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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ BRUNO PIROG STASIAK DA IMPOSSIBILIDADE DE EXPROPRIAÇÃO DE BENS DA EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL CURITIBA 2014

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

BRUNO PIROG STASIAK

DA IMPOSSIBILIDADE DE EXPROPRIAÇÃO DE BENS DA EMPRESA

EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL

CURITIBA

2014

BRUNO PIROG STASIAK

DA IMPOSSIBILIDADE DE EXPROPRIAÇÃO DE BENS DA EMPRESA

EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Monografia apresentada ao curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção de título de Bacharel. Orientadora Profª. Vanessa Simionato

CURITIBA

2014

TERMO DE APROVAÇÃO

BRUNO PIROG STASIAK

DA IMPOSSIBILIDADE DE EXPROPRIAÇÃO DE BENS DA EMPRESA

EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção de do título de Bacharel em

Direito da Universidade Tuiuti do Paraná

Curitiba ____, ____________ de 2014

__________________________

Bacharelado em Direito

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientadora: Profª. Vanessa Simionato

Universidade Tuiuti do Paraná

Membros:

Prof.

Universidade Tuiuti do Paraná

Prof.

Universidade Tuiuti do Paraná

Dedico este trabalho de conclusão da

graduação à minha namorada Walessa de

Andrade Branco, mãe Laura Pirog

Stasiak, pai Alfredo Orlando Stasiak,

demais familiares, à minha orientadora,

Vanessa Simionato e amigos que de

muitas formas me incentivaram,

acreditaram e contribuíram, mesmo que

indiretamente, e ajudaram para que fosse

possível a concretização deste trabalho.

AGRADECIMENTOS

Agradeço à professora Vanessa Simionato, por ter me estendido a mão e

oferecido a mais gratificante orientação deste trabalho, a fim de me proporcionar a

tão sonhada última etapa do curso: concluir o projeto final.

À minha namorada, pelo carinho, pela estimada paciência, por compreender

a importância dessa conquista e aceitar a minha ausência quando necessário, e

principalmente pelo grande incentivo que sempre me proporcionou durante o

período acadêmico.

À minha família, pelo orgulho e apoio de minha caminhada, pela

compreensão, ajuda e em especial por todo amor incondicional oferecido ao longo

deste percurso, que por muitas vezes pareceu eterno, mas que ao lado dos demais

familiares me fizeram acreditar que era possível.

E ao final, ao escritório de advocacia A Santos Advogados Associados,

agradecendo pela competência e seriedade nos ensinamentos de seus nobres

Advogados, que tão bem souberam conduzir e acompanhar os princípios da prática

da advocacia, proporcionando assim, um belo inicio de carreira profissional,

consignando o sucesso nas empreitadas futuras.

RESUMO

O trabalho em epígrafe teve como fim, traçar a partir da legislação, um parâmetro entre o procedimento de recuperação judicial, a doutrina sobre o tema e a jurisprudência pátria, no que se refere ao ordenamento jurídico brasileiro, delineando as consequências visíveis na estrutura da sociedade. Teve como fito analisar a impossibilidade de expropriação de bens da empresa em recuperação judicial, embasado por princípios constantes na lei nº. 11.101/2005 e a jurisprudência pátria, quais possibilitam, a reestruturação da empresa que passa por crise econômico-financeira. Nos capítulos aqui abordados, traz-se a aplicação prática da legislação em comento, visando demonstrar que apesar de haver dispositivos prévios delimitando certas questões, estes podem ser analisados de outra égide, conforme casos práticos analisados pela jurisprudência. Este trabalho ainda abordou a evolução histórica da antiga lei de concordata à lei de recuperação judicial, do procedimento de recuperação judicial, dos princípios norteadores da lei, e posteriormente, a pratica jurisprudencial, evidenciando assim, as razões trazidas como base ao tema. Almejou-se, desta forma, demonstrar a realidade prática para a recuperação judicial. Palavras-chave: Empresa. Concordata. Lei de Falência e Recuperação Judicial. Lei nº. 11.101/2005. Recuperação Judicial. Aspecto Prático Lei nº. 11.101/2005.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 7

2 DA CONCORDATA À RECUPERAÇÃO JUDICIAL DE EMPRESAS ................. 9

3 DO PROCEDIMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL .................................... 15

4 PRINCIPIOS NORTEADORES DA LEI 11.101/2005 ......................................... 31

4.1 PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA ............................................... 31

4.2 DEMAIS PRINCIPIOS CONSTANTES NO PROCEDIMENTO DE

RECUPERAÇÃO JUDICIAL ............................................................................... 38

5 DA IMPOSSIBILIDADE DE SE EXPROPRIAR BENS DA EMPRESA EM

RECUPERAÇÃO JUDICIAL .............................................................................. 40

5.1 POSSIBILIDADE DE EXTENSÃO DO PRAZO DE SUSPENSÃO DAS AÇÕES

QUE TRAMITAM EM FACE DE EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL ... 40

5.2 DA INTERPRETAÇÃO DA LEGISLAÇÃO PELOS TRIBUNAIS SUPERIORES . 42

6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 48

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 50

7

1 INTRODUÇÃO

O foco principal deste trabalho foi a utilização prática da Lei de recuperação

judicial de empresas.

Tendo em vista que a antiga legislação não conseguia mais atender a

sociedade, e mais especificamente às empresas em dificuldade econômico-

financeira, e a entrada em vigor da nova lei demonstrou uma grande mudança de

posição de nosso legislador, qual alterou de forma significativa o âmbito jurídico,

bem como os termos econômicos e sociais, refletindo assim, o grau de tais

mudanças.

Verificava-se que, caso o comerciante não obtivesse êxito em suas tratativas

negociais, o fechamento do estabelecimento comercial era comumente verificada

pela sociedade. A partir da entrada em vigor da Lei nº. 11.101/2005, esta introduziu

na sociedade a possibilidade de superação do empresário em dificuldade,

oferecendo meios de soerguimento e assegurando vida útil à empresa em crise.

Com relação ao alicerce da lei nova, baseado em princípios e oferecimento

de meios para o soerguimento da empresa em dificuldade, esta visa a recuperação

da empresa de forma célere e eficaz, tentando diminuir os efeitos dos credores

detentores de grandes créditos que visam somente receber seus dividendos, não

evidenciando que com isso podem fadar à empresa à quebra, é neste comento que

o presente trabalho enfocou, trazendo a prática para mais próximo à teoria, revendo

os traços marcantes da jurisprudência pátria.

Como é bem sabido, atividade empresarial revela uma relevância de grande

garbo perante a sociedade, vez que é a responsável pela geração de empregos,

desenvolvimento econômico e bem-estar social, tendo em vista a distribuição de

riquezas, além de recolhimento de tributos ao Estado, e manutenção da atividade

econômica com demais fornecedores e consumidores.

Desta forma, a falência de uma empresa pode causar calamitosas

consequências, que podem ser verificadas de forma local, regional ou podendo

alcançar níveis nacionais, quando empresas de grande porte. Assim, o principio da

preservação da empresa, estampado expressamente na legislação em comento,

visa oferecer meios de superação para a crise em curso, possibilitando o equilíbrio

econômico financeiro, reestruturando assim a regular atividade empresarial.

8

Traçando este fim, iniciando de uma análise histórica, fora proposto a

criação de parâmetros entre a legislação e a pratica no que se refere à

impossibilidade de expropriação de bens da empresa em recuperação judicial,

mostrando as variáveis possíveis. Além disso, fora analisado o procedimento de

recuperação judicial para uma melhor análise do tema, bem como a utilização de

princípios sob a égide de casos concretos, vistos pela jurisprudência.

Assim, tem como objetivo o presente trabalho demonstrar que a nova

legislação possibilitou a introdução de mecanismos quais visam proteger a empresa

que passa por dificuldade econômico-financeira, bem como embasar tal tese na

doutrina e jurisprudência pátria.

Fora utilizado como metodologia para o desenvolvimento deste trabalho os

métodos de pesquisas bibliográficas, legislativa e jurisprudencial, tendendo verificar

o conteúdo teórico com a pratica, a fim de materializar o que vem sendo analisado e

julgado pelos tribunais pátrios sobre o tema.

Portanto, propõe-se analisar o tema sobre uma série de variáveis,

demonstrando a evolução histórica, principiológica e jurisprudencial que trouxe a lei

nº. 11.101/2005.

9

2 DA CONCORDATA À RECUPERAÇÃO JUDICIAL DE EMPRESAS

O Direito Falimentar fora reformado pela edição da Lei nº 11.101/2005,

vez que substituiu e extinguiu o instituto da concordata, positivada pelo Dec. - Lei nº

7.661/45, este instituto, nos moldes em que se encontrava e era utilizada, havia

deixado de ser suficiente para permitir a superação de crise econômico-financeira

pelas empresas que passavam por dificuldades.

Assim, o Decreto-Lei nº 7.661/1945, publicado numa circunstancia

histórica muito peculiar, ao final da Segunda Guerra Mundial, e que percebia o

crédito numa relação do devedor com o credor estritamente obrigacional, ou seja,

estritamente patrimonialista, já não mais atendia às necessidades de uma economia

globalizada e competitiva, sujeita às pressões dos mercados, surgindo o clamor de

grandes alterações.

Ainda que na vigência do diploma anterior já se visse a possibilidade da

continuidade das empresas, prevendo a concordata um meio capaz de permitir um

fôlego ao devedor e, assim, o pagamento diluído de seus débitos sem a paralização

de suas atividades, constatou-se que a legislação em vigor era um meio alternativo e

certo de se chegar à falência, pois não haviam grandes possibilidades de

soerguimento.

Além de não haver normas expressas capazes de socorrer o empresário

em crise e recuperá-lo, passou tal instituto a ser usado pelo empresário mal

intencionado, vez que o procedimento permitia ao fraudador reduzir seus prejuízos

previamente à certa sentença declaratória da falência, deixando, assim, uma imensa

quantidade de credores sem qualquer expectativa de recebimento de seus haveres.

Portanto, assim temos a lição de Carlos Alberto Farracha de Castro:

A concordata, portanto, tal como positivada no Dec.-Lei 7.661/45, deixou de ser instrumento suficiente para possibilitar a recuperação e preservação da empresa que atravessava dificuldades econômicas transitórias. Dentre os problemas, destacava-se: o (i) prazo exíguo de 02 (dois) anos para pagamento dos credores; e (ii) o fato da concordata abranger apenas credores quirografários (art.147, do Dec.-Lei 7.661/45) quando na prática comercial principalmente operações bancárias, todos os credores exigem garantias. (CASTRO, 2013, p.110)

Há de ser ressaltado ainda que, o intuito principal do modelo falimentar que

à época se fazia presente, qual seja, a liquidação e o pagamento de credores,

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tampouco vinha sendo realizado, vez que se concluiu que o Decreto-Lei nº

7.661/1945 acabou se revelando incapaz de efetivamente proteger as empresas em

dificuldades, bem como qualquer outro interesse envolvido.

Algumas mudanças surgiram da promulgação da Carta Magna de 1988,

verificou-se a importância do papel da atividade econômica no desenvolvimento da

sociedade e no alcance dos objetivos da República Federativa do Brasil, como já era

verificado pelas legislações comparadas.

Como havia nesse momento histórico, a observância obrigatória dos ditames

constitucionais, à lume desta estava o direito falimentar, e mesmo que em tese, os

dispositivos constitucionais permitissem o desenvolvimento da atividade empresarial,

propiciando a realização dos valores nela contidos e dos objetivos por ela

almejados, de modo que a empresa devedora ou não, era uma unidade que movia a

economia, compondo diversas relações jurídicas; Esta distribuía bens e serviços,

oferecendo empregos, e que caso desaparecesse, poderia causar sequelas

irreparáveis à economia.

Assim leciona Ecio Perin Junior:

O Decreto-Lei n. 7.661/45 foi um dos institutos jurídicos mais criticados da legislação brasileira, uma vez que, percorridos quase sessenta anos desde sua criação, boa parte dos princípios e conceitos que o motivaram estão ultrapassados. Naquela época, a lei foi criada com o objetivo fundamental de proteger e garantir a continuidade da empresa devedora e o direito dos credores, mediante um alongamento do perfil de endividamento da empresa. Mais ainda, a lei tratava a situação dos credores de forma compartimentada e independente, excluindo dos benefícios legais os débitos trabalhistas e tributários. Ao longo dos anos, diversas alterações foram feitas na lei, a fim de modernizá-la. Além disso, um conjunto de jurisprudências formadas por diversos juízes contribuiu para que a lei nãos e tornasse totalmente obsoleta. (PERIN JUNIOR, 2009, p.125-126)

Dentro desta situação fática, a empresa não mais podia ser analisada

isoladamente ou ficar restrita à relação credor-devedor, como na vigência da lei de

concordata, havendo outras variáveis externas e inclusive internas a serem

verificadas com maior importância, vez que a atividade empresarial, como já

analisado traz reflexos em inúmeros pontos, movimentando a economia de forma a

constituir um elemento significativo: são as empresas que proporcionam empregos a

uma série de pessoas, lhes fornecendo mão de obra, pagando ainda, grandes

quantias a titulo da imposto, além de ser em torno delas que gravitam diversos

11

agentes econômicos não assalariados, tais como investidores, fornecedores e

prestadores de serviço.

