o ouro dos escravos: metÁforas de expropriaÇÃo de

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1 O OURO DOS ESCRAVOS: METÁFORAS DE EXPROPRIAÇÃO DE TERRITÓRIOS NEGROS NO LITORAL NORTE DO RIO GRANDE DO SUL. RODRIGO DE AZEVEDO WEIMER Doutor em História pela UFF, pós-doutorando em História na Unisinos. 1 [email protected] Introdução Fantasmas misteriosos. Potes de ouro miraculosos. Maldições. Redenções. Consistiriam tais assuntos domínio do historiador? A constatação, ou não, de sua veracidade, deixemo-la aos parapsicólogos. Os significados sociais investidos por uma comunidade negra sobre o universo do além, porém, constitui, não há dúvida, um fértil terreno para o historiador curioso por aproximar-se do universo simbólico, das crenças religiosas e até mesmo da história política e econômica dos atores em questão. Segundo François Dosse, “a lenda, por sua capacidade de provocar a cristalização da crença e organizar o domínio das representações, é por si mesma um acontecimento histórico”. (DOSSE, 2009, p. 147-148) Nesta comunicação, procede-se à análise comparativa de duas lendas acerca de potes de ouro encontrados por integrantes da comunidade negra de Morro Alto, no litoral norte do Rio Grande do Sul. Tais episódios, narrados por familiares daqueles que supostamente localizaram os tesouros, podem ser lidos como uma metáfora dos processos de expropriação de terras a que a dita comunidade foi submetida ao longo do século XX (Corrêa, 1978, Barcellos et al., 2004, Weimer, 2013). A fazenda do Morro Alto situava-se onde hoje é a divisa entre os municípios de Osório e Maquiné, no entroncamento de um braço morto da BR-101 e da estrada RS- 407. Abarca diversas pequenas localidades Faxinal do Morro Alto, Ramalhete, Morro Alto, Barranceira, Aguapés, Ribeirão do Morro Alto, Borba, Despraiado, Prainha 1 Pesquisa financiada com bolsa FAPERGS / CAPES DocFix. Sou muito grato à antropóloga Rosane Rubert, já que a hipótese inicial sobre a qual se ampara esta comunicação de tais relatos como metáforas dos processos de expropriação fundiária foi por ela proposta em seminário em dezembro de 2013 em Pelotas. Constatando sua adequação aos meus dados empíricos, a desenvolvo, não sem creditar a autoria da ideia inicial.

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O OURO DOS ESCRAVOS: METÁFORAS DE EXPROPRIAÇÃO

DE TERRITÓRIOS NEGROS NO LITORAL NORTE DO RIO

GRANDE DO SUL.

RODRIGO DE AZEVEDO WEIMER

Doutor em História pela UFF, pós-doutorando em História na Unisinos.1

[email protected]

Introdução

Fantasmas misteriosos. Potes de ouro miraculosos. Maldições. Redenções.

Consistiriam tais assuntos domínio do historiador? A constatação, ou não, de sua

veracidade, deixemo-la aos parapsicólogos. Os significados sociais investidos por uma

comunidade negra sobre o universo do além, porém, constitui, não há dúvida, um fértil

terreno para o historiador curioso por aproximar-se do universo simbólico, das crenças

religiosas e até mesmo da história política e econômica dos atores em questão. Segundo

François Dosse, “a lenda, por sua capacidade de provocar a cristalização da crença e

organizar o domínio das representações, é por si mesma um acontecimento histórico”.

(DOSSE, 2009, p. 147-148)

Nesta comunicação, procede-se à análise comparativa de duas lendas acerca de

potes de ouro encontrados por integrantes da comunidade negra de Morro Alto, no

litoral norte do Rio Grande do Sul. Tais episódios, narrados por familiares daqueles que

supostamente localizaram os tesouros, podem ser lidos como uma metáfora dos

processos de expropriação de terras a que a dita comunidade foi submetida ao longo do

século XX (Corrêa, 1978, Barcellos et al., 2004, Weimer, 2013).

A fazenda do Morro Alto situava-se onde hoje é a divisa entre os municípios de

Osório e Maquiné, no entroncamento de um braço morto da BR-101 e da estrada RS-

407. Abarca diversas pequenas localidades – Faxinal do Morro Alto, Ramalhete, Morro

Alto, Barranceira, Aguapés, Ribeirão do Morro Alto, Borba, Despraiado, Prainha –

1 Pesquisa financiada com bolsa FAPERGS / CAPES DocFix. Sou muito grato à antropóloga Rosane

Rubert, já que a hipótese inicial sobre a qual se ampara esta comunicação – de tais relatos como metáforas

dos processos de expropriação fundiária – foi por ela proposta em seminário em dezembro de 2013 em

Pelotas. Constatando sua adequação aos meus dados empíricos, a desenvolvo, não sem creditar a autoria

da ideia inicial.

