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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED DIRETORIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS E

PROGRAMAS EDUCACIONAIS – DPPE PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

Av. Água Verde, 2140 – CEP 80240-900 – Curitiba – Paraná

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

DEOLINDA MAY

O DIA A DIA DA/DÁ CRÔNICA

IVAIPORÃ 2010

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DEOLINDA MAY

O DIA A DIA DA/DÁ CRÔNICA

Projeto de Intervenção Pedagógica realizado durante o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE e apresentado ao Departamento de Ciências Humanas da Universidade Estadual de Londrina – Paraná. Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Santos Simon

IVAIPORÃ 2010

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(…) a crônica pode dizer as coisas mais sérias e mais empenhadas por meio do ziguezague de uma aparente conversa fiada. Mas igualmente sérias são as descrições alegres da vida, o relato caprichoso dos fatos, o desenho de certos tipos humanos, o mero registro daquele inesperado que surge de repente. Tudo é vida, tudo é motivo de experiência e reflexão, ou simplesmente de divertimento, de esquecimento momentâneo de nós mesmos a troco do sonho ou da piada que nos transporta ao mundo da imaginação.

Antonio Candido

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O DIA A DIA DA/DÁ CRÔNICA: LEITURA E INTERPRETAÇÃO

Autora: Deolinda May 1 Orientador: Luiz Carlos Santos Simon 2

RESUMO

Este artigo registra a implementação do projeto “O dia a dia da/dá crônica: leitura e interpretação” realizada no Colégio Estadual Barbosa Ferraz, de Ivaiporã, com alunos do 1º ano do curso Formação de Docentes. O principal objetivo foi promover o gosto pela leitura literária, na tentativa de formar leitores competentes, o que é um grande desafio. Crônica foi o gênero discursivo utilizado, devido à brevidade e leveza e, também, por tratar de assuntos ligados ao cotidiano. O trabalho com as crônicas partiu de temáticas que propiciaram aos alunos interação, discussão, reflexão e, inclusive, riso. Palavras-chave: Crônica; Leitura; Interpretação. ABSTRACT

This paper records the implementation of the Project “the day-to-day of/yields chronicle” performed in the State School Barbosa Ferraz, of Ivaiporã, with students of the 1st year of Teachers Training course. The main objective was to promote a taste for literary reading, in order to form competent readers, which is a big challenge. Chronic genre was used due to the brevity and lightness, and also for dealing with issues related to everyday life. The work with chronicles dealt with topics that led students to interaction, discussion, reflection and even laughter. Key-words: Chronicle; Reading; Interpretation.

1 INTRODUÇÃO

O Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE oportunizou aos

professores paranaenses o retorno à universidade com a finalidade de aprofundar

seus estudos teóricos, discutir e refletir sobre a prática pedagógica. E, ainda,

possibilitou a interação com profissionais de diferentes localidades do Paraná,

através de cursos, encontros de área e seminários. Também foi colocado à

disposição um professor orientador da IES, que norteou a linha de pesquisa 1 Pós-graduação em Literatura e Língua Portuguesa e Graduação em Letras:Português e Inglês;

Professora da Rede Estadual de Ensino, CEAD – Ivaiporã, Paraná. E-mail: [email protected]

2 Professor da Universidade Estadual de Londrina – UEL e Doutor em Literatura comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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escolhida por determinado grupo de professores e sugeriu várias leituras para

fundamentação teórica. Inclusive, foi muito importante a participação no GTR3 (on-

line) de outros professores da rede pública, que estavam em sala de aula, por meio

de leituras e discussão dos materiais postados, dando opiniões e colaborando com

sugestões na elaboração das atividades de implementação do projeto. Todo este

conjunto de atividades visou à melhoria no ensino aprendizagem em busca de

mudanças na prática pedagógica, resultados que, com certeza, já começaram a

aparecer nas escolas públicas paranaenses, porém, ainda outras mais serão

necessárias para que seja modificado no seguinte trecho das Diretrizes Curriculares

de Língua Portuguesa (2008, p. 48):

Mesmo vivendo numa época denominada ‘era da informação’, a qual possibilita acesso rápido à leitura de uma gama imensurável de informações, convivemos com o índice crescente de analfabetismo funcional, e os resultados das avaliações educacionais revelam baixo desempenho do aluno em relação à compreensão dos textos que lê.

Portanto, a implementação deste projeto teve como ponto de partida a

leitura, pois, mesmo na atualidade com livros na biblioteca escolar e internet nos

laboratórios de informática, de modo geral, ainda nossos jovens estudantes não a

praticam por vontade própria, sentindo deleite, prazer. Com o intuito de mudar esta

prática e a preocupação com a formação de leitores competentes, trabalhou-se

nesta proposta de intervenção o gênero discursivo – crônica – pelo seu caráter

humanizador, carregado de sensibilidade ao falar de assuntos banais ou do

cotidiano, porém voltados ao prazer e à reflexão.

