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1 DAS POLÍTICAS ÀS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO DE ADULTOS LÓGICAS DE ACCÃO, SENTIDOS E MODOS DE APROPRIAÇÃO LOCALMENTE PRODUZIDOS João Eduardo Rodrigues Martins Tese de Doutoramento em Sociologia Volume II Maio de 2013

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DAS POLTICAS S PRTICAS DE EDUCAO DE ADULTOS

LGICAS DE ACCO, SENTIDOS E MODOS DE APROPRIAO

LOCALMENTE PRODUZIDOS

Joo Eduardo Rodrigues Martins

Tese de Doutoramento em Sociologia

Volume II

Maio de 2013

2

DAS POLTICAS S PRTICAS DE EDUCAO DE ADULTOS

LGICAS DE ACCO, SENTIDOS E MODOS DE APROPRIAO

LOCALMENTE PRODUZIDOS

Joo Eduardo Rodrigues Martins

Maio de 2013

Dissertao apresentada para cumprimento dos requisitos necessrios obteno do grau de Doutor em Sociologia, na especialidade de Sociologia da Cultura, do Conhecimento e da Educao, realizada sob a orientao cientfica do Professor Doutor Casimiro Manuel Marques Balsa.

3

Declaro que esta Dissertao o resultado da minha investigao pessoal e

independente. O seu contedo original e todas as fontes consultadas esto devidamente

mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia.

O candidato,

____________________

Lisboa, .... de ............... de ...............

Declaro que esta Dissertao se encontra em condies de ser apreciada pelo jri a

designar.

O orientador,

____________________

Lisboa, .... de ............... de ..............

4

Anexos II

ndice

1. Pedido de autorizao para entrevistar tcnicos EFA no CFPA.. 7

2. Guio de entrevista A Aplicado a formadores EFA.. 8

3. Guio de entrevista B Aplicado a tcnicos dos CNO 13

4. Entrevista 1 S.C. - Mediadora e Formadora do mdulo Aprender com

Autonomia num curso EFA na Associao para a Democracia... 15

5. Entrevista 2 F.E. Formador da rea de competncia-chave de Matemtica

para a Vida num curso EFA na Associao para a Democracia 83

6. Entrevista 3 - D.G. Formador da rea de competncia-chave de Cidadania e

Empregabilidade num curso EFA na Associao para a Democracia. 107

7. Entrevista 4 M.S. Formador da rea de competncia-chave de Linguagem

e Comunicao num curso EFA no CNO na Associao para a Democracia 149

8. Entrevista 5 E.M. Formador da rea tecnolgica de Recepo e

Encaminhamento num curso EFA na Associao para a Democracia..... 192

9. Entrevista 6 L.G. Formador da rea de competncia-chave de Ingls

num curso EFA na Associao para a Democracia.. 213

10. Entrevista 7 - C.A. Formadora da rea tecnolgica de Animao e Lazer

num curso EFA na Associao para a Democracia... 244

11. Entrevista 8 A.A. Formadora da rea tecnolgica de Tratamento de

Plantas e Animais num curso EFA na Associao para a Democracia.... 271

12. Entrevista 9 P.P. Formador da rea tecnolgica de Higienizao dos

Espaos e Equipamentos num curso EFA na Associao para a Democracia. 293

13. Entrevista 10 Adel. Formadora da rea tecnolgica de Lavandaria e

Tratamento de Roupa num curso EFA na Associao para a Democracia.. 311

5

14. Entrevista 11 P.Q. Formadora da rea tecnolgica de Aquisio,

Armazenamento e Conservao de Produtos num curso EFA na Associao

para a Democracia

377

15. Entrevista 12 D.S. - Formador da rea tecnolgica de Cuidados Bsicos

de Sade num curso EFA na Associao para a Democracia.............. 372

16. Entrevista 13 - L.G. Formadora da Prtica em Contexto de Trabalho e

Atendimento Personalizado num curso EFA num curso EFA na Associao

para a Democracia.... 393

17. Entrevista 14 R.B. Formador da rea tecnolgica de Cozinha num curso

EFA da Associao para a Democracia... 408

18. Entrevista 15 Formador da rea de competncia-chave de Tecnologias da

Informao e da Comunicao num curso EFA na Associao

para a Democracia.... 428

19. Entrevista 16 P.S. Coordenadora do CNO na Associao para a

Democracia... 457

20. Entrevista 17 N.D. Presidente e Director do CNO na Associao para a

Democracia....... 491

21. Entrevista 18 Mediadora e Formadora do mdulo Aprender Com

Autonomia num curso EFA no CFPA.. 517

22. Entrevista 19 F.E. Formador da rea de competncia-chave de

Matemtica para a Vida num curso EFA no CFPA..... 549

23. Entrevista 20 V.P. Formador da rea de competncia-chave de

Tecnologias da Informao e da Comunicao num curso EFA no CFPA..... 590

24. Entrevista 21 A.S.C. Formadora da rea de competncia-chave de

Tecnologias da Informao e da Comunicao num curso EFA no CFPA..... 622

25. Entrevista 22 C.V. Formadora da rea tecnolgica de Alimentao, 647

6

Higiene e Sade num curso EFA no CFPF......

26. Entrevista 23 B.C. Formador das reas de competncia-chave de TIC e

Matemtica para a Vida em cursos EFA no CFPA...... 669

27. Entrevista 24 M.N. Formadora da rea tecnolgica e da rea de

competncia-chave de TIC em cursos EFA no CFPA.. 691

28. Entrevista 25 R.G. Formadora da rea tecnolgica de Animao

Sociocultural num curso EFA no CFPA.. 717

29. Entrevista 26 M.M. Formador da rea tecnolgica de Logstica, Armazm

e Prticas Administrativas num curso EFA no CFPA.. 738

30. Entrevista 27 B.S. Formador de Cidadania e Empregabilidade no CNO

do CFPA... 789

31. Entrevista 28 J.M. Tcnico de RVCC no CNO do CFPA 824

32. Entrevista 29 A.F. Tcnica de RVCC no CNO do CFPA.... 843

33. Entrevista 30 A.J. Tcnica de RVCC no CNO do CFPA. 861

34. Registos de observao participante....... 881

35. Excertos da primeira reunio do curso EFA de Bar....... 887

7

1. Pedido de autorizao para entrevistar tcnicos EFA no CFPA

Ex.mo Senhor Director do Centro de Formao

Profissional

Assunto: Solicitao de autorizao de entrevistas a formadores EFA

Data: 10 de Outubro de 2011

O meu nome Joo Eduardo Rodrigues Martins, sou docente da Faculdade de Economia da

Universidade do Algarve e aluno de doutoramento em Sociologia, na Faculdade de Cincias

Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Estando neste momento a desenvolver o

projecto de tese de doutoramento sobre Polticas Pblicas, no mbito do programa Novas

Oportunidades, a partir do trabalho realizado pelos formadores dos cursos EFA, vinha por

este meio solicitar a sua autorizao para entrevistar os mediadores e formadores dos cursos

EFA, de nvel B3, a decorrerem sobre a tutela do vosso Centro de Formao. O projecto de

investigao sociolgica intitula-se Das Polticas s Prticas de Educao de Adultos: Lgicas

de Aco, Sentidos e Modos de Apropriao Localmente Produzidos e o meu interesse pelo

trabalho dos formadores que trabalham para o Centro de Formao Profissional do Algarve

deve-se ao facto do modo de investigao do projecto em causa passar por um estudo de

casos organizacionalmente diversificados, tendo tambm como objectivo a compreenso do

trabalho formativo em organizaes como as Escolas, Associaes de Desenvolvimento Local e

Entidades Privadas. Solicitava assim a sua melhor colaborao no sentido de eu poder

contactar os formadores para lhes pedir autorizao para a realizao de entrevistas.

Garantindo desde j o anonimato e a confidencialidade de todos os eventuais participantes,

agradeo desde j a ateno dispensada para este assunto.

Com os melhores cumprimentos

Joo Eduardo Rodrigues Martins

8

2. Guio de Entrevista A Aplicado a formadores EFA

A presente entrevista tem como objectivo a recolha de informao sobre o trabalho dos formadores de adultos no mbito dos cursos EFA. O presente estudo enquadra-se na realizao de uma tese de doutoramento em Sociologia na Faculdade de Cincias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa sobre as Polticas Pblicas de Educao e Formao de Adultos no mbito da Iniciativa Novas Oportunidades. Assegura-se a todos os entrevistados o anonimato e a confidencialidade em relao informao facultada e agradece-se desde j a sua disponibilidade para a situao de entrevista.

Questes de introduo:

- Quais as suas habilitaes literrias?

- Qual a sua profisso?

- Que funes exerce no curso EFA?

- Exerce mais alguma funo na organizao onde trabalha?

- Trabalha em mais alguma organizao? Se sim, faz o qu?

Bloco Temtico A A relao actividade profissional

- Descreva-me a sua trajectria profissional desde que comeou a trabalhar.

- A entrada no trabalho da formao como que aconteceu? Como que se deu o incio da sua actividade como mediadora/formadora nos cursos EFA?

- Como a vida de um mediador/formador que faz a sua actividade nos cursos EFA?

- Considera que ser mediador/formador EFA uma profisso?

- No seu caso, considera-se profissional da formao?

- Como so as condies laborais e institucionais de quem trabalha nos cursos EFA?

(vnculo profissional, condies remuneratrias e de pagamento, recrutamento para as aces de formao)

- Alguma vez pensou em abandonar a actividade como mediadora/formadora?

- Se tivesse outras oportunidades profissionais mudava de actividade?

- Como v o papel dos cursos EFA na sua vida profissional futura?

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- Sente-se reconhecida no seu trabalho como mediadora/formadora?

Bloco Temtico B A relao ao trabalho pedaggico

- Quais so as dificuldades que sente no seu trabalho como mediadora/formadora de educao e formao de adultos nos cursos EFA?

- Quais so os aspectos gratificantes da tua actividade como mediadora/formadora?

- Como que tem funcionado o trabalho curricular em torno dos temas de vida com os teus colegas de formao?

- Como feita a articulao entre a formao de base e a formao profissionalizante nesse trabalho entre os formadores? Como que se costuma processar?

- Qual a sua opinio sobre a forma como o trabalho de articulao curricular tem decorrido?

- Qual o seu posicionamento face ao currculo integrado em torno dos temas de vida?

- Qual a sua opinio sobre essa forma de trabalho pedaggico?

- Costumam planificar os temas de vida?

- Como que surgem os temas de vida?

- Como que se faz essa planificao?

- Os formadores costumam aderir s reunies de planificao ou h dificuldade em mobiliz-los para reunir?

- As reunies de planificao so importantes para o funcionamento do curso? Em que medida?

- A planificao cumprida na prtica?

