da escola pÚblica paranaense 2009 · leitura, da escrita e da oralidade com o propósito de...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
(RE) VENDO PRÁTICAS LEITORAS COM TEXTOS POÉTICOS NO ENSINO MÉDIO: HAICAI E PINTURA
Autora: Matilde Wichuk Domingues 1
Orientadora: Mariléia Gartner 2
Resumo
Este artigo visa elencar e discutir os resultados da Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica fazendo alusão ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE 2009), que resultou no Material Didático o qual foi desenvolvido no Colégio Estadual de Faxinal dos Francos, localizada na área rural, abrangendo 24 alunos da 2ª série do Ensino Médio. Esse material propôs ao aluno compreender o Ensino de Literatura (poesia) valendo-se de relações interartes (oriundas da Literatura Comparada) para o estudo de textos poéticos. Assim, os direcionamentos apontados com práticas leitoras considerando poesia haicai e pintura têm o objetivo de desenvolver práticas leitoras significativas, que se valem de textos artísticos para alunos do interior, proporcionando condições de identificar, analisar e avaliar as relações entre essas duas artes que se combinam, isto é, uma completa e enriquece o sentido da outra. Sabe-se que a poesia haicai e, muitas vezes a pintura, são frutos da observação da natureza, portanto, considerando que os alunos envolvidos na pesquisa são oriundos do meio rural, a opção por esta prática de leitura foi produtiva e confirma a hipótese levantada no projeto de pesquisa que é possível desenvolver práticas leitoras significativas para os alunos de escolas rurais, valendo-se de textos artísticos.
Palavras - chave: Literatura e ensino; ensino de poesia; haicai; interartes.
______________
1Professora de Língua Portuguesa da SEED, graduada em Letras na UNICENTRO, IRATI-PR, pós- graduada em Língua Portuguesa: Descrição e Reflexão.2 Dr.ª em Literatura e Vida Social, Docente do Departamento de Letras na UNICENTRO.
Abstract
This article aims to list and discuss the results of the Implementation of Educational
Intervention Project alluding to the Educational Development Program (PDE 2009), which resulted in Teaching Materials, which was developed in the Faxinal dos Francos high school located in country areas, covering 24 students in the2nd grade of high school. This material brought to the student understand the Teaching of Literature (poetry) making use of relations interart (from the Comparative Literature)for the study of poetic texts. Thus, the directions indicated with haikai poetry reading practices considering painting and aim to develop significant practical readers, who use the texts for arts students from the interior, providing conditions to identify, analyze and evaluate the relationships between these two art forms that combine, ie a complete and enriches the meaning of another. It is known that the haikai poetry, and often, the painting are the result of observation of nature, therefore, since the students involved in research are of country origins, the choice of this reading practice was productive and confirms the hypothesis research project in which readers can develop practices meaningful to students of country schools, making use of artistic texts.
1 Introdução
Considerando que nas práticas de leitura é a cada dia mais frequente o texto
ser articulado à imagem, entende-se a eficácia de desenvolver na escola como
ostentado, nesse artigo, num processo interartes, a poesia haicai e a pintura.
Trabalhar com a poesia haicai na escola, um espaço que cria condições para
o encontro do aluno com essa arte, resulta numa prática que desperta para o uso da
leitura, da escrita e da oralidade com o propósito de inseri-lo nas esferas de
interação. Soma-se, ainda, o despertar para a sensibilidade que pode transformar o
ser capaz de agir na sociedade de forma mais justa e humilde.
Ao longo do tempo, poetas têm falado sobre o haicai e seu valor. Como
ressalta CLEMENT (2007) só por permitir uma interação do aluno com a natureza,
nessa época de aquecimento global, a poesia já é importante. Ao prender a atenção
em uma cena da paisagem, o aluno aprende a contemplá-la e explorá-la para dela
extrair a essência e um momento de reflexão.
ODA (2005), expõe na introdução de seu livro Flauta de vento:
Se observarmos o mundo com essa humildade, abraçando com o coração as árvores e as flores, não só as cultivadas carinhosamente em nossas casas, avenidas e parques, mas também as que nascem espontaneamente nas calçadas e caminhos por onde passamos; se aprendermos a olhar com respeito os animais, os insetos, os pássaros, os rios e montanhas; tudo enfim, que torna mais alegre os nossos dias, os poemas surgirão intuitivamente, da nossa alma harmonizada com as forças da natureza, como se fosse um outro “eu contente.” (2005, p.9).
Percebe-se que quando o aluno é despertado para observar a natureza, junto
vem uma soma de ações, que mesmo que ele não aprenda a escrever poesia haicai,
poderá aprender a agir de forma mais correta em seu meio, ser uma pessoa
observadora, sobretudo, nos dias de hoje, que devido ao corre corre do dia a dia,
muitos instantes poéticos de contemplação do belo são desperdiçados.
Por que estabelecer relações entre haicai e pintura? Porque ambas se
completam na participação da beleza, despertando e aperfeiçoando o sentimento
estético capaz de aprimorar o lado espiritual das pessoas, isto é, uma completa o
sentido da outra e, no diálogo com a beleza, atraem os leitores. Entende-se a pintura
não como enfeite da poesia, mas como diálogo poético entre o seu criador e seu
objeto de arte. Essa mistura de signos prende a atenção do leitor oferecendo outras
percepções do texto.
Assim a proposta de desenvolver práticas leitoras valendo-se de poesia e de
pintura tem o objetivo de apontar caminhos singulares no ensino de literatura,
desenvolvendo a sensibilidade artística dos leitores, ao mesmo tempo que
desmistifica aquelas outras propostas que ignoram os elementos artísticos do texto
literário, fazendo da aula de literatura, uma aula de gramática.
Portanto, considera-se profícuo ver os alunos do Colégio Estadual de Faxinal
dos Francos, da 2ª série do Ensino Médio, do meio rural, escrevendo, pintando e
gostando de poesia haicai, essa forma poética que traz mais do que palavras e
estruturas, traz uma cultura e permite o desenvolvimento de habilidades, valorização
do próprio meio dos alunos como um lugar bom para se viver, bem como o gosto
pela poesia em geral.
2 Material e Método
As ações elencadas abaixo confirmam a hipótese da possibilidade de
desenvolver práticas leitoras significativas para os alunos de escolas rurais, valendo-
se de textos artísticos, as quais, de forma prazerosa, buscaram por meio da
natureza um viés para o trabalho de promoção da aprendizagem e puderam
contribuir para a formação de leitores competentes que percebam e entendam os
elementos artísticos do texto literário com melhor compreensão do meio ambiente e
do espaço rural.
