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Page 1: #Data: 19970607 #Editoria: Sábado -  · o festeiro. cearense. que aI. noite. paulistana. + Geléia Geral. O. preconceitoé forre e. consolidado. N2 relação da. poesia. queestá

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#Data: 19970607 #Editoria: Sábado
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2

I Gilmar ãe Carvalho I

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D O I 5

- ..

.A psicografia é uma manifestação. no mínimo,curiosa. Aindústria editorial que o espiritismomovimenta diz de sua força no Brasil. Sào tira­

genssurpreendentes e títulos a perderde vista.Mais curiosa ainda são as relações entre psicografia e

literatura cearense. As iníormeções são do bibliófiloJorge Brito e começam com Bezerra de Menezes, consi­derado o Kardec brasileiro.

Já em Pílrnaso do AUm Túmulo, primeiro livro psico­grafado por OUro Xavier, em 1932. está presente nossoJuvenal Galeno. morto no anoanteriore que mescla seuestilo de recriação do popular com mensagens espiri­tualistas.

Na Anlologia do:s lmorlPis. ditada a Waldo Siqueira. aprofessora e poeta Francisca Clotilde apresenta quatropoemas e um desenho espiritual. Também deixou mais _.doislivros (TIntino e Natal cU $Qbrina) psícografadoe por • Juvenal GalenaOUro Xavier.Sucessos de vendas. •

José de Alencar nos teria legado. segundo os espiritualistas, Iam/irae VoIlQ f"lra Ú1S/2, ambosde 1946. psicogralados por CarmoBianro.

Mas a presença mais marcante dos cearenses vai se manifestar no Humorismo do A/hn. de1983.Outra vez Iuvenal Galena. agora na companhia de Iovína Guedes. QuintinoCunha, U~via Barreto, Carlos Gondim. Ulysses Bezerra e J06é Sombra escrevem pela mào de Guco Xa­vier.

Intrigante que obscuros poetas que não sãoconhecidos nem no Ceará, comoSabino Batista,Américo Palcâo,Soares Bukào Oú mesmo um Antonio Salesou José Albano se manifestem doalém... Estes últimos em ldtias t llustraç6ts, por conta do med.ium Chico Xavier. Dándís, "­padeiros", sarcásticos e telúricos tentam superar a morte e continuam a escrever. Uma ques­tão de fé que bem pode serobjeto de urna tese.

+Ria em SPPerformer cearense Costa Sennaapresentando o espetáculo Ria aft cair tÚ

. costas, cóm música, humor e literatura decordel: dia 17 de junho, às 19h3Omin, noCentro Cultural Sào Paulo (Sala AdoniranBarbosa). Apromoção é da SecretariaMunicipal de Cultura. Um artistaque tem lutado muito para conseguirseu espaço.

+ Imagem do IndioTItus Ríedl, alemão radicado no Crato.redigindo tese de doutorado que serádefendida junto à Universidade de Colônia(Alemanha), orientada pelo professorFeldmann. Trata da imagem do Indio norelato dos viajantes do século XIX. Meiohistórica, meio literária, no dizer dopróprio professor da URCA.

~ Ceará no MemorialPeças de artesanato e artepopularcearensesestão à venda na lojinha do Memorial daAmérica Latina (estação Barra Funda do

_ Metrô), com seleção críteríosa e exigente da .fotógrafa Maureen Bísilíet, que foi sócia deuma loja que virou referênda nos anos 70:O Bode.

+Zozó e O MangueGrande festa "rave" vai agitar Recife nlpróximo dia 14. No único hínel da d daprefeito Augusto Lucena, em Boa Vlagtnas imediações do canal de Setúbal.O I

na terra do mangue beat ficará por com'lJ::JZiJ Amaral. o festeiro cearense que aInoite paulistana.

+Geléia GeralO preconceito é forre e consolidado. N2relação da poesia que está sendo regísnem 00, apenas o que está chancelado FIEnorma culta. Valede Gregório de Mato:Drommond, de Antonio Ocero a TorqoNeto. Uma geléia geral. FIcam de foraPatativa do Assaré e os discos de violenanos-luz dos modismos e da chamadaindústria cultural.

+ Mostra PedrosaBruno Pedrosa.. artista plãstico de LavraMangabeira, ex-monge, inagurou expo!de seus quadros no restaurante DomManuel. em NovaF~ (RJ). Bruno,final dos anos 80,esteve envolvido nunrumoroso imhroglio envolvendo trabalhide Reís Cervalbo, o artista da expediçãccamelos.

I EClitorial I I Clube da Esquina I

o Sábado publiCil crfliCllS , opiniões, sugestôrs t dicas dos lt itorts. r.JJrtas para a rtlÚçlo:A•.Ag1I4""",bi. 282, CEP60055-102.For 255.6139. E·"",I~_.bi

.'

H ate o Sdbddo faz homenagem a Francis­co Carvalho,quechega aos 70 na próxi­

ma quarta-feira. Nada mais justo. Poeta deRussas, a.reserva em~, .seu Francisco é

-'''I!l>''leum dos nossos grandes escritores deverdade.Um daquelesque conseguiu venceras panelas, sobrev-iveu e acabou cânone danossa literatura- é sempre bom lembrar queno inicio do ano organizamos o cênone e elefoi o t1nico vivo, ao lado de Rachei de Quei­roz, citado entre clássicos como Caminha,Alencar, Moreira Camposetc.

Temos pois um caderno francisoJno, ondenão faltam um perfil do eníverseríente, arti­gos sobre sua obra e até quatro poemas iné­ditos que vão estar no li...TO Cira.'>S6is tÚ &Im,que comemora seus 70. Curiosidade muitonatural: foi diftdl convencero arredio Pran­risco a falar com o SJbado e até abrir sua casapara uma sessão de fotografia? Nem tanto,poderia responder Felipe Araújo, que ficouuma tarde inteira tirando histórias do poeta."Ele reststiu um pouco- é nossa versão - masacabou se mostrando atencioso e bemhumoredc".

~ .. ..r .-" ~ .

Além de Francisco Carvalho, porém, o ca­demo também tem uma Polis que salta osmwos do lPPS, quase flagra uma emboscadae registra um pouco_da realidade daqueles

-homens que vivem e se tratam como bichos.As resenhas, por sua vez, mostram aos leito­res livros de um poeta grego e polêmico quemuita gente deveria conhecer - Nikos Ka­

. zantzakís -e um tratado sobre vida íntima naInglaterra vitoriana assinado pela professoraPhyltis Rose. Não um tratado qualquer, valesalientar, mas uma boa fuxicada na vida deescritores como Charles Dickers, John 5tuartMiJI, Thomas Carlyle etc. Eita gente genial,metida a besta e complicada...

Mas tem ainda uma matéria sobre Preud,que aproveita o mole de uma peça em cartazno llA, e um comentário sobre o mais recen­te filme de Woody AUen, Todos diumeu Itamo, que é uma prova perfeita de que um di­retor pode se repetir e mesmo assim se rene­varoPor enquanto, você vai ter que esperarpelo próximo, que traz as histórias e umapromoção do hoje já quase lendãrío ClubedaEsquina - veja ao lado.

Coordenoo;óo editoriol e ediç60

WALTE RCOE

Redoçóo fi' Rep001..."

ROORlGO DEA1.Mf10A. e

FEUPE AAAÚJO

H istórias do Clu­be da Esquina.

Na primeira vez emque ouvimos fa larque alguém, ou me­lhor, que um dos só­cios proprietáriosdeste clube, MárcioBorges, es tava con­tando sua história emlivro, deddímcs sair àcata daquela mineira­da . Primeiro nas li­vrarias - não. Depoisna própria editora>qual era a editoramesmo? O fato é queo livro era um misté­rio. As pessoas procu·revam, não achavam, ninguém tinha. Umdia, porém, quando mal esperávamos, umlote de livros da Geração Editorial trazia OsSonhos ruJo cnltlhemn.Quantoacaso..,

Com o livro na mão, a iniciativa seguinte'foi procurar a editora , depois o próprioMárcio, conversar com ele, e o que poderiatenninar em resenha foi virando a poesíbilí­dade de uma matéria maior, um lançamen­toem Fortaleza, uma entrevista com Milton

Pro;elo llróflCOMÁJOO GAAOADiogtomoç6o. pog;'""""óo ,Idrónir;oANTONIA MAAIA COUTINHOT'ofu".....lo de i,,~CHAD! ES RQBERf,1SRAEl MfLD,

', .... , ~ ., ..

Nascimento,show de LO 801uma promoção I

rente para o cadeDe início, tudo c'Começamos en tpensa r o projettempo passa , mvontade tambémenvelhece.

