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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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APRENDENDO COM MÚSICA E POESIA

Maria Cristina Teixeira**

Especialista em Linguística e Literatura

Roosevelt Araújo da Rocha Júnior **Orientador: Doutor em Linguística

RESUMO

O presente artigo tem como finalidade divulgar a pesquisa e implementação da

Proposta de intervenção em uma escola pública do Estado do Paraná com alunos

do 1º ano do ensino Médio a partir de leituras de poesias e audições de músicas

bem como a relação existente entre elas. Onde pode- se constatar que dentro da

literatura elas têm um grande valor histórico, cultural e estético e muitas vezes são

estudadas separadamente. Este projeto teve como objetivo o trabalho de cada

aluno, onde pode usar de sua imaginação e de sua liberdade de expressão para

criar sua própria poesia seguindo dois poetas famosos e, também na elaboração de

letras de música seguindo dois compositores e intérpretes de nossa música popular

brasileira, comprovando que o aluno ao produzir um texto deve ter a convicção do

que quer produzir e qual o objetivo que está implícito em sua produção. Assim,

combinando- se a poesia presente em letras de músicas pôde- se notar o interesse

e a curiosidade em conhecer os seus valores histórico-culturais e também as formas

como foram se desenvolvendo e mudando durante os anos.

Palavras-chave: Música. Poesia. Sensibilidade. Criatividade.

* Professora de Língua Portuguesa na Rede Estadual de Educação Básica do Paraná desde 1997. Cursou graduação em Letras/Francês na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Jacarezinho – hoje Universidade Estadual do norte do Paraná (UENP) – conclusão em 1984. Concluiu pós graduação pela mesma faculdade em Linguística e Literatura em 1989.** Graduação em História – Licenciatura pela Universidade de Brasília. Mestrado em Letras (Letras Clássicas) pela universidade de São Paulo. Doutorado em Linguística (Letras Clássicas) pela Universidade Estadual de Campinas

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LEARNING WITH MUSIC AND POETRY

ABSTRACT

This article aims to promote research and implementation of the proposal of

intervention in a public school in the State of Paraná with students in the 1st grade of

high school from poetry readings and auditions of music as well as relationship

between them. Where we can find that within the literature they have an historical ,

cultural and aesthetic great value and are often studied separately. This project

aimed even the work of each student, where he can use his imagination and his

freedom of expression to create his own poetry followind two famous poets and, also

in the elaboration of lyrics following two composers and performers of our Brazilian

popular music, Stating that the student in producing a text must be convinced of what

he wants to produce and what the goal that is implicit in his production. Thus, by

combining the poetry present in lyrics we can see the interest and curiosity about

their historical and cultural values and also the ways they were developing and

changing over the years.

Keywords: Music. Poetry. Sensitivity. Creativity.

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1 INTRODUÇÃO

Como poderosos instrumentos, as palavras transformam a própria prática da

linguagem. Em diversas situações, fazemos uso das palavras, muito embora nem

sempre nós percebamos que são elas que determinam o modo como esta

comunicação se dá. Elas são por nós utilizadas em situações cotidianas, sociais,

políticas, culturais, chegando aos limites da comunicação com o inconsciente, com o

imaginário, como linguagem tecida de sonho, fantasia e memória.

Com muitas delas temos mais familiaridade, devido à sua funcionalidade.

São aquelas que nos levam a decifrar a vida e a percebê- la como conhecimento

objetivo para a percepção da realidade. Outras nos levam à percepção do mundo de

forma diferenciada, pois trazem em si, uma intensa elaboração em seus sentidos e

em sua forma. As palavras representam realidades, mas elas se revelam também

como realidade sonora, tátil, plástica e na imaginação do sujeito. Quando

pronunciamos palavras, estamos combinando sons. E, ao combinarmos esses sons,

estamos também relacionando- os aos sentidos. Assim, percebemos que as

palavras são sons e sentidos.

Se as palavras são sons e sentidos, elas poderão ser também objeto

estético, ou seja uma elaboração sensível que vem se constituindo em nossa

sociedade como a poesia, a música, bem como em sua composição estética e em

seu diálogo com os diferentes gêneros. À medida em que as palavras são

compostas em versos, em suas diferentes formas e gêneros, é que se observa uma

variedade muito grande de associações melódicas e rítmicas as quais são

responsáveis pelas diferentes formações estéticas. Enfim, as palavras exercem

diferentes funções na relação entre texto e melodia e nas composições de poetas e

músicos.

Ao longo do seu processo evolutivo, o homem preservou seu patrimônio

cultural por meio da fala, da escrita ou de qualquer forma de arte, como a música, a

literatura, a pintura ou a escultura. Sabe- se, por exemplo, que os acontecimentos

históricos de épocas passadas foram mantidas por muitas gerações por meio da

cultura oral. Com o surgimento da escrita, o arquivamento cultural começou a ser

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feito também com o pergaminho, com rolo de papiro e com o livro e, mais

recentemente, com a configuração eletrônica da tela do computador.

