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DA INTENÇÃO AO GESTO: SUSTENTABILIDADE E NARCISISMO NA CIDADE CONTEMPORÂNEA Lúcia Leitão* L Introdução A idéia de sustentabilidade, aplicada ao desenvolvimento, tornou-se banal entre nós, Sem rigor conceitual, sem precisar-lhe o sentido, emprega-se o termo desenvol- vimento sustentável 1 sem que se atente para os seus limites quanto à aplicabilidade ou à pertinência de utilizá-lo em campos distintos do saber. Nesse sentido, há que se considerar a impossibilidade de um conceito servir a duas ou mais ciências. Se essa abrangência teórica pode ser apropriada a uma noção ou uma idéia, o mesmo não ocorre quando se busca construir um conceito cuja definição exige campo teórico determinado e específico. Assim, a enorme abrangência que se tem pretendido dar à noção de sustentabil idade, indicada no excesso de * Professora-Assistente do Departamento de Arqutetura e Urbanismo da uFPE, doutoranda em urbanismo da PAUP/ Porto/Portugal definições que se lhe têm formulado - mais de cem, de acordo com Guimarães (1996) -, aponta, na verdade, para uma dificuldade de formulação conceitual quiçá intrans- ponível. Essa dificuldade, no entanto, não se limita à necessidade de um enquadra- mento teórico mais rigoroso como se poderia supor à primeira vista. Trata-se tam- bém, e talvez principalmente, de uma dificuldade intrínseca à própria idéia de desenvolvimento sustentável ainda em sua formulação original. E esse o foco a partir do qual este texto se desenvolve. Alicerçado nos conceitos de Individualismo ( Dumont, 1985) e Narcisismo (Freud, 1914), discutem-se dificuldades inerentes à idéia de sustentabilidade bem como o que, na noção de desenvolvimento sustentável, pode ser apropriado pela cidade

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DA INTENÇÃO AO GESTO:SUSTENTABILIDADE E

NARCISISMO NA CIDADECONTEMPORÂNEA

Lúcia Leitão*

L Introdução

A idéia de sustentabilidade, aplicada aodesenvolvimento, tornou-se banal entre nós,Sem rigor conceitual, sem precisar-lhe osentido, emprega-se o termo desenvol-vimento sustentável 1 sem que se atentepara os seus limites quanto à aplicabilidadeou à pertinência de utilizá-lo em camposdistintos do saber.

Nesse sentido, há que se considerar aimpossibilidade de um conceito servir aduas ou mais ciências. Se essa abrangênciateórica pode ser apropriada a uma noçãoou uma idéia, o mesmo não ocorre quandose busca construir um conceito cujadefinição exige campo teórico determinadoe específico. Assim, a enorme abrangênciaque se tem pretendido dar à noção desustentabil idade, indicada no excesso de

* Professora-Assistente do Departamento de Arqutetura eUrbanismo da uFPE, doutoranda em urbanismo da PAUP/Porto/Portugal

definições que se lhe têm formulado - maisde cem, de acordo com Guimarães (1996) -,aponta, na verdade, para uma dificuldadede formulação conceitual quiçá intrans-ponível.

Essa dificuldade, no entanto, não selimita à necessidade de um enquadra-mento teórico mais rigoroso como sepoderia supor à primeira vista. Trata-se tam-bém, e talvez principalmente, de umadificuldade intrínseca à própria idéia dedesenvolvimento sustentável ainda em suaformulação original.

E esse o foco a partir do qual este textose desenvolve. Alicerçado nos conceitos deIndividualismo ( Dumont, 1985) e Narcisismo(Freud, 1914), discutem-se dificuldadesinerentes à idéia de sustentabilidade bemcomo o que, na noção de desenvolvimentosustentável, pode ser apropriado pela cidade

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contemporânea. Nesse sentido, trabalha-se com a hipótese de que é o espaço pú-

blico, entendido como um dispositivo de

dramatização da intersubjetividade ( Joseph,1998), o elemento fundamental para quese passe da intenção ao gesto quando setrata de aplicar à cidade a noção desustentab i 1 idade.

II. Dificuldades do conceito de desen-

volvimento sustentável

O conceito de desenvolvimento susten-tável (Nosso futuro comum, 1991) trazimplícita a idéia de que o desenvolvimentose legitima na medida em que é capaz deatender às necessidades humanas, nopresente, sem comprometer o atendimentodessas mesmas necessidades para as ge-rações que ainda estão porvir. Necessidade

e limite são, portanto, as idéias-força queaparecem implícitas na formulação clás-sica do que seria um desenvolvimentosustentável.