Pois bem. Dia!pois, o Sábado teprivilégio de serdos promotoreslançamento de Onhos d o t nt'f lhlem Fortaleza . to.Além de Márcioges, os leitores

conferir também show do irmâo Lô 50e comprar o livro em condições especBem especiais. Tudo isso na quarta-fdia 18 de junho. Antes, no próximosãbvocê ganha uma edição especial, bemnetre, contando todas aquelas históriaClube da Esquina que a gente queria 50

no infào. Com entrevista de Miltv.1 e t1Aguarde. Vai ver mesmo os sonhos N <velhecem...

~ RAlMUNDO, .K>ÁO MANUEL, VlADlMIlMOREIRA Et..EONAAOO FERREIRAFoIoJiros fi' IfflP"lISSÓOEmptMO Jomolfslic;a O I\m) S/A.....OC•• " h' H""•A-enido /lqual'lOmbi, 282. Fortoleto • CeorÓ.

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SÁBADO/o POVON J1alnIJ. CF.. 71jWl!97

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R ESENHA

eusEm Ascese,ogrego Ni1ws Kawntznkis, rom tradução

deJosé PauloPaes, recusa os cdnones docatolicismo,mostrasuavi.sàoascéticaefaz umaexaltação da vida .

a vaan..e n

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t·;•1 'o , " , .,. f·,;·I V., r' _ " :J -,, - ..

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+ FLORIANO MAfmNS

Ascese· Os ..tv~de Deus . Nikos Kazantzákir;introduçJoe tritdlJl)o.lo\é Paulo Paes; Atica; 152pigí.nas; R$13,90

. ---

lad o de poetas como Ággelos Sikelta-nós eKõstas Vámalis · Nikos Kazantzákís encontre­se entre os nomes de proa respon.·•.éveis pelainstauração da modernidade na literatura gre­ga, sendo justamente a sua a primeira geraçãoa contribuir para o surgimento de uma nova vi­são do mundo na poesia de seu pais. Além doslivros aqui mencionados, escreveu os roman-' 'NãOtemo nada. Não espero nada. ces Cris.to "CTUcifiC<lJo, LiM -

Sou livre" . Estas palavras com- Jade ou morte e Os irm40s ini- - "põem o epitáfio de Ni.kos Kazant- migos., livros que, segundo Jo-- '" ..~. ~l.. ! l

zákis (1~1957), o poeta e romancista grego sé Paulo Paes, abafaram umque os brasileiros conhecem mais pela adapta- pouco a importância de suaç ê o ci:ltiuatográfica de ZorN, (I grego e Aúlti11UJ obra poética.ttrl l4lp1o. Cristo do que propriamente por seus Embora não conheçamosromaJUS homônimos que originaram tais fil - senão uma mínima parcela demes. MorIo naSuiça.seu corponâofoienterra· Odisséia de Kazantz ãkís -do em Atenas graças a uma recusa do ercebis- mostrada na excepcional an-po lOOl1 ~nada importou o duplo contributo tologia Poe:s Íll modmw J.I Grt-de K.u2ntz'kis: sua obra literária e sua ação da _e absolutamente nada das TtrçQS rimaspolítica. tanto pela ofi cialização do dem ôríco (1960), traz-nos agora J05é Paulo Paes (semprequanto pelacampanha de repatriação dos mi- ele) a íntegra dos versículos de A(Cl'St, em edi-lhares de gregos banidos no decorrer da prí- çêo'graficamente elegante da Editora Ática. Ameira guerra mundial. Levou-se em conta tão melhor idéia da ambientação filosófica deste li-somente seu atesmo co- n o já a encon trãvamos emmunísta. Odissiia, quando afi rma

Leitor atento de Um dos integrantes da geração Odtsseu que "a vida é um

Níetzsche. a quem tra- de 1905, Kazantzákis relâmpago e a morteduziu para o dem ét ico, encontra-se entre os nomes de infinita", o que nos remete àdomina a obra de Ka- postulação exasperada dezantzákis a presença de proa responsáveis pela Rimbaud: "a verdadeira vi-um niilismo heróico, instaura ção da moden,idade da está ausente".acentuado largamente na literatura grega Nâo se definem. contudo.pelo jorro metafórico e o as idéias de Kazantzékis co-predomínio de uma hn- mo uma negação da vida,guagem simbólica. Em seu ambicioso poema mas sim como a necessidade imperiosa de umaépicoOdl~s.t'iJJ (1938)põe nos lábios. do herói que consdêncía das ações de tais forças que regemconsidera essencial ao homem "lutar sem tré- a natureza humana: vid a e morte. Trata-se deguas contra o fado e apagar o que estava uma 1'I:'CUSa, isto sim, aos cânones do Catolícis-escrito", segundo ele a única maneira que cabe mo, baseada em uma ampla leitura que incluiao homem de ultrapassar seu próprio deus. tanto a palavra dos. santos ocidentais quanto os.

Versos à frente. acrescenta: "Deus é argila nos postulados do budismo, acrescentando aí a vi-meus dedos, sou eu próprio quem o molda", ao são de mundo de hereges, poetas e heróis. Des-mesmo tempoem que agradecea Deus "o insa- ta soma de inúmeras vertentes advém a noçãod avel coração que me deste: I ele festeja tudo extrema de liberdade que permeia toda a obrasobre a terra e nâo seapega a nada". de Ni.kos Kazantzékís.

Além da clara presença de Homero, a obra A..~ é um livro poderoso. Trata-se de umapoética de Kazantzákis também estabelece diá- exaltação da vida, de uma profunda demons-logovigorosocomSanta Teresa d'Ávila, Dante e tração devitalismc, de uma expressão da sínre-Henri Bergscn. Acerca de seu niilismo heróico se como fonna única de definição e aprimora-disseJosé Paulo Paes tratar-se de "uma relígíosí- mento do humano em rós. Trata-se, portanto,dade sem deus cuja expressão mais sistemática de uma efirmeçêo de fé no homem. o que natu-

Marctllo Mastrolannl. La &eUa Yrta _Enzo está nos versículos de Ascese". Escrito em 1927. ralmenle contraria uma regência dogmática.8iagi; t raduçJo Gibson 50ares; Ediouro; 173 porém tomado público somente em 19-15, as Investigar os malefícios causados ao homempáginas; RS15,00 idéias ali expressas fariam com que Kazantzákis pela religião católica não constitui açêo poli-Maior ator latino do cinema. Marcello Mas- passasse a ser visto como inimigo da fé pela cialesca. mas sim uma indagação veementetrctannt que morreu no ano pessedc. não ia Igreja Ortodoxa. Logo em seguida o próprio go-- da própria dinárnica do espírito humano. É

demorar a merecer as ma is diversas hcmene- vemo grego empenhar-se-ia em inutilizar sua o que fez Kazantzákis em toda a sua obra,gens. Uma delas é certamente esta espécie de indicação ao prêmio Nobel. por sinal uma ini- não somenteneste A<;Q'$t'.biografia e entrevista escrito pelo italiano ~n -zo 8iagg1. SJ.o hist6il.lJs 'dI! bà>stidor~·~cme. • . cíatíva conjunta,de .Thomea.Menn e.Albert . . . , . .-, ) ;r, !. 'o- .. •.' j'-' .: \ ;"j' _. ",.,

ma, Felli ni. deusas do sexo e boa mostra do · ,~'eiF-er,.-.l ,,;) ;;1;. l' I. :.(;.l i . 1· ,1 1';'.UI.....' 11-": :; , ., . ,fL olIJ"' '''OM.umws. é por"', /t~JiiJta e tradllklr. ".....mundo emqUI! este grande italiano viveu. Um dos integrantes da geração de 1905 - ao Auror de f i coralÓn dPI infinito t Tumultumvlos

Fanny HiII - Memórias de uma mulher deprazer - l ohn Cleland; tradução Eduardo A.I·ves, Estação liberdade; 31 1páginas; RS 28,00

Que tipo de hist6ria poderia contar uma pros­tituta do~ulo 181 Certamente as que estãoneste clássico de John Oeland, que ganha ago­ra edk êc reviste e ilustrada no Brasi1. Combi­nação de paródia e entretenimento sensual, olivro impressionou seus ccntempcrênecs. es­candalizou, mas acabou se revelando uma im­portante contribuição ao Ilumini~o e à nber­cede de pensamento.

A Querela do Brasil - A questIo da kMnti·.. brasileira - Carlos I ilio; s elume numa­rá; 140páginas; RS 27.00O titulo é na verdade quilométrico. A. Querelado Brasil - a quesUo da identidade brasileira: aobra de Tamla, OiCavalcanti e Portinari / 1922­1945 e nem é preciso escrever que faz uma in­terpretação dos elementos qUI! cootribulramnaformaçIo da arte moderna brasileira através daobra dos três artistas citados. Produçêo ceprt­d\ada qUI! ganha reedição depois de 15 anos.

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SÁ. 8ADOIO 1'0\'0Fond/,w. cs; 71jUN'97 6 CAPA

Nos 70 anos de Francisco carvalho, 11m perfilcaseiro do poda estadual qlle segue Umidoesemjeito, mas já virou

umcâuolle tln'O da literatura cearenst .

