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DA EUTANÁSIA – EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE E CAUSA SUPRALEGAL DE EXCLUDENTE DE ILICITUDE EUTHANASIA - EFFECTIVE RIGHTS OF PERSONALITY AND CONSIDERATION OF EXCLUSIONARY THAN THE STANDARD OF UNLAWFULNESS Valéria Silva Galdino Cardin Andryelle Vanessa Camilo RESUMO A eutanásia é a ação ou omissão que tem como propósito acarretar ou apressar a morte de alguém para abreviar o sofrimento. A ortotanásia consiste em deixar o doente morrer naturalmente. A distanásia, que é o contrário de eutanásia, proporciona morte lenta e com sofrimento intenso. Também há a mistanásia, que ocorre quando o paciente não tem acesso ao sistema público de saúde ou o tem de forma inadequada. No Brasil, a eutanásia, em qualquer uma de suas modalidades, bem como o suicídio assistido, são incriminados. A morte deve ser pautada pelos mesmos princípios que dirigem a vida: liberdade, autonomia de vontade e dignidade. Embora a eutanásia seja formalmente antijurídica, não o é materialmente, pois não fere os interesses sociais tutelados pela norma penal. Ao contrário, defende-se que deva ser recepcionada como causa supralegal de excludente de ilicitude, por ser socialmente aceita. Mas ainda não é o ideal, por se acreditar que a eutanásia ativa, quando solicitada pelo paciente de forma livre, refletida e inequívoca, não se trata de crime. A família poderá decidir pelo doente quando este estiver inconsciente, desde que haja manifestação inequívoca dessa vontade, anterior à incapacidade. Nos casos em que o enfermo não manifestou nenhuma opinião, há que se obedecer a três critérios: a enfermidade deverá se circunscrever ao coma profundo, ao estado vegetativo, ou a doença degenerativa em estágio avançado; lapso temporal razoável determinado por lei e diagnóstico de três profissionais que atestem a irreversibilidade da doença e a impossibilidade de cura. A eutanásia ativa, realizada fora das regras sugeridas acima, deverá ser considerada homicídio. Na ortotanásia não há crime porque o paciente faz a opção de morrer naturalmente. Ainda que não haja previsão expressa no ordenamento jurídico pátrio, deve ser reconhecido o direito à eutanásia, dentro das hipóteses sugeridas, pois que significa morrer com dignidade. PALAVRAS-CHAVES: EUTANÁSIA. DIREITOS FUNDAMENTAIS. EXCLUDENTE DE ILICITUDE. ABSTRACT Euthanasia is the act or omission which is to cause or hasten the death of someone in order to shorten her suffering. The orthothanasia is to let the patient die naturally. The 3652

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DA EUTANÁSIA – EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE E CAUSA SUPRALEGAL DE EXCLUDENTE DE ILICITUDE

EUTHANASIA - EFFECTIVE RIGHTS OF PERSONALITY AND CONSIDERATION OF EXCLUSIONARY THAN THE STANDARD OF

UNLAWFULNESS

Valéria Silva Galdino Cardin Andryelle Vanessa Camilo

RESUMO

A eutanásia é a ação ou omissão que tem como propósito acarretar ou apressar a morte de alguém para abreviar o sofrimento. A ortotanásia consiste em deixar o doente morrer naturalmente. A distanásia, que é o contrário de eutanásia, proporciona morte lenta e com sofrimento intenso. Também há a mistanásia, que ocorre quando o paciente não tem acesso ao sistema público de saúde ou o tem de forma inadequada. No Brasil, a eutanásia, em qualquer uma de suas modalidades, bem como o suicídio assistido, são incriminados. A morte deve ser pautada pelos mesmos princípios que dirigem a vida: liberdade, autonomia de vontade e dignidade. Embora a eutanásia seja formalmente antijurídica, não o é materialmente, pois não fere os interesses sociais tutelados pela norma penal. Ao contrário, defende-se que deva ser recepcionada como causa supralegal de excludente de ilicitude, por ser socialmente aceita. Mas ainda não é o ideal, por se acreditar que a eutanásia ativa, quando solicitada pelo paciente de forma livre, refletida e inequívoca, não se trata de crime. A família poderá decidir pelo doente quando este estiver inconsciente, desde que haja manifestação inequívoca dessa vontade, anterior à incapacidade. Nos casos em que o enfermo não manifestou nenhuma opinião, há que se obedecer a três critérios: a enfermidade deverá se circunscrever ao coma profundo, ao estado vegetativo, ou a doença degenerativa em estágio avançado; lapso temporal razoável determinado por lei e diagnóstico de três profissionais que atestem a irreversibilidade da doença e a impossibilidade de cura. A eutanásia ativa, realizada fora das regras sugeridas acima, deverá ser considerada homicídio. Na ortotanásia não há crime porque o paciente faz a opção de morrer naturalmente. Ainda que não haja previsão expressa no ordenamento jurídico pátrio, deve ser reconhecido o direito à eutanásia, dentro das hipóteses sugeridas, pois que significa morrer com dignidade.

PALAVRAS-CHAVES: EUTANÁSIA. DIREITOS FUNDAMENTAIS. EXCLUDENTE DE ILICITUDE.

ABSTRACT

Euthanasia is the act or omission which is to cause or hasten the death of someone in order to shorten her suffering. The orthothanasia is to let the patient die naturally. The

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dysthanasia, which is opposed to euthanasia, provides slow death and severe suffering. There is also a social euthanasia, which occurs when the patient does not have access to the public health system and has so inadequate. In Brazil, euthanasia, in any of its modalities, as well as assisted suicide, are prosecuted. The death should be ruled by the same principles that drive the life: freedom, autonomy of will and dignity. Although euthanasia is formally against the norm, not the material is therefore not hurt the corporate interests protected by the criminal standard. Rather, it is to be approved as a cause beyond the law of exclusion of illegality, to be socially accepted. But is not ideal, because they believe that active euthanasia when requested by the patient of their own, reflected and clearly, there is no crime. The family can decide when the patient is unconscious, but it is clear manifestation of this desire, prior to failure. In cases where the patient did not express any opinion, it should be subject to three criteria: the disease should be limited to deep coma, the vegetative state, or a degenerative disease in an advanced stage; reasonable time period determined by law and a diagnosis of three who demonstrates the irreversibility of the disease and the inability to cure. The active euthanasia, carried out outside the rules suggested above, should be considered murder. In orthothanasia no crime because the patient makes the choice to die naturally. While no estimates expressed in the legal vernacular, should be recognized the right to euthanasia, in the cases suggested, because it means dying with dignity.

