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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

TÍTULO

QUEM CONTA UM CONTO... FORMA UM CONTADOR

Jacarezinho – 2009

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QUEM CONTA UM CONTO... FORMA UM CONTADOR

Suzete Parpinelli do Amaral Toledo*

Prof.ª. Maria Aparecida de Fátima Miguel**

RESUMO

O significado psicológico dos contos de fadas foi um dos temas mais difundido na história dos estudos de conto de fadas. Existem muitas teorias sobre o significado psicológico do conto de fadas e de valor, mas a maioria começa com a premissa de que as histórias são expressões simbólicas da mente humana e da experiência emocional. Segundo essa visão, o conto de fadas, enredos e temas não são representações da realidade sócio-histórica, mas os símbolos da experiência interior que fornecem uma visão do comportamento humano. Consequentemente, a abordagem psicológica dos contos de fadas envolve interpretação simbólica, tanto para os psicanalistas, que usam os contos de fadas para ilustrar diagnostica teorias psicológicas, e por folcloristas e críticos literários, que utilizam teorias psicológicas para iluminar os contos de fadas. Embora a abordagem psicológica dos contos de fadas geralmente está associada com a psicanálise freudiana e outras teorias do século 20. Ela realmente teve o seu início no século anterior. Palavras – chave: Contos de fadas, literatura infantil, piscologia.

* Professora QPM e aluna do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, Universidade Estadual do Norte do Paraná - e-mail: [email protected]

* *Professora orientadora do Programa de Desenvolvimento Educacional, UENP - Campus de Cornélio Procópio. Doutoranda pela UNESP – Assis – SP.

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ABSTRACT

The psychological meaning of fairy tales was one of the most pervasive themes in the history of studies of fairy tale. There are many theories about the psychological meaning of fairy tale and value, but most begin with the premise that the stories are symbolic expressions of the human mind and the emotional experience. According to this view, the fairy tale plots and themes are not representations of the socio-historical, but the symbols of the inner experience that provides a view of human behavior. Consequently, the psychological approach to the fairy tale involves symbolic interpretation, both for psychoanalysts who use fairy tales to illustrate diagnostic psychological theory, and folklorists and literary critics who use psychological theories to illuminate fairy tales. Although the psychological approach to fairy tales is usually associated with Freudian psychoanalysis and other theories of the 20th century. She really had its beginnings in the previos century. Key - words: Fairy tales, children's literature, psychology.

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1. Introdução A definição de conto de fadas deve incluir a ideia da criação artística e

também a uma aspiração da alma humana. Portanto, uma aspiração coletiva

que encontrou uma maneira de se expressar através do que se chama de

conto de fadas (uma forma de literatura escrita e oral).

Os contos de fadas são histórias que se baseiam sobre as questões que

afetam a vida cotidiana - o ódio e a pobreza, amor e riqueza, beleza e feiura,

sofrimento e felicidade - disfarçado por uma fina camada de metáfora e de

magia que se remove do mundo imediato.

Eles têm um significado mais profundo do que entreter o público.

Possuem dois propósitos ocultos e é óbvio que a intenção é revelar certas

mensagens. Foram criados para ajudar as crianças a superar os problemas da

infância.

Outra característica do conto de fadas é a sua estrutura fantástica. Neles

encontram experiências e seres sobrenaturais. E por isso tinham entre suas

funções, uma relação de prazer de acompanhar histórias em que as fronteiras

do mundo sensível são exageradas.

"Juventude eterna e vida sem morte". Encontram as aspirações coletivas

e individuais. O nascimento do herói traz os anseios messiânicos do povo:

como Imperador Salomão. Mas o herói não gosta da vida pública, escolhe a

busca da imortalidade como o ideal de seu próprio ego.

Sigmund Freud acreditava que, como os sonhos, os contos de fadas são

uma janela para o inconsciente, dizia ainda que eles revelam os desejos

inconscientes, fantasias, realização e medos. FREUD (1976)

Carl Jung levou isso a um passo mais longe e aplicou-o ao uso ideal de

“inconsciente coletivo”, um conjunto de arquétipos, formas e símbolos

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compartilhados por todas as pessoas que moldam o inconsciente das mentes.