Sabe- se que a leitura é uma atividade complexa, que pode ser observada

por diferentes enfoques. Além de permitir a informação, o lazer, o conhecimento de

mundo e de si mesmo, o seu grande charme está relacionado a um processo de

afetividade que envolve o texto e o leitor. E, esta recepção exige uma postura

reflexiva do leitor a qual influi igualmente sobre sua afetividade.

A língua precisa ser trabalhada na escola da mesma forma como existe na

sociedade. É necessário conceber situações em que a oralidade, a leitura e a escrita

tenham uma finalidade específica, de modo que os alunos se apropriem do

conhecimento, tornando o estudo mais significativo como condição de atuação

autônoma e consequentemente, mais cidadã.

A ênfase sobre o gênero literário em verso se justifica por se tratar de um

trabalho muito cuidadoso com a linguagem onde há o predomínio da conotação, do

ritmo e da musicalidade das palavras com que cada poeta tem em sua maneira de

perceber o mundo e falar dele. E com isso, a poesia entra na escola por duas vias, a

primeira, quando o texto é particularmente recomendado para atender a algum

propósito temático ou pedagógico e a segunda, é pela apropriação do texto artístico,

escrito sem vínculo com a escola.

A introdução ao texto literário bem como as artes afins nos remete a

universos que proporcionam reflexão e incorporação de novas experiências, pois

seu consumo induz a práticas socializantes e igualitárias. Os textos literários exigem

que o leitor compartilhe do jogo da imaginação para captar o sentido de coisas não

ditas, de ações inexplicáveis, de sentimentos não expressos, nos permite, também o

desenvolvimento de todas as virtualidades da linguagem e, portanto, que é o espaço

de liberdade da linguagem, sem restrições de normas, onde permite- nos ler “para

nada”, para não fazer nada depois da leitura; somente nos leva pela imaginação.

Também permiti- nos analisar os mecanismos empregados pelo autor para produzir

beleza, tentar recriar estes mecanismos em novas criações, desentranhar os

símbolos que estruturam a mensagem, brincar com a musicalidade das palavras

liberadas de sua função designativa etc. E em termos de educação, o texto literário

contemplado em sala de aula com a poesia e a música é essencial para a formação

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do indivíduo em seu aprimoramento intelectual e ético. Portanto, a escola deverá

desenvolver o papel de mediadora do conhecimento elaborado propiciando

condições para que a apropriação aconteça e que represente uma forma

fundamental de elevação cultural para todos que dela participarem, e para tanto, que

esse conhecimento venha ser favorecido de um meio exterior, favorecendo a

produção de uma nova síntese de entendimento do mundo e da realidade que os

rodeia.

Assim, a música faz parte de um processo comunicativo e nesse prisma,

percebe- se uma espécie de circularidade. É um código criado por um emissor-

compositor, que utiliza um intérprete para atingir o receptor- ouvinte e, assim,

veicular uma mensagem carregada de um conteúdo ideológico que afeta direta ou

indiretamente outras composições;e que vem na maioria das vezes, de fora da

escola e, cabe ao professor utilizá- la numa perspectiva de articulação das duas

linguagens, a verbal e a musical. É considerada um dos gêneros textuais mais belos,

democráticos e sublimes, além de ser gênero textual, é arte, e esta é a arte que tem

o maior poder de penetração, pois dela todos tem acesso. E, pensando na grande

facilidade que a música apresenta, é que podemos trabalhar de uma maneira até

“pouco penosa”, pois entende- se que toda pessoa gosta de algum tipo de música ,

apesar de, nem todas as músicas possuírem boa qualidade, tanto vocal quanto

instrumental, ou ainda na composição das letras.

O que a escola precisa fazer é competir com os meios de difusão das

músicas de boa qualidade, àquelas que são elaboradas artisticamente e que

possuam compromisso com o bom nível textual, musical, social etc. E, o que nós,

professores, não podemos é nos esquivar da responsabilidade de fazermos

análises, observações e, principalmente escolhermos músicas onde a poesia seja

percebida de maneira clara e, que se inicie a familiarização com estas artes e com

os estilos bem próximos de nossos alunos.

Este trabalho se efetivou primeiramente com a necessidade do resgate na

história de como a poesia surgiu , qual fora o seu objetivo e de como fora utilizada.

Confirmou- se que a poesia foi criada para ser cantada, e a partir da forma como era

distribuída: em estrofes e versos, comprovando as particularidades presentes nestas

duas artes.

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Assim, a poesia e a música foram trabalhadas como recursos de

desenvolvimento da leitura, da sensibilidade, da reflexão e da análise presentes em

seus textos escritos e em suas letras; prevendo que os alunos leram por prazer

procurando, pela leitura, fazerem as mudanças necessárias em suas vidas ,

levando- os ao enriquecimento do sentimento e da reflexão.