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interligadas entre si por laços de parentesco e compadrio, práticas culturais e religiosas e

pelo projeto político comum de recuperação de terras expropriadas amparados na

identidade coletiva de “remanescentes de quilombos”. 2

Por todo território são comuns

memórias de fantasmas, aparições, figueiras mal-assombradas.

Seus moradores descendem de antigos escravos que habitavam aquela fazenda –

na maior parte das vezes, os mesmos que “aparecem” para os moradores atuais.

Dedicando-se, entre outras atividades, ao plantio e beneficiamento de cana-de-açúcar, à

criação de gado vacum e aos serviços domésticos – no caso das mulheres mais bem

situadas nas redes de relações que hierarquizavam os cativos entre si – grande parte

daqueles seguiu ocupando o território da fazenda depois de 1888, seja por meio de

posse, do consentimento da antiga família senhorial, da aquisição de terras ou mesmo da

doação de uma parcela pela senhora Rosa Osório Marques.

Uma destas escravas herdeiras de Rosa, Tereza, nasceu no dia 26 de maio de

1856, neta de uma africana homônima.3 Pertencente ao senhor Thomaz Osório Marques

(irmão de Rosa), por ocasião do inventário de seu amo (1883), anexou-se a relação de

escravos efetuada em virtude da lei de 28 de setembro de 1871.4 Nela, Tereza figurava

como costureira. Teve diversos filhos, dentre os quais assinalo Maria, por sua família

estar envolvida nas duas lendas aqui estudadas. Há um registro de seu nascimento em 7

de fevereiro de 18875 – durante, pois, a vigência da lei do ventre livre –; todavia, há que

desconfiar deste dado uma vez que seu centenário foi comemorado por seus

descendentes na aurora da década de 1980. De resto, tudo na vida da “rainha” está

envolvido em névoas que fundem mito e história.

Digo “rainha” porque ela cumpriu um papel ritual no auto afro-católico do

“maçambique” entre fins da década de 1950 e inícios da de 1980, no qual dançantes

negros, ao som de tambores e cânticos padronizados, homenageiam um rei e uma

rainha, igualmente negros, em louvor a Nossa Senhora do Rosário. Maria Tereza reinou

nesta congada entre o fim dos anos de 1950 e inícios dos de 1980, sendo até hoje

2 Reconhecimento como tal por parte do Estado Nacional Brasileiro já obtido, em 2004. 3 Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Centro de História da Família. Microfilme 1391101,

Item 4, Livro 2 de batismos de escravos de Conceição do Arroio, f. 60v. 4 Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul, Cartório de Órfãos e Ausentes – Conceição do

Arroio, estante 159, caixa 027.0338, auto n. 883, inventário de Thomaz Osório Marques, ano de 1883. 5 Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Centro de História da Família. Microfilme 1391101,

Item 4, Livro 2 de batismos de escravos de Conceição do Arroio, f. 60v. Microfilme 1391100 Item 5,

Livro 14 de batismos de Conceição do Arroio, f. 85v.

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lembrada com respeito e devoção como modelo ideal de rainha a que todas as

sucessoras deveriam almejar se assemelhar.

Segundo Antônio Francisco e Manoel Francisco Antônio, dois irmãos, sobrinhos

da “rainha Maria Tereza”, almas de outro mundo indicaram para sua tia a localização de

um tesouro enterrado perto de sua casa, no Ribeirão do Morro Alto, junto às ruínas de

uma casa-grande que até hoje lá estão. Isto ter-se-ía dado em fins da década de 1920. A

outra lenda foi relatada apenas pelo segundo narrador, que afirma que o cunhado de

Maria Teresa, Manoel Felipe, estava arando em terras que arrendara ao fazendeiro L.B.

– de origem italiana –, quando seu arado trancou em uma panela. Avisando L.B., este

lhe disse que marcasse a localização da panela com seu casaco, e na calada da noite

apropriou-se da panela encontrada por Manoel, constatando estar cheia de moedas de

ouro.

Mais do que avaliar a veracidade destes relatos – seja contestando-lhes, seja

dando-lhes aval –, cabe ao estudioso interpretar os significados a eles implícitos.