Os contos de fadas são uma arena em que podem jogar fora os tabus sociais e

contar com a ids carnal. Afirma também, que os contos de fadas, assim como

os mitos são fragmentos elaborados coletivamente de algumas experiências

interiores que são iguais em todos os aspectos com o que chamou de processo

de individualização.1

À medida em que os anos passam a arte de ler e contar contos está

sendo deixada em segundo plano a favor de outros tipos de leituras. Não

fossem os desenhos animados os contos clássicos já tinham se perdido no

tempo. Aliás, “[...] o mais prático contador de histórias já inventado, com um

simples apertar de botão, a televisão dá acesso a um mundo fantástico, em

que som, imagem e cor complementam o texto que é oferecido à criança. E

sem dúvida, fascinante.” ( JARDIM, 1994, p7)

Contar histórias remete-nos aos tempos que a mãe, a avó, a tia, um

vizinho contavam histórias, fossem elas para embalar o sono, fossem para

entreter um grupo de crianças e porque não até entre adultos, afinal, alguém

sempre tinha uma história de pescador, de assombração, de um momento de

“heroísmo” para embalar a conversação, num tempo em que a televisão ainda

não havia abalado as relações familiares e sociais.

A história é uma narrativa que se baseia num tipo de discurso calcado no imaginário de uma cultura. As fábulas, os contos, as lendas, são organizados de acordo com o repertório de mitos que a sociedade produz. Quando estas narrativas são lidas ou contadas por um adulto para uma criança, abre-se uma oportunidade para estes mitos, tão importantes para a construção de sua identidade social e cultural, possam ser apresentados a ela. (SILVA apud PEIXOTO, 2006, p.11).

Histórias, contos, fábulas oferecem inúmeras possibilidades para ser

trabalhadas em aulas de Língua Portuguesa fundamentadas em novas

reconstruções dos textos. Rodari (1982), por exemplo, sugere que a partir de

um conto podem surgir outros tanto a partir de: o erro criativo; velhos jogos;

construindo adivinhações; a falsa adivinhação; errando as estórias; as fábulas

1 http://pt.wikipedia.org/wiki/Inconsciente_coletivo. Acesso em 10-12-2010.

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ao contrário; o que acontece depois; salada de fábulas; fábulas copiadas entre

outras.

Assim, o propósito é transmitir para os alunos a importância dessa

prática: contar uma história, um conto para crianças, um causo para adultos,

quais os recursos e estratégias que devem ser acionados, a dramatização

como recurso entre outros. Proporcionar o contato com a história da literatura

infantil, o contexto, os objetivos, a linguagem utilizada. Trabalhar com textos

diversos para que os alunos selecionem as linguagens utilizadas, os gêneros,

idades. A ideia não é simplesmente contar histórias para os alunos, mas formar

contadores de histórias, para que eles as repassem num ambiente infantil, num

asilo, num hospital, numa roda de amigos.

Dessa forma seria ótimo se a arte de contar histórias fosse um

acontecimento diário nas escolas, mesmo que não se estudasse nada e nem

fizesse atividades a partir delas. Esta formação deveria existir nos curso de

Magistério e em nível de Superior, principalmente nos cursos de Licenciatura

em Pedagogia, Letras, Artes. Assim, os professores dispostos em utilizar-se

desta arte em sala de aula, precisam aprender algumas técnicas através da

leitura e da pesquisa. Para Coelho (2001), esta arte exige uma certa tendência

inata e predisposição, no que Sisto (2001) não concorda, pois para ele cada

contador de história é único, tem técnicas próprias e estilo pessoal, e aquele

que não tiver habilidades, pode vir a desenvolvê-las ainda que determinadas

técnicas podem funcionar para uma pessoa e talvez menos para outra. O

importante é tentar.

O contador vai tecendo tudo [...] com palavras que viram falas e que são aos poucos recebidas e interpretadas pelo ouvinte, que visualiza e constrói os personagens de cada história. A cada mudança de voz e movimento de CE corpo, o ouvinte se concentra na expectativa de que algo surpreendente acontecerá; o contador faz a platéia se embalar ao som da história contada. O olhar todo o tempo seduz e convida o ouvinte para adentrar pelo cenário da história. Muitas vezes ele fecha os olhos e se percebe diante do fato narrado pois relatar fatos significa ‘contar ações, contar movimentos e é isto que faz o contador. (FIDALGO, 2001, p.96)

Dessa forma, justifica-se a abordagem sobre a contação de contos,

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histórias, fábulas a necessidade de resgatar essa prática, despertar nos alunos

esse prazer, familiarizá-los com essa corrente de leitura, porta de entrada para

os demais estilos num momento em que o mercado editorial volta-se para

livros para adolescentes com temas envoltos em magia, mundos fantásticos

onde a realidade e a ficção se misturam. Portanto as histórias estão em alta e

os alunos receptivos a ouvi-las.

2. História dos Contos de Fadas

A tradição oral do conto de fadas chegou muito antes da página escrita.

