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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
GÊNERO LETRA DE MÚSICA:
Leitura crítica de letras de música e prática social da escrita
1Machado, Tânia Mara Ferreira
2Polato, Adriana Delmira Mendes (OR)
RESUMO
O presente artigo é resultado da implementação da Unidade Didática produzida a partir do projeto ―Leitura crítica de letra de música e prática social da escrita‖, tendo como objetivo leitura, compreensão e análise de letras de músicas, oportunizando a prática social da escrita como atitude concreta de resposta à prática de leitura. Teorias que minimizam os problemas enfrentados na leitura e na produção em sala de aula e na sociedade como um todo constituíram nosso embasamento. As fontes para o direcionamento das atividades e do trabalho foram as DCE do Paraná, a concepção interacionista de linguagem e as teorias que lhes são subjacentes, visando principalmente o desenvolvimento da escrita como prática social, favorecendo reflexões importantes e necessárias a uma produção textual interlocutiva voltada à proposta de gêneros na perspectiva bakhtiniana, permitindo ao estudante ter voz e vez na sociedade e na comunidade em que vive. Por meio dessa proposta metodológica, buscou-se subsídios para práticas pedagógicas que oportunizassem momentos de interação nos quais os alunos pudessem conceber a leitura como instauradora de diálogos, promovendo diferentes formas de ver, de avaliar o mundo, de reconhecer o outro e de reconhecer-se no outro, por meio de um trabalho capaz de analisar as ideologias implícitas ou explícitas, as axiologias e as vozes sociais que circulam no gênero letra de música, rico por sua diversidade temática.
PALAVRAS-CHAVE: Leitura; Produção; Axiologia; Música.
1Graduada em Letras pela Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão (1990) e
especialização em “Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Portuguesa pela Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão (1997). Professora Estadual do Quadro Próprio do Magistério
(1996), atuando nos níveis Fundamental e Médio do ensino Público na disciplina de Língua Portuguesa. 2Graduada em Letras pela Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão (1996) e
mestre em Letras pela Universidade Estadual de Londrina (2003). Tem experiência na área de Letras,
Coordenação e Gestão Pedagógica, tendo lecionado nos níveis Fundamental, Médio, Superior e na Pós-graduação, atuando no ensino Público nas disciplinas de Língua Portuguesa, Latim, Linguística,
Semântica e Prática de Ensino de Língua Portuguesa.
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1 INTRODUÇÃO
O presente artigo é fruto de um amplo trabalho de cunho processual
etnográfico, que nasceu após a seleção do PDE - Programa de Desenvolvimento
Estadual.
Por conhecer a realidade escolar e presenciar as constantes reclamações dos
professores do Ensino Médio, em todas as áreas, sobre a falta de leitura dialógica
por parte dos alunos e suas consequentes dificuldades na produção textual, surgiu a
motivação para o desenvolvimento de um trabalho diferenciado nas séries finais do
Ensino Fundamental, visando minimizar o analfabestismo funcional.
Nessa perspectiva, fez-se necessário almejar que o estudante fosse capaz de
se perceber como sujeito sócio-histórico, presente nos textos, para como leitor
crítico, tomar uma atitude responsiva diante deles, posicionando-se e produzindo
novos textos, podendo desta forma, em uma situação concreta de comunicação,
participar ativamente da dialogia discursiva inerente à sociedade.
Nesse sentido, é relevante atentar para que as aulas/atividades de leitura, e
consequentemente de produção, avancem para além da decodificação. Assim, os
esforços para a efetivação de uma leitura e produção críticas, deverão estar focados
na apropriação dos sentidos mais profundos, possíveis apenas de serem alcançados
pela consideração de que as ações de linguagem manifestam-se e materializam-se
textualmente e discursivamente. Vivenciando diferentes experiências de leitura é
possível intervir para que as dificuldades de compreensão dos textos nas diversas
áreas possam ser sanadas a partir do momento em que o estudante/interlocutor
também possa se transformar em leitor competente, conhecedor dos variados
gêneros discursivos que circulam em sua esfera social. Consciente e seguro será
capaz de entender e fazer-se entender, seja em produção oral ou escrita.
Nesse viés, o gênero letra de música, foi tomado para possibilitar aos
estudantes, atividades motivadoras fundamentadas em teorias que minimizassem
problemas enfrentados na leitura e na produção em sala de aula e na sociedade
como um todo.
A escolha do gênero letra de música partiu do interesse dos jovens em ouvir
variedades musicais, possibilitando um trabalho diferenciado, capaz de permitir a
análise das ideologias implícitas ou explícitas, das axiologias e das vozes sociais
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que circulam neste gênero. Esse trabalho favoreceu reflexões importantes e
necessárias a uma produção textual interlocutiva voltada à proposta de gêneros na
perspectiva bakhtiniana. Dessa forma, fez-se necessário um trabalho que refletisse
sobre a prática pedagógica voltada ao ensino da leitura e da produção, a partir da
noção de gêneros discursivos e da visão ampliada de leitura e escrita, apontada nas
Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná para o Ensino de Língua Portuguesa,
que entendem a prática de leitura como um ato dialógico e o da escrita como um ato
interlocutivo.
