da escola pÚblica paranaense 2007 · norte e o costume de associar a poesia à primavera vem de...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
Produção Didático-Pedagógica 2007
Versão Online ISBN 978-85-8015-038-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
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Autora: Lílian Koller
E-mail: [email protected]
Núcleo Regional Ponta Grossa
Município Castro
Estabelecimento Colégio Estadual Antonio e Marcos Cavanis
Disciplina: Língua Portuguesa – Ensino Médio
Relações possíveis Arte e Filosofia
Conteúdo Estruturante Leitura, Poesia, Arte
Conteúdo Específico A presença da poesia em vários contextos
Título Sensibilizar é preciso!
Sinopse O presente Folhas é um convite a uma viagem ao
encontro da descoberta da poesia presente em vários
contextos. Permitir através da vivência com o universo
poético, a aproximação com o lúdico, a intuição, a
interpretação, a oralidade, a criatividade, enfim o gosto
pela estética da sensibilidade!
:
http://www.booksblog.it/categoria/appuntamenti/record/20
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De acordo com Fernando Pessoa "O poeta é um fingidor”. Seria mesmo? Vejam
o que ele escreve em seu poema Autopsicografia (1930)
O poeta é um fingidor Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. (...) PESSOA, Fernando. Obra Poética, Cia. José Aguilar Editora. RJ, 1972, p.164.
Esses males, emoções e dores são vivenciadas apenas pelo poeta? Ou são
vivenciadas também por outras pessoas?
O que você pensa sobre o poeta?
Provavelmente você já ouviu os provérbios: “De médico, poeta e louco todo mundo tem
um pouco” e “Quem canta seus males espanta”. Você concorda com tais dizeres?
E se lhe pedissem para parafrasear o provérbio “Quem canta seus males espanta“ e no
lugar de cantar a ação fosse escrever poesia, o que você escreveria?
“Quem escreve poesia, seus males alivia”... Ou
“Quem escreve poesia, suas emoções anuncia”... Ou ainda
“Quem escreve poesia, suas dores denuncia”...?
Ponha sua imaginação para funcionar e parodie o provérbio de quantas maneiras
diferentes quiser...
“Quem escreve poesia...............................................................................................
O que acha agora, de dar sua opinião sobre outras questões?
Quem é o (a) poeta (poetisa)? É profissional?
O que diz o senso comum sobre isso?
Você poderia citar que poetas já leu ou sobre quais ouviu falar? De onde essas
informações lhe chegaram?
Para fazer poesia tem que ter dom? Pode-se aprender a ser poeta? Na escola isso é
possível?
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Afinal, o que é a poesia e para que serve?
Mermelstein (2007) apresenta a concepção de poesia segundo os antigos
gregos:
“Poiesis”, palavra grega, significa “produzir”, fazer, criar uma realidade diferente da histórica e factual. A poesia na antiguidade era ritual, entretenimento, enigma, profecia, filosofia, competição. O poeta era concebido como um sábio e a função do poema era social, educar e guiar uma prática.”
Confira a seguir outras respostas e considerações sobre essas questões que já
foram dadas por alguns escritores, teóricos e poetas, vamos lê-las?
Thiago de Mello diz:
(...) Escrevo poemas porque sou poeta. A poesia é um dom, com qual se nasce. Depois é trabalhar, trabalhar e trabalhar. Como em toda arte (...) (...) Poesia não é alquimia. É trabalho: a sensibilidade, a intuição, guiadas pela inteligência, ou melhor, pelo coração da inteligência. Trabalho para encontrar a palavra exata, capaz de dar a forma mais bela ao que tu queres dizer. Trabalho para alcançar um idioma próprio, uma linguagem cada dia mais acessível ao leitor comum. Escrever difícil é muito fácil, difícil é o verso que não perde o compromisso com a arte, com a qualidade estética, e, no entanto entrega as suas metáforas com a maior simplicidade. (Thiago de Mello, Entrevista, www.leiabrasil.org.br/. Acesso em 15/01/2008 )
Também o poeta João Manuel Simões (1997) ao ser perguntado sobre o
conceito de poesia assevera que é “um prodígio encantatório que vivifica e aliena, faz
ascender aos céus e precipita nos abismos, mais, muito mais do que tudo isso, é vida.