Os Contos foram ditos ou encenados drasticamente, ao invés de escritos, e

transmitido de geração em geração. Devido a isso, a história de seu

desenvolvimento é necessariamente obscuro. A mais antiga conhecida derivam

do antigo Egito 1300 aC. E os contos de fadas aparecem, agora e novamente,

na literatura escrita em toda culturas letradas, como em O Asno de Ouro, que

inclui Cupido e Psiquê (Roma, 100-200 dC), ou o Panchatantra (Índia do século

3 aC) mas não se sabe em que medida estes refletem a contos folclóricos reais

mesmo de seu próprio tempo. A evidência indica que estes estilística, e muitas

coleções depois, retrabalhadas contos populares em formas literárias. O que

eles mostram é que o conto de fadas tem raízes antigas, mais antiga que a

Noite das Árabias, coleção de contos mágicos (compilado por volta de 1500 dC)

Além de coleções e tal contos individuais, na China, taoísta filósofos

como Liezi e Zhuangzi contou contos de fadas nas suas obras filosóficas.

Na definição mais ampla do gênero, os primeiros famosos contos de

fadas ocidentais são as de Esopo (século 6 aC ) na Grécia antiga.

2. Contos de fadas e o imaginário infantil

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Originalmente os contos de fadas foram escritos para os adultos e não

para as crianças.

Como CASHDAN (2000), exemplifica:

É por isso que muitos dos primeiros contos de fada incluíam exibicionismo, estupro e voyeurismo. Em uma das versões de Chapeuzinho Vermelho, a heroína faz um striptease para o lobo, antes de pular na cama com ele. Numa das primeiras interpretações de A bela adormecida, o príncipe abusa da princesa em seu sono e depois parte, deixando-a grávida. E no conto A Princesa não conseguia rir, a heroína é condenada a uma vida de solidão porque, inadvertidamente, viu determinadas partes do corpo de uma bruxa.

As versões infantis de contos de fadas hoje consideradas clássicas,

devidamente expurgadas e suavizadas, teriam nascido quase por acaso na

França do século XVII, na corte de Luís XIV, pelas mãos de Charles Perrault.

COELHO (1987)

Considerando no seu sentido literal, o termo contos de fadas, refere

somente as histórias fantásticas sobre fadas, seres de tamanho muito reduzido

que habitavam o reino da fantasia e que fizeram parte integrante das crenças

populares da Antiguidade greco-latina e da cultura medieval europeia. São

seres imaginários, míticos, representados geralmente por mulheres dotadas de

poderes sobrenaturais usados para o Bem (Fadas Madrinhas) ou para o Mal

(Bruxas ).2

Os contos de fadas geralmente apresentam personagens folclóricos,

como fadas, duendes, elfos, trolls, gigantes ou anões e, geralmente, mágicas

ou encantamentos. No entanto, apenas um pequeno número de histórias assim

designados referem explicitamente as fadas. As histórias podem no entanto ser

distinguida de narrativas populares, tais como as lendas (que geralmente

envolvem a crença na veracidade dos eventos descritos) e explicitamente

contos morais.

BETTELHEIM (1980), faz um estudo acerca de contos de fadas que

parecem inofensivos, assim como a história da Chapeuzinho Vermelho e dos

2 http://www.edtl.com.pt/index.phpoption=com_mtree&task=viewlink&link_id=701&Itemid=2.

Acesso em: 10-12-2010.

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Três Porquinhos, são personagens sem malicia. Mas que trazem informações

de uma forma alegre e ao mesmo tempo dramática, pois no conto dos Três

Porquinhos, este mostra que quem se esforçou em fazer a melhor casa (a de

tijolos) não teve preguiça e não mediu seus esforços, não perecendo assim, é o

que devemos fazer em nossas vidas. Já, o conto da Chapeuzinho Vermelho traz

que não devemos falar com estranhos e que devemos obedecer aos nossos

pais, caso contrário as consequências poderão não ser boas.

Os contos de fadas considerados pelos pais e educadores até pouco

tempo como “irreais”, “falsos” e cheios de crueldade, são, para as crianças, o

que há de mais real, algo que lhes fala, em linguagem acessível, do que é real

dentro delas.

Abramovich (p.120) observa que “Os contos de fadas são tão ricos que têm

sido fonte de estudo para psicanalistas, sociólogos, antropólogos, psicólogos,

cada qual dando sua interpretação e se aprofundado no seu eixo de interesse”.

Os pensadores modernos que estudaram os mitos e os contos de fadas de um ponto de vista filosófico ou psicológico chegaram à mesma conclusão, independentemente da sua persuasão original. Micea Eliade, por exemplo, descreve essas histórias como ‘ modelo para o comportamento humano (que), por isso mesmo, dão significação e valor à vida’. Traçando paralelos antropológicos, ele e outros sugerem que mito e contos de fadas derivam de, ou dão expressão simbólica a, ritos de iniciação ou outros rites de passage – tais como a morte metafórica de um velho e inadequado eu com a finalidade de renascer num plano mais elevado de existência. (BETTELHEIM, 2007, p.51).

