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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

SECRETARIA ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS E PROGRAMA EDUCACIONAIS

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

MARIA DE FÁTIMA CAMARGO CANAVESSI

UNIDADE DIDÁTICA

A CULTURA BRASILEIRA: LEITURAS SOBRE A LEI 10639/03 E O LIVRO

DIDÁTICO

MEDIANEIRA - 2010

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GOVERNO DO PARANÁ

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

NRE-NÚCLEO REGIONAL DE ENSINO DE FOZ DO IGUAÇU

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL-PDE

MARIA DE FÁTIMA CAMARGO CANAVESSI

Material didático Pedagógico apresentado ao programa de Desenvolvimento Educacional - PDE - SEED-PR, sob orientação do professor Doutor Marcos Luis Ehrhardt do Departamento de História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná.

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - UNIDADE DIDÁTICA

1-IDENTIFICAÇÃO

1.1- PROFESSOR PDE: MARIA DE FÁTIMA CAMARGO CANAVESSI

1.2- ÁREA PDE: HISTÓRIA

1.2.1- CONTEÚDO ESTRUTURANTE: RELACÕES CULTURAIS

1.2.2- CONTEÚDO BÁSICO: CULTURA AFRO-BRASILEIRA

1.2.3- CONTEÚDO ESPECÍFICO: IMPLEMENTAÇÃO DA LEI 10.639/03 E O LIVRO

DIDÁTICO

1.3- PROFESSOR ORIENTADOR: MARCOS LUIS EHRHARDT

1.4- IES: UNIOESTE

1.5- ESCOLA DE IMPLEMENTAÇÃO: COLÉGIO ESTADUAL JOÃO MANOEL

MONDRONE - ENSINO FUNDAMENTAL, MÉDIO, PROFISSIONAL E NORMAL.

1.5.1- NRE/ MUNICÍPIO: FOZ DO IGUAÇU

1.6- PÚBLICO OBJETO DA INTERVENÇÃO: CURSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTE -

2o ANO.

1.7- PERÍODO: SEGUNDO SEMESTRE DE 2010

2- TEMA DE ESTUDO: UMA REFLEXÃO SOBRE A HISTÓRIA DA ÁFRICA E DA

CULTURA AFRO-BRASILEIRA NA SALA DE AULA

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3- TÍTULO: A CULTURA BRASILEIRA: LEITURAS SOBRE A LEI 10639/03 E O LIVRO

DIDÁTICO

INTRODUÇÃO

O Governo federal sancionou em março de 2003 a lei 10639/03. Ela altera

a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), estabelecendo a

obrigatoriedade do ensino da história da África e dos africanos no currículo

escolar do ensino fundamental e médio. Em 10 de março de 2004, a fim de

regulamentar a lei, o Conselho Nacional de Educação aprovou o parecer

003/2004 que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para educação das

relações étnicas raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e

africana.

Alguns críticos à lei 10639/00 colocam que a mesma é autoritária e

desnecessária, porque os conteúdos já estão previstos na LDB. Fere a autonomia

curricular dos estados brasileiros.

Por outro lado, alguns educadores defendem a aprovação da referida lei,

porque vem ao encontro das restrições do movimento social negro e de

educadores engajados na luta afro-racista, entendendo que a escola é um espaço

privilegiado de intervenção e de superação do racismo.

VAMOS REFLETIR:

a) Você já ouviu falar sobre a Lei 10639/03? A que ela se refere?

b) Qual a importância da aprovação desta lei para a nossa escola? E para

combater o racismo?

Vamos conhecer melhor?

Sugestões de Leitura para os alunos:

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Texto 1: Políticas educacionais e a lei 10.639/03: Uma reflexão sobre a

necessidade de superação de mecanismos ideológicos legitimadores do

quadro de desigualdades raciais e sociais na sociedade brasileira. (Luiz

Carlos Paixão da Rocha), p.25 a 37.

Texto 2: Nomes Complementares às diretrizes nacionais para a Educação

das Relações Étnicas raciais e para o ensino de história e Cultura Afro-

Brasileira e a Africana. P.17 a 25.

APROFUNDAMENTO TEÓRICO

A ação de combate às desigualdades raciais se intensificou a partir de

1980, pós-abertura política. É, somente com a lei 10.639/03 e sua

regulamentação - parecer 003/2004 do Conselho Nacional de Educação - que foi

possível determinar a entrada da história do continente africano, de suas etnias e

sua cultura, obrigatoriamente, nos currículos escolares.

Além de serem estudado em todos os níveis, incluindo educação de jovens

e adultos e educação especial, os elementos de história e cultura afro-brasileira

também abrangem o ensino de relações raciais no Brasil, de conceitos e de suas

bases teóricas: tais como racismo, discriminação, intolerância, preconceito,

estereótipo, raça, etnia, cultura, classe social, diversidade, diferença, multi

culturalismo, de práticas pedagógicas, de materiais e de textos didáticos, na

perspectiva da redução das relações étnico-raciais.

Conforme o professor Jorge Bezerra Arruda (2009), o ensino de história

sempre privilegiou estudo de civilizações como o Egito, às vezes não relacionava-

o com o continente Africano e com a aprovação da lei serão estudados a história

dos grandes impérios e reinos africanos e sua organização político- econômico,

antes do processo de invasão perpetrado por diversos países europeus; a

formação da nação brasileira e a constituição da população influenciada pela

relação com a África; o período escravagista e os variados processos de

resistência negra, entre outros.

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Veja a lei no 10.639/03, de 9 de janeiro de 2003:

1o O Conteúdo programado a que se refere o capítulo deste artigo incluirá o estudo da história da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e políticas pertinentes à história do Brasil.

