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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

1

MEDIADORES DE LEITURA – UMA PERSPECTIVA INTERDISCIPLINAR

POSSÍVEL

Marivete Souta1

Sandra do Rocio Ferreira Leal2

Resumo

Avaliações têm evidenciado um retrato da leitura no âmbito nacional e regional ainda muito distante do desejado. Pesquisas revelam o quanto os alunos estão desmotivados para a leitura. É necessário que se viabilize meios de inserir os alunos no universo da leitura. Muitas vezes, o único lugar onde os alunos da rede pública de ensino têm contato com os livros é na escola onde estudam. É preciso investir em projetos que visem à formação de leitores. Nosso objetivo foi verificar e refletir como estão sendo utilizadas as bibliotecas escolares e qual o papel que está sendo desempenhado pelos atendentes desses espaços no processo de formação de leitores. Investigamos, junto aos atendentes das bibliotecas do município de Ponta Grossa- Pr, como está sendo desenvolvido o seu trabalho, qual a sua formação acadêmica e os seus conhecimentos sobre o acervo do espaço onde atuam. Verificamos que esses atendentes de biblioteca necessitam urgentemente de formação continuada sobre o tema leitura para um melhor desempenho de sua função na escola. A partir dos resultados, propusemos, através de um curso de extensão, que os atendentes das bibliotecas sejam “Mediadores de Leitura”, mostrando-lhes necessidade de formação continuada, que interaja com todas as áreas do conhecimento, num processo contínuo de estímulo à leitura. Essa formação contínua é que subsidiará o seu trabalho, incentivando-os e orientando-os para realização de projetos nas escolas onde atuam.

Palavras-chave: Biblioteca; Leitura; Atendentes de biblioteca; Formação continuada; Mediadores de leitura.

1 Introdução

Sabemos da importância da leitura para a formação de cidadãos. Pelas

pesquisas realizadas sobre a competência leitora dos brasileiros, verificamos o

quanto ainda há para ser feito. Observamos que apesar da melhora nos resultados

1 Especialista em Metodologia da Língua Portuguesa e da Literatura Brasileira, Graduada em Letras

Português/Inglês, professora do Colégio Estadual Meneleu de Almeida Torres em Ponta Grossa. 2 Mestre em Educação,graduada em Letras, Professora de Estágio Curricular Supervisionado de

Língua Portuguesa e Literatura, da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG, Coordenadora dos Cursos de Extensão da EaD – UEPG.

2

obtidos nos últimos testes, ainda não há muito que comemorar. Para Maria Salete

Silva (2011), o primeiro desafio para melhorarmos a qualidade de ensino é incentivar

o hábito leitor em todos os brasileiros.

Os resultados em 2009, da última avaliação externa (internacional), o Pisa,

revelam que, entre 65 países, o Brasil ficou em 53º, perdendo para países como

Chile, Uruguai e México. Os piores resultados foram apresentados pelas escolas

estaduais.Também ficou evidente a desigualdade educacional entre as regiões. Os

melhores resultados foram obtidos pelo Distrito Federal e pelos estados da região

sul e sudeste, comprovando assim, através da pesquisa realizada pelo Instituto Pró-

Livro (2008), que os fatores econômicos e culturais influenciam muito na leitura.

Quanto melhor a economia da região, observamos que a capacidade leitora também

é melhor. Outro dado interessante é que quem mais influencia o leitor, com 49%, é a

mãe, depois vem a professora com 33% e o pai com 30%.

Para Mariana Carvalho(apud Mandelli, (2011), o maior obstáculo que temos

é trabalhar o mediador de leitura, que pode ser o professor ou os pais, para que se

“venda” bem a ideia de ler para a criança. Só assim, segundo ela, se cria o hábito de

leitura.

Este ano teremos, também, as avaliações da Prova Brasil/SAEB, cujos

resultados poderão nos trazer novas informações. Segundo Meroujy Giacomasi

Caver, superintendente de Educação no Paraná (2011), em 2009, a rede estadual

de ensino do Paraná apresentou o índice de Desenvolvimento da Educação (IDEB)

de 41, para os anos finais do Ensino Fundamental, e 3,9 para o Ensino Médio. Essa

é uma representação estatística do cenário do Ensino Fundamental e Médio.

No Núcleo Regional de educação de Ponta Grossa, onde se configurou nossa

pesquisa sobre as bibliotecas das escolas da rede pública estadual desse município,

observamos que em 2010 houve uma melhora acentuada nos resultados do IDEB,

que é o Índice de Desenvolvimento da Educação e é hoje o principal medidor da

educação brasileira, pois leva em conta o rendimento escolar. Esse rendimento é

avaliado pelo SAEB e a Prova Brasil, que são aplicados a cada 2 anos. A coleta e

compilação dos dados demoram cerca de um ano.

É importante analisarmos os resultados de pesquisas sobre a educação para

podermos ter um parâmetro de comparação, avaliarmos e tomarmos medidas para

melhorar. Caver (2011) ressalta que refletir sobre esses resultados e sobre os

processos avaliativos intra e extraescolares deve servir de subsídio para futuras

3

ações e planejamentos. Devemos observar as demandas e necessidades de cada

escola, de forma questionadora, transformadora e implementadora. Podemos

observar que tanto no âmbito nacional quanto no Núcleo Regional de Ponta Grossa,

houve melhora na competência leitora de nossos alunos, mas esse avanço ainda é

tímido. Há muito ainda a ser feito em relação à leitura. Segundo a pesquisa Pró-Livro

(2008), os avanços são resultados de muitas iniciativas, não só do setor público,

mas também do setor privado, que tem investido em projetos de leitura e enfatizado

o papel fundamental das escolas na formação de leitores.