Por apresentar um papel tão importante na economia, competia aos Poderes

Judiciário e Legislativo a tarefa de proteger tais princípios, não permitindo que

interesses individuais abalassem a estrutura empresarial e impedissem sua

sobrevivência, conforme era verificado na vigência da lei de falência e concordata,

vez que dentro da sociedade giram interesses maiores que fazem com que a

dissolução da empresa ocorra apenas em casos extremos de total impossibilidade

de prosseguir com suas atividades.

Os impactos negativos da extinção de uma empresa são bem

exemplificados por Fábio Ulhoa Coelho:

A crise da empresa pode ser fatal, gerando prejuízos não só para os empreendedores e investidores que empregaram capital no seu desenvolvimento, como para os credores e, em alguns casos, num encadear de sucessivas crises, também para outros agentes econômicos. A crise fatal de uma grande empresa significa o fim de postos de trabalho, desabastecimento de produtos ou serviços, diminuição na arrecadação de impostos e, dependendo das circunstâncias, paralisação de atividades satélites e problemas sérios para a economia local, regional ou, até mesmo, nacional. Por isso, muitas vezes o direito se ocupa em criar mecanismos jurídicos e judiciais de recuperação da empresa. (COELHO, 2007, p. 217)

Além da doutrina já relatada, também a jurisprudência dos tribunais

superiores já apontava mesmo antes da promulgação da constituição federal de

1988, que a lei de concordata não estava sendo útil as empresas, pois não havia

interesse da sociedade em verificar múltiplas falências, podendo causar recessões e

desemprego, num mundo globalizado, onde as nações desenvolvidas repudiam de

todas as formas tais males.

Desta forma, a manutenção da fonte produtora e a preservação da empresa

virou o foco principal, deixando a satisfação dos credores a qualquer custo de lado,

o interesse social era a geração de empregos e a manutenção e crescimento da

economia.

Novamente, a busca por uma legislação eficiente e equilibrada tornou-se um

objetivo a ser procurado pela doutrina e jurisprudência como forma de buscar

minimizar os impactos da incerteza sempre presente em qualquer atividade

empresarial e de implementar incentivos que viabilizem a realização do fim social

desta.

12

Entretanto, como o Decreto-Lei nº 7.661/1945, em sua aplicação não

permitia a realização dos valores que se firmaram ainda durante sua vigência, tem-

se, contudo, que no âmbito do Poder Judiciário se constatou a evolução no trato da

matéria.

Portanto, a construção jurisprudencial que se firmou, bem como o clamor de

diversos setores da sociedade por uma reforma normativa, necessitando que a lei

em vigor deixasse de ser um instrumento de liquidação empresarial e que viesse à

tona uma legislação que visasse a manutenção e a real recuperação de empresas, o

legislador deveria adequar o instituto de forma a propiciar a realização dos princípios

da dignidade da pessoa humana, da valorização do trabalho e da busca do pleno

emprego, bem como flexibilizar o direito dos credores em face dos direitos sociais,

tudo isso proporcionando possibilidades de satisfazer os credores, minimizando a

dispensa de empregados, fortalecendo o crédito e assim, ressurgir a atividade sadia

empresarial.

Assim surgiu a lei nº 11.101/2005, possuindo princípios gerais louváveis que

efetivamente podem permitir o alcance almejado, e trazendo dispositivos que

estimulam a negociação entre credores e devedores com o objetivo fundamental de

viabilizar a preservação da empresa enquanto unidade produtiva e fonte geradora de

empregos deixando a preocupação do legislador em permitir a continuidade das

atividades entendidas como viáveis.

Desta forma, a criação do instituto da recuperação de empresas como forma

de reorganização negocial, de maximização do valor dos ativos e de proteção aos

interesses dos credores e dos devedores é iniciativa que merece aplausos, pois

permite amplas conversações entre os interessados no intuito de melhor atender às

pretensões direta e indiretamente envolvidas.

Verifica-se em tal legislação, diferenças marcantes, traçando assim, a

evolução legislativa, doutrinária e jurisprudencial sobre o assunto, sobrevindo,

através da edição da nova Lei, o instituto da Recuperação judicial comandando uma

grande mudança de posição de nosso Legislador.

Assemelha-se que a Lei revogada era fundamentada no conceito primitivo

de empresa, baseada especificamente nos atos do comércio, praticados pelo

comerciante individual. A teoria da empresa, desenvolvida durante o século XX, foi

adotada pela nova lei, quando da imposição do principio da preservação da

empresa.

13

A antiga lei não abrangia tal principio, estando assim, inepta para verificação

dos inúmeros interesses envolvidos, não só do empresário, mas dos trabalhadores,

familiares, sócios, credores, bem como da economia. Ainda, tal lei preocupava-se

demais com a obrigação do devedor, protegendo ao extremo o crédito, vez que tais

disposições quase sempre impediam a continuidade das atividades empresariais.

Tal afirmação encontra embasamento em casos práticos, vez que não

haviam valores mínimos para pedido de falência de empresa pelo credor, vez que

tais pedidos eram aceitos corriqueiramente, pelo simples inadimplemento do

devedor ao credor de pequenos valores. A atual lei estabelece um limite mínimo

para o pedido de falência (40 salários mínimos, em títulos protestados), o que por si

só já faz uma grande diferença na possibilidade do pedido inicial de falência.

Já com relação à mostra de documentação, a Lei de concordata previa a

pobre mostra de balanços a credores, vez que pela atual Lei, é necessária a

demonstração pela empresa de exatos motivos pelo qual o empresário se alocou em

tal situação, quais os meios de soerguimento, bem como manifestação de

efetividade de que o plano de recuperação judicial apresentado será devidamente

cumprido.

Outras inovações apresentadas pela nova lei são a necessária realização de

assembleia geral de credores, quais farão deliberações significativas sobre a

continuidade ou não da atividade da empresa, podendo com sua decisão soberana,

decretar ou não a falência, ou ainda, aprovando plano de recuperação apresentado,

conceder lapso temporal para pagamento de créditos não quitados, e ainda,

possibilidade ou não de formação de um comitê de credores, que cuidarão da

fiscalização do cumprimento do plano de recuperação judicial.

Fora também diferenciado os tipos de crédito e sua ordem para pagamento,

alterando as ponderações positivadas anteriormente, com o crédito trabalhista

possuindo agora privilégios de recebimento quantos aos demais, por se tratar de

verba alimentícia, vindo posteriormente, o pagamento de créditos com, garantia real,

privilégio especial, privilegio geral, quirografário, sub-quirografário e subordinados.

Entretanto, existem algumas restrições a créditos a serem explorados pela

nova lei, visto que esta repele expressamente os credores detentores de créditos

tributários e com garantia fiduciária.

Podendo ser na modalidade de concordata, perante vigência de Lei anterior,

ou por meio da Lei 11.101/2005, o intuito de ajudar a empresa em crise econômico

14

financeira a se reerguer, preservando a empresa, mantendo a função social e

estimulando a atividade econômica é o mesmo, porém com as distinções históricas

traçadas pela sociedade brasileira, já analisadas.

A nova lei demonstrou sensibilidade e preocupação no que se refere ao

tratamento da empresa em recuperação judicial; Esta deve ser aplicada de maneira

objetiva e clara, devendo o empresário ou empresa mostrar condições de superar a

crise econômica vivenciada, evitando assim, a falência.

15

3 DO PROCEDIMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Para alcançarmos o tema proposto de forma mais didática, será verificado o

procedimento da recuperação judicial, estampado na lei 11.101/2005, analisando as

variáveis do instituto que permitem sopesar que em casos práticos, credores

possuidores de títulos exequíveis, são barrados por princípios norteadores, em

conjunto com a doutrina e jurisprudência permitindo a manutenção da boa atividade

empresarial da empresa que se encontra em dificuldade econômico-financeira.

Inicialmente impõe-se analisar alguns pontos nevrálgicos do procedimento

recuperacional a saber: (a) da finalidade; (b) natureza jurídica; (c) requisitos para

propositura; (d) sujeitos passivos; (e) foro competente; (f) meios de recuperação

judicial; (g) análise pelo juízo; (h) Da verificação de créditos; (i) plano de

recuperação judicial; (j) objeções, assembleia geral e aprovação do plano; (k) efeitos

da concessão de recuperação judicial; (l) decisão cumprimento e encerramento da

recuperação judicial; e (m) pedido de falência por parte dos credores.

a) Da finalidade da recuperação judicial:

Quanto a um apanhado geral do procedimento e a finalidade da recuperação

judicial de empresas, temos os ensinamentos de Carlos Alberto Farracha de Castro:

Simples Leitura do art. 47 da LREF leva a conclusão que a recuperação judicial é uma ação judicial concedida ao empresário honesto e de boa-fé que atravessa dificuldade econômico-financeira transitória, mas possui condições de se recuperar, mediante concessões dos seus credores, trabalhadores e demais colaboradores. Conclui-se, também, que a recuperação judicial é fundada no principio da preservação da empresa e busca do pleno emprego, tal como almejado pelo legislador constituinte (art. 170. CF/88). Estimula, ademais, não só a manutenção e, desenvolvimento da unidade produtiva, como exige a observância a sua função social. (CASTRO, 2013, p.111)

Portanto, deste pensamento deflui que a recuperação judicial de empresas é

uma ação que tem o caráter de proteger o empresário em dificuldades financeiras,

embasado nos princípios basilar da preservação da empresa, qual deve sempre esta

presente no procedimento recuperacional, para sua correta aplicação e

soerguimento, para que assim, a empresa quitar seus débitos perante os credores.

Já Vera Helena de Mello possui o seguinte posicionamento sobre o tema:

Sanear a crise econômico-financeira do empresário ou da sociedade empresária, pressuposto extrajurídico, matéria de fato, que varia de caso

16

para caso. Sanear, aqui, significa equacionar o evento que gera dificuldade para a manutenção da atividade tal como originalmente organizada a fim e preservar os negócios sociais, a manutenção dos empregos, e, igualmente, satisfazer os direitos e interesses dos credores. Interessante, todavia, que, em que pese a função social que se diz presente na nova lei, e a ênfase que se dá no art. 47 da LRE, ao contrário do que ocorre no Direito Frances, no italiano, no português, o Estado não intervenha, nem minimamente, para alavancar esta recuperação. Com isto, todo o pretenso custo social, encargo igualmente do Estado, da recuperação e preservação da empresa e dos postos de trabalho, recaem, exclusivamente, sobre os ombros dos particulares, basicamente dos credores. (MELLO, 2008, p.234)

Além de estarem presentes as mesmas ideias do autor mencionado

anteriormente, há uma crítica sobre a não intervenção do Estado Brasileiro no

processo recuperacional, decaindo, assim, somente aos envolvidos, empresa em

dificuldade financeira, credores, trabalhadores e demais envolvidos, o ônus de

reestruturar financeiramente a empresa recuperanda, no que ocorre ao contrário em

procedimentos destacados de legislações estrangeiras.

b) Da natureza jurídica:

Quanto à natureza jurídica do procedimento de recuperação judicial, nos

leciona Carlos Alberto Farracha de Castro:

Quanto a natureza, a recuperação judicial é uma ação. Mesmo assim, existem vozes que sustentam que possui ‘nitida feição contratual, uma vez que os credores, reunidos em assembleia, deliberam sobre a aprovação do plano de recuperação e, por conseguinte, decidem com seus créditos devem ser satisfeitos’. Não assiste razão. Ora, o empresário, para uso dos benefícios da recuperação judicial deve não só preencher os requisitos específicos previstos em lei (art. 51, da LREF); como o ingressar com uma ação, por intermédio da qual o Estado-Juiz, deferirá (ou não) seu processamento, antecipando, pois, seus efeitos (art. 52 da LREF) – inclusive com suspensão forçada das ações judiciais pelo prazo de 180 (cento e oitenta dias) -, até posterior concessão (art. 58, da LREF). Em suma, na recuperação judicial prevalece à tutela jurisdicional prestada pelo Estado, ao invés do posterior acordo de vontades formado entre o empresário devedor e a maioria dos seus credores, por ocasião da aprovação do plano de recuperação, mesmo porque nem todos os credores aprovam o plano e, mesmo assim sujeitam-se aos seus efeitos. (CASTRO, 2013, p. 112-114)

A natureza jurídica da recuperação judicial se espelha na forma uma ação,

qual deverá ser devidamente instruída com documentação prevista em lei, e que,

conforme será melhor explicado a seguir, deve conter necessariamente requisitos

expressos em lei para ser deferido processamento pelo Juízo competente.

c) Requisitos para propositura:

17

Como já especulado anteriormente, é necessário o preenchimento de

requisitos básicos pela empresa em dificuldade para proposição de ação de

recuperação judicial, vez que a legislação em comento converge ao estabelecer, nos

artigos 2º e 48º da lei 11.101/2005, como parâmetros básicos para ajuizamento, a

condição empresária da requerente, o exercício regular das atividades há mais de

dois anos, não se tratar de empresário falido, não ter obtido concessão de

recuperação judicial nos cinco anos anteriores nem de “recuperação especial para

microempresas” nos últimos oito anos e não ter sido condenado ou não ter como

administrador pessoa condenada por crimes falimentares.

