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UNIVERSIDADE POTIGUAR PRÓ-REITORIA ACADÊMICA MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO CINTIA REGINA GALLO O ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO NA PERSPECTIVA SINDICAL NATAL/RN 2016

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UNIVERSIDADE POTIGUAR

PRÓ-REITORIA ACADÊMICA

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

CINTIA REGINA GALLO

O ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO NA PERSPECTIVA SINDICAL

NATAL/RN

2016

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CINTIA REGINA GALLO

O ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO NA PERSPECTIVA SINDICAL

Dissertação apresentada ao

Programa de Pós-Graduação Stricto

Sensu em Administração, da

Universidade Potiguar, como

requisito para obtenção do título de

Mestre em Administração na Área de

Concentração Gestão Estratégica de

Negócios.

Orientador: Prof. Walid Abbas El-Aouar. Dr.

NATAL/RN

2016

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Gallo, Cíntia Regina.

Assédio moral no trabalho na perspectiva sindical / Cíntia

Regina Gallo – Natal, 2016.

90 p.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Potiguar, 2016.

Orientador: Walid Abbas El-Aouar

1.Administração. 2. Saúde mental e trabalho. 3. Assédio moral. 4.

Sindicatos. I. Título.

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CINTIA REGINA GALLO

ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO NA PERSPECTIVA SINDICAL

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Administração da

Universidade Potiguar, como requisito para

obtenção de título de Mestre em

Administração, na área de na Área de

Concentração Gestão Estratégica de

Negócios.

Aprovado em 20/05/2016

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________

Prof. Walid Abbas El-Aouar, Dr.

Orientador

Universidade Potiguar

_____________________________________________

Profª. Lydia Maria Pinto Brito, Dra.

Membro examinador

Universidade Potiguar

______________________________________________

Profª. Fernanda Fernandes Gurgel, Dra.

Membro examinador externo

FACISA/UFRN

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Agradecimentos

Agradeço primeiramente a minha família, que desde sempre me incentiva

e apoia na vida.

Por todos os ensinamentos, apoio e suporte, agradeço ao corpo docente

e administrativo do Mestrado Profissional em Administração da Universidade

Potiguar. Em especial, ao meu orientador Walid pela confiança, pelas

cobranças(!) e pelos incentivos.

Agradeço também aos meus colegas de trabalho, que muitas vezes me

ajudaram, seja “segurando as pontas” no trabalho ou emprestando material

teórico.

Um agradecimento especial aos dirigentes sindicais que disponibilizaram

um pouco do seu tempo para falar sobre o assédio moral.

Por fim, agradeço meus colegas de mestrado que compartilharam comigo

conhecimentos e emoções.

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“A obrigação de produzir aliena a paixão

de criar.”

(Raoul Vaneigem)

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RESUMO

Os modos de organização da produção sofreram grandes transformações nas últimas décadas, formatados pelo sistema socioeconômico que valoriza o capital, maximiza o lucro, estabelece uma competição acirrada e exige a produtividade máxima dos trabalhadores. Esse cenário, propicia a prática do assédio moral no trabalho tanto de forma individual quanto de forma coletiva. As entidades sindicais, enquanto representantes e defensoras dos direitos de suas categorias, devem estar conscientes de seu papel na proteção à saúde do trabalhador. O presente estudo teve como objetivo compreender a perspectiva de dirigentes sindicais a respeito do assédio moral no trabalho e identificar as ações desenvolvidas pelos sindicatos em relação a prevenção e combate desse tipo de violência. A metodologia utilizada foi de abordagem qualitativa, com finalidade descritiva. A entrevista semi-estruturada foi o procedimento de coleta de dados adotado nesta pesquisa, e aplicada com dez dirigentes sindicais. Para o tratamento dos dados recorreu-se a análise de conteúdo. Os achados da pesquisa apontam que os dirigentes de sindicatos de trabalhadores apresentam uma perspectiva do assédio moral no trabalho mais ou menos próxima da literatura sobre o assunto. No entanto, o entendimento dos dirigentes sindicais sobre o assédio moral coletivo sugere um conhecimento limitado acerca de suas características. Os entrevistados compreendem o papel do sindicato no contexto laboral e acreditam que devem estabelecer maneiras de amparar os trabalhadores no enfrentamento desse tipo de violência, e para isso, adotam diversas práticas para a prevenção e combate das situações assediadoras. Dessa forma, os sindicatos se constituem como parceiros dos trabalhadores no enfrentamento do assédio moral, mas ainda pouco combativos com as formas nocivas de organização do trabalho decorrentes da reestruturação produtiva pautada no sistema capitalista de exploração da mão de obra. Palavras-chave: Saúde mental e trabalho. Relações de trabalho. Assédio moral. Sindicatos.

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ABSTRACT

The organization of production methods have undergone great changes in recent decades, formatted by the socio-economic system that values the capital, maximize profit, establishes a fierce competition and demands maximum productivity of workers. This scenario provides the practice of moral harassment at work both individually as collectively. Trade unions as representatives and defenders of the rights of their categories should be aware of their role in protecting the workers' health. This study aimed to understand the perspective of trade union leaders about moral harassment at work and identify the actions taken by trade unions in relation to prevent and combat this type of violence. The methodology used was a qualitative approach with descriptive purpose. The semi-structured interview was the data collection procedure adopted in this research, and applied with ten trade union leaders. For the processing of data resorted to content analysis. The research findings indicate that the labor trade unions leaders have a perspective of moral harassment at work more or less close to the literature on the subject. However, the understanding of the trade union leaders on the collective moral harassment suggests limited knowledge about its features. Intervieweds understand the union's role in the labor context and believe they should establish ways to support workers in the face of such violence, and for this, adopt different practices for the prevention and combat of harassing situations. Thus, trade unions are constituted as partners of workers in the face of moral harassment, but still little combative with harmful forms of work organization resulting from the restructuring process guided the capitalist system of exploitation of hand labor.

Keywords: Mental health and work. Work relationships. Moral harassment. Trade Unions.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Categorias de análise ..................................................................57

Quadro 2 – Perspectivas sobre o assédio moral individual .........................61

Quadro 3 – Perspectivas sobre o assédio moral coletivo ............................65

Quadro 4 – Papel dos sindicatos em relação ao assédio moral no trabalho

...........................................................................................................................70

Quadro 5 – Implicações práticas ...................................................................75

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................11

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO...............................................................................13

1.2 PROBLEMÁTICA E QUESTÃO DE PESQUISA.........................................14

1.3 OBJETIVOS.................................................................................................16

1.3.1 Geral.......................................................................................................16

1.3.2 Específicos............................................................................................16

1.4 JUSTIFICATIVA...........................................................................................17

1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO....................................................................19

2 REFERENCIAL TEÓRICO..........................................................................20

2.1 RELAÇÕES DE TRABALHO CONTEMPORÂNEAS..................................20

2.2 ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO............................................................24

2.2.1 Características do assédio moral no trabalho...................................25

2.2.2 Métodos de assédio moral no trabalho...............................................28

2.2.3 Consequências do assédio moral no trabalho....................................30

2.2.4 Fatores que contribuem para a ocorrência do assédio moral no

trabalho..................................................................................................32

2.3 ASSÉDIO MORAL COLETIVO....................................................................34

2.4 OS SINDICATOS.........................................................................................42

2.5 ESTUDOS RECENTES SOBRE ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO

.....................................................................................................................48

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS....................................................53

3.1 TIPO DE PESQUISA....................................................................................53

3.2 PARTICIPANTES DO ESTUDO...................................................................54

3.3 INSTRUMENTO E PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS.................55

3.4 CATEGORIAS DE ANÁLISE........................................................................56

3.5 TRATAMENTO DOS DADOS......................................................................58

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS..........................................60

4.1 PERSPECTIVAS SOBRE O ASSÉDIO MORAL INDIVIDUAL.....................60

4.2 PERSPECTIVAS SOBRE O ASSÉDIO MORAL COLETIVO.......................65

4.3 O PAPEL DOS SINDICATOS EM RELAÇÃO AO ASSÉDIO MORAL NO

TRABALHO..................................................................................................70

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4.4 A ATUAÇÃO DOS SINDICATOS EM RELAÇÃO AO ASSÉDIO MORAL NO

TRABALHO..................................................................................................74

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................80

REFERÊNCIAS...........................................................................................83

ANEXOS......................................................................................................88

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1 INTRODUÇÃO

O assédio moral ou a violência psicológica no trabalho não é uma pratica nova.

É quase tão remota quanto o próprio trabalho. Ao longo da evolução histórica do

trabalho, a forma de sua organização sempre foi determinada pelo capital, dando

poderes aos que os detêm sob os que não possuem, afetando o significado da

atividade laboral na vida das pessoas e possibilitando práticas de gestão e controle

muitas vezes desumanas (ADORNO JUNIOR; SOUZA, 2008).

Os modos de produção mudaram radicalmente nas últimas décadas com a

implantação de novas tecnologias e pelas demandas de consumo da sociedade. Maior

produtividade ao menor custo de produção tem sido o mote das organizações

modernas. Com essas transformações, surgiram novas demandas para os

trabalhadores. Se no passado, os modos de organização afetavam principalmente a

saúde física dos trabalhadores, pelo excesso de carga de trabalho e condições

insalubres, por exemplo, nesse novo contexto, a saúde mental tem sido a mais afetada

(SELIGMANN-SILVA et al., 2010).

O sofrimento mental e adoecimento dos trabalhadores possuem forte relação

com os modos de organização do trabalho, como, por exemplo, o significado do

trabalho, os estilos de gestão, as relações de poder, a hierarquia e a distribuição de

responsabilidades (DEJOURS, 1992).

Observa-se uma falta de visibilidade para os fatores subjetivos do adoecimento

advindos das intensas pressões psicológicas para o alcance de metas ou

cumprimento de normas e procedimentos. O assédio moral e suas consequências, e

a síndrome de Burnout são exemplos do resultado de um meio ambiente de trabalho

doentio e consequência da atual forma de organização do trabalho (SCHINESTSCK,

2009).

No mesmo sentido, Barreto (2009) aponta diversos fatores do atual modelo de

organização do trabalho como influências diretas na saúde mental dos trabalhadores.

A divisão das tarefas e as práticas de gestão que incentivam a competitividade, o

individualismo e a responsabilização dos menos produtivos pelo não alcance de

metas, provocam sérios resultados na saúde do trabalhador e nas suas relações

interpessoais, dentro e fora do espaço de trabalho.

Nessa conjuntura, a violência psicológica ou assédio moral no trabalho, têm

sido temas recorrentes de estudos e pesquisas que visam caracterizar o fenômeno e

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desvelar suas causas e consequências, bem como, formas de evitar e prevenir sua

ocorrência (CAHÚ et al., 2011).

Faz-se necessário, no entanto, um olhar amplo sobre o fenômeno, estudando-

o tanto ao nível individual quanto coletivo. É importante destacar o entendimento dos

conceitos, das características, das consequências para a saúde dos trabalhadores,

mas, principalmente, discutir sobre a origem do assédio, quando ele deriva da ação

perversa de um indivíduo e quando deriva do poder do empregador em determinar os

modos de organização do trabalho (BARRETO; FREITAS; HELOANI, 2008).

O sistema socioeconômico vigente, com ideais de liberdade de mercado e livre

negociação, favorecem os donos do capital e instituem uma postura profissional,

moral e ética, para os trabalhadores, que assimilam os valores culturais correntes de

que o lucro e produtividade são positivos em qualquer contexto e devem ser buscados

por todos. Ou seja, a superexploração dos trabalhadores está justificada pelo ideal do

capitalismo (ROSSI; GERAB, 2009).

Nesse cenário, os sindicatos se apresentam como entidade representativa e

legal para defender os direitos dos trabalhadores e de categorias profissionais,

inclusive os referentes às condições de trabalho e à saúde dos trabalhadores,

buscando trazer equilíbrio entre as forças do empregador e dos empregados

(QUEIROZ, 2013).

Cabe aos sindicatos defender os direitos adquiridos e a melhoria das condições

de trabalho, de salário e de proteção social dos trabalhadores de suas respectivas

categorias profissionais. Porém, na visão dos sindicatos, a gestão do trabalho e as

práticas organizacionais ainda são tratadas como prerrogativas exclusivas do

empregador e, portanto, o interesse sobre esses temas por parte das entidades

sindicais é pouco expressivo (COTANDA, 2008).

Em virtude de o assédio moral no trabalho ter se tornado mais visível ou mais

conhecido, espera-se que os sindicatos incluam esse problema na pauta de suas

discussões para que o trabalhador possa encontrar amparo quando vítima dessa

prática, tendo em vista as repercussões pessoais e sociais que o assédio moral pode

causar. Tanto em nível individual quanto coletivo.

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1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

A discussão sobre os aspectos do assédio moral no trabalho e a relação com a

saúde dos trabalhadores é um tema contemporâneo, principalmente no Brasil. A longa

história de escravidão e exploração de mão de obra no Brasil, além da desigualdade

social, econômica e de oportunidades, proporcionam um ambiente propício para o

desenvolvimento da cultura baseada em valores superficiais e materiais. Nessa

cultura, já bastante assimilada por todos, o trabalhador é subjugado às mais diversas

formas de violência cada vez mais legitimada e banalizada pelo discurso do capital

(SOARES, 2006).

A busca insana por metas de uns poucos através do trabalho de muitos provoca

a necessidade de reflexão quanto às questões éticas da organização do trabalho e

seu impacto social (MORGAN, 1996). Desse modo, torna-se importante destacar o

papel do trabalho como meio de realização pessoal e inclusão social dos indivíduos,

e repudiar a visão do trabalhador como simples objeto do contrato de trabalho

(SCHINESTSCK, 2009).

As novas formas de organização do trabalho estabeleceram, o que alguns

autores denominam, de mal-estar das sociedades atuais. Resultado da degradação

das condições de trabalho, da busca desenfreada pela produtividade e do lucro, do

estímulo à competitividade e do individualismo, da coisificação do trabalhador

(BARRETO; FREITAS; HELOANI, 2008). Esse cenário, sintomático, torna-se

ambiente propício para a ocorrência do assédio moral.

Assédio moral é entendido aqui como uma conduta abusiva, que ocorre no

ambiente de trabalho, com certa regularidade, que visa humilhar, constranger,

denegrir um indivíduo ou grupo, atingindo sua dignidade e integridade profissional

(BARRETO; FREITAS; HELOANI, 2008). E também, em sentido mais amplo, como a

deterioração das condições e relações de trabalho, da precarização dos vínculos

profissionais, da imposição de normas e procedimentos ambíguos ou que ferem os

direitos dos trabalhadores.