Por outro lado, hoje as histórias já não chegam mais pela voz viva e

também já não estão registradas apenas nas páginas dos livros. Manifestam-se

nas artes visuais, no cinema, na televisão e nas fitas magnéticas, mas antes do

surgimento da imprensa e da tecnologia eletrônica a coisa não era bem assim.

Havia uma interação proporcionada pela contação de histórias, quando,

em voz alta, o contador narrava em voz alta a um grupo de pessoas; sua fala

se transformava numa espécie de “escritura invisível” que se fixava no cérebro

do ouvinte, garantindo a reprodução futura.

Em outras épocas, por exemplo, durante a Idade Média, as histórias,

muitas vezes de autores desconhecidos divulgadas oralmente pelos

“contadores”, que percorriam longas distâncias para realizar suas

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apresentações. Muitas vezes, modificavam essas histórias a partir do que viam,

ouviam e, principalmente, do que sentiam. Por isso, a apresentação da

narrativa dependia muito da sensibilidade do narrador no momento da

recitação cada voz enunciava a história que era livre para adaptar e

personalizar o texto com seu dialeto, com sua ênfase dramática, expressiva e

com seus gestos.

Desse modo, a composição oral foi caracterizada como um texto de

muitas vozes, de muitos autores. O próprio ouvinte, no momento da escuta, já

elabora o seu modo de interpretar o que ouve, tornando-se também um

possível criador. Tudo isso é uma das mais importantes heranças que a

literatura recebeu.

Em tempos de globalização atual, o ato de contar convive com a escrita e

com os meios técnicos da comunicação eletrônica, com os quais as histórias

sobrevivem. Os meios mudaram, mas o ato de contar continua vivo, assim

como as “novas” versões dadas para as mesmas.

E hoje, definitivamente – não é mais novidade dizer –, vivemos num mundo de imagens. Nunca foi tão forte a sensação de déjà vu, de já ter estado num lugar quando já se chega pela primeira vez. Todas as paisagens nos parecem visitadas, todas as faces conhecidas, todos os caminhos trilhados, todas as histórias contadas e todos os quadros já vistos: tudo é uma imagem transmitida pela TV ou um dado disponível no computador. (PELLEGRINI, 1999, p14)

É verdade que se vive num mundo de imagens, mas em se tratando de

literatura, elas seduzem o leitor, e não é de tudo nociva, pois está comprovado

que muitas obras quando são adaptadas para o cinema e/ou televisão têm o

interesse despertado para o original: quem não se lembra da “desconhecida”

(para o público em geral) Casa das sete mulheres, que adaptada para a TV,

passou a fazer parte da lista de best sellers por várias semanas? Ou o sucesso

que alcançou o Auto da Compadecida, uma peça de teatro (portanto, mais

“aurística”, restrita, elitista) de Ariano Suassuna, de 1955; outra peça, Hoje é

dia de Maria, de Carlos Alberto Soffredini, caracterizada como uma fábula

infantil no melhor estilo dos contos de fadas, com madrasta má, príncipe, fada

(aqui, Nossa senhora da Conceição), personagens inusitados, transformações

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dentre outros. Esses são apenas alguns exemplos de reprodutividade técnica,

pois recontar uma história ou dramatizar um texto requer uma estratégia

comum: colocar em cada palavra ou frase uma expressão particular,

carregando-a de sentido. Quando se fala, consegue naturalmente a expressão

adequada da sensibilidade. Mas, quando se vai escrever, nem sempre se

consegue imprimir na escrita a expressividade dramática da voz.

[...] o sentido de uma história depende muito do modo como ela é contada. O autor pode contar com suas palavras os episódios vividos pelos personagens, suas falas e seus pensamentos. Neste caso, a expressividade do texto se concentra no episódio. Mas o autor pode contar a história deixando falar o personagem e colocando toda a ênfase dramática nos diálogos. Neste último tipo de narrativa, convivemos um pouco com os personagens, pois ‘ouvimos’ o que eles falam e podemos imaginar o tom de sua voz, a intenção de suas palavras e até seus sentimentos. (MACHADO, 1994, p.21-22).

Brait (apud DCE, 2009, p. 52) recorda que “não se pode falar de gêneros

sem pensar na esfera de atividades em que eles se constituem e atuam, aí

implicadas as condições de produção, de circulação e recepção”. De uma

maneira ou outra os indivíduos estão em contato diariamente com algum

gênero de comunicação, podendo ser de cunho jornalístico impresso;

televisiva, digital como e-mail, bate-papo virtual, chat entre outros.

