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Juventudes:

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Realização Apoio

Juventudes:

EsperançaTestemunhas

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7Dedicatória8

Para os manos Pedro Sol e Pablo Carneiro e os que lutam e sabem que

o Reino de Deus é uma conquista das aventuras da fé e não uma recompensa

para a mediocridade.{

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Setor de Pastoral Ir. Adriano BrolloBruno Manoel SocherDaiane MegerDiogo Luiz Santana GallineDyógenes Philippsen AraújoJosé André de AzevedoMarilúcia Antônia de Resende

Revisão de conteúdoIr. Adriano BrolloJosé André de Azevedo

Projeto Gráfico e DiagramaçãoEstúdio Sem Dublê

ApoioMarketing Grupo Marista

ImagensJoão Borge

Setor de PastoralRua Imaculada Conceição, 1.155, Bloco Administrativo – 9º andar Prado Velho, Curitiba – PR - 80215-901Fone: (41) 3271 6400 www.grupomarista.org.br

Este livro, na totalidade ou em parte, não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização expressa por escrito.

Estejais sempre preparados para responder com ternura e bondade a

todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós.

(1Pd 3,15)

Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo.

(Carlos Drummond de Andrade)

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7Sumário8c Apresentação ......................................................................................... 10c Introdução ................................................................................................ 14c 1 Tempus Fugit ....................................................................................... 18c 2 A Juventude de Medellín: 1968 ....................................................... 24c 3 A Juventude de Puebla: 1979 .......................................................... 28c 4 A Juventude de Santo Domingo: 1992.......................................... 30c 5 A Juventude de Aparecida: 2007 ................................................... 34c 6 A Juventude e o Papa Bento xvI .................................................. 40c 7 Que devemos fazer? (Lc 3,10) .......................................................... 48 7.1 O Encontro em Assis ...................................................................... 50 7.2 Por uma Filosofia da Juventude ................................................. 53 7.3 vai, Francisco, e reconstrói a minha Igreja!.............................. 59c À Guisa de Conclusão .......................................................................... 70c Referências ............................................................................................. 82c Sobre o Autor .......................................................................................... 83c Outras Publicações .............................................................................. 84

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7Apresentação8

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Ainda ecoam em nossa memória e coração as palavras, pos-turas, abraços e sorrisos do Papa Francisco. Como bem disse – e de maneira emocionada – Dom Orani Tempesta: "Já estamos com saudades. Segunda-feira vai faltar alguém muito importante e próximo de nós, que nos deixou muito feliz”.

Como é de se esperar daquele que é chamado a “confirmar seus irmãos na fé” (Cf. Lc 22,32), a presença do Sucessor de Pedro nos apontou alguns caminhos pastorais e possíveis decisões a serem tomadas em nosso agir cristão e em nossos trabalhos com as ju-ventudes. De modo específico toca-nos o discurso do Santo Padre na Vigília de Oração com os Jovens:

O coração de vocês, coração jovem, quer cons-truir um mundo melhor. Acompanho as notícias do mundo e vejo que muitos jovens, em tantas partes do mundo, saíram pelas estradas para expressar o desejo de uma civilização mais justa e fraterna. Os jovens nas estradas; são jovens que querem ser protagonistas da mudança. Por favor, não deixem para outros o ser protago-nistas da mudança! Vocês são aqueles que têm o futuro! Vocês… Através de vocês, entra o fu-turo no mundo. Também a vocês, eu peço para se-rem protagonistas desta mudança. Continuem a vencer a apatia, dando uma resposta cristã às inquietações sociais e políticas que estão sur-gindo em várias partes do mundo. Peço-lhes para serem construtores do mundo, trabalharem por um mundo melhor. Queridos jovens, por favor, não “olhem da sacada” a vida, entrem nela. Jesus não ficou na sacada, mergulhou… “Não olhem da sacada” a vida, mergulhem nela, como fez Jesus.

A Jornada Mundial da Juventude trata-se, sim, de um momento celebrativo e festivo e que, com a presença e palavras de Francis-co, tomou o rumo de um momento de revisão de nossas posturas pastorais com as juventudes. Somos convidados, juntamente com os jovens, a “sermos revolucionários”, a nos transformarmos em sementes de mudanças e em testemunhas de esperança.

Nesse sentido, partilhamos convosco a obra “Juventudes: Tes-temunhas da Esperança”, de autoria do Pe. Paulo Botas, gran-de amigo e assessor teológico; o texto trata-se, na realidade, de uma atualização, releitura e, podemos dizer, uma segunda edi-ção da obra “A Juventude, o Espetáculo Religioso e a Fé Cristã”, obra lançada no final de 2012 e que abre a coleção “Lugares Bí-blicos”, uma iniciativa do Grupo Marista que visa articular o tra-balho juvenil com uma profunda base bíblica. Após a visita do Bispo de Roma, seus pronunciamentos e suas “dicas pastorais”, percebemos que “estamos no caminho”, o caminho de uma Igreja das “cercanias”, com uma teologia da ternura e da proximidade. Assim, a presente edição se apresenta com incursões dos discur-sos do Papa Francisco em terras brasileiras.

Esperamos, pois, que a Boa Mãe, a jovem de Nazaré, nos oriente em nosso modo de responder à ternura de Deus e que o próprio Senhor nos faça entender o caminho.

Ir. Adriano BrolloDiretor do Setor de Pastoral

7Apresentação8

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Grupo Marista 1312 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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7Introdução8

Grupo Marista 1514 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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7Introdução8

A juventude é a total disponibilidade. (Emmanuel Mounier. Carta a Jacques Lefranc)

A tal sinceridade que você invoca é o seu maior perigo. [...]. Porque até agora escolheram por

você. Agora é você quem vai escolher. (Carta de Mário de Andrade ao jovem

Fernando Sabino)

}Este texto presta uma contribuição às instituições confessio-

nais católicas que, com suas pastorais e movimentos, desejam aproximar-se do coração das juventudes. Para tanto, vamos per-correr alguns acenos de documentos da Igreja Latino-Americana no tocante a posicionamentos assumidos nas suas conferências de Medellín, Puebla, Santo Domingo e Aparecida − no que diz res-peito à sua ação evangelizadora junto aos jovens. Resgata, ainda, a posição assumida pelo Papa Bento XVI nas Jornadas Mundiais da Juventude, desde a Alemanha em 2005 até Madri em 2011.

Diante das indicações dos referidos documentos e dos pronun-ciamentos de Bento XVI, apenas uma pergunta poderá inundar nosso inquieto coração: “Que devemos fazer?” (Lc 3,10). Ampa-rados na experiência com as juventudes maristas, podemos acenar algumas “pistas” pastorais, principalmente a partir de três posi-cionamentos: a) os discursos de Bento XVI no Encontro em Assis por ocasião da

Peregrinação para a Paz, de 27 de outubro de 2011; b) a busca por uma “Filosofia da Juventude”, não nos isentando

em apresentar a contribuição filosófico-teológica de Emma-nuel Mounier, pensador que influenciou a juventude de Karol

Wojtyla e Joseph Ratzinger, afetando doravante o modo como esses dois líderes religiosos buscaram se relacionar com os jo-vens durante seus pontificados;

c) por fim, “respirando” ainda os ares da visita do Papa Francisco, o livro apresenta a análise de trechos contundentes dos pronun-ciamentos do Bispo de Roma em visita ao Brasil por ocasião da Jornada Mundial da Juventude na cidade do Rio de Janeiro e, igualmente, suas indicações pastorais, compreendendo pasto-ral, segundo o próprio Francisco, como o exercício da materni-dade da Igreja.

Esperamos, pois, que a leitura seja agradável como se tornou aprazível o processo de pesquisa para a redação dessas linhas, linhas redigidas na certeza de que serão um instrumento de evangelização e “evangelizar significa teste-munhar pessoalmente o amor de Deus, significa superar os nossos egoísmos, significa servir, inclinando-nos para lavar os pés dos nossos irmãos, tal como fez Jesus”.1

1 PAPA FRANCISCO. Homilia na Santa Missa da JMJ, 28/07/2013. In: www.vatican.va

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cotidianono

71.Tempus Fugit8O cristianismo, desde o seu nascimento e por uma exigência intrín-

seca a ele mesmo, teve um encargo universal: o de transmitir um bem que não pertencia somente a ele, mas a toda a humanidade. A missão da Igreja dos primeiros séculos – como ainda hoje - não era conquistar à força a adesão de todos, no sentido de sustentar algum tipo de poder terreno; sua missão era, pura e simplesmente, testemunhar a mensagem de esperança da Boa Nova revelada por Jesus Cristo a todos os homens e mulheres das múltiplas e diversas culturas com a qual entrasse em con-tato. Vale recordar que o cristianismo não surgiu na Europa, mas na Ásia ocidental, no ponto geográfico onde se tocam os três continentes, Ásia, África e Europa. Nesse sentido, por mais que possa espantar algumas pessoas, o cristianismo é uma religião oriental, a qual percorre os espa-ços do Império Romano, império de dominação e, consequentemente, de implementação de um modo de compreender o mundo (cultura).

A partir do século IV, com a liberdade de culto aos cristãos, conce-dida por Constantino mediante o Edito de Milão, e com a oficialização do cristianismo como religião do Império - promovida por Teodósio -, o “movimento de Jesus” - chamado inicialmente de “Caminho” (Cf. At 9,2) e, após, “cristianismo” (Cf. At 11,25) - mergulha num processo profundo de institucionalização. Ao se institucionalizar, a fé cristã as-sumiu os contornos da Igreja Católica Apostólica Romana, expandin-do-se primeiramente entre os povos submetidos a Roma e depois para os mais longínquos grotões.

A Igreja Romana representava não somente o cristianismo, mas o conjunto de justificativas teológicas e ideológicas capazes de funda-mentar o mundo cultural ocidental. A cristandade, então, buscou im-perar sobre os povos da terra pela expansão “missionária” e suben-tendeu, equivocadamente, que sua razão de existir era converter os gentios a uma religião legítima. Para a Igreja Romana, em seu hori-zonte teológico e pastoral não cabiam “as religiões”, porque concebia somente haver “a religião”. Isso significou, por séculos, a negação da liberdade, da cultura e da pluralidade das outras religiões. O cristia-nismo viveu, nesse aspecto, longe do Espírito do Cristo − tempos de obscuridade e soberba.

Grupo Marista 1918 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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Não podemos negar, por outro lado, que houve processos e mo-vimentos, sempre inspirados pelo Espírito, de uma profunda con-versão ao projeto do Evangelho: o movimento dos mendicantes e as propostas de reforma na Igreja.

Com o Iluminismo produziu-se – sobretudo através da Revolução Francesa e seus desdobramentos filosóficos, sociais e políticos − uma onda de contestação religiosa que varreu, urbi et orbe, todo o mundo ocidentalizado. A partir do século XIX, na esteira do racionalismo, do cientificismo, do materialismo e do niilismo, as pessoas passaram a relacionar-se de maneira mais criteriosa com a fé. As instituições tradicionais, como a monarquia e a Igreja Católica, perderam seu monopólio sobre certos setores da sociedade, bem como a sua capa-cidade de atribuir sentidos ao mundo; chamamos de secularização a esse processo de desencantamento ou, ainda, de desconfessiona-lização da cultura ocidental, fenômeno que se alastra com força até os dias de hoje. A indiferença religiosa que cria o homo indifferens se expressa no bordão: “Pode ser que Deus exista, mas isso não tem im-portância e, de qualquer maneira, não faz a menor diferença!”.

O Papa João XXIII, numa tentativa de fazer a Igreja dialogar com as grandes mudanças do mundo contemporâneo, convocou, em 1961, o Concílio Vaticano II. O Concílio erguia-se como uma voz profética de leitura dos “sinais dos tempos” frente à inércia da Igreja e dos cris-tãos em relação ao secularismo crescente, aos regimes totalitários e ao aumento da desigual-dade social no mundo.

Um vasto leque de movimentos e formas experimentais de ser Igreja nasceu nesse bojo, suscitando algumas experiências mais politizadas, outras mais espiritualistas, outras de resistência às mudanças propostas pelos conciliares. Essas experiências convi-

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vem ainda hoje com acertos e desencontros. Cinco décadas depois do Concílio Vaticano II ainda continuamos em busca de respostas concretas, sobretudo no que diz respeito à maneira como integra-mos o jovem nesse novo projeto de Igreja.

É a partir dessa perspectiva que o documento final da Assembleia Plenária do Conselho Pontifício da Cultura de 2004, sobre a fé diante do desafio da indiferença religiosa, aponta alguns aspectos que po-demos detectar hoje: o ateísmo e a não-crença se apresentam como fenômenos mais masculinos; notadamente com pessoas de um nível cultural acima da média. Ou seja, esse fenômeno toca as famílias e os jovens de nossas escolas confessionais de maneira contundente.

Nas famílias “católicas não-evangelizadas”, o sacramento do batismo, a primeira comunhão e o crisma são apenas ritos exter-nos de “uma passagem social”. Um grande desafio catequético de uma pastoral evangelizadora, hoje, é revitalizar os sacramentos, carregá-los de sentido, desvincular a paróquia da imagem de uma mera prestadora de serviços e/ou de uma estrutura administrati-va, sobretudo de oferta de sacramentos. Nesse sentido, tornam-se imprescindíveis as orientações que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nos oferece com o documento de estudo “Paróquia, Comunidade de Comunidades”, fruto da 51ª Assem-bleia, realizada em Aparecida no início desse ano. No citado do-cumento, os bispos do Brasil são unânimes em afirmar que necessário se faz buscar uma nova configuração da estru-tura paroquial, a qual deve ser vista não apenas como um “território eclesial”, mas uma rede de relações tecidas a par-tir da Palavra de Deus, da celebração dos Sacramentos e das vivências fraternas, ou seja, comunidade.