Ação 1: Historicidade do haicai (no Brasil e região Centro- Sul do Paraná) ostentada
a partir de história em quadrinho.
Ação 2: Leitura de haicais tanto de alunos vencedores em concursos como de
escritores famosos como Teruko Oda, José Marins, Benedita Azevedo, Sérgio
Francisco Pichorim, Regina Alonso, Helena Kolody, entre outros.
Ação 3: Listagem de concepções inerentes ao poema de Teruko Oda, disponível no
livro Flauta de Vento, (2005, p.48) e no site books.Google.com. br/books?
isbn=8575311735.
Ação 4: A prática do haicai (o que é haicai, divisão em duas partes, o que é kigo, a
contagem métrica, dicas para entender melhor a prática do haicai) elucidada
também a partir de história em quadrinho.
Ação 5: Atividades contemplando a divisão em duas partes, a contagem métrica e o
kigo. Obs: os poemas haicais para esta atividade são da própria professora PDE.
Ação 6: Levantamento dos kigos presentes na comunidade do aluno atendendo à
estação (primavera) – período em que a Implementação foi colocada em prática.
Ação 7: Produção de uma esquete teatral (envolvendo as personagens numa
conversa sobre o haicai).
Ação 8: Visita ao Museu Oscar Niemeyer – Curitiba.
Ação 9: Pintura de um painel com a temática natureza para apresentação da
esquete teatral com fantoche.
Ação 10: Historicidade referenciando o pintor Vincent Willem Van Gogh por meio de
história em quadrinho.
Ação 11: Listagem de concepções explorando os conteúdos das artes visuais (tela
de Van Gogh – Les Alyscamps, Nov, 1988).
Ação 12: Pesquisa no Laboratório de Informática da escola, sobre Les Alyscamps
(Van Gogh).
Ação 13: Produção de haicai a partir da tela Les Alyscamps de Van Gogh.
Ação 14: Pintura com giz de cera, de poemas haicais advindos de escritores como
Sérgio Francisco Pichorim, José Marins, Benedita Azevedo, Teruko Oda, Regina
Alonso, entre outros. Obs: Os alunos envolvidos na Implementação tiveram contato
com os escritores apontados acima no Evento: 1º Encontro Estadual e 3º Encontro
Regional de Haicai em Irati – 22/10/2010.
Ação 15: Produção de haicai e uma tela pintada pelo aluno contemplando a
natureza da própria comunidade num processo interartes.
Ação 16: Declamação dos poemas eclodidos da observação da natureza da própria
comunidade do aluno.
Ação 17: Palestra organizada pela professora PDE: “O HAICAI NO COTIDIANO
ESCOLAR” abarcando a prática do haicai (descrita nas ações 4 e 5) a convite da
coordenação do Grêmio Haicai Chão dos Pinheirais de Irati – Dorotéa Iantas Miskalo
– no Evento: 1º Encontro Estadual e o 3º Encontro Regional de Haicai em Irati.
Ação 18: Apresentação ainda, nesse evento, da esquete teatral com fantoche,
utilizando-se do painel também desenhado e pintado pelos alunos.
Ação 19: Exposição das telas e haicais também no Evento.
Ação 20: Exposição, na escola, de todos os trabalhos que envolveram a
Implementação do Projeto.
2.1 Descrição
Ação 1 – Foi exposta a trajetória do haicai, desde a entrada no Brasil até a
chegada na Região Centro- Sul do Paraná. O conteúdo foi ostentado em forma de
HQ com o título: Haicai no caminho de casa, envolveu dois personagens que
regressando da escola para casa, conversavam sobre o que tinham aprendido sobre
o haicai.
Ação 2 – Foi aberto espaço para aula de leitura, envolvendo poemas haicais,
a partir do qual se direciona o primeiro contato do aluno com essa arte poética que
oferece reflexão sobre a imagem que é responsável pelas emoções sentidas durante
a leitura. Os alunos tiveram contato com as seguintes obras e autores: Flauta de
Vento (Teruko Oda), Che Paraná Porã (Sérgio Francisco Pichorim), Lua na Janela
(Grêmio Haicai Ipê), Pinha pinhão (José Marins e Sérgio Francisco Pichorim),
Natureza: Berço do Haicai (H. Masuda Goga e Teruka Oda), Irati 100 anos em
versos Haicai, Desorientais (Alice Ruiz), Janelas e tempo (Teruko Oda). Ainda site
sugerido: www.kakinet.com. Acrescentou-se, como incentivo à leitura, poesias
haicais de alunos vencedores em Concursos Organizados pelo Grêmio Haicai Ipê de
São Paulo.
Ação 3 – Buscou-se, por meio da poesia haicai de Teruko Oda, a elaboração
de significados no que tange a exploração discursiva. Foram consideradas dez
questões para listagem de concepções inerentes à poesia.
1. Leitura e visualização da imagem – desenho.
2. Sentido ao verso “Barco à deriva”.
3. O local que o poema haicai remete (aquático ou terrestre).
4. O porquê da garça apenas cochilar e não dormir.
5. O Kigo da poesia (barco ou garça).
6. Sensações do poema.
7. Função do travessão.
8. O porquê do verbo sempre ser empregado no presente.
9. Finalidade do poema.
10.Conjunto de temas possíveis nesse tipo de texto.
Ações 4 e 5 – essas ações envolveram a prática do haicai considerando: o
que é haicai, a divisão do poema em duas partes, o Kigo, a contagem métrica, ideias
para entender melhor a prática do haicai. Toda a explicação foi exposta por meio de
tiras em quadrinhos. As poesias que envolveram as atividades para justificar o
entendimento sobre os itens: a divisão do poema em duas partes, o Kigo e a
contagem métrica são da própria professora PDE.
Ação 6 – Após observar a natureza que cerca o espaço de vivência dos
alunos, foi feito um levantamento dos Kigos presentes na sua comunidade
atendendo à estação em que se encontravam – PRIMAVERA. É importante lembrar
que é inserido na observação da natureza que se registram cenas em três versos
que compõem a poesia haicai. Como diz MARINS ( 2007) a inspiração do haicaísta
eclode do contato com a natureza, sua principal fonte de vivência, então, primeiro
vem a vivência junto à natureza, porque se uma pessoa nunca viu uma cerejeira em
flor, como fará uma poesia a respeito dela.
Ações 7, 9 e 18 – Considerando as discussões anteriores, os alunos foram
orientados para elaboração de uma esquete teatral com fantoche que envolveu três
personagens numa conversa sobre haicai, por meio do qual os alunos puseram em
prática tudo o que aprenderam. Em seguida, os alunos pintaram um painel
ostentando a temática natureza. A esquete foi apresentada na escola e no 1º
Encontro Estadual e o 3º Encontro Regional de Haicai em Irati, no dia 22/10/2010.
