da escola pÚblica paranaense 2009 - … · para que adestre-se a si mesmo”. (gallo e veiga neto,...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
PARANÁGOVERNO DO ESTADO
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEEDSUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPEPROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
AMORES IMPOSSIVEIS: REFORMA DE PENSAMENTO A PARTIR DE OFICINAS
DE LITERATURA
Edivirgem Neves Machado1
Daniel Oliveira Gomes2
Resumo
Este artigo visa relatar a implementação do projeto “Amores Impossíveis: Reforma de Pensamento a partir de oficinas de Literatura” que foi desenvolvido com os alunos do 2º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual João Cavalli da Costa – EFM. Através da realização de oficinas, com o objetivo de ampliar os conhecimentos para uma reforma do ensino que comece pela reforma do pensamento, e a reforma do pensamento deve levar à reforma do ensino. Segundo Edgar Morin “uma cabeça bem-feita é uma cabeça apta a organizar os conhecimentos”. O objetivo do projeto não foi o de transmitir conhecimentos numerosos ao aluno, mas o de criar neles um estado interior e profundo, uma espécie de polaridade crítica que os oriente em um sentido definido, não apenas durante a infância, adolescência, mas por toda a vida. Com o desenvolvimento das atividades em forma de oficinas, com os temas propostos, tais como, “Os Amores Impossíveis na nossa Literatura”, procurou-se desenvolver neles sentimentos afetivos, cognitivos e sociais, para a integração da personalidade e também de transformação. Onde o “amor” sempre será uma busca, tanto como um tema específico associado a alguns romances das belas letras como um pretexto para a reforma do pensamento desde as possibilidades do espaço escolar.
1 - Professora PDE – 2009 – Língua Portuguesa – Colégio Estadual João Cavalli da Costa – EFM - [email protected] . UNICENTRO – Universidades Estadual de Guarapuava – Paraná.
2 - Orientador Professor Dr. Em Literatura (UFSC) Professor Adjunto da UNICENTRO – Universidades Estadual de Guarapuava
– Paraná.
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Palavras-chave: Amor; Reforma de Pensamento; Literatura; Morin.
Abstract
This article aims at reporting the implementation of the project " Impossible love: reform of thought from offices of literature school" which was developed with the students of 2nd year of high school at João Cavalli da Costa School. Through workshops, aiming to expand knowledge for an education reform that begins with the reform of thought, and thought reform should lead to education reform. According to Edgar Morin "a well-shaped head is a head able to organize knowledge.” The project objective was not to give a lot of knowledge to the student, but to create in him a deep and inner state, a kind of spirit that the polarity of the east in a definite sense, not only during childhood, adolescence, but for all life. With the development of activities in the form of workshops with the themes proposed, such as, "impossible love in our literature,” tried to develop in students affective, cognitive and social feelings for the integration of personality and also of transformation, in which "love” will always be a search, either as a specific topic related to some novels of belles-lettres as a pretext for the reform of thought since the chances of school space.
Key words: Love; Reformation Thought; Literature; Morin
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo, como proposta descritiva de pesquisa aplicada, teve com
objetivo de relatar o Projeto de Implementação Pedagógica que foi desenvolvido com
os alunos através de oficinas na sala de aula. O propósito esteve sob o tema “os
amores impossíveis na nossa literatura”. Dentre outros temas, procurou-se abrir
espaços para o repensar tópico acerca da postura masculina e feminina, no âmbito
familiar e social do educando. Essa dualidade materializada pela desigualdade,
tendo em vista a condição passiva imposta à mulher, em uma sociedade marcada
pela dominação masculina e a exploração da fragilidade feminina, foi retratada nas
obras: Romeu e Julieta, Iracema e Martim, Lucíola e Paulo, Capitu e Bentinho.
Com o presente projeto, procura-se demonstrar a importância da
contextualização do ensino da literatura como uma ponte entre o presente e o
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passado. Procuraremos estar pensando sob a ótica foucaultiana com a qual, no
Brasil, autores como Silvio Gallo e Alfredo Veiga Neto, escrevem ensaios sobre uma
nova filosofia da educação, onde “o educador precisa adestrar-se a si mesmo,
construir-se como educador, para que possa educar, isto é, preparar-se para o outro
para que adestre-se a si mesmo”. (Gallo e Veiga Neto, 2007, p. 21). Estes autores
acreditam que algumas leituras, mesmo que básicas e de modo inicial, de e sobre
Foucault, podem auxiliar como um deslocamento para se pensar a educação e como
antídoto contra determinadas posturas dogmáticas.