Mesmo com a secularização, não se pode negar que há aqueles que se mantêm perseverantes na Igreja, embora se encontrem con-fusos. De um lado, no que diz respeito às celebrações litúrgicas, há uma tendência em diluir Deus na comunidade humana, num ima-nentismo cultual no qual a comunidade dos fiéis, com seus folclores,

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Grupo Marista 2120 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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costumes e práticas, se basta. A comunidade acaba por cultuar-se a si mesma, segura de que a sua experiência coletiva, histórica, é o que atrai a “multidão de fiéis”. Nessas situações, o verdadeiro Povo de Deus dá lugar a um grupo fechado em si mesmo, que se auto cul-tua. Paradoxalmente, noutro extremo, quando não há o sentido co-munitário da Igreja, coloca-se o celebrante no centro das atenções enquanto Deus passa ao largo. Com isso, acabamos por nos referir não à celebração do Cristo, mas à missa do padre fulano, sicrano ou beltrano. Nessa perspectiva, não podemos esquecer, como afirma Paulo, que um carisma é dado a um indivíduo, mas unicamen-te em favor do conjunto (Cf. 1Cor 12, 7); os dons e talentos de to-dos são colocados a serviço do todo. Não devemos, por sermos cristãos, nos colocar ao centro e deixarmos o Cristo em segundo plano. O processo de evangelização acontece, nas palavras de von Balthazar, quando constatarmos que

Nenhum homem se converterá ao Cristo por-que existe um magistério, existem os sacra-mentos, um clero, um direito canônico, nún-cios apostólicos e um gigantesco aparelho de Igreja. Mas, quando muito, porque o homem em questão terá encontrado um católico cuja vida e o exemplo lhe terão feito aparecer como evidente que no domínio católico há maneiras e não a maneira de se seguir Jesus Cristo.2

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publicou que o mercado da espiritualidade movimentou no mundo mais de um bilhão de dólares. Muitos movimentos e instituições religiosas foram seduzidos por esta pastoral compreendida como negócio. E Paulo, na sua experiência, já havia precavido sobre os excessos da Igreja de Corinto: “Tudo é permitido, dizeis. Mas, nem tudo convém. Tudo é permitido. Porém, nem tudo edifica” (1Cor 10, 23). Como afirmou Ratzinger (antes de ser o Papa Bento XVI):

Nossa maior ameaça é o medíocre pragmatis-mo da vida cotidiana da Igreja, no qual, aparen-temente, tudo procede com normalidade, mas na verdade a fé vai se desgastando e degene-rando em mesquinhez.3

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2 BALTHAZAR, Hans Urs von. L’heure de l’Église. Paris: Fayard, 1986, p. 24.

Se, ao contrário, agirmos da maneira diferente, acabamos pro-movendo a sacralização do fetiche, pois anunciaremos a nós mes-mos e ao aparato eclesial. Essa tentação sempre esteve presente na Igreja; prova disso é que no ano de 2000 o Wall Street Journal

3 RATZINGER, Joseph. Situação atual da fé e da teologia. Conferência pronunciada no Encontro de Presidentes de Co-missões Episcopais da América Latina para a Doutrina da Fé, México, 1996.

4 RATZINGER, Joseph. Fé, Verdade e Tolerância. São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência “Raimundo Lúlio”, 2007, p. 84.

Fomos aprendendo a duras penas que “[...] ninguém nasce cristão, nem mesmo quando nasce num mundo cristão e de pais cristãos. O cristianismo somente pode acontecer como um novo nascimento.”4 Esse novo nascimento se vislumbra a partir da cate-goria do encontro: o encontro pessoal com Jesus Cristo, como tantas vezes salientou Bento XVI.

É a alegria da sua presença viva e vivificante que nos faz tes-temunhá-lo em todos os ambientes. Os autênticos cristãos devem preocupar-se sempre com a “grandeza da fé”, mas essa grandeza não é sinônimo de poder ou de influência cultural, ela não se arvo-ra em quantificações, mas, sim, trata-se da maturidade da própria fé, daquilo que permite o reconhecimento da presença amorosa de Deus no mundo, pois “Deus é Amor: aquele que permanece no amor permanece em Deus e Deus permanece nele” (1Jo 4,16 ).

Grupo Marista 2322 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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72. A Juventude de Medellín: 1968

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Grupo Marista 2524 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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Do final dos anos 60 do século XX à atualidade, os documentos da Igreja na América Latina refletiram sobre a juventude, visto que essa temática não pode ser esquecida em hipótese alguma. Percebe--se que, ao passar dos anos, em meio ao agravamento da situação econômica e social dos países da região e da degenerescência de suas instituições políticas, a juventude posicionou-se em vários países.

Pelos idos de 1968 houve uma explosão de consciência da juven-tude brasileira. Logo após o Ato Institucional nº 5, em dezembro do mesmo ano, o grito de guerra da juventude organizada foi ouvido e gravado nos muros: “Sejamos realistas, peçamos o impossível!”.

O documento da Conferência Episcopal Latino Americana (CELAM), reunida em Medellín no ano de 1968, reflete a juventude contestatária do mundo:

Os jovens esforçam-se por construir um mun-do mais comunitário, que vislumbram, talvez, com mais clareza do que os antepassados. Estão mais abertos a uma sociedade pluralista e a uma dimensão mais universal da fraternidade. A ati-tude religiosa da juventude se caracteriza por recusar uma imagem desfigurada de Deus, que, às vezes, lhe tem sido apresentada, e pela busca de autênticos valores evangélicos. (5.4)

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Os bispos estão atentos ao fato

[...] de os jovens identificarem a Igreja com os bispos e sacerdotes e, por não terem sido cha-mados a uma plena participação na comunidade eclesial, não se consideram como integrantes da Igreja. A linguagem comum da transmissão das palavras (pregação, documentos pasto-rais, etc.), é-lhes muitas vezes estranha e por isso não tem influência em suas vidas. (5.5).

O documento recorda a citação de Paulo VI: “O mundo nos ob-serva hoje de modo particular com relação à pobreza e à simplicida-de de vida” (5.5).

Uma das características dessa juventude é “[...] a sua rejeição às organizações demasiado institucionalizadas, às estruturas rígidas e às formas de agrupamentos massificados” (5.6). Para os bispos, a hierarquia confere um excessivo valor às ações de massa e aos resul-tados de importância numérica, o que pode dificultar a presença do fermento e da irradiação dos grupos atuantes nos vários segmentos sociais, políticos e religiosos. O documento, por fim, recomenda:

[...] que se apresente cada vez mais nítido na América Latina o rosto da Igreja autenticamen-te pobre, missionária e pascal, desligada de todo poder temporal e corajosamente compro-metida com a libertação do homem todo e de to-dos os homens. Que se viva na Igreja, em todos os níveis, com caráter de serviço, um sentido de autoridade isento de autoritarismo. (5.15).

72. A Juventude de Medellín: 19688

cGrupo Marista 2726 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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O documento de Puebla declara a sua “opção preferencial pelos jovens” e traça um perfil da juventude:

Inconformismo que a tudo questiona; espírito de aventura que a leva a compromissos e situações radicais; capacidade criadora com respostas novas para o mundo em transforma-ção, que aspira sempre melhorar em sinal de esperança. Sua aspiração pessoal mais espontânea e forte é a liberdade, emancipada de qualquer tutela exterior. É sinal de alegria e felicidade. Muito sensível aos problemas sociais. Exige auten-ticidade e simplicidade, rejeitando com rebeldia uma sociedade invadida por hipocrisias e contra valores. (1168).

Os bispos, ainda, alertam para o processo ad intra na relação entre a juventude e a Igreja:

Atualmente, contudo, os jovens consideram a Igreja de di-versas maneiras: uns a amam espontaneamente como ela é, sa-cramento de Cristo; outros a questionam para que seja autên-tica; e não faltam os que procuram um Cristo vivo separado do seu corpo que é a Igreja. Há uma massa indiferente, passiva-mente acomodada à civilização do consumo ou outros sucedâ-neos, desinteressada da exigência evangélica. (1179).

Progressivamente, este “divórcio” entre Cristo e a Igreja, entre fé e vida, irá se aprofundando e responderá pela despolitização e pela falta de consciência social da juventude cristã, ainda que o documento aponte incisivamente:

A pastoral da juventude deve ajudar também a formar os jo-vens de maneira gradual para a ação sócio-política e para as mudanças de estruturas, de menos humanas em mais humanas, segundo a Doutrina Social da Igreja. (1197).

Deve-se buscar, segundo o documento, uma formação de uma consciência crítica face aos meios de comunicação social, os quais difundem “contra valores culturais” das duas pontas ideológicas que lutam pela hegemonia: o liberalismo do sistema capi-talista e a filosofia marxista.

73. A Juventude de Puebla: 1979

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Grupo Marista 2928 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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74. A Juventude de Santo Domingo: 1992

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Grupo Marista 3130 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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Na Conferência que comemorou os 500 anos de evangelização da América Latina, os bispos aprofundam a análise sobre a reali-dade da juventude da América Latina e do Caribe:

Muitos jovens são vítimas do empobrecimen-to e da marginalização social, do desemprego e do subemprego, de uma educação que não res-ponde às exigências de suas vidas, do narcotrá-fico, da guerrilha, das gangues, da prostitui-ção, do alcoolismo, de abusos sociais. Muitos vivem adormecidos pela propaganda dos meios de comunicação social e alienados por imposi-ções culturais e pelo pragmatismo imediatista que tem gerado novos problemas no processo de amadurecimento afetivo dos adolescentes e dos jovens. (112).

Os bispos, como que na esteira dos Padres da Igreja, produzem uma das páginas mais contundentes sobre o rosto do Senhor:

Descobrir nos rostos sofredores dos po-bres o rosto do Senhor (Cf. Mt 25, 31-46) é algo que desafia todos os cristãos à profunda con-versão pessoal e eclesial. Na fé encontramos os rostos desfigurados pela fome, consequên-cia da inflação, da dívida externa e das injusti-ças sociais; os rostos desiludidos pelos políti-cos que prometem, mas não cumprem; os rostos humilhados por causa de sua própria cultura, que não é respeitada, quando não desprezada; os rostos angustiados dos menores abando-nados que caminham por nossas ruas e dormem

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sob as nossas pontes; os rostos sofridos das mulheres humilhadas e desprezadas; os rostos cansados dos migrantes que não encontram digna acolhida; os rostos envelhecidos pelo tempo e pelo trabalho dos que não têm o míni-mo para sobreviver dignamente. O amor miseri-cordioso é também voltar-se para os que se en-contram em carência espiritual, moral, social e cultural. (178).

Na Campanha da Fraternidade de 1992, cujo tema era a proble-mática da juventude, com lema “Juventude, Caminho Aberto”, uma pesquisa apontou que 75% dos 27,4 milhões de jovens brasilei-ros de então, com idade entre 15 a 24 anos, se diziam católicos. No entanto, desses, apenas 50% participam das missas ou de alguma atividade religiosa paroquial. As declarações dos jovens da Pasto-ral da Juventude, recolhidas em preparação para a citada Campa-nha, são eloquentes até hoje: “A Igreja precisa rever a sua posição em relação aos jovens”; “Os bispos e os padres ensinam uma coisa e a gente faz outra”; “Se os jovens disserem o que fazem e pensam, os padres vão mandá-los confessar”. Temos assistido, sobretudo depois do Crisma, a um esvaziamento progressivo da participação dos jovens na Igreja.

74. A Juventude de Santo Domingo: 19928

cGrupo Marista 3332 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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75. A Juventude de Aparecida: 2007

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Grupo Marista 3534 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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A Igreja contemporânea é fortemente marcada pelos movimen-tos e novas comunidades de fé que floresceram durante o pon-tificado de João Paulo II. A Conferência de Aparecida discutia a necessidade de promover a unidade na diversidade, de maneira a evitar que as belíssimas iniciativas que brotaram e proliferam no seu interior tornem-se, por desorientação e omissão do Magisté-rio, meras “seitas católicas”.

Os bispos apontam para o mercado e o consumismo que, como “cantos de sereia”, atraem e traem a juventude e os participantes das Igrejas Particulares:

A avidez do mercado descontrola o desejo de crianças, jovens e adultos. A publicidade con-duz ilusoriamente a mundos distantes e mara-vilhosos, onde todo desejo pode ser satisfeito pelos produtos que têm caráter eficaz, efême-ro e até messiânico. Legitima-se que os desejos se tornem felicidade. Como só se necessita do imediato, a felicidade se pretende alcançar por meio do bem-estar econômico e da satisfação hedonista. (50).

Um desafio é lançado para a catequese hodierna, para a edu-cação evangelizadora, para as pastorais juvenis, muitas vezes re-alizadas com um empenho louvável por leigos e leigas sem uma formação permanente e adequada:

As novas gerações são as mais afetadas por essa cultura do consumo em suas aspira-ções pessoais profundas. Crescem na lógica do individualismo pragmático e narcisista, que desperta nelas mundos imaginários especiais de liberdade e igualdade. Afirmam o presente

porque o passado perdeu relevância diante de tantas exclusões sociais, políticas e econômi-cas. Assim mesmo, participam da lógica da vida como espetáculo, considerando o corpo como ponto de referência de sua realidade presente. Têm nova atração pelas sensações e crescem na grande maioria sem referência aos valores e instâncias religiosas. Em meio à realidade de mudança cultural, emergem novos sujeitos, com novos estilos de vida, maneiras de pensar, de sentir, de perceber e com novas formas de se relacionar. São produtores e atores da nova cultura. (51).

O tema dos “rostos dos que sofrem” é retomado de Puebla e avança na dura constatação da realidade:

Isso nos deveria levar a contemplar os ros-tos daqueles que sofrem. Entre eles, estão as comunidades indígenas e afro-americanas que, em muitas ocasiões, não são tratadas com dig-nidade e igualdade de condições; muitas mulhe-res são excluídas, em razão de seu sexo, raça ou situação socioeconômica; jovens que rece-bem uma educação de baixa qualidade e não têm oportunidades de progredir em seus estudos nem de entrar no mercado de trabalho para se desenvolver e constituir uma família; muitos pobres, desempregados, migrantes, deslocados, agricultores sem terra, aqueles que procu-ram sobreviver na economia informal; meninos e meninas submetidos à prostituição infantil, ligada muitas vezes ao turismo sexual; também

75. A Juventude de Aparecida: 20078

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as crianças vítimas do aborto. Além dos jovens, milhões de pessoas e famílias vivem na miséria e inclusive passam fome. Preocupam-nos também os dependentes das drogas, as pessoas com limi-tações físicas, os portadores e vítimas de enfer-midades graves como a malária, a tuberculose e HIV-AIDS, que sofrem a solidão e se veem excluídos da convivência familiar e social. Não esquecemos também os sequestrados e os que são vítimas da violência, do terrorismo, de conflitos armados e da insegurança na cidade. Também os anciãos que, além de se sentirem excluídos do sistema produ-tivo, veem-se muitas vezes recusados por sua fa-mília como pessoas incômodas e inúteis. Sentimos as dores, enfim, da situação desumana em que vive a grande maioria dos presos, que também necessi-tam de nossa presença solidária e de nossa ajuda fraterna. Uma globalização sem solidariedade afeta negativamente os setores mais pobres. Já não se trata simplesmente do fenômeno da explo-ração e opressão, mas de algo novo: a exclusão so-cial. Com ela a pertença à sociedade na qual se vive fica afetada na raiz, pois já não está abaixo, na pe-riferia ou sem poder, mas está fora. Os excluídos não são somente “explorados”, mas “supérfluos” e “descartáveis”. (65).