Segundo a revista Veja ((2011), alunos que leem mais têm desempenho

melhor, importando pouco o que lêem. Essa relação é observada para livros, jornais

e revistas. Alunos que tiveram pais que leram na tenra infância têm melhor

desempenho. Isso justifica a nossa preocupação em incentivar a leitura, investindo

nos atendentes de biblioteca, pois muitos dos alunos das escolas da rede pública de

ensino encontram livros somente na escola.

2 A pesquisa sobre as bibliotecas de Ponta Grossa e seus atendentes

Ao trabalharmos com projetos de leitura, na Usina de Conhecimento, órgão

vinculado ao Núcleo de Educação de Ponta Grossa, até 2010, estávamos sempre

em contato com as escolas, professores e alunos. Nessa caminhada, observamos

que os atendentes de biblioteca trabalham muito sós, sem apoio nenhum.

Gostaríamos de saber mais sobre o trabalho dessas pessoas, então formulamos um

questionário com perguntas para detectarmos, inicialmente, as fragilidades das

bibliotecas das escolas da rede estadual de ensino. Quem são os atendentes das

bibliotecas? Como são preparados para essa função? São apenas atendentes ou

assumem a função de mediadores de leitura? Como é o espaço físico e o acervo?

Como é a realização dos empréstimos e o horário de funcionamento? Quem são os

encarregados da biblioteca? Eles têm orientação de como agir? Como é a utilização

das bibliotecas das escolas de Ponta Grossa?

Ao analisarmos o resultado dessa pesquisa, detectamos que esses

profissionais sentem-se muito desamparados. Muitas vezes, são enviados para

trabalhar na biblioteca os auxiliares administrativos, em sua maioria, depois os

4

professores em desvio de função e também agentes de apoio. Os resultados

revelaram que alguns nem gostam de ler, ou não sabem como trabalhar na

biblioteca, ou não realizam somente essa função na escola, também trabalham na

secretaria, copiadora, etc. A maioria nunca fez um curso sobre biblioteca. De 31

escolas do Núcleo Regional de Ponta Grossa que responderam o questionário,

observamos que somente 6 escolas possuem projetos de leitura e 4 possuem

horário para cada turma frequentar a biblioteca. A maioria não sabe qual é sua

função como atendente de biblioteca, acreditando que seu trabalho é puramente

burocrático: organizar, catalogar livros, empréstimo e devolução de livros. A parte

pedagógica fica completamente de lado.

Assim, acreditamos que nosso trabalho revelou-se muito relevante e

urgente, pois consideramos a biblioteca o coração da escola. Segundo Gustavo

Ioschpe, em entrevista à revista Veja (janeiro/2011), no artigo Como melhorar a

educação brasileira – parte final, “[...] duas instalações que toda escola deveria ter:

laboratórios de ciências e bibliotecas. É bom não apenas uma biblioteca na escola,

mas uma versão menor dentro de cada sala de aula. [...]”. De acordo com nossa

pesquisa, isso ainda é utópico, na maioria das escolas as bibliotecas apresentam

problemas estruturais como: ambiente não adequado; necessitando de algumas

mudanças: iluminação precária, espaço pequeno, barulho etc; algumas escolas não

possuem biblioteca, poucas possuem ambiente adequado. Conforme os dados de

nossa pesquisa, as escolas estaduais de Ponta Grossa, na sua maioria, não

possuem boas bibliotecas.

Verificamos que a frequência maior à biblioteca é durante o recreio,

confirmando que na maioria das escolas não há um horário específico e fixo para

cada turma frequentar esse espaço. Apesar de todos os problemas estruturais e

humanos, constatamos que há muitas pessoas interessadas em incentivar a leitura,

independente de serem atendentes de biblioteca ou não. São professores de

diversas áreas, pedagogos, auxiliares administrativos, agentes de apoio e diretores.

Para que pudéssemos privilegiar todos os atendentes de biblioteca

pesquisados, organizamos um curso de extensão: “Mediadores de Leitura – uma

perspectiva interdisciplinar possível”, e divulgamos para todas as escolas estaduais

do município e também no site da Usina de Conhecimento de Ponta Grossa. Foi

uma grande surpresa verificarmos que somente 8 atendentes de biblioteca se

inscreveram e que houve um maior interesse de professores de outras áreas como:

5

geografia, artes, matemática, educação física, pedagogos etc, se interessaram pelo

tema do curso. Assim fechamos uma turma com 45 participantes.

Iniciamos o curso refletindo a respeito dos dados das pesquisas sobre leitura

realizadas em âmbito internacional, nacional e regional. A partir dessa reflexão

inicial, percebemos que podíamos buscar soluções em conjunto. Os estudos

teóricos sobre esses dados geraram discussões e revelaram as angústias da

procura de soluções para amenizar os problemas relacionados à falta de leitura dos

alunos. Os professores revelaram que os alunos não são interessados, falta

também motivação de alguns professores, equipe pedagógica e diretores no que

tange à prática da leitura, que fica a cargo, geralmente, do professor de Português,

como se ele fosse o único responsável pela leitura dos alunos. No entanto, nesse

curso havia professores de outras áreas procurando soluções para a dificuldade da

leitura na escola, pois se inscreveram para o curso com o intuito de fazer algo para

melhorar a competência leitora de seus alunos e até mesmo a sua própria

competência leitora.

3 A leitura crítica

Mas afinal, o que é ler? Simplesmente decifrar códigos? Não, ler é muito

mais que isso. Segundo o artigo O que acontece quando lemos? MEC (2011),

pesquisas já comprovaram que se lê não apenas com os olhos, mas com o cérebro,

portanto há necessidade de conhecimentos prévios para conseguirmos ler. Ler é ir

além, ler as entrelinhas. A capacidade de ler é complexa e depende da relação do

que os olhos veem e o cérebro. Além do conhecimento do leitor sobre o assunto e a

facilidade que ele tem de leitura, a velocidade depende de cada leitor, seu estilo,

habilidade e objetivo da leitura. Quando a palavra tem significado para o leitor é mais

fácil ler. A decodificação depende do conhecimento do significado. Os fatores que

determinam a leitura são: o texto e o que está por trás dele (conhecimentos prévios).