O assédio moral coletivo, nesse sentido, se caracteriza através do uso incorreto

do poder diretivo do empregador, quando este utiliza de forma abusiva “o poder

subjetivo de organizar, regulamentar, fiscalizar a produção e punir os empregados”

(MUÇOUÇAH, 2014, p. 196), geralmente com o objetivo de aumentar a produtividade,

e disfarçada ou legitimada como política de gestão.

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Em ambos os sentidos, o trabalhador, vítima do assédio moral, pode encontrar

apoio nas suas respectivas entidades sindicais, tendo em vista que um sindicato é a

instituição, legal e legítima que visa defender e proteger os direitos dos trabalhadores

(QUEIROZ, 2013).

O Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos –

DIEESE publicou recentemente, em seu site, um estudo sobre o conteúdo das

cláusulas negociadas em acordos e convenções coletivas que abordam o tema saúde

do trabalhador. Nessa pesquisa, são apresentadas algumas cláusulas que abordam

diretamente o tema assédio moral, tanto no aspecto individual quanto coletivo,

demonstrando que os sindicatos, mesmo que timidamente, já estão participando nas

discussões sobre os conflitos gerados pela situação do assédio (DIEESE, 2015).

Dessa forma, criam-se expectativas para novas alternativas de acolhimento e

amparo para os que estão sofrendo o assédio moral no trabalho, uma vez que, alguns

sindicatos têm buscado intervir de maneira propositiva nas negociações em prol das

relações de trabalho sadias.

1.2 PROBLEMÁTICA E QUESTÃO DE PESQUISA

Uma análise preliminar da literatura sobre o tema, permite observar que existe

um significativo volume de produções acerca do assédio moral, principalmente

relacionados aos conceitos, às características, e às consequências para a saúde do

trabalhador e para os envolvidos. Percebe-se, também, um número crescente de

produções acerca do assédio moral como parte de um sistema maior, que se

estabelece a partir do sistema socioeconômico vigente e de determinadas formas de

organização e de modelos de gestão. Por outro lado, é escassa a literatura acerca do

papel ou da participação dos sindicatos nessas discussões (FISTAROL, 2014).

Os estudos sobre a saúde mental do trabalhador vêm demonstrando uma

realidade preocupante, com o crescente número de adoecimentos decorrentes da

atividade laboral. Seligmann-Silva et al. (2010) colocam que, a partir de 2007, com o

estabelecimento do nexo causal entre adoecimento e trabalho como critério

epidemiológico pelo INSS, o número de benefícios acidentários decorrentes de

transtornos mentais e comportamentais aumentou mais de 1000 por cento, sendo a

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depressão um dos principais motivos de notificação.

Da sua prática no Ambulatório de Doenças do Trabalho no Hospital das Clínicas

de Porto Alegre, Merlo (2014) conta que até o ano de 2010 as demandas atendidas

por este serviço eram principalmente relacionadas às Lesões por Esforços Repetitivos

e aos Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho e que, a partir de então,

as demandas relacionadas a saúde mental cresceram significativamente, exigindo da

equipe “mudar o olhar, quando se trata de buscar identificar o sofrimento psíquico

produzido pelo trabalho” (MERLO, 2014, p. 25).

Esse contexto propiciou o interesse pela análise qualitativa das causas de

adoecimento dos trabalhadores e potencializou as pesquisas sobre o assédio moral

no trabalho. Soboll (2008) ressalta que os estudos de Margarida Barreto são

referenciais para o entendimento do tema e que sua participação junto ao sindicato

promoveu a disseminação do tema entre os trabalhadores e sociedade em geral.

Segundo a referida autora, “é necessário reconhecer que os debates, as

pesquisa e ações sobre o assédio moral no Brasil se desenvolveram a partir de um

ritmo definido pelo movimento sindical” (SOBOLL, 2008, p. 29), reforçando a relação

das ações sindicais e as contribuições de Margarida Barreto.

Na pesquisa de Garbin (2009), sobre a representação do assédio na mídia

impressa, a autora apresenta uma agenda de reivindicações sindicais, em que está

presente a temática do assédio moral, e relata ter encontrado numerosa produção a

respeito do tema por parte dos sindicatos através de seus meios de comunicação. A

autora recomenda que estudos sobre a perspectiva dos sindicatos em relação ao

assédio moral no trabalho podem contribuir para uma melhor compreensão do

fenômeno.

Por outro lado, o estudo de Fistarol (2014), que aborda o entendimento de

assédio moral na perspectiva dos sindicatos patronais e dos sindicatos dos

trabalhadores, aponta para o conhecimento limitado dos quatro dirigentes sindicais

entrevistados acerca do assunto. Os sindicatos, como entidades que objetivam

defender os direitos dos seus associados, devem estar cônscios dos problemas que

a prática do assédio moral provoca nos indivíduos, nas organizações e na sociedade,

para poder ofertar o amparo necessário as vítimas e a prevenção de todas as formas

de assédio.

Perez (2014) fala da crise do sindicalismo, sinalizada na diminuição de greves

e manifestações, na redução da taxa de filiações e associações, da pulverização de

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entidades sindicais e do enfraquecimento dos coletivos de trabalho. Em concordância

com essa realidade, Rodrigues (2009) menciona que, diante essa difícil situação, os

sindicatos têm se limitado a evitar perdas de direitos conquistados, não investindo em

novas reinvindicações.

Diante do exposto, percebe-se que a popularização dos conhecimentos acerca

do assédio moral no trabalho decorreu de inúmeras pesquisas e das ações do

movimento sindical, mas é um assunto que ainda carece de investigação, sobretudo

em relação ao posicionamento dos sindicatos acerca do tema.

Assim, mesmo havendo abrangente literatura sobre o tema, inclusive com

abordagens multidisciplinares, o cenário socioeconômico e organizacional, os modos

de organização da produção e as relações de trabalho cada dia mais complexas,

sugerem a necessidade de um estudo que aborde o entendimento dos sindicatos,

tanto os dos trabalhadores, quanto os patronais, bem como suas ações, em relação

aos casos de assédio moral dos quais têm algum tipo de participação.

A escassez de literatura sobre assédio moral no trabalho e a relação dos

sindicatos nesse fenômeno, aponta para uma lacuna do conhecimento que merece

ser abordada para ampliar o entendimento do assunto de forma holística e produzir

novas condutas para o enfrentamento desse problema organizacional e social.

Nesse contexto, que demonstra necessidade de mais estudos, estabeleceu-se

a seguinte questão de pesquisa: como o Assédio Moral no Trabalho é percebido

por representantes de sindicatos dos trabalhadores e sindicatos patronais?1

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Geral

Compreender o assédio moral no trabalho sob a perspectiva de representantes

dos sindicatos dos trabalhadores e patronais.

1 Para este estudo, serão considerados como representantes das entidades sindicais, os dirigentes sindicais, que

estejam em exercício de suas funções, conforme organizado pelo seu respectivo estatuto (Presidente, Vice-

presidente, Secretário, Tesoureiro, Diretores, etc)

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1.3.2 Específicos

Identificar perspectivas sobre o assédio moral individual;

Identificar perspectivas sobre assédio moral coletivo;

Descrever o papel dos sindicatos em relação ao assédio moral no

trabalho;

Verificar implicações práticas dos sindicatos nas questões relativas ao

assédio moral no trabalho.

1.4 JUSTIFICATIVA

É comum encontrar definições que consideram o assédio moral como resultado

de fatores pessoais, como a personalidade do agressor ou da vítima, atribuindo à

ocorrência do assédio às características individuais. Ou seja, fatores como

insegurança, inveja, baixa autoestima, seriam os motivos para que o assédio se

instale nas relações interpessoais no trabalho. Assim, associam a prática do assédio

moral às relações pessoais, aos afetos e desafetos existentes no ambiente do

trabalho, à subjetividade dos indivíduos (LIMA; LIMA; VIEIRA, 2012).

No entanto, nos últimos anos, novas abordagens ao tema têm aquecido o

debate sobre os fatores que ocasionam o assédio moral. Nesse percurso, percebe-se

uma tendência em retirar do indivíduo, ou da personalidade do indivíduo, a “culpa”

pelo assédio moral e deslocar a responsabilidade para um contexto mais amplo, que

é nos modelos de produção e organização do trabalho (BARRETO; FREITAS;

HELOANI, 2008; MUÇOUÇAH, 2014).

São inúmeras as situações de assédio moral individual descritas na literatura,

onde uma vítima é “escolhida”, geralmente por seu superior hierárquico, para ser

humilhada, segregada, ridicularizada, devido a alguma característica pessoal que o

incomode ou ameace seu poder e status. Por outro lado, os modos de produção do

trabalho, a divisão de tarefas, o poder diretivo do empregador, os modelos de gestão,

estão sendo vistos como propagadores do assédio moral na medida que estabelecem

práticas que visam subjugar os trabalhadores das mais variadas e perversas formas

(LIMA; LIMA; VIEIRA, 2012).

Soboll (2008) coloca que analisar o assédio de forma isolada, vinculada ao

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indivíduo e deslocada do sistema de gestão, personifica a violência e oculta o impacto

do sistema produtivo na saúde das pessoas. Ressalta, ainda, que até mesmo os

sindicatos têm dificuldade de entender o fenômeno dessa forma, o que resulta na

inabilidade de atuar juntos aos processos organizacionais que produzem a violência.

De fato, há escassez de produções científicas que estabelecem claramente a

relação dos sindicatos na situação do assédio moral. De um modo geral, observa-se

que na literatura o principal enfoque é a situação do assédio moral no trabalho e suas

consequências, enfatizando o binômio algoz-vítima. Embora em alguns estudos se

enfatize que o movimento sindical contribuiu para a disseminação do tema, como por

exemplo Sobbol (2008) e Garbin (2009), não está evidente de que forma ocorreu essa

relação.

Na literatura sobre sindicatos e movimento sindical é muito raro encontrar

alguma relação entre a prática dos sindicatos e o tema assédio moral no trabalho.

Alguns sindicatos disponibilizam cartilhas e outros materiais informativos, mas pouco

se produz em termos de conhecimento científico revelando o grande distanciamento

dos sindicatos em relação às produções científicas.

O estudo de Fistarol (2014) expõe a desinformação das entidades sindicais

quanto ao tema, e traz à tona a emergência de estudos mais amplos sobre o

entendimento dos sindicatos. Da mesma forma, Barreto e Heloani (2014) colocam que

compreender o assédio moral é um dos desafios dos sindicatos, e que estes urgem

de esclarecimentos acerca do assunto.

Academicamente, este estudo contribui para ampliar as perspectivas sobre o

fenômeno tendo em vista que o entendimento dos sindicatos pode contribuir para o

surgimento de novos arranjos teóricos e práticos no desenvolvimento de condições e

relações mais salutares de trabalho. Para Lima, Lima e Vieira (2012) o assédio moral

deve ser analisado levando em consideração todos os contextos no qual está inserido,

seja econômico, político, organizacional, social e, portanto, também o sindical. No

mesmo sentido, Garbin (2009) sugere que estudos sobre a perspectiva sindical acerca

do assédio moral são convenientes para a compreensão do fenômeno de forma mais

abrangente. Fabro e Maehler (2015) também defendem que a parceria entre

sindicatos, estudiosos e especialistas podem ajudar na amplitude e disseminação dos

conhecimentos acerca do assédio moral no trabalho.

A aplicação dos conhecimentos advindos desta pesquisa pode auxiliar na

determinação de diferentes práticas de prevenção do assédio moral nos ambientes

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de trabalho, evitando o sofrimento e os possíveis prejuízos para todos os envolvidos,

indivíduo, organização e sociedade. As ações dos sindicatos para a prevenção do

assédio moral podem ser potencializadas se as boas práticas identificadas puderem

ser compartilhadas. Dessa forma, os saberes e fazeres das entidades sindicais em

relação ao assédio moral, podem contribuir para condições mais dignas de trabalho,

através da inserção do tema nos debates com a categoria, nas pautas de

reivindicações e nas negociações coletivas.

Para a autora, o estudo do tema contribuirá para a atuação profissional como

gestora de pessoas e como membro de diretoria de sindicato. Além disso, contribui

para a aproximação da Academia e seus estudos científicos com a atuação prática

dos sindicatos.

1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO

Primeiramente, é apresentado o contexto onde está inserido o fenômeno que

foi pesquisado, bem como a problemática e questão de pesquisa desenvolvidas a

partir dessa conjuntura. Os objetivos da pesquisa e sua justificativa são apresentados

em seguida.

No segundo capítulo é exposto o referencial teórico adotado para este estudo,

e versa sobre as relações de trabalho contemporâneas, sobre o assédio moral no

trabalho na forma individual e coletiva, e sobre o papel dos sindicatos na luta por

melhores condições de trabalho.

O terceiro capítulo apresenta os procedimentos metodológicos empregados

nesta pesquisa, delimitando as técnicas e os processos de trabalho para garantir que

os objetivos do estudo fossem alcançados.

No quarto capítulo são apresentados a análise e discussão dos resultados,

estabelecendo relações entre os dados encontrados e o referencial teórico adotado.

Por fim, são discorridas as considerações finais e exibidas as referências e os anexos.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

Visando a esclarecer os conceitos que embasam o presente estudo, são

expostos, a seguir, o referencial teórico adotado quanto ao assédio moral no trabalho,

bem como sobre o assédio moral coletivo. Apresentam-se, ainda, alguns aspectos

relacionados aos sindicatos dos trabalhadores e patronais frente ao fenômeno do

assédio moral no trabalho. Contudo, para contextualizar a discussão sobre o assédio

moral no trabalho, serão expressas inicialmente, algumas considerações sobre as

relações de trabalho contemporâneas.

2.1 RELAÇÕES DE TRABALHO CONTEMPORÂNEAS

Ao longo das últimas décadas, inúmeras transformações políticas, econômicas

e sociais promoveram mudanças significativas nos modos de organização do trabalho.

A implantação de novos modelos de gerenciamento da produção, como por exemplo,

o taylorismo e o fordismo, estabeleceu novas formas de controle da produção e do

tempo, intensificando os ritmos de trabalho e ampliando a exploração da mão de obra

em benefício do aumento da produtividade e do lucro.

A reestruturação produtiva promovida pelo modelo neoliberal e determinada

pela produtividade e lucratividade, instituiu novas práticas de exploração do trabalho,

com base na flexibilização das relações de trabalho, nos modelos gerenciais e

salariais baseados em metas e resultados, além da expansão no uso de mão de obra

terceirizada (ANTUNES; PRAUN, 2015).

De acordo com Antunes e Praun (2015, p. 411), as “práticas pautadas pela

multifuncionalidade, polivalência, times de trabalho interdependentes, além da

submissão a uma série de mecanismo de gestão pautados na pressão psicológica”,

com o objetivo de aumentar o acúmulo de capital, respondem às demandas

decorrentes da implantação de novas tecnologias e de novos processos de trabalho,

como por exemplo, os programas de qualidade total e os sistemas de ganhos

vinculados a metas de produtividade.

