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ALTAIR ALBERTO FÁVERO, GIONARA TAUCHEN, LAVÍNIA SCHWANTES, publicado na Revista ROTEIRO, JOAÇABA, V. 37, N. 2, P. 325-342, JUL./DEZ. 2012 DA TRANSPOSIÇÃO À COMPREENSÃO DIDÁTICA: SENTIDOS DO CONHECIMENTO ESCOLAR NA EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, de autoria de Elaborado por: Jonathan Terra Correa e Núbia Martinelli

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A L T A I R A L B E R T O F Á V E R O , G I O N A R A T A U C H E N , L A V Í N I A S C H W A N T E S ,

p u b l i c a d o n a R e v i s t a R O T E I R O , J O A Ç A B A , V . 3 7 , N . 2 , P . 3 2 5 - 3 4 2 ,

J U L . / D E Z . 2 0 1 2

DA TRANSPOSIÇÃO À COMPREENSÃO DIDÁTICA: SENTIDOS DO CONHECIMENTO

ESCOLAR NA EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, de autoria de

Elaborado por: Jonathan Terra Correa e Núbia Martinelli

Proposta do texto

Problematizar as referências epistemológicas: empirista, inatista e dialética;

Apresentar a hermenêutica como possibilidade de organização de uma didática compreensiva.

Capaz de tornar a didática um espaço de experiência de:

- Conversação; - Diálogo; - Intersubjetividade.

Três epistemologias:

epistemologia dualista (empirista e inatista),

epistemologia dialética (didática triádica) e

epistemologia da compreensão (hermenêutica).

Perpassam a educação moderna e

contemporânea e tem suas

decorrências didáticas.

Raízes históricas da didática

Comenius propõe a Didática Magna tratado da arte universal de ensinar tudo a todos (1632).

Percebe-se, desde então, a associação da didática com a eficiência do ensino, por meio da racionalização dos meios.

Ênfase nos métodos, no como ensinar.

(Shulman , (2005) aponta que as pesquisas em ensino e aprendizagem escolar, até os anos 80 raramente focavam o ensino pelo viés dos conhecimentos dos professores nem mesmo detinham-se no que os docentes “pensavam”, mas somente no que eles “faziam”, i. é nos seus comportamentos).

Segundo Leite (2007), analisando a produção na Anped, aponta um número restrito de trabalhos voltados aos processos de constituição dos conhecimentos escolares.

Justificativa do problema enfocado: a compreensão didática

Ao afirmar a relevância do conteúdo, assumimos que ensinamos um conjunto de proposições e de crenças.

Que conhecimentos ensinamos? Como são validados? Como são transformados em objetos de ensino?

Compreender as relações com os objetos de ensino, no campo da didática, demanda a

elucidação das epistemologias subjacentes a essas didáticas.

Epistemologia dualista

relação sujeito – objeto: a “consciência cognoscente” apreende o objeto;

- modelo empirista: forças dos sentidos inserem os conhecimentos na tábula rasa da mente;

- modelo inatista: possibilidade inatas da mente de conhecer;

A epistemologia dualista se faz presente mesmo nas pedagogias não diretivas;

situações inconclusas sobre por que, para quê e a quem ensinar.

Epistemologia dialética

discurso educacional ancorado na sociedade do trabalho;

relação sujeito objeto + conteúdos historicamente acumulados didática triádica;

mantém dualismo sujeito - objeto;

(Entretanto Freire detém-se cuidadosamente sobre os aspectos relativos a “quem ensinar”, e atribui um valor importante tanto ao conhecimento do aluno, como ao conhecimento do professor sobre o aluno e sua realidade social, ao propor, com ele a leitura do mundo precedendo a leitura da palavra, como meio do desvelamento crítico da realidade;

(E vai além propondo e esmiuçando as questões: Ensinamos a favor de quem? Contra quem? (Freire, 1996).)

Epistemologia da compreensão

"[...] no que consiste? De que forma ela pode enfrentar ou superar os dualismos que marcaram de forma contundente a filosofia e a pedagogia modernas? Que inovações ela dispõe para compreender os aspectos educativos, as práticas docentes, os processos de ensino e de aprendizagem? Por que ela possibilita compreender uma passagem da transposição para a compreensão didática?" (p. 328).

relação hermenêutica e epistemologia: “hermenêutica é uma expressão de esperança em que o espaço cultural deixado pela extinção da epistemologia não seja preenchido – de que a nossa cultura se ornasse tal que a exigência de restrição e confrontação não mais seja sentida”. (RORTY, 1994, p. 311-312, p. 329).

No campo da didática haveria a prática do saber, referente às especificidades do saber a ser ensinado e a prática da sua transmissão, questões de rotinização e institucionalização. Da tentativa de articular tais práticas, configurar-se-ia uma abordagem epistemológica do saber escolar.

Não busca uma verdade absoluta;

Extrapola relação sujeito-objeto:

Aposta na linguagem:

“... a compreensão jamais é um comportamento subjetivo frente a um objeto dado, mas frente à história efeitual, e isto significa, pertencer ao ser daquilo que é compreendido.” (GADAMER,1999, p. 19) (p. 330)

“Captar o modo como os sujeitos se entendem nesse complexo mundo chamado ‘educação’, em que compreender é interpretar, assim como ensinar é interpretar, aprender é interpretar o ensinado” (BERTICELLI, 2004, p. 298), significa instituir no processo educativo uma epistemologia compreensiva capaz de “assimilação auto-organizativa complexa por intermédio da linguagem.” (p. 330).

como “[...] um processo de instauração de sentido na liberdade da comunhão dos falantes [...] na lógica complexa da vida.” Berticelli (2004, p. 299) (p. 330).