Conforme veremos, o paralelo entre a destinação dada aos beneficiados por cada um

destes tesouros permite-nos perceber uma maneira cifrada de se narrar um sentimento

histórico de expropriação. A comunicação pretende, portanto, analisar a percepção de

“perda” como uma referência aos territórios expropriados que são parte constitutiva da

memória de uma comunidade que hoje almeja sua reparação, por meio da reivindicação

coletiva como “remanescente de quilombos”.

O território como legado dos escravos

Conforme dito, dentre as atividades econômicas a que se dedicava a fazenda do

Morro Alto no século XIX estavam a lavoura de cana-de-açúcar e a criação de gado. A

partir de meados do século, os proprietários reorientaram suas atividades produtivas

para a pecuária em outros municípios, constatando-se a decadência da Fazenda do

Morro Alto (BARCELLOS et al., 2004). Uma possível explicação para isto está no fim

do tráfico atlântico de escravos, já que a aguardente produzida em Morro Alto, moeda

de troca com os traficantes de escravos, perdia seu mercado consumidor (WEIMER,

2013). O fato é que o final da escravatura encontrou uma grande massa de escravos

ocupando terras pouco proveitosas aos seus proprietários. Esta situação se intensificou

após a guerra civil de 1893-1895, que devastou a região.

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Muitos senhores as alienaram aos antigos cativos, seja por meio de doações, seja

através vendas. Muitos outros descendentes de escravos, porém, seguiram ocupando a

região em que foram escravos (ou seus pais) mediante diversas modalidades. O início

do século XX assistiu, assim, o desenvolvimento na região de uma intensa trama

territorial de um campesinato negro oriundo do cativeiro vinculado por laços de

parentesco reiterados ou diversificados ao longo das gerações; até o presente momento,

em que seus descendentes organizam-se no sentido de reivindicar o território que

presumem lhes pertencer.

Na comunidade de Morro Alto, tal como em outras comunidades tradicionais, o

território não adquire somente expressão como meio de produção, mas também como

espaço no qual estão inscritos memórias, símbolos, lendas, referenciais culturais. Em

suma, este território é organizado e percebido como uma territorialidade; através de

laços afetivos que dão sentido e inteligibilidade à organização espacial. A importância

destes vínculos espaciais estabelece a diferença de suas reivindicações com aquelas da

reforma agrária stricto sensu, dado que não são quaisquer terras capazes de viabilizar a

reprodução de um modo de vida.

Dando alguns exemplos: as diferentes parcelas do território são referenciadas

por meio do nome dos ancestrais escravos que as ocuparam; sua localização é

identificada através de árvores por eles plantadas ou pelas ruínas das senzalas onde

trabalharam; o percurso traçado pelos maçambiqueiros antigos, partindo da Prainha,

atravessando o território de Morro Alto, rumo à cidade de Osório, faz parte dos

referenciais culturais inscritos no território; os “umbigos enterrados” das crianças são

outro referencial, já que por ele se acredita no retorno ao local de nascimento; as casas

dos pais, sobre cujo terreno nada pode ser construído ou plantado, também constitui

uma referência por meio da qual o território é organizado pela cultura.

Todos esses referenciais ajudam a compreender o entendimento do território

como legado dos escravos, para além, simplesmente, da doação de terras aos cativos por

uma senhora generosa. O passado escravista e os vínculos ancestrais, constituintes da

identidade grupal, estão incrustados nas terras ocupadas. Levam a uma percepção mais

aguda, também, do significado daquela luta territorial, na qual não estão em jogo apenas

recursos econômicos, mas também aspectos cruciais uma identidade grupal.

Nesse sentido, os locais onde ocorrem as aparições de assombrações e onde se

acredita haver sido desenterrados tesouros escondidos cumprem, também, o papel de

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referenciais de territorialidade, e muitas vezes eles estão associados à escravidão. O

percurso pelo território oportuniza o relato de diversas lendas e “causos”. No caso

específico de Morro Alto, não há aparições de senhores. Os fantasmas, via de regra, são

negros, e frequentemente explicitados como escravos. Isso se dá porque a gênese dos

tesouros é associada a uma situação de dor e sofrimento. Em primeiro lugar, o “ouro

antigo” teria sido enterrado pelos senhores em períodos de guerras e revoluções.

Rodrigo – E naquela época, tinha muito o hábito de enterrar pote de ouro?

Manoel – Ah, tinha, pois naquele tempo não tinha. Naquele tempo, todo

dinheiro... Não existia banco, não é. Quando vinha aquela revolução, o

dinheiro pra eles não.. Eles vinham... e levavam! A revolução vinha, aquele

povo que vinha pegam, não é. Pegam o que eles acham e levam, então eles davam, pegavam aquele dinheiro e enterravam. O dinheiro, depois de

enterrar, às vezes o cara perde e não acha mais. O dinheiro.6

Porém, uma relação social de dominação estava presente na armazenagem dos

ouro escondido, já que eram os escravos quem cavava os buracos para guardar o ouro e

depois, mortos e sepultos junto ao tesouro.