KEYWORDS: EUTHANASIA. FUNDAMENTAL RIGHTS. EXCLUSION OF UNLAWFULNESS.

1 INTRODUÇÃO

A eutanásia é a ação ou omissão que tem como intuito acarretar ou apressar a morte de alguém, a fim de lhe abreviar sofrimento decorrente de doença.

A Bíblia, em I Samuel 31: 1-13, registra um caso de eutanásia quando relata a história do rei Saul, que, ferido e tendo perdido uma batalha, pede a seu escudeiro que o mate.

Sêneca, que viveu cerca de 65 d.C., e foi um dos mais célebres escritores e intelectuais do Império Romano, registrou em seus escritos acerca do assunto:

Somente por causa da morte a vida não é uma punição. Debaixo dos caprichos e das vicissitudes da fortuna, posso conservar minha cabeça ereta. É que tenho alguém a quem posso recorrer. [...] Contra todos os assaltos da vida eu tenho o refúgio da morte. E, se posso escolher entre uma morte de tortura e uma morte boa e frágil, porque não escolherei esta? Assim como escolho o navio no qual viajarei ou a casa na qual habitarei, assim escolherei a morte pela qual deixarei a vida. O homem deve procurar a aprovação dos outros nos negócios da vida: sua morte é assunto seu. [1]

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Quase dois mil anos se passaram desde que Sêneca deixou esse pensamento e, embora tenham ocorrido significativas modificações nos costumes, na moral e na ética, a morte ainda é um assunto que a sociedade evita, e sua discussão, mesmo no campo da ciência, causa considerável incômodo.

Hodiernamente, inúmeras áreas científicas, como a medicina, o direito, a antropologia, a sociologia, a filosofia e a religião, analisam a questão da eutanásia. Porém nunca se encontrou uma fórmula conciliatória para o tema.

Os favoráveis à sua prática argumentam que existem quadros clínicos irreversíveis em que o doente, muitas vezes, passando por insuportáveis dores e sofrimentos, suplica pela morte como forma de se livrar do padecimento que se tornou a vida.

A antecipação da morte, prosseguem eles, além de atender ao interesse do paciente, que é morrer com dignidade, possibilita a efetivação dos direitos fundamentais da autonomia de vontade e da liberdade sobre decidir acerca de seu fim.

Os que se opõem às práticas eutanásicas argumentam que é dever do Estado salvaguardar a vida humana e que possíveis direitos do doente estariam subordinados aos interesses do Estado, o que permite a este adotar medidas para prolongar a vida, até mesmo contra a vontade do seu titular.

Os contrários ainda argumentam que, se o direito à eutanásia fosse reconhecido, este poderia tomar proporções nunca dantes imaginadas, dando ensejo a abusos tais como homicídios por interesses financeiros, como por exemplo, como recebimento de heranças, de seguros de vida e até comércio de órgãos.

Para aqueles que nunca vivenciaram a realidade das unidades de terapia intensiva, onde se acomodam doentes terminais, em estado vegetativo, com doenças degenerativas, o temor ainda é maior do que a tentativa de regulamentar essa prática para os que se encontram débeis fisicamente e clamam pela morte.

Casos extremos de obstinação terapêutica podem ser vistos. Cita-se, no ano de 2007, decisão da Justiça Federal do Distrito Federal que suspendeu, por meio de liminar, a Resolução do Conselho Federal de Medicina que autorizava os médicos a interromper tratamentos e procedimentos que prolongassem a vida de pacientes terminais sem chances de cura, com a sua anuência ou de seus familiares. [2]

O avanço médico-tecnológico permite que se mantenha um enfermo indefinidamente vivo, porém conectado a aparelhos de sustentação artificial de vida, que lhe fornecem oxigenação, fluxo sanguíneo e alimentação. Ressalte-se que, nesse caso, ações médicas não são capazes de modificar o quadro mórbido, apenas prolongam a vida da pessoa, sem oferecer nenhuma qualidade.

O pioneirismo em relação à eutanásia cabe ao Uruguai [3]. No ano de 1934, com a entrada do Código Penal vigente, esse país disciplinou, no art. 37 desse diploma, o homicídio piedoso. Para que o médico não fosse apenado, deveria ter um currículo notável, ser o ato justificado por piedade e ter o paciente manifestado o desejo de morte mais de uma vez. [4]

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Na Alemanha, a eutanásia é considerada homicídio solicitado e é prevista no art. 216 do Código Penal, que estabelece pena de seis meses a cinco anos a quem praticá-la. Dependendo da gravidade da doença, a pena poderá ser aplicada no mínimo ou substituída pela suspensão condicional. E o médico, que teve apenas a intenção de reduzir o sofrimento do paciente, ministrando-lhe droga mortal, não estará cometendo crime.[5]

Na França, a prática da eutanásia é considerada assassinato e punida como homicídio voluntário – crime contra a vida prevista no Código Penal, e não há precedentes jurisprudenciais a favor dela.[6]

Na Espanha, o art. 143 do Código Penal prevê a redução da pena imposta à pessoa que incorrer na cooperação necessária ao suicídio ou homicídio-suicídio.[7]

Nos Estados Unidos, a questão não é pacífica. A Suprema Corte tem permitido o suicídio assistido, e o Estado de Oregon foi o primeiro a aprovar lei nesse sentido.[8]

A Dinamarca e a Holanda autorizam a eutanásia, sendo que esta restringe-a, entre outros, aos casos de doença incurável e depressão decorrente de senilidade, ou seja, quando o idoso se declare cansado de viver.[9]

No Brasil, o mais antigo projeto de lei a favor da eutanásia foi apresentado pelo deputado Inocêncio de Oliveira (PFL-PE), em 1981. Atualmente, qualquer pessoa que praticar a eutanásia, na modalidade ativa ou passiva, ou auxiliar em um suicídio, responderá criminalmente perante a Justiça (art. 121 do Código Penal), por induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (art. 122, do Código Penal) ou por omissão de socorro.

Porém desde 1999 tramita o Anteprojeto de Reforma da Parte Especial do Código Penal,[10] fixando sanções mais brandas[11] para a eutanásia ativa direta, desde que seja o autor cônjuge, companheiro, ascendente, descendente, irmão ou pessoa ligada por laços estreitos de afeição à vitima e tenha agido por compaixão, a pedido desta, imputável e maior de dezoito anos, para abreviar-lhe sofrimento físico insuportável, em razão de doença grave e em estado terminal, devidamente diagnosticada.

2 DOS TIPOS DE EUTANÁSIA

Para uma perfeita compreensão do tema, cumpre distinguir os tipos de eutanásia.

