminar e que a nova era se seguiria

imediatamente . Essa viso dualstica do universo coloriu suas convices em relao esperana messinica, por exemplo, que ao longo do tempo assumiu caractersticas transcendentais e tambm sua concepo da vida aps a morte. Neste ltimo caso, a influncia do Zoroastrismo evidente em questes tais como a separao da alma do corpo no momento da morte, o destino dos mortos no lapso de tempo entre a morte e a ressurreio, a doutrina da ressurreio e o ensino relativo ao Juzo Final. Outro campo no qual se percebeu profundamente essa influncia, na doutrina amplamente difundida sobre anjos e demnios e, em particular, a personalizao de espritos maus para os quais no h paralelo no pensamento do Antigo Testamento. 16________________________________

Ver p. 50. Compare particularmente o rolo intitulado 'The War of the Sons of Light and the Sons of Darkness" (A Guerra entre os Filhos da Luz e os Filhos de Trevas). 12 Por exemplo, Isaas 24-27; 65.17 ss. 13 Ver p. 94, 107 ss, 120 ss. 14 Ver p. 130 ss. 15 Ver captulo 7. 16 Verp. 50,112.11

10

Ainda mais importante do que o helenismo srio foi o helenismo egpcio que tomou forma sob os Ptolomeus. As antigas tradies religiosas e msticas do Egito e da Babilnia entraram em contato com a nova cincia e cultura gregas, produzindo um sistema de pensamento muito mais abstrato em forma do que o ramo srio de helenismo. Muitos judeus, especialmente os da Disperso, foram grandemente influenciados pelo tipo filosfico de religio que acompanhava essa forma particular da cultura grega.

Este ponto bem ilustrado pelo autor de Sabedoria de Salomo , cuja familiaridade com o pensamento grego evidente, por exemplo, no ensino referente "sabedoria". A idia de "sabedoria" bem familiar para os leitores do Antigo Testamento em livros como Provrbios, J e Eclesiastes, mas em Sabedoria de Salomo a influncia da filosofia grega est mais claramente demonstrada. "O ensino do autor referente sabedoria divina e humana", escreve B. M. Metzger, " uma explicao das idias primitivas sobre esse tema expressadas no Livro de Provrbios, com uma distoro metafsica emprestada da concepo estica do Logos universal, aquele mediador impessoal entre Deus e a criao." Tendo "criado o mundo a partir da matria informe" (11.17, cf. Gn 1.2), Deus envia criao uma alma que, para o escritor desse livro, nada menos que a prpria sabedoria. O esprito desabedoria vem de Deus (7.7, etc.) e "uma clara efluncia da glria do Todo-Poderoso" (7.25). Deus criou todas as coisas por Sua palavra (9.1), mas a sabedoria estava presente antes da criao (9.9). Desde ento, ela tem sido "o artfice" (7.22), o renovador (7.27), o ordenador (8.1) e o realizador (8.5) de todas as coisas.

_____________________17 Ver tambm IV Macabeus que mostra um conhecimento ntimo da filosofia grega, especialmente 1.13 - 3.18, 5.22-26, 7.17-23. 18An Introduction to the Apocrypha (Uma Introduo aos Apcrifos), 1957, p. 73.

Em 7.22s ele faz uma tentativa de definir sabedoria e atribui nada menos que 21 qualidades a ela; mesmo assim, ela permanece um enigma. A influncia do pensamento grego no livro Sabedoria de Salomo tambm evidente em seu ensino referente doutrina platnica sobre a

preexistncia da alma, como em 8.19-20, em que lemos: "Eu era um menino vigoroso, dotado de uma alma excelente, ou antes, como era bom, eu vim a um corpo intacto." Essa mesma ideia esta presente no escntor judeu Philo (morto em cerca de 50 d.C.) e em livros tais como II Enoque (1-50 d.C.) onde aparecem estas palavras: "Sente-se e escreva para todos os filhos dos homens, porm, muitos deles nascem, e os lugares so preparados para eles na eternidade; porque todas as almas so preparadas para a eternidade, antes da fundao do mundo" (23.4-5). A maioria desses livros judeus (particularmente os de carter apocalptico) expressa a crena em uma ressurreio da morte na qual a alma ou o esprito reunido ao corpo, mas em alguns deles a influncia do pensamento platnico novamente evidente em passagens que expressam a crena na imortalidade da alma. Em Sabedoria de Salomo 3.1-5, por exemplo, lemos: "Mas as almas dos justos esto nas mos de Deus, e nenhum tormento os tocar. Aparentemente elesesto mortos aos olhos dos insensatos: seu desenlace julgado como uma desgraa. E sua morte como uma destruio, quando na verdade esto na paz! Se eles, aos olhos dos homens, suportaram uma correo, a esperana deles era portadora de imortalidade, e por terem sofrido um pouco, recebero grandes bens. Porque Deus, que os provou, achou-os dignos dele." Pelo menos dois outros livros expressam essa mesma crena. ___________________19 20

Cf. tambm 15.8,11, IV Mac 13.13, 21; 18.23 Ver p. 84,146 ss.

Em I Enoque 91-104 (cerca de 164 a.C), o escritor refuta a viso dos saduceus de que no h nenhuma diferena entre a sorte dos justos e a dos mpios aps a morte (102.6-8,11) e afirma que, pelo contrrio, "toda bondade e alegria e glria esto preparadas" para as almas dos justos (103.3). Eles vo viver e se regozijar e seus espritos jamais perecero (103.4). Assim tambm no Livro de Jubileus, (c. 150 a.C.) o justo passa imediatamente da morte para a bem-aventurana da imortalidade "Seus ossos vo descansar na terra, e seus espritos tero muita alegria" (23.31). A influncia desses diferentes tipos de helenismo no Judasmo durante esse perodo est clara; mas em suas doutrinas fundamentais, o Judasmo permaneceu fiel f de seus pais e preparou o caminho no apenas para sua prpria sobrevivncia, mas tambm para o nascimento da religio crist. 2. A REAO CONTRA O HELENISMO J se mencionou a poltica de tolerncia seguida tanto pelos Ptolomeus como pelos Selucidas, por meio da qual foi permitido ao Judasmo e ao Helenismo existirem lado a lado. Esses foram anos de grande perigo para a f judaica. Porque essa poltica visava uma helenizao por meio de uma infiltrao gradual de influncia grega e uma assimilao gradual do estilo de vida grego. Foi quando essa poltica de penetrao pacfica foi substituda por uma poltica de perseguio, notavelmente no reinado de Antoco IV (175-163 a.C), que irrompeu uma violenta reao transformada, com o tempo, num dio ardente contra todo o estilo de vida helenstico.

A. O Partido Helenista em Jerusalm Muito antes de Antoco IV assumir o trono, havia um forte partido helenista entre os judeus da Palestina, cujos lderes podiam ser encontrados principalmente entre a aristocracia rica e sacerdotal que, por sua posio social, desfrutava dos privilgios da corte real e bajulava os favores do rei. Alm disso, todo esse perodo foi marcado por amarga rivalidade entre duas grandes famlias, a Casa de Tobias e a Casa de Onias, que iriam influenciar profundamente o curso dos eventos nos anos futuros, particularmente em relao ao ofcio do Sumo Sacerdcio. Josefo conta como o Sumo Sacerdote Onias II, "um grande amante do dinheiro", recusou-se a pagar o imposto anual de 20 talentos a Ptolomeu IV (221-203 a.C), depois que Jos, filho de Tobias, havia sido indicado coletor de impostos de todo o pas. Jos e sua casa tornaram-se extremamente ricos e ganharam uma posio de poder considervel perante a nao. E assim, naquele momento, as duas casas rivais estavam representadas nos dois ofcios mais elevados do Estado. No tempo de Antoco, o Grande (223-187 a.C), o controle da Palestina passou dos Ptolomeus para os Selucidas e em seguida Jos e seus seguidores transferiram sua submisso quele monarca, cujo governo estava terrivelmente dependente de dinheiro. Havia, em Jerusalm, homens prontos a levantar ou oferecer dinheiro em troca de posies de poder. Um desses era Simo, da Casa de Tobias, que no reinado de Seleuco IV (187-175 a.C.) encorajou o ministro-chefe do rei a se apoderar do dinheiro sagrado do Templo e ento

