da escola pÚblica paranaense 2009 - … · um lenço e uma penca de documentos pra finalmente eu...

16
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

Upload: haduong

Post on 11-Nov-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

MATERIAL DIDÁTICO

PROFESSORA: SÔNIA MARIA OVÇAR ENDO

PDE 2009

UNIDADE DIDÁTICA

(...) Aprender a falar é aprender a estruturar enunciados, e os gêneros do discurso, por sua vez, organizam nossa fala, assim como organizam as formas gramaticais (sintáticas). (Bakhtin, 1992:301-302).

Atividade 1

A letra da música “Meu Guri”, Chico Buarque nos remete para um grande problema

social: O mundo obscuro dos nossos adolescentes que vivem em periferias, que sofrem,

que são perseguidos, e que por motivos de abandono ou falta de oportunidades,

acabam no mundo do crime e da marginalização.

O Meu Guri

Chico Buarque

Quando, seu moço, nasceu meu rebento Não era o momento dele rebentar Já foi nascendo com cara de fome E eu não tinha nem nome pra lhe dar Como fui levando, não sei explicar Fui assim levando ele a me levar E na sua meninice ele um dia me disse Que chegava lá Olha aí Olha aí Olha aí, ai o meu guri, olha aí Olha aí, é o meu guri E ele chega Chega suado e veloz do batente E traz sempre um presente pra me encabular Tanta corrente de ouro, seu moço Que haja pescoço pra enfiar Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro Chave, caderneta, terço e patuá Um lenço e uma penca de documentos Pra finalmente eu me identificar, olha aí Olha aí, ai o meu guri, olha aí Olha aí, é o meu guri E ele chega

Chega no morro com o carregamento Pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador Rezo até ele chegar cá no alto Essa onda de assaltos tá um horror Eu consolo ele, ele me consola Boto ele no colo pra ele me ninar De repente acordo, olho pro lado E o danado já foi trabalhar, olha aí Olha aí, ai o meu guri, olha aí Olha aí, é o meu guri E ele chega Chega estampado, manchete, retrato Com venda nos olhos, legenda e as iniciais Eu não entendo essa gente, seu moço Fazendo alvoroço demais O guri no mato, acho que tá rindo Acho que tá lindo, de papo pro ar Desde o começo, eu não disse, seu moço Ele disse que chegava lá Olha aí, olha aí Olha aí, ai o meu guri, olha aí Olha aí, é o meu guri. http://www.espacoacademico.com.br/

Vocabulário

Rebento: filho (sentido figurado).

Rebentar: nascer ( sentido figurado).

Batente: trabalho diário.

Patuá: espécie de amuleto

Alvoroço: alarde, tumulto.

* Após a leitura em voz alto do texto, propõe-se que seja ouvida a música.

1) Questões sobre o texto

1) Na primeira estrofe, o autor sugere que tracemos um perfil da mãe. Como a

descreveríamos?

2) Notamos que a forma rápida o guri começa a “trabalhar” e ganhar dinheiro. O que o

levou a procurar na marginalidade a solução para os seus problemas?

3) Qual você acha que foi o titulo da manchete no jornal?

3) Em sua opinião, o que seria preciso para que o destino da personagem do texto

tivesse possibilidade de ser diferente?

4) Os menores infratores crescem de forma acelerada em nossa sociedade, eles são

parte e fruto do meio em que vivem. Que alternativas você sugere para que o futuro

desses jovens não acabe nos sistemas carcerários ou ainda dizimados pelo narcotráfico?

2) FILME: Os alunos assistirão ao filme Pixote – A Lei do mais fraco

Informações Técnicas Título no Brasil: Pixote - A Lei do Mais Fraco Título Original: Pixote - A Lei do Mais Fraco País de Origem: Brasil Gênero: Drama Tempo de Duração: 127 minutos Ano de Lançamento: 1981

Site Oficial: Estúdio/Distrib.: Direção: Hector Babenco

Sinopse

Pixote (Fernando Ramos da Silva) foi abandonado por seus pais e rouba para viver nas ruas. Ele já esteve internado em reformatórios e isto só ajudou na sua "educação", pois conviveu com todo o tipo de criminoso e jovens delinqüentes que seguem o mesmo caminho. Ele sobrevive se tornando um pequeno traficante de drogas, cafetão e assassino, mesmo tendo apenas onze anos.