“a hermenêutica poderá constituir-se uma expressão de esperança na ampliação do horizonte no qual se concebe a produção e validação do conhecimento” (p. 329).

“optamos em utilizar a expressão “epistemologia compreensiva” para designar a possibilidade de encontrar na hermenêutica um horizonte mais alargado de compreensão dos processos pedagógicos” (p. 329).

Didatização dos conhecimentos

Discussão sobre conhecimento escolar;

Polarização entre propostas freireanas (universo cultural do aluno) e pedagogia crítico-social (necessidade de conhecimentos universais) (Saviani);

(Sírio Velasco, pesquisador da casa (PPGEA) propõe a “síntese entre Freire e Saviani” (Velasco, 2003), através da epistemologia ecomunitarista, que utiliza as normas da ética, mediante atos de linguagem, para balizar um modo de existência, organização social e pedagogia que busca instaurar uma nova ordem social, econômica e educacional.)

Para Forquin (1993): grande parte das críticas que denunciam a arbitrariedade da seleção dos conteúdos curriculares sobrepôs a razão sociológica à pedagógica (p. 331).

Por que são necessárias adaptações aos conhecimentos científicos para que sejam ensinados? Que modificações de natureza didática são “impressas” ao saberes para serem apreendidos pelos alunos? Qual a distância entre os saberes científicos, acadêmicos, disciplinares e os conhecimentos dos alunos? Existe um conhecimento escolar característico, objeto de um saber-fazer didático?

Compreensão multirreferencial que extrapola as noções dualista e dialética.

Sistema didático dualista - noção da epistemologia dualista;

Transposição didática - noção da epistemologia dialética - interna e externa;

Compreensão didática - processo educativo que se realiza pela linguagem;

Sistema didático dualista

O processo de didatização dos saberes, transformando-os em disciplinas escolares não tem levado em conta os seus contextos de existência e produção, nem as diferenças entre os tempos de produção do conhecimento e o tempo didático.

Na tradição desse sistema didático dualista, o saber ensinado deve ser um retrato craquelado do saber a ensinar.

“arte de ensinar” não é portadora de sentidos de invenção, de criação. A arte de ensinar é a arte de transmitir (p.332).

Transposição didática

Modelo teórico proposto por Chevallard (1991).

Base epistemológica dialética.

"Chevallard Criador do conceito*********** (1991) define a Transposição didática como o trabalho de fabricar um objeto de ensino, ou seja, fazer de um objeto de saber produzido no campo científico um objeto do saber escolar." (p. 333)

Interna e Externa

Patamares do saber /dimensões

Saber científico

Saber a ensinar Saber ensinado

Sujeitos Comunidade científica

Comunidade escolar Estudantes

Níveis de transposição

Transposição didática externa Transposição didática interna

Relações com os contextos

Contexto da descoberta

Descontextualização Recontextua-lização

Interesses e grupos

Intersubjetivo comunidade científica

Interesses ecléticos: sociais, políticos, econômicos e pedagógicos.

Pessoal

Tempos Tempo histórico Tempo lógico Tempo didático e de aprendizagem

Conhecimento Representação “a cerca de”

Seleção histórica Significativo

Chevallard (1991) aponta que este processo de Transposição Didática, no plano didático, apresenta uma materialidade por vezes ficcionada quando se considera que o saber ensinado é igual ao saber a ensinar;

Crença na suposta harmonia do funcionamento didático, na existência de um conhecimento universal, normativo, em correlação direta com o conhecimento científico de origem, e na desconsideração das relações de poder que perpassam os recortes e as seleções dos saberes;

Deslocamos a noção de saber científico como a verdadeira metanarrativa para uma noção histórica que o toma como um possível saber entre outros.

Compreensão didática

Transposição didática - noção da epistemologia dialética - interna e externa;

Compreensão didática - processo educativo que se realiza pela linguagem;

Hermenêutica e linguagem:

- fusão da estranheza e familiaridade dos conhecimentos;

- situações de desorientação e desestabilização;

- imprevisibilidade da experiência educativa;

- ação pedagógica como espaço de promoção de sentidos, de alargamento de horizontes e da explicitação da historicidade dos conceitos.

Compreensão didática

reconhecimento da falibilidade do conhecimento e da ação humana no processo de construção do conhecimento;

aceitação de que não é possível ter o pleno domínio do processo pedagógico;

"[...] conhecer é antes de tudo um espaço de experiência de conversação, de diálogo, de intersubjetividade" (p. 339);

"[...] o diálogo pode transformar as relações quando encontra uma linguagem dialógica, comum e diferente, possibilitando-nos ver as coisas sob outras perspectivas (p. 339).

Referências

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia, 11 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

SHULMAN, L. S. Conocimiento y Enseñanza: fundamentos de la nueva reforma. Revista de currículum y formación del profesorado, 9, 2 (2005).

VELASCO, S. L. A Educação Ambiental Ecomunitarista e a

Síntese de Freire e Saviani. Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient.

ISSN 1517-1256, v. 20, janeiro a junho de 2008.