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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO NÚCLEO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL PARA A SAÚDE DAISE PIRES SILVA DE OLIVEIRA SAÚDE UMA QUESTÃO ESCOLAR: abordagem dos Projetos Político-Pedagógicos do Município de Duque de Caxias (RJ) RIO DE JANEIRO 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

NÚCLEO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL PARA A SAÚDE

DAISE PIRES SILVA DE OLIVEIRA

SAÚDE UMA QUESTÃO ESCOLAR: abordagem dos Projetos Político-Pedagógicos do

Município de Duque de Caxias (RJ)

RIO DE JANEIRO

2014

Page 2: DAISE PIRES SILVA DE OLIVEIRA - NUTES/UFRJ Pires Silva de... · Dentre os temas transversais, destacamos a saúde, que é considerada, pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como

Daise Pires Silva de Oliveira

SAÚDE UMA QUESTÃO ESCOLAR: abordagem dos Projetos Político-Pedagógicos do

Município de Duque de Caxias

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa

de Pós-Graduação Educação em Ciências e Saúde,

Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

requisito parcial à obtenção do Título de Mestre

em Educação em Ciências e Saúde.

Orientadora: Rita Vilanova Prata

Doutora do Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde

RIO DE JANEIRO

2014

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Oliveira, Daise Pires Silva de.

Saúde uma questão escolar: abordagem do projeto político-pedagógico /

Daise Pires Silva de Oliveira.– Rio de Janeiro: UFRJ/ NUTES, 2014.

ix, 83 f. : il. ; 31 cm.

Orientador: Rita Vilanova Prata.

Dissertação (mestrado) - UFRJ, NUTES, Programa de Pós-graduação

em Educação em Ciências e Saúde,2014.

Referências bibliográficas: f. 86-91.

1. EDUCAÇÃO EM SAÚDE. 2. POLÍTICAS PÚBLICAS. 3. ENSINO

FUNDAMENTAL E MÉDIO. 4. PROMOÇÃO DA SAÚDE. 5.

AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS E PROJETOS DE SAÚDE. 6.

EDUCACÃO EM SAÚDE - Dissertação. I. Prata, Rita Vilanova. II.

Universidade Federal do Rio de Janeiro, NUTES, Programa de Pós-

graduação em Educação em Ciências e Saúde. III. Título.

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Daise Pires Silva de Oliveira

SAÚDE UMA QUESTÃO ESCOLAR: abordagem dos projetos político-pedagógicos do

município de Duque de Caxias (RJ)

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação Educação em

Ciências e Saúde, Núcleo de Tecnologia

Educacional para a Saúde, Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como requisito

parcial à obtenção do Título de Mestre em

Educação em Ciências e Saúde.

Aprovado em:

______________________________________________________

Profa. Dra. Rita Vilanova Prata – UFRJ

______________________________________________________

Profa. Dra. Anakeila de Barros Stauffer – FIOCRUZ

______________________________________________________

Profa. Dra. Vera Helena Ferraz de Siqueira – UFRJ

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RESUMO

OLIVEIRA, Daise Pires Silva de. Saúde Uma Questão Escolar – abordagem dos projetos

político-pedagógicos do Município de Duque de Caxias (RJ). 2014. 91 f. Dissertação

(Mestrado em Educação em Ciências e Saúde). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio

de Janeiro 2014.

Este trabalho analisa a abordagem da temática da saúde e as ações propostas nos

projetos político-pedagógicos (PPP) das escolas da rede municipal de Duque de Caxias (RJ),

focando a inserção do componente curricular “saúde” como tema transversal, e as interfaces

entre as propostas presentes nos PPP e os pressupostos e ações previstas pelo Programa Saúde

na Escola. Realizamos uma análise documental, com base na metodologia de pesquisa

qualitativa, tendo como referência a análise de conteúdo. Utilizamos como aporte teórico,

para embasar a pesquisa a Promoção da Saúde e a Teoria Educacional Crítica. Constatamos

que somente 40% das escolas elaboraram o PPP; há uma apropriação incipiente da temática

da saúde nas propostas curriculares e pedagógicas no município estudado; apenas cinco

escolas abordam o Programa Saúde na Escola como uma proposta efetiva de ação; não

percebemos a saúde abordada de fato como um tema transversal, e a intersetorialidade está

restrita aos setores de educação e saúde. A educação não é a única responsável pelas

mudanças estruturais que são necessárias para garantir a qualidade de vida, mas pode

contribuir para sua efetivação preparando os alunos por meio de uma educação crítica e

emancipatória.

Palavras-chave: PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO. SAÚDE NA ESCOLA.

POLÍTICAS EDUCACIONAIS

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ABSTRACT

OLIVEIRA, Daise P.S. de. School Health Issue – an approach of the Political Pedagogical

Projects from Duque de Caxias City (RJ). Rio de Janeiro: 2014. Master’s degree dissertation.

Rio de Janeiro Federal University.

This work analyses the approach to health subject and the actions set out on Political

Pedagogical Projects (PPP) of public schools from Duque de Caxias city considering the inset

of heath as a cross-section subject in the curriculum. It also analyses the interfaces between

the proposals in the PPP and the actions set out on Health in School Program. We did a

documentary analysis, based on qualitative research methodology, being the content analysis

as a reference. We used the Promotion of Health and the Critical Educational Theory as

theoretical basis in order to support our research. We registered that only 40% of the schools

have done their PPP; health subject is wrongly appropriated in Caxias’s curriculum and

pedagogical proposals; only five schools dealt with Health in School Program as a real

proposal of action. We didn’t register health as a cross-section subject in fact and intersectoral

was restricted to education and health. Education is not the only responsible for the structural

changes needed to ensure the quality of life, but it may contribute to make it real by preparing

the students by means of critical and emancipated ways.

Key words: POLITICAL PEDAGOGICAL PROJECT, HEALTH IN SCHOOL,

EDUCATIONAL POLITICS.

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ABREVIATURAS E SIGLAS

AC - Análise de Conteúdo

BM - Banco Mundial

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CFE - Conselho Federal de Educação

CIESE - Comissão Intersetorial de Educação e Saúde na Escola

CMI - Confederação Nacional das Indústrias

CNDSS – Comissão Nacional Sobre os Determinantes Sociais da Saúde

CNE – Conselho Nacional de Educação

CNMB - Confederação Nacional das Mulheres do Brasil

CNBB/MEB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil/Movimento de Educação de Base

CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação

CRUB - Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras

CONASEMS – Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde

CONASS – Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde

CONSED – Conselho Nacional de Secretários de Educação

DCN - Diretrizes Curriculares Nacionais

ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio

ES - Educação em Saúde

ESF - Equipe de Saúde da Família

FEBEF/UERJ - Faculdade de Educação da Baixada Fluminense

FUNDESCOLA – Fundo de Fortalecimento da Escola.

FEUDUC - Fundação Educacional de Duque de Caxias

GTI-E - Grupo de Trabalho Intersetorial Estadual

GTI-F - Grupo de Trabalho Intersetorial Federal

GTI-M - Grupo de Trabalho Intersetorial Municipal

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IREPS - Iniciativa Regional Escolas Promotoras de Saúde

LDB – Lei de Diretrizes e Base da Educação

MEC – Ministério da Educação e Cultura

OAB - Ordem dos Advogados do Brasil

OMS - Organização Mundial de Saúde

PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais

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PIB - Produto Interno Bruto

PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PPP - Projeto Político-Pedagógico

PSE - Programa Saúde na Escola

REDUC - Refinaria de Duque de Caxias

SAEB - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica

SESP - Serviço de Saúde Pública

SINAES - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior

SUS – Sistema Único de Saúde

UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro

UNDIME - União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância

UNIGRANRIO - Universidade do Grande Rio

USP - Universidade de São Paulo

WHO - World Health Organization

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SUMÁRIO

Introdução……………………………………………………………..10

Capítulo 1 Promoção da Saúde………………………………………..13

1.1 A Promoção da Saúde: Breve Histórico e Conceituação………….16

Capítulo 2 A Saúde no Projeto Político-Pedagógico….…………….....22

2.1 O Projeto Político-Pedagógico………………………………….....22

2.2 A Saúde no Currículo Escolar……………………………………..32

2.3 Programa Saúde na Escola………………………………………...41

2.4 As Políticas Educacionais..………………………………………...47

2.5 Educação em Saúde no Brasil………………………………..…....50

Capítulo 3 Metodologia.…………………………………………….…60

Capítulo 4 Resultados e Discussão………………………………..…..66

4.1 A Transversalidade no Projeto Político-Pedagógico………….…...68

4.1.1 Saúde como tema disciplinar e multidisciplinar....………………68

4.1.2 Saúde como tema de projetos, palestras, eventos e oficinas…….71

4.1.3 Os temas transversais…………………………………………..…72

4.2 A Intersetorialidade no Projeto Político-Pedagógico……………....74

4.2.1 O Programa Saúde na Escola no Projeto Político-Pedagógico…...75

4.3 Conceito de Saúde..........................................................................78

4.3.1 Conceito Ampliado de Saúde.......................................................78

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4.3.2 O corpo como foco da saúde no currículo....................................79

4.4 Escola como espaço de Promoção da Saúde...................................80

Considerações Finais....................................…………………………..84

Referências.....………….………………………………………………..87

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INTRODUÇÃO

A Constituição de 1988 é um marco na história da educação brasileira porque

consolidou o compromisso do Estado e da sociedade pela garantia dos direitos sociais e

políticos, dentre eles a educação para todos. Em seu Art. 208 afirmou que “o acesso ao ensino

obrigatório e gratuito é direito público subjetivo”. E foi a partir desse marco legal que se

iniciou o processo de descentralização e municipalização de políticas sociais, destacando-se

aqui a educação.

Essa Constituição trouxe à tona a discussão sobre a gestão democrática na escola, em

seu Art. 206, inciso III, onde aborda o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e no

incisoVI, a gestão democrática do ensino público. Estes princípios passam a nortear as escolas

quanto à sua gestão.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, nº 9394 de 1996, regulamenta a gestão

democrática da escola, estabelecendo orientações para o desenvolvimento do trabalho

pedagógico, para a organização do espaço físico, para a participação dos docentes e para a

integração entre escola e comunidade.

A referida Lei incumbe a escola, em seu Art. 12, de elaborar e executar sua proposta

pedagógica com a participação dos profissionais da educação. Ela é um instrumento de

trabalho que demonstra os resultados desejados e os meios e caminhos que serão utilizados

para alcançá-los; embasando o trabalho educativo em suas dimensões filosófica, política,

organizacional e pedagógica.

Segundo Gadotti (2004), a comunidade e os usuários da escola devem ser os dirigentes

e gestores desta, e não apenas fiscalizadores e receptores dos serviços, garantindo a gestão

democrática da escola.

Assim, o projeto político-pedagógico não deve ser o cumprimento de uma exigência

legal ou uma simples formalidade, mas sim, um instrumento que legitime o trabalho

educativo e que traduza o compromisso de todos os envolvidos.

Baseado nesta mesma Lei, o Ministério da Educação desenvolveu um projeto de

reforma curricular da educação. Com o intuito de assessorar o sistema educacional e os

professores, nesta mudança, foram elaborados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN),

em 1997.

Os PCN foram elaborados com a proposta de desenvolver “uma prática educativa

adequada às necessidades sociais, políticas, econômicas e culturais da realidade brasileira...”

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(Brasil, 1997, p.27). E para atender a esta proposta, foram incluídos os temas transversais, que

proporcionam a discussão de temas sociais na escola.

Os temas transversais foram definidos de acordo com os critérios de urgência social,

abrangência nacional, possibilidade de ensino e aprendizagem no Ensino Fundamental,

objetivando contribuir para a compreensão da realidade e a participação social. A partir desses

parâmetros foram definidos os temas ética, pluralidade cultural, meio ambiente, saúde,

orientação sexual e temas locais.

Dentre os temas transversais, destacamos a saúde, que é considerada, pela Organização

Mundial de Saúde (OMS) como “o maior recurso para o desenvolvimento social, econômico e

pessoal, assim como uma importante dimensão para a qualidade de vida” (OMS, 1996, p.1).

Além de ser abordada como tema transversal, a temática da saúde é inserida na escola

por meio do Programa Saúde na Escola (PSE- 2007) como uma política intersetorial entre os

Ministérios da Saúde e da Educação, que objetiva a atenção integral à saúde de crianças,

adolescentes e jovens, com ações de prevenção, promoção e atenção à saúde.

Ao ingressar no Núcleo de Tecnologia Educacional para Saúde, como técnica em Assuntos

Educacionais, reforçou-se a importância da educação para a conquista e manutenção da saúde e o

importante papel da escola neste processo.

Em nosso cotidiano, algumas questões foram surgindo, como por exemplo: Como a

temática da saúde é abordada na escola? Que visão de saúde é trabalhada? A escola se vê como

promotora de saúde? Existe um processo de promoção da saúde ou esta está voltada para a

prevenção? A temática da saúde é abordada como tema transversal?

Existem diferentes visões sobre a saúde e a escolha de diferentes visões influencia

diferentes abordagens, práticas e projetos na escola, portanto, nos propomos a estudar a

abordagem da saúde nos PPP, com os objetivos de: (i)identificar e analisar a abordagem do

tema saúde e as ações propostas nos projetos político-pedagógicos das escolas da rede

municipal de Duque de Caxias; (ii) compreender a inserção do componente curricular “saúde”

como tema transversal nos projetos político-pedagógicos do município de Duque de Caxias, e

(iii) compreender as interfaces entre as propostas presentes nos PPP e os pressupostos e ações

previstos pelo Programa Saúde na Escola.

Optamos pelas escolas do ensino fundamental da rede pública do município de Duque

de Caxias por ser um importante município da Baixada Fluminense e um local de atuação da

UFRJ, com um pólo avançado em Xerém, com cursos de graduação em nanotecnologia,

biotecnologia e biofísica em parceria com o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e

Qualidade Industrial. Consideramos ser importante para a Universidade conhecer e produzir

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conhecimento sobre o município no qual está atuando, principalmente no âmbito educacional,

pois por meio deste poderá conhecê-lo e ampliar sua atuação.

Esta dissertação é uma contribuição reflexiva sobre a apropriação da temática da saúde

na escola, considerando a relação entre educação e saúdecomo um fator primordial para a

conquista da qualidade de vida. Acreditamos que este estudo pode contribuir para a discussão

e reflexão das equipes das escolas sobre a abordagem da temática da saúde em seu cotidiano,

por abordar como e em que grau a educação em saúde está sendo desenvolvida e priorizada

no currículo escolar.

A dissertação é composta por quatro capítulos. No primeiro capítulo apresentamos

nosso objeto de estudo e o contexto no qual está inserido.

No segundo capítulo apresentamos o referencial teórico adotado para embasar nossa

pesquisa,a Teoria Educacional Crítica, e discutimos o PPP, a saúde no currículo escolar, o

Programa Saúde na Escola, a Promoção da Saúde,a Educação em Saúde e as Políticas

Educacionais.

No terceiro capítulo relatamos o processo de desenvolvimento da pesquisa, que se trata

de uma análise documental, realizada com base na metodologia de pesquisa qualitativa, tendo

como referência a análise de conteúdo (Bardin, 2011).

No quarto capítulo apresentamos os dados coletados nos PPP e a análise dos mesmos,

embasados no referencial teórico estudado.

Por último, tecemos as considerações finais sobre a pesquisa da temática da saúde,

considerando sua abordagem nos PPP.

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CAPÍTULO 1 PROMOÇÃO DA SAÚDE

A promoção da saúde como um processo de educação que pretende viabilizar ao

indivíduo conhecer criticamente sua saúde e as suas relações com o ambiente e a sociedade,

gera mudanças amplas na forma de vida da população. Para que isto ocorra, se faz necessário

adquirir habilidades individuais e sociais para lidar com os determinantes da saúde1 e para

buscar uma vida saudável.

Portanto, faz-se necessária uma abordagem educacional que favoreça a percepção dos

indivíduos e da sociedade sobre a saúde, por meio da construção de conhecimentos e

embasada em uma formação crítica, que contribua para uma melhor qualidade de vida, o que

aponta para a necessidade da educação crítica no campo da promoção da saúde.

As práticas pedagógicas, baseadas em uma teoria educacional crítica, visam o

desenvolvimento da consciência crítica e a implementação de ações transformadoras a nível

pessoal e social, que no âmbito da educação em saúde favorece a promoção da saúde. Não

temos a intenção, nos limites dos objetivos deste trabalho, de desenvolver articulações

teóricas entre a teoria crítica e a esfera conceitual da promoção da saúde. No entanto,

consideramos importante demarcar a teoria crítica como marco teórico e base para o olhar

sobre a promoção da saúde que empregamos neste trabalho.

A teoria educacional crítica, também conhecida como pedagogia crítica, originou-se na

segunda metade do século XX, na análise crítica das realidades sociais, visando questionar o

pensamento e as ações da educação tradicional e a pretensa neutralidade de sua base

filosófica, focando a modificação das desigualdades socioculturais (LOPES, 2008).

Uma das fundamentações filosóficas desta teoria é a crítica da Escola de Frankfurt. O

termo “Escola de Frankfurt” refere-se, ao mesmo tempo, a um grupo de intelectuais e a uma

teoria social.

O grupo de intelectuais era formado por marxistas não ortodoxos que ficavam à margem

de um marxismo-lenismo “clássico, tanto teórico-ideológico, como militante e partidário”

(FREITAG, 1986). Seus principais representantes foram os filósofosMax Horkheimer,

Theodor Wiesengrund Adorno, Herbert Marcuse, Walter Benjamim e Jürgem Habermas. A

Escola organizou-se após a criação do InstitutfuerSozialforschung (Instituto de Pesquisa

1 Para a comissão Nacional sobre os Determinantes da Saúde (CNDSS) os determinantes sociais da saúde são os

fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam o

surgimento de problemas de saúde e seus fatores de risco na população (Buss, 2007).

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Social), criado em 03 de fevereiro de 1923; vinculado à Universidade de Frankfurt, porém

mantinha sua autonomia acadêmica e financeira.

A teoria educacional crítica é caracterizada por sua ligação com a formulação de

conhecimento próprio de esclarecimento e emancipação, onde os sujeitos são preparados para

se livrar das coerções feitas pela sociedade, e para que possam perceber e perseguir seus

interesses (GUESS, 1988 apud LOPES, 2008).

Segundo Freitag (1986), não existia uma hegemonia entre a postura epistemológica e as

estratégias políticas adotadas pelos autores; estes abordavam os diversos aspectos da realidade

analisada. Contudo, eles conseguiam atuar conjuntamente, devido à sua capacidade intelectual

e crítica; pelo pensamento dialético de seus membros e pela competência dialógica utilizada

para analisar os pressupostos adotados por cada um.

Para Giroux (1986), não existe uma teoria crítica universal, mas todos os membros da

Escola de Frankfurt buscaram repensar e reconstruir o significado de emancipação humana,

enfatizando o pensamento crítico como um agente na busca da auto-emancipação e na

mudança social.

Algumas categorias abordadas pela Escola de Frankfurt viabilizam uma aproximação

com a Teoria Educacional Crítica, como: “a crítica da razão instrumental, a noção de teoria e

a noção de cultura” (LOPES, 2008, p. 41).

Ao abordar a crítica da razão, Freitag (1986) destaca a trajetória contraditória da razão,

que inicialmente foi concebida como um processo emancipatório que proporcionaria a

autonomia e a autodeterminação, passando a ser um instrumento de dominação e repressão do

homem. Esta exerce o controle da natureza e a dominação do homem, transformando-se em

razão instrumental.

Para Adorno (1973, apud Giroux, 1986), a crise da razão dá-se ao passo que a sociedade

se torna mais racionalizada. Ao buscar uma harmonia social, ela perde seu poder de

crítica,tornando-se um instrumento da sociedade, e deixando de ser “insight e crítica” para se

transformar em irracionalidade.

Para a Escola de Frankfurt, a crise da razão está ligada às crises mais gerais nas ciências

e na sociedade em sua totalidade. Ao abordar a noção de teoria, os frankfurtianos afirmam que

para entender a natureza da teoria, deve-se partir da compreensão das relações existentes na

sociedade entre o particular e o todo, entre o específico e o universal (Giroux,1986).

Destacam que na relação entre teoria e sociedade ocorrem mediações que dão significado à

construção de um fato e à essência do discurso teórico.

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A teoria tem como objetivo a prática emancipatória. Ambas, teoria e prática,

representam uma aliança. A teoria não pode ser vista como soberana sobre a experiência,

capaz de apresentar receitas para a prática pedagógica. Ela favorece o pensamento reflexivo,

sendo um instrumento de crítica e de compreensão (GIROUX, 1986).

A teoria crítica é uma teoria reflexiva que busca oferecer um conhecimento que seja

esclarecedor e emancipador. E é nesta direção que a Teoria Educacional Crítica apropria-se da

noção frankfurtiana de teoria (LOPES, 2008).

Contudo, não podemos desconsiderar a relação entre conhecimento, poder e dominação,

tendo como pano de fundo o pensamento crítico.

Quanto à noção de cultura, Giroux (1986) afirma que a Escola de Frankfurt negava a

autonomia da cultura, reafirmando sua relação com os processos políticos e econômicos da

sociedade e sua integração ao contexto histórico que lhe dá significado.

Marcuse, Horkheimer, Adorno e Benjamim atribuem à cultura uma dupla função, a de

representar e concretizar a ordem existente e ao mesmo tempo criticar e denunciar esta ordem

como imperfeita e contraditória (Freitag, 1986). A cultura critica o hoje e remete ao futuro.

Segundo Giroux (1986), foi Adorno que cunhou o termo “indústria cultural” com dois

propósitos: primeiro, para mostrar que a cultura não surge de forma espontânea do povo e

segundo para demonstrar que a cultura é controlada por determinantes econômicos e políticos

que visam à dominação da sociedade.

A questão central, abordada por esta filosofia, traz a crítica como “uma unidade

potencial capaz de produzir instâncias divergentes e autônomas de conhecimento que

representem a luta pela autonomia e a emancipação dos sujeitos” (LOPES, 2008, p. 49).

Assim, ações de promoção de saúde podem ser compreendidas como um processo de

construção do conhecimento, respeitando a vivência dos atores educacionais, ou seja, o

conhecimento trazido por cada um em uma relação dialógica. Ressaltando os mesmos como

seres históricos, políticos e culturais que interagem com seus pares nos diferentes ambientes

de convívio social, isto é, na escola, na comunidade, na sociedade de uma forma geral.

Giroux (1999) ressalta que as experiências dos alunos são importantes para o processo

de aprendizagem, mesmo que sejam consideradas limitadas, iníquas ou infrutíferas. Devemos

utilizar criticamente essas experiências e ultrapassá-las, mas nunca negá-las.

O diálogo irá possibilitar a participação dos envolvidos e, por meio destes, ou seja, da

participação e do diálogo, o conhecimento será construído baseado nas experiências vividas.

Para Lopes (2012), além da construção do conhecimento, deve-se

“construir/desenvolver habilidades pessoais e sociais” (p.241) que irão proporcionar o

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convívio com os determinantes da saúde e realizar escolhas que favoreçam a saúde e a

qualidade de vida, o que gera o empoderamento individual e comunitário. Este, ou seja, o

empoderamento, é visto por Giroux (1999) como “a capacidade de pensar e agir criticamente”

(p.21).