Visando subsidiar a pesquisa, foram utilizados autores que comungam o
mesmo pensamento interacionista e diante de tal perspectiva, o ensino-
aprendizagem só pode ser concretizado em situações significativas e é a interação
verbal que possibilitará a formação de um cidadão leitor e reflexivo produtor de
textos proficientes.
Com a implementação, buscou-se promover o sujeito a uma condição social
que lhe permitisse ter voz e vez na sociedade e na comunidade em que vive. Ainda,
não se furtou do objetivo de promover a percepção de que práticas de leitura e
escrita são essencialmente ligadas, pois ambas favorecem a formação de cidadãos
leitores e produtores críticos, aptos também a manifestarem conscientemente suas
posições, seus anseios e angústias, adequando seus textos a diferentes situações
sociais e a diferentes interlocutores, em todas as vivências sociais diárias, inclusive
naquelas que se dão no ambiente escolar.
Desse modo, o aluno teve condições de posicionar-se diante do que leu,
aprimorando práticas discursivas, o que lhe possibilitou a leitura e produção críticas
dos textos que circulam socialmente, a ponto de perceber neles ideologias e valores
defendidos e de também poder defender valores naqueles que produziu.
O conhecimento dos mecanismos linguísticos e gramaticais aconteceu de
acordo com a efetivação de sua utilização, na realização das atividades que
oportunizaram seu uso, não como mera atividade escolar, mas privilegiando
verdadeiramente a interação verbal.
2 PERSPECTIVA TEÓRICA
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2.1 CONCEPÇÃO INTERACIONISTA
A concepção interacionista reconhece um sujeito que é ativo em sua
produção linguística. Assim, o texto, foco de investigação e de trabalho, ganha valor
se inserido num real processo de interlocução, ou seja, só faz sentido quando o que
é produzido, seja por meio da escrita ou da oralidade e em todas as suas
qualificações, está direcionado para o outro.
E, ―a partir do momento que entendermos a linguagem como uma forma de
interação humana, estamos assumindo uma concepção interacionista: os falantes se
formam sujeitos‖. (ZANINI, 1999, p. 85).
Segundo as DCE (2008, p. 47):
O trabalho com modelos pré-estabelecidos enfatiza os aspectos formais do texto, deixando de considerar que todo texto é um elo na cadeia da interação social, sempre é uma resposta ativa a outros textos e pressupõe outras respostas. A abordagem apenas formal exclui o texto de seu contexto social.
Tendo em vista que é na interação verbal que se constituem os gêneros do
discurso e que sua delimitação se dá nas diferentes esferas sociais, o ensino de
língua não pode ignorar a natureza social da linguagem.
Segundo Bakhtin, o conhecimento da língua não se processa somente a
partir da compreensão das estruturas, mas é apreendida por meio da comunicação
discursiva viva com as pessoas que nos rodeiam.
Conforme Bakhtin (1997, pp. 301-302):
A língua materna — a composição de seu léxico e sua estrutura gramatical —, não a aprendemos nos dicionários e nas gramáticas, nós a adquirimos mediante enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos durante a comunicação verbal viva que se efetua com os indivíduos que nos rodeiam. Assimilamos as formas da língua somente nas formas assumidas pelo enunciado e juntamente com essas formas. As formas da língua e as formas típicas de enunciados, isto é, os gêneros do discurso, introduzem-se em nossa experiência e em nossa consciência conjuntamente e sem que sua estreita correlação seja rompida.
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A língua é permeada por relações sociais, pois ela é viva e evolui
historicamente na comunicação concreta e não como sistema linguístico abstrato.
Como afirma Bakhtin:
(...) a riqueza e diversidade dos gêneros discursivos é imensa, porque as
possibilidades da atividade humana são inesgotáveis e porque em cada
esfera da práxis existe todo um repertório de gêneros discursivos que se
diferencia e cresce à medida que se desenvolve e se complexifica a própria
esfera. (Bakhtin apud Irene Machado, 2008, p. 155)
Para ele ainda, (2004, P. 150):
A língua não é o reflexo das hesitações subjetivo-psicológicas, mas das relações sociais estáveis dos falantes. Conforme a língua, conforme a época ou os grupos sociais, conforme o contexto apresente tal ou qual objetivo específico, vê-se dominar ora uma forma ora outra, ora uma variante ora outra.
Segundo as DCE (2008, p.20) o educando deve encontrar na escola ―a
formação necessária para o enfrentamento com vistas à transformação da realidade
social, econômica e política de seu tempo‖.
Com isso, entende-se a escola como o espaço do confronto e diálogo entre os conhecimentos sistematizados e os conhecimentos do cotidiano popular. Essas são as fontes sócio-históricas do conhecimento em sua complexidade. (DCE, 2008, p. 21)
As DCE (p.48) reforçam a ideia de que a língua deve ser o elo entre a cultura
e o indivíduo:
É tarefa da escola possibilitar que seus alunos participem de diferentes práticas sociais que utilizem a leitura, a escrita e a oralidade, com a finalidade de inseri-los nas diversas esferas de interação. Se a escola desconsiderar esse papel, o sujeito ficará à margem dos novos letramentos,
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não conseguindo se constituir no âmbito de uma sociedade letrada. Dessa forma, será possível a inserção de todos os que frequentam a escola pública em uma sociedade cheia de conflitos sociais, raciais, religiosos e políticos de forma ativa, marcando, assim, suas vozes no contexto em que estiverem inseridos.
