da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS – CESA DEPARTAMENTO DE DIREITO ALUNO: ANDRÉ FELIPE SILVA TORRES DISCIPLINA: DIREITO DAS SUCESSÕES DA SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA E DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA 1

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A metodologia deste trabalho é precipuamente pesquisa bibliográfica acerca dos institutos da Sucessão Testamentária e do Inventário e da Partilha. De forma a manter a manter a didática do nosso estudo, os institutos aqui apresentados seguem rigorosamente a ordem dos quais são apresentados no Código Civil de 2002. Dessa forma, são explanados conceitos como sucessão testamentária, formas especiais de testamento, codicilos, deserdação, direito de acrescer, inventário, sonegados, colação e partilha.

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Page 1: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCACENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS – CESA

DEPARTAMENTO DE DIREITOALUNO: ANDRÉ FELIPE SILVA TORRES DISCIPLINA: DIREITO DAS SUCESSÕES

DA SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA E DO

INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Juazeiro do Norte – CearáMarço/2010

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCACENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS – CESA

DEPARTAMENTO DE DIREITOALUNO: ANDRÉ FELIPE SILVA TORRES DISCIPLINA: DIREITO DAS SUCESSÕES

DA SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA E DO

INVENTÁRIO E DA PARTILHA

Juazeiro do Norte – CearáMarço/2010

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Trabalho realizado para obtenção de nota relativa à Avaliação Parcial da disciplina de Direito das Sucessões, ministrada pelo prof.: Dr. João Deusdeth de Carvalho

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Sumário

0. Introdução......................................................................................................................4PARTE 1 – DA SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA.........................................................51. Disposições Iniciais sobre Sucessão Testamentária......................................................5

1.1. Natureza jurídica do testamento.....................................................................62. Capacidade de testar......................................................................................................83. Formas ordinárias e especiais de testamento.................................................................9

3.1. Testamento público.........................................................................................93.2. Testamento cerrado.........................................................................................93.3. Testamento particular...................................................................................103.4. Codicilos......................................................................................................103.5. Testamentos especiais: marítimo, aeronáutico e militar..............................11

4. Disposições testamentárias.........................................................................................135. Legados, efeitos e seu pagamento e caducidade........................................................16

5.1. Conceito e Classificação dos Legados.........................................................165.2. Efeitos dos legados e seu pagamento...........................................................175.3. Caducidade dos Legados.............................................................................18

6. Direito de acrescer entre herdeiros e legatários..........................................................207. Substituição Testamentária.........................................................................................21

7.1. Substituição fideicomissária.........................................................................218. Deserdação..................................................................................................................259. Redução das disposições testamentárias.....................................................................2710. Rompimento do Testamento.....................................................................................2911. O Testamenteiro........................................................................................................30PARTE 2 – DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA......................................................311. Inventário.....................................................................................................................31

1.1. Inventariante.................................................................................................311.2. Processamento do Inventário........................................................................321.3. Arrolamento sumário....................................................................................331.4. Arrolamento comum.....................................................................................33

2. Institutos da Colação, Sonegado e do Pagamento das Dívidas...................................342.1. Colação.........................................................................................................342.2. Sonegados.....................................................................................................352.3. Do Pagamento das Dívidas...........................................................................36

3. Partilha.........................................................................................................................373.1. Anulação e rescisão da partilha....................................................................383.2. Sobrepartilha.................................................................................................383.3. Garantia dos quinhões hereditários...............................................................39

Referências......................................................................................................................40

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0. Introdução

A metodologia deste trabalho é precipuamente pesquisa bibliográfica acerca dos

institutos da Sucessão Testamentária e do Inventário e da Partilha. De forma a manter a

manter a didática do nosso estudo, os institutos aqui apresentados seguem

rigorosamente a ordem dos quais são apresentados no Código Civil de 2002. Assim

sendo, partimos do conceito de Sucessão Testamentária e o seu instrumento, o

testamento, bem como suas espécies. A partir daí, segundo o critério lógico do

legislador civil, são apresentados os institutos da sucessão testamentária, pois que são

concebidos com a existência da declaração de última vontade do de cujus. Estes

institutos disciplinam hipóteses relevantes que poderão apresentar-se, no mundo dos

fatos, e o legislador houve por bem normatizá-los, conciliando a vontade do testador

com presunções legais, ao bem da segurança jurídica dos destinatários do direito de

herança e o respeito às normas de caráter cogente.

Por fim, apresentamos o conceito de Inventário e Partilha, que são aplicados

tanto à sucessão legítima quando à testamentária. De fato, um dos princípios que regem

a transferência da universalidade de bens que compõem a herança é a da igualdade na

distribuição dos quinhões hereditários, respeitada, evidentemente, a declaração de

última vontade externada pelo testador. Assim, o Inventário e após, a Partilha, são

institutos que evidenciam a importância dos princípios do direito hereditário. Além

disso propiciam na prática a declaração de domínio e posse dos bens do espólio e a

individualização dos mesmos, extinguindo-se o condomínio necessário (quando houver

mais de um herdeiro) que se originou no momento da abertura da sucessão.

Objetivamos, com este trabalho, apresentar uma noção dos institutos descritos

acima, sem, no entanto, esgotar o assunto, haja vista a quantidade de assuntos

relevantes. Trazemos conceitos tirados das mais variadas fontes, na medida do possível,

a fim de enriquecer o trabalho com várias opiniões. Mas o que encontramos,

geralmente, é a interpretação do Código Civil ao que se referem estes institutos. No

entanto, isso não foge ao espírito de nosso trabalho.

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PARTE 1 – DA SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA

1. Disposições Iniciais sobre Sucessão Testamentária

A sucessão testamentária decorre de manifestação expressa de última vontade,

em contraposição à sucessão legítima, que decorre da lei. Nesta, transmite-se a herança

aos herdeiros legítimos, expressamente indicados na lei (art. 1.829 do Código Civil);

naquela, a universalidade de bens que constituem a herança ou bem determinado ou

determinável é transferido para uma pessoa ou pessoas designadas pela vontade do de

cujus.

O testamento ou codicilo constitui ato de última vontade, pelo qual o autor da

herança dispõe de seus bens para depois da morte, e faz outras disposições

(GONÇALVES, 2009). De fato, o Código Civil conceitua testamento, nos seus arts.

1.857 e 1.858 através de suas características e efeitos:

Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por

testamento, da totalidade dos seus bens, ou de parte

deles, para depois de sua morte.

§ 1.º A legítima dos herdeiros necessários não poderá

ser incluída no testamento.

§ 2.º São válidas as disposições testamentárias de

caráter não patrimonial, ainda que o testador somente a

elas se tenha limitado.

Art. 1.858. O testamento é ato personalíssimo, podendo

ser mudado a qualquer tempo.

Assim, o testamento é o ato personalíssimo e revogável, a qualquer tempo, pelo

qual alguém dispõe de seus bens, para depois da morte. Apesar de o art. 1.857 constar

que qualquer pessoa capaz pode dispor da totalidade dos seus bens, há a ressalva, no seu

§ 1º, que a parte da herança que corresponde à legítima não poderá ser objeto de

testamento, sendo nulo o testamento que assim o determinar. O testador que possui

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herdeiros necessários só pode dispor de metade dos seus bens, constituindo a outra

metade a legítima intangível dos herdeiros forçados (GHIARONI, et al, 2004) e de

acordo com o art. 1.789 do CC.

Também por expressa menção legal, o testamento poderá versar sobre

disposições de caráter não patrimonial. Assim, o testador tem a possibilidade de nomear

tutor para o filho ou neto, indicar curador para o filho ou o cônjuge incapazes,

reconhecer filhos havidos fora do casamento, reabilitar indigno, deserdar o sucessor

necessário e outras disposições também disciplinadas no Diploma civil.

