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NA SALA COM DANUZA DANUZA LEÃO Sumário Prefácio, 7 apresentação, 9 Introdução,11 Os assuntos,17 Dinheiro, 23 Amizades, 31 Apresentando pessoas, 41 Ceral, 47 Na mesa, 59 Beleza, 69 Correspondência, 75 O telefone, 81 Viagens, 87 Hospedar,101 Festas, 111 Trabalho, 121 O rumo, 139 Os solteiros,145 O mundo gay,153 Noivados e casamentos ,157 Morando junto,163 Banheiro,173 Gastronomia,177 O bar,185• Ressacas,189 Um brunch,195 Bichos, 201 Mães & crianças, 205 Prefácio É longa a trajetória das pessoas que nunca se conformam, que não concordam com o estado das coisas. Danuza Leão, como os grandes inconformados, prefere a acidez da verdade, para depois cercá-la de bom humor. Com muita energia, ela sempre brigou por tudo, para de tudo poder gostar com energia ainda maior. Em muitas ocasiões ela se achou, com seus gostos, só, justamente por nunca ter feito parte de nenhuma maioria. Percorreu um longo caminho de escolhas certas e erradas. E por isso mesmo viveu sempre melhor que muita gente. O suficiente para poder enumerar - com o sense of humour de uma globetrotter - o que distingue o

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NA SALA COM DANUZADANUZA LEÃO

Sumário

Prefácio, 7apresentação, 9Introdução,11Os assuntos,17Dinheiro, 23Amizades, 31Apresentando pessoas, 41Ceral, 47Na mesa, 59Beleza, 69Correspondência, 75O telefone, 81Viagens, 87Hospedar,101Festas, 111Trabalho, 121O rumo, 139Os solteiros,145O mundo gay,153Noivados e casamentos ,157Morando junto,163Banheiro,173Gastronomia,177O bar,185•Ressacas,189Um brunch,195Bichos, 201Mães & crianças, 205

Prefácio

É longa a trajetória das pessoas que nunca se conformam, que nãoconcordam com o estado das coisas. Danuza Leão, como os grandesinconformados, prefere a acidez da verdade, para depois cercá-la de bomhumor. Com muita energia, ela sempre brigou por tudo, para de tudo podergostar com energia ainda maior. Em muitas ocasiões ela se achou, comseus gostos, só, justamente por nunca ter feito parte de nenhumamaioria. Percorreu um longo caminho de escolhas certas e erradas. E porisso mesmo viveu sempre melhor que muita gente. O suficiente para poderenumerar - com o sense of humour de uma globetrotter - o que distingue o

bom gosto do meramente banal.As escolhas -estéticas, sensoriais ou afetivas -determinam a qualidade

da vida que se leva. São uma depuração permanente, que conduz aoaperfeiçoamento do gostar: o objetivo, afinal, de toda atividade movidapelo coração. E é precisamente disso que se trata aqui. O livro deDanuza é um gentil achado de gostos, preferências e distinções, ditadasprimeiro pelo coração grande e ruidoso que ela tem. E segundo, e nãomenos importante, pelo agudo senso de individualismo que desenvolveu.Essa percepção torna preciosas e plenas as escolhas de Danuza. No

falar, no sorrir, no vestir-se, no comer, no morar. Sobretudo noconviver. Para tudo isso existe um tom que não é o dos livros deetiqueta nem o das cartilhas de rebeldia. Achar esse tom custou a Danuzaalguns anos de trombadas (que ela distribuiu sem a menor cerimônia),muito tempo em buscas afetivas, uma boa dose de decepções com asbobagens mundanas e, acima de tudo, muito romantismo e muito bom humor.São, aliás, os dois pólos deste livro de savoir vivre. A cada

conselho, Danuza não consegue esconder o arfante sorriso da românticasempre à espera da valsa no final. E a cada sugestão de conduta, oleitor não vai conseguir segurar o riso solto que - mais que vestidos,pratos e belezas - ela sempre fez questão de exibir e provocar nosoutros.Não que tenha sido esse percurso apenas o deleite ditoso e

despreocupado de quem vagou à procura da melhor bolsa no Hermes ou domelhor prato em Marrakech. Danuza passou por momentos maus e deles tirouuma tranqüila sabedoria. Aquela que abre nela mesma - e tenta abrir nosoutros - a doçura da alma e as emoções do afeto.

Renato Machado

Apresentação

O telefone tocou, Danuza propôs fazer um livro sobre barbarismos ebarbaridades que ela não agüentava mais ficar calada. A leoa queriarugir. A leoa queria enumerar delicadas delícias de uma gramáticacomportamental, destilada após anos de filosofias e bobagens. Nestereino da farola, só Danuza pode servir de indicador do comportamento: hádécadas ela é ponta-de-lança de acontecimentos fervilhantes, vulcânicose estrondosos. Só o seu nome destrincharia qualquer charada social,política ou sexual do Brasil que vai de JK a PC.Nada de mais para uma personagem tão tão como ela. De manequim ousada

nos anos 50 à avó destrambelhada do ano 2000, muito champanhe rolou,muita tolice foi ouvida, inúmeras cenas fortes radiografadas e,naturalmente, um acúmulo luxuoso de situações arquivou-se na cachola deDanuza Leão. Essa intrépida mulher não pretende sossegar tão cedo. Podemos céus desabarem colinas sobre sua cabeça, podem as águas do Atlântico

avançarem sobre seu apartamento carioca, mas ela permanecerá impávida nocolosso e tirana até o osso. Danuza é assim: danada.Danuza foi assim: linda. Danuza continua linda e assim: a mais ligada

das desligadas. Sabe de tudo. E finge, disfarçada sob a juba, que nuncaviu, nunca ouviu ou nunca soube de nada. Elegância é assim, garotos.Inicialmente eu seria uma espécie de ghostwriter do livro, porque

Danuza garantiu que não escrevia nem bilhete para a faxineira. Grandementirosa. Na seqüência, ela comprou uma máquina de escrever e preparouem menos de 20 dias o texto estrutural que deveria ser refeito por mim.Eis que de repente, não mais que de repente, surgiu daquela maçaroca delaudas uma autora engraçada, com estilo e inventora de uma pontuaçãosemelhante aos pensamentos de Andy Warhol. Um, dois, três: Danuzaescreve bem. Salve lindo pendão da esperança.Poucas coisas foram alteradas no texto final de Danuza. Juntos,

arrumamos os capítulos, editamos assuntos, enxugamos algumas vodkas egargalhamos. Situações reviradas, tristezas lavadas e bobagensultrapassadas. As consultas foram várias: até alguns livros de ElsaMaxwell vieram à tona para que nada se perdesse nas gafes imemoriais.Talvez com a função de servir de antídoto, Na sala com Danuza sai no

momento mais mal-educado do Brasil. De uma coisa se pode ter certeza: éum livro que não corre em busca do tempo perdido, nem da migalha do pãoderrubada sobre a mesa. Ao contrário, Danuza inventou um jeito desalpicarglamour na burrice social dos últimos tempos. `1'alvez estes,aliás, dêem muito laquê e pouco humor. Danuza é antes de tudo uma forte.Danuza antes de tudo é uma garota elegante perdida entre orangotangos deblachtie.

Eduardo Logullo

Introdução

Se você acha que este livro é um tratado sobre etiqueta, errou delivro. Para aprender a etiqueta tradicional, é só escolher qualquer dostítulos que existem no mercado, todos excelentes e absolutamente iguais.Este livro é resultado de como eu vejo certos procedimentos, como meparece que devemos nos comportar diante de certas situações, astradicionais e as mais insólitas, com presença de espírito e bom senso.Para escrevê-lo, andei lendo livros brasileiros e estrangeiros, e acheicurioso que as regras sejam quase sempre as mesmas, à exceção de algunsregionalismos. Longe de mim querer criar polêmica. Mas me sinto nodireito de propor outras soluções, sem com isso afirmar que sejam asmais corretas. Com bom senso, insisto, liberdade e às vezes contrariando"o que ficou combinado". Sinta-se livre você também, para com gentilezafazer como sua cabeça e seu coração mandarem. Autoritarismo também emetiqueta? Nem pensar.Este livro quer facilitar a vida de uma tribo que trabalha, tem

dinheiro mas não muito, deseja saber das coisas mas não tem tempo nempaciência para decorar regras. Gente que divide contas ezzi restaurantese que, quando vai passar o fim de semana em casa de amigos, combinam"cada um leva o quê". Nele não se ensina como se beija a mão de umasenhora, como se dobra o cartão de visita, se o pai da noiva fica àdireita ou à esquerda do altar. Quem quer aprender isso, como já disse,deve comprar outro livro.Desmistificar. Guardar algumas regras imutáveis do bom convívio social

e jogar fora, sem hesitação, um monte de coisas que já não têm razão deser. Resolver situações que há 2000 anos não existiam. As boas maneirastornam a vida mais agradável, sim, mas não deixe que as regras rígidasda etiqueta sejam um tormento em sua vida. Tortura, nunca mais.Descomplicar. Mostrar que, mesmo com pouco dinheiro, sem pertencer a

família tradicional, tudo se pode aprender. Ser gentil, elegante, viverde maneira charmosa, gostosa, fascinante. Não é possível que, quase noano 2000, ainda se fale em guardanapos de organdi: quem vai lavar eengomar esses guardanapos? Quando vejo um na minha frente, ficoparalisada, nem toco, com pena de sujar. Mas não é disso que querofalar; e de pessoas que podem criar um clima alegre, caloroso,simpático, até mesmo sofisticado, usando uma pilha de guardanapos depapel, grandes e coloridos.Boas maneiras, gentileza, cortesia. Quando em excesso, claro que e

artificial, é apenas uma pessoa representando o papel de bem-educada. Éfake, não engana ninguém. É aquela que nunca deixa de mandar tlores nosaniversários, Natal, todas as datas convencionadas. É a profissional (asdatas sempre lembradas pela secretária, que tem uma agenda apenas paraisso). Só que, no terreno das amizades, dos afetos, pede-se menosprofissionalismo e mais calor humano.(Por que nunca me mandaram flores no dia 6 de maio? Ou em 22 de

outubro? E por que essas datas? por nada apenas por ter sido lembradagratuitamente nesses dias. Eu teria adorado.)Entre essa forma de educação, que me mata de tédio, e a educação a que

me refiro, há um abismo. Claro, nem por isso vamos deixar de seguir asregras que aprendemos em criança e que ajudam a tornar mais agradável epossível o convívio entre as pessoas. É importante dizer não a certasconvenções, certas formalidades. Mas só as pessoas naturalmente educadasconseguem fazê-lo com propriedade. Em comportamento, prepare-se, hámilhões de `dependes' . Não existem duas situações iguais, o assunto éinesgotável. A cada vez que eu, escrevendo este livro, me perguntavacomo agir, me via começando com um `depende' .Tenha coragem e independência para fazer o que você gosta, as coisas

em que você acredita. Esteja sempre pronto a ajudar quem cometeu umagafe. Que essa ajuda surja como um reflexo, como quando você vê alguémescorregando na rua e, sem pensar, corre para ajudar. E nunca seaproveitando do fato de, por saber mais, fazer a pessoa se sentir aindapior do que já está, depois do erro cometido. Afinal, mesmo no peito de

quem não conhece etiqueta, também bate um coração. Claro, no mundooficial as regras são obrigatórias. Mas nós sabemos do tédio que é avida nesse mundo. A obediência cega a essas leis jamais proporcionou aninguem um só momento de alegria ou criatividade.Terminei de escrever este livro pensando no quanto o Brasil anda

mal-educado. Da vulgaridade à grosseria, os homens que dirigem nossopaís se tratam - e nos tratam - sem o menor respeito. É possível que aboa educação tenha desaparecido dos nossos costumes? Ninguém respeitaninguém, os códigos desapareceram. Tudo se nivela, mas por baixo. Nãoserá esse o momento de pensar em conviver mais educadamente com nossosemelhante? Um sorriso , segurar a porta para o outro passar significama mesma coisa, aqui ou em qualquer lugar do mundo. Se tratada comgentileza, a pessoa, por um instante que seja, se sente especial, e issoa faz não se sentir assim tão só.Há alguns procedimentos que amenizam as relações entre os homens. Já a

polêmica grosseira, as discussões barulhentas, os insultos, asagressões, são golpes mortais na arte de conviver e, indiretamente, aobom funcionamento da democracia (para não falar do péssimo exemplo quedão aos cidadãos).O culto aos grosseiros yujepies felismente está acabando. A verdadeira

cortesia é pensar primeiro no outro antes de pensar em si mesmo. Se duaspessoas querem passar por uma porta estreita, vai ser preciso que uma dêlugar à outra. Isso é cortesia. Se estendo a mão com um sorriso, o outrotambém estende a sua e me retribui o sorriso. As pessoas se imitam. Seeu te trato mal, você também me trata mal. Continuamos a nos imitar. Ouso da cortesia é uma maneira de evitar o caos. O mundo está cada vezmais povoado e, quanto mais gente existir, mais necessitamos da boaeducação.Nunca pertenci a nenhum grupo, sempre pertenci a muitos. Esse é o

lugar que escolhi para mim. Para os mais formais, devo parecer umaespécie de ET Para os mais jovens, méio careta. É no que dá, pertencer atantas gerações. Faço parte de uma tribo longe de qualquer tradição oupreconceito, de meio social indefinido, uma pessoa com idéias próprias,um certo bom senso. E que, mesmo defendendo as belas maneiras, dá maisvalor à ética nas relações do que a qualquer procedimento tido comocivilizado.Às vezes me pergunto por que inventei de escrever este livro. Para ser

sincera, não é sempre que faço tudo como o livro diz. Quando acordo coma Receita Federal ao telefone me cobrando um recibo de 1989, o bancodizendo que o cheque ainda não foi compensado e o porteiro avisando quea bateria do carro arriou; aí, a Telefônica me deixa 20 minutosescutando uma musiquinha irritante, o tranqüilizante acabou e só comreceita, sinceramente: será que nesse dia vou segurar a porta doelevador para alguém? E se, depois do livro publicado, começarem a mecobrar um comportamento irrepreensível? Logo de mim, que às vezes soutão malcriada? Não sei. Mas também não devemos levar as coisas tão a

sério. Vamos procurar ter boa vontade conosco e com os outros.Compreender que às vezes as pessoas não agem como deveriam, acontece.Ria de você mesmo, quando fizer uma bobagem.Depois de ler um artigo de Millôr sobre o assunto, resolvi deixar o

texto quase tal como foi escrito, misturando `você' com `tu', e pronto.Não custaria nada mudar as concordâncias, mas não é assim que falo,aliás ninguém. 'Também às vezes me dirijo aos homens, outras vezes àsmulheres. Vocês vão entender, claro. Não gostaria de dirigir o livro aum só sexo, já que existem tantos.Este livro pode até passar por superficial. Mas o que procurei, mais

que tudo, foi, com algum humor, resgatar a verdadeira delicadeza entreas pessoas. Gentileza não é artigo de luxo, mas sim de primeiranecessidade.

assuntos Os estatutos do salão

Assuntos são estruturas que sustentam diálogos ou são fàíscas queprovocam blaclzouts imediatos. Assuntos são fios de correntes elétricasperigosas e que precisam ser conectados no plugue exato. Assuntos sãovírgulas no ar, exclamações na cabeça e sorrisos nas bocas. Assuntos sãocontatos imediatos ou declarações de guerra. Assuntos são cerejas oubueiros abertos na calçada. Assuntos são ciladas ou atalhos. Assuntossão orações ou pragas. Assuntos são música. Ou, silêncio, por favor.

Os assuntos

Citando Goethe, "na sala, debatiam-se idéias, enquanto na cozinhafalava-se de pessoas". Preste atenção nisso.

A primeira regra de um causeur é saber ouvir.

Não conte histórias muito longas. Dê chance ao outro de expor asidéias dele.

Se você não domina o assunto que está sendo debatido, ouça comatenção, faça perguntas. Pode ser uma bela maneira de ampliar seusconhecimentos.

Seja atento, curioso, interessado. Nada pior que ouvinte distraído.Faça como Jô Soares quando está entrevistando.

Exibir erudição é pedante e antipático. Se você for mesmo muito culto,finja ser apenas médio. Seja modesto.

Evite falar de negócios em festas, apesar dessas ocasiões serem ideaispara fazer contatos. Se for o caso, marque um novo encontro para

prosseguir o business iniciado.

Médicos em festas costumam gerar uma roda de hipocondríacos. Nãoaproveite o encontro casual para fazer uma pequena consulta. Receitainfalível, se você for o médico: com a cara mais séria, diga:"Dispa-se".

Deixe para contar gracinhas sobre seus filhos quando estiver numareunião de mães. Com certeza elas ouvirao tudo com atenção, para depoispoderem contar as gracinhas dos seus próprios. Como você sabe, na vida,quase tudo é troca.

Dropping names: você conhece essa expressão? Literalmente, quer dizerjogar nomes (na conversa). Explicando melhor: trata-se de pessoas que,no inicio de uma conversa, casual, muito casualmente citam "quandoGianni me disse", se referindo a Gianni Agnelli, presidente mundial daPiat. Ou "eu e Santiago almoçávamos juntos todo sábado", falando dosaudoso Santiago Dantas. Essas pessoas sabem tudo, absolutamente tudo,sobre a vida dos ricos e importantes do mundo inteiro. Não se trata defofoca. Apenas querem mostrar uma intimidade que não têm com ospoderosos do mundo. Poderosos social e financeiramente. Me mata decansaço gente assim. Apesar de serem pessoas inteligentes, nessa horabaixa nelas a burrice de achar que ninguem está percebendo nada.Lamentável. E chatérrimo.

Cuidado com o uso de expressões em outras línguas. Pode haver quemdesconheça e aí fica indelicado. Também falar demais de pessoas elugares importantes aos quais o comum dos mortais não tem acesso, mesmosendo verdade, é antipático. Afinal, nem todos têm a chance de ser tãoviajados, bem-relacionados, cultos, inteligentes e brilhantes como você.

Encontrando um velho amigo, resista às reminiscências. "Lembra defulano?" "Que fim levou sicrano?" Perguntas que costumam terminar emdepressão brava.

Evite comentar sobre seus sucessos com quem está em má fase. Sobre seumaravilhoso trabalho com quem está desempregado. Sobre seu estonteantenamorado com quem está sem nenhum. Além de indelicado, pode atrair olhogrande.

Pintou baixaria e começaram a falar da vida dos outros. Mal,naturalmente. Procure não contribuir para que o assunto floresça. Mascomo ninguém é Madre Teresa de Calcutá, pode ser que você tenha umanovidade daquelas irresistíveis. Mesmo assim, lembre-se: um fatocomentado entre duas pessoas é uma coisa, mas numa roda tem peso maior,é bem mais grave. Assuntos ferinos incendeiam, não se pode negar. Mas

não chegue ao ponto de preferir perder o amigo à piada.

Palavrões. Há quem tenha o dom de dizê-los e parecer que estão falandode flores, enquanto em certas bocas viram palavras de baixo calão mesmo.Se você não sabe ao certo em que categoria se encaixa, melhor nãoarriscar.

Vai contar uma história e sentiu que, exagerando, fica melhor? Vá emfrente, sem o menor pudor.

Nada é mais chato do que ouvir uma história pela segunda vez. Cuidado.

Ria muito das histórias que são para rir, mesmo não achando muitagraça. Desperte o ator que há em você.

Procure ser bem-informado. Leia vários jornais, boas revistas. Leia oslivros mais recentes, releia os clássicos. Mesmo superficialmente, saibao que acontece na política, moda, artes e afins.

Inteligência, charme e simpatia salvam uma festa, enquanto baixaria emaldade são intoleráveis. Mas, se o assunto começar a cair, o remédiomais fácil continua sendo: sexo, drogas e rock and roll. E corrupção,claro.

Não seja radical em suas opiniões. Tenha flexibilidade para mudar, seouvir uma melhor que a sua. Também discorde. Se todo mundo estiver deacordo, morre o assunto.

Não fique só no eu, eu, eu. Para isso, pague uma sessão de análise.

Cuidado com o excesso de sinceridade.

Defenda a monarquia com veemência, às vezes, só para provocar.

Se quiser que o mundo saiba de uma determinada história, escolha apessoa certa, conte e peça segredo absoluto.

A graça, o humor devem acontecer na hora, espontaneamente. Daí o pavorque é, numa mesa, um contador de anedotas. Evite, evite. Mesmo que apiada seja ótima.

Dinheiro A verdadeira fonte da juventude ou o combustivel do planeta oudinheiro: essa coisa misteriosa que compra até o amor proprio

Tutu, grana, largent, bufunfa, cobres, níqueis. Ah, o dinheiro.Aqueles aparentemente inocentes pedaços de papel são capazes de revestir

de alegria uma situação, assim como podem transformar tudo em umdevastador vendaval. Ter dinheiro é ótimo. Não ter é um problema, osmonges trapistas que me perdoem. Dinheiro: palavra doce e complicada.Emprestar, pagar, usar, adiantar, roubar, esconder, exibir, conter,rasgar. Com qual verbo você prefere conjugar os cifrões?

Dinheiro, saidas

Houve um tempo em que falar de dinheiro era feio, mas atualmente quasenão se fala em outra coisa. Então, vamos lá?

Nos dias de hoje é perfeitamente natural que se telefone para umamigo, amiga, dizendo: "Vamos jantar, eu, Simão, Antônio, cada um paga oseu, quer vir?" Depois dessa primeira vez, já fica estabelecido que ascontas com esse grupo serão divididas, e não se fala mais nisso.

Mas quando telefona um amigo tipo rico, e te convida, não se mexa. Édistribuição de renda.

No caso de sair um grupo tipo "cada um paga o seu", na hora de fazeras contas, a pessoa que não bebeu paga menos, claro. Quem estiverfazendo a divisão deve dizer: "Eduardo, que não bebeu, paga tanto".

Se você sai pela primeira vez com um rapaz e ele pergunta onde vocêquer ir, peça a ele três opções, aí você escolhe uma delas. Quando aconta chegar, cabe à mulher propor dividir. A partir da reação do homem,você insiste ou deixa pra lá. Não aproveite a situação para fazer umdiscurso sobre a igualdade dos sexos, etc.

Se, afinal, não dividiram a conta porque ele não deixou, você podesempre dizer: "Então, por hoje, tudo bem, mas a partir de agora, a gentedivide, combinado?" Se o cavalheiro ainda assim disser "não, imagine",então você esquece e pronto.

Se você, mulher, quer retribuir quem sempre te convida e não temcondições para fazê-lo em casa, convide para um restaurante, combinandoantes com a direção, o gerente, que no dia seguinte você passa parapagar. Se isso não for possível, deixe o cartão de crédito ou um chequecom o maitre antes do jantar e, na hora de ir embora, simule uma ida aotoalete para assinar.

Leve sempre na bolsa dinheiro suficiente para poder voltar para casasozinha, se for o caso. Às vezes é.

Quando ele perguntar "o que você vai beber?" devolva a pergunta com um"e você?" Bem prático.

Se sua namorada tem mania de só beber champanhe, seja indulgente.Talvez ela não tenha bebido o suficiente em criança.

Se o cavalheiro disser "aqui tem uma pizza ótima", não hesite, digaque você adora pizza e peça.

Se você está a pé e a moça vai te buscar no carro dela, na hora devoltar, você deve levá-la até em casa. Se ela disser que não precisa,etc., ainda assim insista. Se ela for mesmo inflexível, será gentil desua parte, apesar de inútil, dar um tempo e telefonar para ver se elachegou bem. Se nenhum dos dois tem carro, podem marcar direto norestaurante, mas que o homem seja pontual, chegue até uns dez minutosantes, para não deixá-la sozinha esperando.