Francisco – Enterravam a pessoa, faziam fazer o buraco, enterravam e depois

colocavam em cima pra cuidar daquilo ali.

Rodrigo – E quem ficava em cima?

Manoel e Francisco – O morto!

Francisco – Aquele morto, matavam!

Manoel – O senhor matava... matavam a pessoa, enterravam, faziam a cova e

depois matavam a pessoa e tu fica, tu fica cuidando aqui. Por isso que diz que assusta a pessoa aquilo ali que viesse sem ser o dono que deve, que é, que dá

praquilo ali. Eu acredito que deve ser.

Rodrigo – E o senhor matava esse que ele botava, que ele matava e botava ali

pra cuidar, era o escravo?

Manoel – Era escravo! Os escravos! Claro que era escravo!7

Percebe-se, portanto, que estas lendas8 estão inscritas no território e, tal como

outros referenciais, identificam aquele grupo étnico com sua terra e comunicam

demandas presentes com um passado que, a um só tempo, é reconstituído e investido de

fundamento para as lutas do presente.

O ouro dos escravos como etnotexto das comunidades remanescentes de quilombos

A noção de etnotexto foi proposta pelo historiador oral Philippe Joutard. Ela

vem sendo desenvolvida por historiadores brasileiros, particularmente por aqueles

6 Entrevista com Manoel Francisco Antônio por Rodrigo de Azevedo Weimer em Osório, no dia 10 de

outubro de 2013. Na ocasião, o entrevistado tinha 93 anos. 7 Entrevista com Manoel Francisco Antônio por Rodrigo de Azevedo Weimer em Osório, no dia 10 de

outubro de 2013.

8 Não me proponho, neste artigo, a uma análise dos significados simbólicos das lendas no que toca à

relação entre vivos e mortos; isso já foi feito em Weimer (no prelo).

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dedicados à história da escravidão e do pós-Abolição. O autor propôs a noção, em lugar

de “tradição oral” ou “cultura oral”, por encontrar potencial heurístico mais fértil: “Por

etnotextos, deve-se entender antes de tudo os textos orais, literários ou não, dialetais ou

em francês, que tenham um valor de informação etnológica, histórica, linguística.”

(JOUTARD, 1980, p. 176).9 Assim, a abordagem de textos orais com base nesta noção

possibilita a apreciação de seu valor etnológico – no caso, a relação comunitária com o

território e sua expropriação.

A proposta de pesquisa em torno dos etnotextos é mais modesta do que a

pretensão estruturalista de dar conta de estruturas invariantes: ela é flexível o suficiente

para dar conta da diversidade humana e, ao mesmo tempo, mais rigorosa do que relatos

sem pretensões de generalização. Parece, em suma, um conceito em construção, mas

com potencial explicativo que não pode ser desprezado. Neste ponto, portanto,

verificaremos que a presença de relatos sobre tesouros escondidos e assombrações não é

uma exclusividade dos narradores do quilombo do Morro Alto.

Para Joutard, os documentos orais são produzidos pelos pesquisadores e, como

tal, a crítica das fontes não deve se dar “somente sobre o texto obtido, mas sobre o

procedimento que permitiu sua obtenção, pois a intervenção do arquivista oral é

evidente” (JOUTARD, 1980, p. 179). Mas, como destaca Hebe Mattos (2005, p. 40),

em projeto de história oral abarcando o sudeste brasileiro, ainda que informados pelo

interesse dos historiadores pela temática da escravidão, são impressionantes as

coincidências narrativas entre entrevistados de lugares diferentes: “faz emergir, de fato,

uma memória coletiva regional, produzida historicamente nas antigas áreas cafeeiras do

sudeste”. Joutard assinalou, ainda, que o registro escrito de textos orais pode ser

considerado uma modalidade etnotextual, e nesse sentido Mariza Carvalho Soares

analisou a documentação referente a irmandades de negros no Rio de Janeiro colonial

como “um texto étnico”, que configurou um trabalho verdadeiramente inovador sobre

etnicidade no século XVIII (SOARES, 2000).

A entrevista com o falecido Antônio Francisco10

foi realizada no dia 22 de

fevereiro de 2002, pelas antropólogas Miriam Chagas, Cíntia Müller e Mariana

Fernandes no contexto de elaboração do relatório de reconhecimento histórico-

antropológico de Morro Alto – de cuja equipe o autor deste texto foi partícipe. Ainda

9 Tradução minha. 10 Ignoro sua idade na ocasião, porém “Antônio Chico” era mais novo que seu irmão Manoel Francisco

Antônio. Ele já é falecido.