Portanto, Marcon coloca:

Talvez o nosso mais recente desafio, como professores, seja compreendermos e absorvermos em nossas práticas que a sociedade é formada por pessoas que pertencem a diferentes grupos culturais ( no sentido mais amplo da palavra) e que por isto possuem suas próprias práticas e memória, igualmente valiosas no contexto da produção do conhecimento sobre si mesmo e sobre o mundo. Por isto, precisamos estar atentos às questões conceituais, como quando falarmos de África ou de raça, por exemplo. (APPIAH, 1997). Segundo algumas críticas contemporâneas, a noção está carregada de estereótipos, é uma invenção do Ocidente, assim como a própria noção determinista e biológica de ‘raça’, que no uso corriqueiro serviu e serve para indicar o fenótipo de quem não é o ‘branco’, muitas vezes revelando situações preconceituosas. (Marcon, 2007 p.15).

ATIVIDADES

Agora, vamos refletir sobre o tema:

- Leitura da Lei 10639/03, do Parecer 003/2004 e da Resolução CNE 01/04, na

íntegra.

- Analise os fragmentos abaixo do Parecer 003/2004 e dê sua opinião,

escrevendo um parágrafo. Socialize com os colegas.

Cabe ao Estado promover e incentivar políticas de reparações, no que

cumpre ao disposto na Constituição Federal, Art.205, que assinala o dever do

Estado de garantir indistintamente, por meio da educação, iguais direitos para o

pleno desenvolvimento de todos e de cada um, enquanto pessoa, cidadão ou

profissional. Sem a intervenção do Estado, os postos à margem, entre eles os

afro-brasileiros, dificilmente, e as estatísticas o mostram sem deixar dúvidas,

romperão o sistema meritocrático que agrava desigualdades e gera injustiça, ao

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reger-se por critérios de exclusão, fundados em preconceitos e manutenção de

privilégios para os sempre privilegiados.

Políticas de reparações voltadas para a educação dos negros devem

oferecer garantias a essa população de ingresso, permanência e sucesso na

educação escolar, de valorização do patrimônio histórico cultural afro-brasileiro,

de aquisição das competências e dos conhecimentos tidos como indispensáveis

para a continuidade nos estudos, de condições para alcançar todos os requisitos

tendo em vista a conclusão de cada um dos níveis de ensino, bem como para

atuar como cidadãos responsáveis e participantes, além de desempenharem com

qualificação uma profissão.

PARA SABER MAIS SOBRE O ASSUNTO

Para tanto, a Lei 10639/03 pretende “contribuir para uma reflexão e

superação de construções ideológicas de dominação racial nacional” (ROCHA,

2007, p.25). Para os defensores da legislação, a escola não é responsável

totalmente, pela superação do racismo, mas é um espaço privilegiado de

intervenção.

Segundo o professor Luiz Carlos Paixão da Rocha (2007), a lei vai ser uma

ferramenta de combate ao racismo e conseqüentemente, para a superação do

quadro de desigualdade brasileira, e ainda, deve atuar no sentido de desvendar

construções ideológicas que deram suporte à efetivação do quadro de exclusão

social da população negra no país, como a inferioridade do negro e a do misto da

demografia racial brasileira.

Para Marcon (2007)

Aquelas que estão convencidos de que é importante começarmos por alguns lugares, um caminho interessante são as posturas pedagógicas da mediação e, neste sentido, uma proposta de atividade mais imediata para a escola e para os professores é a de que se reúnam, leiam e estudem a lei 10.639/03, os textos dos pareceres do CNE, bem como estudem alguma bibliografia pertinente, apresentem alguns problemas, da sua realidade escolar, relativos ao tema, atribuam a eles questões de fundo conceituais e produzam coletivamente planos de ação, destacando problemas, objetivos e estratégias. Não há como tornar eficiente o

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disposto na lei 10.639/03, sem a sensibilização da comunidade escolar, o esforço coletivo e sua efetiva participação no processo. (MARCON, 2007, p.22).

REPENSANDO: LEI x REALIDADE ESCOLAR

Questões para reflexão e discussão em sala de aula:

a) Observe os aluno(as) em sua escola: existem diferenças étnicas? Quais?

b) Conversar com a secretária da escola sobre a especificação dos pais no ato da

matrícula quanto à identificação: (branco, negro, pardo) etc.

- Observar algumas fichas de matrículas de algumas turmas.

- Argumentar, com a secretária, se existem pais que são negros e registram seus

filhos como brancos. Quais suas conclusões?

c) Entrevistar pelo menos 03 professores de diferentes disciplinas, para perguntar

sua opinião sobre a lei 10.639/03 e se trabalha a mesmo dentro de sua área.

TEXTO INFORMATIVO

A ação de combate às desigualdades raciais se intensificou a partir de 1980,

pós-abertura política. É, somente com a Lei 10639/03 e sua regulamentação –

parecer 003/2004 do Conselho Nacional de Educação – que foi possível

determinar a entrada da história do continente africano, de suas etnias e sua

cultura, obrigatoriamente, nos currículos escolares.

Além do envolvimento e compromisso da escola e da comunidade de

combate ao racismo e discriminação e estudo de reflexão sobre os mesmos, cabe

ao Estado promover e incentivar políticas de reparação. Cumprimento ao disposto

na Constituição Federal, Art.2005, que assinala o dever do Estado de garantir

indistintamente, por meio de educação, iguais direitos para o pleno

desenvolvimento de todos e de cada um, como pessoa, cidadão ou profissional. E

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ainda, proporcionar aos professores, curso de formação continuada, de

orientação e especialização. Com isso, espera-se que haja mudanças de

discursos, posturas e tratamento dado às pessoas negras ou quaisquer outras de

etnias diferenciadas.

As Instituições de ensino têm o dever e o compromisso de educar, portanto

é necessário que sejam um espaço democrático de produção e divulgação de

conhecimentos científicos e de posturas que visem a uma sociedade justa,

cumprir o papel de eliminação das discriminações e mostrar a importância dos

grupos étnicos, sejam negros ou não, parar a formação da cultura dos povos.

