da micro à média produção e consumo de energia

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1 DA MICRO À MÉDIA GERAÇÃO E CONSUMO DE ENERGIA By Paulo Zornitta & Fernando Zornitta As necessárias transformações no setor energético nacional nos próximos 25 anos compreendem a capacitação tecnológica, a capacidade de gestão e inovação, a viabilização de recursos para os investimentos e a capacidade de articulação institucional, entre outras ações. Mauricio T. Tolmasquim, Amilcar Guerreiro e Ricardo Gorini A produção e a distribuição de energia elétrica mantém-se num sistema desalinhado das novas tecnologias; da inovação e das potencialidades locais e dos recursos naturais renováveis. A energia elétrica que consumimos vem de um sistema tradicional – geradora- distribuidora-consumidor final - e é a única forma utilizada ao 100% atualmente no meio urbano no Brasil e, também, na grande maioria dos países sul-americanos. No Brasil, nenhuma nova proposta de geração e consumo tem surgido para tentar mudar o paradigma de dependência desse sistema que, embora se alimente das várias fontes - renováveis e não-renováveis; poluentes e limpas – ainda mantém-se a partir de mega-estruturas monopolizadoras; de usinas e empresas de distribuição. Embora as fontes geradoras das energias renováveis e limpas aí estejam para serem exploradas em micro, pequena e média escalas – tanto para o uso doméstico, como comunitário, público ou empresarial de pequeno e médio porte; ou mesmo de grande porte para compor a matriz energética e minimizar os efeitos danosos ao meio ambiente; ela é utilizada a não mais do que 2% da nossa matriz e com base no mesmo sistema tradicional de produção, distribuição e consumo. O principal foco tem sido o da geração em grande escala a partir de usinas, com transmissão dessa energia através de redes que atravessam o território em longas distâncias até os locais de consumo, com perdas significativas no trajeto e alto preço por kW/h, em função da infraestrutura necessária e da cara operação do sistema, além de riscos de interrupção no fornecimento por problemas diversos na fonte geradora e na rede de transmissão.

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Texto discorre sobre o potencial geração autônoma, da micro, pequena e média geração de energia através de fontes renováveis de energia elétrica, para a sustentabilidade ambiental e do sistema de geração, que atualmente se embasa na macro geração e distribuição e numa matriz comprometedora do meio ambiente.

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DA MICRO À MÉDIA GERAÇÃO E CONSUMO DE ENERGIA

By Paulo Zornitta & Fernando Zornitta

As necessárias transformações no setor energético nacional nos próximos 25 anos compreendem a capacitação tecnológica, a capacidade de gestão e inovação, a viabilização de recursos para os investimentos e a capacidade de articulação institucional, entre outras ações.

Mauricio T. Tolmasquim, Amilcar Guerreiro e Ricardo Gorini

A produção e a distribuição de energia elétrica mantém-se num sistema desalinhado das novas tecnologias; da inovação e das potencialidades locais e dos recursos naturais renováveis.

A energia elétrica que consumimos vem de um sistema tradicional – geradora-distribuidora-consumidor final - e é a única forma utilizada ao 100% atualmente no meio urbano no Brasil e, também, na grande maioria dos países sul-americanos.

No Brasil, nenhuma nova proposta de geração e consumo tem surgido para tentar mudar o paradigma de dependência desse sistema que, embora se alimente das várias fontes - renováveis e não-renováveis; poluentes e limpas – ainda mantém-se a partir de mega-estruturas monopolizadoras; de usinas e empresas de distribuição.

Embora as fontes geradoras das energias renováveis e limpas aí estejam para serem exploradas em micro, pequena e média escalas – tanto para o uso doméstico, como comunitário, público ou empresarial de pequeno e médio porte; ou mesmo de grande porte para compor a matriz energética e minimizar os efeitos danosos ao meio ambiente; ela é utilizada a não mais do que 2% da nossa matriz e com base no mesmo sistema tradicional de produção, distribuição e consumo.

O principal foco tem sido o da geração em grande escala a partir de usinas, com transmissão dessa energia através de redes que atravessam o território em longas distâncias até os locais de consumo, com perdas significativas no trajeto e alto preço por kW/h, em função da infraestrutura necessária e da cara operação do sistema, além de riscos de interrupção no fornecimento por problemas diversos na fonte geradora e na rede de transmissão.

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By Paulo Zornitta & Fernando Zornitta

As previsões indicam que a geração de energia elétrica será uma das maiores responsáveis pelo aumento das emissões de CO2 nos próximos 25 anos e que ela terá um crescimento a uma taxa de 7% ao ano (a maior taxa de crescimento nas emissões dentre todas as fontes energéticas – maior até que a do petróleo), principalmente pela difusão de termoelétricas a carvão nas plantas industriais e pela geração de energia elétrica a partir do gás natural (Tomalsquim, Maurício et alii - Matriz energética: uma prospectiva. Novos Estudos CEBRAP, n. 79. S.Paulo, 2007)

Com os graves problemas ambientais do planeta, vemos ressurgir até a energia nuclear como uma das formas de amenizar a tendência do “aquecimento global”, embora essa forma de geração seja ainda mais cara e a que traz maiores riscos ambientais incontroláveis (- lembremo-nos de Chernobil e do Tsunami no Japão !).

