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  • DADOS DE COPYRIGHT

    Sobre a obra:

    A presente obra disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros, com oobjetivo de oferecer contedo para uso parcial em pesquisas e estudos acadmicos, bem comoo simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura.

    expressamente proibida e totalmente repudavel a venda, aluguel, ou quaisquer usocomercial do presente contedo

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    Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e no mais lutando pordinheiro e poder, ento nossa sociedade poder enfim evoluir a um novo nvel.

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  • Ficha Tcnica

    Ttulo: Herana

    Ttulo original: Inheritance

    Texto

    Ilustrao da capa John Jude Palencar, 2011

    Traduo: Leonor Marques

  • Reviso: ASA II

    ISBN: 9789892312187

    Edies ASA II, S.A.

    uma editora do Grupo LeYa

    R. Cidade de Crdova, n. 2

    2160-038 Alfragide Portugal

    Tel.: (+351) 214 272 200

    Fax: (+351) 214 272 201

    2011, Edies ASA II, S.A.

    Todos os direitos reservados de acordo com a legislao em vigor [email protected]

    www.asa.leya.com

    www.leya.pt

    Esta uma obra de fico. Os nomes, personagens, locais e incidentes nela mencionados soproduto da imaginao do autor, ou foram utilizados de uma forma fictcia. Qualquersemelhana com pessoas reais vivas ou mortas, acontecimentos ou locais pura coincidncia.

  • Como sempre, este livro dedicado minha famlia E tambm aos sonhadores de sonhos:

    os muitos artistas, msicos e contadores de histrias que tornaram esta viagem possvel.

    A Histria de Eragon, Eldest e Brisingr

    No incio existiam drages: criaturas altivas, ferozes e independentes. As escamas eram comojias e todos os que contemplavam essas criaturas desesperavam, pois a sua beleza eragrandiosa e assustadora.

    Durante muitas eras os drages viveram sozinhos em Alagasia.

    Depois, o deus Helzvog criou os vigorosos e robustos anes de pedra do Deserto de Hadarac.

    E ambas as raas guerrearam-se bastante.

    A seguir os Elfos viajaram pelo mar prateado, at Alagasia, e tambm eles guerrearam comos drages. Porm, os Elfos eram mais fortes que os Anes e poderiam ter destrudo osdrages, tal como estes os poderiam ter destrudo a eles.

  • Por isso os drages e os Elfos fizeram trguas, selando um pacto entre si, e dessa alianacriaram os Cavaleiros do Drago, que mantiveram a paz em Alagasia, durante milhares deanos.

    Entretanto os humanos viajaram por mar at Alagasia, tal como os Urgals e os Razac oscaadores das trevas que devoram carne humana , e os humanos tambm se reuniram ao pactocom os drages.

    Depois, Galbatorix, um jovem Cavaleiro do Drago, revoltou-se contra a sua prpria espcie,escravizou Shruikan, o drago negro, e convenceu treze outros Cavaleiros a seguirem-no. Ostreze ficaram conhecidos como os Renegados.

    Galbatorix e os Renegados derrotaram os Cavaleiros, incendiaram-lhes a cidade, na ilha deVroengard, e chacinaram todos os drages que no estavam do seu lado, poupando apenas trsovos: um vermelho, outro azul e um verde. Alm disso, procuraram resgatar o maior nmeropossvel de Eldunar o corao dos coraes , que continha o poder e a mente dos drages,uma vez separado da sua carne.

    Durante oitenta e dois anos, Galbatorix reinou entre os humanos como senhor absoluto. OsRenegados morreram, mas ele no, pois a sua fora era a fora de todos os drages e ningumpoderia derrub-lo.

    No octogsimo terceiro ano do reinado de Galbatorix, um homem roubou o ovo de drago azuldo seu castelo e entregou-o aos cuidados de um povo que ainda lutava contra Galbatorix edava pelo nome de Varden.

    O elfo Arya viajou com o ovo entre os Varden e os Elfos, procura de um humano ou de umelfo para este chocar e assim se passaram vinte e cinco anos.

    Depois, ao viajar para a cidade lfica de Osilon, um grupo de Urgals atacou Arya e os seusguardas. Os Urgals estavam acompanhados do Espetro Durza: um feiticeiro possudo pelosespritos que invocara, para obedecerem s suas ordens, que se tornara o mais temvel criadode Galbatorix, aps a morte dos Renegados. Os Urgals mataram os guardas de Arya, porm,antes que a capturassem, Arya usou magia e enviou o ovo para algum que esperava poderproteg-lo.

    Mas o feitio correu mal.

    E foi assim que Eragon, um rfo de apenas quinze anos, descobriu o ovo nas montanhas daEspinha e o levou para a quinta onde vivia com o tio, Garrow e o primo, Roran. O ovo chocoupara Eragon e ele criou ali o drago. O seu nome era Saphira.

    Entretanto, Galbatorix mandou dois Razac procurar o ovo para o resgatar, e estes mataramGarrow e incendiaram a casa de Eragon. Galbatorix escravizou os Razac que j no erammuitos, na altura.

  • Eragon e Saphira partiram para se vingarem dos Razac, acompanhados de Brom, o contadorde histrias, que fora tambm um Cavaleiro do Drago, antes da queda dos Cavaleiros. Era aBrom que o elfo Arya planeara enviar o ovo azul.

    Brom ensinou muito a Eragon sobre o manejo de espada, magia e honra e ofereceu-lhe Zaroc,que fora em tempos a espada de Morzan, o primeiro e mais poderoso dos Renegados. Mas osRazac mataram Brom, assim que os encontraram, e Eragon e Saphira escaparam graas ajuda do jovem Murtagh, filho de Morzan.

    Durante as suas viagens, o Espetro Durza capturou Eragon na cidade de Gilead, mas Eragonconseguiu fugir e, ao faz-lo, libertou Arya da sua cela. Arya fora envenenada e estavagravemente ferida, por isso Eragon, Saphira e Murtagh levaram-na para os Varden, que viviamentre os Anes, nas Montanhas Beor.

    Arya foi tratada e Eragon abenoou uma beb chorona que dava pelo nome de Elva. Eleabenoou-a para a proteger do infortnio, mas pronunciou mal as palavras, amaldioando-asem dar conta, o que a forou a tornar-se um escudo contra o infortnio dos outros.

    Pouco tempo depois, Galbatorix mandou um grande exrcito de Urgals atacar os Anes e osVarden. Foi na batalha seguinte que Eragon matou o Espetro Durza. Durza, porm, feriuEragon gravemente nas costas, fazendo-o padecer de dores horrveis, apesar dos feitios doscurandeiros dos Varden.

    No meio da sua dor ele ouviu uma voz, que lhe disse: Vem at mim, Eragon, vem at mim,pois eu tenho respostas para todas as perguntas que fizeres.

    Trs dias mais tarde, o lder dos Varden, Ajihad, sofreu uma emboscada e foi morto pelosUrgals, sob as ordens de dois feiticeiros gmeos que entregaram os Varden a Galbatorix. Osgmeos raptaram tambm Murtagh, que levaram em segredo at Galbatorix. Mas Eragon etodos os Varden pensaram que Murtagh tinha morrido, pelo que Eragon ficou bastantepesaroso.

    Nasuada, a filha de Ajihad, tornou-se lder dos Varden.

    De Tronjheim, o centro de poder dos Anes, Eragon, Saphira e Arya viajaram para a florestade Du Weldenvarden, a Norte, onde viviam os Elfos. O ano Orik, sobrinho de Hrothgar, o reidos Anes, acompanhou-os.

    Em Du Weldenvarden, Eragon e Saphira conheceram Oromis e Glaedr o ltimo Cavaleiro edrago ainda livres que h um sculo viviam escondidos, na esperana de poder ensinar agerao seguinte de Cavaleiros do Drago. Eragon e Saphira encontraram-se tambm com aRainha Islanzad, soberana dos Elfos e me de Arya.

    Enquanto Oromis e Glaedr treinavam Eragon e Saphira, Galbatorix mandou os Razac e umgrupo de soldados a Carvahal, a aldeia natal de Eragon, desta vez para capturar o seu primoRoran. No entanto, Roran escondeu-se e eles no o teriam encontrado se no fosse o dio do

  • talhante Sloan, que ao matar uma sentinela permitiu que os Razac entrassem na aldeia,apanhando Roran desprevenido.

    Roran conseguiu desembaraar-se deles, mas os Razac levaram a sua amada Katrina, filha deSloan. Depois disso, Roran convenceu os aldees a partirem com ele. Viajaram pelasmontanhas da Espinha at costa de Alagasia e, a seguir, at regio de Surda, a Sul, queainda no estava sob o domnio de Galbatorix.

    O ferimento nas costas de Eragon continuava a atorment-lo, mas durante a Celebrao doJuramento de Sangue dos Elfos, onde estes comemoravam o pacto celebrado entre Cavaleirose drages, o drago espectral que os Elfos invocavam no encerramento das festividades curouo ferimento de Eragon, concedendo-lhe, tambm, a mesma fora e rapidez dos Elfos.

    A seguir, Eragon e Saphira voaram para Surda, para onde Nasuada tinha conduzido os Vardena fim de lanarem um ataque contra o Imprio de Galbatorix. A os Urgals aliaram-se aosVarden, alegando que Galbatorix lhes confundira a mente, pretendendo vingar-se dele. Entreos Varden, Eragon voltou a encontrar Elva, que crescera prodigiosamente depressa emconsequncia do feitio. O beb choro dera lugar a uma rapariguinha de trs ou quatro anos,com um olhar assustador, pois sentia a dor de todos os que a rodeavam.

    No muito longe das fronteiras de Surda, na escurido das Plancies Flamejantes, Eragon,Saphira e os Varden travaram uma longa e sangrenta batalha contra o exrcito de Galbatorix.

    Durante a batalha, Roran e os aldees reuniram-se aos Varden, assim como os Anes que ostinham seguido desde as Montanhas Beor.

    Porm, uma figura de armadura polida, montada num drago cintilante, vermelho, surgiu a Estee matou o rei Hrothgar com um feitio.

    Eragon e Saphira lutaram com o Cavaleiro e com o drago vermelho, descobrindo que este eraMurtagh, ligado a Galbatorix por juramentos impossveis de quebrar, e que o drago eraThorn, o segundo ovo a chocar.

    Murtagh derrotou Eragon e Saphira com a fora do Eldunar que Galbatorix lhe dera, masdeixou-os partir, porque ainda nutria alguma amizade por Eragon, e porque eram irmos,ambos filhos de Selena, a consorte favorita de Morzan como ele prprio explicou a Eragon.

    Murtagh despojou Eragon de Zarroc a espada do seu pai e partiu com Thorn das PlanciesFlamejantes, tal como o resto das tropas de Galbatorix.

    Quando a batalha terminou, Eragon, Saphira e Roran voaram para Helgrind, a sombria torre depedra, que era o esconderijo dos Razac. A mataram um dos Razac e os seus odiososprogenitores

    os Lethrblaka , resgatando Katrina de Helgrind, e nas celas Eragon descobriu o pai deKatrina, cego e moribundo.

  • Eragon pensou em matar Sloan pela sua traio, mas acabou por afastar essa ideia. Em vezdisso, f-lo mergulhar num sono profundo, dizendo a Roran e a Katrina que o pai delamorrera.

    Depois pediu a Saphira que levasse Roran e Katrina de regresso aos Varden, enquanto eleperseguia o ltimo Razac.

    Sozinho, Eragon matou o Razac e levou Sloan de Helgrind.

    Depois de muito pensar, Eragon descobriu o verdadeiro nome de Sloan na lngua antiga, alngua do poder e da magia, e, atravs deste, forou Sloan a jurar que nunca mais voltaria aver a filha. Por fim, mandou-o viver com os Elfos. O que Eragon no disse ao talhante foi queos Elfos lhe devolveriam a viso se ele se arrependesse da traio e do assassnio quecometera.