2 DESENVOLVIMENTO

Os professores de Língua Portuguesa têm como arsenal básico para a sua

prática pedagógica o trabalho com a linguagem – mãe de toda criação humana, ou

seja, trabalham com a essência da comunicação e do conhecimento. É o professor o

mediador que coopera para a elevação da qualidade de vida em sociedade

buscando textos com predomínio da linguagem com intenção estética, bem como

empregando recursos oferecidos pela língua, com liberdade e originalidade. O

professor deve também na interpretação dos textos literários, fazer com que o leitor

desvende a significação dos diferentes recursos usados e sua incidência na

funcionalidade estética do texto.

Todos sabem que existem dois tipos de linguagem: uma escrita e outra

falada, e que há duas espécies de linguagem escrita, uma baseada no som e outra

na visão e que toda linguagem é carregada de significados, pois ela não foi criada

somente para a comunicação.

A língua precisa ser trabalhada na escola da mesma forma como existe na

sociedade. É necessário conceber situações em que a oralidade, a leitura e a

escrita tenham finalidades específicas, de modo que os alunos se apropriem do

conhecimento, tornando o estudo mais significativo como condição de atuação

autônoma e, consequentemente, mais cidadã.

O uso de práticas orais precisa ser compreendido como algo capaz de

despertar no cidadão efeitos de sentidos, isto porque quando o falante torna- se

mais ativo e competente, é capaz de compreender os diferentes discursos, captar

as intenções e reagir melhor conforme a situação.

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O aluno, sujeito de uma proposta didática que privilegie os gêneros orais,

poderá conseguir adequar a sua linguagem de acordo com a circunstância

apresentada, aproveitando os amplos recursos da língua e se tornando um cidadão

autônomo que possuindo grande capacidade de discernimento e argumentação, ao

mesmo tempo que resolvendo melhor situações conflitantes e instigantes.

Sabendo que nosso aluno é capaz de ler qualquer tipo de texto, escrito em

qualquer época, desde que seja preparado para fazê- lo. Também é preciso lembrar

que a natureza histórica da literatura se manifesta durante o processo de recepção e

efeito de uma obra e quando ele se mostra apto à leitura estabelecendo um diálogo

com o texto, atualizando- o pela leitura. É claro que a obra em si predetermina a

recepção, pois oferece em si, orientações a seu destinatário; muito embora cada

leitor tenha sua própria experiência pessoal. Ao receber a obra, ela vem marcada

pelo momento histórico de aparecimento, gênero, forma e temática de obras

anteriormente conhecidas e outros elementos do código vigente dos quais se

apropria para ser entendida.

Conforme Zilberman (1989) Jauss entende que o horizonte de expectativas

que o leitor possuía ao iniciar uma leitura se modifica ao interagir com a obra. O

texto responde a novas questões em épocas distintas, explicitando a historicidade

presente, sendo uma resposta às perguntas formuladas pelo leitor ao iniciar sua

leitura, e é assim que se transforma o diálogo entre a obra e o leitor

Se a leitura for trabalhada de forma diferente nas escolas, transformando- a

em momentos agradáveis, nutridos de motivação e curiosidade, teremos uma prática

transformadora e dessa forma a literatura se tornará imprescindível. Os professores

de Língua Portuguesa deveriam trabalhar diariamente com a literatura, pois é

através desta que o aluno sente, vive e descobre emoções que nem sempre podem

ser vividas na realidade, pois a literatura é a ponte entre o real e o imaginário.

Como se relata na história, a literatura quando surgiu na Grécia antiga,

chamava- se poesia, em que era declamada ao som de uma lira para divertir a

nobreza durante os períodos de paz onde narradores ou profissionais da palavra

declamavam os feitos bélicos do passado com o intuito de divertir e contar a história

do povo.

Não se pode dizer que o caráter educativo da literatura tenha surgido

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durante o período da civilização grega, no entanto a poesia foi usada para

propagar as ideias democráticas formuladas nas “polis”, agrupamentos sociais

(cidades) onde havia um espaço público, denominado “ágora”, em que os homens

se reuniam após um dia de trabalho para conversar, contar experiências e dividir

conhecimentos.

A literatura não existe num vácuo. Os escritores, como tais, têm uma função

definida, exatamente proporcional à sua competência como escritores, pois

passaram- se muitos séculos até a literatura adotar o nome que atualmente a

identifica e o tempo se encarregou de mostrar que o texto poético favorece a

formação do indivíduo, cabendo, pois, expô- lo à matéria prima literária, requisito

indispensável a seu aprimoramento intelectual e ético.

A ênfase sobre o gênero literário em verso se justifica ao considerarmos, nos

textos poéticos, os sentimentos que são demonstrados como na percepção, nas

entrelinhas, na compreensão e na interpretação existentes nos jogos de palavras e

nas rimas. Se alguém quiser saber alguma coisa sobre poesia, deverá fazer uma

das duas coisas ou ambas: olhar para ela ou escutá- la. Ou quem sabe, até mesmo

pensar sobre ela.