Na medida em que a exploração da força de trabalho, justificada pela

necessidade de crescimento econômico, foi sendo intensificada e ampliada pela

aceleração dos ritmos de produção e pelo modo de organização do trabalho, as

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condições e relações laborais foram sendo empobrecidas e a precarização do trabalho

gradualmente agravada (ALVES, 2009).

Para Antunes e Praun (2015) os principais aspectos que permeiam os conflitos

de interesses entre empregadores e classe trabalhadora, são a flexibilização das

relações de trabalho, a utilização de políticas gerenciais para aumentar o desempenho

e o fenômeno da terceirização com suas características trabalhistas específicas.

A flexibilização do trabalho permitiu a utilização de diferentes formas de

contratação da força de trabalho, legitimadas pela legislação trabalhista, como por

exemplo, o uso de banco de horas e a vinculação do salário às comissões. Com o

banco de horas, pode-se prolongar as jornadas de trabalho diárias, conforme a

necessidade da produção. Embora tenha um lado positivo para o trabalhador que

poderá gozar de uma folga posteriormente, a médio e longo prazo pode ser

extenuante para os trabalhadores e afetar o equilíbrio da vida pessoal e profissional.

No mesmo sentido, a vinculação do salário às metas de produtividade e lucros,

incentiva a intensificação dos ritmos de trabalho (ANTUNES; PRAUN, 2015).

Rossi e Gerab (2009) colocam que a flexibilização é intrínseca a globalização

neoliberal e se caracteriza pela adequação ou extinção de toda e qualquer legislação

que obstaculize o capital de aumentar sua capacidade de exploração e espoliação

dos recursos (humanos e naturais). Os autores destacam algumas modificações nas

relações de trabalho que revelam os impactos da flexibilização na precarização do

trabalho, através do afrouxamento das leis e regras na contratação do trabalho, que

incidem na definição do tempo de trabalho (banco de horas, horistas, tempo parcial,

contrato temporário, entre outros), na forma de determinar a remuneração (comissões,

participação nos lucros, vinculada a produtividade individual ou do grupo) e na

possibilidade de terceirização de serviços cujos vínculos e proteção trabalhista são

mais frágeis.

A terceirização é um fenômeno cada vez mais presente nas organizações.

Visando a redução de custos e o aumento da competitividade empresarial, as

instituições, contratam outras empresas para que estas lhe forneçam os trabalhadores

necessários, sem, no entanto, constituírem vínculo empregatício com os mesmos. Os

trabalhadores terceirizados, estão expostos a relações de trabalho ambíguas, pois

devem corresponder às exigências de duas empresas distintas, e em alguns casos,

com normas e valores contraditórios. Como coloca Muçouçah (2014, p. 204),

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Num mesmo espaço, e por vezes executando tarefas bastante similares, o desnível salarial, a insegurança, a separação física entre o empregado e o trabalhador terceirizado podem causar constrangimentos a ambos, que se perdem na confusão instaurada nessa relação jurídica-base, que é o fato de prestar serviços a um mesmo empregador.

Dessa forma, a flexibilidade das relações de trabalho amplia o processo de

terceirização, que por sua vez, aumenta a fragmentação da classe trabalhadora, tendo

em vista que viabiliza diferentes modalidades de contrato de trabalho e os converte

em relações interempresariais (ANTUNES; PRAUN, 2015). O sentimento de

coletividade e solidariedade entre os trabalhadores, perde-se na relação de trabalho

terceirizado, contribuindo para a fragmentação dos trabalhadores e na consequente

desmobilização dos mesmos como coletivo.

A outra questão sobre as relações de trabalho contemporâneas, comentada por

Antunes e Praun (2015), diz respeito às políticas de gerenciamento, pautadas na

obtenção da produtividade máxima e no alto controle operacional e fundamentadas

na lógica econômica e de avaliação de resultados. Dentre tantos modelos gerenciais,

a gestão por metas se encaixa perfeitamente nos moldes do capitalismo, pois

apresenta diversas vantagens estratégicas (para os empregadores).

Em termos financeiros, permite a fixação de um salário base (geralmente baixo)

e a estipulação de ganhos conforme o alcance das metas estabelecidas,

condicionando os trabalhadores a produzir mais intensamente para garantir um salário

melhor. A gestão por metas reúne ainda, três estratégias de controle, através da

capacidade de direcionar as tarefas para os objetivos da organização, de servir como

instrumento de avaliação do desempenho dos trabalhadores e de permitir o uso de

premiações pelo atingimento das metas, e o seu inverso cruel, punições para os que

não conseguem alcançá-las (ANTUNES; PRAUN, 2015).

Assim, a gestão por metas se configura como um modelo adverso de controle

e coerção, dissimulado pelas suas nuances propositivas de motivação e incentivo à

superação de todos os limites. Conforme as metas são definidas, todo os esforços

serão no sentido de alcança-las, ou seja, o trabalho passa a mover-se em torno do

seu cumprimento.

Para Antunes e Praun (2015), esse modelo de gestão tem um efeito

disciplinador, pois muitas vezes os trabalhadores são envolvidos na definição das

metas, criando um falso engajamento pela ilusão da participação nas decisões. Além

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disso, a gestão por metas promove a competitividade entre os trabalhadores, o que

muitas vezes colabora no controle do absenteísmo, pois desestimula o coleguismo e

a colaboração entre os pares, fazendo com que os próprios colegas de trabalho

controlem/cobrem pela produtividade. Por fim, vale salientar que a gestão por metas

diminui o tempo de repouso do trabalhador, dado que ele deverá trabalhar o tempo e

no ritmo necessário para que as metas sejam atingidas.

A gestão por metas, embora apresentada como um modelo de gerenciamento

que promove a meritocracia, estimulando e premiando aqueles que produzem mais,

nada mais é do que um mecanismo para aumentar a produtividade através de um

discurso que preconiza a colaboração dos trabalhadores, mas só incentiva a

competitividade e a individualização.

Martiningo Filho e Siqueira (2008) salientam que pautar as avaliações pelo

volume de produção individual pode elevar a competição interna entre os

trabalhadores, e por outro lado, avaliar o desempenho pela produção de um grupo ou

equipe pode gerar pressões e situações assediadoras por parte dos próprios colegas.

Ou seja, de uma forma ou de outra, a gestão por metas ou resultados não favorece o

coleguismo e a solidariedade no ambiente de trabalho.

Dessa forma, a flexibilização das relações de trabalho, o fenômeno da

terceirização e os modelos de gestão baseados em resultados quantitativos,

desenham o cenário atual da vida laboral. Para Antunes (2014), a intensificação e

racionalização das atividades laborais servem à exploração do trabalho e resultam em

diversos impactos na vida dos trabalhadores. O autor coloca que, “A articulação

complexa existente entre financeirização da economia, neoliberalismo, restruturação

produtiva e as mutações no espaço microscópico do trabalho e da empresa não

poderiam deixar de afetar profundamente a classe trabalhadora. ” (ANTUNES, 2014,

p. 41)

Como resultado dessa conjuntura, que combina antigas e novas formas de

exploração da mão de obra, os trabalhadores encontram-se mais fragilizados pela

diminuição da proteção trabalhista, e em termos físicos e emocionais, pela exaustão

provocada pelo ritmo acelerado de trabalho e pelo processo de individualização

decorrente da competitividade exacerbada.

Barreto e Heloani (2014, p. 59) colocam que os novos modelos de gestão e

políticas de gerenciamento de recursos humanos se apresentam como modernos e

sutis “instrumentos de docilização e disciplinamento dos corpos produtivos” cuja lógica

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se assenta na produtividade máxima e na submissão dos trabalhadores aos valores

da organização.

O próprio sentido do trabalho encontra-se afetado na medida que a

subjetividade da classe trabalhadora é crescentemente desmantelada. O

distanciamento do trabalhador em relação ao produto de seu trabalho, a rotinização

das atividades, o ritmo acelerado que impede de estabelecer relações afetivas com

os colegas, interferem no significado atribuído ao trabalho, na constituição de uma

consciência de classe e na “consciência de constituir-se como um ser que vive do

trabalho” (LARA, 2011, p. 82).

Observa-se que nesse contexto laboral, os trabalhadores são tratados como

mercadorias que devem seguir os moldes da empresa e mais amplamente, do sistema

socioeconômico. Mercadorias essas que tem valor decrescente, na medida que

adoecem, envelhecem ou questionam qualquer aspecto do trabalho (BARRETO;

HELOANI, 2014).

A desigualdade de forças existentes entre o patronato e os trabalhadores,

vulnerabiliza as relações trabalhistas e contribui para a precarização do trabalho. O

modo de organização do trabalho e seus modelos gerenciais que priorizam

unicamente o aumento da produção e o acúmulo de capital produzem o padecimento

da classe trabalhadora na medida que propiciam situações assediadoras e

moralmente degradantes.

2.2 ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO

Vivencia-se hoje um contexto de constantes mudanças e de crescentes

exigências no mundo do trabalho. O sistema socioeconômico vigente imprime sua

marca nos modos de organização da produção, nos modelos de gerenciamento e nas

relações de trabalho. Superexploração da mão-de-obra, hiperexigências de

qualificação e competências, múltiplas responsabilidades e funções, concorrência

acirrada, condições de trabalho inadequadas e/ou insalubres são algumas das

características desse cenário laboral (RIZVI, 2008).

Embora seja um fenômeno antigo, somente nas últimas décadas surgiram

estudos sistemáticos acerca do assédio moral no trabalho. Esses estudos

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estabeleceram uma relação multicausal entre o assédio e a saúde mental dos

trabalhadores, apontando as possíveis causas e consequências, e buscando delimitar

seu conceito e características (SOBOLL, 2008).

A partir de então, afloraram pesquisas e debates em busca de delinear o

fenômeno do assédio moral no trabalho, tecendo conceitos, características, critérios

e impactos na saúde dos trabalhadores. Nesse sentido, Rizvi (2008) chama a atenção

para a importância de compreender o fenômeno em todas suas dimensões, histórica,

cultural, política, psicológica e afetiva, incentivando a investigação do assédio moral

sob diversas perspectivas.

2.2.1 Características do assédio moral no trabalho

Na literatura dos últimos anos sobre o assunto, a maioria dos autores apontam

as pesquisas de Marie-France Hirigoyen, principalmente sua obra Mal-Estar no

Trabalho: Redefinindo o Assédio Moral, como a responsável pela popularização do

termo no mundo. Para a autora, assédio moral no trabalho é “qualquer conduta

abusiva (gesto, palavra, comportamento, atitude) que atente, por sua repetição ou

sistematização, contra a dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa,

ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho” (HIRIGOYEN, 2006, p.

17).

No Brasil, pode-se citar Margarida Barreto (2009) como uma das precursoras no

estudo do assédio moral no trabalho, tanto na atuação como pesquisadora e médica

do trabalho como na sua atuação no movimento sindical. De acordo com a autora, o

assédio moral pode ser definido como um “conjunto de procedimentos,

comportamentos e atitudes que ameaçam, desqualificam e constrangem o outro, de

forma repetitiva, sistemática” e acrescenta que essas práticas corrompem o caráter e

degradam as relações interpessoais (BARRETO, 2009, p. 8).

Barreto, Freitas e Heloani (2008, p.37) colocam que o objetivo do assédio moral

é “diminuir, humilhar, vexar, constranger, desqualificar e demolir psiquicamente um

indivíduo”, demonstrando consonância ao pensamento de Hirigoyen (2006) e

exemplificando as possíveis condutas abusivas que caracterizam a prática do assédio

moral no trabalho.

Na mesma linha de raciocínio, Soares (2006, p. 41) apresenta sua definição

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para o fenômeno, afirmando que

[...] refere-se a um conjunto de ações violentas (de natureza psicológica e/ou física) infligidas, de maneira frequente, por um ou mais trabalhadores contra um outro trabalhador, com o objetivo de isolá-lo, desestabilizá-lo e/ou difamá-lo e, por fim, excluí-lo do contexto do trabalho, podendo lhe causar consideráveis danos de natureza física, cognitiva e/ou social.

Observa-se que nos conceitos apresentados existe uma forte similaridade de

entendimentos sobre o assunto. Soboll (2008) destaca quatro características das

condutas abusivas que podem ser entendidas como situações de assédio moral no

trabalho. A primeira característica é a habitualidade, ou seja, o assédio deve ocorrer

de forma repetitiva, processual. Uma situação de hostilidade eventual não pode ser

considerada como assédio. A segunda característica trata da pessoalidade,

considerando que o assédio é direcionado a uma pessoa específica, e não de forma

generalizada. A terceira característica diz respeito ao local do assédio, que deve

ocorrer no ambiente de trabalho, durante o exercício da atividade laboral. E a quarta,

a intencionalidade, destaca que o objetivo do assédio é prejudicar outrem, de forma

que comprometa sua atuação profissional e sua saúde mental no ambiente laboral.

Em sentido semelhante, Barreto, Freitas e Heloani (2008) consideram alguns

elementos como característicos do assédio moral no trabalho, como a temporalidade,

a intencionalidade, a direcionalidade, a repetitividade e habitualidade, os limites

geográficos ou territorialidade, e a degradação deliberada das condições de trabalho.

Em relação à primeira característica citada anteriormente, a habitualidade,

observa-se na literatura sobre o assunto, um consenso em considera-la como um dos

fatores determinantes na caracterização do assédio moral. Por outro lado, não há

consenso em relação à frequência e a duração. Para alguns autores a conduta

abusiva deve ocorrer diariamente e persistir por um mínimo de seis meses. Para

outros, uma ou duas vezes por semana, mas durante o mínimo de um ano (OLIVEIRA;

SOARES, 2012).

Chirilã e Constantin (2013) chamam a atenção para alguns aspectos

frequentemente utilizados para caracterizar o assédio moral no trabalho, como a

frequência, a intencionalidade e a vulnerabilidade prática (relacionadas as

características físicas e cognitivas) e subjetiva da vítima.

Importante destacar que o processo de assédio moral no trabalho inclui o

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elemento da subjetividade do assediado, em termos de como ele sente e percebe

esses atos e seus efeitos (MACIEL et al., 2007). Nesse sentido, as diferenças

individuais e a personalidade afetam a percepção do assédio, considerando que

pessoas apresentam níveis diferentes de sensibilidade, em diferentes momentos.

Glina e Soboll (2012) colocam que a subjetividade da vítima pode fazê-la sentir-

se assediada, sem que o agressor tenha intenção de prejudica-la de fato. Dessa

forma, questionam a intencionalidade como um dos fatores característicos do assédio

moral, uma vez que é difícil mensurar a percepção da conduta abusiva. Hirigoyen

(2006) também coloca a dificuldade de definir se há ou não a intencionalidade da

agressão, uma vez que seria necessário conhecer o nível de consciência que o

agressor tem de seus atos.