A teoria educacional crítica percebe as relações entre conhecimento, poder e

dominação, e destaca as escolas como espaços políticos e culturais de resistência,ao mesmo

tempo em que são espaços de reprodução das ideologias dominantes. Além de se constituírem

como locais de contestação, onde as diversas experiências culturais se enfrentam e brigam

pelo poder. E no bojo destas brigas, dá-se a oportunidade da educação crítica construir

práticas sociais emancipatórias. (Mc Laren, 1997 apud Lopes, 2008)

Para Mc Laren (1997), o conhecimento trabalhado em sala de aula deve proporcionar ao

estudante condições para participar de questões importantes que influenciam suas

experiências diárias. O conhecimento escolar deve viabilizar ao estudante condições para se

“autodeterminar” na sociedade em geral.

A construção participativa do conhecimento, o diálogo e as práticas sociais

emancipatórias, que compõem uma prática educacional crítica, contribuem para a efetivação

da promoção da saúde.

1.1 - A PROMOÇÃO DA SAÚDE: BREVE HISTÓRICO E CONCEITUAÇÃO

O termo “promoção da saúde” foi utilizado em 1946, por Sigerist ao definir as

principais tarefas da medicina que são: a promoção da saúde, a prevenção das doenças, a

recuperação dos enfermos e a reabilitação, e ressaltou que “…a saúde se promove

proporcionando condições de vida decentes, boas condições de trabalho, educação, cultura

física e formas de lazer e descanso” (BUSS, 2000, p.4). Também foi definida por Leavell&

Clark (1976, apud Buss, 2000) ao propor o modelo da história natural da doença, onde a

promoção da saúde compõe a prevenção primária no período pré-patogênese, ou seja, o

período que antecede a instalação da doença (BUSS, 2000).

Encontramos na literatura algumas abordagens a respeito da diferença entre promoção

de saúde e prevenção de doenças. Para Westphal (2006), as diferenças entre estas estão

baseadas nas visões de saúde e doença que influenciam suas práticas eàs vertentes político-

ideológicas às quais estão ligadas.

Na sua discussão sobre o tema, Czeresnia (2003), afirma que o termo “prevenir” tem o

significado de “preparar, chegar antes de; dispor de maneira que evite (dano, mal); impedir

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que se realize” (p.4). Segundo Leavell& Clarck (1976, apud Czeresnia, 2003), a prevenção

em saúde “exige uma ação antecipada, baseada no conhecimento da história natural a fim de

tornar improvável o progresso posterior da doença” (p.4). Para Czeresnia, as ações

preventivas estão direcionadas a evitar que doenças específicas atuem, evitando que

acometam a população, que pode ocorrer por meio deprojetos de prevenção e de educação em

saúde que se propõem a divulgar informações científicas e orientações normativas de

mudanças de hábitos.

Ao abordar a promoção da saúde, Czeresnia (2003) apresenta a definição de Ferreira

(1986) sobre o significado desta como “dar impulso a; fomentar; originar; gerar” (p.4). A

promoção da saúde não foca uma determinada doença, preocupa-se com a saúde e o bem-estar

de uma forma geral. Direciona suas estratégias para a transformação das condições de vida e

de trabalho dentro de uma perspectiva intersetorial. A autora afirma que “buscar a saúde é

questão não só de sobrevivência, mas de qualificação da existência” (p.5).

A estruturação das bases conceituais e políticas da promoção da saúde foi influenciada

pelas Conferências Internacionais de Ottawa (WHO, 1986), Adelaide (WHO, 1988),

Sundsvall (WHO, 1991) e Jacarta (WHO, 1997). A Conferência de Ottawa representou um

marco conceitual ao definir a promoção da saúde, ampliando este conceito. Neste documento,

a saúde é considerada um “recurso para a vida”, apresentando como condição e pré-requisito:

“paz, habitação, educação, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos sustentáveis,

justiça social e equidade” (OMS, 1986).

Os documentos e compromissos firmados em Ottawa explicitam a relevância dos

aspectos econômicos, sociais, políticos e culturais para a saúde, ampliando o foco da

promoção da saúde e seus responsáveis, ou seja, a promoção da saúde deixa de ser

responsabilidade única do setor da saúde, e passa a ser de incumbência de todos os setores

envolvidos com o desenvolvimento social e humano.

A referida Carta aponta cinco principais campos de ação para a promoção da saúde:

elaboração e implementação de políticas públicas saudáveis; criação de ambientes favoráveis

à saúde; reforço da ação comunitária, desenvolvimento de habilidades pessoais e reorientação

do sistema de saúde. No campo do desenvolvimento de habilidades especiais, a escola aparece

como um dos responsáveis por “capacitar as pessoas para aprender durante toda vida,

preparando-as para as diversas fases da existência, o que inclui o enfrentamento de doenças

crônicas e causas externas” (OMS, 1986, p.3).

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Dos cinco campos de ação apontados na Carta de Ottawa, apresentados no parágrafo

anterior, os quatro primeiros se aplicam à escola, por serem ações compatíveis com o papel da

educação, o que privilegia a escola como espaço para a promoção da saúde.

A Carta de Ottawa define três estratégias da promoção da saúde (Buss, 2000). São elas:

Defesa da saúde – por meio do favorecimento dos “fatores políticos, econômicos,

sociais, culturais, ambientais, comportamentais e biológicos” (Buss, 2000), e os pré-requisitos

relacionados na Carta, como paz, habitação, educação, alimentação, renda, ecossistema

estável, recursos sustentáveis, justiça social e equidade, a favor da saúde.

Capacitação – por meio desta, a promoção da saúde visa garantir os meios para que

todos os indivíduos realizem seu potencial de saúde, proporcionando a todos a igualdade de

oportunidades e meios para desenvolver habilidades pessoais.

Mediação – entre os vários interesses da sociedade, relacionados à saúde, sendo de

responsabilidade dos profissionais e dos grupos sociais.

Westphal (2006) relaciona as seguintes estratégias de promoção da saúde: coalizões

para garantia de direitos e “ação política; promoção de espaços saudáveis; empoderamento da

população; desenvolvimento de habilidades, conhecimentos, atitudes e reorientação dos

serviços de saúde” (p.646).

A Declaração de Bogotá, documento originado na Conferência Internacional de

Promoção da Saúde (1992),lançou a promoção da saúde na América Latina (Buss, 2000),

destacando a relação de determinação entre saúde e desenvolvimento e a necessidade de

solidariedade e equidade para alcançá-los.

A crise econômica e as políticas de ajuste macroeconômico, enfrentadas pela América

Latina, na década de 1990, acirraram as desigualdades e a deterioração das condições de vida

da população, acarretando o aumento de riscos para a saúde e a falta de recursos para saná-

los. Diante deste quadro, a promoção da saúde, na América Latina, se via desafiada “em

transformar as relações excludentes, conciliando os interesses econômicos e os propósitos

sociais de bem-estar para todos, assim como trabalhar pela solidariedade e a equidade social,

condições indispensáveis para a saúde e o desenvolvimento” (BUSS, 2000, p. 9).

Sob o olhar de Buss (2000), a “nova concepção” de saúde a relaciona com bem-estar e

qualidade de vida, deixando de ser um “estado estático, biologicamente definido, por ser

compreendida como um estado dinâmico, socialmente produzido” (p.11).

A Declaração de Bogotá estabelece três estratégias para a promoção da saúde na

América Latina (Buss 2000): “Impulsionar a cultura da saúde”, transformando valores,

crenças, atitudes e relações; Modificar o setor saúde por meio da promoção da saúde e

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Mobilizar toda a sociedade para “assumir a vontade política” de eleger a saúde como

prioridade.

Westphal (2006) enumera alguns princípios norteadores das práticas de promoção da

saúde, apresentados nas Conferências, a saber:

Multicausalidade – as ações de promoção devem ultrapassar o setor saúde,

visando seus determinantes que são as condições biológicas, econômicas,

políticas e sociais.

Equidade – a criação de oportunidades iguais de garantia de saúde a todos, por

meio da distribuição dos determinantes da saúde, como renda, habitação,

educação e outros.

Intersetorialidade – propõe que a questão da saúde seja o centro do processo do

desenvolvimento social.

Participação social – promover a participação da população na definição da

política, no controle social e na avaliação das ações e serviços de promoção da

saúde.Este princípio está ligado ao fortalecimento da ação comunitária, tendo

como consequência o empoderamento coletivo.

Sustentabilidade – abarca os aspectos econômicos, sociais, políticos, culturais,

intergeracionais e ambientais.

Em Buss (2000), encontramos a organização cronológica do desenvolvimento do campo

da promoção da saúde no mundo e no Brasil, apresentado em dois quadros que

reproduziremos a seguir.

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Quadro 1 Promoção da Saúde: uma breve cronologia

1974 Informe Lalonde: Uma Nova Perspectiva sobre a Saúde dos Canadenses

1976 Prevenção e Saúde: Interesse para Todos, DHSS (Grâ-Bretanha)

1977 Saúde para Todos no Ano 2000 – 30ª Assembléia Mundial de Saúde

1978 Conferência Internacional sobre Atenção Primária de Saúde – Declaração de Alma-

Ata

1979 População Saudável/Healthy People: The Surgeon General’s Report on Health

Promotion and Disease Prevention, US-DHEW (EUA)

1980 Relatório Black sobre as Desigualdades em Saúde/Black Reporton Inequities in

Health, DHSS (Grã-Breatanha)

1984 Toronto Saudável 2000 – Campanha lançada no Canadá

1985 Escritório Europeu da Organização Mundial da Saúde: 38 Metas para a Saúde na

Região Européia

1986 Alcançando Saúde para Todos: Um Marco de Referência para a Promoção da Saúde/

Achieving Health for All: A Framework for Health Promotion – Informe do

Ministério da Saúde do Canadá, Min. Jack Epp

Carta de Ottawa sobre Promoção da Saúde – I Conferência Internacional sobre

Promoção da Saúde (Canadá)

1987 Lançamento pela OMS do Projeto Cidades Saudáveis

1988 Declaração de Adelaide sobre Políticas Públicas Saudáveis – II Conferência

Internacional sobre Promoção da Saúde (Austrália)

De Alma-Ata ao ano 2000: Reflexões no Meio do Caminho – Reunião Internacional

promovida pela OMS em Riga (URSS)

1989 Uma Chamada para a Ação/A Call for Action – Documento da OMS sobre promoção

da saúde em países em desenvolvimento

1990 Cúpula Mundial das Nações Unidas sobre a Criança (Nova York)

1991 Declaração de Sundsvall sobre Ambientes Favoráveis à Saúde – III Conferência

Internacional sobre Promoção da Saúde (Suécia)

1992 Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92)

Declaração de Santa Fé de Bogotá – Conferência Internacional sobre Promoção da

Saúde na Região das Américas (Colômbia)

1993 Carta do Caribe para a Promoção da Saúde – I Conferência de Promoção da Saúde do

Caribe (Trinidad e Tobago)

Conferência das Nações Unidas sobre os Direitos Humanos (Viena)

1994 Conferência das Nações Unidas sobre População e Desenvolvimento (Cairo)

1995 Conferência das Nações Unidas sobre a Mulher (Pequim)

Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Social (Copenhague)

1996 Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos (Habitat II)

(Istambul)

Cúpula Mundial das Nações Unidas sobre Alimentação (Roma)

1997 Declaração de Jacarta sobre Promoção da Saúde no Século XXI em diante – IV

Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde (Indonésia)

Fonte: BUSS, Paulo Marchiori. 2000

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Quadro 2 Promoção da Saúde no Brasil: breve cronologia

Década de 1970

. Críticas ao modelo assistencial vigente, centrado na assistência médico-hospitalar. Medicina

social. Ciências sociais em Saúde

. Tese O Dilema Preventista, de Sérgio Arouca

. Surgimento do “movimento sanitário”

. Conferência Internacional sobre Atenção Primária e Declaração de Alma-Ata

Década de 1980

. Movimento de redemocratização do país

. Protagonismo político do “movimento sanitário”

. Preparação da VIII Conferência Nacional de Saúde, com ampla participação social (1985)

. VIII Conferência Nacional de Saúde, com afirmação de princípios da promoção da saúde

(sem este rótulo): determinação social e intersetorialidade. No Canadá, aparece a Carta de

Ottawa (1986)

. Processo constituinte, com grande participação do “movimento sanitário” (1986-1988)

. Constituição Federal, com características de promoção da saúde (1988)

Década de 1990

. Lei Orgânica da Saúde, reafirmando os princípios promocionais da Constituição (1990)

. Organização dos Conselhos de Saúde em todosos níveis: participação social, composição

paritária, representação intersetorial (1991)

. Rio 92, Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992)

. Plano Nacional de Saúde e Ambiente: elaborado, não sai do papel (1995)

. (a partir de 1995) PACS e PSE; NOB 96 (Piso Assistencial Básico); Pesquisa Nacional de

Opinião sobre Saúde; Debates sobre Municípios Saudáveis

. Surgimento da revista Promoção da Saúde (Ministério da Saúde) e anúncio do I Fórum

Nacional sobre Promoção da Saúde (1999)

Fonte: BUSS, Paulo Marchiori. 2000

A promoção da saúde, no decorrer dessa cronologia, incorpora a educação em seus

princípios, metas e estratégias. Ao discutirmos a promoção da saúde na escola, algumas

especificidades emergem na abordagem da temática, conforme buscamos apresentar no

capítulo a seguir.

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CAPÍTULO 2 A SAÚDE NO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

2.1 – O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

O termo projeto tem origem no latim “projectu”, que é particípio passado do verbo

“projicere” que significa “lançar para diante”, indicando mudança e movimento. O termo

projeto demonstra a ponte entre o presente e o futuro; podendo caracterizar uma renovação da

escola (VEIGA, 2000).

Ao abordar o tema do Projeto Político-Pedagógico (PPP), nos indagamos: o que é o

PPP? A participação de todos os atores educacionais foi, e está sendo privilegiada na

elaboração, execução e avaliação do PPP, garantindo a gestão democrática da escola e

permitindo que todos se sintam responsáveis pelo mesmo? O PPP foi elaborado para cumprir

uma exigência burocrática ou expressa as necessidades e especificidades da escola, ao ser

implementado? O PPP tem caráter regulador ou emancipatório? Embora não seja nossa

intenção abordar todas essas questões nos limites desse trabalho, buscamos discutir alguns

sentidos do PPP, com vistas a explorar nosso objeto da maneira mais abrangente possível.

Segundo Gandin, planejar é:

decidir que tipo de sociedade e de homem se quer e que tipo de ação

educacional é necessária para isso; verificar a que distância se está deste tipo

de ação e até que ponto se está contribuindo para o resultado final que se

pretende; propor uma série orgânica de ações para diminuir essa distância e

contribuir mais para o resultado final estabelecido. (2011, p.23)

O Brasil, na década de 1980, passava por um período de (re)democratização, após anos

de ditadura, quando vivemos um período de acirramento da crítica à centralização imposta

pelo governo militar. Nesta conjuntura, os educadores se mobilizaram reivindicando

“participação nas decisões, na elaboração do projeto pedagógico das escolas, na gestão do

ensino e na formulação das políticas educativas” (SAVIANI, 2007, p.31).

Neste período, o Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, formado por entidades

sindicais, acadêmicas e da sociedade civil, trabalhou no sentido de garantir a gestão

democrática do ensino público, na elaboração da Constituição de 1988. A LDB Nº 9394/96 e

as leis subsequentes garantiram o princípio da gestão democrática e regulamentaram a

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exigência da elaboração do projeto político-pedagógico das escolas,a orientação do trabalho

conjunto da escola com a comunidade na qual está inserida, e a formação continuada dos

professores, diretrizes reforçadas pelo Plano Decenal de Educação para Todos (1993-2003).

O Plano Decenal de Educação para Todos foi um conjunto de diretrizes que visavam

assegurar o compromisso do governo brasileiro de garantir o atendimento das necessidades

básicas de educação da população, cujo objetivo principal era garantir conteúdos mínimos de

aprendizagem que satisfizessem às necessidades básicas da vida contemporânea das crianças,

dos jovens e dos adultos até o ano 2003.

A elaboração deste Plano foi coordenada pelo MEC, com a participação de um Grupo

Executivo formado por representantes deste Ministério, do Conselho Nacional de Secretários

de Educação (CONSED) e da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação

(UNDIME) e pelo Comitê Consultivo do Plano composto pelo CONSED, UNDIME, o

Conselho Federal de Educação (CFE), Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras

(CRUB), Confederação Nacional das Indústrias (CMI), Conferência Nacional dos Bispos do

Brasil/Movimento de Educação de Base (CNBB/MEB), Confederação Nacional dos

Trabalhadores em Educação (CNTE), UNESCO E UNICEF, Fórum dos Conselhos Estaduais

de Educação, a Confederação Nacional das Mulheres do Brasil (CNMB), a Ordem dos

Advogados do Brasil (OAB) e o Ministério da Justiça.

A mobilização das entidades formadoras do Comitê Consultivo suscitou vários debates,

por todo país, sobre os problemas educacionais mais significativos e as formas de

enfrentamento destes. E o produto destes debates foi consolidado na Semana Nacional de

Educação para Todos, realizada de 10 a 14 de maio de 1993, em Brasília, sendo incorporado

ao Plano Decenal.

Ao final desta semana, os representantes dos governos federal, estadual e municipal

assumiram o Compromisso Nacional de Educação para Todos, que apresentava diretrizes

norteadoras para as políticas educacionais para os anos subsequentes.

Os Estados e os Municípios foram incumbidos de elaborar seus Planos Estaduais e

Municipais de Educação considerando suas especificidades e características regionais e locais,

garantindo o atendimento escolar de qualidade a todos, tendo como referência o Plano

Decenal de Educação para Todos.

Segundo Stauffer (2007), a LDB Nº 9394/96 atrela o PPP ao modelo de gerenciamento

das escolas, destacando que estas devem ter autonomia organizativa e didático-pedagógica,

promovendo sua integração na comunidade e garantindo a efetivação de uma educação de

qualidade que irá favorecer a aprendizagem dos alunos.

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O Projeto Político Pedagógico é o documento que orienta todas as ações educativas da

escola. Foi instituído através do Artigo 12, inciso I, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação,

Lei nº 9394/96, onde prevê que: “Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas

comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: elaborar e executar sua

proposta pedagógica”.

O Projeto deve ser elaborado com a participação de todos os atores educacionais, por

ser um instrumento teórico-prático (Silva, 2003 apud Stauffer, 2007) que irá embasar o

trabalho educativo em suas dimensões filosófica, política, organizacional e pedagógica

(Veiga, 1995 apud Stauffer, 2007).

A dimensão filosófica abrange os princípios fundamentais da educação, como as

relações com o cotidiano, os valores, os ideais, os fins da educação, demonstrando que tipo de

escola desejamos construir e o tipo de cidadão que visamos formar, com uma educação de

qualidade, tendo o aluno como centro do processo educativo.

Na dimensão política, vemos que a escola se organiza para formar cidadãos conscientes

de seu papel na sociedade e com o objetivo de atuarem contribuindo para a transformação

social. Este deve ser o eixo central do trabalho da escola que deve estar delimitado no PPP.

A dimensão organizacional refere-se à organização da escola, focando no estilo de

gestão e na implementação de seus planos, programas e projetos.

A dimensão pedagógica demonstra a direção, o sentido, articulando espaço, tempo e

trabalho com o objetivo de produzir conhecimento.

Dialogando com Martins (2011), vimos que o PPP

…configura-se como um instrumento de trabalho que mostra o que vai ser feito,

quando, de que maneira e por quem, para chegar aos resultados desejados. Deve,

para tanto, explicitar uma filosofia e harmonizar as diretrizes da educação nacional

com a realidade da escola, traduzindo-lhe autonomia e definindo-lhe o compromisso

com a clientela. (p.61)

Ele deve ser assumido por todos os envolvidos na escola para que sua implementação

ocorra de fato, o que reforça a necessidade de ser elaborado de forma participativa e

democrática. O termo participação deriva do latim “participatio” (pars+in+actio) que significa

“ter parte na ação”. Para ter parte na ação, o ator educacional deve ter acesso ao agir e às

decisões que o orientam; para isso é necessária uma gestão democrática, que envolva

aproximar o pensar e o agir, a elaboração e a implementação, a teoria e a prática. Como

podemos ver em Gadotti, “A gestão democrática da escola implica que a comunidade, os

usuários da escola, sejam os seus dirigentes e gestores e não apenas os seus fiscalizadores ou,

menos ainda, os meros receptores dos serviços educacionais” (2004. p.4).

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A escola deve ter autonomia para elaborar e executar seu PPP, porém não deve perder

de vista a proposta político-pedagógica do sistema de ensino, nem as necessidades e

exigências da escola. Portanto, a autonomia é, segundo Cavagnari (2011), “relativa,” ao passo

que a escola está atrelada a um sistema nacional de educação, se submetendo às orientações

de uma legislação comum.

Na década de 1990 houve um grande destaque de programas e projetos direcionados

para a liderança do gestor da escola, o que foi apoiado por um movimento internacional, com

a participação de reformistas e legisladores que defendiam o projeto político do Banco

Mundial com o apoio do MEC. Estas novas regras influenciaram as relações entre políticas,

governos e educação, gerando alguns pontos que mostraremos a seguir:

na organização do PPP, destaca-se a liderança do diretor da escola, que deve resolver

as necessidades financeiras da escola, com a ajuda da comunidade, o que aumenta sua

responsabilidade, indo além de suas obrigações e desobriga o Estado de financiar o

sistema público de ensino.

Como vemos, há uma centralização no gestor/diretor o que se contrapõe ao proposto

pelo PPP que visa a participação de todos os atores educacionais na concepção,

implementação, avaliação e reformulação do PPP.

na década de 1990, a reforma educacional é influenciada pela postura do Estado que

passa para as famílias e aos gestores das escolas a responsabilidade da educação.

escolas “quase-mercado” com o financiamento público, mas a inclusão de

mecanismos de mercado, ou seja, sob a influência dos mecanismos reguladores das

empresas privadas.

o sistema educativo deve ser formado por escolas de caráter público, não havendo

necessidade de se pagar para ter os serviços de educação. O projeto político e

pedagógico do Estado deve garantir o bem comum da sociedade.

Não se pode perder de vista que a educação é dever do Estado. O que é reforçado por

Rossi (2001), que apresenta uma fala de Saviani (1997):

Todas as iniciativas de política educacional, apesar de sua aparente autonomia, têm

um ponto em comum: o empenho em reduzir custos, encargos e investimentos

públicos, buscando senão transferi-los e/ou dividi-los, com a iniciativa privada e

organizações não governamentais. Em lugar do dever do Estado (como está inscrito

em nossa Constituição), a solução das questões educacionais foi deixada ao encargo,

à boa vontade da população, ao invés da responsabilidade pública. (p. 200, in

ROSSI, 2001, p. 96)

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Contudo, a lei em si não garante a realização do PPP, nem a autonomia dos seus

proponentes. Este só se concretizará se houver empenho por parte dos atores educacionais e,

consequentemente, a autonomia se efetiva nesta concretude. Assim, o PPP é o instrumento

que viabiliza a operacionalização da autonomia da escola, sendo PPP e autonomia processos

inseparáveis. (Cavagnari, 2011). A mobilização dos atores educacionais é condição sine qua

non para a efetivação do PPP, pois ele não será implementado a partir de ações individuais,

mas sim na articulação do grupo para uma ação coletiva. E será coletivo na medida em que

contar com a participação de todos os atores educacionais envolvidos no que concerne às suas

funções e atribuições.

