da escola pÚblica paranaense 2009 · 3aranha, maria lúcia de arruda. história da educação e da...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
Uma Visão Crítica da Educação: possíveis causas do desinteresse dos alunos no contexto escolar 1
Glaucia Gonzales Martins 2
Resumo
Os educadores vêm enfrentando dificuldades com a aprendizagem dos educandos da rede pública de ensino do Estado do Paraná. O fracasso escolar dos estudantes nos leva à crença da existência de uma crise na educação. A crise pela qual a educação formal regular passa ou enfrenta é ampla, diversificada e não pode ser compreendida sem que se considerem aspectos que estão além dos sistemas escolares. Com a perda da qualidade educacional, é comum encontrar afirmações preconizando que os educandos não se interessam por aprender e desrespeitam os professores. Neste sentido, este artigo pretende discorrer sobre o assunto de maneira a valorizar a visão dos professores pedagogos. Para tanto, utilizará dados coletados junto aos participantes do GTR – Grupo de Trabalho em Rede, atividade exigida pelo Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE da SEED/PR, também junto aos professores e alunos do 1º ano do Ensino Médio Noturno do Colégio Estadual Jandaia do Sul no ano de 2010. A pesquisa constatou, entre outras questões, que são diversas as possíveis causas do desinteresse dos alunos no contexto escolar. Palavras-chave: aprendizagem; desinteresse; educand os; formação de professores. Abstract The Educators are struggling with the learning of students from public schools in the state of Parana. School failure of students leads to the belief of the existence of a crisis in education. The crisis that is regular or formal education faces is large, diversified and can not be understood without taking into account aspects that are beyond the school systems. With the loss of educational quality, it is common to find statements recommending that students interested in learning and disrespect the teachers. Thus, this paper aims to discuss the matter in order to enhance the vision of teachers educators. For this, will be used a data collected from the participants of the GTR - Working Group on Network activity required by the Educational Development Program - EDP SEED / PR, also with teachers and students in the 1st year of High School Night of the State College Jandaia of South in 2010. The survey found, among other issues, which are several possible causes of the disaffection of pupils at the school. Keywords: Learning, disinterest; students; teacher’ s training. Introdução
No estado do Paraná, os professores convivem com o desinteresso do
alunos pela aprendizagem e não a encaram mais como elemento fundamental
para o desenvolvimento de sua formação como pessoa, cidadão e trabalhador.
1 Artigo Científico – trabalho final apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional –PDE- instituído pela SEED/PR como condição para a elevação no quadro de carreira dos educadores da rede estadual de educação. 2 Professora da rede pública estadual do Paraná e participante do PDE.
O desinteresse dos alunos torna-se um obstáculo cada vez maior à
educação e, consequentemente, obrigam os professores e educadores a
buscarem soluções alternativas, entretanto, é fato que, atualmente, a relação
das crianças e jovens com a aprendizagem escolar tem, cada vez mais,
tornado visível os diversos problemas vivenciados no contexto escolar.
Entretanto tal fato não pode ser explicado somente a partir do contexto atual,
faz-se necessário analisar como, historicamente, as relações educacionais
foram se estabelecendo em nosso país.
A História Educacional Brasileira arrastou-se desorganizada e
incessantemente desagregada por todo o século XIX, na medida em que não
havia escolas apropriadas, pois as poucas que funcionavam estavam
instaladas em prédios improvisados. A partir da década de 1930, a educação
começou a despertar maior atenção por parte do poder público, quer pelas
ações desenvolvidas nos movimentos dos educadores e também por algumas
iniciativas governamentais3.
Apesar de algum avanço, ainda persistiam críticas ao total descaso pela
educação fundamental, o que representou um empecilho para a
democratização do ensino, principalmente quanto a formação de professores.
As décadas de 1940, 1950 e 1960 do século XX foram marcadas por
discussões que culminaram, em 1961, com a promulgação da Lei de Diretrizes
e Bases n° 4.024 - LDB que quando finalmente public ada, já estava
ultrapassada.4
Em 1971, no período da ditadura militar, realizou-se a Reforma do 1º e
2º graus, concretizada na promulgação da Lei n° 5.6 92 de 1971. Em 1985,
quando os movimentos sociais e a pressão pública intensificam a oposição à
ditadura militar e debatem a necessidade de instituição de um regime
democrático, ampliam-se os debates sobre a valorização do magistério e a
necessária recuperação da escola pública, aviltada e empobrecida naqueles
anos todos.
3ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2008, p.223, 305 e 309. 4 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. . História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2008, p.305 e 911
O debate pedagógico foi grandemente reativado nas Cinco Conferências
Brasileiras de Educação (realizadas nos períodos de 1980 a 1988), pela
circulação de inúmeras revistas especializadas e por uma fecunda produção de
teses universitárias voltadas a investigar os problemas da área.5
No decorrer dos trabalhos da Constituinte da 1987/1988, a questão da
escola pública acirrou discussões com muitos confrontos e pressões. A
Constituição foi aprovada em 1988, porém restava elaborar uma Lei
Complementar que tratasse das Diretrizes e Bases da Educação já adaptadas
à nova realidade do país.