Por exemplo: um leitor que tem conhecimento de Física, entende melhor um texto

dessa área. É preciso não só o conhecimento sobre o assunto do texto, mas

também ter familiaridade com todos os gêneros textuais. Para Solé (1998), ler é

inferir, selecionar, antecipar, verificar, confirmar ou descartar hipóteses.

6

De acordo com Solé (1998, p. 27), a leitura pode ser considerada um

processo constante de elaboração e verificação de previsões que levam à

construção de uma interpretação.Ler é um procedimento, precisa ser ensinado. A

leitura precisa ser mediada. De acordo com a faixa etária, é preciso adaptar o modo

(metodologia) de leitura. Cada um de nós tem esquemas de conhecimento

diferentes por isso compreendemos em tempos diferentes. Segundo a autora,

quando trabalhamos com a leitura temos que fazer perguntas para que o aluno

chegue ao processo de retenção.

O analfabeto funcional decifra os signos, porém não vai além disso. É o

sujeito que quando lê um anúncio de vendas não percebe os juros embutidos no

total a prazo, com prestações a perder de vista que lhe parecem bem em conta. Não

percebe que acaba pagando o dobro dessa forma. O analfabeto funcional não

analisa os candidatos na hora do voto, não percebendo que a má escolha interfere

no custo de vida, na saúde, na educação, enfim na sua vida. É importante ensinar

a ler criticamente na escola. Segundo Silva (2008), a leitura crítica alia a leitura

mecânica à leitura de mundo, numa postura avaliativa, perspicaz, tentando descobrir

intenções, comparando a leitura daquele momento com outras já feitas,

questionando, tirando conclusões. Para a autora, isso requer aprendizado e não

dom, ter bagagem cultural e ser capaz de relacionar, confrontar, realizar sínteses e

chegar a conclusões. A escola está ensinando a leitura crítica? Estamos no caminho

certo? Primeiramente, vem aquele desconforto, depois a reflexão e finalmente a

atitude para melhorarmos a maneira de ensinar. Conforme Paulo Freire (2001), faz

parte da tarefa docente não apenas ensinar conteúdos mas também ensinar a

pensar certo.

Ensinar a ler é ensinar cidadania. À medida que lemos as entrelinhas, não

somos enganados com tanta facilidade, pois sabemos fazer escolhas para nossa

vida. Bagno (2009) afirma que não há como falar de língua sem falar de política.

Essas reflexões políticas não podem estar ausentes de nossas posturas teóricas

como professores, cidadãos, cientistas.

A grande tarefa da educação lingüística contemporânea é permitir, incentivar e desenvolver o letramento dos alunos, isto é, a plena inserção desses sujeitos na cultura letrada em que eles vivem. Este é um dever da escola e um direito de todo cidadão[...] (BANHO,2009, p. 86)

7

4 Ensino da leitura com enfoque nos gêneros textuais

Acreditamos que o ensino focando na diversidade de gêneros textuais, na

perspectiva da funcionalidade da língua, é uma alternativa para formar o aluno para

a cidadania. Devemos ensinar as características estruturais dos gêneros e também

como utilizá-los no dia a dia. Na perspectiva dos gêneros textuais, a leitura e a

escrita são atividades interativas, socialmente situadas e vinculadas a aspectos da

cultura e das estruturas de poder nas quais são constituídas e não individuais. O

ensino por gêneros permite escrever e ler não para a professora, para a escola, mas

sim para a vida. Ler para entender como funciona um aparelho (leitura de manual),

escrever para deixar um recado (bilhete), enfim ter um interluctor.

Desde a implementação dos PCNs (1998), os gêneros são objeto de ensino,

no entanto observamos que até mesmo para professores da área de Língua

Portuguesa ainda há muitas dúvidas. É necessário que professores de outras

disciplinas também ensinem seus alunos a ler os textos de suas áreas com mais

eficiência. O quadro síntese sobre as capacidades de linguagem dominantes, os

agrupamentos, de Joaquim Dolz e Bernard Schneuwly (1996) mostra que cada texto

exige uma maneira própria de leitura. Há diferentes estratégias usadas para ler um

texto. Ler um poema é diferente de ler um manual de instruções, por exemplo.

Geralmente, o professor pede um resumo ou uma pesquisa, mas não ensina

como proceder. Assim os alunos simplesmente copiam partes estanques sem

entender o texto, sem entender o conteúdo. Comentamos, durante o curso, que não

fomos preparados para trabalhar dessa forma por isso nossa dificuldade. Vale

lembrar que ao falarmos em diversidade de gêneros textuais, estamos nos referindor

a todas as áreas do conhecimento e não apenas à língua portuguesa.

Moço (2011), no artigo: 5 etapas da boa pesquisa, na revista Nova Escola

(2010), mostra que a pesquisa ajuda os alunos a estudar para que se saiam bem em

toda a Educação Básica, mas é preciso ser orientada pelo professor. Nada de

simplesmente jogar um tema para pesquisa e aceitar cópias de trechos de livros ou

ainda pior, impressões de textos retirados da internet. A pesquisa tem como

procedimentos básicos ler, compreender, interpretar e produzir um novo texto. “A

criança transforma conhecimentos já disponíveis na sociedade em algo novo para

ela.” Conforme Demo (2010 apud MOÇO, 2010, p. 41).

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5 Quem é o “mediador de leitura”?

Pensemos em quem nos incentivou a buscar livros por vontade própria.

Muitos de nós nos remeteremos aos nossos pais, avós, padrinhos, tios e

professores, enfim, para as pessoas que fizeram parte de nossa história de leitura.