A despeito de entendimentos divergentes em alguns sentidos, os autores

concordam na necessidade de determinar características para a que o assédio seja

definido e delineado de forma correta, evitando um superdimensionamento de

situações conflituosas cotidianas, interpretações dúbias, generalizações, e a

banalização do fenômeno (OLIVEIRA; SOARES, 2012).

De acordo com Garbin (2009), os casos de assédio moral estão cada vez mais

presentes nas mídias, denunciando práticas abusivas e degradantes, que ferem a

dignidade dos trabalhadores. Diante de inúmeros casos de assédio moral, o assunto

saiu do ambiente estritamente acadêmico e se popularizou entre os meios de

comunicação de massa. Além de jornais de grande circulação, a autora também

encontrou material acerca do assédio moral nos meios de comunicação das entidades

sindicais (sites, folhetos, campanhas, entre outros).

Sob esse aspecto, Freitas e Rodrigues (2014) salientam o cuidado necessário

para que a grande exposição do assunto não produza a generalização ou vulgarização

do conceito, de forma que qualquer exigência mais pontual, ou uma pressão maior

por resultados em determinado contexto, não seja visto como assédio moral. Sugerem

que a diferença entre o assédio moral e outros conflitos relacionados ao trabalho é

que no assédio moral “os comportamentos são antiéticos, as regras não são claras,

há parcialidade nos julgamentos e avaliações”, além de comunicação pobre e

dissimulação dos conflitos (FREITAS; RODRIGUES, 2014, p. 287).

Soboll (2008) comenta algumas situações que não são consideradas assédio

moral, mas comumente confundidas, por estarem intimamente relacionadas. Na

gestão por estresse, por exemplo, trabalha-se com altos níveis de pressão e

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exigências, mas não há a intenção de prejudicar ninguém em particular. Da mesma

forma, quando a incompetência em gerenciar as pessoas, provoca comportamentos

autoritários e manipulativos, não se pode falar em assédio, uma vez que os

comportamentos hostis derivam do despreparo, da inexperiência e da insegurança da

gestão.

Sobre esse aspecto, Hirigoyen (2006) pontua que a gestão por estresse pode

trazer danos à saúde quando o estresse é apresentado em demasia, mas que o

assédio moral é devastador por si só, independente de quantificação.

Ao pesquisar sobre a pessoalidade do assédio moral no trabalho, ou seja, à

quem a agressão está direcionada, observa-se que esta ocorre geralmente em duas

direções. Verticalmente, quando o agressor é superior na hierarquia organizacional,

fazendo uso de seu poder para abusar de seu subordinado. Pode ocorrer no sentido

contrário, a agressão de um subordinado para com seu superior, embora seja uma

situação pouco relatada. Horizontalmente, quando a agressão parte dos próprios

colegas de trabalho. Geralmente, por motivos preconceituosos, ou por omissão e

negligência quando presenciam o assédio de outro colega (SOBOLL, 2008).

Nessa perspectiva, Garbin (2009) caracteriza o assédio moral no trabalho como

multilateral, uma vez que mesmo no caso do assédio vertical, se houver a omissão

dos colegas, ele será também horizontal.

2.2.2 Métodos de assédio moral no trabalho

De acordo com Hirigoyen (2006) o assédio moral no trabalho se apresenta

através de atitudes hostis que se manifestam através da deteriorização proposital das

condições de trabalho, do isolamento e da recusa de comunicação entre algoz(es) e

vítima, do atentado contra a dignidade do trabalhador e ainda, de violência verbal,

física ou sexual.

Garbin (2009) corrobora com a autora, salientando que os métodos de assédio

moral no trabalho são exteriorizados quando alguma ou várias das possíveis

manifestações acima estão presentes na realidade laboral do trabalhador.

Para Barreto, Freitas e Heloani (2008) na deteriorização das condições de

trabalho, o agressor costuma retirar a autonomia do trabalhador, privá-lo do acesso

aos instrumentos de trabalho, atribuir tarefas muito inferiores ou muito superiores às

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suas competências. Quando o agressor se utiliza do isolamento ou da recusa de

comunicação, o assediado é colocado separado dos outros colegas e proibido de

manter contato com qualquer pessoa. A comunicação é mínima e de maneira formal,

geralmente por escrito. No momento em que o agressor utiliza insinuações

desdenhosas para qualificar a vítima, espalha rumores, zomba de suas

características, critica suas opiniões e posicionamentos está atentando contra sua

dignidade. E nas situações de violência, a vítima pode sofrer ameaças de diferentes

naturezas, como xingamentos, gestos ou convites sexuais, ter sua privacidade

invadida, um castigo, um empurrão.

Maciel et al. (2007) citam que as condutas abusivas podem ser de quatro tipos:

I. ataques à tarefa – retenção de informações essenciais, exigências superiores à

competência ou capacidade, atividades sem importância, controle exagerado; II.

ataques pessoais – críticas, humilhações, constrangimentos, depreciações, públicas

ou veladas; III. isolamento – falta de diálogo, comunicação ambígua ou inexistente,

segregação, ostracismo; IV. ataques verbais – gritos, ofensas, desmoralizações,

ameaças físicas.

São inúmeros os exemplos de assédio moral no trabalho. Ferreira (2008)

retrata situações que considera como representações das condutas abusivas

geralmente relatadas nas pesquisas sobre o assunto. São elas:

[...] isolamento e incomunicabilidade física; proibição de conversar com os companheiros de trabalho; exclusão de atividades sociais da empresa; comentários maliciosos e desrespeitosos; atitudes e referências maldosas sobre aspectos físicos, caráter, costumes, crenças, condutas, família e outros; responsabilização por erros de outras pessoas; transmissão de informações erradas e ocultação de informações para prejudicar o desempenho profissional; divulgação de rumores sobre a vida privada; designação de tarefas pouco importantes, degradantes ou impossíveis de serem cumpridas; mudança arbitrária de horário do turno de trabalho; manipulação de material de trabalho, como apagar arquivos do computador; [...] (FERREIRA, 2008, p. 113)

Lima, Lima e Vieira (2012) relatam o caso de um vigilante, de uma empresa

terceirizada que executava seu serviço em uma agência bancária. Com a implantação

de novas normas de segurança, o seu trabalho era o de cumprir e fazer cumprir as

referidas regras. Os funcionários do banco não se agradaram das novas normas e

direcionaram sua insatisfação ao vigilante, debochando e humilhando-o pelas

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exigências que tinha que fazer para o cumprimento de seu trabalho.

Um outro caso é apresentado por Rizvi (2008), onde a vítima, que sempre

apresentou um bom desempenho profissional, começou a ser perseguida pela sua

gerente, após um episódio onde ela se recusou a assinar um documento falso. A partir

desse fato, ela passou a receber uma quantidade inexequível de tarefas, o que a

obrigava a trabalhar após o horário do expediente e nos finais de semana. A gerente,

propositalmente avaliava mal seus trabalhos, pedido que fosse refeito diversas vezes,

e não apontava o que precisava ser melhorado. Em seguida, a gerente começou a

disseminar entre os outros colegas que a vítima era descomprometida, que não

apresentava bons resultados, que não cumpria prazos, fazendo com que os colegas

se afastassem dela, afetando sua capacidade laboral, sua saúde mental e

aumentando seu sofrimento.

2.2.3 Consequências do assédio moral no trabalho

O assédio moral no trabalho provoca nas vítimas as mais diferentes reações e

produzem os mais diversos tipos de sofrimento que se materializam através de

sintomas e doenças físicas e mentais. Mesmo diante de sintomas expressivos, muitos

trabalhadores têm dificuldade de relacionar seu sofrimento ao comportamento abusivo

que está suportando, devido à natureza sutil do assédio moral (DZUREC; BROMLEY,

2012).

Hirigoyen (2006) cita o estresse, a ansiedade, a depressão e os distúrbios

psicossomáticos como consequências mais gerais do assédio moral e acrescenta que

os efeitos mais específicos são a vergonha e a humilhação, que por sua vez acarretam

na perda do sentido pelo trabalho e produzem modificações de ordem psíquica nos

trabalhadores afetados.

De forma semelhante, Maciel et al. (2007) coloca a ansiedade, a baixa

autoestima, a sociofobia, a depressão e as doenças psicossomáticas como possíveis

distúrbios provocados pelo assédio moral no trabalho. Cahú et al. (2011) acrescenta

outras possíveis consequências, como a angústia, acometimentos digestivos,

respiratórios, das articulações, do cérebro, do coração e do sistema imunológico.

Além das consequências citadas anteriormente, pode-se elencar outros efeitos

deletérios do assédio moral no trabalho na saúde do trabalhador, como a redução do

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bem-estar, risco de problemas psicológicos, danos cognitivos, redução da

autoconfiança, redução da satisfação, medo e desconfiança, aumento da irritabilidade,

isolamento, alcoolismo (SOARES, 2006).

Esses efeitos não se apresentam da mesma forma ou com a mesma

intensidade nas vítimas de assédio. Geralmente os sintomas começam sutis e

silenciosos e vão gradualmente se intensificando. Na fase inicial, a autoestima do

indivíduo é afetada, gerando sentimentos de menos valia, de culpa, de vergonha, de

mágoa e raiva. É a fase do mal-estar (BARRETO; FREITAS; HELOANI, 2008). Se o

assédio permanece, a autoconfiança do indivíduo enfraquece, ocorre uma

desestabilização afetiva e o surgimento de pensamentos recorrentes e repetitivos. O

indivíduo se sente perseguido, injustiçado, desvalorizado e desconfiado e então

começam a aparecer os primeiros sintomas, o cansaço, o isolamento, a apatia, as

dores de cabeça, distúrbios digestivos. Se nada for feito, e o assédio continua a

ocorrer, pode levar o indivíduo a desenvolver a depressão, a síndrome do pânico, o

alcoolismo, e até a vontade de morrer.

Lima, Lima e Vieira (2012), colocam que a exposição frequente dos

trabalhadores a situações de assédio produz sentimentos de menos-valia, desânimo,

indignação e insatisfação, e, a longo prazo, afetam a saúde mental profundamente

provocando danos físicos, psicológicos e sociais.

Tendo em vista a centralidade que o trabalho ocupa na vida das pessoas, numa

situação de assédio moral no trabalho, o trabalhador assediado é o mais afetado, pois

os danos a sua saúde mental podem ser cronificados e afetar a vida pessoal e

profissional seriamente.

Porém as organizações também se prejudicam com as repercussões do

assédio moral. Há uma tendência à diminuição da produtividade ou da qualidade, ao

aumento dos índices de absenteísmo e de acidentes de trabalho, além dos custos

com a substituição do trabalhador em caso de afastamento por licença médica

(MARTINS, 2015).

Da mesma forma, a sociedade também tem prejuízos, através do aumento dos

custos para a saúde pública, para o sistema previdenciário e na redução da população

economicamente ativa (SOARES, 2006). Além de afetar a participação do trabalhador,

vítima do assédio, em situações de cidadania que exijam opiniões, críticas ou

reivindicações, visto seu embotamento afetivo (MARTINS, 2015).

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2.2.4 Fatores que contribuem para a ocorrência do assédio moral no trabalho

O assédio moral no trabalho acontece por diversos motivos, que variam desde

aspectos pessoais, por características individuais ou situações peculiares, até

aspectos organizacionais, culturais e socioeconômicos.

Soares (2006), aponta três principais motivos para a ocorrência do assédio

moral no trabalho, tanto no sentido de quem agride quanto no de quem sofre. O autor

coloca a crise do emprego como um dos fatores que contribuem para que o assédio

ocorra no trabalho, pois quem não trabalha é visto como preguiçoso ou vadio, sendo

os trabalhadores, os afortunados que possuem a graça de ter um trabalho e podem

dessa forma continuar a ser explorados pelo capital. Ou seja, para conseguir um

emprego ou se manter empregado, as pessoas podem ter que ser mais agressivas

com seus possíveis concorrentes ou se submeter a determinadas situações

constrangedoras.

Um outro aspecto apontado por Soares (2006) diz respeito à subjetividade dos

trabalhadores, no que tange às estratégias de defesa para evitar o sofrimento do e no

trabalho. As pessoas desenvolvem mecanismos para enfrentar a situação, muitas

vezes, distorcendo a realidade, subdimensionando as agressões, minimizando o

sofrimento para manter o equilíbrio psicológico e de modo geral, a saúde. O terceiro

aspecto abordado pelo autor apresenta a socialização como um processo de

aculturação e naturalização da violência laboral. A cultura, a educação, os valores, as

tradições e costumes levam o indivíduo a acreditar que o assédio moral no trabalho é

algo natural da prática laboral, intrinsecamente relacionada a produtividade e a

capacidade de cada um. Para o autor:

[...] uma vez que a grande maioria das pessoas aceita ou mesmo contribui diretamente para a materialização de um contexto pernicioso e desumano, seja por acreditar convictamente que o mesmo é natural e, como tal, não pode ser alterado, ou seja por, apesar de considerá-lo desumano, preferir se manter omissa, tal realidade acaba por ser legitimada (SOARES, 2006, p. 25).

A nova organização do trabalho, o cinismo e a perversidade do sistema são

apontados por Hirigoyen (2006) como contextos que favorecem a ocorrência do

assédio moral no trabalho. A autora afirma que os novos modos de organização do

trabalho podem fazer emergir o assédio uma vez que são permeados por novas

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exigências, como por exemplo, alto desempenho, resistência e resiliência, alta

motivação, diminuição da comunicação interprofissional, padronização de saberes e

fazeres e falta de reconhecimento e valorização dos trabalhadores. O cinismo e a

perversidade do sistema podem ser percebidos pela permissão (ou omissão) dos

empregadores quanto às práticas existentes dentro de suas organizações. Seja por

falta de responsabilidade, ou por onipotência, as organizações permitem que

situações perversas ocorram em seus ambientes.

Mais especificamente, Hirigoyen (2006) apresenta algumas situações ou

condições que podem favorecer o assédio moral no trabalho. Pessoas diferentes ou

atípicas, seja por características físicas ou comportamentais, como por exemplo,

pessoas com deficiência ou tímidas demais. Pessoas muito competentes, pois podem

gerar insegurança em colegas e superiores. Pessoas que resistem à algum tipo de

padronização ou esquema, e por sua vez, são consideradas idealistas ou rebeldes.

Pessoas que não conseguem desenvolver uma comunicação correta e são muito

isoladas ou possuem amizade ou alianças com as pessoas erradas. Os assalariados

protegidos, que estão em situação de licença, reabilitação, membros de Comissão

Interna de Prevenção de Acidentes, sindicalistas, entre outras situações de proteção

legal dos direitos trabalhistas. As pessoas menos produtivas, que não possuem o ritmo

ou a qualidade imposta pelo empregador, chefe ou colegas. E ainda, as pessoas que

se encontram temporariamente fragilizadas por motivos pessoais que refletem em sua

capacidade laborativa.