Vida e fonte de vida. Será isso muito? É muito e é tudo” (SIMÕES, 1978: 67).
Para o economista, poeta e cronista Lula Miranda, (2007) ”a poesia serve para
educar a alma humana”, ensina as pessoas a pensarem no transcendente e
proporciona um tipo de raciocínio que nos permite ver além das aparências. Sem falar
que a poesia funciona como um importante exercício para se trabalhar a linguagem, a
língua e os sentimentos.
Vale a pena conferir também a impressão de Vinicius de Moraes (1986:537) ao
comparar a poesia com uma construção: “Troquem-se tijolos por palavras, ponha-se o
poeta, subjetivamente, na quádrupla função de arquiteto, engenheiro, construtor e
operário, e aí tendes o que é poesia”.(...) O material do poeta é a vida, só a vida(...)
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Uma vez que conhecemos o pensamento desses poetas, literatos, escritores,
que tal se pesquisássemos suas biografias para saber como eles se tornaram poetas?
Fiquem atentos na pesquisa e observem se em algum momento dessa trajetória, a
escola esteve presente.
CURIOSIDADES
Você sabia que o dia 21 de março é considerado o Dia Internacional da Poesia?
Proposto pela Unesco, a data foi escolhida, por ser o início da primavera no Hemisfério
Norte e o costume de associar a poesia à primavera vem de muito tempo.
Mas não se preocupe, também temos o Dia Nacional da Poesia, por sinal comemorado
um pouco antes do Dia Internacional. A data é 14 de março. Que tal novamente ir à
pesquisa para saber por que ela foi escolhida?
Adorno (1983) acredita que a poesia pode funcionar como antídoto à hostilidade
e à desumanização.
A música clássica teria a mesma função da poesia, poderia ser também
considerada um texto poético? Antes de pensar em uma resposta consulte o site
http://www.youtube.com/watch?v=pjDZUetrDCM e lá encontrará a composição A
toccata nº 2 das Bachianas Brasileiras de Heitor Villa-Lobos, também conhecida como o
“O Trenzinho do Caipira”. Aproveite e “viaje” assistindo ao vídeo.
E aí, já é possível responder a pergunta acima?
Você já parou para ver um trem passar, obrigando a interrupção do trânsito
frenético da vida? As imagens mostradas poderiam deixar um poeta paralisado, de
olhos fixos em cada vagão, permitindo viajar junto com eles seus pensamentos,
lembranças e por que não, sua vontade de ir também? As imagens mostradas
compõem um cenário e a julgar pelos trajes que as pessoas usam, poderíamos localizar
esse tempo? Teria o cenário do vídeo, relação com o tempo da composição de O
Trenzinho do Caipira? Está curioso, não? Uma pesquisa sobre o compositor da obra
poderá ajudá-lo nessa tarefa. Também se considere nesse momento um poeta e a
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partir das imagens mostradas no vídeo, registre suas impressões criando um texto
poético.
Como não é tão comum andarmos de trem na atualidade que tal imitar seus
movimentos e seus sons, brincando com o poema “Trem de ferro” de Manuel
Bandeira?
Café com pão Café com pão Café com pão Virge Maria que foi isto maquinista?
Agora sim Café com pão Agora sim Voa, fumaça Corre cerca Ai seu foguista Bota fogo Na fornalha Que eu preciso Muita força Muita força Muita força Oô.... Foge, bicho Foge, povo. Passa ponte Passa poste Passa pasto Passa boi Passa boiada Passa galho De ingazeira Debruçada No riacho Que vontade De cantar!
Oô... Quando me prendero No canaviá Cada pé de cana Era um oficiá Oô... Menina bonita Do vestido verde Me dá tua boca Pra matá minha sede Oô... Vou mimbora vou mimbora Não gosto daqui Nasci no sertão Sou de Ouricuri Oô... Vou depressa Vou correndo Vou na toda Que só levo Pouca gente Pouca gente Pouca gente...