• Francisco Carvalho ' sem jeito para sai, alardeando suas virtudes

aprendeu as primeiras letras e começou a ter imagina. Como resultado, em 1955. veio ocontato com as histórias e, principalmente, primeiro livro, Cri.~I4I ..w Memória. que aindacom o sofrimento da vida sertaneja, que tan- hoje causa arrepios no autor."É um livre pés-to lhe impressionaram e fincaram as bases stmo. Foi uma experiência absolutamentepara sua poesia. "Francisco Carvalho é um primária. Eu tinha tomado conhecimento dopoeta essencialmente agrário, inserido no Modernismo, lia Drommond, mas não tinhauniverso nordestino", afirma a professora de assimilado corretamente a nova filosofia.letras da Universidade Estadual do Ceará, Hoje, Cris/al da Mnnória é um livro que euAna Vládia Mourão, em seu livro Tris Di- chamaria de quasímodesco".17lt"tI.Sllts ..w Pottial de Franci....;ro Gmwlho. Entretanto, mesmo com tantas ressalves do

O ginasial, tenninou no Ateneu São Ber- próprio poeta. o livro serviu para chamareardo. em Russas, e, aos 19 anos seestabele- atenção sobre o trabalho do novo escritor.ceu definitivamente em Fortaleza . Um pou- "CrisliJI da Mtmóriamastroua voceçêoe o nor-co antes, com um manualde metrificação de- tede quem realmente seconsolidou,de modobaixo do braço, já havia debutado na poesia irrecuséveí. como poeta. pelo talento e forçacom o pequeno cordel AStoI noCcmí, Iança- da palavra", defende Ana Vládia_Realmente.do quando tinha 16 anos. "Na época eu es- Aproduçãoque seseguiu aCrislaJ 4.J MmuSrWcrevía dentro daquela minha vi sâc de mun- - 21 liV1U5, dois de prosa. 19 de poesia - viroudo mais parnasiana. O meu aprendizado foi referência obrigatória em nossa literatura.feito dentro disso, o que foi bom porque me Prova disso é que num dnone recentementedeu instrumentos para que eu pudesse partir organizado pelo Sábado. Prencísco Carvalhopara outro tipo de ri tmo". ficou entre os treze escrito~ cearenses mais

N, capital, Francisco entra em contato otados por leitores, professores. jomahstas ecom o Modernismo e a guinada foi a que se escritores. Um feitoe tanto do senhor recato.

na Reitoria da Universidade Federal do Cea­rá, onde é assessor do reitor para OS colegia­dos de administração superior.''Mesmo sen­do coisas completamente distintas - a buro­cracia e a poesia - eu tenho essa luta com aspalavras aqui no conselho. Quando eu redijouma ata. tenho que fazer com um poder desíntese muitogrande. E isso obriga uma certadisciplina formal Então, talvez tenha atéajtrdado no meu desempenho na poesia".

Quanto à família, a esposa - Doreci. pro­fessora aposentada com quem é casado há 38anos - os três filhos e os oito netos são com­panhia obrigatória nos passeias à chácara noPachecoe ao sitio de dois hectares no Jabuti,"ali no começo da BR-116". ~ lá que Francis­co Carvalho costuma passar os finais de se­mana. escrevendo (muito) e lendo (aindamais). Na lista. "uma constelação de grandeslivros" que o poeta vez por outra volta a ler.contos de Tchecov, Gutrra e Paz, que já leutrês vezes, Ana KiJrrnina eoutros.Se bem queatualmente, com a escassez do tempo, • pre­ferência tenha sido pelos 1i\'J'Os de poesia ­Drummond. Jorge de Uma, Cesério Verde.Camões. Fernando Pessoa. Rilke e da.

"'O meu tempoé mui­to curto. e se você pegaum romance de qui­nbentas páginas, é mui­to massudo não é? Eainda tem os jomais pa­ra ler, revistas. Então nofim de semana é aquelaconfusão". Mas é nessa

confusão que o poeta vai catar a matéria-pri­ma para os próximos versos, Atento comoele SÓ, em meio a tanta.... íruormeções, vai fil­trando o mundo e decantando-o em versos,naquilo que considera um instrumento depaz e solidariedade entre as pessoas .

Segundo Carlos D'Alge, professor de Iitera­tura e amigo de longa data, Prarcisco Carva­lho. a despeito de sua timidez, é um escritorde um senso critico e de uma ironia muitoaguçada. o que lhepermite analisar o mundocomo poucos. N Apoesia de Francisco Carva­lho, ao mesmotempoqueconsegue expressara amargura de um mundo que o poeta nàoconsegue ccosertar, também celebra as praze­res da vida. os pra.zeres do corpo".

Natural de Russas. Francisco Carvalho deOliveira p.1!'sou boa parte da infância metidonum sitio no Di...tri to de Borges. a dozequilo­metros da sede do municipio. Foi lá que

erso

eca o

MEu nãogosto de Ilndar detrombeta na mão alardeandominhas poucas virtudes. Temcamarada que faz isso combons resultados. Mas eu...

<00 Ft LlP'f A RA ÚJO

Da Editori. do Sáb.ldo

Alguns críticos do Sul não gostarammuito, mas tiveram que engolir. Ovencedor do Prêmio Bienal Nestlé

de Literatura daqueleano de 1982, na catego­ria poesia, era um cearense. QwJdn11ltt SolJJr.de Francisco Carvalho, tinha desbancado osmais de sete mil concorrentes de todo o país elevava para casa a bolada de um milhão decruzeiros. Ninguém entendeu muito bem oque tinha acontecido, nem O próprio autor ­" fiquei espantado quando vi que tinhavencido". Não que a obra não fizesse jus aoprêmio. Acontece que Carvalho era um ilus­tre desconhecido por lá eQuadrantt Solar erao mesmo trabalho que fazia haYia mais de 30anos, sem que nunca tivesse qualquer tipo derepercussão nacional, Mesmo por aqui sua _poesia só era saudade por uma restrita, em­boraliel, roda de iniciadas.

Também pudera. Tímido e reservado,Car­valho nunca foi um escritorde muita badala­ção, Tanto que na época do prêmio. preferiunem viajar para São Paulo, evitando as sole-nidades de premiaçãoe to- _

da aquela via crucis de en­trevistas, coquetéis. apari­ções aquie ali etc. Ma.<; lon­ge dele qualquer atitude dearrogância. tão comum en­tre algumas primas donaspremiadas. Carvalho érealmente a reserva empes.."Oil, "Eu não gosto de andar de trombetana mão alardeando minhas poucas virtudes.Tem camarada que faz. Isso com bons resulta­dos. Mas eu, infelizmente, não ti ve estetalento".

Hoje, passados quinze anos do episódio,Francisco Carvalho continua o mesmo.Prestes a completar 70 anos na próximaquarta-feira, dia 11, não gosta muito de apa­recer na imprensa. tem alergia a grandeseventos e mesmo a rodas literárias não échegado, O movimento na Academia Cea­rense de Letras. por exemplo. só acompanhaà distância."Ele é uma pes.';;oo muito reserva­da. Não vai a lançamento de tinos nem gos­ta de festividades. Prefere fica r cultivandosua arte, sozinho", conta o escritor e amigoSânzio de Azevedo.

Para Carvalho, dedicação mesmo, além dapoesia, só com a famíha e com O expediente

e

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- -s,.{&WO/O P(}\"(J

For14JJr.A CE. 71i-'977I"I'----_~CAPA

EmCasa Moderado Modernista Notas

"A temática na poesia i amesma desde Homero. Avida do homem, as suas

limitações, o amor, atragédia de ter consciindAda morte. O que muJ.a i a

linguagem"

Casado há38 com donaDomei, Francisco Caroalho

tem três filhos . "Um i oCarvalho Ir., que t "dflo~~ado,

outra i a Tarciana, qu~ énutricionista, e a outra r a

Litl Mônica, bailarinadássic,, ", explica orgulhosa a

espo5d. Os três drmm oitonetos ao casal.

~St:rt1l/ tlpmu/r~omdhor do IInt01' i 11(1 fi NJ1 dafrs­IIt/SoUWoltomti um ponr ik mia porO:l~ik[noJ.Tu404CpM.Io " Di.ino Stor1limmtal de um

Crecc. rnlnasaJ ÚlrtalJIo

"Eu não \ 'OU a.sesim ao pot:"JN rom tanta ta­àlidade. Uma idéia me visita e eu pa.-.so diascom aquela coisa assim comigo. Não é nadapLme)ado. Eu não rre sentoedecido que voufazer um poema esperando que a coisa caiafeita docéu. Eaícomeça a luta", Eaícomeça aluta!Prestes a escrever mais um poema. Fran­cisco Carvalho arregaça as mangas e começauma briga. Uma briga muito intima . Comseus medos e angustiass. Não tão d iferentesdos J'IOE'S(J5. bom kmbrar: aques tão da sociedade tec­nocrata, a consciência datransitoriedade da vida, osortilégio do mistério damorte, a inelutável e instin­tiva inclinação erótica dohomem. asmemórias da in­fâncià. etc.

lnspiraç âoj t Tudo. MasFrancisco Carvalho preferefalar em estímulos. "Essascoisas acontecem por estímulos. As vezes,até a leitura de um bom livro de poemas fazcom que você se tome um campo fecundopara escrever poesia". Assim, é aparecer oestimulo e lá está o poeta rabiscando os pri­meiros versos. Apenas o esboço, porque opoema só vai estar pronto mesmo depois depa-..sar pela máquina de escrever.