Ação 8 – A visita ao Museu Oscar Niemayer em Curitiba no dia 16 de
setembro de 2010, foi relevante para a produção das telas pintadas contemplando a
natureza do próprio espaço de vivência do aluno.
Ação 10 – Escolheu-se Vincent Willem Van Gogh para demonstrar o
processo interartes uma vez que este destacou a natureza em várias de suas obras,
tanto que BONINI (1995), em seu livro Haicai para Van Gogh, ostenta-o como um
exemplo de pintura e poesia com reverência à natureza homenageando tanto Van
Gogh quanto os haicais. A historicidade do pintor foi apresentada aos alunos em HQ
o que prendeu mais atenção e facilitou o entendimento.
Ações 11 e 12 – Nessas atividades, buscou-se por meio da tela de Van Gogh
– Les Alyscamps, Nov, 1888, disponível no site http://em.wikipedia.org.wiki/
LesAlyscamps, envolver os alunos numa listagem de concepções explorando os
conteúdos das artes visuais. Os alunos pesquisaram no Laboratório de informática
da escola o que significava Les Alyscamps, ação 12. Isso foi fundamental para
responder a algumas questões que atenderam às seguintes acepções:
1. Descrição do que era visualizado na tela de Van Gogh.
2. Observação da tela e registro do que mais chamou atenção.
3. Destaque da cor fazendo alusão à qual estação.
4. Possibilidade de se chegar a essa inferência.
5. O porquê do caminho representado por Van Gogh receber o nome de
alameda.
6. Significado de Les Alyscamps comparado com a resposta dada na questão 1.
7. Investigação sobre o sentido de Les Alyscamps e comparação com que
realmente é visualizado na tela.
8. Interferência do título da tela na compreensão da obra.
9. Observação das metáforas existentes na tela.
Ação 13 – Em consonância com os apontamentos observados pelos alunos
na análise que explorou os conteúdos das artes visuais na tela de Vincent Van Gogh
e considerando o processo interartes com a poesia, buscou-se por meio da
observação da tela, a produção de uma poesia haicai.
Ação 14 – Com a pintura utilizando-se de giz de cera, os alunos foram
convidados a pintar poesias haicais dos escritores Sérgio Francisco Pichorim, José
Marins, Benedita Azevedo, Teruko Oda e Regina Alonso com os quais tiveram
contato no Evento que envolveu o 1º Encontro Estadual e o 3º Encontro Regional de
Haicai em Irati, organizado pela coordenadora do Grêmio Haicai Chão dos
Pinheirais de Irati, Dorotea Iantas Miskalo.
Ação 15 - Como resultado de todo processo de aprendizagem que envolveu o
poema haicai e a pintura, o aluno, partindo da observação do seu próprio espaço de
vivência, num processo interartes, produziu uma poesia haicai e junto uma tela
pintada em consonância com o conteúdo da poesia.
Ações 16, 17, 18, 19 e 20 - Essas ações contemplam a socialização de todo
trabalho no que tange a mistura de signos, pintura e poesia haicai, pode-se dizer
que eclodiu como um evento, foi exposto tanto no 1° Encontro Estadual e 3°
Encontro Regional de haicai em Irati, quanto no Colégio Estadual de Faxinal dos
Francos.
2.2 Resultados e Discussões
Ação 1 – Considerando as palavras de ODA (2007), no que concerne teoria e
historicidade do haicai “as crianças não suportam explicações teóricas”, percebeu-se
que a explicação ostentada em forma de HQ, com ilustração referenciando a
estação outono, considerada Kigo no haicai, chamou atenção dos alunos que, de
maneira atrativa, facilitou o entendimento do conteúdo.
Ação 2 – Nesse espaço para leitura, observou-se a curiosidade dos alunos
em ler as poesias e aprender como se lê sempre buscando a imagem passada.
Aprenderam ainda que a poesia haicai precisa ser lida como diz CLEMENT (2007),
devagar, enfocada na enunciação, nas pausas para quebras de linhas o que
confere, a partir daí, buscar a imagem que é responsável pelas emoções sentidas
durante a leitura.
Ação 3 – Infere-se, após essa atividade, que os alunos responderam às
questões levando em consideração a emoção, voltada para a formação deles como
ser poético. Percebeu-se que, enquanto analisavam as questões, ficaram surpresos
uma vez que o poema era tão pequeno, contudo estava repleto de informações. A
partir da imagem na questão 1, conseguida após a leitura da poesia, os alunos
entenderam que o barco, questão 2, estava sem rumo e referenciando o ambiente
aquático, questão 3, o que levou a percepção de que a garça após se alimentar,
apenas cochilava, isto é, esperava o processo da digestão porque, segundo um
aluno, se fosse para dormir procuraria seu ninho. Na questão 5, sobre o Kigo, os
alunos pesquisaram no Laboratório de Informática da escola e no livro Natureza –
Berço do Haicai o que era Kigo e, em consonância com o texto, responderam que o
Kigo da poesia em análise era garça, Kigo de verão que remete, na questão 6, as
sensações das quais considerando calor, vivacidade, movimento, maturidade, os
alunos observaram, na poesia, como sensações mais evidenciadas a liberdade e a
tranquilidade.
Quanto ao uso do travessão, questão 7, ficou entendido pelos alunos que, na
poesia, tem a função de evidenciar a divisão do poema em duas partes e cada
divisão deve ter sentido completo IURA (2007). Ainda em pesquisa, os alunos
aprenderam o que nas palavras de MARINS (2004) se confere, o uso da pontuação
não pode ocorrer de forma exagerada. Já para CLEMENT (2004), o uso da
pontuação não é necessário. Para IURA (2007), o uso da pontuação não é
obrigatório.
Na questão 8, quanto ao uso do verbo no presente – “cochila” – no terceiro
verso da poesia em estudo, os alunos assimilaram que se o poema é o registro
daquilo que é visto no momento da cena captada como sustenta AZEVEDO (2008),
nas dicas publicadas no site Recanto das Letras “Deve refletir o presente
(acontecendo agora) ...”. Ainda para MARINS (2007), o tempo usado precisa
envolver o presente - o que aconteceu - e não o gerúndio - o que está acontecendo.
Em resposta à questão 9, no que concerne a finalidade da poesia para a vida,
os alunos envolvidos pela emoção, registraram que traz alegria, sensibilidade,
compreensão e vivência da vida com amor e compromisso, essa concepção vem ao
encontro do que diz PAVESI (2005), a poesia pode ser estratégia para
aprendizagem considerando a formação do ser humano, uma vez que o futuro da
humanidade depende do seu grau de sensibilidade.