2) Debate:

Parte de nossos “guris” estão no mundo do crime e isso é um problema de todos nós. Precisamos entender que a sociedade constrói seus delitos ao longo do tempo e a cultura reforça determinadas predisposições individuais. A criação de redes de proteção social como: auxílio familiar, renda mínima, geração de emprego e o desenvolvimento de atividades que possam atrair as crianças e jovens, como o esporte, a cultura e o lazer seriam as soluções para eliminar o trabalho infantil no narcotráfico?

4) Produção de texto

À partir das leituras e discussão em grupo, desenvolva um texto dissertativo com tema: O drama da infância marginalizada.

4) Sugestão de leitura – Pixote – Infância dos Mortos

Entre o real e o imaginário

Pixote - Infância dos Mortos, de José Louzeiro (Ediouro-Tecnoprint; 1977; 192 páginas; R$ 11,90) Meninos de rua, sem família, sem estudo e sem perspectiva de uma vida mais digna. São crianças que têm a infância obscurecida pelo mundo das drogas e do crime. Vivem à mercê da sorte. Não vão à escola, mas as ruas se incubem de ensinar-lhes as lições. Desconhecem onde vão dormir ou

o que comer, mas sabem o que fazer para resolver esse problema. Em algum momento até sonham em mudar de vida, mas os sonhos acabam se convertendo em esperança de se tornar conhecido no mundo do crime. Esse é exatamente o cenário de Pixote - Infância dos Mortos, livro escrito pelo jornalista José Louzeiro em 1977. A trama descreve a trajetória de um grupo de meninos que se conhecem na rua e se tornam amigos. Pixote é o menor deles, tem apenas 9 anos de idade. Seus companheiros são Dito, Fumaça e Manguito. A rua não é o único ponto em comum entre eles; o destino será cruel com todos. A obra é realista, pesada, crua. Choca e escandaliza ao descrever a realidade das ruas. Diferente do que muitos pensam, o personagem principal do livro acaba sendo Dito. Dos amigos de Pixote, ele é o mais velho. É o que dita as regras, que luta contra a polícia, que faz as transações com os traficantes, que diz quem deve matar ou morrer. É também o protetor do grupo e na maioria das vezes o mais sensato. Por ser o mais forte, Dito acompanha o fim de todos, um por um, até se encontrar só, lutando pela sobrevivência. O personagem Pixote, mesmo tendo uma breve participação no livro de Louzeiro, foi inspiração para que, quatro anos mais tarde, o diretor Hector Babenco lançasse o filme Pixote - A Lei do Mais Fraco (1981). Neste, o menino Pixote é abandonado por seus pais e acaba caindo nas ruas. Tem somente 11 anos de idade, mas já conhece tudo o que diz respeito às drogas, ao crime, à marginalidade, à violência, à indiferença. O filme de Babenco recebeu vários prêmios e marcou o cinema da época ao abordar o polêmico assunto. A história do menino Pixote poderia ter parado por aí. No entanto a ficção ganhou contornos mais reais do que se imaginava. Escolhido para interpretar Pixote, Fernando da Silva Ramos, menino pobre da periferia, experimentou, mesmo que instantaneamente, o gosto da fama. Esta não durou muito tempo. Fernando até tentou seguir carreira, mas as oportunidades não apareceram. Envolve-se com o crime e vai preso. Anos mais tarde foi morto pela polícia. Sua história inspirou o livro Pixote Nunca Mais, de Cida Venâncio, e o filme Quem Matou Pixote?, de José Joffily. Pixote fez parte de histórias diferentes, mas que de uma forma ou outra foram muito iguais. O imaginário e o real. Um pobre menino de rua, que viveu a realidade de uma vida baseada no crime, nas drogas e na falta de expectativas.

José de Jezus Louzeiro foi co-roteirista do filme Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1975) , também dirigido por Babenco. Escreveu cerca de 40 romances e boa parte do gênero policial.

No Brasil é o primeiro escritor a trabalhar com o gênero romance-reportagem.

SOBRE O AUTOR:

José de Jesus Louzeiro (São Luís do Maranhão, 19 de setembro de 1932) é

um escritor, e roteirista brasileiro.

