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152 www.backstage.com.br ANÁLISE Catalina Club Cesar Conti [email protected] C om a pequena configuração for- mada por um bumbo de 18” de di- âmetro por 14” de profundidade, tom de 12”x 8”, surdo de chão com 14”x 14” e caixa de 14”x 5”, todos feitos total- mente em mahogany (mogno), o mode- lo Club da linha Catalina, da marca Gretsch, vem preencher uma fatia signi- ficativa do mercado de baterias. Não só pelo fato de suas medidas serem fora dos padrões mais comuns encontrados nas lojas, mas também pelas opções de cores que o remetem aos anos 60/70 quando os grandes bateristas de jazz usavam mode- los com este setup e acabamentos. A Sonotec Music&Sound, de Presi- dente Prudente (SP), importador exclusi- vo da Gretsch Company, disponibiliza para o mercado brasileiro toda a série Catalina, que tem modelos feitos em ma- deira maple, birch, ash e o Catalina Club em mahogany; cada um com suas parti- cularidades nas configurações, sonorida- de, cores, acabamentos e ferragens. O novo modelo Club vem com canoas (castanhas) de afinação independente para as peles batedeira e resposta no bumbo, tom e surdo. Inclinação de 30 graus nas bordas dos cascos e tambores revestidos por uma fina película (Nitron Coverings) nas cores White Marine e Silver Sparkle, que dão essa aparência de estilo clássico ao instrumento. TOM O sistema GTS (Gretsch Tom System) que sustenta o tom de 12”x 8” é composto por um pequeno sobre-aro posicionado entre o aro batedeira e as canoas, com dois anéis de borracha por onde passam os parafusos de afinação – diferente do sistema dos outros modelos que passam por quatro parafusos – isso torna o tam- bor mais leve, fácil de manusear, trocar peles e afinar. Um apoio de borracha na parte interna do GTS alinha o casco do tambor ao sistema, e na parte externa, é fixada a caneca que se prende ao tom A Gretsch lança no Brasil a nova Catalina Club. O modelo foi analisado pela Backstage e um time de bateristas foi convidado para testar o instrumento. João Viana, Christiano Galvão, Andre Tandeta, Paulinho Black e Haroldo Jobim tocaram e opinaram sobre a bateria. BATERIA GRETSCH Catalina Club

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ANÁLISE

Catalina Club

Cesar Conti

[email protected]

Com a pequena configuração for-mada por um bumbo de 18” de di-âmetro por 14” de profundidade,

tom de 12”x 8”, surdo de chão com 14”x14” e caixa de 14”x 5”, todos feitos total-mente em mahogany (mogno), o mode-lo Club da linha Catalina, da marcaGretsch, vem preencher uma fatia signi-ficativa do mercado de baterias. Não sópelo fato de suas medidas serem fora dospadrões mais comuns encontrados naslojas, mas também pelas opções de cores

que o remetem aos anos 60/70 quando osgrandes bateristas de jazz usavam mode-los com este setup e acabamentos.

A Sonotec Music&Sound, de Presi-dente Prudente (SP), importador exclusi-vo da Gretsch Company, disponibilizapara o mercado brasileiro toda a sérieCatalina, que tem modelos feitos em ma-deira maple, birch, ash e o Catalina Clubem mahogany; cada um com suas parti-cularidades nas configurações, sonorida-de, cores, acabamentos e ferragens.

O novo modelo Club vem com canoas(castanhas) de afinação independentepara as peles batedeira e resposta nobumbo, tom e surdo. Inclinação de 30graus nas bordas dos cascos e tamboresrevestidos por uma fina película (Nitron

Coverings) nas cores White Marine e

Silver Sparkle, que dão essa aparência deestilo clássico ao instrumento.

TOM

O sistema GTS (Gretsch Tom System)que sustenta o tom de 12”x 8” é compostopor um pequeno sobre-aro posicionadoentre o aro batedeira e as canoas, comdois anéis de borracha por onde passamos parafusos de afinação – diferente dosistema dos outros modelos que passampor quatro parafusos – isso torna o tam-bor mais leve, fácil de manusear, trocarpeles e afinar. Um apoio de borracha naparte interna do GTS alinha o casco dotambor ao sistema, e na parte externa, éfixada a caneca que se prende ao tom

A Gretsch lança no Brasil a nova Catalina Club. O modelo foi analisadopela Backstage e um time de bateristas foi convidado para testar oinstrumento. João Viana, Christiano Galvão, Andre Tandeta, PaulinhoBlack e Haroldo Jobim tocaram e opinaram sobre a bateria.

