música no museu - backstage.com.brbackstage.com.br/newsite/ed_ant/materias/158/musica_museu.pdf ·...

4
86 www.backstage.com.br REPORTAGEM C om o título homologado pelo Livro dos Recordes Brasilei- ros, RankBrasil, o evento Música no Museu completou 10 anos em dezembro, homenageando um compositor por concerto. O livro, que tem informações acessíveis pelo site www.rankbrasil.com.br, assinala a marca de 185 mil espectado- res em mais de 2 mil concertos, geralmente realizados em salas pequenas, sempre com entrada franca, no horário de almoço. Abraçando também outras áreas da música instrumental ou pre- dominantemente acústica, o projeto escalou músicos do gabarito de João Pequeno [email protected] Turíbio Santos, Yamandu Costa, Arthur Moreira Lima e Léo Gandelman para homenagear diversos compositores entre os mais importantes da música brasileira, como Edino Krieger, Camargo Guarnieri, Guerra Peixe, Ricardo Tachchian e, obviamente, Heitor Villa-Lobos. O violonista Turíbio Santos foi, aliás, quem deu o pontapé incial no projeto, em dezembro de 1997. Itinerante, entre diversos museus e centros culturais do Rio de Janeiro, o Música no Museu também promove apresentações em outros estados e até no exterior, além de programações especiais, como um festival anual de harpas. Música no Museu com recorde e mais música Década celebrada Década celebrada Música no Museu completa 10 anos de atividades, confirmando a marca de maior série de música clássica do Brasil. A comemoração não poderia ser de outra forma que não com mais concertos, com músicos consagrados prestando homenagem a ícones eruditos da música brasileira

Upload: duongnhan

Post on 21-Jan-2019

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Música no Museu - backstage.com.brbackstage.com.br/newsite/ed_ant/materias/158/Musica_Museu.pdf · Turíbio Santos, Yamandu Costa, Arthur Moreira Lima e Léo Gandelman para homenagear

86 www.backstage.com.br

REPORTAGEM

Com o título homologado pelo Livro dos Recordes Brasilei-ros, RankBrasil, o evento Música no Museu completou10 anos em dezembro, homenageando um compositor

por concerto. O livro, que tem informações acessíveis pelo sitewww.rankbrasil.com.br, assinala a marca de 185 mil espectado-res em mais de 2 mil concertos, geralmente realizados em salaspequenas, sempre com entrada franca, no horário de almoço.

Abraçando também outras áreas da música instrumental ou pre-dominantemente acústica, o projeto escalou músicos do gabarito de

João Pequeno

[email protected]

Turíbio Santos, Yamandu Costa, Arthur Moreira Lima e LéoGandelman para homenagear diversos compositores entre os maisimportantes da música brasileira, como Edino Krieger, CamargoGuarnieri, Guerra Peixe, Ricardo Tachchian e, obviamente, HeitorVilla-Lobos. O violonista Turíbio Santos foi, aliás, quem deu o pontapéincial no projeto, em dezembro de 1997. Itinerante, entre diversosmuseus e centros culturais do Rio de Janeiro, o Música no Museutambém promove apresentações em outros estados e até no exterior,além de programações especiais, como um festival anual de harpas.

Música no Museucom recorde e mais músicaDécada celebradaDécada celebrada

Música no Museu completa 10 anos de atividades, confirmando a marca demaior série de música clássica do Brasil. A comemoração não poderia ser deoutra forma que não com mais concertos, com músicos consagradosprestando homenagem a ícones eruditos da música brasileira

Page 2: Música no Museu - backstage.com.brbackstage.com.br/newsite/ed_ant/materias/158/Musica_Museu.pdf · Turíbio Santos, Yamandu Costa, Arthur Moreira Lima e Léo Gandelman para homenagear

88 www.backstage.com.br

REPORTAGEM

Baseada no Rio, sérieexpandiu-se por outrascidades, estados e até oexteriorO primeiro concerto, de Turíbio San-

tos, teve o Museu Nacional de Belas Ar-tes, no Centro, como palco. Ele é um dosprincipais pontos do Música no Museuaté hoje, assim como o Museu da Repú-blica, no Catete; Museu Histórico Naci-onal, na Praça XV; MAM (Museu deArte Moderna), no Aterro; Casa França-Brasil, também no Centro e centros cul-turais como o Julieta de Serpa, no Fla-mengo; Furnas, em Botafogo; Light eBanco do Brasil, ambos no Centro.

Segundo seu produtor, Sérgio da Cos-ta e Silva, a idéia era fazer no Brasil asséries de concertos que já existiam emmuseus de peso do mundo afora, comoMoMA, Metropolitan e Guggenhein, to-dos em Nova Iorque; Louvre, Picasso eMontmartre, de Paris; Prado, de Madrid,e Gulbenkian, de Lisboa, entre outros,aliando a música às artes plásticas e aosambientes de cada museu.