Se você convidou alguém para o restaurante, jamais, jamais mesmo, façaqualquer comentário sobre o preço de qualquer prato. Nem para dizer queé baratíssimo. Se você quer ser mesmo muito elegante, vá logo dizendo:"Você não quer uma lagosta?" É um risco, claro, ela pode aceitar. Mas,se ela for tão elegante quanto você, poderá responder: "Olha, não vouquerer porque para mim lagostas só no Palm em Nova York." Chapeu para osdois.

Comentários sobre preços de restaurantes só são permitidos quando seestá a uma distância mínima de 15 00 quilômetros.

Se você convidou, não vá anunciando que não precisa trazer o couvert,nem sugira dividir o prato alegando que está sem fome. Não pense que aspessoas são idiotas. Todo mundo percebe e isso não fica nada bem paravocê. Se o restaurante está acima de suas posses, é simples: não ofreqüente, existem muitos outros, mais de acordo com o seu padrão, ondevocê poderá se comportar mais elegantemente, sem preocupação com aconta.

Estando no carro da moça, pague sempre o estacionamento e omanobrista.

Recebendo dinheiro, seja no guichê de um banco, de sua maior amiga, desua mãe, conte. Conte na hora e na frente da pessoa. Se houver engano,resolve-se na hora. Se não se resolve na hora, não se resolve nuncamais. Quando é você quem está entregando o dinheiro, insista para que aoutra pessoa confira.

Se amigos se encontram casualmente num vernissage, por exemplo, eresolvem jantar juntos, é claro que essa conta é dividida. Afinal,ninguém convidou ninguém.

Basicamente, a coisa funciona assim: quem convida deve estar preparadopara pagar. E quem foi convidado, para dividir.

No caso de ter um namorado que paga sempre todas as contas quandovocês saem, mesmo que ele seja rico, proponha às vezes que venha jantarna sua casa. Se não der, porque você mora com a fàmília, etc., que sejana casa dele. Encomende um jantar num restaurante e chegue já com tudoem cima, é bem gentil.

Se o grupo combinar de jantar num restaurante e você estiverabsolutamente dura, coma um cachorro-quente em casa antes de sair e namesa peça um chá, alegando uma terrível gastrite ou úlcera; também valedieta.

Quando for levar sua dama em casa, dificilmente você vai encontrar umavaga para estacionar seu carro e acompanhá-la até a porta, como seria ocorreto. Mesmo assim, espere até que ela entre no prédio para dar apartida no carro. Até arrisque uma vaga dupla, se o lugar parecer meioperigoso (e que lugar não parece?). Tenha certeza de que ela está emtotal segurança, antes de ir embora.

Amizades "Coisas para se guardar do lado esquerdo do peito"

Pra início de conversa, a maioria das pessoas consegue sobreviver atésem romances ou namoros, mas não sem amizades. Pode existir sensaçãomais confortadora do que uma agenda telefônica coalhada de númerosconfiáveis? As amizades, portanto, são essenciais para manter umfuncionamento regular dos neurônios. Só que conservá-las exige técnicas,minúcias, delicadezas, concessões. (Quarde seus amigos como o mais rarodos vinhos. E saiba que quanto mais tempo, etc. e tal...

Sagradas as amizades. E o que é necessário para que duas pessoas sejamamigas? Algumas afinidades, uma ética rigorosa no comportamento, umalealdade inquestionável. E, o mais importante, aquela coisa que não sedefine, nem na amizade nem no amor, que não se sabe por que acontece: ogostar.

Nunca fale mal de um amigo, nunca critique.

Não revele jamais uma confidência.

Aceite o amigo como ele é. Se a maneira dele ser te incomoda,afaste-se. Conviver e ficar falando mal, qual é a sua.

Lembre-se de que com os amigos deve-se fazer como fazem os bancos:

recadastrar periodicamente. As pessoas mudam, e às vezes para pior.

Se seu amigo cometeu uma supergafe e você acha que ele gostaria de sercorrigido, para aprender e não repeti-la, corrija. Mas na intimidade, sóvocês dois. Nunca conte a ninguém o erro que ele cometeu, nem que foivocê quem ensinou o procedimento correto.

Seja discreta. Se você perceber que sua amiga não está contando algumacoisa da vida dela, em primeiro lugar ninguém é obrigado a contar tudo aninguém. Quem sabe você foi indiscreta e ela soube?

Se você descobriu - sem sombra de dúvida - que sua amiga e confidentese fez de mais do que engraçadinha com seu marido - em alguns casos valetambém para ex-marido -, corte direto, sem perdão. Já que você não podematá-la, o que seria o ideal, rompa, ignore-a, nunca mais cumprimente.Há certos crimes que não prescrevem e traição de amiga é um deles. Demarido é menos grave, acredite. Até porque eles acabam contando.

Em briga de casal, ouça, se for o caso, e procure ser o mais neutropossível. Nem pensar em dizer: "Bom, já que as coisas estão nesse pé,vou te contar", etc. • conta. Nunca faça isso. Quando eles reatam, sobrapara você.

Não revele pormenores de seu namoro para suas amigas. Um dia, umadelas pode usar tudo que ouviu de você para seduzir seu namorado e atéfazer uma bela intriga, contando o que você, num momento de fragilidade,contou para ela. Tem gente assim, viu? Cuidado.

Às vezes a vida separa as pessoas. Marido novo, interesses novos,acontece. Se sua amiga, que vivia em discotecas, vira zen, mesmo que aamizade permaneça, o assunto acaba, claro. Mesmo que você fique triste,procure entender. O gostar não inclui necessariamente a convivência. Sevocês se gostam mesmo, podem um dia se reencontrar e tlcar tudo como eraantes, sem cobranças do tempo em que não se viram nem se procuraram. Étão bom amizade assim.

Nunca faça perguntas sobre assuntos pessoais. Se o outro quiser falar,ouça e fique quietinha. Não indague sobre afetos, casamentos, situaçãofinanceira, vida sexual, etc.

Um cansaço, aquela amiga que se lembra mais de sua vida que vocêmesma. Em detalhes. E que não só lembra, como insiste em falar, quandotudo que você quer é precisamente esquecer. Amigas devem ter poucamemória sobre nossa vida.

Adoro a história de alguém que, perguntada sobre quem era sua melhor

amiga, respondeu: "Depende. Para falar de moda, Susana. De receitas,Joana. De doenças, empregadas, Marina. Para viajar, Regina. De problemade filho, Odete. De namorado, Ana. De dieta, Márcia".

Volto à tecla da indiscrição. Adoro aquela que vai logo avisando: "Sefor para guardar segredo, nem me conte. Se eu não puder repetir, não tema menor graça".

Nunca tente roubar a empregada de sua amiga, essas coisas não seperdoam.

Se você ouvir de um amigo "olha, vou te dizer uma ' verdade de quetalvez você não vá gostar", responda sem hesitar: "Não me diga. Só queroouvir mentiras que me façam muito feliz". Verdades, se você quer mesmodizer , diga mas saia correndo.

Não economize elogios. Se você acha uma pessoa bonita, um pratosaboroso, uma casa aconchegante, diga, diga, diga. Dê prazer aos outros.

Se um amigo te pedir um favor, nunca comente depois o trabalho que tedeu, tudo que você teve que fazer para conseguir, etc. A pessoa fica tedevendo - e nada pior do que esse tipo de dívida.

Nunca fique amiga de ninguém só porque a pessoa é rica. Não convidepara madrinha ou padrinho de casamento, de filho, etc. Dinheiro não ésarampo, não pega. Não perca tempo tentando se fazer de esperta, essamistura não dá certo: Business and pleasure.

Amigas que se mostram tão solidárias nas horas difíceis deviam fazerum esforço para também o serem nas horas do sucesso, do êxito.

É engraçado. No decorrer da vida surgem algumas mulheres que teperseguem, são fixadas, sei lá. Ou imitam a maneira de você se vestir,ou sua personalidade, ou vão atrás dos homens que são - ou que já foram- seus. Conversando um dia com um amigo, analista sério, ele me disse:"Quem sabe, no fundo, isso não é paixão por você?" Sabe que pensando bempode ser verdade? Cruzes.

Empréstimos

Não é a qualquer pessoa que se pode pedir alguma coisa emprestada. Hápessoas que não gostam, e essas pessoas geralmente nunca pedem nada.Melhor não pedir.

Antes de emprestar, avise que você empresta numa boa, mas que tem opéssimo hábito de querer de volta.

Se houver perda ou dano, não conte; tente resolver o problema e chegarcom o caso já solucionado.

Jóias, coisas que podem quebrar, que não podem ser repostas, melhorevitar.

O carro. Muito arriscado. Mas, se pedir, devolva lavado e com o tanquecheio. Sem ter recebido nenhuma multa nem atropelado ninguém.

Um vestido, uma blusa, etc. (sapatos nunca). Faça uma vistoria, paraque não volte com nenhuma mancha ou sem um botão, tudo tem que estarimpecável. E devolva rapidinho.

Não pense que livros, discos, filmes de vídeo, não precisa devolver. Éclaro que precisa. E na hora da devolução que tal oferecer um livroótimo que você acabou de ler? Erilberto Braga, que empresta com o maiorprazer, tem uma agenda onde anota o que emprestou, a quem e em que data.•E cobra a devolução. Certíssimo.

Tenho um outro amigo que, quando lhe pedem dinheiro emprestado, elesepara 20,00, e dá, dizendo claramente que é um presente. Assim, segundoele, não perde o dinheiro nem o amigo.

Falando em dinheiro: se você precisa mesmo pedir, diga no ato quandovai devolver. Se por infelicidade não puder pagar na data prevista,telefone, explique, marque outra data. Sobretudo não suma. E pague,claro.

Não obrigue a pessoa a ter que pedir de volta o que te emprestou. Nadamais constrangedor. E mais: a displicente costuma fazer comentários tipo"mas que coisa, por causa de um simples livro". Pois é.

É bom sempre tratar as pessoas da mesma maneira. Tratar melhor quandoestá precisando de alguma coisa e mudar o tratamento quando não estámais é uma vergonha. Quando acontece comigo (e acontece), fico péssima,me sinto usada, não tem sensação pior.

Das amizades, fàltou falar do melhor: `daquela' amiga. Aquela paraquem você telefona para discutir suas dúvidas, contar seus sucessos,seus fracassos. Na casa de quem você vai e se joga em cima da cama paraconversar sobre se corta ou não a franja, a possibilidade de um novotrabalho, um fâ que pintou na véspera - ou despintou - enfim, tudo.Aquela que te dá força, é paciente quando você surta, te ensina umareceita, te dá altos toques. Aquela que se envolve, toma partido, comprasuas brigas (raro, hoje em dia). Que sofre com você e sobretudo

-sobretudo -vibre com seus sucessos. Que não te inveja. Aquela na casade quem você pode pedir para tomar um banho porque está fazendo calor,que te ensina um novo truque de beleza, com quem você tem a liberdade deabrir a geladeira para ver o que tem de bom. E mais, mais importante doque tudo, aquela com quem você conta, incondicionalmente. Na lealdade,na ética, na amizade enfim. Você tem uma amiga assim• Eu tenho. Bom tervocê como amiga, viu, Regina.

Apresentando pessoasNunca pergunte o sobrenome da rainha Elizabeth

Levanto? Sento? Dou três beijos ou aperto a mão? Sabe aquele abraço? Eos tapinhas nas costas? Eu me chamo Danuza. Você tem caneta aí? Ah, ondeforam parar aqueles cartões? Posso perguntar seu sobrenome? Acho que jános conhecemos em outro lugar, ou não? Tenho certeza, sou boafisionomista. Levanto, Sento? Com licença. Upa, desculpe. Você tem fogo?Levanto? Sento? Oi, tudo bem? Meu nome é e...

Apresentando pessoas

Quando leio: "O homem é sempre apresentado a uma senhora. Os maisvelhos aos mais jovens, salvo o presidente da República ou altosdignitários da Igreja. O rapaz é apresentado à moça, a senhora aocavalheiro muito idoso; o mais jovem não estende a mão antes que o maisvelho o faça, o homem não estende a mão a uma senhora". Querem meenlouquecer. Leio, releio, me sinto uma idiota porque não consigo,simplesmente não consigo, lembrar e sincronizar tudo isso. E quem tem aprecedência, um ministro do Supremo Tribunal Federal ou um ministro deEstado. Sei que vou mesmo ter que aprender essas regras tão tiranas , e,para a maioria das pessoas, tão inúteis? Já resolvi: não vou nem quero.Só vou contar para vocês como faço e, quem achar que estou certa, que mesiga.Os norte-americanos são os mais práticos nesse item. Quando apresentam

duas pessoas, vão logo dizendo: "Esse é Luís Henrique, grande arquitetodo Brasil, agora mesmo resolveu construir um shopping center no Acre, opior é que pode dar certo. Já projetou um hotel no Pantanal, costumapassar férias numa ilha da Noruega, toma uísque em dois copos ao mesmotempo, foi seminarista, tem horror a comida japonesa e não perde ofestival de Salzburg". Em seguida ao longo prólogo faz o mesmo emrelação à outra pessoa. Logo logo o outro (que também é norte-americano)estará perguntando o preço de seus projetos, o quanto ele makes a year,etc. O que poderia assustar um brasileiro é perfeitamente normal emoutras culturas. Pecado seria, por exemplo, apresentar alguém, dandocomo referência, ter sido a e.z de fulano ou sicrano.

A depender do tipo de pessoa, hora, local e idade, dá para apresentar

informalmente, dizendo apenas o primeiro nome de cada um. Já pensou, numbarco, as pessoas semidespidas e alguém dizendo "Jorge Guinle, JoséDuarte de Aguiar"? Bem mais de acordo, "Jorginho, Zé". Quando o grupo jáestá formado, basta apresentar quem chega dizendo: "Este é Jorginho". Ecom um gesto, mas sem apontar: "Lígia, Marcelo, Pinky, Roberto". Essamaneira vale para discotecas, estádios de futebol, autódromos, desfilede escola de samba, e por aí afora. Aliás, vira um exercício curioso.Quando não se sabe direito quem é quem, corre-se o risco de achar maischarmoso o marinheiro do que o dono da lancha...

Quando apresentar duas pessoas, procure dizer alguma coisa tipo "vocêstêm um amigo comum". Ou um hobby. Nunca uma namorada.

Após duas da manhã, as apresentações costumam ser muito informais:"Você conhece essa gracinha?" Depois dessa hora, ninguém se entendemesmo.

Se você encontra uma pessoa e percebe que ela não está tereconhecendo, nada de "lembra de mim; garanto que não está lembrando?"Vá direto: "Lembra de mim? Sou fulano e nos conhecemos em casa debeltrano em Paris". Caso contrário, seja franco, diga logo que você nãoé bom fisionomista, está esclerosado, e acabe com a tortura.

Apresentando duas pessoas, a ordem é apresentar a menos à maisimportante. Por exemplo: "Madonna, você conhece Rosane?"

Tratar uma pessoa mais velha por você é uma coisa que, contrariandotodas as regras, costuma alegrar muito o coração de um idoso.

Quando você chega a uma casa, bar ou restaurante e encontra um grupojá instalado, não é preciso estender a mão ou beijar cada um. Dê um alôgeral, e tudo bem.

Havendo intimidade para um abraço e o abraço acontecendo, cuidado. Comos cabelos, o colar, os brincos, o decote, etc. Uma vez, recebi umabraço superafetuoso. Tão afetuoso que o dedo de quem me abraçava tocou,com todo o afeto do mundo, o ponto dolorido da minha coluna. Cada vezque vejo esse amigo sinto a mesma dor, e morro de medo de que a coisa serepita.

Num casal, um dos dois é famoso e o outro nem tanto. Não cometa aindelicadeza de só dar atenção ao famoso.

Um homem sempre se levanta para ser apresentado a uma mulher ou a umhomem mais velho. Mas em restaurantes, bares e discotecas, ficamliberados do gesto - devido à falta de espaço -, bastando dizer

"desculpe, não dá para levantar".

Já as mulheres não se levantam nunca. Nem em apresentações, nem emcumprimentos. Só para uma anciã ou um cardeal, a menos que se estejanuma discoteca. Mas o que iriam fazer essas pessoas numa discoteca?

O beija-mão. Óh, o beija-mão. Se você aprendeu em criança com seu pai,que beijava mão como ninguém, maravilha. Se não é o caso, fique na sua,observe muito, treine com sua irmã, prima, mãe, copie. Há muitas coisasque não se aprende num livro, e esta seguramente é uma delas.

Aos de outra religião, nada obriga a beijar o anel de um cardeal ou dopapa.

Manda o protocolo que as pessoas se dirijam ao presidente da Repúblicachamando-o sempre de senhor presidente, V. Exe. Eu sempre chamei ospresidentes apenas de presidente e senhor, e eles nunca reclamaram. Ai,o protocolo.

Geral Como vencer na vida sem derrubar cinza no tapete persa

Não pise no meu pé, não me cutuque, não grite, não bata a porta, nãoescorregue, não balance as pernas, não feche a janela, não dê milho aospombos, não peça meu biquíni emprestado, não raspe o tacho, não seatrase, não espirre, não ronque, não me aborreça, não aumente o som, nãominta, não puxe o tapete, não corra, não mate, não morra. Gentileza já!

Se você estiver fazendo cooper e cruzar com um amigo que tenta pararpara bater um papinho, não pare: cooper é coisa séria, não saia doritmo. faça um sinal de "depois a gente se fàla" e vá em frente.

Praia. Nunca fique pedindo coisas: óleo importado, protetor solar,cigarros, as horas, etc. Proteja-se dessas pessoas mais do que de umainsolação. Ou já chegue dizendo "que absurdo, sabe quanto paguei poresse óleo?"

Nunca chegue em casa de ninguém sem avisar, a não ser que você tenhase sentido mal exatamente na porta da casa do seu amigo. Assim mesmo,interfone.

Não tente passar na frente de quem está numa fila. De banco, cinema,casamento, missa, ponte aérea. Em alguns casos, você não só pode comodeve dizer gentilmente, "acho que eu estava aqui antes de você".

Ao visitar um doente, que a visita seja curta. Mesmo assim, só váavisando antes e com a certeza de que será bem-vinda. Cuidado com os

assuntos. Não peça detalhes da doença, exames. Não conte a história deuma enfermidade parecida, porém mais interessante.

Para uma visita de pêsames, •0 minutos bastam. Mesmo que você percebaque sua presença está fazendo bem, espere que peçam para você ficar umpouco mais.

Quando nasce uma criança, também seja breve. A depressão pós-partoexiste. Não vá em grupo. Pouco barulho. Não toque no bebê, não peça parasegurar no colo. A casa já está cheia de novidades, não é hora paraentreter visitas. Não espere que te ofereçam mais do que um copo d'água.Não faça disso um programa. Não fume. Não fique contando histórias. Sóhá um assunto: o bebê e tudo que diz respeito a ele. O parto, asmamadeiras, fraldas, se chora de noite, se o umbigo caiu, se a mãe temleite, se empedrou, etc.

Quando terminar qualquer visita, espere que abram a porta para você.Não vá logo botando a mão na maçaneta.

Sonhos? Só conte para o seu analista.

Não descreva a batida de carro que você quase deu, mas que nãoaconteceu.

Não conte o último assalto de que você foi vítima - ninguém agüentamais.

Quando te perguntarem "oi, tudo bem?" não engrene com um "ah, minhafilha, com uma gripe!" e aí, os detalhes. Sobretudo, não diga o nome dosremédios que está tomando.

Não boceje. Se acontecer e você não puder mesmo evitar, que seja emtotal silêncio. Tente, apertando a língua no céu da boca e, ao mesmotempo, a ponta do polegar no dedo indicador. As freiras diziam serinfalível. Se não funcionar, mãozinha na frente da boca.

Você deixou de beber ou fumar, que maravilha. Mas não precisa humilharninguem mostrando como você é forte, cheio de força de vontade. Sejamodesto. Aceite um drinque, sim, vá botando água e mais água, mais gelo,finja que está bebendo, é.tão mais simpático. Ou faça como aquelasmulheres antigas, de cabaré. Tome chá com gelo e finja que é uísque.

Se um amigo te pede um copo d'água, nunca sirva na bandeja. Entreamigos, nunca se usa bandeja.

Nunca entre num aposento sem bater na porta antes. Se for no quarto do

seu filho pequeno, ou no seu próprio, com o marido lá dentro, dê sempreumas batidinhas antes.

Não se lê correspondência de outra pessoa. Nem se mexe na bolsa, ou seolha a agenda, ou a gaveta, ou se escuta uma conversa. Isso é invasãointolerável de privacidade. Respeite. o diário de sua filha, mesmo queela tenha só cinco anos.

Cuidado com o perfume. Se gosta de usar, seja muito discreta. Emalguns restaurantes da França, grupos com mulheres perfumadas, mesmo comreserva, o maitre inventa uma desculpa e não recebe. Em respeito aopaladar das mesas vizinhas. Perfume atrapalha quem está comendo.

Um homem deve sempre ajudar a mulher que está carregando algumembrulho, a não ser que ele já esteja com as mãos ocupadas.

Às vezes você encontra uma pessoa que não via há muitos anos, tipocolega de colégio. E leva um susto, tal o estrago dos anos. Dislárce adepressão que o encontro te causou e não deixe transparecer que vocêquase não a reconheceu.

Não chegue muito perto nem toque seu interlocutor. Guarde a distânciaregulamentar de 50 centímetros. A não ser, claro, que já estejam acaminho do motel.

Se espreguice muito, mas só na intimidade do quarto; ou quando acordarde um cochilo, numa rede, por exemplo. Aliás, cuidado com cochilos. Jápensou se você ronca? E como saber se você ronca?

A não ser na mais completa intimidade, nunca tire os sapatos em casade ninguém. Se tirar, que seus pés estejam impecáveis. Aliás, se nãotirar, tambem.

Se estiver viajando para o Japão, leve duzias de meias. Lá, tira-se osapato o tempo todo para tudo.

Quando encontrar uma amiga visivelmente grávida, cuidado para nãodizer "não sabia que você tinha se casado". Talvez ela não tenha.

Se alguém estiver com o zíper aberto, os peitos de fora, avisediscretamente (correndo o risco da pessoa ficar com raiva de você terestragado o número que ela preparou).

Alguém vai jantar em sua casa. No dia seguinte te manda tlores,agradecendo. Se você, por sua vez, telefonar agradecendo, não vai acabarnunca a ladainha. Fique atenta e basta que, na próxima vez que se

encontrarem, agradeça. Mas não esqueça.

Homens merecem flores às vezes. Por que não mandar, no dia em que seuamigo está assumindo um cargo ou recebendo uma homenagem? Mas eviteflores do campo, rosas vermelhas. Prefira orquídeas plantadas em vaso,por exemplo.

Em enterros ou missas, não vá produzida. Não é necessário vestirpreto, mas é imperdoável atacar de perua numa hora dessas. Missas eenterros não são festas, embora às v zes certos velórios sejam tãoanimados quanto, só faltando mesmo bebida, música, e alguém começar adançar. Eu ouvi outro dia, na fila de uma missa, duas embaixatrizesconversando, uma dizia para a outra: "Ah, mas então seu ascendente deveser Áries". E olha que eu estava uns dois metros atrás.

Você encontra num jantar a coelhinha da Playboy do mês, aquela que foipôster e que deixou você doidinho. Comporte-se. Não seja vulgar. Nãotrate a moça com intimidade, nada de piadinhas. Não seja grosseiro.

Os tratados de etiqueta divergem, mas prefiro subir a escada nafrente, e que na descida o homem vá primeiro. Nada me dá mais segurançado que um ombro masculino onde eu possa apoiar minha fragilidade,geralmente equilibrada em saltos altos. bbbSe cruzar con uma celebridade, tipo artista, e disser que o acha o

máximo, a pessoa vai adorar. Mas pare por aí. Deixe-a em paz.Autógrafos, nem pensar.