Para Aguiar (2008), o assédio moral no trabalho ocorre por fatores relacionados

ao significado que o trabalho tem em nossa cultura. O autor coloca que os modos de

organização de trabalho estão enraizados em uma história laboral de dominação, de

poder, de paternalismo, de autoritarismo. Assim, obediência, submissão, formalidade,

lealdade à empresa, são valores arraigados, que se encontram naturalizados no

mundo do trabalho e internalizados pelos trabalhadores como algo intrínseco ao labor.

No mesmo sentido, Barreto e Heloani (2014) apresentam o assédio moral no

trabalho como um instrumento de gestão, pontuando os métodos de gerenciamento

como fio condutor para as práticas de assédio. Através de modernas políticas de

gestão de pessoas, que estipulam padrões de participação, de qualidade, de

comportamento e de desempenho, que estimulam a competição entre os pares e que

gerenciam pela pressão, utilizando de castigos e punições para elevar as exigências,

o assédio moral no trabalho encontra ambiente propício para acontecer.

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Rizvi (2008) salienta o contexto socioeconômico vigente como fator de alto

impacto na vida pessoal e profissional das pessoas, enfatizando a lógica neoliberal

como fator desencadeante do assédio moral no trabalho. Para a autora,

O mundo do trabalho, que dialeticamente nos constitui e é constituído por nós, aparece como um espaço privilegiado para a expressão das “leis” e das regras do mercado neoliberal. A descartabilidade dos valores e das pessoas, subjacentes a tais regras, possibilita que as empresas sejam terreno fértil para a expressão da agressividade e das

armadilhas perversas (RIZVI, 2008, p. 313).

Em suma, pode-se dizer que o assédio moral no trabalho é multifatorial,

originado por condições intrínsecas e extrínsecas que vão desde características

pessoais até o modus operandi do sistema social, cultural, político e econômico

vigente. Dessa forma, não é possível responsabilizar uma ou outra parte, e, por outro

lado, também não é prudente desresponsabilizar nenhuma das partes. É necessário

analisar todo o contexto para entender de que maneira o assédio moral no trabalho

encontrou espaço para acontecer.

2.3 ASSÉDIO MORAL COLETIVO

O assédio moral coletivo não é uma forma diferente de assédio moral no

trabalho, mas trata-se de uma maneira mais ampla e mais sutil de violência

psicológica, cuja finalidade não é humilhar alguém, mas aumentar a produtividade.

Nessa forma de assédio, ou nessa maneira de entender o assédio, torna-se mais

evidente o impacto dos modos de organização do trabalho na saúde mental dos

trabalhadores.

As organizações têm o poder de definir, implícita ou explicitamente, a sua

estrutura de funcionamento, suas normas, seus valores, seus padrões de relações

interpessoais, os níveis de hierarquia e o grau de autonomia e de autoridade de cada

um, bem como as condições em que o labor vai ocorrer (BARRETO; FREITAS;

HELOANI, 2008).

Assim, o trabalhador, ao assinar seu contrato de trabalho está se sujeitando a

seguir as determinações ditadas pela organização que o está contratando. Dessa

forma, “o empregado de forma voluntária aliena a um terceiro, o empregador, o poder

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de direção sobre sua atividade, em troca de remuneração” (MUÇOUÇAH, 2014, p.

84).

O poder diretivo do empregador, legitimado pela legislação trabalhista,

constitui-se pela possibilidade de administrar as atividades produtivas, através do

poder de direção, regulamentação, fiscalização e punição. Aliado a esse poder, existe

o discurso corrente na maioria das organizações, da importância do trabalho em

equipe, da colaboração de todos para o alcance dos objetivos organizacionais.

Embutido nesse discurso está a ideia de que na medida que os objetivos não forem

alcançados, a responsabilidade passa a ser do coletivo, que não trabalhou de forma

adequada ou suficientemente. Se as metas não foram alcançadas, a responsabilidade

é da equipe que não trabalhou o suficiente, e não por fatores externos, como a

instabilidade do mercado, por exemplo. Ou seja, além do contrato formal de trabalho

ao qual os trabalhadores se sujeitam e devem seguir, há também um discurso que

legitima a busca incansável pela produtividade, propiciando situações ou contextos

onde emergem as práticas de assédio moral coletivo (MUÇOUÇAH, 2014).

No mesmo sentido, Seligmann-Silva et al. (2010) colocam como assédio moral

coletivo, as formas de organização do trabalho e políticas de gestão, que através de

metas que desconsideram as competências dos trabalhadores, vão anulando sua

subjetividade e afetando a saúde mental.

Deve-se considerar o modo de produção capitalista e as formas de gestão

como fatores explicativos para a ocorrência do assédio moral coletivo nas

organizações. Nesse sentido, o assédio moral no trabalho é resultado de contradições

sociais que se concretizam através dos modos de organização e nos modelos de

gestão atuais. Para estes autores, o individualismo, o utilitarismo e o pragmatismo que

permeiam as relações profissionais e pessoais não derivam da personalidade, mas

são próprios do sistema socioeconômico vigente. “O assédio moral é o reflexo de uma

sociabilidade degradada e moralmente degradante instaurada pela lógica do valor”

(LIMA; LIMA; VIEIRA, 2012, p. 266), ou seja, está culturalmente estabelecido pelo

modo de organização da economia e da sociedade.

Considerando-se que o assédio moral está no modo de organização do

trabalho e nas políticas de gestão, pode-se dizer que ele está institucionalizado, sendo

muitas vezes, disfarçado como método eficiente de cumprimento de metas e tarefas,

subjacente ao discurso da produtividade e do trabalho em equipe e colaborativo

(MARTININGO FILHO; SIQUEIRA, 2008).

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Araújo (2008) chama a atenção para exigências feitas aos trabalhadores em

relação às suas competências, dedicação e comprometimento. É corrente no mundo

do trabalho que para ser um bom profissional e se destacar, o trabalhador deve estar

sempre se qualificando continuamente e ser comprometido com a organização. Esse

pensamento já está bastante incutido na cultura atual, tornando-se uma obrigação

para o trabalhador que quer garantir sua empregabilidade.

Os trabalhadores sentem-se obrigados a provar diariamente que são

competentes, que agregam resultados, que estão comprometidos com os objetivos da

organização e fazem jus ao posto que ocupam. Como o caso citado por Brandt e

Damergian (2008), no qual a funcionária recém contratada ultrapassava

constantemente sua jornada diária de trabalho para demonstrar que estava

comprometida com o trabalho e com a organização. Ela o fazia por vontade própria,

mas havia uma implicação velada, sutil, incutida e aculturada de que se ela não

“comprovasse” seu comprometimento, poderia ser demitida.

Ferreira (2008) relata em sua pesquisa algumas situações vivenciadas por

bancários, onde eram induzidos a oferecer produtos ou serviços aos clientes de

maneira incompleta ou errada e muitas vezes, utilizando mentiras para poder alcançar

as metas propostas. Essa prática provoca constrangimentos e a transgressão de

valores éticos. De acordo com o autor, “A violência se apresenta naturalizada no

discurso da competência e da excelência” (FERREIRA, 2008, p. 107). Nesse sentido,

a violência seria da ordem do gerenciamento e da dominação, que de certa forma se

traduz na tolerância à injustiça e sofrimento, se apresentando de forma mais perversa

do que violenta.

Vive-se num cenário onde o comportamento abusivo tornou-se culturalmente

normal, considerando os trabalhadores como recursos que devem ser explorados ao

máximo. Conforme Freitas e Rodrigues (2014), o contexto político, social e

econômico, apontam para a precariedade das condições e das relações de trabalho,

para o crescimento da terceirização e do trabalho temporário, para o desemprego, e

para a necessidade precípua de redução de custos.

Observa-se que o assédio moral coletivo não difere essencialmente do assédio

moral individual, mas trata-se de um redimensionamento de suas origens. Se no

assédio moral individual, a violência parte de um agressor, que por motivos subjetivos

e pessoais, visa desqualificar um outro trabalhador, no assédio moral coletivo deve-

se

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[...] entender como os atos individuais se articulam à organização do trabalho, às políticas empresariais, enfim, ao contexto no qual a atividade se realiza e a forma pela qual ela se articula com a ordem mais geral ditada pela produção de valor (LIMA; LIMA; VIEIRA, 2012, p. 264).

Assim, observa-se que no assédio moral coletivo não há intencionalidade de

prejudicar, humilhar, hostilizar uma pessoa, mas sim, de aumentar a produtividade, de

explorar ao máximo os recursos disponíveis ao menor custo possível, ou seja, diz

respeito ao poder diretivo do empregador e suas estratégias de gerenciamento da

produção (SOBOLL; FREITAS; ZANIN, 2015).

Como exemplos de assédio moral coletivo, pode-se citar as “prendas” que os

trabalhadores que não alcançaram as metas têm que realizar, que pode ser desfilar

com roupas ridículas ou com dizeres ofensivos enquanto segura um abacaxi ou uma

tartaruga, cumprir determinados exercícios físicos, fazer coreografias vexatórias, ser

xingado pelo chefe e demais colegas. Essas práticas fazem parte da cultura da

organização e são paulatinamente naturalizadas através do discurso da gestão

(BARRETO; FREITAS; HELOANI, 2008).

Martins (2015) cita como exemplo as revistas, que são um direito do

empregador, visando salvaguardar seu patrimônio. No entanto, não podem ser

invasivas demais ferindo a intimidade do trabalhador. Um outro exemplo citado pelo

autor, é o controle do uso do banheiro. Há casos, inclusive divulgados na mídia, de

organizações que limitam o uso do banheiro tanto em quantidade de vezes que pode

usar, como em tempo de permanência.

Além desses, reconhecidamente abusivos, podemos citar a imposição

exagerada do cumprimento de horas extras, controle ou monitoramento excessivo,

ameaças constantes de desemprego, instalando uma cultura de medo, disponibilidade

de materiais e equipamentos inadequados ou insuficientes para a realização do

trabalho, discriminação do trabalho terceirizado (LIMA; LIMA; VIEIRA, 2012).

Nesse contexto, o sistema de produção, capitalista, está tão arraigado nas

formas de trabalho, que o assédio moral é quase institucionalizado. O labor atual

apresenta uma série de paradoxos com o qual os trabalhadores têm que conviver e

sobreviver. O trabalhador tem que saber trabalhar em equipe, mas ao mesmo tempo

ser competitivo e mais competente que seus colegas. É chamado de colaborador, para

aumentar o pertencimento, mas se não colaborar do jeito e na quantidade

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determinada pela organização, é considerado que não tem o perfil esperado. A

exigência das organizações por empregados polivalentes, multicompetentes,

superqualificados, sutilmente responsabiliza os trabalhadores pela necessidade de

atualização e status de empregabilidade, ou seja, não é o empregador que deve

preparar tecnicamente o trabalhador, mas sim, este deve se responsabilizar pela

preparação e provar ao empregador suas competências. (MUÇOUÇAH, 2014).

Soares (2006), fazendo referência ao pensamento de Marx, coloca que os

trabalhadores, por educação, por tradição e costume, acatam todas as determinações

dos modos de produção como leis naturais. Desse modo, a violência no ambiente de

trabalho, ao longo do processo de industrialização foi sendo naturalizada, legitimada

e banalizada.

O sistema produtivo requer a sujeição do trabalhador por meio da disciplina que lhe é imposta, a fim de torna-lo dócil à produção, tornando-o alguém útil a empresa e à sociedade. Assim, esta tecnologia política do capitalismo tem por escopo moldar, no trabalhador, seu corpo e também sua alma, aqui compreendida como o seu modo de ser moral. (MUÇOUÇAH, 2014, p. 192)

Dessa forma, o assédio moral coletivo, se caracteriza pelo atentado sistemático

da organização, através de violência moral, psíquica, velada na forma de política

empresarial, extrapolando ou abusando do seu poder diretivo, com o objetivo de

aumentar a produção.

As necessidades do sistema capitalista propiciam o assédio moral coletivo na

medida que favorecem a intolerância aos erros e ao mau desempenho, destroem as

relações interpessoais e estimulam o egoísmo, o individualismo e o utilitarismo (LIMA;

LIMA; VIEIRA, 2012).

De maneira objetiva, Muçouçah (2014) coloca que o assédio moral coletivo se

caracteriza como uma prática onde

[...] o empregador, utilizando-se abusivamente do seu direito subjetivo de organizar, regulamentar, fiscalizar a produção e punir os empregados, utiliza-se desses direitos de forma reiterada e sistemática, como política gerencial, atentando contra os direitos humanos fundamentais dos empregados em todas as dimensões, geralmente para o incremento da produção. (MUÇOUÇAH, 2014, p. 196)

Embora não fale diretamente de assédio moral, Morgan (1996) discorre sobre

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os efeitos dos modelos de organização do trabalho onde a dominação e a exploração

do trabalho assalariado não são um fim, mas certamente uma consequência, gerando

um processo de “escravidão” social, moral, espiritual e financeira.

Também de forma indireta, Schinestsck (2009) observa e critica a visão da

qualidade de vida no trabalho proposta pelas organizações. Para a autora, o objetivo

final de um programa de qualidade de vida no trabalho não visa a saúde do

trabalhador, mas sim um meio de alcançar maior produtividade.

As formas de gerenciamento, de organização da produção, e o sentido do

trabalho são construídos histórica e culturalmente e apresentam fortes traços da

herança do período coronelista, e podem ser observadas através do “autoritarismo,

clientelismo, nepotismo, favoritismo e ausência de critérios” presentes na classe

empresarial brasileira (AGUIAR, 2008, p. 285).

Rossi e Gerab (2009) colocam que o modelo de gestão atual se utiliza do

discurso da colaboração, da integração, do “vestir a camisa”, para introduzir o

pensamento de que os objetivos são únicos, vendendo a ideia de que os objetivos

pessoais e os organizacionais devem ser os mesmos, e dessa forma, para aumentar

a produção, acabam aniquilando a subjetividade dos trabalhadores e sua consciência

de classe.

Sobre o jargão “vestir a camisa”, amplamente utilizado pelas empresas,

Muçouçah (2014) coloca que, “talvez nada traduza melhor o espírito do que buscamos

expressar: a vivência dos valores patronais no âmbito da empresa deve transcendê-

la, ao ponto de tais valores serem vestidos pelos empregados como uma camisa”

(MUÇOUÇAH, 2014, p. 193).

Araújo (2008) denomina o assédio moral coletivo como assédio moral

organizacional e define-o como

[...] a prática sistemática e reiterada de variadas condutas abusivas, sutis ou explícitas contra uma ou mais vítimas dentro do ambiente de trabalho, que, por meio de constrangimento e humilhação, tem por finalidade controlar a subjetividade dos trabalhadores (ARAÚJO, 2008, p. 89).