"E....se é um problema meu. Tem gente queescreve manuscrito e ali mesmo j.l faz a revi ­são. Eu nào consigo fazer isso. Porque o as.­pecto visual do poema é importante. Eu pro­curo a assimetria.Se eu escrevo uma estrofee vejo que dois versos têm o mesmo tama­nho, têm o mesmo comprimento, eu já cortologo e refa.;o.~ a assirnt"tria que me fa.."'Cina".

Quanto aos temas, nada de novo. "A temá­tica na poesia é a mesma desde Homero. Avi­da do homem, as suas limitações, o amor. atragédia de ter ron.liCiéncia da morte.O quemuda é '1inguaP""-' abordagem poética aolongo dos tempos, Além disso, a vivência dapt'S-'"Oa tem muita influência na poesia, por­quesevocê não vive você tem pouco a dizer".

E por falar em escola, Carvalho se definecomo um modernista moderado. Ingressona literatura em pleno domínio da geraçãode 45, atravé-s do movimento Clã . o poetaainda hoje dedica uma parte de sua produ­ção a construções como o soneto. "Oitenta

por (8'\10de minha produ­ção é de versos livres. maseu ainda uso os sonetos.Drummond escreveu, Pes­soa também escreveu.:",

Hoje, com mais de 50anos de poesia, FranciscoCarvalho faz uma avalia­ção positiva de seu traba­lho. "A minha produçãohoje tem mais qualidadeem termos de desempenhe

formal. No passado me ressentia muito daIínguagem, Talvez tmha abusedoda retórica.do uso do adjetivo, essas coisas. Mas nessesúltimos livros, não. Neles eu tenho uma core­

ciência muito mais forte, pa-...sei a trabalharmais com o substantivo". Boas perspectivas,portanto, em relação ao próximo livro, Giras­,.;;, <k &m>.queo poeta Ianç> nosegundo se­mestre, em rornemocaçào aG'õ SiPUS 70 .

Tristeza mesmo só quando se escuta queFrancisco Carvalho está pensando em pararcom a poesíe.rEu ainda escrevo poesia, masàs vezes pensoque j.l é hora de parar,sabe?".zer ouvido de mercador e sair lendo a aarOJdt15 Snrlidos, QwJrantt Solar, MnnorWl d~ Or­fru , Pasll.lnJ1~ Di.as AWums,rie.

Mtsmo armIio, cJ..,-.,rulilo com aimp'OlS4. F~ ÚJroalho nos~ mudo~. Dunmtr 'fWl~.purtro~ dr Ctlt1 r't I5a, tntrt o

tsenlório rIQ Rnkrir ,. rtSiI/nCUI di)

,..m.•fim" lU"'in'ofrdWo t ik,..."."._ Oolo ""'!I"". f.sUT<

""'I""' ik bom-ilu""". •_ prob/<mDI qut' nAo eí cont.zT uma 00a /l1'ItIÚIIJJ.

POlTQmtm,omJiriduo qut' nao ~bt

contar uma 00a piJJ.:l tsld perdido"

'"Fwteiorl4rio IÚ RntOt14 dtsde 64,o,..m n40 ltm , .,,'" """"". U>go "'"~ .. OlpIfDl /ol tnlhl1hlu """"t>mturcil .. 5u1Jzmhia15tgun>s"dtpois como drtfr <k ",,;tór., do<;

ÚÚ<ln1tória; 5i1n1 AraúJO 5.A..OI~~ocupou. antts dr t7l1TIlT J'IQ UFC,''liefnill naofrtqiimWT a uttim'sidllde.

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COPlitndo i1gurtt rfrango, mlZ$ rwm Wt "'" i _ dbSO. Oprob/<mD iqur mn~'llt17! qwt'StJOna, 'l1fC. A miJlD

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• O poeta em sua biblioteca: uma consteJaçJo de grandes livros

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Opoeta Francisco Carvalho, que oracompleta 70 anos, se constitui numadas vozes maisexpressivas de nossa

literatura atual.Poeta de fôlego, trabalha incansavelmen­

te, produzindo arte de boa qualidade hámais de 40 anos, desde sua estréia, em 1955,com Cristal da MemóriIl .

Apoesia de Francisco Carvalho é uma dasmais volumosas, tanto no critério quantitatí­vo - publicou até agora 21 livros de poesiae 2livros de prosa - como no tocante à qualjda­de, que é, sem dúvida , uma coerente " COIl$­

truçâc de um projeto literário inteiramentevoltado para a poesia. nas suas mais diver­sas formas de expressão", conforme ressaltaGilberto Mendonça Teles.

Sua poesia é forte e, muitas vezes, contun- •dente, nos atingindo de forma devastadora,como as águas barrentas do rio Iaguaribe,enfurecidas pelos tempos invernosos. Ou­tras vezes, é tranqüila, serena remo a ima­gem do poeta falando, mansamente, de suaexperiênciacriadora.

O poeta mexicano Octavio paz nos adver­te que precisamos observar o poema commuito cuidado, pois "mal desviamos osolhos do poético para fíxé-lo no poema, apa·rece-nos a multiplícídade de forma que assu­me esse ser que pensávamos único".Apreend ida a lição, é assim que devemosobservar a poética de Francisco Carvalho.Ela é múltipla e vária a um só tempo.

Dentre os temas mais recorrentes na p0e­sia de Francisco Carvalho, já apontamos, an­teriormente, em nossos estudos, a presençada matemática social, onde o poeta se apre­senta como autor de uma produção literáriaque adverte e desperta consciências, realçan­do as angústias, criticando o posicíonementodas elites responsáveis pelas eternas desi­gualdades sociais. Registramos. ainda, seuquestionamento sobre o efeito da palavrapoética, seu compromisso com a poesia, des­de o momento da elaboração mental, pas­sando pela raiz da palavra,que funda o Sereo mito, na proglU.....êo da origem do verso, dadescoberta da hora do poema, até a fase desua concretização; e apontamos a temáticada infância, sempre recorrida e percorridapelo poeta, na tentativa de recuperar seusextraviados caminhos, pois a infância, con­forme Francisco Carvalho, "é a pátria dospoe tas, a matriz das nossas sensações, donosso alumbramento,da nossa magia".

Certa vez. em depoimento, Francisco Car­valho afirmou que "o poema pode não ser amedida do homem, mas certamente podeserdefinido como parâmetro das nossas sen­sações, das nossas expectativas dianteda vi­da e da História. Pelo poema se medem asmai.... profunda..s alternâncias da sub;etivida-

• Painel sobre capa de Quadrante SoJar; vencedor do Prémio Nert/e

+AN.rr, VU DI" MOI,IIÁo ~ profpnora ck literatura daUECE Pittltord de tré'5'ó1~da'lWtil2ck Fraft- •cscc Carv<1lho '. ' I .

nando/ plenitude vazia. E mergulhando asraízes/ na carne da súplica. Amorte é umpássaro negro/ de perfil famélico. Um pás­saro de grito/ aceso nos olhos gelados. Umpãssaro que tegolpeia / comseus olhosvelo­zes. Um pássaro que te apascentai na noite. "unensa .

Falando de sua poesia. Francísco Carvalhonos confessou que todos os temas são poeti­záveis, menôs, presumivelmente. as lágri­mas do avarento que teve seu tesouro surru­piado pelos ladrões. Realmente, FranciscoCarvalho alcança a maestria de poetizar so­bre diversos temas, como a morte, a infânciarevtsitada, as questões de ordem metafísica.osconflitos individuais do homem angustie­do, os problemas sociais. Porém, tema dosmais interessantes ~ a transformação de sim-

o pies objetos ou acontecimentos aparente­mente corriqueiros em pura poesia; aquiloque O poeta Gilberto Mendonça Teles deno­minou de "celebração das coisas comuns edos acontecimentos do cotidiano", como seobserva em "Mesa de jacarandá": "Nestamesa de jacarandá / já houve muita paz/ ovinho já acendeu corações/ taças já en toa­ram / seus cânticos de cristal."