Quanto ao pedido constante na exordial da demanda de recuperação

judicial, deve ser narrado pela requerente a situação que está passando a empresa

pormenorizadamente. Sobre o tema, assim leciona o doutrinador Carlos Alberto

Farracha de Castro:

Além dos requisitos analisados, a petição inicial de recuperação judicial deve conter todos os requisitos exigidos Código de Processo Civil, bem como explicar minuciosamente o estado econômico da empresa e as razões da crise econômico-financeira e os motivos justificam o pedido (art.51,I, da LREF). Deve ser instruída com o rol de documentos e informações elencadas no art.51, da LREF, cuja prova geralmente se faz com documentos contábeis, livros, extratos bancários, declarações e certidões oficiais. Nesse particular, considerando-se a extensa relação de documentos e informações solicitadas pelo legislador, entende-se que o empresário que conseguir observa-la, no mínimo, possui uma presunção de boa-fé. (CASTRO, 2013, p.116)

Esta é uma maneira da requerente informar ao juízo e demais credores qual

a real situação vivida pela empresa além da demonstração de boa-fé desta perante

todos.

d) Sujeitos passivos:

O artigo 49 da lei 11.101/2005 faz menção expressa aos sujeitos atingidos

pela concessão de recuperação judicial, que é transcrito:

Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos. § 1

o Os credores do devedor em recuperação judicial conservam seus

direitos e privilégios contra os coobrigados, fiadores e obrigados de regresso. § 2

o As obrigações anteriores à recuperação judicial observarão as

condições originalmente contratadas ou definidas em lei, inclusive no que diz respeito aos encargos, salvo se de modo diverso ficar estabelecido no plano de recuperação judicial.

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§ 3o Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de

bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seu crédito não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere o § 4o do art. 6o desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial. § 4

o Não se sujeitará aos efeitos da recuperação judicial a importância a que

se refere o inciso II do art. 86 desta Lei. § 5

o Tratando-se de crédito garantido por penhor sobre títulos de crédito,

direitos creditórios, aplicações financeiras ou valores mobiliários, poderão ser substituídas ou renovadas as garantias liquidadas ou vencidas durante a recuperação judicial e, enquanto não renovadas ou substituídas, o valor eventualmente recebido em pagamento das garantias permanecerá em conta vinculada durante o período de suspensão de que trata o § 4

o do art.

6o desta Lei. (BRASIL, 2005)

Assim, há a abrangência de todos os credores com contratação anterior ao

feito recuperacional ao procedimento respectivo, havendo a atribuição aos credores

do poder decisório sobre a aprovação ou não do Plano de Recuperação,

conservando seus respectivos privilégios, encargos e demais perspectivas.

A legislação em comento exclui credor que possua contrato firmado com a

empresa em recuperação judicial e que possua em tal disposição a garantia

fiduciária, por entender que tal crédito está garantido por bem imóvel e que será

quitado com este.

Ainda existem algumas exceções sobre abrangência de créditos, expressas

em outros dispositivos, vez que a União, os Estados e os Municípios, e o INSS;

Titulares de crédito de contratos de alienação fiduciária em garantia, credores por

obrigações a titulo gratuito, e também por adiantamento a contrato de cambio para

exportação não estão sujeitos à recuperação judicial, conforme art. 6º, § 2º da lei

11.101/2005.

e) Foro competente:

O foro competente para proposição da ação de recuperação judicial é o

estabelecido no Art. 3º da lei de recuperação judicial, transcrito:

Art. 3º É competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a recuperação judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. (BRASIL, 2005)

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Da leitura de tal dispositivo deflui que o local do estabelecimento principal da

empresa será o foro competente para propositura da demanda.

f) Meios de recuperação:

Não só com relação a um favor legal, a lei 11.101/2005 também elenca

meios para a recuperação da empresa que se encontra em dificuldade econômico

financeira.

Estão elencados tais meios no art. 50 de tal legislação, podendo ser

utilizadas em conjunto ou alternativamente na petição inicial. Lá consta um rol

exemplificativo, não taxativo, que podemos citar: constituição de sociedade de

credores venda parcial dos bens, usufruto da empresa, administração

compartilhada, dentre outros.

A empresa também pode informar na exordial da demanda de recuperação

judicial, quais meios pretende tomar para quitar os débitos da empresa perante os

credores, não sendo necessário a obrigatoriedade de execução de medidas contidas

em tal dispositivo.

g) Analise pelo juízo:

Desta forma, utilizando das premissas acima informadas, a empresa que

passa por dificuldades financeiras poderá ajuizar pedido formal de recuperação

judicial, vez que, o juízo competente irá analisar se estão presentes todos os

requisitos informados, para que, caso estejam em ordem, exarar decisão deferindo o

processamento da recuperação judicial; Caso a documentação não esteja em ordem

ou a exordial possua erros sanáveis, o juiz determinará a emenda a inicial; caso não

sejam atendidos pedidos do juízo, será indeferida inicial, nada mais.

Estando em ordem tal documentação, o juiz proferirá o despacho de

processamento, conforme traça o art. 52 da lei 11.101/2005, nomeando

administrador judicial, dispensando o devedor de apresentar certidões negativas

para manter a atividade empresarial, exceto para contratação junto ao Poder Público

ou recebimento de incentivos fiscais, suspenderá o curso de todas as ações e

execuções em tramite face ao devedor pelo prazo de 180 dias, determinará a

apresentação pela empresa requerente de contas administrativas mensais, a

informação às Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em

que o devedor tiver estabelecimento, e também a intimação do Ministério Público,

bem como a expedição de edital para publicação em órgão oficial para aviso a

credores e aviso aos credores de que estes poderão a qualquer tempo, requerer a

20

convocação de assembleia-geral para a constituição do Comitê de Credores ou

substituição de seus membros.

A partir desta Decisão, o juízo da recuperação judicial torna-se universal, no

que tange a qualquer medida a ser tomada sobre deliberações de qualquer natureza

da empresa, não estando aptos a tomar qualquer medida, quaisquer outros juízos

onde tramitam processos face a empresa.

Nesta decisão deverá ser nomeado administrador judicial, qual receberá

remuneração fixada pelo juízo para auxiliar a empresa, e deverá cumprir com

deveres instruídos na legislação, como fiscalizar as atividades do devedor e o

cumprimento do plano de recuperação judicial, requerer a falência no caso de

descumprimento de obrigação assumida no plano de recuperação, apresentar ao

juiz, para juntada aos autos, relatório mensal das atividades do devedor, apresentar

o relatório sobre a execução do plano de recuperação, dentre outras atividades.

Com relação à dispensa de certidões negativas, assim dispõe sobre o tema

Paulo F.C. Salles de Toledo e Carlos Henrique Abrão:

Ainda no despacho de processamento da ação, o juiz dispensará (art. 52, II) a apresentação de certidões negativas para que o devedor exerça suas atividades exceto para contratação com o Poder Público e para o recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, que vier a assinar, fazer constar, após o nome empresarial, a expressão ‘em recuperação judicial’ (art. 69). É curial que a dispensa judicial de certidões não impedirá que os interessados na celebração de contratos com o devedor verifiquem, por conta própria, mediante certidões expedidas pelos cartórios de distribuição de ações, execuções fiscais e protestos de títulos, a situação patrimonial da empresa, para tomarem as decisões que julguem mais convenientes, visto que a intervenção do Poder Público, no caso por intermédio do Poder Judiciário, no domínio dos contratos privados, não vai até ao ponto de cercear o acesso a informações relevantes para discussão e fechamento de negócios jurídicos. (TOLEDO, ABRÃO, 2007, p. 154)

Da suspensão de todas as ações em tramite face a empresa em

recuperação judicial, deflui a conclusão lógica de que esta terá um período para

respirar e tentar negociar com seus credores os créditos em aberto, bem como estar

aliviada de quaisquer tipos de constrição perante seu patrimônio de processos

executórios, como a penhora online, de bens da empresa via oficial de justiça ou

demais atos inerentes a este procedimento.

Nesta égide, explica o ilustre doutrinador de direito empresarial Fábio Ulhoa

Coelho:

21

Suspendem-se as execuções individuais contra o empresário individual ou sociedade empresaria que requereu a recuperação judicial para que eles tenham fôlego necessário para atingir o objetivo pretendido da reorganização da empresa. A recuperação judicial não é execução concursal e, por isso, não se sobrepõe às execuções individuais em curso. A suspensão, aqui, tem fundamento diferente. Se as execuções continuassem, o devedor poderia ver frustrados os objetivos da recuperação judicial, em prejuízo, em ultima analise da comunhão de credores. (COELHO, 2005, p. 39)

Da decisão de processamento da recuperação judicial pelo juízo universal,

inicia-se prazo para apresentação de plano de recuperação judicial e quadro geral

de credores por parte do administrador judicial, conforme dispõe Art. 7º da lei

11.101/2005.

h) Da verificação de créditos:

A verificação de créditos no procedimento de recuperação judicial ocorre

quando da apresentação, em conjunto da exordial, de uma primeira lista de

credores, formulada pela empresa.

Posteriormente, com a nomeação de Administrador Judicial, este

apresentará uma nova lista a ser apresentada no processo de recuperação judicial,

vez que por fim, será elaborado quadro-geral de credores.

A função da verificação de cada crédito é delimitar o peso do voto de cada

credor na assembleia geral de credores, eis que credor com maior crédito terá,

consequentemente, maior poder de decisão.

Conforme citado, o responsável pela verificação de créditos é o

administrador judicial conforme pondera Gladston Mamede:

A verificação de créditos é ato realizado pelo administrador judicial, podendo contar com o auxilio de profissionais ou empresas especializadas, tomando por base os livros contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe forem apresentados pelos credores, bem como pelo devedor, entre os quais se destaca a relação de credores que lhe cabe formular e entregar. Cuida-se, portanto, de ato posterior à decretação de falência ou do processamento da recuperação judicial com as contas do empresário ou sociedade empresária. (MAMEDE, 2008, p.131-132)

Assim, segundo o artigo 52, §1º, da lei 11.101/2005, com o deferimento do

processamento da recuperação judicial, será determinada, a expedição de edital

para publicação em órgão oficial, contendo:

22

Art. 52.(...) § 1

o O juiz ordenará a expedição de edital, para publicação no órgão oficial,

que conterá: I – o resumo do pedido do devedor e da decisão que defere o processamento da recuperação judicial; II – a relação nominal de credores, em que se discrimine o valor atualizado e a classificação de cada crédito; III – a advertência acerca dos prazos para habilitação dos créditos, na forma do art. 7

o, § 1

o, desta Lei, e para que os credores apresentem objeção ao

plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor nos termos do art. 55 desta Lei. (BRASIL, 2005)

Com relação ao assunto, leciona Gladston Mamede:

No mesmo prazo, ainda segundo o artigo 7º, § 1º, da lei 11.101/2005, os credores poderão apresentar as suas divergências quanto aos créditos até então relacionados. não se trata de impugnação aos créditos alheios, mas de divergências sobre os créditos de que sejam, eles próprios, sujeitos ativos. Explico-me. O pedido de recuperação judicial, entre outros dados, deverá trazer, por força do artigo 51, III e IV, da lei 11.101/2005, (1) a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação de endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a indicação de registros contábeis de cada transação pendente, e (2) a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento. As divergências a serem apresentadas, na esteira do artigo 7º,§1º, da lei de falências e recuperação de empresas, dizem respeito a configuração que deu, em tais relações, aos crédito daquele que diverge: valor, composição do valor (principal, juros, multa, etc)e qualidade (classe e ordem). (MAMEDE, 2008, p. 135)

Desta forma, poderão os credores apresentar créditos ao administrador

judicial ou modificar os já apresentados, podendo, ainda, habilitar seu crédito

perante o processo de recuperação judicial.