A autora exemplifica o assédio, na conduta da empresa ao ter seus

trabalhadores retornando de licença médica, onde os mesmos eram obrigados a ficar

sentados em frente a linha de produção, sem realizar nenhuma atividade. Mesmo sem

nenhum conflito pessoal específico, a mensagem a ser transmitida era a de que

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afastamentos por doença não são bem tolerados pela empresa. Essa prática faz com

que os trabalhadores evitem qualquer tipo de afastamento, muitas vezes, ao custo de

esconder seu adoecimento.

No mesmo sentido, Barreto e Heloani (2014, p. 59) colocam que as formas de

gerenciamento atuais se baseiam em “sobrecarregar de trabalho e pressionar

moralmente a todos os trabalhadores”, promovendo um ambiente de trabalho

perverso onde quem não atende ao perfil desejado, não alcança as metas ou

questiona as condições de trabalho, está sujeito à humilhações, constrangimentos e

isolamento, incentivando a competitividade entre os pares e submetendo-os às regras

da organização de maneira sutil e sórdida. Os autores relatam o caso de uma empresa

que “presenteava” o funcionário que não alcançava a meta com um bode. O

funcionário deveria leva-lo para casa e cria-lo, pagando multa caso acontecesse algo

com o animal. A humilhação extrapolava os limites da empresa, uma vez que o

funcionário era obrigado a desfilar com o bode até sua casa.

Em seu estudo, Fistarol (2014) aponta que os casos considerados como

assédio moral no trabalho julgados pelo Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região,

se enquadram nos conceitos e critérios apresentados pela literatura. Apresenta que

as condutas abusivas com maior incidência são os constrangimentos, perseguições e

humilhações, seguido de ameaças e, piadas e xingamentos.

Observa-se que a lógica do gerenciamento é medir apenas os resultados. Se

as quantidades estabelecidas foram atingidas ou não. As tentativas, o esforço

desprendido, e a qualidade do trabalho não são reconhecidos, desqualificando o

empenho dos trabalhadores e provocando o sofrimento (BARRETO; HELOANI, 2014).

Vale ressaltar que o estabelecimento de metas, praticado por inúmeras

empresas, por si só pode gerar pressão, conflito, estresse e sofrimento, porém, o que

realmente pode ser considerado assédio é a forma como essas metas são exigidas,

como são valorizadas e quais as atitudes que se toma quando elas não são

alcançadas.

Nesse sentido, Soboll, Freitas e Zanin (2015), colocam que a forma como as

exigências são cobradas traduzem as práticas de gestão implantadas e defendem que

a gestão por medo, a gestão por estresse e a gestão por vergonha são modelos

gerenciais altamente propensos à prática de assédio moral coletivo. Para as autoras,

[...] gestão por estresse: compreende o uso de vigilância constante e

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exagerada, com cobranças insistentes de resultados muito exigentes em prazos e condições compatíveis; gestão por medo: envolve o exercício do controle mobilizado por ameaças de exclusão, de prejuízos na carreira ou pelo uso de coações pessoais, psíquicas ou físicas; gestão por vergonha: refere-se a ações ou ameaça de atos de constrangimentos (sutis ou explícitos) e de humilhações públicas ou em particular que têm efeito de estratégia mobilizadora para o aumento da produtividade ou para manter a obediência no trabalho. Essa prática é com frequência associada ao uso de rankings comparativos de produtividade individual. (SOBOLL; FREITAS; ZANIN, 2015, p.56)

Fica clara a proximidade desses modelos de gestão com as práticas de assédio

moral coletivo ou organizacional, sendo, porém, naturalizadas como política

empresarial, como estratégias de negócios, que acabam por ser corriqueiramente

utilizadas pelas organizações.

As formas de organização do sistema produtivo, o modo como são

determinados os processos de trabalho, estabelecem os ritmos, as quantidades, as

formas e os meios que serão utilizados para os objetivos da produção e é por meio

desses determinantes que se originam os conflitos nas relações de trabalho

(NOGUEIRA, 2014).

Tolfo, Silva e Krawalki (2015) falam sobre relações de trabalho assediadoras e

destacam a cultura organizacional vigente e os modelos de gestão como fatores de

influência na ocorrência de assédio moral no trabalho, e colocam que nas

organizações privadas o assédio se apresenta principalmente por meio de modelos

baseados em resultados e produtividade, enquanto que nas organizações públicas,

ocorre devido a disputas de poder, de recursos, de influências e por espaços nesse

contexto.

Bradaschia (2007) relaciona alguns fatores organizacionais organizando-os em

quatro aspectos: os relacionados ao clima e cultura organizacional, os relacionados à

liderança, os relacionados à organização do trabalho e os relacionados às constantes

mudanças que vêm ocorrendo nas organizações.

Quanto aos fatores relacionados ao assédio moral e ao clima e cultura

organizacional, a autora elenca aspectos como a competição interna, conflito de

papeis, injustiça organizacional, piadas e humilhações com novos funcionários, baixos

padrões morais da organização. Os aspectos relacionados ao comportamento dos

líderes, na discussão do assédio moral, apontam para a liderança autocrática, às

deficiências no comportamento dos líderes, à existência de líderes abusivos e ainda

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ao desinteresse da gerência (complacência). Em relação aos fatores relacionados à

organização do trabalho que apresentam correspondência com o assédio moral cita-

se problemas de comunicação, falta de clareza quanto aos objetivos e expectativas,

baixo controle sobre o trabalho e/ou falta de autonomia. Em decorrência das

progressivas mudanças nas funções e nos cenários de trabalho, situações de assédio

podem surgir devido à intensificação do ritmo de trabalho, das reestruturações, da

instabilidade e da precarização do emprego. A autora conclui, assinalando que “o

assédio é um processo multi-causal, resultado da interação de fatores individuais,

organizacionais e das mudanças que ocorrem no mundo do trabalho” (BRADASCHIA,

2007, p. 102).

De forma semelhante, Samnani e Singh (2012), colocam que os aspectos

antecedentes ao assédio moral, ao nível organizacional, estão relacionados ao estilo

de gestão e liderança, a cultura e clima organizacional, as políticas organizacionais e

a fatores situacionais, como o sistema de recompensas. Esses aspectos, por sua vez,

sofrem influência do sistema capitalista pautado na competitividade, na

individualidade e abuso de poder.

Enfim, observa-se que o assédio moral coletivo guarda uma estreita relação

com as transformações decorrentes da reestruturação produtiva das últimas décadas.

Novos modelos de gestão e exploração da mão de obra foram sendo delineados, com

o único objetivo de aumentar a produção, fragilizando as relações de trabalho e

relegando a saúde e segurança dos trabalhadores ao minimamente necessário.

2.4 OS SINDICATOS

A origem do sindicalismo no Brasil remonta o final do século XIX e está

vinculada ao processo de transformação de nossa economia, que tinha como centro

agrário o café. A substituição do trabalho escravo pelo trabalho assalariado, a

transferência do lucro do café para a indústria e o poder político nas mãos dos

cafeicultores foram algumas das mudanças nesse processo de transformação. A

origem da exploração da força de trabalho de um homem por outro não tem,

entretanto, uma data definida (LOPEZ, 2012).

Na Antiguidade a exploração dos homens já ocorria através da prática social

da escravidão, em que o explorador (proprietário) era dono do explorado (escravo).

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Já na Idade Média o modo de exploração feudal marca as relações de trabalho onde

os explorados (servos) vendiam a sua força de trabalho para os exploradores

(senhores feudais) apenas em troca de uma gleba de terra para moradia (SOARES,

2006).

Com a Revolução Industrial e a ascensão do capitalismo, no Século XVIII, as

relações de trabalho ganham os contornos que predominam até os dias atuais, no

qual os trabalhadores vendem a sua força de trabalho para os patrões. Ainda na

Revolução Industrial, principalmente na Inglaterra, seu berço, em função da

concorrência crescente dos meios de produção, as máquinas foram ganhando cada

vez mais lugar nas fábricas, tomando o lugar de muitos operários e formando o

primeiro contingente de “mão de obra excedente”, permitindo o pagamento de salários

cada vez mais baixos e jornadas que poderiam chegar até 16 horas de trabalho

(SOARES, 2006).

As primeiras formas de organização dos trabalhadores brasileiros foram as

Sociedades de Socorro e Ajuda Mútua e a União Operária, que com o advento da

incipiente indústria nacional passou a se organizar por ramo de atividade, dando

origem aos sindicatos (QUEIROZ, 2013).

Sindicatos são, portanto, instituições que têm como finalidade principal,

defender e proteger os direitos e interesses da classe trabalhadora. Seu surgimento

foi uma conquista ao longo da história do trabalho, pois se caracteriza pela união dos

trabalhadores no combate à exploração e a mais valia e nas reivindicações por

condições de trabalho salutares e com salários dignos, entre outras questões. “Seu

principal valor está em reconhecer a existência do conflito e permitir a sua solução de

forma negociada, com regras que asseguram igualdade de condições entre

empregadores e trabalhadores” (QUEIROZ, 2013, p. 10).

Rossi e Gerab (2009) descrevem os sindicatos como organismos sociais que

objetivam defender os interesses econômicos e sociais, de suas respectivas

categorias profissionais, individual e coletivamente, com o intuito de garantir melhores

condições de trabalho e de vida.

Organizar e representar a categoria, realizar negociações coletivas (acordos,

convenções ou contratos), fomentar a consciência crítica dos trabalhadores e atuar

para garantia dos direitos trabalhistas, são algumas das funções dos sindicatos. Entre

as organizações não governamentais, os sindicatos são os únicos que possuem

prerrogativa de estabelecer uma ação regulatória com poder de lei.

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De acordo com Queiroz (2013), a jornada de trabalho de 8 horas diárias, as

férias, o seguro-desemprego, a segurança no trabalho, são direitos conquistados que

resultam da ação e pressão dos sindicatos em favor de todos os trabalhadores.

Na pauta de lutas dos sindicatos se observam inúmeras reivindicações acerca

de melhores condições de trabalho, como redução da jornada de trabalho e controle

de horas extras, piso, isonomia e equilíbrio salarial, segurança no trabalho, combate

a terceirização e a precarização do labor. As questões referentes à saúde mental dos

trabalhadores estão presentes nas reivindicações, mas certamente não apresentam a

mesma importância que os outros pontos de pauta têm (MELO, 2013).

Atua, de certa forma, contra as práticas de assédio moral coletivo, uma vez que

luta a favor do trabalho decente e contra os abusos nos contextos de trabalho. No

entanto, quanto as questões mais específicas ou individuais do assédio moral no

trabalho, o apoio e a prevenção ainda são incipientes.

Essas questões, mais específicas ou individuais, entre elas o assédio moral no

trabalho, por sua atualidade e novidade no contexto das empresas e das relações de

trabalho, somente agora começa a ser encarada de forma objetiva pelo movimento

sindical. A primeira barreira a ser vencida é a doutrinação por parte do sistema

formador de mão de obra na qual o trabalhador é orientado a agir exclusivamente

pautado pela competividade e de forma individual e egoísta, quando deveriam ser

incorporados na sua formação valores solidários e coletivos (SOARES, 2006).

Além disso, a exemplo dos países socialmente mais avançados, os

trabalhadores devem ser motivados a entender o papel social e político dos seus

sindicatos, na manutenção da paz social, no respeito aos valores de uma sociedade

plural e democrática e na defesa dos seus direitos, incluindo-se aí o exercício do

trabalho decente, sem nenhuma forma de exploração, submissão ou assédio moral.

De acordo com Lara (2011), existe uma variedade de fragilidades nas relações

de trabalho que afetam a saúde física e mental dos trabalhadores, e que exigem dos

sindicatos uma postura ativa e atenta em relação ao enfrentamento e superação de

todas as formas as formas abusivas de exploração da força de trabalho.

Cotanda (2008) salienta que o pouco interesse dos sindicatos por temas que

envolvem a organização do trabalho e modelos de gerenciamento advém de um

pensamento consensual, historicamente construído, que vigora em nossa sociedade

de que a gestão do trabalho e da produção são prerrogativas exclusivas do

empregador.

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Os sindicatos patronais, por sua vez, atuam na defesa dos direitos das

empresas por eles representadas, através da participação nas negociações coletivas

com os sindicatos dos trabalhadores, buscando obter o melhor proveito das cláusulas

relacionadas com a produtividade e competitividade das empresas. Estabelecem

ainda, relações com as esferas públicas para negociação de legislações específicas

e racionalização de impostos, por exemplo, com o objetivo de obter melhores

condições para os negócios (LOPEZ, 2012).

O referido autor menciona, ainda, que ao longo dos anos, devido à pouca

atuação dos sindicatos patronais, a adesão aos mesmos e a sua credibilidade foram

abaladas. Para recuperar a adesão e a retenção de afiliados, foi e é necessário atuar

politicamente e mostrar resultados. Segundo o autor, os sindicatos patronais atuam

em duas vertentes principais:

A primeira e mais importante é a defesa dos interesses das empresas representadas, que inclui a negociação no acordo salarial com o sindicato laboral e toda a atividade de representação na esfera pública, para viabilização de melhores condições de negócio, ou seja, racionalização de impostos, mudanças na legislação específica, proteção do mercado, etc. A outra atividade desempenhada pelo sindicato patronal é a prestação de serviços e o oferecimento de produtos às empresas associadas (LOPEZ, 2012, p. 26).

O principal comprometimento dos sindicatos patronais é com o

desenvolvimento do setor produtivo, portanto, seu foco de atuação é no sentido de

promover ações para aperfeiçoar o conhecimento e as competências para os

negócios, buscando a competitividade das empresas associadas.

De acordo com Lopez (2012), os empresários pressionam os sindicatos

patronais principalmente pela racionalização da carga tributária, bastante pesada em

nosso país e que onera fortemente as atividades produtivas. Em segundo lugar, a

pressão sobre os sindicatos é pela sua representatividade junto as instâncias

governamentais em defesa dos interesses empresariais. Apenas em terceiro lugar as

relações de trabalho aparecem como tema de pressão sobre os sindicatos patronais

por parte das empresas associadas.

Dessa forma, observa-se que as relações de trabalho não são prioridade para

os sindicatos patronais. Contudo, a reação dos sindicatos para essas demandas é no

sentido de barganhar, pela própria característica desse tipo de negociação que

envolve conflito de interesses (LOPEZ, 2012).

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Nesse sentido, é importante refletir sobre quais aspectos das relações de

trabalho são demandados aos sindicatos patronais. Ao que parece, o interesse do

patronato se refere mais a questões como estabilidades legais, impeditivos das

rescisões contratuais, descanso semanal e terceirização. De modo geral, o interesse

do patronato se refere ao ajuste das relações de trabalho às estratégias empresariais

para melhoria de seus resultados.