Brait recorda que “não se pode falar de gêneros sem pensar na esfera de

atividades em que eles se constituem e atuam, aí implicadas as condições de

produção, de circulação e recepção”. (2000, p.20; Apud Diretrizes Curriculares de

Língua Portuguesa, p. 52)

Com relação à leitura, o trabalho com os gêneros discursivos seguiu

orientações das Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Língua Portuguesa,

que compreendem “a leitura como um ato dialógico, interlocutivo, que envolve

demandas sociais, históricas, políticas, econômicas, pedagógicas e ideológicas de 3 Grupo de Trabalho em Rede – atividade do Programa de Desenvolvimento Educacional –

PDE – e caracteriza-se pela interação virtual entre o Professor PDE e os demais professores da rede

pública estadual e busca efetivar o processo de Formação Continuada.

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determinado momento”. (DCE, 2008, p. 56)

Com relação à literatura, é vista como produção humana e está intimamente

ligada à vida social e humana ao retratar a realidade. Para Candido (1972), a

literatura é vista como arte que transforma e humaniza o homem e a sociedade.

Segundo Eagleton (1983), sem participação ativa do leitor não haveria obra literária,

uma vez que há uma relação de subjetividade entre obra/autor/leitor. Embora o texto

literário admita múltiplas interpretações não significa que está aberto a qualquer

interpretação. O texto é carregado de pistas que direcionam o leitor para uma leitura

coerente. Além disso, o texto traz vazios que serão preenchidos pelo leitor, conforme

seu conhecimento de mundo, suas experiências de vida, suas ideologias, suas

crenças, seus valores, etc. No texto, deve-se considerar, ainda, o contexto de

produção sócio-histórico, a finalidade, o interlocutor e o gênero.

Com relação às atividades de interpretação e compreensão de texto,

segundo as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa (2008, p. 73), é necessário

analisar os conhecimentos de mundo do aluno, os conhecimentos linguísticos, o

conhecimento da situação comunicativa, dos interlocutores envolvidos, dos gêneros

e das esferas, do suporte em que o gênero está publicado, de outros textos

(intertextualidade). É relevante a realização de atividades que propiciem a reflexão e

a discussão.

Cabe ao professor, portanto, atuar como mediador dando condições ao

aluno de atribuir sentidos a sua leitura, tornando-se um sujeito crítico e atuante nas

práticas de letramento da sociedade. Com certeza, ele só se sentirá incluído na

sociedade no momento em que conhecer a sua realidade e se reconhecer como

possível agente transformador da própria história. É por meio do uso eficaz da

linguagem que uma pessoa poderá exercer sua cidadania, e uma das formas de

auxiliar o aluno a tornar-se essa pessoa com plena participação na sociedade é

realizar um trabalho eficaz com a leitura. YUNES (1994, p.19) afirma que:

Não é possível estimular a leitura e cativar novos leitores se não estamos convencidos das vantagens de ler. (...). se não vivemos a leitura como um ato permanente de enamoramento com o conhecimento e a informação, se não praticamos o prazer da convivência com a leitura, não lograremos promovê-la, nem ampliaremos o número de leitores. Ou seja, se não estamos capacitados, como capacitaremos outros?

Uma educação que pretende à transformação e à autonomia deve passar

inevitavelmente pelo exercício da leitura, e, certamente a literatura é um dos meios

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pelo qual a escola pode alcançar tais objetivos, pois os textos literários aliam

informação e prazer, envolvendo razão e emoção, numa atividade integrativa,

conquistando o leitor por inteiro.

Para Silva (2005, p. 24; apud Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa,

p. 57):

(…) a prática de leitura é um princípio de cidadania, ou seja, o leitor cidadão, pelas diferentes práticas de leitura, pode ficar sabendo quais são suas obrigações e também pode defender os seus direitos, além de ficar aberto às conquistas de outros direitos necessários para uma sociedade justa, democrática e feliz.

Deste modo, percebe-se que o trabalho com os textos literários contribui

numa relação dialógica com outros textos e também com outras áreas,

estabelecendo um contínuo texto-puxa-texto que leva o leitor, convocado pelo texto,

a participar da elaboração dos significados, comparando com o próprio saber e com

sua experiência de vida. O ensino da prática de leitura requer um professor que

“além de posicionar-se como um leitor assíduo, crítico e competente, entenda

realmente a complexidade do ato de ler” (SILVA, 2002, p.22).

Portanto, a escola deve proporcionar aos alunos situações em que o ato de

ler aconteça pelas mesmas razões que se lê fora dela: por prazer, para se informar,

para estudar e ampliar sua visão de mundo. A escola pode e precisa ser um

ambiente de leitura em que professores e alunos possam interagir, de forma

madura, na construção do conhecimento. Neste sentido a crônica poderá, e é o que

se espera desse trabalho, se constituir num instrumento motivador para a leitura,

porque antes de circular no ambiente escolar já circulou na esfera jornalística, como

a notícia, a reportagem, o editorial, os classificados, etc., dando oportunidade ao

aluno de ter contato com textos presentes nos diversos espaços de socialização que

frequenta e não apenas um texto escrito para fazer parte do rol dos textos

didatizados.