Com relação à habilitação de crédito, o artigo 9º, da lei 11.101/2005

enumera o que deve conter o requerimento realizado pelo credor:

Art. 9º A habilitação de crédito realizada pelo credor nos termos do art. 7º, § 1o, desta Lei deverá conter: I – o nome, o endereço do credor e o endereço em que receberá comunicação de qualquer ato do processo; II – o valor do crédito, atualizado até a data da decretação da falência ou do pedido de recuperação judicial, sua origem e classificação; III – os documentos comprobatórios do crédito e a indicação das demais provas a serem produzidas; IV – a indicação da garantia prestada pelo devedor, se houver, e o respectivo instrumento; V – a especificação do objeto da garantia que estiver na posse do credor.

23

Parágrafo único. Os títulos e documentos que legitimam os créditos deverão ser exibidos no original ou por cópias autenticadas se estiverem juntados em outro processo. (BRASIL, 2005)

Depois de cumpridas as exigências constantes no artigo supramencionado,

por força do artigo 7º,§2º, da lei 11.101/2005, será publicado edital conforme ditado

no artigo 52,§1º da referida lei,vez que os credores terão o prazo de 15 dias para

apresentar habilitações caso seus nomes não contem em referido edital, ou

impugnar o crédito, caso o valor mencionado esteja em desacordo.

Transcorrido tal prazo, o administrador judicial apresentará edital possuindo

a relação de credores no prazo de 45 dias, eis o que menciona a lei 11.101/2005:

Art. 7o A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial,

com base nos livros contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe forem apresentados pelos credores, podendo contar com o auxílio de profissionais ou empresas especializadas. § 1

o Publicado o edital previsto no art. 52, § 1

o, ou no parágrafo único do art.

99 desta Lei, os credores terão o prazo de 15 (quinze) dias para apresentar ao administrador judicial suas habilitações ou suas divergências quanto aos créditos relacionados. § 2

o O administrador judicial, com base nas informações e documentos

colhidos na forma do caput e do § 1o deste artigo, fará publicar edital

contendo a relação de credores no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, contado do fim do prazo do § 1

o deste artigo, devendo indicar o local, o

horário e o prazo comum em que as pessoas indicadas no art. 8o desta Lei terão acesso aos documentos que fundamentaram a elaboração dessa relação. (BRASIL, 2005)

Ainda, descreve o artigo 8º da lei 11.101/2005:

Art. 8º No prazo de 10 (dez) dias, contado da publicação da relação referida no art. 7

o, § 2

o, desta Lei, o Comitê, qualquer credor, o devedor ou seus

sócios ou o Ministério Público podem apresentar ao juiz impugnação contra a relação de credores, apontando a ausência de qualquer crédito ou manifestando-se contra a legitimidade, importância ou classificação de crédito relacionado. Parágrafo único. Autuada em separado, a impugnação será processada nos termos dos arts. 13 a 15 desta Lei. (BRASIL, 2005)

Assim, abre-se oportunidade aos eventuais credores que não anuírem com

os valores publicados ou com a classificação realizada, que apresentem a

impugnação de crédito.

Também existe previsão legal na lei 11.101/2005 sobre a possibilidade de

habilitações de créditos fora do prazo estipulado, as chamadas habilitações

retardatárias, no seu artigo 10, assim lecionando sobre o tema Gladston Mamede:

24

O prazo para habilitação de créditos, viu-se, é de 15 dias contados da publicação do edital que convoca os credores para tanto, como anotado no artigo 7º,§1º, da Lei 11.101/2005. Os credores que percam tal prazo e não apresentem, tempestivamente, seu pedido, todavia, não perdem o direito à habilitação, nem ao recebimento de seus créditos. O artigo 10 da lei 1.101/2005 cuida dessas habilitações intempestivas, denominando-as habilitações de crédito retardatárias, prevendo a forma pela qual processam-se e as respectivas consequências, diferenciando-se duas hipóteses: (1) habilitações retardatárias que sejam feitas antes da homologação do quadro geral de credores e (2) habilitações retardatárias posteriores à homologação do quadro geral de credores. (MAMEDE, 2008, p.150)

Por fim, este dispositivo especifico traça parâmetros de igualdade, entre os

credores que habilitaram no momento exigido em lei, com os que habilitaram

posteriormente, seja quaisquer as razões.

i) Do plano de recuperação judicial:

Além dos meios de recuperação judicial informados na exordial da demanda

de pedido de recuperação judicial, tais resoluções ainda fictas informadas no

procedimento materializam-se para os credores como forma de pagamento de seus

créditos por meio do plano de recuperação judicial a ser apresentado pela empresa;

com prazo para apresentação expresso no art. 53 da 11.101/2005, de sessenta dias

a contar do deferimento do processamento da recuperação judicial, improrrogáveis,

sob pena de conversão automática da recuperação judicial em falência.

Conforme leciona Carlos Alberto Farracha de Castro, deve conter,

obrigatoriamente em tal plano:

O plano re recuperação obrigatoriamente deve conter: (i) a discriminação pormenorizada dos meios de recuperação, nada impedindo a eleição de dois (2) ou mais meios, bem como; (ii) a demonstração de sua viabilidade econômica e (iii) laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada, o que revela a intenção do legislador profissionalizar o processo de recuperação judicial, como forma de assegurar maior garantia aos credores e demais interessados; sem prejuízo de incentivar o envolvimento de outras disciplinas (p. ex: contabilidade, engenharia civil, administração) no processo de recuperação judicial, mesmo porque a dificuldade econômico-financeira da empresa é um problema econômico e/ou de gestão, e não jurídico. (CASTRO, 2013, p. 122).

Portanto, em tal deliberação o Plano de Recuperação Judicial deve ser fruto

de vários estudos que levem em conta aspectos qualitativos e quantitativos das

operações da empresa recuperanda, buscando o envolvimento de pessoas

25

especializadas nas áreas estratégicas, tais como: comercial, custos, produção,

tecnologia, administrativo, financeiro, negócios, jurídica, entre outras.

Desta forma, busca-se formatar um plano que contemple todas as

possibilidades de negócios envolvendo as diversas formas de operação, a fim de

aferir o resultado esperado, qual seja, a viabilização da operação normal da

empresa e o resgate de todos os créditos habilitados no processo de Recuperação

Judicial, garantindo a tranquilidade necessária para os credores.

Assim, busca-se conciliar os interesses de todos os envolvidos no processo,

apresentando soluções viáveis para que a empresa recuperanda, ofereça aos seus

credores condições superiores àquelas que seriam obtidas na eventualidade de uma

liquidação judicial. Além disso, pretende-se com a apresentação do plano, manter a

função social e histórica da empresa, quais sejam, garantir a geração de empregos,

o desenvolvimento econômico da sociedade local, bem como a manutenção e

estabilização da empresa.

j) Objeções, assembléia geral de credores e aprovação do plano:

Após a apresentação do plano de recuperação judicial pela empresa que

almeja se reerguer financeiramente e superar a crise econômico-financeira, é

publicado edital para informação de credores.

Da publicação de tal informação, é possível a apresentação de objeção ao

plano por parte de qualquer credor; caso não seja apresentada nenhuma objeção, o

plano é aprovado tacitamente, e se apresentado, é convocada assembleia geral de

credores, qual irá deliberar sobre a aprovação ou não do plano apresentado.

Assim, quando inexistir impugnação por credor, no prazo legal, previsto no

artigo 7º, §2º, da lei 11.101/05, o Plano de Recuperação Judicial estará pré-

aprovado, devendo o mesmo ser consolidado pelo Administrador Judicial, devendo

ser homologado pelo Juiz, sem qualquer objeção.

Observe-se que não se trata de decisão discricionário do julgador, mas sim

vinculada. Ou seja, inexistindo impugnação, com forme artigo 58 da lei 11.101/05, o

julgador é obrigado a conceder a Recuperação Judicial, pois assim determina a

legislação.

Com a homologação do quadro-geral de credores, tem-se uma posição final

(modificável apenas via recurso ou através de ação própria) quanto aos débitos do

recuperando, ficando aberto o caminho para um juízo de mérito quanto à viabilidade

da proposta de reorganização apresentada pelo devedor, através da comparação

26

entre a situação vislumbrada no quadro em tela e os meios de recuperação

indicados no plano de reorganização apresentado.

Assim, uma vez inexistindo impugnação, não resta caminho alternativo ao

julgador se não aprovar o Plano de Recuperação Judicial, por força legal, vez que

ele não tem o condão de impedir ou prejudicar a Recuperação Judicial, que não teve

contra si nem mesmo uma única impugnação, o que demonstra que os créditos

foram corretamente inseridos, inexistindo assim discricionariedade da sua decisão.

Assim, de forma resumida, inexistindo impugnação aos créditos não pode o

Juiz tornar-se obstáculo para a Recuperação Judicial, devendo o mesmo deferir o

Plano, nos valores ali acostados. Por outro lado, existindo divergência, poderá o

credor, no prazo legal, apresentar sua impugnação, que deverá ser apreciada pelo

julgador.

Quanto a assembleia a ser designada em caso de apresentação de objeção

por parte de credor, assim leciona Carlos Alberto Farracha de Castro:

Designada assembleia, incumbem aos credores aprovar, rejeitar ou modificar o plano de recuperação judicial, observando os quóruns mínimos exigidos pelos arts. 41 e 45 da LREF, que por sua vez dividiu os credores em 03 ( três) classes, a saber: (i) classe I titulares de crédito derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes do trabalho; (ii) classe II titulares de crédito, com garantia real; (iii) classe III, os titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio real ou subordinados. (CASTRO, 2013, p.130)

As deliberações sobre aprovação ou não do plano devem respeitar um

quórum mínimo, vez que a classe I aprova o plano pela maioria simples dos

credores que estão presentes na assembleia geral, independente do crédito a ser

recebido; quanto as classes II e III, o plano deverá ser aprovado por credores que

representem mais da metade do valor dos créditos presentes à assembleia e,

cumulativamente, pela maioria simples dos credores presentes.

Ainda é facultado à assembleia geral de credores, conforme dispõe Ricardo

Negrão:

[...] faculta-se à assembleia-geral promover alterações no plano de recuperação (LF, art. 55, §3º), que, entretanto, deverão contar com a aprovação do devedor e “em termos que não impliquem diminuição dos direitos exclusivamente dos credores ausentes”. Vale dizer que a assembléia-geral, ao modificar o plano inicial, para o qual todos os credores foram previamente convocados, não pode deliberar tão-somente no sentido de reduzir os direitos dos credores que deixaram de atender à convocação,

27

como que impondo, aos faltosos, punição pela ausência. (NEGRÃO, 2009, p. 195)

Além das duas alternativas apresentadas para aprovação do plano de

recuperação judicial, outra alternativa é apresentada pela Lei, expressa n Art. 58 da

Lei 11.101/2005, vez que o juiz pode conceder a recuperação judicial caso os votos

computados dos credores não alcancem o quórum mínimo exigido em lei, mas deve

cumprir as seguintes exigências, conforme declina o Art. 45 da Lei:

Art. 58. Cumpridas as exigências desta Lei, o juiz concederá a recuperação judicial do devedor cujo plano não tenha sofrido objeção de credor nos termos do art. 55 desta Lei ou tenha sido aprovado pela assembléia-geral de credores na forma do art. 45 desta Lei. § 1

o O juiz poderá conceder a recuperação judicial com base em plano que

não obteve aprovação na forma do art. 45 desta Lei, desde que, na mesma assembléia, tenha obtido, de forma cumulativa: I – o voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de todos os créditos presentes à assembléia, independentemente de classes; II – a aprovação de 2 (duas) das classes de credores nos termos do art. 45 desta Lei ou, caso haja somente 2 (duas) classes com credores votantes, a aprovação de pelo menos 1 (uma) delas; III – na classe que o houver rejeitado, o voto favorável de mais de 1/3 (um terço) dos credores, computados na forma dos §§ 1o e 2o do art. 45 desta Lei. § 2

o A recuperação judicial somente poderá ser concedida com base no §

1o deste artigo se o plano não implicar tratamento diferenciado entre os credores da classe que o houver rejeitado. (BRASIL, 2005)

O artigo 58, § 1º da Lei de Falências autoriza o juiz a homologar o plano de

recuperação judicial, ainda que sem a aprovação dos credores na forma do art. 45

da Lei, desde que presentes, cumulativamente, os requisitos nele estabelecidos.

Nesse contexto, em homenagem ao princípio da preservação da empresa e

ao cumprimento da sua função social, é lícito ao Juiz promover a exclusão do voto

de credor que exerce seu direito de maneira abusiva e contrária aos interesses dos

demais credores, possibilitando, assim, a recuperação judicial da sociedade

devedora.

Caso seja rejeitado o plano de recuperação judicial pelos credores, o juiz

decretará a falência da empresa, conforme denota-se do art. 54 da Lei, vez que, se

a documentação apresentada em conjunto com o plano, e analisada pelo quórum

exigido em Lei não estiver de acordo com os maiores interessados, que são os

trabalhadores e credores, o Juiz estará somente decidindo pela vontade de todos os

envolvidos.