Cuidado com o profissional da perfeição. Ele não perde missa,casamento, batizado, aniversário, noivado, primeira comunhão, formatura,não esquece nenhuma data, manda fllores, telegramas, presentes. Enfim,não deixa você em paz. Nunca. Eu, positivamente, não agüento.

Se a sua babá te convidou para ser madrinha de casamento dela, nada deir simplesinha, com medo de chocar. Vá superelegante, foi para isso queela te chamou. E não se esqueça de mandar de presente o mais caro doseletrodomésticos. Foi para isso também que ela te convidou.

Delicadeza é você não usar sua roupa mais deslumbrante quando suaamiga está mais para o simplesinho. E também não se espremer como umasalsicha dentro do seu tubinho mais apertado quando for sair com suaamiga gordinha.

Ninguém deve pretender ser o que não é. Me lembra a história de umamigo francês que ganhou muito dinheiro e anunciou que ia comprar umcastelo. Ao que o outro respondeu: "castelo, não se compra. Se herda".

Se você se acha uma Paloma Picasso e acredita num batom vermelho,cuidado com os beijinhos, as golas, os guardanapos.

Perguntar a idade de uma mulher é crime, só que ainda não previsto noCódigopenal. Ainda. Mas se ela revela e a juventude dela te surpreende,não assovie, comentando "mas ninguém diria".

Óculos escuros. Todo mundo usa, de manhã, à tarde, alguns até mesmo ànoite. É uma pena que poucos tomem o trabalho de tirar, na hora de umencontro. Um olhar pode significar tantas coisas.

A televisão freqüentemente apresenta uma desumanidade a toda prova. Háanos assisto alguns jornalistas fazendo as mesmas perguntas, tipo "o quevocê sentiu quando a enchente levou sua casa com tudo que tinha dentro,matou sua mãe, seu marido e seus seis filhos? O que a senhora pretendefazer agora?" Juro que não acredito no que estou vendo e ouvindo.Repórteres de vídeo: sejam menos óbvios e mais humanos.

Se você pegar um táxi com um amigo e ele entrar na frente, não tomeisso como má educação, muito pelo contrário. Na verdade, ele teve oincômodo maior, que é o de quem entra primeiro. Talvez seja bom que elediga: "estou entrando na frente para te facilitar".

Elevador

Subindo num elevador, o homem deve segurar a porta para as mulheres,os mais jovens para os mais velhos. Mesmo com pressa, ninguém vai perdermais de cinco segundos com essa delicadeza.

Fumar em elevador nem pensar. É também aí que se percebe o perigo dosperfumes.

Quando alguém se apressa para alcançar o elevador, segure a porta paraesperar.

Se alguém, gentilmente, te der passagem para entrar na frente, aceitelogo, para não ficar aquele "não, por favor , depois de você". Eagradeça.

Ao entrar num elevador com ascensorista, agradeça, ou diga por favor,quando pedir o andar. Já pensou o que deve ser essa profissão, o diainteiro trancado, subindo e descendo?

Você pode estar conversando um assunto palpitante. Entrou no elevador,silêncio. Só retome o assunto depois de sair.

Cinema, teatro

Em cinema, teatro, não converse. Não mexa demais a cabeça, não fiqueaos beijos. Cuidado com o barulho do papel de bala, do saco de pipocas.Não jogue no chão, quando acabar. O que fazer? não sei, use suacriatividade. Se estiver com tosse, fique em casa tomando xarope, alugueum filme. Se o seu vizinho estiver fazendo tudo isso e te incomodando,troque de lugar, nada de discussões públicas.

Num teatro, concerto, nunca chegue depois do espetáculo começado(mesmo em cinema, evite). Atrasou? Espere lá atrás e deixe para seacomodar no primeiro intervalo. Outra coisa: mesmo odiando, não saia nomeio. Também nesse caso, espere o intervalo.

No cinema, outra coisa que você não deve fazer é apoiar seus joelhosnas costas da cadeira da frente. Aliás, é uma pena, porque é umadelícia. Mas, e se a cadeira estiver vazia? Como resistir?

Quando você tiver um encontro, de trabalho, de amizade, de sedução,nada revela melhor a importância que tem para você esse date do que amaneira como você está vestida, arrumada. Estar elegante, bem`apresentada', como se dizia antigamente, é sempre uma homenagem àpessoa com quem você vai se encontrar.

Quando alguem lhe estende a mão, nunca recuse. A não ser, claro, quetenha fortíssimas razões para isso. Mas se essas razões existem, a outrapessoa sabe, claro. Então, por que estendeu?

Seja senhor absoluto de sua vida. Faça dela algo de muito interessante- e que só pertence a você. E lembre-se: em qualquer setor, o problemanão é o que se faz, mas como se faz.

Respondendo a uma pergunta de José Simão, "quando tem blitz em boate,quem é que deve entrar primeiro no camburão, o homem ou a mulher?"Claro, meu querido Simão, que é o homem. É sempre ele quem deve corrertodos os riscos, quando está acompanhado. E depois, quem sabe enquanto ohomem está embarcando não dá tempo para ela sair correndo?

bbb 60

A gente só percebe como os cotovelos são dobradiças tiranas na hora damesa. Ah, os cotovelos. Portar-se bem à mesa requer algo além de saberonde enfiar os cotovelos, segurar os talheres ou usar o guardanapo. Sevocê não comer como um ogro, não cuspir arroz no parceiro nem tomar a

sopa com sonoplastia de cinema mudo, saiba que nem tudo está perdido.Garçom, o menu por favor?

Na mesa, no restaurante

Entrando num restaurante, o homem toma a frente, para falar com omaitre, escolher mesa, etc. Também deve esperar a mulher se sentar e sódepois se acomodar.

Sentados, que nenhum fique olhando em volta, como se procurasse algumacoisa. De toda a atenção à pessoa que está a seu lado. Faça com que elase sinta especial, única. A não ser que você seja colunista social, e atrabalho.

Mesmo sem fome, peça alguma coisa, não deixe o outro comer sozinho.

Cuidado com os cotovelos. Só os apóie na mesa quando não estivercomendo.

Se cair água ou vinho na mesa, fique fria. Se for champanhe, molhe aspontas dos dedos e toque atrás das orelhas, dá sorte. Mas se derramar ocopo inteiro e você perceber que vai cair no seu colo ou no chão, use oguardanapo para diminuir o tamanho da catástrofe. Depois, peça outro.

Segure o copo de vinho ou champanhe pela haste, para não interferir natemperatura do líquido. A não ser que você esteja tomando um conhaque.

Use os talheres começando pelos de fora. Se você cometer algum erro,não dê importância. Seus amigos delicadamente fingirão que nada viram.Afinal, há alguma coisa menos importante do que, um dia, usar o garfoerrado?

Tomando sopa, o silêncio deve ser total. Que se possa ouvir o ruído dovôo de uma mosca. Se a sopa vier num boul (taça, xícara grande comasas), no final, você pode levá-la diretamente aos lábios, sem a ajudada colher. Cuidado para não deixar a colher dentro da taça, é horrível.

Não se balance na cadeira.

Não tamborile na mesa com os dedos.

Mesmo que você adore comer, não se atire no prato como se estivessesaindo de uma greve de fome. Se você for mesmo um Pantagruel, coma umacoisinha antes de sair de casa. A não ser, claro, se for um jantar tipoConfraria dos Gastrônomos. Nesse caso, fique 72 horas sem comer,esperando o dia do jantar.

Será que é preciso dizer.•

Não cncha demais a boca.

Não mastigue de boca aberta.

Não fale de boca cheia. Mas aprenda a falar com alguma coisa na boca -desde que pouca. Ninguém vai ficar esperando que você mastigue, engula,e só então volte a falar. Treine em casa diante do espelho.

Nunca aponte para nada com o dedo - só para as estrelas.

Não gesticule nem converse com alguém do outro lado do restaurante.Peça licença e vá lá, se for o caso.

Não coma nada com as mãos, a não ser alcachofras e aspargos (masquando os aspargos vêm como acompanhamento de uma carne, tudo de garfo efaca). Mas pode e deve, em nome do prazer, atacar uma asa de frango, oua batata frita que passou diante de seus olhos - é irresistível. Emchurrascarias, vale uma costelinha.

Lagostas, caranguejos nunca devem vir inteiros para a mesa. Só nabeira da praia, com uma tabuinha e um martelo. Em rortaleza, depreferência.

Se o seu garfo caiu no chão, que pena. Mas não se preocupe nem seabaixe para apanhar. Chame o garçom e peça outro.

Quando você perceber que um caroço de azeitona ou uma espinha de peixeforam parar dentro de sua boca, fique frio. Passe discretamente para oprato, fazendo escala no garfo. Se você sentir que vai sufocar, nãohesite, grite por uma ambulância.

Ao levar uma porção à boca, que isso aconteça em cima do prato. Se porinfelicidade alguma coisa escorregar do garfo, não cairá no seu colo nemno chão.

Pão, ovos e saladas têm horror a facas. Por isso, nada de folhas dealface inteiras, o melhor é que já venham rasgadas (com as mãos - e mãosmuito limpas).

Quando for beber durante o jantar, passe o guardanapo levemente noslábios antes de matar a sede.

Palitos. Não devia nem falar, mas vou. Nem pensar, mas nem pensarmesmo. Só escondida, trancada no banheiro, luz apagada.

Se estiver resfriada, não se esqueça de ter um lenço de prontidão. Nãouse, nunca, o guardanapo como lenço. Se tossir, mão na frente da boca.Se está assim tão mal, por que não ficar em casa lendo um bom livro?

Quando se levantar da mesa, nunca dobre o guardanapo. Que fique bemclaro que ele não poderá ser usado novamente se não for lavado epassado.

Na salinha de um restaurante japones, não se comporte como seestivesse na praia. Às vezes vejo cenas em que: não acredito. Pelostrajes e posição dos corpos dos comensais penso que estou em Búzios,sinto até o cheiro do protetor solar. Nesses jantares orientais, aliás,verifique as meias antes de sair. Meia furada no calcanhar é de chorar.

O macarrão. Espete uma porção com a ponta do garfo, encoste-averticalmente no prato, enrole. (Entendeu alguma coisa) Observe os quesabem, quando estão fazendo alguma coisa que você não sabe. Ah, omacarrão: nunca ajude com a colher.

Quando for beber, ou comer um pedacinho de pão, descanse os talheres.

O molho que sobrou no prato. Se estiver mesmo maravilhoso, peçalicença com muito charme ("Ah, não resisto! "), espete um pedacinho depão na ponta do garfo e regale-se. [Na França, não precisa nem dogarfo.) Afinal, é uma homenagem ao chef. Mas só faça isso quando houveruma relativa informalidade e, claro, não existir uma colher especialpara o molho.

Terminou, garfo e faca no prato, paralelos - cruzar, jamais.

Antes da sobremesa, tudo que diz respeito aos pratos de sal deve serremovido. Mostarda, azeite, vinagre e cia.

Não empurre o prato depois que terminar, é horroroso.

Frutas. Para facilitar a vida, peça as que costumam vir já cortadas.Assim, ficam dispensadas as lavandas - pode ser melhor?

Nunca deixe a colher dentro de uma taça de sorvete, xícara de chá oucafé.

Cuidado com o dedinho ao segurar qualquer xícara. Ou um copo. Se eleinsistir em levantar, use um esparadrapo ou superbonder.

Atenção: uma pessoa realmente elegante nunca se irrita se a mesa quelhe deram no restaurante não é a mais bem situada. (Claro, o lugar emque estiver sentada passa a ser automaticamente o melhor.) Também nãoexige tratamento especial do maitre. E trata tão bem os garçons quanto ogerente do banco. E outra coisa: fala com os garçons olhando para elesnos olhos. garçom é gente.

Mesmo que você tenha um compromisso depois do seu almoço ou jantar,não fique olhando para o relógio, em agonia. Dá a impressão de que vocêestá louco para ir embora. Mesmo que esteja, disfarce.

Drama: como comer um sanduíche americano? Se você pretende permanecercom sua imagem intacta, não peça jamais. Com a mão, não dá. De garfo efaca, também não. Os únicos que você pode comer, na maior elegância, sãoos do hotel Imperial em Tóquio. De tão pequenos, tão delicados.

Num restaurante, que sejam no máximo quatro pessoas. Mais de quatro ésuplício, a não ser em mesas redondas.

Se você já completou 18 anos, evite restaurantes e boates às sextas esábados. Esses dias, para quem aprecia um certo conforto, são para ficarem casa, ou em casa de amigos. Se não resistir, vá, mas vista-se o maissimplesmente possível.Atenção: fale baixo. Em sua casa, na casa dos outros, em lugares

públicos. É incrível o ruído que se ouve quando se entra em algunsrestaurantes, sobretudo os não acarpetados. Me sinto num galinheiro. Eos salões de beleza? Acho que é por isso (também) que não os freqüento.

A insustentável leveza do toucador

E aquela virtude que, felizmente ou infelizmente, põe a mesa. Tudobem: alguns feios têm lá seu charme. Mas as criaturas belas parecem queforam contempladas com um tipo de magnetismo que pode ser `pior' que umímã. Ninguém consegue olhar indiferente para o belo. A partir da beleza,sinto muito, mas até a burrice é perdoada. Portanto, manter-se bemfisicamente não passa de uma obrigação, de um abre-caminho, de umamaneira de se declarar que ainda existe muita joie nessa vida afora.Espinha ereta, barriga pra dentro, olhar sedutor e pronto: com belezapode-se convencer até o papa a comprar uma batina usada.

Se você é uma daquelas mulheres que nunca acordou desejando ser umairlandesa de cabelos ruivos, ou uma platinum blonde, parabéns. Você deveser muito feliz convivendo tão bem com você mesma. Se você resolveuassumir seus cabelos brancos, triplos parabéns. Acho lindo uma cabeça

branca (desde que não seja a minha). Mas se já chegou o dia em que vocêdecidiu dar uma variada, ou permanecer nos 50 até os 100, atenção: araiz dos cabelos deve estar impecável, nem um só milímetro aparecendo.

Aliás, é engraçado esse negócio de vaidade. Outro dia estava eu comobras em casa e o operário falou que faltavam sacos para o entulho. Paraganhar tempo, desci até uma loja de material de construção quase ao ladode minha casa e, apressada, quis levar os sacos sem embrulhar. Oproprietário da loja, com rara sabedoria, disse no ato: "Dona Danuza, asenhora não vai sair sem embrulhar esses sacos, já pensou se encontracom um ex-namorado?" Aprendi essa. Nem que seja para comprar um maço decigarros, é sempre bom pensar que podemos cruzar com um ex-namorado.

O tempo, claro, não melhora a aparencia de ninguém. Dizem que melhoraa cabeça, mas ainda tenho minhas dúvidas. Aos 20 anos, a textura dasunhas é tão fina quanto madrepérola. Os cílios são longos, os cabelossedosos. Os dentes, naturalmente claros, etc. Bem, quando as coisascomeçam a piorar, você tem que pagar o preço que for para se cuidar.Isso custa paciência, perseverança, tempo, dinheiro. Mas vale a pena.Nada para jogar você na mais horrenda depressão do que se olhar noespelho e enxergar um monstro.

Alguns cuidados não custam nada. Corrija sua coluna. Tenha posturaereta. Respire fundo, use toda a capacidade dos pulmões. Ande uma horapor dia. Beba 2 litros de água diariamente. Cuide-se. Ame-se. Mais,muito mais do que a seu próximo. Nem todos têm a sorte de nascerdeslumbrantes, com mãos e pés perfeitos, etc. Mas temos a obrigação demantê-los sempre bem-cuidados. Para ser gentil com os outros, para comvocê mesma. Há paixões que acabam quando a gente vê o pé do namoradopela primeira vez. Ouviram, rapazes?

Lembre-se de que não existe ninguém irremediavelmente feio, e nada quenão possa ser melhorado. Todos têm essa possibilidade, e é tãodivertido! Sabe aquele dia em que parece que tem uma nuvem cinza bem emcima da sua cabeça? Pois nesse dia, mais do que nunca, acerte suacoluna, levante a cabeça e vá em frente. Não pergunte por que - apenasfaça.

Fora a atenção dispensada à beleza, procure ser organizada. Existemmulheres cuja bolsa é tão, mas tão bagunçada que dá a impressão de quede dentro vai sair um filhote de jacaré. Leve sempre na bolsa batom, pó(de arroz), lenço, escova de cabelo, de dentes, dentifrício, fio dental,guaraná em pó, tranqüilizantes (para o caso de ver um vestido numavitrine que te tire o fôlego), cartões de crédito, dinheiro cash, talãode cheque, caneta. Documentos. E tudo em ordem.

Eu, quando saio de meias pretas, levo sempre um outro par na bolsapara caso de acidente. Seja prevenida.

Evite ser sempre muito original na maneira de se vestir. Mas de vez emquando -ah, de vez em quando -extrapole e seja mais do que original.Seja francamente extravagante.

Não se preocupe com a moda. Mas seja obsessiva com a elegância.

Torpedos, telegramas e cartas-bombas

Pena que poucos conservem a prática da correspondência. Com o DDI àmão, as pessoas só recorrem ao papel e caneta se for para remeter umacarta para aquela ilha perdida ao sul do atol de Muroroa. Mas umenvelope lacrado é de uma atração irresistível. Só não vale fazerninguém de pombo-correio quando se pretende dar notícias para um amigoque mora no Marais ou um parente esquecido no Suriname. Só se for umacarta-bomba.

Sempre se responde a uma carta.

Carta recebida não se mostra a ninguém.

Evite escrever coisas que não devem ser do conhecimento público. Dojeito que as coisas vão, você está arriscado a abrir um jornal e ver,transcrita, a carta de amor que você mandou, já pensou?

Uma carta ou cartão para um amigo, a não ser que sua letra seja umgarrancho, deve ser sempre escrita à mão. À máquina, só se o assunto forcomercial.

Nunca deixe de datar sua correspondência. No alto, à direita. Ou nofinal, à esquerda.

Tenha bloquinhos de diversos tamanhos, com seu nome completo ou suasiniciais. É menos formal. A não ser que você curta mesmo a formalidade.

É sempre bom ter cartões na bolsa, dois ou três, para o caso de,estando na rua, resolver mandar umas flores. Particularmente, odeiocartões de visita, prefiro aqueles maiores, duplos, que servempraticamente para tudo. Ao mandar cartões para os amigos, faça um traçoem diagonal com a caneta, sobre seu nome impresso. Para quebrar um poucoa cerimônia da coisa.

Nunca abra nem leia uma carta na frente de outra pessoa. Telegrama

pode, pedindo licença. Pode ser urgente.

Escrevendo carta ou cartão, se errou, não rasure. Comece tudo de novo.

Cuidado como escreve o nome das pessoas. Para alguns, trocar um s porum z, um y por um i, é ofensa grave.

Se morre um amigo e você não conhecia a família, mande mesmo assim, umtelegrama. É sempre bom saber que nossos mortos eram muito queridos.

Uma carta para alguém com quem não se tem intimidade deve ser assinadacom nome e sobrenome.

Cartões, só mesmo os comerciais. Para serem trocados em lugarescomerciais, com finalidades comerciais. Em casos mais pessoais, tire dobolso sua bela agenda e anote o número do telefone.

Se alguém quiser te mostrar uma carta, discretamente recuse. Não setorne conivente com esse tipo de procedimento.

Quando for passar um fax, não se esqueça de que esse meio decomunicação é totalmente indiscreto, pelo menos por enquanto. Se forcorrespondência sigilosa, pasede fa..

Há muitos anos, morava no Rio um espanhol, adido cultural da embaixadada Espanha, García Vinolas. Inteligente, bonito, charmoso, era o sucessoda cidade. Um dia, em Madri, citei num grupo que éramos amigos. Quasetodos que ali estavam também eram seus amigos. E uma dessas pessoas mepediu que levasse uma carta para ele. Claro, com o maior prazer. No diaseguinte nos encontramos para que me fosse entregue a tal carta. Essapessoa abriu o envelope para lermos juntos o que havia escrito (atéporque falava bém de mim). Tudo bem, continuei a viagem e, quandocheguei ao Rio, telefonei, dizendo que tinha uma carta, etc. Marcamos deele vir buscar. Tragédia! Não encontro a carta. Simplesmente nãoencontro. Bom, ele chega, conto a história, peço mil desculpas. Claro,meu amigo ficou decepcionado. E, como se não bastasse, pioro a situação:"Ora, não tinha nada de muito importante, era apenas uma carta contandopequenas novidades, etc." Só quando vi a cara de espanto de Vinolas,percebi o horror da coisa: ele achou, claro, que eu tinha aberto e lidoa carta. Quase morri de vergonha. Expliquei tudo, me sentindo péssima.Ele, elegante e carinhosamente compreendeu e conseguiu, com suagenerosidade, me convencer de que o fato não era grave. Eu tinha 18anos, nunca esqueci. Melhor que tudo - continuamos amigos. Algum exemplomelhor de cortesia e gentileza?

A maior invenção depois da roda; o telefone

Às vezes penso que qualquer um poderia sobreviver apenas com litros deágua e um telefone por perto. Quem foi que disse que seriam os cachorrosos melhores amigos do homem. Das mulheres, pelo menos, eu sei que omelhor amigo é a invenção de Graham Bell. Só que essa maravilhosainvenção pede algumas regras básicas de manutenção: mais vale umaligação na hora certa do que um caminhão de flores. Tanto quanto umaligação malfeita poderá lhe custar mais baixas que a batalha deWaterloo. E aguardem um minutinho que estão me chamando no telefone.

É proibido telefonar:- na hora do telejornal- na hora da novela- na hora do almoço ou do jantar- para pessoas normais, antes das dez horas da manhã

Quando o assunto for longo, pergunte se a pessoa está com tempo, antesde engrenar.

Cabe a quem ligou ter a iniciativa de se despedir, de desligar.

Deixando o recado na secretária eletrônica, seja clara, máquinas nãomordem. Quando deixar o recado com alguém, ajude, dizendo: "Vá buscarlápis e papel, eu espero. 'tudo em cima' então anote". Fale devagar edepois repita o número. Eu perco vários recados quando falam o númeromuito rápido. Quando tem ramal, pior ainda.

Recebendo telefonema interurbano ou internacional, não prolongue aconversa. Afinal, é o outro que está pagando. Não aproveite o telefonemado amigo para mandar recados, pedir coisas.

Ainda sobre telefonemas longos discance: recebendo de alguem que vocêsabe que não tem muito dinheiro, faça esta gentileza: pergunte "em quetelefone você está? te ligo já". E ligue de volta. É o máximo quem fazisso.

Nunca deixe telefonema sem resposta. Por outro lado, se você liga duasou três vezes e a pessoa não retorna o chamado, você não tem a menorobrigação de ligar de novo.

É claro que nunca se faz um DDI fora de sua própria casa. Só mesmo emcaso de urgencia, e a cobrar.

Ao atender a um telefonema, não comece compulsivamente com seusassuntos. Afinal, quem ligou, se ligou, foi porque tinha coisas para

falar. Telefonemas, mesmo locais, são cobrados por minuto. Ligue-se.

Não telefone para a casa de pessoas com quem você tem negócios, masnão uma relação pessoal, a não ser em caso de extrema necessidade.

Cuidado com telefonemas para médicos, analistas. Veja se precisa mesmoligar, se precisa mesmo incomodar.

Ensine sua empregada a atender ao telefone. Primeiro ela diz que vocênão está, e só então pergunta o nome, e se não quer deixar recado. Nuncao contrário.

Se alguém atender o telefone na sua presença, procure se afastar, vápassar um blush, tomar um copo de água. Mesmo que você ouça "matou? comtrês tiros? que loucura! ", não comente, não pergunte. Uma pessoaverdadeiramente educada, nessa hora fica completamente surda.

Não fique pendurado no telefone quando alguém está esperando,sobretudo em orelhão.

O telefone esta tão, mas tão caro, que ficaremos condenados ao maisprofundo isolamento se as tarifas continuarem a subir. Faça um teste efale por 20 minutos com aquela sua amiga que mora em Milão.