Além dessas idéias-força, dois pressu-postos alicerçam a idéia de sustenta-bilidade. O primeiro decorre da socializa-ção da ameaça com relação à sobrevi-vência no planeta. Uma vez constatado queos danos ambientais não se limitamàqueles que os produzem, espera-se quehaja um consenso sobre a questão am-biental capaz de envolver iodos os países"na busca por soluções inadiáveis. O se-gundo pressuposto baseia-se na idéia deque a existência de ameaças ambientaisconsistentes é suficiente para mobilizar umairansformação progressiva da economia eda sociedade" de modo a garantir o bemcomum (Nosso futuro comum, op. cit. p. 46).

Tem-se, assim, esboçada a primeiradificuldade conceitual quando se consideraa noção de desenvolvimento sustentável. Aidéia de construção de um consenso,eminentemente ético, de natureza clara-mente holística, exige uma sociedade

solidária capaz de compartilhar valores emcomum, exatamente o oposto da sociedadecontemporânea, individualista como nunca,conforme se discutirá adiante.

Nesse sentido, a tomada de decisões apartir de um consenso entre pessoas cominteresses distintos - quer físicas, quer jurí-dicas -, tendo como objetivo o bem comum,está muito mais próxima de uma utopia doque da realidade. Evidenciam esse fato, porexemplo, as dificuldades recentes encon-tradas pela comunidade internacional paraque os Estados Unidos ratifiquem o Pro-tocolo de Kyoto, e o acirramento da criseentre israelenses e palestinos, no OrienteMédio, entre tantos outros conflitos conhe-cidos por todos.

A segunda dificuldade, porém nãomenos importante, reside no fato de que,ao se apelar para soluções consensuaisbaseadas no respeito ao outro e na cons-trução de acordos que privilegiem o bem-estar coletivo, minimizam-se - perigosa-mente a meu ver - características própriasda condição humana.

A proposição de limitar interessespróprios em respeito aos interesses deterceiros esbarra no fato de que a civilizaçãohumana é caracterizada por uma hos-tilidade permanente (Freud, 1929-30),inescapável, pois que inerente ao que éhumano, responsável pelos movimentosdestrutivos que marcam a vida tanto indi-vidual quanto coletivamente.

Nesse sentido, o conceito de susten-tabilidade desconsidera que o ser humano,o sujeito - no sentido gramatical do termo -da ação do desenvolvimento sustentável,não anda em linha reta em direção ao bemcomum. Ao contrário, tem como marcaestrutural a ambivalência que caracterizatudo o que é humano: vida e morte, amor eódio, construção e destrutividade sãoindisso-ciáveis da presença humana naface da terra. Assim, sob esse ponto de vista,a degradação de que tem sido vítima oplaneta não ocorre por acaso ou por des-

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cuido ambiental, mas, sim, porque a terra éhabitada por seres humanos que têm entreseus instintos básicos a agressividade emsua expressão destrutiva.2

Do modo como está posto, portanto, oconceito de desenvolvimento sustentávelparece se alicerçar em pontos que, juntos,podem se transformar num terreno peri-gosamente movediço uma vez que sebaseia em premissas questionáveis, querdo ponto de vista da vida coletiva, quer noque diz respeito ao modo como funciona oser humano em sua individualidade. Chega-se, pois, à questão fundamental para quese discutam as bases - frágeis, a meu ver -sobre as quais se esteia a noção de de-senvolvimento sustentável em sua for-mulação holística: a marca individualista3das sociedades modernas.

Sociedade moderna e individualismo

Dumont (1985) aponta fatos importantespara o entendimento do processo que levouo mundo ocidental, num dado momentohistórico, a construir para si uma ideologiaa partir da qual se pode afirmar que LO

individualismo é o valor fundamental dassociedades modernas" (Dumont, op. cit., p.29).