    Arya encontrou Eragon a meio caminho dos Varden e os dois regressaram juntos, a p, atravsde territrio inimigo.

    Nos Varden, Eragon soube que a Rainha Islanzad enviara doze feiticeiros elfos, comandadospor um elfo chamado Bldhgarm, para o proteger a ele e a Saphira. Eragon tentou remover amaldio de Elva, mas ela continuou a sofrer com a dor dos outros, embora j no se sentissecompelida a salv-los do seu sofrimento.

    Roran casou com Katrina, que estava grvida, e Eragon sentiu-se feliz, pela primeira vez,desde h muito tempo.

    Depois Murtagh, Thorn e um grupo de homens de Galbatorix atacaram os Varden. Eragon eSaphira conseguiram cont-los com a ajuda dos Elfos, mas Eragon e Murtagh no conseguiramderrotar-se. Foi uma batalha difcil, pois Galbatorix encantara os soldados para que estes nosentissem dor. Os Varden sofrerem muitas baixas.

    Depois disso, Nasuada ordenou a Eragon que visitasse os Anes em representao dosVarden, enquanto eles escolhiam o novo rei. Eragon estava relutante em ir, pois Saphira teriade ficar para proteger o acampamento dos Varden, de qualquer forma ele acabou por ir.

    Roran serviu o exrcito dos Varden e subiu de posto, ao revelar-se um guerreiro hbil e umlder.

    Enquanto Eragon estava com os Anes, sete deles tentaram assassin-lo, e uma investigaorevelou que era o cl Az Sweldn rak Anhin que planeara o ataque. Contudo, a reunio de clsprosseguiu, Orik foi escolhido como sucessor do seu tio e Saphira reuniu-se a Eragon paraassistir coroao, durante a qual cumpriu a promessa de reparar a adorada estrela de safirados Anes, que quebrara no combate de Eragon com o Espetro Durza.

    Eragon e Saphira regressaram a Du Weldenvarden, onde Oromis revelou ao cavaleiro averdade acerca da sua herana: Eragon no era filho de Morzan, mas de Brom, embora ele e

  • Murtagh partilhassem a mesma me, Selena. Oromis e Glaedr explicaram tambm o conceitodo Eldunar, que um drago poderia decidir expulsar de dentro de si, em vida, emboraexigisse uma grande cautela, pois quem possusse o Eldunar poderia us-lo para controlar odrago de onde ele provinha.

    Enquanto estava na floresta, Eragon decidiu que precisava de uma espada para substituirZarroc. Ao recordar o conselho que recebera de Solembum, o homem-gato, durante as suasviagens com Brom, Eragon foi at junto da senciente rvore de Menoa, em Du Weldenvarden.Falou com a rvore e esta aceitou ceder-lhe o ao brilhante que tinha sob as razes, por umpreo que no chegou a definir.

    Depois, Rhurn, a ferreira elfo que forjara todas as espadas dos Cavaleiros trabalhou comEragon na sua nova espada. A espada era azul e Eragon chamou-lhe Brisingr fogo , mas almina irrompia em chamas sempre que proferia o seu nome.

    Glaedr confiou o seu corao dos coraes a Eragon e a Saphira, e eles regressaram aosVarden, enquanto Glaedr e Oromis se reuniam aos outros da sua espcie para atacarem oNorte do Imprio.

    Durante o cerco de Feinster, Eragon e Arya encontraram trs feiticeiros inimigos, um dosquais se transformou no Espetro Varaug, mas Arya conseguiu mat-lo com a ajuda de Eragon.

    Enquanto isso, Oromis e Glaedr lutavam com Murtagh e Thorn.

    Porm, Galbatorix controlou a mente de Murtagh, servindo-se do seu brao para matarOromis, enquanto Thorn eliminava Glaedr.

    Apesar da vitria dos Varden em Feinster, Eragon e Saphira choraram a morte do seu mestre,Oromis. Porm os Varden seguiram em frente e marcham, neste momento, no corao doImprio, rumo capital, Urbaen, onde Galbatorix os espera, altivo e confiante, pois a suafora a fora de todos os drages.

  • A BRECHAOdrago Saphira rugiu e os soldados diante dela encolheram-se.

    Digam comigo! gritou Eragon, levantando Brisingr acima da cabea e erguendo-a bem altono ar, para que todos a vissem. A espada azul irradiou um brilho, intenso, iridescente, emcontraste absoluto com a parede de nuvens negras que se estava a formar a Oeste. PelosVarden!

    Uma flecha passou perto dele com um zunido, mas ele no lhe deu importncia.

    Os guerreiros reunidos na base do amontoado de entulho, em cima do qual se encontravamEragon e Saphira, responderam-lhe em unssono, gritando a plenos pulmes:

    Pelos Varden! estrondearam, brandindo as suas armas e subindo, de imediato, pelosblocos de pedra cados.

    Eragon virou costas aos homens. Do outro lado do amontoado de pedras havia um grandeptio. Cerca de duas centenas de soldados do Imprio estavam reunidos no interior. Atrsdeles erguia-se uma fortaleza escura, com janelas estreitas como fendas e vrias torresquadradas; a mais alta tinha uma lanterna acesa numa das salas superiores. Eragon sabia queLord Bradburn, o governador de Belatona a cidade que os Varden queriam conquistar e pelaqual lutavam h longas horas estava algures dentro da fortaleza.

    Eragon gritou e saltou da pilha de cascalho, em direo aos soldados. Os homens recuaramatrapalhadamente, embora mantivessem as lanas e os piques apontados para a brechairregular que Saphira abrira na muralha exterior do castelo.

    Eragon torceu o tornozelo direito ao cair, aterrando de joelhos e apoiando-se no cho com amo que empunhava a espada.

    Um dos soldados aproveitou para correr para fora da formao e tentou golpear a gargantaexposta de Eragon com a lana.

    Eragon aparou o golpe com um movimento brusco do pulso, brandindo Brisingr comdemasiada rapidez para os olhos de um humano ou de um elfo. Ao aperceber-se do seu erro, osoldado empalideceu de pavor e tentou fugir, mas conseguiu apenas mover-se uns escassoscentmetros antes de Eragon o atacar e atingir no ventre.

    Saphira saltou para o ptio, atrs de Eragon, expelindo um jato de chamas azuis e amarelas.Ele baixou-se, firmando as pernas, quando o drago embateu no cho pavimentado. Todo optio estremeceu com o impacto. Grande parte das lascas de vidro que compunham um grandemosaico colorido, em frente da fortaleza, soltaram-se e voaram rodopiando pelo ar comomoedas a ressaltarem num tambor. L em cima, duas portadas de uma janela do edifcioabriram-se e fecharam-se ruidosamente.

  • Arya acompanhou Saphira e os seus longos cabelos negros ondularam selvaticamente em tornodo rosto angular, ao saltar da pilha de cascalho. Tinha os braos e o pescoo salpicados desangue e a lmina da espada manchada de sangue seco. Ao aterrar no ptio, os seus sapatosproduziram um rudo suave de cabedal a roar na pedra.

    A sua presena encorajou Eragon, pois era quem mais desejava ter junto de si e de Saphira, alutar. Considerava-a a parceira perfeita para o proteger.

    Sorriu-lhe brevemente e Arya retribuiu-lhe de igual modo, com uma expresso feroz e jovial.Em combate a sua postura reservada dava lugar a uma abertura que raramente revelavanoutros momentos.

    Eragon escondeu-se atrs do escudo ao ver surgir uma cortina ondulante de chamas azuis entreeles. Por baixo do aro do elmo viu Saphira banhar os soldados encolhidos numa torrente dechamas que fluam em torno deles, sem contudo lhes tocar.

    Uma srie de archeiros nas ameias da fortaleza dispararam uma saraivada de flechas aSaphira. O calor por cima dela era de tal forma intenso que algumas das flechas incendiaram-se em pleno ar, nada restando delas para alm de cinzas. As outras foram desviadas pelosfeitios de proteo que Eragon erguera em torno de Saphira. Uma flecha perdida ricocheteouno escudo de Eragon, com um rudo surdo, amolgando-o.

    A coluna de chamas envolveu, de sbito, trs dos soldados, matando-os to rapidamente queestes no tiveram sequer tempo para gritar. Os outros soldados agruparam-se no centro doinferno de chamas. As pontas das lanas e os piques refletiam clares de luz azul-clara.

    Por muito que tentasse, Saphira no conseguia sequer chamuscar os sobreviventes, acabandopor desistir de o fazer e cerrando definitivamente as mandbulas com um estalido seco. Naausncia do fogo, o ptio ficou assustadoramente silencioso.

    Eragon deduziu que, tal como antes, quem concedera os feitios de proteo aos soldadosdevia ser um feiticeiro hbil e poderoso.

    Teria sido Murtagh?, pensou. Se assim fosse, porque no estava ele ali com Thorn adefender Belatona? Galbatorix no se preocupa em manter o controlo das suas cidades?

    Eragon correu para diante, cortando o topo de uma dzia de alabardas com um nico golpe deBrisingr, to facilmente como quando cortava a cabea das sementes dos talos de cevada, emcriana. Golpeou o soldado mais prximo no peito e cortou-lhe a cota de malha como se fossefeita de pano fino. O sangue jorrou em torrente. Eragon atingiu o soldado seguinte, golpeou osoldado sua esquerda com o escudo e atirou-o contra trs dos seus companheiros,derrubando-os.

    As reaes dos soldados pareciam-lhe lentas e desajeitadas, enquanto se movia por entre assuas hostes, golpeando-os impunemente. Saphira envolvera-se num combate sua esquerda

  • golpeando os soldados no ar, com as enormes patas, chicoteando-os com a cauda de espiges,mordendo-os e matando-os com uma sacudidela da cabea. Enquanto isso, sua direita, Aryaera como uma mancha de movimento e cada golpe da sua espada assinalava a morte de umvassalo do Imprio. Quando Eragon se virou para se esquivar de duas lanas, viu queBldhgarm, o elfo coberto de pelo, e os outros onze elfos destacados para o proteger a ele e aSaphira o seguiam de perto.

    Mais atrs, os Varden entravam aos magotes no ptio, atravs da brecha na muralha exteriordo castelo, mas decidiram no atacar, pois era demasiado perigoso aproximarem-se deSaphira.

    Nem ela nem Eragon ou os elfos precisavam de ajuda para se desembaraarem dos soldados.

    Pouco depois, o combate separou Eragon de Saphira, levando-os para extremos opostos doptio, mas Eragon no estava preocupado. Mesmo sem as suas protees Saphira estava maisdo que apta a derrotar um grupo de vinte ou trinta humanos, sozinha.

    Uma lana resvalou no escudo de Eragon, ferindo-lhe o ombro, e Eragon virou-se para o seuatacante, um homem enorme cheio de cicatrizes, sem os dentes da frente do maxilar inferior, ecorreu na direo dele. O homem tentou tirar uma adaga do cinto, mas no ltimo instante,Eragon torceu-se, retesou os braos e o peito, batendo no esterno do homem com o ombrodorido.

    O soldado foi projetado vrios metros para trs, com a fora do impacto, e caiu agarrado aocorao.

    Depois, uma saraivada de flechas de penas negras precipitou-se sobre eles, matando ouferindo muitos dos soldados. Eragon escondeu-se para se proteger dos projteis, cobrindo-secom o escudo, embora estivesse confiante de que a sua magia o iria proteger. No seria bomtornar-se descuidado, pois qualquer feiticeiro inimigo poderia disparar uma flecha encantada,capaz de penetrar nas suas protees.

    Um sorriso amargo desenhou-se nos lbios. Os archeiros, l em cima, tinham percebido que asua nica esperana de vitria era matar Eragon e os elfos, independentemente do nmero dehomens que tivessem de sacrificar.

    Demasiado tarde, pensou Eragon, com uma satisfao sinistra.

    Deviam ter abandonado o Imprio enquanto ainda podiam.