Para a versão brasileira, além dos clássi-cos europeus, dos românticos aos impres-sionistas e barrocos – Bach, Beethoven,Mozart etc. –, foram incor-porados compositores pri-mordiais da música popu-lar nacional, como Pixin-guinha e Chiquinha Gon-zaga, e estrangeira, deGershwin a Astor Piazolla,com a qualidade dos com-positores mantida pela par-ticipação de músicos dealto nível, como os já cita-dos e outros menos famo-sos, mas reconhecidos nomeio musical, como o con-junto Pedra Lispe, especi-alizado em música nor-destina e a pianista clássi-ca Monica Kudiess.

Ao todo, são dezenas de espaços ondeo projeto acontece no Rio de Janeiro, e,dois anos depois de sua estréia, ele se ex-pandiu para outras cidades e estados,tendo locais onde ocorre com regularida-de como São Paulo (Museu da Casa Bra-sileira), Belo Horizonte (Museu Históri-co Abílio Barreto), Brasília (Memorial

JK), Porto Alegre (Margs), Florianópolis(Palácio Cruz e Souza) e Curitiba (Mu-seu Oscar Niemeyer), além de Salvador,Maceió, Recife, Aracaju e João Pessoa.

Fora das capitais, cidades históricascomo Paraty e Vassouras, no interior doRio; São João Del Rey, Tiradentes e

Barbacena, em Minas Gerais; Olinda, emPernambuco, e São Cristóvão, em Sergipe– quarta cidade mais antiga do Brasil –,também fizeram parte do roteiro, dada suaimportância na formação cultural brasileiradesde os tempos do império e da colôniaportuguesa. E fora do Brasil, concertos emParis lhe deram caráter internacional.

Um dos concertos ressaltados por Cos-ta e Silva é o de 2006, em Tiradentes, naigreja Matriz de Santo Antonio, que teveo consagrado pianista Nelson Freire, erepercutiu com matéria de meia páginana revista francesa Le Monde de LaMusique, uma das principais publicaçõeseuropéias de música erudita.

A série chama os músicos através desua curadoria e as apresentações sãoagendadas com um período, em média,de dois a três meses de antecedência. “Oprimeiro bimestre de 2008, por exemplo, jáestá todo fechado”, ressalta o produtor.Os músicos que se interessarem em par-ticipar, porém, podem mandar currícu-los para o e-mail do projeto, pelo sitewww.musicanomuseu.com.br.

Além de Sérgio da Costa e Silva, oafinador de pianos Newton Dragon e o téc-nico Jonas Theotonio, responsável por som

e luz contam como é man-ter há uma década umasérie de concertos diáriosem locais diferentes, man-tendo a qualidade artísticae de infra-estrutura.

Rider técnico,simples e seguroparaapresentaçõesrápidas

Para um evento reali-zado diariamente em lo-cais diferentes e em tem-po de apresentação aper-tado, um rider técnico“muito gordo” não seria

A série chama osmúsicos através de sua

curadoria e asapresentações sãoagendadas com um

período, em média, dedois a três meses de

antecedência

Page 3: Música no Museu - backstage.com.brbackstage.com.br/newsite/ed_ant/materias/158/Musica_Museu.pdf · Turíbio Santos, Yamandu Costa, Arthur Moreira Lima e Léo Gandelman para homenagear

90 www.backstage.com.br

REPORTAGEM

adequado, pois dificulta-ria a montagem e des-montagem dos equipa-mentos, pois é comum assalas precisarem ser deso-cupadas prontamente apóso fim dos espetáculos, as-sinala Jonas Theotonio,responsável pela sonori-zação e pela iluminaçãodo Música no Museu du-rante toda esta década.

Devido à variedadede locais, com maior oumenor infra-estruturapara apresentações musi-cais, a aparelhagem utili-zada é a da casa ou a dopróprio evento. No equipamento própriodo Música no Museu, tanto som quantoluz são monitorados a partir da mesmamesa, uma Yamaha 01V, de 16 canais,“modelo de mesa digital da Yamahapara as que vieram depois”, afirma.“Como os espaços geralmente são pe-quenos e a música é predominantemen-te acústica, não existe a necessidade dese preencher dezenas e mais dezenas decanais. Os 16 suprem as demandas deluz e de som”.

Jonas conta que a sonorização é nor-malmente feita em quatro vias, com cai-xas ativas Mackie 450, sendo duas comomonitores e as outras duas para P.A. Oseu básico de luzes é composto por oitolâmpadas PAR64, posicionadas em tripéscom quatro de cada lado, caso não hajavaras de luz, o que ocorre em alguns lu-gares. “É simplesmente para clarear oambiente. Não faria sentido um trabalhode iluminação, digamos, artística paraum evento diário, com duração de umahora”, diz.