Embora se possa situar esse processonum tempo relativamente próximo de nós,sua formulação básica é antiga o bastantepara indicar sua força e seu fascínio emtempos remotos. Ainda de acordo com oautor citado, três momentos específicosassinalam os primórdios da ideologiamoderna. O primeiro, de natureza marca-damente religiosa, surge com o nascimentoda Igreja dos primeiros séculos da eracristã; o segundo, agora em seu viés polí-tico, marcaria o progresso do indivi-dualismo com o surgimento do Estadoenquanto instituição, a partir do século XIIIe, finalmente, o terceiro momento tem iníciono século XVII, quando a supremaciaeconômica explicitaria o progresso desseindividualismo.

Neste texto, considerando-se os seusobjetivos e limites, o século XVII é o pontode partida para a compreensão das trans-formações sócio-históricas que carac-terizam o individualismo, e isso por trêsrazões principais. A saber:

Embora presente nos primórdios docristianismo, o individualismo dos pri-meiros séculos da era cristã não temas mesmas características do indi-vidualismo que nos cerca conformeassinala Dumont. Nos cristãos pri-mitivos, o individualismo devia-seprincipalmente ao modo como cadaindivíduo se relacionava com o Sa-grado. Isto é, devia-se ao fato de que,através de Cristo, qualquer indivíduopoderia chegar a Deus sem a inter-mediação do sacerdote, como ocorriaantes do cristianismo. Além disso, osprimeiros cristãos comportavam-secomo passageiros na terra, rumo àeternidade, circunstância que osdescomprometia com a realidadeterrena. Nesse sentido, o individua-lismo de então tinha muito mais amarca do desapego ao terreno, àdimensão material da vida, do que doculto a si mesmo, fundamento do in-dividualismo contemporâneo.

Na Idade Média, a confusão entre aIgreja e o Estado, no sentido de queum se confundia com o outro, nãoadiciona elementos que permitamagregar valor ao argumento que aquise desenvolve.

III. Acontecimentos marcantes para associedades ocidentais, a partir doséculo XVII, trazem à luz o processopor meio do qual foi possível chegar-se à constituição de uma sociedadeindividualista, tal como se pode com-preendê-la nos tempos que correm.

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O primeiro acontecimento com re-percussão importante no século XVII, tantopara as pessoas quanto para a sociedade,diz respeito à Reforma Protestante de-sencadeada por Lutero no século anterior.Ao tirar do papa e, portanto, da Igreja, opoder de intermediário, colocando oindivíduo em relação direta com Deus,Lutero institui uma nova forma de valorizaçãodo indivíduo. Ao dar ao cristão o direito deler— e de entender—as Escrituras Sagradas,escancara as portas da liberdade individualexplicitada no livre-arbítrio de cada um.

Ainda no bojo da Reforma é precisomencionar a contribuição de Calvino à for-mulação do individualismo como ideologiamoderna. Se do ponto de vista teológico apredestinação continua sendo passível dediscussão, do ponto de vista político essaidéia-força do pensamento calvinista fezcom que o eixo de poder se deslocasse daIgreja para o cristão-indivíduo. "[Assim],através da predestinação, o indivíduosuplanta a Igreja. ( ... ) com Calvino, a Igreja,englobando o Estado, desapareceu comoinstituição holística" (Dumont, op, cit., p. 69-70).

Quando se atenta para a força e o papelda Igreja ao longo do tempo e da história, opoder e o domínio exercido sobre aspessoas e nas sociedades, nota-se que aReforma, ao possibilitar uma nova per-cepção do individual e uma outra cons-trução do social, tem mesmo, no mundoOcidental, a marca de uma revolução, comrepercussões bem além do que se poderiasupor (Weber, 1989).

O segundo acontecimento marcanteque o mundo ocidental vivencia a partir doséculo XVII é o surgimento do EstadoModerno. E esse o tempo em que, ao seavançar na direção da formulação dasbases teóricas, legais e políticas, quedariam sustentação ao Estado, percebem-se mudanças significativas na concepçãodo homem e do indivíduo, especialmentena compreensão do que seria o DireitoNatural, base de sustentação do Direito.

Em sua versão clássica, o DireitoNatural partia do princípio de que o homemé um ser social - convicção da qualexcetuam-se os estóicos - e que a ordemsocial se estabeleceria em harmonia coma natureza. A era moderna reformula essesprincípios. Agora, não mais se têm seressociais, mas, sim, indivíduos. E o tempo emque, feito à imagem e semelhança de Deuse guiado pela razão, o ser humano deifica-se (Freud, 1929-30), acreditando bastar-sea si mesmo.