Se alguém telefonar e a pessoa chamada estiver no banheiro, anote orecado na perfeição, mas não a chame. E também não diga por que não podechamar, diga apenas que ela está ocupada.

Se alguém te telefona para fazer um convite, não prolongue a conversa,ela deve ter mais uns 200 telefonemas para dar, compreenda e seja breve.

Quando estiver em casa de um amigo, só use o telefone em caso de realnecessidade, e rapidinho. E quando estiver recebendo um amigo em suacasa, se atender algum telefonema, diga que não está podendo falar, queliga depois.

bbb 86 m adorvel sato no escuro

Está longe a era dos zepelins e das viagens transatlânticas onde sedividia o convés dos navios com algum conde esnobe do Luxemburgo. Osdeslocamentos internacionais agora exigem mais paciência e menosbagagem: qualquer um está sujeito a ser atropelado pela turba que invadeum 747 as filas de check-in, os procedimentos de alfândega. Em, pam,pum: apertem os tailleurs que a aeromoça sumiu, o passageiro ao lado nãopára de jogar fumaça na sua cara e tem um time de basquete na fila dos

lavatórios. Se a complicação já complica nos ares, em terra a coisa podeficar pior. Principalmente se você escolheu uma companhia errada paraaquela viagem de 5 4 dias pelo Norte da África. Quando você começa asentir que teria sido melhor ficar em casa, a viagem acabou. Pitangasderramadas e dólares desperdiçados não voltam mais.

Lá 20 ou 30 anos uma viagem de avião era privilégio dos muito ricos.Os aeroportos, oásis de paz, luxo e silêncio. Era facil ser cortês nessetempo. Hoje em dia, aeroportos e rodoviárias são praticamente iguais.Portanto, mantenha a calma para enfrentar as grandes aventuras quesurgem a partir de uma simples viagem. Além dos dólares, muna-se detranqüilizantes.

Viajar ainda é das melhores coisas da vida. Mesmo quando você se vêcarregando malas porque não encontrou nem carrinho nem carregador,enfrentando filas que jamais enfrentaria no seu cotidiano e passandopelo transtorno de ter sua bagagem esmiuçada na alfândega. (Ainda bem.Já pensou quando ninguém mais confundir você com uma perigosatraficante?) Aí, chega a hora em que você diz "quero voltar pra casa ejuro que nunca mais viajo" É tudo mentira. Mal você desarrumou as malas,baixa a grande depressão e você só pensa em voltar. Eu levo oito, dezdias chegando.

Existe um tipo de conhecimento, de cultura, que você só adquireviajando. E existem viagens que você só aproveita plenamente quando temalguma cultura sobre o país que está visitando. Ir a Portugal sem terlido Eça, para mim, é quase um crime. E só entende o que estou falandoquem já leu e releu. Leia.

Desenvolva seus sentidos. No meio de um bosque, apure os ouvidos.Viaje através dos sons, dos odores. Apure seu olfàto, seu paladar. Comade tudo. Beba de tudo. Esqueça seus hábitos, seus horários. Se tomam chágelado, Coca-Cola quente, ou fumam ópio, faça como eles, experimente,ouse. Só assim você vai sentir a cidade em que está. Outra coisa: nãocomplique. Viajando, freqüente restaurantes italianos só na Itália,franceses só na França , americanos só nos EUA.

Se você for como eu, que tenho horror a multidões, viaje fora deestação, procure sobretudo lugares que não estejam na moda. Bali, porexemplo, só no ano 2010. Miami, só em 2015. Não se misture com hordas deturistas, ninguém pode apreciar uma obra de arte cercado por 100pessoas. Um amigo que adora concertos me revelou o motivo pelo qualdeixou de freqüentar as salas: disse que só voltaria quando pudesseestar sozinho no teatro. E nu. Entendi.

Repetindo: viaje fora de estação. Côte d'Azur no inverno. Sul da

Itália no início da primavera. Ilhas gregas nunca depois de 15 de maio.Mas e se você quiser ver neve? Aí, não tem jeito. Mas você sempre poderádescobrir uma cidadezinha que está completamente fora de moda e onde nãovai ninguém, que luxo.

Escapulindo das ciladas acima, você poderá encontrar elegância,imaginação, poesia. As cidades serão só suas. Perca-se nas ruas desertasde Veneza, no inverno. Você vai gritar em êxtase, tal a beleza. Estandoem Paris, alugue um carro e vá a Lonfleur, no fim do outono. Fica pertode Deauville. Hospede-se na Ferme Saint-Simeon e desça para tomar seupetit dejeuner num café em frente ao porto, vendo os barcos chegarem.Peça ostras e crevettes grises, com vinho branco. Que fique claro: issologo ao acordar, em jejum. Você vai descobrir que a felicidade tem atésabor e que o sabor é esse.

Já deu para ver que em viagens sou muito pouco democratica. Gostariade visitar museus vazios, freqüentar praias desertas, tudo só pra mim.Seria um sonho.

Quem praticamente nasceu numa primeira classe, nunca vai mencionarisso, até porque nem sabe que existe outra classe no avião. ComoJuliana, filha de Sílvio de Abreu, que um dia pediu para ir à classeturista "para ver como é". Nada revela mais a insegurança social de umapessoa do que ouvi-la dizer que "estava na primeira classe". Morro depena e fico com um pouquinho de vergonha, cada vez que ouço. Também nãose pergunta: "Em que classe você viaja?" Conheço gente que só viaja deprimeira classe, entra no avião, não come nada e dorme o tempo todo, omáximo.

Não corte o barato do outro. Se alguém estiver falando de umrestaurante maravilhoso, um hotel fantástico, uma cidadezinha na Tunísiaque ninguém conhece, deixe que termine a história antes de dizer quevocê já conhece tudo que ele contou. Se conseguir se segurar e deixarseu amigo brilhar sozinho, melhor ainda.

Pintou uma viagem. Você fica louca para ir, claro, mas imediatamenteentram as dúvidas, as inseguranças, as culpas. "O dólar está muitocaro." "E se eu perder meu emprego?" "Vou deixar meu marido, meusfilhos? " "Logo agora, que as ações estão em alta?" "Logo agora que asações estão em baixa?" TuDO BOBAGEM. Vá, vá e vá. Você vai voltar nova,revigorada, mais bonita, mais feliz, enriquecida, esqueça a obrigação desofrer (que todos nós temos), não pense, vá. E depois me conte.

No avião

Uma cabine de avião não passa de um grande dormitório, onde vocêdivide intimidades com pessoas que nunca viu. Procure evitar, dentro dopossível, que a promiscuidade se instale dentro desse espaço reduzido,para que a viagem não se transfórme num inferno insuportável.

Durante o vôo, coma pouco. Beba pouco. Assim você diminui os efeitosdo jet lag. Não se comporte tipo "quero tudo a que tenho direito". Nãose precipite no champanhe , no caviar. Melhor viajar de executiva e, coma diferença do preço da passagem, comprar um quilo de caviar para comerno hotel, do que dar esses vexames a bordo.

Procure se manter no seu espaço, sem incomodar o vizinho. Se avistarum amigo três filas adiante, não chame em voz alta, não faça sinais.

Papeizinhos de amendoins, head-hones, envelopes de fissues, tudo namaior ordem possível. A manta, dobrada. Idéia para as companhias deaviação: uma pequena lata de lixo ao lado de cada poltrona. Talvez assimas pessoas aprendessem.

Tenha sempre uma caneta à mão, para não ficar pedindo emprestada.

Dobre os jornais depois de ler.

O suéter que você usou, de volta na sacola de mão.

Escova de cabelo sempre à mão, mas nunca à vista.

Nada de ir descalço ao banheiro, mesmo que seus pés estejam inchados aponto de gangrenar, pensasse nisso antes. Da próxima v z, use sapatosmais confortáveis.

Pouca bagagem de mão, para não incomodar o vizinho.

Deixe o banheiro impecável, depois de usar. Seja rápido (deviaminventar uns comprimidos que fossem o oposto dos diureticos,obrigatórios em viagens de avião).

Óculos escuros à mão. Ninguém é obrigado a ver sua cara na hora deacordar.

Evite charutos e cachimbos, mesmo na área de fumantes.

Nunca abandone sua bolsa com dinheiro na poltrona, enquantodesenferruja as pernas.

Se você detesta conversar com vizinhos, tome suas precauções. Tire da

bolsa um terço, a bíblia, o Corão. literalmente, um santo remédio.

Encomendas

Nunca pergunte se os amigos desejam alguma coisa, tipo encomenda. Édinamite pura. Alguém pode querer e olha a encrenca que você arranjou.Quando isso acontecer, diga francamente que não vai ter tempo, viagemmuito rápida, etc. Ou faça como Guilherme Guimarães, que diz "claro ,meu amor", põe a listinha e os dólares na gaveta e esquece. Quandovolta, devolve e fala com a cara mais cândida que não encontrou. Estábem, sou uma peste, mas convenhamos que encomenda é dose. Ou não? Sevocê costuma pedir, não pode recusar quando te pedem, fique sabendo.(Não estou falando, claro, daqueles amigos que a gente adora e a quemnão se recusa nada.)

Mas se você não resistiu e pediu a um amigo que te compre algumacoisa, quando for entregar o dinheiro, dependendo da situação financeirae da intimidade entre os dois, dê uns dólares a mais e diga que, no diade fazer a tal compra, ele é seu convidado para almoçar. Que ele penseem você, te erga um brinde e depois te conte tudo.

Ainda sobre encomendas. Só peça se for uma coisa muito, mas muitoimportante mesmo. Tipo um batom, um creme, uma meia. Coisas fundamentaispara a felicidade de qualquer mulher.

Nunca aceite levar encomendas para ninguém. Tenho ouvido históriaspavorosas de pessoas acima de qualquer suspeita que pediram umfavorzinho desses e quem o fez, foi parar na cadeia, pois o talpacotinho não era tão inocente assim.

Se alguém pede para você levar uma carta, deve entregar a cartaaberta. E você deve fechá-la na frente dele. Tudo , aliás, bem inútil -os correios estão funcionando divinamente. Mas tem gente que adora fazeramigo de pombo-correio.

Bagagem

Pouca bagagem. É tão mais civilizado, tão chique, gente que viaja compoucas malas. Eu adoraria saber ensinar como se faz uma mala pequena,prática, elegante. Aliás, adoraria aprender. Comigo é sempre umatragédia.

Questão malas. Aquelas bem caras, de griffe conhecida, sãomarivilhosas, porque você viaja com tranqüilidade: o zíper não quebra, aalça não cai. Paga-se uma fortuna pela qualidade, não pelas letrinhas da

marca. Um detalhe: que sejam muito velhas, maltratadas pelo tempo. Malastinindo de novas são um sinal inequívoco de peruagem e nouveaurichisme.Outra coisa: se sua mala, companheira de tantas aventuras, está àsquedas, nada mais chique do que uma boa recauchutagem. Vai custar quaseo preço de uma nova, mas não hesite, é o que deve ser feito.

Caso prefira a informalidade total de malas mais leves, superlegaltambém. Mesmo que no fim da viagem você precise sair correndo paracomprar mais uma sacola porque o zíper enguiçou. Quem optar por um jogoem kilim, ah, são maravilhosas. Em Marrakech você encontra as maislindas, mas tenho a impressão de que vão desmanchar no caminho doaeroporto. São divinas, sim, mas inconfiáveis.

Ao viajar com o namorado pela primeira vez, é bom combinar tudo antesdireitinho. Quando a moça chega no aeroporto com seis malas, quatrosacolas grandes, duas pequenas, é de matar. E quem vai pagar o exesso depeso?

O luxo mesmo seria viajar apenas com a bagagem de mão, quando se temum apartamento em Paris. Nesse apartamento, um segundo guarda-roupa, quedelícia deve ser, não é, Evinha Ou em Milão, não é, Artur

Muitos anos atrás, eu viajava de Londres para Paris com Crace Kelly nomesmo vôo. Quando o avião aterrissou, uma Rolls estacionou na pista, bemna porta, ela saltou com sua bolsinha de mão (Fermes, naturalmente) efoi embora, souta e linda, imagino que sem passar por controle depassaportes, esteira de bagagem, fila para trocar dinheiro.Morri de inveja.

Sera que você deve levar peles? Claro que sim. Você corre o risco deganhar um jato de spray colorido, mas é tão bom viver perigosamente.Aliás, algum ecologista de plantão poderia me dizer o que fazer com asminhas? Todas foram compradas antes do furacão verde, juro. Corto empedacinhos e faço uma fogueira, é isso? Em tempo: os estilistas de Milãonão estão nem aí e decretaram este ano a volta das peles, seja ou nãopoliticamente correto.

Viajando com amigos

Duas pessoas se adoram, vão viajar juntas e não dá certo.Acontece. Uma adora comer bem, a outra não liga e queremagrecer. Uma adora compras, a outra detesta sequerolhar vitrines. Uma acorda já querendo ir para a rua, a outraprecisa de um tempo. Uma entra nos toaletes dos cafés odia inteiro, enquanto a outra espera na calçada, impaciente.E gente que quer visitar igrejas, monumentos? E gente

que pede "tirar uma foto minha perto da torre Eiffel"?

Se você quer ver seu marido à beira de um ataque denervos, leve-o às Galeries ,Lafayette para umas comprinhasleves, tipo maquillage, meias, etc. Se ele resistir 15 minutos,merece um prêmio (é tudo brincadeira, nunca faça issocom um homem com quem você pretende continuar aviver).1-homens têm horror a lojas (a não ser as de eletrônica,papelaria, vídeos, e tudo que diz respeito a seushobbies). Só leve seu amado a esses programas culturais sevocê estiver querendo se vingar dele. E com boas razõespara isso.

Em viagem, as pessoas ficam muito tempo juntas, paranão dizer o tempo inteiro. Até casais casadérrimos passama ter uma convivência muito maior do que na cidade ondemoram. E aquilo que não é problema em circunstânciasnormais vira uma complicação quando se viaja. E aquelesque ricam indecisos para escolher uma roupa, um cinema,até mesmo um prato no restaurante? E gente que não querticar sozinha nunca? E gente que quer voltar na loja paratrocar uma compra feita dois minutos atrás? E gente quenão tem paciência para nada disso?

Olha, é bom pesar tudo isso antes de embarcar. E genteque está sempre muito cansada? E gente que não cansanunca? É uma delícia ter amigos na cidade em que se está,mas cada um no seu hotel, chegando e voltando em aviõesdiferentes, para descaracterizar qualquer compromisso.

Se você é muito rico e convidou alguem para viajar, suasobrigações naturais de gentileza dobram. Nada mais terríveldo que o clima, mesmo sem palavras, do "mas sou euquem está pagando", na hora da escolha de cinemas ,restaurantes, etc.

Na Europa, qualquer hotel de três, e até duas estrelas, tedará um conforto bastante razoável. A roupa de cama e debanho trocadas todo dia, geralmente televisão no quarto,o que mais você pode querer?

Quem viaja com muito pouco dinheiro deve levar seuxampu, creme, pasta de dentes, sabonete. É uma delíciacomprar tudo nacional - lá -, mas fica caro.

Companheiros de viagem que roncam, nada a fazer.

Quartos separados ou boules Quies (bolas de cera para osouvidos).

Viajando com amigos, seja supercorreto com as contas.Divisão de despesas de táxi, lanches, etc. Procure ter semprenotas de diversos valores, para evitar aquele "me empresta$0 dólares, depois te pago". Às vezes esquecemos dedevolver esses pequenos empréstimos, até mesmo porserem pequenos. Uma sugestão é a caixa única. Cada umcoloca uma determinada quantia que sera administradapara despesas comuns. Ao final de cada dia, faz-se a contapara evitar surpresas. E se sua amiga esqueceu, é a boa horade dicer "você me deve $0 dólares". As boas contas fazemos bons amigos.

Difícil duas pessoas de situação econômica muito diferenteviajarem juntas sem problemas. Alguém vai ter quesair do seu padrão e não será, seguramente, a mais pobre.

Dividindo um quarto de hotel, que a ordem seja rigorosa.A única bagunça aceitável é com aqueles pacotes decompras que você acabou de trazer da rua. Tempo parapôr tudo no lugar:15 minutos

Viajar com filhos e netos é maravilhoso. Você vai passandosuas experiências, seus conhecimentos, suas lembranças,cheia de emoção. (E eles nem aí, claro.)

Fora do Brasil, nunca aceite o convite daquele amigo quemora há anos em Paris e que te chama para comer umfeijãozinho na casa dele. Quem faz esse tipo de convitemerece o fogo do inferno.

Tenha sempre no quarto uns biscoitinhos, uns chocolates,para a fome da madrugada.

Combinem de véspera a programação do dia seguinte.Se vai cada um para o seu lado ou o quê.

Não se esqueça de levar: tesourinha, pinça, agulha,linha, dois pares de óculos (pode quebrar ou perder),remédio para dor de coluna, tranqüilizantes. Cartões, seprecisar mandar umas tlores, endereços e números detelefones dos amigos, listas de preciosos restaurantes à nejas marzguer, etc.

Detalhe: nunca se deve subir num quarto de hotel semavisar antes, da portaria.

Esteja você viajando com amigos, namorado, marido, oque for, sua passagem, seu passaporte, seu dinheiro, tudona mão. E se houver uma briga? E se? E se? E se?

A volta

A obrigação de telefonar é de quem chega.

Quando sei que um amigo chegou e ainda não me ligou,fico na minha. Pode ser que ele ainda não esteja em condiçõesde aparecer. Eu, quando chego, só começo a telefonarcinco, seis dias depois. E ligo para uma pessoa por dia.Tenho um amigo que leva dez dias para me chamar devolta, depois de receber meu recado. É um sábio.

A não ser que você tenha menos de 20 anos e que estaseja sua primeira viagem, evite reuniões para contar aviagem, mostrar fotos, contar os filmes que viu, as peçasde teatro, etc. Afinal, a quem interessa uma viagem a nãoser a quem a fez?

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C••• aaar• hóspede •• r••nh• sop•# Não incomodar é uma arte. Receber bem é um dom.Poucas situações no mundo são tão desagradáveis quantoa de se sentir invadido por alguém que se hospeda comvocê. Poucas situações no mundo são tão agradávcis quan-to a de se sentir querido por alguém que hospeda você.Saiba que o homem é o único animal que hospcda. Osanimais costumam demarcar seus cspa•os e enxotar qual-yuer visitante da área, mesmo os de raça igual. Não se sintacomo um cristão intruso na cova dos leões. Nem como umdomesticador de hienas no mcio de sua própria casa.

I:. I..#Hospedar, ser hóspede

O hóspede

A primeira coisa que o hóspede deve deixar claro é atéquando vai licar. Esse detalhe deve ser esclarecido antesda ch•gada, de preferência. Já pensou, um hóspede quevocê não sabe quando vai embora? Se ele não disser otempo da permanência, pergunte sutilmente, insinue quevocê talvez tenha que viajar, que outros amigos talvezchegucm, que você precise saber para combinar as fériasda empregada, etc.

Se você, ao se hospedar, pretender estender a perma-nência, pergunte se não vai causar transtorno. Só fque sesentir que esses dias a mais vão ser um prazer pard os donosda casa. Caso perceba qualquer mudança no olhar, modi-tiyuc seus planos e encerre a temporada na data prevista.Ou até antes.

103# Não chegue de mãos vazias. Traga algum presente, oudois ou três.

Use pouquíssimo o telefone.

Nunca faça interurbanos, só a cobrar - claro. O telefoneestá caríssimo e se você fizer a gracinha e quem te hospedate der um puxão de orelhas, se toque, peça desculpas, einterurbano never more.

Você é daqueles que de manhã come iogurtes especiais,coisas exóticas. Então compre e ofereça. Mas cuidado paranão atravancar a gcladeira da casa.

Em hipótese alguma deixe objetos de uso pessoal espa-lhados pelo banheiro, a não ser que este seja só seu. Escovadc dentes, de cabelo, dentifrício, sabonete, volta tudo parao quarto, dentro do necessaire, certo?

Evite receber visitas. O hóspede que precisa encontrarum amigo ou rcver um parente deve marcar o encontronum café, num restaurante. Não c muito agradável chegar

cm nossa própria casa e dar de cara com um grupo que agente nem conhece, instalado na sala, fumando e bcbendo.

'renha um comportamento discreto enquanto hóspede.Nada de tentar criar um clima festivo o tempo todo. Lem-bre-se de que só você está de férias e que as pessoas têmuma rotina de vida.

Traga com alguma freqüência um presentinho da rua.rrutinhas, um queijinho, bobagens tipo um biscoito, atéum pãozinho fresco. Seja o que for, mas sempre de comerou beber.

l# Não fique muito em casa. Saia, vá ao cinema, passeie,ocupc-se, não vire uma preocupação par·d quem te hospe-da.

Gr·atilique os empregados, parte na chegada, parte nasaída. Quando estiver hospedado em casa de pessoas quenão têm cmpregados, faça sua cama e deixe tudo na maisperfèita ordcm. Quando sair, nunca tranque seu quartocom chave.

Se normalmente você almoça e janta em casa, no dia emque resolver mudar seus planos, telefone avisando. Avisetambém quando r.•solver fazer um pouco de boemia, paraque: não te esperem e não se preocupem. Chegando muitotarde, entre em casa tão silenciosamente quanto ladrõesprolissionais.

De v z em quando convide quem te hospeda para jantarfora, seu anfitrião vai gostar.

Nunca saia do quarto para ir ao banheiro, à cozinha, oque for, sem estar adcquadamente vestido.

Fncerrando a temporada, escreva ou telefone dizendo oqu•ulto adorou, agradecendo, etc. • também para oferecersua casa, claro.

Quem hospeda

Quando você hospeda alguém deve tratá-lo como umrei. Se maltratado, um hóspede se sente o mais miseráveldos seres humanos. E não vai saber como agir. Se faz as

io5# malas e vai para um hotel, é a ruptura. Se fica, sente o clima

tenso, pesado. Diante disso, se você, por motivos que nãov•m ao caso, não está contente de ter seu hóspede, man-tenha o sangue frio. Controle-se e que o clima fique amenoe civilizado até o momento de deixá-lo no aeroporto. Aí,sim, você pode respirar fundo e pensar: nunca mais. P parasua tranqüilidade: sendo pessoa sensível, seu hóspedeprovavelmente estará, no mesmo momento, pensandotambém: nunca mais.

(Antcs que o assunto esfrie, quero falar de dois recentese grandes amigos: Leila e Doc Comparato. Alguns dias emcasa deles em Sintra bastaram para conhecer o que é averdadeira e calorosa hospitalidade. Raramente se encon-tram pessoas tão adorávcis e pcrfeitas na arte de hospedar.

i No dia em que Doc resolver deixar sua profissão de rotei-rista internacional de sucesso, vai poder abrir com Leila umcurso ensinando a arte do bem-rcccber. Verdadeiros prín-cipes esses dois. Inesquecíveis os dias que passei com eles:cstavam - e demonstravam isso - o tempo todo alegres demc ter em sua casa. Isso é mais que tudo no mundo, paraum hóspede.)

Dê a chave da casa para seu hóspede.

Diga a hora em que você costuma almoçar e jantar.

Pergunte o que ele costuma tomar no café da manhã cprovidencie.

Pergunte se cle gostaria de conhecer ou visitar algumlugar especial da cidade.

io6# Caso o banheiro seja de uso comum, coloque no quartouma toalha de banho e uma de rosto. E troque pelo menosa cada dois dias.

I:xplique a seu hóspede a que horas a portaria fecha, se

existe algum problema de água quentc, enfim, o funciona-mento da casa, empregados, roupa para lavar, etc.

Promover uma pcquena reunião ou jantar para apresen-tar seu hóspede a seus amigos é muito simpático. Depen-dendo da intimidade e da situação financeira de quemhospeda, o hóspede pode/deve se encarregar das bebidas,Ilorcs, atc ir para'• cozinha cuidar de um prato em que sejaex(•er•t.

