danÇa na educaÇÃo fÍsica escolar: trato … · aperfeiçoar o trato pedagógico no cotidiano...

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1 DANÇA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: TRATO PEDAGÓGICO E INTERVENÇÃO JUNTO A PROFESSORES DE UMA REALIDADE LOCAL 1 Marisa Lemos Dantas Gimenes* Larissa Michelle Lara ** RESUMO O presente trabalho é parte integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), resultado da Implementação Pedagógica em forma de Grupo de Estudos, aplicada aos professores de uma escola da rede pública estadual na cidade de Maringá - PR. Teve como objetivo tematizar a dança no sentido de propor encaminhamentos que venham a contribuir para a melhoria das condições de ensino da dança, reconhecendo-a como elemento facilitador da emancipação, liberdade e autonomia dos alunos. A proposta, que incluiu sete professores de educação física, preocupou-se em abordar questões relativas à concretização da dança na escola, buscando problematizar e aperfeiçoar o trato pedagógico no cotidiano escolar. Por meio de grupo de estudos formado por professores, foram buscadas bases que subsidiassem encaminhamentos na escola junto aos alunos. Pôde-se verificar por meio desta proposta, que momentos de reflexão devem acontecer com frequência para levantar possíveis dificuldades no trato com a dança e, a partir desta análise, estudos e discussões que levem à solução de problemas recorrentes na escola, efetivando ações que contribuam com a prática pedagógica no contexto da educação física escolar. Palavras-chave: Educação física. Escola. Alunos. 1 Artigo elaborado como exigência parcial para a conclusão do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), da Secretaria de Estado da Educação do Paraná. O Projeto de Pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética nº 0351/08. Os participantes assinaram termo de consentimento, autorizando, inclusive a publicação de imagens. * Professora da rede pública estadual do Paraná, lotada no Instituto Estadual de Educação de Maringá, PR, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). ** Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da UNICAMP. Professora do Departamento de Educação Física da UEM e do Programa de Pós-Graduação Associado em Educação Física UEM-UEL. Orientadora do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE).

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DANÇA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: TRATO

PEDAGÓGICO E INTERVENÇÃO JUNTO A PROFESSORES DE UMA REALIDADE LOCAL 1

Marisa Lemos Dantas Gimenes*

Larissa Michelle Lara**

RESUMO

O presente trabalho é parte integrante do Programa de Desenvolvimento

Educacional (PDE), resultado da Implementação Pedagógica em forma de

Grupo de Estudos, aplicada aos professores de uma escola da rede pública

estadual na cidade de Maringá - PR. Teve como objetivo tematizar a dança no

sentido de propor encaminhamentos que venham a contribuir para a melhoria

das condições de ensino da dança, reconhecendo-a como elemento facilitador

da emancipação, liberdade e autonomia dos alunos. A proposta, que incluiu

sete professores de educação física, preocupou-se em abordar questões

relativas à concretização da dança na escola, buscando problematizar e

aperfeiçoar o trato pedagógico no cotidiano escolar. Por meio de grupo de

estudos formado por professores, foram buscadas bases que subsidiassem

encaminhamentos na escola junto aos alunos. Pôde-se verificar por meio desta

proposta, que momentos de reflexão devem acontecer com frequência para

levantar possíveis dificuldades no trato com a dança e, a partir desta análise,

estudos e discussões que levem à solução de problemas recorrentes na

escola, efetivando ações que contribuam com a prática pedagógica no contexto

da educação física escolar.

Palavras-chave: Educação física. Escola. Alunos.

1 Artigo elaborado como exigência parcial para a conclusão do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), da Secretaria de Estado da Educação do Paraná. O Projeto de Pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética nº 0351/08. Os participantes assinaram termo de consentimento, autorizando, inclusive a publicação de imagens. * Professora da rede pública estadual do Paraná, lotada no Instituto Estadual de Educação de Maringá, PR, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). ** Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da UNICAMP. Professora do Departamento de Educação Física da UEM e do Programa de Pós-Graduação Associado em Educação Física UEM-UEL. Orientadora do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE).

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ABSTRACT

The present study is an essential part of the Educational Development Program

(Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE - in Portuguese), resulted

from the Pedagogical Implementation in the form of Groups of Studies, applied

to the teachers of a school from the educational public system in the city of

Maringá-PR. This study aimed at putting the topic of dance in evidence and

proposing directions that might contribute to improve the conditions in the dance

teaching, acknowledging it as a facilitator element for the emancipation,

freedom and autonomy of students. The proposal, which included 7 Physical

Education teachers, sought to address issues related to making dance in school

a reality, trying to problematize and refine the pedagogical dealing in the school

daily routine. Through the group of studies formed by teachers, bases which

could assist directions in schools for the students were researched. It was able

to be verified through this proposal that moments of reflections must happen

frequently in order to raise possible difficulties when dealing with dance and,

from this analysis on, studies and discussions that lead to the solution of

recurrent problems in school, putting into effect action that contribute to the

pedagogical practice in the context of physical education in schools.

Key words: Physical education. School. Students.

1. INTRODUÇÃO

A dança, como conteúdo escolar do currículo de educação física,

passa em muitos casos despercebida na prática pedagógica, sendo o

desenvolvimento desse conteúdo não concretizado nas aulas de forma

sistematizada.

A desarticulação desta prática ocorre justificada, entre outros, pela falta

de preparo do professor, falta de recursos, falta de orientação. A forma como

ela deve ser ofertada aos alunos se efetiva num doloroso “cumprimento de

obrigações”. A dança, no planejamento, entra para garantir seu espaço e

cumprir o que propõe as Diretrizes Curriculares da Educação Básica para a

Educação Física do Estado do Paraná, buscando ressignificar valores,

sentidos, e códigos sociais. Nas aulas, ela permeia espaços reduzidos, onde

alguns alunos, por afinidade, se propõem à prática com interesses

3

espetaculares da escola, nas situações em que se faz necessário uma

apresentação festiva.