- Como se processa o trabalho pedaggico em torno da evidenciao e da validao de competncias dos formandos?

- Sente alguma dificuldade nesse trabalho de levantamento de indcios, de evidncias e na validao das competncias? Os seus colegas formadores apontam alguma dificuldade a esse nvel?

- Em termos pedaggicos faz mais um trabalho com o grupo, faz mais um trabalho individualizado, como que isso se passa? Os seus colegas de formao tm uma ideia de como que fazem?

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- Na sua opinio quais os princpios que devem orientar o trabalho pedaggico dos formadores num curso EFA?

- Sente alguma dificuldade na aplicao prtica dos princpios pedaggicos prescritos para o modelo dos cursos EFA? E como que isso passa com os seus colegas de formao?

- Que competncias considera essenciais para exercer a sua actividade como mediador/formador EFA?

Bloco C A relao aos outros significativos no trabalho

Perspectivas dos formadores sobre os adultos formandos:

- Descreva-me o trabalho formativo com os formandos EFA. Como que costuma decorrer esse trabalho.

- Encontra dificuldades na realizao desse trabalho pedaggico com os formandos?

- Descreva-me o perfil dos formandos que frequentam este curso EFA?

- H diferenas ao nvel do empenhamento dos formandos face formao?

- E em relao aprendizagem como que tem sido o desempenho dos formandos?

- Qual a importncia do perfil dos adultos formandos no funcionamento do trabalho pedaggico de um formador EFA?

- Costuma haver conflitos no espao da formao? Se sim, Descreva-me algumas situaes em que isso tenha acontecido.

- Considera que todos os formandos evidenciaram as competncias nas diferentes reas de competncia-chave ao nvel requerido para um curso B3?

Perspectivas dos formadores sobre a relao de trabalho colegial:

- Como acontece o trabalho com os teus colegas de formao?

- Consideras que existe um trabalho partilhado ou um trabalho que se faz de forma individualizada?

- Com que frequncia que costuma encontrar os seus colegas de formao?

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- E em que momentos que isso acontece?

- Est satisfeita com a forma como decorre o trabalho com os seus colegas de formao?

- Na sua opinio h algum aspecto do trabalho de formao com os seus colegas da equipa pedaggica que ache que seria benfico melhorar?

- Sente diferenas no empenhamento do trabalho dos colegas para pr em prtica o modelo EFA?

Perspectivas dos formadores sobre a relao s entidades formadoras:

- Que tipo de relao mantm com a entidade formadora?

- V-se como trabalhadora da entidade onde faz o trabalho de formao?

- Identifica-se com a forma como a entidade perspectiva a formao EFA?

- Se lhe aparecesse outra oportunidade de trabalho saia da entidade para onde trabalha?

- Sente reconhecida pela entidade pelo trabalho que desempenha?

Perspectivas dos formadores sobre a variao interorganizacional do trabalho pedaggico

- Na sua opinio os cursos EFA funcionam de forma diferente consoante as entidades em que eles acontecem? a mesma coisa um curso EFA funcionar numa associao como o CFPF, uma entidade privada de formao profissional ou numa escola pblica?

- Se h diferenas em que aspectos que estas se manifestam?

- Como feito o recrutamento dos formandos? Acha que difere a forma como este feito noutras entidades?

- E o trabalho pedaggico dos formadores com os formandos acha que h diferena na In Locco do trabalho? (Por ex: Interveno na comunidade, trabalho em sala de formao, trabalho de construo curricular, colocao em estgios profissionais, acompanhamento pessoal e pedaggico dos formandos )

- Como feita a avaliao dos formandos no curso EFA que est decorrer?- A avaliao dos formandos feita da mesma forma em todas as entidades de formao que levam prtica os cursos EFA? (Avaliao difere no IEFP, na Escolas ou em Entidades privadas de formao profissional?)

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- O trabalho da mediadora pode diferir nas diferentes entidades onde o mesmo trabalha?

- Em sua opinio de que modo importante o trabalho do mediador num curso EFA?

Bloco D Relao Iniciativa Novas Oportunidades e aos Cursos EFA

- Qual a sua opinio em relao Iniciativa Novas Oportunidades?

- Os seus colegas costumam falar sobre isso? O que costumam comentar sobre o assunto?

- Considera que a Iniciativa Novas Oportunidades tem efeitos na vida dos adultos formandos? Em que aspectos da sua vida?

- O que acha da opinio de que a Iniciativa Novas Oportunidades promove o facilitismo?

- O que em sua opinio poderia ser melhorado na Iniciativa Novas Oportunidades?

- Qual a sua opinio sobre os cursos EFA?

- Acha que os cursos EFA tm efeitos na vida dos formandos em termos da sua vida futura?

- O que em sua opinio poderia ser melhorado no funcionamento dos cursos EFA?

- Qual o balano que faz do curso EFA que est a decorrer na Associao Para a Democracia?

Questes de identificao:

Sexo:

Idade:

Estado civil:

Profisso do pai (especificar a funo exercida):

Profisso da me (especificar a funo exercida):

Nvel de escolaridade da me:

Nvel de escolaridade do pai:

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3. Guio de Entrevista B Aplicado a tcnicos dos CNO A presente entrevista tem como objectivo a recolha de informao sobre o trabalho dos formadores de adultos e os Profissionais de RVCC no mbito dos cursos EFA e dos CNO. O presente estudo enquadra-se na realizao de uma tese de doutoramento em Sociologia na Faculdade de Cincias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa sobre as Polticas Pblicas de Educao e Formao de Adultos no mbito da Iniciativa Novas Oportunidades. Assegura-se a todos os entrevistados o anonimato e a confidencialidade em relao informao facultada e agradece-se desde j a sua disponibilidade para a situao de entrevista. Questes de introduo: - Quais as suas habilitaes literrias? - Qual a sua profisso? - Que funes exerce no CNO? - Exerce mais alguma funo na organizao onde trabalha? - Trabalha em mais alguma organizao? Se sim, faz o qu? Bloco Temtico A A relao actividade profissional e ao trabalho de formao/rvcc no CFPF - Descreva-me a sua trajectria profissional desde que comeou a trabalhar. - A entrada no trabalho da formao como que aconteceu? Como que se deu o incio da sua actividade no CFPF? - Quais so as dificuldades que identifica no seu trabalho como tcnico no CNO? - Quais os aspectos gratificantes da sua actividade no CNO? - Fale-me um pouco do perfil dos adultos que frequenta o CNO? - Como que so seleccionados os adultos que entram em processo? - Esse trabalho com os adultos coloca-lhe alguns problemas? - Na sua opinio os CNO funcionam de forma diferente consoante as entidades em que eles acontecem? a mesma coisa um CNO funcionar numa associao de Desenvolvimento Local, o IEFP, uma entidade privada de formao profissional ou numa escola pblica? - Se h diferenas em que aspectos que estas se manifestam?

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Bloco B Relao Iniciativa Novas Oportunidades - Qual a sua opinio em relao Iniciativa Novas Oportunidades? - Considera que a Iniciativa Novas Oportunidades tem efeitos na vida dos adultos formandos? Em que aspectos da sua vida? - O que acha da opinio de que a Iniciativa Novas Oportunidades promove o facilitismo? - De que forma as metas estabelecidas pela ANQ condicionam o seu trabalho no CNO? - E como que a Direco do CNO perspectiva essa exigncia das metas? - O que que poderia ser melhorado na Iniciativa Novas Oportunidades? - Como tem sido a relao do CFPF com as instituies estatais que regulam a Iniciativa Novas Oportunidades? - H mais alguma coisa que lhe ocorra que ache que possa ser importante abordar para compreender a relao do seu trabalho ou da relao do CFPF com a Iniciativa Novas Oportunidades? Questes de identificao: Sexo: Idade: Estado civil: Profisso do pai (especificar a funo exercida): Profisso da me (Especificar a funo exercida): Nvel de escolaridade da me: Nvel de escolaridade do pai:

15

4. Entrevista 1 S.C. Mediadora e Formadora do mdulo Aprender Com

Autonomia num curso EFA na Associao para a Democracia.

Entrevistador Comeava por perguntar quais so as suas habilitaes literrias?

Entrevistada Sou licenciada em Gesto de Empresas e tenho uma Ps-Graduao em

Educao de Adultos.

Entrevistador E qual a profisso da Sandra?

Entrevistada Ns aqui na APD, a profisso basicamente Tcnico de

Desenvolvimento Local depois depende dos projectos a que estamos, em estamos a

trabalhar no momento e ai a funo pode ser mais especfica no caso do curso EFA sou

Mediadora.

Entrevistador E que funes que exerce no curso EFA, Mediadora s?

Entrevistada , Mediadora e formadora no mdulo Aprender com Autonomia.

Entrevistador Provavelmente foi um mdulo mais de incio.

Entrevistada Mais no incio, sim. E agora tenho o ltimo dia e meio de formao

com eles para fazer a avaliao do curso.

Entrevistador Portanto estava-me a dizer que exerce mais funes aqui na APD

para alm da funo da mediao.

Entrevistada Neste momento sim, neste momento, o projecto em que estou inserida

o curso EFA a cem por cento e como mediadora, mas aqui ningum faz s uma coisa,

no ? Portanto, eu tambm fao parte da direco e enquanto elemento da direco

tambm tenho outras funes, mas mesmo as pessoas que no so da direco

acumulam sempre outras funes.

Entrevistador Perguntava tambm se trabalha em mais alguma organizao?

16

Entrevistada No, s na APD.

Entrevistador Ia-lhe perguntar algumas questes em relao sua actividade

profissional e pedir para me descrever a trajectria profissional desde que

comeou a trabalhar? Para ter uma ideia do seu trajecto.

Entrevistada Pronto eu acabei a licenciatura em noventa e cinco e tinha trabalhado no

Vero, sempre enquanto estive na universidade. No Vero trabalhava nos CTT, nos

correios ao Balco, atendimento ao pblico depois quando acabei o curso ainda

trabalhei tambm esse Vero, acabei em Junho, at Setembro ainda trabalhei tambm

nos CTT depois durante um ano estive numa empresa de jardinagem construo e

manuteno de jardins e depois vim para a APD, portanto o percurso tambm no

grande.

Entrevistador E aqui na APD comeou a trabalhar com que funo?

Entrevistada Comecei em noventa e seis de incio atravs de um estgio profissional

do Instituto de Emprego, comecei num projecto, que tnhamos um, como que aquilo se

chamava, Sabor e Arte, um festival Sabor e Arte em que organizmos durante uns

meses workshops, seminrios, exposies e eu comecei por dar apoio nesse projecto,

depois logo a seguir passados trs, quatro meses apareceu um outro programa de apoio a

empresrios que era o programa RIME que apoiava financeiramente a criao de novas

empresas ou modernizao de novas empresas e ns ai fizemos, a APD fez uma parceria

com o CERA e a Associao para a Democracia era a entidade que recepcionava

candidaturas dos empresrios e ento a minha funo era recolher as candidaturas,

analisar verificar se estava tudo ok, os pedidos de reembolso depois os empresrios

submetiam CCDR, portanto tudo isso passava pela APD e eu fiquei a gerir esse

programa.