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que isso pudesse sugerir uma maior predisposição para se falar do passado escravista

que se acreditava dar embasamento às demandas territoriais, este não parece ser o caso

deste entrevistado. Com efeito, ele não estava envolvido diretamente com a mobilização

política, sendo, inclusive, bastante desconhecedor de vários aspectos dela. As

referências à escravidão estão subordinadas às referências ao “mundo do além”, estas

sim priorizadas pelo entrevistado. Antônio era autoridade eminente no maçambique e

pai-de-santo. Supondo haver uma “divisão familiar de atividades”, ele certamente

preocupava-se com as dimensões místicas e religiosas, e não políticas – estas, com

maior envolvimento pelo seu irmão Manoel. Desta maneira, falou muito sobre sua tia

Maria Tereza, pelo seu lugar de destaque no grupo de maçambique, e na interface deste

aspecto com sua inclinação a observar o mundo do além, veio à tona o relato do pote de

ouro.

Ao contrário do seu irmão, Manoel Francisco Antônio sempre foi politicamente

engajado. Participou de mobilizações brizolistas nos anos 60, foi preso pela ditadura

militar e nos dias de hoje é o Presidente de Honra da associação comunitária que

encabeça a luta pelos direitos étnicos de Morro Alto. Ele está predisposto a encarar o

mundo sob uma ótica bastante secularizada. Ainda assim, ambos narraram com

seriedade e convicção suas histórias. Manoel, por exemplo, confessou acreditar nesse

tipo de narrativa, por já ter visto espíritos – note-se, porém, sempre a crença do ponto de

vista da experiência empírica. Mais do que superstições, o que uma leitura etnocêntrica

poderia sugerir, temos significados compartilhados cuja densidade cumpre tentar

penetrar. Enfim, parte de um “etnotexto”.

Sua entrevista, feita por mim em 10 de outubro de 2013, foi realizada em um

contexto bastante distinto: uma pesquisa de pós-doutorado visando a escrita de uma

biografia de sua tia e, portanto, com um questionário relacionado a alguns apontes sobre

sua vida. De certa forma, a entrevista foi simétrica à de seu irmão. Se Antônio

desenvolveu seu raciocínio sobre aspectos religiosos em uma entrevista motivada por

motivações políticas, Manoel frequentemente procurou direcionar a entrevista para as

mobilizações étnicas ou faccionalismos comunitários, ainda que tenha, também, falado

sobre sua tia. Especificamente, o relato sobre o pote de ouro reproduziu fala que tivera,

espontaneamente, sobre o assunto na véspera da entrevista.

Narrativas sobre tesouros enterrados não são raros entre as comunidades

remanescentes de quilombos no Rio Grande do Sul. Anjos (2004) constatou, por

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exemplo, na comunidade de São Miguel (município de Restinga Seca), a existência de

narrativas referentes a tesouros enterrados. Há recorrência, ainda, do relato sobre o

depósito de cadáveres de negros junto ao ouro; no entanto, na narrativa analisada o

escravo foi bem-sucedido ao fugir no momento em que sofreria aquela violência. Por

essa razão, o autor propôs o dinheiro como um mediador “entre os dois tempos de

cativeiro, o tempo enterrado do cativo negro, submisso, desse que adere à maldade dos

senhores, e o outro tempo ainda de cativeiro, mas em um outro tipo de relação essa que

permite a fundação do processo de emancipação: a aquisição de terras próprias”.11

Ainda que em outros relatos não exista esse aspecto, o vínculo simbólico entre o ouro

enterrado e uma territorialidade que remete ao cativeiro converge com os exemplos a

seguir. O mito relatado por Anjos é simétrico aos encontrados por outros pesquisadores;

bastante similar, ainda que com sinais trocados.

Rubert (2010 p. 2) propõe que relatos colhidos em quilombos da região central

do Rio Grande do Sul “abordam em um outro plano de linguagem a experiência do

cativeiro”, na medida em que a condição cativa implicava em uma vida “enterrada” a

fim da satisfação da riqueza material de outrem. Essa interpretação vem ao encontro dos

dados aqui apresentados, referentes à perda da vida do escravo visando conservar

intacto o tesouro senhorial.