Os bispos, finalmente, ousam apontar e assinalar o

[...] recrudescimento da corrupção na socie-dade e no Estado, envolvendo os poderes legis-lativos e executivos em todos os níveis, alcan-çando também o sistema judiciário que, muitas vezes, inclina seu juízo a favor dos poderosos e gera impunidade, o que coloca em sério risco a credibilidade das instituições públicas e au-menta a desconfiança do povo, fenômeno que se une a um profundo desprezo pela legalidade. Em amplos setores da população, e especial-mente entre os jovens, cresce o desencanto pela política e particularmente pela democra-cia, pois as promessas de uma vida melhor e mais justa não se cumpriram ou se cumpriram só pela metade. Nesse sentido, esquece-se de que a democracia e a participação política são fruto da formação que se faz realidade somen-te quando os cidadãos são conscientes de seus direitos fundamentais. (77).

75. A Juventude de Aparecida: 20078

bGrupo Marista 3938 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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76. A Juventude e o Papa

Bento xvI

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Grupo Marista 4140 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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Na mensagem do Papa João Paulo II, escrita em 2004, para a XX Jornada Mun-dial da Juventude - realizada um ano depois em Colônia, Alemanha, e conduzida por Bento XVI - a recomendação foi enfática:

A idolatria é uma tentação constante do homem. Infelizmen-te há quem procure a solução para os problemas em práticas religiosas incompatíveis com a fé cristã. É grande a tentação de pensar nos mitos de fácil sucesso e do poder; é perigoso aderir a concepções evanescentes do sagrado que apresentam Deus sob a forma de energia cósmica e de outras maneiras que não estão em sintonia com a doutrina católica. Não cedais a falsas ilusões nem a modas efêmeras que muitas vezes deixam um trágico vazio espiritual! Recusai as soluções do dinheiro, do consumismo e da violência dissimulada que por vezes os meios de comunicação propõem.5

O Papa Bento XVI segue a linha de pensamento do seu antecessor e afirma para a juventude que

[...] liberdade não quer dizer gozar a vida, considerar-se absolutamente autônomos, mas orientar-se segundo a medida da verdade e do bem para, desta forma, nos tornamos nós pró-prios, verdadeiros e bons. [...] a hora de Jesus é a hora em que o amor vence. Em outras palavras: foi Deus que venceu, porque Ele é Amor. [Mas, apesar de tudo] em vastas partes do mun-do existe hoje um estranho esquecimento de Deus. Parece que tudo caminha igualmente sem Ele. Mas existe, ao mesmo tempo, também um sentimento de frustração, de insatisfação de tudo e de todos. É espontâneo exclamar: “não é possível que esta seja a vida!”. Deveras, não.6

5 JOÃO PAULO II. Mensagem para a XX Jornada Mundial da Juventude. Castel Gandolfo, 6 de agosto de 2004. In: www.vatican.va6 BENTO XVI. Homilia da Missa na Esplanada de Marienfeld. Colônia, 21 agosto de 2005. In: www.vatican.va

Ao reconhecer que, com o esquecimento de Deus, acontece um boom do religio-so, Bento XVI alerta:

Não quero desacreditar tudo o que existe neste contexto. Pode existir nisto também a alegria sincera da descoberta. Mas para, dizer a verdade, não raramente a religião se tor-na quase um produto de consumo. Escolhe-se aquilo do que se gosta e alguns até tiram dela proveito. Mas a religião procu-rada a seu “bel prazer” no fim não nos ajuda. É cômoda, mas, no momento da crise, abandona-nos a nós próprios. O antídoto para esta religiosidade sentimentalista é manifestado na sen-sibilidade pelas necessidades do próximo. Deve manifestar-se no compromisso pelo próximo, tanto pelo que está perto como pelo que está externamente distante, mas que nos diz sempre respeito de perto.7

O primeiro papa emérito da história enfatiza que o poder de Deus é diferente do poder dos poderosos do mundo:

A maneira de agir de Deus é diferente de como nós a imagi-namos e de como gostaríamos de impô-la também a Ele. Neste mundo, Deus não entra em concorrência com as formas terre-nas do poder. A absolutização do que não é absoluto mas re-lativo chama-se totalitarismo. Não liberta o homem, mas pri-va-o da sua dignidade e escraviza-o. São muitos os que falam de Deus e em nome de Deus prega-se também o ódio e pratica-se a violência.8

7 BENTO XVI. Homilia da Missa na Esplanada de Marienfeld. Colônia, 21 agosto de 2005. In: www.vatican.va8 BENTO XVI. Vigília de Oração com os jovens na Esplanada de Marienfeld, 20 de agosto 2005. In: www.vatican.va

{No decorrer da reunião do CELAM de Aparecida, em 2007, o Papa conclamou

a juventude reunida no Estádio Municipal do Pacaembu, em São Paulo, a abrir-se a uma consciência ecológica para enfrentar não só “os problemas que envolvem a

76. A Juventude e o Papa Bento xvI8

Grupo Marista 4342 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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convivência humana, mas também a efetiva preservação e conservação da natureza, da qual todos fazem parte”.9 E denuncia:

“Nossos bosques têm mais vida”: não deixeis que se apague esta chama de esperança que o vosso Hino Nacional põe em vossos lábios. A devastação ambiental da Amazônia e as ame-aças à dignidade humana de suas populações requerem um maior compromisso nos mais diversos espaços de ação que a sociedade vem solicitando.10

O Papa, talvez sem o saber, fez eco ao Samba da Benção11 de Vinicius e Baden ao declarar:

Diante dos olhos, meus queridos jovens, tendes uma vida que desejamos seja longa; mas é uma só, é única: não a deixeis passar em vão, não a desperdiceis. Vivei com entusiasmo, com alegria, mas, sobretudo, com senso de responsabilidade.12

Bento XVI, no seu encontro com os jovens na XXIII Jornada Mundial da Juven-tude, 2008, em Sidney, afirmava que o amor de Deus pode propagar a sua força so-mente quando lhe permitimos que nos mude a partir de dentro. Temos que deixá-lo penetrar na crosta dura da nossa indiferença, do nosso cansaço espiritual, do nosso cego conformismo com o espírito do nosso tempo. E acrescenta um desafio:

Amados jovens, permiti que vos ponha agora uma questão. E vós, o que é que deixareis à próxima geração? Estais a cons-truir as vossas vidas sobre alicerces firmes, estais a cons-truir algo que há de durar?13

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{9 BENTO XVI. Discurso no Encontro com os jovens no Estádio Municipal do Pacaembu. São Paulo, 10 de maio de 2007. In: www.vatican.va10 BENTO XVI. Discurso no Encontro com os jovens no Estádio Municipal do Pacaembu. São Paulo, 10 de maio de 2007. In: www.vatican.va11 “A vida é uma só. Duas ninguém venha me dizer que tem sem me provar muito bem provado com uma carta do cartório do céu, assinada embaixo:

Deus! E com firma reconhecida. Cuidado, companheiro, a vida é a arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida” (trecho da letra do Samba da Benção).

12 BENTO XVI. Discurso no Encontro com os jovens no Estádio Municipal do Pacaembu. São Paulo, 10 de maio de 2007. In: www.vatican.va13 BENTO XVI. Encontro com os jovens em Sidney, 2008. In: www.vatican.va

Este desafio deve estar sempre presente em qualquer trabalho com a juventude, pois é a partir da busca para respondê-lo que poderemos avançar para “águas mais profundas” e para a criação de um mundo novo, como sonha o Papa:

Uma nova era em que o amor não seja ambicioso nem egoísta, mas puro, fiel e sinceramente livre, aberto aos outros, respei-tador da sua dignidade, um amor que promova o bem de todos e irradie alegria e beleza. Uma nova era na qual a esperança nos liberte da superficialidade, apatia e egoísmo que mortifi-cam as nossas almas e envenenam as relações humanas.14

Este trecho do Papa devia ser o roteiro de uma permanente revisão de vida, de um ver-julgar-agir que comprometa, cada vez mais, os jovens cristãos para com os homens e mulheres de boa vontade na construção de uma Igreja projetada para o futuro do Reino de Deus. Como a humildade é parte integrante desse novo momen-to almejado – e Bento XVI, pelo ato heroico de sua renúncia, demonstrou que se trata de alguém humilde –, pôde declarar:

Também a Igreja tem necessidade desta renovação. Precisa da vossa fé, do vosso idealismo e da vossa generosidade para poder ser sempre jovem no Espírito (Cf. Lumen Gentium, n. 4).15

14 BENTO XVI. Encontro com os jovens em Sidney, 2008. In: www.vatican.va15 BENTO XVI. Homilia no Hipódromo de Randwick. Sidney, 20 de julho de 2008. In: www.vatican.va

76. A Juventude e o Papa Bento xvI8

Grupo Marista 4544 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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Na sua Mensagem para a XXIV Jornada Mundial da Juventude, de 2009, o Papa reiterou a sua preocupação com a consciência política e social dos jovens do mundo:

Fazei escolhas que manifestem a vossa fé; mostrai que com-preendestes as insídias da idolatria do dinheiro, dos bens ma-teriais, da carreira e do sucesso e não vos deixeis atrair por estas quimeras falsas. Não cedais à lógica do interesse egoís-ta, mas cultivai o amor ao próximo e esforçai-vos por colocar a vós mesmos e as vossas capacidades humanas e profissionais ao serviço do bem comum e da verdade, sempre prontos a res-ponder “a quem vos perguntar a razão da vossa esperança” (1Pd 3, 15)16

Não deixemos apagar das nossas mentes e corações o desafio de Bento XVI, sem-pre presente em todas as Jornadas passadas, presentes e futuras: “E vós, o que é que deixareis para as futuras gerações?”. Mas, sobretudo, devemos responder a este desafio com as palavras do próprio Papa:

Queridos jovens, gostaria de vos convidar para “ousar o amor”, isto é, a não desejar nada para a vossa vida que seja in-ferior a um amor forte e belo, capaz de tornar toda a existên-cia uma jubilosa realização da doação de vós próprios a Deus e aos irmãos, à imitação d’Aquele que mediante o amor venceu para sempre o ódio e a morte (Cf. Ap 5, 13).17

16 BENTO XVI. Mensagem para a XXIV Jornada Mundial da Juventude. Vaticano, 22 de fevereiro de 2009. In: www.vatican.va. Nesse sentido, os jovens de várias nacionalidades dão nesses últimos dias “razão de sua esperança” ao se mobilizarem criticamente em seus países contra a corrupção, contra a idolatria do dinheiro e da ganância promovida pelos grandes centros financeiros e empresas mundiais e órgãos públicos. O movimento dos “indig-nados” nos Estados Unidos é intitulado “Ocupem Wall Street” (local do maior centro financeiro do país) e em muitos dos cartazes empunhados ecoa se a mensagem radical do Evangelho: “A compaixão é revolucionária”; “Capitalismo é um estado de espírito, transcenda-o”; “Não há razão para mais violência e cobiça”; “A ganância é a nossa civilização”; “Acabe com a guerra, alimente o pobre”; “Eu estou aqui com você porque você está aqui por mim”. Eis a mensagem, no calor da hora, de uma comentarista do movimento: “É isso o que vejo acontecendo nesta praça. Na forma em que vocês se alimentam uns aos outros, se aquecem uns aos outros, compartilham informação livremente e fornecem assistência médica, aulas de meditação e treinamento na militância. O meu cartaz favorito aqui é o que diz ‘eu me importo com você’. Numa cultura que treina as pessoas para que evitem o olhar das outras, para dizer ‘deixe que morram’, esse cartaz é uma afirmação profundamente radical” (a autora é Naomi Klein, de Nova York e seu texto foi postado em 06/10/2011, em www.naomiklein.org/articles, tradução de Idelber Alvelar).

17 BENTO XVI. Mensagem para a XXII Jornada Mundial da Juventude. Vaticano, 27 de janeiro de 2007. In: www.vatican.va

Bento XVI afirmou na Jornada em Madri: “Ter fé é apoiar-se na fé dos teus ir-mãos e fazer com que a tua fé sirva também de apoio para a fé dos outros”.18 Final-mente, o Papa não se esquiva da realidade do mal que atinge o mundo e a Igreja e proclama na sua lucidez:

Neste ponto, não devemos calar o fato de que o mal exis-te. Vemo-lo em tantos lugares deste mundo; mas vemo-lo tam-bém – e isto assusta-nos – na nossa própria vida. Sim, no nosso próprio coração existe a inclinação para o mal, o egoísmo, a in-veja, a agressividade. Com certa autodisciplina, talvez isto se possa, em certa medida, controlar. Caso diverso e mais difícil se passa com formas de mal escondido, que podem envolver--nos como um nevoeiro indefinido, tais como a preguiça, a len-tidão no querer e no praticar o bem. Repetidamente, ao longo da história, pessoas atentas fizeram notar que o dano para a Igreja não vem dos seus adversários, mas dos cristãos tíbios.19

18 BENTO XVI. Celebração Eucarística Conclusiva. Madri, 21 de agosto de 2011. In: www.vatican.va 19 BENTO XVI. Vigília com os jovens na Feira de Freiburg. 24 de setembro de 2011. In: www.vatican.va

76. A Juventude e o Papa Bento xvI8

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Grupo Marista 4746 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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77. “Que devemos fazer?” (Lc 3,10)

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Grupo Marista 4948 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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Na mensagem do Papa João Paulo II, escrita em 2004, para a XX Jornada Mundial da Juventude - realizada um ano depois em Colônia, Alemanha, e conduzida por Bento XVI - a recomendação foi enfática:

Percorremos um belo caminho, mas, concomitantemente, exi-gente. Como “transformar” as orientações da Igreja em prática pastoral? A resposta seria “tirar de nosso baú coisas velhas e no-vas” (Cf. Mt 13,52), ou seja, nos apropriarmos daquilo que já temos e realizamos e, à luz da novidade de Deus, buscar “vida e vida em abundância” (Cf. Jo 10,10).