TEXTO PARA DISCUSSÃO (PARA OS ALUNOS):

As Teorias Raciais

(BENTO, Maria Aparecida Silva. Cidadania em Preto e Branco. Discutindo as

relações raciais, Ática, 2005,p. 24 e 25)

Na Grécia antiga, parte dos gregos se deliciava com as artes, a política, o

treinamento militar, as ciências e a filosofia. Outra parte, uma enorme legião de

não-gregos, tidos como bárbaros, suava a camisa no trabalho pesado. Como

justificar tal esquema baseado na escravidão?

Dois gregos notáveis apresentaram explicações para “justificar” um sistema

essencialmente injusto.

Segundo Aristóteles, havia homens que, por natureza, estavam

predestinados a serem livres e a comandar; e outros, a serem escravos, a serem

comandados.

Também Platão registrou suas impressões a respeito do assunto. No quinto

livro da República, ele afirmou: “Aos nossos jovens mais valentes e melhores,

além de outras honras e recompensas, será permitida maior variedade de uniões,

porque pais dessa natureza deverão ter o maior número de filhos possível”.

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Séculos depois, essa idéia de diferenças naturais entre os homens

ressurgiu na Europa. Em 1859, o biólogo Charles Darwin publicou sua famosa

obra A origem das espécies, na qual, a partir de estudos realizados em plantas e

animais, desenvolveu a teoria da seleção natural. Segundo ela, na natureza

sobrevivem e dominam as espécies fortes. Existiram, portanto, espécies fortes e

espécies fracas.

Com base nos estudos darwinianos realizados em animais e vegetais ,

pensadores como o francês Joseph-Auguste de Gobineau, o alemão Richard

Wagner e o inglês Houston Stewart Chamberlain, utilizaram a teoria da seleção

natural, dentre outros argumentos, para tentar explicar a sociedade humana. Eles

concluíram então que alguns grupos humanos eram fortes e outros fracos. Os

fortes teriam herdado certas características que os tornavam superiores e os

autorizavam a comandar e explorar outros povos.

Por sua vez, os fracos teriam outras características que os tornavam

naturalmente inferiores e, portanto, predestinados a serem comandados.

Desse modo, diferenças de tipo físico passaram a ser utilizadas para

classificar seres humanos. Passaram a ser relacionados a diferenças intelectuais

e morais, dando origem à idéia de raça.

Nasceu a fórmula básica do racismo:

Portadores de pele escura (os negros e os não-europeus) = raça inferior;

Portadores de pele alva (os brancos) = raça superior.

O negro seria preguiçoso, indolente, caprichoso, sensual e incapaz de

raciocinar. Já o branco seria empreendedor, disciplinado e inteligente.

Por serem superiores, os europeus teriam então o “direito” de explorar os

inferiores.

Estava assim “justificado” o domínio colonial e a exploração do europeu

sobre outros povos. Desvantagens sociais, políticas, econômicas ou culturais

também passaram a serem atribuídas a desigualdades inatas entre os homens. O

termo inato, tão presente no discurso dos racistas, já dizia tudo: segundo eles,

11

determinados grupos nasceriam com características que os habilitam apenas para

serem dominados e explorados.

É interessante notar que os próprios europeus se subdividiam em

subgrupos com diversas culturas e inclusive com alguns tipos de diferenças

físicas, como os alpinos, os nórdicos, os eslavos, os mediterrâneos e os latinos.

Tais diferenças, contudo, não ocuparam a atenção dos inventores do

racismo. A eles interessavam tão-somente as diferenças entre europeus brancos

e outros povos não-europeus.

Baseado nessas idéias, em 1908, o inglês Francisco Dalton fundou, em

Londres, a Sociedade de Educação Eugênica, visando defender a manutenção da

pureza das raças, a chamada eugenia. Para ele, impunha-se a necessidade de a

raça branca manter-se pura, evitando a mistura.

Tempos depois, dois outros homens, que se tornaram tristemente famosos,

também defenderam teses sobre o assunto: Alfred Rosenberg, que em 1930

publicou o Mito do século XX, e Adolf Hitler, que em 1934 publicou A minha luta

(Bobbio,1975). Entre os resultados práticos dessas idéias de raças superiores e

inferiores está o extermínio de 6 milhões de judeus pelos alemães nazistas,

alguns anos depois.

A esta altura, podemos finalmente definir o que seja racismo: uma ideologia

que defende a hierarquia entre grupos humanos, classificando-os em raças

inferiores e raças superiores.

Como qualquer outra, a ideologia racista é um conjunto de idéias utilizada

para explicar determinada realidade, no caso, as desvantagens dos negros em

relação aos brancos.

Como vimos, a ideologia racial nasceu no exato momento em que os

europeus necessitavam de justificativas para a exploração de povos “diferentes”.

Mais recentemente a Alemanha nazista e a África do Sul construíram

verdadeiros estados racistas, fazendo do racismo uma política oficial de Estado.

12

DISCUTINDO O TEXTO:

a) O que se entende por racismo?

b) Podemos perceber diferenças entre o racismo do início do século XX e o

racismo do século XXI?

c) O que se entende por raça?

CONHECENDO MELHOR O ASSUNTO

Ainda hoje, mesmo com o progresso e a aprovação de leis, o racismo não

desapareceu. Existem formas variadas de racismo, institucionalizadas ou

disfarçadas. Mesmo com o desenvolvimento da ciência, com o estudo da

genética, não se consegue desmontar da idéia do racismo. Aparecendo hoje de

forma diferenciada não só na aparência, mas na posição social, crenças, valores,

estilo de vida, etc.