Na expectativa de despertar o imaginário nos alunos, na construção e no
repensar de valores e sensibilidades que vão entrelaçando suas vidas, é que nosso
trabalho em classe foi possível. Precisamos adentrar no mundo deles, os alunos, e
juntos descobrir como resgatar esse interesse pela literatura. Segundo Aildo Cosson:
“É assim que tem lugar na escola o novo e o velho, o trivial e o estético, o simples e
o complexo e toda a miríade de textos que faz da leitura literária uma atividade de
prazer e conhecimento singular”. (COSSON, 2007, p. 36).
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 O PROJETO
Metodologicamente, trabalhamos o tema a partir de leituras primárias de dois
autores franceses: Michel Foucault e Edgar Morin, sendo analisada a contribuição
que cada um nos passa. Foucault em uma de suas teorias revela que: “A disciplina é
uma anatomia política do detalhe”. E Edgar Morin nos diz que “literatura é para os
adolescentes uma escola de vida e um meio para se adquirir conhecimentos”. No
espírito destes ensinamentos, o projeto propriamente dito desenvolveu-se através de
detalhadas oficinas literárias nas aulas de Língua Portuguesa. Tendo sido
apresentados os textos e discutido os mesmos com os alunos, valorizando época,
região em que foi escrito cada romance. Estas discussões nos trouxeram para os
dias de hoje os amores impossíveis. Respeitando um pensamento que surgisse
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livremente e não circunscrito previamente, é que se debateu a instauração deste
tema, o qual serviu de elo para a seleção de textos a serem estudados em classe.
Como se vive o amor nos dias atuais? Quais seriam os casos de repercussão?
Ainda existem tragédias por amor?
Esta é uma pergunta com a qual nos confrontamos. Por um lado, temos de
perguntar o que, exatamente, representa esta atividade que consiste em difundir
ficção em uma realidade. Também analisamos alguns fatos: dentre todas as obras,
por que algumas delas são sacralizadas e por meio das quais estratégias elas se
tornaram canônicas e uma leitura geralmente possível no âmbito escolar? Por qual
motivo as obras que tratam dos temas amorosos são imediatamente assimiladas por
adolescentes?
Estas atividades tendo sido desenvolvidas em grande parte na sala de aula
nas mais diversas circunstâncias foram denominadas de oficinas literárias, porque
ocorreu a ação dos alunos e não a simples exposição do conteúdo por parte do
professor. Para a realização de cada uma das oficinas, foram escolhidos textos de
autores de épocas ou escolas literárias diferentes (desde o Romantismo até o Pós-
Modernismo) para serem trabalhados em sala de aula, como por exemplo: Iracema e
Martins (José de Alencar), Lucíola e Paulo (José de Alencar), Capitu e Bentinho
(Machado de Assis), Romeu e Julieta (William Shekespeare), e com esses textos,
trazer para os dias de hoje os acontecimentos da época. Foi uma forma de despertar
nos alunos um interesse a mais pela literatura, fazendo que participem da história e
a contextualizam com os acontecimentos amorosos dos dias atuais.
A escola, um espaço privilegiado que permitem às crianças e jovens o
acesso a uma grande variedade de leituras. Devemos ser o guia que conduz os
alunos em seu desenvolvimento como leitores. Compete a nós oferecer uma
variedade de textos que desafiem suas expectativas, promovendo a ampliação de
sua competência leitora. Sabemos que a escola é uma instituição que age pela
classificação dos corpos dos educandos, de enquadramentos físicos, a fim de
alcançar uma postura dócil. Nossas oficinas buscaram modificar este espaço de
poder e uniformização. Segundo Foucault, (2006):
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Vimos como os processos de repartição disciplinar tinham seu lugar entre as técnicas contemporâneas de classificação e de enquadramento, e como eles aí introduziam o problema específico e da multiplicidade. Do mesmo modo, os controles disciplinares da atividade encontram lugar em todas as pesquisas, teorias e práticas, sobre a máquina natural dos corpos; mas elas começam a descobrir nisso processos específicos; o comportamento e suas exigências orgânicas vão pouco a pouco substituir a simples física do movimento. O corpo, do qual se requer que seja dócil até suas mínimas operações, opõe e mostra as condições de funcionamento próprias a um organismo. O poder disciplinar tem por correlato uma individualidade não só analítica e “celular”, mas também natural e orgânica. (Foucault, Vigiar e Punir, 2006, p. 132).