tentou incriminar o Sumo Sacerdote, Onias III. Vrias revoltas eclodiram em Jerusalm e Onias III partiu para a corte de Seleuco, a fim de pedir a ajuda do rei para suprimir os distrbios. A rixa entre as duas casas rivais chegou a um ponto crtico no reinado de Antoco IV (175-163 a.C.) que sucedeu a seu irmo Seleuco. Os helenistas em Jerusalm, e em particular no partido aristocrtico, que eram abertamente favorveis Sria, viram na ascenso de Antoco uma oportunidade para atingir seus objetivos. O Sumo Sacerdote legtimo, Onias III, cuja lealdade era prEgito, era um obstculo s suas esperanas e assim, durante sua ausncia temporria do pas, e com a concordncia do rei, seu irmo Jesus ou Josu (que mudou seu nome para a forma grega, Jason) foi designado Sumo Sacerdote em seu lugar, em troca de um suborno significativo para o rei (2 Macabeus 4.7-10). Antoco, sem dvida, considerou essa indicao como um sbio movimento poltico. Concedeu permisso para remodelar Jerusalm segundo as linhas helensticas (I Macabeus 1.1115); um ginsio foi construdo em Jerusalm e muitos judeus se vestiam segundo a moda grega. Os judeus ortodoxos, e em particular os Hasidim ou os Piedosos (antecessores dos Fariseus) , ficaram furiosos com esses acontecimentos e com a expanso da influncia helenstica em geral. Para eles, a indicao de um Sumo Sacerdote era um ato de Deus, que nada rinha a ver com a aprovao ou desaprovao de um rei gentio. O nico consolo era que o novo Sumo Sacerdote, Jason, pelo menos era membro do partido ortodoxo. Porm, tal situao seria logo alterada, porque a essa altura, um Menelau, que no era membro da famlia do Sumo Sacerdote, expulsou Jason do ofcio com a

ajuda de Tobias e a oferta ao rei de um suborno maior que o oferecido por seu rival (II Mac 4.23 ss)! Os seguidores de Menelau apoiavam abertamente o estilo de vida grego e se colocaram contra o partido ortodoxo. A diviso entre essas duas faces do povo aumentou e a luta irrompeu em Jerusalm entre os partidos helenista e ortodoxo. Encorajados por um rumor de que Antoco havia morrido em uma campanha no Egito (170-169 a.C), Jason se apressou rumo a Jerusalm e expulsou Menelau (II Macabeus 5.5 ss). O cenrio j estava pronto para o incio da luta. O conflito que se seguiria no era simplesmente uma questo de*"judeus contra srios", mas de "judeus contra judeus"; porque, em oposio ao partido helenista em Jerusalm, a vasta maioria dos judeus nos arredores do pas estava alinhada em oposio a qualquer poltica de helenizao. Como o Dr. Oesterley observa: "Durante uma boa parte do segundo sculo a.C, 'Jerusalm contra Jud' descreve corretamente o conflito interno judaico." O rumor referente morte de Antoco mostrou-se falso e o rei voltou, determinado a fazer que a Palestina se submetesse a sua poltica declarada de unificar o reino por meio da cultura e da religio helensticas. Sem dvida, sua determinao foi fortalecida pelo medo do crescente poder de Roma e da conseqente necessidade de consolidar o Imprio. A expulso de seu protegido, Menelau, do ofcio de Sumo Sacerdote era considerada uma afronta sua dignidade real, por isso resolveu vingar-se dos judeus. Assim, ele atacou Jerusalm, expulsou Jason e restabeleceu Menelau em seu ofcio. Seus soldados ficaram livres e massacraram muitos

dentre o povo; o Templo foi profanado e os utenslios sagrados saqueados (I Mac 1.20-28).____________ Ver pp. 49, 54 s.

B. A Vingana de Antoco Logo tornou-se bvio que, embora ele tivesse o apoio dos helenistas em Jerusalm, sua poltica de helenizao era violentamente contrria maioria das pessoas que, alm disso, recusavam-se a reconhecer Menelau como Sumo Sacerdote. Assim, Antoco determinou exterminar completamente a religio judaica (168 a.C). Optou por destruir as prprias caractersticas distintivas da f judaica (cf. I Macabeus 1.41 ss), assim consideradas desde o tempo do Cativeiro. Todos os sacrifcios dos judeus foram proibidos; o rito da circunciso teve que cessar, o Sbado e os dias de festas no podiam mais ser observados. A desobedincia a qualquer desses mandamentos acarretaria a pena de morte. Alm disso, os livros da Torah (ou Lei) foram desfigurados ou destrudos; os judeus, forados a comer carne de porco e a oferecer sacrifcios em altares idlatras erigidos por todo o pas. Ento, para coroar suas aes de infmia, Antoco erigiu um altar a Zeus do Olimpo com uma imagem do deus (provavelmente com as caractersticas do prprio Antoco) sobre o altar de ofertas queimadas no interior do trio do Templo (I Mac 1.54). esse altar que o escritor do Livro de Daniel chama "a abominao desoladora" (Dn 11.31). Esses eventos foram seguidos de severa perseguio na qual muitos foram condenados morte (I Mac 1.57-64). A esse perodo pertencem as histrias, em parte lendrias, contadas em II

Macabeus 6-7 sobre o martrio de Eleazar e os Sete Irmos. Muitos abandonaram as cidades e superlotaram as aldeias onde eram perseguidos pelos agentes do governo, cuja inteno era extinguir a f judaica. _______________22

A History of Israel (Uma Histria de Israel), vol. 2, 1934, p. 259.

C. Os Macabeus e a Revolta dos Macabeus Logo, a resistncia passiva abriu caminho agresso aberta. A fasca para a revolta veio da vila de Modein, noroeste de Jerusalm, onde um sacerdote, Matarias, da Casa de Hasmon, vivia com seus cinco filhos (I Mac 2.1 ss). Quando um oficial srio chegou a Modein para obrigar realizao de sacrifcios pagos, Matarias no apenas se recusou a concordar, mas tambm matou um judeu apstata que prestava sacrifcios e ao mesmo tempo matou o oficial srio. Esse foi o motivo para Matatias e seus filhos fugirem para as montanhas, onde a eles se uniram muitos judeus zelosos (I Mac 2.23-28). De particular importncia foi a adeso a suas fileiras dos Hasidim (I Macabeus 2.42 ss), para quem toda a cultura helenstica e a influncia estrangeira eram anathema, porque a presena deles "deu plena sano religiosa revolta." Eles no poderiam ser considerados um partido dentro do Judasmo, mas formavam um grupo de opinio muito poderoso. Eram oriundos, em maior parte, das classes mais pobres e dos distritos rurais, mas havia entre eles alguns homens proeminentes. Sua evidente devoo e zelo religioso viriam a ser vitais para o futuro da nao. A atitude deles vividamente expressa no Livro de Daniel que, em sua forma presente, de algum modo, foi composto, no tempo de Antoco, por um dos Hasidim.

A Revolta que se seguiu foi liderada sucessivamente por trs dos filhos de Matarias: Judas (165-160 a.C.) cognominado Macabeus ("Martelador"?), Jonatas (160-143 a.C.) e Simo (142-134 a.C). Em suas campanhas obtiveram notvel sucesso. No dia 25 de casleu (dezembro), 165 a.C, no mesmo dia em que o templo havia sido profanado trs____________________ 23 H. Wheeler Robinson, The History of Israel {A Histria de Israel), 1938, p. 176.

anos antes (I Mac 4.54), eles o purificaram e o rededicaram, sob a liderana de Judas, e a adorao foi restabelecida (I Mac 4.36 ss; cf. II Mac 10.1-7). Esse evento tem sido comemorado desde ento na Festa judaica de Hanukkah (Dedicao), s vezes conhecida como a Festa das Luzes. As lutas continuaram, mas em 162 a.C. Lisias, regente de Antoco V, ofereceu condies generosas ajudas e concedeu perdo total aos rebeldes, e plena liberdade religiosa (I Mac 6.58ss; II Mac 13.23s). Para convenc-los conciliao, ele ordenou que Menelau fosse condenado morte. Os Hasidim, cujos propsitos, por esse tempo, eram religiosos e no polticos, viram seus alvos atingidos e retiraram seu apoio aos Macabeus. Isso indicado pelo apoio que deram a Alkimus, a quem Demtrio I (sucessor de Antoco V), indicou como Sumo Sacerdote. Ele foi reconhecido pelos Hasidim como um legtimo Sumo Sacerdote da linha de Aaro. Judas, porm, no ficou contente com apenas a liberdade religiosa, j que buscava a independncia poltica. Depois de relativo sucesso inicial, os judeus foram derrotados e o prprio Judas foi morto em Elasa em 160 a.C. (I Macabeus 9.18s). Alkimus morreu pouco tempo depois, e pelos prximos sete anos Jerusalm ficou sem Sumo Sacerdote.