Assim, a prática do racismo tornou-se, na sociedade moderna, não apenas mais abrangente como também mais diversificada em suas formas de negar a dignidade, a igualdade e o respeito à pessoa humana. Naquelas populações caracterizadas por secular mistura racial (Brasil, Havaí, México, etc.), as formas de racismo adquiriram a peculiaridade de uma existência conscientemente camuflada e institucionalmente negada. (AZEVEDO,1990,p.27).

De acordo com Rafael Rufino dos Santos:

O racismo é um sistema que afirma a superioridade de um grupo racial sobre o outro... O que é um grupo racial? A pergunta parece tola: ninguém confunde um preto com um branco, um índio com um japonês e, se for um bom observador, não confundirá, também, um judeu com um italiano. Nenhum desses grupos de pessoas é, porém, uma raça. Pretos e brancos são apenas conjuntos de indivíduos que têm essas cores – nada mais. (Um sujeito preto pode, por exemplo, estar biologicamente mais próximo de um branco do que de outro sujeito preto.) Índios e judeus não são raças, são povos (grupos de pessoas de raças distintas, que vivem juntas num mesmo território). Quanto a japoneses e italianos, são nacionalidades, assim como são brasileiros, angolanos, dinamarqueses, etc. (SANTOS, 1985,p.11).

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Conforme Arruda:

[...] em primeiro lugar, negro no Brasil não se limita às características físicas. Trata-se, também, de uma escolha política. Por isso, o é quem assim se define. E em segundo lugar, cabe lembrar que preto é um dos quesitos utilizados pelo IBGE para classificar, ao lado dos outros – brancos, pardos, indígenas – a cor da população brasileira. Ö Movimento Negro ressignificou esse termo “Negro”, dando-lhe um sentido político positivo. (ARRUDA, 2009, p.109).

VAMOS PESQUISAR?

a) Converse com a professora de biologia sobre esta questão genética da

raça. Escreva sobre suas conclusões.

VAMOS PEQUISAR O SIGNIFICADO DESSES TERMOS NA INTERNET E EM

LIVROS?

a) Discriminação;

b) Preconceito;

c) Diáspora;

d) Mito da democracia racial;

e) Estereótipo;

f) Africanidade;

g) Ações afirmativas;

h) Racismo.

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DEMOCRACIA RACIAL

A idéia de raça superior desenvolveu-se com mais intensidade a partir

século XIX, que foi uma maneira das grandes potências européias justificar sua

dominação econômica no Continente Africano. Após isso, essa ideologia de

superioridade racial se expandiu por várias partes do mundo. Como exemplo,

citaríamos os ciganos, judeus, negros, etc.

No Brasil, no século XIX, essa ideologia predominou levando a classe

política, intelectual e a aristocracia a defender a política do branqueamento,

incentivando o processo de imigração, principalmente de italianos e alemães.

De acordo com o professor Helio Santos:

A tese racista dos escravagistas chegava a entender que os negros eram desprovidos de inteligência e que nem mesmo alma tinham. Como todos aqueles que apostam contra a espécie humana, essas pessoas partiam de uma idéia absurda e irracional. O racismo parte da suposição irracional da superioridade de um grupo racial sobre o outro. É também a crença de que determinado grupo possui defeitos de ordem moral e intelectual próprios. Nada disso conta com o apoio da ciência autêntica, que jamais autorizou esse entendimento. O racismo é uma construção dos homens. É, portanto, ideologia. (SANTOS, 1996, p.4 e 5)

A Democracia racial só será realidade no Brasil quando houver igualdade

racial e as pessoas, tanto negros, mulatos e brancos, possuírem uma consciência

crítica, boa educação, participar ativamente dos movimentos sociais e definir sua

opções partidárias, cobrando as melhorias necessárias para uma sociedade mais

justa, apropriando-se seu papel político.

Quanto ao negro, diz Fernandes (1989, p. 24) “a luta de classes, para o

negro, deve caminhar juntamente com a luta racial propriamente dita”. Sendo

assim, o negro deve ter consciência e se considerar negro ou afro-descendente,

porque somente desta forma lutará pela causa racial e direitos trabalhistas,

constituindo-se enquanto classe. Enquanto negar sua etnia nos registros oficiais,

essa causa não se concretizará.

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TEXTO PARA REFLEXÃO:

Poema: Majestade África

(Paulo Vaz & Cissa)

Ilê, refresca memória

Pois ao longo da história

O negro é antecessor.

Pois tudo que nasceu na África

Foi tomado de graça

O mundo inteiro tragou.

Cultura, reza, crença e dança

Tempestade de bonança, tudo tem seu valor.

Seja do banto, seja de gêge ou do nagô

O mundo inteiro colhe o que a África plantou.

Graças a Deus

Sou o que sou

Ilê é bebida fina

Que eu canto da esquina

O mundo inteiro provou.

África, berço da cultura, ciência e arquitetura

Ouro refinado pó, gênesis da sociedade

Fonte ancestralidade, paciência de Jó

Tapete persa emoldurado

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Amas de leite jorrando para toda a nação.

O poço de bondade divinal

Ilê Aiyê é a cópia da África original

Enciclopédia que o mundo pesquisa

Se infiltra, analisa, pau pra toda construção.

Ninho de Celebridades, de escritos sagrados

De total comunhão.

Celeiro negro de beleza

Nossa pedra angular.

Não adianta nosso brilho ofuscar

Pois os joelhos se curvam

Pra majestade passar.

(ARRUDA, Livro Temático I, Africanidade e brasilidades Implementação da Lei

10639/03, 2009, p.35 e 36)

PROPOSTAS DE ATIVIDADES:

a) Vamos imaginar uma África primitiva e uma África contemporânea. O que

podemos comparar?

b) Pesquisar na Internet imagens positivas sobre a África.

c) Realizar estudos sobre os países que falam a língua portuguesa. O que une

esses países? Na atualidade, como estão esses países?

d) Já estudamos aspectos positivos sobre a África primitiva? O quê? Faça uma

descrição.