BANDEIRA, Manuel. Antologia poética. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990. p.96-98.
Uma possibilidade de montar o trem em sala de aula recitando o poema é a
seguinte: Três alunos interpretam a primeira estrofe. Um aluno, na segunda estrofe,
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imita o som do apito do trem. Outro subgrupo de alunos interpreta a terceira estrofe. O
estribilho (Oô), todos os alunos declamam. A continuação da quarta estrofe outro
subgrupo apresenta. Na quinta estrofe, outro grupo de alunos e assim por diante até se
chegar à última estrofe quando vocês procederão da seguinte maneira: Os três
primeiros versos serão interpretados por todos os alunos. O quarto verso será
apresentado por quatro alunos e o último verso por dois alunos. Agora é só ensaiar
para que a apresentação do trem em movimento saia perfeita! Depois é só apresentar
para outros colegas e professores da escola!
O que vem a seguir é também um poema relacionado à temática do trem.
O trem Vai que vai, vem que vem, faz o balanço do trem. A menina, com o nariz. Achatado na vidraça, enlaça a paisagem com o seu olhar encantado. Vem também, vem também, faz o balanço do trem. Na bolsa a menina leva pérolas coloridas, girassóis e margaridas, anões de voz fina e afinadas
flautas mágicas. Você vem, você vem, faz o balanço do trem. É que a bolsa é cheia de sonhos, alegres e tristonhos, e ninguém sabe para onde leva a menina balançando no coração do trem. Vai que vem, vem que vem, vem também, vem também, Você vem você vem, faz o balanço do trem.
MURRAY, Roseana. Classificados Poéticos. 1. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
2004.
Há diferença na maneira de os autores expressarem o ritmo do trem? Então
experimente você criar uma coreografia para a letra desse poema de Roseana Murray e
apresente-a em sala de aula.
Quando viajamos passamos por muitos lugares. Façamos uma parada para
apreciar...
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Cidadezinha qualquer
Casas entre bananeiras mulheres entre laranjeiras pomar amor cantar.
Um homem vai devagar. Um cachorro vai devagar. Um burro vai devagar.
Devagar...as janelas olham. Eta vida besta, meu Deus.
( Carlos Drummond de Andrade. Poesia e Prosa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1988.)
O poeta demonstra sentir tédio da vida pacata nesta cidadezinha. Lance mão de sua
criatividade para melhor expressar poeticamente uma situação que seja contrária aos
sentimentos do poeta.
Aproveitando essa parada para reflexão e considerando as temáticas discutidas
(o trem e a cidade), observe a foto abaixo.
Foto: Carlos Ernesto Kugler – Trem saindo da ponte – Castro – PR
Diferente do poema de Drummond, essa não é uma cidadezinha qualquer. É
uma vista parcial de Castro, aproximadamente da década de 1960. Os elementos da
composição de Drummond poderiam ser características da cidade fotografada? No seu
entorno familiar, procure conversar com pessoas que viveram nessa época para saber
entre outras coisas, como era a vida dessas pessoas e que dificuldades enfrentavam.
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Essas pessoas eram mais felizes? Mantinham laços mais estreitos de amizade e
solidariedade?
Retomando a discussão acerca do amplo sentido da poesia, o escritor Moriconi
(2002) afirma:
“Um filme pode ter poesia. Um gesto, comum ou excepcional pode ter poesia. A poesia está no ar. A poesia é popular. Se mulher é flor, a poesia está na boca do povo, vem da boca do povo. Espera-se que a poesia enquanto arte específica das palavras de algum modo revele ou esteja articulada com essa poesia além-livro, essa poesia da vida.” (MORICONI, 2002, 09)
O teórico nos chama a atenção para o fato de que o poético não está aprisionado
apenas nos versos, mas pode ser percebido também em outros contextos. Se podemos
perceber a poesia em tantos contextos, por que pesquisas demonstram que apenas
30% dos estudantes lêem poesia?