Entrevistador E a entrada no trabalho da formao como que aconteceu

especificamente?

Entrevistada Paralelamente ao programa RIME a APD tinha a decorrer tambm

numa altura programas de formao profissional, projectos de formao profissional.

17

Pode-se dizer que seriam os EFA antigos, portanto eram programas de formao

profissional dum ano, ano e meio atravs do Instituto de Emprego e tivemos outro o

primeiro em que eu participei era pela Segurana Social, um programa que era o Inter

Pares em que dava formao profissional que no era escolar mas que tinha uma

componente, era exactamente o que hoje um EFA s que no tinha certificao escolar

nem profissional, portanto a pessoa fazia o curso e tinha um certificado da formao

mas tinha uma componente profissional e uma componente escolar, no tinha era a

certificao que tem hoje em dia, no ? Isso que diferente, mas o funcionamento era

muito idntico, no havendo a certificao escolar, no tinha obrigatoriamente aqueles

mdulos da Linguagem e Comunicao da Matemtica, mas tinha mdulos que ns

considervamos na altura teis, Portugus teve sempre, tnhamos Higiene e Segurana

no Trabalho, Mediao de Conflitos, portanto tnhamos mdulos que ns achvamos

que eram importantes e depois tinha a componente toda profissional e eu fiquei na

altura, depois a par do RIME que no me ocupava a tempo inteiro, fiquei a apoiar um

colega que estava a coordenar um projecto desses de formao profissional, depois

houve outro e mais outro e mais outro e depois eu fui ficando ligada a rea da formao

Entrevistador E a entrada nos cursos EFA, como que

Entrevistada Cursos EFA, pronto eu fui ficando ligada a rea da formao dentro da

APD depois em dois mil e cinco se no estou em erro dois mil e cinco dois mil e seis

tnhamos o nosso primeiro curso EFA e eu ai fiquei, fiz a candidatura e depois fiquei a

fazer a coordenao desse curso, e este s o nosso segundo curso EFA, portanto

tambm no tivemos muitos.

Entrevistador O primeiro era um B3 tambm?

Entrevistada Era um B3.

Entrevistador Como que a vida do mediador que faz a sua actividade nos

cursos EFA?

Entrevistada um bocadinho complicado, porque uma permanente mediao de

conflitos, estes cursos, tm muitos conflitos, as pessoas passam o dia inteiro, so

18

pessoas que no esto habituadas a estudar nem a estar fechadas numa sala, portanto

passam o dia inteiro, sete horas por dia fechadas e depois quando so pessoas do mesmo

local que j se conheciam isso no facilita pelo contrrio prejudica, portanto as pessoas

j tem confiana umas com as outras e o que leva s vezes a uma falta de respeito mais

facilmente do que quando no se conheciam de lado nenhum, no ?

E aqui, neste curso todas as pessoas so daqui, moram c, no so originrias daqui a

maioria mas j moram c h alguns anos, portanto a grande, a maior parte deles

conheciam-se e depois h uma grande diferena de idades que por um lado vantajoso

mas por outro lado tambm cria ali alguns constrangimentos, portanto a pessoa mais

velha no inicio do curso tinha cinquenta e trs e a mais nova tinha dezoito e estas

diferenas depois tambm no tem sido fceis de gerir.

Entrevistador Mas, que tipos de conflitos que costumam acontecer? Recorda-se

de alguma situao?

Entrevistada Sim assim, o problema que os conflitos no so nada do que no

vem de nada de grave ou seja, elas conseguem, digo elas porque o grupo neste

momento, comearam vinte formandos, depois ficaram dezasseis, estabilizou com

dezasseis, tinha dois rapazes no incio e agora ficou um, portanto houve um que

desistiu, esta pessoa este rapaz que desistiu foi problemas de sade e o mdico proibiu-o

de continuar a formao. Problemas Neurolgicos. Portanto quando eu digo elas,

porque a maioria so mulheres e tambm noto que mais fcil haver conflitos com

grupos de mulheres do que quando existem homens, os homens no so to

conflituosos, todos os problemas que tm surgido so de pequenas coisas ou seja de

quase nada, do diz que disse, porque ela disse, porque ela fez, porque, e daqui nascem

situaes que depois d conflito grave, mas nada surgiu de coisas importantes, tudo o

que tem havido tem sido de pequenas coisinhas, que depois empolgam, assim de repente

e gera confuso.

Entrevistador Ok.

Entrevistada Mas tudo na base do diz que disse, e depois quando, quando vamos a

fundo, vamos averiguar e afinal no foi nada daquilo que a pessoa disse, ou que no

pretendeu dizer aquilo e que foi interpretado de maneira diferente.

19

Entrevistador Ia-lhe perguntar se considera que ser mediadora, mediador,

formador dum curso EFA, se uma profisso?

Entrevistada uma profisso, mas tem que se estar bem preparado ou seja tem que

ser algum com algumas capacidades e algumas competncias nomeadamente ser

assertivo, ter alguma boa dose de pacincia tambm porque preciso estar em

permanente gesto de conflitos com o grupo, sim uma profisso, mas no uma

profisso fcil.

Entrevistador E no seu caso, considera-se profissional da formao? Se eu lhe

perguntasse qual a sua profisso?

Entrevistada Isso uma questo difcil para todos ns aqui na APD, isso engraado

quando tenho de preencher uma ficha qualquer e tenho que preencher qual a minha

funo, isso depois tambm diverge nos projectos a que estou, portanto neste momento

se eu preencho uma ficha qualquer no mdico ou em qualquer sitio, para adquirir

qualquer coisa, uma amizade, uma revista, vamos imaginar eu neste momento ponho

formador, que o que eu sou neste momento, mas uma dificuldade que tenho sempre,

porque se ponho tcnico de desenvolvimento local, as pessoas no sabem o que que

isto, enquanto se eu ponho formadora, j mais ou menos sabem. Portanto, neste

momento considero que sou formadora, mas j tenho estado em projectos aqui com

durao de trs quatro anos e dizer que no sou formadora, sou tcnica.

Entrevistador Ok, e em termos das condies laborais, institucionais de quem

trabalha nos cursos EFA, questo do vnculo profissional, que tipo de vnculo que

vocs tm?

Entrevistada Ns aqui na APD, eu que j estou c h muitos anos desde noventa e

seis j sou efectiva, no ? Perteno ao quadro e ns neste momento, somos trinta, a

trinta de Abril ramos 38 colaboradores efectivos, tnhamos cinco ou seis a recibo

verde, e depois duas estagirias, o resto so tudo pessoas que j pertencem ao quadro,

portanto a equipa em Janeiro desde ano, fizemos vrios contratos de pessoas que

entraram o ano passado a recibo verde e que ns gostamos do desempenho e este ano

em Janeiro fez-se, eu quando digo ns porque eu perteno direco e depois tenho

20

este, acabo por falar em nome, nome de ns da direco da APD, mas pronto em Janeiro

fizeram-se contratos a trs ou quatro pessoas que j estavam c do ano anterior, mas a

grande maioria de ns tem, pertence ao quadro.

Entrevistador Sim, e em termos dos formadores que trabalham no curso EFA?

Entrevistada Formadores, todos os formadores internos que podem participar no

curso participam, portanto ns temos, quando no temos formadores c dentro que

recorremos aos externos, portanto ns temos uns quantos elementos da APD que esto a

participar no curso EFA, enquanto formadores, o formador de Linguagem e

Comunicao que se aposentou agora em Janeiro, aposentou-se em Fevereiro que saiu

no dia 31 de Janeiro era formador interno, mas aposentou-se e continuou ligado ao

curso, portanto para no mudarmos de formador ele ofereceu-se voluntariamente para

continuar a trabalhar no curso, ainda est a dar aulas, temos o formador de Informtica

que interno, formador de Ingls que interno, formadora de Cidadania que interno,

s no temos da Matemtica, temos porque ns temos um CNO, temos o Centro Novas

Oportunidades, ento acabamos por ter as pessoas c dentro tambm, no ? Portanto o

formador de Ingls tambm formador no Centro Novas Oportunidades, de Lngua

Estrangeira, de Ingls e Francs, este formador que eu referi de Linguagem e

Comunicao que se aposentou era formador no CNO tambm de Linguagem e

Comunicao e de Espanhol, Lngua Estrangeira, a formadora de Cidadania

formadora no Centro de Novas Oportunidades de Cidadania, portanto temos uma equipa

c dentro, ento sempre que h pessoas internamente, no vamos buscar l fora, s

vamos buscar para aquelas reas em que no temos c dentro ningum formado.

Entrevistador E neste momento no vosso curso EFA, quantos formadores

externos tm?

Entrevistada Tenho que ir contar, vou contar os formadores da rea tecnolgica que

so, foram da APD, ora formadores externos, onze. Onze formadores externos.

Entrevistador Portanto e quer dizer que os internos tero um vnculo

organizao, no ?

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Entrevistada Todos os internos pertencem ao quadro da APD.

Entrevistador Da APD e os externos, so recrutados?

Entrevistada So recrutados no exterior a recibo verde porque fazem s aquele

mdulo de formao, a portanto o nico, o nico vnculo que tm connosco virem

fazer aquele mdulo de formao.

Entrevistador Alguma vez pensou em abandonar a actividade como mediadora

ou como formadora?

Entrevistada No, uma rea que eu gosto.

Entrevistador Se tivesse outras oportunidades, mudava de actividade?

Entrevistada Eu gosto muito de trabalhar com os adultos, aprende-se muito com as

pessoas, mesmo no curso EFA, que so cursos complicados por causa da permanente

mediao de conflitos e so cursos muito longos, portanto as pessoas tambm, por

exemplo o nosso j tem um ano, j tem treze meses de durao, portanto j se nota

algum cansao por parte dos formandos, no ? Portanto j chegou ao ponto em que eles

esto desejando que isto acabe e tambm complicado gerir a disponibilidade dos

formadores, portanto um curso muito longo, em que de incio se faz um cronograma,

mas que depois esto sempre a surgir alteraes constantes. Quase diariamente h

algum que no pode, mais das pessoas externas porque internamente, pronto uma ou

outra situao mas conseguimos gerir, quando estamos a contar com formadores

externos que tambm tm outras actividades, estamos em permanente alterao do

cronograma e em permanente gesto e trocas com este e trocas com o outro e preciso

assegurar todos os dias diariamente sete horas de formao e isto no fcil gerir isto,

s por si isto no fcil, uma gesto complicada e conseguir bons formadores nas

reas tambm, tambm envolve alguma pesquisa e contactos com outras entidades.