Eutanásia ativa é aquela que resulta de uma ação direta para pôr termo à vida do doente. Geralmente ministra-se substância letal (veneno, gás, ou qualquer outra substância tóxica) para causar a morte do enfermo.

O que a doutrina denomina como eutanásia passiva, ou ortotanásia, consiste em deixar o doente morrer naturalmente, sem o uso de aparelhos que prolonguem a vida de forma

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artificial. Nesse caso, ninguém causa a morte do paciente, apenas abre-se mão de estender seu tempo de vida.

Nelson Hungria conceitua a ortotanásia como

A deliberada abstenção ou interrupção do emprego dos recursos utilizados para a manutenção artificial das funções vitais do enfermo terminal, deixando assim que ele morra naturalmente, nos casos em que a cura é considerada inviável.[12]

Na ortotanásia, o doente já se encontra em processo natural de morte e esta não ocorrerá imediatamente à suspensão da terapêutica, mas sim de maneira progressiva, natural. Em tais casos, será válida a administração de medicamentos para atenuar o sofrimento do enfermo. A suspensão aqui é apenas o reconhecimento de que não há nada mais a ser feito.

Já distanásia, vem do grego “dis”, mal, algo mal feito, e “thánatos”, morte. Seu significado é antagônico ao de eutanásia e trata-se de obstinação terapêutica. Proporciona morte lenta, com sofrimento intenso, tanto para o doente quanto para os seus familiares. Nesse contexto, a medicina é desvirtuada, pois sua função não é apenas prolongar a vida, mas garantir qualidade a esta.

Também há a eutanásia social, ou mistanásia[13], e se refere aos pacientes que não têm acesso ao sistema público de saúde, por falta de vagas ou de profissionais, e em decorrência disso acabam por morrer. Pode ainda ser motivada por erro médico. Os que tentam justificar esse tipo de eutanásia alegam que os recursos econômicos deverão ser reservados para os doentes capazes de voltar à vida produtiva e ao trabalho.

Leonard Martin assevera que tal tipo de eutanásia pode ser entendida como

a morte miserável, fora e antes da hora, causada por três circunstâncias: “primeiro, a grande massa de doentes e deficientes que, por motivos políticos, sociais e econômicos, não chegam a ser pacientes, pois não conseguem ingressar efetivamente no sistema de atendimento médico; segundo, os doentes que conseguem ser pacientes para, em seguida, se tornar vítimas de erro médico e; terceiro, os pacientes que acabam sendo vítimas da má-prática por motivos econômicos, científicos ou sociopolíticos”.[14]

Observe-se que tal forma de eutanásia é homicídio e mata milhares de pessoas no Brasil, assim como em outros países, e não é discutida pela sociedade nem nos meios científicos com a mesma veemência que as demais.

Em 2006, foi noticiado em site médico[15] que o Ministério de Saúde iria normatizar a permanência dos pacientes nas unidades de terapia intensiva (UTI) devido à grande

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demanda e diminuta oferta de leitos. O desejo era de que fosse obtida por lei autorização para retirar da UTI pacientes que não teriam mais expectativa. Tal idéia é brutal!

Questiona-se: quem asseguraria a eficácia dessa norma, o não favorecimento de pacientes em detrimento de outros? Por sorte, tal pretensão foi afastada, já que, com a divulgação da notícia, a Ordem dos Advogados do Brasil e o Conselho Federal de Medicina se mobilizaram a fim de obstar a proposta.

O “escopo do Direito é tutelar os bens ou interesses”[16] e a saúde é um bem constitucionalmente assegurado[17] (art. 196 da Constituição Federal). Disso denota-se que é obrigação do Estado assegurá-la e promovê-la, inclusive em caráter assistencial,[18] sendo-lhe vedado fazer qualquer diferenciação entre os destinatários.

A Constituição também define que os serviços estatais de atenção à saúde da população devem ser exercidos por rede regionalizada e hierarquizada. O estabelecimento e a gestão desta competem ao Poder Executivo da União (art. 84, II, da Constituição), através do Ministério da Saúde, na forma do disposto no art. 87, parágrafo único, inc. I, da Constituição.

Por se tratar de um dever de Estado, sua prestação deverá ser exercida segundo os princípios que regem a Administração Pública[19], quais sejam, moralidade, impessoalidade, legalidade, eficiência e publicidade, sem perder de vista a igualdade, a continuidade etc.

Perfilhando o entendimento acima exposto, a verdadeira eutanásia é tão-somente aquela motivada pelo escopo de aliviar os sofrimentos e agruras de enfermos a pedido ou com o consentimento destes.

Propugna-se que quem pratique a eutanásia nesses casos restritos, que serão oportunamente abordados neste trabalho, não deva ser punido por crime algum, ainda que de homicídio privilegiado, pois se trata de ato insigne, doloroso, acompanhado de emoções, desespero, e que certamente não seria realizado em situações ordinárias.

Porém o Código Penal tipifica tais condutas, sendo que a ação ou omissão que leva à eutanásia pode caracterizar, no direito pátrio, os delitos de homicídio (art. 121) – privilegiado ou qualificado -, induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (art. 122) e omissão de socorro (art. 135), todos do Código Penal.

Matar alguém (em latim hominus excidium) significa privar da vida, extinguir. [20]Homicídio outra coisa não é senão a eliminação da vida humana extrauterina, praticada por outra pessoa. Esse é um princípio aprimorado do ofertado pela lei, pois já estabelece a diferença entre o homicídio, suicídio, aborto e participação em suicídio.[21]

Homicídio privilegiado é causa especial de diminuição de pena e reduz esta de 1/6 a 1/3. Sua razão de existir está vinculada à menor reprovabilidade da conduta “matar” em razão de sua motivação – relevante valor moral ou social.

Por relevante valor social entende-se aquele que, além de ser do interesse do sujeito ativo do crime, também é de interesse da coletividade. Diz respeito ao pensamento médio da sociedade e também do agente do crime, porque este a integra.[22]

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Relevante valor moral, por sua vez, é aquele que diz respeito apenas ao agente do crime, porém este conta com o apoio do pensamento médio da sociedade. É visto como nobre, altruísta, merecedor de indulgência.

É nesse contexto, do relevante valor moral, que a eutanásia se insere. O agente comete o homicídio movido puramente pelo espírito de piedade e humanidade. Contudo, em que pese a motivação, a conduta é penalmente tipificada e o agente será criminalmente apenado.