    O violento e ruidoso ataque das flechas, permitiu-lhe descansar, um momento que acolheu debom grado. O ataque cidade comeara ao romper do dia e ele e Saphira tinham passado todoo tempo na frente de batalha.

    Assim que as flechas cessaram, Eragon passou Brisingr para a mo esquerda, apanhou umadas lanas dos soldados e arremessou-a aos archeiros, que estavam doze metros acima.

  • Como j antes conclura, era necessrio ter uma prtica considervel para arremessar lanascom preciso, por isso no o surpreendeu no atingir o homem ao qual a apontara. O que osurpreendeu foi o facto de no atingir nenhum dos archeiros alinhados nas ameias. A lanapassou por eles e estilhaou-se na muralha do castelo, por cima da sua cabea. Os archeirosriram-se e desdenharam dele, fazendo-lhe gestos grosseiros.

    Um movimento rpido na sua viso perifrica chamou-lhe a ateno e ele virou-se ainda atempo de ver Arya arremessar a sua lana aos archeiros e empalar dois que estavam lado alado. Arya apontou depois para os homens com a espada e disse:

    Brisingr! e a lana irrompeu em chamas verde-esmeralda.

    Os archeiros recuaram para longe dos cadveres em chamas e, fugiram das ameias como sefossem um s, aglomerando-se junto das entradas que conduziam aos andares de cima docastelo.

    Isso no justo disse Eragon. A minha espada desata a arder como uma fogueira sempreque uso esse feitio.

    Arya olhou-o com um ar vagamente divertido.

    A luta prosseguiu durante mais alguns minutos, durante os quais os soldados que restavam,renderam-se ou tentaram fugir.

    Eragon permitiu que os cinco homens que tinha diante de si fugissem, pois sabia que no iriamlonge. Depois de um rpido exame aos corpos estendidos em seu redor, para confirmar seestavam de facto mortos, olhou para o outro lado do ptio. Alguns dos Varden tinham aberto oporto da muralha exterior e estavam a transportar um arete ao longo da rua que conduzia aocastelo.

    Outros reuniam-se em filas irregulares junto porta da fortaleza, prontos para entrar nocastelo e defrontar os soldados no interior.

    Entre eles estava Roran, o primo de Eragon, a gesticular com o martelo que trazia sempreconsigo, enquanto dava ordens ao destacamento que comandava. Saphira estava agachadasobre os cadveres das suas vtimas, do lado oposto do ptio, com um perfeito caos em seuredor. Tinha gotas de sangue agarradas s escamas semelhantes a jias. As manchas vermelhascontrastavam assombrosamente com o azul do seu corpo. Atirou a cabea espinhosa para trse rugiu triunfante, abafando o alarido da cidade com a ferocidade do seu grito.

    Depois, Eragon ouviu a trepidao de engrenagens e correntes, no interior do castelo, seguidado rudo de pesadas traves de madeira a arranharem umas nas outras, ao serem puxadas paratrs. Os rudos chamaram a ateno de todos para as portas da fortaleza.

    As portas separaram-se, abrindo com um estrondo seco. Uma espessa nuvem de fumo oriundadas tochas acesas no interior ondulou para o exterior, provocando tosse aos Varden que

  • estavam mais prximos e obrigando-os a cobrir o rosto. Algures, nas profundezas daescurido, ouviu-se o matraquear de cascos ferrados nas pedras do pavimento, e depois umcavalo e um cavaleiro irromperam do meio do fumo. O cavaleiro empunhava algo na moesquerda que Eragon, a princpio, julgou ser uma lana vulgar, mas depressa reparou que erafeita de um estranho material verde e tinha uma lmina serrilhada, forjada num padrodesconhecido. Um ligeiro brilho envolvia a ponta da lana, uma luz pouco natural quedenunciava a presena de magia.

    O cavaleiro puxou pelas rdeas e guiou o cavalo na direo de Saphira que se empinou naspatas traseiras, preparando-se para desferir um terrvel golpe mortal com a pata dianteiradireita.

    A preocupao dominou Eragon. O cavaleiro parecia demasiado confiante e a lana erademasiado diferente e assustadora. Embora estivesse supostamente protegida pelas suasdefesas, Eragon tinha a certeza de que Saphira corria perigo de vida.

    No vou conseguir alcan-la a tempo, concluiu. Dirigiu os seus pensamentos para ocavaleiro, mas o homem estava de tal forma concentrado na sua misso que nem sequer deupela presena de Eragon, e sua concentrao inabalvel permitiu apenas que Eragon acedessesuperficialmente sua conscincia.

    Fechando-se em si mesmo, Eragon reviu meia dzia de palavras da lngua antiga e comps umfeitio simples para imobilizar o cavalo de guerra, que avanava a galope. Era um ato dedesespero, pois Eragon no sabia se o cavaleiro tambm era feiticeiro, nem que precauestomara para evitar ser atacado por magia mas no estava disposto a ficar ali parado, estandoa vida de Saphira em perigo.

    Encheu os pulmes de ar, recordando a si mesmo a pronunciao correta de alguns sons maisdifceis na lngua antiga, e depois abriu a boca para proferir o feitio.

    Foi rpido, mas os elfos foram ainda mais rpidos, e antes que ele conseguisse proferir umanica palavra, um frenesi de cnticos baixos explodiu atrs de si, com vrias vozessobrepostas a entoarem uma melodia dissonante e inquietante.

    Me conseguiu ainda dizer, mas entretanto a magia dos elfos produziu efeito.

    O mosaico em frente do cavalo estremeceu e moveu-se, e as lascas de vidro fluram comogua. Abriu-se uma longa fenda no cho, uma enorme fissura de profundidade indefinida.Relinchando ruidosamente, o cavalo mergulhou no buraco e empinou-se para a frente, partindoas patas dianteiras.

    Enquanto o cavalo e o cavaleiro caam, o homem montado na sela, puxou o brao para trs eatirou a lana fluorescente na direo de Saphira.

    Saphira no conseguia correr nem esquivar-se, por isso sacudiu uma pata na direo do dardo,esperando desvi-lo. Contudo, falhou por escassos centmetros e Eragon, horrorizado, viu

  • a lana cravar-se noventa centmetros ou mais no peito de Saphira, mesmo abaixo daclavcula.

    Um vu palpitante de raiva toldou-lhe a viso e Eragon recorreu a toda a energia que tinhaarmazenada no corpo, na safira embutida no punho da espada, nos doze diamantesescondidos no cinto de Beloch, o Sbio, preso cintura, e ainda imensa energia armazenadano interior de Aren, o anel dos elfos, que lhe ornamentava a mo direita preparando-se paraobliterar o cavaleiro, independentemente do risco.

    Contudo, conteve-se quando Bldhgarm apareceu e saltou sobre a pata dianteira de Saphira. Oelfo atirou-se para cima do cavaleiro como uma pantera a atacar um veado, derrubando ohomem de lado. Sacudindo ferozmente a cabea, Bldhgarm rasgou a garganta do homem comos seus longos dentes brancos.

    Um guincho de desespero avassalador emanou de uma janela alta, por cima da entrada abertada fortaleza, seguida de uma exploso de chamas que projetou blocos de pedra de dentro doedifcio. Os blocos aterraram no meio do grupo dos Varden, esmagando membros e torsoscomo se fossem ramos secos.

    Eragon ignorou as pedras que se precipitavam no ptio e correu para Saphira, apercebendo-sede que Arya e os seus guardas o acompanhavam. Outros elfos mais prximos estavam j aagrupar-se em torno dela, examinando a lana que se projetava do seu peito.

    grave? Ela est disse Eragon, demasiado abalado para completar as frases.Desejava muito falar mentalmente com Saphira mas, enquanto os feiticeiros inimigosestivessem na rea, no se atrevia a expor-lhes a sua conscincia, no fossem os seusoponentes sondar os seus pensamentos e assumir o controlo do seu corpo.

    Depois de uma espera aparentemente interminvel, Wyrden, um dos elfos macho, disse:

    Podes agradecer ao destino, Aniquilador de Espetros, pois a lana no alcanou as veias eas artrias principais no pescoo.

    Apenas atingiu msculos e ns podemos recuperar msculos.

    Conseguem tir-la? Tm algum feitio que nos impeam de a

    Ns vamos tratar disso, Aniquilador de Espetros.

    Com uma solenidade prpria de sacerdotes reunidos diante de um altar, todos os elfos, exceo de Bldhgarm, colocaram as palmas das mos sobre o peito de Saphira e entoaramum cntico semelhante ao murmrio fantasmagrico do vento por entre um aglomerado desalgueiros. Cantavam sobre calor e crescimento de msculos e tendes, sobre sanguepalpitante e outros temas mais obscuros. Aparentemente com um enorme esforo, Saphirapermaneceu na mesma posio durante todo o encantamento, embora fosse assolada portremores que lhe sacudiam o corpo com apenas alguns segundos de intervalo. Um rasto de

  • sangue escorreu-lhe do peito, junto lana que l se encontrava cravada.

    Quando Bldhgarm se aproximou dele, Eragon olhou o elfo de relance. Tinha sangue seco nopelo do queixo e do pescoo, que j no estava azul-escuro mas sim negro cerrado.

    O que foi aquilo? perguntou Eragon, apontando para as chamas que danavam ainda najanela alta, por cima do ptio.

    Bldhgarm, lambeu os lbios, expondo os seus caninos de gato antes de responder.

    Instantes antes do soldado morrer, eu consegui penetrar na mente dele e atravs dela, namente do feiticeiro que o estava a ajudar.

    Mataste o feiticeiro?

    Digamos que o obriguei a matar-se. Normalmente no recorreria a uma exibio teatral toextravagante, mas estava

    irritado.

    Eragon comeou a andar mas depois deteve-se, ao ouvir Saphira soltar um longo gemidobaixo, medida que a lana deslizava do seu peito sem que ningum lhe tocasse. As suasplpebras estremeceram e ela inspirou repetidas vezes, superficialmente, enquanto os ltimosquinze centmetros da lana emergiam do seu corpo. A lmina serrilhada, com a aurolaindistinta de luz, cor de esmeralda, caiu no cho e ressaltou nas pedras do pavimento,produzindo um rudo que mais parecia de cermica do que de metal.

    Quando os elfos pararam de cantar e tiraram as mos de Saphira, Eragon correu para o seulado e tocou-lhe no pescoo. A sua vontade era consol-la, dizer-lhe como ficara assustado,unir a sua conscincia dela mas, em vez disso, contentou-se em olhar para um dos seus olhosazuis, cintilantes e perguntar:

    Ests bem? As palavras pareciam insignificantes comparadas com a profundidade das suasemoes.

    Saphira respondeu, piscando o olho uma nica vez. Depois baixou a cabea e acariciou-lhe orosto com uma delicada lufada de ar quente que soltou das narinas.

    Eragon sorriu. Depois virou-se para os elfos e disse:

    Eka elrun ono, lfya, wiol frn Thornessa agradecendo-lhes a ajuda na lngua antiga. Oselfos que tinham participado na cura, incluindo Arya, fizeram uma vnia, colocando a modireita sobre o peito, num gesto de respeito caracterstico da sua raa.

    Eragon reparou que mais de metade dos elfos destacados para o proteger a ele e a Saphiraestavam plidos, fracos e vacilantes.

  • Retirem-se e descansem disse-lhes. Ainda se matam se ficarem. Vamos, uma ordem!

    Embora Eragon tivesse a certeza de que a ideia de partir lhes desagradava, os sete elfosresponderam:

    Como queiras, Aniquilador de Espetros. Dito isto, retiraram-se do ptio, caminhando porcima dos cadveres e do entulho.

    Mesmo no limite da sua resistncia tinham uma aparncia nobre e digna.

    Eragon reuniu-se depois a Arya e a Bldhgarm, que estavam a examinar a lana, ambos comuma expresso estranha, como se no soubessem bem como reagir. Eragon baixou-secautelosamente junto deles, para que nenhuma parte do seu corpo tocasse na arma.

