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114 www.backstage.com.br REPORTAGEM Miguel Sá [email protected] Dança, luz e som O som, a luz e a música a serviço do espetáculo de dança Another Evening: I Bow Down, no Theatro Municipal, no Rio de Janeiro. Como sempre, o desafio do equilíbrio entre o som acústico e o amplificado. no Theatro Municipal D omingo, dia 27 de agosto no Theatro Municipal, Rio de Janeiro. Do cluster central, posicionado acima do palco, e das caixas colocadas no chão do palco sai o texto que vai ser o eixo da apresentação do espetáculo da companhia ameri- cana Bill T. Jones/Arnie Zane Dance Company. No palco, fitas amarelas no chão branco delimitam os espaços a serem usados pelos dez bailarinos da companhia. A iluminação de Robert Wierzel, supervisionada no Brasil por Laura Bicksord, não é ape- nas para a coreografia. Ela segue os espaços delimitados pelas fitas, construindo formas geométricas que fazem parte do cená- rio. O diretor técnico do evento no Brasil é Beto Kaiser, que explica: “É um espetáculo de dança moderna, com banda ao vivo, que vai do clássico até o heavy metal. A sonorização é bem complexa, porque estamos trabalhando em uma casa que é acústica, desenhada para orquestras. Na verdade, o som é um coadjuvante”, conclui. A trilha sonora tem trechos retirados de CD e execução de música ao vivo, com piano e violoncelo, além da banda de heavy metal Regain The Heart Condemned, que fica “confina- da” em uma espécie de box coberto com material acústico. Antes de o espetáculo começar, é difícil entender de que forma elementos tão díspares participam da cena, e de como será a interação deles, tanto técnica como artística, durante a peça. O técnico de som da companhia, Sam Crawford, é o responsável por traduzir para o público esta formação inusitada que executa a trilha sonora de Daniel Bernard Roumain. A dança é o principal, mas ela participa de um contexto em que várias formas de expressão artística são também relevantes. Foto: Divulgação

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Page 1: Dança, luz e som - backstage.com.brbackstage.com.br/newsite/ed_ant/materias/143/Sonorizacao_Municipal.pdf · a trilha sonora de Daniel Bernard Roumain. A dança é o principal, mas

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REPORTAGEM

Miguel Sá[email protected]

Dança, luz e somO som, a luz e a música a serviço do espetáculo de dança AnotherEvening: I Bow Down, no Theatro Municipal, no Rio de Janeiro. Comosempre, o desafio do equilíbrio entre o som acústico e o amplificado.

no Theatro Municipal

Domingo, dia 27 de agosto no Theatro Municipal, Rio deJaneiro. Do cluster central, posicionado acima do palco, edas caixas colocadas no chão do palco sai o texto que vai

ser o eixo da apresentação do espetáculo da companhia ameri-cana Bill T. Jones/Arnie Zane Dance Company. No palco, fitasamarelas no chão branco delimitam os espaços a serem usadospelos dez bailarinos da companhia. A iluminação de RobertWierzel, supervisionada no Brasil por Laura Bicksord, não é ape-nas para a coreografia. Ela segue os espaços delimitados pelasfitas, construindo formas geométricas que fazem parte do cená-rio. O diretor técnico do evento no Brasil é Beto Kaiser, queexplica: “É um espetáculo de dança moderna, com banda aovivo, que vai do clássico até o heavy metal. A sonorização é bemcomplexa, porque estamos trabalhando em uma casa que é

acústica, desenhada para orquestras. Na verdade, o som é umcoadjuvante”, conclui.

A trilha sonora tem trechos retirados de CD e execução demúsica ao vivo, com piano e violoncelo, além da banda deheavy metal Regain The Heart Condemned, que fica “confina-da” em uma espécie de box coberto com material acústico.Antes de o espetáculo começar, é difícil entender de que formaelementos tão díspares participam da cena, e de como será ainteração deles, tanto técnica como artística, durante a peça. Otécnico de som da companhia, Sam Crawford, é o responsávelpor traduzir para o público esta formação inusitada que executaa trilha sonora de Daniel Bernard Roumain.

A dança é o principal, mas ela participa de um contexto emque várias formas de expressão artística são também relevantes.

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REPORTAGEM

Apesar de ser uma companhia de dan-ça, a Bill T. Jones/Arnie Zane DanceCompany tem a tradição de tambémutilizar elementos de teatro em seus es-petáculos. O texto, criado pelo coreó-grafo com Andrea Smith, engloba des-de episódios bíblicos, como a Arca deNoé, até depoimentos de sobreviventesdo Katrina, furacão que devastou a ci-dade de Nova Orleans, nos Estados Uni-dos. E este é o fio da meada do espetáculo:a reação das pessoas às grandes catástro-fes, tudo expressado de forma equilibradacom música, dança, texto e iluminação.

SonorizaçãoA empresa de som Soundsgood uti-

lizou caixas do sistema de line array daempresa nacional Acoustic, as ACL1012. Foram utilizadas quatro em umcluster central acima do palco e duasem cada lado do palco. A sonorizaçãofoi montada desta forma por conta dascaracterísticas do teatro, com pé direi-to bem alto e três mezaninos (as galeri-

as e os balcões). A partir disso, Hermêde Castro e Fernando Grossi trabalha-ram em conjunto utilizando trenas ele-trônicas para medições e o softwarepróprio do sistema line array para vercomo seria feita a cobertura. “A princí-pio, só iríamos ter o cluster central com

oito caixas”, conta Hermê. “Chegamosà conclusão que as caixas de baixo po-deriam dar uma pressão sonora muitoalta no palco, e como se usa muito mi-

crofone Lavallier condensador, poderiadar microfonia”, conclui.