Desta forma, começou-se a discutir um projeto e tal discussão culminou
com a aprovação, em 1996, na da nova LBD. Contudo, tal lei deixou a desejar,
na visão de muitos dos envolvidos, visto que não foi a lei que a educação
precisava. No entanto, havia a perspectiva de que, apesar dos problemas,
novos rumos poderiam ser trilhados a partir da LBD. Neste sentido, de acordo
com as palavras do professor Dermeval Saviani:
embora a Lei não tenha incorporado dispositivos que claramente apontassem na direção da necessária transformação da deficiente estrutura educacional brasileira, ela de si, não impede que isso venha a ocorrer(SAVIANI, 1997, p.238).
Saviani ainda completa:
a abertura de perspectivas para a efetivação dessa possibilidade depende da nossa capacidade de forjar uma coesa vontade política capaz e transpor os limites que marcam a conjuntura presente. Enquanto prevalecer na política educacional a orientação de caráter neoliberal, a estratégia da resistência ativa será a nossa arma de luta. Com ela nos empenharemos em construir uma nova relação hegemônica que viabilize as transformações indispensáveis para adequar a educação às necessidades e aspirações da população brasileira (SAVIANI, 1997, p.238).
Tal lei foi considerada neoliberal por não garantir a esperada
democratização da educação, porque o Estado delegou ao setor privado
grande parte de suas obrigações.
A partir desta brevíssima contextualização histórica pode-se concluir que
qualquer análise sobre os problemas da educação, dentre os quais nos
5 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. . História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. 3.
ed. São Paulo: Moderna, 2008, p.321
dedicamos a trabalhar com o desinteresse dos alunos, só pode ser
compreendido a partir de seu contexto histórico. Portanto, precisamos atentar
para as mudanças ocorridas na sociedade para compreendermos mais
profundamente o que acontece no interior das escolas nesse início do século
XXI.
Admite-se que, em outra perspectiva, o avanço da ciência e da
tecnologia alterou a maneira de se pensar e de se trabalhar e, atualmente,
privilegia-se a imagem, os meios audiovisuais que nos bombardeiam
constantemente com figuras atraentes e fragmentárias. Neste aspecto, o signo
verbal perdeu lugar para as imagens que simulam o real com formas hiper-
reais e, a escola continua com informações canalizadas, sobretudo, pela
transmissão oral ou escrita.
Em contrapartida, as práticas educativas desenvolvidas nas escolas
continuam pautadas na leitura e memorização de informações de dados a
serem cobrados em provas e posteriormente esquecidos.
Mesmo tendo ciência dos problemas na forma de se ensinar, pautada
em métodos e estratégias vigentes desde o século XIX, espera-se, entretanto,
a atenção e interesse dos nossos alunos, mesmo que não lhes signifique nada
e questione a utilidade dos mesmos para o futuro.
Não há dúvidas, porém, de que tal situação provoca perplexidade e
desorientação, sobretudo em professores e educadores que acreditam que a
educação é transformadora de indivíduos. Mas a questão fundamental persiste
no fato de como seria possível transformar e motivar alunos que estão
desinteressados, não querem aprender, apresentam resistência total no sentido
de adquirir conhecimentos, isolando- se dos demais colegas, negando-se a
participar das atividades propostas, bem como, não apresentando interesse
qualquer em realizar algo que se refere à aprendizagem.
PENSANDO SOBRE O DESINTERESSE DOS ALUNOS
Esperamos contribuir com a discussão socializando os resultados de
debates sobre as causas do desinteresse dos alunos. O projeto de intervenção
foi realizado com nove professoras pedagogas de diferentes escolas e cidades
do Estado do Paraná, com os doze professores do 1º C do Colégio Estadual
Jandaia do Sul Ensino Fundamental, Médio e Profissional, e com vinte e oito
alunos matriculados na referida turma.
As professoras/pedagogas participantes do grupo de trabalho atuam em
diferentes níveis de ensino: ensino fundamental, ensino médio matutino e
noturno e, por fim, ensino profissionalizante.
Três questões serviram de base para as discussões realizadas pelas
nove professoras/pedagogas, pelos doze professores e pelos vinte e oito
alunos do 1º C do Ensino Médio Noturno do Colégio Estadual de Jandaia do
Sul – Ensino Fundamental, Médio e Profissional.
São elas:
• qual a sua definição de aluno desinteressado?;
• a metodologia da aula interfere no interesse dos al unos? Sim
ou não? Por quê?
• Os conteúdos a serem trabalhados nas diferentes áre as de
conhecimento despertam o interesse dos alunos? Sim ou
Não?
As respostas das professoras indicaram que, na análise das mesmas, o
aluno “desinteressado” é aquele que se mantém alheio diante dos
acontecimentos da escola, aquele que não quer compartilhar ou interagir em
determinadas situações, é aquele que está em sala de aula somente de “corpo
presente”, porém a sua mente está muito longe daquilo que o professor está
explicando, que apresenta muita dificuldade em relação ao conteúdo
desenvolvido pelo professor e reage com descaso e desinteressadamente,
demonstrando, até mesmo indiferença. Estas professoras definem que, para
este “tipo” de aluno, os conteúdos trabalhados são desinteressantes, mas
justificam que é devido a falta de motivação interna e externa, o que impede a
efetivação da aprendizagem.
Consideram que esse aluno não participa, não contribui com
interferências em sala, tais como opiniões ou questionamentos, mesmo quando
instigado seja no âmbito individual ou coletivo.