O professor que é estimulado a trabalhar dança, não consegue levar

adiante tal objetivo por falta de conhecimento em relação ao “como” da prática

pedagógica. Quando apresenta a dança aos alunos, para simplificar o trabalho

e/ou por falta de sistematização/contextualização, já a leva formalizada,

utilizando-a como modelo para reprodução. Dessa forma, os alunos se opõem

a praticá-la por acharem que estão se expondo. O trabalho, que poderia ser

menos penoso, tanto para professor como para o aluno, acaba se tornando um

fardo. Como em alguns momentos no decorrer do ano se vê pressionado a

mostrar resultados, apresentando algum número artístico em situações com

fins espetaculares, acaba por formalizar a dança em apresentações festivas

(festas juninas, abertura de jogos,etc), dando-se por cumprida sua tarefa de

trabalhar a dança, sem dar conta, porém, que a participação é reduzida a meia

dúzia de alunos, não atingindo, portanto, a totalidade de uma turma.

A ideia de implementar a proposta em forma de Grupo de Estudos,

envolvendo os professores do Instituto de Educação Estadual, na cidade de

Maringá-PR, surge no momento que a dança começa a ganhar espaço nas

conversas e nos planejamentos de ensino nessa realidade. Daí a necessidade

de compartilhar também o trabalho com outros professores, haja vista que,

mesmo dentro de uma única instituição, a forma de trabalhar a dança, muitas

vezes, é desconectada. A intenção não é de imposição de uma metodologia,

mas, de buscar juntos, soluções para minimizar as dificuldades encontradas no

trabalho com dança.

A proposta em questão é parte do Programa de Desenvolvimento

Educacional (PDE), o qual ofereceu estudos em cada área do Currículo Escolar

na intenção da melhoria da qualidade de ensino, capacitando os professores

com embasamento teórico. Esta etapa teve duração de um ano. Após esta

primeira ação do programa, no segundo ano, com projeto organizado, o

participante deveria implementar seus estudos e pesquisas na escola. A

aplicação da proposta deveria contribuir para a prática pedagógica, tendo como

público alvo professores ou alunos.

A proposta apresentada neste artigo foi dirigida aos professores

interessados em discutir o trato da dança na escola, num Grupo de Estudos. A

4

organização deste grupo se deu por convite geral a todos os professores do

Instituto de Educação Estadual de Maringá, e, em especial, aos professores de

educação física, na primeira Reunião Pedagógica em fevereiro do ano letivo de

2009. Formado o grupo, os estudos aconteceram em 8 sábados seguidos,

durante os meses de abril e maio.

Esta proposta buscou identificar o que leva alguns professores a se

angustiarem quando discutem a dança como conteúdo, visando contribuir com

a ação docente no trato dessa manifestação cultural. Esta afirmação é

percebida quando da elaboração do planejamento, durante encontros, nas

conversas informais e quando se discute o trabalho desenvolvido nas aulas. Aí,

então, a ansiedade em repensar, no conjunto de professores, formas de

minimizar as preocupações em trabalhar a dança, justifica a elaboração desta

proposta, socializando no Grupo de Estudos as mesmas ansiedades e

levantando, a partir daí, meios que viabilizem a dança nas aulas.

Refletir a dança como componente curricular presente nas Diretrizes

Curriculares da Educação Básica para a Educação Pública do Estado do

Paraná (2006) fez-se necessário, haja vista dificuldades que alguns

professores têm encontrado no trato dessa prática corporal em suas aulas.

Para levantar dados sobre essa afirmação, foi necessária uma investigação por

meio de conversas e entrevistas, verificando como se dá o trato da dança na

escola, nas aulas de educação física. Esta verificação deu-se com professores

de educação física do Instituto de Educação Estadual de Maringá. A princípio,

pensou-se numa entrevista individual utilizando um instrumento investigativo

com questões relativas ao trabalho do professor nas aulas. Devido ao horário

indisponível dos professores e a falta de entendimento e colaboração na

proposta, somente três professores do referido colégio foram entrevistados.

Eles preferiram registrar suas respostas em questionário escrito ao invés de

entrevista oral.

De um total de oito professores que foram convidados pessoalmente e,

com avisos na sala dos professores para participarem da entrevista e do grupo

de estudos, somente quatro prontificaram-se e, destes, três participaram do

grupo. Os professores que não entregaram o questionário ou não se

dispuseram a fazer parte do grupo de estudos justificaram de diferentes

formas: “não trabalho com a dança porque não levo jeito... sou homem... não

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tive preparo na graduação”; “já trabalho com a dança e não tenho dificuldades”;

“até gostaria de participar, mas não tenho tempo... a propósito você poderia vir

falar sobre dança nas minhas aulas? Você leva mais jeito”. Os demais não

conseguiram enquadrar-se no horário e dia estipulados para os encontros por

terem aulas em outro estabelecimento.

O objetivo inicial era de que todos os professores de educação física

do Instituto de Educação pudessem discutir juntos. Pela impossibilidade de

horário e tempo, o trabalho que envolvera inicialmente três professores (que

responderam ao questionário inicial) estendeu-se a mais quatro professoras de

outra escola da rede estadual. Elas, por interesse e afinidade com a dança,

propuseram-se a formar o grupo, uma vez que estudos referentes à dança são

pouco ofertados nos cursos que são apresentados em Formação Continuada e

em Encontros de Área. À dança é sempre atribuído um tempo/espaço mínimo.

