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O PAPEL DA FORMAÇÃO CONTINUADA E SUA RELEVÂNCIA PARA O APERFEIÇOAMENTO DO PEDAGOGO Roseli Chagas Pereira Leonel Professora da Rede Estadual do Paraná RESUMO Este artigo analisa o papel da Formação Continuada, do estudo e da pesquisa para a formação e atualização do Pedagogo do Estado do Paraná, através do relato da experiência observada no Programa de Desenvolvimento Educacional, implantado a partir do ano de dois mil e sete. Considerando tal experiência e tendo como objetivo resgatar a importância da formação continuada como uma das formas de superação de possíveis defasagens de formação específica do professor, além de constante aperfeiçoamento e atualização, apresenta de forma sintética os anseios, as atividades e reflexões resultantes dos dois anos de trabalho nesse programa que integra a política de valorização dos professores que atuam na Rede Pública Estadual de Ensino do Estado do Paraná. Concomitantemente, aponta também características importantes que esta concepção de Formação Continuada reflexiva gerou na busca da elucidação de desafios que a educação atual enfrenta na realização de sua verdadeira função. PALAVRAS-CHAVES Formação continuada. Reflexão. Atualização. ABSTRACT This article analyzes the paper of the Continued Formation, the study and the research for the formation and update of the Pedagogo of the State of the Paraná, through the story of the experience observed in the Program of Educational Development, implanted from the seven and a thousand year two. Considering such experience and having as objective to rescue the importance of the continued formation as one of the forms of overcoming of possible imbalances of specific formation of the professor, beyond constant perfectioning and update, it presents of synthetic form the yearnings, the activities and resultant reflections of the two years of work in this program that integrates the politics of valuation of the professors who act in the State Public Net of Education of the State of the Paraná. Concomitantly, it points also characteristic important that this conception of reflexiva Continued Formation generated in the search of the briefing of challenges that the current education faces in the accomplishment of its true function Word-Key Continued formation. Reflection. Update. 1

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O PAPEL DA FORMAÇÃO CONTINUADA E SUA

RELEVÂNCIA

PARA O APERFEIÇOAMENTO DO PEDAGOGO

Roseli Chagas Pereira Leonel

Professora da Rede Estadual do Paraná

RESUMO

Este artigo analisa o papel da Formação Continuada, do estudo e da pesquisa para a formação e atualização do Pedagogo do Estado do Paraná, através do relato da experiência observada no Programa de Desenvolvimento Educacional, implantado a partir do ano de dois mil e sete. Considerando tal experiência e tendo como objetivo resgatar a importância da formação continuada como uma das formas de superação de possíveis defasagens de formação específica do professor, além de constante aperfeiçoamento e atualização, apresenta de forma sintética os anseios, as atividades e reflexões resultantes dos dois anos de trabalho nesse programa que integra a política de valorização dos professores que atuam na Rede Pública Estadual de Ensino do Estado do Paraná. Concomitantemente, aponta também características importantes que esta concepção de Formação Continuada reflexiva gerou na busca da elucidação de desafios que a educação atual enfrenta na realização de sua verdadeira função.

PALAVRAS-CHAVES – Formação continuada. Reflexão. Atualização.

ABSTRACT

This article analyzes the paper of the Continued Formation, the study and the research for the formation and update of the Pedagogo of the State of the Paraná, through the story of the experience observed in the Program of Educational Development, implanted from the seven and a thousand year two. Considering such experience and having as objective to rescue the importance of the continued formation as one of the forms of overcoming of possible imbalances of specific formation of the professor, beyond constant perfectioning and update, it presents of synthetic form the yearnings, the activities and resultant reflections of the two years of work in this program that integrates the politics of valuation of the professors who act in the State Public Net of Education of the State of the Paraná. Concomitantly, it points also characteristic important that this conception of reflexiva Continued Formation generated in the search of the briefing of challenges that the current education faces in the accomplishment of its true function

Word-Key – Continued formation. Reflection. Update.

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INTRODUÇÃO

O Programa Educacional de Desenvolvimento Educacional – PDE,

instituído no ano de 2007 pela Secretaria de Estado da Educação do

Paraná, em cooperação com a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia

e Ensino Superior, foi elaborado como um conjunto de atividades definidas

a partir das necessidades da educação básica, buscando no Ensino

Superior a contribuição necessária para elevar o nível de qualidade

desejado para a educação pública do Estado.

No início das atividades do PDE, desenvolvidas na Universidade

Estadual de Londrina – PR, sob a supervisão e orientação de professores

desta instituição de ensino, foi proposto aos participantes, denominados

Professores PDE, que elaborassem um Plano de Trabalho, o qual deveria

contemplar as atividades de estudo indicadas pelo professor orientador da

Instituição Estadual de Ensino – IES, e outras atividades já definidas pelo

programa, como o Grupo de Trabalho em Rede – GTR, Material Didático e

Proposta de Intervenção nas Escolas, todos eles norteados por um objeto

de estudo, ou seja, um tema relevante a ser pesquisado e desenvolvido

durante os dois anos de estudo, tempo de duração do Programa.

Na tentativa de melhor delinear um objeto de estudo que fosse

relevante para a educação básica, optou-se por realizar uma pesquisa

entre profissionais atuantes da rede estadual de Educação Básica no

Município de Santo Antônio da Platina, no caso Pedagogos. Através do

resultado da pesquisa, que versava sobre vários assuntos, entre eles as

dificuldades encontradas pelos profissionais no âmbito escolar, constatou-

se uma preocupação muito grande por parte dos pedagogos pesquisados

com relação à falta de cursos de capacitação específica para a área, com

temas que realmente fossem relevantes para a sua prática diária, além de

um descontentamento geral devido às mudanças ocorridas nos últimos

anos no que se refere à função do Pedagogo nas escolas, gerando uma

perca de sua identidade profissional.

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Desse modo, partindo dessa pesquisa inicial e considerando a

expectativa que o próprio PDE gerava nos seus participantes, decidiu-se

que o objeto de estudo versaria sobre a importância da formação

continuada para o aperfeiçoamento e atualização do Pedagogo, partindo

do pressuposto de que, além de proporcionar subsídios teórico-

metodológicos para melhor direcionar a sua prática pedagógica, poderia

também superar possíveis defasagens de formação inicial, situando-o

social e historicamente em seu tempo.

Assim norteia-se este trabalho. Analisar o papel da Formação

Continuada e sua relevância para atualização e aperfeiçoamento do

Pedagogo, que a princípio é o foco do trabalho, ressaltando-se que isto se

aplica também a professores de outras áreas, já que este é um tema de

comum interesse a todos. E como o próprio PDE se caracteriza como um

programa de formação continuada, pretende-se aqui dar uma visão geral

das atividades desenvolvidas ao longo do Programa, tendo como

culminância a Implementação da Proposta de Intervenção na escola e com

base nos resultados desta implementação, respaldar o objeto de estudo.