Iniciou sua carreira como estagiário em revisão gráfica no jornal "O Imparcial" em 1948 aos dezesseis anos de idade. Em 1953, aos 21 anos, se transfere para o Rio de Janeiro onde foi trabalhar no semanário: "A revista da semana" e no grupo dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, mais especificamente como "Foca" em "O Jornal" e daí foi deixando suas marcas através de suas redações nos jornais "Diário Carioca", Última Hora, Correio da Manhã, "Folha e Diário do Grande ABC" e nas revistas Manchete e Diário Carioca.

Por mais de vinte anos atuou também como repórter policial. Na literatura estreou com o conto "Depois da Luta", em 1958, no cinema escreveu os diálogos do filme: Lúcio Flávio, o passageiro da agonia, baseado no romance de sua autoria lançado em 1976 pela Editora "Civilização Brasileira". Escreveu outros livros sobre casos policiais famosos como O caso Aracelli e O assassinato de Cláudia Lessin Rodrigues. Seus livros são, na maioria, contos biográficos, narrados como romance-reportagem, chegando perto de quarenta publicações. A ele se atribui a introdução no Brasil do gênero literário Romance-reportagem, que no exterior tivera como representante Truman Capote, que escreveu A sangue frio.

Assinou também o roteiro de dez filmes, sendo quatro deles já populares como Pixote, a lei do mais fraco, Os amores da Pantera de Jece Valadão, O homem da capa preta e Amor Bandido, com Paulo Gracindo.

Escreveu telenovelas como Corpo Santo e Guerra sem fim. Mas sua telenovela O Marajá, uma comédia baseada no governo de Fernando Collor de Melo, foi proibida de ir ao ar, numa época em que não havia mais censura no Brasil. Depois desse episódio, o autor conta que começou a enfrentar dificuldades para realizar novos projetos na televisão.

4) LEITURA

"A leitura após certa idade distrai excessivamente o espírito humano das suas reflexões criadoras. Todo o homem que lê de mais e usa o cérebro de menos adquire a preguiça de pensar." Albert Einstein.

Etimologicamente, ler deriva do latim "lego/legere", que significa recolher, apanhar, escolher, captar com os olhos. Nesta reflexão, enfatizamos a leitura da palavra escrita. "[...] a leitura, para atender o seu pleno sentido e significado, deve, intencionalmente, referir-se à realidade. Caso contrário, ela será um processo mecânico de decodificação de símbolos". Luckesi (2003,p.109)

Investigações atestam que o sucesso nas carreiras e atividades na atualidade, relaciona-se, estreitamente, com o hábito da leitura proveitosa, pois além de aprofundar estudos, possibilita a aquisição dos conhecimentos produzidos e sistematizados historicamente pela humanidade.

O objetivo maior ao proceder à leitura de uma determinada obra consiste em "[...] aprender, entender e reter o que está lendo." (MAGRO, 1979, p. 09). Por conseguinte, inquestionavelmente, a leitura é uma prática que requer aprendizagem para tal e, sem sombra de dúvida, uma atividade ainda pouco desenvolvida.

Habilidades para aperfeiçoar o hábito de ler:

- Ler com objetivo determinado, isto é ter uma finalidade. Saber por que se está lendo;

- Ler unidades de pensamento e não palavras por palavras. Relacionar idéias;

- Avaliar o que se está lendo, perguntando pelo sentido, identificando a idéia central e seus fundamentos;

- Aprimorar o vocabulário esclarecendo termos e palavras "novas". O dicionário é um recurso significativo.

- Adotar habilidades para conhecer o livro, isto é, indagar pelo que trata determinada obra;

- Freqüentar espaços e ambientes que contenham acervo literário, por exemplo, bibliotecas;

- Ler assuntos vários. Não estar condicionado a ler sempre a mesma espécie de assunto.

O ato de ler é um exercício de indagação, de reflexão crítica, de entendimento, de captação de símbolos e sinais, de mensagens, de conteúdo, de informações... É um exercício de intercâmbio, uma vez que possibilita relações intelectuais e potencializam outras. Permite-nos a formação dos nossos próprios conceitos, explicações e entendimentos sobre realidades, elementos e/ou fenômenos com os quais defrontamo-nos.

A leitura no seu sentido geral amplia nossos horizontes e nos transporta ao mundo da imaginação, sem contar os conhecimentos mil que acabamos adquirindo quando mergulhamos em universos desconhecidos como a literatura policial, a literatura infantil ou infanto-juvenil, a literatura fantástica, a literatura clássica, além dos artigos políticos, econômicos, sociais e culturais encontrados nos jornais e em outros veículos de informação impressa. Portanto, é de suma importância desenvolver em nós uma "cultura de leitura",

pois só assim seremos aprendizes e formadores de opinião em todo ambiente social e democrático que estivermos.