Observa-se que, como já foi mencionado anteriormente, há uma

tendência, até mesmo em nível mundial, de adaptar obras literárias e contos

infantis, para o cinema, para o teatro, adaptando-os, transformando-os,

renovando-os à medida em que novas alternativas de comunicação vão

surgindo e possibilidades de exploração vão sendo trabalhadas, pois como

afirmou Bakhtin (apud DCE, 2009, p. 52), “todos os diversos campos da

atividade humana estão ligados ao uso da linguagem” Os gêneros variam

assim como a língua – a qual é viva, e não estanque. As manifestações

comunicativas mediante a língua não acontecem com elementos linguísticos

isolados, elas se dão, conforme Bakhtin, como discurso.

Em se tratando de leitura, Hans Robert Jauss, na década de 1960,

pesquisou outra linha para a formação de leitor no sentido tornar mais fácil a

assimilação do texto lido em sala de aula. Trata-se de um método que ficou

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conhecido como “estética recepcional”, assim explicado por Bordini; Aguiar,

(1993, p. 84-85).

A atitude receptiva se inicia com uma aproximação entre texto e leitor,

em que toda a historicidade de ambos vem à tona. As possibilidades de diálogo

com a obra dependem, então, do grau de identificação ou de distanciamento

do leitor em relação a ela, no que tange às convenções sociais e culturais a

que está vinculado e à consciência que delas possui.

O processo de recepção se completa quando o leitor, tendo comparado a

obra emancipatória ou conformadora com a tradição e os elementos de sua

cultura e seu tempo ou não como componente de seu horizonte de

expectativas, mantendo-o como era ou preparando-o para novas leituras de

mesma ordem, para novas experiências de ruptura com os esquemas

estabelecidos. Quanto mais leituras o indivíduo acumula, maior a propensão

para a modificação de seus horizontes, porque a excessiva confirmação de

suas expectativas produz monotonia, que a obra “ difícil” pode quebrar.

Existe um “caráter ideológico” nesse método à medida em que o objetivo

é priorizar leitores para “obras difíceis” , considerada como “ literatura de arte

de uma forma revolucionária, capaz de afetar a História, insiste na qualificação

dos leitores pela interação ativa com os textos e a sociedade”. (BORDINI;

AGUIAR, 1993, p.85)

3. Contos de Fadas na Literatura

Na literatura contemporânea, muitos autores têm utilizado a forma de

contos de fadas por diversos motivos, tais como analisar a condição humana

do quadro de um simples conto de fadas oferece. Alguns autores procuram

recriar a sensação do fantástico em um discurso contemporâneo. Alguns

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autores utilizam formas conto de fadas para questões modernas; Isso pode

incluir o uso dos dramas psicológicos implícitos na história.

Outros autores podem ter motivos específicos, como multicultural ou

feminista. A figura da donzela em perigo foi particularmente atacada por

muitos críticos feministas.

De fins do século XVII até pouco antes da Revolução Francesa no século

XVII, a decadência do racionalismo clássico deu margem ao surgimento de uma

literatura "extra-oficial" que celebrava a "exaltação da fantasia, do imaginário,

do sonho, do inverossímil". Em sua produção e divulgação destacou-se o papel

das preciosas, mulheres cultas que reuniam em seus “salões” a elite intelectual

da época, muitas vezes para apreciar exclusivas dramatizações de contos de

fadas.

Uma das preciosas mais conhecidas, tanto por sua produção literária

quanto por sua vida escandalosa, foi a jovem baronesa Madame D'Aulnoy, que

em 1690 publicou o "romance precioso" História de Hipólito, onde há um

episódio, a "História de Mira", protagonizado por uma fada. Mira transformou-

se num sucesso e lançou moda na corte francesa, fazendo com que Mme.

D'Aulnoy escrevesse mais oito romances feéricos entre 1696 e 1698, dentre os

quais se destacam Contos de Fadas, Novos Contos de Fadas e Ilustres Fadas.

Nas páginas destas obras surgem contos como "O pássaro azul", "A princesa

de cabelos de ouro", "O ramo de ouro", posteriormente reaproveitados como

literatura infantil.

O ambiente propício criado pelos romances preciosos possibilitou a

acolhida de As mil e uma noites no início do século XVIII, e perdurou até fins do

século, quando, entre 1785 e 1785 e 1789 foi publicada a série "Gabinete de

Fadas - Coleção Escolhida de Contos de Fadas e Outros Contos Maravilhosos".

Seus 41 volumes, escritos por vários autores, marcam o fim deste tipo de

produção literária voltado exclusivamente para o público adulto.3

3 http://pt.wikipedia.org/wiki/Contos_de_fadas – Acesso em 10-04-2011

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4. A Mulher e os Contos de Fadas – Ontem e Hoje

Análise dos papéis das mulheres nos contos de fadas.