Assim, o propósito deste trabalho foi ensejar uma discussão sobre a
relevância de utilizar aspectos da pesquisa-ação no ensino da literatura no Ensino
Médio, a fim de contribuir para revitalizar a disciplina, acenando com a possibilidade
de mudança essa que poderá ser concretizada a partir da capacitação humanística,
técnica e científica dos recursos humanos envolvidos. Nesse sentido, torna-se
imprescindível promover a literatura para que se torne, além de agradável e
produtiva, uma possibilidade de reflexão sobre o ser humano e a sociedade.
Com o tema “Os Amores Impossíveis da Nossa Literatura”, procurou-se atingir
no ponto que realmente o adolescente tem uma busca incessante.
2.2 PERTINÊNCIA DO TEMA - OS AMORES IMPOSSÍVEIS NA NOSSA
LITERATURA
Na adolescência, a dificuldade de não ter a pessoa que desejamos pode ser
um motivo que impulsiona a libido a uma ação, ação esta que pretendemos canalizar
para o gesto do prazer na leitura literária. Funciona exatamente como a sedução do
perigo. Muitas pessoas fazem isso para provar sua força, sua capacidade de
conquista, por meio de jogos eróticos. Quanto mais difícil e distante, mais o amor
parece ser grande, excepcional e único. E quem não quer viver algo grandioso? Em
um amor impossível cabem todos os sonhos, todas as perfeições e personagens, o
mínimo detalhe é idealizado. Construímos uma imagem em nossa cabeça, que
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aquela pessoa é única, e é exatamente o que passamos à vida inteira procurando,
mesmo que tudo pareça contrário. Este potencial amoroso, como uma adequada
curiosidade erótica, é o que deveríamos tentar irrigar no aluno adolescente, ao invés
de excluir traços naturais da dimensão escolar. .
O tema do amor impossível seria sempre algo que deixa aquela sensação de
vazio, de inacabado, mal resolvido. E tudo que é mal resolvido, por um lado,
preocupa, incomoda e atormenta. Pois, junto dele, vem à dúvida (e se eu tivesse
tentando, tivesse feito diferente). É difícil conviver com uma ilusão. Pois a ilusão não
tem resposta, ela não é sim nem não. Um amor impossível é forte, resiste ao tempo,
ele pode marcar uma pessoa mais que toda uma vida vivida ao lado de outra. O
tema deste modo pode igualmente proporcionar o investimento do aluno e do
professor em um pensamento aberto, cotidiano, criativo e estimulante.
Os amores impossíveis são assim, como sangues em nossas veias, correm
em nosso corpo, devoram as nossas energias destroçam-nos, por um momento eles
nos elevam nos faz ir ao mais alto céu, ter o mais intenso sonho para depois, perder-
se na sua impossibilidade. “A infelicidade caminha lado a lado com a felicidade; a
felicidade dorme ao pé da infelicidade”. (Edgar Morin, Amor poesia Sabedoria, 2002,
p 09).
2.3 CABEÇA BEM FEITA DOS ALUNOS
Com toda a expectativa que esse amor trás, podemos dizer que é na escola e
principalmente nas aulas de Língua Portuguesa, que podemos ajudar a entender o
conflito amoroso que vive o adolescente aproveitando para despertar neles o gosto
pela leitura literária. Mostrando que ali é o espaço privilegiado que permite as
crianças e jovens o acesso a uma grande variedade de leituras. O professor deve
ser o guia que conduz os alunos em seu desenvolvimento como leitores. Compete a
ele oferecer uma variedade de textos que desafiem suas expectativas, promovendo
a ampliação de sua competência leitora. Sírio Possenti diz:
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Deve-se conceber a atividade do falante não como atividade de apropriação porque, a partir deste conceito, fica excluído o fato de que o locutor age também sobre a língua já que põe em evidencia apenas a ação entre e sobre os interlocutores através da língua. (POSSENTI. 1988, p. 49).