O testador pode instituir herdeiros e/ou legatários, que são, respectivamente,

sucessores a título universal e singular. Os herdeiros recebem partes ideais dos bens do

autor da herança, enquanto que os legatários recebem patrimônio certo e determinado.

1.1. Natureza jurídica do testamento

Segundo Maria Helena Diniz (2002), o testamento é negócio jurídico (que

requer para sua validade agente capaz, objeto lícito e forma prescrita ou não defesa em

lei) destinado a produzir efeitos após a morte de seu autor. As principais características

do testamento, que definem sua natureza jurídica são:

Personalíssimo: É ato privativo do autor da herança, não se admitindo que sua

formação seja deixada ao arbítrio de terceira pessoa. Há impossibilidade de o

testamento ser feito por procurador e de o testador transferir para outra pessoa o

direito de nomear sucessor, a qualquer título;

Unilateral: Aperfeiçoa-se com uma única manifestação de vontade, esta

essencial para a formação e validade do ato. O Código Civil, em seu art. 1.863,

proíbe a feitura de testamentos conjuntivos (feitos por duas ou mais pessoas),

seja simultâneo, recíproco ou correspectivo;

Solene: o testamento só será válido se elaborado com a observância das

prescrições formais da lei. Em regra, a forma do testamento é a escrita, podendo

assumir a forma pública ou particular. O próprio Código Civil prescreve os tipos

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de testamento, a saber, os tipos ordinários: público, cerrado e particular; os tipos

especiais: marítimo, aeronáutico e militar. Não se admite outros tipos de

testamento especiais além dos estabelecidos pelo Código Civil (art. 1.887).

Ainda com o pensamento de Ghiaroni (2004, p. 156), a formalidade do

testamento é necessária pois este desempenha tríplice função, de acordo com as

circunstâncias: a função preventiva, contra fraudes e vícios na manifestação da

vontade, a função probatória, que demonstra a existência da disposição da

vontade e a função executiva, na qual o testamento estará pronto para ser

cumprido e executado, verificada a anteriori sua regularidade com as

prescrições formais;

Gratuidade: O testamento é um ato gratuito, sendo de sua índole a liberalidade.

Há um sacrifício patrimonial somente para uma das partes, e a outra aufere

somente benefícios – certo é de que este sacrifício patrimonial, que é a

transferência da universalidade de bens só se dá com o fato morte. O fato de que

o testador pode dispor condições e encargos para a transferência de bens não lhe

retira o caráter de liberalidade;

Revogabilidade: O Código Civil de 2002 prescreve, no seu art. 1.969, que o

testamento é livremente revogável, da mesma forma e modo como foi feito,

admitindo-se ainda a revogação tácita, quando há testamento posterior

modificando o anterior. A abertura ou dilaceração do testamento cerrado

também o revoga, de forma tácita. A revogabilidade é considerada a essência do

testamento. Nula será a cláusula que o declare irrevogável; a exceção é a

disposição na parte em que o testador reconhece filho havido fora do casamento,

nos termos do art. 1.609, III do Diploma civil.

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Page 8: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

2. Capacidade de testar

A capacidade para testar, também conhecida como capacidade ativa corresponde

à capacidade para expressar a última manifestação de vontade. O Código Civil, no art.

1.860 declara expressamente quem não pode testar:

Art. 1.860. Além dos incapazes, não podem testar os

que, no ato de fazê-lo, não tiverem pleno discernimento.

As pessoas que, no momento de testar, não estiverem em pleno discernimento,

não são necessariamente incapazes, podendo estar, neste ato, com alguma patologia que

a impeça de mantê-la em seu perfeito juízo. Assim, o Código Civil prescreve esta regra

no intuito de protegê-las, ampliando a incapacidade, que passaria a ser momentânea. No

Parágrafo Único do mesmo artigo é estipulado que os maiores de dezesseis anos podem

testar, determinando que tal capacidade compreende a capacidade genérica para

realização de qualquer negócio jurídico além, da manifestação de vontade para testar.

Assim, dentre os incapazes em geral, apenas os maiores de dezesseis anos podem testar,

uma exceção à regra de que estes seriam relativamente incapazes e precisariam ser

assistidos por seu representante legal.

Como a capacidade é aferida no momento em que o testamento é redigido, caso

haja incapacidade superveniente do testador, esta não invalida o testamento, e nem o

testamento do incapaz se valida com a superveniência da capacidade.

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3. Formas ordinárias e especiais de testamento

Já demonstramos que o Código Civil de 2002 admite, nas formas de testamento,

os testamentos ordinários: público, cerrado e particular, bem como os codicilos; e

especiais: marítimo, aeronáutico e militar. Vamos discorrer sobre eles.

3.1. Testamento público

É o testamento escrito pelo tabelião de Cartório de Notas, em livro notário, de

acordo com a declaração do testador, em presença de duas testemunhas (GONÇALVES,

2009). Desta forma, reveste-se o documento de maior credibilidade e seriedade, além de

um rigor formal. O testador dita para o oficial sua última vontade. A lavratura do termo

pode se dar por escrito, mecanicamente ou digitada em computador. Depois é efetuada a

leitura desse registro pelo tabelião, ou pelo próprio testador, em voz alta e perante esse

grupo anteriormente citado, depois o documento é assinado pelo testador (ou a rogo),

pelas testemunhas e pelo oficial.

Os mudos e os surdos-mudos, por não poderem fazer declarações de voz ao

tabelião não podem testar publicamente. Para os cegos, só se permite este tipo de

testamento; podem ainda fazê-lo os surdos (que não sejam mudos), e os analfabetos.

3.2. Testamento cerrado

Também é chamado de testamento secreto, porque é um documento fechado,

escrito pelo próprio testador, (ou alguém a seu mando, que não pode ser beneficiário,

mesmo por interposta pessoa) que é o único que conhece o seu teor. O documento deve

ser levado ao tabelião, que diante de duas testemunhas, lavra o termo de aprovação,

registrado logo após a última linha do testamento, que vai assinado por ele, pelas

testemunhas e pelo testador. Só possuirá eficácia com o termo de aprovação.

Pelas disposições do art. 1872 do CC, não podem fazer testamento cerrado os

analfabetos (já que é imprescindível para a feitura deste testamento a capacidade de ler).

Os surdos-mudos, contanto que o escreva todo, e o declare, no final do instrumento, em

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forma escrita que este é o seu testamento cuja aprovação pede ao tabelião poderá

também utilizar-se do testamento cerrado.

3.3. Testamento particular

Segundo Hermano Silva Albuquerque (disponível em http://www.artigonal.com/

direito-artigos/testamento-particular-1527366.html):

O testamento particular (chamado também de

hológrafo) poderá ser escrito de próprio punho ou

através de processo mecânico. Se for feito na primeira

hipótese deverá ser lido e assinado por quem o escreveu

na presença de no mínimo três testemunhas que o

devem subscrever. Feito na segunda hipótese não

poderá conter rasuras ou espaços em branco, devendo

ser assinado pelo testador, depois de tê-lo lido na

presença de pelo menos três testemunhas que o

subscreverão.

Este tipo de testamento depende de confirmação, em juízo, pelas testemunhas,

assim se tornando um ato perfeito, pronto para ser cumprido. Se as testemunhas

falecerem ou se encontrarem em local incerto, o testamento particular não será

cumprido.

Pode ser escrito em língua estrangeira, desde que as testemunhas a entendam, e a

sua feitura só poderá ser feita por quem sabe ler e escrever, não se admitindo a

assinatura a rogo.