É necessário levar em consideração que não se lê da mesma forma uma

crônica que está divulgada no suporte de um jornal e uma crônica publicada em um

livro, tendo em vista a finalidade de cada uma delas. Na crônica do jornal é

importante considerar a data de publicação, a fonte, os acontecimentos dessa data,

o diálogo entre a crônica e outras notícias veiculadas nesse suporte. Já a leitura da

crônica do livro representa um fato cotidiano independente dos interesses deste ou

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daquele jornal, conforme as Diretrizes Curriculares (2008, p. 72).

São vários os significados da palavra crônica, porém, todos implicam a

noção de tempo, presente no próprio termo, que procede do grego chronos. O fator

tempo acompanha não só a etimologia da crônica, mas também perpetua-se em

todas as definições encontradas.

Defini-la não é nada fácil, mesmo para grandes estudiosos e críticos, pois

um pode completar ou divergir do outro. Para Arrigucci Junior (1987, p. 51, 55) “...

esse vínculo de origem que faz dela uma forma do tempo e da memória, um meio de

representação temporal dos eventos passados, um registro da vida escoada. Mas a

crônica sempre tece a continuidade do gesto humano na tela do tempo”. E ainda, “é

ela própria um fato moderno, apresenta uma linguagem simples e comunicativa, usa

um tom menor de bate-papo entre amigos, para tratar de pequenas coisas que

formam a vida diária, onde às vezes encontra a mais alta poesia.”

Conforme Coutinho, (1986, p. 136) crônica é “uma forma de arte imaginativa,

arte da palavra, a que se liga forte dose de lirismo”. E o cronista no desejo de

comunicar-se passa utilizar-se desse “meio vivo, insinuante, ágil que é a crônica”.

Segundo Eduardo Portella (1977, p.114-5):

O enriquecimento poético da crônica é uma maneira das mais eficazes de fazê-la transcender, de fugir ao seu destino de notícia para construir o seu destino de obra literária. (…) E é para fugir à transitoriedade que o nosso cronista constrói uma vida além da notícia. E, é justamente essa vida que, mesmo envelhecida a notícia, conserva a juventude da crônica.

Candido (1992, p.14) afirma que a crônica “pega o miúdo e mostra nele uma

grandeza, uma beleza ou uma singularidade insuspeitadas. Ela é amiga da verdade

e da poesia nas suas formas mais diretas e também nas suas formas mais

fantásticas”.

O estudo das crônicas ainda é matéria para muitas discussões, conceitos e

opiniões diferentes, tanto que até o presente não há, ainda, uma definição precisa,

exata de crônica, justamente por apresentar um caráter ambíguo, podendo ser uma

soma de jornalismo e literatura.

A crônica já passou por várias significações e grandes transformações,

desde seu aparecimento até os dias de hoje. No Brasil, assumiu forma própria,

“naturalizou-se brasileira”, isto é, pela naturalidade com que se aclimatou e a

originalidade com que se desenvolve no estilo, na língua, nos assuntos, na técnica,

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ganhando proporções inéditas na literatura brasileira: leve, bem-humorada, irônica,

fantasiosa, lírica: prosa-poema ou poema em prosa, de fácil leitura.

É importante lembrar que antes de ser crônica, da forma como é conhecida

hoje, foi “folhetim”, artigos de rodapé com características mais informativas, relatos

da sociedade e dos fatos acontecidos. Candido (1992, p. 15) comenta sobre sua

evolução que aos poucos o folhetim foi encurtando e ganhando certa gratuidade,

certo ar de quem está escrevendo à toa, sem dar muita importância. Depois, entrou

francamente pelo tom ligeiro e encolheu de tamanho, até chegar ao que é hoje.

Embora seja fruto do jornal, a crônica procura estabelecer uma atmosfera de

intimidade entre o leitor e o cronista. Para se transformar num gênero literário

propriamente dito, o fundamental é libertar-se da sua base jornalística. Para Moisés

(1982, p. 105) a crônica oscila entre a reportagem e a literatura, entre o relato

impessoal, frio e descolorido de um acontecimento trivial, e a recriação do cotidiano

por meio da fantasia.

Originariamente, a crônica não foi feita para publicação em livros, porém foi

somente quando ultrapassou as barreiras do seu veículo original e conheceu a

forma de livro que ganhou a consideração dos críticos e historiadores da literatura,

segundo Massaud Moisés (1982, p. 106). É, portanto, no livro que as crônicas são

preservadas do esquecimento a que estão destinados os escritos veiculados pelos

jornais.

A realização deste trabalho de leitura de crônicas vem corroborar a

declaração de Antonio Candido:

O seu grande prestígio atual é um bom sintoma do processo de busca de oralidade na escrita, isto é, de quebra do artifício e aproximação com o que há de mais natural no modo de ser do nosso tempo. E isto é humanização da melhor. Quando vejo que os professores de agora fazem os alunos lerem cada vez mais as crônicas, fico pensando nas leituras do meu tempo de secundário. Fico comparando e vendo a importância deste agente de uma visão mais moderna na sua simplicidade reveladora e penetrante.