Jonatas sucedeu a seu irmo Judas como lder dos judeus nacionalistas com a ajuda de seu outro irmo, Simo. Foi um tempo de intriga no qual vrios rivais passaram a reivindicar o trono srio. Em 153 a.C. Demtrio I (162-150 a.C.) teve de lidar com tal rival na pessoa de Alexandre Balas que afirmava ser filho de Antoco IV. __________________No sentido exato o nome "Macabeus" deveria ser aplicado apenas a Judas, mas em geral tambm usado em referncia a seus irmos. 25 Cf. Joo 10.22 onde se faz referncia "Festa da Dedicao".24

Ambos tentaram cortejar a amizade de Jonatas, e no fim, Balas (150-145 a.C.) sobrepujou Demtrio designando-o Sumo Sacerdote em 152 a.C. (I Macabeus 10.15-17). Deve-se observar que o partido ortodoxo no elegeu o Sumo Sacerdote, mas quando muito, simplesmente aceitou a indicao feita pelo rei. Mais tarde, Jonatas foi confirmado no ofcio de Sumo Sacerdote por Trifon, que estava agindo em nome do filho mais novo de Alexandre Balas. Mas Trifon, suspeitando cada vez mais do poder de Jonatas, matou-o em 143 a.C. (I Macabeus 12.48; 13.23). Simo, que sucedeu a seu irmo Jonatas, comeou a solidificar sua posio. Em 142 a.C. ele ganhou de Demtrio II (145-138 a.C.) imunidade de impostos e os judeus proclamaram sua independncia (I Mac 13.41). Em 141 a.C. deram um passo a mais. Um decreto em bronze foi apregoado no Templo conferindo-lhe o ofcio de Sumo Sacerdote com direitos hereditrios: "Os judeus e os sacerdotes haviam consentido que Simo se tornasse seu chefe e sumo sacerdote, perpetuamente, at a vinda de um profeta fiel... e Simo aceitou. Prontificou-se a ser sumo pontfice, chefe do exrcito, governador dos judeus'* (I Mac

14.41-47). O Sumo Sacerdote outrora hereditrio na Casa de Onias e que havia sido usurpado desde a deposio de Onias III, agora voltava a ser hereditrio na linha de Hasmoneu .Aqui, ento, ns vemos o surgimento de um estado judeu independente no qual o chefe civil e lder militar era, ao mesmo tempo, o Sumo Sacerdote. Essa unio iria perdurar por toda a vida da Casa de Hasmoneu. A Simo, porm, no seria permitido morrer em paz. Em 134 a.C. ele foi traioeiramente assassinado por seu genro Ptolomeu. Seu filho, Joo Hircano, agora assumia o Sumo Sacerdcio (I Macabeus 16.1317).

_______________26

Para o significado deste nome, ver a seo seguinte.

Os Macabeus, em nome do judasmo, haviam conquistado uma ressonante vitria, no apenas sobre seus inimigos externos, mas tambm sobre toda a cultura que esses iriimigos estavam determinados a impor sobre eles. Mas seria falso imaginar que a vitria decisiva havia sido ganha. D. A Casa de Hasmoneu A palavra Hasmoneu derivada do nome da famlia de Mavatias e seus filhos que pertenciam Casa de Hasmon. Por este nome os Macabeus eram conhecidos mais tarde na literatura judaica, mas conveniente reservar a expresso "Macabeus" para Judas e seus dois irmos e usar o ttulo "Hasmoneu" para descrever seus descendentes, ao todo cinco, sob os quais os judeus experimentaram quase setenta anos de independncia (134-63 a.C). Por pouco tempo, durante o reinado de Joo Hircano (isto , Hircano I, 134-104 a.C.) a Judia tornou-se um estado vassalo, mas recuperou a independncia em 129 a.C. com a aprovao do

Senado de Roma. Hircano imediatamente comeou a estender seu territrio. No sul, por exemplo, ele anexou a Idumia, compelindo os habitantes a se circuncidarem; no norte, ele se apossou do territrio de Samaria, destruindo o Templo rival do Monte Gerizim. Esses atos de Hircano mostram que ele tinha ideais evidentemente religiosos, mas durante todo esse perodo havia um crescente descontentamento, principalmente da ____________________27 Para pontos de vista destes eventos sobre a esperana messinica, ver p. 123 s. 28 Este Templo havia sido construdo provavelmente em alguma poca do IV sculo.

parte dos Hasidim e dos judeus ortodoxos em geral, contra os Macabeus e a Casa de Hasmoneu. Esses no apenas haviam tomado o Sumo Sacerdcio, mas estavam se tornando cada vez mais mundanos e irreligiosos. No tempo de Joo Hircano, o ramo crescente dentro do Judasmo havia-se materializado em dois partidos, cujos nomes agora emergem, pela primeira vez, como Fariseus e Saduceus. Primeiro, Hircano tomou o partido dos fariseus, mas quando um de seus membros exigiu que ele renunciasse ao ofcio de Sumo Sacerdote, ele rompeu com estes e uniu foras com o partido dos Saduceus. O Dr. Oesterley afirma que uma das principais razes por que os fariseus se opunham aos Hasmoneus era que eles falavam de si mesmos como reis, embora no fossem da linhagem de Davi, e ele indica que at Hircano assumiu esse ofcio real. Se as coisas eram assim ou no, Josefo informa que o sucessor de Hircano, Aristbulo I (103 a.C), foi o primeiro a assumir o ttulo de rei,

embora isso no seja indicado em suas moedas. Esse fato, associado ao apoio do partido dos Saduceus, seu amor pela cultura grega e o fato de estar implicado no assassinato de sua me e de seu irmo Antgono, aumentou ainda mais o antagonismo dos fariseus. Essas questes, porm, chegaram a um ponto crtico no tempo de seu sucessor, Alexandre Janeus (102-76 a.C). Desde o incio, ele irritou profundamente os fariseus ao se casar com a viva de seu irmo Aristbulo, embora fosse contra a lei um Sumo Sacerdote faz-lo. Alm disso, ele negligenciou seu ofcio espiritual e dedicou-se como guerreiro a conquistar e a engrandecer a si mesmo por meio da guerra. ________________29 30

Usava o ttulo de "rei", anunciando o fato em suas moedas em caracteres tanto gregos como hebraicos, assim revelando sua ligao com o estilo de vida grego, demonstrando um passo frente na secularizao do Sumo Sacerdcio. Sua impopularidade entre o povo ilustrada por um incidente por ocasio da Festa dos Tabernculos. Com total desprezo pelas responsabilidades com seu ofcio de Sumo Sacerdote, ele propositalmente escarneceu das exigncias rituais ao derramar a gua da libao no cho e no sobre o altar. As pessoas ficaram to furiosas que bateram nele com os ramos de cidreira que haviam trazido para usar no ritual. Em um acesso de clera, ele deu ordens a seus soldados que mataram muitos dos judeus dentro do ptio do Templo. Mais tarde, a situao ficou to ruim que estourou a guerra civil de seis anos. Quando, afinal, a paz foi restabelecida,

Ver p. 49 ss. Op. Cit, p. 285 s. 31 Antiquities (Antiguidades) 13. 301; Bellum Judaicum 1. 70.

registra-se que ele levou oitocentos judeus que haviam lutado contra ele, morte por crucificao. Durante o restante de seu reinado, os fariseus e os ortodoxos permaneceram em paz. Mas o partido dos fariseus estava se tornando to poderoso que Janeus, prximo ao final de sua vida, viu nisso um grave perigo para a casa real. Assim, aconselhou sua esposa Alexandra, indicada rainha por sua ordem, a entrar em acordo com eles dando-lhes mais autoridade no Estado. Quando Alexandra (75-67 a.C.) subiu ao trono aps a morte do marido, ela agiu conforme ele havia orientado e designou seu filho mais velho, Hircano II, como Sumo Sacerdote. Hircano era bem disposto com os fariseus e, por sua influncia, o poder deles aumentou consideravelmente em fora. Com forte poder civil e religioso nas mos, eles puderam impor, ao povo, suas prprias convices. Em particular, eles tornaram as coisas muito difceis para seus oponentes saduceus, os quais encontraram um defensor no filho mais novo de Alexandra, Aristbulo, que deixou claro que sua inteno era o trono. Aps a morte de sua me, Aristbulo reuniu um exrcito e derrotou seu irmo perto de Jeric. Hircano foi forado a deixar o ofcio e Aristbulo (66-63 a.C.) tornou-se rei e Sumo Sacerdote, permanecendo no poder at 63 a.C. A histria dos Hasmoneus chegou ao fim por causa de um Antipater, governador da Idumia, que encorajou Hircano, no exlio, a remover seu irmo do ofcio. Com ajuda de um governador rabe, Aretas III, ele atacou Aristbulo em Jerusalm. Foi nesse momento que Roma decidiu interferir nas questes da Palestina. Pompeu enviou seu general, Scaurus, para sufocar o levante e ele, mediante suborno, apoiou Aristbulo.