As reminiscências sobre quem foi o nosso mediador de leitura proporcionam

um momento de reflexão sobre a nossa história de leitura na escola, enquanto

professores.

Retornar no tempo e observar nossos “mediadores de leitura” nos faz

perceber que o requisito básico e fundamental para se tornar um mediador é gostar

de ler. Como poderemos motivar outros a ler se não gostarmos? Quando

percebemos, pela nossa pesquisa, que temos alguns atendentes de biblioteca que

somente cumprem um horário de trabalho neste espaço, mas não têm nenhuma

identificação com os livros, pensamos no quanto isso pode ser desastroso. Em

contrapartida alguns relatos dos participantes nos mostraram uma outra perspectiva

por serem de encanto com a descoberta de um mundo novo na biblioteca. Não há

necessidade de ter um curso superior para ser um mediador de leitura, basta ter

encanto por ela, basta ser leitor.

Com a participação da coordenadora do grupo Bando da Leitura, de Ponta

Grossa, Lucélia Clarindo, pudemos analisar as atividades desenvolvidas por eles. A

mediadora de leitura socializou sua história de leitura e mostrou a importância de

contar histórias no processo de formação de leitores. Para Vera Maria Tietzmann

Silva (2008), uma boa maneira de saber como ser um mediador de leitura é observar

como Dona Benta agia, personagem de Monteiro Lobato, pois ela trazia o mundo até

o sítio através da leitura. Tinha a preocupação de democratizar o acesso ao saber,

trazendo jornais de São Paulo e Rio de Janeiro e livros nacionais e estrangeiros

para o meio rural. Ela chamava os moradores do sítio para os serões, quando lia

para todos. Outra característica de Dona Benta era sentar na altura das crianças,

adequando os temas e a linguagem ao nível de compreensão dos ouvintes porque

leitura sem compreensão não é leitura.

Há várias e simples formas de ser um mediador de leitura: indicando um

livro, falando sobre o livro que leu, contando uma passagem do livro, mas sempre

9

com paixão. A paixão é o que encanta o outro e o leva a procurar o livro

mencionado. O que precisa ficar claro é que o mediador de leitura se aproxima do

outro, media, é “agente” de leitura.

6 A arte de contar histórias

Durante o curso de extensão, oferecemos a oficina A arte de contar

histórias, sobre isso, Brenman (2005) afirma que essa

É uma oportunidade na qual abrimos um momento de contemplação, de comunicação. Há o exercício do pensar, falar, calar. Esse encontro se dá por meio das palavras, e o vazio entre os humanos ganha substância pela voz de quem conta.(BRENMAN, Ilan. P. 135, 2005.)

A arte de contar histórias propõe um intervalo no nosso atribulado tempo.

Quando paramos para contar ou ler uma história para alguém é como abraçar, dar

atenção, afeto. Nossa voz leva o outro para a história com as entonações, os

silêncios que também falam, a interpretação valorizando as palavras. Cléo Busatto

(2003) salienta que é a voz trabalhando pelo contador. As entonações registrando

emoções, que são alimentadas pelas reações dos ouvintes. Ela é regulada e

mimetizada de acordo com a relação com o público. Mas não sozinha. Ela reverbera

em todo corpo do contador: os olhos, os gestos, a expressão facial.

A ideia de que ler às crianças é benéfico para o desenvolvimento e para a

aprendizagem é um dos fundamentos do Plano Nacional de Leitura (PNL). Paralaxi

(2010) reforça isso afirmando que numa biblioteca de crianças deve haver livros

variados, com temas como “medos” ou que lhes permitam conhecer outras

realidades.

Não existe um roteiro fechado para contar histórias. O improviso é fundamental, isso não significa desconhecer a história, mas sim poder brincar de desmontá-la e recombiná-la novamente. Brincar é preciso! E é por isso mesmo que o narrador nunca conta a mesma história, mesmo que ele a repita há muitos anos; porque sempre haverá uma matéria linguística diferente de cada vez. (BRENMAN,Ilan, p. 135, 2005)

10

Cléo Busatto (2003) salienta que ao contarmos uma história para as

crianças, estaremos lhes oferecendo um alimento raro, pois iremos colaborar para

que o seu universo se amplie e seja mais rico. Somos contadores de histórias inatos.

É necessário preparar o ouvinte para contar uma história. Conforme Nancy Mellon

(2006), o momento do silêncio antes deve ser sagrado, pois conecta o contador e

seus ouvintes com o poder criativo do universo. A autora afirma que as palavras “Era

uma vez” permitem um novo ingresso no tempo. “Era” dá o sentido de imediatismo,

“uma” eleva o cenário da história na imaginação e “vez” leva os ouvintes tanto para o

presente quanto para o passado. Cada elemento da história tem um significado, por

exemplo, a floresta de uma história que você cria é o lugar de teste para o

autoconhecimento. Cada aspecto de uma história que inventamos revela um

aspecto de nós mesmos. Podemos expressar papéis e valores. O exagero do

comportamento negativo de um personagem de histórias inspira o oposto. Focalizar

o negativo em uma história infantil ajuda a esclarecer e expor sentimentos reais. A

“enteada” entre mulheres desprivilegiadas é a princesa que vive em todas as

mulheres, talvez sentada nas cinzas da auto-rejeição – como A gata Borralheira, até

adquirir clareza e confiança suficientes para ir ao baile do verdadeiro amor. O

conhecimento do mal reforça o poder do bem em nós. Os orientais acreditavam no

poder curativo dos contos. Tatiana Belinky (1989 apud Cléo Busatto, 2003, p.17),

escritora defensora das fadas, fala em alto e bom tom que os contos encantam

porque fazem rir e chorar, e é um treino para as emoções.