Sendo assim, percebe-se que a Literatura no ensino precisa ser redefinida,

não há mais lugar para leitura de textos que se enquadram a meros esquemas

classificatórios, de natureza estrutural (gramática dos gêneros) ou temporal (estilos

de época), portanto deve estar aberta aos acontecimentos a que os processos de

leitura não cessam de forçá-la (Garcia, 2006, apud Diretrizes Curriculares, p. 77).

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2 DESENVOLVIMENTO

Com o intuito de ampliar o ato de ler no espaço escolar, a implementação do

projeto “O dia a dia da/dá crônica” não prevê atribuição de nota à leitura ou mera

leitura com a obrigação de se fazer silêncio, mas espera-se que os alunos efetuem

leituras compreensivas e críticas, sejam receptivos a novos textos e à leitura de

outrem e participem de forma ativa das discussões das crônicas, ativando seus

conhecimentos prévios para que haja a compreensão do que foi lido e reflitam sobre

os assuntos tratados. Conforme KLEIMAN: (1989, p. 151) “ensinar a ler, é criar uma

atitude de expectativa prévia com relação ao conteúdo referencial do texto, isto é,

mostrar à criança que quanto mais ela previr o conteúdo, maior será sua

compreensão”, isto é, pode-se mudar de opinião com relação a determinado assunto

ao levar em conta os novos conhecimentos adquiridos.

A implementação deste projeto teve início logo após a semana pedagógica

do segundo semestre de 2010 (em agosto, calendário atípico devido à gripe A), na

qual o projeto e o material didático foram apresentados à direção, equipe

pedagógica, professores e demais profissionais do Colégio Estadual Barbosa

Ferraz, de Ivaiporã, para conhecimento da comunidade escolar.

Tanto o projeto quanto o material didático de leitura foram elaborados a

partir de crônicas que contêm as seguintes temáticas:

1 – Falando de crônica... parece complicado, mas não é!;

2 – Falando de amor: declarações, encontros e desencontros;

3 – Falando em memórias de infância: brinquedos e brincadeiras;

4 – Falando em direitos humanos: cidadania, direitos da criança, injustiças

sociais, abuso de poder;

5 – A crônica fala de tudo... a escolha é sua!

A aplicação do projeto se deu na turma de 1º ano B de Formação de

Docentes, em contraturno. Os alunos estudavam à tarde e vinham de manhã para a

aula de Estágio com a professora Rosângela Crozatto, sendo possível aproveitar

duas h/a, durante o segundo semestre para o desenvolvimento do projeto, com a

permissão dos pais, através de bilhete.

No primeiro encontro os alunos tomaram conhecimento do projeto e do

material didático e também sobre o que é o PDE, demonstraram curiosidade e

interesse em participar. Em seguida, iniciaram-se os trabalhos com a temática 1:

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Falando de crônica... parece complicado, mas não é!, através da seguinte discussão

oral: O que é uma crônica? É literatura ou é jornalismo? Há semelhanças com o

conto, com a poesia e com a notícia? Qual o suporte de circulação? Com que

finalidade elas são produzidas? Quais assuntos podem ser tratados?

Durante a discussão, muitos alunos disseram que não sabiam o que era

crônica e tampouco gostavam de ler. Começava aí o grande desafio.

No encontro seguinte, os alunos foram organizados em 4 (quatro) equipes

que receberam textos que tratavam sobre o ato de “cronicar”: “A última crônica” de

Fernando Sabino, “Ciao” de Carlos Drummond de Andrade, “A crônica e o ovo” de

Luís Fernando Veríssimo e “O nascimento da crônica” de Machado de Assis. Leram

e discutiram em grupo as questões apresentadas:

1– Há relação do título com o texto? Comente.

2 – A crônica narra de forma artística e pessoal fatos do cotidiano. Que fatos

são enfatizados nesta crônica?

3 – A crônica geralmente é um texto leve, escrito com o objetivo de divertir o

leitor e/ou levá-lo a refletir criticamente sobre a vida e o comportamento humano.

Como estes objetivos estão presentes nesta crônica?

4 – Ao ler esta crônica é possível identificar trechos que trazem marcas do

que é uma crônica? Identifique-as e comente.

Cada equipe anotou as suas conclusões e promoveu, ao final, uma

apresentação oral às outras equipes, seguida de discussão coletiva, em que

procuraram salientar os pontos comuns e as eventuais divergências.

No próximo encontro, todos receberam o texto “Sobre crônica” de Ivan

Ângelo no qual apresenta definições de crônica de diversos autores: teóricos e

cronistas, juntamente com estas questões: 1 – Como Ivan Ângelo define o que é

uma crônica? Comente. 2 – É importante que o público leitor saiba o que é crônica?

Justifique. 3 – Como o cronista tratou da temática? Exemplifique. 4 – Agora é a sua

vez de definir crônica.

A questão de número 2 gerou polêmica, pois muitos acreditavam que é

importante o público leitor saber que o que está lendo é uma crônica. Observou-se

também que a partir das crônicas lidas os alunos não tiveram dificuldade em

elaborar uma definição para crônica. Perguntados sobre qual das crônicas lidas eles

mais gostaram, a resposta foi unânime: “A última crônica” porque o autor conseguiu

emocioná-los ao retratar a cena do aniversário da menina.