Fernando Grossi conta que as caixasposicionadas ao lado no palco, que fize-ram a cobertura para as primeiras filas deplatéia do chão, tiveram um cálculo dedelay para se ajustar ao tempo do cluster,que era posicionado um pouco mais atrás.As caixas do chão tinham um volumemais baixo em relação ao cluster, que co-briu toda a parte das galerias e balcões.Para essas caixas foi usado o processa-mento do dbx 4800. O cluster central teveum XTA 224. As medições sonoras foramfeitas com o Smaart Live 5.

Havia um fator que complicava amontagem do equipamento, como expli-ca Hermê. “No Theatro Municipal, oteto do palco da coxia tem um pé direitode 45 metros até o ponto onde conseguecolocar a talha. E não é comum existirtalha com este tamanho de corrente, atéporque ficaria muito pesada e você usa-ria em poucas situações. Por este motivo,houve a necessidade de se fazer os cabosde aço com mais 25 metros para poderchegar ao pé direito necessário para a ta-lha ir até lá”, comenta. A companhia dedança chegou a levar algum equipamen-to, mas a Soundsgood levou diversos siste-mas de microfones de lapela e de mão.

De acordo com a opção do técnicoSam Crawford, a mixagem principal foiconcebida para o cluster central e foi amesma utilizada nas caixas nos lados dopalco. A sonorização funciona apenascomo um reforço do som acústico, e o

Housemix

Mixer Mackie TT24 Digital 40 entradas

analógicas

Dois equalizadores BSS FCS 966 ST

Compressor DBX 166

Processador de efeitos Yamaha SPX990

Yamaha SPX1000 2 canais

Dois CD players Pioneer CDJ100 Professional

Oito pontos de Intercom com headsets

Sonorização

Duas caixas EAW LA325 Side fills

Lista de equipamento

Seis caixas EAW SM222 (monitor de chão)

Oito Acoustic ACL1012 Line array (P.A.)

Amplificadores Studio R

Quatro Sennheiser de mão sistema G2 e

três Sennheiser EW100

Sistema WL93 lavaliers

Backline

Bateria Pearl (quatro peças)

Amplificador Fender Twin Reverb

Amplificador de baixo SWR bass amp

(8x10)

As caixas do chãotinham um volume

mais baixo em relaçãoao cluster, que cobriu

toda a parte dasgalerias e balcões. Ocluster central teve

um XTA 224

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Caixas para cobertura próxima ao palco Euipamentos para o processamento do P.A. O técnico da companhia, Sam Crawford

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volume é baixo. A idéia é que tudo soequase como se fosse acústico. O técnico dacompanhia teve à sua disposição um con-sole digital Mackie TT24 para equilibrar ossons da fala do espetáculo, os instrumentosacústicos (piano e violoncelo) e a banda deheavy metal. Uma questão importante aser colocada, além da parte técnica, é aconcepção artística. Os elementos queexecutam a trilha sonora têm papéis bemdefinidos artisticamente dentro do espetá-culo. Acaba que não fica nem um poucoestranho ouvir um solo do violoncelo segui-do da banda de heavy metal. Resta ao téc-nico fazer o equilíbrio de forma que os vo-lumes não fiquem díspares. O “box” acústi-co ajudou bastante, já que apenas uma por-ta era aberta na hora em que a banda toca-va, contendo principalmente as altas fre-qüências. “Achar o equilíbrio é um poucocomplicado, porque neste espaço nós te-mos uma banda de death metal, um pianoclássico, falas ...”, comenta Sam. “Eu usogate, especialmente na bateria, porque hámuito barulho. Os vocais são só palavras fa-ladas, pessoas contando histórias, com mú-sica atrás. Então uso uma compressão bemleve”, conclui.

IluminaçãoLaura Bicksord operou a iluminação do

espetáculo, mas a responsabilidade dela émaior do que isso. Laura é responsável pormanter a integridade do projeto de RobertWierzel nos diversos locais onde o espetácu-lo é apresentado. “Eu trabalho com Robertem outros trabalhos”, conta Laura. “Neste

caso particular foram criados padrões nochão por meio de fitas que Robert quis arti-cular com “caixas” para realçar diversos mo-mentos da coreografia e realçar o cenário”.

Lâmpadas do tipo Source 4 foram uti-lizadas para iluminar os espaços delimita-dos pelas fitas. Laura expõe que a ilumi-nação procura realçar os locais onde aplatéia deve prestar mais atenção. Estru-turas laterais foram montadas no palcolonge da visão do público “Elas podem serusadas para realçar os movimentos dosdançarinos da esquerda para a direita”,explica Laura. Quando não eram usadasdesta forma, esta iluminação ajudava acompor os cenários. Algumas cores tam-bém eram usadas, como azul (“vários ti-pos”) ou laranja. “Robert é sempre bas-tante limpo (nos projetos de iluminação),organizado e arquitetural”.

A equipe usa mesmo o equipamentodos teatros, trazendo alguma coisa, comoos colors changers e strobos usados para abanda de heavy metal dentro do “box”acústico e a programação de saídasDMX, controladas por um laptop PC. Elase reuniu com Robert alguns meses paraanalisar a planta de palco do teatro e de-cidir o posicionamento do cenário deBjorn Amelan. “Trazemos para o teatroos programas que estão prontos e os con-troles para as luzes, que são sempre osmesmos em todos os teatros. Fazemos al-guns ajustes. Sempre há uma série demudanças e é bom para Robert saber quehá alguém que pode ver o show comoum projetista”, diz a profissional.

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Hermê e Fernando Grossi Fernando (esq.), Sam, Beto Kaiser e Hermê