Nancy Mellon (2006) acrescenta que as fadas são herança dos povos

celtas. Para Bettelheim (1980, apud Mellon, 2006), há um poder regenerador dos

contos de fadas que, por conterem na sua estrutura elementos simbólicos, criam

uma ponte com o inconsciente, integrando os conteúdos arquetípicos e propiciando

à criança conforto e consolo em termos emocionais.

Por que contar histórias? Busatto (2003) afirma que para recuperar este

traço da oralidade e possibilitar o reencontro com a literatura oral. O nosso acervo

de literatura oral não tem a devida atenção que merece, não são consideradas pelo

que são, ou seja, um patrimônio de cultura e sabedoria, legado pelas tantas etnias

responsáveis pela formação da raça brasileira; a partir de um conto narrado é

possível trabalhar os conteúdos de linguagem oral e linguagem escrita, desde a

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sintaxe até a semântica; para educar o “ouvir”; e porque ao ouvir a história o aluno

aprende a correta sonoridade das palavras, o ritmo impresso pelo narrador,

sentimos os sons do silêncio, nos envolvemos com sua musicalidade e com os

sentimentos que emergem do conto.

A sociedade brasileira lê muito pouco: uma das formas de estimular a leitura é contar histórias. Uma sociedade que lê é mais informada, mais interessada nos acontecimentos, mais crítica e reflexiva na hora de tomar decisões. Por essas razões (e por outras que outras pessoas podem explicar melhor) é que os chamados “contadores urbanos” aumentaram em número e se tornaram mais conhecidos.” (COSTA, Marta Moraes da, p.1, 2011)

Nancy Mellon (2006) nos dá algumas dicas para uma boa contação de

histórias: obter o silêncio dos ouvintes, respirar, fazer silêncios bem posicionados,

entonação adequada, acreditar no que conta e o mais importante de contar histórias,

segundo a autora é: formar leitores, fazer da diversidade cultural um fato, valorizar

as etnias, manter a história viva para se sentir vivo, para encantar e sensibilizar,

para estimular o imaginário, para articular o sensível, resgatar significados para

nossa existência, tocar o coração, alimentar o espírito e, o mais importante, reativar

o sagrado.

Para Cléo Busatto (2003), a partir da história, os alunos podem recriá-la

através de desenhos, pintura, dobraduras, vídeo, informática, criar uma página sobre

contos; musicalizá-los, ou partir para as artes cênicas: como apresentações teatrais

sobre temas apresentados pela história. Regina Machado (2011) dá algumas dicas

para encantar com a arte de contar histórias: leia e conheça a história que você vai

contar; ter curiosidade é essencial; enquanto conta, procure ir vivendo a história,

deixe-se guiar por ela; conte para si mesmo, não o faça por obrigação, esqueça a

culpa; observe a reação da plateia; aproveite objetos inusitados e divertidos da casa,

como panos e lenços para dar mais possibilidades à história.

7 A biblioteca

12

O filme “O nome da rosa” estabelece relações com as discussões em torno da

biblioteca. Aborda as práticas de apagar obras antigas, escritas em pergaminhos,

escrever sobre elas ou copiar novos textos em cima, prática comum durante a Idade

Média. Eram os chamados palimpsestos, livretos em que textos científicos e

filosóficos, na antigüidade clássica, eram raspados das páginas e substituídos por

orações e rituais litúrgicos. O fio que Adso prende à roupa significa a seleção que

fazemos do que ler. No início do filme, a frase “Quem aumenta seu conhecimento

aumenta seu sofrimento” pode nos levar à reflexão. Quando temos conhecimento,

nos incomodamos, saímos da zona de conforto para refletir e depois agir. As mortes

significando a ânsia pelo conhecimento. E no final, a tentativa desesperada de

Willian para salvar os livros. O filme também nos revela o poder do conhecimento.

Para ter acesso `a biblioteca do mosteiro, é preciso passar por um labirinto porque é

mantida secretamente e poucos têm acesso a ela. Antigamente, poucos podiam ler.

Conforme nossa pesquisa, percebemos que as escolas da rede estadual de

Ponta Grossa, na sua maioria, precisam de uma boa estrutura para o espaço da

biblioteca. Um lugar aconchegante, com um bom acervo e boa iluminação. Quando

há biblioteca nas escolas ainda é um lugar distante dos alunos. São muitas as

dificuldades dos professores e atendentes para utilizá-la. Muitas vezes ela fica

trancada, ou escondida, sem atrativo nenhum. Cada gestor e/ou equipe pedagógica

deve começar a mudar este contexto, contribuindo para que em suas escolas a

biblioteca seja ativada, seja olhada de forma diferente de como tem sido até o

momento.

[...] para orientar a leitura, o professor tem de ser leitor com paixão por determinados textos ou autores e ódio por outros. O importante é não marcar passo, esperando por uma política oficial que nunca vem, é n deixar de buscar soluções sérias e caseiras, evitando o assassinato do potencial de leitura de milhares de crianças e jovens. (SILVA, p. 14, 2005)

Os artigos da revista Nova Escola (setembro, 2010) “Ler na escola” e “Ler

nas diversas áreas”, apresentam as diferentes estratégias que as áreas de

Geografia e História devem fazer uso para “ler” um texto. Uma palavra que pode ser

13

fácil para o professor pode ser difícil para o aluno. Isso significa um obstáculo à

leitura se o professor não ensinar os alunos a ler os textos de sua disciplina. É

necessário levar em conta também o conhecimento prévio dos alunos. As

inferências que os alunos, não conseguem fazer, o professor deve fazer junto com

eles.