2.2 GÊNEROS DISCURSIVOS E ENSINO
Na obra ―Estética da Criação Verbal‖, essencial para os estudos dos gêneros
discursivos, Bakhtin (1997, p. 279), define: ―Qualquer enunciado considerado
isoladamente é, claro, individual, mas cada esfera de utilização da língua elabora
seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos
gêneros do discurso‖. Para ele (1997, p. 281-282), os gêneros, por sua
heterogeneidade, podem ser primários (simples) ou secundários (complexos):
A distinção entre gêneros primários e gêneros secundários tem grande importância teórica, sendo esta a razão pela qual a natureza do enunciado deve ser elucidada e definida por uma análise de ambos os gêneros. Só com esta condição a análise se adequaria à natureza complexa e sutil do enunciado e abrangeria seus aspectos essenciais.
Segundo Bakhtin, os gêneros primários acontecem na comunicação imediata
por serem informais e espontâneos e realizados no cotidiano. No caso dos gêneros
secundários, a comunicação é mais complexa e solidifica-se no campo formal e
especializado. Machado (2008, p.155) afirma que os gêneros fazem parte da vida
cotidiana e ―da vida pública, institucional, artística, científica e filosófica‖. E continua:
Assim, Bakhtin distingue os gêneros discursivos primários (da comunicação cotidiana) dos gêneros discursivos secundários (da comunicação produzida a partir de códigos culturais elaborados, como a escrita). Trata-se de uma distinção que dimensiona as esferas de uso da linguagem em processo dialógico-interativo.
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Outro conceito bakhtiniano relevante é o de palavra. Para ele, a palavra é
palavra é um signo, não apenas físico-material, mas histórico-ideológico. É viva
porque tem uma história, além de ser uma miniarena de conflitos. As palavras, com
toda sua polissemia, formam enunciados constituídos por conteúdo temático, estilo e
construção composicional; ou seja, gêneros, que podem variar de acordo com a
intenção do locutor e com o contexto de produção e enunciação.
Tal como a linguagem, os gêneros modificam-se, renovam-se a cada dia e
por isso são dinâmicos, processuais, sociais e cognitivos. Os gêneros variam, pois a
língua é viva. Os gêneros adaptam-se, variam e transformam-se de acordo com a
necessidade do ser humano interagir na sociedade. Sobre esta variação, Bakhtin
(1997, p.279) afirma:
Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão sempre relacionadas com a utilização da língua. Não é de surpreender que o caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas da atividade humana, o que não contradiz a unidade nacional de uma língua. (...) A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade virtual da atividade humana é inesgotável, e cada esfera dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa.
No que concerne ao ensino de língua portuguesa, baseado na perspectiva
dos gêneros discursivos, os estudantes devem ser orientados a perceber também
que os textos dialogam com outros textos e que são destinados a alguém. Portanto,
indagar, instigar o educando a pensar sobre as vozes aparentes ou implícitas no
texto lido, sobre quais experiências de sua vida têm a ver com o texto, sobre as
ideologias que sustentam as idéias e axiologias expressas é uma atitude
imprescindível por parte do professor, enquanto mediador do processo de ensino e
de aprendizagem.
Bakhtin (1997), quando aborda o caráter social da linguagem, considera que
o enunciado é produto da interação social. Sendo assim, a diversidade de produções
de linguagem é originada pela diversidade dos atos sociais emitidos pelos diversos
grupos. A escola não pode se furtar de esclarecer isso ao estudante, contribuindo
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para que ele possa perceber o emaranhado de gêneros que circula nas diferentes
esferas sociais de suas vivências.
Segundo Fiorin (2006, p.61) as palavras, os gêneros surgem na interação,
pois é na efetivação da comunicação que se estabelecem tipos relativamente
estáveis de enunciados.
Não se produzem enunciados fora das esferas de ação, o que significa que eles são determinados pelas condições específicas e pelas finalidades de cada esfera. Essas esferas de ação ocasionam o aparecimento de certos tipos de enunciados, que se estabilizam precariamente e que mudam em função de alterações nessas esferas de atividades.
É importante também, que os estudantes entendam que a referida
estabilidade, defendida por Fiorin, à luz da teoria bakhtiniana, não significa
estaticidade, visto que os gêneros evoluem historicamente, isto é sofrem mudanças
e adaptações próprias de cada época. Assim, para Marcuschi (2202, p. 19), gêneros
discursivos são ―fenômenos históricos, profundamente vinculados à vida cultural e
social‖.
Importante é perceber que os gêneros não são entidades formais, mas sim entidades comunicativas. Gêneros são formas verbais de ação social relativamente estáveis realizadas em textos situados em comunidades de práticas sociais e em domínios discursivos específicos.
Para ele, ainda, (2001, p. 35):
A língua, seja na sua modalidade falada ou escrita, reflete, em boa medida, a organização da sociedade porque a própria língua mantém complexas relações com as representações e as formações sociais.