Destaca-se que existem magistrados que não coadunam e não admitem as práticas eutanásicas e poderiam pronunciar o agente por homicídio doloso qualificado, seja pelo uso de veneno (inc. III), seja pela utilização de recursos que dificultem ou tornem impossível a defesa do ofendido (inc. IV). Frise-se que em Portugal esse é o tratamento jurídico dispensado à eutanásia.[23]

O crime de induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (art. 122, Código Penal) incrimina a participação de alguém no suicídio de outrem, por meio de indução, instigação ou auxílio material.

As condutas criminosas são: induzir, que significa criar no pensamento de alguém a idéia suicida, fazer nascer a idéia na mente do sujeito passivo; instigar é reforçar uma idéia já existente, ou seja, o sujeito passivo já havia pensado em cometer suicídio e ao compartilhar tal informação o sujeito ativo o encoraja, estimula, prestigia sua idéia; o comportamento de auxiliar significa prestar ajuda material ao suicídio, tornando mais fácil para o sujeito passivo o cometimento do ato derradeiro.[24] É nessa conduta que incide quem coloca um copo de veneno com um canudo na frente de um tetraplégico que sozinho irá sugar.

A conduta de auxiliar, para que se configure, tem que ocorrer antes do início de qualquer ato executório do suicídio, ou seja, durante os atos preparatórios, acessórios ou secundários, porque o auxílio prestado em atos executórios implicaria responsabilidade penal por homicídio.[25]

Note-se que tal crime é de uma amplitude absurda, pois pode apenar, por exemplo, um médico que coaduna com o desígnio suicida de seu paciente, ou que, tendo conhecimento de tal intenção, não faz nada para impedi-lo.

Por fim, as condutas eutanásicas podem configurar o crime de omissão de socorro, tipificado no art. 135 do Código Penal. Esta foi elevada à categoria de crime porque decorre do não cumprimento do dever moral de solidariedade humana, inerente às pessoas que vivem em sociedade.[26]

A conduta criminosa é deixar de prestar socorro, e, no caso em exame, a “pessoa inválida ou ferida”. Por pessoa inválida entende-se aquela que, por suas próprias forças, não pode escapar de uma situação de perigo, e por pessoa ferida aquela que tem sua incolumidade física afetada.

É nessa conduta que incide o médico que deixa de ministrar medicamentos ao seu paciente que, por exemplo, se encontra em estado vegetativo. Para o ordenamento

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jurídico, a objetividade jurídica são a vida e a saúde, e o médico, ao não prosseguir com a terapêutica, recai então em omissão de socorro.

Na eutanásia alguém, através de sua ação ou omissão, tira a vida de outra pessoa, e como isso é vedado pelo ordenamento jurídico o legislador associou eutanásia com os crimes que levam à morte. Contudo, a eutanásia não é homicídio, suicídio, ou omissão de socorro. Trata-se de um modo de reduzir a vida quando esta se afigura inviável em decorrência de problemas de saúde.

Nesse sentido, consigna-se decisão da Justiça francesa que absolveu uma senhora de 62 anos que matou a filha. Lydie Debaine deu tranquilizantes a Anne Marie e depois afogou-a na banheira. Na época do incidente, Anne tinha 26 anos, mas sua idade mental era a de uma criança de apenas cinco anos. Além da deficiência mental adquirida por uma meningite logo após o nascimento, a jovem sofria com crises de epilepsia, fortes dores de cabeça e vômitos havia vários anos. Seu quadro era, segundo os médicos, irreversível. As dificuldades enfrentadas pela mãe sensibilizaram o júri do tribunal, que absolveu Lydie da acusação de homicídio doloso.[27]

Outro caso notório, que não pode deixar de ser lembrado, é o do espanhol Ramón Sampedro. Sua história ganhou projeção com o filme Mar Adentro, vencedor do Oscar em 2005 como melhor filme. Ramón lutou anos na Justiça em busca de autorização para a eutanásia; porém, diante da recusa dos tribunais, 14 amigos o ajudaram a realizar pequenos atos que isoladamente não eram considerados crimes, mas que somados o levaram à morte.[28]

A investigação para apurar sua morte foi arquivada sem que ninguém fosse incriminado.

Outro detalhe interessante sobre a morte de Ramón é que foi gravado um vídeo com o registro de seus últimos instantes de vida. Como morreu ingerindo veneno, fez questão de deixar claro que foi ele, sozinho, quem o ingeriu, ainda que os amigos tivessem colocado o copo com o canudo à sua frente.

Esta é uma das peculiaridades da eutanásia: os enfermos que têm o raciocínio preservado não desejam que ninguém seja punido pela sua morte, e com a intenção de evitar tal acontecimento deixam cartas ou pequenos vídeos de despedida, incriminando-se pelo evento.

Existe mais um aspecto da eutanásia a ser levantado: o sofrimento que gera aos entes queridos do doente. O enfermo recebe a morte como uma libertação em decorrência do estado de saúde que enfrenta; porém, após sua partida, fica a família que o ama, os filhos não criados, os amigos que o admiram, pessoas que não coadunam com seu desejo, porque têm sua presença e sua vida como inestimáveis.

Não se deve esquecer que, para essa mesma família, decidir pela eutanásia ou ajudar o enfermo a praticá-la é também um ato de amor, destituído de egoísmo. Imagine um pai decidir pela eutanásia de seu filho de 30 anos, ou ajudá-lo a seu pedido, porque está sendo asfixiado em decorrência de esclerose múltipla. Sonhos são despedaçados, e a dor é atroz.

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Assim, não é porque a eutanásia permite a abreviação da vida, em seu sentido fisiológico, que guarda correspondência com condutas penalmente tipificadas. O direito deve servir ao homem e seus operadores devem estar sensíveis às realidades sociais nas quais estão inseridos.

3 DA ESCOLHA PELA MORTE – DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS CORRELATOS

O que está em debate, quando se fala em eutanásia, é o respeito para com a individualidade e a solidariedade à dor de quem é acometido por grave enfermidade. Para que seja possível discorrer acerca da morte com dignidade, liberdade e autonomia de vontade, necessário se faz destacar a abrangência de cada um desses direitos constitucionalmente assegurados, a fim de embasar a escolha do paciente ou de sua família por antecipar o evento morte.

Os direitos fundamentais podem ser descritos como um conjunto de direitos e garantias do ser humano, tendo como fim precípuo o respeito à sua dignidade, por meio da proteção contra o arbítrio do Estado, juntamente com o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana.[29]

O direito à vida está assegurada no art. 5º, caput, da Constituição Federal[30] e se afigura como o mais fundamental de todos os direitos, e como pré-requisito à existência e exercício de todos os demais. Cabe ao Estado assegurá-lo, abordando duas concepções, sendo a primeira relacionada ao direito de continuar vivo e o segundo de ter uma vida digna.