No ano de 63 a.C, o prprio Pompeu, temendo os desgnios de Aristbulo, atacou Jerusalm e a conquistou, entrando pessoalmente no Templo e no Santo dos Santos. Aristbulo foi levado cativo para Roma. Hircano foi confirmado no Sumo Sacerdcio e designado etnarca da Judia, ento acrescentada provncia da Sria. E. Herodes e os Romanos Em 163 a.C, ento, os judeus perderam sua independncia quando Pompeu, mais uma vez, os submeteu ao "jugo dos pagos". Desse momento em diante, o esprito do nacionalismo judeu transformou-se em revolta e continuou at a completa destruio de Jerusalm e do Estado judeu em 70 d.C. Os anos que se seguiram a 63 a.C. realmente foram muito atribulados, e as complicaes no podem ser mencionadas aqui a no ser ligeiramente. Antipater, cujo nome proeminente na histria dos judeus nos vinte anos seguintes, a princpio deu forte apoio a Pompeu, mas em 48 a.C; quando Pompeu foi derrubado, ele transferiu seu apoio para o rival, Csar. Como resultado, Csar concedeu muitos considerveis privilgios aos judeus, no apenas na Judia, mas tambm na Disperso. Antipater foi nomeado governador da Judia, recebendo tambm a cidadania romana. Mas, apesar de todos os benefcios decorrentes de sua amizade com Csar, Antipater era amargamente odiado pelos judeus, sem dvida justamente por causa de sua dependncia de Roma e por ser idumeu (isto , edomita) de nascimento. Esse dio se intensificou quando, depois da morte de Csar em 44 a.C, o procnsul Cassius entrou na Sria e, com extrema severidade, imps pesados

tributos ao povo. No ano seguinte, Antipater foi envenenado por seus inimigos. Quando Antnio subiu ao poder, aps a batalha de Filipos em 42 a.C, ele nomeou os dois filhos de Antipater, Fasael e Herodes, tetrarcas sob o governo do etnarca Hircano II, a quem ele confirmou no Sumo Sacerdcio. Mas logo surgiram srios problemas. Antgono, filho de Aristbulo, o Hasmoneu, ganhou o apoio de Partiano, que apoiava suas reivindicaes ao trono. Fasael e Hircano foram feitos prisioneiros; o primeiro cometeu suicdio e o outro foi levado ao exlio. Porm, Herodes escapou e foi direto para Roma, onde assegurou uma entrevista com Antnio. Ali, para sua prpria surpresa, ele foi designado rei da Judia (40 a.C). Porm, ele ainda tinha que enfrentar Antgono, que havia tomado posse da Judia. Com ajuda dos romanos, ele derrotou seu rival em 37 a.C, aps um cerco de trs meses a Jerusalm. Antgono foi condenado morte e assim comeou o reinado de Herodes, o Grande. Sob o governo de Herodes (37-4 a.C.) e de seus filhos, a poltica de helenizao propagou-se rapidamente. Ele queria, tanto quanto possvel, ser "tudo para todos os homens" - para os judeus, um judeu, para os pagos, um pago. Seu casamento com Mariane, a neta de Hircano, era uma indicao de seu desejo de agradar aos judeus como foi, por exemplo, a construo do novo Templo de Jerusalm, iniciada no ano 20 a.C. Porm, mesmo assim, no foi possvel conciliar o povo com sua origem idumia e com seus planos de helenizar o reino. Num aspecto importante, ele perdeu a simpatia de muitos de seus sditos judeus: na dinastia hasmoneana, o Sumo Sacerdote e o rei eram a mesma pessoa; Herodes, sendo idumeu,

no poderia ser o Sumo Sacerdote, e assim ele adotou a poltica de, tanto quanto possvel, degradar esse ofcio. Com isso em vista, ele quebrou o princpio hereditrio no qual o sumo sacerdcio estava baseado e aboliu o direito vitalcio desse ofcio. Depois disso, o Sumo Sacerdote passou a ser designado por ele e mantinha o ofcio enquanto agradasse ao rei. A poltica de helenizao que Herodes empreendeu era devida, pelo menos em parte, prpria natureza de seu reino, que abrangia muitas cidades gregas e inclua inmeros gregos entre os cidados. Ele tem sido chamado, s vezes, de "patrono do helenismo" e esse ttulo pode ser plenamente justificado em muitos sentidos. Por exemplo, ele fez pouco uso do Sindrio judeu e em seu lugar estabeleceu um conselho real nos moldes helensticos; substituiu a antiga aristocracia hereditria por uma nova aristocracia de servio e elevou essa nova classe de acordo com as prticas helensticas. Sua poltica de administrao, de natureza burocrtica fortemente centralizada, seguia tambm as linhas do helenismo. O historiador Josefo nos diz que "ele indicou jogos solenes a serem celebrados a cada cinco anos em honra a Csar, e construiu um teatro em Jerusalm, como tambm um imenso anfiteatro na plancie" (Ant., 15.8.1, seo 267-69). Era um partidrio liberal dos Jogos Olmpicos e "foi declarado nas inscries do povo de Elis para ser um dos atdministradores permanentes destes jogos" (Ant, 16.5.3, seo 149). Suas extensas operaes de construo provam a alegao de que ele encorajava o culto ao Imperador, porque todos os muitos templos que construiu por toda a Palestina eram dedicados a Csar. Os fariseus,

particularmente, ficaram horrorizados quando souberam que Herodes realmente havia permitido que os pagos erigissem esttuas a ele, em seu reino. Lemos sobre certos homens, sucessores legtimos dos antigos Maca-beus, que entraram em santa aliana para impedi-lo, at mesmo sob risco de morte, de perpetrar sua poltica de helenizao. Mesmo quando eram capturados e torturados e condenados morte, havia outros prontos a tomar seus lugares. Em seguida morte de Herodes em 4 a.C, irromperam tumultos na Galileia, que desse tempo em diante ficou conhecida como bero do nacionalismo judaico. Josefo nos diz que um certo Judas, o Galileu, associado a Zadoque, fariseu, rebelou-se contra Roma e fundou uma nova seita em 6 d.C. Esse presumivelmente o partido que mais tarde veio a ser conhecido como Zelotes (em grego) ou Cananeus (em aramaico) ou Sicaris (em latim) e que passou a ser um espinho na carne dos romanos por muitos anos. Com matana, a rebelio na Galileia foi sufocada por Arquelau, filho de Herodes (4 a.C. 6 d.C.) que o sucedeu como governador da Judeia, apenas para ser banido anos mais tarde pelos romanos como resultado de uma apelao contra ele por judeus e samaritanos. A exceo de um curto perodo de trs anos, nos quais o neto de Herodes, Agripa I (41-44 d.C), governou como rei da Judia, o pas foi dirigido por uma sucesso de procuradores romanos (6 d.C. -66). Durante todo esse perodo, o nacionalismo judeu foi crescendo em intensidade e encontrou uma expresso particularmente perigosa nas atividades dos Zelotes, que consideravam o governo estrangeiro dos romanos como uma situao intolervel. Essas atividades eram

motivadas no apenas por propsitos polticos, mas tambm por profundas convices religiosas, porque aparentemente os Zelotes consideravam a si mesmos como a verdadeira linha sucessria dos antigos Macabeus. interessante notar que pelo menos um dos discpulos de Jesus pertenceu, ou havia pertencido, a esse partido. Ele chamado Simo, o Zelote (Lucas 6.15, Atos 1.13) ou Simo, o Cananeu (Mateus 10.4, Marcos 3.18). Tem sido discutido que outros tambm podem ter pertencido, como Judas Iscariotes (do latim sicarius, "assassino"?), Simo Barjonas (do acadiano barjona "terrorista"?) e Tiago e Joo, os "filhos do trovo" (Marcos 3.17). Em pelo menos uma ocasio, pensa-se que Paulo era um Zelote (Atos 21.38) e o prprio Jesus foi associado aos lderes do movimento Zelote pelo mestre Gamaliel (Atos 5.36,37). Jesus no era um Zelote, mas, sem dvida, alguns de seus contemporneos judeus e dos romanos o consideravam como tal. Os Zelotes eram essencialmente homens zelosos para com Deus agentes de Sua ira contra os caminhos idlatras dos pagos. Eles criam que eram chamados por Deus para se engajarem em uma Guerra Santa contra o "poder das trevas". Nesse particular, compartilharam as crenas de muitos outros judeus patriticos, incluindo os Pactuantes de Qumran. De fato, a esse respeito, exceo dos colaboracionistas saduceus, no h, s vezes, uma linha clara de demarcao entre uma seita e outra. _________________Cf. O. Cullmann, The Slate in the New Testament (O Estado no Novo Testa-mento), 1956, p. 15 ss.32