17

e) Este ano, 2010, aconteceu (junho e julho) a copa do mundo em um dos países

africanos, a África do Sul. Vamos verificar o desenvolvimento cultural desse

país e sua economia na atualidade?

Como nosso objetivo é trabalhar este tema (A Lei 10639/03, alguns

conceitos e o livro didático) com os alunos(as) do curso de Formação de

Docente, vamos analisar este texto – Os Atores do Ensino Fundamental –

retirado do livro – Ministério da Educação/Secretaria da Educação Continuada,

Alfabetização e Diversidade. Orientações e Ações para a Educação das

Relações Étnico-Raciais Brasília. SECAD, 2006.

Este texto nos leva a repensar a realidade do ambiente escolar, analisar a

identidade de crianças e adolescentes que constituem o nosso público alvo.

Ainda nos faz pensar numa pedagogia da diversidade e do respeito às

diferenças. Assim podemos construir um currículo condizente com os

conteúdos necessários para aquela realidade que convivemos e temos a

obrigação de transformar e informar àqueles(as) educandos que estão sob a

nossa responsabilidade.

Portanto, em se tratando de responsabilidade, as escolas que possuem o

curso de Formação de Docentes só tem a aumentá-la, porque estão formando

pessoas para trabalhar com a formação de cidadãos de todas as classes

sociais e etnias, sem contar que iniciarão na profissão de educadores sem

experiência e muitas vezes, imaturos e sem a preparação adequada para as

séries iniciais do Ensino Fundamental.

Observe o texto a seguir:

OS ATORES DO ENSINO FUNDAMENTAL : (BRASIL, 2006, p.61 a 63).

Quando pensamos em quem é a (o) estudante do Ensino Fundamental,

pensamos em crianças e adolescentes de 7 a 14 anos de idade, estendendo esta

18

faixa etária até aproximadamente 17 anos, em função da realidade educacional

do nosso país.

Existe vasta bibliografia sobre o que seria a infância e a adolescência. A

psicologia nos traz uma grande contribuição. A própria educação voltada para as

crianças das classes populares nos enriquece com a vasta produção sobre

educação brasileira. A antropologia, a sociologia, a história, e inclusive as ciências

biológicas, nos ajudam a refletir sobre quem é esse (a) aluno (a). Contudo,

gostaríamos de pensar esta criança, este (a) adolescente, este (a) jovem, cidadão

(ã) do Ensino Fundamental na sua complexidade, na sua singularidade, sem,

contudo, deixar de levar em conta que está imerso (a) em variados processos

biológicos, psicológicos e existenciais. A criança aprendendo a ler a compreender

o mundo, suas regras, seus conhecimentos socialmente valorizados, sua

identidade, seu lugar no mundo; o (a) adolescente mudando a voz, mudando o

corpo, vivendo transformações comportamentais, mudanças que trazem

inquietações. Precisamos observá-los (as) na sua complexidade humana, como

seres que pensam, criam, produzem, amam, odeiam, têm sonhos, sorriem,

sofrem e fazem sofrer, que têm aparência e compleições físicas, pertencimento

étnico-racias, posturas, que têm história, memória, conflitos, afetos e saberes

inscritos no seu corpo e em sua personalidade. [...]

Neste processo, que se pretende diálogo com quem faz o cotidiano

escolar, ao se pensar quem é o (a) discente do Ensino Fundamental brasileiro,

sentimos como necessário levantar as questões a seguir, que se interligam no

sentido de ressignificar de fato quem são nossos (as) estudantes, sobretudo,

levando-se em consideração as diferenças regionais e a diversidade étnico-

cultural do Brasil:

Qual a importância que a escola tem dado às interações do sujeito negro

com o meio social?

Qual o peso que a escola tem dado ao efetivo na construção de

conhecimento de crianças e jovens negros (as)?

19

A escola tem contribuído para que a criança negra possa construir uma

identidade social positiva em relação ä sua pertença a um grupo afro-

descendente?

A escola tem possibilitado o conhecimento respeitoso das diferenças

étnico-raciais, valorizando a igualdade e relações sociais mais harmoniosas?

A escola tem oferecido referenciais positivos ao (as) alunos (as) negros(as)

na construção de sua identidade racial?

As produções étnico-culturais dos diversos grupos formadores da nação

brasileira têm sido incorporadas aos conhecimentos escolares, para que a

sociedade respeite o povo negro e lhe confira dignidade?

As emoções, a sensibilidade e a efetividade têm se tornado elementos da

prática escolar visualizando, principalmente, os(as) estudantes negros (as) que

têm dificuldades em sua socialização?

A escola tem propiciando ao (as) educandos(as) negros(as) oportunidades

de refletir criticamente sobre o contexto social, entendo-o e propondo

transformações?

O conteúdo escolar tem sido para o (a) aluno (a) negro(a) um instrumento

para lidar positivamente com sua realidade social, ou tem sido estranho à sua

história ou cultura?

A vida cotidiana, os costumes, as tradições, enfim, a cultura dos (as)

educandos(as) têm sido usados como suporte para seu aprendizado?

Os conhecimentos adquiridos pelas crianças negras em seu grupo

histórico/ sociocultural estão sendo valorizados no ambiente escolar?

Que atitude a escola pública tem tomado em relação aos falares populares

que são características da maioria dos (as) alunos (as)?

ANALISANDO O TEXTO:

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a) Analisar as questões do texto – Os Atores do Ensino Fundamental – em

grupo, registrar as conclusões e apresentá-la para os colegas da sala.

b) Escolher dois (as) alunos (as) da sala para conversar com a pedagoga da

escola sobre estas questões e também verificar junto ao Projeto Político

Pedagógico, se ele contempla a implementação da Lei 10639/03 e em

quais as disciplinas? Depois apresentar as conclusões para a sala.