Salienta-se que a vida física não é o único e maior de todos os bens, a ponto de converter-se em dever a sua conservação a todo preço e em qualquer situação, nem a morte é um mal absoluto e definitivo, de modo que não se possa enfrentá-la com um sentido transcendente da existência humana.[31]

José Afonso da Silva aponta que

Vida, no texto constitucional (art. 5º, caput), não será considerada apenas no seu sentido biológico, mas na sua acepção biográfica mais compreensiva. Sua riqueza significativa é de difícil apreensão porque é algo dinâmico, que se transforma incessantemente sem perder sua própria identidade. É mais um processo (processo vital), que se instaura com a concepção (ou germinação vegetal), transforma-se, progride, mantendo sua identidade, até que muda de qualidade, deixando, então, de ser vida para ser morte. [32]

Não se deve reconhecer apenas a dimensão biológica da vida humana, negligenciando a qualidade de vida do indivíduo e sua interação com o mundo exterior. A obstinação em

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prolongar o máximo possível o funcionamento do organismo não deve mais encontrar guarida, simplesmente porque o preço desta é uma gama incomensurável de sofrimentos gratuitos, seja para o enfermo, seja para seus familiares.[33]

Prossegue o autor:

[...] embora a vida seja o pressuposto para o exercício de todos os outros direitos, ela somente se verifica quando houver o que o autor apontou como vida na sua “acepção biográfica mais compreensiva”, assim, uma vida meramente biológica não deve jamais constituir uma obrigação. [34] (grifo nosso)

Aquiescer com esse entendimento é entender que a vida humana tem outras dimensões que não somente existir e respirar. Quando se busca também a qualidade de vida, pauta-se no bem-estar do ser humano e, por esse prisma, o prolongamento da vida somente se justifica se oferecer algum benefício.[35]

O constitucionalista Alexandre de Moraes argumenta que a eutanásia não ameaça o direito à vida, porque, quando o desejo de morrer emana do indivíduo, este já não goza da plenitude da vida, além de não poder usufruir dela com qualidade. Em alguns casos, nem mesmo as suas funções vitais são autônomas.[36]

Até que ponto a vida deve ser imposta a um indivíduo? É inevitável que haja enfermos que vejam o tempo que lhes resta de vida como uma experiência nefasta e desejem abreviá-la. A liberdade e a dignidade são valores de grande profundidade no exercício do direito “vida”, e o final desta deve ser tomado como desdobramento natural e não como consequência a ser evitada a qualquer custo.

Quanto ao princípio constitucional da liberdade, este traz implícita a noção de respeito à autonomia dos seres humanos, a direção daquilo que diz respeito exclusivamente ao próprio indivíduo.

Para os gregos, a liberdade é um estatuto de duplo aspecto: por um lado, independência em relação a toda espécie de coação corporal; por outro, obediência às disposições gerais (lei).

John Locke, filósofo inglês e ideólogo do liberalismo, que viveu no século XVII, acreditava que, por ser o homem um ser racional, a liberdade não poderia separar-se da felicidade.[37]

Para Kant, filósofo alemão que viveu no século XVIII, sem liberdade não haveria escolha; e, sem esta, não haveria certo ou errado, nem possibilidade de estabelecer juízos de valor. O filósofo ainda diz que a liberdade é conditio sine qua non do direito.[38]

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Ser livre é estar disponível para fazer algo por si mesmo. A liberdade é a possibilidade de decidir e com isso autodeterminar-se, pressupondo responsabilidade do indivíduo para consigo e para com a comunidade na qual está inserido.[39]

A liberdade e a igualdade foram os primeiros princípios reconhecidos como direitos humanos fundamentais, formando a primeira geração de direitos a garantir o respeito à dignidade da pessoa humana. O direito tem como finalidade coordenar, organizar e limitar a liberdade justamente para garanti-la.[40]

Como assegurar efetivamente a liberdade das pessoas que sofrem em consequência de enfermidades?

Para Ronald Dworkin a sociedade se preocupa com o que as pessoas individualmente pensam acerca da eutanásia porque essa decisão expressa o valor intrínseco a qualquer vida, e, por conseguinte, afeta também a dignidade de toda a coletividade. Contudo, é importante que se viva pautado pela liberdade, que pressupõe a reflexão e a autodeterminação.[41]

Acredita-se que a sociedade deve pautar-se também pela razoabilidade, respeitando ao mesmo tempo os interesses do grupo e os dos indivíduos que o compõem. Assim, no exercício da liberdade e da autonomia de vontade, o desejo de morte do enfermo deverá ser acolhido, pois não fere direitos coletivos; ao contrário, reafirma um de seus poucos direitos que ainda podem ser exercidos.

O dom da vida é concedido, e com ela a liberdade do ser humano de fazer escolhas, ainda que seja pela morte.

Quanto à dignidade da pessoa humana, esta, segundo o inc. III do art. 5º da Constituição Federal, é um dos fundamentos do Estado democrático de direito.

A dignidade pode ser compreendida como a consciência que o ser humano tem de seu próprio valor[42], o respeito que pode exigir de todos pela sua condição de ser humano.[43] Constitui-se em guia de toda a ordem jurídica, restando indispensável sua existência para a ordem social.

Do respeito à dignidade da pessoa humana surgem consequências como a igualdade de direitos entre todos, a garantia à independência e autonomia de vontade e a não imposição de condições subumanas de vida.[44] Reconhece-se na dignidade o privilégio de todo ser humano em ser respeitado como pessoa, de não ser prejudicado em sua existência, vida, corpo ou saúde, e de usufruir de um âmbito existencial característico seu.

Para Ronald Dworkin, a dignidade é, em certo sentido, uma questão de convenção e seu conteúdo poderá variar de acordo com a sociedade e época. Contudo, o direito que as pessoas têm de que a sociedade reconheça a importância de sua vida não pode constituir mera convenção.[45]

A morte deve ser um reflexo de como a pessoa viveu, e esse momento deve guardar, na medida do possível, coerência com seus valores e convicções, e assim cada um deverá decidir por si o que é morrer com dignidade.[46]

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A morte digna, pautada na autonomia de vontade, respeita o pluralismo moral, a diversidade de crenças. Cada um deve ter o direito de optar pelo que é mais digno para si: se é lutar ao máximo pela vida ou aceitá-la como iminente e procurar transformá-la em um momento sereno e sem dor.

A eutanásia não deve ser vista com naturalidade, porque de fato suprime o bem mais valioso, que é a vida; porém, quando por uma enfermidade for expurgado do paciente o controle sobre esta, suas demais faculdades deverão ser hasteadas, a fim de que, mesmo na hora derradeira, seus direitos fundamentais sejam tutelados.