3.4. Codicilos

O codicilo, para ser válido deverá ser escrito de próprio punho (podendo ser

datilografado ou processado por computador), assinado e datado por pessoa capaz. Não

são exigidas assinaturas de testemunhas. É ato de última vontade, composto por

disposições especiais tais como determinações sobre o seu enterro, suas esmolas de

pouca monta, seus móveis, suas jóias de pouco valor e de uso pessoal. Importa notar que

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as disposições do codicilo devem referir-se a bens não valiosos, pois os de maior valia

só podem transmitir por testamento, configurando assim a diferenciação entre os dois

institutos. Apesar de sua destinação para bens de menor valor, o codicilo pode ser meio

hábil para reconhecimento de filho, reabilitar o indigno, nomear testamenteiro e outras

disposições e determinações, conforme permissões espalhadas no Código Civil.

O codicilo só pode ser revogado por outro codicilo ou por testamento posterior

que o revogue expressamente, não o confirme ou modifique-o. No entanto, o testamento

não pode ser revogado por codicilo posterior.

3.5. Testamentos especiais: marítimo, aeronáutico e militar.

Constituem formas especiais de testamentos. O marítimo pode ser elaborado por

passageiros e tripulantes, estando o testador em viagem, a bordo de navio nacional de

guerra ou mercante (GONÇALVES, 2009, baseado no art. 1.888 do CC), diante do

surgimento de algum risco de morte; o aeronáutico, da mesma forma, estando o testador

em aeronave comercial ou militar, em circunstâncias de risco. Revestem formas

assemelhadas ao testamento público ou cerrado, só que perante o comandante

(marítimo, a ser registrada no diário de bordo) ou pessoa designada pelo comandante

(aeronáutico).

De acordo com o art. 1.891 do Código Civil:

Art. 1.891. Caducará o testamento marítimo, ou

aeronáutico, se o testador não morrer na viagem, nem

nos 90 (noventa) dias subseqüentes ao seu desembarque

em terra, onde possa fazer, na forma ordinária, outro

testamento.

O testamento não valerá se ao tempo em que foi feito o navio estava em porto

onde o testador pudesse desembarcar e testar na forma ordinária.

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Quanto ao testamento militar, é o elaborado por militares ou pessoas à serviço

das Forças Armadas que estejam em campanha de guerra, praça sitiada, ou com

comunicações interrompidas.

Ela também pode assumir as formas assemelhadas ao testamento público e ao

testamento cerrado, podendo assumir a forma nuncupativa, em um caso extremo. Esta é

feita oralmente pelo testador perante duas testemunhas, quando em combate ou feridas.

O testamento nuncupativo sem dúvida é o menos seguro, mas foi idealizado pelo

legislador a fim de amparar a última vontade do testador militar na iminência da morte,

que está em combate ou com ferimentos graves. Não terá validade se o testador não

morrer na guerra ou se convalescer do ferimento.

Ainda de acordo com o Código Civil de 2002:

Art. 1.895. Caduca o testamento militar, desde que,

depois dele, o testador esteja, 90 (noventa) dias

seguidos, em lugar onde possa testar na forma ordinária,

salvo se esse testamento apresentar as solenidades

prescritas no parágrafo único do artigo antecedente. (ou

seja, salvo se esse testamento tomar a forma de

testamento cerrado).

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Page 13: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

4. Disposições testamentárias

No capítulo relacionado às Disposições Testamentárias, o legislador prescreveu

o conteúdo, regras e disposições gerais que poderão ser tratados em testamentos, bem

como normas de permissibilidade e proibição e como deverá ser interpretada a vontade

do testador, de acordo com condições e circunstâncias que se verificarem (regras

interpretativas).

Em suma, o testamento, além de nomear herdeiro ou legatário, pode encerrar

outras disposições, de caráter pessoal.

São regras interpretativas, entre outras (Disponível em http://www.central

juridica.com/doutrina/144/direito_civil/disposicoes_testamentarias.html):

Na interpretação do testamento dever-se-á buscar a real

intenção do testador e não o sentido literal da

linguagem; na ausência de dados para interpretar a

vontade do disponente, atender-se-á à literalidade das

palavras;

Havendo dois sentidos na cláusula testamentária,

considerar-se-á o que produzir efeito;

Deve-se preferir a inteligência que faz valer o ato à que

o torne insubsistente, cláusula obscura, truncada ou

incompleta, que impossibilite determinar a vontade do

testador, será tida como não escrita;

Se o objeto da disposição constituir-se de

universalidade, abarcará todas as coisas que a compõe,

mesmo se desconhecidas do testador, por serem

descobertas posteriormente;

Se o autor da herança nomear dois ou mais herdeiros

sem discriminar a parte de cada um, a partilha será feita

por igual, conforme a porção disponível do testador;

Se o testador impuser a um herdeiro, simultaneamente,

a cláusula de inalienabilidade e de incomunicabilidade,

e a outro apenas a de inalienabilidade, exclui este último

da incomunicabilidade;

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Page 14: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

Em certos casos dever-se-á verificar que o testador

considerou os usos locais de onde vivia, a qualidade do

legatário, a amizade, etc.; se não puderem solucionar as

dúvidas, procurar-se-á decidir em favor da sucessão

legítima;

Compete a interpretação do testamento ao juízo do

inventário;

Deve-se afastar restrição de inalienabilidade dos

rendimentos dos bens legados, gravados de

inalienabilidade, impenhorabilidade e

incomunicabilidade.

São regras permissivas as positivadas no art. 1.897 e 1.911 do CC. No art. 1.897,

é estabelecida a instituição de herdeiro ou legatário e determina que esta possa ser feita

de forma simples e pura (nomeação sob nenhuma condição ou encargo) ou sob condição

(a eficácia da nomeação fica condicionada a um evento futuro e incerto), ou mediante

encargo (testador impõe de forma coercitiva um ônus ou obrigação ao herdeiro ou

legatário), ou por certo motivo (no caso do testador declarar o motivo que o levou a

fazer a liberalidade) ou, finalmente, a termo (quando a eficácia da nomeação fica

condicionada a um evento futuro e certo). Neste último caso, só poderá ser feita nas

substituições fideicomissárias ou quando se tratar de nomeação de legatário.

No art. 1.911 do CC, há a permissibilidade e possibilidade de imposição de ônus

ou gravame sobre os bens integrantes da herança e que compõem a metade disponível

(ou seja, não poderão ser gravadas essas cláusulas de onerosidade sobre os bens da

legítima, salvo se houver justa causa declarada em testamento).

Por fim, as regras proibitivas: o art. 1.898 do Código Civil impede a nomeação

de herdeiro a termo, salvo nas disposições fideicomissárias. Também será nula as

disposições contidas nos incisos I a IV do art. 1.900 do CC, a seguir explicitadas:

Art. 1.900. É nula a disposição:

I - que institua herdeiro ou legatário sob a condição

captatória de que este disponha, também por testamento,

em benefício do testador, ou de terceiro;

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Page 15: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

II - que se refira a pessoa incerta, cuja identidade não se

possa averiguar;

III - que favoreça a pessoa incerta, cometendo a

determinação de sua identidade a terceiro;

IV - que deixe a arbítrio do herdeiro, ou de outrem, fixar

o valor do legado;

V - que favoreça as pessoas a que se referem os arts.

1.801 e 1.802. (casos de incapacidade relativa para

herdar, de pessoas que podem influir na disposição do

testamento)

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Page 16: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

5. Legados, efeitos e seu pagamento e caducidade

5.1. Conceito e Classificação dos Legados

O legado é coisa certa e determinada, integrante da herança deixada pelo

testador a alguém, a título singular (WALD, 2002). Difere-se da herança porque nesta se

transmite a totalidade ou parte ideal do patrimônio do autor da herança. O legatário, por

sua vez, é a pessoa que é contemplada em testamento ou codicilo para suceder, na

titularidade do bem específico. O herdeiro legítimo também pode ser legatário, ou seja,

recebe a parte ideal que lhe caiba na herança e pode receber um legado – nesse caso, é

chamado de prelegatário ou legatário precípuo.