Cinderela: "A Cinderela é o tipo que vive se sacrificando pelos outros.

Não sabe dizer não e abre mão de seus sonhos e do fruto de seu trabalho por

medo de enfrentar a madrasta má.[...]

Bela (e a Fera). "É o perfil da mulher maltratada; mas que quer ser

salvadora. Encontra uma Fera na vida, que pode ser um marido alcoólatra, um

namorado viciado, ou mesmo um companheiro violento, não importa o que ele

faça de ruim, no primeiro pedido de desculpas, eu sinto tanto... me ajude... ela

se entrega, perdoa e acredita que aquela fera que a agride não é o lado real do

seu companheiro.[...]

Bela Adormecida. "As mulheres que tomam esse conto de fadas como

diretriz para sua vida desenvolvem um perfil passivo, meigo, obediente". Estão

sempre dizendo amém a tudo. São do tipo gracinhas de todo mundo.

Normalmente são frágeis, até mesmo em sua estrutura física.[...]4

Dando sequência a esta temática, os contos de fadas foram utilizados

para sustentar costumes culturais comuns, que é manter o papel da mulher, de

ser subordinada ao homem. A maioria dos contos de fadas apoiam um governo

patriarcal.

Isso é ilustrado nas qualidades e características que as personagens

femininas nos contos de fadas demonstram. Que devem ser boas mulheres,

nas histórias, devem ser silenciosas, passivas, sem ambições, bonitas, férteis,

e ansiosas para casarem.

A Fantasia da maioria das jovens, muitas vezes gira em torno da ideia de

ser uma linda princesa, que um dia irão se encontrar e se apaixonar por seu

príncipe encantado, então juntos eles viverão felizes para sempre, depois da

vida. Talvez esta seja a razão pela qual os contos de fadas, como os da Walt

4 http://www.parana-online.com.br/editoria/almanaque/news/337233. Acesso em: 17-01-2011

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Disney ("Cinderella", "Branca de Neve", ou "A Bela Adormecida", etc), ainda

são tão populares agora como eram muitas gerações atrás.

Ao ler "Branca de Neve", pode-se facilmente distinguir os machos e as

personagens femininas, devido aos estereótipos que é dado a cada um. Os

anões desempenham o papel masculino, porque saem de casa todos os dias

para ir trabalhar nas montanhas de minério e exigem que a Branca de Neve

fique para cozinhar, limpar e cuidar da casa para eles em troca de sua

residência. ERICSON (1976)

Enquanto a História oficial se encarregou de omitir o papel da mulher nos

acontecimentos – com algumas exceções – a literatura infantil, por sua vez,

registrou o perfil feminino como um meio de situá-la na sociedade num

determinado contexto: ora figuras frágeis, impotentes perante um mundo

hostil, machista, à espera de um príncipe que viesse tirá-la dessa situação;

outras, contestadoras, como a Bela, a Alice, que não

aceitavam as ordens vigentes – a Bela não aceitou casar-se com o primeiro

pretendente; Alice, com seus questionamentos, colocou em polvorosa o País

das Maravilhas –.

Será que os comportamentos femininos evoluíram para a Fera ou

regrediram para a Bela? Em que circunstâncias a mulher de hoje é Bela e

outras, Fera?

Hoje em dia muitas mulheres têm ido trabalhar fora de casa para

alimentar sua família e alguns homens já ficam em casa para cuidar da casa.

Houve uma mudança de papéis a bela se tornou a fera, atua em todos os

setores de trabalho, que antes só eram exercidos pelos homens, mostrando

sua competência nas mais variadas áreas.

Pode-se argumentar que as mulheres hoje são tão iguais como homens e

são certamente qualificadas para executar as tarefas que os homens

desempenham com sucesso.

Faltam ainda mais conquistas, como a equiparação de salário entre

homens e mulheres, que exercem a mesma profissão, mas isto é uma questão

de tempo.

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5. Metodologia

Cor de Rosa Choque

De Rita Lee/ Roberto de Carvalho

Nas duas faces de Eva

A bela e a fera

Um certo sorriso

De quem nada quer...

Sexo frágil

Não foge à luta

E nem só de cama

Vive a mulher...

Por isso não provoque

É Cor de Rosa Choque

[...]

ATIVIDADES

Após a audição e leitura da letra, realizem as seguintes atividades:

1. no primeiro momento sublinhem frases marcantes que, na sua opinião,

respondem as perguntas acima, em seguida justifique-as oralmente as suas

escolhas;

2. destaquem Polissemia, devendo ampliar a plurissignificação do vocábulo

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“Fera” e também conotação e denotação, destacando cinco figuras de estilo da

letra da música.