Na questão 10, os alunos, por meio de pesquisa no livro Berço do haicai,
encontraram o conjunto ou temas possíveis como: vivência humana, tempo,
fenômeno atmosférico, geografia, fauna, flora, entendendo que no poema de ODA
estudado, o tema ostentado foi fauna-garça.
Ações 4 e 5 – Os alunos, por meio das atividades descritas nas ações 4 e 5,
aprenderam com êxito todo o processo de composição da poesia haicai como
reconhecer o Kigo e a estação a que se refere, a contagem métrica: 5-7-5, as duas
partes de sentido completo com observância na quebra de linhas entendidas com a
leitura. Averiguou-se que os alunos demonstraram curiosidade e interesse em
entender melhor os conteúdos uma vez que as poesias para essas ações foram
escritas pela própria professora.
Ação 6 – Foram vários os Kigos de Primavera elencados a partir da
observação do próprio meio em que o aluno vive, estão dispostos como GOGA e
ODA (1996) apontam no dicionário de Kigos – Natureza – Berço do Haicai.
Tempo: Sol de primavera. Fenômeno Atmosférico: nuvem de primavera,
chuva de primavera, garoa de primavera. Geografia: campo de primavera. Fauna:
borboleta colorida, andorinha de primavera, passarinho-terra, abelha, besouro,
pernilongo, borrachudo, tucano, chupim de primavera, potrilhos, vagalume,
mariposa. Flora: flor de ipê, flor de pera, melão de primavera, flor de melancia, lírio
branco, pitanga, lírio de primavera, orquídea de primavera, papoula de primavera,
pasto de primavera, flor de açucena, flor de groselha, flor de mimosa, flor de
laranjeira, flor de pessegueiro, flor de catium, flor de milho, flor de feijão, flor de
arroz, flor de trigo, flor de fumo, flor de limão, amora, morango, aveia, soja, milho,
feijão, pêssego, flor de beijinho, jabuticaba, flor de parreira, ameixa amarela, flor de
maracujá, flor de triticale, flor de Kiwi, flor de camomila, flor de cerejeira, mamão,
malva, flor de malva, margarida, flor de poncã, flor de feijão, flor de soja, flor de
jabuticabeira, salsinha, amora, petúlia, broto de uva, cravo, flor de tomate, flor de
ervilha, alface, amora, pitanga, pepino neve. Vivências humanas: Dia de Nossa
Senhora Aparecida, colheita de batata, colheita de cebola, preparo do solo, eleições,
plantação de repolho, plantação de alface, plantação de tomate, plantação de
mostarda, plantação de soja, plantação de milho. Os Kigos mais observados foram
os que referenciam a flora, em seguida, a fauna e vivências humanas.
Ações 7, 9 e 18 – Essas ações repercutiram muito, tanto na escola quanto no
Evento que envolveu o 1º Encontro Estadual e o 3º Encontro Regional de haicai em
Irati, uma vez que, de maneira atrativa, os alunos conseguiram ensinar, isto é, eles
ostentaram uma aula completa sobre a poesia haicai. Destacaram o valor da poesia
que, envolvendo a natureza, destaca também a vida. Ainda, no decorrer da peça,
ensinaram como se faz o haicai, ofereceram, satisfatoriamente todos os passos da
produção, o que pode e o que não pode. Deixaram claro a diferença da poesia
haicai, a qual tem a beleza da poesia, e, conforme diz ODA (2010), os sentimentos
brotam de fora para dentro e não de dentro para fora. O painel pintado foi ostentado
com exímio, contém cenas da natureza, já incluídas no texto da esquete, teve
destaque o pé de ameixa amarela que serviu de explicação no entendimento do
Kigo, e é dele que surgiram os haicais produzidos pelos dois personagens.
Na composição das poesias haicais uma foi produzida, de propósito, errada,
depois, com ajuda do outro personagem, foi reestruturada, conforme diz MARINS
(2007), é com ensaio, erro e acerto que se forma um escritor de poesia haicai. No
Evento (1° Encontro Estadual e 3º Regional em Irati), os alunos foram aplaudidos em
pé pelo público, sobretudo, pelos escritores de poesias haicais presentes como
Teruko Oda, José Marins, Benedita Azevedo, Sérgio Francisco Pichorim e Regina
Alonso, entre outros; que os elogiaram muito. Dessa forma, percebeu-se que os
alunos, realmente, fizeram um bom trabalho. Vale ressaltar ainda que um dos
alunos, personagem da esquete teatral, foi o vencedor, em 1º lugar do Concurso
Relâmpago, na categoria juvenil.
Apresentando a esquete, tanto na escola como no evento, os alunos
contribuíram para disseminar a prática do haicai, pois, conforme CLEMENT (2007),
o número de poetas hoje ainda é bem mais expressivo do que o de haijins, escritor
de poesia haicai.
Ação 8 – Os alunos, por meio de um relatório, avaliaram a viagem como um
despertar para a pintura das telas que estava prevista no final de todo o trabalho.
Apontaram a admiração que sentiram observando a criatividade, vivacidade das
cores, das pinceladas que os pintores inseriram nas suas obras, tornando-as o mais
real possível. Algumas obras observadas pelos alunos foram de Cordélia Urueta,
Carlos Colombino, Pedro Macedo, Cândido Portinari, Luis Henrique Schuwanke,
Theodoro de Bona, Alonso Azevedo, entre outras.
Ação 10 – Por meio da historicidade, os alunos aprenderam sobre a vida do
pintor Van Gogh e que, no paralelo observado entre as artes, entenderam que ele
pode ser considerado um haicaísta porque retrata, nas suas pinturas, momentos
exaltando a natureza, gostava de caminhar pelos campos planos da paisagem
holandesa, pintou fazendas, plantas, lavouras, flores, etc.
Ações 11 e 12 – Na exploração desse conteúdo, observou-se que os alunos,
sem a pesquisa para entender o que significava Alyscamps para a questão 1, que
enfocava o que o aluno visualizava na tela de Van Gogh, apontaram respostas
incoerentes como apenas pessoas passeando em uma rua com árvores dos dois
lados. Já, na questão 6, que pedia para pesquisar o significado de Alyscamps e
comparar com a resposta dada na questão 1 e, na questão 7, o que o aluno
visualiza na tela depois da pesquisa, verificou-se respostas coerentes como: tratava-
se de uma cena de outono no Les Alyscamps, de um cemitério com bastantes
túmulos e várias árvores de origem europeia. A cor usada na tela, de imediato,
revelou a estação outono, resposta da questão 3 e da questão 4, que pedia para
registrar como o aluno chegou a inferência da estação ser outono, resposta já dada
na questão 2, uma vez que, quanto ao o que chamou mais atenção na tela, os
alunos responderam que era a cor.