Ainda, a visão tecnicista do esporte paira nas discussões, encontros, e

elaboração de planejamentos coletivos. E, isso vai se refletir na prática diária

do professor. Dessa forma, mesmo não atingindo todos os professores que

haviam sidos pensados nesta proposta, o Grupo de Estudos se inicia contando

com professores de outra escola. O objetivo dos encontros para estudos,

reflexões e discussões reforçaria o reconhecimento da dança como facilitadora

da aprendizagem, como possibilidade a mais para favorecer o trabalho na

escola.

Levantando-se um panorama do trato da dança na escola, pretendia-se

entender como a dança figura entre as práticas escolares para, posteriormente,

buscar fundamentação teórica que subsidiasse o professor para o

entendimento da dança como prática corporal legítima. Ainda, buscava-se

ressignificar o processo de ensino aprendizagem, exercendo a dança seu papel

de facilitadora na construção dessa área de conhecimento, oferecendo, por

meio dela, a linguagem e comunicação presentes e necessárias ao processo

de escolarização. A inserção por literatura sobre dança, discutindo sua

aplicabilidade, pode ser um recurso valioso e necessário neste momento em

que se percebe a importância da dança como cultura corporal.

Sendo uma ação em que todos os professores se envolvem e

trabalham com a mesma intencionalidade, os resultados tendem a ser

positivos. O professor, com meios que orientem no encaminhamento da

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dança, poderá entender que esta prática não deve ser efetivada na simples

elaboração de coreografias para fins espetaculares ou reprodução de ritmos

embalados pelo modismo consequente da sociedade moderna. Dotados de

aprofundamento teórico para subsidiar suas aulas, os professores poderão

perceber, na dança, a superação de preconceitos, as inquietações que

surgirem entre os alunos e, mesmo entre eles, levando-os a desenvolver a

dança com domínio de conhecimento, aceitação e relativa facilidade,

potencializando a participação ativa e, entendendo-a como arte e não como

espetáculo em que são meros repetidores.

As discussões potencializadas por meio desse estudo encontram-se

organizadas em três momentos. No primeiro, será discutida a dança na

educação física escolar, com relatos pessoais dos professores acerca de suas

práticas na escola, levantando um panorama do trato dessa manifestação

cultural. O segundo momento é formado pelo aprofundamento em estudos, por

meio de leitura e discussões que permitissem aos professores tratarem dança

sem imposições, possibilitando a apropriação desta cultura de forma que os

alunos pudessem ser construtores do seu próprio conhecimento. E, por fim,

serão descritas as experiências práticas com os professores participantes da

pesquisa.

2. A DANÇA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: O QUE TEM A ENSINAR?

A escola deve ter papel fundamental na formação da criança, buscando

despertar, por meio de atividades pedagógicas, a interação com o mundo,

numa relação dialógica e favorável ao aprendizado. Para isso, é importante que

sejam oferecidas possibilidades para estimular esta ação. A educação física,

como disciplina que trata do conhecimento de uma área denominada cultura

corporal e que visa desenvolver manifestações culturais, tem como recurso os

conteúdos diversificados.

Como parte do projeto geral de educação física, a escola terá na dança

uma colaboradora para concretização deste processo. Como discute

Strazzacapa (2008, p.2),

7

[...] as atividades de dança se diferenciam daquelas normalmente propostas pela educação física, pois não caracterizam o corpo da criança como um apanhado de alavancas e articulações do tecnicismo desportivo, nem apresentam um caráter competitivo, comumente presente nos jogos desportivos.

Analisando por esta forma, as práticas corporais trabalhadas na

educação física não devem se resumir a jogos e competições em que o aluno

se realiza ou compreende-se marcando gols ou cruzando a linha de chegada.

O papel da educação física deve derrubar os conceitos de superação como

forma de crescimento individual; compreender que não é preciso uma

finalização por meio de situações que envolvam vitórias e derrotas para

“emancipar-se” diante das práticas corporais.

Nesta defesa, Barreto (2007, p.117) ainda completa, colocando o

trabalho da dança na escola como forma de:

[...] contribuir para a área da educação física, na medida em que através de experiência artística e da apreciação, estimula nos indivíduos os exercícios de imaginação e da criação de formas expressivas, despertando a consciência estética, como um conjunto de atitudes mais equilibradas do mundo.

A aceitação da dança na escola deve partir de atitudes, discutindo,

compreendendo e modificando-a quando houver necessidade. Se o objetivo é

fazer que a dança faça parte de um momento educacional, devemos

proporcionar a contextualização capaz de levar ao entendimento dessa prática,

e sua contribuição na formação, podendo mudar a concepção que os alunos

têm, possibilitando a interação e participação sem constrangimentos. Dessa

forma, ela poderá figurar entre as práticas corporais, com compromisso e

seriedade, não sendo apenas a “arte do espetáculo” (FERRARI, 2008).

Buscando ampliar seu papel de trabalhar o movimento pelo movimento,

podem ser descobertas outras formas de experiências corporais. A dança entra

aqui como uma das possibilidades. Entendendo que o corpo se comunica

também por uma linguagem corporal e, que esta forma de comunicação se faz

presente em nosso vocabulário, embora muitas vezes, sem decodificação para

melhor relação sujeito-mundo, as práticas pedagógicas do professor

comprometido com esta mudança devem conter um repertório de vivências que

concretize esta ação. Trabalhando com o corpo em movimento, deve-se partir

8

do pressuposto que este e sua expressão, é que levarão o aluno a se

relacionar com o mundo. Baseado nessa afirmação é que se propõe que a

dança tenha um trato pedagógico repensado. A educação física, na escola,

deve ter como prioridade despertar no aluno a consciência do seu corpo e a

partir disso, aspectos que levem-no a se situar a se orientar em relação aos

objetos, pessoas e a si próprio. Criando condições para que se estabeleçam

estas relações, ele terá oportunidades maiores no desenvolvimento intelectual,

biológico e no conhecimento do seu corpo, adquirindo autocontrole sobre sua

ação e compreensão do mundo.