28

Entretanto, se houver indícios de qualquer irregularidade no decorrer da

assembleia, o Juiz pode invalida-la, designando nova data para realização, bem

como se houver abuso de direito por parte de um dos credores com maior crédito ao

plano, o juiz também poderá fundamentar decisão descrevendo tal fato e aprovar o

plano apresentado.

Assim, aprovado o plano em assembleia geral de credores, os autos irão

conclusos para concessão da recuperação judicial, prolatada por meio de sentença

de eficácia constitutiva, vez que estabelece novo status a empresa recuperanda.

Porém, conforme determina o art. 59, § 2º, da lei 11.101/2005, o recurso cabível é o

agravo, pois o processo de recuperação judicial deve prosseguir, com a geração de

efeitos e consequências.

k) Efeitos da decisão de concessão da recuperação judicial:

A homologação do plano de recuperação judicial pelo juízo universal gera

uma série de efeitos, quais sejam:

Ocorre a novação dos créditos anteriores ao pedido, conforme art. 59 da

lei 11.101/2005;

Impede a alienação por parte da empresa recuperanda de bem que seja

dado em garantia real, a supressão, ou a substituição da garantia sem a

expressa anuência do credor;

A sentença de homologação do plano constitui um título executivo

judicial, nos termos do Art. 584, III, do código de Processo civil;

Caso haja previsão de venda de filiais ou unidades produtivas com

alienação fiduciária, esta deverá obedecer o disposto no art. 143 da Lei

11.101/2005, vez que é a regra geral estabelecida em lei;

Proíbe a empresa recuperanda de alienar ou onerar bens sem a prévia

autorização do juízo universal ou do comitê de credores, na forma do art.

66 da lei 11.101/2005;

Há a obrigatoriedade prevista na legislação de constar após o nome

empresarial, em todos os atos, contratos e documentos, a expressão “

em recuperação judicial”, art. 69 da lei 11.101/2005;

Anotação da recuperação judicial no na junta comercial onde está

registrado contrato social da empresa.

29

A decisão de concessão da recuperação judicial mantém as seguintes

disposições, inalterando a manutenção da variação cambiaria dos créditos

adquiridos em moeda estrangeira, salvo a expressa anuência do credor, instada

quando da deliberação de aprovação do plano, e o devedor ou seus administradores

no cargo que mantinham, salvo se houver afastamento previsto no plano ou se

ocorrerem fatos impeditivos durante o procedimento de recuperação judicial, vez que

será nomeado pelo juízo gestor que irá manter as atividades empresariais sendo

aprovado em assembleia geral de credores e receberá mesma remuneração do

administrador judicial, bem como o direito da empresa pleitear e obter o

parcelamento de dividas fiscais, não abarcadas pelo procedimento de recuperação

judicial.

l) Decisão de cumprimento e encerramento da recuperação judicial:

Ocorrendo a concessão da recuperação judicial, a decisão acima destacada

permanece em vigor até que sejam cumpridas todas as determinações pelo devedor

previstas no plano de recuperação judicial, sujeitando- se ainda até as vencidas até

dois anos após esta concessão.

Se nesse período de dois anos após a concessão, todas as obrigações

previstas no plano de recuperação judicial estiverem sendo cumpridas pela empresa

recuperanda, o juiz decretará, por meio de sentença, o encerramento da

recuperação judicial, determinando, o disposto no Art. 63 da lei 11.101/2005:

Art. 63. Cumpridas as obrigações vencidas no prazo previsto no caput do art. 61 desta Lei, o juiz decretará por sentença o encerramento da recuperação judicial e determinará: I – o pagamento do saldo de honorários ao administrador judicial, somente podendo efetuar a quitação dessas obrigações mediante prestação de contas, no prazo de 30 (trinta) dias, e aprovação do relatório previsto no inciso III do caput deste artigo; II – a apuração do saldo das custas judiciais a serem recolhidas; III – a apresentação de relatório circunstanciado do administrador judicial, no prazo máximo de 15 (quinze) dias, versando sobre a execução do plano de recuperação pelo devedor; IV – a dissolução do Comitê de Credores e a exoneração do administrador judicial; V – a comunicação ao Registro Público de Empresas para as providências cabíveis. (BRASIL, 2005)

Caso haja o descumprimento das obrigações traçadas no plano de

recuperação judicial no prazo de dois anos, as ações de credores deverão ser

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realizadas individualmente, mediante execução da obrigação outrora assumida ou

requerimento de falência por partes destes, fundando no art. 94 da lei de falências.

m) Pedido de falência por parte de credores:

Conforme determina o art. 73 da lei 11.101/2005, existem quatro hipóteses

onde pode ocorrer a falência do devedor em recuperação judicial, que podem

ocorrer em situações distintas no procedimento recuperacional, vez que pode

ocorrer quando não há a apresentação de plano de recuperação judicial, no prazo

improrrogável de sessenta dias, quando há a apresentação de plano de recuperação

judicial pela empresa e este é rejeitado pelos credores em realização de assembleia

geral, quando há realização de assembleia geral de credores para fim de

deliberação de discutir e aprovar a resolução do regime e sua convolação em

falência e, descumprimento das obrigações por parte da empresa recuperando

durante o biênio pós concessão da recuperação judicial..

Sobre o descumprimento das obrigações assumidas no plano de

recuperação judicial, assim leciona Ricardo Negrão:

Durante o biênio, o descumprimento de qualquer obrigação assumida acarretará a decretação de falência do devedor e os credores terão seus créditos reconstituídos, com suas respectivas garantias, segundo as condições previstas no plano aprovado, com a dedução de eventuais valores que tenham sido pagos durante o procedimento. (NEGRÃO, 2013, p.236)

Desta forma, a empresa em recuperação judicial deverá cumprir

regularmente o plano aprovado, sob pena de incorrer nas situações acima expostas.

31

4 PRINCIPIOS NORTEADORES DA LEI 11.101/2005

4.1 PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA

Se tornou notório com a publicação da lei 11.101/2005 que o fim da

Recuperação Judicial consiste no oferecimento de instrumentos à empresa por meio

da legislação em comento, que viabilizem a superação do estado de crise

econômico-financeira do devedor, permitindo a manutenção das atividades da

empresa, conforme preceitua o artigo 47 da Lei nº 11.101/2005:

Art. 47. A Recuperação Judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. (BRASIL, 2005)

Tal ideia autentica o expresso nos Artigos 170, caput, IV e VIII1, todos da

Constituição Federal, quais dispõem sobre a necessidade da manutenção da

atividade empresária, exigindo, portanto, uma atuação pró-ativa do Estado no

sentido de fornecer condições para que a tutela prometida seja assegurada em seus

termos.

Dessa forma, o sucesso da lei 11.101/2005 e, da Recuperação Judicial de

qualquer empresa que atenda os requisitos estatuídos em lei, depende da correta

interpretação do texto legal, com consequente concessão, também por parte do

Estado, de meios que viabilizem a Recuperação Judicial.

Isso porque o instituto da Recuperação Judicial, consubstanciado no

princípio da preservação da empresa, representa uma variada gama de interesses,

como bem mencionado na obra de Fábio Campinho, a qual se pede vênia para

transcrever:

A Recuperação Judicial, segundo perfil que lhe reservou o ordenamento, apresenta-se como um somatório de providências de ordem econômico-financeiras, econômico-produtivas, organizacionais e jurídicas, por meio das quais a capacidade produtiva de uma empresa possa, da melhor forma, ser

1 Art. 170 - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: IV - livre concorrência; VIII - busca do pleno emprego;

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reestruturada e aproveitada, alcançando uma rentabilidade auto-sustentável, superando, com isso, a situação de crise econômico-financeira em que se encontra seu titular – o empresário -, permitindo a manutenção da fonte produtora, do emprego e a composição dos interesses dos credores (cf. art. 47). (CAMPINHO, 2008, p.10)

E, ainda, Rachel Stanjz leciona:

A manutenção de empregos, o respeito aos interesses dos credores, a garantia da produção e circulação de bens e serviços em mercados são objeto de específica tutela na reorganização, desde que sejam respeitados os fundamentos econômicos da organização das empresas, de sua participação nos mercados, no criar e distribuir bem-estar, gerar riquezas. (...) Agora, antes de determinar a quebra analisam-se as probabilidades de sobrevida do negócio, sob mesma ou outra administração, com o que se altera o foco da tutela que anteriormente era o mercado de crédito e a confiança, para, mantida esta, tutelar o devedor de boa-fé. (STANJZ, 2007, p. 223)

Assim, o fim disposto no artigo mencionado, ao tratar especificamente ao

procedimento da recuperação judicial, prevendo, neste diapasão, que a função deste

instituto é a ajuda à empresa em dificuldade econômico-financeira, mantendo a

atividade empresarial e a fonte produtiva de recursos que circularão na economia.

Assim, verifica-se que a legislação recuperacional tem o propósito de

maximizar os recebíveis dos credores e, por outro lado, de evitar que os efeitos de

eventuais crises empresariais se alastrem de forma gravosa e indiscriminada sobre

empresas com perspectivas duradouras.

Portanto, este é precisamente o escopo do princípio da preservação da

empresa, possibilitando-se que os impactos de uma crise sejam restringidos ao

máximo para as empresas que eventualmente venham a utilizar deste instituto.

Ainda, leciona sobre o tema Gladston Mamede:

Essa compreensão da empresa por sua dimensão e finalidades privadas, no entanto, não exclui a compreensão concomitante de sua função social, ou seja, do interesse que a comunidade como um todo, organizada em Estado, tem sobre a atividade econômica organizada, ainda que se trate de atividade provada, regida por regime jurídico privado. A organização estruturada dos meios e processos de produção para intervenção e atuação no mercado, visando a produção de vantagens econômicas apropriáveis, é determinada pela produção e circulação de bens e/ou pela prestação de serviços e, embora a finalidade imediata seja remunerar o capital nela investido, beneficiando os seus sócios quotistas ou acionistas, há um benefício mediato que alcança empregados, fornecedores, consumidores, o Estado. A proteção da empresa, portanto, não é proteção do empresário, nem da sociedade empresária, mas da proteção da comunidade e do Estado que se beneficiam – no mínimo indiretamente – com a sua atividade. (MAMEDE, 2006 p. 182)

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Assim, a liquidação definitiva de uma empresa que, apesar de acometida de

dificuldades financeiras se mostre viável, representa um grande prejuízo para a

sociedade, eis que se perdem, principalmente, postos de trabalho, fontes de renda

tributária, dentre inúmeros outros interesses da mais relevante importância.

4.1.1 Da evolução da utilização do principio da preservação da empresa em

recuperação judicial

Atualmente quando uma empresa é acometida de dificuldade financeira,

esta se obriga a escolher quais pagamentos serão efetuados, sendo que, será

utilizado como exemplo, empresa em recuperação judicial que atrasa no

adimplemento ao Fisco, seja este Federal, Estadual ou Municipal.

Neste contexto, o artigo 6º da lei 11.101/2005, dispõe que quando do

deferimento do processamento da recuperação judicial, serão suspensas as ações

que tramitam face a recuperanda, com algumas ressalvas, verifica-se:

Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário. § 1º Terá prosseguimento no juízo no qual estiver se processando a ação que demandar quantia ilíquida. § 2º É permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou modificação de créditos derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza trabalhista, inclusive as impugnações a que se refere o art. 8o desta Lei, serão processadas perante a justiça especializada até a apuração do respectivo crédito, que será inscrito no quadro-geral de credores pelo valor determinado em sentença. § 3º O juiz competente para as ações referidas nos §§ 1º e 2º deste artigo poderá determinar a reserva da importância que estimar devida na recuperação judicial ou na falência, e, uma vez reconhecido líquido o direito, será o crédito incluído na classe própria. § 4º Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial. § 5º Aplica-se o disposto no § 2o deste artigo à recuperação judicial durante o período de suspensão de que trata o § 4o deste artigo, mas, após o fim da suspensão, as execuções trabalhistas poderão ser normalmente concluídas, ainda que o crédito já esteja inscrito no quadro-geral de credores. § 6º Independentemente da verificação periódica perante os cartórios de distribuição, as ações que venham a ser propostas contra o devedor deverão ser comunicadas ao juízo da falência ou da recuperação judicial: I – pelo juiz competente, quando do recebimento da petição inicial;

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II – pelo devedor, imediatamente após a citação. § 7º As execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da recuperação judicial, ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do Código Tributário Nacional e da legislação ordinária específica. § 8º A distribuição do pedido de falência ou de recuperação judicial previne a jurisdição para qualquer outro pedido de recuperação judicial ou de falência, relativo ao mesmo devedor. (BRASIL, 2005)

Entre as exceções, consta no § 7º do referido artigo, que as execuções

fiscais não serão suspensas, porém o prosseguimento indefinido das Execuções

Fiscais, além de ferir o princípio da pars conditio creditorum, fatalmente estrangulará

o fluxo de caixa previsto para o adimplemento do Plano de Recuperação Judicial.