As exceções em que o evento ocorrecom equipamento da casa se dão em lo-cais maiores, como os centros culturaisda Light e Banco do Brasil, no Centro, e

o auditório de Furnas, em Botafogo, pal-co fixo das apresentações das terças-fei-ras, com orquestras. “Em locais cominfra-estrutura própria para concertos,seria desnecessário levarmos algo”, expli-ca Jonas Theotonio. Neles, a monitora-

ção de som e luz é separada, já que a pró-pria aparelhagem é preparada para isto.“Em Furnas”, exemplifica o técnico, “te-mos um Yamaha THM24 e uma Artlightcom pelo menos 30 vias de luzes, entãonão haveria por que levarmos nada. Ge-ralmente utilizamos estes locais paraapresentações que peçam mais canais,como de orquestra”, ressalta.

Captaçãoalternativa paraprogramaçãoespecial

Configurações alterna-tivas são usadas em even-tos especiais dentro da pro-gramação, como o festivalde harpas promovido anu-almente, que é microfona-do com AKG C56. “Nasapresentações da igreja daCandelária, por exemplo,tenho que contar com oeco, que é muito forte, ecom a própria harpa, uminstrumento acústico, mui-to sensível a este eco. E ain-

da tem a própria dinâmica do músico, entãoevito um microfone também dinâmico, pre-ferindo este, que é de fácil adaptação”.

O festival de harpas é a única exceção àregra de usar sempre microfones SM58, daShure. “É o padrão, que cai bem em prati-camente todo tipo de microfonação. Ásvezes, quando uma cantora pede umSM57, por exemplo, arrumamos, mas o nos-so padrão é com o SM58”, afirma o técnico.

Versatilidade paraadaptar equipamento atodos os locaisA versatilidade para produzir concer-

tos com o mesmo aparato técnico em lo-cais com características bem diferentes éoutro ponto ressaltado por Jonas. “Emcada sala, precisamos tomar um cuidadoespecífico. No MAM [Museu de ArteModerna do Rio de Janeiro], por exem-plo, sempre que possível já levamos as lu-zes montadas nos pedestais, porque nãohá varas específicas para shows”, conta.

Já no Centro Cultural Light, a preocu-pação é com o horário, bastante aperta-do. “Os concertos acabam, no mínimo, às13h30 e, às 14h, na mesma sala, o pessoaldo teatro já começa a se aprontar. Se não

A sonorização énormalmente feita

em quatro vias, comcaixas ativas Mackie

450, sendo duascomo monitores eas outras duas para

P.A.

Page 4: Música no Museu - backstage.com.brbackstage.com.br/newsite/ed_ant/materias/158/Musica_Museu.pdf · Turíbio Santos, Yamandu Costa, Arthur Moreira Lima e Léo Gandelman para homenagear

www.backstage.com.br 91

REPORTAGEM

trabalharmos rápido para desmontar tudo,invadimos o horário deles. Então, um ridermuito grande dificultaria este trabalho,além de ser desnecessário para um local pe-queno, que só demanda o suficiente parapreenchê-lo”, acrescenta. “Também nãotem aquela passagem de som que é quaseum ensaio. O músico realmente passa o som,para ver se está bom, mas não tem uma tardeinteira para ficar no palco. Mas como eles sãobons, não tem problema”, afirma.

A produção em tempo limitado tam-bém gera outra diferença em relação aconcertos comuns. Dificilmente, ummúsico troca diversas vezes de instru-mento. “Até para efeito de desmontar opalco, fica mais complicado se um violo-nista, por exemplo, traz um violão de aço,outro de nylon, um de 12 cordas. Então,fica mais prático e o tempo é mais bemaproveitado com um violão só”, conta.

Cuidado essencialatrás das teclasRapidez com precisão também é ele-

mento essencial para Newton Dragon,que afina todos os pianos utilizados peloMúsica no Museu. A mesma restrição dehorário é comum para ele, mas, com 30anos no ofício, dos 45 de vida, ele garanteque isso não é problema.

Newton trabalha pelo menos duas vezespor semana para o projeto e costuma come-çar a afinar o piano de uma a duas horasantes das apresentações. Ele utiliza umafinador eletrônico Classic Tuner TU-12H, da Boss, mas apenas para dar a primei-ra nota, o La central, que precisa vibrar em442hz, padrão para música clássica.

Dali em diante, vai de ouvido, umatradição herdada do tio-avô, polonês,que também afinava pianos. “O afinadortem que fazer de ouvido, até porque nem

sempre houve aparelho para isto, que sódá um auxílio. É preciso ter o dom, como énecessário em qualquer atividade, mastambém ir se aperfeiçoando com a práti-ca. Depois de 30 anos, a afinação corretasoa quase natural”, afirma, enquanto pas-sa o instrumento para o pianista Alexan-dre Chamarelli, que, em pouco mais deuma hora, se apresentaria no Museu daRepública, tocando peças eruditas deMozart, Bach, Debussy e Beethoven até opopular Ernesto Nazareth, em um GrandBaby GH Yamaha.

O produtor Sérgio Costa e Silva resu-me a importância da afinação do pianonos concertos em que é usado. “É de cui-dado essencial, tanto que exige umafinador profissional, nem é o própriomúsico que faz esta parte, Por isso, acabasendo uma parte imprescindível da pro-dução destas apresentações”.