Sempre que tivemos um formador com quem tnhamos trabalhado e tnhamos gostado

do seu trabalho, ns depois recorremos a essa pessoa, no ? Mas por exemplo este

curso EFA de uma rea completamente diferente e que ns no tnhamos ainda feito

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quase nada e ento foi necessrio recrutar pessoas que, com quem trabalhamos pela

primeira vez.

Entrevistador E como que v o papel dos cursos EFA na sua vida profissional

futura?

Entrevistada No vejo continuidade dos cursos EFA no Algarve, portanto acho que

no vou ter futuro nos cursos EFA, s por isso, porque pelos vistos o financiamento

acabou, no abriram candidaturas este ano, quando era suposto abrir, quando abriu no

resto do pais, no Algarve no abriu e daquilo que sei, no h financiamento para

continuar a abrir, portanto no prevejo futuro profissional nos cursos EFA.

Entrevistador Sente-se reconhecida no seu trabalho como mediadora,

formadora?

Entrevistada H dias que sim, h dias que no, depende, sim eu acho que tenho um

bom relacionamento com eles, eu tento no ser muito a me que esta ali

permanentemente a dar-lhes colinho, porque as pessoas precisam crescer, no ? Mas

estou todos os dias, estou com eles todos os dias estou presente, vrias vezes ao longo

do dia, portanto o curso no decorre aqui, s vezes a informtica decorre aqui na APD

porque os computadores esto aqui, as aulas de informtica so aqui, o resto ns

alugamos uma sala de formao aqui no centro da vila e vou l todos os dias vrias

vezes, mesmo agora de manh estive l entre as nove e as nove e meia, no incio da

tarde vou outra vez, tento acompanhar sempre o curso e estou em permanente contacto

com os formadores, posso no estar l, no consigo estar l as sete horas por dia como

bvio, nem tenho que estar, o formador foi contratado para ministrar a formao e a

responsabilidade dele aquelas trs horas ou quatro horas estar com os formandos no

? Portanto tambm no tenho que estar presente at porque acho que isso incomodaria

a formao normal, o decorrer normal dos trabalhos.

Entrevistador Quando diz que s vezes sim se sente reconhecida, s vezes no,

isso tudo quer dizer que

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Entrevistada Por exemplo quando h situaes de conflito entre eles uma pessoa

sente-se um bocado cansada e afinal que trabalho o meu no ? E afinal o que que

tem servido? E isso ns vemos muito nas nossas reunies de equipa pedaggica,

portanto no sou eu mas tambm os outros formadores s vezes ficam, mas afinal o que

que ns andamos a fazer, quer dizer parece que ainda no outro dia, na semana passada

chammos a ateno sobre que no podem fazer isto, no podem fazer aquilo, uma

semana depois j esto outra vez a discutir, j armaram outra vez confuso e nesses

momentos uma pessoa sente um bocado, que trabalho este? No ? Estas pessoas no

mudam?

Entrevistador E quando diz que tenta no ser a me?

Entrevistada No andar, assim, h pessoas que esto, que esto um bocado como

direi, no esto bem psicologicamente e h pessoas que gostam de chamar a ateno,

que ns sentimos todos, toda a equipa, que as pessoas tm aquelas atitudes para chamar

a ateno e a eu vou falando com essa pessoa, no ? Mas no vou todos os dias

perguntar como que est hoje? Ento est bem hoje? Como que se sente hoje? No

fao isso, no sei se fao bem se fao mal, mas quero tambm que as pessoas ganhem

alguma autonomia, no ? E que no se encostem um bocado ali na bengala que eu sou,

eu tenho problemas, que h pessoas que se pem sempre nessa posio

permanentemente, portanto eu, eu sou assim ou eu fiz isto porque tenho problemas,

tenho problemas na minha vida, tenho problemas de sade e portanto vocs tm que

aceitar isto. E isto no, eu no aceito isto. Portanto, toda a gente tem problemas no ? E

portanto isto no pode ser uma bengala permanente os problemas que eu tenho, as dores

de cabea que eu tenho, porque as senhoras a partir de uma determinada idade tm

muito esta frase: ai, eu hoje no consigo fazer isso por causa da minha cabea. Eu no

aceito isto. Poderei, aceitar uma ou outra vez, no ? normal que as pessoas um dia ou

outro tenham dor de cabea agora durante treze meses terem dores de cabea todos os

dias quando se confrontam para realizar um determinado trabalho, isto no aceitvel,

no ? E h pessoas que se encostam um bocado nisto e ficam ali espera de colinho

todos os dias e isto uma fase porque no acho bem, as pessoas tm de crescer, tm que

desenvolver e tm que lutar, tm que batalhar por aquilo que querem, no se podem

todos os dias encostar aos problemas que eu tenho l em casa, porque quando ns

entramos no local de trabalho temos de deixar os problemas l fora no ? No fcil

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fazer isto, mas as pessoas ao longo de catorze meses tm de ir, tm de ir fazendo isto,

no ?

Entrevistador Em relao ao trabalho pedaggico? Quais so as dificuldades que

sente no seu trabalho, quer como mediadora, quer como formadora, no aprender

com autonomia, dos cursos de educao e formao de adultos? Quais so as

dificuldades com que se confronta?

Entrevistada O Aprender com Autonomia muito para o trabalho em equipa,

portanto para que eles possam, saber trabalhar no ? Mas tambm trabalhar em equipa

e isso a parte mais difcil, portanto so pessoas que no esto habituadas a trabalhar

em equipa, ns temos algumas pessoas que nunca na vida trabalharam e tm quarenta,

cinquenta anos e agora de repente esto em situao de que tm que trabalhar com os

outros, ouvir as ideias dos outros, dar razo aos outros e isso no fcil, porque so

pessoas que esto habituadas a fazer tudo sozinhas, de que ningum lhes disse nada,

ningum lhes deu ordens e agora de repente, tm que fazer aquilo que o formador diz e

ainda por cima trabalhar em grupo e acatar as ideias dos outros, quer dizer que a delas

podem ou no ganhar e isso tambm tem gerado alguma situao de mau estar, nalguns

formandos, coisas muito simples, por exemplo, escolher a capa de um trabalho, h um

ou dois que fazem no ? Isto num grupo de quatro, cinco pessoas, tm ideias e depois a

outra pessoa fica amuada, porque a sua capa no foi escolhida e porque teve trabalho a

fazer a capa e no aceita, pronto uma democracia no ? E que as pessoas votam e que

eleita a que os outros consideram melhor, No ?

Estas simples coisas, s vezes geram amuos que duram dias, as pessoas no aceitam que

a sua ideia no tenha prevalecido e isto tem sido, neste grupo, o outro curso EFA que

tivemos no foi tanto, no outro tinham outros problemas, este o problema maior tem

sido de facto o trabalhar em equipa.

Entrevistador H alguma dificuldade que se recorde no seu trabalho com os

formandos?

Entrevistada mais esta.

Entrevistador Os seus colegas costumam comentar isso?

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Entrevistada De qu?

Entrevistador Os formadores.

Entrevistada Os formadores EFA, do curso EFA? Do qu? Do trabalhar em equipa?

Entrevistador No, das dificuldades que eles podem ter no mbito do trabalho

com os formandos?

Entrevistada mais, toda a gente tem este problema, que o facto de no acatar

opinies. Eu dou-lhe um exemplo concreto, s nove horas estive l com eles e uma

formadora, que j terminou o mdulo dela, esteve a apoiar o tema de vida, o ltimo

tema de vida e deixou, ontem esteve c e deixou comigo os testes que eles fizeram no

ltimo dia com ela, as avaliaes e a avaliao do tema de vida, que individual,

formado a formando e agora estive l e dei a elas para lerem e assinarem, porque os

formandos devem ler e assinar e dizer se concordam ou no, e uma das formandas,

quando eu lhe dei olhou para aquilo e disse logo: No concordo nada com isto!

E o que que a formadora tinha escrito: Deve controlar o seu estado emocional! Que

uma pessoa que no est nada bem psicologicamente, mas no tm estado ao longo do

no curso, tem estado a fazer tratamento psiquitrico, e a formadora na avaliao

escreveu isto, portanto, diz que sim senhor desenvolveu o trabalho bem, que foi positivo

que uma pessoa que trabalha bem, mas que realmente no est estvel e pronto s o

facto de ler ali aquilo, a, ficou logo revoltada: mas quem esta pessoa para me dizer

isto! No tm nada que me dizer isto. Pronto eu j sei que vai ficar o dia inteiro

chateada.

Entrevistador E os aspectos, os aspectos gratificantes da sua actividade como

mediadora, formadora, os aspectos gratificantes da actividade?

Entrevistada conhecer estas pessoas, conhecer e aprender, porque tambm se

aprende no ? As pessoas, com a actividade porque ns pelo facto de termos que gerir

tudo isto, temos que desenvolver tambm competncias, no ? Somos obrigados a

desenvolver competncias e a rever aquilo que aprendemos de gesto de conflitos, no

? uma permanente actualizao, ns aqui na APD fizemos h alguns anos formao

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de mediao de conflitos para todos os colaboradores e eu dei-me conta que passados

dois ou trs meses do curso EFA ter comeado, l fui eu pegar no livrinho que tinha,

que o formador da altura, foi o autor e l fui eu pesquisar outra vez no livrinho que tinha

para me relembrar aquilo que tnhamos falado e das tcnicas e tudo mais. E aprende-se,

aprende-se muitas coisas com as pessoas, no ? Porque algumas podem no ter

trabalhado mas sabem muitas coisas da vida, no ? E aprende-se sempre.

Entrevistador Como que tm funcionado o trabalho curricular em torno dos

temas de vida entre os formadores? Como que isso tem funcionado?

Entrevistada Tem funcionado bem, assim, quem est a dar a matria que possa

ajudar, apoiar um tema de vida entra e apoia, portanto nem todos os formadores tm

participado, tambm h mdulos pequeninos de vinte e cinco horas, no ? Que um

formador chega c, da vinte e cinco horas e vai-se embora e pode no estar nada

relacionado com o tema de vida que est a ser desenvolvido, mas tem funcionado bem,

fizemos trs temas de vida, agora no dia um de Julho temos a apresentao do terceiro, e

este ltimo tema todos os formadores que estavam no activo participaram, todos.

Depois h outros que podem no participar na elaborao do tema de vida mas que

disponibilizam a sua formao, sei l, para fazer uma visita que necessrio para

recolher informao para aquele tema de vida, para disponibilizar uma sesso para vir

para a internet para pesquisar informao, para passar os trabalhos a limpo, portanto

pode haver algum que a sua matria no acrescenta nada no tema de vida mas que

disponibiliza horas para que seja elaborado e que ajuda no portugus, na correco nos

trabalhos, etc.