Se você rccebc um convite para jantar, quando forpossível perguntc se pode lcvar seu hóspede.

Agrade seu hóspede. Se você chegar em casa e disser"olha o que comprei para você, um pão fresquinho", ele jávai se sentir feliz de ver que você pensou nele.

Na hora das despedidas, juras de amor, volte semprectc., mesmo que seja tudo mentira. Que seu hóspede fiquecom a sensação de ser querido - amado. Tão boa, essasensação.

• •isita inesperada

Quando você resolve visitar seus amigos que estão nosítio, nada de chegar achando que a surpresa já valeu comopresente. Se. a dona de casa não está esperando, será que

1o7#ela vai ter alguma coisa para oferecer? Pensando nisso (etem que pensar sempre), chegue com alguma bebida, umacoisinha para beliscar. I: se você já 1'oi com a tirme deter-minação de ricar pard o almoço (para o qual não está sendoesperada), passe antc:s numa delicatessen c desembarquecom praticamente tudo debaixo do braço. Seja exageradonas compras. Se você não aparece sem avisar na cidadeonde mora, imagine no meio do mato, onde às vezcs nemum botequim para comprar uma cerveja existc por perto•

Um fim de semana

Muito bem, você foi convidado para um fim de semana,na praia ou no campo. Sua primeira pergunta deverá ser:o que Icvo? Se não for preciso lev•ir nada, chcguc comalguma bebida, uns chocolates, uns queijos, umas revistas.Seja criativo. ,Se resolverem democraticamente dividir ascompras, não se esqueça de nada que licou sob sua respon-sabilidadc. E apareça com mais algumas coisinhas, além docombin•ido. Abastccendo o carro na estrada, proponhadividir a despesa da l;asolina.

Se souber cozinhar, cozinhe. Se não souber, descasqueos legumes, lavc os pratos. Se não souber l•azcr nada,ocupc:-se do bar, da míisica, faça t;racinhas, contc histórias.Mantenha-se por perto. Nada de I•icar na rcde lendo umlivro enquanto os outros trabalham. I'articipc, seja de quemaneic~a for.

Vocc c dos que costumam acordar cedo. I'ois bem ,aprovcitc para sair (em silêncio), compre os jornais, tra•aum doce, um•i lingüicinha, qualquer coisa da região.

tos# Desaparcça às v zes. Fique no quarto lendo. Dê umalnnga caminhada.

Se você pegar um livro da estante e quiser levá-lo paraacabar de ler, comunique, peça à dona da casa. E não secsqueça de devolver.

Um bom hóspcde deve ser bem-humorado e muitíssimobc,m-disposto. Pronto para, se for mesmo preciso, andar debiciclcta, escalar um morro para ver o pôr do-sol, ajudar aconsertar a lancha fazer canoagem, madrugar para ver tiraro leitc da vaca. F•i parte.

Antes de accitar o convite, pense bem se você vaiagüentar o grupo o fim de semana inteiro. Há casos em quevoltam todos inimigos. Fins de semana são testes perigosís-simos.

Historinha ótima

Contam que Zelda e Seott Fitzgerald moravam no cam-pn, perto de Nova York, e costumavam receber muitosamigos para o week-end. Do lado interno da porta de cadaquarto havia um providencial quadrinho, com o seguintetexto: "Se no pileque de sábado nós insistirmos para vocêsficarem até segunda-feira, pelo amor de Deus, não fiquem! "

109# I 1

Tudo gue você sempre quis s•ber sobre

e nunca teve coragem de pergunt•r#

Hoje tem espetáculo? Tem, sim senhor. Quem não gostade festa é doente do pé, ruim da cabeça, maluco-beleza oulow j•rofile. Não sei. A única certeza, porém, é que apalavra festa produz uma luz que acende qualquer papo,friceiona situações e elimina rugas e papadas em questãode segundos. Reunir pessoas requer sabedoria e profundoconhecimento da química humana. Certas misturas costumamresultar em pavorosas explosões. Prineipalmente emjantares que coneentram um número mais reduzido depessoas. Oferecer, receber, convidar e ser convidado: meuDeus, onde foi que botei os sais aromáticos?

Quando você é convidado

Quem aceitou um convite para jantar, se tiver quedesmarear, que o fàça com boa antecedêneia. No dia, navéspera, só por razões fortíssimas. Nunea deixe o recadocom a empregada. Se atender a secretária eletrônica, adianteo assunto e diga que telefona depois para explicar oimprevisto. Telefone mesmo. E ainda: mande flores no dia,lamentando o possível transtorno.

Seria desnecessário falar sobre isso, mas tem gente que,sabendo que o jantar é grande, não vai, não avisa que nãovai e não telefona para se desculpar e dizer por que nãofoi. ,Sem comentários.

Atraso tem limite. No Rio, é mais ou menos assim: "bom ,se está mareado para as 21 horas, vou chegar às 22h30".Ate com certa razão. Os muito pontuais correm o risco denão eneontrar a dona da casa - que ainda não chegou docabeleireiro. Portanto, se chegar pontualmente, já cheguese desculpando. Mas não vamos generalizar. Em casa deCarmem Mayrink Veiga, os almoços são mareados para as12h45. E todos chegam na hora, é espantoso. (Também,quem ousaria se atrasar com um convite para as 12h45?)Ah, detalhe: depois de 45 minutos, os copeiros iniciam oserviço, o lugar fica vazio, se for o caso, e estamos conversados.

Quando entra uma pessoa famosa numa festa, por serrica, poderosa, ou uma estrela, fique frio. Nada mais constrangedorque o puxa-saquismo explícito. Não dê vexame.Quando estiver ao lado dessas pessoas, não fique dizendoque conhece ou é amigo de A, B ou C, para mostrar quevocê também é importante. Aliás, se você e mesmo, nuneavai fazer isso.

Quando o jantar for para umas 20 pessoas, dá para sairsem se despedir-embora não deva. Se for para muito maisde 20, não só pode como deve. Em ambos os casos, telefoneno dia seguinte agradecendo, ou agradecendo e se desculpando,se for o caso. Resolvendo se despedir, tudo rápido,não se esqueça de que a festa continua rolando.

Pessoas são convidadas não para serem alimentadas,mas para contribuir de alguma maneira com o sucesso dareunião. Com seu charme, sua beleza, sua inteligêneia, suacapacidade de serem divertidas. Faça sua parte com brilho.

Se você eneontra outra pessoa com uma roupa exatamenteigual à sua, o que fazer? Sem perder o humor,chamar o fotógrafo e pedir para registrar a cena histórica.

A louça da casa em que você está jantando é linda. Masnão vire o prato para saber a procedência, nem vá bisbilhotara marea num objeto de prata. Se achou bonito, elogie,pergunte o que quiser e acredite no que vão responder.fuçar objetos é tão indiscreto quanto virar a gola de umvestido para conferir a etiqueta. Aliás, anda muito em modaa dona da casa responder "eram da minha mãe". Ficachiquerrimo, dá um toque de nobreza (mesmo que sejamentira).

Ficou estabelecido que é indelicado tirar o último canapéde uma bandeja. Pior, para mim, é tirar o penúltimo, epassar o problema para a próxima pessoa a ser servida.Como sempre se está conversando com alguém quandopassa a bandeja com os dois últimos canapés, eu digo logo:"Vamos resolver esse problema? - fico com um e você como outro". Nos servimos ao mesmo tempo esta de problema.

A casa em que você foi jantar não tem empregados. Nemofereça: vá logo ajudando a tirar os pratos da mesa, veja seprecisa mais gelo, limpe os cinzeiros. Os homens tambémpodem ajudar - sabiam, rapazes?

Jamais pergunte a alguém "você vai ao jantar de Regina?"Se a pessoa não foi convidada, vai ficar meio assim. Apropósito: houve um tempo em que, quando alguém nãoera convidado para uma festa, a criatura se trancava emcasa e mandava espalhar que tinha viajado. Dura a vidasocial, não?

Rola a festa e te oferecem alguma droga. Não fiquenervoso, nem banque o repressor. Apenas diga não, obrigado.O mesmo não que você diria se te oferecessem umcigarro e você não fumasse. E com a mesma cara. Mas quemse sentir incomodado com a cena, nenhum problema.Ninguém é obrigado a permanecer em locais onde se sentedesconfortável. Sem deduragem, claro. Recadinho para ousuário: não tenho nada com a sua vida, mas é inconvenienteficar dando bandeira em festas. Tem muita gente que nãogosta desses climas e, sobretudo, é proibido por lei.

Dieta! Ou você é mesmo complicada para comer? Emqualquer dos dois casos, alimente-se antes em casa, massirva-se e finja que come. Não se torne um problema paraa dona da casa.

Certos puristas aconselham a não elogiar o que se estácomendo enquanto ainda na mesa - só depois de selevantar. Para que a conversa não descambe na receita, etc.A maldita síndrome de dona Benta.

Só se sente à mesa depois da dona da casa. Só se levantetambém depois dela.

Menos costuma ser mais em festas ou jantares. Comer

de menos. Beber de menos. falar de menos. Se exibir demenos. Permanecer menos. Seguindo essa orientação,você jamais terá motivos para se arrepender. (Mas tambémvai se divertir bem menos, garanto.)

Se você foi convidado mas não está com a menor vontadede ir, arranje uma desculpa decente. Não vale dizer quena quinta-feira da semana que vem vai ficar doente ou temum enterro.

Chegando a uma festa, primeiro dê uma volta, fale comas pessoas. Cireule. Nada pior do que convidados quechegam cedo, se sentam e ficam só olhando, observando,comentando.

Se. no dia do tal jantar acontecer uma coisa que teaborreceu muito, telefone se desculpando, mas não váPara lá de mau humor, ser má companhia, melhorpermanecer em casa. Deite-se, puxe as cobertas, deixandosó o nariz de fora, e espere passar. Passa. Para ajudar, façauma boa faxina na cozinha. Nada melhor, quando se estácom problemas, preocupações.

Apesar de ser a maior alegria ver chegar um amigotrazendo flores, se você está recebendo muita gente complica,cadê o vaso? Está no armário. E a chave?

Já deu para perceber que sou um pouco rebelde, sobretudoquando se trata do tal do protocolo. A propósito, voucontar uma historinha. Nem contra nem a favor - apenasuma historinha.

Júlio Senna, grande decorador, morava num extraordinárioapartamento na Urca, no Rio de Janeiro. Atrás, haviauma pedreira, com um enorme plateau, onde Júlio davajantares maravilhosos, ao ar livre. Criados vestidos comofiguras de Debret, um sonho. Num desses jantares, oferecidoa uma princesa real (da Noruega, se não me engano),blach tie, naturalmente, o tempo estava meio duvidoso. Dedez em dez minutos caíam algumas gotas ameaçadoras.Parava. Todo mundo tenso, chove, não chove? Mais algumasgotas. Parava de novo. Na altura do segundo prato, elaveio. Uma chuva tropical, dessas de você correr procurandouma marquise, se estivesse na rua. Mas acontece que,manda o protocolo, com uma royaltie na mesa, ninguémpode se levantar, a não ser que ela o faça primeiro. Royal

meyzte, Sua Alteza permaneceu sentada. Nossos cabelos seencharcaram, as maquiagens escorreram, as lagostas boiaramdentro dos pratos. E as pessoas conversando, como senada estivesse acontecendo. Foi fantástico, uma cena dignade Bunuel. Quando o jantar terminou a princesa se levantouseguida por todos, e o after digzner prosseguiu no maisnormal dos mundos. Inesquecível. E se acham que inventeiessa história, é só perguntar a Walter Moreira Salles, queestava sentado a meu lado. Demais. E viva o protocolo.

Mas aí fico pensando: e se eu (ou qualquer outra pessoapresente) estivesse resfriadíssima, com um início de febre?E se desse uma louca e alguém se levantasse correndo paraprocurar abrigo, o que aconteceria? Alguém iria atrás? Seráque a princesa não adoraria essa chance de não se encharcaraté os ossos? E se Darei Ribeiro, conhecido por suairreverência, estivesse lá, o que teria feito? Perguntas paraas quais não tenho respostas, mas que me deixam bemcuriosa.

Nunca ponha o pé naquela mesa baixinha que está bemna frente do sol em que você está sentada, apesar de seruma tentação. Se eu não prestar atenção, o meu vai sempre.parar lá - parece até que essas mesas têm um ímã, pelomenos para o meu pé. Quem sabe treinando não fazer issonem em sua própria casa você aprende? Eu aprendo?

Não alugue a dona da casa com assuntos longos. Ela éuma só para dar atenção a todos os convidados.

O assunto esfriou? Tire da cartola algo bem polêmico.Provoque - educadamente, claro - as pessoas.

E não esqueça: todas as regras podem ser quebradas.Mas é preciso uma enorme experiência social para fazê-locom sucesso.

Quando você convida -sem grana

É natural que você fique um pouquinho nervosa no diado seu jantar. Aconselho, por cautela, a tomar seu primeirodrinque só depois que tiver chegado o último convidado.É mais garantido, embora seja uma pena. Tão gostosoaquele uísque que você toma com a casa impecável, flores,a luz certa, a música certa... Ah, tome sim, para relaxar.Mas só um, viu? Ok, dois.

Sirva o primeiro drinque, mostre onde estão as bebidase previna com charme que você só serve o primeiro. Apartir daí, cada um por si.

Cerveja, champanhe, vinho, o que você puder. O quefor para ser gelado, escandalosamente gelado. E por falarem gelo - muito, muito gelo. Se acabar o gelo, acaba a festa.

Se na sua casa faz muito calor e você não tem a felicidadede dispor de um ar-condicionado na sala, adie toda a suavida social para o outono. Dramático gente pingando -mesmo fazendo ginástica.

Evite flores perfumadas, ou você já sabe o que ficaparecendo.

Copos. Se você não tem todos os de que precisa, vaifazer o quê? Comprar ou pedir emprestado? Uma coisasimpática é usar copos inteiramente diferentes, misturandocores, estilos, tamanhos. É como eu faço. Fui comprandoum a um, em feiras de antiguidade, viagens, pedindo aamigos que estavam com o serviço já desfaleado. É supercharmoso,misturo todos numa grande bandeja e cada umescolhe o seu (as mulheres, o que combina mais com oaaa

119#vestido). Todo mundo adora. A rigor, copos de vinhodevem ser braneos, para que se possa apreciar a cor dabebida, mas um pouco de fantasia não faz mal a ninguém.A mesma coisa você pode fazer com pratos, xícaras de café,ete. Mas não misture tudo no mesmo jantar. Num dia, ospratos. No outro, os copos. Para não parecer que sua casaé um brechó.

Guardanapos de papel, sim, grandes e coloridos, com-binando com a louça, lindos e práticos.

Não complique. Para acompanhar os drinques, nada depastinhas, tori~adinhas, faquinhas. Onde você deixa seucopo e seu cigarro nessa hora? Llma enerenea. Castanhas,pistache, amendoins e chega, até para guardar o apetitepara o jantar. Em casa de T itá Burlamaqui, onde se comedivinamente, a variedade de canapés • tal que mal seconsegue jantar depois. Í: maravilhoso jantar lá, mas evite,

se você estiver de dieta. Não é que eu não goste de canapés- adoro. Adoro tanto, que um dia vou mandar fazer umabandeja só para mim e ficar vendo televisão e comendosem parar. E ainda vou completar com uns docinhos cara-melados.

Se você mora sozinha, enearreguc um amigo do capítulobar (reposição de gelo, refrigerantes, coquetéis, ete.). Paraisso os homens são muito prestativos.

Não fique limpando cinzeiros, pondo guardanapinhosdebaixo dos copos par.z proteger a mesa. Ajoelhou, temque rezar. E por falar em cinzeiros, que sejam muitos eenormes - dedal é para costurar.

120# Um prato interessante e uma salada verde são o suficien-te para um simpático jantar, quando você não tem umgrande stafJ•de empregados. Sejamos franeos: quando nãotem nenhum. Tá bom: então, dois pratos e uma salada. Umdeles pode ser uma massa. Prefira os que dispensam o usoda I'aca, se vocês não vão comer na mesa. Uma sobremesa,algumas frutas (das fáceis), e flm de papo.

'I'ambém é possível reunir amigos combinando cada umtrazer uma coisa. Ou pelo menos a sobremesa. Para a donade casa que cozinha, um tr'dbalho a menos. Não se esqueçade devolver o prato, pouca gente lembra. E é sempreaquele,tiyre.z que a gente adora.

Mui•o simpático e fácil eneomendar um sushi. Nempanela suja, olha que maravilha. Mas todo mundo tem queadorar, pergunte antes.

Se a comida de sua casa for péssima, faça os convidadosbeberem muito, bebidas fortíssimas, e sirva o jantar bemtarde. Ninguém vai distinguir uma cenoura de um j•etit•ois, garanto.

T ragédia! O rosbife queimou. Tragédia? Depende. Che-guc na sala com um grande sorriso, diga que se distraiu,tão boa estava a conversa e ponha em votação: pizza,lasanha ou um espaguete que você descobriu no fundo doarmário? Você verá que todos vão se envolver, talvez atémesmo um mais prendado se proponha a fazer o molho

para a massa com o que houver na geladeira. E vocês aindavão rir e se divertir muito. O importante - não se esqueça- é ter charme.

Quando fizer sua lista, procure convidar:

121#vestido). Todo mundo adora. A rigor, copos de vinhodevem ser braneos, para que se possa apreciar a cor dabebida, mas um pouco de fantasia não fàz mal a ninguém.A mesma coisa você pode fazer com pratos, xícaras de café,ete. Mas não misture tudo no mesmo jantar. Num dia, ospratos. No outro, os copos. Para não parecer que sua casaé um brechó.

Guardanapos de papel, sim, grandes e coloridos, com-binando com a louça, lindos e práticos.

Não complique. Para acompanhar os drinques, nada depastinhas, torr'adinhas, faquinhas. Onde voce deixa seucopo e seu cigarro nessa hot~.z• Uma enerenea. Cast•ulhas,pistache, amendoins e chega, até para guardar o apetitepara o jantar. Em casa de Titá Burlamaqui, onde se comedivinamente, a variedade de canapés • tal que mal seconsegue jantar depois. Í: maravilhoso jantar lá, mas evite,se você estiver de dieta. Não é que eu não goste de canapés- adoro. Adoro tanto, que um dia vou mandar fazer umabandeja só para mim e ficar vendo televisão e comendosem pat~ar. E ainda vou completar com uns docinhos cara-melados.

Se você mora sozinha, enearreguc um amigo do capítulobar (reposição de gelo, refrigerantes, coquetéis, ete.). Paraisso os homens são muito prestativos.

Não fique limpando cinzeiros, pondo guardanapinhosdebaixo dos copos para proteger a mesa. Ajoelhou, temque rezar. E por falar em cinzeiros, que sejam muitos eenormes - dedal é para costurar.

120# Um prato interessante e uma salada verde são o suficien-te par-a um simpático jantar, quando você não tem umgrande staff de empregados. Sejamos franeos: quando não

tem nenhum. Tá bom: então, dois pratos e uma salada. Umdeles pode ser uma massa. Prefira os que dispensam o usoda 1'aca, se vocês não vão comer na mesa. Uma sobremesa,algumas frutas (das fáceis), e fim de papo.

'I'ambém é possível reunir amigos combinando cada umtrazer uma coisa. Ou pelo menos a sobremesa. Para a donade casa que cozinha, um trabalho a menos. Não se esqueçade devolver o prato, pouca gente lembra. E é sempreaquele pyrex que a gente adora.

MuiCo simpático e fácil eneomendar um sushi. Nempanela suja, olha que maravilha. Mas todo mundo tem queadorar, pergunte antes.

Se a comida de sua casa for péssima, faça os convidadosbeberem muito, bebidas fortíssimas, e sirva o jantar bemtarde. Ninguém vai distinguir uma cenoura de um petitpois, garanto.

T ragédia! O rosbife queimou. Tragédia? Depende. Che-guc na sala com um grande sornso, diga que se distraiu,tão boa estava a conversa e ponha em votação: pizza,lasanha ou um espaguete que você descobriu no fundo doarmário• Você verá que todos vão se envolver, talvez atémesmo um mais prendado se proponha a fazer o molhopara a massa com o que houver na geladeira. E vocês aindavão rir c se divertir muito. O importante - não se esqueça- é ter charme.

Quando fizer sua lista, procure convidar:

121# · um ou dois políticos que sejam de partidos diferentes,

mas nem tão adversários assim

· alguém com uma profissão insólita - dono de umacriação de crocodilos no Pantanal (agora pode - oIbama deixa), alpinista. Se possível, o próprio AmirKlink

· se for cm janeiro, tente trazer um carnavalesco

· um gr•znde sedutor, uma grande sedutora

· dois ou três jornalistas, que vão chegar bem tarde ecom muitas novidades

· um autor de novelas (de uma que esteja no ar, depreferêneia)

· uma atriz que nunea trabalhou em novelas mas queestá louca para (pobre do autor)

· um psicanalista bem falante

· algumas mulheres muito bonitas - desnecessário se-rem inteligentes

· e algumas pessoas de sexos bem variados, inteligentes,charmosas, solteiras, eneantadoras.

F bom que nem todos se conhe•am. Na hora de fazer alista, pensc: A c bem capaz de se dar bem com Ij, quemsabe pode até sair um namoro? Esse tipo de tentativa nunea

122#dá em nada, claro, mas anima bastante. Pronto. Seu jantarjá é um sucesso.

*

Se na sua casa existir um único banheiro, no dia dereceber os amigos elimine qualquer vestígio dos objetosde uso est•ritamente pessoal. Escova de dentes, desodoran-te, Plax, creminhos, gilete, tudo isso sai fora e dá lugar aum jarrinho com flores, que tal• E não se esqueça de trocaro sabonete por um novo.

*

As pessoas recebem mais freqi.ientemente para jantar.Mas adoro quando me convidam para um almoço (talvezporque eu não goste de dormir tarde). É supersimpático,num sábado, tipo três horas, todo mundo acordou tarde ,se foi à praia já foi, se está chovendo melhor ainda, nin-guém tem mesmo empregado no f-un de semana, quemalmoça às cineo não precisa se preocupar com o jantar,

muito agradável a idéia.

Teste sempre sua receita, nunea invente novidades nodia em que está recebendo amigos. Evite o que tem que serfeito na hora, tipo suflês, frituras. A não ser que você tenhauma supereozinheira ou que não possa viver sem se preo-cupar, sem sofrer. Escolha os chamados `pratos que podemesperar'. Goulash, arroz de mariscos, galinha ao curry - euma bela salada verde. Tenha sempre comida e bebida amais, pode sempre acontecer chegarem mais algumaspessoas.

123# Se você faz um prato divinamente bem, repita. Quandoos convidados chegarem, diga: "Estou fazendo aquela mas-sa yue você adora". Vira atenção especial, e não repetiçãomonótona.

Uma amiga que adoro, dessas que não estão nem aí, veiojantar em minha casa, só nós duas, e em vez de usar opratinho de salada, misturou tudo no prato grande. Quan-do pereebeu, ticou para morrer, disse "logo na sua casa,voce que está escrevendo um livro", ete. Não foi difícilfazê-la entender yuc não tinha a menor importâneia. Erradoseria se cu me tomasse de ares e contasse o fato para todomundo. Confundir um prato com o outro? Como diziaNelson Rodrigucs (meu ídolo): "afinal, nós temos uma almaimortal".

Qual a lembrança que fica de um jantar? O serviçoperfi:ito? As louças valiosas? A prataria preciosa? O requintedos pratos? Esse conjunto c realmente sedutor. Mas ao ladode todas essas maravilhas é preciso que haja aquela mágica,que não depende da dona da casa, nem dos convidados.Quando acontece, o jantar se torna aquele acontecimento,do qual você nunea vai se esquecer.