A LEI E O CURRÍCULO

Com as leis postas, acreditando que hoje estamos mais “abertos”para a

discussão e incorporação da diversidade racial e multicultural na escola,

podemos começar pela mudança no currículo, já que este é de extrema

importância para o bom desenvolvimento do ensino-aprendizagem e

compromisso dos educadores no processo de educar dentro da realidade

escolar.

Conforme estudo de artigos e análises sobre currículo e etnia, na educação

do povo negro, constataram-se as opressões vividas pelas crianças e pelos

adolescentes negros na escola, as dificuldades envolvidas no tratamento do

problema racial nas salas de aula, o despreparo dos professores, a falta de

material didático adequado, as representações estereotipadas dos negros nos

livros-texto e, em, alguns poucos casos, a importância de se incluírem nos

currículos estudos da história e da população negra.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (Pcns) e as Diretrizes Curriculares

Nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de

história e cultura afro-brasileira e africana têm hoje força de lei e representam

uma vontade de democratização e correção de desigualdades históricas na

sociedade brasileira.

Conforme os Pcns:

A idéia vinculada na escola de um Brasil sem diferença, formado originalmente pelas três raças – o índio, o branco e o negro – que se dissolveram dando origem

21

ao brasileiro, também tem sido difundida nos livros didáticos, neutralizando as diferenças culturais e, às vezes, subordinando uma cultura a outra. Divulgou-se, então, uma concepção. De cultura uniforme, depreciando às diversas contribuições que compuseram e compõem a identidade nacional. (PCNs, 1988:126)

Portanto, discutir a diversidade cultural e o racismo em sala de aula

não é tarefa fácil, porque não conhecemos o nosso público alvo. Por isso, vamos

propor atividade de discussão sobre tais questões, para poder criar um clima de

confiança e “liberdade de posicionamentos” entre os educandos. Assim, conhecer

melhor os alunos, suas idéias do que pensa sobre a sociedade hoje, suas críticas

e seus conhecimentos sobre o assunto.

SUGESTÃO DE ATIVIDADES

Elabore uma história de quadrinhos, com títulos sugeridos pela professora

ou de sua própria intenção, desde que seja dentro do temas proposto e esta será

exposta no dia do seminário, na sala de reuniões do Colégio. A história em

quadrinhos poderá ser utilizada como material didático em seus estágios, se for

possível e houver oportunidade de aplicá-la.

A história em quadrinhos se constituirá em 20 balões, no mínimo,

encadernado e digitalizado.

SUGESTÕES DE TÍTULOS:

1- Através de uma música, um dito popular ou uma quadrinha, como por

exemplo:

Branco nasceu para o mando,

o negro para trabalhar

22

Quando o negro não trabalha,

Do branco pode apanhar.

2- Movimento Negro, sua história;

3- A Lei 10639/03 e o Parecer e sua importância;

4- O papel reservado aos negros na publicidade apresentada pelos meios de

comunicação de massa;

5- Quem foi o escravo no Brasil?

6- Conceitos (racismo, preconceito, discriminação, democracia racial, etc.);

7- Políticas afirmativas, cotas, saúde da população negra, anemia falciforme;

8- Palavras africanas que estão presentes no vocabulário brasileiro atual;

9- Países africanos que falam a língua portuguesa e suas curiosidades;

10- A África como um continente primitivo;

11- Resistência do povo negro: Quilombos, revolta do Malês, Canudos,

Revolta da Chibata, etc.;

12- A colonização africana pelos europeus: como ocorreu?

13- Livro didático e suas implicações;

14- A África, os africanos e a população brasileira hoje.

15- Como estão organizados hoje os quilombos no Brasil: mapeamento das

principais aglomerações;

16- Localizações no mapa e pesquisas sobre atualidade de alguns países

(como vive, população, idioma, economia, cultura, história, música,

religião);

O LIVRO DIDÁTICO

23

Dada a importância da discussão das Diretrizes e livro didático ou material

pedagógico utilizado hoje em sala de aula, os educadores têm de estar

conscientes de seu papel nesse processo e estar abertos a estudos e debates

sobre conceitos de raça, cultura afro-brasileira, pluralidade cultural, cultura negra

e brasileira. Esta é a proposta das diretrizes, dentro de um aprofundamento e

contextualização no processo histórico.

Desde a década de 50 foram realizados estudos sobre o livro didático para

identificar o ideal de realidade que é repassado aos leitores. O negro sempre é

retratado de forma inferior em relação ao branco. Por isso, a professora Ana Célia

da silva concluiu em suas pesquisas sobre o livro didático de que o “o professor é

o principal mediador dos estereótipos vinculados no livro didático. Contudo, essa

ação mediadora parece ser inconsciente por parte dele”. (SILVA, 2004, p.73).

Segundo Silva:

É necessário, então, que o professor procura conhecer o mundo desse aluno, porque é através desse conhecimento que será possível compreendê-lo, aproveitando e respeitando, o cotidiano, as experiências, a cultura, que ele traz consigo.

O professor pode vir a ser um agente desmistificador das ideologias que a escola veicula, bem como de um ensino que evidencie os vários processos civilizatórios e culturais aqui existentes. (SILVA, 2004, p.74 e 75).

Conforme o professor Paulo Vinicius Baptista da Silva (2007) os estudos

mais recentes sobre o livro didático possuem modificações em formas de retratar

os processos históricos mais favoráveis ao negro. Ao tratar a abolição, vão além

da simples apresentação da Princesa Isabel e outros abolicionistas, o que era

comum em épocas anteriores. Há uma tentativa de incorporar novas perspectivas

da história. Alguns tentam romper com a chamada “história tradicional”, mas a

narrativa “eurocêntrica” prevalece. O negro não é visto na forma real, dentro da

sociedade contemporânea.