Entrevistador Quais foram os temas de vida que foram trabalhados?

Entrevistada O primeiro foi, Hbitos de Vida Saudvel, em que eles depois foram

divididos em subgrupos. E um trabalhou as questes da droga e da toxicodependncia

outro as questes da alimentao saudvel, exerccio fsico e o outro, o outro subtema

no me recordo, o segundo tema de vida teve a ver com o Patrimnio de So Brs de

Alportel, em que eles tambm foram subdivididos em quatro grupos, quatro mini grupos

e construram um blogue sobre o concelho de So Brs de Alportel e o patrimnio,

portanto o patrimnio do concelho, este patrimnio no apenas os monumentos, os

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monumentos tambm no existem muitos, no ? Mas o patrimnio cultural, tudo as

lendas, as receitas, a histria do concelho, as festas, as festividades, portanto porque

que existe uma determinada procisso, o prespio de So Brs de Alportel, tudo isso,

recolherem informao que est num blogue acessvel a qualquer pessoa, portanto

qualquer pessoa que tenha internet pode aceder ao blogue e um blogue em permanente

construo, eles criaram-no, toda a informao, fotografias que recolheram, est l, mas

quem quer aderir, pode continuar a colocar informao e est em permanente

actualizao e tem sido, muito interessante o blogue e tem sido visto, portanto ns

temos um controlador de onde que so as visitas, tem sido muito visto, numa srie de

pases e eles esto cheios de orgulho desse trabalho, o ltimo tema de vida este terceiro

que ser a apresentao no dia um de Julho sobre a Empregabilidade, tcnicas de

procura de emprego, como que se deve apresentar numa entrevista, onde que se

procura emprego, portanto eles criaram uma base de dados com sites e instituies onde

procurar emprego e fizeram um filme, fizeram um filme em que eles que so os

actores e todos participam, em que tudo aquilo que aprenderam, eles vo

demonstrando ao longo do filme, por exemplo: esto duas pessoas no computador, a

imaginar que esto a procura de emprego, ento vem algum e diz: Olha eu estava aqui

com ateno, no v a este site, v aquele outro. Depois h uma situao em que h duas

entrevistas distintas, uma pessoa que se porta muito mal na entrevista, que faz aquilo

que no se deve fazer e a outra que faz tudo correctamente, depois tambm tem

legislao laboral, portanto, no filme tambm aparece, eles tambm tiveram agora a dar

esse mdulo, a diferena entre um contrato a termo, um contrato sem termo, um recibo

verde, os direitos que as pessoas tm, em qualquer uma destes contratos, em qualquer

um destes contratos, os deveres que tm, e, e eles criaram um guio e depois fizeram o

filme que vai ser a apresentado no mbito do tema de vida.

Entrevistador Ok

Entrevistada E a par disso vo fazer tambm um livro, alis qualquer um, a no ser o

blogue, o blogue que no teve, mas o primeiro tema de vida e este agora tambm vai

uma manual com todas estas tcnicas.

Entrevistador Eles costumam fazer interveno na comunidade? Ou seja

costumam de sair da sala de formao?

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Entrevistada Sim, ns temos, agora um dos ltimos temas que os mdulos que

acabou agora, foi animao e lazer, com uma formadora na rea do teatro ento todos

prepararam, a formao toda foi feita baseada num projecto de animao, portanto,

foram divididos tambm em grupos, pequenos e cada grupo teve que preparar um

projecto de animao para um pblico que eles escolhiam, ou idosos ou crianas ou

jovens, e depois foram faz-los nas instituies, fizemos em lares, em creches, foram a

instituio desenvolver o trabalho que tinham planeado, portanto, as cinquenta horas

foram todas isso, desenvolver, pensar num projecto desenvolv-lo, faz-lo e avali-lo.

Entrevistador A articulao curricular entre os formadores costuma decorrer

mais na formao de base, os da profissionalizante tambm entram?

Entrevistada Sim, por exemplo agora na apresentao do tema de vida no dia um,

eles esto a ter tambm um mdulo com um cozinheiro, tiveram j a produo de

alimentar de pastelaria, outros tipos de alimentao, queijos e bebidas e etc. e agora

esto a dar o ltimo mdulo com ele, que mise en place, ento eles vo aproveitar o

ltimo tema de vida e vo fazer, tambm j tm feito, no a primeira vez, vo cozinhar

aqui, vo fazer bolos e bolinhos e bolachas e pats e vo comprar queijos, isto tudo de

acordo com a formao que deram com ele, quer dizer vo comprar, vo elaborar a lista

e depois ns aqui na APD que adquirimos, no ? E depois da apresentao do tema

de vida, vai haver um lanche com as mesas preparadas por eles, com tudo que

aprenderam. E neste mdulo de mise en place, eles tambm tem ido a restaurantes e

hotis, conhecer como que se pe uma mesa para um casamento, para uma festa mais

requintada, os vrios tipos de copos, os vrios tipos de talheres para que que servem,

como que se serve mesa, portanto eles tm, tm ido a restaurantes, tudo aqui em So

Brs, tem ido aqui, conhecer.

Entrevistador Qual a sua opinio sobre a questo do currculo integrado em

torno dos temas de vida?

Entrevistada Hum.

Entrevistador Ou seja como que se posiciona fase a esse tipo de trabalho?

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Entrevistada interessante, eu acho que interessante e obriga a uma articulao

entre os formadores e os formandos gostam sempre, portanto, resulta num produto final,

que lhes d muito orgulho e nesse sentido bom, se bem que d um bocado trabalho

articular tudo isto, no ? Portanto fazer a planificao, quem que d as horas, quem

vai fazer o qu? Depois articular com o formador de informtica, ajuda aqui, o de

portugus ajuda ali, mas eu acho que o resultado final compensa, portanto vale a pena

d um bocado de trabalho, mas, mas acho que bom.

Entrevistador Que dificuldades que costumam de surgir nesse trabalho de

articulao?

Entrevistada mais as horas que os formadores tm que dar, porque todos acham

que precisam das suas horas para dar os seus contedos e para poder validar as suas

competncias, no ? Isto a nvel das reas de competncias chave e ento esto todos

com pressa e com a necessidade de validar as suas coisas, ento terem que

disponibilizar quatro ou cinco sesses para o tema de vida s vezes ficam: Mas eu no

posso esta semana, eu preciso de dar isto, eu preciso de fazer aquilo, eu preciso de fazer

aquele trabalho, eles tem que acabar o relatrio, no posso! E isto , eu tenho que

andar um bocado a insistir com alguns formadores, no mas desculpa, mas tem que ser,

logo ds isso a seguir, agora nesta fase eles esto quase a acabar o tema de vida, tens

que corrigir os trabalhos, tens que parar com a tua matria. Por exemplo neste ltimo

tema de vida, no se sentiu tanto isso, porque todos os formadores das reas de

competncia chave j tinham as suas coisas validadas, os seus trabalhos, os seus

critrios de evidncia j cumpridos, portanto j estavam um bocadinho mais aliviados

disso, ento j participaram com mais horas no tema de vida. Mas eu notei muito isso

no primeiro, porque ainda era o primeiro era o incio, no ? Ento eles estavam com

pressa, com medo que as horas no chegassem e ento ter que estar a disponibilizar

algumas horas, nalguns casos ainda foram muitas para o tema de vida, ficavam um

bocado aflitos.

Entrevistador Costuma planificar temas de vida?

Entrevistada Sim, sim.

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Entrevistador Como que isso costuma acontecer?

Entrevistada Normalmente a planificao, primeiro decide-se com o grupo de

formandos, qual que vai ser o tema de vida, eles que escolhem e entre eles tem que

decidir, portanto, neste caso, neste curso logo no incio discutiram-se vrias hipteses

dos temas de vida, ento ficou mais ou menos alinhavado do que que seria do curso

todo, no ? Portanto, da primeira ideia para o primeiro tema de vida, ficaram logo

outras ali em banho-maria, digamos assim, para depois serem utilizadas, ento no foi

muito difcil. O segundo tema de vida j foi, eles j no foram buscar ideia anterior

porque entretanto tiveram outras ideias por causa de desenvolverem o primeiro, tambm

viram como que era, ento mudaram um bocadinho para o segundo tema de vida, o

terceiro ficou logo, digamos assim decidido que seria a empregabilidade, porque era o

final do projecto e portanto fazia sentido que fosse empregabilidade, tcnicas de procura

de emprego, legislao, etc. fazia sentido quando eles fossem para o mercado laboral

j trabalharem esta matria, mas eles que decidem quais so os temas, quais so os

subtemas tambm dentro daquele tema ento podem, evidente com o apoio dos

formadores, no ? Dentro desse tema ento podem trabalhar isto, trabalhar aquilo,

vamos l pensar mais o que podemos trabalhar e eles prprios vo dando ideias, depois

os grupos so tirados sorte, foram sempre tirados sorte, os mini grupos depois dentro

com papelinhos da sorte para no haver confuso, porque se no depois escolhiam

sempre os mesmos parceiros, no ? Que natural, mas no queremos isso, queremos

que eles todos trabalhem uns com os outros, no foi difcil.

Entrevistador Costumam fazer reunies de planificao, ento?

Entrevistada Sim, reunies pedaggicas sim, depois de ser definido o tema de vida,

ento que actividades que so necessrias para desenvolver para chegar a este

produto? Qual o produto final que se quer ter, ou seja quando se, qual que vai ser a

apresentao? O que que vai ser apresentado? Vai ser um filme, vai ser um teatro, vai

ser um livro, vai ser um PowerPoint, vai ser uma exposio fotogrfica, o que que se

pretende que saia daqui? Depois j de ter o produto final ento que passos que ns

temos que dar para conseguir chegar a esse produto final. No primeiro tema de vida fez-

se uma exposio aqui na sala de exposies da APD em que o grupo da alimentao

saudvel, construiu uma roda de alimentos, com alimentos mesmo, com a carne, com o

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peixe, com o queijo, com o iogurte, o leite, os legumes frescos, os cereais, po, fomos

adquirir as coisas de manh, construiu-se a roda, depois evidente que os produtos

foram-se estragando e tivemos que ir retirando os alimentos roda e substituindo por

outros de plstico, mas nos primeiros dias tiveram mesmo os alimentos reais e a, pronto

foi planificado. E que formadores que poderiam entrar, o formador de matemtica

para desenhar a roda l com as percentagens dos alimentos, desenhar uma roda gigante

numa cartolina com as percentagens, no ? Isso foi ele que apoiou, depois a formadora

de nutrio com os alimentos dentro de cada componente da roda e foram adquirir as

coisas com ela e tudo mais. A, portanto fazem-se reunies mas funcionamos muito por

e-mail.