Eros e Psique

De Fernando Pessoa

Conta a lenda que dormia Uma Princesa encantada A quem só despertaria Um Infante, que viria De além do muro da estrada. Ele tinha que, tentado, Vencer o mal e o bem, Antes que, já libertado, Deixasse o caminho errado Por o que à Princesa vem. A Princesa Adormecida, Se espera, dormindo espera, Sonha em morte a sua vida, E orna-lhe a fronte esquecida, Verde, uma grinalda de hera. Longe o Infante, esforçado, Sem saber que intuito tem, Rompe o caminho fadado, Ele dela é ignorado, Ela para ele é ninguém. Mas cada um cumpre o Destino Ela dormindo encantada, Ele buscando-a sem tino Pelo processo divino Que faz existir a estrada. E, se bem que seja obscuro Tudo pela estrada fora, E falso, ele vem seguro, E vencendo estrada e muro,

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Chega onde em sono ela mora, E, inda tonto do que houvera, À cabeça, em maresia, Ergue a mão, e encontra hera, E vê que ele mesmo era A Princesa que dormia.

ATIVIDADES

Após a leitura do poema: 1. dê as suas impressões sobre a figura feminina;

2. destaque cinco palavras menos conhecida e consulte o dicionário.

A Bela e a Fera 5

De Jacob e Wilhelm Grimm6

5 Este é um conto de oralidade tradicional recriado pelos irmão Grimm que apresenta o contraste entre beleza feminina e feiúra masculina pode ser solucionado com a voz do coração . 6 Os irmãos Grimm (em alemão Brüder Grimm), Jacob e Wilhelm Grimm, nascidos em 4 de Janeiro de 1785 e 24 de Fevereiro de 1786, respectivamente, dedicaram-se ao registro de várias fábulas infantis, ganhando assim grande notoriedade.Inseridos num contexto histórico alemão de resistência às conquistas napoleônicas; os Irmãos Grimm recolhem, diretamente da memória popular, as antigas narrativas, lendas ou sagas germânicas, conservadas por tradição oral. Buscando encontrar as origens da realidade histórica germânica, os pesquisadores encontram a fantasia, o fantástico, o mítico em temas comuns da época medieval. Então uma grande Literatura Infantil surge para encantar crianças de todo o mundo. ( Disponível: www.graudez.com.br).

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(Disponível em: http://www.meupapeldeparedegratis.net)

Era uma vez um jovem príncipe que vivia no seu lindo castelo. Apesar de toda a

sua riqueza ele era muito egoísta e não tinha amigos.

Numa noite chuvosa recebeu a visita de uma velhinha que lhe pediu abrigo só por aquela noite.

Com um enorme mau humor ele se recusou a ajudar a velhinha. Porém, o que ele

não sabia é que aquela velhinha era uma bruxa disfarçada, que já ouvira diversas

histórias sobre o egoísmo daquele jovem príncipe. Indignada com a sua atitude, ela

lançou sobre ele um feitiço que o transformara numa fera horrível. Todos os seu criados

haviam se transformado em objetos. O encanto só poderia ser desfeito se ele recebesse

um beijo de amor.

Enquanto isso, numa vila distante dali, vivia um comerciante com sua filha

chamada Bela. Eles eram pobres, mas muito felizes.

Bela adorava livros, histórias, vivia a contá-las para as crianças da vila. Seu pai,

Maurício, era comerciante e viajava muito comparando e vendendo seus produtos

diversos. Um dia voltando de uma longa viagem, Maurício foi pego de surpresa por uma

forte tempestade, passou em frente a um castelo que parecia abandonado e resolveu

pedir acolhida. Bateu à porta, mas ninguém o atendeu. Como a porta do castelo estava

aberta resolveu entrar se proteger da chuva. Acendeu a lareira e encontrou uma garrafa

de vinho sobre a mesma. Após bebê-la acabou adormecendo. No dia seguinte uma Fera

furiosa apareceu diante dele. Quis castigá-lo por invadir o seu castelo e assim, o fez

prisioneiro.

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A Fera decretou ao velho comerciante que este morreria por tal invasão.

Aterrorizado, o pobre homem suplicou:

__ Deixa que me despeça da minha filha.

A Fera concedeu-lhe o pedido. De volta a sua casa, contou o ocorrido a sua filha.

Sem medo, ela decidiu voltar ao palácio com o pai.

Uma vez no palácio da Fera, Bela tomou coragem e fez uma proposta:

__ Deixa meu pai ir embora. Eu ficarei no lugar dele.

A Fera concordou, e o pobre comerciante foi embora desolado.

A jovem permaneceu com a Fera no castelo, mas não era mantida na prisão, podia

ficar em um quarto ou na biblioteca, local que muito a agradava.

Bela tinha medo de morrer, mas percebia que a Fera a tratava bem a cada dia que

passava.