Da inércia à busca: a formação continuada frente

à precarização da formação inicial do Pedagogo

É sabido que as mudanças ocorridas no mundo do trabalho nas

últimas décadas provocaram também transformações na organização da

sociedade capitalista, apontando assim, a necessidade de universalização

da educação básica e uma maior qualificação de profissionais da

educação. A educação, que na sua essência, poderia ser a base para a

mudança de paradigmas, acabou tornando-se, ao longo dos últimos anos,

instrumento de processo de acumulação do capital e reprodutora do

sistema de classes.

A escola, por sua vez, que deveria ter a função social de

transmissão, assimilação e produção do conhecimento, acaba cumprindo,

na sociedade capitalista, a função de manter a hegemonia das camadas

dominantes, já que o conhecimento aí transmitido e produzido geralmente

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acontece no sentido de validar e manter os benefícios de uma minoria

dominante.

Neste contexto, o processo de globalização econômica provocou

transformações e repercussões nas políticas públicas, levando os países a

se ajustarem aos novos modelos econômicos, implementando várias

medidas de contenção de despesas e reduzindo também os investimentos

na área social, o que acarretou prejuízos na área educacional.

Consequentemente, essa diminuição dos fundos públicos destinados à

educação, aliadas às políticas de agentes financeiros internacionais, onde

podemos citar o Banco Internacional para o Desenvolvimento e a

Reconstrução – BIRD, a Organização das Nações Unidas para a Educação,

a Ciência e a Cultura - UNESCO, a Comissão Econômica para a América

Latina e Caribe - CEPAL, entre outros, motivaram políticas públicas de

educação e de formação de professores aligeiradas e muitas vezes, de

baixo custo, resultado da racionalização e atualização dos serviços do

Estado. Assim, muitos profissionais que hoje atuam nos Estabelecimentos

de Ensino da Rede Estadual do Paraná, tiveram sua formação

comprometida em Cursos de Graduação, preocupados apenas em fornecer

conhecimentos estanques e pessoal necessário à máquina produtiva de

expansão do sistema capitalista.

Portanto, as transformações que ocorrem na sociedade e no sistema

capitalista mundial e nacional repercutem, diretamente, nas demandas

sociais e nas políticas públicas educacionais, exigindo, assim, que

constantemente sejam reexaminadas a questão da formação profissional

e humana nesse contexto de contínuas transformações.

Neste cenário, encontramos o profissional da Educação denominado

atualmente de Professor Pedagogo, pela Lei Complementar nº 103/2004,

de 15 de março de 2004. Esta Lei, que dispõe sobre o Plano de Carreira do

Professor da Rede Estadual de Educação Básica do Estado do Paraná,

extinguiu os especialistas em educação, no caso, o Orientador Educacional

e o Supervisor Escolar e implementou o cargo de Professor Pedagogo –

generalista em educação. Portanto, segundo a referida Lei, no Capítulo X,

constatamos que:

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Art. 33. Os cargos de Professor e Especialista de Educação, que compõem o Quadro Próprio do Magistério da Rede Estadual de Educação Básica do Paraná, ficam transformados em cargos de Professor, sendo que os ocupantes dos referidos cargos ficam enquadrados no presente Plano de Carreira do Professor, obedecidos os critérios estabelecidos nesta Lei. No Art. 39. Ficam considerados em extinção, permanecendo com as mesmas nomenclaturas, os cargos de Orientador Educacional, Supervisor Educacional, Administrador Escolar na medida em que vagarem, assegurando-se tratamento igual ao que é oferecido ao Professor, inclusive o direito ao desenvolvimento na carreira, para aqueles que se encontram em exercício (Lei Complementar nº 103/2004).

Desse modo, tanto os profissionais que atuavam na rede estadual

como especialistas, no caso, orientadores educacionais e supervisores

escolares, assim como os professores formados em Pedagogia que

atuavam nas séries iniciais do Ensino Fundamental e que foram

convocados a realizarem a transposição e atuarem como Pedagogos nos

anos finais do Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação Profissional,

quanto os que assumiram os últimos concursos públicos no Estado do

Paraná devem, independentemente de sua formação acadêmica, exercer

a função de Professor Pedagogo. Para tanto, julgamos necessário elencar

aqui as atividades atribuídas ao Professor Pedagogo nos Estabelecimentos

de Ensino de Educação Infantil, Educação Profissional, Ensino Fundamental

e Ensino Médio da Rede Estadual do Paraná, a saber:

Coordenar a elaboração coletiva e acompanhar a efetivação do projeto político pedagógico e do plano de ação da escola; Orientar a comunidade escolar e interferir na construção de um processo pedagógico numa perspectiva transformadora; Participar e intervir, junto à direção, da organização do trabalho pedagógico escolar no sentido de realizar a função social e a especificidade da educação escolar; Coordenar a construção coletiva e a efetivação da proposta curricular da escola, a partir das políticas educacionais da SEED/PR e das Diretrizes Curriculares Nacionais do CNE; Orientar o processo de elaboração dos planejamentos de ensino junto ao coletivo de professores da escola; Promover e coordenar reuniões pedagógicas e grupos de estudo para reflexão e aprofundamento de temas relativos ao trabalho pedagógico e para a elaboração de proposta de intervenção na realidade escolar; Analisar os projetos de natureza pedagógica a serem implantados na escola; Elaborar o projeto de formação continuada do coletivo de professores e promover ações para a sua efetivação; Participar da elaboração do projeto de formação