Seria sensato considerar a poesia e a canção ,gêneros específicos ,que se

inter-relacionam por aspectos de sua materialidade e por alguns momentos comuns

de sua produção. Na canção, texto e melodia são duas materialidades imbricadas

(não sendo a melodia um mero meio de transmissão da letra e vice-versa). Além

disso, ela é uma prática intersemiótica intrinsecamente vinculada a uma comunidade

discursiva que habita lugares específicos da formação social. Portanto , o mero fato

de ambas, poesia e canção, se utilizarem da materialidade gráfica em determinados

momentos de sua produção e circulação, não as torna variedades do mesmo.

Assim, dado o prestígio da prática discursiva literária no mundo ocidental,

forjada por séculos de grande influência na educação e na cultura, o discurso

literário tende a incorporar o discurso lítero-musical, situando- o, porém, nas

extremidades de sua esfera e, através dessa própria inclusão, proteger a identidade

do gênero poético, ao qual atribui valor em si, a ponto das palavras do campo

semântico “poesia” (“poético”, “poeta” etc.) terem adquirido na sociedade valoração

positiva. Advém daí a eterna controvérsia nos meios literários sobre se a chamada

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“letra de música” é ou não poesia, o que equivale à questão se ela tem ou não

status equivalente à poesia.

Neste trabalho, a leitura de textos poéticos e de letras de músicas norteará a

importância desta na oralidade e na escrita, pois ambas não existem sozinhas, uma

depende da outra, também desenvolvendo com a prática da leitura de poesias, com

suas letras e na audição de canções a reflexão e a sensibilidade presentes em cada

ser humano.

São muitas as questões no que consiste aos conceitos deste projeto: a

primeira é a reflexão acerca da função da Literatura na escola hoje, a ideia do

professor como um orientador para despertar o leitor e a Literatura vista também

como a arte de desvendar a realidade em seus próprios gostos de leitura ou música.

Dar ênfase à ideia de que a leitura pode ser mediadora entre o ser humano e seu

presente, pois propicia -lhe uma possibilidade de desvelamento do mundo. Também

é preciso considerar que a literatura é uma grande educadora indireta no

desenvolvimento pleno do indivíduo e, por isso é necessário transformar a leitura

literária numa atividade mais significativa.

Daí a importância de se pesquisar o papel que cada leitor assume, na

individualidade de sua vida, ao entrelaçar o significado pessoal de suas leituras com

os vários significados que, ao longo da história foi acumulando e ganhando novas

apropriações. Cabe, ao professor lançar mão deste expediente para melhor

conhecer seus alunos, socializando e compartilhando com eles vivências passadas

e presentes, bem como suas expectativas.

A leitura é uma habilidade que, depois de adquirida, não se perde mais.

Contudo, sua ação não torna nítido seu objeto: ler, mas ler o quê? Portanto somente

saber ler não transforma ninguém em leitor. Assim a escola pode ou não ficar no

meio do caminho, onde pode propiciar oportunidades para que o sujeito habilitado a

ler, transforme- se em leitor, ou não. Decorre daí , a importância de selecionar textos

significativos para os alunos, adequando interesses, curiosidades próprias de cada

fase do desenvolvimento humano, não apenas selecioná- los de acordo com o gosto

pessoal do professor, e sim, trabalhar com o que eles gostam, aproveitando- os para

trabalhar conteúdos, interpretações, entonação, ritmos e tudo o que surgir no

decorrer do trabalho.

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Enquanto o professor está propondo uma atividade de leitura ou ao ouvir

uma música em sala, muitos estímulos e emoções estão acontecendo ao mesmo

tempo e é este o momento de aproveitar para tornar a tarefa mais interessante e

prazerosa, sem precisar impor o autoritarismo, pois este não desperta vontade de ler

ou ouvir em ninguém, ao contrário, acaba afastando mais o aluno do objetivo

principal que é despertar o gosto pela leitura, por intermédio do prazer. Assim, o

professor só poderá ter como seu aliado, o texto literário , o qual deverá preencher

os pré-requisitos de ser interessante ao público alvo.

Assim, nos pressupostos contidos nas Diretrizes Curriculares do Ensino

Fundamental e Médio, do Governo do Estado do Paraná (2008) é possível observar

a assertiva de que compete à escola tomar como ponto de partida os conhecimentos

linguísticos dos alunos, promover situações que os incentivem a falar, bem como,

fazer uso da variedade de linguagem que eles empregam em suas relações sociais.

Então, o que ensinar sobre os textos orais se tornam objeto de ensino

procedimental.

Nesse prisma de análise, no que se refere à linguagem oral, os Parâmetros

Curriculares nacionais (BRASIL/MEC, 1998) afirmam:

Ensinar língua oral deve significar para a escola possibilitar acesso a usos de linguagem mais formalizados e convencionais, que exijam controle mais consciente e voluntário da enunciação, tendo em vista a importância que o domínio da palavra pública tem no exercício da cidadania. Ensinar língua oral não significa trabalhar a capacidade de falar em geral. Significa desenvolver o domínio dos gêneros que apoiam a aprendizagem escolar de Língua Portuguesa e de outras áreas e, também, os gêneros da vida pública no sentido mais amplo do termo.