2.3 O GÊNERO LETRA DE MÚSICA
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O homem, ser social e cultural, sempre foi festivo por natureza. Sempre se
utilizou da música e da dança em comemorações para proclamar suas alegrias,
tristezas e até mesmo para tripudiar seus adversários. Durante a escravidão, os
tambores marcavam o ritmo com que os remos deveriam ser manuseados pelos
escravos nas embarcações.
A música faz parte de nossa cultura, sendo uma de suas maiores
representantes, por isso, para o homem, produzir cultura é um dos aspectos que o
diferencia dos outros animais e a musicalidade é uma expressão de sua alegria,
divertimento ou revolta. Por meio dela, o homem reproduz os sons da natureza,
interpreta e faz leituras da realidade, o que dá sentido à sua existência. Ela é
utilizada na religião, nos cultos para louvor e adoração a Deus e continua presente
nas festivas. Também se manifesta nos eventos sociais abrilhantando-os como, por
exemplo, no carnaval, marcado pelos ritmos fortes e excitantes.
De acordo com estudiosos, música é uma palavra de origem grega, que
significa a arte das musas. É formada pelo circuito de sons alternados e também
pelo silêncio dentro de um determinado tempo e ritmo.
Encontramos música em todos os lugares, nas buzinas em um
congestionamento, na brisa produzida pelo suave vento, no tumulto das vozes no
dia a dia, nas festas entre tantos outros lugares.
A escolha de uma ou outra música depende do ambiente ou do estado de
espírito de cada um, às vezes mais entusiasmadas, outras ternas, às vezes
utilizadas apenas para reflexão. Elas despertam sentimentos e reações de acordo
com sua reprodução.
A música influenciou e influencia a sociedade, tanto que foi criada a
Musicoterapia, que nada mais é do que o tratamento de certas doenças pela música.
Comprovadamente, o ritmo e estilo musical interferem no corpo e na mente do
cidadão que com ela tem contato direto.
As letras de música abordam temas diversos, podem falar de amor, saudade,
carinho, sofrimento, violência, defesa de ideias e ideais, protesto, entre tantos outros
temas. Através da harmonia proporcionada pela música e pela capacidade criadora
dos autores, os temas são eternizados por explanar com propriedade fatos múltiplos
e, de acordo com suas necessidades, posteriormente são relançados por novos
cantores. As músicas, em seus temas, refletem também a realidade de um povo, e
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atualmente evidenciam alguns problemas enfrentados pelos jovens, como drogas,
sexo sem compromisso e violência.
Pode-se afirmar que as letras de música são um gênero, à medida que,
indissoluvelmente, os três elementos que as caracterizam, o tema, o assunto a ser
tratado; o estilo (a escolha verbal, lexical, fraseológica, gramatical) marcado por
narrações e ou descrições e a estrutura composicional, melodia e letra, corroboram
para a integração entre melodia e letra, permitindo aflorar todo o universo cultural e
social próprio de cada estilo musical.
A letra de música é um gênero e o estudo dos gêneros têm por objetivo a
preparação do aluno para apropriação e utilização da língua nas situações reais do
cotidiano.
Para analisarmos uma letra de música, é imprescindível o reconhecimento
das condições de sua produção, por ser uma representação social e cultural. O
trabalho deve ser gradual, partindo do conhecimento existente na busca de sua
complementação, utilizando para isso, modelos desse gênero com suas
características. Também é importante refletir sobre a que tipo de público a
modalidade musical é destinada. Isso implica considerar, que quando se produz
letras e músicas, tem-se um público alvo, um público ao qual se pretende agradar,
vender o produto.
A análise do gênero letra de música revela as vozes, as ideologias, as
apologias, tudo aquilo que a linguagem nos permite perceber ou inferir sobre o outro
e sobre o mundo.
Para a análise e estudo da letra de música, segundo Ulhôa, (1999, p. 49), não
podemos separar letra e música por estarem intrinsecamente ligadas.
Na canção popular, melodia e letra interferem estreitamente uma sobre a outra. Existem elementos na letra, especialmente sua qualidade narrativa ou lírica, que conduzem a diferentes tipos de melodias: existem particularidades na melodia, especialmente seu contorno melódico e tipos de intervalos empregados que marcam o caráter da canção.
Portanto, pelo fato de ser um gênero de elevada circulação na sociedade e
em todas as esferas sociais, encontrando grande reciprocidade junto aos
adolescentes, é que se justifica a escolha deste gênero, como elemento incentivador
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deste trabalho, pois parte do interesse que os jovens demonstram em ouvir
variedades musicais, o que permitiu a realização de atividades diferenciadas dentro
do horizonte de expectativa dos estudantes, sendo assim um trabalho imprescindível
nas escolas.
2.4 LEITURA DIALÓGICA: PERSPECTIVAS E POSSIBILIDADES NA
ABORDAGEM COM GÊNEROS
Todo nosso conhecimento e as informações adquiridas no decorrer da vida
são ativados durante o processo da leitura, isso faz com que um texto adquira
significado.