Quando você convida - com grana

Para um jantar de 15, 20 pessoas, convide oito dias antes.Quanto maior for, mais antecedêneia para convidar. Emjantares de improviso, vale até no mesmo dia, não esque-

cendo, claro, de dizer que acabou de resolver.

12•# Ao convidar, sempre teleÌone pessoalmente. Vale a se-cretária ligar se quem dá o jantar for um celibatário. Sendojantar muito gt~ande e que por isso você convidou comgrande antecedêneia, mande um pour mémoire de pois doconvite ter sido aceito. (Para quem não sabe, pour mémoi-re é um cartão impresso, com espaços em braneo paraespeciticar, à mão, se é jantar, almoço, coquetel, dia, hora,traje.)

Explique seml•re a razão do jantar: recebi um salmão,um amigo que chcgou, comemorar as eleiçõcs na África doSul, os 200 anos da Rcvolução Praneesa, yi' importe. Digao tr·aje c cite al•umas das pe.ssoas que vão cstar presentes,sobretudo se o jantar l'or pequeno. Assim, se a pessoa nãomantém relaçõc s com um dos convidados, dá para inventaruma desculpa. Não é preciso tal•ir a verdade - "porque clateve um caso com meu marido", por exemplo. Se nãoaceitou c mandar llores no dia, é a perfeição.

Nunea s• deve perguntar quem são os outros convida-dos. Cabe a yucm convida dar uma panorâmica (scmprecisar ler a lista inteira). Nunea se deve, como eu disse,mas eu pergunto. I'cr•unto sim. Atinal, a vida não é umaroleta-russa (ou c?) c I;osto de saber o que me esperaquando saio de casa. Claro, dou uma volta, tipo "é muitagente? quem vai estar?" Para dizer a verdade, essa perguntaque nãv de.ve ser feita, pode cvitar gr•indes constrangimen-tos para todos.

Quando se manda convite com as letras RSVP (Re••on-dez, S'il Vous Plait: respond:•, por favor), espera-se aresposta com certa rapidez. Ajuda quem está convidandona previs•io da bebida, comida, garçons. Sem contar que,

125#se receber 20 respostas negativas, são mais 20 pessoas quepoderão ser convidadas.

Fscolha com atenção os convidados de sua fe.sta. Devehaver um mínimo de harmonia cntre eles; mas também,harmonia demais ninguém agizenta. Chame também gente

polêmica, costumam ser o sal de uma festa.

Quando você telefonar para convidar, mostre o prazerque sentiu pelo convite ter sido aceito. I: lamente quandoa pessoa não puder comparecer.

Nada mais triste do que aquela bandeja com 22 canapésde caviar para oito pessoas. Caviar, ou uma lata de 125gramas para cada um, de: colher, ou amendoim geral.

Nunea telefone para alguém que está dando uma grandefesta na véspez~a ou no dia, para Ìorçar o convite. Quandoisso acontece comigo (nos dias yue precedem Ìestas éimprudêneia atender ao telefone), quem atende perguntaquem quer falar. Se não quero mesmo convidar, mandomeu pedido de desculpas e digo que falo depois. A não ser,claro, se for alguém que:. deixc.i de: chamar por distração,esclC:roSe, isso podf. acontecC'r. NtSSe C•l,SO atelld0 • pe•0desculpas, explico, convido, insisto.

Um de seus eonvidados telefona para perguntar se podelevar um amigo, amiga. O pedido só se justilica se Ìoralguém que os donos da casa não conheç.am. F se o jantarfor suficientemente grande para não criar problema. Nun-ca leve sem perguntar, não pega bem.

Mas seu convidado nem telefonou e já chegou com aamiga a tiracolo. Mostre-se eneantada. I: procure conhecer

126#melhor essa pessoa. Ela pode ser eneantadora e até - quemsabe -, vocês podem se tornar amigas, por que não? Aposteno inesperado, você pode ter boas surpresas.

Aquele casal se separou e você está dando um jantar, oque Iàzer? Bem, a não ser que você seja declaradamentemais amiga de um dos dois, convide o que está precisandomais de se distrair, de uma força. Até pode perguntar"algum proble:ma, se eu convidar seu ex?" Se tudo bem ,maravilha. Se não, tudo bem também. Pode até dizer parao outro (o excluído) que, como ele está numa boa, ficoupara o próximo. E ponto tinal.

Não misture família em suas festas. Embora adorandonossos parentes, os amigos não têm culpa disso.

Se for seu próprio aniversário, parabéns e segredo abso-luto. Se for o de um amigo, avise, para que todos tragammuitos presentes.

I: por falar em aniversários: duas amigas, Ilva e Lila,inventaram de comemorar o meu de maneira diferente.Como todas começávamos a trabalhar relativamente cedo,f'omos làzer um coo•er, andamos uns cineo quilômetros edepois tomamos café no hotel Méridien. roi uma manhãcheia de alegria, de grande criatividade.

I•omenageando um estrangeiro, cuidado com os pratostípicos. Um só - é mais do que suficiente.

Convidar pessoas inimigas, políticos adversários ferre-nhos, ex-marido-que-acabou-de-casar-com-ex-maior-ami-ga, só quando a festa é enorme.

127# Jamais comece a convidar com a frase "o que você vaiI'azer na quinta-feira?" Essa pergunta é uma cilada, pois sócomporta dois tipos de resposta. Ou "tenho um jantar" ou"nada", o que é um grande risco. Já pensou se te convidampara um baile funlz, para ser jurado do coneurso de MissVerão, ou um campeonato de tranea?

Se um de seus amigos esteve envolvido recentementeem escândalo finaneeiro, contrabando de armas, tráfico dedrogas, com direito a aparecer na 1•V c nos jornais, por maisque vocês sejam amigos, de um tempo. Deixc para convi-dá-lo depois que o caso estiver csclarecido ou, pelo menos,esquecido.

Quando resolver dar um jantar, pense sempre se osconvidados que você elegcu são os que você gostaria deeneontrar - se o jantar fosse em casa de outra pessoa.Pense no seu próprio divertimento, e tudo correrá bem.

Copeiras vestidas corretamente, uniforme preto, aven-tal braneo (não necessariamente de organdi), sapatos pre-tos Ièchados e sem salto, cabelos discretamente penteados. Sevocê Ìor uma dona de casa muito novidadeira, pode pedir àsua cmpregada (sc for negra) para fazer um penteado al'ro.

Nunea sirva prdtos difíceis de comer, a não ser que todossejam íntimos do prato em questão. Evite embaraços paraseus convidados, servindo escargot a quem nunea ouviulàlar dessa delícia. Como ninguém aprende a comer escargotpor escrito, ne.xl time, em Paris, preste atenção. Se forpreciso, peça ajuda ao garçom, ele vai adorar te ensinar (enão se: esqueça de uma boa gorjeta depois). Regale-se.

l28# Avise, se for servir um prato pouco banal, tipo cérebrode sagüi, cuscus marroquino ou mesmo um singelo vatapá.Quem aceitar o convite, mesmo com horror, fica caladi-nho, come em casa antes e na hora finge que come, nuneaobrigando o anfitrião a preparar um pratinho só para ele.Se os pratos forem à base de alho (que delícia), é bom avisartambém. Alho - ou comem todos, ou não come ninguém.Mesmo em restaurantes. Para quem come, um copinho deleite depois. Não resolve mas ajuda.

rrutas a serem servidas num jantar, pela facilidade:caqui, tlgo, uva, cereja, morango. Já preparadas para viremà mesa: manga, melão, melaneia, laranja, abacate, kiwi,goiaba.

Dependendo do número de convidados, divida cadaprato que voce vai servir em duas, três travessas iguais; paranão ficar aquele horror, pessoas na fila esperando para seservir: para mim, quer sejam recepções de posse de presi-dente, de casamento, cruzeiros em navios, hotéis (comalmoço e jantar ineluídos na diária) ou a sopa dos pobres,é tudo igual. Preriro morrer de fome.

Se você pretende armar um jantar puxado seriamentea gastronomia, não vá além de oito pessoas. Nessa noite,só dois assuntos são permitidos: a mesa e os vinhos.Antes do jantar, não beba mais do que dois drinques,xerez ou vinho braneo, por exemplo. Que ninguém seeneharque de uísque, não tem nada a ver. Se você é aesposa de um desses serüssimos amantes da mesa e nãoliga para tais prazeres, que tal, num gesto elegante,liberar seu lugar para outra pessoa mais merecedora doprivilégio? Tenho certeza de que todos erguerão umbrinde à sua compreensão e generosidade.

129# Nada mais monótono do que um jantar em que você jásabe quem vai •star, o que vai comer, o que provavelmentevai acontecer - isto é, nada. Crie algo, chame JoãozinhoTrinta, faça qualquer coisa, senão eu grito.

Se sua festa está tão mas tão boa que ning•zém vaiembora, você pode:

· esconder a bebida

· dizer que o gelo acabou

· vassoura atrás da porta de cabeça para baixo e sal nofogo (não costuma falhar).

Mas falhou. Então você põe aquele disco de forró sacu-dido, comprado especialmente para essa finalidade. Osom, no volume máximo. Deve funeionar.

Também não funeionou. Então, se o grupo for pequenoe íntimo, você pede desculpas, diz que vai dormir e queeles batam a porta quando forem embora, pois você come-ça a trabalhar cedo.

Mas suponhamos que você é daquelas que gostam deque a sua festa não acabe nunea. Mesmo assim, nãoexagere, como aquela anfitriã em Salvador que me per-guntou, às sete da manhã: "Mas já vai? Alguma coisa tecontrariou?"

Se você algum dia deu um jantar, então sabe o que é asolidão da manhã seguinte, quando você está louca paracomentar o que se passou, saber o que as pessoas acharam,#sc tudo funeionou bem, ete., e ninguém telefona. Eu fícoarrasada, quero morrer. Pense nisso e, sendo a anfìtriã suaamiga, ligue - ela vai adorar.

131# 1

Cha·cha·ch• de las secretárias# Os ambicntes de trabalho são estranhos. Sempre há umat•nsão pairando no ar e um perÌume da secretária, narecepção. A partir desse ninho de relaçõcs quasc perigo-sas, saiba como se aprumar em escritórios, repartiçõesgrandes ou microempresas. ,Saiba que uma secretária detiituro é aquela que tem a frieza de um robô e a discriçãode um •nomo invisível. Assim como os chefes c os patrõesde:vem parecer eunucos de gravata.

E. L.# Você é o patrão. Então, proíba sua secretária de dizer,•io telelone:

· quem deseja?

· quem gostaria?

· de chamar as pessoas de "meu bem", "meu amor"

· de perguntar: "Danuza Leão, de onde?" Ora, de onde.De minha casa.

Em tempo: nunea repreenda a secretária na frerite deninguém. Nem mande que ela escolha as flores que vocêprecisa mandar, o gosto pode não combinar.

Instrua sua secretária para quando você não quiser ounão puder atender ao telefone. Ela deve ter um talentoespecial para não deixá-lo mal e não constranger a pessoaque chamou.

135# No ambiente de trabalho, deve-se evitar:

· salto muito alto, tênis

· cores berrantes, elétricas

· saia muito justa, muito curta

· batom, esmalte vermelhão (e biquíni cavadão)

· decotes, pulseiras barulhentas, brineos enormes

· qualquer perfume

· cabelos compridos e soltos

Tudo que é visto, lido, ouvido ou pressentido numescritório torna-se sigiloso. Secretária alguma deve ter cum-plicidades, fazer comentários nem lançar sorrisos com-preensivos para seu chefe. Neutralidade acima de tudo. Amelhor política é a da pouca intimidade. Com o chefe, aesposa do chefe, os filhos do chefe, o caso do chefe.

Qiiando a secretária pereebe que o telefonema é pes-soal, deve sair da sala discretamente. Uma boa secretárianão deve ser curiosa, nem deve se apaixonar pelo patrao.Não deve também ser do tipo ciumento, que dificulta oacesso ao chefe a •ertas pessoas.

Quando chega alguém para falar com o patrão, a secre-tária deve limitar-se a oferecer café, água. Sem puxar con-versa mas respondendo amavelmente ao que lhe forperguntado. Não deve estender a mão para as pessoas que

136#chegam. Nem ficar ao telefone conversando, enquanto apessoa espera.

Secretária: ao ser paquerada pelo patrão, defenda-se,voce já deve ter idade para saber como, já não passou dos15 • tlfinal, no trabalho ou na rua, toda mulher deve sabercomo dizer não. Agora, se a coisa ficou mesmo muito feia,seja realista. Você não vai conseguir despedir seu chefe econservar seu emprego. Fntão, se for o caso, troque detrabalho antes de ter de chamar a polícia.

Não passe a segunda-feira contando o seu fim de semana.

Não fique pendurdda no telefone, namorando.

Ao chegar ao tz•balho, cumprimente todos como se omundo estivesse correndo às mil maravilhas. Não fique sequeixando da vida.

Nem conte para seu patrão que o colégio das criançasaumentou, o plano de saúde também. Peça o aumento semprecisar entrar em detalhes, você vai ter mais chanecs de

conseguir.

Seja boa colega de trabalho. Se ofereça para quebrar umgalho, seja leal com os companheiros. Nunea faça comen-tários desagradáveis sobre a firma em que trabalha, sobreseu chefe. Corredores e bebedouros têm ouvidos. Cuida-do, emprego está difícil.

F não venha com a história de "meu chefe implicacomigo". Nunea houve chcfe que implicasse com um bomtìineionário que trabalha bem e não cria caso. Faça uma

137#autocrítica c pense se isso não passa de desculpa para voc•mesma.

Quando voce for presidente da República e reunir seuministerio, atenção: a cada duas horas, as pessoas (até parase refazerem e conseguirem produzir mais) precisam dede'r. minutos ••e descanso. E se a reunião começou demanhã e varou a hora do almoço, o mínimo da boa hospi-talidade obriga a uma rodada de sanduíches e refrigerantes,antes que caia a primeira vítima. Não fazer isso é sinal deprepotêneia e despotismo.

l:•s#Meu B•leneiag• está um• f um••• só# "Meu Baleneiaga ficou uma fumaça só, não volto maisnaque:le lugar." rrases assim costumam ser proferidas porquem se ineomoda com lugares de alta coneentração defumaÇa. Radicalismos de lado, os não-fumantes podem ser,em algumas situações, tão chatos quanto os fumantes.Acender um cigarro e se entregar a esse prazer é uma coisa.rumar compulsivamente é outt~a. Os atletas que me per-doem, mas fumar um cigarro pode ser um belo exereíciode clegâneia. Assim como os adeptos da mania tambémdevem achar normal e correto alguém que se ineomodecom baforadas perdidas no salão.

Is. L.# • muito feio uma mulher fumar na rua. Evite.

Nunea apague um cigarro numa planta, num pires. Se

não eneontrar um cinzeiro, engula a cinza mas não jogueno chão. Mesmo com raiva, evite apagá-lo na mão ou nobt~aço do namorado que está especialmente saliente naque-la noite.

Jamais entre num lugar fumando.

Nunea acenda um cigarro no outro.

•m carros com ar-condicionado, cuidado. Se não estivermesmo dando para segurar, peça licença e pergunte se nãovai ineomodar. Vai, é claro. Mas se você contiriua decidido,abra um pouquinho a janela, dê não mais do que duastragadas e apague imediatamente o cigarro.

141# Se você não fuma, mesmo com horror não diga que ocigarro dos outros te ineomoda. Não seja um corta-barato.OLi troque de. grupo.

Se você tem mesmo pavor a cigarro, nem por isso temo direito de desaparecer com os cinzeiros de sua casa,quando espera amigos. Não seja tirano.

Charuto? Cachimbo? É bom perguntar antes se tudobem. Cachimbos, só em casa, de prefereneia na bibliotecae se você tiver passaporte inglês.

Acender seus próprios cigarros faz parte do ritual deÌumar para certas pessoas. Se pereeber que alguém estásendo muito veloz em acender os seus próprios, na tereeiratent•itiva frustrada, pergunte. Lembre-se de que hoje éperfeitamente normal uma mulher acender seu própriocigarro. h algumas preferem.

Se algucm que se vangloriou de ter parado de fumar nãoresistir c puxar um cigarro, favor deixá-lo em paz - emlugar de falar: "Mas você não disse que tinha parado?"

Não se esqueça de sair levando seus cigarros, nada piordo que aquela que já chega pedindo. Aliás, cigarro é igual

a hlush, batom, objeto de uso pessoal.

Uma das minhas paranóias é cinzeiro sujo. Se eu não mesegurar, esteja em casa de quem estiver, estou limpandoos cinzeiros. Muito bem. Um dia em Paris, no hotel

142#Montaigne, estava lendo um livro. Lendo, fumando e des-pejando o cinzeiro, claro. Só que a cestinha de lixo, queparecia ser de metal, era de plástico. De repente, a lataestava derretendo - como bruxa de história infantil. Con-segui, com a ajuda de uma toalha, levá-la para o banheiroe voltei â paz da minha leitura. Quando olho - ah, quandoolho -, pela fresta da porta saía uma fumaça preta epequenas partículas de não sei o quê, como se fosse umapocira negra. Saí correndo e pedi socorro ao coneierge. Daía pouco chegavam os bombeiros (lá eles não brineam comessas coisas). O papel de parede do quarto e a cortinaticaram negros de Iùmaça, foi um escândalo e acabei -umhorror - expulsa do hotel. Que vergonha! Bom, tudopassou - até a vergonha. Menos a minha mania. Só queagora veritico muito bem se o cigarro está apagado antesde jogá-lo na cestinha. g hotel Montaigne, nunea mais.Passci a provocar meus ineêndios bem longe, na RiveClauche.

Não sou a favor do fumo, claro. Mesmo que fosse, nãoseria louca de levantar essa bandeira. Mas ouvi, de fontemuito bem-informada, que morre muita gente de infarto,só de tensão - pela falta de um cigarro.

143#1 1 1

La vie en rose à la carte# Solteiros parecem maiores abandonados ou gcnioscmaneipados. Morar alone não significa habitar uma jaula

imunda, nem passar a impressão de que se está prestes avirdr ernzitão. Optar por uma vida de bachelor não querdizer que você só possa comer corn flakes no café damanhã. A solteirice- antiga ou de poucos dias - pode nãoser aquela sensação de bonjour tristesse. Declare todos osdias estado de carnaval em sua casa, nem que seja paradlnçar cheeh to cheeh com a vassoura!

E. L.#Estatutos de um namoro:

· poucas demonstrações de paixão em público. Cari-nhos ligeiros, discretos, são o suficiente

· não f iquem contando como se conheceram, como onamoro começou

· em público, jamais chame seu pareeiro por um apeli-do íntimo que vocês inventaram um para o outro. TipoPituquinha, Ncném, ete.

· não fiquem contando como é o outro, as característi-cas, a íiltima briga, as pazes, ete.

· nada de bilu-bilu em público. • bonito o amor, mas sóinteressa aos que estão se amando. E dispensa platéia.

147# I'or maior que seja sua paixão, seus amigos agora sópodem ver você acompanhado? Um elemento novo nogrupo costuma inibir a intimidade, e nada mais chato doque gente que vive grudado no namorado.

· jamais diga que namorou A, B, C, D, I:, P, ete. Onamoro, tendo sido público, se perguntada, apenasconfirme. Jamais conte nada dos seus ex. E liqueatenta. I-Iomem que fala muito dos amore:s passadosvai falar igualzinho de voce, já pe.nsou?

· se voce está em casa do seu namorado e cle recebe umtelefonema, saia diseretamente da sala, vá retocar amaquiagem. A ele cabe desligar rápido, em atenção aVOCê

· num jantar, que os namorados não fiquem juntos otempo todo. Para fazer cena de love stoyy, melhor nãosair

l•enha em casa alguns maços de cigarros da marea queseu pareeiro fuma, se é que ele tuma. Nada mais gentil. Jádeu para pereeber que eu fumo, não? Mas estou pensandoscriamente em parar.

Se você for mais alta que seu namorado, cvite sapatosde salto. Nem todos os homens aceitam com um sorrisobater no ombro da mulher com quem estão. Alguns atéI;ostam, mas é raro. Eu tenho um amigo que c feio, baixi-nho e se veste mais para o mal. Mas c inteligente, charmosoe muito vaidoso. Ple adora mulheres lindas, c de preferên-cia, muito altas. Diz ele que, assim, as outras mulhereslicam se perguntando " mas o que foi que ela viu nesse

Í l•#homem? ele deve ser inerível!" E nessa, meu inteligenteamigo se vê cereado de mulheres, todas muito curiosas deconhecer seus charmes secretos. Que ele, aliás, aproveitapara exibir, sem nenhuma modéstia. Esperto esse meuamigo, não?

E os ciumentos? Bem, aí já é um problema que transcen-de este livro. Mas qualquer coisa - qualquer - é melhor doque uma briga pública, uma cena de ciúmes. Se vocêpereebe que não vai conseguir se controlar, evapore-se.Suma. Pegue seu carro, um táxi, o carro dele - deixe ele apé, não faz mal -, desça pelas escadas, respire fundo tireo telefone do ganeho quando chegar em casa, e deixe parabrigar no dia seguinte. Fácil dar conselhos, não?

Se voce vai ter uma conversa daquelas definitivas comseu namorado, nada de tênis. Um bom salto alto vai te daroutra moral.

Free again

Separdção: alívio ou grande dor? Ou os dois juntos?Manda a prudêneia que você não tenha pressa, nem para

cair de boca na vida, nem para casar correndo. Aproveite essemomento maravilhoso, mesmo que ainda esteja doendo.

Você eneontra sua ex-paixão de namorado novo. Hajacoração! Mesmo que tudo já esteja superado, nem gostemais dela, é duro, convenhamos. Mas não dê bandeira.Fique frio e, logo que possível, deixe o gramado, vá paracasa, tome bastante água, eu disse água! Não fantasie queela c a mulher de sua vida, provavelmente não é. E não

149#telefone de madrugada, pense bem; se quiser mesmn falar,por que não deixa para amanhã, para não se arrependerdepois? Ah, mas tão bom esse telefonema da madrugada.E se ela não estiver so'r.inha? Já pensou no seu desespero?

O namoro acabou e você está arrasada. Mas não se deixeabater: aproveite o tempo vazio para se cuidar. Entrenaquela ginástica, faça aquela dieta, você agora tem temposobrando, use-o a seu favor. Muita massagem de óleo noscabelos, creme na cara. Ocupe-se, distraia-sc., nada de licarrelembr'ando os tempos Ìclizes que não voltam mais. Apro-veite para dar Lima •eral nas suas renipas, mexer nas bainhasdos seus vestidos (sempre para cima, claro). Olhe par'a afrente, pense no seu lùturo amor. Ou você acha que estefoi o último?

Ouvi ou li, já não me lembro, que o fim de um amordeveria ser comemorado com uma festa. Não para festejaro fim de algLima coisa (o que é sempre triste), mas como oprineípio de uma nova fase. Por que não tentar?

Seu namorado: como • ele?

· mimado?

· lilho único, adorado pela mãe•

· possessivo?

· machista?

· imaturo?

150# · vaidoso?

· competitivo?

· galinha?

· dono do mundo?

· ciumento• (um pouquinho não só pode como deve)

Se ele tem muitas das características acima, vá comcalma. F não diga que não avisei. Namore, viaje, tenhaIilhos, more junto, até case. Mas cuidado para não seapaixonar. F falando em paixão: nunea se apaixone por umhomem que não seja capaz de se emocionar. Não confieem ninguém, aliás, imune a emoções.

Apaixonados, vocês já pensam em morar juntos. Sugiro,antes de consumar o fato, ensaiar pequenas viagens. Co-mecem com tins de semana (curtos). Deu certo, a vontadecontinua. Planejem, agora, uma viagem mais longa. Setedias. (Viagens são grandes testes para ver se vale a penaenf rentar a vida em comum. Nelas, sabe-se mais sobre aspessoas do que em anos de amizade, de namoro.) Se foitudo maravilhoso, comecem a se preparar para o grandepasso. Mas se escolherem continuar morando cada um emsua casa, por que não? é também uma excelente maneirade viver a dois.