A maioria das escolas não possui projetos de leitura na biblioteca. Segundo

Ezequiel Theodoro da Silva (2005), as pesquisas têm mostrado que os

equipamentos para a promoção da leitura nas escolas são extremamente precários

(muitas vezes inexistentes). É o caso das bibliotecas escolares. Em função do

quadro atual nas escolas . Os investimentos em bibliotecas escolares deveriam ser

altíssimos a fim de enriquecer o terreno da leitura. Apesar do pouco investimento, o

MEC, em 2000, por meio do Programa Nacional Biblioteca na Escola, distribuiu 110

títulos para os estabelecimentos de ensino, segundo o fascículo 4 – Pró Letramento

(2008), demonstrando que quanto ao acervo houve uma melhoria. Ainda não é o

ideal, mas podemos considerar um avanço. Os professores participantes do curso

Mediadores de Leitura - uma perspectiva interdisciplinar possível concordam que as

escolas têm recebido vários títulos e estão podendo trabalhar melhor com a leitura,

muitas vezes, improvisando uma biblioteca ambulante, colocando os livros em

caixas ou sacolas e levando para as salas de aula, já que há falta de estrutura na

maioria das bibliotecas de suas escolas.

Para as autoras Alessandra Sexto Bernardes e Paula M. Teixeira Vieira (2002

apud COSTA, 2002), no artigo Bibliotecas e livrarias no discurso de crianças e

adolescentes, no livro “Leitura e escrita na formação de professores”, os alunos

ainda lêem só para o professor e para a escola. Ler é, geralmente, uma tarefa

enfadonha, a leitura conjugada no verbo imperativo.

Apesar de, Camargo (2008, p. 19), retomar as Leis estaduais nº 2296/94,

4084/62 e 9664/1998, que dispõem sobre a obrigatoriedade das bibliotecas

escolares estarem sob a responsabilidade de profissionais bibliotecários qualificados

e regulamentados, não havia nenhum bibliotecário formado em biblioteconomia

responsável pelas bibliotecas nas escolas pesquisadas, dificultando o trabalho dos

atendentes de biblioteca, que trabalham sem apoio. Em 2010, inserido no curso

Profuncionário, oferecido pela SEED, havia um módulo intitulado “Biblioteconomia”.

Isso foi um avanço, mas, não podemos deixar de apoiar o trabalho dos atendentes

de biblioteca, não podemos deixá-los sem uma formação continuada.

14

8 Sugestões de atividades para serem realizadas pelo atendente de biblioteca

Ressaltamos aqui a relevância de recepcionar as 5ª séries, pois a maioria

dos alunos vêm sem conhecimento sobre o que é a biblioteca, como funciona, o

empréstimo e devolução dos livros, a carteirinha, sobre a localização dos livros,

retomar os cuidados básicos que se deve ter com o livro etc. Em Ponta Grossa, a

maioria das escolas municipais não possuem biblioteca e os livros são levados num

carrinho ou em caixas até as salas de aula. Por isso a importância desse trabalho de

apresentação da biblioteca para esses alunos. Ressaltamos também a importância

de se trabalhar com poesias, contação de histórias, ilustração etc, nessa fase. Na

educação infantil, segundo Elisa Meirelles (2010), a leitura deve ser diária. Devemos

reservar de 10 a 15 minutos para essa atividade.

O ideal seria uma biblioteca aconchegante, com um bom espaço, mas isso

depende de condições estruturais da escola. O cantinho da leitura é um local que

deve ser pensado. A discussão sobre os livros é uma atividade importante. A

biblioteca, em algumas escolas, ainda é um “lugar de castigo”, afastando-se da sua

real função, ser um lugar de troca de ideias, um espaço agradável para escutar e ler

histórias.

As atividades de resumo e trabalhos escolares solicitados aos alunos sem

explicação prévia não trazem nenhum resultado. Resumir e pesquisar não é copiar.

Os alunos têm que fazer um resumo, no entanto não sabem como fazer. O professor

deve orientar, fazer junto, mostrar como se faz antes de solicitar ao aluno. Os

professores das várias disciplinas, na maioria das vezes não ensinam seus alunos a

lerem os textos específicos de sua área.

As atividades de resumir, resenhar e esquematizar devem fazer parte das

atividades com leitura. Os professores não têm claro a importância de orientar a

leitura em cada área de ensino. Outra coisa que precisa ser ensinada é a citação do

autor das fontes consultadas.

Quanto à classificação de Dewey, os participantes afirmaram não ser a

classificação usada pelas bibliotecas das escolas estaduais. Nenhuma das

bibliotecas das escolas onde os participantes do curso trabalham possui sistema

digital. Em Ponta Grossa, somente duas escolas possuem este sistema.

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As atividades de leitura não variam muito e o tempo disponibilizado para ela

geralmente é de uma aula inteira, demonstrando falta de planejamento para essas,

prática Kuhlthau (2008) orienta que a agenda de leitura é uma atividade

interessante, pois possibilita o registro dos livros lidos, eles podem trocar as

agendas com os colegas, compartilhando experiências de leitura. O aluno deverá ter

permanentemente um registro de leituras. Eles podem descrever o livro, ou

parafrasear.

Elisa Meirelles (2010) assevera que, nos anos finais do Ensino

Fundamental, é hora de começar a estudar literatura. O ideal é que a turma analise

os recursos lingüísticos, os detalhes das histórias e as diferentes características dos

textos literários sem se esquecer do hábito de ler. Ainda para a autora, é importante

apresentar textos mais complexos aos alunos e lançar mão de conhecimentos

teóricos para entendê-los melhor.

9 O texto midiático – um desafio

Segundo David Buckingham (2011), especialista britânico, diretor do Centro

para estudos das Crianças, Juventude e Mídia na Universidade de Londres, as

crianças e jovens veem mais TV do que as horas de aula, somando outros meios de

comunicação: internet, rádio, revistas e videogames, o consumo de mídia na infância

e adolescência só perde para o período de sono. Assim, pensamos que é relevante

que nós professores reflitamos sobre o assunto. A princípio, muitos de nós

pensamos que basta alertar nossos alunos sobre os perigos da internet e da

manipulação oriunda da TV. Fazendo isso, estaremos acreditando que eles são

vítimas passivas, o que nem sempre é verdade. Eles não aceitam acriticamente tudo

que vêem na TV ou na internet. Não é dizendo a eles o que assistir que

estaremos trabalhando as mídias, nem usando as tecnologias de forma puramente

instrumental, apenas como ferramenta.