A energia de fontes renováveis, de baixo custo e impacto ambiental, para ser gerada em pequena escala, raramente é pensada como solução para mitigar o problema do aquecimento global e nem para apontar caminhos alternativos para um futuro energético sustentável, onde todos contribuem com um pouco e através de fontes de energia limpas e renováveis; sem riscos de apagões.

Esse será o grande e estratégico desafio a ser vencido para o crescimento econômico (que depende da disponibilidade de energia), sem prejuízo ambiental e sem riscos de paralisação no fornecimento.

Hoje, a energia que vem de “outras fontes primárias renováveis” - onde a energia solar e eólica se incluem na matriz energética brasileira - é utilizada no entorno de 2% de toda a energia gerada. O que é muito pouco para um país privilegiadíssimo em recursos energéticos renováveis, que abunda em sol e vento, mas que não são aproveitados.

Estimativas dão conta que chegaremos em 2030 com apenas 7% da matriz dessas fontes e veremos o petróleo, a energia hidráulica, a cana-de-açúcar e o gás natural, responsáveis por 77% desse consumo. Os restantes virão de lenha e carvão vegetal (6%), do carvão mineral e derivados (7%), do urânio (3%); ou seja, continuaremos com fontes altamente comprometedoras do meio ambiente, caras na produção, na transformação e na transmissão – embora algumas destas sejam de fontes renováveis, mas que trazem um alto

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impacto ambiental na geração e na distribuição – mesmo as que estão sendo apontadas como “sustentáveis”, como as grandes usinas eólicas, que encampam nossas paisagens litorâneas e se instalam sem uma adequada medição dos impactos sócio-ambientais.

Ser ou não ser renovável não é mais a grande questão e sim a eficiência dos sistemas com menor prejuízo ambiental e maior sustentabilidade; esse é o grande desafio a ser superado.

Consumo e Geração Eficientes e Sustentáveis

A diminuição no consumo, é outra perspectiva que deve ser vislumbrada em função da solução dos problemas e poderá vir de um novo sistema de geração e consumo: pela contribuição de todos (muitas pequenas fontes geradoras) e das novas tecnologias aplicadas com esse fim, como da iluminação por Leds e maior eficiência dos aparelhos.

- Utopia ou possibilidade ?

O Brasil, em anos recentes, sentiu os efeitos da falta de infraestrutura na geração e distribuição de energia elétrica, que quase paralisou o setor industrial e que resultou em racionamentos, na substituição generalizada de lâmpadas incandescentes por lâmpadas de baixo consumo, melhor rendimento e nível de iluminamento, como as lâmpadas fluorescentes eletrônicas - PLs, mas manteve a sua matriz no mesmo sistema e sem olhar para uma nova perspectiva que poderia nascer de pesquisas para geração e utilização de energia elétrica a partir de unidades autônomas de mico, pequeno e médio portes e consumo; na automação e em controles para adequar o uso e o consumo às necessidades sem o desperdício, assim como, olhando para o que já vem sendo feito no mundo para superar esses problemas.

A partir do aperfeiçoamento e do barateamento dos sistemas de captação por painéis fotovoltaicos e de geradores de energia eólica, de comprovada eficiência fabricados no Brasil ou no exterior, bem como de novas tecnologias e recursos para a iluminação através dos LEDs, o casamento dos sistemas poderá trazer resultados significativos para a mudança desses paradigmas, apontando para novas formas de geração e consumo, bem como para oferecer energia a quem está distante dos sistemas tradicionais e que sequer sonha na disponibilidade da energia elétrica, mas que dela também precisa.

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O foco deve estar nos princípios básicos de “auto-sustentabilidade energética”, que se inspiram na “moto-continuidade” no aproveitamento das energias perenes disponíveis na natureza – solar, eólica, hidráulica, mecânica e, na transformação entre elas - para o consumo próprio e local - urbano ou rural, onde muitos micro, pequenos e médios produtores podem contribuir na geração a partir de fontes renováveis e de consumo sustentáveis.

É uma fórmula simples e óbvia, mas que nunca foi posta em prática porque sequer foi imaginada como uma parte da solução e da proficiência energética.

O atual sistema existente, “geração-transformação-transmissão-distribuição-transformação-consumo via geradoras e redes para consumo pontual a longa distância, é insustentável, tanto do ponto de vista funcional como ambiental” e deve urgentemente ser revisto, sob pena de apagões e da própria paralisação do sistema industrial nacional.