A leitura tem várias funções sociais, dentre as quais se destacam:

estimulação cognitiva – em que se incluem todos os aspectos da cognição, com

evoluções na construção dos saberes e do pensamento; da mudança

comportamental do entretenimento; entre outras. Assim Bamberger (2002, p24)

coloca que:

os objetivos da leitura contribuem para um ensino eficaz, podendo levar o indivíduo a influir ao máximo no seu bem-estar, na auto- realização, como instrumento de aprendizado e crítica e também de relaxamento e diversão.

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Sendo assim, este mesmo autor (2002, p.32) acrescenta que:

A leitura também impulsiona o uso e o treino de aptidões intelectuais e espirituais, como a fantasia, o pensamento, a vontade, a simpatia, a capacidade de identificar, auxiliando no desenvolvimento de outras aptidões, na expansão do “eu”, na formação de uma filosofia de vida, na compreensão do mundo que nos rodeia.

O uso de práticas orais precisa ser compreendido como algo capaz de

despertar no cidadão efeitos de sentidos, isto porque quando o falante torna- se

mais ativo e competente, sendo capaz de compreender os diferentes discursos,

captar as intenções e reagir melhor conforme a situação.

Isto é ratificado ainda pelas palavras de Dolz e Schneuwly (2004, pg. 175)

que fazem a seguinte afirmação:

O papel da escola é levar os alunos a ultrapassar as formas de produção oral cotidianas para as confrontar com outras formas mais institucionais, mediadas, parcialmente reguladas por restrições exteriores.

Assim, os autores enfatizam em sua obra que é possível ensinar a oralidade

para ser utilizada de forma competente não somente nas ocasiões informais (pois

esta o aluno já domina), mas também nos momentos formais, externos à escola e a

situação familiares.'

Somando- se a isso, Zilberman (1982, p. 16), expõe que:

o indivíduo de posse de um código escrito determina sua ruptura com uma situação de inferioridade, pois antes da alfabetização, este não tem instrumentos intelectuais para questionar os valores impostos pela sociedade.

Esta mesma autora (1982, p.13), também destaca que:

foi o domínio generalizado da habilidade de ler que houve a democratização do saber e, consequentemente, a expansão da cultura massificada, hoje transformada em mercado altamente lucrativo com todos os personagens que a envolve: escritores, editores, livreiros, distribuidores, consumidores, entre outros.

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A prática pedagógica da literatura mediada pela poesia e a música não deve

ser encarada como mero exercício lúdico, ou, como podem supor alguns

profissionais da educação, uma maneira de “matar” algumas aulas. Ela é, antes de

tudo, uma prática que demanda tempo, energia e profunda paixão pelo trabalho

pedagógico , pelo texto literário bem como as letras de música com que se trabalha

e principalmente pelo objeto do trabalho pedagógico.

Segundo o compositor e linguista Luiz Tatit, (Tatit, 1999):

uma canção é uma fala camuflada em maior ou menor grau. Essa camuflagem consiste na transformação dos contornos entonacionais da fala pela estabilização do momento frequencial de sua entonação dentro de um percurso harmônico, pela regulação de sua pulsação e pela periodização de seus acentos rítmicos, pois cada falante fala de modo diferente, imprimindo uma gestualidade singular ao texto falado e a canção estabelece uma determinação do modo de vocalização desse texto.

A canção brasileira se caracterizaria, segundo Nelson Barros da Costa

(2007, p. 109-110) pelo malabarismo eficaz que equilibra o canto e a fala: O primeiro

confere à segunda imortalidade, salva- a de sua condição periclitante de “ondas

agitadas de ar'. Não apenas isso, mas lhe oferece um “emprego estável”,

estruturando, regulando e estabilizando, como foi dito, suas inflexões desajeitadas.

A voz, por sua vez, dá corpo à melodia. E, se esta voz é a voz da fala, o canto

ganha contornos de coloquialidade altamente persuasivos.

Muitos poetas consideram que só tem valor estético aquela letra que,

destacada da melodia, pode ser lida como poesia. Thiago de Mello (1998, p.11 apud

COSTA, 2007, p.114) coloca a poesia num patamar superior, não reconhecendo o

estatuto específico da letra:

O perigo da palavra cantada é o seguinte: o poder da melodia é tão grande que ela pode sustentar palavras ocas, vazias – letras ou verso, como tu queiras chamar – que, quando colocadas no papel, sem o auxílio da melodia, não funcionam como poesia, tombam inertes.

Outros poetas relativizam a diferença entre a letra e a poesia. È o caso de

Antônio Cícero (1998, p.08 apud COSTA, 2007, p.115) “não vê diferença de valor

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entre as duas práticas, porque pensa não haver diferença essencial entre a música e

“o poema livresco” Declarando ainda que “um poema pode ser letra e uma letra

pode ser música”. Arnaldo Antunes (1998, p.16 apud COSTA, 2007, p.115) tem a

mesma opinião ao ressaltar o papel distintivo da intencionalidade do criador no que

define letra e poesia:

Geralmente, no ato de produção eu já sei a finalidade da obra: Ela já vem impregnada de um destino, vamos dizer assim. Então, quando escrevo algo para ser cantado, eu já sei que isso é uma letra de música e não poema, e outra coisa que eu faço para ser lida – ou mesmo um poema visual – já nasce como uma ideia gráfica.