    Olhou para as delicadas linhas gravadas em torno da base da ponta da lana e pareceureconhec-las, ainda que no soubesse ao certo porqu. Olhou para o punho esverdeado, feitode um material que no era madeira nem metal e, de novo, para o brilho suave que lhelembrava as lanternas sem chama que os elfos e os anes usavam para iluminar as suas salas.

    Achas que isto obra de Galbatorix? perguntou Eragon.

    Talvez ele conclusse que era prefervel matar-me a mim e a Saphira em vez de capturar-nos.Talvez ele pense que nos tornmos uma ameaa.

    Bldhgarm fez um sorriso desagradvel.

    Eu no me enganaria a mim prprio com essas fantasias, Aniquilador de Espetros. Ns nopassamos de um incmodo sem importncia para Galbatorix. Se ele quisesse realmente matar-te a ti ou a qualquer um de ns, bastar-lhe-ia voar de Yrbaen e defrontar-nos diretamente emcombate, e ns tombaramos diante dele como folhas secas antes de uma tempestade deinverno. Ele detm a fora do drago e ningum consegue resistir ao seu poder.

    Alm disso, no fcil desviar Galbatorix dos seus propsitos.

    Poder ser louco mas igualmente engenhoso e, acima de tudo, determinado. Se ele quiserescravizar-te, lutar obsessivamente para alcanar esse objetivo, e nada o desencorajar a noser o seu instinto de sobrevivncia.

    Em todo o caso disse Arya , isto no obra de Galbatorix, isto coisa nossa.

    Eragon franziu o sobrolho:

    Nossa? Os Varden no forjaram isto.

    No os Varden, mas um elfo.

  • Mas Eragon deteve-se, tentando encontrar uma explicao racional. Mas nenhum elfoaceitaria trabalhar para Galbatorix. Prefeririam morrer a

    Galbatorix no teve nada a ver com isto e, mesmo que tivesse, dificilmente daria uma armato rara e poderosa a um homem que no fosse capaz de zelar por ela. De todos as armas deguerra espalhadas por Alagasia, esta a que Galbatorix menos desejaria ver na nossa posse.

    Porqu?

    Ronronando ligeiramente, Bldhgarm disse na sua voz cava e intensa:

    Porque uma Dauthdaert, Eragon, Aniquilador de Espetros.

    E o seu nome Niernen, a Orqudea acrescentou Arya, apontando para as linhas gravadasna ponta, que Eragon percebeu depois tratarem-se de hierglifos estilizados do singularsistema de escrita dos elfos formas curvas e entrelaadas que terminavam em pontas longasem forma de espinhos.

    Uma Dauthdaert? Vendo Arya e Bldhgarm olharem-no com um ar incrdulo, Eragonencolheu os ombros, constrangido, pela sua falta de cultura. Frustrava-o que os elfosusufrussem de dcadas e dcadas de estudo com os melhores acadmicos da sua raa,enquanto cresciam, e o seu prprio tio, Garrow nunca lhe tivesse ensinado sequer o seualfabeto por no o considerar importante. Eu s li coisas dessas em Elesmra. O que ? Foiforjada durante a Queda dos Cavaleiros para ser usada contra Galbatorix e os Renegados?

    Bldhgarm abanou a cabea.

    Niermen mais antiga, muito mais antiga que isso.

    As Dauthdaertya disse Arya nasceram do medo e do dio que marcou os anos finais danossa guerra com os drages. Os nossos ferreiros e feiticeiros mais habilidosos forjaram-nasa partir de materiais que j no entendemos, imbuindo-as de encantamentos cujas palavras jno recordamos e batizando-as s doze com os nomes das mais belas flores a mais terrveldas incoerncias uma vez que as fizemos com um nico propsito em mente: matar drages.

    Uma sensao de repulsa invadiu Eragon, ao olhar para a lana fluorescente.

    E mataram-nos?

    Os que estiveram presentes dizem que o sangue dos drages choveu dos cus como umaguaceiro de vero.

    Saphira deixou escapar um silvo alto e brusco.

    Eragon olhou-a, por instantes, e viu pelo canto do olho que os Varden mantinham ainda as suasposies diante da fortaleza, espera que ele e Saphira retomassem a dianteira da ofensiva.

  • Todos pensavam que as Dauthdaertya tinham sido destrudas ou estavam irremediavelmenteperdidas disse Bldhgarm.

    Obviamente que estvamos enganados. Niernen deve ter passado para as mos da famliaWaldgrave e eles devem t-la mantido escondida aqui, em Belatona. Creio que, quandopenetrmos nas muralhas da cidade, Lord Bradburn perdeu a coragem e mandou buscarNiernen ao seu arsenal para te tentar deter a ti e a Saphira.

    Sem dvida que Galbatorix ficaria absolutamente furioso se soubesse que Bradburn tentoumatar-te.

    Embora consciente de que tinham de se apressar, a curiosidade de Eragon no o deixavapartir.

    Independentemente do facto de ser uma Dauthdaert, ainda no me explicaram por que razoGalbatorix no gostaria que nos apossssemos dela. E fez um gesto em direo lana. Oque tem Nierman de mais perigoso do que aquela lana, ali, ou at mesmo Bris Conseguiuconter-se antes de pronunciar o nome completo. Ou a minha espada?

    Foi Arya que respondeu.

    No pode ser destruda pelos meios normais, o fogo no a afeta e quase totalmenteresistente magia, como tu prprio viste.

    As Dauthdaertya foram concebidas para resistir a todos os feitios que os drages lanassem epara proteger quem as empunhasse desses feitios uma perspetiva desencorajante, seconsiderarmos o poder, a complexidade e a natureza inesperada da magia dos drages. Nodeve haver ningum em Alagasia com tantas protees como Galbatorix e Shruikan, mas possvel que Niernen conseguisse penetrar nas suas defesas, como se estas no existissemsequer.

    Eragon percebeu e foi invadido por uma enorme alegria.

    Temos de

    Um rudo interrompeu-o.

    O som foi cortante e arrepiante como metal a arranhar pedra.

    Os dentes de Eragon vibraram em sintonia e ele tapou os ouvidos com as mos, fazendo umacareta ao virar-se para tentar localizar a fonte do rudo. Saphira atirou a cabea para trs e,mesmo sobre o estrpito, Eragon ouviu-a gemer de aflio.

    Eragon varreu o ptio com o olhar, por duas vezes, antes de reparar numa tnue nuvem de p aerguer-se ao longo da muralha da fortaleza, de uma racha de trinta centmetros que surgiu porbaixo da janela enegrecida e parcialmente destruda, onde Bldhgarm matara o feiticeiro.

  • Quando o rudo se intensificou, Eragon arriscou levantar uma mo que tapava o ouvido eapontar para a racha.

    Olha! gritou a Arya, que acenou em sinal de reconhecimento. Eragon voltou a tapar oouvido com a mo.

    O rudo parou inesperadamente.

    Eragon esperou alguns instantes, baixando depois lentamente as mos e desejando por uma vezna vida que a sua audio no fosse to sensvel.

    No instante em que o fez, a racha abriu-se mais at ficar com vrios metros de largura ,descendo rapidamente ao longo da muralha da fortaleza. Ao alcanar a pedra angular, porcima das portas do edifcio, estilhaou-a como um relmpago, salpicando o cho de pedras.Todo o castelo rangeu e a parte da frente da fortaleza, desde a janela danificada pedraangular, partida, comeou a inclinar-se para fora.

    Fujam! gritou Eragon aos Varden, embora os homens estivessem j a dispersar para ambosos lados do ptio, desesperados para sair debaixo da muralha em equilbrio precrio.

    Eragon deu um nico passo em frente, com os msculos do corpo tensos, procurando sinais deRoran, algures no meio da turba de guerreiros.

    Por fim viu-o, encurralado atrs do ltimo grupo de homens que estava junto da porta, a gritar-lhes furiosamente, mas sem conseguir fazer-se ouvir no meio de todo aquele alvoroo. Depoisa muralha moveu-se e inclinou-se alguns centmetros afastando-se ainda mais do resto doedifcio bombardeando Roran com pedras, fazendo-o perder o equilbrio e forando-o acambalear para trs, por baixo dos beirais da porta.

    Quando Roran se endireitou, o seu olhar cruzou-se com o de Eragon e este viu nele umacentelha de medo e de desespero, seguida de imediato por uma expresso de resignao, comose Roran soubesse que no conseguiria alcanar a segurana a tempo, por muito depressa quecorresse.

    Um sorriso amargo desenhou-se nos lbios de Roran.

    E a muralha caiu.

  • A QUEDA DO MARTELONo! gritou Eragon, ao ver a muralha da fortaleza desmoronar-se ruidosamente, soterrandoRoran e cinco outros homens sob um amontoado de pedra com seis metros de altura einundando o ptio com uma nuvem escura de p.

    Eragon gritou to alto que lhe faltou a voz e sentiu uma camada pegajosa de sangue, com sabora cobre, no fundo da garganta, inspirando e dobrando-se sobre si a tossir.

    Vaetna arquejou ele, acenando com a mo. A espessa cortina de p cinzento apartou-secom um rudo semelhante ao restolhar de seda, descobrindo a parte central do ptio. Eragonestava de tal forma preocupado com Roran, que mal reparou na energia que o feitio lheroubara.

    No, no, no, no murmurou Eragon. Ele no pode estar morto. No pode, no pode, nopode Eragon continuou a repetir mentalmente a frase como se a repetio pudessetransform-la em realidade. Mas, quanto mais a repetia mais esta lhe parecia uma orao parao mundo em geral e no constatao de um facto ou de uma esperana.

    Arya e os outros guerreiros dos Varden, diante dele, tossiam e limpavam os olhos com aspalmas das mos. Muitos estavam curvados para a frente como se esperassem ser atingidos,outros estavam pasmados a olhar para a fortaleza danificada. Os escombros do edifcioespalharam-se pelo meio do ptio, encobrindo o mosaico. Duas divises e meia do segundoandar do forte e uma no terceiro a sala onde o feiticeiro morrera to violentamente estavam expostas aos elementos. As salas e a moblia pareciam sujas e bastante decrpitas luz do sol. No interior, meia dzia de soldados armados de bestas, recuaram atrapalhadamentedo abismo beira do qual se encontravam agora, precipitando-se pelas portas, ao fundo dasdivises, aos empurres e encontres, e desaparecendo nas profundezas da fortaleza.

    Eragon tentou calcular o peso de um bloco de pedra na pilha de escombros; devia pesarcentenas de quilos. Se ele, Saphira e os elfos trabalhassem em conjunto, estava certo queconseguiriam remover as pedras com magia, mas o esforo deix-los-ia fracos e vulnerveis.Alm disso, iria demorar demasiado tempo. Eragon pensou por instantes em Glaedr odrago dourado seria suficientemente forte para erguer toda aquela pilha de uma s vez

    mas o tempo era crucial e ele demoraria demasiado tempo a recolher o Eldunar de Glaedr.De qualquer forma, Eragon sabia que poderia nem sequer conseguir convencer Glaedr a falarcom ele, muito menos a ajudar a salvar Roran e os outros homens.

    Depois ele visualizou Roran, tal como este aparecera antes do dilvio de pedras e de p oesconder da sua viso, debaixo dos beirais da porta de entrada do forte, e deu um salto,percebendo o que fazer.

    Saphira, ajuda-os! gritou Eragon, largando o escudo e correndo para diante.

  • Ouviu Arya dizer algo na lngua antiga atrs de si uma frase curta, tipo Esconde isto! acompanhando-o depois de espada em punho, pronta para lutar.

    Ao alcanar a base da pilha de escombros, Eragon saltou o mais alto que pde, aterrando nums p sobre a face inclinada de um bloco. Depois voltou a saltar, atirando-se sucessivamentede um ponto para o outro, como um cabrito-monts a escalar a encosta de um desfiladeiro.Detestava a ideia de deslocar os blocos, mas subir a pilha era a forma mais rpida de alcanaro seu destino.