Este aluno também não demonstra interesse por nenhuma atividade
escolar e, consequentemente, não encontra motivação sequer para ir à escola,
sendo que, nas vezes em que comparece, chega fora dos horários
estabelecidos, demora para se acomodar em sala, não tira o material
necessário para as aulas de dentro da mochila, não presta a atenção nas
explicações, não tenta resolver as atividades propostas, fica conversando e
atrapalhando as aulas, não estuda para as avaliações e não entrega os
trabalhos requeridos. Tem como ideia fixa o fato de que os conteúdos
ministrados e apresentados em sala não serão por ele utilizados futuramente,
permanecendo, desta forma, apático em relação aos fatos que ocorrem ao seu
redor.
Esse perfil traçado pelas professoras para o que venha a ser um “aluno
desinteressado” é indicativo para que possamos pensar sobre o que,
culturalmente, entendemos que seja o perfil do aluno ideal, ainda que o objeto
desse artigo não seja fazer uma análise a respeito. De certa forma, por ora,
registramos que se espera um aluno passivo e receptor daquilo que o professor
entende que deva ser ensinado.
Estas questões demonstram ainda o quanto temos que avançar nas
pesquisas sobre as causas e possíveis estratégias que venham a minimizar o
problema de desinteresse dos alunos para a aprendizagem escolar.
O contexto atual das pesquisas indica que os estudiosos sobre o
assunto, de maneira geral, acreditam que o desinteresse é inerente à escola e
está relacionado à nova realidade social dos jovens e ao acesso às
tecnologias, que culminam por deixar o aluno com interesses mais imediatista.
Neste sentido, Júlio Aquino Groppa, em matéria publicada na Revista
Profissão Mestre afirma:
Hoje temos o aluno-consumidor e isso causa um imenso impacto no cotidiano escolar. O jovem chega à escola e sente que é impedido de exercer o seu papel de consumidor, pois não pode escolher o que quer ‘comprar’ dentro da sala de aula, tem apenas que aceitar o que será ensinado.6
Júlio Aquino Groppa ainda opina:
o desinteresse é um falso problema, que está deslocado das reais questões escolares. Neste clima, instala-se uma espécie de crise estrutural (GROPPA, 1997, p.140).
6 Braga, Roberta. Eles não querem aprender? O desinteresse dos alunos é um obstáculo cada
vez maior à educação. Revista Profissão Mestre, maio de 2009.
Aquino explica que o desinteresse é uma marca histórica do universo
infanto-juvenil e acrescenta que a escola sempre enfrentou isso e não pode
dizer que seja uma situação nova e chama ‘isto’ de “o mal-estar”da escola
contemporânea.7
As respostas das três questões concedidas pelos professores
indicaram que pelo ponto de vista dos mesmos, o aluno ‘desinteressado’ é
aquele que acha que aprender não é importante e, por isso, não se empenha,
não tem metas ou perspectivas com relação ao futuro, o aluno não tem o que
fazer e não gosta de ficar em casa, faz da escola um instrumento de lazer, vai
para a escola somente para encontrar os amigos, vai para namorar, passar o
tempo.
Os professores acrescentam que os alunos chegam ao ensino médio
com uma grande defasagem de conteúdo, chegam descomprometidos,
desmotivados, apáticos. No decorrer das aulas, os alunos não participam das
atividades, estão apenas presentes, entretanto, não têm iniciativa, não têm
responsabilidade, não revelam objetivos de vida. Os alunos são imaturos e não
entendem a importância que a instituição escolar traz para a vida de todos, no
sentido de formar seres humanos críticos.
Os professores salientam que os alunos não vêem conexão existente
entre os conteúdos ministrados e a sua vivência e experiência. Os estudantes
pensam que o estudo, em nada, pode melhorar a suas vidas. Ressaltam que
os alunos carecem de valores e não sentem vontade de aprender. Há o
agravante de serem alunos distraídos e desligados dos acontecimentos que
acontecem ao seu redor.
Outro fator que os docentes acreditam ser relevante para o desinteresse
escolar é o fato dos alunos terem uma baixa auto-estima. Os alunos são
voltados para o consumo e não têm discernimento para entender o real sentido
do sistema capitalista. Os professores denominam esta geração de alunos da
geração do “dá nada, não”.
Diante das indicações que traçam o perfil de “aluno desinteressado” há a
necessidade de se pensar em estratégias mais eficazes a fim de contribuir para
7 AQUINO, Júlio Groppa. Ética na escola: a diferença que faz diferença. São Paulo: Summus, 1997.
o avanço do conhecimento e que minimizem o problema de desinteresse dos
alunos para a aprendizagem escolar.
Acrescenta-se que, embora, vivendo numa sociedade capitalista, num
mundo globalizado, que fornece tantos avanços tecnológicos e proporcionam
um dinamismo que socializar o conhecimento e valorizar a aprendizagem, a
escola ainda é a comunidade do conhecimento que busca a educação de
todos. Desta forma, é necessário que se encontrem soluções para o descaso
dos alunos com a educação embora a mesma continue sendo tradicional em
sua forma de educar, de instruir, de ensinar e de proporcionar a aprendizagem
dos alunos.
Neste sentido, deve-se observar que a escola, como o espaço de
ensino, de promoção da justiça social, tem adquirido novas a atribuições,
dentre as quais, a função assistencial. Atualmente, muitas funções recaem
sobre a escola, a exemplo de campanhas de vacinação, exames médicos,
alimentação, amamentação etc., contribuindo para que haja uma confusão
sobre o real papel institucional da escola.
Consequentemente, esta confusão acaba por interferir na sua função de
disseminadora de conhecimentos válidos, fato este que é reforçado pelos
baixos desempenhos obtidos pelos alunos nos resultados escolares.