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continuada de todos os profissionais da escola, tendo como finalidade a realização e o aprimoramento do trabalho pedagógico escolar; Atuar, junto ao coletivo de professores, na elaboração de projetos de recuperação de estudos a partir das necessidades de aprendizagem identificadas em sala de aula, de modo a garantir as condições básicas para que o processo de socialização do conhecimento científico e de construção do saber realmente se efetive; Organizar a realização dos conselhos de classe, de forma a garantir um processo coletivo de reflexão-ação sobre o trabalho pedagógico desenvolvido pela escola e em sala de aula, além de coordenar a elaboração de propostas de intervenção decorrentes desse processo; Subsidiar o aprimoramento teórico-metodológico do coletivo de professores da escola, promovendo estudos sistemáticos, trocas de experiência, debates, oficinas pedagógicas; Organizar a hora atividade do coletivo de professores da escola, de maneira a garantir que esse espaço-tempo seja de reflexão-ação sobre o processo pedagógico desenvolvido em sala de aula; Informar ao coletivo da comunidade escolar os dados de aproveitamento escolar, de forma a promover o processo de reflexão-ação sobre os mesmos para garantir a aprendizagem de todos os alunos; Coordenar o processo coletivo de elaboração e aprimoramento do Regimento Escolar da escola, garantindo a participação democrática de toda a comunidade escolar; comunidade escolar; Participar do Conselho Escolar subsidiando teórica e metodologicamente as discussões e reflexões acerca da organização e efetivação do trabalho pedagógico escolar; Coordenar a elaboração de critérios para aquisição, empréstimo e seleção de materiais, equipamentos e/ou livros de uso didático-pedagógico, a partir da proposta curricular e do projeto político-pedagógico da escola; Participar da organização pedagógica da biblioteca da escola, assim como do processo de aquisição de livros, revistas; Desenvolver projetos que promovam a interação escola-comunidade, de forma a ampliar os espaços de participação, de democratização das relações, de acesso ao saber e de melhoria das condições de vida da população; Propiciar o desenvolvimento da representatividade dos alunos e sua participação nos diversos momentos e órgãos colegiados da escola; Coordenar a organização do espaço-tempo escolar a partir do projeto político-pedagógico e da proposta curricular da escola, intervindo na elaboração do calendário letivo, na formação das turmas, na definição e distribuição do horário semanal das aulas e disciplinas, do “recreio”, da hora-atividade e de outras atividades que interfiram diretamente na realização do trabalho pedagógico; Coordenar, junto à direção, o processo de distribuição de aulas e disciplinas a partir de critérios legais, pedagógico-didáticos e da proposta pedagógica da escola; Promover a construção de estratégias pedagógicas de superação de todas as formas de discriminação, preconceito e exclusão social e de ampliação do compromisso ético-político com todos as categorias e classes sociais; Responsabilizar-se pelo trabalho pedagógico-didático desenvolvido na escola pelo coletivo dos profissionais que nela atuam; Implantar mecanismos de acompanhamento e avaliação do trabalho pedagógico escolar pela comunidade interna e externa; Apresentar propostas,

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alternativas, sugestões e/ou críticas que promovam o desenvolvimento e o aprimoramento do trabalho pedagógico escolar conforme o projeto político-pedagógico, a proposta curricular e o plano de ação da escola e as políticas educacionais da SEED (SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – COORDENAÇÃO DE APOIO À DIREÇÃO E EQUIPE PEDAGÓGICA).

Pelo que se pode constatar, não são poucas as atribuições

destinadas aos Professores Pedagogos e, devido a essa diversidade de

funções, vemos hoje, na grande maioria das vezes, um profissional sem

identidade própria, angustiado, muitas vezes taxado de mero tarefeiro e

faz tudo, tendo que exercer múltiplas tarefas e funções, para muitas das

quais não está preparado.

Necessário se faz, então, uma reflexão crítica e consciente sobre a

formação e a trajetória desses Pedagogos dentro da instituição escolar,

visto que, ao assumirem um cargo generalista, muitos não possuem

embasamento teórico suficiente para desempenhar suas inúmeras

funções com o objetivo de mudança social, o que pode acarretar em

prejuízos para o campo educacional.

É consenso geral que o Pedagogo não é somente um articulador dos

conhecimentos socialmente e historicamente produzidos; na

especificidade de sua função existe uma grande exigência de produção da

ciência pedagógica escolar, determinada pelas relações sociais e

produtivas. Cada estágio das forças produtivas gera um Projeto Político

Pedagógico peculiar que corresponde às demandas de formação de

profissionais e intelectuais, tanto dirigentes quanto trabalhadores. É neste

contexto que cabe indagar: esse profissional, hoje denominado de

Professor Pedagogo, tem consciência de que os processos educacionais e

os processos sociais mais abrangentes de reprodução estão intimamente

ligados? Tem conhecimento do saber historicamente construído acerca da

educação, bem como das atuais políticas públicas educacionais no que se

refere à formação de professores e profissionais das diversas áreas? Será

que conhece bem as especificidades de sua função? Possui autonomia

intelectual e pensamento crítico?

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Em se tratando de educação, inúmeros são os desafios a se

enfrentar e de modo geral, antes de informações e discursos enfáticos,

são as ações que importa considerar.

Para que o Pedagogo possa enfrentar a exclusão e a alienação, em

todas as suas formas, onde a educação, mesmo sendo um dos fatores

determinantes, é também uma das formas de enfrentamento e de

possíveis superações frente aos problemas educacionais, é necessária

uma postura investigativa, com bases teórico-metodológicas. Se sua

formação inicial não lhe proporcionou esta visão, cabe, não só à Rede

Estadual de Ensino do Estado do Paraná lhe proporcionar condições de

formação continuada, mas também a ele próprio buscar novas formas de

aprimoramento, de estudos, de reflexões sobre a sua prática, através de

uma visão crítica embasada teoricamente.

A formação em serviço ou Formação Continuada

O processo de formação em serviço de professores e demais

profissionais da educação recebeu, ao longo do tempo, algumas

denominações, como Educação Continuada ou Formação Continuada,

tanto em textos oficiais de secretarias municipais e estaduais de

educação, como também em literaturas recentes sobre formação em

serviço. Essa formação continuada se faz necessária porque a realidade

muda sempre e o saber que construímos sobre ela precisa ser ampliado e

revisto, justamente para que possamos atualizar os conhecimentos

adquiridos, mas principalmente para nos apropriarmos de possíveis

conhecimentos não adquiridos, defasados ou maquiados por políticas

públicas de alienação dos profissionais da educação.

Não estamos aqui, quando nos referimos à Formação Continuada,

nos referindo a termos utilizados anteriormente, como treinamento,

reciclagem ou capacitação, que muitas vezes deixaram de favorecer a

autonomia intelectual dos educadores. Como ressalta CHRISTOV (2003,

p.9),

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A Educação Continuada se faz necessária pela própria natureza do saber e de fazer humanos como práticas que se transformam constantemente. A realidade muda e o saber que construímos sobre ela precisa ser revisto e ampliado sempre. Dessa forma, um programa de educação continuada se faz necessário para atualizarmos nossos conhecimentos, principalmente para analisarmos as mudanças que ocorrem em nossa prática, bem como para atribuirmos direções esperadas a essas mudanças.

Isto nos leva a ponderar que precisamos deixar de estudar nossa

realidade somente a partir de formas antigas, dificultando assim as

possibilidades de compreensão. Estas, portanto, devem ser substituídas

por estudos e análises que abordem a complexidade do cotidiano

historicamente constituído, oferecendo, assim, oportunidade de reflexão e

de possível mudança da prática.