Um problema na atuação dos sindicatos deriva do enfraquecimento da

mobilização coletiva nos últimos anos, visto o fortalecimento do discurso da

competitividade, do individualismo e da necessidade individual de preparação e

qualificação para a empreendedorismo (BOTTEGA; MERLO; PEREZ, 2013).

A estratégia empresarial em diminuir a relevância da atividade sindical, por parcelar as atividades dos trabalhadores em facetas numerosas e dispersas ao longo da empresa, somou-se à individualização dos interesses dos empregados que adotaram, como sua, a escala patronal de valor (MUÇOUÇAH, 2014, p. 190).

Significa dizer, que o discurso do empreendedorismo, do individualismo, da

concorrência estabelecido pelas organizações contribuíram para o processo de

aculturação desses valores por parte dos trabalhadores e por consequência,

enfraqueceram a consciência de pertencimento à classe trabalhadora e, portanto, o

movimento sindical.

De acordo com Araújo e Ferraz (2006)

A organização do processo de trabalho proporciona uma experiência em que o poder se apresenta como dado naturalmente pela produção. Desaparece do universo cognitivo a percepção de subordinação, espalhando a indeterminação como norma e solapando aos sindicatos, o seu papel de acesso ao mundo público. Esse sentimento desarticula a representação de classe. (ARAÚJO; FERRAZ, 2006, p. 2)

Ainda assim, mesmo discretamente, é possível constatar debates e ações por

parte dos sindicatos com o objetivo de informar, sensibilizar e promover a prevenção

do assédio moral no trabalho, através de campanhas de informação, palestras e na

elaboração e divulgação de cartilhas (GARBIN, 2009).

Tendo o papel de defender os direitos dos trabalhadores, inclusive aos

relacionados à saúde mental, os sindicatos podem negociar cláusulas específicas nas

convenções e acordos coletivos. O relatório apresentado pelo DIEESE –

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Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio Econômicos - aponta

algumas dessas negociações, revelando o impacto das formas de organização do

trabalho e de gestão como fatores determinantes no processo saúde-doença no

ambiente laboral.

No estudo citado anteriormente, foram destacadas algumas cláusulas que

versam sobre o assédio moral em diferentes contextos, como por exemplo, assédio

moral e gênero no setor de plásticos da Bahia , sobre a constituição de comissão de

ética no setor de jornalismo em Minas Gerais, de combate à discriminação, assédio

moral e sexual dos servidores de processamento de dados, em relação ao

monitoramento e divulgação de resultados no setor bancário e por fim, da conduta no

ambiente escolar do sindicatos dos professores de Pernambuco (DIEESE, 2015).

No site do DIEESE2 há diversos relatórios disponíveis para consulta, e somente

o referente ao ano de 2015 traz informações sobre o assédio moral no trabalho,

demonstrando que o assunto até então não era problematizado em negociações

coletivas por parte dos sindicatos. E por outro lado, ressaltando o crescimento das

discussões sobre a temática no âmbito sindical e a importância de incluir esse debate

nas assembleias e na prática sindical cotidiana.

Assim, embora tenha ocorrido um enfraquecimento da mobilização coletiva,

tanto de trabalhadores, quanto patronal, é visível a participação dos sindicatos na

atenção e negociação dos casos de assédio moral no trabalho. Com vistas à

prevenção de sua ocorrência, bem como na promoção de ambiente de trabalho salutar

e condições dignas de exercício das atividades profissionais é necessário agora que

os sindicatos insistam na obtenção de legislação adequada ou que trate

especificamente do assédio moral no ambiente de trabalho.

Conforme o estudo de Perez (2014), baseado em sua experiência prática em

Clínica do Trabalho desenvolvida em entidades sindicais, as queixas prevalentes que

motivam a busca pelo sindicato, dizem respeito a situações de violência moral e

psicológica no trabalho, principalmente as relacionadas à racismo e discriminação. A

falta de condições de trabalho adequadas e a sobrecarga de trabalho também são

demandas constantes que alguns sindicatos já começam a atentar e tentar ajudar os

trabalhadores que sofrem e adoecem do trabalho.

Em uma outra perspectiva, estudos como o de Fistarol (2014) demonstram que

2 www.dieese.org.br

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os tribunais brasileiros já estão julgando e condenando atos de assediadores,

utilizando como base o artigo 186 do Código Civil, que trata do dano moral e

determina: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,

violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato

ilícito”.

Existem projetos de lei tramitando no Congresso Nacional, cujo objetivo é

regular o assédio moral no ambiente de trabalho no Brasil. Um deles, o Projeto n.

4.742/01, caracteriza o assédio moral como crime, passível de detenção de três

meses a um ano. Esse projeto deve ser amplamente discutido, tanto no sentido da

adequação da pena quanto em relação a sua viabilidade, levando em consideração o

atual sistema carcerário brasileiro.

Embora ainda não exista uma lei específica para o assédio moral no trabalho,

principalmente no âmbito federal, em algumas cidades e estados, já se observa

legislação específica. Em Natal, por exemplo, existe a Lei nº 189, de 23 de fevereiro

de 2002, que dispõe sobre o assédio em relação aos funcionários nomeados para

cargos de confiança (MARTINS, 2015).

Além do trabalho legislativo, de convencimento de deputados federais e

senadores, os sindicatos devem formar grupos internos de profissionais capacitados

como médicos, psicólogos, psiquiatras, advogados, entre outros, para analisar e

resolver os conflitos quando não há clareza por parte dos envolvidos, nos casos

individuais e para aprofundar os estudos nos casos coletivos e de maior repercussão.

A saúde física e mental dos trabalhadores é ou não de interesse mútuo dos

sindicatos patronais ou de empregados? No caso patronal evita o absenteísmo e

favorece a produção e no caso dos trabalhadores permite melhores condições de

ascensão profissional, gerando mais renda e um padrão de vida digno. Os casos de

assédio moral atentam sempre contra a saúde do trabalhador e os sindicatos devem,

portanto, tratar esse tema com a prioridade que os novos tempos exigem.

2.5 ESTUDOS RECENTES SOBRE ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO

O assédio moral no trabalho apresenta-se como um tema com um número

significativo de produções, como artigos, dissertações, teses e livros. É discutido por

diversas áreas do conhecimento possibilitando concepções da psicologia, do direito,

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da medicina, da administração, entre outras. Alguns autores se destacam pela

maneira peculiar de observar o fenômeno e pela profundidade de seus estudos e

serão destacados a seguir.

Para a elaboração do arcabouço teórico do presente estudo, foram consultados

artigos, dissertações e teses sobre o assunto, em periódicos indexados em bases de

dados como Scielo, Science Direct, CAPES e Lilacs, e em bibliotecas virtuais, como

BDTD – Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, e BVS – Biblioteca

Virtual em Saúde. Também foram utilizados livros de autores referenciais e

contemporâneos na discussão do assédio moral no trabalho.

Primeiramente, destaca-se a produção de Barreto, Freitas e Heloani (2008),

onde os autores apresentam o assédio moral dentro do contexto histórico do trabalho,

suas raízes nos modos de organização da produção, as características e os impactos

nos trabalhadores e na sociedade. Além deste estudo os autores se destacam por

diversas publicações em revistas e pela fundação de um site sobre o assunto3, que

utilizam para divulgação do tema e também como canal para recebimento de histórias

e denúncias de assédio moral. As informações coletadas durante o período de 2010

e 2014 através do site (3.613 questionários e 530 histórias), foram apresentadas por

por Barreto e Heloani (2014) em um capítulo do livro Atenção à saúde mental do

trabalhador: sofrimento e transtornos relacionados ao trabalho.

Um outro estudo que merece destaque é o de Muçouçah (2014), que coloca o

assédio moral como um fenômeno que fere os direitos humanos e o relaciona com o

abuso do poder diretivo que o empregador possui legalmente, na medida que pode

estabelecer o modo de organização do trabalho e a maneira de controlar a produção.

O livro organizado por Lis Andréa Soboll (2008), Violência psicológica e assédio

moral no trabalho: pesquisas brasileiras, é uma referência para o estudo do tema, pois

apresenta diversos estudos sobre o assédio moral, sob diferentes enfoques, de

autores de diferentes áreas do conhecimento, como Adriane Araújo, Roberto Heloani,

André Aguiar, Ivana Rizvi, Juan Brandt e Sueli Damergian, entre outros.

Emmendoerfer, Tolfo e Nunes (2015), são os organizadores do livro Assédio

moral em organizações públicas e a (re)ação dos sindicatos, que conta com a

participação de vários pesquisadores da área e apresenta estudos que relacionam as

organizações sindicais e o tema do assédio no trabalho. Este tipo de relação, sindicato

3 www.assediomoral.org

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– assédio moral, não se encontra com facilidade na literatura, podendo ser

considerado um dos poucos livros a respeito, produzidos até o momento.

Rossi e Gerab (2009) apresentam um panorama histórico do sindicalismo no

Brasil e os momentos socioeconômicos vivenciados ao longo dos anos,

contextualizando-os às formas de organização do sistema produtivo e do movimento

sindical.

Araújo e Ferraz (2006) não falam diretamente sobre assédio moral, mas

contribuem para a reflexão sobre os modos de produção e as formas coletivas de

resolução de conflitos, fazendo uma análise crítica do papel dos sindicatos e sua

atuação contemporânea.

A pesquisa de Soares (2006) identificou as práticas de assédio moral no

trabalho através da pesquisa participante em uma instituição financeira. Além de

apresentar as principais práticas de assédio moral, o estudo mostra as percepções

dos assediados e das testemunhas, bem como as repercussões físicas, afetivas,

cognitivas e sociais para os assediados.

O trabalho de Bradaschia (2007) apresenta uma sistematização dos estudos

realizados até a data. Fala do contexto organizacional, e de como o tema tem sido

mais frequentemente abordado pelas pesquisas brasileiras e internacionais e expõe

os mecanismos de combate e prevenção.

Schinestsck (2009) traz o enfoque do Direito sobre o tema e apresenta a

importância da visão humanista do meio ambiente do trabalho, com respeito aos

direitos fundamentais e preservação da saúde mental dos trabalhadores, destacando,

ainda, a responsabilidade dos sindicatos nesta questão.

O assédio moral no trabalho, investigado através das suas representações na

mídia impressa, é o enfoque da pesquisa de Garbin (2009), que desvela o quanto e

como o tema é abordado pelos jornais de grande circulação de São Paulo e de jornais

elaborados pelos sindicatos para a sua respectiva categoria.

Fistarol (2014) caracteriza as práticas de assédio moral no trabalho conforme

a perspectiva do judiciário e dos sindicatos dos trabalhadores e sindicatos patronais.

Seu estudo analisa as ações relativas a assédio moral impetradas no Tribunal

Regional do Trabalho, identificando as condutas consideradas como assédio moral

nas sentenças judiciais. Dessa forma, verifica se o entendimento dos juízes está

consoante com o que a literatura caracteriza como assédio.

O estudo de Costa et al. (2015), recentemente publicado, de natureza

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bibliométrica, apresenta dados sobre a produção científica acerca do assédio moral

em teses e dissertações realizadas no Brasil, durante o período de 2002 a 2012. A

amostra desse estudo foi composta por 57 trabalhos, sendo 52 dissertações e 5 teses,

demonstrando um expressivo volume de produções durante a década estudada. Além

do panorama das produções acadêmicas, o estudo apresenta um mapa conceitual do

assédio moral, a partir dos descritores encontrados na literatura pesquisada.

Um estudo semelhante foi realizado por Cahú et al. (2011) que analisou a

produção científica sobre assédio moral em periódicos online no período de 2002 a

2010. Os trabalhos encontrados foram organizados em três categorias: Instituições de

ensino, Órgãos públicos e Empresas privadas, demonstrando os principais cenários

da prática do assédio moral.

Duas outras pesquisas ratificam os principais cenários de prática de assédio

moral. O artigo de Rodrigues e Freitas (2014) que trata do assédio moral nas

instituições de ensino superior e o artigo de Maciel et al. (2007) com situações de

assédio moral no contexto bancário.

A relação da saúde mental com o trabalho pode ser vista nos estudos de

Bottega, Perez e Merlo (2013) e de Barreto (2009) que apontam o sofrimento e o

adoecimento dos trabalhadores como decorrentes de um processo histórico e cultural

de precarização do trabalho e destacam a necessidade de enfrentamento desse

problema. As pesquisas de Seligmann-Silva et al. (2010) e de Lima, Lima e Vieira

(2012) também abordam os modelos contemporâneos de gestão como incipientes do

assédio moral e intrinsecamente relacionados aos processos de adoecimento dos

trabalhadores. Um outro estudo interessante acerca da saúde dos trabalhadores, é

apresentado por Ricardo Lara (2011) que aborda as mudanças nos perfis patológicos

derivados do trabalho relacionando-as com as crises que afetaram a materialidade do

trabalho.

Vale destacar os artigos do volume 37 da Revista Brasileira de Saúde

Ocupacional de 2012, uma edição temática sobre o assédio moral no trabalho que

reuniu produções de diversos estudiosos da área, contribuindo com análises

contemporâneas e diversificadas sobre a caracterização do assédio moral, seus

impactos e possíveis intervenções.

A respeito da relação dos sindicatos com o tema do assédio moral, a literatura

ainda é escassa, sendo possível encontrar alguns artigos que de alguma forma se

aproximam do assunto do presente estudo, como por exemplo, o artigo de Cotanda

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(2008) que discorre sobre o posicionamento dos sindicatos frente às inovações

tecnológicas e organizacionais e aponta para o pouco interesse das entidades

sindicais sobre o assunto. Caso semelhante é o estudo de Cruz, Sarsur e Amorim

(2012) que apresenta a visão dos sindicalistas em relação a determinadas práticas

organizacionais, mais especificamente, à gestão por competências. Os autores

colocam que além do desinteresse, há também pouca habilidade para tratar de

assuntos como esse.

Face ao exposto nesse referencial teórico, entende-se que o assédio moral no

trabalho é um tipo sutil de violência decorrente das transformações nas relações de

trabalho, orientadas para a exploração dos trabalhadores e com vistas ao acúmulo de

capital. Dessa forma, destaca-se a participação das entidades sindicais no

enfrentamento de condutas abusivas em prol da saúde dos trabalhadores.

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Nesse tópico são explicitadas as informações referentes aos procedimentos

metodológicos escolhidos para a realização desta pesquisa; tais como, o tipo de

pesquisa, a caracterização da amostra, o plano de coleta de dados, as categorias de

análise e como se deu o processo de tratamento dos dados.