5) AMPLIAÇÃO DE HORIZONTES: TRABALHO INFANTIL X INFÂNCIA PERDIDA.

. “Muitas vezes a lei é cruel, hipócrita. Em alguns casos, o trabalho infantil pode ser benéfico, educativo. É indiscutível que o lugar da criança é na escola. Mas se levarmos em conta determinados contextos sociais, creio que seja melhor ter uma criança trabalhando com o pai, aprendendo um ofício, do que ter essa criança no narcotráfico” Siro Darlan (presidente do Conselho Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente do Rio de Janeiro).

O que diz a lei

A Constituição brasileira veda qualquer tipo de trabalho para menores de 16 anos, salvo a condição de aprendiz para os jovens de 14 a 16 anos .

Trabalho infantil é toda a atividade desempenhada por uma criança abaixo de 14 anos que gere lucro. É a mão-de-obra prestada e remunerada, apropriada por outro

Exceção: A convenção 138 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) admite a participação da criança em manifestações artísticas com a aprovação da autoridade competente.

VAMOS CONHECER ALGUNS EXEMPLOS:

Bem-sucedidos

Selton Melo: Aos 8 anos, estreou na TV na novela Dona Santa, da

Bandeirantes. Desde então fez vários trabalhos na televisão. Ficou um tempo longe das telas, mas voltou com força total no cinema .

Débora Secco: Seu primeiro trabalho foi em um comercial de TV, aos 8 anos. Trabalhou no programa da Angélica, na TV Manchete, e no Clube da Criança. Teve papel de destaque no seriado Confissões de Adolescente, da TV Cultura. Hoje segue fazendo sucesso nas novelas globais

Isabela Garcia: Estreou na TV aos 4 anos num episódio de Caso

Especial da Rede Globo. Aos 10, fez Nina, a primeira das 16 novelas de sua carreira. Isabela cresceu no vídeo e está até hoje nas telas da TV

Glória Pires: A atriz estreou aos 7 anos em A Pequena Órfã, em 1969. Este ano ela comemora 40 anos de carreira .

Tristes fins

Macaulay Culkin depois de travar longas batalhas jurídicas com os pais

por terem sumido com sua fortuna, o menino entrou para o mundo das drogas .

No Brasil, Simony, do Balão Mágico, começou a trabalhar aos 5 anos, sumiu, voltou, sumiu de novo, posou para a Playboy, virou evangélica e casou com um presidiário .

Fernando Ramos da Silva, protagonista do filme Pixote, de Hector

Babenco. Morador de rua, Ramos entrou para o crime após o fim das gravações e anos depois acabou morto pela polícia.

SOBRE O TRABALHO INFANTIL NO BRASIL

No Brasil, o trabalho infantil é proibido por lei. Só pode trabalhar quem tem mais de 14 anos, na condição de aprendiz e durante poucas horas por dia, para que isso não atrapalhe seus estudos. Antes de completar 18 anos, ninguém pode trabalhar depois das 10 horas da noite, muito menos em lugares perigosos.

Infelizmente, a lei está longe de refletir a realidade do Brasil. Um relatório recente da Organização Internacional do Trabalho (OIT) revelou que há mais de 5 milhões de jovens trabalhando no país, sendo quase 3 milhões em situação irregular: muitos deles trabalham como escravos ou para pagar dívidas assumidas pelos pais. O mesmo relatório indica que esses números vêm caindo desde o início da década de 1990, mas o trabalho infantil não deve acabar até 2015.

Crianças de 10 a 17 anos trabalhando no Brasil (em milhões)

ENTREVISTA: Luiz Gonzaga de Araújo - é assessor de políticas sociais da Contag - Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura e integra a Coordenação da Marcha Global contra o Trabalho Infantil.

Velúcio Leão – defesa das crianças brasileiras

Como o senhor avalia o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - Peti?