Gebara(2002), afirma que a constatação desse fato poderia ser um sintoma de
desinteresse dos jovens em relação à poesia, porque encontram nela um
direcionamento dado pelos professores para que ao fim da leitura se recupere apenas
aquilo que o texto quis dizer, deixando de lado a maneira de senti-lo. Poderia ser essa a
razão pela qual, 75% dos estudantes não se sentem ainda sensibilizados pela poesia,
embora percebam sua importância?
Ou seria porque a poesia não está ao alcance do público com a mesma
intensidade da Internet, das revistas ou da televisão? E você sabe a que isso se deve?
O poeta Octavio Paz, apresenta sua impressão sobre a poesia moderna no livro
do escritor curitibano Cristóvão Tezza (2003):
“Condenado a viver no subsolo da história, a solidão define o poeta moderno (...)”. O poeta moderno não tem lugar na sociedade porque, efetivamente, não é ninguém. Isto não é uma metáfora: a poesia não existe para a burguesia nem para as massas contemporâneas. O exercício da poesia pode ser uma distração ou uma enfermidade, nunca uma profissão: o poeta não trabalha nem produz. Por isso os poemas não valem nada: não são produtos suscetíveis de intercâmbio mercantil. (...) Como a poesia não é algo que possa ingressar no intercâmbio de bens mercantis, não é realmente um valor. E se não é um valor, não tem existência real dentro do nosso mundo.” (TEZZA, 2003, p.71)
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O poeta Octavio Paz nos chama a atenção para a existência de regras pré-
estabelecidas por micro-poderes, que permeiam o imaginário social e escolar e impõem
à poesia a condição de um gênero literário inferior, menos sério,afinal ela não
representa uma ferramenta útil, prática, lucrativa para a sociedade capitalista. Octavio
Paz teria razão ao mostrar-se tão pessimista? Será que um dia poderemos romper com
essa segregação cultural e recuperar o prazer da leitura poética?
Para confirmar a idéia de Moriconi (2002) vamos conhecer outras formas de se
fazer poesia, para além das rimas, mostrando-se mais visual, mais divertida, mais
reflexiva. O poema concreto propõe novos modos de fazer poesia e você pode usar de
todas as artimanhas: pontos, espaços, letras, cores e formas. O poema concreto fala
por si. É a palavra, é a imagem grávida de significados.
Confira um poema concreto de Augusto de Campos:
Cidade/City/Cité (1963) atrocaducapacaustiduplielastifeliferofugahistoriloqualubrimendimultipliorganiperiodiplastipublirapareciprorustisagasimplitenaveloveravivaunivoracidade city cité http://www2.uol.com.br/augustodecampos/poemas.htm.
Desafios à parte, onde está a poesia sugerida?
Embora na primeira olhada não se perceba, a poesia está exatamente nesse
emaranhado de letras. Na verdade, o poeta Augusto de Campos faz uso de uma
estratégia bem interessante! Você a conhecerá se juntar a cada prefixo do poema as
palavras cidade, city, cité e terá todas as palavras traduzidas simultaneamente em três
idiomas: português, inglês, francês.
Experimente comigo: atrocidade, atrocity, atrocité!
Que nota você daria para a produção do poeta considerando os critérios de
criatividade e reflexão?
Para conhecer outros poemas concretos do autor acesse o site já citado acima e
para conhecer outro mais, acesse www.imediata.com/BVP/
Você vai se surpreender e se divertir!
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Um exemplo dessa sonoridade e concretismo da poesia também pode ser
apreciada no conto de Ricardo Ramos. O escritor trabalha o cotidiano urbano, através
de uma narração fotográfica.
Embora pareça óbvio, não custa lembrá-lo, que a narração fotográfica como
estratégia usada pelo escritor, será tanto mais representativa do real quanto mais você
puder imaginá-la. Vamos lá?
Circuito Fechado Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo (...), agenda, copo com lápis, canetas, bloco de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetor de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água.Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio,papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro.Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, chinelos. Vaso, descarga, pia, água, escova, creme dental, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro. (RAMOS, Ricardo. Circuito fechado. In: LADEIRA, Julieta de Godoy (org). Contos brasileiros contemporâneos. São Paulo: Moderna, 1994.).