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Para concluir a temática, os alunos realizaram uma pesquisa no site:

http://www.releituras.com/biografias.asp buscando saber mais sobre os cronistas

lidos.

Início da temática 2: Falando de amor: declarações, encontros e

desencontros. O amor é um tema universal, está presente em músicas, poemas,

contos e romances. E em crônicas? Como este sentimento tão profundo pode ser

explorado? Conversou-se bastante sobre o assunto.

Em seguida, as crônicas “Declaração de amor em outdoor” de Carlos

Drummond de Andrade, e “Desencontro marcado” de Fernando Sabino foram

entregues aos alunos, uma subsequente a outra. Após a leitura, fez-se uma

discussão oral envolvendo as características da crônica:

• Há relação entre o título e o assunto da crônica? Explique.

1. Qual é o recorte usado pelo cronista? E qual é o fato miúdo?

2. A crônica emprega geralmente a variedade padrão informal em

linguagem culta e direta, próxima do leitor. Analise a linguagem empregada nestas

crônicas e justifique com trechos dos textos.

3. Marcas de tempo e lugar geralmente estão presentes nas crônicas.

Exemplifique com trechos dos textos.

4. Como se apresentam o foco narrativo e o narrador nestas crônicas?

Justifique.

Além da oralidade, foram realizadas atividades escritas de interpretação:

1 – Qual o objetivo do publicitário em colocar um outdoor para proclamar seu

amor por Cly, sendo que podia ter usado mil maneiras diferentes?

2 – O que significa: "...A gíria é efêmera e o amor que dura há dez anos já

viu passar muitas e muitas expressões populares..."?

3 – Opine sobre o trecho: “Ternura de homem por mulher, garantia de

continuidade da espécie, que aqui e ali busca autodestruir-se.”

4 – Que diferença fica evidente entre as campanhas de produtos e o amor

proclamado no painel?

5 – O que podemos inferir em: "prova de que o amor continua, em meio a

toda sorte de absurdos, violências e marotices políticas e outras, e que nenhum

índice de inflação, nenhum terremoto, nenhuma sinistra maquinação é capaz de

cassá-lo da face da terra"?

6 – Quais são os contextos históricos presentes na narrativa de Sabino?

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7 – No penúltimo parágrafo de “Desencontro marcado”, o cronista se

posiciona por meio de vários questionamentos a respeito da vida de cada um e

também da convivência do casal, depois de 45 anos de separação. Qual a sua

opinião sobre a situação atual do casal? Você é a favor ou contra a união de casais

com grande diferença de idade? Justifique.

8 – No quinto parágrafo: “... E aceitou a ideia de casar-se com um tal de

Savides, que não tinha entrado na história” há intertextualidade com o poema

“Quadrilha” de Carlos Drummond de Andrade. Depois de ouvi-lo, na voz do autor, no

link http://www.youtube.com/watch?v=C6tNuId7RNA comente sobre o ciclo de

frustrações que se estabelece na intertextualidade entre a crônica e o poema.

Concluindo a temática foram realizadas leituras complementares das

crônicas: “Crônica de um amor anunciado” de Martha Medeiros e “Sobre o amor” de

Ferreira Gullar. Em seguida, fez-se uma comparação dos tempos antigos com os

dias atuais, apontando as diferenças e as semelhanças nos relacionamentos ou na

convivência entre homem e mulher, na tentativa de entender as mudanças

ocorridas.

Para descontrair e ainda refletir sobre a temática, todos assistiram aos

vídeos: “Quero” poema de Carlos Drummond de Andrade, na voz do próprio autor,

no site http://www.youtube.com/watch?v=6k256aVvdb0&feature=related e “O que

não se pode explicar aos normais” cantado por Catedral, em

http://www.esoterikha.com/dia-dos-namorados/video-de-amor-para-namorados-

catedral.php e confeccionaram cartõezinhos com mensagens de amor e montaram

um cartaz.

Desencontro marcado despertou bastante o interesse dos alunos e

possibilitou ampla discussão, motivados pelo contexto histórico da narrativa e os

pontos mais discutidos foram o relacionamento de casais com grande diferença de

idade, não importando qual dos sexos tivesse mais ou menos idade, o homem ou a

mulher e a comparação entre o namoro de hoje com o de antigamente. Todos

sempre tinham algo a relatar sobre sua própria família ou alguém conhecido. A

intertextualidade com o poema “Quadrilha” abriu caminho para que criassem outras

‘quadrilhas’ envolvendo o nome de seus próprios colegas de classe.

A temática 3: Falando em memórias de infância: brinquedos e brincadeiras

não foi trabalhada com a mesma equipe, mas com a turma de 2ºB de Formação de

Docentes, em horário normal de aulas, concomitante com a temática 4, porque não

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havia mais tempo suficiente para realização de todas as temáticas propostas. Opção

feita pelos próprios alunos. Fizeram parte desta temática as crônicas: “De homem

para homem” de Fernando Sabino; “A bola” e “Vivendo e...” de Luís Fernando

Veríssimo e “ Brinquedos incendiados” de Cecília Meireles.