BATERIA GRETSCHCatalina Club

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holder. Os aros têm 1.6mm de espessura ecinco afinações, pele Evans G1 na bate-deira e clear na resposta.

SURDO

O surdo com 14” de diâmetro por 14”de profundidade também tem aros de1.6mm, mas com oito afinações paracada pele, Evans Genera G1 na batedei-ra e clear na resposta, três canecas fixasao casco onde se prendem os pés combase emborrachada. Todas as canoas ecanecas dos tambores possuem uma ca-mada de material termoplástico, que asseparam do acabamento para não havercontato do metal com o corpo do instru-mento. O casco de 12.7mm de espessurapossui um anel de suspiro no centro,onde se encontra a plaqueta com alogomarca do fabricante.

BUMBO

O bumbo de 18”x 14” tem oito afina-ções para batedeira e resposta com arosde madeira com acabamento na cor doinstrumento. As peles são Evans, sendo abatedeira modelo clear e a de respostaporosa, ambas com anel abafador e amarca Gretsch. A base que sustenta otom holder é fixada na parte superior docasco, que é furado para facilitar a

regulagem de altura do tom e é feitoatravés de um parafuso “borboleta” euma braçadeira (memória) que se pren-de ao cano base. Na extremidade docano, funciona um sistema de esferaembutida que determina o ângulo dotambor e sustenta uma peça de metal em“L” (tom holder), que se prende à canecado GTS.

Os pés do bumbo têm sistema telescó-pico para regulagem de altura, ponteirasde borracha e âncoras embutidas. No arobatedeira a Gretsch acrescentou ao mo-delo Club um elevador para aumentar aaltura do tambor em relação ao pedal debumbo. Dessa forma, o músico não preci-sa alterar a regulagem do pedal ou dimi-nuir a altura do batedor para tocar nocentro da pele. Assim, o bumbo pode fi-car totalmente fora do chão, deixando ocasco vibrar livremente, aumentandosensivelmente a performance acústicado instrumento.

CAIXA

A caixa tem o casco com 14”de diâ-metro, 5” de profundidade, 12.7mm deespessura com 30 graus de inclinação noarremate das bordas, aros de 1.6mm comoito afinações. As canoas inteiriças têmentrada para os parafusos batedeira e res-

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posta e o automático de regulagem da es-teira é silencioso e preciso. O cavalete dolado oposto desempenha bem sua função,a esteira tem 20 fios e o acabamento tem amesma cor de todo o setup. Vem equipadacom pele Evans monofilme porosa na ba-tedeira e clear na resposta.

FERRAGEM

O kit de ferragem que acompanha aGretsch Catalina Club é da marca Gi-braltar série 5600, composto por uma má-quina hi-hat (mod. 5607) com regu-lagem de pressão do pedal por chave deafinação e base rotativa para melhorposicionamento de outros pedais; estan-te de caixa (mod. 5606) com pés duplos,duas estantes de prato com sistema teles-cópico (mod. 5609 e 5610), uma reta eoutra girafa, também com pés duplos eum pedal de bumbo (mod. 5611) aciona-do por corrente, batedor dupla face, duasâncoras laterais e velcro na parte inferiorda base do pedal para fixar.

JOÃO VIANA

(Djavan/ Leila Pinheiro)

“Meu primeiro contato com a Gretsch,foi nos anos 80, quando meu pai (Djavan)estava gravando em Los Angeles. Eu eramuito pequeno, mas lembro que o HarveyMason estava gravando o disco e a Gretschdele estava montada no estúdio. Eu nãotocava ainda, mas já gostava do instru-mento, e ele acabou me deixando daruma arranhadinha na batera. Lembrotambém do som maravilhoso que ele ti-rou daquela Gretsch... Achei que ostambores da Catalina Club cantam bas-tante, levei um pouco de tempo para

chegar ao som que eu queria, pois era umshow da Leila Pinheiro e foi a primeiraGretsch que peguei para montar afinar etocar. Mas consegui chegar naquele somde Gretsch que a gente conhece. É umabatera única com um som exclusivíssimo,um ótimo volume. Tem muita personali-dade. O bumbo foi fácil de afinar semusar nada dentro, com um som bonito,achei a caixa ótima com resposta rápida emuito definida. As ferragens Gibraltarsão de excelente qualidade, mas o funci-onamento das estantes não é muito práti-co, não são as minhas prediletas. O acaba-mento é sensacional, acho que todo mun-do iria querer tirar uma onda tocandouma Gretsch com acabamento sparkle.Acho que quem pega um kit desses iriagostar de tocar jazz bem...(risos)”