Na questão 8 – No que concerne entender se o título de Les Alyscamps
interfere na compreensão da obra, ficou evidente para o aluno considerando as
respostas das questões 1, 6 e 7.
Na questão 9, considerando as metáforas observadas na tela, as respostas
foram aplausivas, o que mais chamou atenção foi a inferência extraída a partir da
cor e da estação outono dada em consonância com a morte, ali retratada por meio
da necrópole.
A partir das questões analisadas, entendeu-se que os alunos puderam
perceber que a obra de arte é, realmente, a materialização de uma ideia e se
expressa por uma linguagem que permite afirmar que a obra de arte fala, comunica,
enfim, pode ser lida pelo outro e que o sentido é construído pelo artista que a produz
e pelo apreciador que a lê, analisa e interpreta (ARGAN op. cit. NICOLA, 2008).
Ação 13 – Considerando o que diz MENEGAZO (1991 p. 180-181) “[...] que a
poesia e pintura passam a falar a mesma linguagem, ainda que o suporte veiculador
seja diferente [...]”. A partir dessa assertiva, o entendimento da prática do haicai
num processo interartes junto com a pintura, foi efetuada com exímio, uma vez que
os alunos elaboraram poesias a partir da tela Les Alyscamps de Van Gogh com
conteúdo significativo no que tange as exigências de um haicai. O Kigo verificado na
tela foi outono, ficou evidente por meio da cor das árvores e das folhas caídas no
chão. Alguns vocábulos utilizados pelos alunos na produção do haicai foram:
sarcófagos, alameda, pessoas, saudades, lembranças, passeio, árvores, necrópole,
Van Gogh, França, Arles, céu, outono, entre outros.
Ação 14 – Os alunos demonstraram visível interesse no trabalho com pintura
porque no Evento (1º Encontro Estadual e o 3º Encontro Regional de Haicai em Irati)
puderam conhecer e ouvir o que cada um dos escritores haicaístas, já referenciados,
na ação 14 – Método, tinham para ensinar sobre o haicai o que resultou na
curiosidade em conhecer alguns poemas escritos por eles. Parte daí, a ênfase dada
pelos alunos na pintura das poesias uma vez que veio como um gesto de carinho,
enfim, desenharam e pintaram as poesias haicais com expressividade.
Ação 15 – A atividade envolvendo pintura e poesia eclodida da observação
do próprio espaço de vivência dos alunos, fez com que eles mostrassem como é
possível por meio dessa mistura de signos, enriquecer o sentido e chamar a atenção
do leitor que, nas palavras de CLUVER (1997), formar leitores é uma das funções do
estudo interartes. Os colegas compartilharam suas ideias, cada um queria ler o
poema do outro e acompanhar a pintura. A partir daí, comprova-se também o que
diz MARINS (2007) faz parte da didática a apresentação dos trabalhos entre os
parceiros e é indispensável, nessa prática, receber o apreço e a colaboração dos
colegas. Enfim, tanto a poesia quanto a pintura foi ostentado com veemência e fez
entender o que diz MUHANA (2002, p. 16 ) “a poesia e a pintura simbolizam entre si
como irmãs gêmeas, parecem-se tanto que quando se escreve se pinta, e quando
se pinta se escreve”.
Ações 16, 17, 18, 19 e 20 - As atividades mencionadas nessas ações
referem-se à socialização de todo trabalho efetuado, o qual, realmente, foi ostentado
como um evento porque mobilizou tanto o público escolar quanto o presente no 1º
Encontro Estadual e o 1º Encontro Regional de haicai em Irati. Infere-se que trouxe
expressiva admiração de todos os leitores no que concerne as duas artes: poesia
haicai e pintura, corroborando com o que diz MENEGAZZO (1991) essa nova
mistura de signos que cause um choque na mente do leitor é necessária e com o
que diz MUHANA (2002) a figuração da linguagem e o colorido das carnes,
considerando a poesia e a pintura como artes verdadeiras, são fundamentais para
que impressione seus leitores e espectadores.
3 Fundamentação Teórica
3.1 Literatura e Ensino
A poesia está sempre presente nas músicas, nas cantigas de roda, nas
páginas de um diário, nas frases de amor, enfim, faz parte da vida desde a infância.
Essa fase assinala o primeiro contato que a criança tem com a poesia, pela sua
sonoridade e pela brincadeira, ela, mesmo sem conhecer todo o processo de
significação que envolve este gênero, interage com o texto poético.
Todavia, “destina-se, geralmente, à escola a tarefa de criar no aluno o gosto
pela poesia”, (SORRENTI, 2007, p.17). E, segundo as DIRETRIZES
CURRICULARES DE LÍNGUA PORTUGUESA (2008), o professor pode trabalhar
práticas de textos que possibilitem o desenvolvimento da sensibilidade estética a
partir da leitura expressiva. Mas não pode ignorar que dependendo do modo como
direciona a leitura do texto poético, poderá impedir o contato dialógico do
leitor/aprendiz com essa arte e, consequentemente, perder a poesia.
Esse “perder a poesia” advém das margens dadas a equívocos que são
apresentados na rotina escolar. Para CALIL (2006, p.133), “geralmente, o trabalho
com a poesia em sala de aula é atrelado, entre outros problemas, às atividades e
aos exercícios oferecidos pelos livros didáticos que tratam desse gênero discursivo,
como pretexto para levar os alunos a discutirem conteúdos gramaticais e
ortográficos [...]”.
Entende-se, aqui, conteúdos como grifar verbos, substantivos, adjetivos,
retirar palavras com sc, rr, acentuadas, entre outros.
Essa colocação pode ser fortalecida, ainda, por SORRENTI (2007), que
menciona serem muitos os professores que afirmam estar tranquilos se utilizando da
gramática, porque não precisa trabalhar com a emoção e, além disso, o gênero
poético toma tempo e paciência para ser trabalhado.
Ainda outros, segundo ABILIO (2006, p.151), dizem que “esse negócio de
versinho, rima e som são coisas da pré-escola. Nós temos que dar conteúdos. Não
temos tempo para perder”.
Soma-se, ainda, os exercícios de interpretação de poesias que, nas palavras
de MAGNANI (1989, p.38), “pedem ora respostas desnecessárias que reproduzem
literalmente partes do texto, ora respostas que, apesar de “abertas”, pressupõem
uma interpretação fechada, como mostram as respostas “certas” do livro do mestre.”