Entrevistador Ok.

Entrevistada Por troca de e-mails, isto hoje fantstico, esta facilidade.

Entrevistador Na sua opinio, os formadores costumam aderir s reunies de

planificao ou se h dificuldades?

Entrevistada Isso a maior dificuldade, sim, a maior dificuldade, as reunies so

marcadas sempre, eu vejo sempre, quem , a disponibilidade das pessoas, antes de

marcar a reunio, depois tento marcar para o dia que melhor para toda a gente e

sempre ao final do dia, claro, porque, os formadores internos esto c na In loco, mas

tambm esto a desenvolver o seu trabalho, os formadores externos temos que marcar

ao final do dia, porque tem as suas actividades, a maioria vem, mas h sempre um ou

outro que no pode vir e no se consegue agendar um dia em que possa toda a gente vir,

ento, j se tem feito reunies, faz-se a reunio e que quem poder estar est e quem no

poder, no est. E quem no est eu depois quando estou na sesso seguinte passo a

informao.

Entrevistador E, quais so as razes porque eles no podem estar presentes?

Entrevistada Alguns deles so professores e ento tm aulas, alguns so formadores

noite tambm noutras entidades, , normalmente por motivos laborais e tambm j

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tivemos casos em que as pessoas estavam de frias, portanto nem sequer estavam c,

estavam ausentes.

Entrevistador E na sua opinio as reunies de planificao, so importantes para

o funcionamento para o curso EFA?

Entrevistada So, so importantes se bem que hoje em dia, eu noto isso em relao

ao anterior curso que tivemos, portanto, com a facilidade de e-mail e toda a gente ter e-

mail e depois eu quando mando uma coisa, normalmente, mando para toda a gente,

quando o assunto diz respeito a todos, mando, vai para o grupo todo, e isso depois toda

a gente responde para toda a gente, ento acabamos por fazer, consultas de ideias,

digamos assim, por e-mail, o que ajuda bastante, portanto no temos feito tambm

tantas reunies porque utilizamos muito este meio, depois quem no pode estar na

reunio, eu estou com a pessoa, depois quando venho ministrar a formao e passo a

informao e discutimos, ento, por exemplo, na planificao do tema de vida, onde

que podes entrar, aqui tambm podes ajudar um bocadinho, qual o dia que podes

ajudar, vamos ver o cronograma, qual o dia que podes ir para a internet

Entrevistador Ok.

Entrevistada E acabamos por funcionar assim.

Entrevistador A planificao cumprida depois na prtica?

Entrevistada No, h ajustes, eu acho que dos trs temas de vida, ainda, no houve

nenhum, estamos a falar de tema de vida ainda?

Entrevistador Sim, sim.

Entrevistada No houve nenhum, que a planificao se mantivesse depois daquele

que foi feito, no ? Porque uma coisa planificar dois meses depois, quando se chega

concluso dois ou trs meses depois o tema de vida, quer dizer houve pessoas que,

houve formadores que de incio no estavam a pensar ajudar em determinada matria e

depois tambm deram a perninha, no ? Ou houve um determinado trabalho que no

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estava a pensar ser feito e depois se acabou por fazer ou uma determinada visita que at

no se estava a pensar que seria necessria e que se fez, ou houve outra que por exemplo

se tinha pensado planear e depois acabou por no se fazer, porque foram ver outras

instituies e j no foi necessrio ir quela, portanto no h nada, no houve nada que

no se alterasse, ligeiramente, no ? No foram alteraes profundas.

Entrevistador Em termos do trabalho pedaggico em torno da evidenciao e da

avaliao de competncias dos formandos, como que isso se processa?

Entrevistada Hum, pois cada formador tem a sua forma, o seu mtodo pedaggico,

por exemplo na componente tecnolgica, que muito mais prtica, muitos deles o que

fazem uma avaliao prtica, portanto uma pessoa depois, vai fazer aquela prtica que

foi ensinada e avaliada, quase todos os mdulos tiveram da rea de competncia

tecnolgica, testes de avaliao, de zero a vinte, pontuados de zero a vinte, a par disso

tiveram todos, trabalhos. Portanto trabalhos individuais ou trabalhos em grupo, que

contam tambm para a nota final. Portanto temos uma grelha de avaliao e ou s se faz

um teste ou s se faz um trabalho ou fazem-se testes e trabalhos ou fazem-se trabalhos

prticos, demonstrao daquilo que foi aprendido, estou-me a lembrar por exemplo das

reas com os enfermeiros que fizeram-se avaliaes prticas do que que foi ensinado,

tivemos um mdulo de desenho de decorao de espaos, o trabalho final foi pegarem

numa folha de papel e fazerem um projecto de um departamento de uma zona da casa,

no ? Ou zona da casa ou eles que inventavam podia ser de um hotel, podia ser de um

lar, em que eles a faziam a decorao daquele espao, que eles decidiam e a no, no

houve teste, portanto a formadora avaliou, e depois no final do mdulo, esse projecto,

com a formadora de aquisio e armazenagem, conservao de produtos, fizeram

tambm trabalhos prticos, portando ela deu muito a questo das bactrias, ento

fizeram mesmo experincias, com o microscpio, com bactrias, e ento depois analisar

aquilo tudo, o que que existe, o que que no existe, nos frascos, portanto vedarem

frascos e depois abrirem, quando no estavam bem vedados o que que formavam,

ento a avaliao tambm foi feita por a, por essa prtica, depois um relatrio que eles

fizeram, depois nas reas de competncia chave temos a informtica que as

evidncias, os critrios so validados, tudo com base na prtica, no ? Durante a

formao, durante as aulas nas sesses o formador vai verificando o que eles sabem

fazer. Depois temos a matemtica, o formador faz muitas fichas de evidncia de

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competncias ou seja, d os contedos programticos e depois est quase semanalmente

a fazer fichas de validao de competncias daquilo daqueles que deu, portanto usa

muito isso. O formador de portugus, cada um tem o seu mtodo, o formador de

portugus usa tambm textos de reflexo, sobretudo para validar os critrios, trabalhos

individuais, trabalhos em grupo, mais por ai, no tanto por fichas, portanto trabalhos

que eles fazem e cidadania tambm parecido com o portugus. O formador de ingls

tudo mais na prtica, portanto gravaes, udio, de eles a falarem e ouvirem, portanto

ele pe a correr a cassete de ingls para eles depois traduzirem, portanto, base, com

base mais na oralidade, tambm na escrita, mas usam muito a oralidade.

Entrevistador Se sente alguma dificuldade neste trabalho de levantamento de

indcios de evidncias para a validao de competncias?

Entrevistada No, temos uma ou duas, o grupo muito bom. A nvel de

competncias dos melhores grupos que ns temos tido e aqui estou a considerar

tambm os grupos que eu falei de incio de formao profissional que no eram cursos

EFA, mas que eram os digamos, que, os avs dos cursos EFA. Desde que eu estou na In

Loco que apanhei todos estes grupos de formao, de formao mais longa, no ? De

formaes profissionais com mais de um ano, este grupo o grupo que tem formandos

com mais capacidades, mais competncias, portanto a esse nvel um grupo muito bom,

muito bom. Tm uma ou duas pessoas que tm mais dificuldades, claro, mas, dos

dezasseis formandos, os trs, os quatro que saram tambm eram bons, foi uma pena que

sassem, porque podiam fazer isto muito facilmente, so pessoas com capacidades, no

tem sido difcil, a no ser estes dois ou trs casos, so pessoas que no conheciam um

computador, no sabiam sequer como que se ligava e que nunca tiveram Ingls,

portanto a dificuldade maior tem sido no Ingls e na Informtica e no Portugus, na

Linguagem e Comunicao, portanto haviam pessoas que no tinham hbitos de leitura,

nem de escrita e que escrevem com alguma dificuldade, portanto so duas trs pessoas

nestas trs reas, nas outras no. Na componente tecnolgica, no tenho tido problemas

com ningum, como eu lhe digo um grupo muito bom a nvel de capacidades, dos

melhores.

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Entrevistador E, do seu trabalho, por exemplo no mdulo, de Aprender com

Autonomia, sente alguma dificuldade por vezes em identificar as evidncias, isso

suscita-lhe por vezes dvidas, como que

Entrevistada Hum, no. Como eu referi bocado mais a questo do trabalhar em

equipa, esse sim tem sido a pedra de Aquiles, neste curso, portanto eles nunca, h

grupos, portanto dentro do grupo grande, h grupinhos, natural, portanto em qualquer

situao destas, na escola, na universidade as pessoas tm afinidades e portanto no

grupo h subgrupos no ? Mas o grupo grande funcionar como grupo, por exemplo

para a realizao dos temas de vida tem funcionado muito bem, funcionam super bem,

tm tido excelentes resultados, trabalham muito bem, nunca houve problemas no mbito

do tema de vida, mas depois durante a formao, para outras, na situao do dia-a-dia,

de estar em sala j tem havido problemas, a no conseguem funcionar como grupo,

porque uma olhou e aquela disse, esto-se a rir de mim e portanto, muito complicado

estarem sete horas por dia em sala, gera estas confuses porque esto-se a rir, esto a

dizer e esto a falar e se calhar de mim e no sei qu e isto tem sido complicado, mas

depois quando para trabalharem mesmo, o facto que eles no podem estar sem fazer

nada sete horas por dia, portanto s ouvir o formador a falar, a expr, no pode ser,

portanto tem que sempre haver trabalhos, tem sempre que estar a trabalhar, porque

seno gera confuso, quando para trabalhar em conjunto, agora fizeram o filme,

lindamente, conseguiram filmar todos primeira, parecem profissionais, montaram o

filme num instante, est pronto, a apresentao s dia um de Julho e o filme j esta

pronto h uma semana. Trabalharam muito bem, mas o estar em sala e o relacionarem-

se enquanto grupo corrente, nunca se conseguiu que eles fizessem isso.

Entrevistador E em termos do trabalho pedaggico costuma trabalhar mais com

o grupo, como um todo ou costumam fazer um trabalho mais individualizado,

como que isso costuma acontecer?

Entrevistada Costuma ser, h momentos em que so trabalhos individuais, at porque

depois para validar as competncias no porteflio, no ? Os porteflios so individuais,

mas a grande maioria trabalhos em pequenos grupos e em que nalguns momentos, no

incio se deixava que eles formassem os grupos, no ? No incio mesmo da formao,

depois comemos a ver que eles escolhiam sempre as mesmas pessoas, portanto j

36

estavam a criar afinidades, ento no era isso que se pretendia queramos que eles

trabalhassem todos uns com os outros, no . Porque eles quando forem para o mercado

de trabalho no escolhem com quem vo trabalhar, tm que lidar com toda a gente, no

? Trabalhar com toda a gente, tm colegas e no podem escolher os colegas de trabalho

e nesse sentido comeamos a formar, pequenos grupos, mas escolhidos pelos

formadores, o que nem sempre eles acataram muito bem esta deciso, houve alguns

formandos que em determinados momentos no queriam trabalhar com aquela pessoa e

viram-se obrigados, mas tiveram que ultrapassar.