A educação física tem a função social de contribuir para que os

alunos se tornem sujeitos capazes de reconhecer o próprio corpo,

adquirir uma expressividade corporal consciente e refletir

criticamente sobre as práticas corporais (DCEs, 2008).

Quando o professor organiza seu planejamento diversificando os

conteúdos listados nas Diretrizes Curriculares, dando à dança o mesmo trato

dos demais conteúdos, estará buscando proporcionar ao aluno o entendimento

de corpo e movimento, criados em cada tempo histórico e culturas diferentes,

para compreender o seu próprio tempo, cultura e sua inserção nela. Quando a

dança é trabalhada pelo viés educacional não se pretende buscar a perfeição

artística ou a representação de danças formalmente construídas. O objetivo

deve ir além da reprodução descontextualizada e mecanicista em que o aluno,

sem compreender sua prática, será um mero repetidor. O conhecimento de

dança nas aulas de educação física, partindo de atividades simplificadas e

movimentos espontâneos, pode levar o aluno a um diálogo com seu corpo,

permitindo que ele crie por si próprio. Ao oferecer a dança na educação física,

o professor estará oportunizando a seus alunos a ampliação do conhecimento

e uma nova dimensão da área. Buscando ser um processo reflexivo, deverá

proporcionar um ambiente crítico, com uma prática capaz de atender às

necessidades dos alunos, longe do adestramento físico e prática como

espetáculo.

Na visão de Scarpato (2007, p. 47), “ao professor cabe assumir o papel

de facilitador e/ou orientador das atividades, criando um clima de atenção e

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concentração [...] sem inibir a expressão do aluno”. Dessa forma, poderão

vivenciar situações de liberdade e autonomia, sendo autores reais de suas

produções, estando preparados para organizar também outras formas de

dançar.

3. PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO: O TRATO COM A DANÇA JUNT O

AOS PROFESSORES DA REDE PÚBLICA

O Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) como programa

de formação continuada oferecido pelo Governo do Estado do Paraná,

oportuniza professores a aprofundar estudos em diferentes áreas do

conhecimento do currículo escolar. Este programa tem como objetivo viabilizar

possibilidades de melhoria do trabalho pedagógico por meio de

aprofundamento teórico e produção de material didático para consecutiva

implementação na escola. Esta, realizada em tempo determinado, busca, por

meio dos profissionais de diferentes disciplinas, uma dimensão qualificada aos

conteúdos presentes nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica para

Educação Publica do Estado do Paraná.

A proposta de implementação analisada no presente trabalho deu-se

no formato de curso de extensão, com estudos e discussões acerca do tema

escolhido. Perfazendo um total de 32 horas, o curso foi ofertado aos

professores da disciplina de educação física que se propuseram a estudar,

discutir e analisar a real situação da dança em suas aulas e nas diferentes

escolas em que trabalham.

A análise da dança por meio desse instrumento surgiu da preocupação

em entender como esse conteúdo se desenvolvia no cotidiano escolar, uma

vez que temos algumas situações com dificuldades para que o trabalho seja

concretizado na mesma qualidade dos demais conteúdos (jogos, esportes,

ginástica) presentes na referida Diretriz. Pensar a dança em grupo, constituído

por professores da rede pública de ensino, será uma conquista, uma vez que

não há encontros contínuos para troca de experiências, estudos e discussão

entre os professores de área de uma mesma escola. Esses encontros só

acontecem no início e meio do ano para organização do plano anual de

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trabalho e estudos de temas gerais relativos à educação. A hora atividade,

espaço reservado no horário semanal do professor, destinado a organizar suas

aulas, não dá conta de promover encontros entre profissionais em um mesmo

horário.

Sendo a dança um conteúdo que requer planejamento elaborado e

sistematizado, como outros conteúdos pedagógicos, exige do professor tempo e

espaço para pesquisar, organizar e criar meios que viabilizem seu trabalho. A

implementação foi o espaço que buscou suscitar interesse maior pelo conteúdo

dança. Os encontros se deram partindo, primeiramente, de uma entrevista

individual, percebendo se haveria interesse em participar do grupo de estudos. O

momento inicial seria destinado aos relatos individuais que proporcionariam a

cada professora compartilhar de sua prática diária. O quadro 1 apresenta a

sistematização proposta para os encontros:

1º Encontro

Diagnóstico inicial - Entrevista coletiva

2º Encontro

Leitura - Estudo e discussão das Diretrizes Curriculares da Educação Básica para Educação Pública – Educação Física

3º Encontro Análise dos dados do questionário aplicado nas escolas

4º Encontro Estudo de Texto - "Dançando na escola” - Isabel Marques 5º Encontro

Estudo de Texto - "A dança é o corpo transfigurando-se em formas" - Mônica Dantas

6º Encontro

Estudo de Texto - "O movimento em expressão e ritmo" - Larissa M. Lara

7º Encontro Oficina de dança - Vivências práticas de dança na escola 8º Encontro Avaliação do Grupo de Estudos

Quadro 1 – Sistematização dos encontros do Grupo de Estudos

Nos encontros em que se previa leitura de textos, os professores

receberam o material para fazerem leitura antecipada. Os textos indicados para

estudos foram escolhidos juntamente com a professora orientadora deste

programa (PDE), quando se percebeu que poderiam oferecer reflexão profunda

acerca do tema escolhido. Haveria, ainda, momentos em que os professores

vivenciassem movimentos de dança possíveis na escola.