O professor desempenha um duplo papel nesse processo: por um lado,
promove experiências de leitura compartilhada em sala de aula; por outro, estimula
os alunos a leituras mais complexas, que ampliará seu universo de conhecimento.
Edgar Morin afirma:
Devemos, pois, pensar o problema do ensino, considerando, por um lado, os efeitos cada vez mais graves da compartimentarão dos saberes e da incapacidade de articulá-los, uns aos outros; por outro lado, considerando a aptidão para contextualizar e integrar é uma qualidade fundamental da mente humana, que precisa ser desenvolvida, e não atrofiada”. (MORIN 2008, p. 16). [...] Uma cabeça bem-feita é aquela em vez de acumular o saber precisa dispor ao mesmo tempo de: - uma aptidão geral para colocar e tratar os problemas; - princípios organizadores que permitam ligar os saberes e lhes dar sentido. (MORIN, 2008, p. 21).
As idéias de Morin são bem-vindas quando nos dispomos a fazer uma
reviravolta na educação escolar, para garantir às novas gerações o direito de cursar
uma escola, cuja ética se fundamenta numa visão irrestrita das possibilidades
humanas e na valorização de suas manifestações particulares.
Assim como o pensamento complexo é essencial para que se produzam
novidades e conhecimentos de sustentação e de defesa de uma escola para todos,
os Estudos Culturais Contemporâneos nos apóiam na discussão dos processos
inclusivos escolares em que emergem os conceitos de identidade e diferença. Na
trilha de Edgar Morin, pode-se afirmar que é preciso “um princípio de conhecimento
que não apenas respeite, mas revele o mistério das coisas. É preciso caminhar sem
um caminho, fazer o caminho enquanto se caminha” (2005, p.36). A proposição do
“a-método” de Morin, porque aberta, presta-se ao trabalho com a literatura na escola,
que deve respeitar o princípio de liberdade inerente à arte literária. É, pois, do texto,
que emerge qualquer proposta pedagógica com a literatura e para o texto que se
volta.
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Nessa medida, o aluno deve ser percebido como leitor: aquele que parte
sempre do texto para a reflexão: e não o contrário. Propor um caminho diferente
desse é criar um método artificial, um atalho, uma rota tortuosa. Considerando-se,
pois, o contexto contemporâneo, é necessário preparar o aluno para a leitura,
criando pontos de associação, de aproximação, entre o leitor, o texto e o mundo, não
necessariamente nessa ordem.
Nessa perspectiva, os fundamentos teóricos que alicerçam a discussão sobre
o ensino de Língua e Literatura (SEED 2088), requerem novos posicionamentos em
relação às práticas de ensino. Devemos considerar a formação do leitor e isso não
apenas considerar diferentes leituras de mundo, experiências de vida.
2.3 A CABEÇA BEM FEITA DO EDUCADOR
Segundo Guedes (2006), “A tarefa do professor de português é ensinar a ler
literatura brasileira para que o aluno se aproprie das palavras e expressões que a
tradição da escrita em língua portuguesa já forjou para falar a respeito de nossas
questões com a vida”. (GUEDES 2006, p. 52).
Ensinar a escrever literatura brasileira para que ele perceba a dignidade com
que seu vernáculo dá sentido a sua relação com a realidade que vive, escrevendo
suas palavras para registrar a expressão de quem se esforça para enxergar o modo
como vemos nosso jeito de levar a vida. Guedes diz: “Ensinar a ler e escrever
principalmente para mostrar que o maior ensinamento que nos dá a literatura
brasileira é que podemos todos participar de seu histórico projeto de resistência ao
colonialismo”. (GUEDES, 2006, p. 52).
É à literatura, como linguagem e como instituição, que se confiam os
diferentes imaginários, as diferentes sensibilidades, valores e comportamentos
através das qual uma sociedade expressa e discute, simbolicamente, seus desejos,
suas utopias.
Foucault nos diz que: “O poder disciplinar é, com efeito, um poder que, em
vez de se apropriar e de retirar, tem como função maior “adestrar”; ou sem dúvida
adestrar para retirar e se apropriar ainda mais e melhor”. (FOUCAULT, 2006, p.143). Maio de 2011
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Por isso a literatura é importante no currículo escolar: o cidadão para exercer
plenamente sua cidadania, precisa apossar-se da linguagem literária, alfabetizar-se
nela, tornar-se seu usuário competente, mesmo que nunca vá escrever um livro: mas
porque precisam ler muitos.