A “formação continuada” é uma realidade no panorama educacional brasileiro e mundial, não só como uma exigência que se faz devido aos avanços da ciência e da tecnologia que se processaram nas últimas décadas, mas como uma nova categoria que passou a existir no “mercado” da formação contínua e que, por isso, necessita ser repensada cotidianamente no sentido de melhor atender à legítima e digna formação humana. (...) A “formação continuada” hoje precisa ser entendida como um mecanismo de permanente capacitação reflexiva de todos os seres humanos às múltiplas exigências/desafios que a ciência, a tecnologia e o mundo do (não) trabalho colocam (FERREIRA, 2003, p.19).

A Formação Continuada dos profissionais da educação está

assegurada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº

9394/96, em seu artigo 67, onde consta que: “Os sistemas de ensino

promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-

lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do

magistério público”. Prevê também no Título II: “aperfeiçoamento

profissional continuado, inclusive com licença periódica remunerada para

esse fim”. Isto reforça o fato de que a formação dos profissionais da

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educação deve ser contínua, em permanente construção e nunca

estagnada. Assim como a sociedade, o ser humano é uma unidade

histórica que se desenvolve continuamente, daí a necessidade de uma

maior coesão na formação continuada, tendo como eixo centralizador a

escola, objetivando superar políticas e programas de formação inicial e

continuada ineficientes.

O movimento permanente de aperfeiçoamento dos profissionais da

educação reflete-se numa constante reflexão, discussão e,

consequentemente, construção do conhecimento. Porém, apenas o

conhecimento das informações ou de dados isolados é insuficiente. É

preciso situar as informações e os dados em seu contexto histórico e

social para que tenham sentido. Garcia (1995), afirma:

É impensável que alguém ainda não saiba hoje que tudo que acontece na escola é uma questão política; não político partidário. Digo, com muita ênfase, que do meu ponto de vista o papel primordial de todos os profissionais da educação é analisar a conjuntura nacional e internacional, discutir na escola e a partir daí discutir educação, escola, Projeto Político Pedagógico – como podemos construir, quais os participantes e seus papéis – porque a escola deveria ser “pólo de produção e irradiação da cultura”, portanto, ela tem que estar, permanentemente, em diálogo com a comunidade (GARCIA, 1995, p. 3).

Portanto, os diversos conteúdos sobre as determinantes sociais,

políticas e econômicas que levaram à globalização da economia, às

relações entre Estado e Sociedade e à reestruturação produtiva que tanto

influenciam as políticas públicas educacionais, precisam e devem ser

apropriadas pelos profissionais da educação, como cidadãos trabalhadores

que são, portadores de direitos e deveres, para que possam assim

desenvolver uma maior capacidade de análise dessas relações produtivas

e sociais, e das diversas transformações que ocorrem no mundo do

trabalho e suas implicações para o mundo da educação.

Necessário se faz, então, lutar contra o conformismo e a apatia de

alguns profissionais da educação, e ao mesmo tempo, combater o controle

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do saber por um número pequeno de pessoas. A Formação Continuada

oferece a possibilidade de novas aproximações, novos enfoques,

informações e conhecimentos, no sentido de decifrar essa tão complicada,

fascinante e necessária atividade que os profissionais da educação

exercem, bem como viabiliza buscar outras alternativas que possam

colaborar para a melhoria da prática no interior da sala de aula e da

escola, traduzindo-se assim numa educação de qualidade para todos os

alunos.

Como salienta István Mézarós, a educação deve ser sempre

continuada, permanente, ou não é educação. Para ele, educar não é a

mera transferência de conhecimento, mas sim conscientização e

testemunho de vida.

Todos os profissionais da educação, principalmente os Pedagogos, a

quem focamos este estudo, têm de ter cientificidade no seu trabalho,

planejamento de ações e articulação dentro das escolas. Uma postura

investigativa ajuda a pensar e repensar a sua própria postura e a das

pessoas com as quais trabalha.

E a partir do enfoque na Formação Continuada, iniciaremos aqui

uma análise do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE,

desenvolvido no Estado do Paraná a partir do ano de 2007.

Novas perspectivas em Formação Continuada: uma incursão

no Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE

1. Visão geral

O PDE se caracteriza como um programa de Formação Continuada,

instituído pela Secretaria de Estado da Educação, em cooperação com a

Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e

Universidades Públicas Estaduais e Federais do Estado do Paraná. Esta

integração ocorre por meio da inserção do Professor de Educação Básica

da rede pública estadual nas atividades de formação desenvolvidas pelas

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Instituições de Ensino – IES, definidas a partir das necessidades da

Educação Básica, tendo assim a contribuição do Ensino Superior para a

melhoria da qualidade desejada para a educação do Estado do Paraná.

Idealizado durante a elaboração do Plano de Carreira do Magistério

(Lei Complementar n. 103, de 15 de março de 2004), assumiu

características diferenciadas dos cursos de pós-graduação tradicionais,

pois além de proporcionar progressão na carreira, também possibilita aos

professores tempo livre para estudos. Desse modo, é assegurado ao

Professor PDE o afastamento remunerado do exercício de suas funções, de

acordo com sua jornada de trabalho, sendo de cem por cento de sua carga

horária no primeiro ano do Programa e de vinte e cinco por cento no

segundo ano, para que possa dedicar-se integralmente aos estudos. Isto

faz com que o PDE assuma um modelo de formação continuada sem

precedentes, mostrando-se inovador e coerente na busca de uma

educação de qualidade.

O PDE está estruturado em dois anos de duração, divididos em

quatro períodos e participam do Programa os Professores Orientadores

das IES, os Professores PDE, e de forma mais indireta, demais professores

da Rede Estadual, além dos organizadores, coordenadores e

representantes da SEED, NRE e IES.

Um dos fatores que mais chama a atenção do Programa são seus

pressupostos teórico-metodológicos. Além de proporcionar ao professor

retorno às atividades acadêmicas de sua área de formação e à

Universidade, é nítida a preocupação de uma formação continuada de

caráter crítico e reflexivo, onde se considera a educação como um fator

determinante para que se compreenda e se transforme o quadro das

desigualdades sociais. Nesse contexto, o PDE visa o reconhecimento do

professor como produtor de conhecimento sobre o processo ensino-

aprendizagem, tentando assim superar modelos de formação continuada

sustentados em atividades descontínuas e fragmentadas. Objetiva-se,

portanto, instituir com o Programa, uma dinâmica permanente de

reflexão, discussão e construção do conhecimento, fundamentado em

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saberes produzidos histórica e socialmente, o que se pode verificar

através das temáticas e conteúdos abordados durante o programa.

2. Metodologia do Programa

A partir deste tópico, pretende-se descrever as experiências mais

relevantes proporcionadas pelo PDE a um grupo de Pedagogos e Gestores

Escolares do qual fazemos parte, desenvolvidas de forma presencial na

Universidade Estadual de Londrina - UEL e de forma semi-presencial, com

o contato dos professores PDE com os demais professores da rede pública

estadual de ensino, apoiados com os suportes tecnológicos necessários ao

desenvolvimento de atividades cooperativas.