A propósito, você sabe quem foi Ricardo Ramos? Uma dica: filho de um grande
escritor brasileiro.
Será que em um texto desprovido de adjetivos, onde apenas a aridez dos
substantivos se faz presente, é possível encontrar alguma poesia? Mergulhe no
compasso das palavras e conheça o sentimento que acompanha tal personagem.
Em seguida, busque em revistas ou em diferentes fotos o perfil do personagem
que idealizou e o ambiente em que vive. Retrate-o! Mas antes procure no dicionário o
significado da palavra “circuito” para refletir sobre a razão da escolha do autor pelo
título Circuito fechado.
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Você lerá na seqüência uma crônica, um texto curto que aborda assuntos e
acontecimentos do cotidiano, que após terem sido captados pelo escritor são
recontados a partir de uma visão particular.
Maria Fumaça
As lentas, poeirentas, deliciosas viagens nos trens antigos. As famílias (viajavam famílias inteira) levavam galinhas com farofa em cestas de vime, que ofereciam, pois não, aos viajantes solitários. E os viajantes solitários (e os meninos) ainda desciam nas estaçõezinhas pobres... para os pastéis, os sonhos, as laranjas... E ver as moças da localidade, que iam passear nas gares para ver os viajantes, uns e outros de olhos compridos – eles num sonho repentino de ficar, elas num sonho passageiro de partir. Um apito, a fumarada, resolvia tudo. Mas hoje nem há o que resolver. E é quase proibido sonhar. O mal dos aviões é que não se pode descer a toda hora para comprar laranjas. Nesses aviões, vamos todos imóveis e empacotados como encomendas para a Eternidade... Cruzes, poeta! Deixa-te de idéias funéreas e pensa nas aeromoças, arejadas e amáveis como anjos. E “anjos”, aplicado a elas, não é exagero nenhum. Pois não nos atendem em pleno céu? Porém, como já nos trazem tudo de bandeja, eis que essa mesma comodidade de creche em que nos sentimos tira-nos o saudável incômodo das iniciativas e dos improvisos. Entre a monotonia irreparável das nuvens, nada vemos da viagem. Isto é, não viajamos: chegamos. Pobres turistas de aeroportos, damos a volta ao mundo sem nada ver do mundo. QUINTANA, Mário. Caderno H. Porto Alegre: Globo, 1978.
Você percebeu a diferença quanto à forma (maneira de dispor as palavras no
papel) entre a poesia e a prosa? A poesia normalmente se apresenta em versos,
preocupa-se com rimas, jogos de palavras, tudo para dar ritmo e sonoridade ao texto,
ao contrário do texto em prosa, que é composto por parágrafos e linhas. Mas você
também percebeu que podemos nos sensibilizar tanto com um poema quanto com um
texto em prosa (narrativo), não é mesmo? É o que o professor e poeta Moriconi (2002,
p. 08) nos confirma ao dizer que “toda linguagem tem seu quê de poesia”.
É hora de concretizar sua imaginação!
Baseado no texto narrativo de Mario Quintana, e na imagem abaixo crie um
poema concreto. Permita às palavras desenharem a sua criação poética
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www.diaadiaeducacao.pr.gov.br
“A arte é uma série de objetos que provocam emoções poéticas”. (Le Corbusier)
Segundo a pensadora Langer (1971: 82), a arte em seu sentido genérico
abrangendo pintura, escultura, arquitetura, música, dança, literatura, drama e cinema –
pode ser definida como “a prática de criar formas perceptíveis expressivas do
sentimento humano”. Por mais racionalidade que se busque em uma expressão
artística, nela sempre estará presente o sentimento que habita a alma humana.
Affonso Romano de Sant’Anna (2003), quando indagado sobre a função da arte,
nos apresenta uma comparação:
“Consideremos o sonho. A função onírica, por exemplo, é um campo de força. Até os animais sonham, efetuando assim, tanto quanto os humanos, uma descarga de energia. E tem muito a ver com a arte, embora a arte se diferencie do sonho por não ficar à mercê de pulsões involuntárias. O sonho, como a arte, não apenas “tem” uma função, mas “é” uma função imprescindível ao sistema orgânico e social. (...) Não existe cultura sem símbolo e sem o mínimo de estética.” (SANT’ANNA, 2003, p.184-185)
O que você entende por estética?