As concepções do especialista coadunam com as ideias de Kuhlthau (2006).

No capítulo: A televisão, ela pode ser uma aliada, no livro Como usar a

biblioteca na escola, de Carol Kuhlthau (2006, p.150-151), há uma reflexão que nos

mostra que devemos pensá-la como um texto que não pode ser deixado de ser

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“lido”. A maioria dos professores não vê a programação de TV como textos e a

televisão como um suporte. Devemos compreender a importância dessa leitura na

escola para que os alunos possam fazer escolhas do que ver. Discutir sobre os

programa de TV leva os alunos a desenvolverem a capacidade de avaliar e assim

não serem manipulados por ela. Segundo a autora, além de fonte de entretenimento,

a TV é uma valiosa fonte de informação. Há diferentes tipos de programas, de ficção

e não-ficção. Quando se assiste a programas de ficção, não fazemos muito esforço

para pensar. É preciso trabalhar com os alunos sobre o sentido que eles estão

construindo, tendo como base mensagens veiculadas nas mídias tão contraditórias:

por exemplo, há na TV mensagens esclarecedoras sobre uso da camisinha. Por

outro lado, há sexo, promiscuidade, violência em muitos dos programas, filmes e

telenovelas veiculadas por ela.

Diante da programação da TV, na há tempo para parar para refletir. Tudo é

muito rápido, já na leitura, podemos parar, voltar, refletir. A TV e o livro não

competem, apenas são diferentes. No entanto, nossos alunos passam muito mais

tempo em frente à TV e menos tempo lendo.

Buckingham (2011) nos alerta que o trabalho com as mídias deve estar

focado no questionamento e na reflexão para preparar nossos alunos para fazerem

escolhas conscientes, como consumidores (interpretando e julgando o que lêem e

assistem).

Para o especialista, a melhor maneira de começar é investigar o que os

estudantes conhecem sobre mídia e como se relacionam com ela. O anúncio

publicitário pode ser um bom começo. Esse gênero textual inclui música, linguagem

verbal e imagens. É importante levantar questões sobre como o público é tratado, se

somos encorajados a nos identificar com os personagens ou não. O professor,

fazendo perguntas reflexivas como: O que achou do anúncio? Gostou? O que fez

você ter essa opinião? Isolar som, imagem em diferentes partes e analisar com eles.

Levá-los a pensar se o que está no anúncio representa o seu mundo e se

corresponde à realidade deles. Fazê-los pensar sobre o porquê de se pagar por um

anúncio e qual o destino desse dinheiro, entre outros questionamentos, é investir na

formação de um leitor de texto televisivo crítico. Para o autor, ser crítico é pensar de

modo reflexivo. Segundo Kuhlthau (2008, p. 270) recordar, resumir e parafrasear

também são excelentes atividades para se realizar com textos veiculados pela TV.

É importante o professor ou atendente de biblioteca vê-la como aliada e não

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como adversária. Ao trabalharmos com a TV, os alunos a veem sob um olhar crítico,

sendo capaz de fazer escolhas. Aprendem que os programas de TV podem ser

complementados com os materiais da biblioteca. Aprendem que o telespectador não

pode voltar a um ponto de um programa de TV que não entendeu bem para refletir e

que na leitura há essa possibilidade. Aprendem que o ritmo do material impresso é

mais adequado ao ritmo do pensamento. Percebem que há textos literários que

foram adaptados para televisão e que é necessário conhecer as duas versões.

Quando o professor faz a mediação entre o texto televisivo anteriormente e o

aluno leitor complementa o que foi visto, os alunos têm oportunidade de acrescentar

suas opiniões e conhecer outras opiniões advindas de outras fontes. Kuhlthau

(2008, p. 270) afirma que “A produção de sentido ocorre quando o estudante

relaciona novas experiências e informações a experiências e aprendizagens

passadas.” E isso ele não fará sozinho, precisará da mediação do professor.

10 Conclusão

Para Moço (2011), o trabalho que o Brasil tem para as próximas décadas em

educação é imenso. Estudos revelam que é preciso dobrar os investimentos por

aluno. A estrutura das escolas brasileiras ainda é precária, pois há escolas sem

biblioteca, computadores, internet e até sem banheiro e água encanada. O número

de analfabetos é de 14,1 milhões. A remuneração salarial melhorou com o piso

nacional de 1.024 reais, mas ainda é muito baixa se comparada com profissões do

mesmo nível. Também é inegável o investimento em formação continuada. Porém o

desgaste ocasionado pela docência e as péssimas condições de trabalho tornam a

profissão de professor nada atrativa.

A boa notícia é que a educação tem sido foco nas pautas de discussão de

diversos setores da sociedade. A outra boa notícia é que, no início de 2011, deverá

entrar na pauta do Congresso um novo Plano Nacional de Educação, definindo

metas, percentuais de investimentos em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). É

premente que sejam nomeados os responsáveis por cada objetivo desse novo plano

educacional, para que não fique só no papel, como muitas leis já relacionadas aqui.