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No primeiro encontro, os professores relataram como a dança se dá em

suas escolas, com dificuldades e desafios. Segue um dos relatos:

A dança na minha escola já é trabalhada há algum tempo, tendo como opção a dança folclórica. Os alunos propuseram uma mudança, uma dança diferente, que fosse em pares. A partir daí, pesquisas utilizando multimídia levaram-nos a escolher o tango. O conhecimento desse ritmo se deu primeiramente com conceitos, origem, passos, até a apreciação do filme “Perfume de mulher”. 2

Neste caso, a professora proporcionou interação e participação de

todos os alunos de uma referida série do ensino fundamental da escola da rede

estadual de ensino de porte médio, uma vez que a apropriação da dança

passou pelo criterioso trabalho em sala de aula, oferecendo meios que a escola

dispunha (filmes, documentários) e material multimídia; levando os alunos a

construírem eles próprios, sua prática.

Outra professora contribui com a discussão, afirmando:

Com surdos, o trabalho da dança também encontra dificuldades e preconceitos. Por meio de projetos, consegui colocar a dança em contraturno. Mais tarde, ela se efetivou no planejamento regular. Como o trabalho com deficientes auditivos é feito com exploração de batidas, toques, reflexos que sejam perceptíveis a eles, o ritmo mais apropriado, no meu entendimento, foi o maculelê, por apresentar marcações mais sensíveis. Os alunos tiveram o conhecimento da dança por meio de filme e a partir daí houve a interação e a vivência de movimentos e batidas feitas num tablado para que eles pudessem entender.3

A professora, nesse caso, também sente restrição no trato da dança,

mas percebe que ela pode conduzir à leitura de mundo por alunos que são

limitados em alguns dos sentidos. Seu trabalho está voltado aos deficientes

auditivos, mas está iniciando com alunos que têm outras deficiências. Foi na

dança que encontrou a forma para fazê-los entender a importância de superar

as dificuldades.

A princípio, quando planejou trabalhar dança com seus alunos, não

conseguia repassar o que pretendia pela dificuldade de comunicação com eles.

Por meio da linguagem de sinais, (que domina por lidar com deficientes

auditivos), trabalhava a teoria da dança para que eles pudessem, de alguma 2 Depoimento dado por M.C.S. F, professora de Educação Física da rede estadual, participante do Grupo de Estudos. Maringá, 28 mar 2009. 3 Depoimento dado por M.E. D, professora de Educação Física de Escola Especial, participante do Grupo de Estudos. Maringá, 28 mar 2009.

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forma, se interessar por experimentar na prática. Percebeu que entendiam,

pela batida de palmas, e pelo chão, a sequência rítmica. A partir daí deu início

ao seu trabalho, percebendo que poderia avançar para além das palmas.

Em uma escola de periferia, que comporta grande número de alunos e,

muitos, de nível sócio econômico baixo, outra professora encontrava algumas

dificuldades para trabalhar a dança, uma vez que todos os alunos detinham o

conhecimento apenas dos ritmos do movimento hip-hop por serem

frequentadores de bailes onde o funk e o rap estão mais presentes. Surge,

ainda, neste meio, os alunos que apresentam resistência por respeito à sua fé.

A religião entra aí para mostrar que a dança e, mais especificamente, as

citadas acima, não são bem aceitas. Alguns alunos dispuseram-se, portanto, a

fazer movimentos e ritmos próprios de suas religiões, para realizar as tarefas

propostas dentro do que conheciam. Vendo a forma vulgarizada como eles

entendiam a dança, a professora buscou significar o que é o movimento hip-

hop. Surge, então, um novo olhar sobre o funk.

Levantando dados de como a dança é entendida nas escolas, vemos,

nos relatos, que, muitas vezes, ela é desenvolvida sob imposição da escola

para se cumprir calendários de apresentações ou situações comemorativas.

Não se considera, no entanto, a contextualização que deve haver e o objetivo

pedagógico da dança, sem contar a falta de recursos necessários para

concretizar o trabalho: espaço físico, tempo e áudio. Existe, ainda, de acordo

com os professores, insuficiência no domínio dos ritmos e na variação das

danças por parte deles. Manifestam-se sobre a falta de atualização em dança,

tendo que buscar, por meio de outros recursos, formas diferentes de trabalhar

para estimular o aluno, para que as aulas não sejam entediantes.

No segundo encontro do Grupo de Estudos, a leitura das Diretrizes

Curriculares da Educação Básica para Educação Pública - Educação Física

serviu para o entendimento da forma como foi elaborada e quais as tendências

e abordagens que ali se configuram. Como complemento, foi utilizado material

de apoio para discussão acerca de sua construção. Este material veio

contribuir já que, tendo feito uma leitura sobre a forma como foi construída as

Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008), os professores queriam

entender melhor sobre essas linhas e abordagens. Os estudos permitiram

13

compreender a dança sob o enfoque das DCNs, uma vez que os Planos de

Trabalho Docente são organizados seguindo estes encaminhamentos

Neste encontro, professores também elaboram um questionário para

levantar o conhecimento dos alunos em relação à dança, uma vez que as

respostas poderiam contribuir para as discussões. O quadro abaixo apresenta

as questões feitas aos alunos sobre dança na escola. Participaram,

aproximadamente, 100 alunos do ensino fundamental, médio e especiais, de

sete escolas da rede estadual de diferentes realidades.

QUESTIONÁRIO

1. O que é ritmo?

2. Existe ritmo no seu corpo?

3. Quando você se comunica com as pessoas seu corpo participa?

4. O que você sabe sobre dança?

5. Você gosta de dançar? Quais os locais que você dança ou gostaria de dançar?

6. Você dança na escola? Justifique.

7. Se na escola tivesse um local adequado para dançar como seria?

8. Que estilo de música você gostaria de dançar na escola?

Quadro 2 – Questionário aplicado a alunos de escolas estaduais de Maringá No terceiro encontro, com os resultados dos questionários de cada

escola e a síntese elaborada pelos professores, vários aspectos foram

esboçados com algumas considerações. Quando se trata de definir o ritmo, os

alunos questionados conceituam associando-o à música, aos passos, à

organização sequenciada dentro de certo estilo musical. Quando questionados

sobre ritmo, alguns conseguem perceber que há ritmo em certas atividades

realizadas que necessitam de organização temporal. Na comunicação com

outras pessoas, entendem que há interação total do corpo. Definem a dança

como uma sincronização de movimentos do corpo com música e passos

organizados. E, quanto aos tipos de dança, conseguem listar algumas delas,

mas, sem definir como são os passos e qual a origem. Percebe-se também que

há erro de interpretação dos movimentos populares e ritmos de dança. De

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forma geral, todos relatam o gosto pela dança e, praticam-na, porém, fora dos

muros da escola (muitos em festas e baladas). Alguns só praticam na escola e,

ainda, tem aqueles que, por vergonha e preconceito, fazem-na somente no

“banho”.