Para tanto, elencamos “três fontes” para uma pastoral com as juventudes que demonstre a ternura de Deus e a maternidade da Igreja: a) o Encontro em Assis; b) uma Filosofia da Juventude; c) os discursos do Papa Francisco.

77.1 O Encontro em Assis8Em tempos de Nova Evangelização, o Papa Bento XVI oferece a régua e o com-

passo para este esforço da Igreja em formar, urgentemente, esta nova geração de jovens. O encontro de Assis, no dia 27 de outubro de 2011, com os representantes das religiões do mundo e mais três humanistas ateus, numa Peregrinação para a Paz, é um marco indelével a ser considerado no papado de Bento XVI, apesar das reações iradas dos mais fundamentalistas católicos.

Num primeiro momento, há a descoberta afirmativa de nossos aspectos comuns, como diz o Cardeal Gianfranco Ravasi:

[...] nós estamos unidos por causa da nossa descendência comum de Adão, um elemento que precede o pertencimento ét-nico e religioso. Todo homem olha para a terra, para o seu se-melhante e eleva o olhar para Deus.20

Num segundo momento, temos a afirmação do humanismo que pode unir os crentes e os não-crentes na superação dos totalitarismos e fundamentalismos que geram a violência, muitas vezes em nome das religiões, como afirmou o Papa Bento XVI em Assis: “É verdade que, na história, também se recorreu à violência em nome da fé cristã. Reconhecemo-lo, cheios de vergonha”.

Para a psicanalista Julia Kristeva, não-crente convidada pessoal do Papa, são os humanistas que poderão combater a nova banalidade do mal expressa na auto-matização da espécie humana. Ela afirma que é o momento de retomar os códigos morais do passado, uma vez que a Bíblia, os Evangelhos, o Alcorão, o Rigveda, o Tao, os fundamentos das religiões ancestrais habitam o nosso presente e precisa-mos repensá-los e revivê-los dentro das linguagens da modernidade. A refundação do humanismo não é nem um dogma providencial, nem um jogo do espírito: é uma aposta. Pela primeira vez, o homo sapiens é capaz de destruir a terra e a si mesmo em nome de suas religiões, crenças ou ideologias.

Num momento terceiro, é imprescindível o testemunho da fé na prática da soli-dariedade para a construção de uma Igreja Samaritana que conduza os nossos jo-vens aos compromissos éticos necessários, expressos nos confrontos e nas denún-cias da corrupção econômica, social, política e religiosa.

Num quarto momento, aprender novamente a dialogar ao aceitar as diferenças, valorizar a diversidade, superar a intolerância e se colocar, humildemente, diante do outro para se deixar tocar pela sua singularidade.

Num momento quinto, o esforço de formação para que as comunidades não se-jam de simples adesão, mas também de contestação:

Lembrando que, linguisticamente, “contestação” está li-gada a “atestação”. Contesta-se a autoridade para atestar o Evangelho [...]. É em grupo que se podem fazer coisas impor-tantes, e é difícil para um cristão viver isolado, sobretudo quando se pensa que o cristianismo é uma religião encarnada e comunitária, não pura filosofia.21 {

{20 Citado por FAZZINI, Avvenire, em 27.10.2011, tradução de Moisés Sbardelotto para IHU, 29.10.2011. 21 MOINGT, Joseph. Croire quand même. Paris: Temps Présent, 2010, p 83.

Grupo Marista 5150 Juventudes: Testemunhas de Esperança

77. “Que devemos fazer?” (Lc 3,10)8

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Num sexto momento, devemos facilitar a ruptura, no nosso espírito, daquilo que o jornalista italiano Ettore Masina convencionou chamar de “racismo eclesiástico”, expresso no contraste escandaloso entre uma religião recitada, cantada, dançada e um cristianismo vivido por tantos daqueles que pensamos “distantes”, para os quais Jesus chama a nossa atenção com insistência. Nesse sentido, o evangelista é enfático:

João lhe disse: - Mestre, vimos alguém que expulsava demô-nios em teu nome, e o impedíamos, pois não anda conosco. Jesus respondeu: - Não o impeçais! Alguém que faça um milagre em meu nome não pode em seguida falar mal de mim. Quem não está con-tra nós, está a nosso favor. (Mc 9, 38-39).

Jesus rompe qualquer atitude coorporativa dos que o seguem, mesmo porque seus discípulos foram incompetentes para curar o epiléptico que sofria muito e que, por esta razão, ouviram do Senhor que faziam parte de uma geração incrédula e perversa: “Até quando terei de estar convosco e aguentar-vos?” (Cf. Mt 17, 14-18). É terrível que, para muitos de nós, a comunhão sacramental seja satisfatória e, tantas vezes, uma cômoda substituição de uma comunhão de vida com quem sofre e tem necessidade de nossa solidariedade e compaixão.

Finalmente, é necessário e urgente dar um passo na formação dos jovens para que sejam capazes de construir comunidades cristãs em que crentes de outras re-ligiões e humanistas não-crentes possam vir e se indagarem juntos: “Que devemos fazer?” (Lc 3,10)

Desta maneira, por meio da juventude futura, viveremos a Igreja proposta pelos Lineamenta do Sínodo da “Nova Evangelização”:

Os frutos que este processo contínuo de evangelização gera para a Igreja, como sinal da força vivificante do Evangelho, for-mam-se no confronto com os desafios do nosso futuro. Precisa-mos gerar famílias que sejam um sinal real e verdadeiro do amor e da partilha, capazes de se abrirem à esperança, porque aberta à vida; é preciso ter a força de construir comunidades dotadas de um verdadeiro espírito ecumênico e capazes de diálogo com outras

religiões; urge a coragem de apoiar as iniciativas de justiça social e de solidariedade, que coloquem no centro das atenções da Igre-ja os pobres; espera-se alegria no dar a própria vida num projeto vocacional ou de consagração. Uma Igreja que transmite a sua fé, uma Igreja da “nova evangelização”, é capaz, em todos esses âmbi-tos, de mostrar o Espírito que a guia e que transfigura a história: a história da Igreja, dos cristãos, dos homens e das suas culturas.22

Nenhuma Jornada Mundial da Juventude nem os jovens das Igrejas poderão ser os mesmos depois desse último encontro de Assis. A juventude deve ser também peregrina da verdade e da paz e se empenhar numa constante conversão como a exigida e testemunhada pelo Papa Bento XVI, uma conversão em que afirma a sua identidade católica que, como o nome indica, deve se abrir ao ecumenismo cristão, à ruptura da ignorância e do preconceito diante das religiões tradicionais e, sobre-tudo, ao compromisso comum com os humanistas do mundo para a instauração da justiça e da paz.

Desta maneira e neste empenho sem tréguas poderemos compreender a denún-cia profética de Malaquias: “Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Então por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?” (Ml 2, 10).

77.2 Por uma Filosofia da Juventude8Os mais desavisados, talvez, pudessem aqui objetar: “Estamos nos referindo ao

trabalho da pastoral juvenil. Por que, então, falarmos de uma ‘Filosofia da Juven-tude’?”. Ora, justamente aqui podemos encontrar um meio comum, um núcleo es-truturante para fazermos acontecer o desejo do Encontro em Assis: diálogo. Para tanto, o pensamento de Emmanuel Mounier23 se apresenta como um fundamento filosófico para o trabalho com os jovens.

22 SÍNODO DOS BISPOS: XIII Assembleia Geral Ordinária “A Nova Evangelização para a Transmissão da Fé Cristã”. Lineamenta. Brasília: Edições CNBB, Documentos da Igreja 6, 2011, p 74.

23 Emmanuel Mounier (1905-1950) foi um filósofo francês ao qual se atribui a fundamentação do movimento filosófico chamado personalismo. Funda-dor e diretor da revista Esprit, suas obras influenciaram a criação da "Democracia cristã". Mounier foi uma voz ativa contra o fascismo e o nazismo, defendendo a ideia de uma civilização na qual os cristãos e os não crentes pudessem cooperar. Foi o pensador cristão que determinante para o movimento da Ação Católica, que envolvia jovens católicos, estudantes universitários e operários (JEC, JUC e JOC).

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Grupo Marista 5352 Juventudes: Testemunhas de Esperança

77. “Que devemos fazer?” (Lc 3,10)8

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O filósofo Emmanuel Mounier, na sua curta vida, marcou gerações de jovens que encontraram na Ação Católica uma forma comprometida de responder às exigên-cias do seu tempo. Para este filósofo, ser jovem é permanecer sempre disponível aos acontecimentos e à humanidade, jamais envelhecer e nunca aceitar a vida como um fato consumado.

Este jovem pensador, engajado e crítico, centrou a sua ação no testemunho e não no sucesso. Mounier postulava que só há definitivamente um único dever para a inteligência: a coragem da verdade. Os jovens deviam testemunhar as suas relações fraternas pela acolhida, pelo rigor e pela generosidade, como bem expressou:

Dele [o cristão] é exigida permanentemente a arte de trans-figurar as horas mortas, as ações medíocres, a monotonia co-tidiana. Seu dever é resgatar toda a sua participação na “náu-sea do mundo”.24

Este homem criticou os espiritualismos desencarnados e, como a Encarnação é a viga mestra do cristianismo, opunha a estes um realismo integral. Ainda hoje, a maior tentação para os cristãos e, sobretudo, para os jovens é viver em Igrejas e atuar em pastorais que escamoteiam a sua situação real: a de que devem ser Igrejas encarnadas num lugar, comprometidas em um tempo e entre homens e mulheres concretos.

Nesse sentido, para Mounier e, acima de tudo, para o cristianismo

[...] o próximo é uma hóstia, um sacramento, uma presença inédita de Deus, Se a vocação suprema da pessoa é divinizar--se divinizando o mundo, personalizar-se sobrenaturalmente personalizando o mundo, seu pão cotidiano não é mais sofrer ou se divertir ou acumular riquezas, mas, hora a hora, criar próximos ao redor de si.25

O grande chamado cristão é que sejamos capazes de criar comunidades em que o amor e a amizade encontrem a sua razão de existir. Entretanto, corremos o risco, se ficarmos apenas no frenesi dos grandes encontros de juventude, de escamotear, desde a sua preparação, a formação de uma consciência crítica tão exigida pelo Papa e por alguns bispos para responder aos desafios atuais.

Nos grandes espetáculos, os símbolos religiosos, muitas vezes, perdem a sua sa-cralidade e as músicas à la mode são os atrativos para uma multidão afoita e fechada em si mesma. É uma evangelização às avessas que não atinge uma densidade cristã verdadeira por estar reduzida a um cristianismo superficialmente sacramental, que não conduz a uma fé que nasce da escuta da Palavra.

Mounier é enfático ao afirmar que cada pessoa é um “ser-de-resposta” e cada cristão não se intimida e nem se recolhe, mas se assume

[...] não somente nisto ou naquilo, mas integralmente em todo e qualquer ato, posto que cada um dos seus atos, ao ex-tremo, respondendo ao que Deus e o mundo esperam dele, de-veria ser como a concentração de toda a sua vida e a sua vida deveria tender a imitar o élan de um único e mesmo ato. O cris-tianismo é estranho ao narcisismo do mundo moderno.26

Neste sentido, o compromisso cristão, sobretudo o da juventude, não pode ser reduzido a um mero recrutamento.

O engajamento comporta uma fé e um dom, mas uma fé per-petuamente em revisão. É um ato viril e nunca um entusiasmo infantil. Se seu coração é quente, sua cabeça é fria. Do contrá-rio, não fale mais de engajamento, mas de delírio.27

24 MOUNIER, Emmanuel. Ouvres. Paris: du Seuil, 1961, p. 240. Ver também a ótima síntese da obra deste filósofo católico feita por MOIX, Candide, O pensamento de Mounier. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968.

25 MOUNIER, Emmanuel. Liberté sous conditions. Paris: du Seuil, 1961, p. 63-64.26 MOUNIER, Emmanuel. Liberté sous conditions. Paris: du Seuil, 1961, p. 29.27 MOUNIER, Emmanuel. Suplement Litteraire du Nouvel Alsacien, 18.02.1948.

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Grupo Marista 5554 Juventudes: Testemunhas de Esperança

77. “Que devemos fazer?” (Lc 3,10)8

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Temos que rejeitar todo o cristianismo desfigurado, abafado e que só interessa aos que pretendem continuar manipulando e iludindo os jovens com um catolicis-mo marcado pela imobilidade, transmitindo-lhes uma fé desencarnada e, por isso mesmo, uma caricatura. Neste tipo de cristianismo, tão a gosto nestes tempos glo-balizados, a segurança, a economia, a imobilidade social, a sedução do sucesso in-dividual, a complacência com a corrupção, a lassidão ética e moral das instituições, inclusive as religiosas, substituíram a fé, a esperança e o amor e, desta maneira, nas-ce um cristianismo sem vida, prisioneiro do conservadorismo, crispado em suas posições de defesa e imobilizado no seu moralismo.

Não raramente, em nossas pastorais, engessamos nossos jovens numa falsa hu-mildade cristã, castramos o seu ímpeto de “fazer novas todas as coisas” (Cf. Ap 21,5) e os condenamos a uma vidinha calma, nos limites das paróquias, colégios, univer-sidades e seminários, fechados em si mesmos com programas pastorais obsoletos; enfim, estruturamos um cristianismo da segurança, com vidas marcadas pelo medo de viver. Mounier denuncia:

Os católicos são realmente insuportáveis na sua segu-rança mística. Imaginam para si mesmos que o estado natural do cristão é a paz, paz pela inteligência, paz na inteligência. Quando, ao contrário, é próprio do místico uma invencível in-quietude. Se acreditais que os santos eram senhores tranqui-los, estão muito enganados.28

Mounier nos reafirma a dimensão afirmativa do amor como luta:

O amor é luta. A vida é luta contra a morte, a vida espiri-tual é luta contra a inércia material e o sono vital. A pessoa toma consciência de si mesma não num êxtase, mas numa luta de força. Uma pessoa não atinge sua plena maturidade senão no momento em que escolheu para si umas tantas fidelidades que valem mais do que uma vida.29

Na sua lucidez profética, apontava que uma imensa parcela do mundo cristão se abandonou ao paganismo e vive o divórcio profundo entre o cristianismo e o mundo:

O mundo atual não encontra mais o cristianismo. A palavra de Deus para ele torna-se propriamente letra morta e a Igre-ja perdeu a chave da língua dos homens.30

O filósofo denunciava a boa consciência dos satisfeitos que sustentam um cristianis-mo de fachada apoiado na preguiça e na tranquilidade. Um cristianismo que encoraja

[...] uma espécie de fatalismo devoto, degradação da ideia de Providência, um tipo de masoquismo beato, degradação do es-pírito de fé, um bom humor satisfatório, degradação da espe-rança cristã, um sentimentalismo invertebrado e também uma degradação da caridade. Este tipo de formação cristã ingênua acaba por difundir uma educação equivocada da pureza cristã. 31

Mounier é de uma atualidade impactante por compreender que, muitas vezes, em nossas pastorais formamos jovens que detestam a realidade, promovemos a sua des-virilização, a falsa inocência ou, no extremo oposto, um senso excessivo de culpabi-lidade e pecado. Criamos cristãos e católicos que temem a sua “liberdade de ser” e o “risco de existir”, mas, sobretudo, o de assumir as suas responsabilidades éticas e mo-rais com autonomia; cristãos e católicos que, desde criança, alimentam uma submis-são passiva aos acontecimentos e desenvolvem um gosto mórbido pelo sofrimento.