Essa é uma questão fundamental naescalada do mundo ocidental rumo àconsolidação do que hoje se conhececomo uma sociedade marcadamenteindividualista. A partir dessa nova percepção,amparada no saber jurídico, o Estado de-veria se constituir tendo como referência's propriedades e qualidades inerentes do

homem, considerado como ser autônomo,independente de todo vínculo soda!'.(Dumont, op. cit. p. 87, grifo meu).

Não é difícil perceber as implicaçõesdecorrentes desse novo tempo social. Aprimeira tem base religiosa: com respaldojurídico, desloca-se, do sagrado para oindividual, a responsabilidade de cons-trução da ordem social em suas maisdiversas formas. O poder político da Igrejajá havia sido contundentemente ques-tionado e a natureza já havia sido deslocadade sua função organizadora da ordemsocial, inclusive na pólis. Agora, o Estadodeixa de ser determinado pela vontadedivina para ser constituído e regulado pelasqualidades do indivíduo. Com isso, apassagem de uma ideologia holística parauma visão individualista do mundo e dosocial fica evidente. Dumont, uma vez mais,citando Gierke, registra:

O Estado deixou de derivar como um todoparcial da harmonia decretada por Deus dotodo universal. Ele explica-se simplesmente porsi mesmo. O ponto de partida da especulaçãojá não é mais o conjunto da humanidade, maso Estado soberano individual e auto-suficiente,e esse mesmo Estado individual alicerça-se naunião, ordenada pelo direito natural, de homens

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individuais, numa comunidade revestida dopoder supremo (Durnont, op. cit. p. 87).Nascem, pois, legitimados pelo Direito

Natural, os Estados unitários, soberanos,autônomos, constituídos por seres indi-viduais. Dois outros acontecimentos his-tóricos, a Revolução Francesa e a De-

claração dos Direitos do Homem con-solidariam, social e politicamente, essenovo tempo que então se anunciava.

Discutindo as implicações do indi-vidualismo a partir dessa nova compreensãode mundo, Dumont, uma vez mais, levantauma questão especialmente importantepara o argumento que aqui se desenvolve,quando assinala que

( ... ) a partir do momento em que não mais ogrupo, mas o indivíduo é concebido como oser real, a hierarquia desaparece e, com ela, aatribuição imediata da autoridade a um agentede governo. Nada mais nos resta senão urnacoleção de indivíduos, e a construção de umpoder acima deles só pode ser justificadasupondo-se o consentimento comum dosmembros da associação (Dumont, op. cit. p.92, grifo meu).Ou seja, cria-se uma armadilha, da

mesma natureza daquela presente noconceito de Desenvolvimento Sustentável,ao se minimizar os efeitos decorrentes daação individual em projetos e ações que sepretendem necessariamente coletivas.Mas esse já é o ponto seguinte.

Individualismo e narcisismo

Uma vez deslocado da Igreja e, porextensão, do sagrado, o poder de pensar ede organizar a vida social, para o indivíduoe ua consciência individual, isto é, aoconquistar a liberdade de pensamento, nãofoi difícil para o ser humano autocentrar-se.

Apoiado no conhecimento científico eno desenvolvimento tecnológico, comporta-se como se fosse uma divindade. E clássicajá a afirmativa, atribuída aos construtoresdo Titanic, de que o navio era tão extraor-dinário que nem Deus o afundaria. As

recentes experiências de clonagem deanimais e o progresso no campo da biologiae da engenharia genética acirraram, naspessoas, a crença no poder do indivíduo ea ilusão de que seu poder é ilimitado.

Do ponto de vista racional, não fazsentido que assim seja. Afinal, o ser humanoé um ser extremamente vulnerável. Aocontrário de algumas outras espéciesanimais, o bebê humano, para sobreviver, éabsolutamente dependente da ação, doscuidados, da atenção e do afeto de outrosseres humanos. A organização psíquica, aconstrução da sociedade e a atraçãocrescente por um viver coletivo próprio davida nas cidades evidenciam a impres-cindibilidade do semelhante na existênciahumana. A explicação para esse auto-centrismo parece ser, portanto, de outranatureza.

Embora exija atenção conceitual quantoà sua aplicação fora da teoria psicanalítica,a idéia freudiana de narcisismo — uma apro-priação da figura mitológica do Narciso, cujapaixão desmesurada por si mesmo leva-oà destruição — cai como uma luva quandose pensa a dimensão psíquica do indi-vidualismo, quando se busca compreenderde que modo ou a partir de quais me-canismos psíquicos o sujeito vivencia esseautocentrismo, a ponto de perder de vista,ainda que parcialmente, a dimensãocoletiva da condição humana.