Ainda, acaso a empresa não tenha êxito de adimplir com o fisco em conjunto

com o plano de recuperação judicial, restará para esta apenas a possibilidade de

parcelar os débitos, havendo assim, a suspensão da exigibilidade dos créditos

tributários.

No entanto, existem empresas que não possuem condições de se enquadrar

nas possibilidades acima elencadas, à vista de sua dificuldade econômico-

financeira, qual fatalmente piorará através de eventuais constrições de patrimônio

referentes ao prosseguimento de execuções individuais.

Corroborando com o até aqui asseverado, verifica-se que o cenário

jurisprudencial se alterou, pois o Poder Judiciário tem compreendido que a

legislação recuperacional visa permitir que as empresas em dificuldade se viabilizem

e tenham garantido o direito de acesso a planos de parcelamento que possam

manter o ciclo produtivo, os empregos e a satisfação de interesses econômicos e de

consumo da comunidade.

Neste sentido, verifica-se que ao julgar, o Conflito de Competência de nº

107.065, o Colendo Superior Tribunal de Justiça lançou em 13/10/2010 o seguinte

aresto:

CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL E JUÍZO TRABALHISTA. LEI Nº 11.101/05. PRESERVAÇÃO DOS INTERESSES DOS DEMAIS CREDORES. MANUTENÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA. FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA. INCOMPATIBILIDADE ENTRE O CUMPRIMENTO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO E A MANUTENÇÃO DE AÇÕES INDIVIDUAIS. COMPETÊNCIA DO JUÍZO UNIVERSAL. DECISÃO 1. Cuida-se de conflito positivo de competência instaurado por Sata Serviços Auxiliares de Transporte Aéreo S/A – em Recuperação Judicial, apontando como suscitados o Juízo de Direito da 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro e diversos Juízos Trabalhistas, nos quais se processam várias reclamações trabalhistas. Objetiva a declaração de competência para atuar nas ações e

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execuções laborais da empresa que se encontra em regime de recuperação judicial desde 03 de fevereiro de 2009, já com decisão de homologação do seu plano de recuperação. Alega que os Juízos Trabalhistas ora suscitados, a despeito da ordem de suspensão de todas as ações e execuções em curso contra a ora suscitante, desrespeitam esta determinação, sendo estabelecido o prosseguimento das execuções trabalhistas. Sustenta ser competente o Juízo de Direito da 4ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro para decidir sobre as questões referentes à recuperação judicial. Pleiteia, liminarmente, a suspensão das execuções trabalhistas e de todos os atos delas decorrentes, designando-se o juízo universal da recuperação para resolver, em caráter provisório, as medidas urgentes. Postula, ao final, que seja declarada a competência do Juízo da 4ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro. Deferi a liminar para determinar o sobrestamento dos atos de alienação de bens da suscitante, sendo designado o Juiz de Direito da 4ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro para solucionar, em caráter provisório, as medidas urgentes(fls. 191/194). Foram prestadas as informações pelos juízos envolvidos. O Ministério Público Federal, em parecer de fls. 359/371, da lavra do ilustre Subprocurador-Geral da República Dr. Pedro Henrique Távora Niess, opinou pela declaração da competência do Juízo da recuperação judicial.É o relatório. 2. Decido. O debate gira em torno da interpretação do art. 6º, §§ 4º e 5º, da Lei 11.101/05, que trata da suspensão das ações e execuções em face do devedor quando deferido o processamento da recuperação judicial. A aplicação desses preceitos, porém, tem intenso debate, pois se mostra de difícil conciliação a implementação do plano de recuperação ao mesmo tempo em que o patrimônio da empresa recuperanda vai sendo chamado a responder pelas execuções individuais. Assim, as decisões oriundas dos diversos Juízos do Trabalho, nos autos das reclamações trabalhistas atingem e, por consequência, têm o condão de alterar o plano de recuperação da empresa ré, que tramita no Juízo de Direito da 4ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro, o que não se pode admitir a teor do princípio maior da preservação da empresa. Destarte, no caso, o Juízo competente é o Juízo da recuperação judicial, pois o destino do patrimônio da suscitante, em processo de recuperação judicial, não pode ser afetado por decisões prolatadas por Juízo diverso do que é competente para a recuperação, sob pena de prejudicar o funcionamento da empresa, comprometendo o sucesso do plano de recuperação, ainda que ultrapassado o prazo legal de suspensão constante do § 4º do art. 6º, da Lei nº 11.101/2005, com violação ao princípio da continuidade da empresa, previsto no art. 47 da mesma Lei. Ademais, a controvérsia posta nos autos encontra-se sedimentada noâmbito da Segunda Seção desta Corte, que reconhece ser o Juízo onde se processa a recuperação judicial o competente para julgar as causas em que estejam envolvidos interesses e bens da empresa recuperanda, inclusive para o prosseguimento dos atos de execução, relativa a fatos anteriores ao deferimento da recuperação judicial, devendo, portanto, se submeter ao plano, sob pena de inviabilizar a recuperação. Confiram-se, nesse sentido, os seguintes julgados: PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO DE DIREITO E JUIZADO ESPECIAL CÍVEL. PROCESSO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL (LEI N. 11.101/05). AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. VALOR DA CONDENAÇÃO. CRÉDITO APURADO. HABILITAÇÃO. ALIENAÇÃO DE ATIVOS E PAGAMENTOS DE CREDORES. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PRECEDENTES DO STJ. 1. Com a edição da Lei n. 11.101/05, respeitadas as especificidades da falência e da recuperação judicial, é competente o respectivo Juízo para prosseguimento dos atos de execução, tais como alienação de ativos e pagamento de credores, que envolvam créditos apurados em outros órgãos judiciais, inclusive trabalhistas, ainda que tenha ocorrido a constrição de bens do devedor. 2. Após a apuração do montante

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devido, processar-se-á no juízo da recuperação judicial a correspondente habilitação, sob pena de violação dos princípios da indivisibilidade e da universalidade, além de desobediência ao comando prescrito no art. 47 da Lei n. 11.101/05. 3. Conflito de competência conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da 1ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro (RJ). (CC 90.160/RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJe 05/06/2009); CONFLITO DE COMPETÊNCIA - ARRESTO DOS BENS DA EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL - IMPOSSIBILIDADE - SUSPENSÃO DAS EXECUÇÕES INDIVIDUAIS - NECESSIDADE. - PRECEDENTES - COMPETÊNCIA DO JUÍZO EM QUE SE PROCESSA A RECUPERAÇÃO JUDICIAL. I - A e. 2ª Seção desta a. Corte, ao sopesar a dificuldade ou mesmo total inviabilização da implementação do plano de recuperação judicial, decorrente da continuidade das execuções individuais, concluiu que, aprovado e homologado o plano de recuperação judicial, os créditos deverão ser executados de acordo com as condições ali estipuladas; II - Convalidação da liminar anteriormente concedida, reconhecendo a competência do r. JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL DO FORO DISTRITAL DE CAIEIRAS/SP. (CC 98.264/SP, Rel. Min. Massami Uyeda, DJe 06/04/2009); RECUPERAÇÃO JUDICIAL. JUÍZO UNIVERSAL. DEMANDAS TRABALHISTAS. PROSSEGUIMENTO. IMPOSSIBILIDADE. 1 - Há de prevalecer, na recuperação judicial, a universalidade, sob pena de frustração do plano aprovado pela assembléia de credores, ainda que o crédito seja trabalhista. 2 - Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo - SP.(CC 90.504/SP, Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJe 01/07/2008); CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. VASP. EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PLANO DE RECUPERAÇÃO APROVADO E HOMOLOGADO. EXECUÇÃO TRABALHISTA. SUSPENSÃO POR 180 DIAS. ART. 6º, PARÁGRAFOS DA LEI 11.101/05. MANUTENÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA. FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA. INCOMPATIBILIDADE ENTRE O CUMPRIMENTO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO E A MANUTENÇÃO DE EXECUÇÕES INDIVIDUAIS. PRECEDENTE DO CASO VARIG - CC 61.272/RJ. CONFLITO PARCIALMENTE CONHECIDO. 1. A execução individual trabalhista e a recuperação judicial apresentam nítida incompatibilidade concreta, porque uma não pode ser executada sem prejuízo da outra. 2. A novel legislação busca a preservação da sociedade empresária e a manutenção da atividade econômica, em benefício da função social da empresa. 3. A aparente clareza do art. 6º, §§ 4º e 5º, da Lei 11.101/05 esconde uma questão de ordem prática: a incompatibilidade entre as várias execuções individuais e o cumprimento do plano de recuperação. 4. "A Lei nº 11.101, de 2005, não terá operacionalidade alguma se sua aplicação puder ser partilhada por juízes de direito e por juízes do trabalho." (CC 61.272/RJ, Segunda Seção, Rel. Min. Ari Pargendler, DJ de 25.06.07). 5. Conflito parcialmente conhecido para declarar a competência do Juízo da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da Comarca de São Paulo. (CC 73380/SP, Rel. Ministro Hélio Quaglia Barbosa, DJe 21/11/2008). AGRAVO REGIMENTAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA. DEPÓSITOS RECURSAIS ANTERIORES À QUEBRA.- É do juízo falimentar a competência para decidir sobre o destino dos depósitos recursais feitos no curso de reclamação trabalhista movida contra a falida, ainda que anteriores à decretação da falência.(AgRg no CC 87194/SP, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 26/09/2007, DJ 04/10/2007 p. 165) 3. Ante o exposto, nos termos do art. 120, parágrafo único, do Código de Processo Civil, conheço do conflito para declarar competente o Juízo de Direito da 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro. Publique-se. Intimem-se. Brasília, 22 de março de 2011. Ministro Luis Felipe Salomão Relator (STJ - CC: 107065 , Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Publicação: DJ 30/03/2011)

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(STJ - CC: 107065 , Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Publicação: DJ 30/03/2011)

Tal avanço jurisprudencial proferido pelo Egrégio superior Tribunal de

Justiça não é singular, como se observa do aresto abaixo colacionado:

CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. VASP. EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PLANO DE RECUPERAÇÃO APROVADO E HOMOLOGADO. EXECUÇÃO TRABALHISTA. SUSPENSÃO POR 180 DIAS. ART. 6º, CAPUT E PARÁGRAFOS DA LEI 11.101/05. MANUTENÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA. FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA. INCOMPATIBILIDADE ENTRE O CUMPRIMENTO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO E A MANUTENÇÃO DE EXECUÇÕES INDIVIDUAIS. PRECEDENTE DO CASO VARIG - CC 61.272/RJ. CONFLITO PARCIALMENTE CONHECIDO. 1. A execução individual trabalhista e a recuperação judicial apresentam nítida incompatibilidade concreta, porque uma não pode ser executada sem prejuízo da outra. 2. A novel legislação busca a preservação da sociedade empresária e a manutenção da atividade econômica, em benefício da função social da empresa. 3. A aparente clareza do art. 6º, §§ 4º e 5º, da Lei 11.101/05 esconde uma questão de ordem prática: a incompatibilidade entre as várias execuções individuais e o cumprimento do plano de recuperação. 4. "A Lei nº 11.101, de 2005, não terá operacionalidade alguma se sua aplicação puder ser partilhada por juízes de direito e por juízes do trabalho." (CC 61.272/RJ, Segunda Seção, Rel. Min. Ari Pargendler, DJ de 25.06.07). (grifo nosso).

No mesmo sentido é o raciocínio do Eminente Ministro Vasco Della Giustina,

exposto em seu voto quando do julgamento do CC 104.638/SP:

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL. EXECUÇÃO FISCAL.RECUPERAÇÃO JUDICIAL. MEDIDA LIMINAR DEFERIDA. AGRAVO REGIMENTAL NÃOPROVIDO. 1. As execuções fiscais não são suspensas pelo deferimento darecuperação judicial, contudo, após o deferimento do pedido derecuperação e aprovação do respectivo plano, pela Assembléia Geralde Credores, é vedada a prática de atos que comprometam o patrimônioda devedora, pelo Juízo onde se processam as execuções. 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ - AgRg no CC: 104638 SP 2009/0072119-0, Relator: Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), Data de Julgamento: 10/03/2010, S2 - SEGUNDA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 28/04/2010)

Desta forma, conforme a jurisprudência tem utilizado e determinado a

impossibilidade de quaisquer constrições advindas destes executivos, as quais,

fatalmente, comprometeriam ainda mais o patrimônio necessário a recuperanda para

desenvolver suas atividades e o seu próprio plano recuperacional.

Assim, o sucesso do procedimento recuperacional de eventual empresa em

recuperação judicial que possua grande passivo tributário, depende da correta e

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teleológica leitura do texto legal com consequente concessão, por parte do Poder

Judiciário, de meios que viabilizem o pagamento das dívidas oriundas com o Fisco

de maneira viável.