[...] crianças que formam sua sensibilidade piedosa na poe-sia tola dos cânticos – quando temos músicos e poetas vivos. [...]. Uma religião de carolas e de piegas nada arrebata, nem mesmo o reino de Deus.32

28 MOUNIER, Emmanuel. Le personnalisme. Paris: du Seuil, 1961, p. 73.29 MOUNIER, Emmanuel. Le personnalisme. Paris: du Seuil, 1961, p. 67-68.

30 MOUNIER, Emmanuel. Le personnalisme. Paris: du Seuil, 1961, p. 90.31 MOUNIER, Emmanuel. L’Affrontement Chrétien. Paris: du Seuil, 1961, p. 63.32 MOUNIER, Emmanuel. L’Affrontement Chrétien. Paris: du Seuil, 1961, p. 69.

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Grupo Marista 5756 Juventudes: Testemunhas de Esperança

77. “Que devemos fazer?” (Lc 3,10)8

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Estejamos seguros de que a santidade não se mede pelo grau de palidez do rosto. Os cristãos, infelizmente, pela educação que recebem – e disso, talvez, devêssemos realizar um mea culpa - não estão suficientemente formados para a decisão: “São felizes desesperados, a mais horrorosa máscara que possa haver num rosto de ho-mem”.33 Mounier nos convida a renunciar a um tipo de cristianismo reduzido a uma hierarquia de sentimentalidades cômodas:

Temos que romper a puerilidade de um cristianismo que pro-duz homens delicados e frágeis que nunca avançam para uma fé comprometida, pois vivem tremendo e murados em suas defesas.34

Mounier, ainda, denuncia a desordem estabelecida pelo mundo capitalista:

O dinheiro, pela facilidade que dá, avilta os homens criando o tipo padrão, de ideias feitas: o medíocre. Cria o reino do ano-nimato, do homem irresponsável, transtorna profundamente a atitude de vida, mata a gratuidade e, por meio dela, o amor. Impõe uma medida matemática a toda vida, uma avareza a toda generosidade, tende a transformar as intercomunicações hu-manas num perfeito sistema de intercâmbio de equivalências. Bane o espírito de pobreza, esvazia todo valor espiritual, terminando por nivelar as energias num ideal de riqueza mes-quinho e estreito, de mediocridade confortável, de segurança tranquila, generalizada. O reino do dinheiro produz uma du-pla de tiranos: a tirania da riqueza e a tirania da miséria, am-bas inimigas da vida espiritual.35

João Paulo II e Bento XVI, em sua juventude, fizeram parte da geração de jovens tocados pelo pensamento de Mounier, assim como muitos outros grandes líderes cristãos atuantes ainda hoje na Igreja.

77.3 vai, Francisco, e reconstrói a minha Igreja!8Não devemos ter medo da bondade, da ternura! 36

Na Jornada Mundial da Juventude realizada no Rio de Janeiro assistimos ao grande e envolvente carisma do Papa Francisco. Uma bênção para uma Igreja en-fraquecida e cambaleante após 50 anos do Concílio Vaticano II. Como João XXIII, Francisco conseguiu transmitir aos povos da terra a importância da fé, não como dogma ou doutrina, mas como um estilo de vida e um agir cristão fundados nos valores da misericórdia, ternura e humanidade. Convém lembrarmos, aqui, do discurso de abertura do Concílio, em 11 de outubro de 1962, quando o papa João XXIII afirmou:

A Igreja, no passado, sempre se opôs aos erros e os conde-nou com grande severidade. Agora, porém, a Esposa de Cristo prefere recorrer ao remédio da misericórdia a usar as armas do castigo. Em face das necessidades atuais, julga mais conve-niente elucidar melhor sua doutrina do que condenar os que dela se afastam.37

Conta-se que ao reler um dos esquemas preparatórios do Concílio, pegou uma régua e disse de maneira crítica: “Repare que neste esquema há trinta centímetros de condenações”.38

O Papa Paulo VI, em homenagem ao papa João XXIII, reafirmava no seu discur-so de abertura do segundo período do Concílio, em 29 de setembro de 1963:

Além disso, no que respeita ao magistério eclesiástico, papa João, você confirmou a posição segundo a qual a doutrina cristã não é verdade a ser buscada unicamente pela razão, ainda que à luz da fé, mas Palavra de Vida que gera uma atitude concreta.39

33 MOUNIER, Emmanuel. Ouvres. Paris: du Seuil, 1961, p. 251.34 MOUNIER, Emmanuel. Ouvres. Paris: du Seuil, 1961, p. 252.35 MOUNIER, Emmanuel. Esprit, n. 29, fevereiro 1935, p. 309.

36 PAPA FRANCISCO. Homilia da Santa Missa para o início do ministério petrino do Bispo de Roma. 19 de março de 2013. In: www.vatican.va37 Vaticano II. Mensagens, Discursos, Documentos. Trad. Francisco Catão. São Paulo: Paulinas, 1998, p. 32.38 FESQUET, Henri. Fioretti do bom Papa João. Lisboa: Duas Cidades, 1964, p. 128.39 Vaticano II. Mensagens, Discursos, Documentos. Trad. Francisco Catão. São Paulo: Paulinas, 1998, p. 48.

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Grupo Marista 5958 Juventudes: Testemunhas de Esperança

77. “Que devemos fazer?” (Lc 3,10)8

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Paulo VI reiterava a necessidade da renovação da Igreja Católica numa tentativa de melhor respeitar a tradição, despindo-a de formas caducas e equivocadas, em favor de modos mais genuínos e fecundos de vivê-la; conclamava para o esforço e o empenho em vista da restauração da unidade de todos os cristãos e o estabelecimen-to de pontes com o mundo contemporâneo.

O Papa Francisco diante de todos traz de volta essa esperança de uma Igreja Mãe e Mestra, sem as pompas principescas que a afastaram dos mais humildes. Com imensa liberdade de espírito rompeu com todos os símbolos do poder eclesiástico: a cruz de ouro e pedras preciosas e o mantelo (mozetta), uma pequena capa de broca-dos colocada nos ombros que fora símbolo dos imperadores romanos pagãos.

Francisco - que não se trata apenas de um “nome”, mas de um projeto de Igreja - faz eco a João XXIII, que dizia na sua mensagem radiofônica em 11 de setembro de 1962: “Outro ponto luminoso: pensando nos países subdesenvolvidos, a Igreja se apresenta e quer realmente ser a Igreja de todos, em particular a Igreja dos pobres”. Não há como evitar este paralelo com o Papa Buono, desde o sorriso aos abraços de ternura; da quebra do isolamento imposto pela liturgia do protocolo ao senso da im-provisação dos gestos que envolvem a todos, católicos ou não, na sua paz e alegria. Francisco, ao renunciar aos símbolos de poder, não faz gestos populistas, mas po-líticos. Definitivamente, como João XXIII, é um pastor e não um imperador; rompe com a estrutura de monarquia absoluta do Papado ao se apresentar como bispo de Roma e sacerdote.

Ele retoma a ideia de uma Igreja peregrina, simples e alegre, até mesmo pela sua aparência física, pelo sorriso, pela espontaneidade e a bondade do pastor que tem a liberdade para abrir as portas e ir ao encontro de todos sem medo. Segue de perto o Papa João XXIII, que, com a mesma inspiração franciscana, afirmou: “O Concílio? Espero que traga um pouco de ar puro... É preciso sacudir a poeira imperial que, desde Constantino, se vem acumulando na cadeira de Pedro”.40 Co-munga com Bento XVI, que sempre lembrava que era herdeiro de um pescador e não de um imperador.

Na sua entrevista ao jornalista Gerson Camarotti, transmitida em 28 de julho de 2013, Francisco define o jovem cristão como aquele que tem a lucidez para olhar o futuro e o empenho para poder construí-lo:

40 FESQUET, Henri. Fioretti do bom Papa João. Lisboa: Duas Cidades, 1964, p. 132.

Um jovem que não protesta não me agrada. Porque o jovem tem a ilusão da utopia e a utopia não é sempre ruim. A utopia é respirar e olhar adiante. O jovem é mais espontâneo. Possui menos experiência de vida, é verdade. Mas às vezes a experiên-cia nos freia. E ele tem mais energia para defender suas ideias. O jovem é essencialmente um inconformista. E isso é muito lin-do! Isso é algo comum a todos os jovens. Então eu diria que, de uma forma geral, é preciso ouvir os jovens, dar lugares para se expressarem, e cuidar para que não sejam manipulados.41

O Papa Francisco, em seu discurso de agradecimento aos jovens voluntários da Jornada Mundial da Juventude, afirmou que nunca se esquecerá de que, quando ti-nha 17 anos, depois de passar pela igreja de San José de Flores para se confessar, sentiu pela primeira vez que Deus o chamava. A mesma experiência sentiu João XXIII, que decidiu fazer seu o modelo de vida de Jesus Cristo, mesmo sabendo perfeitamente que, aos 18 anos, querer ser “semelhante ao bom Jesus significava ser tratado como louco”.42 Tanto um quanto o outro sentiram no mais íntimo do seu ser, quando jo-vens, que ser “manso e humilde de coração” não é a mesma coisa que ser fraco e complacente. A juventude é a fase das escolhas fundamentais e, nesse sentido, São Francisco de Assis recomendava aos seus jovens seguidores: “Começa fazendo o que é necessário, depois o que é possível e de repente estarás fazendo o impossível”.43

Com esta inspiração, o Papa Francisco conclamou a juventude da comunidade de Varginha, em Manguinhos, bairro periférico do Rio de Janeiro, a exercer a solida-riedade, “uma palavra frequentemente esquecida ou silenciada, porque é incômoda. Quase parece um palavrão... solidariedade”. E acrescentou:

41 Entrevista a Gerson Camarotti. In: G1 Blog (htpp://www.g1.globo.com).42 ARENDT, Hannah. Homens em Tempos Sombrios. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 58.43 Cf. Zenit.org, 18 de julho de 2013.

Grupo Marista 6160 Juventudes: Testemunhas de Esperança

77. “Que devemos fazer?” (Lc 3,10)8

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Ninguém pode permanecer insensível às desigualdades que ainda existem no mundo! Cada um, na medida das próprias pos-sibilidades e responsabilidades, saiba dar a sua contribuição para acabar com tantas injustiças sociais! Não é, não é a cul-tura do egoísmo, do individualismo, que frequentemente regu-la a nossa sociedade, aquela que constrói e conduz a um mundo mais habitável; não é ela, mas sim a cultura da solidariedade; a cultura da solidariedade é ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão. E todos somos irmãos!44

Para Francisco, a Igreja deve se fazer “pobre e para os pobres”, mas isso não quer dizer que ela deva ficar parada, recebendo doações e benefícios (para não dizer sub-sídios públicos). Ela deve se movimentar, ir em direção aos que precisam de ajuda, produzir frutos... Suas palavras lembram a de São Basílio Magno quando criticava os passivos que se vangloriavam de sua pobreza, mas nada faziam:

Como deverias ser grato ao benéfico doador que teve con-siderações por ti. Não te alegras, não te regozijas por não te-res que ir bater à porta dos outros, mas que eles venham à tua? Agora, no entanto, és rabugento, com dificuldade conse-gue alguém te falar: evitas encontros; não aconteça teres de abrir mão nem que seja um pouquinho. Conheces só uma frase: ‘Não tenho nem dou; também sou pobre’. És pobre na verdade, indigente de todo bem: pobre de amor, pobre de bondade, pobre de fé em Deus, pobre de esperança eterna.45

Ainda no discurso à comunidade de Varginha, Francisco fez um alerta para que

não deixemos entrar no nosso coração a cultura do descartável, pois “a grandeza de uma sociedade é dada pelo modo como esta trata os mais necessitados, que não têm outra coisa senão a sua pobreza”. E, mais uma vez, faz um apelo à juventude:

Hein, jovens! Vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilida-de especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício. Também para vocês e para todas as pessoas repito: nunca desanimem, não percam a confiança, não deixam que se apague a esperança.46

O Papa Francisco não adocicou sua mensagem para os jovens discípulos missio-nários. No encontro com os jovens argentinos, na Catedral da Arquidiocese do Rio de Janeiro, foi enfático:

Desejo dizer-lhes qual é a consequência que eu espero da Jornada da Juventude: espero que façam barulho. Aqui farão barulho, sem dúvida. Aqui, no Rio, farão barulho, farão certa-mente. Mas eu quero que se façam ouvir também nas dioceses, quero que saiam, quero que a Igreja saia pelas estradas, quero que nos defendamos de tudo o que é mundanismo, imobilismo, nos defendamos do que é comodidade, do que é clericalismo, de tudo aquilo que é viver fechados em nós mesmos. As paróquias, as escolas, as instituições são feitas para sair, se não o fize-rem, tornam-se uma ONG [Organização não governamental] e a Igreja não pode ser uma ONG.47

O Papa denuncia que a civilização mundial ultrapassou os limites porque idola-tra e cultua o deus dinheiro e exclui os idosos e os jovens que são considerados im-produtivos: “Saibam que neste momento vocês, jovens e idosos, estão condenados ao mesmo destino: a exclusão. Não se deixem descartar!”.48

44 Discurso do Santo Padre. Visita à comunidade de Varginha (Manguinhos), Rio de Janeiro, quinta-feira, 25 de julho de 2013. In: www.vatican.va45 Homilia de São Basílio Magno De caritate 3, 6: PG 31, 266-267.275, século IV. In: Liturgia das horas segundo o rito romano. Rio de Janeiro: Vozes,

Paulinas, Paulus e Ave-Maria, 2000, p. 500.