Durante as discussões os alunos estabeleceram um paralelo entre as

brincadeiras ou brinquedos da era tecnológica, moderna com o tempo dos avós ou

ainda mais distante. Também comentaram sobre a intensa ligação que se

estabelece entre o mundo infantil e a imaginação, o sonho, os devaneios. Para

encerrar a temática, assistiram aos vídeos4: “Meus oito anos” poema de Casimiro de

Abreu, recitado por Paulo Autran e a música “Bicicleta” cantada por Toquinho.

Início da temática 4: Falando em direitos humanos: cidadania, direitos da

criança, injustiças sociais, abuso de poder.

Estes assuntos ainda estão presentes na realidade de muitas pessoas,

mesmo depois de “60 anos de a Declaração Universal dos Direitos Humanos ter sido

adotada pelas Nações Unidas, pessoas ainda são torturadas ou mal tratadas em

pelo menos 81 países, são submetidas a julgamentos injustos em pelo menos 54

países e não têm direito de se manifestar livremente em pelo menos 77.” Márcia

Freitas5 – em 28/05/2008 – 11h05 – da BBC do Brasil em Londres.

Partindo da leitura na íntegra do texto de Márcia Freitas discutiu-se bastante

a respeito deste assunto. Posteriormente foram distribuídas as crônicas “Povo” de

Luís Fernando Veríssimo e “Moça deitada na grama” de Carlos Drummond de

Andrade. Após a leitura foram levantados pontos polêmicos a respeito da relação

entre patrão e empregado, diferenças entre as classes sociais, o preconceito, o

poder, a figura feminina x a masculina, direitos e deveres.

“Resolvi parar um pouco, encantado. Queria ver ainda por algum tempo a

escultura da moça, plantada no parque como estátua de Henry Moore6, uma estátua

sem obrigação de ser imóvel. E que arfava docemente. Ah, o arfar da moça, que lhe

erguia com leveza o busto, (…) curtir para sempre aquele instante de felicidade.” Um

dos alunos referiu-se ao trecho como “cheio de beleza”. E como há uma ligação

muito forte entre literatura e arte, aproveitou-se o momento para uma aula no 4 Disponíveis no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=q_4OvOWJEOc http://www.youtube.com/watch?v=sonnKhf-84g&feature=related (Acesso: 25/04/10) 5 Anistia condena '60 anos de fracasso' em direitos humanos. Disponível em: http://educacao.uol.com.br/atualidades/ult1685u348.jhtm acesso em: 19/05/10 6 Escultor britânico

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laboratório de informática onde eles visitaram e apreciaram as obras do escultor

Henry Moore, (citado no texto) no site: http://www.google.com.br/images?hl=pt-

BR&q=henry+moore&um=1&ie=UTF-8&source=univ&ei=jeXaS5-

kBYKauAemtZGeDw&sa=X&oi=image_result_group&ct=title&resnum=1&ved=0CBQ

QsAQwAA&biw=651&bih=356 e se encantaram com as esculturas.

No trecho: “... os mindingos, que a gente tem pena e deixa por aí...” os

alunos tiveram a oportunidade de leitura da imagem da tela “The beggar boy” de

Bartolomé Esteban Murillo7 e a identificação e comparação com os mendigos reais.

Pode-se perceber que a presença desta intertextualidade colaborou para a

compreensão dos sentidos nos textos, pois isto depende de um conhecimento de

mundo mais amplo, como afirma BAKTHIN (1986, p. 62):

“...o texto só ganha vida em contato com outro texto (com contexto).

Somente neste ponto do contato entre textos é que uma luz brilha,

iluminando tanto o posterior como o anterior, juntando dado texto a um

diálogo. Enfatizamos que esse contato é um contato dialógico entre

textos...”

“Na escuridão miserável” e “Luto da família Silva” respectivamente de

Fernando Sabino e de Rubem Braga e, também, o artigo de Frei Betto8, “Direitos

Humanos: 60 anos” leituras complementares, geraram novas discussões

envolvendo: o trabalho infantil, a miséria, a desigualdade social, a violência, a

impunidade, a injustiça, a valorização do ser humano, o direito de propriedade, etc.

No encontro seguinte, os alunos trouxeram recortes de jornais que tratavam

destes assuntos e colocaram no mural do colégio. Para encerrar esta temática, os

alunos apresentaram uma dramatização, em dupla, da crônica “Povo” com

adaptações bastante criativas, sendo ensaiado com antecedência.

A temática 5: A crônica fala de tudo... a escolha é sua! finalizou a

implementação do projeto. Durante os últimos encontros, grande variedade de

material como livros, jornais e sites de crônicas de diferentes cronistas, cada qual

com seu estilo e com sua individualidade foram colocados à disposição dos alunos

7 http://www.abcgallery.com/M/murillo/murillo9.html 8 Escritor e assessor de movimentos sociais Direitos Humanos: 60 anos (18.01.08)

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=31312

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que remexeram em tudo como “numa caixinha de guardados, ou antes de perdidos”

como já dizia Carlos Drummond de Andrade, referindo-se aos cronistas.