Os legados podem ser classificados em função de seu objeto, o que é importante

para o disciplinamento de questões que podem se materializar como fatos. Assim, os

legados podem se classificar como:

a) Legado de coisas: pode ainda ser subdividido em legado de coisa alheia, legado de

coisa do herdeiro ou do legatário, legado de coisa comum, legado de coisa

singularizada, legado de coisa localizada, entre outras.

Legado de coisa alheia: o Código Civil, em seu art. 1.912 determina a ineficácia

do legado de coisa certa que não pertença ao testador no momento da abertura da

sucessão, o que, em outras palavras, diz que não se pode transferir o domínio se

não é proprietário; no entanto há duas exceções: quando o testador ordena que o

herdeiro ou legatário transfira bem de seu patrimônio para outrem e quando há o

legado de coisa que se determine pelo gênero;

Legado de coisa comum: ocorre quando o legado é de coisa comum e apenas em

parte pertencer ao testador ou na hipótese de o testador ordenar que o herdeiro

ou legatário entregue coisa de sua propriedade a outrem, só quanto a esta parte

valerá o legado;

Legado de coisa singularizada: conforme determina o art. 1.916 do CC: se o

testador legar coisa sua, especificando-a por suas características, só terá eficácia

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Page 17: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

o legado se o bem se encontrava entre o patrimônio que corresponde à herança

ou se ainda existir entre os bens do testador, ao tempo da morte deste;

Legado de coisa localizada: ocorre no caso do legado de coisa encontrar-se em

determinado lugar, somente terá eficácia se no local for achado o legado, salvo

se removido a título transitório.

b) Legado de crédito ou de quitação de dívida: neste caso, este legado só terá eficácia

até a importância deste crédito ou quitação de dívida, ao tempo da morte do testador.

c) Legado de alimentos: neste caso abrange o sustento, a cura, o vestuário, a casa, e a

educação (se for menor) enquanto o legatário viver. Quem fixa o valor da pensão

alimentícia é o próprio testador.

d) Legado de usufruto: o usufruto por parte do legatário será vitalício, quando o testador

não dispor sobre o tempo do legado de usufruto.

e) Legado de imóveis: Se o legado contemplar a transferência do domínio de um

imóvel, novas aquisições, mesmo contíguas ao imóvel legado, não se compreenderão no

legado, salvo disposição diversa do testador. No entanto, as benfeitorias (quaisquer que

sejam) seguem o principal, ou seja, compreendem-se no legado.

5.2. Efeitos dos legados e seu pagamento

Entre os efeitos do legado, quanto à sua aquisição, o principal é a transmissão da

propriedade da coisa. Ela ocorre com a abertura da sucessão e mesmo assim, se o legado

for puro e simples, pois se estiver sob condição suspensiva, terá que aguardar o

implemento da condição. De acordo com Ricardo Sant’Anna de Andrade (Breves

Considerações Acerca da Sucessão Testamentária, p. 12), “se tratar de coisa fungível

(substituível por outra de igual peso, medida e quantidade) já que não é coisa específica,

apenas com a partilha se disporá de uma coisa, com as características estabelecidas e se

entregará ao legatário”.

No entanto, quanto à posse da coisa, o legatário, após a abertura da sucessão,

tem apenas o direito de receber dos herdeiros instituídos o bem legado – o herdeiro

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Page 18: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

possui o ônus de entregar a coisa ao legatário. Isso após todo o procedimento de

apuração, arrecadação dos bens que compõe o patrimônio do de cujus e os respectivos

débitos e ônus deixados pelo mesmo, além da litigância sobre a validade do testamento;

se legado condicional ou a termo, o legatário só exerce o direito de petição quando

implementada a condição ou o termo.

O Código Civil de 2002 disciplina circunstâncias abstratas relacionadas aos

efeitos do legado quanto às suas modalidades. Assim sendo, se o legado for em

dinheiro, o mesmo só vence juros desde o dia em que se constitua em mora a pessoa

obrigada a prestá-lo (art. 1.925); se for de renda vitalícia ou pensão, correrá a partir da

morte do testador (art. 1.926).

Na hipótese do legado render frutos, o Código Civil prescreve que estes

pertencem ao legatário desde a morte do testador; ocorrendo o legado de coisa incerta,

sendo determinado apenas o gênero ou a espécie, cabe ao herdeiro a opção de escolha

da coisa, sendo diligente na escolha, ou seja, não escolhendo apenas a melhor. Se a

opção couber ao legatário, este pode escolher a melhor. Se o legado for alternativo, a

opção é feita pelo herdeiro, salvo se o testador estiver estipulado de forma diversa.

Quanto à responsabilidade para o pagamento, o Código Civil é bem explícito:

Art. 1.934. No silêncio do testamento, o cumprimento

dos legados incumbe aos herdeiros e, não os havendo,

aos legatários, na proporção do que herdaram.

Parágrafo único. O encargo estabelecido neste artigo,

não havendo disposição testamentária em contrário,

caberá ao herdeiro ou legatário incumbido pelo testador

da execução do legado; quando indicados mais de um,

os onerados dividirão entre si o ônus, na proporção do

que recebam da herança.

5.3. Caducidade dos Legados

18

Page 19: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

Caducidade significa ineficácia de disposição testamentária por motivo

superveniente à feitura do testamento, embora válido. A caducidade gera o efeito de,

embora válido o testamento, suas disposições não se aplicam ao momento, ou seja, não

são capazes de gerar o efeito da transferência da herança ou pagamento do legado. As

causas são de natureza material, e não se confundem com a nulidade do testamento, em

que este é inválido por inobservância das formalidades legais ou em razão da

incapacidade do agente.

A caducidade dos legados pode se dar em virtude de causas objetivas (na qual o

próprio bem a legar está impossibilitado de sê-lo) e causas subjetivas (na qual

circunstâncias relacionadas aos sujeitos do negócio jurídico tornam impossível o

pagamento do legado).

Vejamos o teor do art. 1.939 do Código Civil:

Art. 1.939. Caducará o legado:

I - se, depois do testamento, o testador modificar a coisa

legada, ao ponto de já não ter a forma nem lhe caber a

denominação que possuía;

II - se o testador, por qualquer título, alienar no todo ou

em parte a coisa legada; nesse caso, caducará até onde

ela deixou de pertencer ao testador;

III - se a coisa perecer ou for evicta, vivo ou morto o

testador, sem culpa do herdeiro ou legatário incumbido

do seu cumprimento;

IV - se o legatário for excluído da sucessão, nos termos

do art. 1.815; (exclusão por indignidade)

V - se o legatário falecer antes do testador.

Os incisos I a III deste artigo demonstram causas objetivas de caducidade. Os

incisos IV e V são causas subjetivas. Além disso, outras causas subjetivas de

caducidade podem ser arroladas, como a renúncia do legatário, que não pode ser parcial;

o falecimento do legatário antes do implemento da condição suspensiva a que estava

subordinada a eficácia do legado; e a falta de legitimação do legatário para suceder.

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Page 20: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

6. Direito de acrescer entre herdeiros e legatários

Podemos conceituar o direito de acrescer como o direito de acréscimo do

quinhão para os demais herdeiros ou legatários, que não foram excluídos da sucessão,

advindo do não recebimento de um ou mais dos herdeiros ou legatários da parte que lhe

cabe por premoriência (falecimento do legatário antes do testador), incapacidade para

suceder, renúncia, exclusão por indignidade e não implemento da condição sob a qual

foi instituído, ressalvados os casos de representação, ou disposição em contrário do

testador. Desta forma, quando existem vários herdeiros ou legatários, faltando um

destes, seu quinhão acresce o dos outros.

Ressaltamos que as disposições do Código Civil que normatizam este instituto

são de caráter supletivo, pois se o testador dispor claramente a sua vontade, sem

omissões, este instituto resta supérfluo, sem aplicação alguma. Por exemplo, se o

testador nomear substituto (detalharemos posteriormente) ou especificar o quinhão de

cada co-herdeiro ou co-legatário, não haverá o direito de acrescer.