Ademais, cabe observar que tal atitude pró-ativa do Poder Judiciário aplicar

casuisticamente a analogia legislativa estará, fundamentalmente, observando a

adequada preservação da empresa e de todos os empregos diretos e indiretos por

esta proporcionados.

4.2 DEMAIS PRINCIPIOS CONSTANTES NO PROCEDIMENTO DE

RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Ainda que o principio da preservação da empresa seja o mais evidente e

aclamado na legislação sobre o assunto, o legislador estabeleceu uma multiplicidade

de elementos que visam a recuperação da empresa, tentando manter a dinâmica

dos três aspectos fundamentais desta: manutenção da fonte produtora, empregos

dos trabalhadores e interesse dos credores.

Portanto, há uma série de outros princípios presentes na lei 11.101/2005,

quais sejam:

a) A supremacia da recuperação da empresa sobre o sujeito interessado

da atividade, promovendo, se necessário, o desligamento de

administradores e sócios, possibilitando uma melhor administração da

empresa (arts. 50, III, IV, X e XIV, 64 e 65);

b) Manutenção da atividade da fonte produtora, bem como emprego dos

trabalhadores, impossibilitando a alienação de bens pertencentes à

empresa (art.66), bem como a venda ou retirada de bens de credores

titulares de garantias privilegiadas(art. 49§3º);

c) A manutenção do interesse dos credores (art.47), submetendo à

assembleia geral, deliberações importantes quanto a continuidade da

atividade da empresa;

d) Necessária observação de princípios da unidade e igualdade de

tratamento dos credores como meio de solução nas relações do

patrimônio da empresa.

Observando tais princípios, deflui que após a empresa intentar o

procedimento recuperacional, tudo deve passar pelo crivo dos credores, para

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manutenção da atividade empresarial, sem a possibilidade de onerar bens sem o

consentimento destes.

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5 DA IMPOSSIBILIDADE DE SE EXPROPRIAR BENS DA EMPRESA EM

RECUPERAÇÃO JUDICIAL

5.1 POSSIBILIDADE DE EXTENSÃO DO PRAZO DE SUSPENSÃO DAS AÇÕES

QUE TRAMITAM EM FACE DE EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL

O disposto no artigo 6º, §4º da lei 11.101/2005 nos revela o prazo de 180

(cento e oitenta) dias de suspensão de ações que tramitam face a empresa em

recuperação judicial, após o deferimento do processamento da recuperação judicial,

veja-se:

Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário.(...) § 4º Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial. (BRASIL, 2005)

Como se tem demonstrado em aspectos práticos que esse tempo é muito

escasso, existe uma tendência jurisprudencial e doutrinária se formando, qual

leciona que este prazo seria exíguo para sanear o caixa da empresa, permitindo o

inicio ou o retorno ou o pagamento de valores referentes a quitação de execuções

de quaisquer naturezas, vez que seria necessário um prazo maior de suspensão.

Para traçar um equilíbrio entre a necessidade de um prazo maior pela

empresa recuperanda e a legislação, há de ser analisado o tratamento dado ao

assunto pelos tribunais pátrios.

O Tribunal de Justiça do Estado de Minas-Gerais adota a legislação como

base, conservando o prazo estabelecido em lei. Verifica-se pela emente do seguinte

julgado:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - RECUPERAÇÃO JUDICIAL - LEI N. 11.101/2005 - SUSPENSÃO DAS AÇÕES EM FACE DO DEVEDOR - PRAZO MÁXIMO DE 180 DIAS A CONTAR DO DEFERIMENTO DO PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL - HABILITAÇÃO DE CRÉDITO - NÃO OCORRÊNCIA DA 'VIS ATRACTIVA' DE AÇÃO AJUIZADA ANTES DO DEFERIMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL. Nos termos do art. 6º, caput c/c §4º, da Lei n. 11.101/2005, o

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deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário, por um prazo não excedente a 180 (cento e oitenta dias). Tratando-se de ação proposta antes da declaração do ajuizamento da recuperação judicial da requerida, não se opera a 'vis attractiva' do Juízo Empresarial, conforme inteligência dos artigos 6º e 76 da Lei n. 11.101/2005. AGRAVO DE INSTRUMENTO N° 1.0145.03.105457-3/004 - COMARCA DE JUIZ DE FORA - AGRAVANTE(S): MARCO ANTONIO GAZZINELLI DE LIMA - AGRAVADO(A)(S): GRUPO COMUNICACAO TRES S/A - RELATOR: EXMO. SR. DES. VALDEZ LEITE MACHADO Relator: VALDEZ LEITE MACHADO, Data do Julgamento: 26/03/2009. (grifo nosso)

Já o superior Tribunal de Justiça, decidiu em sede de conflito de

competência, que a manutenção da suspensão das execuções após o transcurso do

prazo de 180 dias tornaria inviável a realização de pagamento dos créditos pela

empresa em recuperação judicial, veja-se:

CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. VASP. EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PLANO DE RECUPERAÇÃO APROVADO E HOMOLOGADO. EXECUÇÃO TRABALHISTA. SUSPENSÃO POR 180 DIAS. ART. 6º, CAPUT E PARÁGRAFOS DA LEI 11.101/05. MANUTENÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA. FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA. INCOMPATIBILIDADE ENTRE O CUMPRIMENTO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO E A MANUTENÇÃO DE EXECUÇÕES INDIVIDUAIS. PRECEDENTE DO CASO VARIG - CC 61.272/RJ. CONFLITO PARCIALMENTE CONHECIDO. 1. A execução individual trabalhista e a recuperação judicial apresentam nítida incompatibilidade concreta, porque uma não pode ser executada sem prejuízo da outra. 2. A novel legislação busca a preservação da sociedade empresária e a manutenção da atividade econômica, em benefício da função social da empresa. 3. A aparente clareza do art. 6º, §§ 4º e 5º, da Lei 11.101/05 esconde uma questão de ordem prática: a incompatibilidade entre as várias execuções individuais e o cumprimento do plano de recuperação. 4. "A Lei nº 11.101, de 2005, não terá operacionalidade alguma se sua aplicação puder ser partilhada por juízes de direito e por juízes do trabalho." (CC 61.272/RJ, Segunda Seção, Rel. Min. Ari Pargendler, DJ de 25.06.07). (grifo nosso)

Assim, se denota que apesar de haver tribunais que prezam pelo

conservação da legislação, o Superior Tribunal de Justiça preza pela interpretação

da lei, possuindo uma visão mais progressiva e abrangente do termo, trazendo

oportunidade da manutenção da atividade empresarial, ajustando a lei no sentido de

servir a sociedade, não permitindo a expropriação de bens da empresa em

recuperação judicial, mesmo quando transcorrido prazo descrito em lei no que se

refere a suspensão de ações que tramitam face a esta.

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5.2 DA INTERPRETAÇÃO DA LEGISLAÇÃO PELOS TRIBUNAIS SUPERIORES

Desta forma, analisados os princípios norteadores da recuperação judicial,

bem como ao procedimento da ação com suas peculiaridades exigidas em lei,

podemos traçar mais algumas considerações sobre o tema, quais em conjunto

permitirão sopesar o tema na forma apresentada.

Como já afirmado em tópico precedente, o Superior Tribunal de Justiça tem

decidido a favor dos princípios basilares da lei 11.101/2005, não permitindo a

expropriação de bens da empresa em recuperação judicial, permitindo que a

empresa se recupere de forma efetiva, não se tornando assim a legislação apenas

um mecanismo de sobrevida da empresa em dificuldade econômico financeira.

Mostra disso é a decisão exarada pelo Ministro do tribunal mencionado, Luis

Felipe Salomão, ressaltando que no eminente conflito entre a possibilidade de

recuperar a empresa e o pagamento de créditos, deve prevalecer a primeira opção,

primando pela preservação da empresa, verifica-se pelo seguinte julgado:

CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. COMERCIAL. LEI 11.101/05. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PROCESSAMENTO DEFERIDO. 1. A DECISÃO LIMINAR DA JUSTIÇA TRABALHISTA QUE DETERMINOU A INDISPONIBILIDADE DOS BENS DA EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL, ASSIM TAMBÉM DOS SEUS SÓCIOS, NÃO PODE PREVALECER, SOB PENA DE SE QUEBRAR O PRINCÍPIO NUCLEAR DA RECUPERAÇÃO, QUE É A POSSIBILIDADE DE SOERGUIMENTO DA EMPRESA, FERINDO TAMBÉM O PRINCÍPIO DA "PAR CONDITIO CREDITORUM". 2. É COMPETENTE O JUÍZO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL PARA DECIDIR ACERCA DO PATRIMÔNIO DA EMPRESA RECUPERANDA, TAMBÉM DA EVENTUAL EXTENSÃO DOS EFEITOS E RESPONSABILIDADES AOS SÓCIOS, ESPECIALMENTE APÓS APROVADO O PLANO DE RECUPERAÇÃO. 3. OS CRÉDITOS APURADOS DEVERÃO SER SATISFEITOS NA FORMA ESTABELECIDA PELO PLANO, APROVADO DE CONFORMIDADE COM O ART. 45 DA LEI 11.101/2005. 4. NÃO SE MOSTRA PLAUSÍVEL A RETOMADA DAS EXECUÇÕES INDIVIDUAIS APÓS O MERO DECURSO DO PRAZO LEGAL DE 180 DIAS. CONFLITO CONHECIDO PARA DECLARAR A COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA 3ª VARA DE MATÃO/SP (STJ , Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento: 26/11/2008, S2 - SEGUNDA SEÇÃO). CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 68.173 - SP (2006/0176543-8) RELATOR: MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO. (grifo nosso)

Para o doutrinador Fábio Ulhoa Coelho corroborando o aresto acima

colacionado, devem correr as execuções quando não há a aprovação do plano de

recuperação judicial, vez que se aprovado, devem ser pagos os valores segundo as

regras nele estipuladas:

43

Se a suspensão das execuções contra o falido justifica-se pela irracionalidade da concomitância de duas medidas judiciais satisfativas (a individual e a concursal) voltadas ao mesmo objetivo, na recuperação judicial o fundamento é diverso. Suspendem-se as execuções individuais contra o empresário individual ou sociedade empresária que requereu a recuperação judicial para que eles tenham o fôlego necessário para atingir o objetivo pretendido da reorganização da empresa. A recuperação judicial não é execução concursal e, por isso, não se sobrepõe às execuções individuais em curso. A suspensão, aqui, tem fundamento diferente. Se as execuções continuassem, o devedor poderia ver frustrados os objetivos da recuperação judicial, em prejuízo, em última análise, da comunhão de credores. Por isso, a lei fixa um prazo para a suspensão das execuções individuais operada pelo despacho de processamento da recuperação judicial: 180 dias. Se, durante esse prazo, alcança-se um plano de recuperação judicial, abrem-se duas alternativas: o crédito em execução individual teve suas condições de exigibilidade alteradas ou mantidas. Nesse último caso, a execução individual prossegue. (COELHO, 2009, p. 38-39)

Desta forma, observa-se que se o crédito dos credores forem anteriores à

recuperação e assim, automaticamente deferidos quando da homologação do plano,

já estará devidamente programado para pagamento na forma negociada no plano

recuperacional.

Assim, a orientação que prevalece em inúmeros julgados do Superior

tribunal de Justiça é o lecionado em acórdão exarado no conflito de competência nº

73.380/SP de relatoria do Ministro Hélio Quaglia Barbosa:

CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. VASP. EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PLANO DE RECUPERAÇÃO APROVADO E HOMOLOGADO. EXECUÇÃO TRABALHISTA. SUSPENSÃO POR 180 DIAS. ART. 6º, PARÁGRAFOS DA LEI 11.101/05. MANUTENÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA. FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA. INCOMPATIBILIDADE ENTRE O CUMPRIMENTO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO E A MANUTENÇÃO DE EXECUÇÕES INDIVIDUAIS. PRECEDENTE DO CASO VARIG - CC 61.272/RJ. CONFLITO PARCIALMENTE CONHECIDO. 1. A execução individual trabalhista e a recuperação judicial apresentam nítida incompatibilidade concreta, porque uma não pode ser executada sem prejuízo da outra. 2. A novel legislação busca a preservação da sociedade empresária e a manutenção da atividade econômica, em benefício da função social da empresa. 3. A aparente clareza do art. 6º, §§ 4º e 5º, da Lei 11.101/05 esconde uma questão de ordem prática: a incompatibilidade entre as várias execuções individuais e o cumprimento do plano de recuperação. 4. "A Lei nº 11.101, de 2005, não terá operacionalidade alguma se sua aplicação puder ser partilhada por juízes de direito e por juízes do trabalho.". 5. Conflito parcialmente conhecido para declarar a competência do Juízo da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da Comarca de São Paulo (STJ, conflito de competência nº 73.380/SP Relator: Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA, Data de Julgamento: 28/11/2007, S2 - SEGUNDA SEÇÃO).