46 Discurso do Santo Padre. Visita à comunidade de Varginha (Manguinhos), Rio de Janeiro, quinta-feira, 25 de julho de 2013. In: www.vatican.va47 Palavras do Santo Padre. Encontro com os jovens argentinos, quinta-feira, 25 de julho de 2013. In: www.vatican.va48 Palavras do Santo Padre. Encontro com os jovens argentinos, quinta-feira, 25 de julho de 2013. In: www.vatican.va

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Grupo Marista 6362 Juventudes: Testemunhas de Esperança

77. “Que devemos fazer?” (Lc 3,10)8

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O Papa aconselha, para quem quiser agir, não liquidificar a fé em Jesus Cristo e para tanto ter sempre como referência as Bem-aventuranças e o capítulo 25 do evan-gelho de Mateus, “que é o regulamento segundo o qual vamos ser julgados. Com estas duas coisas, vocês tem o Plano de Ação. Vocês não precisam ler mais. Isso lhes peço de todo o coração”.49

Na noite de sexta-feira, dia 26 de julho, na Via Sacra, o Papa Francisco afirmou em alto e bom som que “ninguém pode tocar a Cruz de Jesus sem deixar algo de si mesmo nela e sem trazer algo da Cruz de Jesus para sua própria vida”. Francisco une a Cruz do Cristo ao silêncio das vítimas da violência, aos inocentes e indefesos, às famílias que se encontram em dificuldades, que choram a perda dos seus filhos, a todas as pessoas que sofrem fome num mundo que se dá ao luxo de jogar no lixo, diariamente, toneladas de alimentos, e aos que se rendem aos “paraísos artificiais” como as drogas. Com a Cruz, Jesus se une aos que são perseguidos pela sua religião, por suas ideias, pela cor de sua pele; aos jovens que perderam a confiança nas insti-tuições políticas, a sua fé na Igreja e até em Deus pela incoerência dos cristãos e dos ministros do Evangelho.

Na eucaristia com os bispos, sacerdotes, religiosos e seminaristas, no dia 27 de ju-lho, na Catedral, o Papa Francisco afirmou que a vocação dos que foram chamados por Deus é anunciar o Evangelho e promover a “cultura do encontro”, que rompe com a cultura da exclusão e do descartável, legitimada por dois dogmas modernos: a eficiência e o pragmatismo. Devemos nos colocar em missão, em marcha, a caminho, e sempre partir.

Eduquemos para a missão, para sair, para partir. Jesus fez assim com os seus discípulos: não os manteve colados a si, como uma galinha com os seus pintinhos. Ele os enviou! Não podemos ficar encerrados na paróquia, nas nossas comuni-dades, quando há tanta gente esperando o Evangelho! Não se trata simplesmente de abrir a porta para acolher, mas de sair pela porta fora para procurar e encontrar.50

O Papa Francisco retoma um dos temas mais caros aos Padres Conciliares: os sinais dos tempos. Devemos aprender a ler os sinais dos tempos. Na sua homilia da vigília de oração com os jovens, o Papa os chamou a aprender uma lição com o fra-casso do Campus Fidei, em Guaratiba, onde foram investidos milhares de reais para a construção de uma estrutura portentosa, espetacular e que acabou se revelando desnecessária.

Não estaria o Senhor querendo nos dizer que o verdadeiro campo da fé, o verdadeiro Campus Fidei, não é um lugar geo-gráfico, mas que somos nós? Sim! É verdade. Cada um de nós, cada um de vós, eu, todos [...] Quando aceitamos a Palavra de Deus, então somos o Campo da Fé [...] Que tipo de terreno somos nós e que tipo de terreno queremos ser? [...] Sou um jovem, uma jovem, abestalhado? [...] Tenho valor ou sou covarde? [...] Te-nho em meu coração o costume de jogar dos dois lados e ficar bem com Deus e ficar bem com o diabo?51

O Papa conclama os jovens a construir um mundo de irmãos, um mundo de jus-tiça, de amor, de paz, de fraternidade e de solidariedade.

Na Igreja de Jesus, as pedras vivas somos nós e Jesus nos pede que edifiquemos a sua Igreja; cada um de nós é uma pedra viva, é um pedacinho da construção e, se falta este pedacinho, quando vem a chuva entra a goteira e a água se mete dentro da casa. Cada pedacinho vivo tem que cuidar da unidade e da segurança da Igreja. E não construir uma capelinha onde so-mente cabe um grupinho de pessoas. Jesus nos pede que sua Igreja seja tão grande que possa acolher toda a humanidade, que seja a casa de todos!52

49 Palavras do Santo Padre. Encontro com os jovens argentinos, quinta-feira, 25 de julho de 2013. In: www.vatican.va50 Homilia do Santo Padre. Santa Missa com os Bispos da JMJ, sacerdotes, religiosos e seminaristas. Catedral de São Sebastião, Rio de Janeiro, sábado,

27 de julho de 2013. In: www.vatican.va51 Discurso do Santo Padre. Vigília de Oração com os Jovens, sábado, 27 de julho de 2013. In: www.vatican.va52 Discurso do Santo Padre. Vigília de Oração com os Jovens, sábado, 27 de julho de 2013. In: www.vatican.va

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{{Grupo Marista 6564 Juventudes: Testemunhas de Esperança

77. “Que devemos fazer?” (Lc 3,10)8

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Francisco pede que os jovens sejam protagonistas das mudanças sociais, pois são eles que possuem nas mãos o futuro. Para tanto, devem superar a apatia e oferecer uma resposta cristã para as inquietudes sociais e políticas que surgem em todas as partes do mundo.

Queridos jovens, por favor, não “olhem da sacada” a vida, entrem nela. Jesus não ficou na sacada, “mergulhou”... Não “olhem da sacada” a vida, mergulhem nela como fez Jesus.53

Devemos ensinar aos jovens que eles não estão “fora do mundo”, mas inseridos na vida como o lugar que melhor lhes convêm. E a vida que nos tem sido legada pela “globalização da indiferença” atinge, sobretudo, as crianças no mundo todo. O Papa Francisco aponta:

Há crianças que morrem de desnutrição, doentes que não têm acesso a tratamento. Há homens e mulheres que são men-digos de rua e morrem de frio no inverno. Há crianças que não têm educação. Nada disso é notícia. Mas quando as bolsas de algumas capitais caem três ou quatro pontos, isso é tratado como uma grande catástrofe.54

O Papa Francisco, fiel ao Vaticano II, conclama para que todos trabalhem pelos outros e pela superação do egoísmo:

Um trabalho pelos outros segundo os valores da sua fé. Cada religião tem suas crenças. Mas dentro dos valores de sua própria fé, trabalham pelo próximo. E nos encontrarmos todos para trabalhar pelos outros. Se há uma criança que tem fome, que não tem educação, o que deve nos mobilizar é que ela deixe de ter fome e tenha educação. Se essa educação virá dos católicos, dos protestantes, dos ortodoxos ou dos

judeus, não importa. O que me importa é que a eduquem e saciem a sua fome. Temos que chegar a um acordo quanto a isso. Hoje a urgência é de tal ordem que não podemos brigar entre nós, à custa do sofrimento alheio. Primeiro trabalhar pelo próxi-mo, depois conversar entre nós, com muita grandeza, levando em conta a fé de cada um, buscando nos entender [...]. Acredi-to que as religiões, as diversas confissões, prefiro falar as-sim, não podem dormir tranquilas enquanto exista uma única criança que morra de fome, uma única criança sem educação.55

O Papa Francisco se empenha em arrancar corajosamente o que há de mundano na Igreja para que reconstruamos uma relação profunda com Deus. Devemos ter uma atenção plena ao homem, pois sem a atenção ao próximo se empobrece a rela-ção com Deus. Na sua primeira missa com os cardeais na Capela Sistina, em 14 de março de 2013, exortava:

Podemos caminhar o que quisermos, podemos edificar um monte de coisas, mas se não confessarmos Jesus Cristo está er-rado. Tornar-nos-emos uma ONG sócio-caritativa, mas não Igre-ja, Esposa do Senhor [...]. Quando não se confessa Jesus Cris-to, faz-me pensar nesta frase de Léon Bloy: “Quem não reza ao Senhor, reza ao diabo”. Quando não se confessa Jesus Cristo, confessa-se o mundanismo do diabo, o mundanismo do demônio.56

O Papa Francisco acompanha as pegadas de Bento XVI, quando esse discursou no encontro com os católicos no Konzerthaus, em Friburgo, Suíça:

Quando é verdadeiramente ela mesma, a Igreja sempre se sente em movimento, deve colocar-se continuamente ao servi-ço da missão que recebeu do Senhor. E por isso deve abrir-se incessantemente às inquietações do mundo, do qual ela mesmo

53 Discurso do Santo Padre. Vigília de Oração com os Jovens, sábado, 27 de julho de 2013. In: www.vatican.va54 Entrevista com Gerson Camarotti.

55 Entrevista com Gerson Camarotti.56 Homilia do Papa Francisco. Capela Sistina, quinta-feira, 14 de março de 2013. In: www.vatican.va

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{Grupo Marista 6766 Juventudes: Testemunhas de Esperança

77. “Que devemos fazer?” (Lc 3,10)8

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faz parte, e dedicar-se a elas sem reservas, para continuar a fazer presente a permuta sagrada que teve início com a En-carnação. Entretanto, no desenvolvimento histórico da Igre-ja manifesta-se também uma tendência contrária, ou seja, a de uma Igreja satisfeita consigo mesma, que se acomoda neste mundo, que é autossuficiente e se adapta aos critérios do mun-do. Assim não é raro dar à organização e à institucionalização uma importância maior do que dá ao seu chamamento a perma-necer aberta a Deus e a abrir o mundo ao próximo [...]. A Igreja abre-se ao mundo não para obter a adesão dos homens a uma instituição com suas próprias pretensões de poder, mas, sim, para fazê-los reentrar em si mesmos e, deste modo, conduzi--los a Deus – Àquele de Quem cada pessoa pode afirmar com Agostinho: Ele é mais interior do que aquilo que eu tenho de mais íntimo (cf. Confissões III, 6, 11).57

Tanto Bento XVI quanto Francisco endossam o promulgado em sete de dezem-bro de 1965, no proêmio da Constituição Pastoral Gaudium et Spes, sobre a Igreja no mundo de hoje, e que deve servir de rota segura para os jovens de todo o mundo:

As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens e mulheres de hoje, sobretudo dos pobres e de to-dos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperan-ças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo. Não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encon-tre eco no seu coração. A comunidade dos discípulos de Cris-to é formada por homens e mulheres que, reunidos em Cristo e guiados pelo Espírito Santo em sua busca do reino de Deus, sentem-se real e intimamente unidos a todo gênero humano e à sua história, por terem recebido a mensagem da salvação para comunicar a todos.58

O Papa Francisco na sua homilia na missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude, no dia 28 de julho, afirmava aos milhões de jovens de todas as idades:

Para onde Jesus os manda? Não há fronteiras, não há limi-tes: envia-nos para todas as pessoas. O Evangelho é para to-dos e não apenas para alguns. Não é apenas para aqueles que parecem a nós mais próximos, mais abertos, mais acolhedores. É para todas as pessoas. Não tenham medo de ir e levar Cris-to para todos os ambientes, até às periferias existenciais, in-cluindo quem parece mais distante, mais indiferente. O Senhor procura a todos, quer que todos sintam o calor da sua miseri-córdia, do seu amor.59

Nossa vida - continua Francisco - deve entoar um canto novo que

[...] não são palavras, nem uma melodia, mas é o canto da nossa vida, é deixar que a nossa vida se identifique com a vida de Jesus, é ter os seus sentimentos, os seus pensamentos, as suas ações. E a vida de Jesus é uma vida para os demais. É uma vida de serviço.60

E encerra clamando aos jovens: “Ide, sem medo, para servir. Vayan, sin miedo, para servir”.61

Na sua entrevista ao repórter Gerson Camarotti, o Papa Francisco afirmou: “Eu não sinto medo. Sou inconsciente, não sinto medo. Sei que ninguém morre de vés-pera. Quando for minha vez, o que Deus permitir, assim será”. Esta mesma fé inspi-rou ao Papa João XXIII as suas palavras mais grandiosas, quando no leito de morte: “Ogni giorno è buono per nascere; ogni giorno è buono per morire”.62

Que Maria de todos os nomes nos guarde, acompanhe e interceda por Francisco e por nós!

57 Discurso do Papa Bento XVI. Konzerthaus de Friburgo, domingo, 25 de setembro de 2011. In: www.vatican.va58 Vaticano II. Mensagens, Discursos, Documentos. Trad. Francisco Catão. São Paulo: Paulinas, 1998, p. 470-471.

59 Homilia do Santo Padre. Santa Missa para a XXVIII Jornada Mundial da Juventude, domingo, 28 de julho de 2013. In: www.vatican.va60 Homilia do Santo Padre. Santa Missa para a XXVIII Jornada Mundial da Juventude, domingo, 28 de julho de 2013. In: www.vatican.va61 Homilia do Santo Padre. Santa Missa para a XXVIII Jornada Mundial da Juventude, domingo, 28 de julho de 2013. In: www.vatican.va62 “Todo o dia é um bom dia para nascer, todo dia é um bom dia para morrer”. In: ARENDT, Hannah. Homens em Tempos Sombrios. São Paulo: Companhia

das Letras, 1987, p. 66.