A leitura literária parece constituir um tecido ao mesmo tempo individual e
coletivo. Cada leitor, na individualidade de sua vida, vai entrelaçando o significado
pessoal de suas leituras com os vários significados que, ao longo da história de seu
texto, este foi acumulando. Cada um tem a história de suas leituras, cada texto, a
história das suas. Leitor maduro é aquele que, em contato com o texto novo, faz
convergir para o significado deste o significado de todos os textos que leu. E,
conhecedor das interpretações que um texto já recebeu, é livre para aceitá-las, e
capaz de sobrepô-las a interpretação que nasceu de seu diálogo com o texto.
3. DESCRIÇÃO METODOLOGICA
3.1 A EXPERIÊNCIA COM LUCÍOLA
Na oficina trabalhada com a obra Lucíola, de José de Alencar, os alunos se
mostraram capazes de interpretar um texto literário produzido no século XlX, que
trata da prostituição nas camadas sociais. Feita uma breve apresentação dos
capítulos do livro com o objetivo de estimular os alunos para uma leitura mais
completa posterior. Realizou-se questionamentos referentes à contextualização entre
obras produzidas no século XIX, com as produzidas no século XXI.
Realizou-se debate, sobre as questões, voltadas para a obra, em seguida, foi
assistido cenas do filme “Um amor para recordar”, 2003, EUA, direção de Adam
Shankman.
Com isso foi possível organizar o trabalho. Uma produção textual, com o
objetivo de estimular conexões, estabelecendo proximidades com a obra e
identificando os distanciamentos, criando um contexto para “essa viagem literária”,
uma volta ao tempo. Foram usadas imagens coletadas da Internet, impressa Maio de 2011
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veiculadas, slides, vídeos, filme ou datashow, que contribuíram para essa
contextualização. Tais imagens nos remeteram a episódios, personagens, situações,
vestimentas, hábitos, etc. relacionados à narrativa. No caso da obra em questão,
coube, por exemplo, imagens de senhoras e cavalheiras, de carruagens movidas à
tração animal e do prédio de um teatro no contexto do século XIX; imagens do Rio
de Janeiro antigo (que permitiram alguma identificação). Essas imagens antigas
despertaram nos alunos muitas curiosidades comparando com fotos atuais.
.
Foto pessoal da professora
Como resultado foram feitas produções de textos variadas como mudando o
fim da história ou fazendo um paralelo no tempo. Nos dias de hoje, no Rio de
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Janeiro, onde foi o palco da obra, como são os casos de “Amores Impossíveis”?. A
transformação causada pelo sentimento amoroso. Na obra Lucíola, o que torna o
“Amor Impossível”, entre Lucia e Paulo, são os valores sociais e morais impostos
pela sociedade.
3.2 A EXPERIÊNCIA COM ROMEU E JULIETA
Na oficina que abordou a obra Romeu e Julieta, teve-se como propósito
discutir sobre a responsabilidade pessoal, o livre arbítrio das pessoas e o efeito de
suas escolhas sobre os outros. Foram usadas muitas fotos da cidade de Verona,
esta (centro da cidade), em especial serviu para localizá-los onde fica a casa de
Julieta.
Foto pessoal da professora
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Antes de introduzir o trabalho como oficina, aos alunos, foi apresentada toda
a história de Romeu e Julieta, onde foram discutidos os recursos literários e o
desenvolvimento da trama. Foi realizada uma dramatização da obra para uma
melhor interpretação e entendimento, focalizando o amor através dos tempos, da
cultura os conflitos e transgressões sociais. Depois de reavaliar a oficina, os alunos
contextualizaram os momentos referentes aos conflitos encontrados em Romeu e
Julieta à vida moderna. Foi trabalhado para tentar encontrar soluções para os
problemas tais como: famílias rivais sempre irão se opor ao relacionamento dos seus
filhos. Fundamentando sobre a iniciativa de explorar a pergunta: "Como a literatura
ajuda o auto conhecimento?" Consideraram-se as modificações que podem ocorrer
através do tempo e entre culturas.