Para Veiga (2011), o PPP reflete a realidade da escola, pois ela está em um contexto

onde influencia e pode ser influenciada pelos atores educacionais. Ao mesmo tempo, o PPP

define a concepção de educação e que tipo de homem e sociedade se quer formar,

caracterizando assim sua dimensão política, ou seja, elabora uma proposta comum a todos,

que de fato orienta o cotidiano escolar, sendo um instrumento do processo ação/reflexão/ação.

O PPP é um documento político importante. Para Gadotti (2004), todo projeto

pedagógico da escola é político, pois apresenta uma direção política, um norte, um rumo. O

PPP é um processo inconcluso, um documento vivo que deve ser constantemente reformulado

pelos atores educacionais.

Segundo Veiga (2011), um PPP deve possuir algumas características em sua concepção,

como: propiciar a participação dos atores educacionais nas decisões; desenvolver o trabalho

pedagógico de forma que este demonstre os conflitos e as contradições; apresentar princípios

com base na autonomia da escola, na solidariedade entre seus atores e visando a participação

destes no projeto; propor estratégias para sanar os problemas que surjam no desenvolvimento

do trabalho educativo e expressar o compromisso com o cidadão.

Portanto, este documento não deve ser o cumprimento de uma exigência legal ou uma

simples formalidade. Ele deve ser um instrumento de trabalho que legitime o trabalho

educativo e que traduza o compromisso de todos os envolvidos.

Vasconcellos (apud Veiga, 2011) afirma que:

(…) mais importante do que ter um texto bem elaborado, é construirmos um

envolvimento e o crescimento das pessoas, principalmente dos educadores, no

processo de elaboração do projeto, através de uma participação efetiva naquilo que é

essencial na instituição. Planejar com e não para. (p.28)

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Ao construir seu PPP, a escola se depara com a possibilidade de mudar e transformar

sua proposta pedagógica e o exercício de sua gestão; não basta apresentar um discurso

progressista, se a prática pedagógica é autoritária e empobrecida.

Com o seu PPP, a escola pode empreender mudanças, inovações, contudo não podemos

afirmar que toda inovação tenha caráter emancipatório. Veiga (2003), ao abordar a inovação e

o PPP, apresenta-o como ação regulatória e como ação emancipatória, ressaltando que ambas

provocam mudanças na escola, mas de caráter diferenciado.

As ações regulatórias são frutos de prescrições, de recomendações externas à escola,

que não produzem um projeto pedagógico novo, mas sim o mesmo sistema, modificado,

servindo para a manutenção do instituído; priorizando a dimensão técnica às dimensões

política e sociocultural. A ação regulatória não considera um processo de produção coletiva,

negando a diversidade de interesses.

De acordo com Veiga (2003),

A inovação regulatória significa assumir o projeto político-pedagógico como um

conjunto de atividades que vão gerar um produto: um documento pronto e acabado.

Nesse caso, deixa-se de lado o processo de produção coletiva. Perde-se a concepção

integral de um projeto e este se converte em uma relação insumo/processo/produto.

Pode-se inovar para melhorar resultados parciais do ensino, da aprendizagem, da

pesquisa, dos laboratórios, da biblioteca, mas o processo não está articulado

integralmente com o produto. (p.271)

As ações emancipatórias partem e visam às necessidades do coletivo da escola,

prevalecendo as preocupações de cunho político cultural.

Em uma perspectiva emancipatória, o caráter inovador e o PPP estão articulados, onde

as finalidades e os meios se integram na ruptura do já instituído, focando o processo de

construção que resultará em ações inovadoras, sendo o projeto uma forma de compromisso

coletivo para unificar ações, envolver todos na construção de soluções no desenvolvimento do

trabalho pedagógico-administrativo, criar o sentimento de pertença, despertar nos envolvidos

a expressão de objetivos comuns, explicitando as ações propostas. (VEIGA, 2011)

A ação emancipatória é fruto da reflexão sobre a realidade da escola articulada ao

contexto social, tendo como pano de fundo um processo dialógico e a valorização dos

diferentes saberes.

Em uma perspectiva emancipatória, segundo Veiga (2011), o PPP apresenta as

seguintes características:

É um movimento de luta pela democracia da escola que enfrenta as dificuldades, na

busca de um futuro melhor; orienta a reflexão e ação da escola.

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Visa a inclusão diante da diversidade de alunos, suas origens culturais, necessidades e

expectativas educacionais.

Sendo coletivo e integrador, o projeto deve proporcionar o diálogo, a cooperação, a

negociação, possibilitando a intervenção na tomada de decisões em todos os aspectos

da vida da escola.

A autonomia e a gestão democrática compõem o processo pedagógico.

A legitimidade do PPP reside no grau e no tipo de participação dos envolvidos no

processo educativo.

Foca o trabalho pedagógico, metodológica e tecnicamente, articulando-o com o

contexto social.

Segundo Veiga (2001, apud Rossi, 2004), os projetos emancipadores destacam a gestão

democrática, com a participação de várias instâncias do campo educacional, visando a

“emancipação, o sucesso escolar, a inclusão e o compromisso sociais” (p. 29).

O PPP, segundo Borges e Pena (1997, apud Rossi, 2004), é produto e ação de uma

gestão colegiada e transforma-se no ponto de articulação entre a escola e a realidade, entre os

indivíduos e o conhecimento.

O sistema educacional e a gestão do PPP vivem em um conflito entre o modelo

regulador, aquele que visa educar para competir no mercado, e o modelo emancipador, que

busca uma educação democrática visando novas regras de convívio no espaço educativo

(ROSSI, 2004).Assim, a escola é um espaço de conflitos onde se convive com tensões

dialéticas entre o controle do Estado e a forma própria da escola de regular e transgredir, ou

seja, de emancipação (idem).

Ao pensarmos no PPP de uma escola, nos deparamos com alguns aspectos que são

relevantes na elaboração, execução e avaliação deste (Gandin, 2011; Veiga, 2011),tais como:

Ser uma proposta construída por todos os atores educacionais, ou seja,

professores, gestores, alunos, pessoal de apoio, pais e responsáveis; visando o

coletivo e a participação.

Ser um processo democrático, onde todos tenham voz e os diferentes saberes

sejam valorizados.

Ter ousadia para modificar o que está instituído.

Respeitar as diferenças.

Construir a autonomia da escola e de todos os envolvidos com o processo

educacional.

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Assumir o compromisso e a responsabilidade na construção da identidade da

escola e na construção de um ensino de qualidade.

Considerar que uma ação altera o equilíbrio do ambiente, havendo a aceitação

por parte de alguns e a resistência por outros; podendo haver conflitos que

podem contribuir para o desenvolvimento da ação.

Segundo Rossi (2004), a partir de 1990, o PPP tem sido alvo de reformas educativas e

leis que pretendem definir normas para sua elaboração e operacionalização, por meio de

projetos reguladores, orientando as unidades escolares para a elaboração de um documento,

não considerando a capacidade de mobilização dos educadores para a realização deste.

De acordo com Costa (2003, apud Rossi, 2004), a participação instituída pelo PPP

apresenta algumas dificuldades de acordo com a tipificação apresentada por este, como

projeto-plágio – que é copiado de outra organização; projeto do chefe – aquele que não é

discutido e implementado pelos atores educacionais; projeto - gueto – que è desenvolvido por

pequenos grupos.

Estes geram projetos como projeto-vago – que não apresenta uma orientação precisa,

permitindo que cada indivíduo trace seu caminho; projeto-manutenção – perpetua atividades e

rotinas; projeto ofício – aquele que está pronto (na gaveta) para ser apresentado quando

solicitado; projeto-cerimônia – consagrado nas festividades, mas não avança a dimensão

ritual, institucional e formal.

Após o estudo de pesquisas, disponibilizadas pela CAPES – Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, realizadas sobre a elaboração e

implementação dos PPP, onde os autores abordaram a participação dos atores educacionais, as

concepções sobre o PPP e a autonomia, pudemos constatar que, quanto à participação dos

atores educacionais na elaboração do PPP, dos nove documentos analisados, de escolas

municipais do Rio de Janeiro,como propósito de averiguar os caminhos e as estratégias que as

escolas estão adotando para elaboração e execução do PPP, somente um foi construído de

forma participativa (MALHEIRO, 2005).

Percebemos uma divergência entre os sujeitos da pesquisa, realizada nas vinte escolas

da rede municipal de Maringá/PR,onde os autores buscaram compreender como ocorre a

participação da equipe e da comunidade no processo de elaboração e aplicação do PPP,

quando a coordenação pedagógica e os professores de diversas disciplinas consideraram ser a

elaboração do PPP de responsabilidade de toda a comunidade escolar, ao passo que os

professores de educação física veem como atribuição da equipe pedagógica e professores

(BÁSSOLI ET AL, 2011).

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A pesquisa realizada, em três escolas da rede municipal de Cabo de Santo Agostinho/

Recife,com o objetivo de verificar como o PPP é entendido, sua relação com a construção da

autonomia da escola e seu papel na instituição de relações democráticas no cotidiano escolar,

constatou que os três PPP foram elaborados com a participação da comunidade escolar

(MARQUES, 2003).

Em pesquisa realizada em trinta e sete escolas, da rede municipal de São Paulo, com o

intuito de refletir sobre a “implantação e/ou implementação” do PPP nas escolas, a autora

constatou que somente uma escola elaborou seu PPP de forma participativa (MONFREDINI,

2002).

Em uma pesquisa realizada por Ribeiro (2004),em cinco escolas municipais de Montes

Claros, Minas Gerais, que investigou a participação da comunidade escolar na construção e

aplicação do PPP, verificou-se que três escolas possuíam PPP. Após entrevista com os autores

educacionais, esta constatou que, apesar da direção e equipe pedagógica afirmarem que os

projetos foram elaborados com a participação de toda a comunidade escolar, um número

significativo de pais, alunos e funcionários afirmaram não ter participado da elaboração do

PPP e nem conhecerem o mesmo (RIBEIRO, 2004).

Analisamos nessas pesquisas qual a concepção que os sujeitos têm do PPP, e vimos que

este é visto pela equipe pedagógica como eixo norteador das estruturas e ações interventivas e

da discussão da avaliação e reflexão educativa. Ao passo que os professores veem o PPP

como o alicerce da escola, que direciona as ações, mas destacam a dificuldade na efetivação

do planejamento (BÁSSOLI ET AL, 2011).

Em estudo realizado por Marques (2003), os dirigentes veem o PPP como um

instrumento de planejamento do cotidiano da escola, considerando-o um “organizador” da

escola. E os professores o consideram como um “instrumento de planejamento escolar, de

melhoria da escola e de participação”(p. 588). Os funcionários o veem como um instrumento

de planejamento que deve ser elaborado coletivamente. É percebido como um “plano de

trabalho” com um nome diferente. Já os pais/mães percebem o PPP como uma forma de

melhoria e desenvolvimento da escola. Enquanto os alunos destacam o projeto como um meio

de planejar, de participar e melhorar a qualidade do ensino.

Na pesquisa de Monfredini (2002), a equipe técnica relatou, nos questionários, o PPP

como um resultado e não como processo, percebendo-o como instrumento de melhoria dos

indicadores de eficiência e eficácia da escola, porém nas entrevistas, este era indicado como

um processo. E os educadores viram o PPP como a possibilidade de todos os envolvidos

voltarem-se para os mesmos objetivos.

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Para Barbosa (2012),que investigou os discursos que permeiam o processo de

construção e implementação do PPP, em uma escola da rede municipal de João Pessoa/PB; os

sujeitos veem o PPP como o norte, horizonte, caminho, sistematização, documento, proposta.

Ao buscarmos a abordagem da autonomia, constatamos que Malheiro (2005), detectou

que o processo de autonomia caminha “a passos lentos”.

Segundo Bássoli et al (2011), o planejamento concretiza a autonomia da escola e

viabiliza o processo de construção de sua identidade.

Em Marques (2003), a autonomia é vista pelos dirigentes como “liberdade relativa da

escola”, pois esta resolve suas questões cotidianas e define a utilização dos recursos

financeiros da escola. E dois pontos foram destacados pelos sujeitos nesta pesquisa: a escola

pode resolver internamente seus problemas, e ao mesmo tempo relatam a impossibilidade da

escola ser autônoma, pois destacam a responsabilidade do poder público em oferecer

educação à população, relacionando a autonomia à questão financeira, não vislumbrando

assim uma escola pública autônoma.

Ainda sobre a autonomia, encontramos em Monfredini (2002), que esta se dá por meio

do trabalho dos autores envolvidos, diante das contradições, limites e conflitos enfrentados no

cotidiano. Percebe-se a autonomia pedagógica quando os professores privilegiam conteúdos

do programa em seu trabalho, de acordo com a temática central. Os professores e os alunos,

com incentivo da equipe técnica e diretores, desenvolveram atividades extraclasse, como

forma de promoção da participação da comunidade na escola. E as escolas têm autonomia

para buscar parceiros que ajudem financeiramente suprindo as lacunas deixadas pela SME,

como provedora de recursos.

Dos dados apresentados acima, constatamos que o PPP não é elaborado, em sua

totalidade, de forma participativa, pois dos setenta e quatro PPP estudados, nas pesquisas

analisadas, somente trinta foram elaborados, segundo os sujeitos, com a participação dos

atores educacionais. Ressaltamos que em cinco escolas (Ribeiro, 2004) dessas trinta, houve,

como relatamos, uma contradição o que acarretaria em um número menor de projetos.

Quando se referem ao PPP, de uma forma geral, ele está associado à direção, alicerce,

planejamento, organização, participação, melhoria e processo. Como vimos em Veiga (2000),

o termo projeto, etimologicamente, indica mudança e movimento, e por isso este, ou seja, o

projeto deve envolver todos os aspectos relacionados pelos sujeitos.

Não percebemos a autonomia como algo concreto, mas sim como conquista, e ao

mesmo tempo, esta é vista como relativa; o que converge com a abordagem de Cavagnari

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(2011), que afirma ser a autonomia relativa, pois está atrelada a um sistema nacional de

educação.

Vemos a escola como espaço de mediações e articulação do projeto político da

sociedade e do projeto individual dos atores educacionais, sendo a educação um meio para

formação da cidadania, por meio da qual o indivíduo garantirá seus direitos e sua participação

na sociedade.

Dentre esses direitos, destacamos a saúde que é primordial para o desenvolvimento

integral do indivíduo. Conforme a Carta de Ottawa “A saúde é o maior recurso para o

desenvolvimento social, econômico e pessoal, assim como uma importante dimensão da

qualidade de vida” (1986, p.1).

A seguir, então, veremos como a saúde integra o currículo escolar.

2.2 – A SAÚDE NO CURRÍCULO ESCOLAR

O Ministério da Educação, no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 a

1998), desenvolveu um programa de reforma da educação, baseado na Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional (LDB), sendo uma das prioridades a reforma curricular da

educação básica. Para assessorar o sistema educacional e os professores nesta tarefa foram

elaborados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), em 1997.

Conforme o proposto pelos PCN a saúde é abordada como tema transversal, compondo

o currículo escolar, onde cada disciplina deve abordá-la como parte de seu conteúdo.

Para cada área curricular - Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Naturais, História,

Geografia, Arte, Educação Física e Língua Estrangeira - há um documento específico que

apresenta uma análise do ensino da área ou do tema; objetivos; conteúdos; avaliação e

orientações didáticas. Neste conjunto de documentos foram propostos ainda uma série de

temas transversais.

O termo “parâmetro” é empregado para demonstrar que, ao mesmo tempo em que se

consideram as diferenças regionais, culturais e políticas do país, este documento será uma

referência nacional quanto aos “pontos comuns” no processo educativo em todas as

localidades brasileiras. A abrangência nacional se refere à necessidade de garantir a todo

aluno o acesso a uma gama de conhecimentos elencados como necessários ao exercício da

cidadania.

Segundo Falleiros (2005), como estratégia para conseguir a adesão ao amplo projeto do

qual faz parte a nova proposta educacional, o MEC agregou algumas demandas dos

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profissionais da educação. A proposta educacional está imbuída pelo projeto de sociabilidade

capitalista implementado pela Terceira Via no Brasil.2

Este projeto, desenvolvido nos anos 1990,

...vem demandando uma educação capaz de conformar o “novo homem” de acordo

com os pressupostos técnicos, psicológicos, emocionais, morais e ético-políticos da

“flexibilização” do trabalho e com um modelo de cidadania que não interfira nas

relações burguesas fundamentais no contexto de ampliação da participação política.

(FALLEIROS, 2005, p. 211)

A escola, para Falleiros (2005), é um “espaço privilegiado” para se moldar o “novo

homem” com base nos princípios hegemônicos.

Em Lima e Martins (2005) vimos, que em meados dos anos 1990, organizou-se um

projeto com uma agenda político-econômica com base no neoliberalismo, denominado de

Terceira Via. Este projeto teve como objetivo “a reforma ou governos do capitalismo por

intermédio de mudanças na política e na economia” (p. 44).

Na Terceira Via, a educação é o principal foco do desenvolvimento, privilegiando as

capacidades que os indivíduos podem desenvolver em suas vidas. E a escola é vista como um

“instrumento de formação e atualização do intelectual urbano, tendo na concepção de mundo

burguesa o eixo central” (idem, p. 64).

Para a elaboração dos PCN foram realizados estudos preliminares nas propostas

curriculares estaduais e municipais, no estudo realizado pela Fundação Carlos Chagas sobre

currículos, e em currículos internacionais com propostas semelhantes à brasileira. Foi

organizada uma equipe de trabalho pela Secretaria de Ensino Fundamental, com a

participação do Professor César Coll, responsável pela reforma educacional espanhola, sem,

contudo, se discutir as consequências desta participação, já que este representava o modelo

curricular da Espanha, ou seja, de um contexto diferente do brasileiro (FALLEIROS, 2005).

Para justificar a centralização das políticas públicas de educação com a implementação

dos PCN, que representam uma referência curricular nacional, o MEC propaga a ideia de que

os currículos organizados pelas secretarias estaduais estavam ultrapassados, reforçando a

necessidade dos parâmetros nacionais.

Segundo Falleiros (2005), a Secretaria de Ensino Fundamental, com a intenção de

dialogar com representantes da educação brasileira, fornece, entre fins de 1995 e início de

1996, o documento a alguns pareceristas, como “docentes de universidades públicas e

2Segundo Giddens (2001 apud Peroni, 2014) a Terceira Via se refere a uma estrutura de pensamento e de prática

política que busca ultrapassar o Neoliberalismo, visando um Estado democrático.

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particulares, técnicos de secretarias estaduais e municipais de educação, de instituições

representativas de diferentes áreas de conhecimento, especialistas e educadores” (p.215).

Alguns pontos se destacam nos pareceres emitidos, tais como: o “tom” utilizado no

documento que não indica uma proposta para discussão, mas sim uma comunicação de

verdades; o risco de um currículo nacional inviabilizar oportunidades de contestação e

manifestação de grupos subordinados, sendo uma proposta de “controle político do

conhecimento”. Houve o questionamento de um “currículo nacional” e uma avaliação sobre o

“suposto consenso” apresentado acerca de itens como “qualidade de ensino e cidadão” e seu

vínculo com o “projeto societário neoliberal”; questionou-se o prazo muito limitado dado aos

pareceristas para a análise dos documentos e a não participação na elaboração dos mesmos; a

falta de diálogo, ao fundamentar o documento, entre a “psicologia do conhecimento e as bases

históricas, antropológicas e sociológicas”; a centralização metodológica no construtivismo

não viabilizando a utilização de outros métodos (FALLEIROS, 2005, p.215).

O processo de criação dos PCN está na contra mão da proposta apresentada pelo mesmo

de construção de uma cidadania democrática, pois não houve uma efetiva participação dos

representantes da educação brasileira na elaboração destes, sendo de fato um documento

apresentado em uma relação vertical.

Os PCN foram distribuídos a todas as escolas públicas brasileiras como um conjunto de

orientações e recomendações para assessorar o trabalho dos professores e não com caráter

obrigatório.

Apesar de ser sugerido nos PCN que o processo educacional não pode ser utilizado pelo

governo para impor um projeto de sociedade e de nação e que este projeto deve envolver os

diferentes interesses e a busca de soluções para os conflitos sociais, o governo FHC não

respeitou os “papéis do núcleo central e das esferas locais de poder” e reorganizou-os em

função do modelo de descentralização adotado pelo novo Estado democrático da Terceira Via

no Brasil, onde o MEC passou a definir, encaminhar e aplicar as políticas educacionais;

cabendo às secretarias estaduais e municipais de educação o papel “estratégico gerencial” e às

escolas o papel “gerencial – operacional”, estabelecendo assim uma estrutura administrativa

hierarquizada (FALLEIROS, 2005).

A elaboração do referencial curricular nacional para o Ensino Fundamental se

desenvolveu sob uma disputa de competências (Bonamino e Martínez, 2002), onde o MEC e

o Conselho Nacional de Educação (CNE) se pautaram no Art. 9 da LDB que estabelece que a

União deve, em colaboração com os estados, Distrito Federal e municípios, desenvolver

diretrizes que nortearão os currículos; e na Constituição de 1988 que apresenta como

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obrigação do Estado a organização de parâmetros curriculares para orientar o Ensino

Fundamental, a fim de justificarem suas responsabilidades na construção curricular.

O CNE utilizou como estratégia a não obrigatoriedade dos PCN, ou seja, os mesmos

foram estabelecidos como orientações. Apesar disso o MEC acelera o processo de elaboração

dos PCN e distribui os mesmos para as escolas, como abordado anteriormente.

O que se percebe, segundo Bonamino e Martínez (2002), é uma política estruturada em

um movimento invertido, onde os PCN foram elaborados e encaminhados para reorientar um

instrumento mais amplo como as Diretrizes Curriculares Nacionais. Esta disputa, para as

autoras, impossibilitou possíveis colaborações entre esses atores políticos.

Como vimos anteriormente, a LDB Nº 9394/96 aponta que a escola deve ter sua

autonomia organizacional e didático-pedagógica assegurada para o desenvolvimento do seu

PPP sem imposições das políticas educacionais.

Os PCN foram elaborados com a proposta de desenvolver

... uma prática educativa adequada às necessidades sociais, políticas, econômicas e

culturais da realidade brasileira, que considere os interesses e as motivações dos

alunos e garanta as aprendizagens essenciais para a formação de cidadãos

autônomos, críticos e participativos, capazes de atuar com competência, dignidade e

responsabilidade na sociedade em que vivem. (BRASIL, 1997, p.27)

Para atender a esta proposta, os Temas Transversais foram incluídos. Estes orientam a

aplicação da transversalidade que indica “…a possibilidade de se estabelecer, na prática

educativa, uma relação entre aprender conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender

sobre a realidade) e as questões da vida real e de sua transformação (aprender a realidade da

realidade) (BRASIL, 1998, p.30). Os temas transversais viabilizam a discussão de temas

sociais na escola, sendo eles: Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Saúde, Orientação

Sexual, e Temas Locais, que devem fazer parte do currículo escolar, de forma contínua e

sistemática por toda a escolaridade.

No Brasil, com a inclusão dos temas transversais no currículo, o governo objetivava a

discussão e possível solução por meio da escola de problemas sociais enfrentados pela

sociedade, como os problemas ecológicos, de educação sexual, de ética e intolerância cultural.

Estes foram escolhidos por técnicos do Ministério da Educação com base em quatro

critérios, a saber, urgência social – escolher questões que dificultam a plenitude da cidadania;

abrangência nacional – a escolha dos temas objetivou abordar questões que fossem

pertinentes para o País; possibilidade de ensino e aprendizagem – buscaram-se temas cuja

aprendizagem fosse possível nesta etapa da escolaridade; e favorecimento à compreensão da

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realidade e à participação social – que os temas sociais possibilitem aos indivíduos

posicionarem-se diante dos problemas do cotidiano, viabilizando a participação social.