Aengenharia poética que compõe a obrade Francisco Carvalho é sustentada na suabase pela temática rural, onde o poeta per­corre, através da memória, à sua terra natal,visitando os velhos sobrados ecasarões, o aJ...pedre da fazenda, a cadeira de balanço, res­saltando, sobretudo, a figura do pai: "Eramestes/ os campos semeados/ por meu pai...Eram estes/ os campos fe rtilizados/ pelosuor/ de meu pai / e a solidão dostrabalhadores". Através da "E legia Pastoril",o poeta desenvolve a simbologia rural, quetraduz o desencanto daqueles que traba­lham a terra para o plantio, na esperança daexistência de uma quadra invernosa. • ~

Esse rol de temas elencados encontra-sedisseminado ao longo de sua produção Iite­r ár ia, às vezes de forma mais explícita, ou­tras vezes mais sutil. Averdade é que. deuma maneira geral. a arteé um meio queser­ve ao homem para acertar ascontas da com­preensão de si mesmo, devendo, por seu in­termédio, testemunhar e mostrar fatos quenão podem ser apresentados por outrosmeios. ~ nesse sentido que o poeta assumeum papel extremamente relevante,o de serointerloecutor, o intérprete de nossos enseios,de nossos sentimentos mais dominantes.

Assim pensamos sobre a poesia de Fran­cisco Carvalho, como a expressão de umaconsciência critica aguda, revelada lenta­mente, ao longo desses anos de exercid ospoéticos. num jogo de palavras com imensaspossibilidades de interpretação, mas trans­formadas em puro lirismo.

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é a presença da morte, como algo "consubs­tandal à condição humana", pois é nesse ru­mo que caminhamos todos os dias. Cons­ciente de seu papel. o poeta nos diz que"morrer é apagar a chama de todos os senti­dos. Esvaziar a taça da solidão/ como se vi­nho fosse", e numa concepção metafísica dizque "morrer é atravessar a encruzílha / daquarta dimensão. Transitar/ pela matéria epelo fogo./ Cinza e ventoque se abraçamco­mo as asas das pombas".

O poema "Esfíngeograma", extrafdo deAs Vts&s do Corpo, nos mostra os conceitosmetafóricos da morte:"Amorteé a derradei­ra/ cavalgada do homem. Asolidão germí-

As angústias, os aamtecimentos comqueiros,amemória dopai,dns so/rrados ecasarões desua terra 'os temas

ltUlis recorrentes da poesia de Fmncisco Gm>allw _

de conflitada". ~ nessa perspectiva que p0­demos afirmarser a poesia de Francisco Car­valho uma luta entre seus conflitos pessoaise subjetivos, denunciando, ao mesmo tem­po, num planocoletivo. osdramas da huma­nidade, como se observa no poema "Raíz",inserto em RDSfl dos Ewntos: "O coração domundo pulsa inteiro em minha~/ e emtudo o que nela é presença de abismo! ousolidão guardada num santuário da areia. Ocoração do mundo é esta primavera de asasque se enrosca/ no caule de toda exislEnci.a.pura palpitação/ do ser convertido em fogoou pilastra."

Outro tema sobre o que reflete sua poesia

+ ANA VLÁOIA M oURÁo

EspKial para o SAbado

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rios" (114"" doe S<n/iJo>, P' 245); · Ó rotaçãode ventres explodindo! antes que retorme­mos à poeira! das lápides" (SonatJ1 dos Pu·nMis. P: 111 ). "Comédia de poucos atos!vai-se a vida veloz! entre Eros e Tanaros"(JI"tfiI"".k Ama, p.58).

Atese de Eros. que luta a fim de enfra­quecerTanatos. é compactuada pelo filó­sofo francês Ceorges Bataille, em O Eroti.....mo (1957). Para ele. o Homem é um "serdescontínuo que morre isoladamentenuma aventura Iníntelígfvel". Porém.o erotismo coloca-o perante a obstina­ção de continuidade por meio de umoutro ser. Esse significado eróticonão pereuza a vida. mas fortalece-aem contraposição à morte. Acerca detal vertente. o exposto é somente um

dos vários sentidos da morte, veicula­dos pelo poeta cearense no decorrer desua poesia. donde se depreende a imen­sidade de toda a obra.

Como disse Alcides Pinto. a poesia deFrancisco Carvalho já é patrimônio da hu­manidade. No entanto. esta humanidade vi­ve em débito contigo. Poeta de Tenatos e deEros. pois nào identifica. na multidão, um

homem para quem "a tarde é a soma de to­das as tardes" e não apenas um "retângulode sol", igual ao que transperece a um ho­mem brilhante. Ó Poeta. Profeta. são plenos70 "bolos de vida" e vo vento da morte sopraonde quer! que este bolo se repita"! Toda­via, não podemos permitir que o avatar doamor dobre os joelhos diante da esfinge quea cada um de nós espreita. Estes ensinamen­tos são teus, Poeta, e sào vida

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minados por um intenso clima d e celebra­ção. através dos elementos da natureza, se­jam animais. vegetais ou minerais. onde nãofal tam tigres. gatos, bois. pássaros ou cedros.orquídeas. romãs. antú rios. associados àágua, ao vento, ao sol. à cor azul do céu e afenômenos como a chuva que. simbolizandoo tempo da floração, convoca rerruníscêncíasda infância perdida e dos ancestrais.

Tais ft'('UlS06 palecem funàonar na lormade valores compensatórios da inexorávelmorte. A eles soma-se o recurso primordialque aparenta ser sob reposição à morte: oamor. Não que algo possa sobrepu}á-la. maso amor é uma espécie de ilusão corajosa quetransparece írwísibdízer a morte. Amar é es-­tu acompanhado. é não ser SÓ. é. portanto.não deixar a morte se aproxímar, Desse m0­

do. a imensa solidão, a preocupação tempo­ral ou ainda a busca de Deus. tudo na poesiadesse cearense está respaldado na consciên­ria da írremetdével morte.

Apartir de O Trmpo t os Amantt5 (19'l6),li·vrc de inspiração no Q ntico dos C4nticos,Francisco Carvalho empreende uma litera­tura também d e símbolos eróticos que. dis­bibuidos em laivos ao longo de toda a obra.adquirem êatase especialmente em Pastoraldos dias madlll'US. SonalR dos PinJwi5 e Ri154J das.Minlltos.

Aseqüência de trechos mostra um poucodo amor que invistbiliza a morte e iludequanto à dimensAo do tempo. aparentemen­te infinito:"Aespera estou de que rt:gns,··,e àconcha rugosa do húmus placentário. Vem,para que eu seja fortificada contra a visita doanjo negro da morte" (O Trmpo t os Amantts.p. 12); "Teu coreção é a ilha em que me es­tou.! süente eenterrecdo, ermo e total.! pa­ra triunfarda morte" (Dimt71.S&l das Coisas. p.73); "Beijam-se os amantes... (...). Aboca sómodela a arquitetura! do gosto que pelejacontra a morte" (MrnkJrWIde~. p. 1(3);"Como não bebe'! do amor! se à míngua deamor morremos?" (& ru dos SmtiJos. p.53); " Bebe ao seio da amadaquantas vezes! Puderes.Os dias, anos e me-ses! Sêo como a es-puma errática dos

Há quase meio século, Fra"ciscoCarvalho,dtscrndrnledasp ieis lavouras deRussas, ara sua paes;"

tiaS lavouras di Fortaleza •

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Ovelha Skl Bernardo das Éguas R~sa.s de 11 de junho de 1927. Francis­co Carvalho. um filho de tua gleba.

que. ainda adolescen te, dai se transferiu pa­ra Fortaleza. completa 70 "bolos de vida",conlonne o próprio poeta escreveu no "Poe­ma dos Cinquent'Anos". de CrôniQ2 dIl5 Ral­usoTIvesse eu nascido também de solo tãofértil, garimparia um poema de reverrêndaao homemcuja poesia.. no percurso de quase50 anos. é busca ontológica. Esse homem ~

procura do Ser, vai "ao Mercado Público!para decifrar o enigma das pessoas ! Ainvi­sível mola de ouro que as empurra! para osabismos da stt"evivência" ("Pragmatismo",RAfus d.I Voz).

Ver.;os meusem honraria ~ data tão como­vente não há, mas há breves e humildes co­mentários, Inspirados num preceito do poeta[osé Alcides Pinto, ao referir a obra de Car­valho: "sua poesia já nào lhe pertence, é pa·trimônio da humanidade". Em quase meioséculo. edificaram-sequatro portmtosas pi­lascas na poétic' de Fran<isro Carvalho. re­pl't"l'oeÕta(Jas por: Dítnnl540 dAs coisa5 (1%7),Pl1StonJl dos dilzs nWul"l'l$ (l rrm. Barol' das. Stn­tidos (1989) e RDSIJ dos Minutos (l996). Dentreestes,o livrode 1989 assemelha-se a uma fozpara onde afluíram os anteriores. &rC4 dosStntidos é. ainda. a nascente de onde escor­rem as valorosas obras conseqüentes. rutída­mente aperfeiçoadas em todos os aspectos.