Com essas atitudes arroladas, o professor está distante de promover uma
educação voltada para a formação do aluno como ser poético. E, conforme
SORRENTI (2007, p.18), “isso leva a pensar que a escola pode sufocar a
imaginação criadora dos alunos ou, se não sufoca, enfraquece-a em vez de
estimular a capacidade de criar.” Como diz ainda PAIVA (2006, p.130), “o texto
literário é uma produção de arte e, por isso, sua leitura vai tornar um leitor; também
um criador”.
Explica-se, talvez a partir da postura apresentada quanto ao trabalho com a
poesia na escola, o motivo do restrito trabalho com essa arte, uma vez que ela
aparece mais nos instantes informais e de recreação. Assim, ALONSO (2005),
retrata o uso na escola, quase que exclusivamente da prosa e ABILIO (2006, p.151),
afirma que “quando ingressamos na escola, dificilmente somos estimulados a ouvir e
ler poemas”.
Razões estas que nos levam a concordar com SORRENTI (2006), quando
enfoca que, independentemente da sua condição social, a criança existe em estado
de poesia até se esbarrar na sistematização da linguagem, como já apontado.
Lembrando os equívocos, conforme citam SORRENTI, ABILIO e MAGNANI,
muitas perguntas vêm à tona. A poesia não é, então, conteúdo? Onde fica o resgate
de nossas condições de criação como convite à imaginação, à produção de sentido
e o estabelecimento de relação entre palavras e o mundo? E o despertar do prazer
de ler e escrever? Enfim, haverá ensino/aprendizagem nestas práticas de leitura da
poesia?
Com certeza, compromete o trabalho com a leitura, pois não garante
criticidade e transformação da realidade que impulsiona, no aluno leitor, a
criatividade na produção de sentidos tanto para o texto como para a vida.
Ainda, neste contexto, desconsidera-se pelos educadores o que muitos poetas têm
falado sobre poesia e o seu valor. Para RAMOS (2005), quanto maior a violência,
mais a poesia se faz necessária para que a vida fique menos agressiva, mais
pacífica e terna.
A poesia, segundo PAVESI (2005), pode ser estratégia significativa para
aprendizagem considerando a transformação do ser humano. E acrescenta, ainda, a
escritora que o futuro da humanidade depende da sensibilidade, a qual está
presente nas artes em geral, e, em especial, na poesia.
Já ADHARIASS (2005), contempla a poesia como prática que desenvolve a
sensibilidade capaz de desviar a sociedade das desordens propagadas,
considerando a cadência, as rimas, o ritmo e as figuras como uma forma de reflexão
que estimula as capacidades cerebrais e, essencialmente, o sentir.
Por meio dos valores inerentes à poesia como colocam os escritores RAMOS,
PAVESI e ADHARIASS, é possível depreender, entre outros, a função específica da
literatura: a transformação/humanização do homem e da sociedade. Essa
humanização é formada, a partir do pensar, do questionar, decifrar e interagir,
fazendo o ser diferente de alguma forma: consigo mesmo, como outro e com o
mundo.
Para BORBA (2006), a literatura deverá atrair, viver dentro do ser, o que
TREVISAN (2002), denomina de inquietar-se para repensar o mundo e para o
autoconhecimento. Já MAGNANI (1989), exprime que a literatura é algo que faz
conhecer o homem e depois age na formação dele, o que nos dá a certeza de que a
literatura é fundamental na vida do ser humano e coloca como objetivo ter uma
escola que se queira “revolucionária” para poder formar leitores da boa literatura.
Entretanto, urge que o professor reveja suas práticas quanto ao ensino do
material artístico literário porque, conforme TREVISAN (2002, p.15), os desvios
dessas práticas são frutos do “despreparo daqueles que lidam com a poesia na
escola, poucos conseguem distinguir a produção poética da produção utilitária [...]”.
Ainda “são raros os profissionais que se relacionam, eficazmente com a poesia”,
acrescenta a escritora.
Isso leva a crer que o ser poético precisa ser construído também nos
educadores que desconhecem a poesia como arte. Só assim eles serão capazes de
reavaliar as atividades propostas com poesias no livro didático que, muitas vezes,
não dão liberdade da linguagem poética como estrutura comunicacional que reflete
na experiência humana do leitor.
Ao final dessas reflexões, e acreditando na força transformadora da literatura
como arte no desenvolvimento da personalidade humana, independente do nível de
escolaridade dos alunos, como expõe TREVISAN (2002), a poesia é recurso valioso
para criação poética infantil. Precisa-se construir na escola espaços para a vivência
do literário esteticamente comprometido com a arte privilegiando a sensibilidade que
molda o ser humano como especial.(PAVESI, 2005).
3.2 Interartes: Poesia e Pintura
Há muito tempo, a pintura na literatura tem grande importância, como
evidenciado por MAGALHÃES (1997), quando coloca que essa arte, na literatura, já
se considera tradição. Teve início em 1774 com a publicação de Werther de Goethe.
Assim, é na prosa do séc. XIX, na França, que se deram os resultados mais
importantes do cruzamento da pintura com a literatura.
O imbricamento da literatura com a pintura já envolveu uma gama acentuada
de autores e considera-se palco de discussões, desde a antiguidade. Isso pode ser
vislumbrado pela presença de Horácio que é considerado cursor inicial dos estudos
comparativos entre pintura e poesia. Com ele acompanha-se uma sentença
significativa de aproximações e comparações entre a poesia e a pintura, a qual se
confere no seu verso: ut pictura poesis.
Com a presença de Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé, bem como na pintura de
Cézanne, Van Gogh e Gauguim é que se dá a concretização dos movimentos de
vanguardas do século XX, com margem as primeiras manifestações da nova
linguagem. A partir daí, entende-se o que diz (MENEGAZZO, 1991, p. 231).
Poema e pintura palmilham o mesmo chão reforçadas pela difusão de teorias que buscam se concretizar em todas as artes. Na procura desta aproximação, poetas e pintores desenvolvem procedimentos cada vez mais conscientes de construção de discurso sem ignorar o papel decisivo da fantasia e da imaginação no processo criativo. (p. 231).
As vanguardas surgiram dos movimentos artísticos que questionavam o
passado e almejavam novos caminhos, novos conceitos de artes, novas formas de
expressões. Fez-se necessário a partir daí, apreciar produtos de arte considerando a
linguagem das mais diferentes manifestações artísticas, tendo como essência o
elemento estético.