CHRISTIANO GALVÃO

(Jorge Vercilo/ Marina Lima)

“Uma imagem bem marcante que te-nho da Gretsch é a do Phill Collins usan-do aquela preta com tons sem resposta eaquele som bem característico dele. Euainda não tive uma. A minha experiên-cia com a Catalina Club foi num show deMPB, e foi super bacana. Só tive queabaixar um pouco a afinação dela para seadequar ao tipo de som que iria rolar. Decara, a primeira coisa que me impressio-nou foi o acabamento, o silver sparkle émuito bonito. Não tive dificuldade paramexer na afinação, o instrumento sooubem homogêneo, não é uma batera comgrande projeção, mas acho que é o pro-pósito dela. O som do bumbo é impressio-nante, o timbre, com pressão. A caixacantou bem, só coloquei um abafador esubi a afinação para ela estalar mais um

pouco. A ferragem da Gibraltar é muitoboa, não tive que mexer nas regulagensdos pedais, o sistema de tom holder, ape-sar de ter tido um pouco de dificuldadeno início, funciona muito bem. Achoque é uma questão de costume. O meuúnico “senão”, é em relação ao elevadoronde se prende o pedal de bumbo. Abase na qual você prende o mordedor dopedal tinha que estar alinhada com o arodo bumbo, e não um pouco mais à frentecomo está, para que o batedor fique nomesmo ângulo e a haste da maceta to-que paralelamente à pele. Do jeito queestá, acaba aumentando o curso do pe-dal e a maceta bate meio de quina napele podendo causar aquelas mossas. Re-almente acho que é a única coisa quepoderia ser corrigida nesse setup”.

ANDRE TANDETA

(Victor Biglione/ Ricardo Silveira/

Wilson das Neves)

“A primeira bateria de qualidade boaque tive foi uma Gretsch que comprei doRony Mesquita no final dos anos 70. Essabateria tinha sido do Luiz Carlos (BandaBlack Rio), e fiz muitos trabalhos legaiscom ela. Depois vendi e comprei umaoutra Gretsch do Nacho Mena de maple,que tinha um sonsaço e gravei vários dis-cos do Victor Biglione com ela. Em 1990comprei uma outra Gretsch que era doJurim Moreira que está comigo até hoje.Então a minha história com a marca élonga. Todas as baterias profissionais quetive foram Gretsch...

A Catalina Club, como o próprio nomediz, é uma bateria para se usar em ambientesmenores, onde você não precise tocar muito

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forte. É uma bateria muito útil para o tipo detrabalho que eu faço, onde não se toca commuito volume. Ela me surpreendeu pelosom que tirei usando vassourinhas (que uti-lizo muito). Ficou estalado, vivo, e nãoaquele som meio bobo que já vi em outrasbaterias usadas com vassouras. É uma bate-ria leve, fácil de manusear, o tom holdermuito bom, consegui exatamente o ânguloque queria, o tom e o surdo têm uma carac-terística jazzística excelente, com umovertone legal sem aquele negócio de har-mônicos descontrolados. São tambores mui-to bem construídos e chegam bem numa afi-

nação mais grave se for o caso, apesar de nãoser a proposta sonora do instrumento. Obumbo tem uma característica mais con-temporânea, talvez em função das peles queestavam nele. Apesar de não estar comnada dentro para abafar, não ficou comaqueles harmônicos de jazz, que para nós émelhor, porque a gente também toca sambae bossa nova e o som de bumbo não pode seraquele de jazz. A caixa tem aquela coisa le-gal para se tocar com vassourinha, mas combaquetas, achei que faltou um pouco decorpo, harmônico grave, apesar de falar bo-nito, ter resposta rápida e ter um automático

legal, bem simples. A ferragem é campeã,adorei. Só acho que poderia ser daquelemodelo vintage, que combinaria melhorcom o instrumento. O pedal é simples e bom.Usei sem ter que fazer nenhuma regula-gem, o que é ótimo, assim como a máquinahi-hat que foi muito legal também... É umsetup muito agradável de tocar”.