Desde Cri~lill dll Mtmória (1955) até RafusdJI Voz (1996), passando por Qusldrantt So1Dr(1982 - Prêmio Nestlé) ou por quaisquer ou­tros. toda a obra de Carvalho compartilha,indistintamente. da mesma argamas..~ queconstitui sua temática reiterativa: a morte.Assim, desde seu primeiro poema até osmais recentes, esta é uma vertenteperene.

Se não é segredo que o Poeta considerasuas produções iniciais apenas um exercícioprimário de suas experiências modemistas.com muitas falhas comuns aos principian­tes, tal proces..."O certamente contribuiu paraa culminância de poemas lapidares, dentreos quais se inclui "Va riaçõe~ sobre aMorte". publicação de íncrívelluddez. emRClSIJ dos Minutos. de onde se transcrevemversos: "Quando o homem perde! o pri­meiro fio de cabelo! começa a dialogar coma morte. (...). Ninguém consegue fugir damorte! pela simples razão de que! somoshospedeiros dela. (...). Morte. ó ceiíadoravelo.z. !Quantas são as espigas! que abaste-cem o teu celeiro?"

Essap~,JlYi...rpfl.~!,Io1~.~,~r.an- , -1' ~ 'cisco Carvalho atrai sua antítese: a Vida. De,." ,.tal modo que inúmeros poemas estão conta-

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.L-<BADO/ O povoFo"dinA CE. 71JwtR112IL-- .:.=..CONTRACAPA

. ~ .irassois aos a os

Dos sonetos confessionais às utopias,passondopelas ovelhas,oSábodo publica hoje quatro poemas inéditos

do paeIa Francisco de Carvalho .Igualdade

Soneto TriangularAqui estou, perdido entre os eleitos.A vida passo eos sonhes n4D retornam.Pesom mais as virtudes que os deftitos.

Já rulo ctlebro as núpcias do destino.Trigo epalavras, vozes que semeiopor que n4D morra oaoustopaladino.

Niú> sei quem sou, n4D sei oquantovalho.Sei que carrego dmtro do meu peitoum roraç4ovestido de espantalho.

Sou um monarca qlU' perdeu Q glóriJlefoi dormir àsombradas arcadasde um tempo sem regresso esemmemóriIl.

Nessefluir de causas ede efeitospesam mais as virtudes que os defeitos.

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Canção da Ovelha

Uma """Iha balia mas n4D eraporque estivesse longe do pastor.Balia pela cria que perdera.Pela distãneio epelo seu odor

de relva ehúmus. Talvez pelo mitoou pelosangue derramoda em Wo.Uma "",,1Iw baliu junto de Cristoerumina oprodlgio,desd< então.

Uma """Iha balia para o tempaepela chum. Mas tambbn baliapelo regresso doutraOtJf/ha incauta

ertroviada nos C1JIIfins dodia.Bolia pela fome epelooemoque tambbn é pastor e toca flauta .

Memória de urnaUtopia

Foi à jarrela quando .as sombras do entardear caiamSUI1Vt1tlt1Jte sobre a COliM .

Na rolina hovia uma tumba à esperados ancestrais,mcada derel",se dum rumor de ovelhas.Imaginou que IalvezJosse lardedemais pora ser ronvidado ao banquetede uma "'Iúpia chomoda utopia.Veio di' longe o repicar de um sinoarrastando folhas amarelase pás...'õQros tardios.Oodor da chu", edas núpcias da tmaolevouQ recordar certo riode águas dilacemdas. onde os meninoscostumavammergulhor à procuradecoflc1uls ereminiscênciasentre os cabelos dos afogados.

Sou um pequmo burguêsromo todos vocêsjáestudei javanêsromo todos vocêsjáfui cretino talvezcomo todos vocêsjáfui vitima das leiscomo todos vocêsjávenci odragtlochinêsromo todos vocêsjá namom numC011t't?s

como todos vocêsjáfui súdito dos reiscomo todos oocêsjá lIIe embriaguei de xerezcomo todos vocêsjá tive umgato siamês"""0todos vocêsjámorri mais de uma vezcomo todos vocêsjápernoitei no xadrezcomo todos vocês.

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• a arca e aQuatro livros """Iam OS sustentáculos da ""taabra

pottim dL FrancisaJ OzrvaIho.qut será lema dL paltstra das 5enJinAriDsEscrifores úmrnses na UfC .

• FrMdsco earv.lho: a morte,. a sofidão esimb%s eróôcos como tema

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L it~r"fur" na UFC

I versos IapNlan5' Ptd>ein>s~ <ir I»­

8 UfI" I ton tos dt l2rr,nM-du, p"SSQm dti biridn4" (Mucuripe Latitude Amo.-).Aten-dência do poeta ~ dizer mais, dizendo me­nos objetivamente. deixando ao leitor, cadavez mais, o silencio.onde reside o preciososentido..

B4rca dos Sentidos ~ o terceiro pi.lar daobra de Francisco Carvalho. Ai, o fazerpoético vira um valor destacável. Emborajá enfatizado. o poeta dispõe de ímperatí­vos para a "Transformação do Poema"." Esqutct o ptdantismo do lltTSO Qrigor. (...).Esclltl2 o choro dos Qflitos". Porem. a maiorrepresentatividade de 8araI das Smtidas es­tá no fato de aparentar ser a foz para ondeafluíram os livros anteriores. Comporta,assim. todas as temáticas comuns à poesiade Carvalho,em todas as suas diversas for­mas, numa versatilidade que premia esselivro. Ê ainda a nascente de onde surgemas valorosas obras conseqüentes, nitida­mente aperfeiçoedas.

ROS4 dos Minutos propaga-se como oquarto pilar, onde convivem imagens ad­miráveis . No entanto, o que transparecemarcar tal livro é a segunda parte, pnnd­palmente por "Desenhos Eróticos". dozepoemas que ganham sentidos menos vela...dos, delineando um erotismo mais explki­to, como mostram 05 versos: Qutro ttT-ft otrmpo todo I dtsandrntt tU igw1 mo"rQ I rt­

ganJod minJw ltmnua. (...).Qutro m-.fr li mi­nJwtspn' /i _dos<=lip""/01Nlgon­do o.mror óIf.6 gritc15. (...). B ltSCQ- ft, tmrJZda. tItti

c/'uriras / plra ctiJitr os trw gorrws rom 11 m;"nhoJ fuiet" . Além de "Desenhos Eróticos",há ai outros poemas que celebram igualmagnitude, feito "Burocracia". "OIwmtnsdr iJ/iJu I6gicds I tsCrtWi um tnl2drigal / às""..ws d"5 d.JlilÓli"fi"".

Ressaltado o porte dos quatro pilaresque bem sustentam a poética de FranciscoCarvalho, enfoque-se que os demais li...vros têm dos mencionados os mesmos ali­cerces. Fique, portanto, distante a idéia delhes atribuir menos fulgor. Foram apenasassinalados quatro momentos em que al­gumas das características marcantes se re­velam. pois é a grandeza de toda a poesiade Carvalho que a transforma mesmo em"patrimôn io da humanidade", segundoas sábias palavras do poeta José AlcidesPinto.

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ca dez longos poemas à mulher e ao jubilo• do corpo, intitulando-os "Eros r' Ira", de

onde são os versos: "Meus.ústj<:rs Ir irrigam.E II/11lJ flor di frltro I drs.llnocluJ scltrltmmlt(11l min1LJs mJos. LJ. Coxas qUt mt lUom 11­tMm frito lineara. / CnoJ-mr nmr tu.z purr.A di...laCtrdiLl. (...). Trnllo Sl'dt iLl fvn tr qur t a tWJlooJ.ITeu rorpo t profunJbromoas ci.~ Il'Tl1<1S ".

Há um erotismo velado. simbólico, porémnão mais simplesmentede palavras soltas.

Nesse livro, existe outra reveleçâc indis­pensével à poesia de Carvalho. Salta aosolhos a garantia e\'olutiva quanto às ima­gens utilizadas pelo poeta. Em PIJ5fond...elas amadurecem, tal se pode sentir nos

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mana do poeta a nível social.O segundo pilar da obra de Carvalho re­

vela-se em PlI5tond.tos Dias ~Url'lS, quan­do a1 se registra UITl.t1 marca inédita: os sím­bolos eróticos. Nos lÍ\'TOS anteriores haviaapenas sinais que n âo constituíam essên­cia. Os versos excedem nas adjetivaçõespouco expressivas. quasesó um joguete depalavras: "Doces igUl25 dmartl«o / com SUl!5l'Ultw trtgra..~ irr;gaJ.L~ I rtQ tst<1ÇJo dos wlipr­dts cmtMUM:. L J. Era um ttmpoJtgrlln'S cLl­rú:6rdios;I FmHl()S rom ~I ~ptmw inllmmí...t"tll frcllnJo.ram mulhrrrs )(miJt uSdS, l ' l(I rooi."5llis 1/l(FIll'rolS írrigaJl1S"(Canto I, M:mo­riIl/ MOrfru'. Em Plt~toral... , o f'Ol'l.1 já dt."di-

Frar<isco Carvalho. pleoos 7() anos. jádeu a público 24 livros de poesia,através dos quais esse cearense faz

uma busca onto&6gica.O homem à pl"OC'W'3.do Ser vai "ec Mm:ado PJibliat/pgr4 dAifltHomiE""l d4s pt~llJS " (PnlgtnJJNsmo, R.OS4J dosEtmlos). Essa busca data de Cris fJI.l dil Mt·m6ria. 1955. Quase meio século de poesiaque merece destaque. Assim, o presentetexto trata. em linhas bem gerais, da pales­tra a ser proferida no dia 26, no auditórioda Reitoria. UFC. fazendo parte da progra­mação dos Seminários Escritores Cearen­ses,queacontece de 25 a 29 de agosto.