151# .

A pra•a da •legri•# Impossível conhecer alguém que não tenha amigos ouamigas declaradamente gays. Festa, repartição e excursãosem gay perde toda a graça. Mas lidar educadamente coma categoria exige certos eondicionamentos, antes que con-talos de primeiro grau sejam rebaixados a tereeiro. Voilà!

E. L.# Se voce costuma transitar pelo mundo gay e um rapazte apre.senta a outro dizendo "este é Ricardo, estamosjuntos há dez anos", fique fria. Se você ainda se escandalizacom essas coisas, mesmo assim não mova um só músculodo rosto. I: para não ficar aquele braneo, pode até dizer"que coisa bonita, rard, um casamento durar tanto". Masnão leve sua naturalidade ao exagero de perguntar: `•ocêstêm fllhos?" Sim, pois você pode ouvir como resposta:"Não, nós evitamos". Aí quero ver a sua cara.

Quando você receber uma cantada gay, reaja da mesmamaneira que você reagiria a qualquer cantada. Dê corda,sc estiver a fim. Corte, se não estiver. Caso fique muitonervoso, atenção: isso costuma ser uma grande bandeira.

Após as apresentações, você não precisa ir logo contan-do suas preferêneias sexuais. Ninguém tem nada a ver comisso.

155# E como mandar um convite para um casal gay? Se,olicialmente, a casa é de Luís, mande dois convites dentrodo mesmo envelope, sobrescritado em nome de Luís. Oumande dois convites em dois envelopes. Menos proble-mas, melhor assim. Em nenhuma hipótese use sr. e sra.

Se você quer convidar seu amigo gay para jantar e ouviufalar que ele está casado, o que fazer? Convida também onamorado que nem conhece? Nenhuma obrigação - a nãoser que tenha sido participado do casamento.

156# 1

1

-

1 1

Por f àvor, p•re a•ora!# Noivados e casamentos não são ficção científica. Exis-tem, acontecem diariamente aos montes, assim como qui-lômetros de tule e açudes de lágrimas são gastos naprodução de tais situações. São exatamente aquele tipo deacontecimento onde um centímetro a mais pode significarum desastre. Ou uma gota de champanhe a mais podetransÌormar o que parecia bobagem no mais inacreditáveldos contos de fadas. raça sua opção ou anule a questão.

•. I..# Consta que, em outros tempos, quando um noivado erarompido, a noiva costumava devolver todos os presentesdados pelo noivo, junto com as cartas recebidas. Hoje, osI'atos mais íntimos são publicados na imprensa e os noiva-dos, raros. Que dizer então dos presentes? Mas, e se acon-tecer? Mais uma vez, depende. No meu entender, se quemrompeu I'oi a noiva (caso raro, as mulheres em geral adoramcasar), tudo certo, ela devolve os presentes. Mas se foi onoivo, deixando a noiva arrasada, infeliz, não tem quedevolver nada. I: tomara que ela já tenha, no nome dela ,apartamento, earro, tudo dado pelo noivo. Aí ela vendetudo e faz uma bela viagem de volta ao mundo, par'aeneontrar o seu verdadeiro príneipe eneantado.

Se você quer aprender o protocolo de um casamentotradicional, um conselho: procure um profissional doramo. •le vai ensinar tudo na perfeição, ensaiar a cerimô-nia, alem de cstar presente no dia, comandando a opera-ção: quem cntra primeiro, quem fica ao lado de quem noaltar, ete., coisa que nenhum livro, aliás, poderá fazer por

159#você. Mais uma coisa. Quando, após o casamento, osnoivos recebem para uma recepção, nem sempre convi-dam todo mundo. Daí aquele cartãozinho antipático quesó os privilegiados recebem. Eu, quando recebo o convitesó para a igreja, Iico arrasada, não vou, só telegrama epronto. E não gosto dessa moda. Ou convida todo mundo,ou não convida ninguém. Mas uma recepção, como deveser caro. Por que então não fazer uma pequena reuniãodepois da igreja, convidando apenas os muito, muito ínti-mos? Por telefone, sem nenhum cartãozinho, para que nãohaja dúvida sobre a intimidade da coisa.

Outra coisa que complica muito os casamentos são asIamílias. Parentes que não vemos há 250 anos, outros quenunea vimos, sobrinhos-netos, primas em tereeiro grau jáno quarto marido, os tilhos dos outros casamentos domarido, um caos. Essa mistura Ìaz de um casamento umaestranha reunião (estou falando sobretudo dos casamentossc:guidos de recepção). Uma amiga minha resolveu bemessa situação. Casou-se na igreja de manhã, cm seguidarecebeu toda a família, padrinhos, ete., para um almoço.Mas toda a làmília mesmo. À noite, convidou para umadiscoteca os amigos, sem ninguém da família. roi muitodivertido. A noiva gostou tanto de cstar vestida de noivaque foi para a pista de dança de grinalda c buquê. A festaacabou alta madrugada, os noivos dançando rock, anima-díssimos, foi superlindo, alegre, ver noivos tão soltos, emvez de bonecos de vitrine recebendo cumprimentos emgrande parte de gente que nunea viram. Adorei.

Se alguém, pretendendo se casar, me perguntasse comodeveria fazer o casamento, eu não tenia dúvida: aconselha-ria, se tivessem uma casa fora (se não tivessem, a de umamigo) e f'izessem questão de cerimônia religiosa, que se

i•o#casassem na igreja da cidadezinha mais próxima, só comos amigos mais queridos, de manhã. Não usaria tafetás,bordados, apenas um belo vestido de algodão (mas sem umsó tio sintético), acho um luxo. Um almoço depois e fim.

O casamento mais bonito que já vi foi o de Ilde e Jean-Louis Lacerda Soares. Eles se casaram na capela Mayrink,

na rloresta da Tijuca, não mais do que 50 pessoas, convitesleitos por t•lefone, do lado de fora uma mesa apenas como bolo, simples, simples. Nada de canapés, suquinhos,apenas caviar e champanhe, TONELADAS. Eu e Samuelfomos padrinhos, foi lindíssimo.

Só mostre fotos e vídeo do casamento a quem tiverestado lá - assim mesmo, se pedirem muito. Quanto aosconvites, vá a uma boa gráfica, há mil modelos, podem teaconselhar. Escolha, de preferêneia, um bem simples.

Olha, estou falando de casamentos como se fosse umae.•pert no assunto. Na verdade, me casei três vezes, apenasuma no civil. As outras duas pelas minhas próprias leis.Meus filhos me pouparam de um casamento na igreja. Jápensou, eu vestida de mãe da noiva, de longo, saltos altos,arranjo na cabeça, horas em pé, recebendo os cumprimen-tos na sacristia, acho que desmaiava. Pinky só pôde se casarcom Roberto depois da lei do divóreio e já com dois filhos.[Na semana seguinte, Pinky se vestia para ir ao casamentode uma amiga e uma das crianças perguntou: "E quantosfilhos eles têm?" Para eles, o normal era os pais se casaremjá com filhos.) O casamento de Samuca foi lindo: numcartório em Copacabana, ao lado de uma pracinha ondehavia uma lanehonete, tipo 11 da manhã. Depois descemose ficamos tomando sorvete, milk shake, Helô com umbarrigão de oito meses, um monte de amigos. Foi como-

161#vente, um dia inesquecível. Bruno, já com dois filhos, serecusa a assinar o tal papel. Ele é quem sabe.

Pode parecer que eu seja contra o casamento. Claro quenão. Apenas, não acho importante. Importantes são ossentimentos que, no meu entender, devem ser vividos compudor e discrição, partilhados apenas com os íntimos. Falode sentimentos - sejam eles de dor ou de alegria -, não defestas.

•62#Oh, que delici• de guerr•!# Talvez fosse mais simples obrigar um tamanduá a dividir

a mesma toca com uma ariranha do que eneontrar osegredo da convivêneia mútua entre os tais humanos.Morar junto é padecer num paraíso ou pisar em ovosconstantemente. Morar junto pode ser glorioso. Mesmoque um belo dia você tenha uma crise existeneialista e acheque o inferno é o outro.

E. L.# Claro que é complicado. Um fuma, o outro não. Umgosta de gato, o outro de cachorro. Um come carne verme-lha, o outro só come peito de frango. Um gosta de NovaYork, o outro de Paris. Um adora cinema, o outro só vai ateatros. Não é fácil, temos que admitir. E como fazer?Alguém vai ter que ceder, claro. Por que não você? É tãobom, quando se está apaixonada. Eu adoro.

Nunea, perto do outro:

· corte as unhas (prineipalmente as dos pés)

· tire as sobraneelhas

· passe creme no rosto

· raspe as pernas (com o barbeador dele jamais)

· limpe o ouvido com cotonete

165# · Iàça uma massagem de óleo no cabelo, ou uma `touca'

· pinte os cabelos

· esprema qualquer espinha ou afns

· escove os dentes

· I'ique horas pendurada no telefone

Í: bem verdade que existem pessoas que acham essasintimidades parte integr·ante do relacionamento. Tem detudo nesse mundo. Aproveito para dizer que nunea houveuma idéia pior do que aquela de duas pias no mesmobanheiro. Por que não dois chuveiros num mesmo box?

Tire um dia da semana para os cuidados relacionados

acima (estou evitando a palavra certa: faxina). Seu maridonão vai ao futebol? [Se não vai, obrigue-o a ir.) I: você, nãovai ao supermereado? Então, aproveitem as respectivasausêneias de maneira útil.

Nunea fale mal do seu pareciro com ningucm. Casaisdevem jogar no mesmo time. rure o olho dele com umestilete, mas só quando estiverem sozinhos. Constrangerou humilhar o companhciro? Se vocês se maltratam atemesmo publicamente, por que ficam juntos? Será medo denão eneontrar mais ninguém?

Aos que não conseguem deixar de jogar charme: seja ummestre na discrição. Galinhagcm com repereussão social émLtito mais grave. Aproveitando: nada mais fora de modaque o adultério. As relações devem ser livres, ensolaradas.

•66#I•umilhar a pessoa com quem se vive é, para além da discus-são sobre os sentimentos, muito, muito mal educado.

Elogie sua mulher, sua namorada. O vestido, o penteadoque cla mudou. Preste atenção na pessoa que você, pelomenos teoricamente, ama. Ela vai ficar tão feliz.

Se você vai fazer uma plástica, é aconselhável que, navolta do hospital, um dos dois vá passar uma temporadaem casa de amigos, ou num hotel. Só apareça quando aderradeird maneha roxa já tiver desaparecido. Quandoestiver uma deusa. Nada do marido participar da sessão-curativos, sabendo de pormenores tipo onde puxou, ete.Enquanto espera, namore pelo telefone, é uma total delícia.

O rímel, na manhã seguinte, transforma-se em grandeinimigo da mulher. Em compensação, óculos escuros sãograndes aliados. Durma sempre com eles na mesa de cabe-ceira. E uma máscara, no caso do outro gostar de ler antesde dormir.

Jamais converse sobre doenças femininas com seu na-morado, marido, o que for. Clinecologista existe para isso.Se sua mulhcr tentar colocar esses assuntos em pauta, sejafraneo, diga que não gosta. Isso não significa que você nãoestará solidário se acontecer algum problema. São apenaspequenos cuidados, para amenizar certos aspectos prosai-

cos da vida de um casal.

'renho uma amiga que põe o alarme do seu microdes-pertador para soar 15 minutos antes do namorado acordar.Esse despertador toca tão baixo que só o coração de umamulher apaixonada consegue ouvir. Aí, ela penteia oscabelos, dá um jeito no rosto, escova os dentes (só com

167#água, para não dar bandeira), volta para a cama e fingelindamente que ainda está dormindo. Supergracinha, elafazer tudo isso pelo namorado. Mas também esse homemdeve merecer, não é mesmo?

Nada mais insuportável do que mau humor matinal. Piorsó mesmo bom humor em excesso, aquele que já acordade bem com a vida, brineando e cantando no chuveiro.Que tal um pacto de silêneio durante os primeiros 60minutos depois de abrir os olhos, até voltar ao normal?

Dormir junto é ótimo. Acordar junto, nem tanto. Só queainda não foi descoberta a solução desse problema.

Capítulo louça suja na pia. São dois pratos, dois garfos,duas facas, dois copos. Tão mais fácil lavar do que discutira igualdade dos sexos. Antes do ataque feminista: você nãolava um pratinho, com o maior prazer, para sua irmã, seutilho, seu amigo? Por que não o do homem que você ama?

Mas se foi o homem quem sujou o tal pratinho, eletambém pode passar uma aguinha e deixar tudo em ordem.Afinal, sua amada não é nem sua escrava nem sua mãe.

•stando na casa da namorada, não vá pegando o jornale entregando para ela o caderno de variedades. Quandoduas pessoas costumam ler o mesmo jornal, o ideal é terduas assinaturas.

Não saia do quarto ou do banheiro sem um rápido toquede escova nos cabelos. Se for até a sala, no mínimo um robeem cima do pijama ou da camisola.

168# Quem mora junto deve combinar: dois toques de cam-

painha antes de botar a chave na fechadura, para avisar queestá chegando. Para não dar aquele susto; penso lógo queé assalto. E paredón para aquele que entra pé ante pé paraIàzer uma surpresa.

Morar junto exige manter a geladeira em ordem. Com-pre recipientes cspeciais para guardar as coisas. Melhor:faça como os europeus. Compre hoje apenas o que vaicomer hoje. Assim vocês terão tudo sempre fresco e semaqueles horrores de sobrinha de arroz, sobrinha de umlegume, sobrinha de sei lá o quê. Separe numa prateleiraos doc•s, as fr,.ztas. Na outra os molhos. Organize, tenhaorgulho da arrumação de sua geladeira.

Por maior que seja a intimidade (e morando juntoscostuma ser bem razoável), caleinha e sutiã na cozinha nãodá. Nem cueca. Aliás, nem morando sozinha: apenas umaquestão de estética.

Cheiro de alho é ótimo. Cheiro de amor é ótimo. Masnão misture. Cheiro de alho na cozinha e de amor noquarto.

Quando um dos dois não fuma, o que fuma que tenha agentileza de não fumar no quarto, sem que seja precisopedir.

Ok, vocês estão morando juntos. Façam o possível paraque cada um mantenha um canto só seu, mesmo que essecanto seja mínimo. Procure cada um conservar seus ami-gos, prazeres e atividades, sem aquela de ter que compartilhar tudo com o pareeiro. Não abra mão de ter sua vidaprópria, passeios, almoços, amigos, cinema, cooper, o que

169#I'or. Isso não deve ser computado como vida secreta, sãoapenas prazeres pessoais que qualquer pessoa tem o direi-to de ter. Mesmo em casa, tenha atividades só suas: armarum••uzzle, limpar o som, costurar, ouvir música, qualquercoisa. Está provado que aquela coisa antiga de "somos umsó coração" ou "só vou se você for" não tem nada a ver. •na hipótese do romanee acabar, agindo assim, você não sesentirá tão desesperadamente só.

Aviso às mulheres que fogem da cozinha: aprendam

alguma receita, ponham o nariz nas panelas, c uma delícia.I: mulhcr que não sabe cozinhar deveria ser proibida demorar junto com alguém.

l:, gente, um pouco de ordem na casa! Até se podetolet~ar que a roupa da noite, quando se chegou tarde, fiqueespalhada. Mas c tão, mas tão bom dormir com o quartoimpecavelmente arrumado. O sono fica mais gostoso, fa•aum csforço, vale a pena.

Nas relações amorosas, qualquer coisa é melhor do quea indiferença, o desinteresse. Às vezes fico obscrvando nosrestaurantes casais que jantam sem se olhar, sem se falar.I'ar'.• mim, é o pior tìlme que pode haver entre duas pessoas.

Guidado com as surpresas. Isso é muito pessoal, claro.I:u, se meu marido, namorado, o que lor, chel;ar em casaanuneiando que ganhou na loto, já comprou as passagenspara a gente embarear no dia seguinte para a I:uropa, queo prêmio foi tão alto que vou poder compr•ar todos osArmanis que quiser, vou ter um ataque - odeio surpresas.Mas sua amada pode ser mais dócil que eu. Mesmo assim,procure saber se ela gosta das novidades inventadas porvocê.

17•# Numa relação amorosa, depois de uma noite de grandedesacerto, de.sapareça. Dê tempo para que a raiva passe eque a saudade chegue. Talvez seja sua única chanee.

Aconteceu. O que pode acontecer, com duas pessoasque moram junto, namoram, convivem, ou são apenasamigas: um desentendimento, uma rusga, um malentendi-do, o que for, com ou sem razão, culpa de um ou de outro.Mas voces se cnt•nderam, se desculparam, se perdoaram.Fntão, regra de ouro: não se fala mais no assunto. Nuneamais, entendido?

`l•orne sua casa o melhor lugar do mundo. Falta dedinheiro? L deseulpa. Você sempre poderá fazer algumacoisa para melhorar, cmbelezar, mesmo com pouca grana.Quc ela seja o lugar onde você chega sempre com grandeprazer, onde se sente melhor, protegida de tudo c de todos.

I'ense um pouco. •m vez de comprar uma saia nova, um

tenis, compre um bonito pano (que nem precisa ser caro)c joguc cm cima do sofá, vai te dar um novo élan. Arrasteos móveis, mude tudo. A casa é um prolongamento nosso.Rellete nossa personalidade, o que vai dentro de nós.1'ortanto, coragem e mãos à obra. (Se continuo o discurso ,vou acabar dizendo que o mundo não vale o meu lar.)

Talvez você ache frescut~d tudo que leu neste capítulo.Mas não c. Se no início do namoro você não fazia certascoisas, por que não fazia? e por que faz agora? Renita sobreisso e procure, na sua vida a dois, preservar a beleza e ocneantamento dos primeiros tempos do seu romanee. Valea pena.

171#1'

Território ••gr•do# Bureker de azulejos que serve para todas as coisas queninguém nem às paredes confessa. Local onde a intimidadede cada um atinge a plenitude total, ampla e irrestrita. Tudoque se passa dentro de um banhciro assume ares de misté-rio. Daí aquele fetiche do buraco da fechadura. Faça dessaoficina um altar para suas mais recônditas displicêneias eum camarote impenetrável. Saiba que usar banheiro deportas abertas pode ser uma heresia. F •ros castiga.

h. L.# Quando entrar no banheiro, nem que seja para passarum inocente batonzinho, tranque a porta e abra todas astorneiras. Ninguém, nem mesmo sua mãe, deve suspeitardo que se passa lá dentro.

Seja na cása de sua maior amiga, no avião ou em suaprópria casa, deixe o banheiro impecável, ao sair. Nenhumvestígio de sua presença, aja como se tivesse acabado decometer um assassinato. Só não se preocupe com as im-pressões digitais.

Enxugue a pia e a banheira por dentro, assim queterminar de usá-las. Lave o sabonete e cuidado com aquelacspuminha hedionda que costuma ficar.

Tire qualquer fio de cabelo da escova, nem que sejaapenas um.

Esprema o tubo de dentifrício do fim para o começo. Ef'eche depois de usar.

175# Nunea deixe o tapete amarfanhado, estenda-o em algumlugar.

Se raspar a perna ou fizer a barba e a água acabar, limpetudo, nem que seja com saliva. Vai demorar, mas é o únicojeito.

17•#•l

0 •mpérió do• •er•••dós# Se os peixes morrem pela boca, um jantar morre pelafalta de idéias na cozinha. A sinfonia que gira em tor o deum prato inteligente, simples e saboroso, pode ser compa-rável às harpas celestiais. Uma orquestra de paladares só édestruída pela desatenção dos comensais. Mais vale umabela sardinha frita do que um quilo de caviar em casa degente chata. Ou aquele bistrô perdido pode ser mais envol-vente que uma festa de Babette. Comida é diversão e arte.Solte seus cães farejadores em busca daquela trufa impos-sível.

E. L.# Gastronomia -tão em voga nos dias de hoje. Como tudoo mais, pratos e tendêneias entram e saem de moda. Já teocorreu que, dentro de alguns anos, talvez seja coisa dopassado ir a um restaurante japonês? Pois prepare-se, nãoc nada impossível que isso aconteça. Em Paris, aliás, essamoda nunea chegou.

Seja superexigente à mesa. Isso é padrão de civilizaçãoe refinamento.

Saber o que se está comendo, poder identificar o queestá no prato: um direito de todos. Horrível, comidasenvoltas em cremes, queijos. Lá dentro, sejam camarões,cobras ou lagartos, não importa. Tudo tem sempre o mes-mo gosto.

Os homens costumam entender e apreciar mais a boamesa que as mulheres. Por isso, num jantar gastronômicode responsabilidade, melhor evitar a presença do belosexo.

179# Que o seu paladar tenha memória. Impossível esquecerumas bogas [pequenos peixes que, me parece, só exist•mem Portugal) comidas num inverno, no Algarve. O bareode pesca chegando, as gaivotas sobrevoando, um fogareirocom carvão para assá-las na brasa, um vinho de areia (feitode uvas que crescem em terreno arenoso, perto do mar),um vento frio, à beira-mar - ah, que delícia. P o Ieitão doPedro dos I.eitõcs, na estrada para Coimbra (foram uns 150quilômetros de asfalto, mas valeu a pena), bebendo umvinho de agulhada• P a insalatta ca••rese, num início deprimavera em Capri, a ilha quase deserta, com seus aromasde llores, laranjas, limões, acompanhada de um vinhoTibério• Agradeço aos céus que meu paladar tenha tão boamemória. F meu coração também.

Tivemos a tragédia, nos últimos dez anos, de convivercom a tão original Nouvelle Cuisine. Ah, quando me Iem-bro! Peixc com molho de fruta-do-conde, frango comaraçá, camarão com manga, pato com carambola. Como écansativa a originalidade! Felizmente acabou. Nossosaplausos a Paul Bocuse que, como outros restaurateurs daFrança, decretou a morte dessa bobagem. F viva! A todosos foies, os magrets de canard, as gorduras, a opulêneiados pratos, o prazer de comer bem e - embord poucoelegante - muito.

Que as matérias-primas sejam de primeira: azeites, vina-gres, temperos, crvas. Que não se complique demais areceita. Que você possa identilicar, insisto, sem que vireadivinhação, o que está comendo.

Você sabia? Na França, a imprensa especializada, aquelaque dá notas aos restaurantes, testam a qualidade dos

pratos pedindo sempre as coisas mais simples. Í: na simpli-

180#cidade que se reconhece a verdadeira qualidade - ouvi-ram, donos de restaurantes? Se é para enganar, làça umprato ao curry - ou à la moutarde - e estamos mais doque conversados. Não que eu não goste - até gosto -, masnão tem nada a ver com Gastronomia. Aquela que seescreve com letra maiúscula e da qual se fàla com granderespeito.

Fstava lendo outro dia sobre uma nova moda - ouro empó na culinária. Achei engraçado, tiquei até com curiosida-de de experimentar. Mas um pouco adiante, na mesmamatéria, também diziam que esse luxuoso ingrediente,além de não fàzer mal à saíide, não tem nenhum sabor.Fiquei pensando: então, por que não purpurina? Vou usar,um dia desses.

Não é preciso que você esteja em grandes restaurantespara comer muito bem. Tenho lembranças inesquecíveisdo Maxime em Recife, lugar bem mais para o modesto,(apesar do nome), onde se comem casquinhos de carangue-jo, moquecas de lagosta, tudo maravilhoso. Ou o l3arrica,em Fortaleza, pouco mais que uma pensão, ao lado de umalinha de trem, onde vou sempre que visito a cidade. Esperoque nenhum dos dois tenha sido fechado ou se moderni-zado demais. Porque pretendo voltar.