Da mesma forma, Rubert, Rosa e Monteiro (2011), em seu estudo acerca da

comunidade de Rincão dos Negrinhos, atentam para os tesouros enterrados como

símbolo da escravidão inscrito no território. Da mesma forma, a “desistência dos ‘de

fora’ em arrancar o tesouro indica claramente para o reconhecimento externo de que o

território está fragilizado e amputado, mas ainda resguardado por uma autoridade

coletiva difusa”. No entanto, voltando ao caso aqui analisado, em Morro Alto não há

essa renúncia em expropriar o território simbolizado pelo tesouro.

Na comunidade de Cambará, no limite entre Caçapava e Cachoeira do Sul,

Marcelo Moura Mello (2012, p. 237) também constatou a presença de mitos referentes a

tesouros enterrados, zelados por um escravo. Ocorre que o autor também assinala que

estas lendas não remetem apenas ao passado e à realidade escravista; pelo contrário, sua

presença vem à tona de forma constante, quando a cobiça material implica tentativas de

desenterrá-lo. Portanto, a apropriação do ouro está associada à ambição material –

11 A comunidade estudada pelo autor estabeleceu-se a partir da aquisição de terrenos pelos ex-escravos.

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substancializada, inclusive, no presente –, convergindo com a interpretação que aqui se

assume.

A perda do ouro de Maria Tereza

Agora que já vimos os vínculos simbólicos entre o ouro enterrado e a

territorialidade, vamos nos deter com mais vagar sobre os mitos. Existem dissonâncias –

os mitos não são uniformes e comportam variações12

– entre as versões de Antônio e

Manoel. Mais que isto, porém, existe um pano de fundo comum que as conecta: o

tesouro é indicado por um fantasma, encontrado pela futura rainha, que era considerada

merecedora disto porque a ela ele estava predestinado. A principal diferença reside na

maneira pela qual a “assombração” apontou a localização do tesouro. Segundo Antônio,

sua tia ouvia muitos barulhos aterrorizantes – particularmente louça quebrada – vindos

da direção das ruínas. Assustada, planejou partir, mas um dia ouviu uma batida na porta,

quando “aquele moreno” lhe chamou, dizendo:

Maria, eu tô esses anos todos sem descanso na minha vida, se eu ganhei... eu

tô tomando conta de um objeto aqui e tu fez a tua casa quase em cima. Ela

contava. Disse ali do lado da porta casa do lado cerca, casa de madeira,

continue dali pra cima. Então ela aí disse... aí ela ficou, assim, aí falou, não

precisa ter medo de mim. Disse eu tenho objeto, tu não tem marido, tu vive lutando pra sobreviver, eu te achei tu sofrendo tanto, eu tenho um objeto pra

te dar que eu mereço a minha salvação.13

No relato de Manoel, pelo contrário, a localização do tesouro foi indicada em um

sonho recorrente de sua filha Antonieta. Segundo ele, muitos procuraram pelo ouro,

12 Segundo a interpretação lévi-straussiana, o mito constitui uma “máquina para subtrair o tempo” (Lévi-Strauss, 1996a, p. 25). Parece redundante insistir no caráter a-histórico da leitura do estruturalista francês,

crítica que geralmente lhe é dirigida da parte de historiadores; contudo, uma observação mais detida de

seus trabalhos evidencia que a história desempenha seu papel e que os mitos têm uma historicidade e

variações que não são ignoradas – ainda que não tratados com o rigor com que um historiador o faria.

Ainda que sujeitos a variações diacrônicas e espaciais, o que Lévi-Strauss ressalta é que cada

manifestação mítica em particular – inclusive com variações no tempo – opera no presente. Em outros

termos, mitos, digamos, entre 1950 e 2000 certamente apresentam variações; mas o relevante para Lévi-

Strauss é que, antes de mais nada, eles “presentificam” esquemas simbólicos que, naqueles determinados

momentos, adquiriam eficácia simbólica naqueles presentes – 1950 ou 2000. É nesse sentido que se

subtrai o tempo. O antropólogo francês propõe que a mitologia, ao mesmo tempo em que ordena

episódios em um tempo pretérito – “as origens” – opera contemporaneamente, na medida em que define universos simbólicos que extrapolam o tempo primordial. Trata-se de uma “sequência de acontecimentos

passados, mas também esquema dotado de uma eficácia permanente” (Lévi-Strauss, 1996b, p. 241). Mito,

portanto, não representa arcaísmo ou inverdade, mas, pelo contrário, esquemas lógicos que funcionam no

presente e nele adquirem sentido e veracidade. No caso específico do mito observado: ainda que com

variações de narrador – Antônio Francisco e Manoel Francisco Antônio – e no tempo – 2002 e 2013 – o

mito evidencia esquemas simbólicos que funcionavam no momento da entrevista para ambos – e

provavelmente para a comunidade de que fazem parte, ao menos entre as pessoas de sua mesma geração. 13 Entrevista com Antônio Francisco por Miriam de Fátima Chagas, Mariana Balen Fernandes e Cíntia

Beatriz Müller em Osório, no dia 22 de fevereiro de 2002.