De toda a obra de Carvalho, a vertentep rimordial é a morte, d e onde edv ém aimensa solidão do homem, originária dosentimento de se saber irremediavelmentemortal Contrária a essa angústia que sur­ge da certeza da finitude humana, o poetaempreende a celebração da vida, especial­mente pelo amor, forma tão fulguranteque invisibiliza a morte, que é, na poesiade Carvalho, uma entidade que vale a vi­da. Sentir-seconsoenre da irreversibilída­de da morte, significa aumentar o fulgorda existência. Abrangendo a antítese mor­te - vida, edificaram-se quatro portentosospilares na poesia de Carvalho; DimtnS40d"5 em- (1967). P"w..! dos a;" MoI"""(1977). & .... dos SnohJos (1989) e _ dosMinutos (1 996).

Antes de Dimmsdo 411S COiS4S (1967),Deus aparenta ser uma fé incontestável:"N""" pnI;' I rxusl N""" gNn.UUM" (OdeIIL do GirllSSOl t dA NIIMJl): Em DjlTlLJ't.SdotÚS Coiws, o poeta já não o encontra: Ah,pm;o-~ I'W busaa .h DtId/ Nos Llhirintos d.l"""""' <ir rxus" (AGdade EIegia<a).Ne>­se livre de 1967, Francisco Carvalho inau­gura uma certaousadia que lhe permite atése equiparar ao supremo: "Sc um 4i.2 tufrrcom Orus, nos seas azuis longínquos, roLmJoptlos ll5Jros dois nrgalrundos intimos" (Segun­do Poema do Absurdo).

Noentanto,o destaque maior desse livroestá no povo: "A, numn depuro... ! ... numnpro/ttária. / não duira btm.fnk" (A Nuvemcom Sede); "11001o trigo fldll se rommtt I trn,-lo, flor, miJdrigal, ((forno:I~ scmprr umhomem do poro, I W/'W flor 'la laptliJ do pot.cr(Uma Aor na Lapela do Povo). Adimensàodas coisas ass-umida n~$a poesia. certa­mente, es;tJ. relacionada .1 preocupação hu-

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vida & arte29 de setembro de '997

U2 ESPECIALNuma preparaçdo para os shou'S do Ul ,qlleacontfu m110 comfÇO de1998 110Brasil,aMTVveiculaapartir

dehojeuma sirie deatra(ÕfS dedicadasàbanJa. Lego mais,às 19110ras, roiaoar"Col/tagemRRgressim",cOr/tmrlto atrajetória dos irlll1ldeses ded e1976.Às2311. "PresenteMTV"traz tlltret'ista comotocalista&11I0

VoxecomobateristaLtrry M uI/c". EmlUmhii,às 2111, "Luz, Câmera, Ciip"exibe:õÓ l'ídt'OS do:-,""II //(I

Francisco Caroa ího é

autor lte 22lir>ros 11e poesia e

de dois em I'rosll

Te m características de qu em abser­veu as experiências ino vado ras doModern ismo de 22, mas lTv. um cer­to rigor forma l e o sabor enigm.'itico,descend ências do parnasia nism o edo s imbolismo, respectivamente.Acima de tud o, sua obra tem uma ca­ractertsticauruca, própria, onginal.

O escritor Ca io Po rfirio Ca rneiroafirm ou , em trecho rep rod uz ido nofascículo de hoje, "a poesi a de Fran­cisco Caryalho, ao correr do tempo eao suceder dos livros . evo luiu e ama ­dcrecec. naturalmen te, mas gua rdousua essencialidade m:igica e filC/!ôÓfi ­ca". A prova é- que seu QuaJr.l"' t »14, ganhou o PrénuoNesuéde Inera-

tu ra de 1983,lUius da V(lZ, a

ob ra escol hida,representa exala ­mente es ta fasemad ura e cons is­tent e da obra deFrancisco Cerva­lho. A o bra tevesua primei ra edi­ç âo pu blica daano passado pE"lapela lmpronsaUruversitária,den tro da Co le­ção Alagad içoNovo, do Progra­ma Editorial Cas.Jde José de Alen­car Co m sue eco­lha como oora re­

fe rencial para o H'l' llbu la r rn /'1., aeditora decidiu publi car uma n(l\"a ti ­

ragem \'oluda aos objctt \'O'odos ves­tibul andos ,O f'l....ma que d oi ritul.) ,lU

hvro . "Raizesda Voz"" , diz respcno ahistória do hom em l ' sua rt>laç,](l l,\lma pa lal" ra. e pvrtantn .1 f'l...·s ia,

como pri ncipal refprência o bvto Rllí­U'S dd Voz '-Sua poesia privilegia a te­m:itica social, as qu es tões de ordemmeteftsica ou mesmo a morteco mocondiçãosubstanc ia l à vida, bem co­mo as preocupaçõescom o fazer pcé­tice , atravé:; da elaboração e agrupa­men to das palavras quP irêo compo ro poema. tudo isso tendo co mo ali­cem! a rem.thca da inf.inciap sua ori­ge m rural ", t 'SO'eW a professora emum dos trechos dofasdculo de h..-;e novestteees.

O nome de Fran­CISCO Carv.rlhobe m poder ia serlistad o entre os a u­tores da cha mad aCereçêo de "\5.aqueles que faziamoposição às inova ­ções es t éticas pro­pos tas pelos mo­dermst as e rt"CUpe­ravam modelosdos parnasian os esimbolistas. Acnn­ca es pec ia liz adJchege a co m pará­lo a Carlos Drurn­mon d de And radee João C.JI;>ral de Melo Neto . Foi coe­tempcr àneo do Grupo CU.queron­soüdou noCeará os idt'd is do ~ Ioder­

ni...mos, sem se Ii~ar a seu s mtegran­tes. Mt'smo assi m, sua ob ra nâo sevin cula es pec ialmen te a nenhum att'nden c;J o u ml,)v iml'n to co le tivo .

Raízesda Voz, litro depoeeiadoceare.,,~ ,' FmnciscoGzn'flllllJ, éoquartofascíCli/odoVestutras, t'1lcartadoho/epeloOPOVo. Aobrat'Stá entre os dezlittrOS indicados para ol~t i IJll lar 97/2.da Unit-.midadeFederal doCeará· UFC .

te ano, o poeta Francisco Car­valho co memorou seus 70

nos e m gra nde estilo co m olan çam ento do novo livro, Gira~sôisdi Bar1O. Nêo poderia ser d iferen te .Afina l este cearense te m uma dasma is vastas obras lite rárias de su ageração. sendo uma das persorahda­des ma is pronncas de sua geração­Solo ao tod o 22 livros de poesiae doisde pros.a.O livre de poesias RllíusdaVoz, lan çado ano passado, é- um dosdez ind icados para o vestibular 9712da Uruversid ade Fed eral do Cea r.i ­UFe, e é- tema do q uarto fascículo doV~tLelTas, que vem encartado hojeno O PO\'O.

Nascido no munidpio de R USSolS,

regiào do Vale do )aguaribe, em 11dejunho de 1927, Francisco de Oh\'eiraCar..-alooestudou no AIt'nl"U$.}o Ber·rardo.ord e tezo ginobiaJ. Em 19-kI,setransfenu em definitivo pa ra Fortale­za onde tTaNlhoo rocométoo até in­~r como tuncion.\rio da Umver­»dadc Federa l do Ceará pa ra ser as­sessor da Reitoria Hojt', ~ Secn·t.'iriodo Corce lho Universitário d,l UFC Êmembroda União Bra~ileira de Escri­to res e ocupa, desde 26 de abnl de19%, a cadri rJ de n· 31.da Academi aCearereede letras, cujo pa trono é- oecmcee tik....oío Faria-" Bnto.