Acreditamos que a escolha destes deveria ter sido amplamente discutida entre os

educadores, pesquisadores, alunos e pais.

A construção do conceito de transversalidade passou por um processo onde lhe foram

atribuídos vários significados. Essa construção originou-se na reforma do sistema educacional

espanhol, quando, inicialmente, transversal significava alguns conteúdos a serem trabalhados

nas várias disciplinas escolares, passando a representar o “conjunto de valores, atitudes e

comportamentos” relevantes a serem ensinados (GAVIDIA, 2002).

Havia, no contexto espanhol, um consenso da abordagem, na escola, de temas como

educação para a saúde, a educação do consumidor, a educação ambiental, a educação para a

paz e convivência, etc, porém se questionava como estes deveriam ser trabalhados, como uma

disciplina ou como parte de outras matérias, evitando o aumento da carga horária dos alunos.

Nesta visão de compor as disciplinas, inicia-se a construção do conceito de

transversalidade, que como o próprio termo aponta, refere-se à forma de abordar os conteúdos

no currículo escolar.

Sob o olhar de Gavidia (2002), o desenvolvimento do conceito de transversalidade

ocorreu em duas dimensões, a primeira metodológica e a segunda conceitual.

O desenvolvimento da dimensão metodológica compreendeu três etapas: a primeira

ocorreu com o início da reforma do sistema educacional espanhol que aponta como necessária

a abordagem de conteúdos relacionados ao meio ambiente, ao consumo, à saúde, ao convívio,

etc, que deveriam ser abordados pelas disciplinas fazendo parte delas e aumentando o

programa das mesmas, com grandes conteúdos conceituais nos quais os alunos eram

avaliados.

A segunda etapa ocorreu na análise das propostas curriculares das disciplinas quando

constatou-se que os temas possuíam caráter funcional e atitudinal. A abordagem adequada

desses conteúdos não poderia ocorrer de forma pontual e desconexa. Eles deveriam ser

trabalhados por meio de outra metodologia, estando presentes ao longo de toda disciplina.

Contudo, isto não acontecia, os professores abordavam os temas, quando possível, como um

prolongamento dos conteúdos de sua disciplina, como um acréscimo à sua matéria de estudo.

A terceira etapa aconteceu quando as escolas espanholas elaboram seus projetos

curriculares e educacionais e neste processo analisaram os objetivos e os conteúdos de todas

as disciplinas e áreas. Na realização desta análise constatam que há muitos conteúdos em

comum na educação para a saúde, na educação ambiental, na educação do consumidor, na

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educação para paz, na convivência, etc.; que os objetivos educacionais propostos para as áreas

podem ser atingidos por meio das matérias transversais; e que a abordagem dos temas

transversais viabiliza a contextualização das outras áreas ao facilitar sua abordagem.

Podemos, assim, afirmar que algumas áreas e matérias transversais complementam-se

no espaço didático. Neste momento, quando se destaca os pontos comuns e complementares

em todas as matérias, o conceito de transversal incorpora seu verdadeiro sentido.

Contudo para Gavidia (2002), devemos nos questionar como podemos

“trabalhar/utilizar” os temas transversais. E para responder esta questão o autor recorre às

acepções do conceito de transversal, destacando dois significados: o de cruzar e o de

transpassar.

No primeiro significado, cruzar, o referido autor destaca a formação de linhas que

cruzam todas as disciplinas. Os temas transversais “estão distribuídos nas diversas disciplinas,

motivo pelo qual atravessam ou cruzam como linhas diagonais as verticais das áreas de

conhecimento, dando sentido à primeira acepção do termo transversalidade” (GAVIDIA,

2002, p.20).

O segundo significado, transpassar, acontece quando os temas transversais aparecem

como eixo centralizador da aprendizagem e reúnem ao seu redor as diferentes matérias, pois

seu “caráter globalizador” viabiliza que “transpassem” ou sequenciem os conteúdos

curriculares.

Para Gavidia (2002), os temas transversais serão abordados adequadamente quando

considerados a partir do projeto curricular e da reflexão, a fim de que todas as matérias

concorram para a formação e educação dos alunos.

O desenvolvimento da dimensão conceitual da transversalidade ocorreu paralelamente

ao desenvolvimento da dimensão metodológica, e segundo Gavidia (2002), também

compreendeu três etapas.

Na primeira etapa, os temas, definidos como transversais, eram abordados como

conteúdos conceituais que já eram, há muito tempo, trabalhados na escola.

Na segunda etapa, foca-se os temas transversais como questões atitudinais. Apesar de a

legislação estabelecer objetivos da educação com base em valores e atitudes individuais e

coletivos, constatou-se que as áreas curriculares não conseguiram concretizá-los. Afim de

sanar esta questão, a legislação indicou que os temas transversais deveriam estar presentes em

todo o currículo atendendo às falhas das disciplinas no que diz respeito às atitudes e

comportamentos.

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Na terceira etapa, as matérias transversais englobam conceitos, procedimentos e

atitudes, por não se poder separar os conteúdos atitudinais dos conceituais, pois as atitudes

não podem ser trabalhadas com base em um vazio conceitual, e nem as atitudes podem se

concretizar baseadas somente em conceitos.

A diferença entre as disciplinas tradicionais e os temas transversais está pautada no fato

de as disciplinas possuírem conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais que se

encerram nas mesmas, enquanto que os temas transversais visam à promoção de atitudes

pautadas nos valores pessoais e globais, direcionados a condutas e comportamentos, visando o

desenvolvimento integral do indivíduo.

Para Gavidia (2002), em seu contexto de abordagem, ou seja, na Espanha, em 1996, o

conceito de transversal conseguiu uma situação de estabilidade e harmonia, vislumbrando-se

sua consolidação.

No Brasil, o conceito de transversalidade surgiu no interior dos movimentos de

renovação pedagógica, a partir da necessidade de os teóricos redefinirem o conceito de

aprendizagem e reverem os conteúdos a serem trabalhados com os alunos.

Segundo Rafael Yus (1998), os temas transversais podem ser definidos como

um conjunto de conteúdos educativos e eixos condutores da atividade escolar que,

não estando ligados a nenhuma matéria em particular, pode-se considerar que são

comuns a todas, de forma que, mais do que criar disciplinas novas, acha-se

conveniente que seu tratamento seja transversal num currículo global da escola.(p.

17)

Esse tratamento transversal é abordado por Araujo (2000, p.13 apud Bovo, 2004), que

…entende que os conteúdos curriculares tradicionais formam um eixo longitudinal

do sistema educacional e, em torno dessas áreas de conhecimento, devem circular,

ou perpassar, transversalmente esses temas, mais vinculados ao cotidiano da

sociedade. Assim, nessa concepção, se mantém as disciplinas que estamos

chamando de tradicionais do currículo (como a Matemática, as Ciências e a Língua),

mas os seus conteúdos devem ser impregnados com os temas transversais. (p.6)

Em função da complexidade do processo educativo, Yus (1998), apresenta os diferentes

âmbitos de transversalidade, como:

Transversalidade disciplinar – ocorre no interior de cada área em sucessivos

momentos do ano.

Transversalidade no espaço – é a abordagem de um tema transversal por mais de

duas áreas em um ano letivo.

Transversalidade no tempo – devido à necessidade de se ampliar a abordagem de

um tema transversal por mais de dois anos letivos sucessivos.

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Transversalidade curricular – é o tratamento curricular de um tema transversal,

onde se inclui os tipos de transversalidade apresentados acima.

Transversalidade ambiental – é formada pelo conjunto de decisões tomadas no

ambiente escolar que favoreçam o desenvolvimento do tema transversal.

Ainda no contexto de “recentralização” nos deparamos, segundo Falleiros (2005), com

os instrumentos de avaliação impostos à escola, como o Sistema Nacional de Avaliação da

Educação Básica (Saeb), o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Sistema Nacional

de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), que ultrapassam o “controle de “qualidade” da

educação, legitimando os parâmetros preestabelecidos no núcleo central da burocracia estatal”

(p. 219).

O documento ressalta a escola como “espaço social de construção dos significados

éticos necessários e constitutivos de toda e qualquer ação de cidadania” (BRASIL, 1997, p.

28). Esta concepção de cidadania destaca o homem que será formado pela escola,

considerando o projeto neoliberal da Terceira Via adotado pelo Brasil do século XXI

(FALLEIROS, 2005).

Na visão de Lopes (2006), os PCN funcionam como guias da ação curricular da escola e

do trabalho do professor, não valorizando o debate do “por que fazer” em detrimento do

“como fazer”.

Dentre os temas sociais abordados, destacamos a saúde. Os PCN atribuem à escola a

função de instrumentalizar o aluno para a manutenção de sua saúde e a da coletividade,

visando sua formação enquanto cidadão; ressaltando que a saúde está relacionada aos

aspectos biológicos, ao meio físico, socioeconômico e cultural que são os determinantes da

condição de saúde.

Nesta visão, a escola deve abordar os temas relacionados à saúde em uma perspectiva

de promoção da saúde que ocorre quando é garantida ao cidadão qualidade de vida e saúde,

por meio de sua capacitação individual para adoção de estilos de vida saudáveis, compondo

um ambiente saudável.

A educação em saúde, como foi abordada, deve capacitar a comunidade “para atuar na

melhoria de sua qualidade de vida e saúde”, com uma maior participação no controle deste

processo; sendo a escola um espaço privilegiado para a promoção da saúde.

A saúde é abordada nos PCN como um direito na perspectiva de seu conceito ampliado,

onde são considerados os condicionantes biológicos, o meio físico, o meio socioeconômico e

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cultural; como vemos em:

Entre os inúmeros fatores determinantes da condição de saúde, incluem-se os

condicionantes biológicos (sexo, idade, características pessoais eventualmente

determinadas pela herança genética), o meio físico (que abrange condições

geográficas, características da ocupação humana, fontes de água para consumo,

disponibilidade e qualidade dos alimentos, condições de habitação), assim como o

meio socioeconômico e cultural, que expressa os níveis de ocupação e renda, o

acesso à educação formal e ao lazer, os graus de liberdade, hábitos e formas de

relacionamento interpessoal, as possibilidades de acesso aos serviços voltados para a

promoção e recuperação da saúde e a qualidade da atenção por eles prestada.

(BRASIL, 1997, p. 251)

Ao abordar o conceito saúde, o documento ressalta a sua diversidade de concepções e

destaca o conceito adotado pela Organização Mundial de Saúde – OMS - “Saúde é o estado

de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença” (1998,

p.249). Bem-estar que deve ser construído individual e coletivamente nas relações com o

meio físico, social e cultural.

A saúde é trabalhada em uma perspectiva de “autocuidado” e como “direito e

responsabilidade pessoal e social”, protagonista na transmissão de noções básicas de higiene e

prevenção de doenças (FALLEIROS, 2005).

Os PCN abordam uma proposta de educação para a saúde, como abordado por

Gazzinelli, et al (2005). Ao se educar para saúde, parte-se do princípio de que os problemas

de saúde são consequência da fragilidade do quadro educacional da população, necessitando

assim de ações “corretivas”. Os comportamentos considerados inadequados devem ser

corrigidos por meio da aquisição de informações transmitidas por alguém que sabe o que é

melhor para o sujeito, que é manipulado como objeto de transformação.

Assim, o foco na educação para a saúde está no sujeito, em sua mudança e não nas

condições de desigualdade vivenciadas pelo mesmo. Este, ou seja, o sujeito é visto como

alguém que não consegue agir por conta própria, isto é, ser sujeito de sua ação. Portanto, deve

receber o saber instituído para definir suas ações.

Uma maneira alternativa a ser desenvolvida em uma perspectiva da educação em saúde

busca uma ação educativa que “... extrapola o campo da informação, ao integrar a

consideração de valores, costumes, modelos e símbolos sociais que levam a formas

específicas de condutas e práticas” (GAZZINELLI, ET AL, 2005, p.202).

Ao analisar a abordagem do tema transversal saúde, nos PCN, Bonfim et al (2013),

destacam alguns pontos “avançados” como: a prioridade à prevenção; a crítica ao

biologicismo: a interface com alguns temas transversais, como a orientação sexual;

responsabiliza a estratificação social pela ocorrência de algumas doenças; não limita a saúde à

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higiene; destaca a importância da alimentação saudável; ressalta o problema das drogas e o

combate ao álcool e ao tabaco.

Para os autores, existem algumas “lacunas” no texto sobre saúde como: há pouca

diversidade nas referências bibliográficas e poucos textos que abordam efetivamente a relação

educação e saúde; não associa o uso do álcool aos acidentes de trânsito; o texto não destaca o

desenvolvimento de bons hábitos na juventude que irão contribuir para uma vida saudável na

terceira idade. Afirmam que não há “profundidade” no texto, oferecendo poucos elementos ao

educador e para a transversalidade, demonstrando poucas “pistas de ação”, e “implicitamente”

sugestiona que a educação tem solução para os problemas da saúde.

Segundo os autores, o foco está sempre no indivíduo e na mudança de seu

comportamento. A abordagem comportamentalista provoca a diminuição do aspecto político,

destacando a educação como “panaceia” dos problemas sociais.

Segundo Monteiro (2012), apesar da implementação dos PCN não ser de caráter

obrigatório e dos mesmos já terem sido instituídos há mais de dez anos, ainda influenciam na

elaboração dos livros didáticos. Em seu trabalho intitulado “A saúde nos livros didáticos no

Brasil:concepções e tendências nos anos iniciais do Ensino Fundamental”, ele afirma que

muitas coleções de livros analisados em seu trabalho apresentam textos relacionados aos

PCN, chegando a se organizarem estruturalmente seguindo os blocos temáticos deste

documento. Nomeiam o trabalho como “temas transversais” no que se refere ao tema saúde e

selecionam o conteúdo a ser trabalhado com base no PCN.Ainda de acordo com este autor, o

fato de o livro seguir as orientações dos PCN se configura um critério para a escolha do

mesmo.

Como vimos,a temática da saúde compõe o currículo escolar conforme o proposto pelos

PCN e também é alvo do Programa Saúde na Escola, conforme veremos a seguir.

2.3 - Programa Saúde na Escola

Ainda no âmbito da educação em saúde, foi instituído o Programa Saúde na Escola

(PSE), que foi instituído através do decreto presidencial Nº 6.286 de dezembro de 2007, que,

propondo uma política intersetorial entre os Ministérios da Saúde e da Educação, visa à

atenção integral à saúde de crianças, adolescentes e jovens do ensino básico da rede pública,

com ações de prevenção, promoção e atenção à saúde.

De acordo com Westphal (2006), a intersetorialidade é um dos princípios que norteia as

práticas de promoção da saúde, por meio da articulação com as políticas de educação,

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habitação, assistência, trabalho, da reorientação dos serviços profissionais e das instituições

de saúde.

A intersetorialidade compreende ir além da reunião de órgãos. É constituída por ações

construídas conjuntamente, que sejam complementares, onde os profissionais e instituições

assumam o compromisso de organizar políticas públicas que concorram para a promoção da

saúde, e construam espaços de efetiva participação e compartilhamento de poder e de saber,

ocorrendo o empoderamento de todos os atores sociais.

À Saúde cabe, no trabalho conjunto com a Educação,apoiar tecnicamente os atores

educacionais na elaboração, implementação e avaliação do programa de educação em saúde.

O desenvolvimento do Programa Saúde na Escola se pauta na articulação entre todas as

esferas: municipal, estadual e federal, dos setores da saúde e da educação. E na articulação

entre os vários setores da sociedade como: educação, esporte, lazer, cultura, transporte,

planejamento urbano, a sociedade civil, setores privados, entre outros.

Este Programa foi implantado por meio da adesão dos municípios, com a proposta de

redesenhar a política de educação em saúde, com as seguintes diretrizes:

I. Tratar a saúde e educação integrais como parte de uma formação ampla para a

cidadania e o usufruto pleno dos direitos humanos;

II. Permitir a progressiva ampliação intersetorial das ações executadas pelos

sistemas de saúde e de educação com vistas à atenção integral à saúde de crianças e

adolescentes;

III. Promover a articulação de saberes, a participação dos educandos, pais,

comunidade escolar e sociedade em geral na construção e controle social das

políticas públicas da saúde e educação;

IV. Promover a saúde e a cultura da paz, favorecendo a prevenção de agravos à

saúde, bem como fortalecer a relação entre as redes públicas de saúde e de educação;

V. Articular as ações do Sistema Único de Saúde (SUS) às ações das redes de

educação pública de forma a ampliar o alcance e o impacto de suas ações relativas

aos educandos e suas famílias, otimizando a utilização dos espaços, equipamentos e

recursos disponíveis;

VI. Fortalecer o enfrentamento das vulnerabilidades, no campo da saúde, que

possam comprometer o pleno desenvolvimento escolar;

VII. Promover a comunicação, encaminhamento e resolutividade entre escolas e

unidades de saúde, assegurando as ações de atenção e cuidado sobre as condições de

saúde dos estudantes;

VIII. Atuar, efetivamente, na reorientação dos serviços de saúde para além de suas

responsabilidades técnicas no atendimento clínico, para oferecer uma atenção básica

e integral aos educandos e à comunidade (BRASIL, 2011, p.7).

A Portaria nº 1861/2008 estabelece os seguintes critérios para adesão de município ao

PSE: que o município tenha Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) menor

ou igual a 2,69 nos anos iniciais do ensino fundamental e 100% de cobertura populacional por

ESF, na competência financeira de abril de 2008; municípios com os 20 menores IDEB

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abaixo da média nacional nos anos iniciais do ensino fundamental, e os municípios que

possuam escolas que participam do programa Mais Educação3.

Estes critérios relacionados ao IDEB, a participação no Programa Mais Educação e a

atuação da ESF, focam as escolas mais vulneráveis, o que sinaliza a possibilidade deste

programa ter sido elaborado tendo como alvo a população mais pobre.

O PSE é coordenado por Grupos de Trabalho Intersetoriais, a saber: Grupo de Trabalho

Intersetorial Municipal (GTI-M); Grupo de Trabalho Intersetorial Estadual (GTI-E); Grupo de

Trabalho Intersetorial Federal (CTI-F) formado por representantes do Ministério da Educação

e da Saúde; e a Comissão Intersetorial de Educação e Saúde na Escola (CIESE).

O GTI-M é o responsável pela gestão do PSE e deve ser formado por gestores das

Secretarias de Saúde e Educação, representantes das equipes de Saúde da Família,

representantes dos educadores que atuam no PSE, representantes das escolas e da comunidade

local. Tal grupo de trabalho tem como responsabilidade: assegurar que os princípios e

diretrizes do PSE sejam respeitados pelas equipes das escolas e das Unidades Básicas de

Saúde; garantir a inclusão dos temas sobre saúde nos PPP; definir quais escolas serão

atendidas pelo PSE; propiciar a organização das propostas de desenvolvimento do PSE e sua

execução; providenciar a assinatura do Termo de Compromisso pelos secretários municipais

de Educação e de Saúde; orientar as equipes das escolas e de Saúde da Família quanto ao

preenchimento do sistema de monitoramento; definir responsabilidades entre estados e

municípios na garantia da saúde dos educandos e supervisionar a entrega do material do PSE

para as equipes de saúde e das escolas(BRASIL, 2011).

O GTI-E é o mobilizador do PSE nos municípios, visando à construção de espaços de

trocas e aprendizagens. Compete ao GTI-E: articular estados e municípios para efetivação das

ações no âmbito municipal; garantir o cuidado dos educandos identificados pelas ações do

PSE; articular as ações do PSE, do SUS e das escolas; monitorar, apoiar e avaliar as ações dos

profissionais de saúde e das escolas no desenvolvimento das ações do PSE e divulgar as

experiências exitosas entre os municípios e o PSE (BRASIL, 2011).

O GTI-F deve: “garantir a agenda da Comissão Intersetorial de Educação e Saúde na

Escola (CIESE) com representantes do Conass, Conasems, Consed, Undime, áreas da

educação e da saúde, e participação social responsável pelo acompanhamento da execução do

3Programa do Ministério da Educação e Cultura que objetiva a ampliação da jornada escolar e a organização

curricular visando à educação integral. As escolas fazem adesão ao programa para desenvolverem atividades, no

contra turno, relacionadas à educação ambiental; esporte e lazer; direitos humanos em educação; cultura e artes;

cultura digital; promoção da saúde; comunicação e uso de mídias; investigação no campo das ciências da

natureza e educação econômica.

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PSE”(Brasil, 2011, p.10); apoiar a articulação entre as Secretarias Estaduais e Municipais de

Educação e o SUS; articular as ações do PSE, do SUS e das escolas e organizar as ações do

PSE em conjunto com os profissionais de saúde e da educação, apoiando os gestores

municipais e estaduais no planejamento, na execução e na avaliação do PSE (BRASIL, 2011).

Cabe à CIESE: “propor diretrizes para a política nacional de saúde na escola” (Brasil,

2011, p.10); indicar referenciais conceituais de saúde e de educação para subsidiar a formação

inicial e continuada das equipes das escolas e dos profissionais de saúde; apoiar a integração e

articulação entre as áreas de saúde e educação nos âmbitos municipais, estaduais e federais e

acompanhar a execução do PSE (BRASIL, 2011).

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O PSE prevê a implementação de diversas ações em saúde na escola, tais como:

avaliação das condições de saúde dos estudantes; ações de promoção da saúde e prevenção de

doenças e agravos; formação de profissionais e jovens que serão multiplicadores;

monitoramento da saúde dos estudantes e do próprio programa. Essas ações devem ser

desenvolvidas de forma articulada entre a Saúde e a Educação, e com a participação das

Equipes de Saúde da Família.

A Equipe de Saúde da Família (ESF) tem papel fundamental junto aos atores

educacionais no desenvolvimento do programa de educação em saúde e na viabilização do

acesso e da parceria da escola com a Unidade de Saúde da Família. Ela recebe o apoio dos

profissionais da escola na orientação de ferramentas pedagógicas que viabilizem seu trabalho

de educação em saúde.

É muito importante a participação de toda comunidade escolar e dos profissionais de

saúde na construção do projeto do PSE, a fim de que atenda às particularidades dos mesmos.

As ações propostas neste projeto serão incorporadas ao Projeto Político Pedagógico de cada

escola conforme determina a Portaria Nº 1861 de 2008, em seu Art. 3, inciso II, alínea “e”,

que diz: “programação das atividades do PSE que deverão ser incluídas no projeto político-

pedagógico de cada uma das escolas”.

Apesar da relação dicotômica apresentada pelo PSE, o estudo realizado por Ferreira et

al (2012) demonstra que a participação dos Ministérios da Educação e da Saúde não é

equânime, havendo um protagonismo da saúde.

Das oito portarias relativas ao PSE, seis foram emitidas pelo Ministério da Saúde e

tratam sobre os recursos financeiros para as ações do programa.

O processo de adesão ao programa está centralizado no Ministério da Saúde. E a

coordenação da Comissão Intersetorial de Educação e Saúde na Escola – CIESE compete ao

representante da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, ficando a suplência a

cargo da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da

Educação.

A portaria que designa os membros para compor a CIESE não estabelece que haja

alternância nesta coordenação. Por ser uma comissão intersetorial, seria adequado que

houvesse alternância entre os Ministérios na coordenação da mesma.