Os alunos que informam que a dança deve ser parte integrante da

escola são aqueles que participam de projetos extracurriculares. Dançar, para

muitos, é motivo de constrangimento. Quando questionados sobre os tipos de

dança que fariam na escola, relatam que até praticariam a dança, mas as que

fazem parte do seu contexto, que são praticadas nos locais em que frequentam

como lazer.

Os encontros que se seguiram com estudos de textos (ver quadro 1),

proporcionaram momentos em que os professores fizeram leituras e

discussões, sustentando a necessidade de aprofundamento cada vez maior da

dança na escola. Uma vez que a palavra “dança” causa, num primeiro

momento, impacto negativo quando é apresentada nas aulas, seria correto

dispor apenas de movimentos com ritmos musicais diferentes sem entrar,

porém, na dança formalizada?

Partindo de questões como essas, os estudo embasados em Dantas

(1999), Marques (2005) e Lara (2003) trouxeram alguns esclarecimentos para o

grupo, uma vez que os professores também buscam formas de responder

como a dança deve ser interpretada na escola. A dúvida surge pelo fato de

que, inicialmente, ela não se enquadrava no Currículo de Educação Física.

Esse conteúdo, por algum tempo, figurou nos planejamentos de Artes e

Educação Física (PCNs), sem, portanto, garantir-se em nenhuma das

disciplinas.

Marques (2005) diz que, embora tenha havido este desentendimento, a

dança tem garantido espaços cada vez maiores na sociedade, como, também,

na escola. Desta forma, como está inserida, deve ser repensada, uma vez que

a educação deve primar pela qualidade do ensino e, reafirmando Marques

(2005, p.17), “a escola é hoje sem dúvida um lugar privilegiado para que isto

aconteça”.

Com uma visão recreativa e descontraída, a inserção da dança

encontra formas simples de sair da rotina do esporte. Como prática relaxante,

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ela torna-se recurso para garantir outras formas de praticar atividade física.

Mas, seria essa função da dança na escola?

O movimento presente em nossas aulas nas práticas corporais

constantes do currículo não dá suporte que garante a apreensão do

conhecimento que abarca também a criatividade, a espontaneidade e a

liberdade de expressão. A dança livre, descomprometida, sem interesses

pedagógicos, pode até proporcionar momentos de alegria. Mas, se houver

intencionalidade, buscando entender porque desta prática, é possível obtermos

grandes respostas dos alunos.

Segundo Marques (2005), a dança não deve servir apenas com

propósito de trabalhar a coordenação motora. Esta função pode ser atribuída a

outras atividades. A dança, aqui, deve ser garantida no seu aspecto mais

eminente, o corpo como expressão e comunicação. Afinal, é esse o grande

diferencial das demais disciplinas e, precisamente, dos demais conteúdos da

educação física.

Se não há o entendimento da dança como atividade rica em gestos e

movimentos, torna-se difícil apresentá-la aos alunos, recaindo, assim, sobre a

facilidade de trabalhar outras práticas para cumprir o rol de conteúdos.

Organizar um trabalho de movimento, inserindo um ritmo musical, não

formalizará a dança, mas permitirá a exploração da gestualidade. No grupo de

estudos, esta foi uma das questões pontuadas pelos professores. Como diz

Miranda (1997), o movimento deverá ser conduzido muito mais numa

perspectiva de expressão e vivência do que via padronização e

predeterminação dos gestos.

Assim, ao oferecer a dança numa perspectiva informal, estaremos

dando oportunidade às experiências individuais e coletivas, sem determinar

modelos e padrões. Mas, caberá ao professor significar os movimentos e

gestos produzidos em aula para que não se tornem vazios. Gestos e

movimentos, em cada momento, são diferentes.

Existem várias formas de trabalhar com a dança na escola sem

comprometer a criatividade e a gestualidade de nossos alunos. Bregolato

(2000, p.145) cita alguns tipos de dança com encaminhamentos que não levam

necessariamente à dança formalizada. “Com liberdade de expressão, cada

aluno é motivado a buscar dentro de si próprio a fonte inspiradora de sua

16

movimentação [...] os movimentos são realizados espontaneamente movidos

pelo sentimento que a musica proporciona”.

Dessa forma, os alunos vivenciarão uma variedade de passos e

movimentos que resultarão numa combinação. O professor poderá também

lançar mão de movimentos pré determinados pelo esporte, pelo dia-a-dia

enfim, utilizar-se de temas para encaminhar o trabalho, de modo que o aluno

se sinta familiarizado com ações que pratica normalmente. Mas é preciso

entender, porém, que o movimento rotineiro não se caracteriza como gesto

expressivo se ele não estiver carregado de sentidos e significados. Segundo

Dantas (1999), o gesto se diferencia do movimento por ter um caráter

expressivo. O movimento pode até ser transformado em figuras de dança, mas

a ela devem se incorporar novas posturas e atitudes corporais.