Foram realizadas analises de como Shakespeare mantém-se tão atual para
o público do século XXI. Foram disponibilizadas para visualização dos alunos, fotos
e materiais de Verona (Itália), além de debates e comentários sobre o local, como a
personagem mais ilustre e mais visitada e a casa de Julieta. O local hoje abriga um
museu e também uma loja de souvenires, turistas deixam mensagens ou bilhetes de
amor nos muros que dão acesso a casa de Julieta. Nesta obra, o que torna
“Impossível o amor” são as famílias inimigas.
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Foto pessoal da professora – Imagem do Jardim da casa de Julieta em Verona – Itália.
3.4 A EXPERIÊNCIA COM DOM CASMURRO
Na implementação da oficina sobre Dom Casmurro, além de apresentar a
obra em sala de aula, para que houvesse uma melhor compreensão os alunos,
foram assistidos cenas do filme “Dom”. (2003, Brasileiro, Direção – Moacyr Góes).
Foi proposto aos alunos elaborar o “Júri de Capitu”. Para que esse trabalho
fosse construído, foi feita uma visita ao fórum da cidade e com autorização da Juíza
os alunos tiveram a oportunidades de assistir a um júri. Assim eles tiveram o
conhecimento como é feita a montagem de um júri verdadeiro, tais como:
composição da mesa de jurado; quem pode ser jurado; Promotor; o papel que
desempenha em um júri; Juiz, a responsabilidade dele perante a sociedade, na hora
da sentença. Advogados de defesa e acusação, o domínio que precisam ter da
causa.
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Para a conclusão da referida oficina, foi realizada a simulação do Júri de
Capitu, pelos alunos do 2º ano, simulação essa que foi apresentada a todos os
estudantes de Ensino Médio do Colégio.
Descrição do depoimento de um aluno que participou da simulação do Júri
de Capitu, “foi uma experiência muito boa, para representar, tivemos primeiro que
conhecer a obra (lendo), entender as personagens seus motivos e preocupação,
suas angustias, alegrias e procurar entender seus pensamentos. Depois de várias
pesquisas em livros, fizemos uma visita ao fórum para saber como se dispõem os
membros de um júri. Na opinião do grupo que apresentou, achamos que foi ótimo,
por que a aula saiu da monotonia e entendemos melhor sua história E como
veredicto achamos que o enigma deve continuar, uma vez desvendado o mistério de
Capitu acaba toda a magia que envolve uma das mais lindas histórias de amor.
Num primeiro momento apresentamos na turma e depois para as demais do
Colégio”.
Como ilustrações da oficina, foram utilizadas fotos do Rio de Janeiro (antigo
e atual), para que os alunos encontrassem o cenário da obra.
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Foto pessoal da professora
3.5 A EXPERIÊNCIA COM IRACEMA
Na realização da oficina onde foi apresentado aos alunos o amor de Martim
pela índia Iracema, a virgem dos lábios de mel, procurou-se fazer de forma bem
atraente, para estimulá-los à leitura. Para promover a motivação sobre da obra foram
mostradas aos alunos inicialmente, várias fotos da cidade de Fortaleza (CE), mais
precisamente da praia de Iracema onde foi construído o memorial, onde ocorriam os
encontros entre a índia e o português, Martim, conforme ilustração abaixo:.
Foto pessoal da professora
Durante a realização da oficina, tornou-se agradável e os alunos entenderam
que o “Amor Impossível”, entre Iracema e Martim, foi a diferença da cultura e das
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raças. Na mesma oficina, foi utilizada cena do filme “Desmundo”, (Filme brasileiro”,
2003. - Direção Alain).
Durante a realização da oficina, foi exposto aos alunos que Iracema
conhecia o segredo de Jurema, vinculada ao que hoje chamamos de Santo Daime.
Moacir o “filho da dor”, sendo considerado a mistura das raças ou o primeiro
brasileiro. Muitos questionamentos sobre esta obra, e concluído com várias
produções de textos.
4. CONCLUSÃO
Após a implementação do projeto durante a realização das oficinas, concluiu-
se que as obras estudadas tratam de amores impossíveis vividos nas suas épocas e
que podem ser contextualizadas com os acontecimentos atuais, como por exemplo,
o ciúme obsessivo de Bentinho por Capitu e da cortesã Lucíola. Tendo como cenário
a cidade do Rio de Janeiro. Em épocas diferentes, mas a sociedade, os lugares
descritos nos levam a uma análise detalhada de sentimentos e amores trágicos.