Na infância compreendemos a língua materna, o que prova que ela não é
apenas uma estrutura, mas é apreendida por meio das vivências sociais, na
interação social por meio do uso dos gêneros. A concretização da leitura e
produção de textos oportunizará a efetivação do conhecimento científico da língua
materna.
Ao explicitar a importância da leitura crítica Wolf (apud Leffa, 1996) lembra
que: caso queiramos que os alunos [...] se transformem em cidadãos críticos,
capazes de avaliar criticamente as idéias de um número cada vez maior de materiais
para leitura, precisamos ensiná-los a ler criticamente.
Leffa (1996, p.880) argumenta que a leitura implica uma correspondência
entre o conhecimento prévio do leitor e os dados fornecidos pelo texto. ―Leitor e
texto são como duas engrenagens, correndo uma dentro da outra; onde faltar
encaixe nas engrenagens leitor e texto se separam e ficam rodando soltos‖.
Para alcançar a leitura dialógica é preciso compreender a realidade que se
apresenta para então refletir sobre esta, podendo até transformá-la.
A leitura feita com compromisso e responsabilidade facilita a compreensão e
análise e, consequentemente, a produção fluirá mais facilmente a partir do
posicionamento do leitor diante do que lê. Para Saviani (2008, p.7) o saber é o
―resultado do processo de aprendizagem‖. Ele afirma que ―Para saber pensar e
sentir; para saber querer, agir ou avaliar é preciso aprender, o que implica o trabalho
educativo.‖
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A falta do hábito de leitura resulta no déficit do suporte que se faz necessário
à produção de texto. Atualmente, os adolescentes são capazes de ficar horas diante
de uma tela ―teclando‖ com diversas pessoas ao mesmo tempo e fazendo diversas
interpretações, tanto na escrita (compreendem uma linguagem diferente da padrão),
e abstraem informações subentendidas. Este mesmo jovem, hábil na informática,
muitas vezes não consegue interpretar e produzir outro gênero textual distante da
esfera tecnológica, como por exemplo, letra de música. Não consegue ir além da
mensagem explícita. Isso vale para todos os gêneros, inclusive os que circulam no
livro didático.
Conforme Luckesi (2003, p.119), ―[...] a leitura, para atender o seu pleno
sentido e significado, deve, intencionalmente, referir-se à realidade. Caso contrário,
ela será um processo mecânico de decodificação de símbolos‖.
Nas DCE (2008, p.71), observa-se a importância da leitura:
Somente uma leitura aprofundada, em que o aluno é capaz de enxergar os implícitos, permite que ele depreenda as reais intenções que cada texto traz. Sabe-se das pressões uniformizadoras, em geral voltadas para o consumo ou para a não-reflexão sobre problemas estéticos ou sociais, exercidos pelas mídias.
Portanto, ―Ler é familiarizar-se com diferentes textos produzidos em diferentes
esferas sociais: jornalística, artística, judiciária, científica, didático-pedagógica,
cotidiana, midiática, literária, publicitária, etc.‖ (ibidem, p. 71).
O aluno precisa perceber que não existe um enunciado puro, mas polifonias
implícitas ou explícitas em um texto e estas abordam diversos pontos de vista. As
DCE (ibidem, p. 71-72) enfatizam a necessidade da formação de um cidadão crítico,
que se perceba enquanto sujeito presente nos textos para, então, tomar uma atitude
responsiva diante deles.
[...] a partir de estratégias de leitura que possibilitem ao aluno ―percepção e reconhecimento – mesmo que inconscientemente – dos elementos de linguagem que o texto manipula‖ (LAJOLO, apud DCE, 2008, p. 71). Desse modo, o aluno terá condições de se posicionar diante do que lê.
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Ainda no campo da leitura, devemos considerar a leitura de textos imagéticos,
pois ela amplia a capacidade do imaginário e quando unida ao verbal, potencializa o
sentido que se apresenta. Nesse sentido, é pertinente ressaltar, que o texto é dotado
de uma potencialidade significativa. No entanto, segundo Brandão, o leitor se institui
linguística e pragmaticamente no texto, trazendo contribuições para construção de
seu sentido.
Podemos fazer a leitura temática dos textos imagéticos, intertextualizando-os
com a temática verbal encontrada nas letras das músicas. O imagético servirá como
elemento motivador para prática da leitura, pois através da imagem, o homem
sempre buscou expressar seus sentimentos e interpretar do mundo em que vive.
A leitura imagética não é transparente, logo, faz-se necessário a
interpretação, o conhecimento de mundo, a análise do que é apresentado buscando
a verdadeira intenção. Quando não conseguimos estabelecer os elos entre a
imagem e seu contexto, a leitura não flui para a compreensão. A imagem é texto e,
deve então, ser explorada para que, na intertextualidade com as letras de música,
maiores informações sobre o tema sejam levantadas, favorecendo o processo de
compreensão.
Não há separação entre língua, imagem e história. A leitura do imagético não
se prende exclusivamente na imagem, pois está inserida no espaço em que língua e
história se encontram, produzindo verdadeiro sentido.
Segundo Kleiman (2002, p. 9), ler ―significa lidar com a complexidade do ato
de compreender e a multiplicidade de processos cognitivos que constituem a
atividade em que o leitor se engaja para construir o sentido de um texto escrito‖. A
leitura desenvolve a capacidade de pensar, de refletir, portanto, leva à criticidade.