O Peti tem a finalidade de atender crianças para que elas possam concluir o ensino fundamental, de 1ª a 8a série. Só que, como ele deve ser concluído até os 14 anos, uma das diretrizes do programa presume que, ao completar 15 anos, a criança já tenha concluído o ensino fundamental - o que não é verdadeiro, sobretudo no ponto de vista do campo. Então, o que acontece? Muitas crianças começam a estudar só a partir dos 8, 9, 10 anos de idade. Quando chega aos 14 anos, não concluíram ainda o ensino fundamental. Como aos 15 anos elas estão fora do programa, elas voltam para o trabalho. O Peti foi criado em 1996. Velúcio Leão foi um dos primeiros a fazer parte do programa mas já completou 15 anos. Como ele está?

Isso, ele foi um dos primeiros. Ele perdeu a bolsa do Peti recentemente. Ele completou 15 anos no mês de julho. O que aconteceu com Velúcio acontece com todo mundo. Só em Pernambuco, até dezembro de 2000, 21 mil crianças ficaram de fora. Isso está acontecendo em 26 estados do Brasil. Da região do sisal, Velúcio é apenas um exemplo. Se você fizer um levantamento onde existe o Peti, vai ver que é a mesma coisa. O Peti é apontado como o principal responsável pela diminuição do trabalho infantil nos últimos cinco anos. O senhor concorda com isso? O Peti é um programa muito importante. Agora, ele por si só não é suficiente. Tem que se criar políticas públicas de geração de renda permanente, de maneira que ele possa se constituir em um acessório e não no principal. Eu gostaria de chamar a atenção para o fato de que o Peti tem de ser redimensionado para atender os adolescentes até os 18 anos de idade. E essas negociações para redimensionar o Peti, elas têm avançado?

Olha, na Secretaria de Estado de Assuntos Sociais, que é a gestora do programa, o entendimento é que o limite continua sendo 15 anos. O que está sendo feito são discussões no âmbito do Ministério da Educação, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, para se discutir o programa de renda mínima ou para que os créditos do PRONAF - Programa Nacional de Agricultura Familiar-, os R$ 3,7 bilhões que nós negociamos, sejam liberados. Enfim, existem propostas. Agora, infelizmente, elas não estão sendo viabilizadas. E mais grave: as crianças e os adolescentes estão voltando para o trabalho! E qual era a situação escolar dele em 2000? Velúcio devia estar na 7a série. Mas eu não tenho certeza se ele foi reprovado ou não. Sobre esses detalhes é melhor conversar com ele. [O Educacional tentou conversar com Velúcio. Como ele não tem telefone, o senhor Noé Carneiro, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Retirolândia/BA, ficou de lhe transmitir nosso recado e de marcar um encontro com ele.] Mas o senhor saberia dizer como andava o moral dele?

Ele estava decepcionado, inclusive sofreu uma mutilação. Ele quer estudar, mas não pode. Esses R$ 25,00 são muito importantes para as famílias. E junto com Velúcio há mais de cinco mil crianças! Quer dizer que, para piorar, ele sofreu um acidente? É, foi um acidente de trabalho. Felizmente, ele cortou só o dedo, mas não deixa de ser uma mutilação. Ele está passando por um momento muito crítico. Uma coisa preocupante é o fato de ele ser um símbolo dessa luta das crianças. O senhor esteve com ele na Marcha Global contra o Trabalho Infantil, em 98? Estive. Nós viajamos juntos. No Brasil, fomos até o Rio Grande do Sul, passando por São Paulo. Na Europa, nós participamos da marcha em Portugal, na Espanha, na França e na Suíça. Na França, ele chegou a fazer um pronunciamento. Velúcio é um menino muito ativo. Ele participou de todas as mobilizações. Ele fez pronunciamentos em todos os lugares por onde passamos, sempre defendendo que a criança não deve trabalhar e que o trabalho da criança é a escola e o lazer. Qual foi o percurso da marcha?