Após a aula inaugural do PDE, realizada em Curitiba no dia 12 de

março de 2007, com a presença do Excelentíssimo Senhor Governador do

Estado do Paraná, Roberto Requião e do Secretário de Estado da Educação

Maurício Requião, demais representantes da SEED, NREs e Professores

PDE, deu-se início às atividades iniciais na UEL com os Estudos

Orientados.

Os Estudos Orientados são caracterizados como momentos de

formação e fundamentação, englobando os Encontros de Orientação, os

Encontros das Áreas Específicas do PDE, os Seminários e Cursos

Descentralizados da SEED nas IES e as Orientações do Grupo de Trabalho

em Rede - GTR.

Neste primeiro período do Programa, os Professores PDE, sob a

orientação de Professores da UEL, elaboraram um Plano de Trabalho, que

se concretizou num instrumento de orientação e planejamento das

atividades básicas do Programa, definidas pelo objeto de estudo, no caso,

a Formação Continuada.

A temática dos estudos abordados nesta primeira fase, em sua

maioria, permitiram aos participantes a oportunidade de refletir e

socializar assuntos com grande profundidade teórica numa perspectiva

crítica em relação à educação e às políticas públicas, num contexto

histórico e social.

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Dessa forma, notou-se que, à medida que as atividades e os estudos

iam sendo desenvolvidos, através dos encontros, cursos e seminários,

novos conhecimentos e perspectivas iam sendo incorporados e

vislumbrados pelos participantes, além de ocasionar um posicionamento

mais crítico com relação às suas funções nas escolas, ao seu papel como

profissional da educação e também com relação ao próprio programa do

qual participavam.

Desse modo, julga-se conveniente registrar aqui algumas anotações

breves e pessoais, realizadas durante as atividades em curso, já que elas

podem se traduzir numa forma de melhor visualização das impressões,

anseios e expectativas durante o decorrer do programa, que seguirão

destacadas e datadas.

Durante os Cursos ministrados pelos professores IES, surgiram

várias discussões sobre as reais intenções do Governo do Estado do

Paraná quanto ao PDE. Mas, após as discussões e independentemente

destas reais “intenções”, chegamos à conclusão de que devemos

aproveitar este espaço único, tanto de tempo quanto de oportunidade de

construção de novos conhecimentos, para um momento de

transformação, de otimismo, e não somente de descrédito e pessimismo.

Há que se romper as barreiras que encontramos pelo caminho, é

necessário acreditar mais, estudar mais, sair da cadeira da acomodação,

levantar-se e ir à busca. Na inércia não podemos continuar (Professora

PDE, 28/06/2007).

Outro momento relevante foi o Encontro de Áreas Específicas, onde

orientados e orientadores apresentaram seu projeto de pesquisa para

discussão coletiva e implementação de novos estudos.

Foram momentos de socialização dos Planos de Trabalho e das

intervenções que cada professor PDE iria realizar na sua volta à escola.

Com certeza, um momento ímpar na história do PDE. Socializar

experiências anteriores, os planos de estudos e as preocupações quanto

às suas práticas, mostraram o real comprometimento destes profissionais

com a educação atual. Comprometimento este que favorece um possível

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enfrentamento das dificuldades encontradas no dia a dia da escola, com

vistas à transformação educacional e social (Professora PDE, 13/08/2007).

Dando continuidade aos trabalhos e atividades do Programa, além

do Plano de Trabalho, iniciou-se outra atribuição do Professor PDE: orientar

os Grupos de Trabalho em Rede – GTR, a qual é detalhada a seguir.

3. GTR – uma proposta de Formação Continuada virtual

Dentre as atividades previstas para o segundo período do PDE,

destacou-se o Grupo de Trabalho em Rede – GTR, que se caracterizou

como uma interação virtual entre o Professor PDE e outros professores da

rede pública estadual, buscando efetivar o processo de Formação

Continuada já em curso. Para os outros professores da rede, além de

proporcionar novas alternativas de formação continuada, o GTR

configurou-se como uma opção a mais para pontuações de progressão no

Plano de Carreira.

Através destes encontros virtuais, os participantes puderam

estabelecer relações teórico-práticas em sua área de conhecimento, com

discussões de temáticas envolvendo sua área de formação e/ou atuação,

visando assim seu enriquecimento didático-pedagógico, através de

leituras, reflexões, troca de idéias e experiências.

Para que o GTR se efetivasse, foi utilizado o Ambiente Virtual de

Aprendizagem e-escola, plataforma MOODLE, que oferece vários recursos

de interação entre o Professor PDE, denominado Tutor do GTR e os

professores da rede interessados na capacitação. Dentre estes recursos

destacamos a Biblioteca do Professor, utilizada para a postagem de

material de leitura como textos e artigos; os Diários, para

aprofundamentos teóricos e os Fóruns de Debate e Discussão, utilizados

para a comunicação e intercâmbio de idéias entre os participantes.

Portanto, no decorrer do desenvolvimento dos trabalhos do GTR,

iniciado em outubro de 2007 e encerrado em junho de 2008, várias

atividades foram realizadas, divididas em módulos. A cada módulo uma

atividade diferenciada, onde os participantes, após os primeiros contatos

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de identificação e socialização do grupo, realizaram também estudos

orientados com leituras e análises de textos de palestrantes dos

Seminários do PDE, além de textos de outros autores, assim como análise

e discussão do Plano de Trabalho do Professor PDE/tutor e também a

apreciação do processo de elaboração do Material Didático, outra

atividade proposta ao Professor PDE.

Na finalização do GTR, foi apresentado aos participantes a Proposta

de Intervenção na Escola do Professor PDE, para que, através de

apreciações e discussões, os participantes sugerissem outras possíveis

formas de implementação da proposta.

Como uma modalidade de formação continuada, o GTR se mostrou

inovador e surpreendente a todos os participantes. Ao finalizar os

trabalhos, nosso grupo contava com 15 professores pedagogos

participantes, residentes em diferentes municípios do Estado do Paraná.

De início, algumas dificuldades foram verificadas em relação ao

ambiente virtual, como problemas de acesso à internet e postagem das

atividades nos recursos disponíveis, que logo foram sanadas, não se

configurando como empecilho na participação do grupo. O

assessoramento do ambiente virtual ficou por conta dos Assessores da

Coordenação Regional de Tecnologia em Educação dos Núcleos Regionais

de Educação.

Com relação ao aproveitamento, vários aspectos corroboraram para

uma avaliação positiva. Apesar da formação em comum, trabalhávamos

em níveis e modalidades de ensino diferenciadas, o que enriqueceu a

troca de experiências, tanto pessoais quanto profissionais.