Au tora de rr,'s Dllllffl>O:\:S daP,"'1J(aJ( fr'l1Ici~ Gmwfllt1, a pro~'i(lra J<,l itera tu ra Bral>l leir a da Umversida­de Estad ua l do Ce ará - UECe -, AnaVl.'id la Mo urão traça um painel dap\lt'SiJ de Fr.mcisco CJT\'J lh<>lt'ndo

• O poeta Francisco Carvalho comemorou seus 70anos com o lançamento de maisum livro

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Be fez uma leitura superoriginaldo prazerde ler. Apraveite,agara é a sua vez. OescritorargentinoAlberto Mangue',naturalizado canadense, está vindoa Fortaleza lançar seu livroUma hist6ria da lenura. Éo maisrecente sucesso daCompanhia das Letras, que apenas nos quatro primeiros dias nos livrarias venc /eu3 milexemplares. Osegredo?O autorescreve movidoo paixão, poro contarsua odis. séiadelivros e leituras. Assim estavaescrito:ele não poderiajamaisserum leitorcoml Im. Aos16anos, liaparoninguém menos queJorge w is Borges. Essa históriae muitos l içõesestõono livro. Tudoa vercom O POVO,noesforçode valorizaro leiturae busco, -suafUncionalidade. Tonto que ojornalestá trazendo até você o autore suaobra. VOt :ê vaiter prazer em conhecer.

A leitura,do ponto de v'istade um leitor f()rado comum.

..

,Eler pélra crer.

Realização:

OPQYQNiulico Atlético Ctlrtnse

AcademiaCea rense de LetrasCO~IPANHL' D AS L ETRASWF?feK:l:hX._

Lançamento hoje, às 19h, no Náutico. Com autógrafos e pc destra do autor.-_._ - - - - - - - - - --::---:-:---::----

Apoio:~~

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BD
Nota
#Data: 19970929 #Editoria: Vida & Arte
Page 11: #Data: 19970607 #Editoria: Sábado -  · o festeiro. cearense. que aI. noite. paulistana. + Geléia Geral. O. preconceitoé forre e. consolidado. N2 relação da. poesia. queestá

RESENHA ~ I'--- - - --- --~O'I:OVOFo~tE,l/~

._.- ,._>-•

laçnlet

o til I .10 esU voIta ldo? - Jacques: JuJrlo1rd;nduç.'o Guilherme Teixeira; Vozes; 138 pági­nas; R$ 14,00Osubtltulo Aqueda do comunismo e a cee docapitalismo podem ajudara explicar este livro dofrances Julliard. que tem a guerra na Iugosláviacomo ponto de partida. Diante da indiferençadasdelTloo acias edadesfaçatez das ditaduras. onistoriadof se questiona se chegamos aonível decinismo completo, cenário perfeito para um in­desejá>el retomo do fascismo.

lJngua Matai.-Demtf1iaMartinez; traduçaoAlice M.tOmo; Record,; 176 paginas;; R$ 18.00

Refugiados ilegais na América, um romance irn­possiveI como pano de fundo e uma boa GUSa.

Estes Solo 05 elementos doromance M t5trN deDttT.etlÍl Martinez. americana de origem latinaque mora noTexas. Puam a seufavor o ef'l'I'Ototi.mento com a causa dos refugiados nos EUA­chegou aser pl (li . I ada por 50 -e r ao'\as Pl>sitivas em jornaisamericanos..

o hornen. que confundiu sua mufher comwn chapt~ . Ofrver Sacb; tTadllÇJo La..-a Mal·to; Com"... hia das letra< 264 P'9.... os 25.00Mais um lil. ro em que casos dinicos do newolo­gista ol~ Sacb viram livro. Um deles" que dáUtulo a est , volume. já virou inclusive peça dePeter Brook.. freud já fez parecido. Na mesma li­nha. o que Sacks faz é mostrar como alguns ca­sos~:os podem virarhistórias impagMise muitas vezes ponto de partida para um bonsromances.

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oFASCISMO

ESTÁVOLTANDO?

~ se refere a "vento pálido", também fala deli " fel da lágrima", que efetivamentepode alu­i dir a algo referente a dor, desgosro. jã que a~ lágrima se associa. à idéia de choro, de sofri-

mento, dai o amargor do fel. Mas "o azulmetilico/ da égua árabe"!ança o leitor nonúcleo do "absurdo como recurso deliberdade". Ou seja, nos atira bem no centrode uma expressão surrealista. Também sepode observar posições tipicamente ultra­modernas romo:

Hoj" oibodooomtoip6;:do, ludo ! s6lido.

Contudo, o terceiro verso da última estro­fe - o poema tem seis estrofes - desfaz o ter­ceiro da primeira; "e nada é sólido".

é. essa técnica de oposições deliberadas apedra de toque dos poetas da modmo;ms.co­mo ensinam os téoricos da poesia. FranciscoCarvalho pex tence a esta familia, que não étão grande quanto se julga. São poucos osque cultivam tais flores em seus jardins. Epossuem o dom de ver o quanto hJ. de belo ede duradouro em poesia ronstrulda dentrodesses padrões de exuberànda e rigor. Os ro­manistas - eos maiscompletos entre eles. pa­radoxalmente são alemêes - definem tal poe­sia como "romantismo desromantizado", ­algo equivalente à poesia que vem sendocultivada pelos mais completos poetas doséculo xx.

Eessa é. melbor definilâo par.> Francis<t>Carvalho: " romântico desromantizado", oque equivale a ser "moderno", "pós­moderno" - valha o termo com toda a suacarga de imprecisão. Por isso, quando prestahomenagem • Minas, através da grande Y..da Prates Bemiseoutros, adverte:: "'Não ima­ginem os desavisados que este poema 5ejauma tentativa de voltar aos tempos e 11 práti­ca da poesia bucólica dos ãrcades", adver­tência desnecessária, já que é evidente oabismo que separa sua expressão das formascultivadas pelo Poeta de Marilia, que na rea­lidade foi um criador de belos poemas, e aomodo de FranciscoCarvalho. um homem doseu tempo. Eissoestá presente nessas tOliese avenidas de palavras presentes em Cir/1.5­s6is dt Barro. um livro que coroa muito bemos 70 anos de vida do poeta brasileiro.

• Frands<o earv.lho: paI.",. de fogo

de sua linguagem é característico da melhorarte do nosso tempo; isso já seria suficientepara situar Francisco Carvalho em posiçãosingular no quadro da f'O'S" brasileira con­temporânea. Oalogicismo da poesia intensi­ficou o sentido de suas linhas a partir do sé­culo XIX. em especial com Rimbaud,e alcan­çou grande força neste século em certa faseda poesia de Paul Eluard. Mas o alogicismosempre existiu entre os grandes poetas, econtinuará a existir através dos tempos. en-quanto houver poetase poesia. •

No poema "Sábado", Francisco Carvalho

A

om

+Cts.ulLu

Em Girassóis de Barro.livroque comerrwra seus 70anDS, Fnmcis<oGIrm/ho mostra que oritmo ih SUJJ lingUJJgem é umfrnômmD Taro em nossa

lituatura eque poetas como elt silo pouros .

esrom

Opoeta Fran­cisco Carva­lho publica

Girass6is d~ Barro,poemas que justifi­cam a entusiásticarecepção de sua obraentreosmelhores lei-tores de poesia brasi­leira neste fim de sé-­culo. Mas, quandodigo sua "obra poética", é claro que não merefiro apenas a Gir/JS5ÓiS de &mo. Falo tam­bém dos 21 livros que jei publicou ao longode sua vida. Aesses livros anteriores. ele jun­ta mais este.

Ê algo assim como a " palavra de fogo lgravada no umbral/ das cem portas deI ebes", ou se o leitor prefere, o "abutre ver­melho/ roendo as entranhas/ dos muros deTróia". Assim é a poesia de Francisco Carva­lho: um poeta moderno com uma densacompreensãoda importância dos conceitosde Antiguidade e Coot:emporaneidade. Poissem um inter-relacionamento desses concei­tos, os termos moderno e pôs-moderno nãopassam de meras abstrações teôricas.

Mas N Ose pode ficar indiferente li bele­za de avenidas como estas: "o pássaro noespaço/ o pássaro no asfalto! O pássaro noespelho! o pássaro na escarp.! O pássarona estepe/ O pAssam a estibordo/ o pássa­ro no exfiiol o p.issaro no ventre l o pássa­ro no vértice/ o p.issaro na bússolal o pás-­saro na lâmpada! o pássaro na nuca/ opássaro no tempo! o pássaro na cúpula! opássaro no estio / o pássaro na aurora / opássaro na voz".

Faço o elogio dessas formas com plenaronsciência das forças mágicas que nelas seconcentram. Ese tivesse que demonstrar asinceridade do queafirmo, a minha. própriapoesia seria um exemplo. Só um poeta com­petente - e Fnnci.sco Carvalho é competen­tíssímo - poderia escrever estes versos:

•Agutw ""<hUMt no tlm' ''' tm cMtn4Sno~.. , .sdmmto-.

Poetas à semelhança de Francisco Carva­lho 5.\0 poucos em cada século.O aJogirismo

II,1

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