A respeito destes baixos resultados, Groppa explica que tal fato chama a
atenção da esfera governamental e dos cidadãos, incluindo também os
profissionais da educação. Pode-se dizer, inclusive, que hoje em dia há um
mal-estar, pairando sobre a escola e o trabalho do professor. Acrescenta-se,
ainda, que a própria imagem social da escola parece estar em xeque de tal
forma que os profissionais da área acabam acometidos por uma espécie de
falta aguda de credibilidade.
Desta forma, Groppa8 afirma:
É certo, pois que grande parte dos problemas que enfrentamos como categoria profissional, inclusive no interior da sala de aula, parece te relação imediata com essa lastimável falta de credibilidade da intervenção escolar e, por extensão, da atuação do educador. Além disso, se a imagem da escola está ameaçada, algo de ameaçador está acontecendo também com a ideia de cidadania no Brasil, uma vez que não há cidadania sustentável sem escola. (GROPPA, 1998)
8GROPPA, Julio Aquino. A Indisciplina e a escola atual. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0102-25551998000200011&script=sci_arttext > Acesso em 20 de
março de 2011.
Salienta-se, dessa forma que, no contexto brasileiro atual, uma das lutas
mais marcantes é a luta para garantir a conquista do direito básico à
escolarização, que é um pré-requisito para o exercício da cidadania.
O professor e educador ainda comenta o seguinte:
É importante frisar que, sem escola não há a possibilidade de o cidadão ter acesso, de fato, aos seus direitos constituídos. Afinal, tornar-se cidadão não se restringe ao direito de voto, por exemplo, mas inclui direitos com vistas a uma vida com dignidade, e isto tudo tem a ver mediatamente com escola, pois quanto menor for a escolaridade da pessoa, menores também serão suas chances de acesso às oportunidades que o mundo atual oferece às exigências que ele impõe9.
E finalizando, acrescenta:
Entretanto, alguns poucos ainda parecem questionar a importância intrínseca da escolarização nos dias de hoje. Será isso possível? De uma coisa estejamos certos: num futuro bem próximo, o mundo será implacável com aqueles sem escolaridade. Basta olhar à nossa volta e prestar atenção na situação concreta das pessoas desempregadas, por exemplo10.
No que tange às três questões solicitadas aos alunos, a análise que
estes fizeram sobre um “aluno desinteressado” surpreendeu. A surpresa se deu
em virtude de como os alunos se auto-denominaram e a forma como definiram
um aluno desinteressado.
Ressalta-se, novamente, que o aluno desinteressado não quer aprender,
vai para a escola somente por ‘curtição’ ou porque os pais os obrigam. Quando
os alunos vão para a escola, eles não param dentro das salas de aula, quando
permanecem em sala, eles ficam conversando, bagunçando, brincando e não
prestam a atenção, não se importando quando os professores lhes pedem
atenção. Eles não dão a mínima para os estudos, não possuem perspectivas
para o futuro, não fazem as atividades em sala e as extraclasse.
Eles vão para a sala para atrapalhar aqueles que estão interessados.
Não vêem importância nos estudos, levam as atividades de maneira relapsa,
chegam sempre atrasados, dormem em sala, são desmotivados para os
9GROPPA, Julio Aquino. A Indisciplina e a escola atual. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0102-25551998000200011&script=sci_arttext > Acesso em 20 de
março de 2011.
10
GROPPA, Julio Aquino. A Indisciplina e a escola atual. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0102-25551998000200011&script=sci_arttext > Acesso em 20 de
março de 2011.
assuntos relacionados com a escola, mas se interessam facilmente por
assuntos supérfluos.
Diante de tantas enumerações que caracterizam um “aluno
desinteressado”, diagnosticam-se problemas sérios e preocupantes pelos quais
a educação brasileira passa nos dias atuais. Por outro lado, ninguém duvida
que o ensino é o papel principal da escola, assim, o ambiente escolar precisa
se transformar em um espaço de desenvolvimento de múltiplas atividades de
aprendizagem, as quais demandam a participação ativa de cada um dos
estudantes, mobilizando seus conhecimentos prévios e a ação mediadora do
professor.
Sobre isso, Kramer sustenta a ideia de que:
Embora a escola não seja o único lugar onde se educa, ela se caracteriza como um espaço privilegiado em que se estabelecem relações formais de ensino e de aprendizagem, de forma articulada, planejada, visando à formação integral dos estudantes, de modo a propiciar o desenvolvimento de uma consciência crítica que possibilite a análise e a compreensão do mundo, da história, da cultura e dos processos de trabalho. (KRAMER, 1989, p.27)
Consequentemente, cabe à escola instigar os alunos a pensarem
criticamente e interferirem na sociedade. É pressuposto, pois que a escola seja
vista como um ‘coletivo inteligente’, que parte das experiências educativas
escolares e não escolares vivenciadas no contexto local, ou seja, por meio da
interação dos múltiplos cenários e tipos do aprender, das diferentes culturas,
diferentes sociedades, diferentes grupos sociais, na formação de indivíduos
críticos, autônomos, dentro de uma perspectiva de gestão democrática, que
visa a igualdade e preserve a cidadania.
A aprendizagem não acontece de uma só vez, se realiza ao longo da
vida, a partir das experiências e, no processo escolar, também pela experiência
de situações intencionais e sistematicamente elaboradas visando o
amadurecimento de cada um dos estudantes.