Grupo Marista 6968 Juventudes: Testemunhas de Esperança

77. “Que devemos fazer?” (Lc 3,10)8

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7 À Guisa de Conclusão

8

c Portadores da esperança cNunca percamos a esperança! Nunca deixemos que ela se apague nos nos-sos corações! Queridos irmãos e irmãs, sejamos luzeiros da esperança! (Homilia na Santa Missa na Basílica de Nossa Senhora Aparecida, 24/07/2013)

Não deixem que lhes roubem a esperança! Não deixem que lhes roubem a esperança! Mas digo também: Não roubemos a esperança, pelo contrá-rio, tornemo-nos todos portadores da esperança! (Discurso na visita ao Hospital São Francisco de Assis, 24/07/2013)

c Juventude cVejo em vocês a beleza do rosto jovem de Cristo. (Saudação na Festa de Acolhida dos Jovens, 25/07/2013)

Sejam revolucionários! (Discurso no Encontro com os Voluntários da JMJ, 28/07/2013)

Também hoje o Senhor continua precisando de vocês, jovens, para a sua Igreja. Queridos jovens, o Senhor precisa de vocês! (Discurso na Vigília de Oração com os Jovens, 27/07/2013)

Esta primeira viagem tem em vista encontrar os jovens, mas não isolados da sua vida; eu quereria encontrá-los precisamente no tecido social, em sociedade. Porque, quando isolamos os jovens, praticamos uma injustiça: despojamo-los da sua pertença. Os jovens têm uma pertença: pertença a uma família, a uma pátria, a uma cultura, a uma fé… Eles têm uma perten-ça, e não devemos isolá-los! Sobretudo não devemos isolá-los inteiramen-te da sociedade! Eles são verdadeiramente o futuro de um povo! (Entrevista no voo ao Rio de Janeiro, 22/07/2013)

Grupo Marista 7170 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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Você é o protagonista da subida; esta é a condição indispensável! (Discurso na visita ao Hospital São Francisco de Assis, 24/07/2013)

Continuarei a nutrir uma esperança imensa nos jovens do Brasil e do mundo inteiro: através deles, Cristo está preparando uma nova primave-ra em todo o mundo. (Discurso na Cerimônia de Despedida, 28/07/2013)

Quando aceitamos a Palavra de Deus, então somos o Campo da Fé! Por favor, deixem que Cristo e a sua Palavra entrem na vida de vocês, deixem entrar a semente da Palavra de Deus, deixem que germine, deixem que cresça. Deus faz tudo, mas vocês deixem-no agir, deixem que Ele trabalhe neste crescimento! (Discurso na Vigília de Oração com os Jovens, 27/07/2013)

Não meçais esforços na formação dos jovens. (Homilia na Santa Missa com os bispos, sacerdotes, religiosos e seminaristas, 27/07/2013)

Jovens, por favor, não se ponham “no fim da fila” da história. Sejam pro-tagonistas. Joguem ao ataque! Chutem para diante, construam um mundo melhor, um mundo de irmãos, um mundo de justiça, de amor, de paz, de fraternidade, de solidariedade. Jogai sempre ao ataque! (Discurso na Vigília de Oração com os Jovens, 27/07/2013)

Nunca tenham medo de ser generosos com Cristo! Vale a pena! (Alocução do Angelus após a Santa Missa da JMJ, 28/07/2013)

Vimos muitos rostos na Via-Sacra, muitos rostos acompanharam Jesus a caminho do Calvário: Pilatos, o Cirineu, Maria, as mulheres... Eu te per-gunto: Quem desejas ser? Queres ser como Pilatos, que não teve a cora-gem de ir contra a corrente para salvar a vida de Jesus e lava suas mãos? Dize-me: És como os que lavam as mãos, se fazem de distraídos e olham para outro lado, ou são como Cireneu, que ajuda Jesus a levar o madeiro

pesado, como Maria e as outras mulheres, que não têm medo de acom-panhar Jesus até o final, com amor, com ternura? Qual deles queres ser? Como Pilatos, como o Cireneu, como Maria? Jesus está te olhando e te diz: Queres ajudar-me a levar a cruz?(Palavras na Via-Sacra com os jovens, 26/07/2013)

A juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo.(Discurso na Cerimônia de Boas-vindas, 22/07/2013)

Hein, jovens! Vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilidade espe-cial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício. Também para vocês e para todas as pessoas repito: nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mu-dar. Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostu-marem ao mal, mas a vencê-lo com o bem. A Igreja está ao lado de vocês, trazendo-lhes o bem precioso da fé, de Jesus Cristo, que veio “para que todos tenham vida, e vida em abundância”.(Discurso na visita à comunidade de Varginha, 25/07/2013)

Desejo dizer-lhes qual é a consequência que eu espero da Jornada da Juventude: espero que façam barulho. Aqui farão barulho, sem dúvida. Aqui, no Rio, farão barulho, farão certamente. Mas eu quero que se fa-çam ouvir também nas dioceses, quero que saiam, quero que a Igreja saia pelas estradas, quero que nos defendamos de tudo o que é mundanismo, imobilismo, nos defendamos do que é comodidade, do que é clericalis-mo, de tudo aquilo que é viver fechados em nós mesmos. As paróquias, as escolas, as instituições são feitas para sair; se não o fizerem, tornam-se uma ONG e a Igreja não pode ser uma ONG. Que me perdoem os Bispos e os sacerdotes, se alguns depois lhes criarem confusão. Mas este é o meu conselho. Obrigado pelo que vocês puderem fazer. (Discurso no Encontro com os jovens argentinos, 25/07/2013)

7À Guisa de Conclusão8

Grupo Marista 7372 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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Mas o que podemos fazer? “Bote fé”. “Bote fé”: o que significa? Quando se prepara um bom prato e vê que falta o sal, você então "bota" o sal; falta o azeite, então “bota” o azeite... “Botar”, ou seja, colocar, derra-mar. É assim também na nossa vida, queridos jovens: se queremos que ela tenha realmente sentido e plenitude, como vocês mesmos desejam e merecem, digo a cada um e a cada uma de vocês: “bote fé” e a vida terá um sabor novo, a vida terá uma bússola que indica a direção; “bote es-perança” e todos os seus dias serão iluminados e o seu horizonte já não será escuro, mas luminoso; “bote amor” e a sua existência será como uma casa construída sobre a rocha, o seu caminho será alegre, porque encontrará muitos amigos que caminham com você. “Bote fé”, “bote es-perança”, “bote amor”! (Homilia na Festa de Acolhida dos Jovens, 25/07/2013)

O coração de vocês, coração jovem, quer construir um mundo melhor. Acompanho as notícias do mundo e vejo que muitos jovens, em tantas partes do mundo, saíram pelas estradas para expressar o desejo de uma civilização mais justa e fraterna. Os jovens nas estradas; são jovens que querem ser protagonistas da mudança. Por favor, não deixem para ou-tros o ser protagonistas da mudança! Vocês são aqueles que têm o futu-ro! Vocês… Através de vocês, entra o futuro no mundo. Também a vocês, eu peço para serem protagonistas desta mudança. Continuem a vencer a apatia, dando uma resposta cristã às inquietações sociais e políticas que estão surgindo em várias partes do mundo. Peço-lhes para serem construtores do mundo, trabalharem por um mundo melhor. Queridos jovens, por favor, não “olhem da sacada” a vida, entrem nela. Jesus não ficou na sacada, mergulhou… “Não olhem da sacada” a vida, mergulhem nela, como fez Jesus. (Discurso na Vigília de Oração com os Jovens, 27/07/2013)

Eu sei que vocês querem ser terreno bom, cristãos de verdade; e não cris-tãos pela metade, nem cristãos “engomadinhos”, cujo cheiro os denun-cia, pois parecem cristãos mas no fundo, no fundo não fazem nada; nem

cristãos de fachada, cristãos que são “pura aparência”, mas sim cristãos autênticos. Sei que vocês não querem viver na ilusão de uma liberdade inconsistente que se deixa arrastar pelas modas e as conveniências do mo-mento. Sei que vocês apostam em algo grande, em escolhas definitivas que deem pleno sentido. (Discurso na Vigília de Oração com os Jovens, 27/07/2013)

Amigos queridos, a fé é revolucionária e pergunto a vocês: Estão dispos-tos a entrar nessa onda da revolução da fé? Somente entrando nessa revo-lução a tua vida, jovem, terá sentido e, assim, será fecunda. (Homilia na Festa de Acolhida dos Jovens, 25/07/2013)

Queridos irmãos, ninguém pode tocar a Cruz de Jesus sem deixar algo de si mesmo nela e sem trazer algo da Cruz de Jesus para sua própria vida. (Palavras do Santo Padre na Via-Sacra com os jovens, 26/07/2013)

A cruz nos convida a sair de nós mesmos e ir em direção aos outros. (Palavras do Santo Padre na Via-Sacra com os jovens, 26/07/2013)

c Cultura do descartável cTemos que acabar com esse hábito de descartar. Ao contrário, cultura da inclusão, cultura do encontro, fazer um esforço para integrar a todos na sociedade. (Entrevista no voo ao Rio de Janeiro, 22/07/2013)

Não deixemos, não deixemos entrar no nosso coração a cultura do des-cartável! Não deixemos entrar no nosso coração a cultura do descartá-vel, porque nós somos irmãos. Ninguém é descartável! Lembremo-nos sempre: somente quando se é capaz de compartilhar é que se enriquece de verdade; tudo aquilo que se compartilha se multiplica! Pensemos na

7À Guisa de Conclusão8

Grupo Marista 7574 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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multiplicação dos pães de Jesus! A medida da grandeza de uma sociedade é dada pelo modo como esta trata os mais necessitados, quem não tem outra coisa senão a sua pobreza! (Discurso na visita à comunidade de Varginha, 25/07/2013)

[...] eu peço que vocês sejam revolucionários, eu peço que vocês vão con-tra a corrente; sim, nisto peço que se rebelem: que se rebelem contra esta cultura do provisório que, no fundo, crê que vocês não são capazes de assumir responsabilidades, crê que vocês não são capazes de amar de verdade. Eu tenho confiança em vocês, jovens, e rezo por vocês. Tenham a coragem de “ir contra a corrente”. E tenham também a coragem de ser felizes! (Discurso no Encontro com os Voluntários da JMJ, 28/07/2013)

Tenham o valor de ir contra a corrente dessa cultura eficientista, dessa cultura do descartável. O encontro e a acolhida a todos, a solidariedade, é uma palavra que se esconde nessa cultura, quase uma má palavra; a so-lidariedade e a fraternidade são elementos que fazem nossa civilização verdadeiramente humana. (Homilia na Santa Missa com os bispos, sacerdotes, religiosos e seminaristas, 27/07/2013)

Deus chama para escolhas definitivas [...]. Na cultura do provisório, do relativo, muitos pregam que o importante é “curtir” o momento, que não vale a pena comprometer-se por toda a vida, fazer escolhas definitivas, “para sempre”, uma vez que não se sabe o que reserva o amanhã. (Discurso no Encontro com os Voluntários da JMJ, 28/07/2013)

c A presença de Maria cA Virgem Imaculada intercede por nós no Céu como uma boa mãe que guarda os seus filhos. (Alocução no Angelus após a Santa Missa da JMJ, 28/07/2013)

A Igreja, quando busca Cristo, sempre bate à casa da Mãe e pede: “Mos-trai-nos Jesus”. É de Maria que se aprende o verdadeiro discipulado. E, por isso, a Igreja sai em missão sempre na esteira de Maria. (Homilia na Santa Missa na Basílica de Nossa Senhora Aparecida, 24/07/2013)

Senhor, Tu deixaste no meio de nós tua Mãe para que nos acompanhas-se. Que Ela cuide de nós e nos proteja o nosso caminho, o nosso coração, a nossa fé. Que nos faça discípulos como Ela o foi, e missionários como Ela o foi também. Que nos ensine a sair pelas estradas. Que nos ensine a sair de nós mesmos. Que Ela, com a sua mansidão, a sua paz, nos indi-que o caminho. (Discurso no Encontro com os jovens argentinos, 25/07/2013)

c Ternura cNão tenham medo de ir e levar Cristo para todos os ambientes, até as periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante, mais indi-ferente. O Senhor procura a todos, quer que todos sintam o calor da sua misericórdia e do seu amor. (Homilia na Santa Missa para a JMJ, 28/07/2013)

“Pastoral” nada mais é do que o exercício da maternidade da Igreja. (Discurso no Encontro com o Episcopado Brasileiro, 27/07/2013)

Jesus nos mostrou que a face de Deus é a de um Pai que nos ama. (Homilia na Santa Missa na Basílica de Nossa Senhora Aparecida, 24/07/2013)

Abraçar, abraçar. Precisamos todos de aprender a abraçar quem passa necessidade. (Discurso na visita ao Hospital São Francisco de Assis, 24/07/2013)

7À Guisa de Conclusão8

Grupo Marista 7776 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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Deus é real e se manifesta no “hoje”. (Discurso no Encontro com o Comitê de Coordenação do CELAM, 28/09/2013)

Jesus nunca deixa ninguém sozinho! Sempre nos acompanha. (Homilia da Santa Missa da JMJ, 28/07/2013)

Como é bom ser acolhido, com amor, generosidade, alegria! (Discurso na visita à comunidade de Varginha, 25/07/2013)

Desde o primeiro instante em que toquei as terras brasileiras e também aqui junto de vocês, me sinto acolhido. E é importante saber acolher; é algo mais bonito que qualquer enfeite ou decoração. Isso é assim por-que quando somos generosos acolhendo uma pessoa e partilhamos algo com ela – um pouco de comida, um lugar na nossa casa, o nosso tempo - não ficamos mais pobres, mas enriquecemos. Sei bem que quando al-guém que precisa comer bate na sua porta, vocês sempre dão um jeito de compartilhar a comida: como diz o ditado, sempre se pode “colocar mais água no feijão”! Se pode colocar mais água no feijão? … Sempre? ... E vocês fazem isto com amor, mostrando que a verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração! (Discurso na visita à comunidade de Varginha, 25/07/2013)

Considero fundamental para enfrentar o presente o diálogo construtivo.(Discurso no Encontro com a Classe Dirigente do Brasil, 27/07/2013)

Nas ruas do Rio de Janeiro, jovens de todo o mundo e muitas outras mul-tidões estão esperando por nós, necessitados de serem envolvidos pelo olhar misericordioso de Cristo Bom Pastor, que nós somos chamados a tornar presente. (Discurso no Encontro com o Episcopado Brasileiro, 27/07/2013)

Quando os líderes dos diferentes setores me pedem um conselho, a mi-nha resposta é sempre a mesma: diálogo, diálogo, diálogo. (Discurso no Encontro com a Classe Dirigente do Brasil, 27/07/2013)

c Igreja das cercanías cA proximidade cria comunhão e pertença, dá lugar ao encontro. (Discurso no Encontro com o Comitê de Coordenação do CELAM, 28/09/2013)