Dessa forma, a leitura deve ser vista como processo de co-produção de sentidos.
Assim, para o encaminhamento da prática de leitura em sala de aula, é importante o
professor realizar atividades que propiciem reflexões e discussões para que os
estudantes possam perceber os implícitos, as reais intenções e efeitos de sentidos
contidos nos textos.
2.5 PRÁTICA SOCIAL DA ESCRITA
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A produção textual é resultado da organização das palavras e esta, é fruto do
intercâmbio entre os sujeitos por estarem sempre ligados socialmente.
Para Bakhtin/Volochinov (1929, p. 112), a palavra é ―produto da interação
entre dois indivíduos socialmente organizados‖.
Toda palavra é dirigida a um interlocutor e a interação dessas palavras é a
enunciação, a interação. O discurso é interativo e só tem real valor se é destinado
ao outro. Por ser polifônico, ele precisa ser construído efetivamente entre dois
interlocutores num determinado contexto porque, sendo social, depende de
compreensão e respostas.
É necessário o intercâmbio entre o texto e o contexto, ou seja, qualquer
produção só terá valor se o aluno estiver inserido em uma situação real de
produção. No momento da produção, o educando deve ter em mente que seu texto
terá um interlocutor.
Antes de tudo, é preciso ressaltar que o trabalho com a escrita é indissociável
do trabalho com a leitura.
Segundo Kleiman (2000, p. 20), ―Quanto mais conhecimento textual o leitor
tiver, quanto maior a sua exposição a todo tipo de texto, mais fácil será sua
compreensão.‖ Consequentemente, a produção fluirá com maior propriedade,
obedecendo às regras de conduta, seleção vocabular e estrutura de composição,
isto é, alcançando a competência sócio-comunicativa.
Sercundes descreve três concepções para a escrita: enquanto dom, enquanto
consequência, enquanto trabalho.
O trabalho metodológico acerca da concepção da escrita enquanto dom é
aquele em que o professor não trabalha previamente o tema a ser desenvolvido, ou
seja, não oportuniza ao aluno o desenvolvimento do conhecimento abordado, cabe
ao aluno escrever por si, mesmo que não tenha domínio do que escreve. Escrever é
um dom nato, então cabe ao aluno simplesmente cumprir com sua tarefa de
produção. O objetivo da escrita é a avaliação desprovida de um trabalho prévio.
A escrita enquanto conseqüência tem como ação inicial um filme, texto ou
outra atividade qualquer, mas é alcançada após pouco tempo de maturação do
conhecimento, da incorporação dos conhecimentos adquiridos. A escrita passa a ser
um processo de mero reflexo de algo visto ou vivido sem que haja uma verdadeira
interação.
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Na escrita enquanto trabalho, o processo é contínuo, adquirido com debates e
desenvolvimento do tema a ser abordado. Nesse processo o estudante retoma suas
produções após a análise pelo professor e pelo próprio educando. Cada trabalho
desenvolvido é um ponto de partida para novas produções, cada vez mais
conscientes. Desta forma, o texto passa pela refacção, ou seja, após devidamente
analisado, ocorrerá a produção final, considerando-se aspectos da organização da
língua e seu efetivo uso. Assim, o estudante perceberá que o texto é um reflexo do
saber, a partir da interação com o conhecimento.
Nas DCE ((2008, p.69) temos sobre a escrita:
É desejável que as atividades com a escrita se realizem de modo interlocutivo, que elas possam relacionar o dizer escrito às circunstâncias de sua produção. Isso implica o produtor do texto assumir-se como locutor, conforme propõe Geraldi (1997) e, dessa forma, ter o que dizer; razão para dizer; como dizer, interlocutores para quem dizer.
Preconiza-se nas DCE (idem, p.56):
O aperfeiçoamento da escrita se faz a partir da produção de diferentes gêneros, por meio das experiências sociais, tanto singular quanto coletivamente vividas. O que se sugere, sobretudo, é a noção de uma escrita como formadora de subjetividades, podendo ter um papel de resistência aos valores prescritos socialmente. A possibilidade da criação, no exercício desta prática, permite ao educando ampliar o próprio conceito de gênero discursivo.
É preciso que a produção escrita na escola seja promovida dentro da
concepção interacionista de linguagem, efetivada como prática social,
abrangendo a funcionalidade dos gêneros discursivos e suas esferas de
circulação.
A escrita não pode ser desvinculada da leitura e esta não pode ser utilizada
como pretexto à produção. Por ser dialógica e social, deve ser acima de tudo,
responsiva. Tecnicamente, a refacção não só permitirá o aperfeiçoamento da
gramatical e lingüístico, como também reflexões acerca do estilo inerente ao
gênero.
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O estudante precisa ter em mente que a produção tem um destinatário e que
para desempenhar seu papel como sujeito que tem o que dizer e que precisa
estabelecer o elo na cadeia da comunicação, posicionando-se e fazendo-se
entender.