Neste sentido, Pedro Demo afirma:
Educar leva ao aprender e o aprender leva a um exercício autônomo e participativo que possibilita a compreensão da incompletude de toda a aprendizagem; é um exercício de permanente reflexão prática.11
11
DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. Disponível em: <
http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/3459_1799.pdf> Acesso em:
10 de março de 2011.
Na questão referente à relação entre a metodologia utilizada pelo
professor e o desinteresse dos alunos, as respostas recebidas retratam que
todas as professoras que a forma como o professor atua em sala de aula
interfere diretamente no interesse ou desinteresse do aluno. No entanto,
explicitam que o professor não precisa fazer algo de extraordinário em sala
para se fazer notar, é essencial que tenha o domínio de conteúdo, domínio da
turma e da forma como vai explanar o seu conteúdo. Para os professores
participantes do grupo de trabalho, estes devem, sobretudo, demonstrar o
quanto gosta e acredita naquilo que faz, prendendo a atenção do aluno e
despertando nele o gosto pelo estudo. O professor precisa surpreender o seu
aluno a cada novo encontro, despertando nele uma vontade de querer saber
sempre mais.
Com este agir o professor atingirá grande parcela dos seus alunos
motivando-os à aprendizagem. Dispondo de instrumentos tais como aulas bem
preparadas, que instiguem a curiosidade dos alunos, levando-os a descobrirem
as relações entre as disciplinas, tornando o aprender mais dinâmico.
Neste sentido, reforçando este pensamento temos, nas palavras de
Luckesi:
De posse de conhecimentos específicos e seguros sobre o que se deseja fazer com a educação dos alunos cabe ao professor planejar, estabelecer metas, ações e recursos, que implicarão na inserção do aluno na sociedade, na história, na compreensão do seu caráter, de desenvolvimento que traduza um desejo em proposições operativas para construir resultados. (LUCKESI, 2005, p.163).
Já no que tange à metodologia utilizada pelo professor e a relação com
o desinteresse dos alunos, as respostas obtidas dos professores reforçam que
uma metodologia diferenciada para cada conteúdo e até o uso de tecnologias
atrai mais o interesse e curiosidade do aluno, pois o coloca diante da realidade
deles fora da escola, que se traduz na ‘era digital’. Assim, os alunos sentem-se
mais inseridos em sua realidade social, sentindo que a escola possui um perfil
próximo deles, ou seja, não é somente o quadro negro, o giz e as apostilas.
Pode-se dizer que esta metodologia, aliada à tecnologia, também
interage com todas as disciplinas, visto que hoje os conteúdos são tratados
interdisciplinarmente e facilitam mais a curiosidade do aluno, o que mobiliza
sua atenção, mantendo mais seu diálogo com o professor e fazendo com que o
aluno tenha mais afinidade seja com o próprio professor seja com a disciplina.
Consequentemente, com esta afinidade fica mais fácil o professor conscientizar
o aluno da importância dos estudos para que ele possa se firmar como cidadão
neste estado e sociedade capitalistas.
Assim, a maneira como o professor atua, interage com os alunos em
suas aulas pode fazer com que seja admirado ou odiado pelos alunos. Neste
sentido, não se faz necessário uma dinâmica diferente para cada aula, mas sim
que esta esteja bem preparada, que o conteúdo e a turma sejam dominados,
para que com sua presença e explanação de conteúdos, o professor prenda a
atenção do aluno, visando alcançar seu objetivo maior, que é o de ensinar.
Desta forma:
Ensinar, então, ao contrário do que muita gente imagina, vai muito além de promover condições para a construção do conhecimento, tarefa que, sozinho, já constitui uma nobre missão. Ensinar, na verdade, é também desenvolver, junto aos alunos, uma série de importantes e imprescindíveis papéis, nos quais o professor investe a fim de que se tornem paradigmáticos na estruturação da personalidade de seus alunos. (AYRES, 2004, p.16)
Portanto, faz-se necessário que a educação fundamente-se no
conhecimento científico, pois não há nada mais desinteressante do que
profissionais da educação sem domínio do conhecimento, despreparados para
a função que exercem.
Neste sentido, Groppa afirma:
O professor é figura que deve despertar confiança e levar aos alunos o que deve ser ensinado. Dessa maneira, o interesse será imediato. Ele precisa se perceber como professor do pensamento e entender que cabe a ele fazer com que os alunos entrem de um jeito na sala de aula e saiam de outro.12
Assim, na sala de aula, o professor é protagonista, mediador do
processo ensino-aprendizagem. É ele quem conduz e direciona os alunos a
atingirem seu sonho na busca da aprendizagem.
12
Braga, Roberta. Eles não querem aprender? O desinteresse dos alunos é um obstáculo cada
vez maior à educação. Revista Profissão Mestre, maio de 2009.
Já sobre a maneira como os professores dão aula e interferem no
interesse dos alunos, os mesmos se manifestaram no sentido de que a atitude
dos professores tem relação direta com os o seu desinteresse, porque quando
uma explicação é bem dada ou quando os conteúdos são bem fixados a aula
fica mais interessante e tal fato desperta interesse do aluno em aprender. Às
vezes, o professor explica o conteúdo e o aluno não compreende e pede nova
explicação, que vem de forma diferente e mais acessível ao entendimento,
porque especifica os pontos mais importantes do assunto.