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porém sempre eram rechaçados por chuvas de pedras ou assombrações. Ele destaca que

uma família vizinha de Maria Tereza e que ali vive até hoje não deixa ninguém se

aproximar daquela localização; porém não se atreve a ali escavar. Sabem que a futura

rainha apenas encontrara o tesouro porque “era para ela”: fazia-se merecedora por sua

bondade e vida árdua. Este elemento também está presente no relato de Antônio

Francisco:

E tu não precisa dizer nada pra ninguém, eu tô dizendo pra ti, tu guarda

dentro de ti, logo de noite tu vai mexer ali. (...) Disse, tu cava um pouquinho

ali, dali por diante tu não vai mais precisar trabalhar, eu vou te dar uma ajuda

pra ti, porque eu mereço descanso. E eu foi feito assim, assim pra mim cuidar

disso, meu filho tu tá vencido, eu me lembrei de ti, tu tem coração tão bom, tu ajuda tanto as crianças, vou te ajudar com isso ai. Tu pode mexer, tu pode

mexer que eu vou botar na tua mão.14

Os relatos convergem quando se afirma que ela efetivamente encontrou o pote

de ouro, cavando no local indicado, e partiu para Osório – segundo Antônio Francisco,

“para não se complicar”,15

onde comprou uma quadra inteira, aquela em que na

atualidade localiza-se o corpo de bombeiros.

Já Manoel aponta para um desfecho menos favorável. Segundo ele, sua tia não

sabia o valor que o ouro tinha, e tampouco o que fazer com ele. Sua filha Isabel

trabalhava com “um doutor” em Porto Alegre “que morava perto do estádio do Grêmio”

e dispôs-se a vender aquela fortuna. Ao que consta, ele subavaliou o tesouro achado por

Maria Tereza e ficou com a diferença para si. “A Maria Tereza não conhecia nada.”

“Enganaram ela.” Relata, resignado.

A perda do ouro de Manoel Felipe

Manoel Felipe era irmão de Abel Felipe, marido de Maria Tereza. Tal como a

cunhada, encontrou um pote de ouro – tais informações, todas, constam do relato de

Manoel –, porém, no seu caso não houve intervenção do além e tampouco chegou ele a

saber que havia encontrado ouro. O episódio foi o seguinte: L.B. pediu para Manoel

Felipe para arrendar um terreno dele, contrato este que foi aceito. A narrativa não

esclarece o porquê do arrendador lavrar as terras do arrendatário, mas isto teria

acontecido e enquanto o fazia em terreno de sua propriedade, trancou o arado em uma

14 Idem nota anterior. 15 Idem nota anterior.

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coisa que se revelou ser uma panela. Como era “muito inocente”16

, foi contar o ocorrido

a L.B.

Manoel [imitando a fala de Manoel Felipe] – “seu L., eu ia lavrando, seu L.,

lá, quando eu tava lavrando trancou, o arado trancou numa coisa e o boi não

podia puxar, não podia e puxou o boi pra trás... E eu ia... É mesmo, seu L.

Aqui embaixo. O senhor viu, mas é uma panela. Uma panela.” Ele dizia

sempre, uma panela. E o velho L., decerto que que ele já cismava que tinha

alguma coisa, não é. Pra ver como é pra ser pra pessoa. Aí ele disse, Manoel, larga isso lá, larga esse boi, e bota o casaco lá em cima, que conforme de

noite nós vamos lá. Pra ver essa panela. Vai num, bota o casaco, lá em cima

desde em cima. O velho Manoel foi lá, descangou o boi, como ele mandou,

gente muito burra, parada, né, ele, quando foi de noite, ele sonhando, isso o

falecido Manoel, que não era de mentir, ele viu o cara ir lá, pegar o casaco,

pegar a panela nas costas e botou o casaco em cima da panela. Por que que os

L. B. tão podre de rico?

Francisco – Os donos das praias tudo.