Com o passar do tempo o monstro e a Bela foram ficando mais amigos. Ele se

encantava com a forma que a moça via o mundo, as pessoas a natureza. Sentia que ela o

via de uma forma diferente, além da sua aparência.

A Fera enfim havia se apaixonado, de verdade. Numa noite, ao jantarem, pediu-a

em casamento. Bela não aceitou, mas ofereceu sua amizade.

Apesar da tristeza, a Fera, aceitou o desejo da Bela.

Bela , por sua vez, passava dias muito agradáveis no castelo, sentia-se bem lá, porém

com muitas saudades do seu pobre pai. Certo dia dia, Bela pediu permissão à Fera para

visitar o seu pai.

__ Voltarei logo - prometeu.

A Fera, que nada lhe podia negar, a deixou partir. Bela passou muitos dias

cuidando de seu pai, que estava doente, tinha envelhecido de tristeza pensando que tinha

perdido a filha para sempre.

Quando Bela retornou ao palácio, encontrou a Fera no chão meio morta de

saudade por sua ausência. Então Bela soube o quanto era amada.

Bela se desesperou, também sentia um algo forte pela Fera. Amizade, amor

compaixão.

__ Não morras, caso-me contigo - disse-lhe chorando.

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Comovida, a Bela beijou a Fera... e nesse momento o monstro transformou-se num

belo príncipe. Enfim, o encanto havia se desfeito. A Fera encontrou alguém que o amava

de verdade, além da sua aparência grotesca. Afinal, a verdadeira beleza está no coração.

ATIVIDADES

1. Após a leitura do texto acima destaque passagens do conto que podem ser

comparadas com a realidade contemporânea.

2. Bela, apesar de ser simples, revela atitudes femininas de mulheres contemporâneas.

Descubra o motivo.

3.O beijo foi uma salvação para a Fera. Pesquise no laboratório de informática sobre três

tipos existentes na sociedade.

Consulte: www.acemprol.com/viewtopic./br.answers.yahoo.com/question/

Vênus de Milo7

7 Vênus de Milo é uma famosa estátua grega que se encontra no Museu do Louvre, Paris. Representa Afrodite, a deusa grega do amor e beleza física, sendo, no entanto, conhecida pelo seu nome romano Vênus. É uma escultura em mármore com 203 cm de altura, que data de cerca de 130 a.C., e que se pensa ser obra de Alexandros de Antióquia.

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Vênus de Milo Museu do Louvre, Paris

" A arte é uma mentira que nos permite dizer a verdade "( Pablo Picasso ).

“A beleza perece na vida , porém na Arte é imortal " ( Leonardo Da Vinci ).

“Enquanto a ciência tranquiliza, a Arte perturba " (George Braque).

ATIVIDADES

2. Depois de contemplar a imagem acima faça uma análise do conceito que

possui de Beleza.

3. Componha um conto com a temática Mulher em que haja interação entre as

personagens Eva (Cor de Rosa Choque), Bela ( A Bela e a Fera ), a Vênus de

Milo, e a princesa encantada (Ero e Psique).

4. Onde? Quando? Quem? Conflito? Climax e desfecho.

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5. Considerações Finais

Cada leitor, provavelmente, desejava que sua vida fosse a metade da

bela e romântica como a dos personagens destes contos de fadas. No entanto,

como muito mais difícil que seja de acreditar, a realidade não é, de fato, um

conto de fadas.

Antes de ir adiante no âmbito das fadas, é necessário entender o objetivo

principal por trás do ato de contar histórias. Contar histórias é muitas vezes

confundido como o ato que é realizado exclusivamente para o prazer do

entretenimento na hora de dormir. ISAACS (1986)

Porém, narração serve além dessa fronteira, contar histórias ajuda

construir a identidade e identifica na cultura.

Mais do que isso, a narração também define o que significa ser humano.

Sabe-se sobre a existência na Terra, porque se ouvem histórias sobre como os

bebês nascem neste mundo, no qual os pais confirmam que nasceram da

mesma forma.

Ao dissecar mais os contos de fadas como um todo, existe múltiplos

interesses que muitas vezes não reconhece, como questões relacionadas com

os papéis de gênero, preconceitos e estereótipos da chamada felizes para

sempre.

Quanto ao gênero, precisam de uma Cinderela que se levante contra a

madrasta.

Pelo menos se podem ter uma Branca de Neve que não vai abrir a porta

para estranhos, e para as mulheres enrugadas?

Precisam de uma mulher com coragem, bravura, bom senso e de ação.

Precisam de personagens femininas que possam lutar por si mesmas, e talvez

pegar o verdadeiro amor ao longo do caminho.

6. Referências Bibliográficas

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