Para finalizar o Grupo de Estudos, como atividade complementar, foram

realizadas algumas vivências com os professores. Nesse espaço destinado às

experiências vividas em sala de aula, professores compartilham formas

diversificadas de trabalhar o ritmo e a expressão corporal e, ainda, alguns

elementos da dança popular. Cada professora desenvolve dinâmicas que

podem favorecer às demais.

Figura 01 – Grupo de Estudos - Vivências.

17

Uma avaliação também foi realizada verificando, a partir de cada

professor, como foram conduzidos os estudos, bem como um breve relatório

sobre o que eles puderam acrescentar à visão inicial sobre o trato com a dança

nas aulas de educação física. Nessa, a constatação de que, momentos como

esses devem ser contínuos entre os profissionais, para buscar cada vez mais

formas diferenciadas e atualizadas de trabalhar os conteúdos da educação

física.

4. LIMITES E POSSIBILIDADES DE AÇÃO COM VISTAS AO E NSINO DE

DANÇA NA ESCOLA

A partir do momento em que a dança teve sua inclusão como área de

conhecimento na escola, desafios foram lançados, levando professores a

repensar metodologias consistentes para o trato dessa manifestação em sala

de aula. Para cumprir efetivamente seu papel de prática corporal, há ainda

ações a serem desenvolvidas.

Formar grupos com professores interessados em aprofundar estudos

em cada área de conhecimento na escola serve como ponto de partida para

viabilizar estas ações. A implementação do PDE (Programa de

Desenvolvimento Educacional) oportunizou que professores de educação

física, formassem um grupo, para, num determinado tempo, discutir a dança,

analisando como se dá seu trato na escola, buscando melhorias à qualidade de

ensino.

Quando se busca inovar, incrementar a ação do professor no seu fazer

pedagógico com vistas a essa melhoria, deve-se pensar na oferta de recursos

que viabilizem esse processo. Não há, ainda, de forma consistente e contínua,

oferta formalizada dentro das políticas públicas que regem a educação,

espaços e momentos de estudo na escola que atendam aos anseios dos

professores. Referimo-nos a recursos capazes de viabilizar possibilidades

amplas de trabalho sistematizado e coletivo, voltado a uma ação teórico-prática

a partir de uma concepção histórica de mundo, para compreensão e

intervenção no processo educativo.

18

Não basta querer mudar apenas numa visão funcional-prática. Mudar

não significa implementar o currículo a deixá-lo mais encorpado. O

entendimento deve partir da análise de estudos referentes à organização do

trabalho pedagógico, de conhecimento amplo de Planos de Trabalho e

Propostas que regem a escola, estudos que levem o professor a ter

conhecimento de tudo que envolve o “fazer pedagógico” da escola. Ter

conhecimento das Diretrizes Curriculares da Educação Básica para Educação

Pública do Estado Paraná - Educação Física (2008), em processo de

construção, é imprescindível num primeiro momento.

A educação como um todo (professores, alunos, comunidade escolar),

deve estar preparada para acompanhar as mudanças sociais, uma vez que seu

objetivo é oferecer meios capazes de levar o aluno ao entendimento dessas

mudanças. A compreensão de que é preciso modificar também a linha de

trabalho não se faz apenas em novas atitudes, mas no conhecimento adquirido

pelo aprofundamento teórico que deve ser constante no trabalho do professor.

Para transformação qualitativa da educação física, deve-se buscar uma prática

transformadora que supere as velhas concepções, possibilitando ao aluno

compreender-se como agente da história. Lançar um olhar sobre o trabalho

pedagógico pode ser o ponto de partida. O aprofundamento teórico dará

suporte para entender como e onde devemos mudar. O interesse do professor,

da escola e das políticas públicas que regem a educação, deve caminhar pari

passo para reverter ações rotineiras e mecanicistas que admitam o

adestramento físico em detrimento de uma prática que reforce a compreensão

do uso do corpo sem imposição e repetição, possibilitando o autodomínio e a

formação de caráter.

A visão da educação física nos caminhos da história percorre

enfrentando desafios. Professores sentem necessidade de mudar suas aulas

voltadas ao tecnicismo, mas não vêem possibilidades e formas para que isso

aconteça. A educação física, concebida apenas na visão de esporte, facilita o

trabalho do professor, mas não permite ao aluno descortinar uma visão mais

significativa da área. Entender o movimento humano em toda sua dimensão

facilitará a mudança de concepção na organização dos conteúdos no

planejamento do professor. Kunz (2001, p.165) cita que:

19

Na prática da educação física nas escolas, a padronização do movimento no sentido da concepção do esporte de rendimento se estabilizou a tal ponto que a realização destes movimentos esportivos é recebida e aceita como uma solução quase que natural de toda problemática do movimento humano.

Reconhecer as bases do movimento humano é a primeira etapa para

buscar, na dança, uma possibilidade a mais de trabalho. O esporte compõe

uma faceta no planejamento, mas não deve se sobrepor ao demais conteúdos.

Nessa visão, o autor ainda coloca que:

Uma aula de educação física [...] é permeada por múltiplas perspectivas para o desenvolvimento e a interpretação do movimento, onde o movimento dos esportes normatizados compõe apenas uma parte deste Mundo do Movimento Humano (KUNZ, 2001, p.167).

Vê se que a dança tem mais a contribuir do que simplesmente ser

ignorada pelas recusas dos alunos ou pela falta de recursos, conhecimento,

espaços que venham interferir nos encaminhamentos. Não se quer dizer que

não haverá enfrentamentos em caminhar em direção a esta meta. Além de

inúmeros entraves, temos que contar com a falta de domínio e aceitação do

próprio corpo que leva os alunos a desanimarem. Por isso é necessário cautela

para entender os rumos que deverão ser seguidos para não causar ainda mais

bloqueios. Deve-se possibilitar ao aluno o entendimento da dança como

fenômeno expressivo, artístico, comunicativo, como também um meio de

resgatar a cultura brasileira. A dança, como conteúdo das práticas corporais na

escola, deve levar à apropriação de várias formas de linguagem ou expressões

que favorecerão as relações sociais. Ela poderá abarcar uma significação da

educação física que ultrapasse o conceito da área pela esportivização,

alcançando sua dimensão cultural, social e histórica.