O músico ainda ressalva que:

[...] existem exceções, porque há uma intersecção grande entre esses terrenos, que é o trabalho com a palavra em si. Tem coisas que eu criei como poema e depois vim a musicar, e outras que eu escrevi para cantar e, depois, descobri uma versão gráfica que acabou tendo vida autônoma.

Contradizendo a Arnaldo Antunes, Péricles Cavalcanti (1998, p.14 apud

COSTA, 2007, p.116), músico e melodista de alguns textos literários, declara ter

valor poético qualquer letra:

Acho que a questão é: em que medida um poema também é cantável? Na verdade, o que a gente chama de poesia na canção é um tipo de poesia que pode ser cantada como se fazia na Grécia ou em Provença.(...) Por outro lado, há textos que parecem “incantáveis”, mas que se tornam poesias cantadas, dependendo da maneira como são cantados.

A partir das análises anteriores dos músicos, poetas e compositores dá para

observar a variedade de conceitos sobre a música da poesia ou a poesia na música.

Assim, Luiz Tatit (1998, p.10 apud COSTA, 2007, p.116) enfatiza a diferença

entre os dois gêneros, sem negar as semelhanças presentes na canção popular:

Bem, o que vejo aí são duas coisas. Primeiro, acho que existe uma relação, até mesmo porque vários poetas, de uns tempos pra cá (sobretudo a partir da bossa nova), pessoas consagradas no terreno da poesia, tem migrado para a canção popular, pois ela tem um alcance, um poder de atração muito

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maior, principalmente no Brasil. Mas o que mais me chama atenção são as diferenças entre as letras das canções e as poesia, ou seja, quando a coisa é pensada como poesia e quando é pensada como letra de canção.

Como diz Ezra Pound (2002, p.160)

Jamais recuperaremos a arte de escrever poesia para ser cantada até que saibamos prestar alguma atenção à sequência ou escala de vogais no verso e das vogais que terminam o grupo de versos numa série.

Vivemos rodeados de poesia. Há poesia nas coisas que nos emocionam

quando olhamos, tocamos, ouvimos ou provamos. Um pôr-do-sol, uma lua cheia, a

chuva, a noite ou o dia são coisas bonitas, poesia para nossos olhos. Para descobrir

essas belezas, no entanto é preciso, como aconselha a poeta Roseana Murray

(1999).

Vivemos em um mundo em que a imaginação se faz presente a cada

momento. Quando utilizamos as palavras, essa magia encontra a realidade e

transformamos nossas emoções. Cada palavra traz atrás de si um significado

dependendo do momento em que é dita. A sonorização também entra nesse

sentido. Quando a palavra faz bem aos nossos ouvidos, imaginamos coisas boas,

caso contrário, só teremos sensações ruins, aliadas a estes diferentes gêneros,

criam- se diferentes sentidos. Conforme o objetivo da leitura, se informação ou lazer,

o leitor se relaciona com o texto sempre fazendo uma relação intencional ou não.

Sabendo que o ser não está sozinho no mundo, é através da escola que aprenderá

a se relacionar e colocar em prática o seu aprendizado.

Assim,o educando muitas vezes, tem medo de expressar suas ideias porque

é diferente da ideia do outro, acha que não conseguiu interpretar corretamente a

leitura. Nessa hora, o professor terá de ter a percepção de entender essa

dificuldade, mostrando que um mesmo texto pode ter várias interpretações,

trabalhando assim as ambiguidades e conforme o momento de cada um, o sentido

conotativo é diferente, portanto, o seu modo de pensar não está errado. Cada um

tem uma forma de interpretar e que todas estarão corretas, pois cada um tem uma

imaginação, uma vivência, uma forma de sentir a musicalidade das palavras ou

frases e que, cada um tem sua forma particular de brincar, de fazer jogos

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combinando palavras ou criando novas imaginações, aprimorando assim, sua

liberdade ao se expressar. Aliando a palavra ao som, pode- se chegar mais ao

mundo do aluno visto que, eles são enlevados pela música. Há somente a

necessidade de se ter o cuidado de dar uma referência entre o que é bom e o que

não é. Dar relevância ao que tem bom nível cultural e o que não tem, demonstrando

que através da música, também se pode aprender enriquecendo seus

conhecimentos, sua sensibilidade, sua reflexão e sua interpretação com o mundo.

Cabendo à escola trabalhar a literatura como forma de conhecimento, e

mostrando que se deve fazer e fazer com satisfação. Somente assim as aulas de

leitura tornar- se- ão relevantes, prazerosas , com a finalidade de desenvolver no

educando o senso crítico, comunicativo e reflexivo. Com embasamento teórico,

poderão distinguir exatamente na letra – as palavras - na música –o som.