Pesquisaram, leram, selecionaram e registraram os pontos que mais lhes

chamaram a atenção ou mais gostaram. Depois, montaram um painel com este

material que foi exposto no pátio do colégio, no qual deixaram suas opiniões e

mensagens como incentivo à leitura. O mural chamou a atenção de toda a

comunidade escolar. Pôde-se perceber, pelos comentários, que muitas pessoas

tiveram contato com as crônicas, achando-as interessantes e de fácil leitura.

A seguir, algumas transcrições de como os alunos se expressaram com

relação às crônicas lidas nesta temática, para incentivar novos leitores:

• Aldilene Aparecida Rosa da Silva , nº 01:

“Esta crônica de Luís Fernando Veríssimo me chamou a atenção, pois é

uma maneira engraçada de acreditar nas mentiras que os homens contam, onde

relata a história de um casal; aqui vai um trecho para vocês lerem e darem muitas

risadas. É do livro: As mentiras que os Homens Contam

Imperdível esta história ...”

A mentira

“João chegou em casa cansado e disse para sua mulher, Maria, que queria

tomar um banho, jantar e ir direto para a cama. Maria lembrou a João que naquela

noite eles tinham ficado de ir jantar na casa de Pedro e Luiza. João deu um tapa na

testa, disse um palavrão e declarou que, de maneira nenhuma, não iria jantar na

casa de ninguém.”

• Alessandra Soares Borges:

“De volta ao primeiro beijo me chamou bastante a atenção porque é um

assunto muito falado, "o primeiro beijo". Esta crônica conta a história de um

homem que 40 anos depois do primeiro beijo, ainda se lembrava claramente como

aconteceu. O nome da moça era Marília. É especialmente para pessoas

apaixonadas!!!”

De volta ao primeiro beijo – Moacyr Scliar

“Em um certo dia o telefone tocou o homem atendeu e quem falava do outro

lado era Marília, ela estava muito doente no hospital e queria vê-lo, ele atentamente

anotou o endereço do hospital e foi, ao chegar lá viu Marília deitada no leito do

hospital já não era a mesma moça de 40 anos atrás mas ainda trazia a lembrança

daquele dia inesquecível, eles conversaram e seu último pedido foi:"Eu queria muito

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que você me beijasse de novo, para levar comigo essa recordação" ele a beijou, (...)

Tinha descoberto que o primeiro beijo dura para sempre. Ou pelo menos assim

queria acreditar”.

• Franciele Leite da Silva de Almeida , n° 15:

“Não deixe de ler as crônicas do maior cronista brasileiro: Rubem Braga.”

Entrevista com Machado de Assis

“São trechos de um programa de televisão em que Machado de Assis é

entrevistado 50 anos após a sua morte. Suas respostas são frases que ele mesmo

escreveu em suas crônicas, contos ou romances.”

(...)

Repórter _ E a loteria?

Machado _''Loteria é mulher, pode acabar cedendo um dia.''

Repórter _ Pode me dar uma boa definição do amor?

Machado _''A melhor definição do amor não vale um beijo de moça

namorada.''

Repórter _O amor dura muito?

Machado _''Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis;

nada menos.''

(...)

Repórter _ De qualquer modo, desculpe por havê-lo incomodado. Mas é que

neste programa sempre entrevistamos alguém que já morreu...

“Quer saber mais? Leia o livro: 200 crônicas escolhidas que é uma

reunião dos melhores textos produzidos por Rubem Braga entre 1935 e 1977. A

escolha das crônicas foi feita pelo próprio autor, com base na seleção original do

amigo Fernando Sabino”.

• Glauciene Bento Arantes , nº 16:

“Esta crônica é muito legal porque é uma história muito marcante e muito

emocionante porque nosso primeiro beijo a gente nunca esquece por mais que o

tempo passe a gente nunca esquece... Para ler a crônica toda, acesse o site:

http://cronicasbrasil.blogspot.com/2007/06/de-volta-ao-primeiro-beijo-moacyr.html"

“Olharam-se, Sérgio e Marília, ele com lágrimas correndo pelo rosto. - Você

sabe por que chamei você aqui? - perguntou ela, com esforço. - Porque nunca

esqueci você, Sérgio. E nunca esqueci o nosso primeiro beijo, lembra? Na porta da

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minha casa, depois do cinema...”

• Luana Caroline Santos Fonseca , n°: 26:

“Férias Conjugais chamou minha atenção porque retrata a história de dois

jovens que vivem um conflito em seu casamento, eles têm decisões e

consequências, mas no final ele tem a noção de que o casamento é para a vida toda

e que em uma relação é importante a participação das duas pessoas na tomada de

decisões.

É uma crônica comédia que leva a reflexão sobre a responsabilidade de

cada decisão que tomamos na vida. Do livro: Alhos e bugalhos – Paulo Mendes

Campos.”

Na primeira vez em que apareceu sozinho os amigos repetiram a cansada

malícia.