Portanto, os pressupostos do direito de acrescer são, segundo Monteiro et al, p.

260-262 são:

Conjunção real e/ou mista: quando o testador, em frases distintas naquela e na

mesma frase nesta, dispõe chamando vários herdeiros ou legatários a suceder,

sem discriminar os quinhões para cada um. Na conjunção verbal, há a

designação dos quinhões de cada um, o que não dá o direito de acrescer;

Impossibilidade de recebimento ou aceitação pelo herdeiro e/ou legatário

instituído;

Pluralidade de herdeiros e/ou legatários;

Inexistência de substituto nomeado.

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Page 21: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

7. Substituição Testamentária

O testador pode nomear um ou mais substitutos para suceder os bens no caso da

falta de um dos herdeiros ou legatários. Como vimos no capítulo anterior, o herdeiro

testamentário pode não querer ou faltar à sucessão, no caso de renúncia, premoriência,

exclusão por indignidade ou falta de legitimação e não-verificação da condição

suspensiva. Essa é a dicção do art. 1.947 e 1.948 do Código Civil de 2002. Havendo

encargo, o substituto também o herdará quando o testador não deixar de forma expressa

o contrário, ou seja, não tratar-se de um encargo personalíssimo.

As formas de substituição comumente detalhada na doutrina são:

Substituição vulgar: indica outra pessoa ou pessoas que irão herdar no lugar do

primeiro instituído, os favorecidos se indicam simultaneamente (arts. 1.947 e

1.949, CC). Não é admitida a substituição de herdeiro necessário.

Substituição recíproca: alcança dois ou mais co-herdeiros ou co-legatários que se

substituem reciprocamente, ou seja, são substitutos uns dos outros (arts. 1.948 e

1.950, CC).

Substituição fideicomissária: quando o herdeiro ou legatário recebe o bem de um

fiduciário que o recebeu para transmiti-lo, por sua morte, ou depois de certo

tempo, ou ainda, sob certa condição (arts. 1.951 a 1.960, CC).

Substituição compendiosa: Consiste num misto de substituição vulgar e

fideicomissária. Neste tipo de substituição, o testador dá substituto ao fiduciário

ou ao fideicomissário, prevendo que um ou outro não queira ou não possa aceitar

a herança ou o legado.

7.1. Substituição fideicomissária

Nesse tipo de substituição, o fiduciário receberá, desde logo, a posse e a

propriedade de toda a herança ou parte desta ou do legado, transmitindo o recebido ao

fideicomissário, depois de sua morte, após determinado tempo ou após implemento de

condição

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Page 22: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

Tal instituto favorece, apenas, os não concebidos quando da morte do testador,

por expressa determinação legal. Havendo, ao ser aberta a sucessão, nascido o

fideicomissário, este terá a propriedade dos bens fideicomitidos, convertendo em

usufruto o direito do fiduciário pelo tempo previsto no testamento.

É de natureza resolúvel o domínio que possui o fiduciário sobre os bens

deixados, podendo este gozar, dispor, gravar e reinvidicar o bem. Se o domínio, porém,

vier a resolver-se, ficará sem efeito a alienação, devendo o bem ser devolvido ao

fideicomissário. Na prática, nenhum terceiro adquire bem de fiduciário.

É vedada a figura do fideicomisso além do segundo grau. Ocorrerá, em caso de

necessidade de substituição do fideicomissário, o direito de acrescer. Também é vedado

ser objeto de fideicomisso, a legítima, podendo apenas ser objeto a parte disponível do

testador.

Requisitos da substituição fideicomissária:

Dupla vocação, onde o testador (fideicomitente) institui o fiduciário que

receberá a herança com o encardo de repassá-la ao fideicomissário;

Eventualidade da vocação do fideicomissário, tendo em vista ter o direito do

fideicomissário um caráter eventual;

Sucessividade, pois os bens irão em primeiro lugar para o fiduciário, depois para

o fideicomissário;

Capacidade testamentária passiva do fiduciário, verificada quando da abertura da

sucessão, e do fideicomissário quando da substituição;

Obrigação do fiduciário de conservar a coisa fideicomissada para depois restituí-

la ao fideicomissário.

São os seguintes direitos do fiduciário:

Ter a propriedade da herança ou do legado, embora restrita e resolúvel, tendo o

direito de usar, gozar, grava, alienar, salvo se o testador houver imposto a

cláusula de inalienabilidade;

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Page 23: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

Transmitir a propriedade fiduciária a seus herdeiros legítimos ou testamentário,

até que o fideicomissário receba os bens;

Ter a plena propriedade se o fideicomissário renunciar, ou se este falecer antes

do testador, ou antes de ocorrida a condição do direito do fiduciário;

Usar de todas as ações do herdeiro, inclusive a de petição de herança.

São deveres do fiduciário:

Proceder ao inventário dos bens fideicomitidos, visto ser necessário precisar o

objeto do fideicomisso;

Prestar caução de restituir os bens fideicomitidos, se for exigido pelo

fideicomissário;

Conservar o bem objeto do instituto, enquanto estiver em sua guarda;

Restituir a coisa fideicomitida.

Direitos e obrigações do fideicomissário:

São direitos seus:

Exigir que o fiduciário proceda ao inventário das coisas fideicomitidas e preste

caução de restituí-las;

Exercer atos destinados à conservação dos bens;

Receber a parte da liberalidade que adveio ao fiduciário por direito de acrescer;

Recolher a herança ou legado, como substituto do fiduciário, se este falecer

antes do testador, renunciar a sucessão ou dela for excluído, ou se a condição

sob a qual o mesmo fiduciário foi nomeado não se verificar;

Renunciar a herança ou legado, inclusive como substituto do fiduciário, que

repudiou a liberalidade;

Receber os bens, com a extinção do fideicomisso, livres de quaisquer ônus,

salvo o disposto no art. 1.957 do CC;

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Page 24: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

Recolher, findo o fideicomisso, o valor do seguro ou o preço da desapropriação

o qual se sub-roga o bem fideicomitido, ocorrendo desapropriação ou destruição

ocasionada por sinistro.

Ocorrerá a caducidade quando houver:

Incapacidade testamentária passiva, ou exclusão do fideicomissário, ou se ele

falecer antes do testador;

Falecimento do fideicomissário depois do testador, mas antes do fiduciário, ou

antes de realizada a condição ou termo resolutivo;

Renúncia da herança ou legado feita pelo fideicomissário;

Perecimento total do bem sujeito ao fideicomisso, sem que tenha havido culpa

ou dolo do fiduciário, e desde que não ocorra sub-rogação no valor do seguro

estipulado sobre a coisa.

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Page 25: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

8. Deserdação

Deserdação é ato unilateral pelo qual o testador exclui da sucessão herdeiro

necessário, mediante disposição testamentária, motivada esta em uma das causas

previstas em lei (GONÇALVES, 2009).

De fato, a deserdação é uma cláusula testamentária que descrevendo a existência

de uma causa grave prevista em lei, priva um ou mais herdeiros necessários de sua

legítima, excluindo-o da sucessão.

Os requisitos de eficácia da deserdação são os seguintes:

a) Existência de herdeiros necessários (art. 1.961 do CC);

b) Testamento válido (art. 1.964, CC);

c) Expressa declaração de causa prevista em lei, que pode assumir, de acordo

com os sujeitos, a seguinte configuração na legislação civil:

Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814,

autorizam a deserdação dos descendentes por seus

ascendentes:

I - ofensa física;

II - injúria grave;

III - relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto;

IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou

grave enfermidade.

Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814,

autorizam a deserdação dos ascendentes pelos

descendentes:

I - ofensa física;

II - injúria grave;

III - relações ilícitas com a mulher ou companheira do

filho ou a do neto, ou com o marido ou companheiro da

filha ou o da neta;

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Page 26: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

IV - desamparo do filho ou neto com deficiência mental

ou grave enfermidade.

d) Propositura de ação ordinária: a causa expressada em testamento que tenha

por fim a exclusão do herdeiro deverá ser provada em ação ordinária. A deserdação,

enfim, só terá eficácia com a sentença transitada em julgado. A legitimidade ativa pode

caber ao herdeiro instituído no lugar do deserdado, aos demais herdeiros necessários na

ordem de vocação hereditária a quem aproveitariam a deserdação e até mesmo ao

Estado. O direito de provar a causa da deserdação extingue-se em prazo decadencial de

quatro anos, contados a partir da data da abertura do testamento. O próprio deserdado

pode tomar a iniciativa, no caso de inércia do interessado, para exigir, por meio de ação

de obrigação de fazer, para que o interessado a promova.

A posse dos bens do de cujus, cujo testamento conste cláusula de deserdação, e

esteja em curso o processo de conhecimento da deserdação deverá ficar, segundo

doutrina majoritária, com o inventariante, que zelaria pela preservação do patrimônio.

Os efeitos da deserdação são idênticos ao da exclusão por indignidade. Os

efeitos são pessoais, atingindo somente o herdeiro excluído; os descendentes deste

poderão herdar por direito de representação.

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Page 27: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

9. Redução das disposições testamentárias

Neste capítulo do Código Civil, o legislador disciplina as hipóteses em que o

testador deixa ao herdeiro instituído além ou aquém de sua cota hereditária disponível.

Quota hereditária disponível é justamente a metade da herança que o testador

poderá dispor livremente; a outra metade constitui a legítima, que cabe aos herdeiros

legítimos segundo a ordem de vocação hereditária.

Quando o testador dispuser de parte de sua quota hereditária disponível, há um

remanescente, que por disposição legal pertencerá aos herdeiros legítimos, consoante

redação do artigo abaixo:

Art. 1.966. O remanescente pertencerá aos herdeiros

legítimos, quando o testador só em parte dispuser da

quota hereditária disponível.

Na hipótese de o testador fazer disposições que excedam a quota hereditária

disponível, dá-se a redução das disposições testamentárias, de forma a preservar a

integridade da legítima. O testamento não é anulado, nem as disposições testamentárias,

mas procede-se apenas a uma transferência de bens da quota disponível para a legítima

(GONÇALVES, 2009).

A redução se dá no inventário, se houver acordo entre os interessados. E

segundo Carlos Roberto Gonçalves (Direito das Sucessões, 11.ed, p. 133) podem os

herdeiros necessários, seus sucessores ou credores, ou ainda os cessionários de seus

direitos demandar ação de redução para recompor a legítima com os bens que excedam

a quota disponível.

Quanto à ordem das reduções, por primeiro atinge-se o herdeiro instituído.

Reduz-se a quota do herdeiro instituído até recompor-se a legítima (mesmo que se

esgote totalmente a quota do herdeiro instituído). Se vários forem os herdeiros

instituídos haverá redução proporcional das quotas (CC , art. 1.967, § 1º). Segundo, se a

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Page 28: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

redução da quota do herdeiro instituído não for suficiente, procede-se a redução dos

legados (CC , art. 1.967, § 1º). A redução nos legados é proporcional aos seus valores.

Por fim, mesmo reduzindo as quotas referidas nos itens primeiro e segundo, não for

possível atingir a legítima, recorre-se então à redução das doações, começando pelas

mais novas (CC , art. 2.007, §. 4º).

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Page 29: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

10. Rompimento do Testamento

O rompimento do testamento, conhecido também como revogação legal, se dá

em virtude de presunção absoluta, prescrita em lei nos artigos 1.973 e 1.974 do CC:

Art. 1.973. Sobrevindo descendente sucessível ao

testador, que não o tinha ou não o conhecia quando

testou, rompe-se o testamento em todas as suas

disposições, se esse descendente sobreviver ao testador.

Art. 1.974. Rompe-se também o testamento feito na

ignorância de existirem outros herdeiros necessários.

A presunção é a de que, tendo sido feito o testamento, se sobrevém ao testador

descendente ou o conhecimento de sua existência, não só do descendente, mas também

de outros herdeiros necessários, ele não teria disposto desta maneira.

Assim sendo, a validade do testamento é fulminada em todas as suas

disposições.

Desta feita, o rompimento do testamento poderá se dar em três hipóteses, com

base nestes dois artigos:

1) Quando sobrevêm descendentes ao testador que não os tinha (CC, art. 1.973, 1ª

parte). Ex.: “A” fez um testamento e posteriormente, vem a ter filhos, ou netos. O

testamento que foi feito anteriormente se rompe.

2) Quando o testador que não tem filho, descobre a existência de um, cujo fato até então

era ignorado. Ou ainda o testador vem a conhecer que um filho, imaginado morto, que

ao contrário, está vivo.

3) Quando o testador ignorava que existam outros herdeiros necessários (CC, art.

1.974). Esses outros herdeiros necessários são os ascendentes e o cônjuge, já que quanto

aos descendentes está referido nos itens anteriores.

Evidentemente, o testamento não será rompido se o testador já saber da

existência dos herdeiros necessários.

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Page 30: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

11. O Testamenteiro

A figura do testamenteiro no Código Civil, que está prevista a partir do art.

1.976, surge quando o testador designa alguém de sua confiança (podendo ser um dos

herdeiros, o cônjuge, um dos legatários, ou ainda uma pessoa estranha à herança) para

cumprir suas disposições testamentárias, que é exatamente a execução do testamento.

Na falta de testamenteiro nomeado pelo testador, a execução testamentária compete a

um dos cônjuges, e, na falta destes, a herdeiro nomeado pelo juiz.

A função do testamenteiro é voluntária porque o nomeado não está obrigado a

aceitá-la; é personalíssima, privativa da pessoa natural, sendo indelegável, embora possa

o testamenteiro nomear mandatários e constituir procurador com capacidade

postulatória para os atos em juízo; é atividade onerosa porque terá direito a remuneração

(vintena), como regra geral. O montante da vintena é fixado pelo testador; se não o

fixar, será arbitrado pelo juiz, entre os limites de 1 a 5% sobre toda a herança líquida,

conforme a importância dela e a maior ou menor dificuldade no cumprimento do

testamento, salvo disposição testamentária em contrário. Portanto, compete ao

testamenteiro defender a validade do instrumento e dar cumprimento à última vontade

do testador (arts. 1.981 e 1.982, CC).

De acordo com a maneira de como é indicado, há várias espécies de

testamenteiros, a saber: instituído – quando nomeado pelo testador; dativo – se for pelo

juiz; universal – aquele a quem é conferido a posse e a administração da herança (neste

caso, o testador só pode conferir a posse da herança ao testamenteiro se não houver ou

não puderem exercê-la o cônjuge supéstite, descendentes e ascendentes); particular –

aquele que não desfruta da posse e administração da herança.

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Page 31: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

PARTE 2 – DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA

1. Inventário

Segundo Carlos Roberto Gonçalves (Direito das Sucessões, 11.ed, p. 157), o

inventário é o processo judicial destinado a relacionar, descrever, avaliar e liquidar

todos os bens pertencentes ao de cujus ao tempo de sua morte, a fim de distribuí-los

entre os seus sucessores. Nesta fase, é apurado o patrimônio do autor da herança, cobra-

se o ativo, honra-se o passivo, bem como avaliam-se bens, pagam-se os legados e o

imposto causa mortis. No final, procede-se à partilha.

Em relação à abertura do inventário, socorremo-nos do Código de Processo

Civil:

Art. 983.  O processo de inventário e partilha deve ser

aberto dentro de 60 (sessenta) dias a contar da abertura

da sucessão, ultimando-se nos 12 (doze) meses

subseqüentes, podendo o juiz prorrogar tais prazos, de

ofício ou a requerimento de parte.