Em certos momentos, os alunos remetem ao fato de que o professor
não desempenha eficazmente o seu trabalho, no sentido de que se enrolam na
explicação do assunto e os alunos não conseguem entendê-los. Desta forma,
os professores devem estar seguros daquilo que vão ensinar, para não fazê-lo
de forma incorreta e enfadonha.
Há ainda os relatos de que os professores pedem repetidamente para
que os alunos leiam e resumam a matéria sem interagir com eles, sem explicar
o conteúdo, tornando a matéria difícil de ser assimilada e, consequentemente,
despertando o desinteresse dos estudantes. Inclusive, o desinteresse se
manifesta no momento em que o professor não sabe explicar a matéria ou fica
ressaltando os argumentos insistentemente.
Em contrapartida, cumpre dizer que aulas mais criativas relacionadas
com outras atividades se mostram muito eficazes e interessantes, ainda mais
se tiverem uma linguagem mais moderna e fácil para o entendimento dos
alunos e se forem combinadas com o uso de recursos como a televisão, o
data-show etc.
Não há dúvidas, entretanto, de que a autoridade do professor perante a
classe só é conquistada quando ele domina o conteúdo e sabe lançar mão de
estratégias eficientes para ensinar seus alunos, visto que aulas bem planejadas
e atraentes, com metodologias diversificadas se fazem necessárias, pois hoje o
professor interage com alunos conectados ao mundo por diferentes redes e
ferramentas que querem conteúdos trabalhados modernamente e de forma a
lhes transmitir segurança, porque suas dúvidas serão esclarecidas e o
conteúdo aprendido.
Acrescenta-se, sobretudo, que o bom professor dirige a relação entre
ensino e aprendizagem, orientando o aluno para o saber e gerenciando o
conhecimento. Portanto, a aprendizagem se efetiva quando o indivíduo se
apropria dos elementos culturais necessários à sua formação e à sua
humanização.
Aprender e ensinar são processos inseparáveis. Isto acontece porque o
ato de ensinar, como afirma Saviani, se traduz nas seguintes palavras:
É o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. (SAVIANI, 1995, p.17)
Nada mais democrático que ensinar com o compromisso que haja a
aprendizagem por parte de todos os alunos. Contudo, a forma, o tempo e o
entorno pelo qual se aprende, por parte dos sujeitos são diferentes. Não se
trata de negligenciar o que deve ser ensinado em nome das dificuldades do
sujeito, deve-se sim, modificar as formas de mediação para que ele de fato
aprenda. Ressalta-se que esta preocupação da escola com o atendimento à
diversidade social, econômica e cultural existentes que lhe garantem o
reconhecimento de instituição voltada, indistintamente, para a inclusão de
todos os indivíduos (...) o grande desafio dos educadores é estabelecer uma
proposta de ensino que reconheça e valorize práticas culturais de tais sujeitos
sem perder de vista o conhecimento historicamente produzido, que constitui
patrimônio de todos (SEED/PR, 2005)13.
Desta forma, afirma Vygotsky:
A aprendizagem é um processo histórico, fruto de uma relação mediada e possibilita um processo interno, ativo e interpessoal (VYGOTSKY, 1995, p.14)
No que tange a relação entre os conteúdos trabalhados em sala de aula
nas diferentes áreas de conhecimento e a questão do desinteresse dos alunos,
as nove professoras foram unânimes.
Elas acreditam que há conteúdos extremamente “chatos”, mas que
servem de base para outras aprendizagens. Por isso é preciso, entretanto,
dialogar com o aluno a fim de conscientizá-lo sobre a importância dos
conteúdos construídos historicamente. Tais iniciativas o motivarão a conhecer
o legado deixado pela humanidade, tornando-o um cidadão melhor. O aluno
13
SEED/PR. Inclusão e diversidade: reflexões para a construção do Projeto Político-Pedagógico . Curitiba, SEED/DEEIN, 2005
pode não ver a necessidade de certo conteúdo, mas o professor deverá
explicar sua importância para avançar e torná-lo interessante.
O conteúdo bem trabalhado pelo professor e aprendido pelo aluno é um
alicerce a mais na construção do saber. Neste sentido, afirma Saviani:
O papel do professor é garantir que o conhecimento seja adquirido, às vezes, mesmo contra a vontade dos jovens que, espontaneamente, não tem condições de enveredar para a realização dos esforços necessários à aquisição de conteúdos mais ricos e sem os quais ele não terá chance de participar da sociedade. (SAVIANI, 1986, p.53).
Há que se ressaltar que na questão dos conteúdos trabalhados em sala
de aula nas diferentes áreas de conhecimento e a relação com o desinteresse
dos alunos, houve consenso entre os professores, visto que os mesmos
acreditam que nem todo o conteúdo das disciplinas é atraente, prazeroso,
fácil e acessível ao entendimento dos educandos, visto que alguns conteúdos
estão fora da realidade de seu cotidiano.
Alguns alunos questionam o fato de que, em todas as disciplinas,
existem conteúdos chatos, mas não se dão conta de que os conteúdos se
entrelaçam, que todo conhecimento tem sua origem e, muitas vezes, um
conteúdo dá suporte para o conteúdo de outras disciplinas.
É necessário, contudo, o entendimento por parte do aluno que, no
universo dos estudos, todo conteúdo é importante, pois ampliam
significativamente os conhecimentos tão necessários em suas vidas e na vida
de todos.