A passividade de Capitu, ao se submeter à autoridade do marido, tem duas
leituras que não se excluem: “uma confissão de culpa, ou, ao contrário, uma prova
de caráter, de inocência ultrajada”, pois formam um dilema insolúvel. Numa leitura
feminista, essa atitude de Capitu parece corresponder à chamada resistência
passiva, um comportamento feminino que se situa entre as categorias de mulher-
sujeito e mulher objeto. Aquela que era vista como posse do marido, sempre dentro
de casa cuidando dos afazeres domésticos, sofrendo toda repressão sexual e social.
Para que essa mulher se tornasse sujeito foi depois de muita luta, mas
principalmente o trabalho foi sua independência. Um tipo singular de mulher que não
se curva às limitações.
A eterna sombra da traição, que persegue as personagens masculinas,
deixa com que Lucíola e Capitu tenham consciência da opressão sofrida e da
incapacidade de reagir devido ao desarmamento que consiste a educação feminina
imposta pela sociedade de sua época.
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No romance de Iracema e Romeu e Julieta após a elaboração de um
paralelo destas situações do cotidiano, onde o amor superando corajosamente
qualquer obstáculo social ou cultural, este se torna à única e verdadeira razão de
vida e morte.
A utilização das metodologias empregadas nas oficinas, com motivação
através de imagens, vídeos, dramatização, relatos de historias atuais, tornam o
processo de ensino aprendizagem mais atraente e eficiente da Literatura Brasileira,
demonstram a importância da contextualização do ensino da literatura como uma
ponte entre o presente e o passado. Como Morin diz:
Assim, podemos imaginar os caminhos que permitiriam descobrir, em nossas condições contemporâneas, a finalidade da cabeça bem-feita. Tratar-se-ia de um processo contínuo ao longo dos diversos níveis de ensino, em que a cultura científica e a cultura das humanidades poderiam ser mobilizadas. Uma educação para a cabeça bem-feita, que acabe com a disjunção entre as duas culturas, daria capacidade para responder aos formidáveis desafios da globalidade e da complexidade na vida quotidiana, social, política, nacional e mundial. (MORIM, 2008, p. 33).
Enfim, Concluímos, neste artigo, que a partir da experiência de leitura teórica
e toda fundamentação sobre o pensamento complexo de Morin, a implementação
teve aproveitamento auxiliando professor e alunos que caminhassem juntos rumos à
finalidade de uma cabeça-bem-feita em sala de aula.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ALENCAR, José: “Iracema”, Erechin-RS, Edelbra - 1987.
ALENCAR, José: “Lucíola”, São Paulo-SP, editora Ática – 2002.
ASSIS, Machado de. “Dom Casmurro”, São Paulo/SP, editora DOMO-2005.
BARTHES, Roland, Fragmentos de um discurso amoroso, Edição 70, 2010.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir, Editora Vozes – Petrópolis 2006.
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GALLO, Silvio; Veiga-Neto, Alfredo. Ensaio para uma filosofia da educação, Revista Educação Especial - Biblioteca do Professor - São Paulo, Editora Segmento, 2007 pg 16 a 25.
GUEDES. Paulo Coimbra - “A Formação do Professor de Português”: Editora Parábola, São Paulo, 2006.
LAJOLO, Marisa- “Do mundo da Leitura para a Leitura do Mundo”: Atica São Paulo-2006.
MORIN, Edgar - Os sete Saberes Necessários à Educação do Futuro 3a. ed. - São Paulo - Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2001.
MORIN, Edgar - “Amor Poesia Sabedoria”; Editora Bertrand –RJ -Brasil 2002.
MORIN, Edgar – “Cabeça bem Feita”; Editora Bertrand – RJ-Brasil, 2008.
SEED - Diretrizes curriculares de Língua Portuguesa; 2006.
SHAKESPEARE, William: “Romeu e Julieta”, Curitiba, Posigraf -1997.
FILMES
“Desmundo – Filme brasileiro”, 2003. - Direção Alain Fresnot, gênero Drama.
“Dom” 2003- Brasileiro. Direção – Moacyr Góes.
“Um Amor para Recordar” - 2003 no EUA, sob a direção de Adam Shankman.
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