PAULINHO BLACK

(Martinho da Vila)“Quando fui tocar nos Estados Uni-

dos pela primeira vez aproveitei a via-jem para comprar uma bateria. Aquiera difícil encontrar instrumentos dequalidade naquela época. Quandocheguei na loja, em Nova Iorque, a pri-meira bateria que vi foi uma Gretschamarela de dois bumbos de 24”. Aí eufiquei doido, pensei, fui para o hotel,voltei na loja mais duas vezes, mas abateria tinha apenas dois tons e doissurdos, então acabei não comprando.

“O bumbo tem uma característica mais contemporânea,talvez em função das peles que estavam nele. Apesar denão estar com nada dentro para abafar, não ficou comaqueles harmônicos de jazz, que para nós é melhor,porque a gente também toca samba e bossa nova”

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e-mail para esta coluna:

[email protected]

Algum tempo depois, vi o Tony Willyams,que era um dos meus ídolos, tocando aquino Brasil no Free Jazz Festival, com umaGretsch amarela da mesma cor... Fiqueiarrasado...(risos).

Há algum tempo eu procuro uma bate-ria de dimensões menores para determi-nados trabalhos. O bumbo da Catalina

Club, apesar de ser um 18”x 14”, é um“tiro”, mas sem agredir. Toquei com essabateria num teatro, no show do Martinhoda Vila, e o técnico de som elogiou muitoo instrumento dizendo que o som estava“pronto”. O elevador que estava no aro

onde prende o pedal facilitou muito, por-que o pirulito batia no centro da pele semeu ter que fazer nenhum tipo de regu-lagem especial. O tom de 12” é um tamborde que gosto muito, e esse, particularmen-te pelos trabalhos que tenho feito, me sa-tisfez. Aceita a afinação sem trabalho,combina com a pele porosa, sem sobra deharmônicos, assim como o surdo quetem um som bem encorpado, sem ser tãograve quanto um 16”. No meu caso quetoco com muitos instrumentos de per-cussão, principalmente o surdo de mar-cação e o rebolo (tantan), que já têmuma sonoridade mais grave, veio bem acalhar porque não embola as freqüênci-as. As caixas de madeira são as minhaspreferidas, tanto que só tenho as dessematerial, e o som desta me atraiu muito.Gostei do som de aro, da resposta da es-teira e não precisei usar abafador. A fer-ragem Gibraltar eu já uso há muito tem-po e conheço a qualidade da marca. Asque vêm acompanhando esse kit nãofogem à regra, são leves e práticas”.

HAROLDO JOBIM

(Ithamara Koorax/Athaulfo Alves Jr.)

“A Gretsch é uma marca emblemáticacom a qual toco desde 1987. Tem uma so-noridade maravilhosa, além da tradiçãopor ter sido usada por todos aqueles bateris-tas que marcaram época. Em primeiro lu-gar, já gostei da cor do instrumento no estilovintage, silver sparkle, voltando aos anos1970, e também gostei muito das dimen-sões dos tambores, com bumbo de 18” comesse elevador que faz com que a macetabata no centro do tambor, sem ter que me-

xer na regulagem do pedal, com som pode-roso e encorpado. O sistema de tom holdercom esfera embutida é de fácil manuseio,me dei bem logo de cara. Com o surdo foi amesma coisa. Os tambores afinam bem,sem problema, só cheguei um pouco o tomde 12” mais para o agudo para poder explo-rar melhor os harmônicos. A caixa é sensa-cional e a profundidade de 5” para mim é amelhor; tem resposta imediata, automáticomacio, ótimo som de rim shot. O que mechamou a atenção nessa ferragem foi opeso. Apesar de ser robusta, é muito leve. Opedal do bumbo é preciso, a estante de cai-xa é leve e ao mesmo tempo forte, commuita estabilidade, assim como a máquinahi-hat e as estantes de prato. É uma bateriaque assino embaixo com louvor...”

Gostei do somde aro, da resposta daesteira e não precisei

usar abafador. Aferragem Gibraltar eu já

uso há muito tempoe conheço a qualidade

da marca

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