Para tanto, a Lei 10.639/03 pretende contribuir para uma reflexão e

“superação de construções ideológicas de dominação racial presentes na escola

e na consciência social nacional”.(ROCHA, 2007, p.25). Para os defensores da

24

legislação, a escola não é responsável, totalmente, pela superação do racismo,

mas é um espaço privilegiado de intervenção.

Segundo Ana Lúcia Valente:

[...] o reconhecimento da diversidade pode sustentar a intolerância e o acirramento de atitudes discriminatórias, especialmente quando a diferença passa a justificar um tratamento desigual. Não se trata mais de pensar apenas a construção de sociedades democráticas, mas de salvaguardar os seus princípios como prática e como idéia. A democracia está à prova, mesmo onde se acreditava que estivesse solidamente instalada. Isso porque a desafiam o nacionalismo, o populismo, a etnicidade, o racismo, as violências urbanas, a exclusão e a pobreza que marcam a nossa época.

Trata-se de um paradoxo irresoluto porque, sendo a diversidade cultural inerente à condição humana, o tratamento que ela pode receber depende dos interesses em jogo, interesses contraditórios. Não cabe questionar a importância da discussão sobre as diferenças culturais, mas como, de que maneira ela é ou pode ser conduzida. (VALENTE, 1999, p.108)

REVENDO O LIVRO DIDÁTICO

Vamos observar os livros – Ensino Fundamental – Interagindo e

percebendo o Paraná (2001), Projeto Pitanguá: história, 4 v, 2005 – Aprendendo

sempre: história, 3º e 4º ano, 2008, verificando textos e as ilustrações que

apresentam os diferentes grupos étnicos, as questões das relações humanas

identificando-se a existência da presença de formas discriminatórias relacionadas

à etnia e como são as relações sociais.

Agora responda:

- Como são retratados os segmentos de nossa população?

- O livro retrata a participação de grupos de origem africana ao longo da

história do Brasil?

- As ilustrações correspondem ao texto?

- Os livros em questão buscam uma maior valorização da construção crítica

do aluno?

25

- Analise a frase de Paulo Freire: “pensar certo significa procurar descobrir

e entender o que se acha mais escondido nas coisas e nos fatos que nós

observamos e analisamos”.

- O livro didático é uma mercadoria, as editoras buscam, lançam no

mercado o que lhe é pedido. Pelo que temos observado, tem mais

qualidade na forma do que no conteúdo. Vamos observar se ocorre isso no

livro do 4º ano – Aprendendo sempre: história, de 2008:

O professor, hoje, tem liberdade e possibilidade de preparar suas

aulas de acordo com o currículo e o PPP – Projeto Político Pedagógico da

escola, desde que saiba como e com maturidade e seriedade, portanto terá

o apoio da direção e equipe pedagógica.

Segundo a professora Margarida Maria Dias de Oliveira – UFRN –

precisamos saber explorar as potencialidades do livro didático, iniciar o

conteúdo pelas imagens e não pelo texto, temos que levar em

consideração que nossa cultura é muito visual e que os alunos têm seus

olhares direcionados para as imagens. Também utilizar os documentos

transcritos como leituras complementares ao final de capítulos, mapas

históricos e tarefas de pesquisas que são incentivadoras de debates e

motivam a iniciação de outros conteúdos.

Utilizando-se das indagações da professora citada acima, vamos

observar o livro – Interagindo e percebendo o Paraná – (2001)

- O livro é adequado ao projeto pedagógico das escolas públicas?

- A linguagem é adequada para alunos de cidade grande, de porte médio

ou pequeno, de regiões urbanas ou rurais?

- Há grande complexidade de textos ou atividades, o que supõe mais

atenção do professor ao conduzir suas práticas docentes?

Segundo Oliveira:

No que concerne à formação continuada de professores, por exemplo, seria fundamental o incentivo à criação de Cursos de Especializações em parceria com as Secretarias de Educação e com as Instituições Federais de ensino Superior que tenham como objetivo das disciplinas as potencialidades de trabalhos

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presentes nos livros didáticos. Isso faria com que o professor dos ensinos fundamental e médio participasse ativamente da discussão do livro didático, proporcionando não só a troca de informações (experiências vivenciadas em sala de aula e análises produzidas sobre os livros didáticos) como a reflexão para novas abordagens e utilizações desse objeto, além de contribuir para a autonomia deles na avaliação dos livros didáticos. (OLIVEIRA, 2005, p.7).

TEXTO para debate:

O ESTEREÓTIPO NO LIVRO DIDÁTICO

Os materiais pedagógicos têm papel fundamental na reprodução das

ideologias, uma vez que expandem visões estereotipadas dos segmentos

oprimidos da sociedade. Entre eles, sobressai-se pela importância que lhe é

conferida pelos pais, alunos e professores, o livro didático, considerando o

depositório da verdade, a memória conservada das civilizações. Contudo, muitos

processos civilizatórios e muitas visões de mundo são omitidos ou minimizados

pelo livro, que veicula, na maioria das vezes, a visão de mundo e o processo

civilizatórios das classes dominantes.

O livro didático, de modo geral, omite o processo histórico e cultural, o

cotidiano e as experiências dos segmentos subalternos da sociedade, como o

índio, o negro, a mulher, entre outros. Em relação ao segmento negro, sua quase

total ausência nos livros e a sua rara presença de forma estereotipada concorrem,

em grande parte, para o recalque da sua identidade e auto-estima.

Não é apenas o livro o transmissor de estereótipos. Contudo é ele que,

pelo seu caráter de “verdadeiro”, pela importância que lhe é atribuída, pela

exigência social do seu uso, de forma constante e sistemática, logra introjetar na

mente das crianças, jovens e adultos, visões cristalizadas da realidade humana e

social. A identificação da criança, com as mensagens dos textos concorre para a

dissociação da sua identidade individual e social. [...].