Etimologicamente, a palavra estética vem do grego “aisthesis”, com o
significado de “faculdade de sentir”, “compreensão pelos sentidos”. A palavra “estética”
possui significados relacionados, por exemplo, à beleza física ou decoração estética.
Entrando no campo das artes, encontraremos, por exemplo, a estética renascentista, a
estética realista etc., também podendo, neste caso, ser chamada de estilo. A estética
também é “um ramo da filosofia que estuda racionalmente o belo e o sentimento que
suscita nos homens.”(ARANHA e MARTINS,1993,p.341).
E você sabe o que é filosofia?
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Esta palavra também tem origem grega e significa “amigo da sabedoria”.
Para Moriconi (2003, p.08), ”a filosofia é ginástica para o cérebro: nos ensina a pensar.
Ensina a indagar sobre o real significado das palavras.” E nos torna mais críticos. Como
somos seres dotados de sensibilidade e razão, estamos sempre procurando pelo
sentido das coisas, pelo sentido da vida, ou seja, estamos sempre pensando, fazendo
escolhas, tomando decisões, analisando. Você já se deu conta de que pensa, portanto,
também é um filósofo? A filosofia nos conduz ao bom senso, que nos possibilita
organizar nossos pensamentos e sentimentos.
E “O verdadeiro conhecimento se faz, portanto, pela ligação contínua entre
intuição e razão, entre o vivido e o teorizado, entre o concreto e o abstrato.” (ARANHA e
MARTINS, 1993, P.23) Buscando sempre o equilíbrio do ser!
Mas voltando a falar em TREM, aproxime seu olhar da pintura “Gare St. Lazare,
1877” (Estação de St. Lazare) do pintor francês Oscar Claude Monet
http://campusdigital.uag.mx/galeria6.htm
Que impressões a pintura provoca em você?
Podemos encontrar poesia na quadro de Monet?
Na época de Monet, a fotografia foi descoberta. Imagine-se vivendo esse momento.
Quem você chamaria para retratá-lo? Um pintor ou um fotógrafo?
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Pois é, com a invenção da fotografia em 1835 por Nicephore Niepce e Louis
Daguerre, a fotografia substitui a pintura, pois, mostra imagens mais fiéis à realidade. E
a pintura deixa de ter importância para o público. Em meados de 1855, (séc.XIX) já se
discutia uma tendência artística nova, o Realismo. Por força das circunstâncias nasce a
pintura ao ar livre, empenhada em alcançar maior naturalismo, o Impressionismo. E
Monet é um dos precurssores desse estilo. Sendo assim, é comum aos artistas da
época, pintarem uma mesma imagem diversas vezes, buscando retratar assim, o efeito
da luz do sol sobre as obras nos vários momentos do dia, de certa forma, uma tentativa
de aproximação das qualidades da fotografia. Há uma variedade ampla de tons e cores,
a predominância da luz, da claridade.
CURIOSIDADES
Você sabe o porquê da pintura dessa época chamar-se impressionista?
Deveu-se ao fato de o pintor Claude Monet expor uma obra sua intitulada de
“Impressão, Sol Nascente” e ser duramente atingido pela crítica que menosprezou sua
pintura, pois ela apenas dava “a impressão de um sol nascente”, não retratava a
realidade.
Você sabia que Monet pintou sete versões da estação Saint-Lazare? E para que
pudesse pintar a cena com maior realismo conseguiu com que o diretor da ferrovia
atrasasse a partida dos trens em meia hora? Monet queria retratar a intensa fumaça
que aquelas serpentes soltavam pelas ventas e que a tudo encobria, o que era para ele
“uma visão fascinante, um sonho!”. (SPENCE, David. Grandes artistas: vida e obra.
Tradução Luiz Antônio Aguiar e Marisa Sobral. São Paulo: Editora Melhoramentos,
2004.)