Salienta-se que os alunos ainda não se conscientizaram de que os
conteúdos trabalhados na escola não são meras informações que encontramos
diariamente nos meios de comunicação, mas sim conceitos construídos
historicamente, com a sua devida importância, daí a necessidade de serem
estudados e aprendidos para que haja avanço na aprendizagem. Assim, para
facilitar esta aprendizagem, os conteúdos são trabalhados
interdisciplinarmente, fundamentando um conceito de totalidade apresentado
nas D.C.E. da Educação Básica14, a saber:
Explicita-se que as disciplinas escolares são herméticas, fechadas em si, mas a partir de suas especialidades, chamam umas às outras e, em conjunto, ampliam a abordagem dos conteúdos de modo que
14 SEED/PR. Diretrizes Curriculares da Educação Básica. Curitiba: SEED, 2008.
se busque, cada vez mais, a totalidade, numa prática pedagógica, que leve em conta as dimensões científica, filosófica e estatística. (D.C.E., 2008, p.29)
Tal posição é a mesma defendida por Luis Carlos Menezes15, físico e
educador, o qual defende que os conteúdos são como ingredientes usados na
elaboração de um prato, ou seja, devem agregar saberes, sabores e valores
que agregados harmonizam, constroem e promovem cultura.
Assim:
Os saberes são conteúdos em si, não importam a série e a disciplina. Os sabores são as formas de despertam o gosto pelo conhecimento, envolvendo os alunos em atividades significativas. Os valores, produto desse processo, são a própria cultura que se constroi em cada turma.
Portanto, para os conteúdos não atraentes, o autor ainda afirma que
“preparar aulas, mais do que selecionar assuntos, é motivar quem vai aprender
sem o que a Educação se frustra porque não se dá o aprendizado.” Menezes
diz não acreditar que ensinar seja apenas transferir uma lista de conteúdos.
Quando questionado aos estudantes se eles se interessavam pelos
conteúdos das disciplinas trabalhadas em sala observou-se que não houve
unanimidade nas respostas. Uma parte dos alunos respondeu que havia
interesse, apesar de não gostarem de algumas disciplinas e de alguns
professores. Nota-se que, embora, haja uma falta de afinidade em alguns
aspectos, os alunos vão à escola para aprender tudo, pois acreditam que
precisarão da maior quantidade de conteúdo possível visando o objetivo de
passar no vestibular. Outra parte dos alunos, entretanto, se mostrou
identificada com a disciplina e motivada no sentido de aumentar o
conhecimento pessoal.
É importante salientar que os alunos que responderam o questionário se
justificaram no sentido de achar que algumas disciplinas têm certo grau de
dificuldade e acreditam não precisar de tais matérias no futuro. Os estudantes
afirmaram que os professores não dominam o conteúdo, não explicam bem a
matéria, o que culmina no não aprendizado, visto que, além desses fatores,
muitas matérias não despertam o interesse. Algumas disciplinas não caem no
gosto do aluno pelo fato de ele não gostar do professor. Desta forma, o aluno 15
MENEZES, Luiz Carlos de. Sobre saberes, sabores e valores. Revista Nova Escola. No
226,
outubro de 2009, p.134.
não entende a matéria, não a estuda, acham os conteúdos chatos e inúteis e,
quando os professores estão ensinando, eles se entediam de ta forma a sentir
sono no decorrer das aulas.
As justificativas apresentadas acima são compreensíveis, mesmo
porque se sabe que estudar não é um prazer em sua totalidade e as
dificuldades de aprendizagem e compreensão dos alunos em relação aos
conteúdos ministrados, sejam eles de qualquer disciplina, quando se
apresentam, vão criando empecilhos no progresso do aluno, causando por
conseqüência o desinteresse pelos estudos.
Sobre isto, Aquino assevera:
É necessária a experimentação de novas estratégias de trabalho. Precisamos tomar o nosso ofício como um campo privilegiado de aprendizagem, de investigação de novas possibilidades de atuação profissional. Sala de aula e laboratório pedagógico, sempre! Não é o aluno que não se encaixa no que nós oferecemos; somos nós que, de certa forma, não nos adequamos às suas possibilidades. Precisamos, então, reinventar os métodos, precisamos reinventar os conteúdos, em certa medida, precisamos reinventar nossa relação com eles, para que se possa, enfim, preservar o alvo ético do trabalho pedagógico.16
Muitas vezes, entretanto, tem-se a impressão de que os alunos não têm
interesse algum naquilo que as professores têm para lhes ofertar. Ou então,
que os conteúdos escolares seriam, na verdade, alheios aos interesses
imediatos, pontuais do jovem contemporâneo, mas é fundamental, portanto,
que se tenha claro que, em sala de aula, o ponto de partida é a informação, e o
ponto de chegada é o conhecimento, e, o trabalho escolar visa, sem sombra de
dúvidas, a transformação do pensamento do aluno.
Neste sentido, a fim de ilustrar tais argumentos, ressalta-se a citação
das pesquisas do PDE, desenvolvidas por Irene Liesemberd Souto Maior17, que
menciona Snyders (1997), a saber:
A renovação dos conteúdos possibilita também a renovação dos métodos e relações, pois quando a escola propõe temas de estudo que ajudam os alunos a superar suas incertezas e angústias, o autoritarismo pode dar lugar a atitudes de cooperação. “Se os conteúdos a alcançar se inscrevem no prolongamento daquilo que os alunos esperam, então o mestre deixa de ser o inimigo e já nem é um ser exterior” (SNYDERS, 1978, p.313).