Em educação, no Brasil, a efetivação das leis é morosa. Citamos as Leis

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estaduais 2296/94, 4084/62 e 664/1998 que dispõem sobre a obrigatoriedade das

bibliotecas escolares estarem sob a responsabilidade de profissionais bibliotecários

qualificados e regulamentados e também citamos a lei publicada no dia 25 de maio

de 2010, no Diário Oficial da União, que determina a obrigatoriedade de criação de

bibliotecas em todas as escolas brasileiras. Esta terá o prazo de 10 anos para ser

efetivada em todo território nacional. Mas não prevê quem será o responsável pela

execução disso, pois isso depende de investimentos por parte do governo federal,

estadual e municipal. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), a União é

responsável pelo ensino federal e os estados e municípios pela educação básica. O

Ministério da Educação auxilia as escolas por meio de dois programas: o Programa

Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), que distribui livros e, em 2009, beneficiou

quase 70 mil colégios. O outro é o Programa de Arrendamento Residencial (PAR)

para assuntos ligados à infraestrutura, no caso da construção das salas. Segundo

Marcelo Soares, em entrevista ao Jornal Gazeta do Povo, do dia 26 de maio de

2010, caberá aos estados e municípios darem os encaminhamentos necessários

para que a lei se efetive.

Fizemos essa retomada sobre as leis que preveem a dinamização das

bibliotecas para que possamos nos respaldar nessas leis que estabelecem a

efetivação do espaço biblioteca na escola e assim tenhamos força para exigir dos

governos federal, estadual e municipal que elas sejam cumpridas.

Enquanto as leis não se efetivam, nossos alunos estão nas escolas e

precisam ler. Nós, como educadores, e aqui nos referimos a todos os envolvidos

com a escola: diretores, equipe pedagógica, professores, auxiliares administrativos,

agentes de apoio, pais, enfim, a comunidade pode colaborar para minimizar a falta

de bibliotecas nas escolas ou exigir mais qualidade no atendimento e utilização das

já existentes.

Acreditamos que projetos de leitura possam ser realizados. Sugerimos que

toda escola tenha um projeto de leitura sistematizado e que faça parte do seu

(Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola. Que no início do ano letivo, durante a

semana pedagógica, esse projeto e outros que a escola tem sejam divulgados, pois

na rede estadual, há muita rotatividade de funcionários e professores e há

necessidade que todos conheçam os projetos da escola onde trabalham e possam

contribuir.

Durante o desenvolvimento dessa pesquisa, percebemos em algumas

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escolas a ausência do bibliotecário nas atividades desenvolvidas com leitura, bem

como falta de conhecimento do próprio espaço da biblioteca e sua estruturação.

Observamos que há necessidade de direcionamento das atividades na biblioteca,

elaborando projetos para serem desenvolvidos neste espaço com a comunidade

escolar. É preciso resgatar as múltiplas possibilidades do uso desse espaço de

formação, atendendo as especificidades do setor e da escola. É necessário que

haja uma conscientização de que é de todos a responsabilidade na formação e

dinamização da biblioteca escolar. Para isso, é emergencial que se invista em

programas de formação continuada para os atendentes de biblioteca e que a

participação nesses programas seja condição para exercer essa função e

permanecer nela. Todos devem ter a clareza do que é ser um mediador de leitura, e

que esse mediador pode estar na família, na igreja, ou em qualquer outro lugar, mas

principalmente na escola.

Nessa perspectiva propomos que os atendentes de biblioteca façam um

diário de bordo para terem registradas as atividades desenvolvidas na biblioteca,

pois isso servirá de base para o trabalho de outras pessoas que forem trabalhar na

biblioteca, já que em muitas escolas há grande rotatividade nessa função.

Sugerimos ainda que haja concurso, na rede estadual de ensino, para bibliotecários,

com formação superior em biblioteconomia.

Outra questão relevante é a importância de se aliar à leitura, filmes, textos

televisivos, sites, e outros recursos que a informática oferece. Vale ressaltar que a

leitura não se restringe à palavra escrita.

Reunir na escola os interessados no tema leitura e, juntos organizar um

projeto de leitura é fundamental. Observamos pela pesquisa que as ideias existem,

mas há necessidade de orientação e apoio para sistematização em forma de

projeto. Constatamos também que há necessidade de direcionamento das

atividades na biblioteca, elaborando projetos para serem desenvolvidos, nesse

espaço, com a comunidade escolar. É preciso resgatar as múltiplas possibilidades

do uso da biblioteca.

Os programas de formação continuada para os atendentes de biblioteca são

fundamentais para que os projetos se efetivem nas escolas com respaldo teórico e

organização. Observamos também como um curso incentiva, motiva à ação. O

ânimo aflora e as pessoas se sentem parte da escola e sentem a importância de

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sua participação. Alguns cursistas se descobriram mediadores de leitura e a

reflexão abriu novas perspectivas de como trabalhar no espaço da biblioteca. Por

isso a importância de cursos de formação continuada. Eles proporcionam esta

reflexão e possibilitam avaliarmos se o que fazemos na escola e como fazemos está

realmente certo, se está realmente contribuindo para a formação de leitores críticos.

Só assim, assumiremos a nossa função e executaremos nosso trabalho, amparados

teoricamente.

É importante também destacar a participação da academia no projeto PDE,

pois sentimos a proximidade da universidade com o chão da escola. Afinal, a

academia está formando professores para atuarem nas diversas redes de ensino e

para que essa formação seja sólida, é necessário que haja uma aproximação dos

formadores com a realidade escolar. Através das orientações do PDE, os

formadores estão se inserindo numa realidade, além de oportunizar a construção de

novos conhecimentos teórico-práticos para seus professores orientandos. As

coisas mudam, velhas teorias são reformuladas ou até mesmo substituídas por

novas. As pesquisas mais recentes em educação, em geral, estão sob a

responsabilidade das universidades, que devem compartilhá-las com a comunidade.

É uma rede de conhecimento que se estabelece entre universidade, escola e

comunidade, uma via de mão dupla, pois levamos para a escola o que aprendemos

e os orientadores levam para as IES a realidade para ser analisada nos cursos de

formação inicial.

Diante disso, concordamos com Freire quando afirma que:

[...] na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o de reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática.[...]” (FREIRE, 2001, p. 43-44)

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