Para se efetivar este trabalho na escola, o professor poderá criar

condições preliminares com improvisações, atividades lúdicas e cooperativas

para que, posteriormente, os alunos sintam-se à vontade para realizar danças

mais elaboradas.

Em geral, eles possuem conhecimento restrito a respeito das

possibilidades de movimento corporal. Talvez seja essa a razão porque alguns

professores sentem dificuldades em trabalhar a dança, sem contar, ainda, a

falta de recursos, espaços e preparação prévia das aulas, sem assessoria,

20

orientação e acompanhamento. Alguns professores não se sentem bem em

trabalhar os movimentos da dança por não dominar esse conteúdo. Outros

obstáculos, como a diversidade de gênero, raça e credo, são empecilhos para

desenvolver um bom trabalho. Há grande preocupação quando se trabalha

dança afro de cunho religioso, pela visão errônea de doutrinação pelos

movimentos realizados nessas danças. Cabe ressaltar, ainda, os desafios de

trabalhar uma dança originária na classe marginalizada, como o funk. Embora

seja uma manifestação popular, ainda não é aceita por todos devido aos

grupos que a aderiram, vistos como rebeldes, exprimindo nas letras de suas

músicas o caráter de protesto. Mas, como a dança apresenta universo

diversificado, o professor poderá oferecer outras manifestações dançantes em

que os alunos possam se identificar.

Enfim, não se pode mais pensar em educação física com vista apenas

aos conteúdos que reproduzem a função do capitalismo vigente, com cópia de

modelos prontos, com visão de corpo instrumento, de interesses da moda, da

mídia, da vulgarização, copiando ou praticando sem entendimento.

A prática educacional deve partir do princípio de que as Diretrizes

Curriculares foram organizadas levando-se em consideração os requisitos

necessários para a formação do aluno, e deve ser tomada como ponto principal

na organização do trabalho docente nas escolas do Estado do Paraná.

Espaços e momentos de reflexão devem ser comuns, tomando como base as

Diretrizes, e a partir desse documento, viabilizar estudos aprofundados durante

o decorrer do trabalho letivo, contribuindo para o desenvolvimento das aulas de

forma contextualizada, dando condições ao aluno e professor superarem a

prática educativa como atividade voltada à reprodução de modelos pré

existentes e ao tecnicismo.

Que propostas, como a realizada nesta implementação, sejam

constantes para definir metas e adotar posturas necessárias e viáveis para o

entendimento da dança como prática que interfere no processo educacional.

Dotados de fundamentação, os professores poderão organizar seus

planejamentos, contemplando todos os conteúdos listados nas DCEs,

acompanhado de atitudes reflexivas para uma prática contextualizada.

Que possamos tornar acessível ao aluno uma prática comprometida

com sua formação de cidadão consciente. Que a prática da educação física

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encontre fórmulas ricas e capazes de utilizar o trabalho corporal e o movimento

como recursos para promoção humana.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho realizado com professores de educação física atenta para o

fato de que, embora a dança se apresente no planejamento como prática

corporal, juntamente com os esportes, ginástica e jogos, ela não se faz

presente legitimamente. Partindo desta constatação na escola, houve, portanto,

o interesse em identificar como se dá o trato da dança com os demais

professores, discutindo possíveis dificuldades e, como seguem os

encaminhamentos ao longo do trabalho. Assim, numa ação coletiva, buscamos

meios que contribuíssem para a prática pedagógica no contexto da escola,

agrupando professores de educação física para discutir o trabalho com a

dança.

Estudos relativos à dança levaram os professores a refletir essa

manifestação e seu trato na escola. Por meio de encontros, professores

discutiram a dança como conteúdo que emerge do currículo, para garantir seu

espaço entre as práticas pedagógicas. A preocupação, os temores e a

insegurança foram compartilhados entre eles, que pretendem dar um novo

rumo às suas aulas. Partindo dessa constatação, perceberam que é necessário

buscar, por meio de encontros, estudos e discussões, formas viáveis de

envolver seus alunos na prática efetiva da dança.

Considera-se que os encontros realizados no Grupo de Estudos

contribuíram, segundo os relatos da avaliação final, para reflexão e

reconhecimento da dança como prática possível de ser trabalhada em qualquer

série ou nível de ensino, caminhando, então, para derrubar conceitos

tecnicistas que ainda permeiam a área de educação física. Como outros

conteúdos desta disciplina que, provavelmente, tiveram contratempos na sua

inclusão, a dança também passa por esse processo. Entendemos que ela deve

acontecer em outras realidades com relativa facilidade e, espera-se que esse

primeiro passo dado por meio dessa implementação desperte atitudes de

inovação dessa prática e de todas as outras que compõem o currículo escolar.

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Investir em cursos que proporcionem trocas de experiências, reflexão

teórica e vivências práticas, foram reivindicações dos professores para dar

continuidade a esse trabalho realizado na implementação, assegurando a

prática permanente de dança nas aulas de educação física. Finalmente,

espera-se ter contribuído para o despertar de outra visão e concepção da

dança, a ser continuamente construída e implementada com aperfeiçoamento

sistemático e coletivo.

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6. REFERÊNCIAS

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2001. � LARA, Larissa Michelle. O movimento em expressão e ritmo:

encaminhamentos metodológicos para a educação física escolar. In CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE. 2003, Caxambu. Anais... Caxambu, 2003.

� MELO, Vitor Andrade. Masculinidade dança e esporte. Revista Brasileira

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escola. Caderno CEDES , Campinas, SP, v.21, n.53, abr. 2001.

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