- Então, solteiro, heim!

Mas ele sorriu enigmático e puro como se houvesse recuperado a

virgindade.

Durante uma semana, viveu venturoso como um rei. (...)

Seu reinado foi entrando rapidamente no crepúsculo. Estava ilhado e feroz

entre as coisas que se desmantelavam.

(...), bateu apressado para a primeira agência de Correios e Telégrafos:

“Morro de saudade volte o mais breve possível ponto beijos (...).”

• Marcos Aurélio Machado Vanjura :

“Você acredita em milagres ou apenas em coincidências? Então não deixe

de ler esta crônica: O milagre das folhas de Clarice Lispector, do livro: As cem

melhores crônicas brasileiras.”

Não, nunca me acontecem milagres. (...)

Milagres, não. Mas as coincidências. (...)

Mas tenho um milagre, sim. O milagre das folhas. Estou andando pela rua e

do vento me cai uma folha exatamente nos cabelos. A incidência da linha de milhões

de folhas transformadas em uma única, e de milhões de pessoas a incidência de

reduzi-las a mim. Isso me acontece tantas vezes que passei a me considerar

modestamente a escolhida das folhas. Com gestos furtivos tiro a folha dos cabelos e

guardo-a na bolsa, como o mais diminuto diamante. Até que um dia, abrindo a bolsa,

encontro entre os objetos a folha seca, engelhada, morta. Jogo-a fora: não me

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interessa fetiche morto como lembrança. E também porque sei que novas folhas

coincidirão comigo.

Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei Deus de uma grande

delicadeza.

• Sabrina da Silva Pereira :

“Você sabe que em briga de marido e mulher ninguém deve meter a colher?

Porém não deixe de ler esta e outras crônicas engraçadas de Luís Fernando

Veríssimo no site: http://pensador.uol.com.br/cronicas_de_luiz_fernando_verissimo/

e divirta-se.

Crônicas engraçadas

(...) Já faz 18 meses que não falo com minha esposa. É que não gosto de

interrompê-la.

Mas, tenho que admitir: a nossa última briga foi culpa minha.

Ela perguntou: "O que tem na TV?"

E eu disse: "Poeira".

• Sabrina Lucio Silva , n° 35:

“Divirta-se com estas e outras crônicas do livro 'O Melhor das Comédias da

Vida Privada' de Luís Fernando Veríssimo. Boa Leitura!!!”

O Marido do Dr. Pompeu

“Ninguém estranhou quando, depois de 25 anos de casamento, filhos

criados, a mulher do Dr. Pompeu pediu o divórcio. (...) Queria viver sua própria vida,

estudar psicologia, ter sua própria carreira. Tudo bem. O escândalo, para mostrar

como ainda existem preconceitos, foi quando souberam que o Dr. Pompeu, em vez

de outra mulher, arranjara um marido.

− Quem diria, hein? O Pompeu. (...)”

Cuecas

“Giselda confidenciou a Martô, sua melhor amiga, que nada no noticiário

recente a abalara mais do que a volta à moda da cueca samba-canção. (…) - Mas

não. Ele insistia nas cuecas samba-canção. Até tinha horror a novas. Queria sempre

as mesmas. Rasgadas, não importava. Você pode desconfiar de um homem assim?

Vou dizer uma coisa. Cueca é caráter.

Quem vê cueca vê coração. (...)”

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3 CONCLUSÃO

Partindo do pressuposto que o objetivo da leitura e da literatura devem dar

condições ao educando para atuar de forma plena no seu meio escolar e social, o

projeto desenvolvido alcançou o seu objetivo. Durante os trabalhos, os alunos

perceberam a importância de terem conhecido o gênero crônica, e como muitos

haviam falado no início, não sabiam o que era e nem mesmo sabiam reconhecê-la

nos diversos suportes. Somente sabiam o que era uma crônica quando pegavam um

livro em que o título incluísse a palavra 'crônica' na capa. Como não conheciam não

gostavam.

Foi possível concluir que eles gostaram do modo como o gênero foi

apresentado e trabalhado, inclusive pela crescente retirada de livros de crônicas na

biblioteca escolar e leituras feitas através dos sites indicados. É provável que o

motivo de os alunos não possuírem conhecimento sobre o gênero em questão, está

relacionado ao fato de os professores não priorizarem de forma adequada o trabalho

com os gêneros discursivos, de modo geral.

De acordo com a metodologia utilizada, o contato dos alunos com o gênero

foi fundamental para levá-los a entender e a construir seu próprio conceito de

crônica, além de tomarem gosto pela leitura. É importante ressaltar, também, que a

convivência entre professor e alunos começou bastante tímida, (pois a turma não

era conhecida) mas aos poucos a empatia foi se estabelecendo, criando um clima

de união e respeito entre todos.

O envolvimento e a atitude dos alunos com as atividades propostas durante

a implementação deu mostras de que é realmente necessário repensar a prática

diária de sala de aula e que trabalhar a leitura fazendo uso dos mais diferentes

gêneros somente trará vantagens ao ensino da Língua Portuguesa.

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