Calcado no exposto, está o que MENEGAZZO (1191, p.180-181) ostenta, “a
partir dos movimentos de arte moderna de vanguarda, o discurso poético vem
buscando uma utilização cada vez maior do processo imagético [...]. Assentando
suas bases na imagem, poesia e pintura passam a falar a mesma linguagem, ainda
que o suporte veiculador da mesma seja diferente [...]”.
A escritora chama a atenção quando a relação entre as várias artes são
estabelecidas, porque pode se dar mais atenção apenas aos aspectos que se
colocam como contrários devido ao tratamento diversificado que recebem em cada
modalidade artística.
Portanto, a literatura, enquanto manifestação artística, faz alusão com outras
produções como aqui destacadas: a pintura e a poesia. Duas artes que se
combinam, são formas de comunicação. Tanto uma como a outra enriquece o
sentido porque melhor explica, ajuda na interpretação, enfim, reitera a ideia uma da
outra. Tem o mesmo grau da presença da imaginação que é expressividade do
pensamento e do sentimento que transformam a realidade.
Sendo imitações, como gênero, confirma MUHANA (2002), diferem em
espécie apenas pelo meio material com que operam. A poesia com o ritmo, a
linguagem e a harmonia; a pintura com cores e figuras.
Então, partindo das tantas concordâncias, semelhanças, proporções ou
simpatias é que se torna veemente as palavras da escritora ao mencionar que a
poesia e a pintura “simbolizam entre si como irmãs gêmeas, e parecem-se tanto,
que quando se escreve se pinta, e quando se pinta se escreve”. MUHANA (2002,
p.16).
Considerando o exposto, as aulas de Literatura, segundo as DIRETRIZES
CURRICULARES DE LÍNGUA PORTUGUESA (2008, p.77), “estarão sujeitas a
ajustes atendendo às necessidades e contribuições dos alunos, de modo a
incorporar suas ideias e as relações discursivas, por eles estabelecidas, em um
contínuo texto – puxa – texto”. É nesse sucessivo de relações que se percebe que o
texto literário dialoga com outras áreas, como convém aqui dispor Literatura (poema)
e Arte (pintura).
Advém daí, orientado por CLUVER (1997), que para o entendimento dos
vários tipos de textos que se combinam ou fundem códigos semióticos diferentes, é
preciso competência específica e a formação de leitores competentes e equipados
para lidar com intertextualidades interartes.
Afirma, ainda, que formar leitores é uma das funções dos estudos interartes.
Por isso, considerando a poesia e a pintura como verdadeiras artes são necessários,
segundo MUHANA (2002, p.42), “a figuração da linguagem e o colorido das carnes,
para que afetem convenientemente seus leitores e espectadores”.
Para MENEGAZZO (1991), essa nova amálgama de signos que cause um
desequilíbrio, ou choque, na estrutura mental do sujeito leitor é necessária.
No que tange ainda os estudos interartes, afirma CLUVER (1997), que uma
divisão entre os objetivos desses estudos fosse possível entre aqueles que dão
ênfase ao estudo de textos e de suas relações intertextuais e aqueles que tratam
fenômenos interartes como produtos e práticas culturais.
Essas divisões, para o autor, significa tratar de questões relativas à produção
e à recepção de textos, a autores e leitores.
Levando em consideração os estudos interartes como discurso
transdisciplinar às voltas com as artes e suas interrelações, CLUVER (1997, p.55),
conclui:
Estamos preparando as ferramentas e a formação necessária à nova geração que terá como trabalhar com textos que combinam e fundem diferentes meios e sistemas de signos, e que poderá então lidar com a maior parte da criação artística do nosso tempo, voltada a produzir exatamente essa espécie de textos. (p.55).
Enfim, trabalhar Literatura com a fusão das artes, pintura e poesia, no
contexto interartes, é uma prática diferenciada que contempla o discurso como
prática social capaz de aperfeiçoar o pensamento engendrando sabor ao saber.
3.3 Haicai: Região Centro-Sul do Paraná
O haicai teve origem no Japão, em 1644, com Matsuo Bashô, conhecido
como o mestre japonês do haicai.
No Brasil, o haicai chegou em 1908, com a primeira vinda de imigrantes
japoneses. Afrânio Peixoto (1919), foi o primeiro a divulgar esta arte apresentando-a
no prefácio de seu livro Trovas Populares Brasileiras.
Waldomiro Siqueira Junior editou o primeiro livro (1933) Meus Haicais.
Depois, em 1936, Guilherme de Almeida publicou no jornal O Estado de São Paulo,
um ensaio com o título Os meus haicais.
No Paraná, entre outros escritores, merecem destaque na disseminação do
haicai, Paulo Leminski e Helena Kolody. No livro Paisagem Interior (1914), Kolody
retrata sua vida e alguns haicais. Leminski, poeta estudioso da língua e da cultura
japonesa, publicou várias obras sobre o haicai contribuindo de forma significativa no
conhecimento dessa arte.
A entrada do haicai na região Centro – Sul do Paraná, segundo Miskalo
(2007), teve início em 1996, quando o chefe do Núcleo Regional de Educação de
Irati, Professor José Maria Orreda a pedido da Secretaria do Estado da Educação do
Paraná, ofereceu a ela, que fazia parte da equipe de Ensino do Núcleo, a
participação no Simpósio Nipo Brasileiro, em São Paulo.
Acrescenta ainda Miskalo (2007), que na ocasião, estiveram presentes no
evento, integrantes dos trinta Núcleos de Educação do Paraná. A participação no
Simpósio resultou em intercâmbio e amizade com as escritoras de São Paulo, Hazel
de São Francisco e Teruko Oda, que honraram o Núcleo Regional de Educação,
professores e alunos com materiais de apoio nesse gênero.
As escritoras, diz ela, posteriormente ofereceram cursos e oficinas de haicai
em Itrati e, ainda hoje, dão assistência à região Centro-Sul envolvendo, além das
oficinas, doação de livros, convite e informação sobre eventos brasileiros e
mundiais.
Sabe-se que o Núcleo Regional de Educação foi contemplado nos eventos
nacionais e mundiais por meio de convites da escritora Teruko Oda, que atua na
coordenação do Concurso brasileiro organizado pelo Grêmio Haicai Ipê de São
Paulo e no Concurso Mundial organizado pela Jal Foundation, com sede em Tóquio,
no Japão.
Com isso, afirma Miskalo (2007), estabeleceu-se a união entre o encanto da
poesia haicai, de origem japonesa, com os alunos e professores das escolas das
Redes Municipais e Estaduais de Irati, Rebouças, Rio Azul, Mallet, Fernandes
Pinheiro, Teixeira Soares, Guarapuava, Prudentópolis e Inácio Martins.