Não é possível, nos limites deste texto,discutir o conceito psicanalítico de nar-cisismo em toda a sua amplitude. Limita-se a discussão, portanto, ao esforço decompreender como e em que medida onarcisismo funciona como elementoimportante do individualismo em suavertente social e quais seriam as possíveisimplicações desse fato quando se trabalhaa idéia de desenvolvimento sustentável.

Assim, do conceito de narcisismointeressa assinalar duas característicasessenciais. A primeira é que o fenômenopsíquico que Freud denominou de nar-cisismo é um processo fundamental naconstituição do eu ,4 isto é, na construção

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da imagem que o sujeito fará de si mesmo.Nesse processo, em termos estritamentepsicanalíticos, o eu direciona sua energiapsíquica - libido em linguagem rigoro-samente freudiana - em direção a simesmo. Assim, no narcisismo, o alvoprincipal do investimento psíquico quemobiliza o sujeito é o próprio eu.

A segunda é que, no limite, a exa-cerbação desse auto-investimento conduzo sujeito a um encolhimento em si mesmo,

circunstância na qual tudo o que lhe éexterno perde interesse, como evidenciam,por exemplo, a vivência do luto ou o estadode melancolia. Em termos psicanalíticos,tem-se a anulação do outro - donde a ver-tente agressiva do narcisismo - na medidaem que o sujeito deixa de investir suaenergia psíquica em direção ao mundoexterior (Freud, 1914) para investir em simesmo.

Nesse contexto psíquico, a conse-qüência mais evidente é um profundo(des)compromisso com o outro, com osemelhante, com o mundo externo. Afinal,tendo como objetivo maior a busca doprazer pessoal, instantâneo, o indivíduo, cujaexperiência narcisica se torna patológica,tem dificuldade para construir um projetocoletivo de futuro.

E o império do comamos e bebamos que

amanhã morreremos, cuja referência nostextos sagrados do Velho Testamentoaponta para um individualismo com raízesremotas. Ou seja, é a afirmação do prazerindividual, da busca da satisfação, comomedida maior da existência, própria donarcisismo, quer em sua dimensão pes-soal, quer em sua expressão coletiva, social.

Em tempos de contem poraneidade,esse prazer individual como valor maior daexistência humana explicita-se, por exem-plo, na excessiva valorização de conquistaspersonalizadas em que o sucesso é mar-cadamente individual e cada vez maiscentrado em atributos ou feitos pessoais,como se torna evidente quando se obser-vam os heróis midiáticos. A outra face dessa

mesma moeda torna-se visível na tentativade anulação da diferença - do outro, por-tanto—, fundamental numa existência plural,explicitada no acirramento da intolerânciaracial como se tem visto em temposrecentes. Sob o predomínio do narcisismo,qualquer deslocamento pessoal ou coletivoque dificulte ou desagregue conquistasindividuais se torna ameaçador.

Tem-se, assim, instalada, em termoscoletivos, a cultura do narcisismo (Lasch,1985) em sua expressão patológica. Nessesentido, analisando a sociedade americanacontemporânea, diz Lasch: '[O narcisista]é um ser ferozmente competitivo em seudesejo de aprovação e reconhecimento( ... ). Exalta o trabalho de equipe enquantoabriga profundos impulsos anti-sociais. ( ... )não se interessa pelo futuro porque, emparte, tem muito pouco interesse pelopassado" (Lasch, op. cit, p15).

A primeira vista não é difícil concordarcom ele. Vive-se, em tempos contem-porâneos, se não uma patologia, pelomenos uma inadequação na relaçãoindivíduo—sociedade, que se explicita nosvalores que a sociedade e os indivíduosabraçam. Parte dessa inadequação reflete-se, por exemplo, no modelo produtivo queeste fim-começo de século parece con-solidar, no qual só para os eficientes hásalvação possível. Nessa luta, ou em buscadesse deus moderno - a eficiência -'investe-se tudo no campo profissional,individualista e competitivo, como nunca.