Uma das grandes preocupações por parte do Professor PDE tutor

sempre foi proporcionar aos participantes, estudos, debates e discussões

acerca de assuntos pertinentes à sua área de conhecimento e

relacionados ao tema de estudo, porém com textos de alto grau de

informações e criticidade, objetivando assim uma postura mais reflexiva,

no intuito de provocar uma re-avaliação das práticas pedagógicas com

vistas à melhoria da educação oferecida nas escolas. Sobre esta postura

reflexiva, registramos aqui o depoimento de umas das pedagogas

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participantes do GTR, durante as atividades realizadas no decorrer da

formação:

É preciso reconhecer a fundamental importância do professor no processo de aquisição do conhecimento pelos estudantes; é preciso ainda que este professor tenha uma boa formação acadêmica, bem como uma formação continuada que lhe dê condições de compreender os mecanismos sociais, para que possa formular uma concepção de escola, educação, aprendizagem, aluno, avaliação, etc., com seu coletivo, para que, de posse desses elementos, tenha clareza do que ensinar e como ensinar, reconhecendo que o aluno é um sujeito capaz de aprender. Não consigo pensar em Escola Pública sem pensar em políticas públicas, pois não está somente em nossas mãos a possibilidade de melhoria da educação, ela passa também pelo investimento adequado do dinheiro público, como garantia dos direitos dos cidadãos (C.C.B., 28/10/2008).

Portanto, teve-se como objetivo primordial proporcionar uma

formação continuada de qualidade, ressaltando a importância da própria

formação em serviço dos profissionais da educação para o resgate de sua

identidade profissional, através de uma visão crítica embasada

teoricamente.

Na avaliação final proposta aos participantes do GTR com relação ao

grupo de estudos à distância, todos, sem exceções, reafirmaram ser este

um processo válido para a formação em serviço do professor,

configurando-se como uma importante estratégia de democratização do

conhecimento. Tecnologia aliada à informação, permeada pela interação

reflexiva entre seus participantes, ainda que de forma virtual.

Como já foi citado anteriormente, paralelo às atividades do GTR, o

Material Didático estava sendo elaborado pelo Professor PDE, sob a

orientação do Professor Orientador da UEL e com sugestões dos

participantes do GTR. A partir de orientações da SEED, este poderia se

configurar como um Artigo, Folhas, Caderno Pedagógico, Objeto de

Aprendizagem Colaborativa – OAC ou outra forma de material didático-

pedagógico, desde que fosse pertinente ao seu objeto de estudo e que

guardasse relação com as ações já em curso no âmbito da SEED. Dessa

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forma, optamos por elaborar um Caderno Pedagógico contendo uma

proposta de Formação Continuada, que a seguir será explicitado.

Material Didático

O Material Didático elaborado, em forma de Caderno Pedagógico,

teve como Título “PROPOSTA DE FORMAÇÃO CONTINUADA PARA A

FORMAÇÃO E ATUALIZAÇÃO DO PEDAGOGO – GRUPO DE ESTUDOS” e

refere-se a uma das atribuições dos Professores PDE para o segundo

período do programa, tendo como referência as Diretrizes Curriculares de

Educação Básica do Paraná e as orientações gerais dos Departamentos e

Coordenações vinculados à Educação Especial, Diversidades, Disciplinas

Técnicas, Pedagogos e Gestores. Contou com o acompanhamento do

orientador do Professor PDE na IES e com sugestões dos professores do

GTR, o que o torna relevante ao processo democrático educativo.

Foi concebido, desde o princípio, como uma proposta de Formação

Continuada de caráter reflexivo, que considera o profissional da educação

sujeito da sua ação pedagógica, valorizando sua experiência profissional e

suas incursões em estudos mais aprofundados.

Sabemos que a formação continuada é uma das exigências das

atividades profissionais do mundo atual, porém não pode ser reduzida

somente a uma ação compensatória de fragilidades da formação inicial.

Todo conhecimento adquirido na formação inicial se reelabora na

atividade profissional, para atender a uma diversidade de situações que

exigem intervenções e ações adequadas. Assim, a formação continuada

deve desenvolver uma atitude investigativa e reflexiva, levando em conta

que a atividade profissional é um campo de produção de conhecimento,

envolvendo aprendizagens que vão muito além da simples aplicação

daquilo que foi estudado.

Apesar de inúmeras e valiosas contribuições de estudos teóricos e

pesquisas na área da Educação, temos presenciado nas escolas um

quadro educacional desfavorável, marcado pela repetência, evasão e

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distorção idade-série nas diferentes fases do ensino básico. Somam-se a

isso, baixos salários e precárias condições de trabalho ou de formação,

além da imposição de ideologias educacionais nem sempre condizentes

com a realidade educacional dos educandos. Cabe-nos, então, questionar

os processos por meio dos quais esse panorama se configura e os

possíveis meios para combatê-lo. Nesse sentido, a tentativa de

desenvolver nas escolas um processo de ensino-aprendizagem de

qualidade, concebido como dimensão da cidadania, coloca também em

destaque a necessidade de formação continuada de todos os profissionais

da educação.

Pretendeu-se, portanto, com o material, subsidiar o Pedagogo na

elaboração do projeto de formação continuada da escola, já que esta se

constitui numa das atividades atribuídas a ele nos estabelecimentos de

Ensino da Rede Estadual do Paraná, e concomitantemente, que

oportunizasse o aprofundamento em temas relevantes para o

redirecionamento de sua prática pedagógica, através de leituras, estudos

e reflexões de textos e artigos que despertassem a postura de sujeitos

críticos, reflexivos e transformadores, que sejam capazes de refletir sobre

suas ações e redirecioná-las, se necessário.

Desse modo, uma preocupação sempre evidente, foi que o material

representasse uma oportunidade de diálogos e reflexões que

contribuíssem para o crescimento pessoal e profissional de educadores e

que trouxesse, não apenas informação para a construção de

conhecimentos, mas, sobretudo, bases teórico-metodológicas que

proporcionassem analisar a relação trabalho-educação, considerando a

materialidade histórica em que está inserida e suas implicações na

sociedade capitalista e na escola.

Esta proposta de formação continuada, contida no Material Didático,

prevê a utilização do princípio da problematização dos conteúdos e das

práticas cotidianas dos Pedagogos e professores e se utiliza da

metodologia semi-presencial, ou seja, com momentos presenciais com

atividades em grupo e à distância por meio de leituras e atividades

individuais. O grupo de estudos é uma modalidade de formação

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continuada que oportuniza a participação do profissional da educação em

encontros na sua área de formação e sua natureza está vinculada à

leitura, reflexão, discussão e produção sobre determinado assunto.