Quanto ao procedimento, há três possíveis:

Solene: É o procedimento tradicional, o mais complexo, de aplicação residual;

Arrolamento sumário: Se dá quando todos os herdeiros forem maiores e capazes,

e entre eles houver consenso. Independe do valor. O Ministério Público não

intervém;

Arrolamento comum: Forma simplificada, com regras diferenciadas. Não

pressupõe capacidade, nem consenso. Há um critério objetivo, que é o valor

igual ou inferior a 2.000 OTNs (Obrigações do Tesouro Nacional).

1.1. Inventariante

O art. 990 do CPC indica, em rol taxativo e preferencial, aqueles que podem ser

nomeados inventariantes. Contudo, pode o juiz, fundamentadamente, inverter essa

ordem. Feita a nomeação, deve o inventariante, nos cinco dias subseqüentes, prestar

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Page 32: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

compromisso. Na hipótese de inventário conjunto, deve ser nomeado,

preferencialmente, herdeiro comum.

São atribuições do inventariante:

- Representar o espólio em juízo e fora dele;

- Administrar o espólio;

- Prestar as primeiras e últimas declarações;

- Exibir documentação.

O inventariante pode ser removido de suas funções em razão de descumprimento

das obrigações, a requerimento de qualquer interessado. Se o juiz remover o

inventariante, nomeará outro, observada a ordem do art. 990 do CPC:

Art. 990.  O juiz nomeará inventariante:       

I - o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo com o outro ao tempo da morte deste; 

II - o herdeiro que se achar na posse e administração do espólio, se não houver cônjuge ou companheiro sobrevivente ou estes não puderem ser nomeados;

III - qualquer herdeiro, nenhum estando na posse e administração do espólio;

        IV - o testamenteiro, se Ihe foi confiada a administração do espólio ou toda a herança estiver distribuída em legados;

        V - o inventariante judicial, se houver;

        Vl - pessoa estranha idônea, onde não houver inventariante judicial.

1.2. Processamento do Inventário

O espólio será representado após a nomeação e compromisso do inventariante no

processo. Intimado da nomeação, o inventariante prestará, dentro de 05 dias, o

compromisso de desempenhar o cargo e, em vinte dias, as primeiras declarações. Após

as primeiras declarações, o juiz mandará citar: o cônjuge ou companheiro, os legatários,

a Fazenda Pública, o Ministério Público – se houver testamento ou herdeiro incapaz – e

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Page 33: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

o testamenteiro (se o de cujus tiver deixado testamento). Segue-se a avaliação dos bens

inventariados, para fins de cálculo do ITCD e da partilha. Resolvida eventuais

impugnações, será lavrado o termo de últimas declarações. Por fim, chega-se à fase da

partilha.

1.3. Arrolamento sumário

Neste procedimento, o advogado contratado pelos herdeiros (não se pode

esquecer que todos estes devem ser maiores de 21 anos, capazes e estarem de acordo

sobre a partilha), após elaborar uma minuta inicial com base nos documentos

indispensáveis (atestado de óbito, certidões de casamento e nascimento do cônjuge e

dos descendentes e matrícula atualizada dos imóveis que serão partilhados),

primeiramente a encaminha para avaliação dos bens junto à Fazenda Estadual.

De posse desta avaliação e antes mesmo de levá-la a juízo, os herdeiros e o

cônjuge supéstite, com os esclarecimentos do profissional que contrataram, deliberam e

elaboram a divisão dos bens e somente então levam ao conhecimento do juiz para que

este homologue a partilha.

Fornecidas as negativas de impostos e satisfeitas as custas processuais, serão

feitos os formais de partilha que são os documentos que demonstram o que coube a cada

uma das partes do inventário. Com isso, o procedimento está terminado.

1.4. Arrolamento comum

É o procedimento indicado para pequenas heranças, não superiores a 2.000

OTNs. O inventariante apresentará as suas declarações, com a estimativa do valor dos

bens do espólio e o plano de partilha. Se o valor atribuído aos bens for impugnado,

então proceder-se-á a avaliação dos bens. Apresentado o laudo de avaliação, o juiz

ordenará o pagamento das dívidas não impugnadas e decidirá sobre as reclamações.

Provada a quitação dos tributos referentes ao espólio, o juiz julgará a partilha.

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Page 34: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

2. Institutos da Colação, Sonegados e do Pagamento das Dívidas

2.1. Colação

Colação é o ato pelo qual os herdeiros descendentes que concorrem à sucessão

do ascendente comum declaram no inventário as doações que dele em vida receberam,

para que sejam conferidas e igualadas as respectivas legítimas (GONÇALVES, 2009).

O ato não praticado pode ensejar sonegação, que é uma infração civil e que reclama

uma pena, com efeitos que veremos no próximo tópico. De fato, deve haver igualdade

entre os quinhões dos herdeiros necessários, e doações e vantagens feito em vida pelo

ascendente aos seus herdeiros necessários (descendentes) implicam em antecipação das

legítimas. Daí estes serem declarados, para que haja essa igualdade das partes legítimas

dos descendentes e do cônjuge sobrevivente.

Destacamos que o excluído da sucessão ou o que renunciou à mesma também

deverá conferir as doações recebidas, e repor a parte que exceder; e os netos, que

sucederem seus avós, no direito de representação dos pais, são obrigados a realizar a

colação que seus pais teriam de conferir, ainda que não o hajam herdado (CC, art.

2.009).

A colação, em regra, é feita com o retorno dos bens doados à massa da herança

para posterior partilha. Se o donatário já o tiver alienado, procede-se à colação por

estimativa, ou seja, o valor do bem volta à universalidade de bens da herança. “O valor

de colação dos bens doados será aquele, certo ou estimativo, que lhes atribuir o ato de

liberalidade” (CC, art. 2.004).

Serão dispensadas da colação as doações que o testador determinar que saiam da

parte disponível, contanto que não a excedam, sob pena de redução das disposições

testamentárias. O valor computado é o do tempo da doação.

O doador/testador pode, expressamente, determinar a dispensa da colação em

testamento ou no próprio contrato de doação.

Não virão à colação as seguintes hipóteses, disciplinadas pelo legislador civil:

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Page 35: Da sucessão testamentária e do inventário e da partilha

Art. 2.010. Não virão à colação os gastos ordinários do

ascendente com o descendente, enquanto menor, na sua

educação, estudos, sustento, vestuário, tratamento nas

enfermidades, enxoval, assim como as despesas de

casamento, ou as feitas no interesse de sua defesa em

processo-crime.

Art. 2.011. As doações remuneratórias de serviços feitos

ao ascendente também não estão sujeitas a colação.

2.2. Sonegados

O herdeiro, inventariante ou ainda testamenteiro têm a obrigação de informar ao

Estado os bens que compõe a herança. Essa informação deve atender todos os bens que

os referidos tenham conhecimento, estando ou não na sua posse.

A sonegação é ocultação dolosa dos bens que compõe o espólio. É uma infração

que reclama pena civil. Ela pode ser praticada pelo inventariante, quando omite,

intencionalmente, bens ou valores, prestando declarações que não existem outros bens a

inventariar. O herdeiro comete sonegação quando não procede à colação, não indica

bens em seu poder ou de terceiros. O testamenteiro infringe a norma se sonegar bens ao

inventário.

De acordo com Mariana Estima Rissi, disponível em http://www.jurisway.org.

br/v2/dhall.asp?id_dh=3261:

A pena de sonegados tem caráter cível e consiste,

para o herdeiro, na perda do direito sobre o bem

sonegado, que é devolvido ao monte e partilhado entre

os outros herdeiros. Se o bem sonegado não mais se

encontrar em seu patrimônio, o sonegador responderá

pelo seu valor mais perdas e danos.