16
GROPPA, Julio Aquino. A Indisciplina e a escola atual. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0102-25551998000200011&script=sci_arttext > Acesso em 20 de
março de 2011. 17 SOUTO MAIOR. Irene Liesemberg. Buscando a alegria na sala de aula . S/d.
Souto Maior ainda acrescenta:
Os alunos somente terão acesso a conteúdos verdadeiros se estes estiverem em continuidade com sua própria experiência. É necessário também que ultrapassem a experiência inicial, pois “as necessidades não são inerentes ao indivíduo. A produção material da sociedade é que determina os hábitos, gostos e necessidades. Por isso a educação não pode limitar-se aos desejos manifestos” (...), mas partindo deles, deve ir além. (SOUTO MAIOR, s/d, p. 07-08; 320)
Considerações Finais
Este material teve como objetivo coletar e discutir opiniões das pessoas
envolvidas no processo educativo, ou seja, professores pedagogos e alunos, a
respeito do desinteresse dos educandos contemporâneos no contexto escolar.
Juntamente com a crise existe, também, um “mal-estar” e apesar de eles
serem históricos e acompanharem a educação desde sempre. Entretanto,
ainda há muito a se discutir sobre o problema enfrentado pelos professores.
É fato que a educação está em crise e que ainda há muito a se discutir
sobre o problema enfrentado pelos professores em sala de aula, onde
encontramos alunos sem interesse no aprendizado, desmotivados, alunos
despreocupados com a sua formação intelectual e que vêem a escola como
uma instituição retrógrada.
Nota-se, sobretudo, que está situação está frequentemente presente nos
discursos governamentais e nas propostas de práticas e inovadoras,
mostrando, desta forma, preocupação com o desenvolvimento dos sujeitos
para que se tornem indivíduos humanizados e comprometidos com o meio em
que vivem. Há necessidade, entretanto, que mudanças sejam implantadas na
forma de se trabalhar em sala de aula, o que nos remete a pensar sobre a
formação de professores.
Sabemos que a melhoria da educação depende de políticas públicas a
médio e a longo prazo, e faz-se necessário pensar sobre o desinteresse que
afeta os alunos vinculando ao que se espera do profissional professor no
desempenho de seu trabalho em sala de aula. Sabemos também que não há
uma única solução para tal problema. Não existem “receitas” prontas, nem
mesmo atalhos que consigam despertar o prazer e interesse dos alunos para
com a escola. Tem-se plena convicção de que essa tarefa é bastante árdua e
exige que se tenha diálogo e negociações sobre o que se entende que seja o
papel de cada um em sala de aula – professores e alunos.
Ainda que não seja possível apontar esses caminhos, pois cada escola
se constitui como única e é a partir de suas singularidades que os
encaminhamentos devem ser pensados, ousamos finalizar esse artigo
destacando que o estabelecimento conjunto de metas e a participação de cada
um na concretização das mesmas, pode ser um caminho promissor. Em outras
palavras, é importante envolver o aluno compreendendo-o para além do
contexto de sala de aula.
A crise da instituição escolar se manifesta incidindo muito diretamente
sobre os professores que, mediante tantas incertezas e para que o processo
educativo aconteça de forma satisfatória, vê-se obrigado a encontrar formas
para que o aluno permaneça na escola, se interesse por ela, procura formas de
incentivá-los e ajudá-los em suas dificuldades a fim de que se obtenha êxito na
aprendizagem.
O fato é que, nas reformas educacionais, não se deve levar em conta só
a melhoria da aprendizagem dos alunos, mas também incluir professores,
comunidade educativa, o funcionamento da instituição escolar e as relações
entre a escola e a sociedade, visto que todos estes elementos interagem entre
si. Nesse sentido, faz-se necessário motivar os alunos para além do aprender
em sala de aula. É primordial motivá-lo para viver em uma sociedade que só
pode ser constituída a partir da participação de todos.
É necessário, também, que se tomem medidas prévias, se estabeleça
metas, se reflita e se planejem as ações que visem à concretização de
objetivos, prevendo, então, a ação que se quer atingir.
Acredito, também, que o professor, com conhecimento das condutas da
clientela, pode praticar intervenções em sala, cuidando da indisciplina e
motivando seus alunos a prestarem atenção ao conteúdo exposto, pois nem
todo aluno tem problemas de aprendizagem em todas as disciplinas. Nem todo
aluno é inteligente o suficiente para aprender tudo, assim como nem todo
professor ministra as aulas maravilhosamente, explicando bem e é atento às
dificuldades que alguns apresentam, assim como há professores que não
medem esforços no uso de estratégias e metodologias a fim de atingir seu
objetivo, qual seja o da aprendizagem do aluno. Desta forma, o exercício da
profissão de professor deve ser feito com prazer e competência.
Assevera-se que, com estas atitudes, será mais difícil haver um número
tão alto de alunos desinteressados em sala de aula nas escolas brasileiras.
Por fim, observa-se que a educação está entre as atividades mais
elementares e necessárias da sociedade humana e deve ser renovada de
acordo com as mudanças e transformações que a sociedade demanda, do
contrário, o sistema educacional estará fadado à falência. Neste sentido, temos
as palavras de Tânia Zagury, a qual afirma: “que ninguém deplore, mais tarde,
a perpetuação dos baixos níveis de qualidade no ensino”. Desejo, assim, uma
boa sorte a todos, porque o trabalho é árduo e ainda existe uma longa estrada
a ser percorrida.
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