2.6 ANÁLISE LINGUÍSTICA E ENSINO GRAMÁTICAL
As DCE enfatizam (2008, p.78) que o estudo gramatical deve acontecer
durante o trabalho com texto nos diferentes gêneros textuais:
Considerando a interlocução como ponto de partida para o trabalho com o texto, os conteúdos gramaticais devem ser estudados a partir de seus aspectos funcionais na constituição da unidade de sentido dos enunciados. [...] Dessa forma, quanto mais variado for o contato do aluno com diferentes gêneros discursivos (orais e escritos), mais fácil será assimilar as regularidades que determinam o uso da língua em diferentes esferas sociais (BAKHTIN, 1992).
Travaglia (1996), preocupado com um ensino gramatical significativo, assinala
a importância de o professor conceber a natureza fundamental da linguagem, que é
social e cultural. Ensinar a gramática de acordo com as novas orientações é um
grande nó para quem leciona Língua Portuguesa. As aulas de gramática normativa,
baseadas só em fatos da descontextualizadas da língua-padrão, não têm sentido se
o professor não compreender que a variedade padrão é apenas uma das inúmeras
variedades legítimas. No entanto, aprendê-la é necessário à vida social. O ensino de
gramática deve estar a favor da formação do cidadão crítico não servindo como
elemento de alienação.
A análise lingüística é o processo reflexivo (epilingüístico) dos sujeitos-
aprendizes, em relação à movimentação de recursos lexicais e gramaticais e na
construção composicional - concretizada em textos pertencentes a determinado (s)
gêneros, considerando seu suporte, meio/época de circulação e de interlocução
(contexto de produção) - veiculados ao processo de leitura, de construção e de
reescrita textuais mediado pelo professor.
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III METODOLOGIA/INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA
O material Unidade Didática ―Leitura crítica de letra de música e prática social
da escrita‖, que resultou no presente artigo, foi desenvolvido em 32 aulas durante o
segundo semestre de 2009 em contra turno com estudantes voluntários de cinco
turmas de 8ª série, com idade entre 13 e 15 anos. A instituição de aplicação, o
Colégio Estadual Marechal Rondon - Ensino Fundamental Médio e
Profissionalizante, é uma escola de porte grande localizado na região central de
Campo Mourão, cito Rua Brasil, 1848, CEP: 87.302-230. A escola pertence ao NRE
de Campo Mourão e atende estudantes de diversos bairros da cidade.
As atividades foram desenvolvidas através de aulas expositivas, atividades
individuais e em grupo e utilização de recursos audiovisuais e midiáticos.
O perfil dos adolescentes desta escola é o mesmo encontrado na maioria das
unidades escolares no que tange a leitura e a escrita:
Falta do hábito;
Desinteresse durante a realização;
Atividades desenvolvidas apenas por obrigação;
Desambição na refacção textual;
Falta da leitura imagética.
Para exposição em sala de aula, fez-se uso dos processos e recursos
disponíveis, especialmente a TV Multimídia e o laboratório de informática visando-se
promover a necessária interação entre leitor/texto/escritor, desvendando o gênero
letra de música, pela contextualização e pelo estudo de sua função social. Dessa
forma, foi possível realizar um trabalho produtivo e interlocutivo para leitura e,
consequentemente para escrita.
3.1 O MATERIAL DIDÁTICO
O material didático foi desenvolvido após orientações sob o acompanhamento
da orientadora Professora Me. Adriana Delmira Mendes Polato, vinculada à
instituição de ensino superior FECILCAM.
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Inicialmente foi delimitado o gênero e o tema a ser abordado, procurando
atingir o objetivo principal, o interesse e participação do estudante nas atividades
que foram desenvolvidas no decorrer da implementação do projeto.
Com a participação do grupo de professores da rede através do GTR (Grupo
de trabalho em Rede), as atividades foram discutidas, analisadas e definitivamente
traçadas.
Para a produção final, foi escolhida a para produção do material didático, a
Unidade Didática.
Após a implementação do projeto, no terceiro período do PDE 2009, análises
foram feitas, resultando no presente artigo.
A Unidade Didática ―Leitura crítica de letra de música e prática social da
escrita‖, propôs leitura, compreensão e análise em diferentes letras de músicas, com
tema violência, que tanto assola a sociedade.
Este trabalho possibilitou atividades motivadoras e teorias que minimizaram
os problemas enfrentados na leitura e na produção em sala de aula e na sociedade
como um todo.
Foram propiciados momentos de interação nos quais os alunos puderam
conceber a leitura como instauradora de diálogos, promovendo diferentes formas de
ver, de avaliar o mundo, de reconhecer o outro e de reconhecer-se no outro.
O gênero letra de música traz diversidade dos temas e reflete fatos do
cotidiano de todo cidadão, favorecendo reflexões importantes e necessárias a uma
produção textual interlocutiva voltada à proposta de gêneros na perspectiva
bakhtiniana.
A seleção do gênero letra de música, com sua diversidade temática,
possibilitou não apenas a reprodução sonora, mas oportunizou a reflexão e
posicionamento sobre fatos presentes no cotidiano.
A tarefa desse material não foi legitimar desigualdades, mas promover o
sujeito a uma condição social que lhe permitiu ter voz e vez na sociedade e na
comunidade em que vive.
Foram propostas atividades que possibilitaram a prática social da escrita
como atitude concreta de resposta à prática de leitura.