Entrevistador Na sua opinio pessoal, quais so os princpios que devem orientar

o trabalho pedaggico dos formadores que trabalham num curso EFA? Algumas

orientaes que ache importantes?

Entrevistada Eu acho que os formadores tm que ir sempre ministrar formao para

um curso destes, tendo em conta duas coisas, primeiro, so um grupo de adultos, no ?

Um conjunto de pessoas adultas que, se por um lado no se pode tratar enquanto

crianas, porque no o so, por outro lado tambm tem que se ter algum cuidado na

autonomia que se lhes d, ou seja no podem, tem que haver regras, portanto as regras

no so s para as crianas, tem que haver regras com adultos tambm, porque seno

eles depressa perdem o respeito e ultrapassam isso tudo, ns tivemos uma formadora

isto um exemplo, que j no final da formao, s teve cinquenta horas de formao e

j no final da formao, comeou a trat-los por tu, ora isto no se pode fazer, depressa

eles a trataram por tu a ela, e foi-se o respeito, portanto, ela comeou a no dar conta

deles, portanto ela mandava-os fazer uma coisa e eles, ai, no me apetece ou no quero

depois mandava trabalhar uns com os outros, ai eu com ela no quero trabalhar, quer

dizer isto no pode ser, ns no obrigamos ningum, dentro da formao e um bocado

aqui tambm dentro da In loco, funcionamos um bocado assim, portanto, ningum tem

que tratar por doutor nem por engenheiro, nem por nada disso, mas tem que haver

respeito e o facto de tratar os formandos por tu est-se a dar logo um bocado de

autorizao que nos tratem tambm por tu e portanto comearam a trat-la por tu e ela

no disse que no e isto criou para eles uma relao de proximidade, que lhes permitiu

depois recusar fazer coisas, porque, pronto estamos todos aqui, andamos todos juntos na

escola, somos todos amiguinhos e portanto tu mandas, mas aqui no mandas nada e eu

posso fazer o que entender, no ? E isto nas duas ltimas duas, trs sesses que ela teve

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com eles, gerou alguma tenso, porque ela depois saiu daqui, ficou um bocado, afinal

isto trabalhar com adultos no era aquilo que eu pensava. uma pessoa que

professora, e ela vinha a pensar que trabalhar com adultos era um bocadinho diferente

do que trabalhar com crianas e que no era preciso, impor tanto respeito, porque com

as crianas, preciso mas com os adultos, estava no meio de pessoas adultas, pessoas

igual a ela e portanto podiam ser todos, todos iguais, no ? Realmente toda a gente

sabe coisas, mas aqui neste, nesta situao preciso manter algum formalismo, tambm

para eles verificarem, pronto, aqui no estamos todos ao mesmo nvel e vocs aprendem

comigo e eu aprendo convosco, mas ateno, quer disser, quem coordena a sesso sou

eu, no ? E isso foi um bocadinho complicado. Mas como eu lhe disse aqui temos

muito essa facilidade de relacionamento, no estamos naquela posio e tento que no

haja formador nenhum que contratemos que seja assim, que chegue aqui, eu sou o dono

da sabedoria e portanto, eu estou aqui para vos ensinar e vocs no sabem nada, mas

tambm no pode ser o contrrio, no ? Tambm no se pode permitir que depois haja

abusos e isso aconteceu, portanto por um lado preciso perceber que estamos com

adultos, no ? E que so pessoas que j sabem muito da vida. Portanto tem que se ter

em conta tambm que as pessoas, j sabem, por outro lado preciso, tambm manter

algum respeito e ser assertivo, alguma assertividade, porque seno, depressa eles

ultrapassam as regras todas e no h respeito.

Entrevistador Tem, tem alguns casos em que os colegas de formao, faam uma

modalidade de formao, mais transmissiva, em vez de ser uma abordagem mais

pelas competncias centrada em torno dos temas de vida? Tenham uma tendncia

para fazer de outras formas?

Entrevistada De outras formas quem? Como na escola? Estar ali a ministrar?

Entrevistador Por exemplo.

Entrevistada A ensinar no, acho que no, deixe-me aqui olhar para os formadores,

acho que no, acho que neste, assim, todos os formadores das reas de competncias

chave, so formadores com muita experincia na educao de adultos e em cursos EFA

e em centros de novas oportunidades, portanto j h muitos anos que no funcionam

assim, portanto j esto nessa engrenagem, mesmo das competncias e do conhecimento

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que as pessoas, tm quando c chegam, portanto pode no ser um conhecimento ao

nvel formal das matrias dadas na escola ou matrias constantes no, nos referenciais,

mas so pessoas que j sabem muito, no ? E basta conduzir a pessoa naquele sentido,

no ? Portanto sabe matemtica, a pessoas pensa que no sabe, mas sabe, porque j

pintou a casa, j comprou mosaicos para, portanto j teve de pensar numa rea, sabe o

que so percentagens, vai as compras sabe quais so os descontos, o que que aquilo

significa, portanto s tem que se conduzir a pessoa naquele sentido, dizer: isso que voc

conhece chama-se isto, na linguagem matemtica, portanto nas reas de competncia

chave, no temos problema nenhum, que so cinco formadores, j com muita

experincia na educao de adultos e, e nos referenciais de competncia portanto esto

perfeitamente a vontade. Os formadores da rea tecnolgica, alguns tinham experincia

na educao de alunos e em cursos EFA, alguns tinham, mas outros no, so professores

da escola, ou enfermeiros ou enfermeiras que nunca tinham trabalhado com cursos EFA,

que esto habituados a dar formao, mas que no eram no mbito dos cursos EFA e

esses sim foi necessrio introduzi-los aqui no esquema, no esquema de avaliao de

competncias e dos temas de vida, mas no houve ningum que chegasse ali e foi tudo

pela prtica, mesmo os enfermeiros, portanto legislao laboral, um exemplo. Esto a

ter agora, era o tema ou era o mdulo que mais me preocupava que era, normalmente

muito expositivo e a legislao, quer dizer, a legislao para estas pessoas, cinquenta

horas de legislao trabalhadora, isto vai ser um desastre e ento, antes do formador vir,

claro tive uma reunio com ele e ele era um formador j reformado, no ? Aposentado

no ? L dos seus, das suas actividades, como advogado, e que est muito habituado a

dar formao para adultos, mas que no cursos EFA, portanto para empresrios, para

outros, outros advogados, outro tipo de pblico que est mesmo interessado na

legislao pura e dura. Aqui no podia vir com essa abordagem expositiva, seria um

desastre, ento tive que reunir com ele e disse logo, isto aqui vai ter que ser muito

baseado na prtica, portanto d uma determinada componente do cdigo de trabalho, ok

ento vamos fazer simulaes, aconteceu isto, isto e isto, o que que vocs fariam, a

que, a que artigos que vocs recorriam, qual que vocs acham, que seria a soluo?

E ento tem estado a correr bem, porque ele tem feito isto, portanto tem, d l a parte do

contedo do trabalho, da tica e da deontologia etc. explica aquilo tudo, mas depois

fazem trabalhos em cartolina ou em grupos ou individuais, em que, para cada situao

em grupo discutem qual seria a soluo mais, por exemplo: uma pessoa foi despedida

numa determinada situao, um empregador tem razo, o trabalhador tem razo, vale a

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pena ir para o tribunal de trabalho, no vale, o trabalhador no tem razo nenhuma e o

caso fica por aqui encerrado, portanto o que que acham? E tem estado muito a discutir,

portanto mais na prtica. evidente que todos os mdulos tm alguma componente

dispositivo, no , para introduzir o contedo do mdulo, tem que haver, mas depois

tem sido, tenta-se sempre que haja prtica. No possvel tambm sempre, por

exemplo, aqui nas reas de confeco, produo alimentar, v, tivemos cinco mdulos

de produo alimentar, no podem estar todos os dias a cozinhar, no ? O curso

tambm no tem disponibilidade financeira para estar a adquirir materiais para dezasseis

pessoas cozinharem, porque depois no s para um grupo ou dois ou trs, no ? No

se vai cozinhar s para um, no se vai cozinhar s um bolo, pronto quando se faz bolos,

tem que se fazer vrios, como fizeram no mdulo de pastelaria, tem que se fazer uma

srie deles, porque eles tem que praticar, no ? No ficam dois ou trs a fazer um bolo

e os outros ficam a ver, todos tm que praticar, portanto no fcil. O curso tambm

no tem verba suficiente para estarem todos os dias a praticar e isso seria o ideal, no ?

Quando se adquirem ingredientes no podem ser em quantidades nfimas, tem que ser

para toda a gente trabalhar e, e isso , torna as coisa um bocado complicadas, porque a

tem que passar mais tempo em sala, o que para eles tambm no fcil.

Entrevistador Falou a nos formadores que tm experincia em formao de

adultos, depois os que no tem, considera que isso faz diferena, no trabalho nos

cursos EFA?

Entrevistada Sim, ns o que tentamos sempre que os formadores j tenham

experincia de cursos EFA, no apenas de educao de adultos, mas de cursos EFA,

para que j percebam um bocadinho tambm o que que so os temas de vida, o que

so os referenciais, validar competncias, etc. Porque uma lgica diferente doutras

formaes, no ? A pessoa pode ter a experincia de formao em cursos, mas que

despejar aquela matria toda para quem esta interessado e pronto. No validar

competncias, mas tambm s vezes aparecem-nos pessoas que pelo curriculum e por

aquilo que sabemos das pessoas, so muito boas tecnicamente, pronto, no tem a

experincia de educao de adultos, mas pronto, vo t-la aqui, e temos de a enquadrar.

Portanto no apenas pela experincia que tem nos cursos EFA, mas tambm por

aquilo que nos parece a nvel de competncia profissional naquela rea e a a pessoa

pode no ter experincia, mas parece-nos uma pessoa to boa naquela rea que ento

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ficamos com ela, por exemplo a formadora de decorao de espao uma professora

aqui da EB2/3, a, mas uma pessoa que tm uma galeria, que d, faz workshops de

pintura e que eu j tinha ouvido falar imenso dela, de professores que tiveram aulas com

ela e ento convidamo-la e ela como so vinte e cinco horas l conseguiu encaixar nos

seus afazeres ela no tinha experincia nenhuma nos cursos EFA, nunca tinha, ela tm

experiencia de educao de adultos, porque ela d aulas a professores a colegas. E d

aulas a alunos, a midos, mas tambm tinha educao de adultos, no eram cursos

EFA, portanto tivemos que a enquadrar aqui, mas foi uma mais-valia, portanto ela no

tinha experincia, mas ela foi uma mais-valia no curso, naquela rea ela muito boa, e

fez vinte e cinco horas todas de prtica e levou-os a galerias, portanto eles tiveram

oportunidade de fazer coisas e conhecer stios que no conheciam e que ela lhes

transmitiu isso, portanto o ser formador e ter experincia em cursos EFA bom, mas

no o nico critrio.