E o povo brasileiro, sobretudo as pessoas mais simples, pode dar para o mundo uma grande lição de solidariedade, que é uma palavra – esta pa-lavra solidariedade – é uma palavra frequentemente esquecida ou silen-ciada, porque é incômoda. Quase parece um palavrão… solidariedade! Queria lançar um apelo a todos os que possuem mais recursos, às autori-dades públicas e a todas as pessoas de boa vontade comprometidas com a justiça social: Não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário! Ninguém pode permanecer insensível às desigualdades que ainda existem no mundo! Cada um, na medida das próprias possi-bilidades e responsabilidades, saiba dar a sua contribuição para acabar com tantas injustiças sociais! Não é, não é a cultura do egoísmo, do in-dividualismo, que frequentemente regula a nossa sociedade, aquela que constrói e conduz a um mundo mais habitável; não é ela, mas sim a cul-tura da solidariedade; a cultura da solidariedade é ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão. E todos nós somos irmãos! (Discurso na visita à comunidade de Varginha, 25/07/2013)

Faz falta uma Igreja que não tenha medo de entrar na noite das pessoas. (Discurso no Encontro com o Episcopado Brasileiro, 27/07/2013)

A Igreja [...] quando se erige como “centro” se funcionaliza e, pouco a pouco, se transforma em uma ONG. (Discurso no Encontro com o Comitê de Coordenação do CELAM, 28/09/2013)

7À Guisa de Conclusão8

Grupo Marista 7978 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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O “permanecer” em Cristo não significa isolar-se, mas um permanecer para ir ao encontro dos outros. (Homilia na Santa Missa com os bispos, sacerdotes, religiosos e seminaristas, 27/07/2013)

Às vezes parece que, para alguns, as relações humanas estão reguladas pelos “dogmas”, eficiência e pragmatismo. (Homilia na Santa Missa com os bispos, sacerdotes, religiosos e seminaristas, 27/07/2013)

Somos uma Igreja capaz de aquecer o coração? (Discurso no Encontro com o Episcopado Brasileiro, 27/07/2013)

O mistério entra sempre pelo coração. (Discurso no Encontro com o Episcopado Brasileiro, 27/07/2013)

Saibamos perder tempo com os outros. (Homilia na Santa Missa com os bispos, sacerdotes, religiosos e seminaristas, 27/07/2013)

Não podemos ficarmos enclausurados em nossas paróquias, em nossa comunidade, em nossa instituição paroquial ou em nossa instituição diocesana quando tantas pessoas estão esperando o Evangelho. Sair, enviados. Não se trata de um simples abrir a porta para que venham, para acolher, mas sair pela porta para buscar e encontrar. Empurre-mos os jovens para que saiam. Não tenhamos medo! Pensemos com de-cisão na pastoral desde a periferia, começando pelos que estão mais afastados, os que não frequentam a paróquia. Eles são os nossos con-vidados “VIP”. (Homilia na Santa Missa com os bispos, sacerdotes, religiosos e seminaristas, 27/07/2013)

A Igreja não é jamais uniformidade, mas diversidades. (Discurso no Encontro com o Episcopado Brasileiro, 27/07/2013)

Precisamos de uma Igreja capaz de fazer companhia, de ir para além da simples escuta; uma Igreja, que acompanha o caminho pondo-se em viagem com as pessoas; uma Igreja capaz de decifrar a noite contida na fuga de tantos irmãos e irmãs de Jerusalém; uma Igreja que se dê conta de como as razões, pelas quais há pessoas que se afastam, contém já em si mesmas também as razões para um possível retorno, mas é necessário saber ler a totalidade com coragem. Jesus deu calor ao coração dos dis-cípulos de Emaús. (Discurso no Encontro com o Episcopado Brasileiro, 27/07/2013)

A política é uma das formas mais altas da caridade. (Discurso no Encontro com a Classe Dirigente do Brasil, 27/07/2013)

7À Guisa de Conclusão8

Grupo Marista 8180 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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7Referências8 7Sobre o Autor8ALLEN JR., John L. Secularism, a new papal contender and Catholic humor. National Catholic Reporter, 21.10.2011. Site: www.ncronline.org.

ARENDT, Hannah. Homens em Tempos Sombrios. São Paulo: Companhia das Letras, 1987

BALTHASAR, Hans Urs von. L’heure de l’Église. Paris: Fayard, 1985.

BENTO XVI. Declarações, Discursos e Homilias. Site: www.vatican.va

BERGSON, Henri. O riso. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

FAZZINI, Lorenzo. Avvenire. Reportagem de 27.10.2011, tradução de Moisés Sbardelotto para Instituto Humanitas Unisinos (IHU), 29.10.2011.

FESQUET, Henri. Fioretti do bom Papa João. Lisboa: Duas Cidades, 1964

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DOCUMENTOS DO CELAM. São Paulo: Paulus, 2004.

JOÃO PAULO II. Mensagem para a XX Jornada Mundial da Juventude. Castel Gandolfo, 6 de agosto de 2004.

LITURGIA DAS HORAS SEGUNDO O RITO ROMANO. Rio de Janeiro: Vozes, Paulinas, Paulus e Ave-Maria, 2000.

MARTINI, Carlo Maria. Que Cristianismo no mundo Pós Moderno? Vida Pastoral, São Paulo, nº 266, maio/junho, 2009.

MASINA, Ettore. O Evangelho segundo os anônimos. Petrópolis: Vozes, 1974.

MOINGT, Joseph. Croire quand même. Paris: Temps Présent, 2010.

MOIX, Candide. O pensamento de Mounier. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968.

MOUNIER, Emmanuel. Esprit, nº 29, fevereiro 1935.

_____. Oeuvres. Paris: Éditions du Seuil, 1961, 4 v.

RATZINGER, Joseph. Situação atual da fé e da teologia. Conferência pronunciada no Encontro de Presidentes de Comissões Episcopais da América Latina para a Doutrina da Fé, México, 1996.

_____. Fé, Verdade e Tolerância. São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência “Raimundo Lúlio”, 2007.

TOSATTI, Marco. Por que os jovens cristãos abandonam as Igrejas? Vatican Insider, 10.10.2011, tradução do CEPAT/IHU, em 14.10.2011.

SÍNODO DOS BISPOS. XIII Assembleia Geral Ordinária “A Nova Evangelização para a Transmissão da Fé Crista”, Lineamenta. Brasília: Edições CNBB, Documentos da Igreja 6, 2011.

VATICANO II. Mensagens, Discursos, Documentos. Trad. Francisco Catão. São Paulo: Paulinas, 1998.

Formado em filosofia pela Faculdade Católica de Filosofia de Curitiba, em 1967. Fez pós-graduação em Filosofia na Universidade de São Paulo (USP), de 1973 a 1975. Doutorou-se em Filosofia Política na Sorbonne-Paris, na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em 1978, sob a orientação do professor Claude Lefort. Cursou a Es-cola Dominicana de Teologia, em São Paulo, de 1968 a 1975. Trabalha, desde 1968, no movimento ecumênico e no diálogo inter-religioso. Tem vários livros publicados e artigos em diversas revistas. Atualmente vive, como contemplativo, na Comunidade dos Manos da Terna Solidão. Assessora projetos da Pastoral da Cultura em várias dioceses brasileiras.

Grupo Marista 8382 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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7 Outras Publicações8

b Coleção “Lugares Bíblicos” b

Padre Paulo Botas, mtsGrupo Marista201307 volumes

Orientando-se pela mística proposta pelos processos de revitalização da Pastoral da Juventude da América Latina, o Setor de Pastoral do Grupo Marista, em parceria com a Casa da Juventude do Paraná, convidou o Pe. Paulo Botas, grande conhecedor do mundo bíblico, para que - com um toque poético e litúrgico - pudesse nos ofere-cer um material que se tornasse uma espécie de “bússola” para adentrarmos em um itinerário espiritual a partir dos lugares bíblicos do Novo Testamento.

Caminhando a partir de Belém, admirando-se da maravilha que veio de Nazaré, bebendo da água da vida na Samaria, sendo acolhidos como hóspedes na agradável

Grupo Marista 8584 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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Betânia, decidindo-nos por Deus na proscrita Jerusalém e sentindo nosso coração arder no caminho de Emaús, somos constantemente convidados a encontrar o Cris-to no caminho, lado a lado conosco e disponível para ser nosso hóspede, sentar à nossa mesa e sustentar as nossas vidas.

Volume 01: A Juventude, o Espetáculo Religioso e a Fé CristãApoiando-se nas orientações advindas das Conferências Episco-pais Latino-Americanas, o autor apresenta caminhos possíveis para a pastoral juvenil a partir do Encontro em Assis, realizado por Bento XVI, e do diálogo fecundo mediante a busca do enga-jamento e a estruturação de uma filosofia da juventude segundo Emmanuel Mounier.47 páginas

Volume 02: Belém, o Corpo Poético de DeusBelém, cujo significado se apresenta como “Casa do Pão”, se trata não apenas de um lugar geográfico, mas de uma condição para o cristianismo: sermos o corpo poético de Deus. O autor descreve o cristianismo como acolhida, ou seja, ser cristão significa ter Deus como alguém familiar, acolhedor e sentir sua proximidade com gosto e alegria, como a mesa posta para acolher alguém que se ama.35 páginas

Volume 03: A Maravilha veio de NazaréJesus passou a maior parte de sua vida em Nazaré e Nazaré, confor-me o costume da época, se constituiu como “sobrenome” do Filho de Deus. O autor, nessa obra, apresenta-nos o “jovem Jesus” que desconcertou e escandalizou as pessoas mais religiosas da sua ge-ração, pois a sua ética era a da vida, do gozo e da fruição; para Jesus, a ascese mais difícil não era a da renúncia, mas da doação. E, por isso, a atração visceral e a sedução que Jesus exerce sobre a juven-

tude vêm da profunda identidade entre ambos: a liberdade de ser e existir.35 páginas

Volume 04: Brotou Água Viva na Proscrita SamariaA partir do encontro de Jesus com a samaritana à beira de um poço, percebe-se que em nosso interior há a possibilidade de rios de água viva. O encontro pessoal com Jesus é uma fonte que jor-ra permanentemente para o outro, uma procura por meio de um Outro que ainda não conhecemos. O autor apresenta a belíssima ideia de que a Água Viva afoga o ressentimento, que se trata de um ressecamento do ser.39 páginas

Volume 05: Betânia: o Amor aniquilou o PecadoEm Betânia, mais precisamente na casa de Marta e Maria, Jesus se mostra como hóspede que acolhe e integra o feminino. A pre-sença de mulheres nas refeições de Jesus era, com certeza, motivo de escândalo. A partir da mulher que toca os pés de Jesus, chora sobre eles, lava-os com suas lágrimas e perfume e enxuga-os com seus cabelos, o autor nos demonstra que Jesus quer que acredite-mos que o amor é um desejo de vida, de vida sem constrangimen-tos, de vida sem limites, de vida eterna.57 páginas

Volume 06: Jerusalém: a Proscrição de DeusJerusalém, “alicerce da dupla paz”, se trata não apenas de um es-paço geográfico, mas de uma condição: se não nos abrirmos à ter-nura de Deus e a seu messianismo de serviço, a proscrição será a única certeza de nossa existência. Cotejando os textos bíblicos com Guimarães Rosa, o autor apresenta-nos duas posturas possí-veis diante do Cristo: sermos rasos ou radicais.39 páginas

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Grupo Marista 8786 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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Volume 07: Emaús: uma Liturgia da HospitalidadeEmaús é o local, e igualmente a condição, aonde Cristo se revela como caminhante, como aquele que parte o pão e senta-se à mesa. Na fração do pão, assegura-nos o autor, cada um encontrará sua própria história, seu próprio chamado e o seu próprio retorno ao caminho, pois o Ressuscitado é a fonte de água viva dentro de nós e o fim de nossas vidas.33 páginas

A fé cristã se trata de uma adesão pessoal à propos-ta de Deus, que se revela em sua Igreja. Nesse senti-do, Deus é sempre “novidade” e, por isso, a expressão “Nova Evangelização” tornou-se premente para a co-munidade cristã. Assim, em comunhão com a Igreja, o Setor de Pastoral do Grupo Marista solicitou ao reno-mado teólogo Francisco Catão a produção de um ma-terial que proporcionasse uma reflexão em torno da temática “Nova Evangelização”. O estudo atento e os questionamentos levantados por essa obra nos trazem

a certeza de que o mais importante é tomar consciência de que a Nova Evangeli-zação é o chamamento da Igreja à sua vocação missionária.

Francisco CatãoEditora Champagnat201387 páginas

b A Nova Evangelização, Documentos Pré-Sinodais e Ano da Fé b

As Diretrizes da Ação Evangelizadora do Grupo Ma-rista nasceu com a motivação de animar e orientar as ações pastorais em todos os seus campos de atuação. Conceituando, contextualizando e oportunizando caminhos, as Diretrizes trata-se de um documento basilar no modo como o Grupo Marista procura vi-venciar o carisma legado por São Marcelino Cham-pagnat: “Tornar Jesus Cristo amado e conhecido”.

Setor de PastoralGrupo Marista2011116 páginas

“Vamos aos jovens lá onde eles estão. Vamos com ousadia aos ambientes, talvez inexplorados, onde a espera de Cristo se revela na pobreza material e espiritual”. Assim se inicia o número 83 das Constituições do Instituto Marista e, a partir des-sa perspectiva, o Instituto organizou a presente obra para balizar os trabalhos com as juventudes. Trata-se de um documento fundante para o traba-lho com juventudes.

Instituto MaristaEditora FTD2011131 páginas

b Diretrizes da Ação Evangelizadora do Grupo Marista b

b Evangelizadores entre os Jovens b

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Grupo Marista 8988 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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Toda Pastoral Juvenil se trata de um processo de ama-durecimento na fé e comporta, necessariamente, uma mística, um modo de agir. Nesse sentido, a obra apre-senta o caminho metodológico de educação e amadu-recimento na fé da Pastoral Juvenil Marista (PJM) a partir da busca e construção de uma mística.

União Marista do Brasil (UMBRASIL)UMBRASIL2008159 páginas

A Pastoral da Educação é um dos grandes desa-fios da Igreja na contemporaneidade. Não pode-mos falar em uma Pastoral da Educação sem con-siderar a Educação Básica, de modo específico a Educação Infantil. Na obra, a autora apresenta--nos sua experiência de educadora e pastoralista e aponta, a partir de documentos da Igreja e da prática, como articularmos a pastoral infantil no cotidiano.

Marilúcia Antônia de ResendeEditora Champagnat2012207 páginas

b Caminho Da Educação e Amadurecimento na Fé: A Mística da Pastoral Juvenil Marista b

b Pastoral na Educação Infantil: Referencial para a Ação Pastoral-Pedagógica b

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90 Juventudes: Testemunhas de Esperança

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