Jamais tente comer um acar-ajé fora de Salvador. Certosingredientes viajam mal - e o dendê é um deles.

Terminando esse capítulo saboroso (sou capaz de ricarhoras falando de comida - e comendo também), atençãoaos falsos conhecedores da boa mesa. Nos salões, freqüen-temente, se confundem pessoas com bom vocabulário

181#gastronômico com aquelas que têm bom paladar. Nada aver.

Ah, os vinhos. Se você for uma das 20 pessoas querealmente entendem de vinhos no Brasil, ótimo. Mas se for,humildemente, um dos outros 149 999 98• brasileiros que

não entendem, nenhuma importâneia. Dirija-se aossommeliers - afinal, eles estudaram e ganham para isso- e aconselhe-se. Não é nenhuma humilhação não sabernada de algum assunto. l3obo é querer parecer que conhe-ce - sem conhecer.

182#•u•ndo •e pre f ere estar trê• ui•ques •cim• d• humanidade# Algumas casas riscaram do mapa doméstico a existêneiado bar. Outras casas parecem ter sido construídas emfunção exclusiva do... bar. Quando existir, que seja comoum altar: santos exatos para momentos exatos. Quandonão existir um bar em sua casa, que você tenha pelo menostoneladas de humor e possa indicar o caminho do botecomais próximo das redondezas. Tenha um bar e deixe-o sefor capaz.

•. L.#O bar e afins

Você está morando sozinho e quer montar seu bar semmuita complicação. Anote o básico:

Co•os:

· uísque - longos e curtos

· campari - longos e inos

· vodea - os mesmos de uísque e outros menores, paraquem bebe vodea direta do freezer

· vinho do porto - como um copo de vinho, só quemenor

· dry martini - tem que ter

r85# · vinho braneo/tinto - basicamente iguais, de pé, dois

tamanhos, sendo o menor para o vinho braneo

· champanhe - champanhe é um vinho - portanto,

copos de vinho (melhor do que flútes, taças).

Bebidas:

· uísque

· vodea

· gim (e Noylly Pratt para um dry martint•

· campari

· vinho do Porto (para quando sua tia vier te visitar)

· uns dois licores meio doces, para quem não gosta debeber

· um conhaque, armagnac ou calvados.

Na geladeira:

· xerez

· vinho braneo

•s6# · champanhe

· cerveja

No freezer.•

· poire

· vodea (pura ou preparada com poivre rosé ou canela,ica demais)

Pela manhã, os corajosos geralmente bebem:

· campari

· gim tônica

· vodea tônica

· champanhe

· cerveja

· vinho braneo

Mas de preferêneia, não cometa essa loucura. As conseqüên-cias, para quem ousa desa iar essa lei, costumam ser sinistras.

ls7# No meio da tarde:

· champanhe

· um Porto

Com esse arsenal, você vai poder inventar novos coque-téis (só vale feitos na hora). Talvez acabe com o fígadodestruído, mas vai se divertir muito até lá.

Uma receita de dry martini: coloque o gim num copocom gelo. Sacuda, jogue o gelo fot~a. Chegue bem perto esussurre: Vermouth. Dizem que fica divino.

Nem vou fàlar sobre vinhos, claro. Para conhecê-los compropriedade e escrever sobre, só tendo nascido ou vividomuitos anos na rrança, e estudado o assunto com serieda-de. Como não é o meu caso, ficamos por aqui.

Num clima tropical, não chega a ser erro ficar no vinhobraneo o tempo todo - mesmo que o prato seja carne. E

também quero defender o rosé, tão mal-falado, mas simpá-tico no verão para acompanhar uma salada.

Só beba maquilada e adequadamente vestida. E desaltos altos, claro. Pessoas que bebem com aspectodesleixado são um quadro pavoroso. E - conselho pre-cioso - só com pessoas que também estão bebendo. Aintolerâneia de quem não bebe para com as pessoas quebebem é um fato indiscutível.# I 1

G•i•o•, ••ss••o• e •abotomi•# Tenebrosas. Vingança dos deuses. Terremotos emocio-nais. Mea culpa. Arrependimentos abissais. Juras de absti-nêneia etílica. Uma bacia de alka-seltzer. Um ciclone noquarto. Sim, as ressacas são terríveis. Sim, as ressacas sãoheavy-metal. Sim, as ressacas têm cura. Não, as ressacasnão têm cura. Se seu mundo caiu, você que aprenda alevantá-lo. Nem que seja para fechar a janela do quarto edornzir três dias seguidos. Boa sorte.

E. L.#Os ve.xames - como evitar?

· não misturando fermentados com destilados (gra•esand graiycs)

Não bebendo:

· de estômago vazio

· quando cstiver triste, intèliz, em depressão, num al-moço de negócios

· no dia de cot•lZecer a futur• sogra, com direito a enteados

· na véspera de tratar um novo emprego

· no domingo à noite

· quando eneontrar seu ex com outra

191# · quando eneontrar seu atual com outr·a

· quando eneontrar seu atual com outro.

As ressacas, umapraga q•ue assola a humanidade:como evitá-las?

I-Iá um consenso: deve-se, antes de deitar, comer, outomar um copo de leite, ou dois engovs, ou tudo junto. Sóque nunea ouvi fàlar de ninguém que, tendo bebido alémdo figurino, lembrou de qualquer dessas recomendações, aochegar em casa. Se chegou.

Como curá-las?

· penumbra

· ar-refrigerado e cobertor

· um quase silêneio

· uma música tocando bem baixinho, para impedir depensar

· Wagner e Beethoven, proibidos. Mozart e Vivaldi podem.

Alguém que te adore e que; te dê não só apoio moral,como todos os cuidados materiais. Esse alguém deve des-

192#fazer todos os seus compromissos, resolver problemas, irao baneo, pagar contas (entregando o cheque já preenehi-do, para você só assinar). Deve falar pouco, pouquíssimo,e olhar para você sem o menor ar de repressão.

Para começar, água. Muita água. Quando você voltar araciocinar, cerveja ou champanhe, num copo grande emuito bonito. Mas só um. Após um tempo, o capítuloalimentação. Vai depender, é claro, do que você conseguir

pensar em comer. O ideal seria carne, ovos, açúcar, muitoaçúcar. Proteína e glicose. Mousse de chocolate, doce deleite. Na veia, se possível. As palavras uísque e vodea nãodevem ser pronuneiadas nesse dia perto de você. Nãosaia da cama, não atenda ao telefone. De mãe e de filho ,hoje, nem pensar. Aliás, só atenda para ouvir boas notí-cias. A tal pessoa que te adora se enearrega de fazer atriagem. Nada de jornais. No começo da noite - sem quevocê tenha saído da cama para nada -um banho de imersãomorno, prolongado. Enquanto você está na banheira, apessoa que te adora faz a cama, troca os lençóis (quedeverão ser braneos), dá uma geral no quarto, abre ajanela para ventilar, fecha a janela de novo. Quandovocê volta, uma bela camiseta limpinha, e é só esco-lher entre os três ou quatro filmes (comédias ligeiras)que a pessoa que te adora foi buscar para você novideoclube. Nada de noticiários na TV. Nesse dia,I•ique fora desse insensato mundo. Talvez o jornal danoite, aquele bem tarde. Talvez. A partir do banho, jáé aconselhável trocar algumas palavras. Eu disse pala-vras, não idéias.

A carêneia, no dia seguinte a uma grande noitada, é amaior que um ser humano pode sentir. Daí a importâneiada pessoa que te adora ao seu lado. Mas ou a pessoa que te

193#adora também bebeu na véspera e está sem condições defazer qualquer coisa por você, ou ela não bebeu e pode nãoestar te adorando nem um pouco. O ideal então seria umaempregada maravilhosa, com você há anos, habituada aesse tipo de cena. E que te adore, mesmo assim.

E rompa relações - rompa! - com qualquer pessoa quetenha a insensibilidade de nesse dia dizer: "Você ontem ,hein! "

194#Alta volt•gem# Este capítulo é um roteiro de cinema para ser dirigidonum dia lindo c cinzento, num inverno perdido de um

domingo qualquer. A locação rlea a criterio do produtor(cmbora eu torça para que seja em Nova York). Os I•iguran-tes devem ser muito divertidos. rigurinos nada pesados.Iluminação de nuanças. Trilha sonora com aquela oldma•ic. Lu'r., câmara, ação.

•. L.# Quer fazer uma coisa divertida, difere:nte? Convide paraum bruneh. Bruneh: mistura de break,• fàst (café da manhã)com luneh (almoço). •scolha um domingo de inverno, deprefereneia chuvoso. Chame a quantidade de pessoas quesua casa comportar confortavelmente. Marque aí por voltade meio-dia/uma hora. Í: fundamental que os convidadosdeixem para ler os jornais em sua casa. Para isso, você devecomprar todos os do dia, dois ou três exemplares de cada ,dependendo do níimero de pessoas. Revistas de atualida-de, de moda. Jornais c revistas não podem ser tocados atéos convidados chegarem.

O que servir?

· três ou quatro tipos de chá

· chocolate

· café, leite

197# · creme (fresco)

· duas jarras de suco (que as jarras sejam iguais). Emhomenagem à beleza, que um deles seja vermelho -melaneia, por cxemplo. Que s•jam feitos em centrífuga

· uma jare~d de chá gelado

· suco de tomate - para o bloody mary

· frutas da estação -mas não faça um `arranjo de frutas' ,tipo artístico; coisa de hotel

· duas ou três qualidades de mel, de geléia

· l•ãcs frescos, croissants, brioches, torradas

· presunto cru c cozido, salaminho, salsichas

· queijos braneos e amarelos

· ovos, que você vai fazendo na hora: quentes, ou fritos,ou mexidos; com queijo ralado, salsichas em rodelas,salsa e cebolinha, salmão defumado, ovas de salmão

· uma torta de maçã, outra de morango

· um belo rosbife frio, de maminha ou picanha. Filémignon, não, é a carne mais sem gosto que existe

· duas qualidades de mostarda, dois ou três chutneys

198#Seu bich•no •c•b• de r•sgar minhas meias# Pêlo na boca, pêlo no sofá, pêlo no teto, pêlo no abajur,latidos em baixo do sofá, almofadas destruídas, xixi nokilim, miados no telhado, coleira perdida, ração acabou, ocachorro sumiu e atiraram o pau no gato. Criar animaispode ser uma delícia, prineipalmente para aqueles queexereitam sua porção São Franeisco de Assis diariamente.Mas, regra número um: mesmo que você possua um gatomais persa que o xá do Irã ou um pavão que fale polonês,isso não significa que todos tenham que nutrir o mesmosentimento. E cuidado porque cavalos não descem escadae os veterinários cobram fortunas.

E. L.#De bichos - com todo o respeito

Você adora bichos. Que maravilha. Isso mostra, entreoutras coisas, que você deve ser muito bom caráter (di-zem). Mas nem todos gostam. Fntão, cuidado. Cuidadopara não:

· contar historinhas de seus queridos animais

· mostrar fotos

' p ,contar o arto uantas crias deu, o sexo, os nomes,que esta já é a quarta ninhada, ete.

Mais. Quando estiver com visitas, não deixe seus gatos,

cachorros, entrarem na sala naquela alegria exuberante,cheirando e lambendo nossas orelhas, subindo sem ceri-mônia nos nossos colos, rasgando nossas meias, sujandonossas roupas, largando pêlo e latindo. Se forem do sexo

2o3#masculino, ainda podem acontecer cenas de excitaçãoexplícita, que deixam qualquer um de saia justésima.

I:sse tipo de conversa só em cireuito fechado. Algunsassuntos, ou por serem de interesse geral ou pelo seuineditismo, podem inebriar uma platéia. Mas papo de gato,cachorro, periquito, só para quem adora. No dia em queestiver recebendo amigos - os queridos j•ets bem tranea-dos ou num bom hotel até o dia seguinte. Ou Valium 10dissolvido no leite.

Antes que me acusem de não gostar de bichos, com tudoque isso costuma implicar (falta de sentimentos, cte.), querodeclarar minha paixão por gatos. Tive um, Amadeu, etenho saudades dele até hoje. Gatos têm personalidade,independêneia; não são puxa-sacos nem carentes. Sãobonitos, elegantes, limpos, educados. Capazes de subirnuma mesa cheia de objetos sem ao menos eneostar emnenhum. Quando, t~aramente, se aproximam de alguém,essa pessoa deve se sentir privilegiada por ter sido escolhi-da por esse ser raro e especial que é um gato. Sou apaixo-nada. Mas que ninguém pense em me dar um de presente.I:m matéria de bichos, o único que me daria prazer receberatualmente seria uma tartaruga. De bronze.

204# N

I I

Os seus, os meus, os nossos ador•veis monstrinhos

e •quelas mães amestradas# rste, com certeza, é o capítulo mais delicado. Mães ecrianças costumam provocar uma mistura explosiva sobtodos os aspectos. Mães e crianças costumam aborrecer atéa mais aveludada das criaturas. Tem quem goste de convi-ver com o zigue-zaguc emocional das mães e com o fogue-tório constante dos pequerruchos. Pois •. Talvez tenhasido por isso que nascemos com altas dosagens de tolerân-cia, paciêneia e abnegação. Cuidado: virtudes têm limite.Mães e crianças, não.

P. L.# Mães: geralmente é a vocês que cabe a educação dosfilhos, sobretudo no capítulo modos à mesa, arrumação doquarto, ete. Não sejam preguiçosas. Claro, é mais fácil fazerque ensinar. Mas tenham coragem, ensinem, e comecemcedo, para que os bons hábitos se tornem uma segundanatureza e não um procedimento para ter só na frente devisitas. Seja rigorosa. Eles vão te odiar às vezes. Você vaiquerer esganá-los freqüentemente. Faz parte, entre pes-soas que se amam. Mas um belo dia alguém vai dizer oquanto seu filho é educado, prestativo, gentil, querido.Você vai desmaiar de surpresa e felicidade.

Nunea me esqueço da história daquela mãe que sedirigiu a uma especialista em boas maneiras para saber comque idade deveria colocar seu filho no curso. Ao saber queo tuturo aluno estava com três meses de idade, ela respon-deu: "talvez já seja muito tarde".

Não morra de vergonha se seu filho deu um vexame nafrente de seus amigos. Não valorize os erros nem dê bronea

207#em público. Nunea trat• nenhuma criança como se elafosse uma débil mental. Elas entendem tudo. Use sempreum bom vocabulário, isso aumenta a capacidade lingüísticadas crianças. E não fique para morrer de culpa, se algumdia precisar frustrar seu filho, tipo promessa que não pôdeser cumprida, ete. Apesar do que dizem os especialistas,uma frustraçãozinha de vez em quando prepara a criançapara aprender a suportá-las, quando no decorrer da vidaelas (infelizmente) acontecerem.

Eu adoro meus tilhos. Você deve adorar os seus. Masnem por isso a gente deve abrir a carteira e mostrar aquelafoto pequenininha, em que todas as erianças são absoluta-mente iguais. E Ioto de bebês? Não vamos obrigar o nossopróximo a dizer que gracinha, ok?

O palavrão. É dito por todos, até em televisão, escritoem jornais, ete. Pretender que uma criança não repita épuro delírio. Vamos moderar; mas a regra de ouro seria:palavrão, na linguagem corriqueira, é uma coisa. Mas nãopode ser usado jamais na hora da raiva, da briga. Isso valepara os adultos também.

Ensine, obrigue seus filhos a cuidarem da bagunça quefazem. O copo de Coca-Cola? De volta para a cozinha. Arevistinha que acabou de ler? Para o quarto. Os milhares depapeizinhos de Bis? Amassar e jogar no cinzeiro. A lista nãoteria fim, porque a imaginação de uma criança para instalaro caos onde quer que esteja é também infinita.

Alguns mandamentos:

· não sair para se servir correndo na frente dos outros.O ideal, aliás, seria que as crianças, até uma certa

208# idade, tizessem as refeições antes dos adultos, com asmães ao lado, patrulhando as boas maneiras

· não deixar cair um grão de arroz sequer na mesa

· não eneher demais o prato. A fome do mundo, ete...Se eneher, que coma tudo

· usar sempre o guardanapo

a partir dos cineo anos, não cortar a carne toda de umavez. Cineo? talvez eu tenha exagerado. Sete

· não misttirar carne com peixe, macarrão com farofa, ete.Isso é cultura

· pedir licença para se levantar quando a refeição termi-nar (pode alegar que precisa estudar). Para evitaraquela tortura de ficar na mesa até a hora do café, um

suplício

· não bater a porta do quarto com estrondo, nem quan-do brigar com o irmão

· só gritar se for por mordida de cobra

· tlear mudo, estático, dentro do elevador

não chamar a amiga da mãe de tia. Aliás, não chamarninguém de tia, a não ser as tias de verdade. E, só paradeixar bem claro, tia Rosina, tia Helena, nunea tia só.

209# Todos os •lanelinhas chamam a gente de tia - quero

matar

· sentar à mesa devidamente penteados, mãos limpas.

Você está preparando os últimos retoques de sua festac as crianças insistem em estar presentes. Diga não. Omesmo não que elas te dizem quando você pretendepermanecer na sala no dia da festa delas. Mas elas não vãodesistir. Do charme à chantagem, deixando você bemculpada, elas farão tudo para conseguir o que querem. Aí,só há uma solução; o suborno puro e simples. Pague a elas- cash. Metade antes, metade depois. Que elas fiquem noquarto, traneadas, só tendo o direito de sair em caso deineêndio.

I:m tim de semana prolongado no sítio, não esquecer delevar: filmes, video games, baralho, tichas. Lembre-se deque crianças têm horror a quintal, ar livre, subir em árvo-res, ete.

Cu adoro bebes. Quando começa a idade da correria,conlésso que já adoro um pouco menos (tenho que dizerisso bem baixinho, para não ofender as mães). Vamosentão falar dessa fasc sublime?

I:las gostam de passar no espaço de 15 centímetros queexiste entre o sofá e a mesa, brineam de pique numa salade dois por três, colocam a cadeira na frente da televisão,sc penduram nos lustres, pintam as paredes da sala, o teto,ete. F tudo aos gritos. Pcnso que esta talvez seja a fase de

maior energia do ser humano. • a idade da guerra dostravesseiros, das almofadas que voam pela janela. Jovenspais adoram essas traquinagens. Tudo bem. Mas não ache

21C#cstranho se um de seus amigos não cur•ir tanto quantovocê essa fase tão adorável de seus filhotes. Crianças sãodifíceis mesmo, é preciso muita paciêneia para agüentar oque elas freqiientemente aprontam. Querem ver como osinteresses adultos/crianças são ineoneiliáveis?

· pai joga futebol com filhofilho não lê jornal com pai

· pai leva filho à Disneylandialilho não vai com pai ao museu Beaubourg

· pai vai com filho ao McDonald'stlho não vai com pai a restaurante vietnamita

· pai assiste a desenho animado com ilholilho não vê Boris Casoy com pai

E mil outras coisas. Acho que a única coisa que pai ef•ilho gostam de fazer juntos é assistir ao programa do Mièle.

O problema de relacionamento cntre crianças e adultosé uma questão de energia vital. Enquanto certos adultosadoram preguiçosamente prolongar uma refeição batendopapo, fumando, tomando um licor, as crianças tleam indó-ceis. Se são obrigadas a rlear, começam a despejar sal namesa, quebrar palitos e botar dentro do saleiro, mostardana Coca-Cola, ete. Daí a razão de separar as crianças dosadultos na hora das refeições.

Mas os pais continuam tentando coneiliar, e sabe Deuso que pode acontecer. CTeralmente essas tentativas ocor-rem aos domingos em restaurantes. Um restaurante onde

211#o menu possa, dentro do possível, agradar a todos ospaladares. Adivinha aonde vamos? À churrascaria, é claro.

Combinam com alguns amigos que têm filhos mais ou

menos da mesma idade, e vão enfrentar a guerra. As crian-ças, é claro, não se simpatizam nem se olham. Falar, nempensar. Os adultos, já grilados, redobram as atenções,ninguém come em paz. Clima tenso. Como as criançascomem pouco e depressa, ficam impacientes para se levan-tar da mesa. Os pais, aliviados, coneedem a permissão.Pensa que está tudo cm paz? Aguarde.

O filme continua. Seis ou sete crianças se juntam ime-diatamente às 347 das outras mesas e começam todas al•rinear no meio do restaurante. Se tiverem levado patins,skales, pranehas de surfe, melhor ainda. I•ica aquela chur-rascaria animada, picanhas sangrando nas camisas dosguris, gritos laneinantes, algazarra geral. Um garçom nãomuito paciente poderia até assassinar uma delas com oespeto. Perigoso e nada impossível. Mas uma das criançasnão enturmou, nem nessa hora. Vai ficar na mesa, coma cabeça recostada, dizendo, de dois em dois minutos,"quero ir pra casa". E torna a repetir, bem devagarzinho,"quero ir pra casa". Resultado: desestabilização emocio-nal de todos os presentes.

Bom, por que falei tudo isso? Simples. Para que todoscompreendam, numa boa, que juntar crianças com adultosnão costuma dar pé, que isso c natural e não há por quedr·amatizar. Sejamos sineeros: mesmo sendo o pai ou a mãe,cnearar um teatro infantil seguido de lanehonete é dose.Mesmo quando existem laços afetivos fortíssimos, é preci-so sobretudo que você seja um adulto muito, muito pacien-

212#te. Paciente ou apaixonado pela mãe da criança - • isso sóno início da paixão.

Mas as crianças crescem. E •zm dia querem trazer anamor·ada para dormir em cas2. Dinheiro para motel só sevocê der. Então, o que fazer? •Claro, a gente compreende asituação, mas franeamente: ter que cruzar no corredor demanhã com a gatona des•enteada que a gente mal conhe-ce, de camiseta e esco·ra de dentes na mão, talvez pergun-tando: "Tia, dá pra rne emprestar uma escova de cabelo?"Ok. Dá. Mas e se rocê tem três filhos? Vão ser três gatonas?Acho que eu liberaria a casa nos fins de semana e iria dormirno sofá da casa da minha mãe, ou de uma amiga, ou nobanr• da praia, deixando a garotada à vontade. Eles e eu ,

n'uma boa. Mas só até domingo às 19 horas, nem um minutoa mais.

Mesmo os fllhos mais modernos costumam ser caretési-mos em relação às suas próprias mães. Portanto, vá anotan-do! Na frente dos filhos: mãe não namora, não toma maisde um drinque, não fala que acha o Jeff ßridges um tesão(perdão, mãe não pronuneia essa palavra, nem sabe o quequer dizer), não usa minissaia, não pode adorar Madonna(só pode gostar de Roberto Carlos, Julio Iglesias). Eles teamam, mas essas preferêneias sempre ineomodam. Nemamigos comuns se deve ter, por precaução. Portanto,quando o destino colocar vocês na mesma festa, pareça oque eles querem que você seja. Anule-se. Tenha pouca,pouquissíma personalidade.

raça o tipo distinto e alegre. Se possível, use uma perucagrisalha. Seja discreta e assexuada, tenha poucas opiniões.Se enturme com os mais velhos e trate os jovens como sefosse assim uma tia simpaticona, nada mais. Ria das histó-

213#rias deles e não conte nenhuma sua. Mãe não tem passado.Só fale de receitas, crianças, se ofereça para levar umvestido na costureira para consertar, tenha bons endereçospara fornecer, dicas de cozinha. Conte como era o mundo`no seu tempo'. Seus filhos vão adorar. E depois dessa festa ,vá correndo tomar um uísque duplo no bar do Guneho,para não ter um infarto.

Em compensação, na frente dos netos, faça tudo o quenão deve - e muito mais. Netos costumam adorar avós -digamos - fora dos padrões. É que eles sabem que vãopoder contar com elas como fortes aliadas, nas crises decaretice dos pais. Cruel? Não, apenas verdade. E mais. Issoc que làz o equilíbrio da vida.

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