E então, continua disposto a dar asas à imaginação??????
Que tal gravar suas impressões sobre a pintura em mais um poema? Ou então,
pintar ao estilo impressionista um recanto de sua cidade?
O professor de Artes, a Internet ou um livro de Literatura poderão ajudá-lo a
conhecer mais sobre a obra impressionista e seus representantes!
Depois de falarmos tanto em trem, não ficou curioso para saber mais sobre sua
história?
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Saiba que você pode viajar no tempo e conhecer tudo sobre os trens visitando o
Museu Ferroviário de Curitiba no Shopping Estação. Inclusive até a história da estação
de sua cidade. Não é o máximo? Que tal agendar uma visita a esse museu?
É só entrar em contato com [email protected] ou pelo telefone
(41) 21019202 e Boa Viagem!
Aproxima-se a Estação e a Caravana da Poesia precisa descer do trem. Nos
caminhos percorridos dessa viagem, você se sensibilizou com a poesia? Positiva ou
não sua resposta, essa questão dá lugar a outra: você acredita na possibilidade de
conquistarmos outras pessoas para o mundo subjetivo, sensível e criativo do poético? A
poesia reclama seu espaço nesse planeta conturbado, pois a estética da sensibilidade
não convive com exclusão, intolerância, intransigência, mas é criativa, ensina a suportar
a inquietação, conviver com o impossível, o diferente, e por isso mesmo critica o que
brutaliza as relações pessoais.
“Se procurar bem, você acaba encontrando não a explicação (duvidosa) da vida, mas a
poesia (inexplicável) da vida.” (Drummond,1988)
REFERÊNCIAS ADORNO, Theodor W. Discurso sobre lírica e sociedade. In Notas de Literatura. Tradução de Jorge de Almeida. São Paulo: 34 letras, 2003. ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 2.ed., São Paulo: Moderna, 1993. BANDEIRA, Manuel. Antologia Poética. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990. CAMPOS, Augusto de. Cidade, City, Cité. http://www2.uol.com.br/augustodecampos/poemas.htm. Acesso em 08/12/07. GEBARA, Ana Elvira Luciano. A poesia na escola: leitura e análise de poesia para crianças. São Paulo: Cortez, 2002. LANGER, Suzanne K. Ensaios filosóficos. São Paulo: Editora Cultrix, 1971.
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MELLO, Thiago de. Entrevista. www.leiabrasil.org.br/. Acesso em 15/01/08. MERMELSTEIN, Miriam. Subsídios para trabalhar com poesia em sala de aula. Disponível em: http://www.crmariocovas.sp.gov.br, p.1. Acesso em 21/07/2007. MIRANDA, Lula. A que(m) serve a poesia. http://www.consciencia.net/artes/literatura/01/mirand.html. Acesso em 27/01/08. MORAES, Vinicius de. Poesia Completa E Prosa. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar,S/A, 1986. MORICONI, Ítalo. Como e por que ler a poesia brasileira do século XX. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. MURRAY, Roseana. Classificados Poéticos. 1.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2004. PESSOA, Fernando. Obra Poética. Cia. José Aguilar Editora. Rio de Janeiro, 1972. QUINTANA, Mário. Caderno H. Porto Alegre: Globo, 1978. RAMOS, Ricardo. Circuito Fechado. In: LADEIRA, Julieta de Godoy (org). Contos brasileiros contemporâneos. São Paulo: Moderna, 1994. SANT’ANNA, Affonso Romano de. Desconstruir Duchamp: arte na hora da revisão. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2003.
SIMÕES, João Manuel. Clareza e mistério da criação literária: ensaios. Curitiba: Editora Lítero-técnica, 1978.
SPENCER, David. Grandes artistas: vida e obra. Tradução Luiz Antônio Aguiar e Marisa Sobral. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2004.
TEZZA, Cristóvão. Entre a prosa e a poesia: Bakhtin e o formalismo russo. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.
VILLA LOBOS, Heitor. O Trenzinho do Caipira. http://www.joutube.com/watch?v=pjDZUetrDCM. Acesso em 08/12/07.