A marcha foi lançada no Brasil em fevereiro de 98, por ocasião do lançamento da Campanha da Fraternidade [da CNBB] daquele ano. A Marcha da América do Sul saiu daqui, do Brasil, e seguiu até Buenos Aires, na Argentina. De lá percorreu toda a América Latina. Ela reuniu crianças da América Latina, da África, da Ásia e da Europa, enfim, de todos os continentes. A marcha continua. O tema que mais temos discutido é educação. Quais foram as principais conquistas da marcha? O grande debate estabelecido na marcha foram as chamadas "piores formas de trabalho infantil", que resultou na Convenção 182 da OIT - Organização Internacional do Trabalho. A convenção diz que cada país definirá as chamadas "piores formas de trabalho infantil" e, num prazo de um ano, deve implementar as políticas públicas para eliminá-las. Agora, o grande debate no Brasil é que nós temos uma legislação avançada, a Constituição, o Estatuto da

Criança e do Adolescente, e temos dificuldades internas. Segundo a Emenda Constitucional nº 20, nenhuma criança com menos de 16 anos pode trabalhar. E como tem se desenrolado esse debate no Brasil? No Brasil, está em debate em uma comissão tripartite, da qual eu faço parte. Essa comissão é formada por representantes dos trabalhadores, a representação dos empregadores e o governo. Nós, trabalhadores, entendemos que não tem por que se definir as piores formas de trabalho infantil, porque a nossa lei já proíbe. Mas quais seriam as ocupações mais prejudiciais às crianças?

Ah, só na lista que fizemos já temos 82! Vai do corte de cana ao trabalho com sisal, carvoaria, tijolo, cavalariça, produção de sal, trabalho em hospitais... É muita coisa. Há uma discussão para decidir se a produção de laranjas deve entrar. Eu entendo que sim.

http://www.educacional.com.br/reportagens/crianca/entrevista.asp

Foto: Colheita de café, fim da década de 1930, início de 1940. Londrina. Fotógrafo: Ohara Haruo. In: Colégio Marista em Londrina, 2005.

Foto: Centro de Londrina, aproximadamente 1960. Fotógrafo: José Juliani. In: Colégio Marista em Londrina, 2005.

Criança exercendo atividade doméstica. Fonte: BRASIL, 2008.

Na década de 1990, o governo "acordou" para a realidade do trabalho infantil e passou a tomar medidas legais (como a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990) e a instituir políticas públicas na tentativa de solucionar o problema.

Conheça os principais programas governamentais criados com esse objetivo:

• Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), fundado em 1996: concede aos pais um benefício mensal de R$ 25 a R$ 40 por criança;

• Bolsa Escola, instituído em 2001: paga uma quantia mínima de R$ 15 por mês para cada criança matriculada na escola;

• Programas Estaduais e Municipais de Renda Mínima, elaborados a partir de 1995: conferem benefícios diversos;

• Bolsa Família, fundado em 2003: integra vários programas, como o Bolsa Escola, Vale-Gás etc.;

• Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), criado em 1998: redistribui as verbas do orçamento destinadas à educação, priorizando o Ensino Fundamental.

Trabalho precoce, futuro mais pobre

Quanto mais cedo a criança começa a trabalhar, menor é seu rendimento médio durante a vida. Não se pode citar uma causa específica, mas imagina-se que isso ocorra porque, ao trabalhar, a criança fica com menos tempo e disposição para estudar e se preparar para alcançar uma melhor posição social na fase adulta. Veja o que indica o relatório da OIT:

• Crianças que começaram a trabalhar antes dos 17 anos não alcançaram médias salariais superiores a R$ 1.500 até a faixa dos 59 anos; • Os jovens que começaram a trabalhar após os 18 anos atingiram R$ 2.500; • Uma pessoa terá 35% a mais de renda durante a vida se não trabalhou antes dos 9 anos; • Os jovens que não trabalharam antes dos 18 anos podem ter um acréscimo de 85% no rendimento salarial; • 68,6% dos meninos e meninas entre 7 e 17 anos que trabalham estão atrasados na escola.

http://www.educacional.com.br/reportagens/criancasdobrasil/trabalho_infantil.asp http://www.educacional.com.br/reportagens/criancasdobrasil/trabalho_infantil_pesquisa_rapida.asp

6) DEBATE

O que você pode fazer para ajudar a melhorar a qualidade de vida dessas crianças?

- Causas e conseqüências do trabalho infantil;

- Papel dos pais em manter os filhos na escola;

7) PESQUISA DE CAMPO

Investigue quantos garotos e garotas, em sua comunidade, não estão na escola. Descubra por que isso acontece e se informe sobre maneiras de reverter esse quadro.

8) APRESENTAÇÃO DA PESQUISA Á COMUNIDADE ESCOLAR POR MEIO DE MURAIS. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: Letra MEU GURI in.: HOLLANDA, Chico Buarque de - Tantas Palavras; São Paulo : Companhia das Letras, 2006. pg. 318