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2.4 AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS

Segundo Muller e Jobert (apud Stauffer, 2007), “as políticas públicas podem ser

definidas como o “Estado em ação”, ou seja, é o Estado implementando um projeto de

governo” (Stauffer, 2007, p.17). Contudo, Stauffer (2007), ressalta que as políticas públicas

não se reduzem a políticas estatais, pois estas traduzem os conflitos que ocorrem em cada

sociedade, demonstrando a realidade desta.

Azevedo (2004) ressalta que o que é estipulado politicamente e o que é planejado pelas

e para as sociedades a nível educacional é implementado na escola e na sala de aula,

considerando o cotidiano escolar, o “elo final de uma complexa cadeia” (p.59).

De acordo com Fonseca (2009), os primeiros anos de cooperação técnica do Banco Mundial -

BM, até os anos de 1950, influenciaram os primeiros planos educativos no início dos anos 60

e a LDB 4024/61 com a proposta de educação para todos.

Percebemos como as políticas educacionais foram influenciadas pelo Banco Mundial,

gerando mudanças no contexto escolar. Essas influências foram motivadas por questões

econômicas e políticas e não por fatores apontados pela realidade vivenciadanas escolas. Isto

demonstra que a autonomia da escola é relativa ao passo que está atrelada ao poder do Estado

que define e controla a mesma por meio de seus órgãos.

A partir dos anos 1970, o BM passou a cooperar financeiramente com o Brasil

investindo em projetos na área econômica e social, como educação, saúde e desenvolvimento

rural. Este investimento ocorreu devido aos “prognósticos internacionais sobre o crescimento

acelerado da pobreza no Terceiro Mundo” (Fonseca, 2001, p. 15) o que acarretava problemas

sociais, gerando instabilidade nos países mais desenvolvidos, ou seja, o investimento era para

evitar danos aos países mais desenvolvidos e não somente para benefícios do Terceiro

Mundo.

Para Leher (1999), o fato de o BM priorizar a educação está relacionado à questão da

governabilidade – segurança. O foco do BM era garantir a segurança dos países mais

desenvolvidos. No mandato de Mc Namara, presidente deste entre 1968 – 1981, o alvo das

ações do BM se transfere para o binômio pobreza – segurança, com ação direta na educação.

Na década de 1990, o BM intensifica sua atenção no ensino elementar, objetivando a

redução da pobreza.Como podemos ver na citação de Leher (1999), extraída do documento

“Priorities and Strategies for Education: a World Bank Review” (Word Bank, 1995, p.10), a

educação é “o maior instrumento para o desenvolvimento econômico e social, para a redução

da pobreza e promover níveis de vida para o crescimento sustentável e investimento no povo”

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(p.1).Segundo o mesmo autor, a pobreza pode causar insatisfação na população, prejudicando

a realização de negócios, portanto, a mesma deve ser reduzida por meio da educação.

Nesta mesma década, o Banco financiou eventos educativos, como a Conferência

Mundial de Educação para Todos que foi orientada pelo BM, UNESCO, UNICEF e PNUD,

no sentido de consolidar a política de “reforma educacional de educação seletiva para as

massas, como política compensatória para a diminuição da pobreza” (MELO, 2003, p. 199).

Esta Conferência orientou a definição de políticas educacionais brasileiras.

Nesta década, o Banco se apresentava como única entidade que detinha os meios para

reduzir a pobreza, enfrentar o analfabetismo e implementar políticas econômicas eficazes

(Silva, 2003).

Segundo Silva (2003), pode-se constatar a influência do BM nas decisões educacionais

devido à pressão que este exerceu sobre o governo brasileiro e por meio da imposição de seu

pensamento que apresentava as seguintes características:

- “As dificuldades do governo federal de planejar a educação, percebendo-a como fator de

produção de recursos humanos necessários ao crescimento econômico desejado, assim como

por meio dela, preparar mão-de-obra qualificada” (SILVA et al, p. 287).

- Os empresários da indústria nacional vislumbraram maiores lucros com a presença das

multinacionais e com a exploração do mercado de ensino.

- “… exigências de licitações internacionais para compra de livros didáticos” (SILVA et al,

p.288) que demonstram a expansão de mercados para a venda de produtos e serviços

internacionais.

- Influenciaram o financiamento da educação propondo que o governo fosse responsável

somente pela educação básica, na época da 1ª a 8ª séries, e os demais níveis fossem oferecidos

por entidades privadas.

- Incentivaram ações “setoriais e isoladas” para melhorar a qualidade do ensino e reorganizar

o currículo, como por exemplo, os Parâmetros Curriculares Nacionais e o FUNDESCOLA4 –

Fundo de Fortalecimento da Escola.

- Privatização do ensino.

- A visão da escola como empresa, enfatizando uma relação de “eficácia entre os recursos

públicos e a produtividade do sistema escolar” (Silva, 2003, p. 288).

4

FUNDESCOLA é um programa do MEC que visa à efetivação das políticas públicas educacionais, tendo como base a gestão educacional e

o fortalecimento das escolas. Financiado pelo BM e executado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE, em parceria

com as secretarias estaduais e municipais de educação (Portal MEC, 2013).

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As organizações financeiras internacionais pressionavam o governo para reduzir os

recursos destinados à saúde, à educação, à cultura, à produção científica e tecnológica, para

que pudessem honrar sua dívida junto aos banqueiros e credores. Os recursos provenientes

dos empréstimos chegaram ao Brasil com destino certo, restando à escola somente executar as

decisões dos técnicos do Banco que se inseriram nas estruturas burocráticas criando uma

estrutura paralela à do MEC e atuando nas questões de políticas para a educação (SILVA,

2003).

Na construção da LDB nº 9394/96,5 o governo desconsiderou o debate das associações,

sindicato e movimentos populares, assumindo uma lei criada por alguns técnicos internos e

técnicos externos, ou seja, do BM.

Para o Banco, uma forma de se controlar a pobreza era inserir o pobre em atividades

consideradas produtivas e priorizar a educação básica.

Dialogando com Silva (2003), vimos que no final dos anos 80 e início dos anos 90 havia

um grande movimento por parte dos educadores, dos sindicatos e das associações de

professores para que o PPP fosse o centro das discussões e esta luta estava inserida nas

escolas. Contudo, após a aproximação do governo federal das agências financiadoras, o que

acarretou novos empréstimos para a educação brasileira, este movimento enfraqueceu (Silva,

2003). O que nos leva à conclusão de que o governo federal seguia a política dos gestores do

BM, e por meio do MEC e dos secretários de educação, as implementava.

Segundo Stauffer (2007), nos governos de Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002)

ocorreu a implementação da política neoliberal, com a concentração de poder no capital,

principalmente o internacional. Neste período, algumas ações autoritárias prejudicaram a

política educacional, tais como: a normatização do Conselho Nacional de Educação que deixa

de ser um órgão autônomo para ser um órgão colaborador do MEC; a eliminação do Fórum

Nacional de Educação; e dá a autoria do Plano Nacional de Educação exclusivamente ao

Ministério da Educação.

Ainda neste governo, de acordo com Soares (2009), muitas mudanças implementadas

coincidiram com as propostas apresentadas pelo Banco Mundial, dentre elas a concentração

dos recursos no Ensino Fundamental.

5A LDB nº 9394/96 foi sancionada após embate de dois projetos distintos, um que era fruto de debates com a sociedade e outro que era

oriundo de articulações entre o Senado e o Ministério da Educação e Cultura, sendo o segundo aprovado.

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Como pudemos perceber em nosso estudo, a abordagem da temática da saúde no âmbito

escolar vem ao longo dos anos sendo influenciada pelas demandas do governo e da sociedade,

como no início do século XX quando o Brasil passa por uma grande crise na saúde pública

com a incidência de muitas doenças. As ações sanitárias chegam às escolas ditando preceitos

e práticas que deveriam ser seguidos e assim vem sendo ao longo dos anos.

A escola sofre intervenção por meio das políticas educacionais, como vimos com a

proposta dos temas transversais, e do Programa Saúde na Escola. Esta não deve ser

responsabilizada pela solução dos problemas sociais, neste caso os problemas relacionados à

saúde. É impossível se pensar a saúde como qualidade de vida sem que haja articulação entre

as políticas sociais.

Consideramos a escola um espaço de mediações e articulações do projeto da sociedade

e do projeto individual dos atores educacionais.

2.5 - EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO BRASIL

Historicamente, no Brasil, a Educação em Saúde se constituiu como um instrumento da

política de saúde do Estado (Assis, 1992), direcionado para o “controle e prevenção de

patologias e/ou agravos à saúde” (p.6).

Ao analisar historicamente os modelos de educação desenvolvidos na área da saúde

pública, Silva et al (2010) ressaltam que estes focam uma intervenção nos problemas,

objetivando manter a “hegemonia da classe dominante” e a “manutenção da saúde da mão de

obra trabalhadora para fins capitalistas” (p.2540).

A origem da Educação em Saúde (ES) no Brasil foi influenciada pelas doutrinas

higienistas, que consideravam a doença como um problema social e estava vinculada à

higiene dos indivíduos e do ambiente, ou seja, as doenças eram relacionadas às condições de

vida da população, estas doutrinas se propagaram na Europa no século XIX, e

instrumentalizaram as instituições de educação e de saúde com uma visão de educação

higiênica.

Em meados do século XIX, as ações eram voltadas, segundo Silva et al (2010), para as

famílias da elite com o objetivo de “europeizar os costumes e urbanizar os hábitos” destas. As

classes menos favorecidas eram oprimidas pela polícia, só sendo alvo de alguma intervenção

quando suas ações atingiam a elite.

No final do século XIX e início do século XX, o Estado volta sua atenção para as

classes populares a fim de combater as epidemias de doenças que estavam prejudicando a

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exportação de café, pois devido a estas, os navios estrangeiros não aportavam nos portos

brasileiros. Assim, o governo brasileiro foca sua ação nos “espaços de circulação de

mercadorias” (SILVA et al, 2010).

Diante deste quadro, segundo Novais (1979, apud Figueiredoet al, 2010), o Estado

assume a responsabilidade de zelar pela saúde da população, através da “polícia médica”,

onde competia aos médicos tratar os doentes e controlar a vida dos indivíduos.

Segundo Moncorvo Filho (1917, apud Figueiredo, 2010), surgem no Brasil, os

primeiros estudos sobre saúde escolar a partir de 1850. Apesar de um decreto do Barão do

Lavradio, de 1889, regulamentar a inspeção das escolas públicas e privadas da corte, somente

no início do século XX a questão da higiene escolar ganha impulso.

Era atribuída à educação a função de corrigir as falhas das famílias que eram

culpabilizadas pela deficiência na saúde da criança,sendo atribuído à escola, segundo Mohr e

Schall (1992), o papel de “agente terapêutico,” e ao professor, a responsabilidade de

“transformar o mundo”.

Segundo Assis (1992), “a saúde passa a ser vista fundamentalmente como uma questão

de bons hábitos, perdendo-se de vista seus determinantes sociais, políticos e econômicos”

(p.7). A ES foi se estruturando como estratégia de controle da sociedade, onde se ditava as

normas que deveriam ser seguidas principalmente pelos menos favorecidos, sendo uma forma

de controle do Estado sobre os indivíduos/sociedade.

Em 1903, ao assumir a Diretoria Geral de Saúde Pública, o médico Oswaldo Cruz foca

o saneamento urbano na Cidade do Rio de Janeiro e o combate às epidemias por meio das

brigadas sanitárias que agiam principalmente nas áreas menos favorecidas e com maior

número populacional. As situações enfrentadas pelas epidemias geravam demandas políticas

e, consequentemente, a ação do Estado na área da saúde, porém esta, ou seja, a saúde não era

considerada um direito (SILVA et al, 2010).

Para o Estado, as doenças existiam por falta de informação da população, sendo esta

considerada incapaz de apreender as informações necessárias, o que justificava a ação

coercitiva do Estado.

As ações sanitárias chegam à escola em 1910 quando ditavam preceitos e práticas que

deveriam ser seguidos por todos, no que diz respeito à higiene. Oliveira (1911, apud Gouvêa,

2001), afirma que:

na legislação sobre o Ensino Primário, Normal e Profissional, em 1911, ficava

evidente o enfoque biológico da disciplina Higiene, quando se definia que os

programas de ensino deveriam incluir “o estudo da hygiene em sua relação com

outras sciencias como a physiologia e a bacteriologia”, destacando mais

enfaticamente a necessidade de “inspecção sanitária das escolas”. A Higiene,

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51

embora mostrasse “a importância da ventilação, cubagem e iluminação das

habitações…do acondicionamento, remoção e destruição das imundices…” e de

critérios para “a escolha do local e construção da casa”, não parecia se propor a

investigar as causas sociais dos problemas de saúde abordados (2001, p.3).

Após 1920, o modelo de saúde pública passa a focar as campanhas e o saneamento por

meio da propaganda e da educação sanitária. Esta época foi fortemente influenciada pela

ideologia eugênica que imprimiu na educação sanitária um direcionamento ideológico, ao

abordar que as pessoas brancas eram perfeitas para representarem a espécie humana.

A ES focava o desenvolvimento de uma raça sadia e produtiva por meio do controle e

direcionamento na infância, objetivando corrigir ou prevenir as falhas no comportamento, no

caráter e no desenvolvimento,com a formação de uma consciência sanitária nos indivíduos. A

partir deste momento, saúde e educação são consideradas um binômio indissolúvel.

Em 1923, ocorre a primeira reforma sanitária quando Carlos Chagas, Diretor Geral de

Saúde Pública, cria o Departamento Nacional de Saúde, ligado ao Ministério da Justiça, o que

reforça a visão de que a saúde era um caso de polícia e deveria ser tratada por meio de ações

coercitivas; sendo a educação sanitária e a propaganda incluídas nas ações de saúde.

Em 1924, surgem os pelotões de saúde para atuarem nas escolas, onde se deveria

trabalhar os hábitos físicos, os hábitos mentais de alegria, de pureza e solidariedade humana

(GOUVÊA, 2001).

Em 1925, criou-se o primeiro curso de “formação de educadores sanitários,” na

Faculdade de Higiene e Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), onde o processo

saúde/doença era estudado sob o foco das disciplinas biológicas. Muitos professores primários

participaram deste curso onde se prepararam para desenvolver a educação sanitária nas

escolas.

A partir da década de 1930, o Estado privilegia a organização de um sistema

previdenciário com foco na assistência médica do indivíduo e suas ações se direcionam para

“campanhas sanitárias e programas especiais”.

Na década de 1940, com a criação do Serviço de Saúde Pública (SESP), criou-se centros

de saúde e postos rurais para atendimento da população, introduzindo novas metodologias e

técnicas de ensino-aprendizagem nas “práticas de educação em saúde”, como a “educação de

grupos, os recursos audiovisuais e o desenvolvimento e organização de comunidades,

desencadeando ideias de participação e mobilização de indivíduos nas ações de saúde...”

(SILVA et al, 2010, p.2543).

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Nesta década, o curso de formação de educadores sanitários teve seu currículo

modificado por influência do SESP, incluindo no mesmo fatores sociais, econômicos e

culturais ao se abordar o processo saúde/doença.

Entre 1942 e 1946, o ensino de higiene passa a fazer parte do ensino primário, na

disciplina “Conhecimentos gerais aplicados à vida social, à educação para a saúde e ao

trabalho”; e no ensino secundário este tema passa a ser trabalhado no programa de Ciências

Naturais, mais especificamente na disciplina de Biologia, que abordava os conteúdos sobre

Biologia Geral, Botânica, Zoologia e Higiene. Este último, ou seja, o tema Higiene,era

composto por: (i) Saúde e doença (noções de saúde, valor da saúde, e defesa da saúde), e (ii)

Eugenia e puericultura.

Após a Segunda Guerra Mundial, ocorre a reformulação nos conceitos sobre as causas

das doenças, incluindo os aspectos sociais, econômicos e culturais, e o meio ambiente para se

tratar a questão saúde/doença. Apesar disto, a doença ainda é vista como um fenômeno

individual, sendo considerada a educação dos indivíduos a solução para a prevenção de

doenças e o caminho para a saúde.

Os programas se direcionam para enfrentar a desnutrição por meio da merenda escolar,

e para o estudo de distúrbios neurológicos ligados a problemas de aprendizagem.

Na década de 1950, ampliou-se a oferta de serviços básicos sem priorizar a qualidade

destes. E entre esta década e a de 1960, a “pedagogia” da saúde visava às inovações

tecnológicas para o controle das doenças.

A partir do ano de 1967, as ações de saúde deixam de ser chamadas de educação

sanitária passando a ser denominadas “educação em saúde” (SILVA et al, 2010). Ocorre

também uma ampliação das equipes, que passam a ser compostas por vários profissionais de

saúde.

Na década de 1970, diante da crise financeira que o país enfrentava, o Estado direcionou

sua atenção para os problemas de saúde, educação, habitação e saneamento,mas devido às

dificuldades, ele busca um “modelo alternativo de assistência médica”, recorrendo à medicina

comunitária. No final desta década, iniciam-se no Brasil “os princípios dos cuidados

primários de saúde”, tendo como referência a Conferência de Alma-Ata, destacando a

participação comunitária, os “cuidados primários de saúde” e a participação dos vários setores

da sociedade (idem).

A organização dessa nova prática médica não substituiu a medicina “científica”, que

continuou a suprir as necessidades das categorias sociais privilegiadas,compondo um sistema

de medicina de classes, ou seja, a medicina comunitária foi criada para cobrir as deficiências

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na assistência, como uma medicina de e para marginalizados. Assim, a medicina comunitária

estava direcionada às classes populares, onde os profissionais se deparavam com as situações

enfrentadas pelas mesmas e procuravam meios mais amplos de sanar os problemas de saúde.

Segundo Silva et al (2010), frente ao descaso do Estado pelos problemas populares, os

profissionais buscam soluções por meio do diálogo com as classes populares entre o saber

popular e o saber científico, baseados no método desenvolvido por Paulo Freire, gerando,

assim, novas experiências no campo da educação em saúde que configuraram a educação

popular em saúde. Esta contribuiu para a construção de abordagens “mais eficientes em

defesa da saúde e da vida da população” (SILVA et al, 2010, p.2545).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 5692, de 1971 inclui os

Programas de Saúde nos currículos plenos dos ensinos de 1º e 2º graus, atuais Ensino

Fundamental e Médio, tornando a Educação em Saúde oficial e obrigatória. O programa de

Saúde foi desenvolvido por meio de duas modalidades: a disciplina Programa de Saúde, de

responsabilidade do professor de ciências, e a Prática de Saúde que era implementada por

técnicos de saúde.

A aprendizagem deveria ser desenvolvida por meio de ações e não de explanações; fato

que, segundo Mohr e Shall (1992), não se concretizou. Elas ressaltam a falta de formação

teórica do professor no que diz respeito aos assuntos ligados à educação em saúde. Os

Programas de Saúde, na década de 80, são absorvidos pela disciplina de Ciências.

A educação popular em saúde se consolida no final da década de 80, cabendo ressaltar

que não era uma perspectiva hegemônica. Nesta perspectiva, o profissional de saúde repensa

sua prática e sua relação com a população, e busca uma integração entre o saber científico e o

popular. Nesta abordagem, haveria uma aproximação da forma de vida da população; a

ampliação da visão do processo saúde/doença; a busca de uma consciência crítica visando a

transformação da realidade social e o rompimento da subordinação ao modelo médico.

Ainda nesta década, o país continuava a passar por uma séria crise política, social e

econômica, acarretando o agravo das condições de saúde da população. Amplia-se, assim, o

movimento social que lutava pela “democratização da saúde e difundia a proposta da reforma

sanitária” (SILVA et al, 2010, p.2546) que se destacou, apresentando suas propostas na VIII

Conferência Nacional de Saúde, em 1986, considerada um marco na reforma sanitária.

Em meio a esta crise, a sociedade vive um movimento de democratização do Estado e

da sociedade. Foi um período de avanços, como a organização de movimentos sociais, o

crescimento dos sindicatos, a percepção das demandas da população e a busca pelos direitos

sociais.

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Neste mesmo período (1984), houve uma grande mobilização popular para a realização

de uma eleição direta, contudo a participação da população foi vetada, tendo sido o novo

presidente escolhido de forma indireta. Somente em 1989, houve a primeira eleição direta de

um presidente no Brasil após a abertura política.

A Conferência de Ottawa, citada anteriormente, ressaltou o conceito ampliado de saúde,

destacando a mesma como um direito de todos e dever do Estado, o que foi absorvido pela

Nova Constituição, em 1988, no capítulo da seguridade social, além de caracterizar as

diretrizes do Sistema Único de Saúde – SUS que são universalidade, equidade e integralidade.

Porém, o agravo da crise econômica impôs muitos obstáculos ao desenvolvimento da reforma

sanitária. Apesar da situação de descrédito enfrentada pelo SUS, o Congresso Nacional

aprovou a Lei Orgânica da Saúde em 1990. Esta regulou as ações e serviços da saúde em todo

território nacional, com base em cinco princípios básicos, universalidade, integralidade,

equidade, descentralização e a participação social.

Para Silva (idem), o quadro de saúde brasileiro é composto, atualmente, por duas

interfaces de relação educativa, que apresentaremos no quadro a seguir.

Quadro 3. Elaborado com base nos dados apresentados por Silva et al, 2010.

INTERFACES

EDUCAÇÃO

CARACTERÍSTICAS

EDUCAÇÃO

TRADICIONAL

EDUCAÇÃO POPULAR

Profissionais de saúde Detentores do saber Mediadores

População

Enfraquecida e responsável

pela sua condição de saúde

Autônoma, participativa

Educação Prescrita de forma vertical Relação horizontal, diálogo

educativo

Preconiza

Adoção de hábitos e

persuasão dos indivíduos a

adotarem comportamentos

saudáveis

Trabalhar

pedagogicamente o homem

e os grupos, considerando

seus saberes –

empoderamento

Representação de saúde

Desloca-se do âmbito do

direito social para de

escolha individual

Direito social

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Ao abordarem a educação em saúde, Silva et al afirmam que

Ao fazer um exame crítico abrangente da educação em saúde nas últimas décadas,

destaca-se um desenvolvimento surpreendente e uma reorientação crescente das

reflexões teóricas e metodológicas. Entretanto, essas reflexões não vêm sendo

traduzidas na prática dos serviços, acarretando um hiato entre teoria e prática.

(SILVA et al, 2010, p. 2547)

O que é compartilhado por Gazzinelli (2005).

Durante o século XX, a saúde escolar no Brasil, segundo Figueiredo et al (2010), deixa

de se basear na lógica biomédica, assumindo “a concepção da estratégia Iniciativa Regional

Escolas Promotoras de Saúde (IREPS)” (p.3) que incorpora, no final da década de 80, o

conceito de promoção da saúde com base na Carta de Ottawa, fruto da I Conferência

Internacional em Promoção da Saúde, realizada em 1996, que a definiu “como o processo que

visa aumentar a capacidade dos indivíduos e das comunidades para controlarem a sua saúde,

no sentido de a melhorar” (p. 1).

Sob o olhar de Figueiredo et al (2010), deve-se desenvolver “um trabalho articulado

entre educação, saúde e sociedade” para que haja a implantação de escolas promotoras de

saúde. A promoção da saúde, no âmbito escolar, deve integrar três componentes, a saber: 1-

“Educação para a saúde com enfoque integral, incluindo o desenvolvimento de habilidades

para a vida; 2- Criação e manutenção de ambientes físicos e psicossociais saudáveis e, 3-

Oferta de serviços de saúde, alimentação saudável e vida ativa.”(p.4).