Em críticas a Lasch, alguns autores têmapontado para as possíveis dificuldades da

LíKia Lekoutilização do conceito psicanalítico denarcisismo, para explicar o comportamentode natureza social. Os que fazem a críticaapontam para um certo estresse conceitual

em função do alargamento desmesuradodo conceito de narcisismo e para uma"marcante indecisão [por parte de Lasch],em especial, quanto à diferença entre onormal e o patológico" (Costa, 1984, p. 157).

Nesse sentido, Costa, por exemplo,argumenta que, ao considerar patológico o

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narcisismo da sociedade americanacontemporânea, Lasch parece descon-siderar o fato de que, na teoria psicanalítica,o narcisismo é parte estruturante dadimensão psíquica do sujeito e não ne-cessariamente uma patologia. De fato, napsicanálise atribui-se ao narcisismo nadamenos do que o desenvolvimento do eu.Assim, o narcisismo enquanto fenômenopsíquico não se constitui numa opçãocomportamental nem ainda numa dis-função psíquica, mas, sim, numa carac-terística própria e, como tal, inescapável dacondição humana.'

Embora mereçam atenção, as críticasfeitas a Lasch não invalidam o fato de que oconceito de narcisismo certamente lançaalguma luz para que se compreenda, commaior clareza, as razões psíquicas de umasociedade que se constitui sob a égide doindividualismo, menos no sentido de iden-tificação de uma patologia e mais no sen-tido de compreender os elementos cons-titutivos da natureza humana e suas im-plicações na organização da vida coletiva.

É nesse sentido que se questiona aconsistência do conceito de sustenta-bilidade, considerando-se os pressupostossobre os quais se alicerça: como umasociedade marcadamente individualista -"onde a única coisa que as pessoas têmem comum são seus interesses privados"Arendt (1991, p. 79) -, e cujo discurso,excessivamente centrado nos valores doindivíduo, propicia o desenvolvimento dolado patológico do fenômeno do narcisismo,pode operacionalizar um conceito que temcomo fundamento a limitação de interessespróprios e o reconhecimento do outro, dosemelhante, ou seja, cujo argumento sesustenta numa visão coletiva da vidahumana?

O conceito de desenvolvimento sus-

tentável parece tropeçar, assim, na própriaformulação, ao fundamentar-se na ex-pectativa de um consenso, cuja proba-bilidade de se dar torna-se mínima quando

se consideram as características psíquicaspróprias da condição humana em suaindividualidade.

É evidente que não se pretende, comessa argumentação crítica, tornar o socialredutível ao psíquico, negando-lhe aautonomia que lhe é própria a partir domomento em que se constitui. O que sebusca, insistentemente no entanto, é evitaro risco oposto, ou seja, desconsiderar ouminimizar o fato de que a sociedade éconstituída por indivíduos cuja posturaideológica bem como característicaspsíquicas se fazem notar na expressãosocial e ambiental dessa individualidade.

III. O espaço público como dispositivo deintersubjetividade

Se o conceito de sustentabilidade expõecontradições que lhe parecem inerentes,não há reparos a fazer na idéia de se buscarum desenvolvimento baseado no respeitoàs necessidades humanas e na cons-ciência de que há limites a serem obser-vados quando se trata de usufruir o planeta,quer como ambiente natural, quer comoespaço edificado pela ação humana.

Cabe, assim, seguramente indagar: oque, na noção de desenvolvimento sus-tentável, pode ser apropriado pela cidadecontemporânea? Como é possível passarda intenção ao gesto na arte de construircidades comprometidas com a idéia desustentabilidade e de nelas habitar?

Essas questões se tornam especial-mente relevantes quando se constatam, deum lado, a "pobreza da literatura existentesobre a sustentabilidade urbana" (Mitlin eSatterthwaite, 1996, p. 30), e, de outro, opa-pel de vilãs que tem sido atribuído àscidades quando se discute a questãoambiental. Assim, investir na discussão doque seria a sustentabilidade urbana implicachamar a atenção para o fato de que, se éverdade que o ambiente construído con-tribui para a degradação ambiental - e não

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há como negá-lo -, também é real a pos-sibilidade de transformá-lo em agenteimportante na construção de um desen-volvimento que se quer sustentável.

Em texto instigante, lsaac Joseph (1998)traz o espaço público para o centro dessadiscussão ao concebê-lo como lugar da

ação. Duas idéias principais merecemdestaque no argumento por ele desen-volvido. A primeira apresenta o espaçopúblico como um dispositivo de dra-matização da intersubjetividade; a segunda,fundamentada em Habermas, expressa aconvicção de que esse espaço e"ooperador do acordo entre cidadãos ousimples membros de uma sociedade"(Joseph, op. cit., p. 15, grifo meu).