O livro didático não é colocado nas escolas de forma aleatória, como pode

parecer ao primeiro momento. Ele é controlado pelo Estado, que se constituiu em

censor do mesmo através da legislação criada em 1938 pelo Decreto-lei n.º 1.006,

27

consolidado em 1945 pelo Decreto n.º 8.460. A partir de então, os livros só podem

ser adotados em todo o território nacional com a autorização prévia do Ministério

da Educação. Os livros que questionassem o regime político do país, as

autoridades e instituições não receberiam autorização para uso. Os livros

deveriam valorizar a família, defender as instituições religiosas e o espaço

individual.

Em 1969, a Comissão Nacional do Livro Didático foi substituída por

equipes técnicas, com o objetivo de aprovar os livros a serem adotados nos

estados. Essas comissões tiveram vigência até 1976. A partir daí, a Fename

(Fundação Nacional do Material Escolar), atual Fundação de Assistência ao

Estudante (FAE) tem atividades de co-edição, com a finalidade de aumentar a

tiragem e distribuir parte dos livros gratuitamente para as escolas e bibliotecas

públicas. Os mecanismos de seleção e distribuição eram idealizados por

especialistas da própria Fename. (SILVA, Ana Célia da. A discriminação do negro

no livro didático. EDUFBA, 2004, p.50 a 53).

Refletindo sobre o texto:

a) Quais os pontos positivos e negativos do texto?

b) Sabemos que este ano – 2010 – as escolas estarão escolhendo os livros

didáticos. Converse com equipe pedagógica da escola como é feita esta

escolha. Quais os critérios utilizados e a participação dos professores.

c) De acordo com o texto O estereótipo no livro didático e os

questionamentos abaixo: analise e depois monte um texto, em grupo,

sobre os livros didáticos sugeridos para observação na proposta deste

trabalho.

1- Invisibilidade de negros ou apresentados como minorias: não aparecem

nos cartazes expostos nos painéis da escola, nem nas ilustrações dos

livros didáticos e paradidáticos. Fora raras exceções, não há negros/ as

protagonistas. Quando aparecem em multidões, há um/ a negro/a um

indígena, dando a equivocada imagem de minoria.

28

2- Omissão da identidade racial de personalidades históricas: aqueles que

se destacam são vistos como “negros /as de alma ( e corpo ) brancos/as”,

os ilustradores tratam de clareá-los.

3- Negros sem identidade, sem nome, sem família: personagens negras da

literatura infantil são denominados por apelidos e estão sempre cuidando

da família dos outros.

4- Associação de negros/as ao trabalho braçal e a posições subservientes:

especialmente as mulheres negras, que ilustram textos sobre cozinheiras,

babás, faxineiras, domésticas em geral, até mesmo quando estes textos

não fazem referencia à sua cor/ raça. Na maioria das vezes, essas

personagens, quando tem fala, adotam posturas de auto-rejeição.

5- Personagens femininas negras com objetivo de desejo sexual:

particularmente na literatura adulta, as mulheres negras aparecem como

sedutoras, feiticeiras, donas de corpos esculturais, de beleza e graça

“mundanas”, em contraposição à dignidade familiar e caseira da mulher

branca.

6- Nos últimos tempos, houve uma modernização de gênero, o que

permitiu tratar o homem negro de forma semelhante à atribuída à mulher

negra, mas ainda refletindo o mesmo preconceito, que permite caracterizar

o homem pela desproporção física e por uma sensualidade selvagem.

7- Estigmatização de papéis sociais específicos: negros e negras como

cantores, jogadores de futebol, sambistas ou atividades do gênero.

Como, já foi exposto acima, as conclusões destas atividades serão

apresentadas num seminário, no final da realização da Unidade Didática –

atividade pedagógica.

No entanto, esperamos com estas atividades e textos, melhorar o senso

crítico de nosso (as) aluno (as) do Curso de Formação de Docentes e também

proporcionar uma reflexão sobre o tema proposto e assim atingir nossos

objetivos.

29

Não poderia deixar de citar este texto. Pode-se fazer um trabalho

riquíssimo a partir dele, mas dependerá da maneira como o professor

encaminhará as análises, que poderão romper e questionar o preconceito nele

veiculado ou perpetuar tal preconceito.

A BORBOLETA

De manhã bem cedo

Uma borboleta

Saiu do casulo

Era parda e preta.

Foi beber no açude.

Viu-se dentro da água

E se achou tão feia

Que morreu de mágoa.

Ela não sabia

- boba! – que Deus deu

para cada bicho

a cor que escolheu.

Um anjo a levou,

Deus ralhou com ela,

Mas deu roupa nova

Azul e amarela.

(Odilo Costa Filho – livro Aprenda comigo – 2ª série, p.12, apud, SILVA, Ana

Célia. A discriminação do negro no livro didático, EDUFBA, 2004, p.65)

ATIVIDADE FINAL

SUGESTÃO: Vídeo

Título: Vista a Minha Pele

Duração: 15 minutos

30

Direção: Joel Zito Araújo

Produção: Casa de Criação

Endereço: http:// www.piratininga.org.br/vídeos/Discriminação.html

Resumo: Os negros são a classe dominante e os brancos foram

escravizados.

Os países pobres são a Alemanha e a Inglaterra e os ricos são

Moçambique e África do Sul. A história ocorre num colégio, só de negros, onde a

aluna branca, Maria, é hostilizada, por sua cor e por sua posição social.

O filme é uma paródia da realidade brasileira, pode-se utilizar para discutir

o preconceito e o racismo, a questão do padrão de beleza que é imposto pela

mídia, neste caso, só o negro é valorizado e a potencialidade que cada um tem,

sendo negro ou branco.

Este vídeo será a conclusão de nossas atividades do material didático-

pedagógico - Unidade Didática, onde poderemos avaliar o que foi compreendido

pelos alunos (as), sobre os conceitos e a Lei 10639/03 e se alcançamos nossos

objetivos.

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