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Deflui assim que a preservação da empresa visando o pagamento de todos

os credores é mais relevante do que o pagamento de um único crédito, vez que este

entendimento é a base da impossibilidade de expropriação de bens da empresa em

recuperação judicial.

Agora com relação à legislação, nota-se que ao permitir que eventuais

credores prossigam com a execução em relação a empresa em recuperação judicial,

ocorre o ferimento em inúmeros artigos dispostos na lei 11.101/2005. Isto porque

trazendo como exemplo a aprovação do Plano de Recuperação Judicial, operar-se-á

a novação da relação obrigacional. Trata-se de conclusão que decorre de

interpretação tranqüila do disposto no artigo 59 da lei 11.101/2005, o qual se pede

vênia para transcrever:

Art. 59. O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias, observado o disposto no § 1 º do art. 50 desta Lei. (BRASIL, 2005)

Havendo a novação acima citada pela homologação do planod e

recuperação judicial, além dos dispositivos supra citados, também deve ser

analisado o principio da preservação da empresa, já mencionado. Verifica-se que a

aprovação do plano apresentado ocorre quando há anuência de grande parte dos

credores, e não de forma unilateral pela empresa.

Em assim sendo, os credores não podem e não poderiam receber créditos

cuja dívida já renegociaram através da recuperação judicial, sendo que em caso de

eventual descumprimento do plano é naquele feito – Recuperação Judicial – que

deverá ele reclamar o que entende ser de direito.

Note-se que, inclusive, tais entendimentos são pacíficos no Superior Tribunal

de Justiça, demonstrando a absoluta impossibilidade de se espoliar os bens

pertencentes à sociedade em recuperação judicial, ainda mais quando se trata

daqueles que são vitais à continuidade da atividade econômica e de credores

sujeitos à recuperação, com plano aprovado pela maioria dos credores.

Com a instauração do procedimento recuperacional, configura-se a unidade

patrimonial da recuperanda, de modo que todos os atos de alienação ou oneração

de bens de seu ativo permanente, bem como operações de evidente repercussão ao

patrimônio da empresa, passam a restar submetidas a autorização do juízo

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recuperacional competente. Assim, a lei 11.101/2005 determina a competência

absoluta do juízo recuperacional para versar sobre o patrimônio da recuperanda.

Conclui-se assim , que qualquer deliberação sobre o patrimônio da empresa

em recuperação judicial só poderá ser analisado pelo juízo universal, sob pena de

ferir o disposto na legislação, relativos a princípios e ordens lá expressas.

Ao analisar a matéria, o Superior Tribunal de Justiça já entendeu e firmou

posicionamento no sentido da impossibilidade de que as execuções que “fujam” ao

procedimento concursal comprometam o patrimônio da devedora, como se observa

nos seguintes arestos:

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL. EXECUÇÃO FISCAL.RECUPERAÇÃO JUDICIAL. MEDIDA LIMINAR DEFERIDA. AGRAVO REGIMENTAL NÃOPROVIDO. 1. As execuções fiscais não são suspensas pelo deferimento da recuperação judicial, contudo, após o deferimento do pedido de recuperação e aprovação do respectivo plano, pela Assembléia Geral de Credores, é vedada a prática de atos que comprometam o patrimônio da devedora, pelo Juízo onde se processam as execuções. 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ - AgRg no CC: 104638 SP 2009/0072119-0, Relator: Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), Data de Julgamento: 10/03/2010, S2 - SEGUNDA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 28/04/2010)

Evidente que o raciocínio prevalece também para outros casos, a execução

destes haveres, deveria respeitar o processo de Recuperação Judicial, sob pena de

se esvaziar o instituto e seu preceito maior de assunção do pleno emprego, calcado

como um dos princípios da Ordem Econômico-Financeira nacional.

Desta feita, há de se considerar a impossibilidade de se espoliar o

patrimônio da empresa em Recuperação Judicial sem ensejar graves violações ao

concurso de credores, aos preceitos constitucionais que respaldam o instituto, bem

como à própria competência do juízo recuperacional e do Comitê de Credores, o que

não se pode admitir.

É cediço que o procedimento de recuperação judicial implica na participação

ativa dos credores, que decidem pelo reerguimento da sociedade em consonância

com as informações veiculadas pela recuperanda em seu plano de recuperação

judicial. Destarte, tolher o patrimônio da recuperanda, sem prévio assentimento

destes credores, significaria estabelecer privilégios creditícios sem fundamento legal

e retirar a eficácia da decisão tomada em Assembleia pela universalidade de

credores!

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Assim, deve-se ponderar que qualquer decisão com o intuito de bloquear

recursos imprescindíveis ao funcionamento da empresa para se ter acesso ao Poder

Judiciário, é expressamente contrária ao disposto no artigo 47 da Lei nº

11.101/2005, haja vista que cria obstáculo insuperável a preservação da fonte

produtiva, ensejando a quebra virtual da empresa, bem como a inutilidade prática do

instituto da recuperação judicial.

Não se afigura razoável que, em uma mão o Estado forneça a tutela

jurisdicional representada pelo instituto progressista da Recuperação Judicial e, na

outra mão, retire qualquer possibilidade de que as investidas arbitrárias que, apesar

de legalmente não constarem no plano, obstem o mesmo, prejudicando o todo.

Ademais, o asfixiamento do fluxo de caixa, além de impedir a quitação das

referidas despesas operacionais, ainda resulta em perdas de contratos futuros,

havendo um custo econômico incomensurável em prejuízo da empresa.

Em consideração à impossibilidade de se manter a atividade produtiva de

empresas em recuperação judicial que fossem espoliadas dos bens indispensáveis

ao desenvolvimento da atividade produtiva, é que nossos Egrégios Tribunais

assentaram o entendimento externado nos julgados que seguem:

CONFLITO DE COMPETÊNCIA - ARRESTO DOS BENS DA EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL - IMPOSSIBILIDADE - SUSPENSÃO DAS EXECUÇÕES INDIVIDUAIS - NECESSIDADE. - PRECEDENTES - COMPETÊNCIA DO JUÍZO EM QUE SE PROCESSA A RECUPERAÇÃO JUDICIAL. I - A e. 2ª Seção desta a. Corte, ao sopesar a dificuldade ou mesmo total inviabilização da implementação do plano de recuperação judicial, decorrente da continuidade das execuções individuais, concluiu que, aprovado e homologado o plano de recuperação judicial, os créditos deverão ser executados de acordo com as condições ali estipuladas; II - Convalidação da liminar anteriormente concedida, reconhecendo a competência do r. JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL DO FORO DISTRITAL DE CAIEIRAS/SP. (STJ - CC: 98264 SP 2008/0193543-6, Relator: Ministro MASSAMI UYEDA, Data de Julgamento: 25/03/2009, S2 - SEGUNDA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 06/04/2009)

CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL. LEI N. 11.101/05. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. CRÉDITOS GARANTIDOS FIDUCIARIAMENTE. DISCUSSÃO NA ORIGEM ACERCA DA HIGIDEZ DA GARANTIA SOBRE OS BENS FUNGÍVEIS E CONSUMÍVEIS QUE COMPÕE OS ESTOQUES DA EMPRESA (ÁLCOOL). CRÉDITOS QUE ESTÃO INCLUÍDOS NO PLANO DE RECUPERAÇÃO APROVADO. NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA. COMPETÊNCIA DO JUÍZO UNIVERSAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA JULGADO PROCEDENTE PARA DECLARAR COMPETENTE O JUÍZO DA 3ª VARA CÍVEL DA COMARCA DO RECIFE, SUSCITADO. (STJ, CC 105315/PE Relator: Ministro PAULO DE TARSO

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SANSEVERINO, Data de Julgamento: 22/09/2010, S2 - SEGUNDA SEÇÃO)

Ainda, leciona sobre a impossibilidade de expropriação de bens da empresa

em recuperação judicial em casos práticos, Newton de Lucca e Alessandra de

Azevedo Domingues:

No momento que a empresa recuperanda teve a oportunidade de readquirir certa credibilidade no mercado para voltar e atuar e gerar renda, a Justiça do trabalho penhorou o que se arrecadava, dificultando a real recuperação da empresa. Após a aprovação do plano e a homologação pela Justiça Estadual, foi requerida a expedição de ofícios aos colendos Tribunais Regionais Trabalhistas, a fim de que fossem suspensas as execuções trabalhistas, aforadas contra a empresa recuperanda. Desse contexto surge o conflito de competência numero 73380 – SP (2006/024994-3), que o Superior Tribunal de Justiça decidiu liminarmente no sentido de suspender a execução trabalhista, sustentando que a competência a prevalecer é a do MM. Juízo da Primeira Vara de Falencias e recuperações Judiciais do Foro Central da Comarca de são Paulo, em conformidade com o previsto no artigo sétimo, § 1º da Lei nº 11.101/2005, cabendo ao Juízo do Trabalho apurar o montante devido ao trabalhador; e a Justiça Estadual (Vara Especializada de Falências e Recuperações Judiciais ) dar cumprimento ao julgado trabalhista, conforme preconiza o artigo 6º da lei supra mencionada. (LUCCA; DOMINGUES, 2009, p.152-153)

Portanto, a conclusão lógica que se faz em conjunto, da analise da

legislação, doutrina e jurisprudência pátria, é que, baseado no principio da

preservação da empresa e da manutenção da fonte produtiva, existe a construção

dos tribunais pátrios que impossibilitam a expropriação de bens da empresa em

recuperação judicial.

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6 CONCLUSÃO

Ao transcorrer do presente trabalho, fora traçado uma verificação entre os

aspectos práticos e teóricos da recuperação judicial, analisado pela Lei nº.

11.101/2005, emoldurando as teses doutrinárias embasadas em conjunto com a

jurisprudência.

Por conseguinte, fora analisado que necessitava a legislação de uma

reformulação, na legislação já ultrapassada vigente em nosso ordenamento jurídico,

o que finalmente ocorreu com a promulgação da lei nº. 11.101/2005, fruto de

discussões e de diversas emendas impostas para melhor adequar seu texto aos

interesses de grupo economicamente dominantes.

Utilizou-se dos princípios basilares da recuperação judicial para verificar as

consequências destes utilizados no aspecto prático da economia, assim, com base

no referencial teórico, fora demonstrado que a Lei nº. 11.101/2005 inovou em suas

propostas, que se tornaram aptas a recuperar empresa em dificuldade econômica,

diferentemente do que trazia a antiga lei, que não trazia solução ao empresário, que

estava fadado, desta forma, à falência.

Fora utilizado como método de pesquisa jurisprudencial, bibliográfica e

doutrinária, enfatizando o referencial trazido em lei, com o fim de demonstrar a

evolução ocorrida perante a utilização do novo texto legal.

Aprofundamento os estudos por meio da analise do procedimento da

recuperação judicial, pode-se verificar que apesar de haver valores quais não estão

avalizados pela legislação, como créditos tributários e eventuais credores de

garantia privilegiada, a empresa em recuperação judicial utiliza do principio da

preservação da empresa para manter a atividade empresarial.

Fora possível concluir que, sopesando as variáveis possíveis num

procedimento de recuperação judicial em que a empresa demonstra os requisitos

exigidos em lei, apresenta plano de recuperação judicial e este sendo devidamente

aprovado, a jurisprudência impede a expropriação de bens, visto que a manutenção

da fonte produtiva, da geração de empregos e pagamento de credores, criando

assim uma série de fatores da coletividade envolvida , é mais relevante do que o

pagamento de um credor somente.

Portanto, a interpretação de tal legislação caminhou para a análise de que, a

empresa viabilizando e demonstrando de forma eficaz ao poder judiciário que tem

49

condições de soerguimento, este deve utilizar do principio da preservação da

empresa para impossibilitar a expropriação de bens da empresa, gerando assim, a

possibilidade de reestruturação para o empresário.

Do exame destas ponderações, deflui que existe a necessidade de os

Poderes Legislativo e Judiciário andarem paralelamente na busca da preservação

da empresa, permitindo que experiências do mundo prático observem como

fundamento e justificativa uma compilação de normas que atendam a necessidade

de continuidade da empresa, e que, sobretudo, deve ser incentiva a envidar esforços

na sua manutenção.

Conclui-se que a Lei nº 11.101/2005 está sendo utilizada de forma mais

ampla do que expressamente consignada, sopesadas variáveis quais verificadas no

mundo pratico, visando assim, o exercício da função social da empresa , bem como

a sua preservação, e a reestruturação desta, possibilitando o retorno ao mercado, a

competição econômico e financeira com as demais empresas de ramo semelhante,

cumprindo assim a finalidade qual foi inserta em nosso ordenamento jurídico.

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