4 DA EUTANÁSIA COMO CAUSA SUPRALEGAL DE EXCLUDENTE DE ILICITUDE

Como retroexposto, as condutas eutanásicas – comissivas ou omissivas, no ordenamento jurídico pátrio, são consideradas criminosas.

Porém o mesmo ordenamento jurídico elenca hipóteses em que o crime, embora exista, em decorrência da relevância da conduta não deverá ser apenado.

Parte-se do raciocínio de que delito, enquanto crime, pode ser definido em dois aspectos: formal e material. O primeiro garante a proteção a um bem juridicamente tutelado; o segundo diz respeito ao desvalor social, ou seja, ao que determinada sociedade, em dado momento histórico, considera ilícito.[47]

Acrescente-se que, para a existência do ilícito penal, é necessário que a conduta típica seja também antijurídica.

A antijuridicidade é a contradição entre uma conduta e o ordenamento jurídico. O fato típico, em regra, é uma situação que, ajustando-se ao tipo penal, torna-se antijurídica. [48]Nota-se que há um critério negativo de conceituação da antijuridicidade: o fato típico também será antijurídico, salvo se houver causa de exclusão da ilicitude.

“Matar alguém” voluntariamente é fato típico, mas não será antijurídico, por exemplo, se o autor do fato agiu em legítima defesa. Logo, será antijurídico todo fato descrito em lei penal incriminadora e não protegido por causa de justificação.[49]

A antijuridicidade também pode ser dividida em formal e material. A primeira será a subsunção entre o fato praticado pelo sujeito e a norma de proibição, enquanto a segunda ofenderá o interesse protegido pela norma.[50]

A antijuridicidade pode ser afastada por determinadas causas, denominadas “causas de exclusão de ilicitude”. Por essa razão, a tipicidade é o indício da antijuridicidade, que será excluída se houver causa que a elimine.[51]

As causas de justificação estão previstas no art. 23 do Código Penal; são elas o estado de necessidade, a legítima defesa, o estrito cumprimento do dever legal e o exercício

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regular de direito. A dúvida que surge é se existem causas de justificação além das elencadas naquele artigo.

No tocante às normas penais incriminadoras, vigora o princípio da reserva legal: não há crime sem lei anterior que o defina.[52] Essa proibição, porém, não se estende às normas penais não incriminadoras (permissivas e supletivas), como, por exemplo, o artigo supramencionado. Assim, a lacuna de previsão legislativa pode ser suprida pelos processos de autointegração da lei penal. [53]

Para Luiz Regis Prado, o rol do art. 23 é exemplificativo, podendo o magistrado, quando da aplicação da lei penal, reconhecer outras causas que não foram elencadas.[54]

Se o intuito da norma é proteger a sociedade e esta, diante de um fato, anui com o comportamento, em tese criminoso, não deve haver ilicitude, porque a necessidade de conservação do interesse comum faz com que o fato típico não se revista de antijuridicidade. Nesse caso, haverá uma causa supralegal de excludente de ilicitude.

Para Damásio de Jesus[55] e Luiz Regis Prado, o mesmo se aplica quando houver o consentimento do ofendido.[56]

A doutrina das justificativas supralegais funda-se na afirmação de que o direito, enquanto norma, por ser estático, não esgota todas as causas de justificativas da conduta humana.[57]

As justificativas supralegais são aplicáveis por analogia, costumes e princípios gerais de direito, segundo o critério de prevalência, em qualquer caso, dos fins sociais a que a lei se destina e das exigências do bem comum.

O intérprete pode e deve, em certos casos, ir além da mecanicista aplicação do texto legal, buscando solução razoável e mais justa para o caso concreto.[58]

É exatamente nesse contexto que a eutanásia surge: como causa supralegal de excludente de ilicitude. Isso se deve ao fato de a eutanásia ser socialmente aceita. O relevante valor social, pelo qual o agente está imbuído, é compartilhado pela sociedade, que enxerga no cometimento do crime o sentimento de piedade.

Dessa forma, em que pese a eutanásia seja formalmente antijurídica, pois está em desconformidade com a norma, não o é materialmente, pois não fere os interesses sociais tutelados por esta.

Paulo Daher Rodrigos, em sua obra Eutanásia, dedica um capítulo especial a depoimentos de pessoas que praticaram eutanásia ou a solicitaram a um profissional de saúde para minorar o sofrimento de um ente querido.[59] Todos esses relatos fundamentam que a morte piedosa é aceita por parcela considerável da sociedade e tolerada inclusive pelo Judiciário.

Não é segredo que a eutanásia é realizada diuturnamente; o que não se conhecem, devido à incriminação, são os seus verdadeiros números.

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A opção por uma morte digna e com autonomia respeita o pluralismo moral, a diversidade de crenças e os valores de vida, pois reconhece a existência de diferentes entendimentos acerca do que seja morrer dignamente.

Portanto, ainda que não haja previsão expressa no ordenamento jurídico pátrio, deve ser reconhecido o direito a uma morte digna e com autonomia, desde que obedecidos os requisitos que serão propostos.

5 SUGESTÃO DE LEGE FERENDA

Ainda que o ordenamento jurídico permita, através de causas supralegais de excludente de ilicitude, a não incriminação das condutas eutanásicas, esse não seria o modelo ideal.

Acredita-se que a eutanásia ativa, que resulta de uma ação direta para pôr termo à vida do doente, não deve ser crime quando houver a solicitação do paciente de forma livre, refletida e inequívoca.

Não se pode deixar de abordar a situação daqueles doentes que não estão aptos a decidir por si próprios, por estarem inconscientes. Nesses casos, a família poderá decidir pela eutanásia, sem incorrer em crime, desde que haja manifestação inequívoca dessa vontade, anterior à incapacidade, por meio de escritos, gravações ou testemunhas.

Acrescente-se que, em alguns casos, o enfermo não manifestou nenhuma opinião a respeito de como enfrentar a morte, ou paira dúvida quanto à sua vontade, ou a enfermidade lhe sobreveio em tenra idade, quando não poderia discernir a respeito. Em tais casos, há que se ter mais critério para a realização da eutanásia, que, em nosso entendimento, poderá ser efetivada somente se obedecer aos três critérios seguintes.

O primeiro diz respeito à gravidade da enfermidade do paciente: deverá estar em coma profundo, em estado vegetativo, ou ser portador de doença degenerativa em estágio que lhe tenha suprimido a lucidez.

Já o segundo critério se refere ao lapso temporal em que a pessoa se encontra nas situações acima citadas, devendo o legislador estabelecê-lo de modo razoável, para que não se permita a morte de alguém que poderia, com o passar do tempo, se recuperar.