A maioria dos textos, selecionados para estudo nesta proposta,

fizeram parte do material de leitura oferecido pelos Professores da UEL

durante as atividades do PDE, de modo que ao optarmos por utilizá-los

também no Material Didático, tinha-se em mente divulgá-los e

disponibilizá-los a um maior número de pedagogos e professores, pela sua

qualidade e teor crítico, além de fazerem parte das obras de autores

conceituados como Dermeval Saviani, Acácia Zeneida Kuenzer, Maria

Abádia da Silva, Marlene Lucia Siebert Sapelli e Cipriano Carlos Luckesi.

Portanto, a elaboração do Material Didático oportunizou ao Professor

PDE um aprofundamento teórico ainda maior do objeto de estudo e dos

seus objetivos.

Cumpre salientar que as produções didático-pedagógicas dos

Professores PDE estarão disponíveis na página do PDE, no Portal

Educacional do Estado do Paraná Dia-a-dia Educação para serem

utilizadas, conforme a necessidade e interesse, por todos os professores

da rede.

Um retrospecto do Primeiro ano do Programa

As atividades desenvolvidas no primeiro ano do PDE foram intensas.

Conforme iam se desenvolvendo através dos Seminários, Semanas

Pedagógicas, Cursos, Encontros de Áreas e de Orientações, iam gerando

muitas expectativas, angústias, descobertas, alegrias...

No final do ano, a mudança de postura profissional, capacidade de

reflexão e produção de conhecimentos por parte de todos do grupo eram

visíveis. Numa das aulas, estávamos fazendo comentários acerca de um

filme assistido, a pedido do professor. Era notório a todos que os

comentários e intervenções dos Professores PDE eram muito mais claros,

pertinentes e esclarecedores. Os pontos de vista colocados pela quase

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maioria dos professores eram desafiadores, emocionantes e isto se

refletia claramente nas reações do professor, que a certo ponto colocou

que se considerava uma pessoa privilegiada por estar fazendo parte deste

grupo e deste processo (Professora PDE, 09/11/2007).

Voltar à Universidade e poder compartilhar interesses comuns e

experiências com outros professores foi muito proveitoso. Receber

orientações, informações e novos conhecimentos de Mestres e Doutores

em educação foi enriquecedor. E conviver com a diversidade de alunos do

Campus Universitário da Universidade Estadual de Londrina foi fascinante.

Implementação da Proposta de Intervenção na escola: da teoria à

prática

É no quadro da atuação coletiva no interior da escola que importa se aprofunde a teoria, se repensem as práticas e se transformem as diretrizes e as condições operacionais do trabalho pedagógico. Trata-se da construção de um espaço da vivência democrática, orgânico ao mesmo tempo e criativo, consistente e fluido como é a vida, espaço de reconstrução, onde se dissolvam as evidências e obviedades, as rotinas e as normas reificadas, onde se aprenda a desconstruir, a desaprender, para as novas construções e aprendizagens (MARQUES, 2003, p. 207).

De volta à escola e às suas funções, o Professor PDE deveria realizar

um trabalho de implementação de acordo com o objeto de estudo

desenvolvido durante o primeiro ano do programa. Esta ação visou

enfrentar e contribuir para a superação do problema observado pelo

Professor PDE na sua área, investigado no seu tema de estudo, tendo

como finalidade melhorar a qualidade do ensino na sua escola.

Dessa forma, no primeiro semestre do ano de 2008, terceiro período

do PDE, iniciou-se a Implementação da Proposta de Intervenção,

constituindo-se assim numa forma propositiva e qualitativa de se colocar

em prática os estudos teóricos realizados desde o início do Programa. Para

que a implementação se efetivasse na prática, foi necessário uma

articulação com a Direção, Equipe Pedagógica e Técnico-Administrativa,

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Professores e demais funcionários para que os objetivos propostos fossem

atingidos, permeados pelo trabalho coletivo.

A proposta básica teve como temática “A importância da

Formação Continuada frente à precarização da formação inicial do

Profissional da Educação”, já que desta forma abrangeria não só

pedagogos, mas também professores de outras disciplinas, e evidenciou-

se através de um Grupo de Estudos semi-presencial, com carga horária de

40 horas, previstas em encontros presenciais e atividades extra-classe.

Desse modo, a implementação ocorreu no Colégio Estadual Dona

Moralina Eleutério, escola de atuação do Professor PDE, localizada no

Município de Santo Antônio da Platina e contou com 15 participantes,

entre professores de diversas áreas, estaduais e municipais, pedagogos e

diretores escolares, inclusive de outras escolas.

Esta implementação justificou-se, assim como todas as atividades

propostas e desenvolvidas no PDE, como um meio para que se invista

prioritariamente na formação permanente e em serviço do professor,

visando uma melhor compreensão do processo educativo, dando-lhe

subsídios para uma reavaliação de sua prática pedagógica.

Cumpre salientar que para que se possa intervir na realidade

educacional com vistas à melhoria, é imprescindível que se conheça essa

realidade e os processos que nela interferem. Assim, pretendeu-se

promover na escola um espaço para a construção coletiva do saber, onde

o Grupo de Estudos representasse uma oportunidade de diálogos e

reflexões com bases teórico-metodológicas norteadas pela análise da

relação Homem-Trabalho-Educação, considerando a materialidade

histórica em que está inserida.

Desse modo, na seleção dos conteúdos a serem trabalhados no

Grupo de Estudos, buscou-se contemplar aspectos relevantes e polêmicos

do processo educacional, considerando centrais para a formação e

atualização do pedagogo e demais professores, de modo a superar

possíveis defasagens de formação específica, além de uma constante

atualização.

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Alguns textos e artigos utilizados para os estudos foram os mesmos

selecionados para a elaboração do Material Didático do Professor PDE, já

exposto neste trabalho. Assim, procurou-se dar uma visão geral das

teorias educacionais em suas dimensões política, didática e pedagógica,

culminando com o aprofundamento teórico da Pedagogia Histórico-Crítica

e a sua tradução para a prática docente, sempre focando um estudo

reflexivo e crítico.

A seguir, apresentaremos um registro geral das ações realizadas na

Implementação, dando assim uma visão maior dos assuntos estudados e

dos resultados obtidos.

AÇÃO 1: Palestra com o Professor Edimilson Lenardão, da Universidade

Estadual de Londrina, abordando as seguintes temáticas: Perspectiva

Teórica Educacional no Marxismo e Teorias Pedagógicas. A temática

abordada veio de encontro aos fundamentos teóricos da proposta de

implementação, norteadas pelo princípio ontológico do trabalho e

promoveu uma reflexão sobre a relação educação-trabalho.

AÇÃO 2: Socialização das atividades não-presenciais e discussão dos

pontos principais abordados no texto “Sobre a Natureza e Especificidade

da Educação”, de Dermeval Saviani, relacionando-os com a prática

pedagógica. Partindo-se do princípio de que a educação é um fenômeno

próprio dos seres humanos, faz-se necessário a compreensão da natureza

da educação e consequentemente de sua especificidade. As reflexões

promoveram uma discussão sobre a especificidade dos estudos

pedagógicos, tão necessário nos dias atuais.