De 1996 a 2007, totalizaram-se mais de dez anos de envolvimento da região
Centro-Sul do Paraná com a poesia haicai, em parceria com o Grêmio Haicai Ipê de
São Paulo. No ano de 2006, conta a escritora, que Teruko Oda denominou a região
de Irati como o “celeiro mirim de poetas haicaístas” devido a participação expressiva
de um mil e duzentos e quarenta alunos no 9º Concurso Mundial de Haicai para
crianças com classificação de vinte e nove alunos da região entre os cinquenta
melhores do Brasil.
Já no ano de 2007, a participação foi de um mil e seiscentos e trinta alunos
com a classificação de cinco haicais entre os dez primeiros colocados nas
categorias infantil e juvenil. Este período foi considerado por Miskalo como “áureo do
haicai”.
Ainda, em 2006, a região Centro-Sul do Paraná foi contemplada com a
fundação e oficialização do Grêmio Haicai “Chão dos Pinheirais” de Irati (PR), junto
à Academia de Letras, Artes e Ciências do Centro-Sul do Paraná (ALACS) e
Fundação Denise Stoklos, sob a coordenação de Miskalo, que muito tem incentivado
essa prática de louvor à natureza e à valorização do meio ambiente.
Conclui a escritora que a contribuição para o sucesso da região Centro-Sul
nos eventos que enfocam o haicai, dá-se pelo respaldo do Núcleo Regional de
Educação, das Secretarias Municipais de Educação de Irati e Região, direções,
equipes pedagógicas, professores e alunos das redes estaduais e municipais de
educação de nove municípios já referenciados.
3.4 Haicai x Poesia
Considerando o significado de poesia no dicionário Aurélio como arte de
escrever em verso: composição poética de pequena extensão, entusiasmo criador:
inspiração: aquilo que desperta o sentimento do belo: o que há de elevado ou
comovente nas pessoas ou nas coisas, encanto, graça e atrativo, é que CLEMENT
(2006) afirma que quanto ao haicai, não se insere em suas regras uma que o proíba
de transmitir um senso poético em seu conjunto de palavras. Para o principal
estudioso haicaísta brasileiro GOGA (1914), haicai é poesia de qualidades
universais e encaixa-se a qualquer cultura do mundo. Menciona CLEMENT, a partir
daí, que nem todo escritor de poesia é escritor de haicai, mas que todo escritor de
haicai pode ser um poeta.
Com a leitura de alguns haicais de escritores como Bashô, Buson, Issa, entre
outros haicaístas modernos é possível, segundo a escritora, verificar que os haicais
escritos com a presença poética transmitem uma mensagem mais viva e intensa na
mente do leitor. Completa:
Vemos que a tendência do haicai é ser escrito em forma declarativa ou
descritiva, mas injetar uma dose de poesia em suas linhas só enriquece sua leitura.
[...] Não há duvida que a poesia produz um efeito mais flexível e, portanto, mais
gracioso nessa forma de arte tão pequenina. [...] Podemos afirmar que haicai é mais
do que apenas um registro, pois nada impede de incluir em suas linhas uma energia
poética que o transforme em poesia. (CLEMENT, 2006, http://www.recantodas
letras.com.br/teorialiteraria/231364)
Com base no exposto, a autora expõe que o haicai pode ser escrito com tom
poético. E, se isso não acontecer, é porque a própria definição, concatenada na
tendência ocidental de que esta arte poética, de origem japonesa formada a partir de
um terceto com 5-7-5 sílabas métricas, criou um hábito nos escritores em usar a
forma mais descritiva do que poética o que implica a falta de vivacidade que tem a
poesia. (CLEMENT, 2006).
Para escrever um haicai nos moldes poéticos, a escritora conclui ser difícil e
ainda mais preservando o seu conceito, isso pode exigir do escritor maior
capacidade e consciência no conteúdo da produção. Resulta daí que muitos haicais
poderão ser escritos no aspecto mais descritivo.
Quanto ao envolvimento da poesia em si e o haicai, MARINS (2007), diz que
o haicai oferece nessa prática tudo o que é preciso para fazer poesia. Basta
envolver os elementos básicos de um poeta: vivência, percepção, observação
treinada, conhecimento da sintaxe poética, linguagem apurada, a simplificidade, a
verdade no momento do haicai observado.
ODA (2010), explica que a poesia ocidental é principalmente lírica dando
ênfase para os sentimentos, pois nasce de dentro para fora. Já, quanto ao haicai, a
escritora exprime que a poesia nasce de fora para dentro e ensina a ver e viver a
vida com mais amor, enquanto que a poesia lírica exerce pouca ou nenhuma
influência na mudança de atitudes.
Também CLEMENT (2007), profere que ao escrever um poema e um haicai,
observa-se o mesmo grau de complexibilidade. Cada um se apresenta conforme
suas regras e, mesmo assim, acrescenta ela, “o número de poetas, hoje, ainda é
bem maior do que de haijins.” (pessoa que escreve haicai). Legitima a escritora, a
partir daí, que nem todo escritor de poesia é escritor de haicai, mas que todo escritor
de haicai pode ser um poeta, isto é, escrever poesia. Impregna-se, ainda por
CLEMENT (2007), que a prática do haicai está se espalhando cada vez mais e já
tem espaço na internet, no rádio, está adentrando não somente nas escolas, mas
nas universidades também.
4 Considerações Finais
Todas as ações foram projetadas de forma aplausível e justificam a riqueza
desse trabalho, ostentam inúmeras possibilidades de atividades pautadas no
contexto da interarte (poema haicai e pintura), explicitam as reais condições de
aprendizagem numa ótica significativa, prazerosa e motivadora. São atividades de
fácil aplicação e capazes de efetivar aprendizagens em todos os alunos,
independentemente de suas peculiaridades, pois todos são chamados de forma
atraente, a partir dos elementos vivenciados no cotidiano, a produzir arte. Além
disso, as ações desenvolvidas mobilizaram a escola, motivou os alunos a
aprenderem a poesia haicai.
A metodologia aplicada deu ênfase na prática do conteúdo de forma
diferenciada aos participantes que acompanharam o resultado final do trabalho
entendendo o que é o haicai, com base para criarem suas próprias poesias. Vale
lembrar que, a partir dos elementos artísticos do texto literário percebidos e
entendidos pelos alunos, pode-se atingir o campo sensível do ser humano como
humanizá-lo, incorporar os valores para que este se constitua com ética, isto é,
coloque-se no lugar do outro, seja solidário, aprenda amar a natureza e que olhe ao
próximo como gente que ame. Esses valores são imprescindíveis para ajustar a
nova geração a uma sociedade que não seja alienada, empobrecida e violenta.
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