Mesmo Josefo, que cuida em isolar os Zelotes e imputar a eles a vergonha da Guerra dos Judeus,

em pelo menos uma ocasio, associa os Zelotes aos Essnios, e, como temos visto, associa-os aos fariseus em sua origem. Seu patriotismo era, sem dvida, mais obviamente expresso do que o dos outros, e seu zelo por Deus os tornou bem preparados para empunhar a espada como um instrumento de salvao apontado por Deus, mas como oDrWR. Farmer diz: "Quando as coisas ficaram claras, toda a nao foi chamada a uma luta de vida ou morte entre o povo de Deus e seus inimigos. Todos os judeus patriotas, quer fariseus, essnios ou zelotes, seriam chamados a dar todo o seu empenho na Guerra Santa." O mesmo escritorobserva que os Zelotes eram, sem dvida, considerados por muitos de seus compatriotas como "extremamente zelosos" e "um tanto rpidos no gatilho", em comparao com os outros partidos do pas. O que certo que eles contriburam muito para comear a guerra com Roma que assolou de 66 a 70 d.C. e terminou com a destruio de Jerusalm e de todo o Estado judeu. Apenas mais uma vez, em 132 d.C, houve uma tentativa de lutar pela independncia do Judasmo em uma revolta liderada por Ben Kosebah, comumente chamado de Bar Kochba, ajudado pelo influente Rabino Akiba. Trs anos mais tarde, a rebelio foi esmagada e Jerusalm foi remodelada como cidade pag. A batalha entre o judasmo e o helenismo havia terminado e por todas as aparncias a batalha fora perdida. Mas, assim como o helenismo no se pde resistir apenas________________ 33Ver p. 54 ss. 34Ver p. 37. 35Maccabees, Zealots and josephus (Macabeus, Zelotes e Josefo), 1956, p. 183.

pela fora, assim tambm o judasmo no pde ser extinto pelo poder das armas. O Estado judeu caiu, mas o judasmo prevaleceu, porque quando a conquista foi negada e o acordo proibido, ao contrrio do cristianismo, que se expandiu para o mundo helenstico para "pensar melhor, viver melhor e morrer melhor" os pagos, o judasmo escolheu para si o caminho da separao. Esse passo significativo foi dado por Jonatas ben Zakkai que, enquanto a batalha assolava a vida de Jerusalm, pouco antes de sua queda, partiu para a cidade de Jamina no litoral da Palestina e fundou uma escola que iria marcar o incio de uma nova era para o povo judeu. Eles j no tinham Jerusalm; eles j no tinham o Templo; mas l em Jamina eles tinham o estudo da sagrada Lei de Deus, e isso para eles era mais do que a prpria vida. Por ela seus pais haviam lutado e morrido; por ela seus filhos iriam viver.

2 O Povo do LivroA luta entre o judasmo e o helenismo descrita no ltimo captulo no pode ser explicada tendo como referncia o desejo dos judeus, seja de "liberdade poltica", seja de "liberdade religiosa". De fato, havia luta at mesmo quando eles desfrutavam de liberdade poltica; e a "liberdade religiosa", no sentido dos direitos de cada homem seguir os princpios de sua prpria conscincia, no era tolerada pelos judeus. "Durante todo este perodo", escreve o Dr. T. W Manson, "os judeus estavam lutando, no por ideais modernos como estes, mas pela sobrevivncia de 'Israel', onde 'Israel' representa um todo orgnico complexo, que inclui a f monotestica, os cultos no Templo e nas sinagogas, a lei e os costumes personificados na Torah, as instituies polticas que haviam surgido no perodo ps-exio, a reivindicao de propriedade da Terra Santa, e qualquer sonho do que pudesse ter sido um mundo governado por Israel para substituir o governo dos imprios gentlicos".36 A nova ordem das coisas contida nesses ideais, pelos quais o judasmo estava disposto a lutar at a morte, j haviam encontrado expresso perto do incio do sculo III a.C. em algumas palavras do Sumo Sacerdote Simo, o Justo. No tratado judaico Pirke Aboth 1.2 est escrito: "Ele dizia: sobre trs coisas o mundo est fundamentado: na Torah, e no Servio (Templo), e

em praticar o bem". Essas trs coisas representam "revelao, adorao e simpatia, isto , a palavra de Deus para o homem, a resposta do ______________36

T. W. Manson, The Servant-Messiah (O Servo Messias), 1956, p.

5.

homem para Deus, e o amor do homem para com seu semelhante",37 e so ao mesmo tempo a lei da vida e o fundamento da nao e do estado de Israel. Nos dias anteriores aos Macabeus, o Templo ainda era um bastio contra a onda do helenismo, mas, como podemos ver, o ponto de levante das foras do judasmo tornou-se cada vez mais a Torah eterna e sagrada. 1. A RELIGIO DA TORAH O Dr. G. F. Moore define a palavra "Torah" como "o termo amplo para a revelao divina, escrita e oral baseados na qual os judeus possuam o padro e a norma singulares de sua religio".38 A palavra significa "instruo" ou "ensino" e indica a revelao dada por Deus a Israel por meio de seu servo Moiss. A palavra freqentemente traduzida como "Lei", mas isso pode conduzir a um equvoco, porque seu significado est mais prximo de "revelao" do que de "legislao". Mas, uma vez que essa "revelao" encontra expresso escrita no Pentateuco, o nome 'Torah" aplicado comumente aos "cinco livros de Moiss". Comovamos ver, o nome poderia ser aplicado no apenas ao registro escrito dessa revelao, mas tambm tradio no escrita que buscava explicitar o ensino implcito na Torah escrita. Ao longo de todo o perodo de Antoco IV (175163 a.C.) a Vespasiano (d.C. 69-79) e Tito (d.C. 79-81), o nacionalismo judeu estava arraigado e fundamentado

na Torah. Nessa palavra estavam os germes da revolta que iriam declarar morte ao helenismo e a tudo aquilo que a cultura estrangeira estava introduzindo na nao judaica. E assim, o Livro, o veculo e a ____________________R, H. Charles, Apocr. And Pseud. (Apcrifos e Pseudnimos), 1913, p. 691. 38 ]udaism (Judasmo), vol. 2,1927, p. 263.37

expresso da Torah, cada vez mais se tornou o sinal e o smbolo da f dos judeus. A.. Do Templo Torah O espao deste livro no permite contar a histria de Esdras que, de acordo com o Talmude39, "fundou" a Torah muito depois de ela ter sido esquecida e, apenas se pode fazer uma breve meno aos soferins ou escribas que, de acordo com a tradio, continuaram o trabalho de Esdras, ensinando e interpretando a Torah para as sucessivas geraes, reivindicando para ela uma posio de autoridade suprema no judasmo. O ensino deles, baseado em exegese simples da Torah, deu ensejo a novas tradies, para as quais no havia nenhum precedente na antiga tradio ou na prpria Torah.* O papel exercido pelo ensino oral dos escribas foi muito significante no preparo das pessoas para os anos atribulados que se seguiriam, nos quais a influncia da cultura helenstica comeou a se fazer sentir muito profundamente. H razo para acreditar que os soferins organizaram reunies semanais no s em Jerusalm, mas nas cidades e aldeias adjacentes, nas quais liam a Torah publicamente e explicavam seus ensinamentos. Seria um equvoco pensar nessas reunies em termos dos ofcios das

sinagogas, que surgiram posteriormente e se espalharam rapidamente por toda a Jerusalm e pelas regies da Disperso, mas sem dvida, eles prepararam o caminho para aqueles ofcios, e aos soferins e seus sucessores atribudo muito do crdito pelo desenvolvimento dessa instituio vital para o judasmo. _________________ Na ocasio da morte de Simo, o Justo, cerca de 270 a.C, a influncia dos soferins declinou, mas h evidncia de que aps essa data um conjunto de homens, principalmente leigos, continuou a aplicar-se reservadamente ao estudo da Torah. Esse perodo de ensino no autorizado continuou at cerca de 196 a.C, quando provavelmente foi encerrado pela organizao que mais tarde viria a ser conhecida como Sindrio, um tribunal composto de membros sacerdotes e leigos que se dedicava regulamentao das questes religiosas. Assim, muito tempo antes da Revolta dos Macabeus, as pessoas comuns haviam sido instrudas na f e haviam aprendido a aplicar a religio vida cotidiana na nova situao e condies que se formavam na Palestina. A Torah passou a ser o centro da ateno, ocupando um lugar cada vez mais significativo na vida devocional de muitos que, por causa das dificuldades daqueles tempos ou por causa da disperso, longe de Jerusalm, no podiam oferecer sacrifcios no Templo Sagrado. Em algum momento, ento, entre a concluso da Torah em cerca da metade do sculo IV a.C. e a Revolta dos Macabeus em 167 a.C, ocorreu uma transferncia sutil de nfase, do Templo para a39Ver p. 68, n. 3. 40Ver tambm p. 64 ss.