O último requisito será o diagnóstico de três profissionais que atestem a irreversibilidade do caso, bem como a impossibilidade de cura.

Ressalte-se que nos inconscientes a eutanásia só poderá ser realizada se não houve, durante a capacidade, manifestação contrária do enfermo.

A eutanásia ativa realizada fora das regras sugeridas acima deverá ser considerada homicídio.

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Na eutanásia passiva, ou ortotanásia, deixa-se o doente morrer naturalmente, sem o uso de aparelhos ou medicamentos que prolonguem a vida de forma artificial. Nesse caso, ninguém provoca a morte do paciente, apenas abre-se mão de estender seu tempo de vida, conforme sua manifestação volitiva.

Nesse tipo de eutanásia se incluem os casos, amplamente noticiados na imprensa mundial, da americana Terri Schiavo e da italiana Eluana Englaro.[60]

Note-se que a vida tem conceito muito mais amplo do que batimentos cardíacos e respiração; a vida tem um conceito filosófico de interação e compreensão do mundo além do corpo. A nosso ver, a vida das duas jovens acima referidas, lamentavelmente, havia muito já haviam sido suprimidas.

Por fim, a eutanásia social, que se refere aos pacientes que não têm acesso ao sistema público de saúde ou o têm de forma inadequada, deve ser considerada como criminosa, porque priva de vida alguém que poderia ter a saúde restabelecida em caso de tratamento.

CONCLUSÃO

Eutanásia é a ação ou omissão que tem como propósito acarretar ou apressar a morte de algu, a fim de lhe abreviar sofrimento decorrente de doença. Já a eutanásia passiva, ou ortotanásia, consiste em deixar o doente morrer naturalmente, sem o uso de aparelhos que prolonguem a vida de forma artificial.

A obstinação terapêutica se trata de distanásia, que é o contrário de eutanásia, e proporciona morte lenta, com sofrimento intenso, tanto para o doente quanto para os seus familiares.

Também há a eutanásia social, ou mistanásia, que ocorre quando o paciente não tem acesso ao sistema público de saúde ou o tem de forma inadequada.

No Brasil, a eutanásia, em qualquer uma de suas modalidades, bem como o suicídio assistido, são incriminados. Porém desde 1999 tramita Anteprojeto de Reforma da Parte Especial do Código Penal, fixando sanções mais brandas para a eutanásia ativa direta.

A vida tem outras dimensões que não somente existir e respirar. O direito deve pautar-se no bem-estar do ser humano; por esse prisma, o prolongamento da vida somente se justifica se oferecer algum benefício.

A liberdade traz implícita a noção de autonomia dos seres humanos, a direção daquilo que diz respeito exclusivamente ao próprio indivíduo. No exercício da liberdade e da autonomia de vontade, o desejo de morte do enfermo deverá ser acolhido, pois não fere direitos coletivos; ao contrário, reafirma um de seus poucos direitos que ainda podem ser exercidos.

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A dignidade, além de ser um dos fundamentos do Estado democrático de direito, pode ser compreendida como a consciência que o ser humano tem de seu próprio valor, o respeito que pode exigir de todos.

Embora a eutanásia seja formalmente antijurídica, porque está em desconformidade com as normas penais vigentes, não o é materialmente, pois não fere os interesse sociais tutelados por estas. Ao contrário, defende-se que deva ser recepcionada como causa supralegal de excludente de ilicitude, por ser socialmente aceita.

O relevante valor moral do qual o agente está imbuído é compartilhado pela sociedade, que enxerga no cometimento do crime o sentimento de piedade.

Ainda que o ordenamento jurídico permita, por meio de causas supralegais de excludente de ilicitude, a não incriminação das condutas eutanásicas, esse não seria o modelo ideal.

Acredita-se que a eutanásia ativa não deve ser crime quando solicitada pelo paciente de forma livre, refletida e inequívoca.

A família poderá decidir pelo doente quando este estiver inconsciente, desde que haja manifestação inequívoca de sua vontade, anterior à incapacidade, por meio de escritos, gravações ou testemunhas.

Nos casos em que o enfermo não manifestou nenhuma opinião a respeito de como enfrentar a morte, ou em que pairar dúvida quanto à sua vontade, ou se a enfermidade lhe sobreveio em tenra idade, quando não poderia discernir a respeito, há que se obedecer a três critérios: a enfermidade deverá se circunscrever ao coma profundo, ao estado vegetativo, ou a doença degenerativa em estágio avançado; há que ser observado lapso temporal razoável, estabelecido por lei, para que não se permita a morte de alguém que poderia, com o passar do tempo, se recuperar; e, por fim, o diagnóstico de três profissionais que atestem a irreversibilidade do caso, bem como a impossibilidade de cura.

Saliente-se que, nos inconscientes, a eutanásia só poderá ser realizada se não houve, durante a capacidade, manifestação contrária do enfermo.

A eutanásia ativa realizada fora das regras sugeridas acima deverá ser considerada homicídio.

Na eutanásia passiva, ou ortotanásia, não há crime, porque o paciente faz a opção de morrer naturalmente, sem o uso de aparelhos ou medicamentos que prolonguem a vida de forma artificial. Nesse caso, ninguém provoca sua morte.

Conclui-se, portanto, que, embora não haja previsão expressa no ordenamento jurídico pátrio, deve ser reconhecido o direito à eutanásia, visto que somente a pessoa envolvida pode saber, para si ou para um ente querido inconsciente, e dentro das hipóteses previstas, o que significa morrer com dignidade.

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[1] RODRIGUES, Paulo Daher. Eutanásia. Belo Horizonte: Del Rey, 1993, p. 23.

[2] COLLUCCI, Cláudia. Juiz obriga médicos a tentar prolongar vida de doentes terminais. Folha de S. Paulo, São Paulo, 27 nov. 2007, C 1.

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[3] VIOTTO, Decio. Eutanásia: desejo derradeiro. Revista Época, ano III, n. 133, 4 dez. 2000, p. 82 e 83.

[4] CAPÍTULO III

De las causas de impunidad

Art. 37. Del homicidio piadoso.

Los Jueces tienen la facultad de exonerar de castigo al sujeto de antecedentes honorables, autor de un homicidio, efectuado por móviles de piedad, mediante súplicas reiteradas de la víctima.

Disponivel em: . Acesso em 15 de abril de 2009.

[5] WANDERMUREN, Jonathas Lucas. Eutanásia: deve a vida ser preservada em qualquer circunstância? Revista Jurídica Consulex. Ano IX, n. 199, 30 de abril de 2005, p. 30.