A Inovação como Caminho e Exemplo

Segundo Darcy Ribeiro, o motor da evolução das sociedades é a tecnologia. Do fogo à era da cibernética, das pesquisas genéticas e das aventuras espaciais em outros planetas, a tendência de evolução e da busca de novos caminhos são constantes numa civilização interligada “on-line e full-time” - entre todos os países e idiomas no planeta – acelerados pela ciência e disponibilizadas pelas tecnologias que dia-a-dia vão sendo criadas, com processos catalisados pelos meios de comunicações (telefonia, Internet, redes, TVs a cabo e via satélite – dentre outras); pela mecatrônica, pela nanotecnologia, pela genética e demais vertentes pelas quais envereda a ciência e o conhecimento humano.

O poder de utilizá-los está em nossas mãos – para colocarmo-nos com criatividade em sintonia com as novas possibilidades – acelerando a nossa curiosidade que se manifesta em pesquisas e, como precursores, materializarmos nesta conversão, as nossas idéias passives de utilização em qualquer parte do mundo.

- Utopia ou possibilidade (voltamos à pergunta) ?

Isso, dependerá da nossa percepção, dedicação e velocidade de ação, se quisermos colher os frutos e nos projetarmos do local para o global no cenário da geração, do conhecimento e das soluções práticas; o que pode ser conseguido através de uma nova ponte, que interliga ciência e inovação – a

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primeira, que busca respostas e, a segunda que otimiza e cataliza caminhos e processos - para colocarmos a consciência no rumo da máxima preservação ambiental, com o mínimo de consumo e o máximo de eficiência.

Dessa forma, podemos despontar através da inovação e pela convergência multidisciplinar dos diversos ramos do conhecimento humano, possibilitados pela tecnologia e motivados por essa busca da sintonia com as necessidades e antevendo o futuro; poderemos assim, fazer a pequena grande diferença, tal qual uma semente que ao germinar pode gerar milhares de frutos para o mundo globalizado e competitivo, se ela for valorizada e bem cuidada.

- Se essa é uma utopia ou uma possibilidade, a nós cabe a resposta. As tecnologias encontram-se disponíveis; basta tão somente pô-las em pratica em benefício amplo e de todos, mudando paradigmas e fórmulas prontas, em que empresas geram e distribuem a energia, mesmo se estando a milhares de quilômetros da fonte consumidora e não qual investimos sem pensarmos no “custo ambiental”.

Isso hoje e aos olhos das tecnologias disponíveis é um disparate; uma afronta a inteligência humana e à sustentabilidade planetária.

São muitos os fatores que envolvem a mudança de paradigmas e dos sistemas, mas o primeiro e imprescindível é o da mudança da mentalidade dos legisladores e da administração pública, internas aos países que carecem de soluções e de inovação para superarem seus problemas. O Brasil, infelizmente, demora em tomar esses caminhos, que são necessários e estão disponíveis.

O potencial para ampliarmos nossa matriz e capacidade de geração de energia elétrica de fontes perenes e renováveis nas escalas micro, pequenos e médio geradores é extraordinário, mas só haverá investimentos quando a sociedade e seus eleitos acordarem e investirem para isso.

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1 - Fernando Zornitta, Ambientalista, Arquiteto e Urbanista, Especialista em Lazer e Recreação (Escola Superior de Educação Física da UFRGS) e em Turismo (OMT-ONU/Gov. Italiano). Estágio de Aperfeiçoamento em Planejamento Turístico na Un. de Messina – Itália. Período presencial do Curso de Doutorado em Planejamento e Desenvolvimento Regional na Universidade de Barcelona (com foco no turismo e proj. de pesquisa na América Latina e Caribe). Curso de Técnico de Realização Audiovisual e desenvolve atividades como artista plástico e designer. Tem produção literária – livro e artigos técnicos publicados. É co-idealizador e sócio-fundador de ONGs atuantes nas áreas de meio-ambiente, cinema e vídeo, esportes e lazer – dentre outras. É membro do do GTMA (Grupo de Trabalho de Meio Ambiente do CREA-CE), membro do GTPA (Grupo de Trabalho em Planejamento da Acessibilidade do CREA-CE), membro do Fórum do Idoso e da Pessoa com Deficiência do Ceará e de movimento em prol das PCDs.

E-mail: [email protected]

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2 - Paulo Zornitta, Ambientalista, Artista Plástico, Técnico Projetista e Designer (Sistemas de Preservação Ambiental e Tecnologias Limpas; Sistemas Eletro-eletrônicos; Fontes Alternativas de Energia e de Segurança). Produtor cultural nas áreas de literatura fotografia, cinema e vídeo e atividade literária – livro e textos publicados. Estudante da Metafísica e terapêutica com mais de 30 cursos, alguns na UNIPAZ. É co-idealizador e sócio-fundador de ONGs atuantes nas áreas de meio-ambiente (Movimento GREEN WAVE), Associação dos Escritores Independentes do RGS – dentre outras.

E-mails: [email protected]

Os autores autorizam a publicação do texto para fins didáticos. Para outros fins, entrar em contato.

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