Torah, o que ainda seria de grande importncia para a sobrevivncia do judasmo. Mas foi na era dos macabeus que essa mudana foi mais notvel, porque nessa poca a Torah havia se tornado o smbolo visvel da f judaica. O triunfo da Revolta dos Macabeus e o desenvolvimento das sinagogas e das escolas, tanto em Jerusalm como na Disperso, aumentou ainda mais a reputao da Torah. A Torah da Sinagoga no estava, em nenhum sentido, em oposio ao ritual do Templo, mas nutriu uma religio pessoal profunda algo que os ritos do Templo no eram capazes de fazer. E assim, chegou um momento em que o registro escrito pde tomar o lugar dos atos litrgicos nos afetos do povo. Isso explica por que, apesar da destruio do Templo em 70 d.C, o Judasmo conseguiu sobreviver. O ritual do Templo havia sido substitudo pela reverncia para com a Torah; o sacerdote havia sido substitudo pelo rabino; o Templo fora suplementado pela sinagoga. Depois disso, o judasmo passou a ser, essencialmente, a religio do livro. B. O Ponto de Levante da Revolta A centralidade da Torah para o movimento do nacionalismo judeu pode ser amplamente ilustrada, tanto no perodo dos Selucidas como no dos romanos: em cada um ela tornou-se o ponto de levante da revolta. Por exemplo, quando Matadas, no tempo de Antoco TV, desafiou o poder dos srios em Modein, ele clamou em alta voz ao povo: "Quem for fiel lei e permanecer firme na Aliana, saia e siga-me" (I Macabeus 2.27). Realmente muito significativo que, apesar de o Templo ter sido profanado apenas pouco tempo antes (I Macabeus 1.54), no foi em defesa do Templo, mas da Torah,

que as pessoas foram conclamadas. Um apelo ao Templo teria reunido uma parte do povo; mas um apelo Torah tinha mais chance de reunir todo o povo; e, mesmo que nem todos respondessem, todos estavam envolvidos, porque toda a nao reverenciava a Torah como revelao e vontade declarada de Deus. "Do primeiro ao ltimo", escreve o Dr Travers Herford, "a batalha era entre o helenismo de um lado e a Torah do outro; e o resultado final que o helenismo foi derrotado e a Torah se manteve suprema, reconhecida por quase todos e jamais abertamente desafiada por algum".41 Os inimigos dos judeus foram rpidos em reconhecer a confiana que devotavam Torah e o entusiasmo com que se levantavam em sua defesa. E assim a Torah escrita tornou-se o foco do ataque contra o judasmo. Concernente perseguio de Antoco IV, lemos: "Rasgavam e queimavam todos os livros da lei que achavam; em toda a parte, a todo aquele, em poder do qual se achava um livro do Testamento, ou todo aquele que mostrasse gosto pela lei, morreria por ordem do rei." (I Macabeus 1.56, 57). Atacar a Torah significava atacar o prprio judasmo; defender a Torah era defender a f de seus pais. A Revolta dos Macabeus comeou, continuou e terminou, ento, em uma convocao para se levantar em defesa da Torah que era, para os judeus, a prpria incorporao da religio deles. O desafio do helenismo no era simplesmente uma questo de poltica ou esttica ou moral ou cultura; era um golpe desferido contra as prprias razes da f judaica, que era fundamentada na Torah sagrada, e a ele se deveria resistir com todas as foras.

Mas, como j temos visto, a Revolta dos Macabeus, embora alcanasse uma grande vitria, no resolveu a questo "judasmo versus helenismo" de uma vez por todas. A nao judaica ainda estava rodeada pela cultura helenstica e devia, de alguma forma, estabelecer suas relaes com seu ambiente. Durante o tempo dos Hasmoneus, em particular o desenvolvimento das sinagogas e das escolas, em ambas as quais o ensino era ministrado com base na Torah sagrada, ajudou grandemente a impedir a infiltrao do helenismo na vida da nao. __________________41

Talmud and Apocrypha (Talmude e Apcrifos), 1933, p. 80.

Mas com o advento de Roma, influncias helenistas comearam a se firmar novamente de formas mais declaradas e tiveram que ser rechaadas. A batalha teve que ser enfrentada por toda parte novamente, e mais uma vez a Torah foi o ponto de encontro da revolta. Josefo, por exemplo, escrevendo sobre os judeus que se opunham .poltica helenizante de Herodes, fala dessa "constncia destemida que eles demonstravam na defesa de suas leis" (Ant., 15.8.4, seo 291). Essas palavras podem ser consideradas como uma verdadeira descrio da atitude dos judeus para com os romanos durante esse perodo e at a queda de Jerusalm em 70 d.C. Repetidas vezes Josefo declarou que eles no somente estavam dispostos a lutar e a matar pela Torah, mas tambm a sofrer e a morrer por sua causa. Tanto no caso dos Selucidas como no caso dos romanos, os inimigos dos judeus foram rpidos

em identificar o centro da lealdade deles, e ento ataques e mais ataques eram lanados contra a Torah. E muito significativo que entre os trofus do Templo, que Tito levou consigo em uma procisso triunfal em Roma, havia uma cpia da Torah judaica, e que atrs da procisso eram carregadas imagens de Nik, a deusa grega da vitria. A Torah considerada aqui como o smbolo supremo do Judasmo sobre a qual as foras do Helenismo uminado, como se acreditava, havia prevalecido. C. A Santa Aliana Esse zelo que os judeus demonstravam pela Torah ao longo de todo o perodo helenstico era, contudo, no simplesmente zelo por um Livro, mas pela Aliana sobre a qual o Livro testemunhava, uma Aliana feita por Deus na qual ele havia separado a nao judaica para ser seu povo particular. Menosprezar a Torah era trair a Aliana que Deus havia feito com seus pais. Isso ajuda a explicar a lealdade fantica que muitos judeus demonstravam para com os ritos de sua f ao longo daqueles dias difceis. A circunciso, por exemplo, era um sinal visvel de que um homem era um membro da Aliana (I Macabeus 1.48, etc), e assim, sujeitar-se "incircunciso" era negar completamente a Aliana (I Macabeus 1.15). Comer carne de porco era fazer o que a Torah proibia, e assim a isso se devia resistir sob a penalidade de morte (cf. I Macabeus 1.62,63; II Macabeus 6.18, 7.1 para ver histrias de bravo herosmo). O Sbado sagrado era, igualmente, uma marca da Aliana que o Helenismo procurou profanar (ITMac 6.6); os judeus observavam isso to rigorosamente, que muitos deles preferiam a morte a levantar os braos,

mesmo para se defender, no dia do Sbado (II Macabeus 6.11; I Macabeus 2.29-38). A Torah era inflexvel em sua proibio de idolatria de qualquer tipo ou forma; da o dio amargo dos judeus por qualquer coisa que lembrasse o culto ao Imperador; da tambm sua violenta oposio quelas construes em estilo grego, decoradas com figuras idlatras de arrimais e homens; at mesmo os trofus que adornavam os teatros eram olhados por muitos como imagens, e ento, eram antema para os judeus, que adoravam um "Deus ciumento" que no toleraria nenhum rival ao seu trono. O lugar que a Torah ocupava e ainda ocupa, na vida do Judasmo, bem resumido nestas palavras do Dr. H. Wheeler Robinson: "A Lei era a escritura do Judasmo, a fonte verdadeira de sua fora durante muitos sculos. As instituies que a lei prescrevia, em grande medida, acabaram em 70 d.C; mas a Lei mostrou seu poder pela criao de um novo judasmo, capaz de resistir sem terra, cidade ou templo. Atravs da leitura da Lei, suplementada pelos escritos dos profetas, nas sinagogas espalhadas da Disperso, o conhecimento de um Deus santo e de sua Aliana com Israel foi mantido vivo nos coraes de todos".42 2. A TORAH E AS SEITAS O Judasmo do perodo de que estamos tratando, era um sistema mais complexo, contendo dentro de si mesmo muitos partidos, grupos e seitas diferentes, cujos nomes e crenas distintas nem sempre ficaram registrados na histria. Josefo declara que "os judeus tiveram, por um grande perodo de tempo, trs seitas de filosofia" (uma

expresso mais enganosa) - os Fariseus, os Saduceus e os Essnios, aos quais ele acrescenta o partido fundado por Judas e Zadoque, mais tarde chamado de "Zelotes" (cf. Ant. 18.1.1-6, seo 923). Indubitavelmente esses partidos foram muito influentes dentro do Judasmo durante esse perodo, mas para manter a questo na devida proporo, temos que nos lembrar de que eles eram uma minoria muito pequena na Palestina. Calcula-se que Fariseus, Saduceus e Essnios juntos somariam apenas trinta mil - trinta e cinco mil de um total de quinhentos mil -seiscentos mil no tempo de Jesus. Os Fariseus somariam aproximadamente cinco por cento da populao total e os Saduceus e os Essnios juntos, aproximadamente dois por cento.43 Alguns dos muitos grupos no Judasmo tinham mais afinidades com essas trs seitas principais do que com outras, mas uma exagerada simplificao do caso supor que, quando essas seitas foram denominadas, as nicas restantes eram as assim chamadas "Am ha-aretz ou "povo da terra". _______________Religious Ideas of the Old Testament (Idias Religiosas do Antigo Testamento), 1913, p. 128.42