De acordo com Silva et al (2007 apud Figueiredo 2010), as práticas educativas em

saúde devem ser organizadas e implementadas pelos atores educacionais e devem constituir o

Projeto Político-Pedagógico da escola.

Cabe ressaltar que estas práticas devem envolver os atores educacionais, compreendidos

por professores, alunos, gestores, funcionários de apoio, as famílias e a comunidade.

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para o Ensino Fundamental, fixadas pela

Resolução Nº 7 de dezembro de 2010, devem ser seguidas na organização curricular dos

sistemas de ensino e das escolas. As DCN abordam, no Art. 6, os princípios éticos, políticos e

estéticos e ressaltam nos princípios políticos a“... busca da equidade no acesso à educação, à

saúde, ao trabalho, aos bens e outros benefícios...” (BRASIL, 2010, p 2).

O Art. 12 da referida resolução afirma que os conteúdos que formam a base nacional

comum e a parte diversificada têm origem, além de outras, na área da saúde. E que temas

“abrangentes e contemporâneos”, dentre eles a saúde, devem compor a base nacional comum

e a parte diversificada do currículo, conforme estipulado no Art. 16 (BRASIL, 2010, p.5).

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Ao abordar o currículo da escola de tempo integral, as Diretrizes ressaltam que dentre as

atividades que devem ser desenvolvidas está a promoção da saúde, articulada “... aos

componentes curriculares e às áreas de conhecimento, às vivências e práticas socioculturais”

(BRASIL 2010, Art. 37, p. 11).

Em seguida, reproduziremos o quadro apresentado por Silva et al (2010) com uma

sistematização da trajetória da educação em saúde no Brasil.

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Quadro 4. Sistematização da trajetória da educação em saúde no Brasil Componentes Até anos 20 Anos 20 Anos 50 Anos 60 e 70 A partir dos

anos 80

Designação das

práticas educativas

em saúde

Não

configurada

Educação sanitária Educação para a

saúde

Educação em saúde

pública ou educação

em saúde

Educação em

saúde e

educação

popular em

saúde

Evento(s) que

influenciou(aram) a

metodologia aplicada

em tais práticas

Relatório

Flexer.

Bacteriologia

de Pasteur

Primeira reforma

sanitária brasileira

Chega ao Brasil a

Fundação SESP

(novas tecnologias

educativas)

Golpe militar no

Brasil.

Conferência de

Alma-Ata, projetos

de medicina

comunitária e

cuidados primários

em saúde

VIII

Conferência

Nacional de

Saúde e a

consolidação da

Constituição

Cidadã

Local ou espaços de

atuação

Residências,

ruas e locais

públicos

Centros de saúde,

escolas e lares

Escolas, locais de

trabalho e

comunidades

rurais

Serviços de saúde e

escolas

UBS, escolas,

conselhos e

espaços

comunitários

População-Alvo Elite urbana Famílias e

escolares

População urbana

e rural de todas as

idades

Escolares e grupos

específicos

Toda a

população

Quem era o educador Polícia sanitária Educador sanitário

e professoras

Educador sanitário

e profissionais de

saúde

Equipe de saúde

multiprofissionais

Todos

envolvidos,

incluindo a

população

Atribuições do

educador

Fiscalização Divulgar o saber

médico, higienista

e convencer as

camadas

populares a

seguirem certos

padrões de

comportamento

Práticas de

intervenção social,

informar e

planejar modos de

modificar o

comportamento e

gerar mudanças

culturais

Capacitar o educando

para o autocuidado

Buscar junto

com a

população

propostas de

solução dos

problemas

Papel do educador Controlador Divulgador e

comunicador

Interventor Treinador Mediador

Atividades

desenvolvidas pelos

profissionais da

educação em saúde

Propaganda

sanitária

(conselhos ao

povo).

Fiscalização

sanitária

Palestras,

conferências e

produção de

impressos

Educação de

grupos e trabalhos

em equipe.

Incentivo à

participação

comunitária para

suprir carências

do governo

Metodologia

centrada no educador

ou profissional, que

passa informações

sobre o autocuidado

à população

Educação

tradicional é

ainda

hegemônica,

mas a

metodologia

participativa,

baseada no

diálogo com as

classes

populares,

ganha espaço

formal nas

universidades e

políticas de

saúde

Fonte: SILVA, C. M. C.; MENEGHIM, M. C.; PEREIRA, A. C.; MIALHE, F. L. 2010

Podemos constatar diante desta sistematização que a escola é um local de atuação da

educação em saúde desde os anos 20 e que a população passa a ter papel ativo nesta somente

a partir dos anos 80, quando o educador deixa de ser o centro do processo.

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Neste contexto, buscamos identificar e analisar como a temática da saúde é inserida no

currículo escolar por meio do estudo dos PPP que são instrumentos de trabalho que legitimam

a proposta educativa e que traduzem o compromisso de todos os envolvidos; que visão de

saúde é trabalhada; se a escola se percebe enquanto promotora de saúde; se a temática da

saúde é abordada como tema transversal.

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CAPÍTULO 3 METODOLOGIA

O termo pesquisa vem sendo usado com muita frequência em vários espaços diferentes,

e sob os olhares de Lüdke e André (1986), ele é considerado um momento especial que une o

pensamento e a ação de um indivíduo ou de um grupo, com o intuito de construir o

conhecimento de partes da realidade que irão orientar na solução de problemas.

Conhecimento este gerado pela “inquietação”, “inteligência” e ação investigativa das pessoas,

com base nos conhecimentos já construídos e na busca de sua ampliação.

O presente trabalho é uma análise documental, realizada com base na metodologia de

pesquisa qualitativa e tendo como referência a análise de conteúdo.

A pesquisa qualitativa, segundo Minayo (2003), trabalha com o “universo de

significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço

mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à

operacionalização de variáveis” (p.22).

Poderemos, segundo Bogdan (1994), compreender melhor a experiência humana, o

processo de construção de significados, possibilitando a descrição, análise e interpretação das

abordagens da temática de saúde representadas nos PPP. Estes, por meio da linguagem,

expressam os conceitos, os pensamentos, ideias, significados e propostas construídas pelos

atores educacionais que são a base do estudo.

Dentre os métodos de investigação, destacamos a análise documental que é considerada

por Lüdke e André (1986) como uma “técnica valiosa de abordagem de dados qualitativos,

seja complementando as informações obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos

novos de um tema ou problema” (p.38)

Guba e Lincoln (apud Lüdke e André, 1986) destacam como vantagens na utilização de

documentos o fato de eles serem uma fonte estável e rica, que podem ser consultados em

vários momentos e por diferentes pesquisadores, respaldando os resultados obtidos. Eles são

uma fonte “natural” de informação, compondo um contexto e fornecendo dados sobre este

mesmo contexto. São uma fonte “não reativa,” possibilitando colher os dados quando o

acesso ao sujeito é inviável. Eles podem apontar problemas que necessitam de um maior

aprofundamento por meio de outros métodos, e possibilitam o acréscimo de dados por outras

técnicas de coleta.

Como metodologia para a coleta e análise dos dados, orientamo-nos pela análise de

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Conteúdo (AC), com base na metodologia proposta por Bardin (2011) que a define como

um conjunto de técnicas de análise de comunicações visando obter por

procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens

indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos

relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens.

(p.48)

Métodos de análise de conteúdo podem ser considerados muito antigos, já utilizados na

arte de entender os textos sagrados, onde se buscava interpretar as mensagens apresentadas

nos textos.

Em 1640, na Suécia, foi feito um estudo dos hinos religiosos, objetivando descobrir os

efeitos destes nos Luteranos, quando se analisou os temas religiosos, valores, modalidades de

aparição e complexidade estilística.

Segundo Bardin (2011), entre 1888 e 1892, o francês B. Bourbon estudou a expressão

das emoções e das tendências na linguagem, tendo como base o Livro do Êxodo.

Entre 1908 e 1918, os professores Thomas e Znaniecki, estudaram a integração dos

emigrantes polacos na Europa e nos Estados Unidos, por meio da análise de cartas, diários,

relatórios oficiais e artigos de jornal.

Em 1915, foi atribuída a H. Lasswell a utilização desta metodologia ao realizar análises

de matérias de imprensa e propaganda. Desde então, a AC vem se desenvolvendo como

método científico e sendo adotada com muitos propósitos, sendo seu campo de aplicação

muito vasto, podendo ser utilizada para analisar entrevistas, documentos, propagandas,

discursos, rede de comunicações de uma empresa, sinalizações, grafites, histórias… (Bardin,

2011). Pois, segundo P. Henry e S. Moscovici (1968 apud Bardin, 2011), “tudo o que é dito

ou escrito é suscetível de ser submetido a uma análise de conteúdo” (p.38).

O foco deste método não está na descrição dos conteúdos, mas sim nos conhecimentos

produzidos após a interpretação destes conhecimentos, objetivando descobrir o que está

oculto pelos conteúdos expressos.

Esses conhecimentos, produzidos a partir dos conteúdos, podem, segundo Bardin

(2011), ser de natureza psicológica, sociológica, histórica, econômica…

Ao realizar a análise, busca-se uma correspondência entre as estruturas semânticas ou

linguísticas e as estruturas psicológicas ou sociológicas das mensagens. Ao efetuar a leitura, o

analista não realiza somente a leitura “à letra”, mas busca o sentido que está em segundo

plano, objetivando descobrir outros “significados” de natureza psicológica, sociológica,

política, histórica, etc. (Bardin, 2011).

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Segundo a mesma autora, aparentemente, a linguística e a AC têm o mesmo objeto, a

linguagem, porém recorre a F. de Saussure para marcar a diferença, utilizando a distinção

entre língua e fala proposta pelo mesmo. O objeto da linguística é a língua, ou seja, “o aspecto

coletivo e virtual da linguagem”, ao passo que a da AC é a fala, ou seja, “o aspecto individual

e atual (em ato) da linguagem” (Bardin, 2011, p. 49). A AC visa a fala, isto é, a prática da

língua efetuada por indivíduos identificáveis em um contexto específico.

A linguística estuda a língua objetivando descrever seu funcionamento. A AC visa

conhecer o que está por trás das palavras. A linguística “é um estudo da língua, a análise de

conteúdo é uma busca de outras realidades por meio das mensagens” (Bardin, 2011, p. 50).

Como vimos em Souza (2009, apud Monteiro, 2011), a análise de conteúdo

“representa uma intenção de analisar um ou mais documentos, com o propósito de

inferir o seu conteúdo imanente, profundo, oculto sob o aparente; ir além do que está

expresso como comunicação direta, procurando descobrir conteúdos ocultos e mais

profundos”. (p.264)

A investigação por meio da análise de conteúdo é formada por três etapas:

1 – A pré-análise – é a fase de organização da investigação.

Segundo Bardin (2011), esta fase pode ser dividida em três funções: a escolha dos

documentos que serão analisados, a elaboração das hipóteses e dos objetivos e a organização

de indicadores que deem suporte para a “interpretação final”.

Nesta pesquisa não trabalhamos com hipóteses. E traçamos como objetivos: Identificar

e analisar a abordagem do tema saúde e as ações propostas nos projetos político-pedagógicos

das escolas; compreender a inserção do componente curricular “saúde” como tema transversal

nos projetos político-pedagógicos; e compreender as interfaces entre as propostas presentes

nos projetos político-pedagógicos e os pressupostos e ações previstos pelo Programa Saúde na

Escola.

Com base em nosso referencial teórico e na leitura flutuante dos documentos,

elaboramos algumas categorias que orientaram nossa análise e interpretação do tema

abordado, a saber:

Conceitos atribuídos à saúde: conceito ampliado e modelo biomédico.

A prevenção da doença na escola: propostas de trabalho com conhecimentos

vinculados à orientações normativas de mudanças de hábitos.

A promoção da saúde na escola: propostas de trabalho com conhecimentos

vinculados ao ambiente, à política, à economia; à história, às condições de vida e

de trabalho e a mudança social.

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Intersetorialidade: orientação do trabalho em cooperação com instituições de

saúde, esporte, lazer, representação e participação política.

Transversalidade da temática da saúde: propostas de trabalho disciplinares,

interdisciplinares.

2 – Exploração do Material

Nesta, foi realizada a codificação, decomposição ou enumeração do corpus selecionado.

A codificação pode ser vista, segundo Holsti (1969, apud Bardin, 2011), como “o

processo pelo qual os dados brutos são transformados sistematicamente e agregados em

unidades que permitem uma descrição exata das características pertinentes do conteúdo” (p.

133).

3 – Tratamento dos resultados obtidos e interpretação

Os resultados são trabalhados para serem “significativos e válidos”; foram interpretados

com base nos objetivos propostos e em descobertas recentes.

Buscamos a autorização da Secretaria Municipal de Educação de Duque de Caxias, no

que fomos prontamente atendidas.

Ao iniciarmos a pré–análise, percebemos que algumas escolas não haviam elaborado

seus PPP e que algumas estavam em processo de reformulação dos mesmos, então, diante da

incerteza da existência e da quantidade destes, optamos por realizar a leitura de todos os PPP

existentes, ou seja, contemplando os das escolas de 1º e 2º segmentos do Ensino Fundamental,

totalizando 57escolas, sendo 37 das escolas do 1º segmento, 5 das escolas do 2º segmento e

16 das escolas dos 1º e 2º segmentos.

Com a leitura, descartamos os PPP que não abordavam a temática da saúde, chegando

ao total de 26 que abordavam a temática, sendo 17 das escolas do 1º segmento, 1 da escola do

2º segmento e 8 das escolas do 1º e 2º segmentos.

Cabe ressaltar que o município possui 141 escolas, sendo 87 do 1º segmento; 06 do 2º

segmento e 48 com 1º e 2º segmentos.

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Gráfico 2: demonstrativo de escolas por segmento, que possuem PPP e abordam a temática da saúde

A primeira fase consistiu no manuseio dos documentos quando nos familiarizamos com

o texto, assim o pesquisador se deixa “invadir por impressões e orientações” que é

denominada leitura flutuante (Bardin, 2011).

Ao realizarmos a leitura flutuante dos PPP existentes, buscamos a abordagem da

temática por meio do uso do termo saúde e da alusão à mesma, ou seja, a identificação de

aspectos relacionados a esta, delimitando as mensagens que serão analisadas, ou seja, as

unidades de registro e de contexto. Delimitamos as unidades de contexto que são compostas

por parágrafos, itens, frases dos PPP onde o tema saúde é abordado. Estas foram copiadas ou

reprografadas. E as unidades de registro, que se encontram em negrito no próximo capítulo,

são as frases, palavras selecionadas por meio da decomposição da mensagem.

As unidades de contexto servem como unidades de compreensão que situam as

unidades de registro em uma “referência mais ampla”, ou seja, evidenciando o contexto do

qual fazem parte as unidades de registro.

Segundo Bardin (2011), o tema “é a unidade de significação que se liberta naturalmente

de um texto analisado segundo certos critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura”

(p.135).

O texto pode ser dividido em ideias, em enunciados e em proposições com significados

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1º Segmento 2º Segmento 1º e 2ºSegmentos

Nº Escolas

PPP

Temática

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isoláveis. Para M. C. d’Unrug (1974, apud Bardin, 2011), o tema é

(…) uma unidade de significação complexa, de comprimento variável; a sua

validade não é de ordem linguística, mas antes de ordem psicológica: podem

constituir um tema tanto uma afirmação como uma alusão; inversamente, um tema

pode ser desenvolvido em várias afirmações (ou proposições). Enfim, qualquer

fragmento pode remeter (e remete geralmente) para diversos temas…(p.135).

A análise temática é composta pela busca dos “núcleos de sentido” que formam uma

comunicação e sua presença ou frequência no texto, podem ter algum significado para o

objetivo analítico proposto (Bardin, 2011). Estes núcleos de sentidos têm relação com os

temas ou unidades de contexto.

Após a delimitação das unidades de contexto e de registro, agrupamos as mesmas de

acordo com as categorias elaboradas.

Procedemos à análise e interpretação das unidades, de acordo com as categorias

elaboradas e com os objetivos propostos, quando se efetivou o diálogo entre o referencial

teórico e os dados da pesquisa. As escolas foram nomeadas por letras para não serem

identificadas. Apresentaremos no próximo capítulo os resultados e a discussão destes dados.

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CAPÍTULO 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Por ser o PPP o eixo norteador da escola que traduz todo o trabalho pedagógico da

mesma, buscamos identificar e analisar neste a abordagem do tema saúde e as ações propostas

neste âmbito. Neste capítulo, iremos apresentar e discutir os resultados da pesquisa. Primeiro

apresentamos o município onde realizamos a pesquisa e alguns dados sobre os cinquenta e

sete PPP estudados.

Após, expomos as unidades de análise, sendo, as unidades de contexto que estão

organizadas nos quadros de acordo com as categorias elaboradas, e as unidades de significado

que se encontram em negrito; seguidos da discussão destas.

O município de Duque de Caxias está situado na Região Metropolitana do Rio de

Janeiro, localiza-se na Região da Baixada Fluminense, com uma população estimada em

867.067 habitantes (IBGE, 2013), sendo o terceiro município mais populoso do estado e o

mais populoso da Baixada Fluminense.

O povoamento deste município iniciou-se no século XVI. Ele era um importante ponto

de passagem das riquezas oriundas do interior como ouro e o café. (AMARO, 2012)

Até o século XIX, o município prosperou, sendo notável seu progresso. Porém, em 1850

com a grande devastação das matas, os rios foram obstruídos e transbordaram, favorecendo a

formação de pântanos. Com as águas paradas e poluídas, muitas doenças surgiram, o que

acarretou na fuga dos senhores de engenho e, consequentemente, o abandono das

propriedades,permanecendo assim por muitas décadas.

O município começa a se recuperar em 1911, com a expansão da malha ferroviária

perpassando várias localidades deste.

Entre 1910 e 1920, o município teve um grande crescimento populacional, acarretando

o loteamento das antigas propriedades rurais que estavam improdutivas.

Com a abertura da Rodovia Rio - Petrópolis, hoje Rodovia Washington Luís, em 1928,

o município retomou seu crescimento com a instalação de várias empresas na região, devido à

proximidade com o município do Rio de Janeiro.

Devido ao seu crescimento, ele passa a ser chamado Distrito de Caxias, em 14 de março

de 1931, e eleva-se à categoria de município em 31 de dezembro de 1943.

Com esta emancipação, sua economia cresceu. Ocorreu uma grande migração,

principalmente de nordestinos que vinham em busca de trabalho no Rio de Janeiro e se

estabeleciam em Caxias. Sua área de 467.619 Km² está dividida em quatro distritos: Duque de

Caxias (1º Distrito), Campos Elíseos (2º Distrito), Imbariê (3º Distrito) e Xerém (4º Distrito).

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O primeiro e o segundo distritos possuem caráter urbano, enquanto o terceiro e quarto

distritos são mais rurais. O município possui quarenta e um bairros.

Desde sua emancipação, o município vem crescendo economicamente tendo o comércio

e a indústria como principais atividades. É o sexto maior Produto Interno Bruto (PIB) do

Brasil e o segundo maior do Rio de Janeiro, devido à existência de várias indústrias (cerca de

810) dos seguintes segmentos: químico, petroquímico, metalúrgico, gás, plástico, mobiliário,

têxtil e vestuário, e da REDUC (Refinaria de Duque de Caxias), uma das maiores refinarias da

Petrobrás e de um pólo gás-químico. Conta ao todo com 13.714 empresas atuando no

município.

Apesar de todo este crescimento, Caxias enfrenta vários problemas sócio- econômicos e

ambientais como a poluição do ar, lançamento de lixo nos rios e a favelização. Até o ano de

2012, possuía o maior aterro sanitário da América Latina,conhecido popularmente como o

Lixão de Gramacho.

Duque de Caxias possui taxa de analfabetismo de 8%, sendo a taxa de analfabetismo

nacional de 8,7% (IBGE, 2013); com cinco instituições de ensino superior – Universidade

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Fundação Educacional de Duque de Caxias (FEUDUC);

Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBEF/UERJ); Universidade do Grande Rio

(UNIGRANRIO); Universidade Estácio de Sá. Possui também duas escolas federais, o

Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, e Colégio Pedro II. Sua

rede de ensino conta com cento e duas escolas estaduais, cento e setenta e três escolas e

creches municipais, com 82.092 mil alunos matriculados; e cento e vinte e oito escolas

particulares.

No estudo realizado dos cinquenta e sete PPP das escolas municipais de Duque de

Caxias, constatamos que não existe uma padronização dos mesmos, ou seja, cada escola

organiza seu PPP da forma que julgar ideal. Encontramos documentos amplos, chegando a

300 páginas e outros muito restritos, com cinco páginas. Com isso não queremos dizer que

estes deveriam ser padronizados ou idênticos, mas sim que a base do documento deveria ser

comum a todos para demonstrar a proposta de trabalho de cada unidade, explicitando suas

dimensões filosófica, política, organizacional e pedagógica.

Em sua maioria, os PPP apresentam um breve histórico da escola; uma pequena

descrição da comunidade, na qual a escola está inserida; uma relação nominal ou numérica

dos funcionários que atuam na unidade.

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Alguns apresentam uma parte introdutória abordando a proposta de trabalho da escola,

com base em alguns teóricos; uma relação contendo as necessidades de materiais

permanentes, de consumo e obras estruturais.

Poucos documentos estão assinados; muito poucos são assinados pela equipe toda, e

apresentam fotos dos alunos participando de atividades realizadas.

Dos vinte e seis PPP selecionados por abordarem à temática da saúde, dezesseis foram

atualizados no ano de 2012, sendo as escolas A, B, C, E, F, H, I, J, K, O, P, Q, S U, W, Y;

quatro foram atualizados no ano de 2011, as escolas M, N, R, V e dois em 2010, as escolas L

e Z. Quatro PPP, das escolas D, G, T, X não apresentavam data.

Dentre estes, sete são de escolas do 1º Distrito, Duque de Caxias; seis são de escolas do

2º Distrito, Campos Elíseos; onze são de escolas do 3º Distrito, Imbariê; e dois são de escolas

do 4º Distrito, Xerém.

4.1 – A TRANSVERSALIDADE NO PROJETO POLÍTICO- PEDAGÓGICO

4.1.1 – Saúde como tema disciplinar e multidisciplinar

Constatamos que a temática da saúde está relacionada como competência da disciplina

de Ciências em seis unidades (escolas A, I, M, Q, R, X), como veremos a seguir.

Escola A: Apresentação das Metas para 2011 – 2012, no 5º ano de escolaridade, em Ciências

Naturais: Conhecer o corpo humano e ter noções de saúde.

Escola I: No planejamento anual (sem data) da disciplina de ciências, apresenta como

conteúdo do 1º ano Saúde física, social e mental; do 4º e 5º anos Higiene e saúde; e do 5º ano

Alimento como fonte de nutrição e saúde.

Escola M: Apresenta como objetivos específicos da disciplina de ciências: Perceber a relação

entre nutrição e saúde; perceber a importância de preservar a saúde física, mental e

social; perceber a relação entre nutrição e saúde; compreender o corpo como uma

totalidade que envolve saúde física, psíquica e social.

Escola R: Apresenta como objetivos conceituais na área de ciências: Conhecer alguns meios

de transmissão e prevenção de doenças; identificar medidas de higiene pessoal e

ambiental.

Nos objetivos procedimentais: Fazer uso de sabonetes, escovas e pastas de dente,

percebendo a importância destes hábitos para a saúde pessoal.

Nos objetivos para o 5º Ano: Compreensão do corpo humano como um modo integrado e a

saúde como bem-estar físico, social e psíquico do indivíduo.