Quando o sonegador for o inventariante, a pena de

sonegados limitar-se-á a remoção da inventariança, se

não for herdeiro nem meeiro. Se o for perderá também o

direito ao bem sonegado. O testamenteiro está sujeito,

igualmente, a pena de perda da inventariança, bem

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como da vintena, se a sonegação disser respeito a bens

testados.

A ação de sonegados prescreve em dez anos, e deve ser ajuizada no foro onde

tramita o inventário, estando legitimados ativamente os herdeiros legítimos ou

testamentários e os credores do espólio. A Fazenda Pública também pode cobrar seus

direitos fiscais sobre os bens sonegados.

2.3. Do Pagamento das Dívidas

A herança responde pelo pagamento das dívidas do falecido. Mas se elas

ultrapassarem o valor da herança, os herdeiros não precisarão pagar os excedentes, pois

toda aceitação é feita em benefício do inventário, conforme prescrição do art. 1.792 do

CC. O pagamento das dívidas deverá ser feito antes da divisão dos bens. Porém, caso a

divisão já tenha sido feita, a quantia devida poderá ser paga por todos ou apenas um

herdeiro, que tem o direito de exigir dos demais herdeiros o que ultrapassar a sua parte

no pagamento; ele responde pela parte que lhe cabe, na respectiva proporção do quinhão

hereditário.

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3. Partilha

De acordo com Carlos Roberto Gonçalves (Direito das Sucessões, 11.ed, p.

175), partilha é a divisão judicial do monte líquido, apurado durante o inventário, entre

os herdeiros do falecido e cessionários, separando-se a meação do cônjuge supéstite. Se

houver um único herdeiro, não há de se falar em partilha, mas em adjudicação direta. A

partilha, pois, consiste no procedimento para divisão do acervo hereditário que será

atribuído os sucessores do autor da herança. A sentença de homologação de partilha

declara a propriedade e a posse dos bens aos herdeiros, retroagindo à data da abertura da

sucessão.

A partilha poderá ser amigável, quando realizada entre herdeiros maiores e

capazes e houver unanimidade de acordo, sendo feita por escritura pública, por termo

nos autos ou por escrito particular homologado pelo juiz. É indispensável que os

interessados, ou procuradores com poderes especiais, assinem o instrumento. A partilha

amigável poderá se feita por ato inter vivos, (não poderá prejudicar a legítima) que é

feito por escritura pública ou testamento, com o intuito de dispensar os descendentes do

inventário comum.

Já a partilha post mortem é feita no curso do inventário ou arrolamento. Se o de

cujus deixou testamento, deverá ter um procedimento judicial, para que no fim haja a

homologação pelo juiz, simples ato de jurisdição voluntária.

A partilha judicial é obrigatória sempre que os herdeiros divergirem, ou se

algum deles for menor ou incapaz. Nesta, as partes formularão pedido de quinhão e o

juiz resolverá as pretensões no despacho de deliberação. Desta forma, o partidor

organizará o esboço de partilha de acordo com essa deliberação e considerará a ordem

de pagamentos; as partes serão ouvidas sobre esta deliberação, e a partilha será lançada

nos autos, conforme art. 1.024 do Código de Processo Civil:

Art. 1.024.  Feito o esboço, dirão sobre ele as partes no

prazo comum de 5 (cinco) dias. Resolvidas as

reclamações, será a partilha lançada nos autos.

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3.1 Anulação e rescisão da partilha

A partilha pode ser anulada ou rescindida. A amigável, simplesmente

homologada, é anulável pelos vícios e defeitos que invalidam o negócio jurídico, tais

como o erro, dolo, a coação, etc., É de um ano o prazo para a propositura da competente

ação anulatória (art. 1.029 do CPC).

Já a partilha judicial, que é julgada por sentença pode ser rescindida (art. 1.030,

do CPC):

a) tendo havido erro essencial, dolo, coação ou intervenção de incapaz;

b) se feita em preterição das formalidades legais;

c) se preteriu herdeiro ou incluiu quem não o era.

A ação rescisória de partilha processa-se perante tribunal, no prazo de dois anos.

Quando a sentença limita-se a julgar os termos do esboço organizado, sem litígios entre

os herdeiros, sua natureza não passa de ser homologatória, não estando sujeita assim à

ação rescisória. Esta só será cabível quando a sentença for de mérito, onde seu conteúdo

decisório se direciona aos quinhões em disputa, exclusão de herdeiros, e, enfim opera a

partilha contenciosa.

3.2. Sobrepartilha

É o procedimento destinado a inventariar bens descobertos após a partilha, ou

bens sonegados, litigiosos, situados em lugar remoto da sede do juízo onde ocorreu o

inventário, ou bens de liquidação difícil ou morosa.

É complementação da partilha, e o seu procedimento é feito observando o

processo de inventário e partilha. Segundo Paulo Sérgio Ubialli (disponível em

http://www.gazetaweb.com.br/edicao_900/seus_direitos.htm), configura-se como uma

nova ação de inventário e partilha que corre no mesmo processo de inventário, podendo

haver tantas sobrepartilhas quantas forem necessárias, desde que evidenciados os seus

pressupostos.

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3.3. Garantia dos quinhões hereditários

Em obediência aos artigos 2.017 e 2.024 do Código Civil, o herdeiro que venha

a perder determinado bem, ou parte dele, o qual lhe teria sido atribuído quando da

partilha, mas que lhe foi tirado em virtude da sentença, tem o direito de ser indenizado

pelos co-herdeiros, a fim de que não tenha prejuízos em relação aos demais. Esta perda

do bem se dá em virtude de eviccção, e o direito sucessório tem como princípio a

igualdade na distribuição do acervo hereditário. Desta feita, justifica-se a presente regra

imposta no Diploma civil.

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Referências

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito das Sucessões. 11. ed. São Paulo, Saraiva, 2009.

GHIARONI, Regina, FRANÇA, Adiel e outros. Direito das Sucessões. São Paulo, Freitas Bastos, 2004.

Lídia Salomão. Jurisway. Direito das Sucessões/A sucessão feita por testamento - disposições gerais. Disponível em http://www.jurisway.org.br/v2/ cursoonline.asp?id_curso=686&pagina=4&id_titulo=8912

Jurisway. Modelo de Codicilo. Disponível em http://www.jurisway.org.br/v2/ modelocomentado.asp?idmodelo=7765

Mariana Estima Rissi. Jurisway. Sonegação de bens da herança. Disponível em http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=3261

Hermano Silva Albuquerque. Artigonal – Diretório de Artigos Gratuitos. Testamento particular. Disponível em http://www.artigonal.com/direito-artigos/testamento-particular-1527366.html

Juliano Aparecido da Silva. Artigonal – Diretório de Artigos Gratuitos. O Testamenteiro no Código Civil. Disponível em http://www.artigonal.com/doutrina-artigos/o-testamenteiro-no-codigo-civil-1537143.html

Central Jurídica. Disposições testamentárias. Disponível em http://www. centraljuridica.com/doutrina/144/direito_civil/disposicoestestamentarias.html

Marcus Vinícius Pessoa Cavalcanti Villar. ViaJus. Direito de acrescer entre herdeiros e legatários. Disponível em http://www.viajus.com.br/viajus.php?pagina=artigos&id=549

Rafael Paiva Cabral. TeuAdvogado. Arrolamento Sumário: Um inventário simples e rápido. Disponível em http://www.teuadvogado.com.br/artigos/centro2.asp?ID=9

Gisele Leite. Jus Vigilantibus. Sobre o inventário e a partilha. Disponível em http://jusvi.com/artigos/81

Vitor Frederico Kümpel. Direito Civil – Disposições testamentárias. Curso do Prof. Damásio à distância.

Ricardo Luís Sant' Anna de Andrade. Breves Considerações acerca da Sucessão Testamentária. Artigo.

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