A descoberta da literatura dos Pactuantes do Qumran, prximo da costa do Mar Morto, ajudou a esclarecer melhor essa situao. Tm sido feitas tentativas de identificar essa comunidade com uma ou outra das principais seitas e, o que bem possvel, a Seita de Qumran poderia muito bem representar um grupo influente dentro da nao em muitos aspectos diferentes daqueles partidos cujos nomes nos so familiares. Para citar as palavras de R. H. Pfeiffer: "O Judasmo no perodo

em que est sendo considerado era to vivo, to progressivo, to agitado por controvrsias, que sob seu espaoso telhado as vises mais contrastantes puderam ser mantidas".44 Contudo, todos esses grupos ou seitas, aparentemente, tm uma coisa em comum: todos eles prestavam submisso Torah. E completamente errneo destacar, digamos, os fariseus e denomin-los "o partido da Torah" ou atribuir a eles os escritos vagos desse perodo que exaltam "a Lei de Deus". A Torah era o grande fundamento do Judasmo e o alicerce de sua nacionalidade. Porm, no se deve dizer que todos os partidos concordavam com o significado da Torah ou com sua interpretao. De fato, havia opinies muito divergentes sobre esse assunto, de forma que, considerando que a lealdade deles Torah era um lao de unio, sua concepo dela era uma causa constante de diviso entre eles. A. Os Fariseus De acordo com Josefo {Ant., 13.5.9, seo 171-3), os fariseus j existiam no tempo de Jonatas (160-143 a.C), mas em outro lugar (Ant., 13.10.5-7, seo 288-99) ele afirma que eles so mencionados pela primeira vez na histria em conflito com Joo Hircano45 (134-104 a.C)._____________________________

Eles exerceram uma grande influncia por um perodo de cerca de trs sculos e fizeram mais do que qualquer outro partido para determinar a forma de Judasmo nos anos seguintes. Sua ascendncia espiritual pode ser traada at os Hasidim que, ao apoiarem os Macabeus, haviam dado sano religiosa proposta de liberdade

1Cf. T. W Manson, op. cit, p. 11 2 Op. cit, p. 53.

destes. Eles no constituam um partido poltico, mas essencialmente uma seita religiosa, originados em grande parte da classe mdia da sociedade, que gradativamente passou a ocupar uma forte posio religiosa e social na comunidade. Vrias explicaes tm sido cogitadas para o nome fariseu, tais como, "expositor" (das escrituras, no interesse da lei oral) ou "separatista" (das coisas impuras ou no sentido de "expelido", isto , do Sindrio). O Dr. T. W Manson afirma46 que a palavra significa "persa" e era aplicada a eles por seus oponentes que, nesse sentido, chamava-os de inovadores em teologia. Mais tarde, o nome passou a ser considerado como "uma construo etimolgica" e era associado raiz hebraica que significa "separar" sendo entendida como "separatista". certamente verdade que, embora os fariseus fossem firmes defensores da "tradio", para eles ela no era coisa morta e, sem dvida em algumas de suas doutrinas (como por exemplo, o reino messinico, a vida eterna, a crena na multiplicidade de demnios e anjos, etc), eles foram influenciados pelo pensamento persa. Ao longo de todo esse perodo, porm, eles se levantaram como um bastio contra a invaso do helenismo, demonstrando serem os defensores valentes da religio da Torah. Mas era justamente a interpretao que _______________45

Ou Janaeus no Talmude.

eles faziam da Torah que os distinguiam da maioria de seus oponentes, os saduceus. Os fariseus criam que a lei oral devia ser considerada como de igual autoridade que a Torah escrita (cf. Ant, 13.10.6, seo 297), ao passo que os saduceus consideravam a autoridade sagrada da

Torah escrita como completamente acima e separada das novas tradies e observncias.47 Ao ensinar e interpretar a Torah, escrita e oraL e ao aplic-la vida do dia a dia, eles "democratizaram a religio", tornando-a pessoal e operativa na experincia das pessoas comuns. O principal instrumento para propagao da Torah era a sinagoga que se tornou uma instituio mais poderosa dentro de Judasmo, no apenas em Jerusalm mas tambm por todas as regies da Disperso. A leitura da Torah acompanhada de uma traduo interpretativa no vernculo tornouse uma caracterstica distintiva dos ofcios das sinagogas. Nestes, os escribas, muitos dos quais eram membros do partido dos fariseus, tinham um papel importante a desempenhar. Os Evangelhos oferecem alguma indicao da posio que as sinagogas passaram a ocupar como fortalezas da religio da Torah mesmo antes do tempo de Jesus. Mas est claro, pelos registros, que o farisasmo era, no fundo, de carter legalista, e que o legalismo pode facilmente conduzir ao formalismo, e o formalismo ao externalismo e irrealidade, defeitos que se revelaram no decurso do tempo em pelo menos algumas fases do farisasmo.48 Mas, apesar disso, os fariseus criaram um esprito de verdadeira piedade e devoo que afetou profundamente as vidas das pessoas, e desenvolveram um ________________46 47

Op. cit. pp 19 s. Ver captulo 3.

individualismo religioso que relevncia Torah de Deus. B. Os Saduceus

deu

uma

nova

Se os fariseus, como um todo, pertenciam classe mdia, os saduceus eram representados pela rica aristocracia e particularmente pelo poderoso sacerdcio em Jerusalm. Provavelmente a maioria dos saduceus era de sacerdotes, mas eles no devem ser identificados com todo o corpo do sacerdcio. Eles contavam em suas fileiras com comerciantes ricos, funcionrios do governo e outros. Em sua origem, ento, eles no eram um partido religioso, embora fosse nisso que eles pretendessem tornar-se; em vez disso eles eram um grupo de pessoas compartilhando uma posio social comum e unidos informalmente apenas por uma determinao comum de manter o regime existente. Na verdade, o Dr T. W Manson afirma que o nome se origina na palavra grega syndikoi, que na histria ateniense significa aqueles que defendem as leis existentes contra a inovao.49 Alm disso, em assuntos religiosos eles adotaram a posio de um grupo distintamente conservador. O Sumo Sacerdote e seu crculo eram membros do partido dos saduceus quase at 70 d.C, embora alguns anos antes os fariseus, e mais tarde os zelotes, tivessem obtido controle do Templo. Sua influncia havia sido determinada por sua posio no estado, e quando essa posio foi perdida, a influncia deles cessou. Como os fariseus, eles acreditavam na supremacia da Torah, mas ao contrrio daqueles, os saduceus se recusavam a reconhecer a autoridade vinculante da lei oral. Eles tinham, verdade, tradies e costumes de seus _________________48Cf. Mateus 9.14; 15.10-20; 16.6; 23passim [N.T.: do latim aqui e acol]; Marcos 12.38-40; Lucas 11.37-54; 16.14 ss; 18.10 ss; 20.46 s. etc.

prprios rituais e leis, mas como a origem desses no datava de Moiss, no eram considerados no

mesmo nvel que a Torah. Alm disso, eles acreditavam que principalmente no Templo que as palavras da Torah podiam ser obedecidas, e que as ordenanas provenientes dos sacerdotes, investidos em sua prpria autoridade, eram um guia suficiente para as pessoas cumprirem. Com efeito, ainda apoiando a autoridade da Torah escrita contra a autoridade da tradio oraL os saduceus consideravam-na pouco mais que uma relquia do passado. Se para os fariseus a Torah era o centro de sua f, para os saduceus era a circunferncia dentro da qual podiam ser nutridas convices e prticas estranhas ao judasmo. Da a habilidade deles para inserir dentro de seu sistema muitas influncias helensticas que eram odiosas a seus companheiros judeus. C. OsEssnios O nome Essnio provavelmente deriva de uma palavra aramaica que significa "santo" ou "piedoso" e corresponde ao hebraico hasid. Relativamente pouco se sabe sobre os essnios, mas o historiador romano Plnio fala sobre um povo com esse nome que formava uma comunidade asceta firmemente unida, que vivia perto da costa ocidental do Mar Morto. Josefo e Philo oferecem informaes adicionais de que havia cerca de quatro mil essnios que, em sua maior parte, vivia em aldeias, embora alguns deles vivessem em cidades. Esses ltimos eram, sem dvida, considerados por seus irmos como membros associados da comunidade que vivia em regies desrticas, sob uma disciplina mais rgida. O nome essnio _________________