AÇÃO 3: Apresentação do objeto de estudo da Professora PDE

desenvolvido ao longo do Programa e também do Material Didático

elaborado no segundo período: PROPOSTA DE FORMAÇÃO CONTINUADA

PARA A FORMAÇÃO E ATUALIZAÇÃO DO PEDAGOGO – GRUPO DE ESTUDOS

(Caderno Pedagógico). Fez-se necessário estas apresentações para que os

participantes tomassem ciência da temática de estudo da Professora PDE

e que também entrassem em contato com o Material Didático produzido.

Alguns participantes mostraram interesse em utilizá-lo para estudos

posteriores e para propostas de formação continuada em suas escolas.

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AÇÃO 4: Reflexões sobre o texto “O trabalho como princípio educativo

frente às novas tecnologias”, de Dermeval Saviani e desenvolvimento das

atividades referentes ao texto, que constam no Material Didático

elaborado pela Professora PDE. Leitura e análise do Artigo: O Banco

Mundial e as Políticas educacionais brasileiras, de Maria Abadia da Silva.

As discussões promoveram oportunidade de refletir sobre as origens das

relações entre educação e trabalho e o desenvolvimento histórico do

problema suscitado por tais relações, como um caminho para que se

compreenda melhor a realidade educacional que ora se apresenta.

AÇÃO 5: Apresentação e análise do vídeo da palestra da Professora Lizia

Helena Nagel, “Conhecimento e teorias pedagógicas”, realizada no

Primeiro Seminário Temático do PDE. O vídeo trouxe discussões acerca de

dados estatísticos sobre o desempenho dos alunos nas avaliações do

sistema educacional brasileiro, sobre as políticas educacionais brasileiras

e as teorias educacionais modernas e pós-modernas. Leitura e análise do

Artigo: Da compreensão filosófica à compreensão didática da Pedagogia

Histórico-Crítica, de autoria da Professora PDE Viviane Ziemmer

Magalhães, que oportunizou um maior aprofundamento teórico.

AÇÃO 6: Debate com a participação da Professora Mestra Márcia Bastos de

Almeida, da UEL, orientadora da Professora PDE, e do Professor Mestre

Edimilson Lenardão, Coordenador e Professor do PDE na UEL e demais

professores e pedagogos participantes do grupo de estudos, com o tema

Políticas Públicas e bases filosóficas da Pedagogia Histórico-Crítica. O

debate oportunizou maiores informações sobre a Pedagogia Histórico-

Crítica, fundamentada no paradigma do materialismo histórico e dialético,

cujos princípios embasam a educação paranaense.

Ao final dos trabalhos, foi solicitado aos participantes que realizassem

uma avaliação do Grupo de Estudos, levando-se em conta alguns aspectos

aquisição de informações e conhecimentos, interação entre os

participantes, relevância dos estudos para a prática pedagógica, entre

outros. Todos os participantes, sem exceções, se mostraram muito

satisfeitos com o resultado, e motivados, propuseram à Professora PDE

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que os encontros para estudos continuassem no semestre seguinte,

independentemente das atividades do PDE.

Assim como os estudos e atividades desenvolvidas durante o

decorrer do PDE proporcionou aos professores participantes, em específico

aos Pedagogos e Gestores Escolares, um exercício reflexivo que contribuiu

para a uma maior autonomia intelectual e um posicionamento mais crítico

frente às políticas públicas educacionais, a Implementação da Proposta de

Intervenção na escola respaldou, na prática, o objeto de estudo.

As práticas de formação em serviço, quando comprometidas com a

melhoria da qualidade da educação oferecida nas escolas, induzem os

profissionais da educação a uma constante revisitação de suas práticas

pedagógicas, pressupondo assim uma permanente revisão das suas ações

e reforçando-lhes a condição de eternos aprendizes.

CONCLUSÃO

A formação de professores é um processo que requer base

científico-pedagógica. Deve ser sempre uma ação contínua e progressiva,

englobando as dimensões técnico-científica, ética e política, crítico-

reflexiva, estética, cultural e avaliativa. Em se tratando do profissional

denominado hoje de Professor Pedagogo, sua formação não deve ser

diferente. A construção de sua identidade profissional requer uma

formação crítica, politizada e não apenas uma formação aligeirada,

fazendo com que se torne apenas um mero executor de ações pré-

determinadas, com limitado desenvolvimento de espírito crítico e que

atende somente a uma ideologia dominante.

Muito antes de ser concebido como um mero executor é necessário

que o pedagogo se considere e seja considerado um articulador dentro da

escola para que a função social desta se efetive na prática. Se

concebemos que a verdadeira formação humana é a crítica, não se pode

aceitar a formação alienada. O conhecimento é imprescindível e a

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capacitação em serviço é necessária, justamente para que o profissional

da educação se aproprie do conhecimento cientificamente elaborado e o

utilize na relação pedagógica realizada nas escolas. Cabe, portanto, ao

Pedagogo, a tarefa de democratizar a escola, promovendo a participação

de todos e a transmissão de informações que levem à construção do

conhecimento.

Reportando-nos ao PDE e propondo aqui uma concepção de

avaliação em seu âmbito, importa ressaltar que ela deve ser um processo

crítico, sistemático e progressivo das atividades desenvolvidas pelos

participantes, tanto nos momentos presenciais ou semi-presenciais, em

sua forma coletiva ou individual, o que se pode traduzir numa concepção

diagnóstica de avaliação.

Dessa forma, constatou-se durante o desenvolvimento das

atividades do PDE, alguns problemas de ordem estrutural e cronológico, o

que provavelmente poderá ser sanado no decorrer dos próximos

programas. Porém, todo e qualquer percalço que possa ter havido nestes

dois anos de programa, levando-se em conta o caráter inédito da proposta

de formação, onde pudemos fazer parte da primeira turma, não tira o

mérito do programa.

É inegável e visível a essência proposta e atingida pelo programa,

na busca de uma educação transformadora e de qualidade.

Portanto, podemos afirmar com certeza que não saímos do mesmo

jeito que entramos. Provocações foram feitas, trilhas foram refeitas, novos

conhecimentos foram incorporados, novas percepções adquiridas e

práticas pedagógicas foram reavaliadas e reestruturadas.

Ao reafirmarmos a importância de uma Formação Continuada de

caráter reflexivo e crítico, afirmamos que o PDE foi e continuará sendo um

dos instrumentos para a produção de conhecimento e mudanças

qualitativas na prática escolar da escola pública paranaense.

REFERÊNCIAS

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