    Saltando uma ltima vez, Eragon alcanou a beira do segundo andar e correu pela sala.Empurrou a porta, sua frente, com tanta fora que lhe partiu o trinco e as dobradias,projetando-a pelo ar, contra a parede do corredor, por trs desta, e rachando as pesadaspranchas de carvalho.

    Ele correu pelo corredor, mas os seus passos e a sua respirao pareciam-lhe estranhamenteabafados, como se tivesse os ouvidos cheios de gua.

    Ao aproximar-se de uma porta aberta, abrandou. Atravs da abertura viu um escritrio comcinco homens armados, a apontarem para um mapa e a discutirem. Nenhum deles reparou emEragon.

    Continuou a correr.

    Dobrou velozmente uma esquina e chocou com um soldado que vinha na direo contrria. Aoembater com a testa na borda do escudo do homem, Eragon viu manchas vermelhas eamarelas.

    Agarrou-se ao soldado e ambos cambalearam para trs e para diante ao longo do corredor,como um par de bailarinos bbados.

    Enquanto tentava recuperar o equilbrio, o soldado praguejou:

    O que se passa contigo? Maldito sejas trs vezes disse.

    Depois olhou para o rosto de Eragon e arregalou os olhos. Tu?

    Eragon cerrou o punho direito e esmurrou o homem na barriga, mesmo abaixo da caixatorcica. O golpe ergueu o homem do cho e projetou-o contra o teto.

    Eu mesmo anuiu Eragon, quando o homem tombou no cho, inerte.

    Eragon continuou a percorrer o corredor. A sua pulsao, j de si acelerada, parecia duasvezes mais rpida, desde que entrara na fortaleza; era como se o corao fosse explodir dopeito.

    Onde estar?, pensou, nervosamente, olhando atravs de outra entrada. Mas viu apenas uma

  • sala vazia.

    Finalmente, ao fundo de uma sombria passagem lateral, avistou uma escada em caracol edesceu os degraus cinco a cinco, sem se preocupar com a sua segurana enquanto descia atao primeiro andar, parando apenas para desviar um archeiro sobressaltado do seu caminho.

    A escada terminou e ele alcanou uma sala de teto alto, abobadado, que lembrava a catedralde Dras-Leona. Girando sobre si mesmo, recolheu algumas impresses rpidas: escudos,armas, e estandartes vermelhos pendurados nas paredes; janelas estreitas mesmo abaixo doteto; tochas instaladas em suportes de ferro forjado; lareiras vazias; longas mesas escuras,assentes em armaes, empilhadas de ambos os lados da sala, e um estrado ao topo da sala,onde estava um homem de tnica e de barbas, em frente de uma cadeira de costas altas. Eragonestava no salo principal do castelo. sua direita, entre si e as portas que conduziam entrada da fortaleza, havia um contingente de, pelo menos, cinquenta soldados. A linhadourada nas suas tnicas cintilou ao remexerem-se surpreendidos.

    Matem-no! ordenou o homem de barbas, parecendo mais assustado do que propriamenteautoritrio. Quem o matar receber um tero do meu tesouro! Prometo!

    Uma terrvel frustrao cresceu em Eragon, vendo-se mais uma vez atrasado. Desembainhandoa espada, ergueu-a sobre a cabea e gritou:

    Brisingr!

    Um casulo fantasmagrico de chamas azuis ganhou vida em torno do gume, percorrendo-o at ponta. O calor do fogo aqueceu a mo de Eragon e um dos lados do seu rosto.

    Depois baixou os olhos para os soldados.

    Ponham-se a andar rugiu ele.

    Os soldados hesitaram mais um instante e, a seguir, viraram-se e fugiram.

    Eragon atacou, ignorando as lesmas em pnico ao alcance da sua espada flamejante. Umhomem tropeou e caiu diante de si e Eragon saltou por cima do soldado sem lhe tocar naborla do elmo.

    A deslocao de ar ocasionada pela passagem de Eragon, fustigava as chamas do gume,alongando-as atrs da espada como a crina de um cavalo a galope.

    Curvando os ombros para a frente, Eragon irrompeu pelas portas que protegiam a entrada parao salo principal, correndo ao longo de uma cmara comprida e ampla, ladeada de salascheias de soldados bem como engrenagens, polias e outros mecanismos utilizados para fazersubir e descer os portes da fortaleza , largando depois a correr a toda velocidade para oporto suspenso que bloqueava o caminho para o local onde Roran estava quando a muralhada fortaleza rura.

  • A grade de metal entortou-se quando Eragon bateu nela, mas no o suficiente para partir ometal.

    Deu um passo vacilante para trs.

    Voltou a canalizar a energia armazenada nos diamantes do cinto

    o cinto de Beloth, o Sbio para Brisingr, esvaziando as pedras preciosas da sua valiosacarga e ateando o fogo da espada at uma intensidade quase insuportvel. Um grito sempalavras escapou-se, ao puxar o brao para trs e bater no porto suspenso. Fascas laranjas eamarelas salpicaram-no, marcando-lhe as luvas e a tnica e fazendo-lhe arder a carne exposta.Uma gota de ferro fundido caiu-lhe sobre a biqueira da bota, a ferver, e ele sacudiu-a,agitando o tornozelo.

    Fez trs cortes no porto suspenso, fazendo cair para dentro uma seco do tamanho de umhomem. As pontas cortadas da grade brilhavam, incandescentes, iluminando a rea com a suaradincia suave.

    Ao entrar pela abertura que criara, Eragon deixou que as chamas que se erguiam de Brisingrse extinguissem.

    Correu primeiro para a esquerda, depois para a direita e de novo para a esquerda,percorrendo as direes alternadas da passagem, um intrincado caminho concebido paraempatar o avano das tropas caso estas conseguissem ganhar acesso fortaleza.

    Ao dobrar a ltima esquina, Eragon viu o seu destino: o prtico afogado em destroos. Mesmocom a sua viso de elfo, ele conseguia apenas distinguir as formas mais volumosas naescurido, a derrocada de pedras apagara as tochas nas paredes. Ouviu um estranho rudo dealgo a bufar e a debater-se. Dir-se-ia uma besta desajeitada a esgravatar nos escombros.

    Naina disse Eragon.

    Uma luz azul, sem direo especfica, iluminou o espao e Roran surgiu diante dele, cobertode p, sangue, cinzas e suor, de dentes arreganhados, num esgar feroz, a bater-se com umsoldado sobre os cadveres de dois outros.

    Ao ver aquela claridade repentina, o soldado encolheu-se e Roran aproveitou a distrao dohomem para se torcer e o erguer de joelhos, tirando-lhe a adaga da bainha e cravando-a porbaixo do canto do maxilar.

    O soldado esperneou duas vezes e ficou imvel.

    Tentando recuperar o flego, Roran ergueu-se junto do corpo, com sangue a escorrer-lhe pelosdedos e olhou para Eragon com uma expresso curiosamente vidrada.

    J no era tempo seu disse ele. Depois revirou os olhos e desmaiou.

  • SOMBRAS NO HORIZONTEEragon teve de largar Brisingr para conseguir agarrar Roran, antes que este casse no cho,embora estivesse relutante em faz-lo. Mesmo assim, abriu a mo e a espada caiuruidosamente nas pedras, no preciso instante em que o peso de Roran lhe assentava nosbraos.

    Est muito ferido? perguntou Arya.

    Eragon encolheu-se, surpreendido por v-la com Bldhgarm junto de si.

    No me parece. Bateu vrias vezes, ao de leve, nas faces de Roran, limpando-lhe o p quetinha na pele. Sob o brilho uniforme, cor de gelo, do feitio de Eragon, Roran parecia abatido.Tinha manchas negras em torno dos olhos e os lbios arroxeados, como se estivessem sujos desumo de amoras. Anda l, acorda.

    Segundos depois, as plpebras de Roran estremeceram, ele abriu-as e olhou para Eragon,visivelmente confuso. Eragon sentiu tamanho alvio, que quase conseguia prov-lo.

    Desmaiaste durante uns instantes explicou ele.

    Ah.

    Est vivo!, disse a Saphira, arriscando um breve momento de contacto.

    O prazer dela era visvel. timo. Vou ficar aqui e ajudar os elfos a remover as pedras doedifcio. Se precisares de mim grita e eu arranjarei maneira de te alcanar.

    A cota de malha de Roran tilintou, quando Eragon o ajudou a levantar-se.

    E os outros? perguntou Eragon, fazendo um gesto em direo ao amontoado de escombros.

    Roran abanou a cabea.

    Tens a certeza?

    Ningum poderia ter sobrevivido ali debaixo. Eu s escapei

    porque estava parcialmente protegido pelos beirais.

    E tu? Ests bem? perguntou Eragon.

    O qu? disse Roran, franzindo o sobrolho, parecendo confuso, como se tal pensamentojamais lhe tivesse ocorrido.

    Estou bem Sou capaz de ter o pulso partido, mas no grave.

  • Eragon atirou um olhar suplicante a Bldhgarm e o elfo assumiu uma expresso tensa, numavaga demonstrao de desagrado, mas aproximou-se de Roran, dizendo-lhe numa voz suave:

    Se no te importas Esticou a mo para o brao ferido de Roran.

    Enquanto Bldhgarm tratava de Roran, Eragon apanhou Brisingr e ficou de guarda entradacom Arya, para o caso de alguns soldados cometerem a imprudncia de os atacar.

    Pronto, j est disse Bldhgarm, afastando-se de Roran, que girou o pulso em crculo paratestar a articulao.

    Satisfeito, Roran agradeceu a Bldhgarm, baixando depois a mo e comeando a remexer nocho coberto de escombros at encontrar o martelo. Depois reajustou a armadura e olhou paraa entrada.

    J tenho que chegue deste Lord Bradburn disse ele num tom enganadoramente calmo. Acho que manteve o seu poleiro tempo demais e devia ser aliviado das suasresponsabilidades. No concordas, Arya?

    Sim.

    Bom, ento vamos l procura desse velho panudo; dava-lhe umas pancadinhas suavescom o meu martelo em memria de todos os que perdemos hoje.

    Estava no salo principal, h alguns minutos atrs disse Eragon , mas duvido que tenhaficado nossa espera.

    Roran acenou com a cabea.

    Nesse caso teremos de o perseguir. Dito isto, comeou a andar.

    Eragon extinguiu o feitio de luz e seguiu apressadamente o primo, empunhando Brisingr emguarda. Arya e Bldhgarm mantiveram-se to perto dele quanto possvel, na intrincadapassagem.

    A passagem dava acesso a uma cmara que estava deserta, tal como o salo principal docastelo, onde a nica evidncia da presena dos soldados e oficiais que a ocupavamanteriormente era um elmo cado no cho, a baloiar para trs e para diante em crculosdecrescentes.

    Eragon e Roran passaram a correr pelo estrado de mrmore.

    Eragon tentou no correr muito depressa para que Roran no ficasse para trs. Mesmo esquerda da plataforma, deram um pontap numa porta e subiram apressadamente as escadaspor trs desta.

  • Paravam em cada andar, para que Bldhgarm pudesse sondar mentalmente quaisquer vestgiosde Lord Bredburn e da sua comitiva, mas no encontrou nenhum.

    Ao chegarem ao terceiro andar, Eragon ouviu o estrpito de passos e viu uma infinidade delanas em riste preencherem a passagem em arco, em frente de Roran. As lanas golpearamRoran na face e na coxa direita, cobrindo-lhe o joelho de sangue.

    Ele urrou como um urso ferido e investiu contra as lanas, com o escudo, tentando subir osltimos degraus e sair da escadaria. Os homens gritavam freneticamente.

    Eragon passou Brisingr para a mo esquerda, atrs de Roran, esticou o brao para a frente doprimo, agarrou numa das lanas pelo punho e arrancou-a de quem a segurava, virando-a aocontrrio e arremessando-a para o meio dos homens que se amontoavam na passagem. Algumgritou e surgiu uma abertura na parede de corpos. Eragon repetiu a operao e os seusarremessos depressa reduziram o nmero de soldados, permitindo a Roran forar o amontoadode homens a recuar aos poucos.