Escola X: Apresenta como objetivos da disciplina de ciências: Utilizar-se do conhecimento

construído sobre hábitos de higiene e alimentares como medidas de preservação da

saúde; experimentar as medidas de preservação da saúde e de atitudes e cuidados com o

próprio corpo e do outro.

Escola Q:Ao relatar o Projeto sobre Saúde na escola apresenta como a 5ª etapa do projeto

palestras com os professores de ciências com o objetivo de Apresentar aos alunos as

diversas etapas do desenvolvimento dos dois sexos, principalmente quanto aos aspectos

físicos, e criar o primeiro espaço específico para o esclarecimento de dúvidas.

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Em cinco unidades, a temática da saúde aparece como competência das disciplinas de:

Matemática, Educação Física e como integrante do plano de trabalho da escola e dos

professores (plano de curso), como veremos a seguir:

Escola R: Enumera como objetivos conceituais, em seu plano de curso para o 3º ano, na

disciplina de Matemática: Perceber a correspondência entre saúde e preservação do meio

ambiente; compreender a importância de uma alimentação saudável, da higiene pessoal e

ambiental para manutenção da vida; identificar maneiras de prevenir doenças. Nos

objetivos atitudinais: desenvolver o senso crítico diante da oferta de alimentos e

considerando os reais benefícios destes para a saúde.

Escola W:Apresenta como conteúdo a ser trabalhado no Projeto Educação Física para todos:

cuidados com o corpo e com a saúde e o debate interativo sobre DSTs e AIDS.

Escola A: Apresenta as Metas para 2011 – 2012, tendo como um dos objetivos da disciplina de

Matemática, para o 4º ano: Conhecer compreender a importância, aplicar e multiplicar

hábitos de higiene, preservação ambiental, ecossistema e corpo humano.

Escola B: Apresenta como Atividades Esportivas e Culturais a promoção de saúde

(alimentação, higiene, exercícios físicos) através do esporte.

Escola V: Relata que a equipe de docentes desenvolveu o tema “saúde bucal” em seu

currículo. E prevê a Incorporação de temas relevantes à saúde como parte dos projetos

pedagógicos de modo a garantir a realização, durante o ano letivo, de atividades

pedagógicas previstas no plano de trabalho da escola e dos professores (plano de curso),

sobre temas referentes à saúde envolvendo a comunidade escolar (pais, família,

professores).

Não encontramos nestes PPP nenhuma indicação do desenvolvimento das propostas

apresentadas pelas escolas R, W, A, B, V.Não conseguimos elaborar como a disciplina de

matemática (Escola A) conseguirá alcançar o objetivo proposto, isto é, quando se refere a

“aplicar e multiplicar hábitos de higiene”.

Apesar de a saúde ser apresentada como tema transversal pelos PCN, vimos em

Lomônaco (2004) que “Os conteúdos relacionados à saúde ainda são parte integrante do

ensino de Ciências ou trabalhados pontualmente por meio de projetos” (p.12), conforme

podemos constatar nas unidades de análise apresentadas no quadro acima. A disciplina de

Ciências historicamente discute as questões relacionadas à saúde. Já na década de 1940 o

ensino de higiene integrava o programa de Ciências Naturais, mais especificamente a

disciplina de Biologia.

Com a LDB Nº 5692/71, os Programas de Saúde são incluídos nos currículos e passam

a ser desenvolvidos pela disciplina Programa de Saúde, cujo responsável era o professor de

Ciências.

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Como vimos em Yus (1998), os temas transversais são “um conjunto de conteúdos

educativos e eixos condutores da atividade escolar” (p.17) e a saúde deveria ser comum a

todas as disciplinas, compondo o currículo escolar.

Ao compor o currículo escolar, a temática da saúde pode ser abordada em dois sentidos:

cruzando todas as áreas de conhecimento, compondo todas as disciplinas, e pode transpassar

os conteúdos curriculares, quando aparece como eixo centralizador da aprendizagem

agrupando em torno de si as disciplinas (GAVIDIA, 2002).

A transversalidade pode seguir qualquer direção, sem hierarquia, articulando várias

“policompreensões” (Gallo, 2000), impregnando os conteúdos com os temas transversais.

A transversalidade pode viabilizar, na prática educativa, a aprendizagem de

conhecimentos teoricamente sistematizados, isto é, aprender sobre a realidade e a realidade e

sua transformação, ou seja, aprender a realidade da realidade (BRASIL, 1998). Neste sentido,

a transversalidade pode proporcionar a aprendizagem de conhecimentos produzidos

cientificamente sobre a saúde e os conhecimentos produzidos e vivenciados na realidade pelos

indivíduos.

Para Bonfim et al, (2013), os PCN oferecem poucos elementos ao educador e para a

transversalidade, demonstrando poucas “pistas de ação”, não orientando adequadamente o

educador para trabalhar a saúde como um tema transversal.

Os temas transversais possibilitam a discussão de temas sociais na escola, que devem

compor o currículo escolar, por meio da abordagem em todas as disciplinas, de forma

contínua e sistemática por toda a escolaridade.

Como podemos constatar, somente duas disciplinas, Matemática e Educação Física,

trabalham a temática da saúde, além da disciplina de Ciências, como vimos no item anterior.

O que demonstra uma apropriação incipiente da temática da saúde.

Segundo Gavidia (2002), os temas transversais serão trabalhados corretamente quando

forem considerados integrantes do projeto curricular e da reflexão, a fim de que todos os

temas contribuam para a formação e educação dos alunos.

Como percebemos a temática da saúde não é abordada como tema transversal, ela

aparece como tema de competência da disciplina de Ciências, como vimos nas escolas A, I,

M, R, X,Q. Como por exemplo: Metas em Ciências Naturais: conhecer o corpo humano e ter

noções de saúde (A); conteúdo da disciplina de Ciências – saúde física, social e mental,

Higiene e Saúde, Alimentos como fonte de nutrição e saúde (I); objetivos da disciplina de

ciências: perceber a relação entre nutrição e saúde, preservar a saúde física, mental e social,

relação entre nutrição e saúde, corpo como uma totalidade que envolve saúde física, psíquica

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e social (M); transmissão e prevenção de doenças, higiene pessoal e ambiental, uso sabonetes,

escovas e pastas de dentes, percebendo a importância destes hábitos para a saúde pessoal,

corpo humano como um modo integrado e a saúde como bem estar físico, social e psíquico do

indivíduo (R); objetivos da disciplina de ciências: hábitos de higiene e alimentares como

medidas de preservação da saúde, preservação da saúde e de atitudes e cuidados com o corpo

(X); professores de ciências apresentarem aos alunos as etapas do desenvolvimento dos dois

sexos (Q).

4.1.2 – Saúde como tema de projetos, palestras, eventos e oficinas

Escola K: Relata que houve um encontro para formação de professores que definiu como tema

do PPP “Cuidar do Direito de Aprender na Perspectiva dos Direitos Humanos”, quando

“sugeriram propostas de intervenção em quatro eixos de trabalho: Direitos Humanos,

Protagonismo Juvenil, Inclusão e Saúde e meio ambiente”. Lista os “Projetos que serão

realizados pela unidade escolar em 2012” No eixo Saúde e Meio Ambiente apresenta

como “Projeto Saúde é o que interessa!”

Escola L:Apresenta no item “Temas transversais: atividades pedagógicas comuns” que “A

partir do tema central deste PPP: “A escola conscientizando e prevenindo o aquecimento

global, visando a vida saudável”, elaboramos quatro projetos pedagógicos, com duração de

um bimestre cada um, onde se destacam os temas transversais que foram escolhidos de

acordo com a época do ano mais apropriada para a realização destas atividades extra

curriculares, e eventos festivos descritos abaixo, culminando as etapas do projeto maior.”

Apresentam os projetos pedagógicos, distribuídos por bimestres, sendo: no 1º bimestre –

“Defender e cuidar do meio ambiente é melhorar a qualidade de vida”, dentre os temas estão:

“Semana da Alimentação e Saúde” e “Prevenção e cuidado contra a Dengue e a gripe A;” e no

2º bimestre – “Cuidando do meu corpo e da minha saúde, com os temas: “Homenagem e

Valorização ao Dia das Mães e Dia da Mulher; Copa de Matemática; Meio ambiente; Festa na

Roça; Copa de Leitura.”

Escola Q: Relata nos “Planos de Ações,” no sub-item “Elevar a qualidade do ensino-

aprendizagem: Promover eventos educativos relacionados ao Meio Ambiente, Alimentação

saudável, Saúde, Carnaval, Páscoa, Dia das Mães, Festa Junina, Folclore, Dia das Crianças,

Formatura do X Ano de escolaridade, através de apresentação teatral, aulas passeio, gincanas,

Olimpíadas, Feira Cultural, Comemorações e Exposições de trabalhos em todas as áreas do

conhecimento”

Escola D: apresenta no item “Ações,” dentre outras: “Realizar palestras envolvendo os

temas: drogas, DSTS, segurança, doenças epidemiológicas”

Escola Z: Apresenta o Projeto Anual, e define para o 1º semestre, trabalhar os temas

“Valores humanos; Educação: princípios básicos; Valorização das relações interpessoais;

Desperdício; Saúde; Higiene; Copa do Mundo; Alimentação e esporte; Direitos; Meio

Ambiente”, por meio de “Oficinas multidisciplinares de 21 a 25 de junho”

As escolas K, L, Q, D e Z abordam a temática da saúde por meio de projetos, palestras,

eventos e oficinas e não como tema transversal e parte integrante do currículo escolar, como

proposto pelos PCN, conforme abordamos no item 4.1.1.

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Percebemos que a saúde é trabalhada em atividades pontuais como: projetos, escolasK (

Projeto Saúde é o que interessa) e L ( elaborou quatro projetos, no 1º bimestre “Defender e

Cuidar do meio ambiente é melhorar a qualidade de vida”, dentre os temas abordados estão:

Semana da Alimentação e Saúde, Prevenção e Cuidado contra a Dengue e a Gripe A, e no 2º

bimestre – “Cuidando do meu corpo e da minha saúde”; eventos, escola Q (Promover eventos

educativos relacionados ao meio ambiente, alimentação saudável e saúde); palestras, escola D

(Realizar palestras envolvendo os temas: drogas, DSTS, segurança, doenças e

epidemiológicas) , e oficina, escola Z (Trabalhar os temas: ...saúde, por meio de Oficinas

Multidisciplinares). Chegando a ser considerada como uma atividade extra curricular, escola

L.

4.1.3 – Os temas transversais

Em três unidades encontramos a menção dos temas transversais:

Escola D: Enumera as ações que serão desenvolvidas, dentre elas: Abordar os temas

transversais

Escola L: Apresenta as atividades planejadas e no item 4.4 – Temas transversais: atividades

pedagógicas comuns – A partir do tema central deste PPP: “A escola conscientizando e

prevenindo o aquecimento global, visando a vida saudável”, elaboramos quatro projetos

pedagógicos, com duração de um bimestre cada um, onde se destacam os temas transversais

que foram escolhidos de acordo com a época do ano mais apropriada para a realização destas

atividades extra curriculares, e eventos festivos. São eles: 1º bimestre – Defender e cuidar do

meio ambiente é melhorar a qualidade de vida: dentre as atividades: Semana de Alimentação

e Saúde; prevenção e cuidado contra a Dengue e a grupe A (H1N1 Suína). 2º bimestre -

Cuidando do meu corpo e da minha saúde: dentre as atividades: Meio ambiente: entrega de

mudas. 3º bimestre – Reconhecendo a diversidade da cultura afro-descendente, sua influência e

importância na colonização. 4º bimestre – Agradecendo e valorizando o criador pelo dom da

vida.

Escola U: Apresenta o Projeto Pedagógico 2008 – Escola Cidadã, propondo que as questões

sociais sejam apresentadas aos alunos como defende PCN – apresentação temas transversais

e ético. Temas a serem abordados: cidadania, ética, pluralidade cultural, meio ambiente

(preservação, equilíbrio ambiental, etc), saúde (atitudes favoráveis e desfavoráveis à nossa

saúde), inclusão social.

As escolas D e L fazem menção aos temas transversais, mas não apresentam os

mesmos, nem como serão trabalhados e por quem. A escola L aborda os temas transversais

como atividades extra curriculares quando os mesmos devem integrar os currículos, segundo

os PCN, “elaboramos quatro projetos pedagógicos, com duração de um bimestre cada um,

onde se destacam os temas transversais que foram escolhidos de acordo com a época do ano

mais apropriada para a realização destas atividades extra curriculares”.

A escola U somente menciona que a saúde deve ser abordada como tema transversal.

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A questão da alimentação saudável é destacada em onze PPP

Escola P: Aborda a implementação do PSE com os temas: Alimentação Saudável, Meio

Ambiente, Práticas corporais, combate às drogas, cultural

Escola B: Enumera em suas atividades esportivas e culturais a Promoção de saúde

(alimentação, higiene, exercícios físicos) através do esporte.

Escola Q: ao apresentar o PSE relata: atividades voltadas à preservação da saúde bucal e

orientação à alimentação saudável.

Escola U: Enumerar os temas propostos no Projeto Pedagógico 2012, entre eles

Saúde/alimentação saudável/prática de esportes.

Escola L: Apresenta a Semana da Alimentação e Saúde como uma das atividades do projeto

pedagógico “Defender e cuidar do meio ambiente é melhorar a qualidade de vida”.

Escola V: Dentre as atividades a serem desenvolvidas pelo PSE, a escola propõe o

desenvolvimento de hábitos saudáveis: Importância da alimentação saudável para a

manutenção da saúde geral e da saúde bucal.

Escola R: Em sua proposta curricular, relaciona como habilidade Reconhecer-se como

elemento integrante do ambiente, adotando hábitos saudáveis de higiene, alimentação e

atividades corporais, relacionando-os com efeitos sobre a própria saúde e da maioria da saúde

coletiva

Escola M: Apresenta no Projeto didático de trabalho 2011, a atividade: elaborar Listas de

alimentos saudáveis.

Escola X: Apresenta como objetivos da disciplina de ciências: Utilizar-se de hábitos

alimentares saudáveis

Escola O: Relata em sua proposta de atividades para o 4º ano abordar a Saúde da mente e do

corpo – Alimentação Saudável

Escola T: Relata como prioridade, entre as atividades a serem desenvolvidas, abordar A

alimentação saudável tem por objetivo a alimentação ou nutrição, o comer bem e de forma

equilibrada para que os adultos mantenham seu peso o as crianças tenham bom

desenvolvimento físico e intelectual dependendo de bons hábitos alimentares. Essa alimentação

envolve a escolha de alimentos visando garantir uma saúde plena.

Pensamos que a recorrência deste tema deu-se porque a obesidade infantil e do

adolescente foi abordada como tema da Campanha do PSE, no ano de 2012. E como este

problema vem se agravando, os Ministérios da Saúde e da Educação optaram por mantê-lo

como foco do PSE no ano corrente (2013).E também, porque a escola tem sido um dos

espaços mais visados pelas políticas públicas de alimentação e nutrição, visando a

alimentação saudável. A Portaria Interministerial MS/MEC Nº 1010/2006 instituiu as

diretrizes para a promoção da alimentação saudável na Educação Infantil, no Ensino

Fundamental e Médio das redes públicas e privadas em âmbito nacional. E o Programa

Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), instituído em 1955, focaa promoção da

alimentação saudável no espaço escolar.

As escolas abordam a questão da alimentação saudável sem, contudo, abordar a situação

econômica dos alunos. A escola T fala em “escolha” de alimentos.Questionamos se de fato é

uma questão de escolha, quando muitas vezes as crianças não têm o que comer, quanto mais

escolher.

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Não percebemos a saúde abordada de fato como um tema transversal, conforme

proposto pelos PCN. Além dos PCN, que são um conjunto de orientações e recomendações

para assessorar o trabalho dos professores e não têm caráter obrigatório, encontramos nas

Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para o Ensino Fundamental, que devem ser seguidas

na organização curricular dos sistemas de ensino e das escolas, que temas “abrangentes e

contemporâneos”, dentre eles a saúde, devem compor a base nacional comum e a parte

diversificada do currículo (BRASIL, 2010).

Como vimos em Yus (1998), os temas transversais, como um conjunto de conteúdos

educativos, devem ser comuns a todas as disciplinas, o que não encontramos em nossa

análise, pois somente as disciplinas de Ciências, Matemática e Educação Física abordam a

temática da saúde.

4.2 – A INTERSETORIALIDADE NO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO

Dentre os princípios norteadores das práticas de promoção da saúde temos, segundo

Westphal (2006), a intersetorialidade que foca a questão da saúde como o centro do processo

do desenvolvimento social, que se efetivará por meio da articulação das políticas de educação,

habitação, assistência, trabalho, da reorientação dos serviços profissionais e das instituições

de saúde.

A intersetorialidade consiste em propor ações em conjunto que se complementem por

profissionais e instituições que se comprometam em organizar políticas públicas que

proporcionem a promoção da saúde, e viabilizem a organização de espaços de participação e

compartilhamento de poder e de saber, possibilitando o empoderamento dos atores sociais.

Nos PPP encontramos:

Escola E: Estabelece, como uma de suas ações no Plano de orientação educacional, Promover

parcerias com Centros de Atendimentos e Postos de Saúde

Escola Q: Dentre as Metas estabelecidas para 2012 prevê Fortalecer a relação entre redes

públicas de educação e saúde

Relata também o desenvolvimento do Projeto PAPPAS com a equipe de nutricionistas

daUniversidade Federal do Rio de Janeiro – que visa à reeducação alimentar a fim de evitar

a obesidade infantil, com os alunos do 5º ano.

As demais escolas não fazem menção a nenhum tipo de articulação com outros setores,

caracterizando a intersetorialidade.

Uma das propostas de intersetorialidade da educação com a saúde se efetiva por meio da

adesão ao Programa Saúde na Escola (PSE). Apesar de o município ter aderido ao programa,

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somente cinco escolas relatam atividades referentes ao mesmo, a saber, escolas A, K, P, Q e

V.

O PSE será alvo de nossa análise no próximo item.

Escola A: Ao abordar o PSE relata que o mesmo é desenvolvido em parceria com os

profissionais de saúde do Projeto Saúde da Família, lotados na unidade de atendimento

médico que funciona no pátio da escola.

Escola V: Na apresentação do PSE relata parceria com a Unidade de Saúde da Família - USF

para identificar e tratar crianças que necessitam de exames e tratamento bucal. Ao relatar as

ações educativas, afirma que serão desenvolvidas pela equipe de saúde da USF com os

professores com periodicidade trimestral.

Escola Q: Relata que o PSE foi implantado em parceria com o Posto de Saúde da Família,

com o objetivo de promover palestras e atendimentos na área da saúde aos alunos de Educação

Infantil até o 5º ano do Ensino Fundamental.

Relata também o desenvolvimento do Projeto PAPPAS com a equipe de nutricionistas

daUniversidade Federal do Rio de Janeiro – que visa à reeducação alimentar a fim de evitar

a obesidade infantil, com os alunos do 5º ano.

Escola E: Estabelece, como uma de suas ações no Plano de orientação educacional, Promover

parcerias com Centros de Atendimentos e Postos de Saúde

Constatamos que a proposta de intersetorialidade está restrita aos setores de educação e

saúde, (Promover parcerias com Centros de Atendimento e Postos de Saúde (E); parceria com

a unidade de atendimento médico (A); parceria com a USF (V); parceria com o Posto de

Saúde da Família (Q); desenvolvimento de projeto com as nutricionistas da UFRJ (Q), não

havendo articulação com as demais áreas, como habitação, assistência, obras, esporte e lazer,

cultura, trabalho que deve contribuir para a efetivação da saúde em seu conceito ampliado, ou

seja, como garantia da qualidade de vida.

4.2.1 – O Programa Saúde na Escola no projeto político-pedagógico

O PSE propõe uma política intersetorial entre os Ministérios da Saúde e da Educação,

visando a atenção integral à saúde de crianças, adolescentes e jovens do ensino básico da rede

pública, propondo ações de prevenção, promoção e atenção à saúde.

O PSE deve ser elaborado por toda a comunidade escolar e pelas ESF, atendendo às

particularidades de todos. E as ações propostas neste devem ser incorporadas ao PPP,

conforme previsto na Portaria nº 1861 de 2008.

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No quadro a seguir apresentaremos a abordagem do PSE nos PPP.

Escolas A, K, P, Q, V: Relatam a adesão ao programa.

Escola P: Ao apresentar o Projeto 2012 “Cuidar do Direito de Aprender – Para sempre um

vencedor” relata como uma de suas ações a “Implementação do Programa Saúde na Escola

(temas: Alimentação Saudável, Meio Ambiente, Práticas corporais, combate às drogas,

cultura)”

Escola A: Relata que “Em 2012 recebe o Projeto do Governo Federal, Saúde na Escola,

realizado em parceria com os profissionais de saúde do PSF (Programa Saúde da

Família), lotados na unidade de atendimento médico que funciona no pátio da escola. A equipe

composta por enfermeiros, técnicos de enfermagem, médicos e dentistas realizam formação

com os alunos e avaliações antropométricas e odontológicas. O projeto se estenderá durante

todo o ano.”

Escola Q: Relata na apresentação do PPP que irá “Executar o PSE com atividades voltadas à

preservação da saúde bucal e orientação à alimentação saudável.”

No “Relatório do Programa Saúde na Escola -2011” a escola afirma que “implementou, em

parceria com o Posto de Saúde (PSF)” o PSE “com o objetivo de promover palestras de

atendimentos na área da saúde aos alunos” Afirmando que o mesmo oferece “atendimento

às questões da saúde bucal, orientações quanto à alimentação saudável e prevenção de

doenças infecto-contagiosas, bem como divulgação de campanhas de vacinação”.

Avaliou que o PSE “propiciou através das palestras e atendimentos a melhoria da qualidade

de vida da população estudantil.”

Escola V: Ao apresentar o PSE declara que “devem ser realizadas ações visando prevenir

doenças bucais assim como intervir de forma curativa no processo em seu estágio mais

precoce.” No desenvolvimento do Programa enumera as atividades do PSE, como “atividades

de saúde bucal, promoção de bons hábitos de alimentação, promoção de bons hábitos de

higiene do corpo, combate e prevenção ao uso de drogas, cuidado com o meio ambiente

para a promoção da saúde, importância da atualização do cartão vacinal para a saúde da

criança, descobrindo nosso corpo, sexualidade e promoção do sexo seguro”. Preve

atividades de formação com os professores, palestras com responsáveis e “debates, palestras e

atividades diversificadas” em sala de aula com os alunos.

Afirma que deve haver a incorporação de temas relevantes à saúde do corpo como parte do

planejamento curricular anual envolvendo a comunidade escolar (alunos, famílias, professores

e funcionários).

Escola K: Menciona o PSE como um parceiro ao enumerar “Nossos projetos e parceiros

relacionados ao tema saúde: PSE/Programa Saúde na Escola; PROCEL; Grande Rio

(reciclagem ambiental); Olimpíada de Integração; Educação Ambiental no XXXXX (local).”

Das cinco escolas que aderiram ao programa, uma é do 1º Distrito; uma do 2º Distrito; e

três são do 3º Distrito.

Três escolas, P, Q e V, relatam, entre as atividades do PSE, orientar quanto à

alimentação saudável. Como relatamos, a obesidade infantil e a do adolescente foi a temática

foco da Campanha do PSE, no ano de 2012; e a “Prevenção da obesidade” foi o tema da

Semana Saúde na Escola.