O material didático produzido para o PDE, Unidade Didática foi desenvolvida
sequencialmente:
Leitura imagética que remete a temática abordada nas músicas;
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Audição das músicas escolhidas;
Apresentação de fragmentos das letras e sua organização;
Análise do gênero discursivo letra de música;
Produção de textos de diversos gêneros remetendo a temáticas
discutidas a partir das reflexões sobre as letras das músicas;
Prática da refacção, bem como compreensão de que esta é um processo
integrante da produção textual.
Para o desenvolvimento das atividades propostas, foram priorizadas treze
ações, a saber:
Apresentação à comunidade escolar do Projeto ―Leitura crítica de letras
de músicas e prática social da escrita‖ e do material didático para
implementação pedagógica.
Apresentação sucinta aos educandos do Projeto ―Leitura crítica de letras
de músicas e prática social da escrita‖ e do material didático a ser
desenvolvido com a participação dos mesmos.
Apresentação aos educandos do material didático produzido a partir do
Projeto ―Leitura crítica de letras de músicas e prática social da escrita‖, a
ser desenvolvido com a participação dos mesmos.
Introdução ao tema ―Amor e Violência‖.
Apresentação de fragmentos da música Amor Vira-Lata de Hugo e Tiago
para análise e interpretação textual, questões de coesão e coerência,
questões gramaticais e produção textual.
Introdução ao tema violência urbana, análise e interpretação imagética.
Abordagem de gênero textual.
Apresentação de fragmentos da música Rio 40º de Fernanda de Abreu
para análise e interpretação textual, questões de coesão e coerência,
questões gramaticais e produção textual.
Abordagem dos recursos sonoros.
Abordagem intertextual.
Apresentação de fragmentos da música Minha Alma (A Paz que eu não
quero) de O Rappa para análise e interpretação textual, questões de
coesão e coerência, questões gramaticais e produção textual.
Diferenciação entre pichação e grafite.
Encerramento da Unidade Didática – Produção de clipes e paródias.
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3.2 ANÁLISE DE DADOS
Após as atividades desenvolvidas pelos estudantes e administradas pela
professora PDE 2009 Tânia Mara Ferreira Machado, os educandos passaram a
analisar aquilo que antes para eles não tinha valor, a intencionalidade por detrás das
letras de músicas, que tudo o que é dito, parte de um lugar determinado e segue
com um objetivo pré-estabelecido. Os estudantes passaram a desvelar com
propriedade as letras.
Com as atividades referentes à refacção textual, os estudantes puderam
observar com mais propriedade a importância da revisão, não como mais um
trabalho a ser desenvolvido, mas compreendendo seu real valor.
Por ser processual, a avaliação propiciou à professora a análise das
mudanças, as quais foram progressivas apresentando bom rendimento e
desenvolvimento por parte dos estudantes que passaram a fazer a releitura das
músicas, que inicialmente eram apenas ritmo, e compreenderam seu papel, pois
enquanto sujeitos, por serem capazes de pensar e interagir precisam interpretar e
atribuir um significado ao que lêem. Conforme LAJOLO apud GERALDI, (1985,
p.91):
―Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe significado, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e dono da própria vontade, de entregar-se a essa leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista.‖
Através da Unidade Didática ―Leitura crítica de letra de música e prática social
da escrita‖, minimizou-se o problema inicial apresentado, a falta de leitura dialógica e
a dificuldade na produção dos educandos.
Através de um material pesquisado e elaborado, o estudante agora é capaz
de, com interesse, ler e produzir novos textos com propriedade, posicionando-se
criticamente diante das diversas vozes que circulam no gênero letra de música nos
diferentes estilos e temas que compõem o universo juvenil.
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De maneira geral, os estudantes participaram ativamente das atividades,
entendendo que o tema abordado era importante e foi feito de maneira interessante
e agradável. Os educandos, até então, não faziam as análises das músicas que
ouviam, mas vivenciavam apenas a reprodução sonora.
A mudança do hábito, buscando o posicionamento do cidadão trouxe ao
trabalho um resultado satisfatório, uma vez que o estudante passou a se perceber
enquanto sujeito com voz e vez na escola e na sociedade como um todo.
V CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final deste trabalho, torna-se evidente que o estudo por gêneros oferece
aos estudantes uma forma diferenciada de aprender e apreender a língua, de uma
forma mais próxima do cotidiano individual e social.
O trabalho trouxe uma considerável melhora nas produções bem como na
participação e interesse por aquilo que estava sendo aplicado.
As dificuldades textuais foram superadas individualmente ou com o apoio do
grupo que fazia com que cada um se dedicasse ao máximo no cumprimento das
atividades e nas produções. A refacção dos trabalhos fez com que eles
percebessem a importância da retomada das atividades, e que durante este
momento, os trabalhos poderiam ser complementados, pois as produções tinham o
que dizer e para quem dizer e que mesmo sendo um trabalho árduo, ao final ele era
gratificante, e imprescindível para alcançar o objetivo definido, um texto melhor
elaborado, mais consciente, o que permitiu crescimento dos estudantes enquanto
cidadãos.
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VI REFERÊNCIAS
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