Para além do reconhecimento daimportância do indivíduo, em sua dimensãosubjetiva, em ambos os enunciados tem-se a intercomunicação como elementoimprescindível na constituição desse novoespaço público, como elemento capaz demodificá-lo num dispositivo que mobiliza osujeito transformando-o, constituindo-se,desse modo, no operador por excelênciado acordo entre cidadãos.

Do ponto de vista sociológico, a partirdo qual fala Joseph, espaço público é oespaço da vivência de tensões identitáriasinescapáveis, do encontro com o outro,condição essencial para que se tenha amultiplicidade de pensamento, de opinião,de funções que definem o espaço urbanoem sua concepção clássica. Em versãocontemporânea, diz Joseph, ainda apoiadoem Habermas:

Um espaço público é uma estrutura inter-mediária que vai do espaço público episódicodos bistrõs, dos cafés e das ruas até o espaçopúblico abstraio, cado pela mídia compostode leitores, ouvintes e expectadores a um sótempo isolados e globalmente dispersos,passando pelo espaço público organizado,dada a presença de participantes como os darepresentação teatral, dos conselhos de pais ealunos, dos concertos de rock ou das con-ferências eclesiásticas (Joseph, op. cit., p. 14-

15, grifos do autor).

Para discutir o papel do espaço públicocomo um dispositivo de dramatização da

intersubjetividade, Joseph lança mão doespaço cenográfico. Nele, a idéia-força éde que o próprio vazio do espaço teatralproduz efeito importante tanto sobre a açãoe a disposição dos atores no palco comotambém no modo como o expectadorvivencia os acontecimentos que nele têmlugar. Assim,

segundo sua organização, o espaço cênicooferece tomadas diferentes ao acontecimentoque se produz ou à história que se desenvolve,ele constrói, de certa maneira, o que no campodo observável nos diz respeito ou nos chamaa atenção. (Dumont, op. cit., p. 45).

Tem-se, assim, implícita a idéia de umespaço que apenas se realiza, se tornapleno, com a inclusão do humano. De modoanálogo, o espãço urbano deixa de serconcebido como simples palco da açãohumana para se tornar, ele próprio, ele-mento constitutivo dessa ação.

Sob esse ponto de vista, é a subje-

tividade, isto é, a marca de singularidadeque faz com que cada expectador do dramateatral, cada ator do espetáculo ou cadahabitante da cidade, experiencie o espaçode modo singular e com ele interaja, sejaele o vazio teatral ou espaço edificado.

Para urbanistas, a principal implicaçãodessa concepção contemporânea deespaço público é exatamente a tomada deconsciência da função ativa deste, tido atéentão, nas palavras de Joseph, como meroespaço residual, como o fundo da figuraarquitetônica. Expressa, portanto, umamudança fundamental no modo de com-preender o fazer urbanístico. Agora, aban-dona-se a idéia de um espaço que seproduz tendo como referência maior "umregistro das aparências, [marcado pela]obsessão da identidade visual, para fazê-loagir como força da imaginação" (ibidem).Isto é, como motor da ação humana, umespaço, tido, ele mesmo, como umarealidade ativa e, como tal, capaz de gerara partir de si, repita-se, significado, movi-mento, atitude, ação, enfim.

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Joseph ainda destaca três pontos queapontam para esse outro modo de pensaro espaço público contemporâneo em suaexpressão urbanística. A saber: (i) uma certaruptura com a geografia do território, dondese tem uma paisagem mais comprometidacom as funções do lugar do que com ascaracterísticas do sítio; (H) uma maiorvalorização dos símbolos em detrimento daforma; e (Ui) uma distinção entre ambientee paisagem, sendo aquele associado àecologia e esta à produção simbólica doespaço habitado, própria a tudo que éhumano.