Entrevistador Que competncias que considera essenciais para exercer a sua

actividade como mediadora e formadora de cursos EFA?

Entrevistada Primeiro tem que ser uma pessoa com alguma capacidade de

assertividade depois saber um bocadinho de gesto de conflitos, estas duas para mim

so as principais isto pensando nos formandos. Depois a nvel da gesto tambm,

porque uma gesto continua, que h imenso trabalho para fazer, no mbito do curso,

portanto o programa informtico, o SIGO, a gesto do cronograma, o contactar

com formadores, seleccionar formadores, seleccionar formandos, eu digo isto porque eu

participei em tudo, desde o lanamento, desde a candidatura, a divulgao, o contacto

com entidades para nos enviarem formandos, a sesses de divulgao no Instituto de

Emprego com pessoas do Instituto de Emprego, com empresrios, contabilistas, para

divulgarem pelos clientes, fizemos de tudo um pouco e eu participei em tudo isso, mas

tambm porque isto aqui, a APD um sitio diferente, no ? Porque uma entidade

formadora que lana um curso EFA e que v contratar um mediador, o mediador no faz

nada disto, mediador e pronto. Ns aqui no, portanto estamos desde a concepo

mesmo at a avaliao, portanto vou estar em tudo. J estou a fazer instrumentos, a

preparar instrumentos de avaliao, nesta fase estamos no contacto com as entidades

estagirias para definir os planos individuais de estgio, etc. Que at fazem o que

estamos agora, mas eu j estou tambm a fazer inclusive instrumentos de avaliao

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portanto eu estou em tudo, quando eu digo a capacidade de gesto, provavelmente

noutra entidade, se calhar o mediador no ter que ter tanto, aqui, temos que ter, porque

quem est desde o incio faz seleco de formandos de formadores, cronograma e gere

tudo isto e o SIGO e etc., dossiers pedaggicos e tudo o mais tm que ser algum que,

que conhece bem a legislao da formao e de preferncia tambm que, que a nvel de

coordenao de formao, experincia a nvel de coordenao, porque apesar de haver

um coordenador, o coordenador no est a tempo inteiro, no , portanto no est todos

os dias e preciso algum que esteja e o mediador est diariamente no curso, no .

Entrevistador Descreva-me um pouco o perfil dos formandos que frequentam os

cursos EFA no vosso caso, que tipos de formandos que

Entrevistada Que tipos de formandos, portanto pessoas todas desempregadas como

bvio, no , algumas desempregadas desde sempre, portanto nunca trabalharam e

outras desempregadas, enfim algumas poderei dizer mesmo que nunca quiseram

trabalhar, portanto sempre viveram assim, outras pessoas desempregadas recentemente

e sem emprego, no , portanto um caso triste da vida, ficaram desempregadas, portanto

temos os desempregados profissionais por assim disser e os desempregados por

circunstncias que lhes foram alheias, estas pessoas desempregadas que nunca fizeram

nada, algumas este curso despertou-lhes o interesse e uma oportunidade de mudar de

vida, afinal eu quero trabalhar, afinal eu no quero viver dependente do meu marido

para o resto da vida, outras no, outras vieram para este curso, porque como tinham ido

para um de jardinagem, de administrativo ou de outra coisa qualquer, foi um curso que

apareceu aqui em So Brs e portanto foi-se inscrever, a depois temos as pessoas

desempregadas que ficaram por circunstncias alheias a sua vontade, ficaram mais

recentemente e essas sim, no estavam habituadas a estar nesta posio e agarraram isto

como uma grande oportunidade de se voltarem a inserir no mercado de trabalho e estas

pessoas so muito mais empenhadas, dedicadas, motivadas, depois, neste curso

queestou aqui a pensar temos pessoas, no temos aquelas pessoas que ns dizemos

que so os papa cursos, ou seja quando vieram para aqui no vinham de uma rotina de

cursos, no vinham, mas que neste momento temos trs ou quatro pessoas que o

objectivo que tm seguirem, irem fazer outro curso de nvel secundrio, ou seja,

gostaram de estar aqui catorze meses a receber a bolsa e a aprender e aumentar as

competncias e ficarem com o 9 ano e agora a seguir querem fazer o 12 ano. Se por

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um lado isto no est correcto porque se a vontade era s fazer o 9 ano, por outro lado

isto tambm serve para dar um pulo na sua vida. Portanto h pessoas que no estavam

habituadas a estudar, que nunca mais tinham pensado voltar escola, agora pelo facto

de estarem aqui, de fazerem o 9 ano, j esto com vontade de ir mais alm e temos

pessoas que j falam, duas ou trs jovens que, que j falam em ir para a universidade,

porque sentiram-se valorizadas e com competncias suficientes para ingressar, para ir

mais alm, portanto para continuar a estudar e para ir mais alm, isso so as mais

jovens, as mais velhas evidente que o que querem uma carteira profissional para

irem trabalhar.

Entrevistador Falou a na questo dos papa-cursos. Pode-me tentar explicar um

pouco melhor essa ideia?

Entrevistada So as pessoas que fazem curso atrs do outro sempre a procura da

bolsa, no , aqui quando fizemos a seleco tentamos que isso no existisse, portanto

tentamos que no tivssemos pessoas que, que vivem disso e portanto eu penso que

isso, isso agora acaba, Porque j no vai haver tantos cursos financiados e portanto isso,

mas sabemos que ao longo dos anos destes anos em que houve financiamento para

estes, houve pessoas que atrs de um curso faziam outro, faziam outro e faziam outro e

iam saltando de curso em curso, independentemente da rea de formao que fosse, no

estavam interessados na rea, estavam interessados era estar integrados num curso e

receberem a bolsa e enquanto esto ali, no esto a fazer outra coisa, tm a bolsa no

um valor muito, muito baixo, portanto, considerando estes formandos ainda esto

recebendo o IAS completo, mais subsdio de refeio mais subsidio de deslocao caso

venham de fora e ainda se colocarem os filhos em, em unidades, creches, jardins de

infncia ainda tm subsdio de acolhimento, portanto eu acho que isto a, para quem no

estava habituado a ter nada, isto ptimo, porque ns vamos trabalhar e ningum nos

paga a deslocao, nem ningum nos paga o acolhimento de uma criana. Se temos que

pr o filho para podermos ir trabalhar a entidade patronal no nos paga nada disto,

portanto eles esto numa espcie de almofada financeira o que depois desagrada e a

seguir tentam estar noutro curso e noutro curso e noutro curso.

Entrevistador Uma pessoa que receba todos esses apoios na totalidade pode

chegar a a que valores?

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Entrevistada Olhe o IAS so 419,22, o subsidio de refeio so 4, 27 por dia ronda

se no faltarem os 90,00 por ms o subsidio de deslocao so 12,5% do IAS que d

por volta de 50,00 para quem recebe o mximo. Para quem de c da vila, por

exemplo no recebe nada, porque no se desloca, portanto poder ir no mximo at aos

50,00 e o subsdio de acolhimento vai no mximo at 209,00, portanto temos

formandos a receber 800,00 por ms, evidente que depois tm que pagar o passe

mensal, esse dinheiro no fica todo para eles, no e tm que pagar a creche isto , este

pagamento mediante recibo, portanto no podemos pagar nada que no seja, na

verdade eles gastaram, s que so hbitos que se criam depois as pessoas, por exemplo

nesta rea, saiam daqui com a carteira profissional com o 9 ano, vo trabalhar num lar,

numa unidade de cuidados continuados, num centro de sade, etc. Vo ganhar o qu?

500, 600 no mais do que isso e j ser um bom ordenado, no ? Com o 9 ano e

uma carteira profissional no ganharo muito mais do que isto, tm que continuar a

colocar o filho na creche, tm que, por exemplo se mora em So Brs e arranja um

trabalho em Faro, tm que se deslocar ou pagar o autocarro ou ir no seu carro, o que

que acontece, j no tm uma entidade formadora que lhes paga o acolhimento nem a

deslocao ou seja j acham que vo ganhar mal, j no querem ir, porque aos 500

descontam a creche, descontam o subsdio de transporte, j no querem ir, portanto

acham que j no esto a ganhar bem, no , portanto, por um lado isto uma mais-

valia para o formando poder frequentar a formao que isto seja tudo pago, por outro

lado isto tambm cria maus hbitos, porque depois no se inserem no mercado de

trabalho, porque depois tem estes custos e ento no esto para ir s ganhar 500 ou 600

euros e ter que pagar estas coisas, a entidade patronal depois no paga isto, no ? Isto

depois tambm cria um bocado estes vcios, porque durante os catorze meses tiveram

numa situao, realmente de alguma comodidade.

Entrevistador E ao nvel de empenhamento dos formandos sente que h

diferenas?

Entrevistada H diferenas h, pessoas muito empenhadas, temos pessoas, este grupo

como eu referi, tem pessoas muito capazes, a grande maioria dos formandos so pessoas

muito capazes, com muitas competncias e que so capazes de ir mais alm, portanto

no s o 9 ano, mas o 12 e ir mesmo para a universidade, mas nem todos trabalham da

mesma forma, portanto h pessoas com mais dificuldade que trabalham bem, h outras

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que tm grandes capacidades e trabalham bem, mas h outras que tambm, que podem,

que podiam ir mais alm, portanto se trabalhassem mais tinham feito isto com muito

mais, com uma avaliao, muito superior ao que tem, porque se encostaram um bocado,

portanto temos algumas pessoas que so capazes de dar mais. Temos uma formanda que

posso dizer que h cerca de dois meses foi um bocado apertada, portanto foi: ou voc

muda ou no vai ter as coisas validadas, porque uma pessoa que capaz, mas que se

encostava aos outros e chegava atrasada todos os dias e com a desculpa que estava a

tomar, alias, verdade que est a tomar, com a desculpa que est a tomar comprimidos

para a depresso e ento depois tinha sono de manh e ento de manh chegava sempre

atrasada, mas era todos os dias, dez, onze da manh, e foi chamada vrias vezes a

ateno at que um dia foi mesmo formal, foi escrito em acta, ou muda ou no vai

continuar na formao. que nem sequer vai continuar, portanto excluda da

formao, esta atitude no pode continuar, mudou do dia para a noite, agora das

primeiras a c