Aprendendo a ouvir e distinguir os bons sons levando toda essa experiência para a

sua vida. Cabendo ao professor selecionar textos significativos que estejam perto da

realidade do aluno, que esteja realmente perto da sua vivência, para que haja

interesse, comprometimento, curiosidade, interpretação, emoção e todos os

estímulos que fazem parte da vida humana, promovendo situações que o façam

interagir como visa os Parâmetros Curriculares Nacionais.

Toda e qualquer forma de aprendizagem é válida, quando essa faz parte do

mundo do aluno, como a música, em que se torna mais gratificante e motivadora,

tornando- o mais atento e interessado.

Há portanto, condições mais que suficientes para que novos conceitos de

ensino da literatura sejam colocados em prática. A escola representa o local

privilegiado para o cultivo de valores humanos fundamentais encontrados nas obras

literárias, sejam os clássicos gregos, sejam os clássicos da literatura romântica,

realista ou contemporânea.

Em alguns livros didáticos e nos PCNs a importância pedagógica da canção

está em trabalhar com uma imagem que a reduz a uma poesia de entretenimento,

própria de um uso pitoresco da linguagem e que, apenas em alguns casos, pode se

levar ao nível da poesia. A letra, neste caso, é sintomaticamente separada da

melodia: é lida e tratada como se fosse uma poesia.

Este será o foco deste projeto, a poesia, bem como as letras de músicas

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trabalhadas de maneira a elevar a linguagem oral e escrita em todas as suas

dimensões, apresentações, audições e outras que surgirem, pois o que importa no

trabalho de Língua Portuguesa é a valorização da comunicação de maneira

prazerosa, visando o objetivo da escola que é dar oportunidade a cada aluno de

descobrir o mundo , a si mesmo e a importância destas duas artes como forma de

torná- lo mais humano e fazê- lo chegar ao conhecimento.

2.1 APLICAÇÃO DO PROJETO

Pensando no projeto propriamente dito, houve um primeiro momento, de

pré-projeto onde se enfatizou o estudo bibliográfico e de leitura, buscando o

conhecimento e atualização do assunto a ser trabalhado, para que houvesse uma

maior valorização do gênero literário em verso visto em letras de música ou poesias,

bem como autores, poetas e compositores que trabalham este gênero. Depois foi

passado para a Equipe Pedagógica o projeto em si e foi dito de que se tratava e

aonde queria chegar com ele. Expliquei o motivo de ter escolhido esta turma para

trabalhar com ela mostrando que iniciaria o ensino Médio com uma nova forma de

leitura usando dois gêneros poéticos bem distintos e tão próximos.

A implementação do projeto foi feita, como planejada com os alunos do 1º

ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Professor Olavo del Claro E.F.M. , pois o

conteúdo abordado está dentro do currículo proposto pelo Projeto Político

Pedagógico da escola.

A unidade didática foi produzida e trabalhada com os alunos do 1º ano A do

Ensino Médio do período da manhã com 29 alunos, sendo 15 meninas e 14

meninos.

Como introdução para esta unidade foi feita uma pesquisa entre os alunos

para fazer uma sondagem sobre seus gostos musicais. Depois dessa pesquisa, foi

feita outra que buscou dentre suas escolhas composições que tinham alguma

particularidade com algum poeta ou compositor. Partimos de duas interpretações

que marcaram épocas bem distantes e particularidades presentes no tema e do eu-

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poético nelas (Pra que Mentir de Noel Rosa e Dom de Iludir de Caetano Veloso) .

Trabalhamos nestas canções o que foi possível dentro da interpretação, construção

poética e a historicidade nelas presentes.

A partir daí, ouvimos muitas canções sugeridas por eles, depois de ouví-

las, tiveram que entender a mensagem que cada canção passou e, com as letras

nas mãos, analisaram- nas de maneira mais formal , estudando o autor ou

compositor; bem como os pontos marcantes em suas letras.

Num segundo momento, buscamos pesquisar e conhecer vários poetas e

épocas diferentes bem como ler algumas poesias destes com temas variados e

escolhidos por eles. Tudo isso foi feito para que partir de todo este conhecimento

poético, pudessem declamá- las, trabalhando a musicalidade presente em cada

poesia. Usando as poesias (E agora, José? de Carlos Drummond de Andrade e

Drummundana de Alice Ruiz) foram trabalhadas nessas poesias a estética

presente, a escansão dos versos, interpretação e análise do eu-'poético.

Depois de todos estes momentos de conhecimentos sobre estas duas artes,

eles iniciaram os trabalhos de produção. Primeiramente, com a música, onde foram

feitas recriações das duas canções, tomando como ponto de partida os intérpretes:

“Noel Rosa e Caetano Veloso”.

Num segundo momento, trabalharam a partir de poemas para criar outros

poemas, como em paródias, poesias curtas e seguindo um tema geral para a turma.