Ao deslocar a ênfase do território para oindivíduo, o urbanismo que daí surge ca-minha ao encontro das necessidades

subjetivas do homem contemporâneo,onde mais que espaço do abrigo, edifica-se o espaço do afeto (Leitão, 2000). Ao fazê-lo, agrega não apenas valor, mas, sobretudo,significado ao ambiente construído. Ofe-rece assim as condições físico-espaciaisindispensáveis à construção desse espaçomobilizador de acordos e de influências deque se falou acima. E nesse sentido que oespaço público, em sua expressão ur-banística, apresenta-se como elementoimportante na materialização desse lugarda ação, não apenas pelo espaço que apedra e a cal consolidam, mas, prin-cipalmente, pela construção social que apartir dele se expressa.

Considerações finais

Compreender o espaço público comoum dispositivo de dramatização da inter-subjetividade talvez aponte para uma luz nofim do túnel do individualismo em suaformulação moderna. Isso porque, em vezde lutar contra urna ideologia que parecedominar a sociedade ocidental contem-porânea, "tira-se partido" - para usar aquiuma expressão própria do fazer urbanístico- desse individualismo, na medida em quese enfatiza a dimensão subjetiva do in-divíduo.

Ao fazer o espaço refletir o sujeito -convém não perder de vista que o conceitode espaço público tal como foi apresentadoneste texto, implica um encontro entreiguais, uma intercomunicação, nesse sen-tido, adequada ao narcisismo - e com eleinteragir, estabelece-se um ponto de contatoque pode contribuir para que a coleção de

indivíduos que caracteriza a sociedademoderna se constitua num corpo social,ainda que marcadamente narcísico.

Assim, se a idéia da construção de umconsenso próprio do conceito de sus-tentabilidade expressa - pelas razõesapontadas neste texto - muito mais umdesejo utópico do que uma realidadefactível, se esse consenso não é possívelem função da competitividade feroz quedefine o sujeito contemporâneo, o amor asi mesmo, característica fundamental donarcisismo, pode se constituir na torçamotriz capaz de impulsioná-lo em direçãoà dimensão coletiva da vida humana.

Afinal, se a agressividade em sua porçãodestrutiva está implícita no conceito denarcisismo, a construção da auto-estima,inescapável na constituição psíquica dosujeito, expressa a outra face dessa mesmamoeda. E graças a ela, à auto-estima, indis-pensável à vida psíquica saudável, que osujeito é impelido a imprimir sua marcapessoal em projetos coletivos, reafirmando,assim, seu valor pessoal, sua capacidadeprodutiva, sua força criativa, enfim.

Ao se oferecer como um espelhosimbólico, no qual o sujeito contemporâneose reconhece por se ver nele refletido -graças à ênfase na subjetividade e não noterritório -' o espaço público da cidadecontemporânea, entendido como lugar da

ação, como um dispositivo de dramatização

da subjetividade, pode, de fato, se mostrareficaz como operador do acordo entre

membros de uma sociedade, apontandoassim um caminho a ser trilhado quandose busca passar da intenção ao gesto emintervenções urbanas que se desejemsustentáveis.

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Notas

1 Embora a literatura existente sobre o assuntoapresente distinções conceituais pertinentes entreos termos sustentabilidade e desenvolvimento

sustentável, neste texto, em função dos seus limitese objetivos, eles são empregados como sinônimos.

2 Em sua vertente positiva, a agressividade temsido compreendida também como espírito em-

preendedor; energia, atividade, como lembramLaplanche e Pontalis (1970).

3 'Entende-se por individualista, por oposição aoholismo, uma ideologia que valoriza o indivíduo -ser moral, autônomo e, assim, essencialmente nãosocial - e que negligencia ou subordina a totalidade

sociaï'(Dumont, 1985, p279, grifos meus).

4 Em termos psicanalíticos, entende-se o eu "Emsua acepção mais ampla, [como] a representaçãoque o sujeito faz de si mesmo. Trata-se de umarepresentação complexa ou mesmo um complexode representações cuja fonte última são as imagensprovenientes das impressões externas" (Garcia-Roza, 1995, p52).

5 lsaías 22:13. A Bíblia Sagrada. Tradução de JoãoFerreira de Almeida. Edição revista e atualizadano Brasil. Rio de Janeiro: SBB.

6 Nesse sentido Chemama assinala que com otexto de 1914, "( .•) Freud faz do narcisismo umaforma de investimento pulsional, necessária à vidasubjetiva, isto é, em vez de [algo necessariamente]patológico, torna-se pelo contrário, um dadoestrutural do sujeito" (Chemama, 1995, p. 139).

Da intenção ao gesto:sustentablidade enarcisismo na cidadecontemporânea

Lúcia Leiio

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