    Logo que Roran conseguiu sair das escadas, os doze soldados que restavam dispersaram-sepor um amplo patamar, circundado por balaustradas, numa tentativa de arranjar espao parabrandir as armas sem entraves. Roran voltou a urrar e lanou-se em perseguio do soldadomais prximo. Aparou a espada do homem, conseguiu penetrar no seu espao defensivo eatingiu-o no elmo, que retiniu como uma panela de ferro.

    Eragon correu pelo patamar e rasteirou dois soldados que estavam perto um do outro,atirando-os ao cho e despachando cada um deles com um nico golpe de Brisingr. Ummachado voou na sua direo, a girar, mas ele baixou-se e empurrou um homem de umabalaustrada, antes de defrontar outros dois que tentavam esventr-lo com piques de pontasrecurvas.

    Arya e Bldhgarm moviam-se j entre os homens, silenciosos e letais, com a graciosidadeprpria dos elfos, capaz de transformar a violncia em algo mais semelhante a uma encenaoartstica do que luta srdida que caracterizava a maior parte dos combates.

    Os quatro mataram o resto dos soldados, numa exploso de rudos metlicos, ossos partidos emembros decepados. Eragon, como sempre, vibrou com o combate. Era como se algum osurpreendesse com um balde de gua fria, proporcionando-lhe uma sensao de clareza semparalelo em qualquer outra atividade.

    Roran curvou-se e pousou as mos sobre os joelhos, tentando recuperar o flego, como setivesse acabado de fazer uma corrida.

    Posso? perguntou Eragon, apontando para os cortes no rosto e na coxa de Roran.

    Roran experimentou, vrias vezes, assentar o peso do corpo sobre a perna ferida.

    Eu posso esperar. Primeiro, vamos procura de Bradburn.

  • Eragon seguiu na dianteira, ao regressarem escada e recomearem a subi-la. Finalmente,depois de mais cinco minutos de buscas, encontraram Lord Bradburn barricado na sala maisalta da torre, virada a Oeste. Eragon, Arya e Bldhgarm desmantelaram as portas e a torre demoblia empilhada atrs delas, com uma srie de feitios. Ao entrarem nos aposentos, comRoran, os camareiros e os guardas do castelo que se tinham reunido frente de Bradburnempalideceram e muitos deles comearam a tremer. Para seu alvio, Eragon teve apenas dematar trs dos guardas para que o resto do grupo depusesse as armas e os escudos, em sinal derendio.

    Arya aproximou-se depois de Lord Bradburn, que permanecera em silncio durante todo otempo, e disse:

    Bom, ordenais s vossas foras que se rendam? Restam apenas alguns homens mas podeisainda salvar-lhes a vida.

    Mesmo que pudesse no o faria disse Bradburn num tom de tal forma desdenhoso, queEragon quase lhe bateu. No vos farei quaisquer concesses, elfo. No entregarei os meushomens a criaturas to nojentas e to pouco naturais como tu. Antes a morte.

    E no penses que me iludes com palavras melosas. Eu sei da vossa aliana com os Urgals.Mais depressa confiaria numa serpente do que em algum que partilha o seu po com essesmonstros.

    Arya acenou com a cabea e colocou a mo sobre o rosto de Bradburn. Fechou os olhos e,durante algum tempo, tanto ela como Bradburn ficaram imveis. Eragon alcanou-os com amente e sentiu a guerra de vontades que grassava entre eles, enquanto Arya tentava vencer asdefesas de Bradburn e penetrar na sua conscincia. Levou cerca de um minuto, mas conseguiufinalmente controlar a mente do homem, invocando e examinando as suas memrias atdescobrir a natureza das suas protees.

    Depois falou na lngua antiga e lanou um intrincado feitio concebido para contornar essasdefesas e pr Bradburn a dormir.

    Quando terminou, os olhos de Bradburn fecharam-se e ele caiu-lhe nos braos com umsuspiro.

    Ela matou-o! gritou um dos guardas. Ouviram-se gritos de pavor e de indignao entre oshomens.

    Enquanto tentava convenc-los do contrrio, Eragon ouviu uma das trompetas dos Varden distncia. Pouco depois, ouviu outra trompeta, esta muito mais prxima, depois outra e,finalmente, comeou a apanhar fragmentos de sons que quase poderia jurar tratarem-se devivas indistintos e dispersos, vindos do ptio, em baixo.

    Intrigado, trocou um olhar com Arya e, depois, contornou a sala em crculo, olhando para forade cada janela, nas paredes da cmara.

  • A Oeste e a Sul ficava Belatona, uma grande e prspera cidade, uma das maiores do Imprio.Os edifcios perto do castelo eram estruturas imponentes de pedra, com telhados inclinados ejanelas ogivais, enquanto os mais distantes eram de madeira e argamassa.

    Vrios dos edifcios parcialmente feitos de madeira tinham-se incendiado durante a batalha eo fumo impregnava o ar com uma camada de nvoa castanha que fazia arder os olhos e agarganta.

    A Sudeste, a cerca de um quilmetro e meio da cidade, estava o acampamento dos Varden;longas filas de tendas cinzentas, de l, circundadas por trincheiras ladeadas de estacas, algunspavilhes de cores garridas, com bandeiras e estandartes, e centenas de homens feridosdeitados no cho. As tendas dos curandeiros estavam j alm limite da sua capacidade.

    A Norte, depois das docas e dos armazns, ficava o Lago Leona, uma vasta extenso de gua,salpicada aqui e ali de cristas brancas.

    L no alto, a parede de nuvens negras que avanava de Oeste, aproximava-se da cidade,ameaando envolv-la nas pregas de chuva que se precipitavam do seu ventre como uma saia.Luz azul relampejava aqui e ali nas profundezas da tempestade e os troves ribombavam comoum animal enfurecido.

    Mas Eragon no via, em parte alguma, uma explicao para a agitao que chamara a suaateno.

    Ele e Arya correram para a janela sobranceira ao ptio. Saphira, os homens e os elfos, quetrabalhavam com ela, tinham acabado de remover as pedras em frente da fortaleza. Eragonassobiou e, quando Saphira olhou para cima, ele acenou. Esta abriu as mandbulas num sorrisode dentes aguados, exalando uma tira de fumo na direo dele.

    Ei! Alguma novidade? gritou Eragon.

    Um dos Varden que estava nas muralhas do castelo levantou o brao e apontou para Este:

    Olha, Aniquilador de Espetros! Vm a os homens-gato, vm a os homens-gato!

    Eragon sentiu um arrepio gelado percorrer-lhe a espinha. Seguiu a linha do brao do homemem direo a Este e, desta vez, viu uma pequena hoste de figuras sombrias a emergir de umaprega de terra, a alguns quilmetros de distncia, do outro lado do Rio Jiet.

    Algumas das figuras caminhavam sobre quatro patas, outras sobre duas, mas estavamdemasiado distantes para ele ter a certeza de que eram homens-gato.

    Ser possvel? perguntou Arya, surpreendida.

    No sei Em breve saberemos o que so.

  • O REI GATOEragon estava no estrado do salo principal, mesmo direita do trono de Lord Bradburn, coma mo esquerda no punho de Brisingr, que estava embainhada. Jrmundur o alto comandantedos Varden encontrava-se do outro lado do trono com o elmo debaixo do brao. Tinha algumcabelo grisalho nas tmporas; o resto era castanho e estava preso atrs, numa longa trana. Oseu rosto esguio ostentava uma expresso diligentemente neutra, a expresso de algum comuma longa experincia ao servio de outros. Eragon reparou que Jrmundur tinha um fio desangue a escorrer-lhe da parte debaixo do braal direito, mas no revelava qualquer sinal dedor.

    A sua lder, Nasuada, sentava-se entre ambos, resplandecente, com um vestido verde eamarelo que envergara apenas momentos antes, trocando a indumentria de guerra, por roupasmais adequadas prtica de assuntos de estado. Tambm ela fora marcada durante o combate,como era evidente pela ligadura de linho que lhe envolvia a mo esquerda.

    Falando num tom de voz baixo que apenas Eragon e Jrmundur podiam ouvir, Nasuada disse:

    Se consegussemos o apoio deles

    Mas o que querero eles em troca? perguntou Jrmundur.

    Os nossos cofres esto quase vazios e nosso futuro incerto.

    Movendo os lbios quase imperceptivelmente, ela respondeu:

    Talvez tudo o que desejem de ns seja uma oportunidade de retaliar contra Galbatorix. Fezuma pausa. Se assim no for, teremos de encontrar outros meios que no o ouro para ospersuadir a reunirem-se s nossas hostes.

    Poderias oferecer-lhes barris de natas disse Eragon, o que provocou um ataque de riso aJrmundur e arrancou uma gargalhada suave de Nasuada.

    A sua conversa em voz baixa terminou ao ouvirem trs trompetas no exterior do saloprincipal. Depois, um pajem louro, com uma tnica bordada com o estandarte dos Varden um drago branco a segurar numa rosa por cima de uma espada a apontar para baixo, sobre umfundo prpura entrou pela porta aberta, do outro lado do salo, bateu no cho com o bastocerimonial e anunciou numa voz fina e melodiosa:

    Sua Majestade e Augusta Alteza Real, Grimrr Meiapata, O

    Que Fala Sozinho, Rei dos Homens-Gato, Senhor dos Locais Solitrios, Governante dosDomnios da Noite.

    Que estranho ttulo aquele: O que Fala Sozinho, comentou Eragon com Saphira.

  • Mas bem merecido, presumo, respondeu ela, e ele sentiu quo divertida estava, muito emborano pudesse ver onde permanecia aninhada, na fortaleza do castelo.

    O pajem afastou-se e Grimrr Meiapata entrou pela porta, na forma humana, seguido de outrosquatro homens-gato, que o seguiam de perto, caminhando sobre grandes patas lanudas. Eramos quatro parecidos com Solembum, o nico homem-gato que Eragon vira na forma animal:ombros poderosos e longos membros, com uma gola curta de pelo sobre o pescoo e ocachao, orelhas franjadas e uma cauda de ponta preta, que sacudiam graciosamente de umlado para o outro.

    Grimrr Meiapata, contudo, no se parecia com qualquer pessoa ou criatura que Eragon tivessevisto at ento. Tinha cerca de um metro e vinte de altura, a mesma altura que um ano, pormningum o confundiria com um ano, nem mesmo com um humano.

    Tinha um queixo pequeno e pontiagudo, mas do rosto largas e uns olhos verdes de pupilasfendidas, com pestanas semelhantes a asas, por baixo de umas sobrancelhas arqueadas. Ocabelo negro, escortanhado, cobria-lhe praticamente a testa, mas chegava-lhe aos ombros, delado e atrs, e era liso e lustroso, muito semelhana das jubas dos seus companheiros.Eragon no conseguiria adivinhar a sua idade.

    As nicas roupas que Grimrr usava eram um colete grosseiro de couro e uma tanga de pele decoelho. Trazia crnios de uma dzia de animais pssaros, ratos e outras pequenas presas amarrados parte da frente do colete e estes chocalhavam uns contra os outros quandoandava. Tinha uma adaga embainhada, sada do cinto da tanga, na diagonal. Numerosascicatrizes, finas e esbranquiadas, marcavam-lhe a pele cor de avel, como riscos numa mesamuito usada. Alm disso, como o nome indicava, faltavam-lhe dois dedos na mo esquerda,que pareciam ter sido arrancados dentada.

    Apesar da delicadeza das feies, os msculos rijos e fortes dos braos e do peito de Grimrr,as ancas estreitas e o poder contido da sua passada ao caminhar calmamente ao longo da sala,na direo de Nasuada, no deixavam qualquer dvida de que era um macho.

    Nenhum dos homens-gato pareceu reparar nas pessoas que os observavam, alinhadas deambos os lados do caminho, at Grimmr chegar junto de Angela, a herbanria, que estava aolado de Roran a tricotar uma meia direita, s riscas, com seis agulhas.