Assim, foram escolhidos dois nomes importantes de nossa Literatura: Carlos

Drummond de Andrade e Alice Ruiz, bem como a relação paródica presente com

respeito àquela obra.

Assim todos estes trabalhos foram corrigidos e analisados de forma que

todos puderam ver como a poesia está presente na música e de como a música

está presente na vida de todos.

No final deste projeto, foi feito um vídeo em que foram apresentadas todas

as paródias criadas e também uma exposição de suas produções escritas que

puderam ser conhecidas por toda a comunidade escolar.

Todos estes momentos foram partilhados no Grupo de Trabalho em Rede

(GTR), curso à distância para os professores da Rede Estadual de Ensino

relacionada ao projeto de Implementação do programa de Desenvolvimento

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Educacional – PDE.

A participação e o interesse dos cursistas foram além do esperado, com

perguntas sobre a pesquisa e também com contribuições que puderam ser

aproveitadas durante a aplicação do projeto. Foi possível perceber que o método por

ser claro, diferente e organizado, iria ajudá- los em suas aulas. Os professores

cursistas depois de conhecer o projeto puderam analisá- lo e dar ideias diferentes

em como trabalhar. Eram professores de regiões diferentes, mas com problemas

muito parecidos, onde vinham buscar caminhos alternativos e encontraram no GTR

uma alternativa de compartilhar com outros colegas suas ansiedades.

Esta troca entre professores enriqueceu este trabalho dando mais segurança

no momento de agir com a turma e na análise dos resultados obtidos. Com certeza,

a interação Professora PDE e GTR contribuiu muito para o amadurecimento de

todos os envolvidos e principalmente na execução do projeto pedagógico que fora

proposto em sala de aula.

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3 CONCLUSÃO

O desenvolvimento de qualquer trabalho em educação exige muito esforço,

uma vez que é preciso romper paradigmas. O ensino da Literatura através da

utilização de novas tecnologias assusta até mesmo aos alunos, que estão

acostumados com trabalho coletivo. Na maioria das vezes que fazem trabalho em

grupo, o resultado torna- se muito fragmentado ou um dos integrantes do grupo faz

todo o trabalho colocando o nome dos demais. Com este trabalho, foi diferente, pois

a participação e o interesse em contribuir com ele foi de tal valor, que fizeram com

que eles tivessem um olhar especial para o trabalho que estava sendo feito e com

comprometimento por parte deles, o sucesso seria inevitável.

O trabalho que teve como objetivo: mobilizar os sentimentos dos alunos,

fazendo com que passassem a perceber a necessidade de ler, pesquisar, escrever,

interpretar, re- escrever e fazer adaptações, fizeram com que sentissem um

interesse especial e se dedicassem plenamente ao seu trabalho. O compromisso

que tiveram foi de suma importância para o sucesso que obtivemos ao término dos

trabalhos produzidos e apresentados . Houve um envolvimento professor/alunos em

todos os sentidos, inclusive no relacionamento entre todos os envolvidos, no início

era uma turma dividida , depois tornou um grupo muito unido e amigo. Sabe- se que

as mudanças são lentas, houve grande avanço nesse sentido, com a valorização

dos alunos e seu trabalho.

O estímulo por estar usando uma metodologia inovadora, usando

tecnologias próximas à realidade dos educandos mostrou que é possível melhorar a

qualidade de ensino.

Os resultados dos trabalhos superaram as expectativas, porque houve

grande comprometimento e esforço por parte dos alunos, mostraram muito interesse

com as atividades propostas e também houve aceitação do professor nas ideias

dadas por eles para enriquecer o trabalho, que era comum para ambos. A utilização

dos recursos midiáticos foram bem aproveitados tanto na produção quanto na

apresentação dos trabalhos.

Da maneira como foi apresentado o projeto para eles, se sentiram

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responsáveis pelo trabalho, assim fizeram de tudo para que o resultado fosse

positivo, foram responsáveis do começo ao fim do trabalho.

Além disso, com esse trabalho, houve reflexão sobre as atividades

desenvolvidas, permitindo reconhecer que a proposta pedagógica do Programa de

Desenvolvimento Educacional – PDE é, sem dúvida nenhuma, excelente, pois

oportuniza ao professor da Rede Pública de Ensino do Paraná acesso ao

conhecimento por meio do contato direto com os professores das Instituições de

Ensino Superior. Neste entendimento, a troca de informações de forma coletiva,

numa perspectiva onde se privilegia a interação e o diálogo entre as pessoas

envolvidas no processo ensino- aprendizagem, fazendo deste programa um

diferencial a mais, capaz de assegurar a qualidade e eficácia de todo o processo

educacional, seja ele presencial ou à distância, bem como na valorização pessoal de

cada professor envolvido neste programa.

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REFERÊNCIAS

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PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para a Educação Básica. Curitiba: SEED, 2006.

POUND, E. ABC da literatura. 14.ed. São Paulo: Cultrix, 2002.

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ZILBERMAN, R. (Org.). Leitura em crisa na escola: as alternativas do professor. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982.

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