Este “causo” foi narrado em contraposição ao fato de Maria Tereza “nada

saber”, o que ressalta uma característica bastante valorizada por Manoel Francisco

Antônio, ser “ladino”. Palavra originalmente utilizada para os escravos africanos que já

possuíam algum domínio da língua portuguesa, da cultura e do funcionamento da

sociedade colonial; na acepção dada por Manoel há um quê de esperteza, senso de

oportunidade, conhecimento da realidade, saber no que focar e o que procurar. Portanto,

ao utilizar palavras depreciativas para referir-se ao desconhecimento por parte da tia e

seu cunhado, eles parecem ser responsabilizados pela perda por eles sofrida; enquanto a

exaltação do expropriador como “ladino” oculta uma mal-dissimulada admiração.

Conclusão: a perda do ouro como metáfora de expropriação

Demonstrados os elos entre o ouro oriundo do período escravista com o

território ao qual se conecta por vínculos simbólicos e afetivos, não resta muito difícil

inferir os laços consequentes entre a perda deste ouro e a perda do território. Além deste

vínculo lógico, há bastantes evidências que reforçam este argumento.

Em primeiro lugar, o local onde L.B. se apropriou do pote de ouro eram terras

pertencentes a Manoel Felipe. Em outros termos, a terra, literalmente, aparece como

vetor do processo expropriatório do qual o ouro é alegórico. De onde resulta que, em

um momento posterior L.B. figura como podre de rico e dono das praias; ou seja, às

custas de bens retirados da terra de outrem. Por outro lado, o desenrolar da lenda do

ouro encontrado por Maria Tereza implicou no abandono da terra ancestral por parte

16 Este é o mais favorável dos adjetivos utilizados na narrativa. Também foi qualificado pelo sobrinho da

cunhada – que também era seu primo em quarto grau – de “burro”, “não sabia nada”.

Page 12: O OURO DOS ESCRAVOS: METÁFORAS DE EXPROPRIAÇÃO DE

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desta, ao mesmo tempo em que um terceiro se beneficiava de algo encontrado em suas

terras.

Extrapolando para dados relativos a momentos diferentes de pesquisa de campo,

lembro que em uma ocasião, em conversa informal – durante o trabalho de campo de

minha pesquisa de doutorado – em sua cozinha, a senhora Diva Inácia Marques – cujo

pai era primo-irmão tanto de Maria Tereza quanto de Manoel Felipe – me perguntou,

com uma certa de malícia, se eu não era italiano. Diante da negativa, ela fez a confissão

de que não gostava de italianos porque L.B. apropriara-se de terras de seu pai no

Despraiado.17

Assim sendo, se ainda restar dúvidas sobre o fato do ouro apropriado por L.B.

metaforizar a perda de territórios, há este relato literal e explícito sobre seu papel na

memória coletiva como sujeito expropriador de terras, aspecto que aparece também em

entrevistas gravadas com sua prima e o filho desta.18

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17 Diário de campo de 14 de julho de 2010 em Osório. 18 Entrevista com dona Ercília Marques da Rosa e Wilson Marques da Rosa no dia 26 de agosto de 2001

na Prainha. Entrevista realizada por Cíntia Müller, Mariana Fernandes, Alessandro Gomes e Cíntia Rizzi,

entrevista com Wilson Marques da Rosa e Marilda Aparecida Souza da Rosa no dia 20 de janeiro de 2010

em Capão da Canoa, entrevista com Wilson Marques da Rosa no dia 22 de junho de 2010 em Porto

Alegre.

Page 13: O OURO DOS ESCRAVOS: METÁFORAS DE EXPROPRIAÇÃO DE

13

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(c.1847 – tempo presente). Tese de doutorado em História, Universidade Federal

Fluminense. Niterói, 2013.

Fontes orais e cadernos de campo19

Diário de campo de 14 de julho de 2010 em Osório.

19 À exceção das especificadas, todas entrevistas realizadas por Rodrigo de Azevedo Weimer.

Page 14: O OURO DOS ESCRAVOS: METÁFORAS DE EXPROPRIAÇÃO DE

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Entrevista com dona Ercília Marques da Rosa e Wilson Marques da Rosa no dia

26 de agosto de 2001 na Prainha. Entrevista realizada por Cíntia Müller, Mariana

Fernandes, Alessandro Gomes e Cíntia Rizzi.

Entrevista com Antônio Francisco por Miriam de Fátima Chagas, Mariana Balen

Fernandes e Cíntia Beatriz Müller em Osório, no dia 22 de fevereiro de 2002.

Entrevista com Wilson Marques da Rosa e Marilda Aparecida Souza da Rosa no

dia 20 de janeiro de 2010 em Capão da Canoa.

Entrevista com Wilson Marques da Rosa no dia 22 de junho de 2010 em Porto

Alegre.

Entrevista com Manoel Francisco Antônio por Rodrigo de Azevedo Weimer em

Osório, no dia 10 de outubro de 2013.