49

provavelmente abrange vrios grupos cujas convices e prticas, embora talvez no fossem idnticas, ainda eram semelhantes. O que significante para o nosso propsito o fato registrado de que os essnios dedicavam muito tempo ao estudo e interpretao da Torah e de outros livros sagrados, com os quais eles tomavam o maior cuidado possvel. Josefo nos fala que eles estudavam intensivamente as Escrituras e indica que certo nmero deles era capaz de predizer o futuro atravs da leitura dos livros sagrados. Philo se refere ao mtodo deles de estudo em grupo e afirma que um membro do grupo lia uma passagem em voz alta para os outros e um irmo mais experiente, ento, ia explicando o significado. E bvio que a Torah escrita e seu estudo formavam a base da vida comum deles e era a inspirao de seu movimento. Em sua perspectiva religiosa, eles tinham muito em comum com os fariseus, mas em alguns aspectos, pelo menos, pareciam ser bem mais rgidos do que aqueles na interpretao da Torah. D. Os Zelotes J observamos anteriormente que Josefo traou a origem dos zelotes at o ano 6 d.C; mas na realidade suas razes vo muito alm do perodo pr-romano, porque eles podem, justificavelmente, ser considerados como verdadeiros filhos espirituais dos macabeus. O Dr. R. H. Pfeiffer coloca a situao resumidamente nestas palavras: "Como os fariseus so os herdeiros dos Hasidim, assim os zelotes so os herdeiros dos Macabeus".50 Eles so descritos por Josefo como bandidos, ladres e coisa semelhante, mas bem podem

Op cit., pp. 15 s.

igualmente ser descritos como patriotas, de acordo com o ponto de vista do escritor; e Josefo era um tanto parcial! Entretanto, errneo consider-los simplesmente como um grupo poltico radical dentro do estado, que provocava conflitos com os romanos. Sem dvida, os zelotes atraram para si muitos do populacho de seus dias com tendncia a "gangsters", mas eles eram essencialmente uma companhia de patriotas judeus motivados por profundas convices religiosas. E interessante notar que Josefo descreve os sucessivos lderes do movimento dos zelotes pela palavra "sofista", que bem pode indicar que dentro do partido havia um programa planejado de ensino que ia alm do interesse meramente poltico que Josefo insinua. Na verdade, sabemos que a oposio dos essnios a Roma estava arraigada em seu zelo para com a Torah. Foi esse zelo e no simplesmente o "amor ao pas" que gerou seu patriotismo e fanatismo, o que fez que passassem a ser temidos tanto pelos amigos como pelos inimigos. Josefo continua dizendo (Ant., 18.1.6, seo 23) que eles tinham "uma fixao inviolvel pela liberdade"; eles se recusavam a chamar qualquer homem de "senhor" ou pagar tributo a qualquer rei, pois Deus era seu nico Rei e Senhor; desprezavam a dor e davam pouca importncia morte; nem sequer o sofrimento de parentes e amigos os demovia de seu propsito. Por trs de tudo isso estava sua devoo apaixonada pela Torah, pela qual eles estavam dispostos no apenas a lutar, mas quando chamados, at mesmo a sacrificar suas vidas. ________________50

Op. cit. , pp. 36.

E. Os Pactuantes de Qumran J fizemos meno dos Hasidim que, no tempo de Joo Hircano (134-104 a.C), apareceram como partido dos fariseus. Porm, nem todo Hasidim se identificou com esse partido. Parece haver razo para acreditar que, durante o curso do segundo sculo a.C, um grupo de pessoas da verdadeira tradio hasdica decidiu se retirar para o deserto da Judeia sob a liderana de quem eles chamavam o "Mestre da Justia". Este formou seus seguidores em uma comunidade religiosa bem organizada, ensinou-lhes uma nova interpretao das Escrituras e uniu-os em uma "nova aliana" que os levou obedincia lei de Deus at o surgimento da era messinica. A descoberta em 1947 desse quartel general dos Pactuantes, em Qumran, perto da costa do Mar Morto, e de um vasto nmero de escritos de suas bibliotecas, muito acrescentou nossa compreenso sobre o estado das coisas na Palestina durante o perodo interbblico. Desde ento, a opinio sobre a descoberta desses "rolos do Mar Morto" tem estado dividida como tambm em relao identidade da comunidade de Qumran. Alguns estudiosos tm argumentado a favor de uma data pr-macabeus, e outros por uma identificao com os zelotes no primeiro sculo d.C. Talvez os argumentos mais fortes, entretanto, possam ser apresentados ao associ-los, se no identific-los, com um ramo dos essnios da poca de Alexander Janaeus (102 a.C.)*ou um pouco antes. Nesse mesmo perodo h evidncias de uma grande comunidade de essnios e uma comunidade igualmente grande de Pactuantes, ambas vivendo ao redor do Vdi Qumran (NT.: vdi: denominao rabe dos rios

intermitentes do norte da frica e do Oriente prximo; denominao do leito desses rios Dicionrio Webster.), e a indicao de que eles provavelmente formavam uma nica comunidade. Essa convico fortalecida por uma comparao dos costumes, ritos e crenas dessas duas seitas que indica que eles pertenciam ao mesmo tipo geral. um fato de particular interesse que ambas as seitas tenham dedicado muito tempo ao estudo e interpretao da Torah e de outros livros sagrados. Entre os Pactuantes, sempre que os membros efetivos do Conselho se reuniam em grupos de dez, como era costume, os assuntos eram ordenados de modo que algum membro do grupo sempre se ocupava do estudo ou exposio. Os membros ordinrios da comunidade deviam dedicar a primeira tera parte de todas as noites leitura do livro', estudando a lei e respondendo com as bnos apropriadas. Como os essnios, os pactuantes tinham muito em comum com os fariseus, mas eram mais rgidos do que eles na interpretao da Torah, como, por exemplo, na observncia do dia do Sbado. Eles acreditavam que sua fidelidade como remanescente representativo de Israel, causaria uma expiao vicria para sua nao e ajudaria a anunciar a nova era de que os profetas haviam falado. Essa fidelidade encontrou sua expresso no estudo meticuloso e na prtica da lei, e foi com esse propsito que eles foram os primeiros a se retirarem para o deserto da Judia. O lder dessa comunidade, o Mestre da Justia, ensinou a seus seguidores uma nova interpretao das Escrituras que tornou clara a parte que eles deveriam desempenhar no

cumprimento do propsito de Deus para sua gerao. De particular significado eram os escritos dos profetas que, como se acreditava, no escreviam simplesmente sobre seus prprios dias, mas sobre os tempos do fim. Na profecia de Habacuque, os pactuantes viam uma predio dos dias que eles mesmos estavam ento vivendo. O fim estava prximo. O "mistrio" (hebraico: raz cf. Dn 2.18, etc.) que foi transmitido por Deus a Habacuque, mas cujo significado foi dele escondido, recebeu sua interpretao (hebraico: pesher) pelo Mestre da Justia, que demonstrou que a antiga profecia fora escrita com referncia, no ao passado, mas s pessoas e aos acontecimentos de seus prprios dias. O Dr. F. F. Bruce mostrou51 que esse mesmo mtodo de interpretao , em muitos aspectos, semelhante ao adotado pelos cristos primitivos e que vrias passagens no Novo Testamento podem facilmente ser traduzidas para a lngua-pescher em que a interpretao da profecia dada em termos dos prprios dias do escritor ou em termos do fim dos tempos.52 Entre os escritos encontrados no Qumran h um chamado "A Guerra dos Filhos da Luz contra os Filhos das Trevas" onde so descritos planos para a execuo de uma Guerra Santa que conduziria ao tempo do fim. Parece certo que, na ocasio da guerra com Roma (66 d.C), segundo o esprito desse livro, os Pactuantes foram prontamente favorveis aos zelotes e, como resultado, suas instalaes em Qumran foram destrudas, como as evidncias arqueolgicas indicam, em 68 d.C. E se, como parece provvel, eles devem ser identificados como um ramo dos essnios, isso explicaria o relato de Josefo, segundo o qual

naquela poca muitos dos essnios foram cruelmente torturados. As seitas do judasmo diferiam umas das outras em muitos aspectos; contudo, exceo dos saduceus, elas eram unidas por uma nica coisa em sua luta contra o inimigo comum; no era a devoo pelo partido nem mesmo pela ptria, mas pela Torah sagrada e pela santa Aliana do Senhor seu Deus. _________________New Testament Studies (Estudos do Novo Testamento), vol. 2, n 3, pp. 176 ss, artigo sobre 'Qumran and Early Christianity' ('Qumran e o Cristianismo Primitivo'). 52 Ele ilustra isso ao associar Habacuque 1.5 com Atos 13.66 ss como interpretao; Habacuque 2.3 s com Hebreus 10.37 s, Romanos 1.17 e Glatas 3.11; Ams 5.25 ss com Atos 7.42 s; Salmos 95.10 com Hebreus 3.9 s.51

Os Escritos SagradosNo h limite para fazer livros, e o muito estudar enfado da carne" (Ec 12.12). Essas palavras, sem dvida, tm uma qualidade atemporal, mas provavelmente o escritor tinha em mente