    Grimrr franziu os olhos ao olhar para a herbanria e o seu cabelo ondulou, eriando-se talcomo o pelo dos quatro guardas. Os seus lbios recuaram, revelando um par de caninosrecurvos e ele bufou breve e ruidosamente, para espanto de Eragon.

    Angela levantou os olhos da meia, com uma expresso lnguida e insolente.

    Chip, chip.

    Por instantes, Eragon julgou que o homem-gato fosse atac-la.

  • Um rubor escuro manchou o pescoo e o rosto de Grimrr, as suas narinas dilataram-se e elerosnou-lhe baixinho. Os outros homens-gato agacharam-se, prontos a saltar, com as orelhascoladas cabea.

    Eragon ouviu o rudo de espadas a deslizar parcialmente das bainhas, por toda a sala.

    Grimrr voltou a bufar, virando costas herbanria e continuando a caminhar. Quando o ltimohomem-gato passou por Angela ergueu uma pata e deu uma patada sub-reptcia no fio de lpendurado nas agulhas de Angela, como um gato domstico brincalho faria.

    Saphira estava to confusa como Eragon. Chip, chip? perguntou ela.

    Ele encolheu os ombros, esquecendo-se que ela no o poderia ver. Nunca se sabe por quemotivo Angela faz ou diz seja o que for.

    Grimrr parou finalmente diante de Nasuada, inclinou muito ligeiramente a cabea, revelandonesse comportamento a suprema confiana, ou mesmo a arrogncia, que definia o universonico dos gatos, drages e certas mulheres bem-nascidas.

    Lady Nasuada disse. A sua voz era surpreendentemente cava, mais semelhante ao rugidode um gato bravo do que aos tons agudos do rapaz que aparentava ser.

    Nasuada inclinou, por seu turno, a cabea.

    Rei Meiapata. Sois muito bem-vindo aos Varden, vs e toda a vossa raa. Devo apresentaras minhas desculpas pela ausncia do nosso aliado, o rei Orrin de Surda; ele no pde estarpresente para vos saudar, como pretendia, pois est neste momento com os seus cavaleiros adefender o nosso flanco Oeste de um contingente de tropas de Galbatorix.

    Claro, Lady Nasuada disse Grimrr, mostrando os dentes ao falar. Nunca devemos viraras costas aos nossos inimigos.

    Ainda assim Mas a que devemos o prazer inesperado desta visita, Alteza? Os homens-gato sempre foram famosos pelo seu secretismo, pela sua solido e por no se envolverem nosconflitos da poca, especialmente depois da Queda dos Cavaleiros. Poder-se-ia at dizer quea vossa raa se tornou um mito ao longo do ltimo sculo. Por que motivo decidiram mostrar-se agora?

    Grimrr ergueu o brao esquerdo e apontou para Eragon, com um dedo arqueado rematado poruma unha semelhante a uma garra.

    Por causa dele rugiu o homem-gato. No se ataca outro caador antes que este nos reveleas suas fraquezas e Galbatorix revelou as suas: ele no matar Eragon, o Aniquilador deEspetros, nem Saphira Bjartskular. H muito que espervamos esta oportunidade e vamosaproveit-la. Galbatorix aprender a temer-nos e a odiar-nos. Finalmente entender adimenso do seu erro e perceber que ns fomos os responsveis pela sua desgraa. E

  • quo doce ser essa vingana. To doce como a medula de um jovem e tenro javali.

    Chegou o momento, humano, chegou o momento de todas as raas, mesmo os homens-gato, seunirem e provarem a Galbatorix que no quebrou a nossa vontade de lutar. Poderamos juntar-nos ao vosso exrcito como aliados voluntrios e ajudar-vos a consegui-lo, Lady Nasuada.

    Eragon no fazia ideia do que Nasuada pensava mas ele e Saphira estavam impressionadoscom o discurso do homem-gato.

    Depois de uma breve pausa, Nasuada disse:

    As vossas palavras so bastante agradveis aos meus ouvidos, Alteza, mas antes de aceitar avossa oferta, preciso que me deis algumas respostas, se estiverdes disposto a isso.

    Com uma indiferena inabalvel, Grimrr acenou com a mo.

    Estou.

    A vossa raa tem sido to sigilosa e evasiva, que devo confessar que s hoje soube daexistncia de Vossa Alteza. De facto, no sabia sequer que a vossa raa tinha um governante.

    Eu no sou um rei como os vossos reis esclareceu Grimrr.

    Os homens-gato preferem andar sozinhos, mas mesmo ns temos de escolher um lder quandovamos para a guerra.

    Compreendo. Falais em nome de toda a vossa raa, ou apenas em nome daqueles que viajamconvosco?

    Grimrr encheu o peito de ar e assumiu uma expresso ainda mais enfatuada, se que tal erapossvel:

    Falo em nome de toda a minha raa, Lady Nasuada

    ronronou ele. Todos os homens-gato fisicamente capazes de Alagasia, salvo aqueles quecarecem dos nossos cuidados, esto aqui para lutar. Somos poucos, mas a nossa ferocidadeem combate no tem igual e tambm posso comandar a espcie una, embora no possa falarem nome deles, pois so to tontos como os outros animais. Ainda assim, faro o queexigirmos deles.

    Espcie una? inquiriu Nasuada.

    Aquilo a que chamais gatos. Aqueles que no podem mudar a pele como ns.

    E dominais a sua lealdade?

    Sim. Eles admiram-nos o que absolutamente natural.

  • Se o que ele diz verdade, comentou Eragon a Saphira, os homens-gato, podero revelar-seincrivelmente valiosos.

    Depois Nasuada disse:

    E o que desejais de ns em troca da vossa ajuda, Rei Meiapata? Olhou de relance paraEragon e sorriu, acrescentando:

    Poderemos oferecer-vos as natas que quiserdes, mas para alm disso os nossos recursos solimitados. Se os vossos guerreiros esperam ser pagos pelos seus esforos, receio bem quesofram uma amarga deceo.

    As natas so para gatos pequenos e o ouro no nos interessa

    disse Grimrr, erguendo a mo direita, ao falar, e examinando as unhas de plpebrassemicerradas. Os nossos termos so os seguintes: Ser fornecida uma adaga a cada um dens, para combater, caso ainda no tenhamos uma. Cada um de ns ter duas armaduras feitas medida; uma para quando caminharmos sobre duas pernas e outra para quando caminharmossobre quatro.

    No precisamos de outro equipamento a no ser esse

    dispensamos tendas, cobertores, pratos ou colheres. A cada um de ns ser assegurado umpato, um ganso, uma galinha ou um pssaro semelhante por dia, e uma taa de fgado acabadode picar, de dois em dois dias. A comida dever ser reservada para ns, mesmo que optemospor no a comer. Se ganhardes esta guerra, o vosso prximo rei ou rainha e todos os quereclamarem esse ttulo da em diante devero tambm manter uma almofada estofada juntodo trono, num lugar de honra, para um de ns se sentar, se assim o desejarmos.

    Negociais como um legislador ano disse Nasuada, secamente. Inclinou-se para Jrmundure Eragon ouviu-a sussurrar:

    Temos fgado suficiente para os alimentar a todos?

    Creio que sim respondeu Jrmundur, tambm em voz baixa

    , mas depende do tamanho da taa.

    Nasuada endireitou-se no seu lugar.

    Duas armaduras demais, Rei Meiapata. Os vossos guerreiros tero de decidir se queremlutar como gatos ou como humanos e, depois, manter a sua deciso. No tenho disponibilidadepara os equipar com ambas.

    Se Grimrr tivesse cauda, com toda a certeza que a teria sacudido para trs e para diante,pensou Eragon, mas o homem-gato apenas mudou de posio.

  • Muito bem, Lady Nasuada.

    H mais uma questo. Galbatorix tem espies e assassinos escondidos por toda a parte.Portanto, como condio para vos reunirdes aos Varden, tereis de permitir que um dos nossosfeiticeiros examine as vossas memrias para nos certificarmos de que Galbatorix no temdomnio sobre vs.

    Grimrr fungou.

    Sereis imprudente se no o fizesses. Se algum tiver a coragem de ler os nossospensamentos, que os leia. Mas ela no.

    E torceu-se para apontar para Angela. Ela nunca.

    Nasuada hesitou e Eragon percebeu que ela queria perguntar porqu mas conteve-se.

    Que assim seja, ento. Mandarei buscar os feiticeiros de imediato, para que possam resolvereste assunto sem demora.

    Depois do exame, consoante aquilo que encontrarem e estou certa que no ser nada denefasto , ser uma honra estabelecer uma aliana entre vs e os Varden, Rei Meiapata.

    Ao ouvir as suas palavras, todos os humanos presentes na sala comearam a aclamar e aaplaudir, incluindo Angela. Mesmo os elfos pareciam satisfeitos.

    Os homens-gato, contudo, no reagiram, limitando-se virar as orelhas para trs, incomodadoscom o barulho.

  • RESCALDOEragon gemeu e encostou-se a Saphira, escorregando pelas escamas rugosas at ficar sentadono cho, de mos apoiadas nos joelhos, esticando depois as pernas frente do corpo.

    Tenho fome! exclamou.

    Estava com Saphira no ptio do castelo, afastados dos homens que trabalhavam para odesimpedir empilhando pedras e corpos em carroas e das pessoas que saam e entravamno edifcio danificado, muitas das quais tinham assistido audincia de Nasuada com o ReiMeipata e retiravam-se agora para cuidar de outras tarefas. Bldhgarm e quatro elfosmantinham-se ali por perto, atentos a qualquer perigo.

    Ei! gritou algum.

    Eragon levantou os olhos e viu Roran caminhar na sua direo, vindo da fortaleza. Angelaseguia-o a alguns passos de distncia, com a l a esvoaar, quase tinha de correr paraacompanhar a sua passada mais larga.

    Para onde vais agora? perguntou Eragon, quando Roran parou diante de si.

    Vou ajudar a guardar a cidade e a organizar os prisioneiros.

    Ah Os olhos de Eragon vaguearam pelo ptio movimentado, antes de voltar a olhar parao rosto contundido de Roran. Lutaste bem.

    Tu tambm.

    Eragon desviou a sua ateno para Angela, que estava de novo a tricotar, movendo os dedosto depressa, que ele no conseguia acompanhar o que ela fazia.

    Chip, chip? perguntou.

    Uma expresso travessa invadiu-lhe o rosto e ela abanou a cabea, agitando os caracisvolumosos.

    uma histria para outra altura.

    Eragon aceitou a evasiva sem reclamar; no esperava que ela se explicasse pois raramente ofazia.

    E tu? interpelou Roran. Para onde vais?

    Vamos comer qualquer coisa, disse Saphira, batendo ao de leve com o focinho em Eragon eexalando ar morno sobre ele.

  • Roran acenou com a cabea.

    Parece-me boa ideia. Ento, vemo-nos no acampamento esta noite. Ao virar-se para seafastar, acrescentou. Manda saudades minhas a Katrina.

    Angela guardou o tric numa bolsa acolchoada que tinha presa cintura.

    Acho que tambm me vou embora. Estou a preparar uma poo na minha tenda e tenho de ircuidar dela. Alm disso, quero localizar um certo homem-gato.

    Grimrr?

    No, no uma velha amiga minha: a me de Solembum. Isto se ela ainda estiver viva.Espero que sim. Levou a mo testa, formando um crculo com o indicador e o polegar, edisse num tom de voz demasiado alegre:

    Vmo-nos por a. Dito isto, foi-se embora.

    Salta para o meu dorso, disse Saphira, levantando-se e deixando Eragon sem apoio. Ele subiupara a sela na base do pescoo e Saphira abriu as enormes asas, com um rudo seco de pele aroar em pele. O movimento gerou uma rajada de vento quase silenciosa que se espalhoucomo ondas num lago. No ptio, as pessoas pararam para olhar para ela.