[6] Ibid.

[7] CÓDIGO Penal Espanhol. Disponível em: < http://www.fragoso.com.br/cgi-bin/leis/arquivo81.html>. Acesso em 16 de abril de 2009.

[8] WANDERMUREN, op. cit., p. 30.

[9] YAMAGUCHI, Nise Hitomi. É a vida um direito inviolável? Revista Jurídica Consulex. Ano IX, n. 199, 30 abr. 2005, p. 33.

[10] Disponível em: . Acesso em 16 de abril de 2009.

[11] O § 3º do art. 121: Não constitui crime deixar de manter a vida de alguém por meio artificial, se previamente atestada, por dois médicos, a morte como iminente e inevitável, e desde que haja consentimento do doente ou, na sua impossibilidade, de ascendente, descendente, cônjuge ou irmão.

[12] CARVALHO, Gisele Mendes de. Aspectos jurídico-penais da eutanásia. São Paulo: IBCCRIM, 2001, p. 127.

[13] O termo “mistanásia” é uma criação do padre redentorista Leonard Martin, professor de teologia moral e bioética do Instituto Teológico-Pastoral do Ceará e presidente da Sociedade Brasileira de Teologia Moral. Como um dos colaboradores do livro Iniciação à bioética, publicado pelo Conselho Federal de Medicina, ele defende a utilização do termo como possível substitutivo da expressão “eutanásia social”, segundo ele, incorreta. A palavra “mistanásia”, na acepção que ele propõe (sem oferecer as razões que o levaram a escolher o elemento de composição mist), tem um caráter notadamente ideológico, abarcando, sobretudo, as causas sociais da morte. Para Leonard Martin, mistanásia “é a morte miserável fora e antes do seu tempo. apud SILVA, José Maria e. A moral devoluta. Disponível em

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<http://www.jornalopcao.com.br/index.asp?secao=Reportagens&idjornal= 212&idrep=2102>. Acesso em 17 de abril de 2009.

[14] A mistanásia aproxima-se muito de um outro tipo de prática, comumente citada nos argumentos de quem condena a eutanásia: a eliminação de pessoas, por determinação do Estado, por meio da eugenia, a chamada “higienização social”. SILVA, Wilson H. Eutanásia: O direito à dignidade, até mesmo na morte. Disponível em < http://www.pstu.org.br/autor_materia.asp?id=3378&ida=18> Acesso em 20 de maio de 2008.

[15] Cf. .

[16] SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 6 ed. 2. tiragem. São Paulo: Malheiros Editores, [s.d.], p. 168.

[17] Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

[18] Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:

[...]

II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; (grifo nosso)

[19] Art. 37 da Constituição.

[20] CAMPOS, Pedro Franco de et al. Direito penal: parte especial do Código Penal. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 2.

[21] Ibid.

[22] Cf. Item 39 da Exposição de motivos da parte especial do Código Penal.

[23] EUTANÁSIA: Ministra da Saúde recusa prioridade. Disponível em: . Acesso em 12 de abril de 2009.

[24] CAMPOS, op. cit., p. 17.

[25] Ibid, p. 18.

[26] MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal: parte especial. 24 ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 109. v 2.

[27] Disponível em: . Acesso em 14 de janeiro de 2008.

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[28] BOSCOV, Isabela. O direito a morte. Revista Veja, Rio de Janeiro, Editora Abril, Edição n. 1892, 16 fev. 2005, p. 95.

[29] CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. 3 ed. Coimbra: Livraria Almedina, 2000. p. 373.

[30] Art. 5º, caput da CF.

[31] CARVALHO, op. cit., p. 62.

[32] SILVA, José Afonso, op. cit., p. 197.

[33] SÁ, Maria de Fátima Freire de. Direito de morrer - eutanásia, suicídio assistido. 2 ed. Belo Horizonte, Del Rey, 2005, p. 32.

[34] SILVA, José Afonso, op. cit., p. 201.

[35] SÁ, op cit., p. 32.

[36] MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais. 3 ed. São Paulo: Editora Atlas, 2000, p. 320.

[37] Disponível em: < http://gold.br.inter.net/luisinfo/cidadania/liberdade.htm>. Acesso em 12 de abril de 2009.

[38] KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. 5 ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 27.

[39] SÁ, op. cit., p. 54.

[40]CANUTO, Érica Verícia de Oliveira. A contradição no regime da separação absoluta de bens. Revista Brasileira de Direito da Família. Porto Alegre: IBDFAM/Síntese, n.26, out.-nov. 2004, p.144-158.

[41] DWORKIN, Ronald. El domínio de la vida: una discusión acerca del aborto, la eutanasia y la libertad individual. Barcelona: Editorial Ariel, 1994, p. 314.

[42] CENEVIVA, Walter. Direito constitucional brasileiro. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 42.

[43] SILVA, Paulo Napoleão Nogueira da. Curso de Direito Constitucional. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 454.

[44] NOBRE JÚNIOR, Edson Pereira. O Direito brasileiro e o princípio da dignidade da pessoa humana. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/aj/dconst 0019. htm>. Acesso em 20 de setembro de 2005.

[45] DWORKIN, op. cit., p. 339.

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[46] MÖLLER, Letícia Ludwig. Direito a morte com dignidade e autonomia. Curitiba: Juruá, 2007, p. 99.

[47] PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro. 7 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 241. v. 1.

[48] MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de direito penal: parte geral. 24 ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 167. v 1.

[49] Ibid.

[50] JESUS, Damásio E. de. Direito penal: parte geral. 26 ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 358. v 1.

[51] MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal, p. 169.

[52] Art. 5º, XXXIX da Constituição Federal: não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.

[53] PRADO, op. cit., p. 169.

[54] Ibid.

[55] JESUS, op. cit., p. 358.

[56] PRADO, op. cit., p. 393.

[57] CAMARGO, Ruy Junqueira de Freitas apud MIRABETE, op. cit., p. 171.

[58] MARREY NETO, José Adriano apud MIRABETE, op. cit., p. 171.

[59] RODRIGUES, op.cit., p. 33 et seq.

[60] Terri, aos 27 anos, sofreu um ataque cardíaco decorrente de anos de anorexia e bulimia, o que resultou em falta de oxigenação do cérebro, e, como consequência, uma severa lesão cerebral irreversível. O esposo de Terri obteve autorização para a eutanásia em 2005, após 15 anos de estado vegetativo. Eluana, aos 20 anos, sofreu um acidente de trânsito, que a deixou em estado vegetativo por 16 anos. Em 2008 os pais de Eluana conseguiram autorização para desligar os aparelhos que a mantinham viva.

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