A saúde bucal é privilegiada em três escolas, A (formação e avaliação odontológica), Q

(preservação da saúde bucal), V (prevenir doenças bucais, atividades de saúde bucal); a

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avaliação antropométrica, em uma escola, A; a atualização do cartão vacinal é priorizada por

duas escolas, Q e V e uma, escola, Q, focou a prevenção de doenças infecto-contagiosas.

Como podemos perceber, as escolas não contemplam, em sua totalidade, as ações

previstas pelo PSE, como ações de avaliação clínica e psicossocial, a saber: avaliação

antropométrica; atualização do calendário vacinal; detecção precoce de agravos de saúde

negligenciados; avaliação oftalmológica; avaliação auditiva; avaliação nutricional; avaliação

da saúde bucal; e avaliação psicossocial (MS; MEC, 2011).Estas ações delimitam a saúde de

acordo com a concepção higienista e o caráter biologicista.

Na abordagem do PSE, nos PPP, não percebemos um trabalho único, ou seja, que

envolva as equipes das escolas e as ESF. Parecem ser trabalhos estanques, onde cada equipe

executa, isoladamente, sua atividade, e não um trabalho em conjunto como o proposto pelo

PSE,onde caberia a ESF apoiar tecnicamente os atores educacionais na elaboração,

implementação e avaliação do programa de educação em saúde, e receberiam o apoio dos

profissionais da escola na orientação de ferramentas pedagógicas que viabilizem seu trabalho

de educação em saúde.

Não encontramos, nos documentos, uma proposta de formação dos profissionais

envolvidos no programa, conforme proposta do PSE, a qual julgamos imprescindível para o

desenvolvimento do programa e para a efetivação da temática da saúde na escola.

Devido à importância de se trabalhar a temática da saúde na escola, pensamos ser

relevante e necessário que o PSE seja desenvolvido em todas as escolas. Consideramos pouco

expressivo cinco escolas aderirem ao Programa, face ao total de escolas, cento e quarenta e

uma.Não conseguimos identificar quais os critérios utilizados para a escolha dessas escolas.

Não percebemos nos PPP das cinco escolas que aderiram ao programa a atuação do

Grupo de Trabalho Intersetorial Municipal, que é o responsável pela gestão do PSE, sendo

formado por gestores das Secretarias de Saúde e Educação, representantesdas ESF, dos

educadores que atuam no programa, das escolas e da comunidade local.

Encontramos em algumas escolas, que não aderiram ao PSE, o desenvolvimento de

ações previstas por este, como, promoção da alimentação saudável, em oito escolas (R, B, U,

L, M, X, O, T); promoção das práticas corporais e atividade física nas escolas, em três escolas

(B, R, W); educação para a saúde sexual, saúde reprodutiva e prevenção da DST/AIDS, em

quatro escolas (R, D, W, G); prevenção ao uso de álcool, tabaco, crack e outras drogas, em

duas escolas (D, G); e a promoção da cultura de paz e prevenção das violências e promoção

da saúde ambiental e desenvolvimento sustentável, em sete escolas (R, L, Z, U, G, O, R).

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4.3 – CONCEITO DE SAÚDE

4.3.1 – Conceito ampliado de saúde

Escola K: Apresenta o Objetivo Geral do PSE, sendo “Considerar a saúde como um aspecto

essencial para a qualidade de vida, compreendendo que a luta para que as políticas públicas

sejam efetivadas e o compromisso de cada cidadão para a melhoria das condições de vida

perpassa questões culturais, sociais, econômicas e éticas que precisavam ser discutidas nos

contextos coletivos e individual para a garantia de uma vida mais saudável para todos”

Escola W: Apresenta o Projeto Educação Física para todos, enumerando como Conteúdo:

“cuidados com o corpo e com a saúde; debate interativo sobre DST e Aids” Afirmando que

“Dentre outros aspectos, os conteúdos devem: valorizar a prática de atividades corporais que

contribuam para a Saúde e para melhoria da qualidade de vida”

Escola M: Apresenta os “Objetivos Específicos por área de conhecimento” eenumera os das

áreas de “Ciências matemáticas, físicas, químicas e biológicas: - Perceber a importância de

preservar a saúde física, mental e social; - Perceber a relação entre nutrição e saúde; -

Compreender o corpo como uma totalidade que envolve saúde física, psíquica e social”

Escola T: Apresenta alguns “Projetos de atividades,” dentre eles o “Saúde do Corpo-Higiene

Corporal” onde afirma que “A educação não cumpre o papel de substituir as mudanças

estruturais necessárias para a garantia da qualidade de vida e saúde, mas por contribuir

decisivamente para a sua efetivação”

Como podemos perceber nas escolas K, W, M, T, a saúde é abordada considerando os

condicionantes biológicos, o meio físico, o meio socioeconômico e cultural,que são os

determinantes da condição de saúde, com foco na melhoria da qualidade de vida.A saúde

deixa de ser um estado estático, biologicamente definido, sendo vista como um estado

dinâmico, socialmente produzido (BUSS, 2000).

Encontramos na escola W certa ambiguidade, pois apesar de focar a saúde baseada no

conceito ampliado, em seu Projeto de Educação Física foca o corpo e as doenças, delimitando

a saúde à concepção higienista e ao caráter biologicista, como podemos constatar em:

Apresenta o Projeto de Educação Física para todos, enumerando como Conteúdo: “cuidados

com o corpo e com a saúde; debate interativo sobre DST e AIDS” Afirmando que “Dentre

outros aspectos, os conteúdos devem: valorizar a prática de atividades corporais que

contribuam para a Saúde e para melhoria da qualidade de vida”.

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4.3.2 – O corpo como foco da saúde no currículo

Escola O: Relaciona as “Propostas de Atividades” para o 2º bimestre e no item “Meio

Ambiente e Saúde: Preciso dele para viver, por isso eu respeito!” relaciona entre os temas

“Cuidando da saúde: cuidando do corpo, explorar todas as fontes de informação sobre a

saúde valorizando o próprio corpo”

Escola Q: Apresenta o “Projeto sobre saúde na escola Q” e relata na 3ª etapa do mesmo

“preenchimento e acompanhamento do “Diário da saúde”: “O Diário da saúde foi criado para

que os alunos tivessem um instrumento para o acompanhamento do seu desenvolvimento no

período de um ano.No diário encontravam-se questões relacionadas ao desenvolvimento

físico e um espaço destinado ao registro de qualquer questão relacionada à saúde

(sintomas, doenças ou o que o aluno julgasse pertinente), e sobre o ciclo menstrual, no

caso das meninas”.

Escola R: Relaciona em sua “Proposta Curricular” no item “Habilidades”: “Reconhecer-se

como elemento integrante do ambiente, adotando hábitos saudáveis de higiene, alimentação

e atividades corporais, relacionando-os com efeitos sobre a própria saúde e da melhoria da

saúde coletiva”

Escola C: Enumera os objetivos do Ensino Fundamental, entre eles “Conhecer e cuidar do

próprio corpo agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e saúde coletiva.”

Escola S: Enumera os objetivos do Ensino Fundamental, entre eles: “Conhecer o próprio

corpo e dele cuidar, valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos

básicos da qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação a sua e a saúde

coletiva”

Percebemos um enfoque maior sobre saúde direcionado para o corpo, reforçando a

concepção higienista e o caráter biologicista, onde se reduz o processo saúde doença ao

indivíduo, não considerando as influências econômicas, sociais e políticas.

A proposta dos PCN, de uma educação para a saúde é reforçada, tendo o foco no

sujeito, em sua mudança e não nas condições de desigualdades vivenciadas por ele. Segundo

Gazzineliet al (2005), ao se educar para a saúde, parte-se do princípio que os problemas de

saúde acontecem devido à fragilidade do quadro educacional dos indivíduos, sendo

necessárias ações “corretivas”, onde os comportamentos inadequados serão corrigidos por

meio da aquisição de informações passadas por alguém que sabe o que é melhor para estes,

isto é, os indivíduos.

O foco desta educação, ou seja, da educação para a saúde, está no sujeito, em sua

mudança; que é visto como alguém que não consegue agir por si mesmo, portanto, deve

receber o saber instituído para definir suas ações.

As escolas C e S apresentam objetivos transcritos, da relação de objetivos do Ensino

Fundamental, relacionados no PCN. Sendo “Conhecer o próprio corpo e dele cuidar,

valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida

e agindo com responsabilidade em relação a sua e a saúde coletiva”(S); o que reforça o

enfoque maior sobre saúde direcionado ao corpo, como abordamos acima.

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4.4 – ESCOLA COMO ESPAÇO DE PROMOÇÃO DA SAÚDE

Escola V: Na apresentação do Programa Saúde na Escola, ressalta que “A escola, que tem

como missão primordial desenvolver processos de ensino-aprendizagem, desempenha papel

fundamental na formação e atuação das pessoas em todas as arenas da vida social. Juntamente

com outros espaços sociais, ela cumpre papel decisivo na formação dos estudantes, na

percepção e construção da cidadania e no acesso às políticas públicas. Desse modo, pode

tornar-se locus para ações de promoção da saúde para crianças, adolescentes e jovens

adultos”.

Escola G: Apresenta como um de seus objetivos “Promover a interação comunidade x

escola, trabalhando as questões sociais (droga, violência, sexualidade, saúde)”

Escola Q: Utilizou um filme/documentário para abordar a gravidez na adolescência. “O

objetivo dessa apresentação foi, além de abordar o tema da gravidez na adolescência,

discutir o papel dos pais na vida dos filhos, as consequências de uma gravidez para ambos

os sexos e debater sobre formas de prevenção tanto da gravidez quanto de doenças

sexualmente transmissíveis”.

Escola Q: “Outras ações foram implementadas na escola através de ações pedagógicas em

saúde voltadas para os alunos, funcionários e para a comunidade do entorno da escola, tais

como: Projeto: Meio Ambiente começa com a gente – alunos e professores realizaram

atividades diversificadas envolvendo o tema com a apresentação de murais e cartazes

escolhidos através de uma comissão e premiados com um kit higiene; Projeto: Família na

Escola – enfermeiros e auxiliares promovendo palestras sobre a Diabetes, a aferição de

pressão arterial e medição de massa corporal;Projeto PAPPAS com a equipe de

nutricionistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – que visa à reeducação alimentar a

fim de evitar a obesidade infantil, com alunos do X ano; Projeto: Reciclando Olhares (oferecido pelo SESC Caxias) – deu orientações e informações sobre a temática do meio

ambiente e sua preservação, através da exposição “Lixo para que te Serve?” Também foi

realizada uma oficina de reaproveitamento de materiais, vídeos e debates.”

Escola O: Ao apresentar as Propostas de Atividades para o 2º Bimestre, a escola relaciona:

“Meio ambiente e saúde – Meio ambiente: Preciso dele para viver, por isso eu respeito!

Cuidados com a higiene pessoal. Desenvolver o zelo e o cuidado com a escola e suas

dependências; tratamento adequado do lixo evitando insetos e doenças. Os perigos da

dengue. Tratar sobre o saneamento básico do bairro, a poluição do solo, da água e do ar.”

Escola V: Ao apresentar o PSE, relata em suas ações: “Atividades com pais e alunos visando

apromoção de saúde através de hábitos de higiene do corpo, prevenindo doenças como

escabiose, pediculose, etc. Conscientização dos pais e alunos sobre a necessidade de

preservação ambiental para promoção da saúde individual e coletiva, como também ação

primordial no combate à doenças como a dengue, parasitoses e outras. Conscientização dos

pais sobre a importância da manutenção do cartão vacinal atualizado para a prevenção

de doenças em crianças e adolescentes.

A escola é considerada um local propício para a promoção da saúde. Dos cinco campos

de ação apresentados pela Carta de Ottawa, quatro se aplicam à escola,por serem ações

compatíveis com o papel da educação, o que a privilegia como espaço para a promoção da

saúde, que são: elaboração e implementação de políticas públicas saudáveis; criação de

ambientes favoráveis à saúde; reforço da ação comunitária; e desenvolvimento de habilidades

pessoais.

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Como vimos nas escolas Q (Projeto Meio Ambiente começa com a gente, Projeto

Reciclando Olhares, Oficina de reaproveitamento de materiais), O(Desenvolver o zelo e o

cuidado com a escola e suas dependências, tratamento adequado do lixo, tratar sobre o

saneamento do bairro, a poluição do solo, da água, do ar), V (necessidade de preservação

ambiental) se preocupam com a criação de ambientes favoráveis à saúde. A escola Q

(reeducação alimentar) e V (hábitos de higiene do corpo) visam o desenvolvimento de

habilidades pessoais e as escolas G (interação comunidade X escola), Q (discutir o papel dos

pais na vida dos filhos), O (tratar o saneamento básico do bairro, a poluição do solo, da água e

do ar), se propõem a reforçar a ação comunitária.

A Carta de Ottawa define três estratégias da promoção da saúde, segundo Buss (2000),

que são: defesa da saúde, que visa os fatores políticos, econômicos, sociais, culturais,

ambientais, comportamentais e biológicos, que percebemos nas escolas G(Promover a

interação comunidade x escola, trabalhando as questões sociais (droga, violência, sexualidade,

saúde), Q (Projeto: Meio Ambiente começa com a gente – alunos e professores realizaram

atividades diversificadas envolvendo o tema com a apresentação de murais e cartazes,

Projeto:Reciclando Olhares deu orientações e informações sobre a temática do meio ambiente

e sua preservação, oficina de reaproveitamento de materiais, vídeos e debates);O (Meio

ambiente e saúde – Meio ambiente: Preciso dele para viver, por isso eu respeito! Cuidados

com a higiene pessoal. Desenvolver o zelo e o cuidado com a escola e suas dependências;

tratamento adequado do lixo evitando insetos e doenças. Os perigos da dengue.Tratar sobre o

saneamento básico do bairro, a poluição do solo, da água e do ar) e V (Conscientização dos

pais e alunos sobre a necessidade de preservação ambiental para promoção da saúde

individual e coletiva).

A segunda estratégia é a capacitação, que proporciona garantir os meios para realização

do potencial de saúde, por meio da igualdade de oportunidades e o desenvolvimento de

habilidades pessoais, conforme constatamos nas escolas Q (Projeto: Família na Escola –

enfermeiros e auxiliares promovendo palestras sobre a Diabetes, a aferição de pressão arterial

e medição de massa corporal, Projeto PAPPAS que visa à reeducação alimentar a fim de

evitar a obesidade infantil, com alunos do X ano, Projeto: Reciclando Olhares deu orientações

e informações sobre a temática do meio ambiente e sua preservação, oficina de

reaproveitamento de materiais, vídeos e debates),O (Desenvolver o zelo e o cuidado com a

escola e suas dependências; tratamento adequado do lixo evitando insetos e doenças. Os

perigos da dengue. Tratar sobre o saneamento básico do bairro, a poluição do solo, da água e

do ar),e V (Atividades com pais e alunos visando a promoção de saúde através de hábitos de

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higiene do corpo, prevenindo doenças como escabiose, pediculose, etc. Conscientização dos

pais e alunos sobre a necessidade de preservação ambiental para promoção da saúde

individual e coletiva).

A terceira é a mediação entre os vários interesses da sociedade relacionados a saúde,

como encontramos nas escolas Q (discutir o papel dos pais na vida dos filhos, as

consequências de uma gravidez para ambos os sexos e debater sobre formas de prevenção

tanto da gravidez quanto de doenças sexualmente transmissíveis, Projeto: Reciclando Olhares,

deu orientações e informações sobre a temática do meio ambiente e sua preservação, através

da exposição “Lixo para que te Serve?”),e O (“Meio ambiente e saúde – Meio ambiente:

Preciso dele para viver, por isso eu respeito!, tratamento adequado do lixo, Tratar sobre o

saneamento básico do bairro, a poluição do solo, da água e do ar).

Westphal (2006) apresenta alguns princípios norteadores das práticas de promoção da

saúde, que são: multicausalidade, equidade, intersetorialidade, participação social e

sustentabilidade.

O princípio de multicausalidade pode ser observado na escola V quando busca a

“atuação das pessoas em todas as arenas da vida social” e visa o acesso às políticas públicas,

ultrapassando o setor saúde.

A equidade pode ser percebida na escola V quando esta objetiva que todos os alunos

tenham acesso às políticas públicas, (Juntamente com outros espaços sociais, ela (escola)

cumpre papel decisivo na formação dos estudantes, na percepção e construção da cidadania e

no acesso às políticas públicas).

Verificamos a intersetorialidade na escola V quando relata a ação da escola “juntamente

com outros espaços sociais”.

Encontramos a participação social na escola G ao buscar a interação da comunidade

com a escola, visando o empoderamento coletivo, (Promover a interação comunidade x

escola, trabalhando as questões sociais (droga, violência, sexualidade, saúde).

Percebemos a sustentabilidade nas escolas V, Q e O que abordam a preservação

ambiental: V (Conscientização dos pais e alunos sobre a necessidade de preservação

ambiental para promoção da saúde individual e coletiva), Q (Projeto: Meio Ambiente começa

com a gente, Projeto: Reciclando Olhares deu orientações e informações sobre a temática do

meio ambiente e sua preservação), e O (Meio ambiente: Preciso dele para viver, por isso eu

respeito!, Tratar sobre o saneamento básico do bairro, a poluição do solo, da água e do ar).

Percebe-se a presença das ideias da promoção da saúde no conteúdo dos PPP, como a

equidade, a multicausalidade, a intersetorialidade, a participação social, a sustentabilidade,

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que são princípios da promoção da saúde (Westphal, 2006), mas as ações são desarticuladas e

baseadas na prevenção de doenças.

As Diretrizes Curriculares Nacionais destacam que dentre as atividades que devem ser

desenvolvidas na escola está a promoção da saúde, articulada aos componentes curriculares,

às áreas de conhecimento, às vivências e as práticas socioculturais.

Para Czeresnia (2003), a promoção da saúde foca suas estratégias na transformação das

condições de vida e de trabalho e ressalta que “buscar a saúde é questão não só de

sobrevivência, mas de qualificação da existência” (p. 5).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo, pesquisamos a abordagem da temática da saúde, tendo como referência a

promoção da saúde, a educação em saúde e a saúde na escola.

Utilizamos como material de análise os Projetos Político-Pedagógicos das escolas dos

1º e 2º segmentos do Ensino Fundamental, da rede pública do município de Duque de Caxias.

Os documentos analisados demonstram que:

Apesar de o PPP ter sido instituído há dezessete anos e ser alvo de discussão ao longo

desses, somente 40% das escolas elaboraram este documento. O PPP é uma reflexão do

cotidiano da escola, que demonstra onde esta deseja chegar e o caminho que irá percorrer.

Ele, o PPP, é uma prática pedagógica, de responsabilidade de todos, ou seja, construído e

implementado com a participação de todos os atores educacionais.

Não existe uma padronização dos PPP, ou seja, cada escola organiza o seu documento

da forma que julgar ideal. Com isto não queremos dizer que todos os documentos deveriam

ter a mesma estrutura, mas acreditamos que sendo a base destes comum a todos, demonstraria

a proposta de trabalho de cada unidade, explicitando suas dimensões filosófica, política,

organizacional e pedagógica.

A temática da saúde se torna oficial e obrigatória a partir de 1971, quando a LDB Nº

5692 inclui os Programas de Saúde nos currículos plenos de ensino de 1º e 2º graus, atuais

Ensino Fundamental e Médio. Contudo esta só está presente em vinte e seis PPP dos

cinquenta e sete existentes, o que aponta para uma apropriação incipiente da temática da

saúde nas propostas curriculares e pedagógicas no município estudado.

Apesar de o município ter aderido ao Programa Saúde na Escola, apenas cinco escolas

abordam o programa como uma proposta efetiva de ação das mesmas. Não percebemos um

trabalho integrado entre as escolas e as Equipes de Saúde da Família. O que percebemos é a

entrada da ESF na escola para desenvolver uma atividade pontual, não havendo um trabalho

conjunto entre a escola, a ESF e a comunidade, o que contraria o proposto pelo Programa que

prevê ações coletivas entre as equipes.

Não percebemos a saúde abordada de fato como um tema transversal, conforme

proposto pelo PCN (1997). A abordagem da temática da saúde não é comum a todas as

disciplinas, somente as disciplinas de Ciências, Matemática e Educação Física trabalham esta

temática.

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Segundo Gavidia (2002), os temas transversais serão trabalhados adequadamente

quando considerados a partir do projeto curricular e da reflexão, no intuito de que todas as

disciplinas contribuam para a formação e educação dos alunos.

Os temas transversais devem ser abordados em uma relação intrínseca entre as diversas

áreas do saber, onde os elementos remetem-se uns aos outros e também para fora do conjunto

do qual fazem parte. A transversalidade pode adotar qualquer direção, sem nenhuma

hierarquia.

Encontramos uma concentração maior da abordagem da temática da saúde na disciplina

de Ciências, o que demonstra que ainda estão ligados ao modelo biomédico, considerando a

educação em saúde como responsabilidade da disciplina e do professor de Ciências.

A intersetorialidade, que é um dos princípios que norteia as práticas de promoção da

saúde, está restrita aos setores de educação e saúde, não havendo articulação com as demais

áreas como habitação, assistência, obras, esporte e lazer, cultura e trabalho, não concretizando

a proposta de construção de ações conjuntas e complementares e de espaços de efetiva

participação e compartilhamento de poder e saber, viabilizando o empoderamento dos atores

sociais.

Um aspecto muito marcante nos PPP é a questão da educação para a saúde, onde o

sujeito e sua mudança são os focos da ação, não sendo consideradas as condições de

desigualdades vivenciadas por este.

A educação é um processo, no qual o indivíduo constrói o conhecimento e resignifica o

conhecimento trabalhado, viabilizando sua reflexão e ação na realidade na qual está inserido.

A educação não é a única responsável pelas mudanças estruturais necessárias para

garantir a qualidade de vida, mas pode contribuir para sua efetivação preparando os alunos

por meio de uma educação crítica e emancipatória.

A escola se configura um espaço de conflitos entre a forma de emancipação desta e as

diretrizes básicas do sistema nacional de educação. Vemos a escola como um espaço de

pluralismo de ideias, onde cada ator tem papel fundamental na construção da proposta

pedagógica e de sua autonomia. Neste sentido, esta, ou seja, a autonomia será construída a

partir do momento que seu PPP seja elaborado e executado por meio de um processo

democrático onde todos tenham voz e seus saberes valorizados; tenham interesse e ousadia

para mudar o instituído, e exista o compromisso profissional dos educadores na construção da

identidade da escola e de um ensino de qualidade.

Para se entender o lugar que estes documentos ocupam na escola, faz-se necessário

estudar como se deu sua construção, como ocorre a apropriação pelos atores educacionais

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eseu desdobramento no cotidiano escolar. Assim, também poderá se observar qual a

motivação para a elaboração do PPP, isto é, se foi elaborado por ser considerado um

instrumento importante para o trabalho da escola ou pelo cumprimento de uma exigência

legal.

Com esta pesquisa visamos contribuir para a reflexão, entre os atores educacionais, da

apropriação da temática da saúde na escola, para que a mesma seja abordada de forma mais

efetiva no currículo escolar.

Este trabalho não esgota a identificação e análise da abordagem da temática da saúde

nas escolas, deste município.Pensamos ser necessário o estudo de outros instrumentos, como

por exemplo, os Planos de Ação, que abordam mais detalhadamente o cotidiano da escola,

para aprofundar esta análise.

Esperamos que este trabalho desperte, nos atores educacionais das escolas do município

de Duque de Caxias, o interesse em discutir e inserir a temática da saúde em seu cotidiano.

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