    Ao erguer as asas por cima da cabea, Eragon viu a teia de veias avermelhadas que pulsavamdentro delas transformarem-se em trilhos de vermes vazios de cada vez que o fluxo de sangueabrandava, entre as batidas do seu poderoso corao.

    Depois, com um arranque repentino e um solavanco, o mundo girou descontroladamente emtorno de Eragon, enquanto Saphira saltava do ptio para o topo da muralha do castelo, ondepor instantes se equilibrou nos merles, com as pedra a estalar entre as pontas das suas garras.Eragon agarrou-se ao espigo do pescoo, sua frente, para se amparar. O mundo voltou agirar, quando Saphira se lanou da muralha. Um cheiro e um sabor acre assaltaram Eragon,fazendo-lhe arder os olhos, enquanto Saphira atravessava a espessa camada de fumo quepairava sobre Belatona, como um manto de dor, raiva e mgoa.

    Saphira bateu duas vezes as asas, com fora, e os dois emergiram do fumo para a luz do sol,voando sobre as ruas da cidade, salpicadas de fogo. Imobilizando as asas, Saphira planou emcrculos, deixando que o ar quente a levasse mais para cima.

    Mesmo cansado, Eragon apreciou o esplendor da paisagem: a frente da ruidosa tempestadeprestes a engolir Belatona cintilava num branco resplandecente. Enquanto isso, distncia, oscmulos-nimbos alastravam em sombras escuras, que no revelavam nada do que continham, ano ser quando os relmpagos irrompiam atravs deles. De resto, o lago cintilante e ascentenas de pequenas quintas verdejantes dispersas pela paisagem tambm chamaram a suaateno, mas nada era to impressionante como aquela montanha de nuvens.

  • Como sempre, Eragon sentiu-se privilegiado por poder olhar o mundo de to alto, pois sabiaque pouca gente tivera hiptese de voar no dorso de um drago.

    Mudando ligeiramente a posio das asas, Saphira comeou a planar em direo s tendascinzentas que compunham o acampamento dos Varden.

    Um vento forte fustigou-os subitamente, vindo de Oeste, anunciando a tempestade iminente.Eragon curvou-se para a frente e agarrou-se mais firmemente ao espigo do pescoo deSaphira.

    Viu ondulaes brilhantes varrerem os campos, l em baixo, medida que os caules severgavam sob a fora do vendaval crescente. A erva em movimento lembrava-lhe o pelo deum gigantesco animal verde.

    Um cavalo relinchou, quando Saphira sobrevoou as filas de tendas at clareira reservada aela. Eragon ergueu-se parcialmente na sela logo que Saphira enfunou as asas, abrandandoquase at parar sobre a terra revolvida. Eragon caiu para a frente com o impacto da aterragem.

    Desculpa, disse ela. Tentei aterrar o mais suavemente possvel.

    Eu sei.

    No instante em que desmontou, Eragon viu Katrina caminhar apressadamente ao seu encontro.Os seus longos cabelos arruivados redemoinhavam-lhe em torno do rosto, ao atravessar aclareira, e a fora do vento revelava o volume cada vez maior do seu ventre, atravs dascamadas de tecido do vestido.

    Quais so as novidades? gritou ela, com a preocupao estampada em todas as linhas dorosto

    Soubeste dos homens-gato?...

    Ela acenou afirmativamente.

    No h grandes notcias para alm disso. Roran est bem.

    Manda-te saudades.

    A expresso dela suavizou-se, mas a sua preocupao no desapareceu por completo.

    Ento ele est bem? apontou para o anel que usava no terceiro dedo da mo esquerda, umdos dois que Eragon encantara para ela e para Roran, para que ambos soubessem se o outroestava em perigo. Julguei ter sentido algo h cerca de uma hora atrs e estava com receioque

    Eragon abanou a cabea.

  • Roran conta-te. Ficou com uns arranhes e umas ndoas negras, mas para alm disso estbem. Quase morri de susto, apesar de tudo.

    A expresso de preocupao de Katrina agravou-se. Depois sorriu, ainda que com um esforovisvel.

    Pelo menos esto ambos a salvo.

    Separaram-se e Eragon e Saphira encaminharam-se para uma das tendas da messe, junto dosfornos dos Varden. A empanturraram-se de carne e de hidromel, enquanto o vento uivava emtorno deles e os aguaceiros fustigavam a parte lateral da tenda batida pelo vento.

    Ao ver Eragon morder uma fatia de porco assado, Saphira disse: Est bom? Est suculento?

    Humm respondeu Eragon, com regatos de molho a escorrem-lhe pelo queixo.

    MEMRIAS DOS MORTOS

    Galbatorix louco e portanto imprevisvel, mas tem tambm lacunas no raciocnio que umapessoa normal no teria. Se as conseguires descobrir, Eragon, talvez tu e a Saphira o consigamderrotar.

    Brom baixou o cachimbo, com uma expresso grave.

    Espero que sim. O meu maior desejo, Eragon, que tu e a Saphira tenham vidas longas eproveitosas, livres do medo de Galbatorix e do Imprio. Gostava de poder proteger-vos detodos os perigos que vos ameaam mas, infelizmente, isso no est ao meu alcance. Tudo oque posso fazer dar-vos os meus conselhos e ensinar-vos tudo o que puder enquanto aindaaqui estou Meu filho. Acontea o que te acontecer, quero que saibas que te amo e a tua metambm te amava. Que as estrelas zelem por ti, Eragon, Filho de Brom.

    Eragon abriu os olhos e a memria desvaneceu-se. Por cima dele, o teto da tenda estavaabaulado, frouxo como um cantil de pele vazio, depois da sova que levara durante atempestade agora terminada. Uma gota de gua caiu de um bojo de uma dobra e atingiu-o nacoxa direita, ensopando-lhe as perneiras e arrefecendo-lhe a pele por baixo destas. Ele sabiaque teria de ir esticar as cordas que seguravam a tenda, mas estava relutante em sair do catre.

    Brom nunca te disse nada acerca de Murtagh? Nunca te disse que Murtagh e eu ramos meios-irmos?

    Saphira, que estava enroscada no exterior da tenda, disse: Pergunt-lo de novo no vai alterara minha resposta.

    Mas porque no? Porque no o disse ele? Ele devia saber de Murtagh. No possvel que nosoubesse.

  • Saphira demorou a responder.

    Brom l teria as suas razes, mas se me pusesse a adivinhar, imagino que achasse maisimportante dizer-te quanto te amava e dar-te todos os conselhos que pudesse, do que passar otempo a falar de Murtagh.

    Mas ele podia ter-me avisado! Meia dzia de palavras teriam sido o suficiente.

    No posso dizer ao certo o que o motivou, Eragon. Tens de aceitar que h perguntas acerca deBrom a que jamais conseguirs responder. Confia no seu amor por ti e no permitas que essaspreocupaes te perturbem.

    Eragon olhou para os polegares assentes sobre o peito e colocou-os lado a lado, para os podercomparar melhor. O seu polegar esquerdo tinha mais rugas que o direito, na segundaarticulao. Por outro lado, o direito tinha uma pequena cicatriz irregular que no serecordava onde a fizera, embora fosse certamente depois do Agaet Bldhren, a Celebraodo Juramento de Sangue.

    Obrigado, disse a Saphira. Assistira e ouvira trs vezes a mensagem de Brom, atravs dela,desde a queda de Feinster e, de cada vez que a ouvia, reparava num detalhe no discurso ou nosmovimentos de Brom que anteriormente lhe tinha escapado. A experincia reconfortava-o edava-lhe prazer, pois satisfazia um desejo que o atormentara durante a vida inteira: saber onome do seu pai e saber que ele o amava.

    Saphira retribuiu os seus agradecimentos com um caloroso brilho de afeio no olhar.

    Embora Eragon tivesse comido e, a seguir, tivesse descansado durante cerca de uma hora, ocansao no lhe passara por completo. Nem ele esperava que passasse. Sabia, porexperincia, que poderia demorar semanas a recuperar dos efeitos debilitantes de uma batalhaprolongada. medida que os Varden se aproximassem de Urbaen, ele e todos os outrosmembros do exrcito de Nasuada teriam cada vez menos tempo para recuperarem, antes de umnovo confronto. A guerra iria desgast-

    los at ficarem completamente arrasados e quase incapazes de combater, altura em que teriamainda de se confrontar com Galbatorix, que estaria tranquilamente espera deles, rodeado deconforto.

    Tentou no pensar muito no assunto.

    Outra gota de gua fria e pesada atingiu-o na perna. Irritado, baloiou as pernas para fora docatre e sentou-se direito, encaminhando-se depois para o retalho de terra nua, a um dos cantosda tenda, e ajoelhando-se junto desta.

    Deloi sharjalv disse, bem como vrias outras frases na lngua antiga, necessrias paradesarmar as armadilhas que montara no dia anterior.

  • A terra comeou a ferver como gua, a entrar em ebulio, e um ba revestido de ferro, dequarenta e cinco centmetros de largura, ergueu-se da fonte revolta de pedras, insetos evermes. Esticando o brao, Eragon agarrou no ba, quebrou o feitio e a terra aquietou-se denovo.

    Poisou o ba no cho agora slido.

    Ldrin sussurrou, passando a mo pela fechadura sem chave, que prendia o fecho e esteabriu-se com um estalido.

    Um vago brilho dourado inundou a tenda, ao erguer a tampa do ba.

    Aninhado em segurana, no interior forrado de veludo estava o Eldunar de Glaedr, o coraodos coraes de drago. A grande pedra semelhante a uma jia brilhava sombriamente comouma brasa moribunda. Eragon segurou o Eldunar entre as mos, sentindo as suas facetasirregulares quentes contra a palma das mos, e olhou para as suas profundezas palpitantes.Uma galxia de estrelas minsculas rodopiava ao centro da pedra, embora o seu movimentotivesse abrandado, e parecessem ser muito menos do que da primeira vez que Eragoncontemplara a pedra, em Elesmra, na altura em que Glaedr a descarregara do seu corpo e aentregara ao cuidado de Eragon e Saphira.

    Como sempre, a imagem fascinou-o. Poderia contemplar aquele padro em constante mutao,durante dias.

    Devamos tentar de novo, disse Saphira e ele concordou.

    Juntos tentaram alcanar mentalmente as luzes distantes, o mar de estrelas que representavam aconscincia de Glaedr, viajando pelo frio e pela escurido, depois pelo calor, pelo desesperoe por uma indiferena to vasta e to imensa que lhes minou a vontade at lhes apetecerapenas parar e chorar.

    Glaedr Elda, gritaram vezes sem conta, mas no obtiveram qualquer resposta, apenas amesma indiferena.

    Por fim recuaram, incapazes de suportar o peso esmagador do sofrimento de Glaedr.

    Ao voltar a si, Eragon, apercebeu-se de algum a bater no poste da frente da tenda e depoisouviu Arya dizer:

    Eragon? Posso entrar?

    Ele fungou e pestanejou para clarear a vista.

    Claro.

    A luz tnue e acinzentada do cu encoberto inundou-o quando Arya afastou a pala da entrada e

  • ele sentiu uma pontada sbita quando os seus olhos se cruzaram com os dela verdes,oblquos, inescrutveis e uma nsia dolorosa apossou-se dele.

    Houve alguma alterao? perguntou, ajoelhando-se junto dele. Em vez da armadura,envergava a mesma camisa preta, de cabedal, e as mesmas calas e botas de sola fina queusava quando ele a salvara em Gilead. O seu cabelo estava molhado do banho e caa-lhepelas costas, em longas e pesadas cordas. Cheirava a agulhas de pinheiro esmagadas, comohabitualmente, e Eragon interrogou-se se ela usaria um feitio para criar o aroma ou se aqueleseria o seu cheiro natural. Gostaria de lho ter perguntado, mas no se atreveu.

    Abanou a cabea em resposta pergunta dela.

    Posso? disse ela, apontando para o corao dos coraes de Glaedr.

    Ele desviou-se.

    Por favor.

    Arya colocou um