3.1 TIPO DE PESQUISA

Para a realização deste estudo, foi utilizada a abordagem qualitativa, uma vez

que se pretende analisar significados, entendimentos, sobre o tema. Teve finalidade

descritiva, pois tratou-se de investigar um fenômeno com o objetivo de apresentar uma

nova visão do tema, através do levantamento de opiniões e atitudes, que, neste caso,

foi a perspectiva dos representantes sindicais acerca do assédio moral no trabalho

(GODOY, 1995).

Conforme Godoy (1995), na pesquisa qualitativa é possível observar o

fenômeno estudado a partir do significado atribuído a ele pelas pessoas relacionadas

ao estudo, considerando a subjetividade como ponto de destaque deste tipo de

pesquisa.

Vale destacar o posicionamento de Minayo (2004) quanto a relevância da

pesquisa, principalmente a qualitativa, para o desvelamento da realidade, através da

reflexão sobre as opiniões e atitudes de determinados grupos.

Flick (2009) ressalta a importância da pesquisa qualitativa para o estudo das

relações sociais, na medida em que possibilita o conhecimento de pontos de vista e

práticas diferentes de forma contextualizada.

Tendo em vista que o objetivo da pesquisa foi o de conhecer o entendimento

dos dirigentes sindicais em relação ao assédio moral no trabalho, bem como as ações

de enfrentamento praticadas pelas entidades à que pertencem, a pesquisa qualitativa,

descritiva, pareceu ser a mais indicada para este fim.

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3.2 PARTICIPANTES DO ESTUDO

Primeiramente, foi feito um levantamento das entidades sindicais com

abrangência estadual e com sede em Natal, através de pesquisa na internet, para

obter o endereço e formas de contato com essas instituições. Em seguida, foram feitos

contatos telefônicos para possíveis agendamentos. Foram também realizadas visitas

às sedes dos sindicatos para verificar a possibilidade de realizar a pesquisa e realizar

o agendamento. Nesses contatos, algumas entidades solicitaram enviar email com

maiores informações sobre a pesquisa, o que também foi realizado. Na maioria dos

casos foi necessário retornar o contato diversas vezes para finalmente obter um

retorno. Ao todo, foi feito contato com 54 entidades sindicais, entre patronais e de

trabalhadores. Desse montante, apenas 10 sindicatos de trabalhadores concordaram

em participar da pesquisa e agendaram a entrevista. Os contatos e as entrevistas

foram realizados durante os meses de fevereiro e março de 2016.

Participaram do estudo dez dirigentes de sindicatos de trabalhadores de

diferentes categorias profissionais. Dentre esses sindicatos há representação de

categorias de trabalhadores tanto do setor público como do setor privado. Apesar de

inúmeras tentativas, infelizmente, nenhum sindicato patronal se disponibilizou para

participar da pesquisa. Esse achado pode indicar o desinteresse das entidades

patronais em debater o assunto, visto terem outros interesses de maior importância,

conforme abordado brevemente no referencial teórico.

Os sindicatos que participaram do estudo foram os seguintes:

SINDIMOVÉIS – Sindicato dos Corretores de Imóveis do Rio Grande do

Norte

SINDSEGUR – Sindicato Intermunicipal dos Vigilantes

SINPOL – Sindicato dos Policiais Civis e Servidores da Segurança Pública

do Rio Grande do Norte

Sindicato dos Bancários do Rio Grande do Norte

SINDUSCON – Sindicato do Trabalhadores da Indústria e Construção Civil

do Rio Grande do Norte

Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Norte

SINDCONFECÇÕES – Sindicato dos Oficiais Alfaiates, Costureiras e

Trabalhadores nas Indústrias de Confecção de Roupas no Estado do Rio

Grande do Norte

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SINPEF – Sindicato dos Servidores do Departamento da Polícia Federal no

Rio Grande do Norte

SECERN – Sindicato dos Empregados no Comércio do Rio Grande do Norte

SINDMOTO – Sindicato dos Trabalhadores, Condutores de Utilitários em

duas ou três rodas, motorizadas em entrega de mercadorias a domicilio do

Rio Grande do Norte

A proposta inicial para a delimitação do número de participantes da pesquisa

seria seguir o princípio de saturação teórica, que ocorre quando os novos dados

coletados não contribuem para a pesquisa, ou seja, quando se julga desnecessário a

captação de novos dados visto estes serem redundantes (FONTANELLA;

MAGDALENO JÚNIOR, 2012).

Porém, diante da dificuldade de agendamento devido a (pouca) disponibilidade

dos dirigentes sindicais em participar do estudo, foi utilizado o critério de conveniência,

que “se refere à seleção de casos mais acessíveis sob determinadas condições”

(FLICK, 2009, p. 125). A dificuldade de acesso se deu principalmente pelo fato de os

dirigentes sindicais não terem a liberação de seus empregadores para o exercício da

atividade sindical e dessa forma, não possuírem uma agenda fixa dentro das

entidades. Geralmente, só comparecem ao sindicato nas reuniões e assembleias, ou

quando há alguma demanda específica.

3.3 INSTRUMENTO E PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS

Para a coleta de dados foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os

presidentes ou outros membros da diretoria de sindicatos de trabalhadores. As

entrevistas tiveram como base o roteiro desenvolvido por Fistarol (2014), na sua

pesquisa junto aos dirigentes sindicais, que foi adaptado para o alcance dos objetivos

do presente estudo.

Os representantes sindicais foram questionados sobre o entendimento que têm

acerca do assédio moral no trabalho, tanto individual como coletivo, bem como se a

entidade recebe queixas por parte de seus associados de situações de assédio moral.

Foi questionado, ainda, sobre quais ações são desenvolvidas pelas entidades em

relação ao assédio moral no trabalho.

Vale salientar que o roteiro da entrevista serviu apenas como guia para que

todas as questões fossem abordadas e os objetivos deste estudo alcançados. Na

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prática, os participantes do estudo muitas vezes respondiam duas ou mais questões,

como por exemplo, quando perguntados sobre o entendimento do assédio moral,

apresentavam casos que chegavam ao sindicato e inclusive qual a conduta adotada.

De acordo com Flick (2009), a técnica da entrevista é largamente utilizada nas

pesquisas qualitativas. É uma técnica de coleta de dados que possibilita obter

informações, percepções, opiniões e entendimentos a respeito de determinado

assunto. Dessa forma, permitem pesquisar um tema com maior profundidade.

O tipo de entrevista aplicado neste estudo foi o que Flick (2009) denomina como

entrevista com especialistas, uma vez que o interesse maior da pesquisa não está na

opinião pessoal dos entrevistados, e sim, na perspectiva deles enquanto

representantes de uma categoria profissional e membros de uma entidade sindical.

A primeira entrevista, realizada com um sindicato de trabalhadores da área de

segurança, serviu como teste piloto, com o objetivo de analisar a adequação do roteiro

da entrevista.

Na realização das entrevistas foram explicados os objetivos da pesquisa e

solicitado a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, bem

como, ressaltado o sigilo na identificação dos participantes do estudo. As entrevistas

ocorreram, na maioria dos casos, nas sedes das entidades sindicais. Foi utilizado um

gravador na realização das entrevistas para obter maior fidelidade na transcrição

posterior.

3.4 CATEGORIAS DE ANÁLISE

As categorias de análise foram sendo delineadas a partir da transcrição e leitura

das entrevistas, conforme a identificação de padrões presentes nos discursos dos

participantes, levando em consideração os objetivos do presente estudo. De acordo

com Godoy (2005, p. 87), “A análise indutiva dos dados leva a identificação de padrões

recorrentes, temas comuns e categorias”. Dessa forma, as categorias de análise são

apresentadas conforme o quadro a seguir:

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Quadro 1 – Categorias de análise

Objetivos específicos

Categorias de análise

Descrição Instrumento

Identificar perspectivas sobre o assédio moral individual

Perspectivas sobre o assédio moral individual

Qualquer conduta abusiva (gesto, palavra, comportamento, atitude) que atente, por sua repetição ou sistematização, contra a dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho. (HIRIGOYEN, 2006, p. 17)

O que você entende por assédio moral individual? Quais as características de um assédio?

Identificar perspectivas sobre o assédio moral coletivo

Perspectivas sobre o assédio moral coletivo

[...] o empregador, utilizando-se abusivamente do seu direito subjetivo de organizar, regulamentar, fiscalizar a produção e punir os empregados, utiliza-se desses direitos de forma reiterada e sistemática, como política gerencial, atentando contra os direitos humanos fundamentais dos empregados em todas as dimensões, geralmente para o incremento da produção. (MUÇOUÇAH, 2014, p. 196)

O que você entende por assédio moral coletivo ou organizacional?

Descrever o papel dos sindicatos em relação ao assédio moral no trabalho

Papel dos sindicatos em relação ao assédio moral no trabalho

Organismos sociais que objetivam defender os interesses econômicos e sociais, de suas respectivas categorias profissionais, individual e coletivamente, com o intuito de garantir melhores condições de trabalho e vida. (ROSSI; GERAB, 2009)

Em sua opinião, qual o papel dos sindicatos frente ao assédio moral? Que orientações o sindicato dá aos trabalhadores em relação ao assédio moral?

Verificar implicações práticas dos sindicatos nas questões relativas ao assédio moral no trabalho

Implicações práticas dos sindicatos nas questões relativas ao assédio moral no trabalho.

Ações de acolhimento, de apoio, combate e prevenção promovidas pelas entidades.

Como o sindicato atua nos casos de assédio moral que toma conhecimento? O que o sindicato faz para evitar a prática do assédio moral?

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3.5 TRATAMENTO DOS DADOS

O tratamento dos dados utilizado foi a análise de conteúdo, que possibilita o

estudo das significações de temas cotidianos, sendo adequado para objetivo deste

estudo. De acordo com Bardin (2009), a análise de conteúdo se caracteriza como um

conjunto de métodos de

[...] análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2009, p. 44)

Através dessa metodologia de tratamento de dados, pretendeu-se analisar as

falas dos membros da diretoria dos sindicatos acerca do assédio moral, criando

categorias a partir dos sentidos construídos pelos entrevistados.

Para tanto, foram seguidas as fases propostas por Bardin (2009), a organização

da análise, a codificação e a categorização. A fase de organização da análise

corresponde ao planejamento e preparação do material que será utilizado para a

análise de conteúdo e se caracteriza pela leitura preliminar do material e pela

organização do mesmo. A fase de codificação faz referência ao processo de

transformar os dados brutos em unidades que representem o conteúdo pesquisado.

É nesta fase que se escolhe a unidade de registro que serão “recortadas” do texto, e

se estabelece as categorias de análise nas quais, os “recortes” serão “agregados”

posteriormente. Na fase da categorização, as unidades de registro são categorizadas

conforme aspectos em comum, de forma a possibilitar a análise temática dos dados.

Por fim, são realizadas as inferências sobre os dados encontrados à luz do referencial

teórico apresentado.

Dessa forma, para a realização deste estudo, primeiramente foi realizado a

organização do material, onde se procedeu com a transcrição das entrevistas e a

leitura inicial das mesmas, o que possibilitou a definição da unidade de registro e o

esboço das categorias de análise. A unidade de registro adotada foi o tema, que “é a

unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto analisado segundo

certos critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura” Bardin (2009, p. 131).

Posteriormente as entrevistas foram impressas e iniciou-se o processo de

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codificação, onde cada unidade temática foi destacada do texto (recortada) conforme

as categorias de análise propostas. Nessa fase, cada entrevista foi analisada,

identificando as perspectivas dos entrevistados de acordo com o sentido expresso em

afirmações e frases relacionadas às categorias de análise, ou seja, a percepção do

assédio moral individual, do assédio moral coletivo, do papel do sindicatos e das ações

realizadas pelas entidades sindicais.

Na categorização, as unidades temáticas foram classificadas e agrupadas nas

respectivas categorias. Foi elaborado um quadro-síntese para cada categoria de

análise, agrupando as unidades temáticas a fim de organizar as falas dos

respondentes e identificar os aspectos em comum de suas perspectivas.

Finalmente, cada categoria foi analisada e contextualizada relacionando os

achados da pesquisa com a literatura sobre o tema.

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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Este capítulo dedica-se à análise e discussão dos achados da pesquisa,

resultantes das entrevistas com os representantes sindicais acerca do assédio moral

no trabalho. Os resultados demonstram a percepção dos sindicatos, por meio de seus

diretores, a respeito do assédio moral, tanto em nível individual quanto em nível

coletivo, bem como as ações que estes sindicatos costumam adotar diante dos casos

que tomam conhecimento.

Devido a ausência da participação dos sindicatos patronais, não é possível

conhecer o ponto de vista dos mesmos em relação ao assédio moral. Por outro lado,

abre margem para inferências a respeito da indisponibilidade em falar sobre o

assunto. Lopez (2012) pontua que os sindicatos patronais têm como prioridade os

embates para diminuição da carga tributária, relegando ao segundo plano, as

discussões sobre relações de trabalho.

De modo geral, o patronato deseja que as relações de trabalho sejam

estabelecidas de maneira que favoreçam os seus negócios. Assim, pode-se inferir que

o assédio moral no trabalho seja um assunto espinhoso para os empresários e que

reflete na postura de suas entidades sindicais.

Pensar sobre o assédio moral implica em refletir sobre a exploração da mão da

obra em todas suas nuances, e qualquer coisa que implica em diminuição de capital,

mesmo que seja para a melhoria na saúde do trabalhador, não é de interesse do

patronato.

4.1 PERSPECTIVAS SOBRE O ASSÉDIO MORAL INDIVIDUAL

Para a apresentação inicial dos dados e a título de organização, foi elaborado

um quadro que sintetiza o entendimento do assédio moral no trabalho por parte dos

dirigentes sindicais entrevistados.

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Quadro 2 - Perspectivas sobre o assédio moral individual

Sindicatos Descrição

S1

“todo ato inconveniente” “que excede” “o desencontro de informações e atitudes que são consideradas erradas, inconvenientes”

S2 “você é desrespeitado como trabalhador” “usa de abuso de poder para ameaçar”

S3

“constrangimentos praticados pelo empregador para com o empregado ou de um mesmo colega” “quando reiterada essas condições” “tortura psicológica para enfraquecer o empregado emocionalmente”

S4 “usurpação de tarefas e atribuições” “faz parte da cultura organizacional então acaba entrando na normalidade, é normal, é comum, isso acontece em toda organização”

S5

“extrapolação dos limites de alguém de um cargo superior com relação aos seus subordinados” “tratamento desproporcional com o empregado” “desde agressões verbais, físicas, psicológicas até a estipulação de metas que praticamente não são atingidas pelos funcionários”

S6

“toda e qualquer situação que coloque um profissional numa situação de constrangimento” “esse desrespeito pode ser de várias formas, pode ser uma agressão física, pode ser uma agressão verbal, pode ser uma situação de constrangimento”

S7 “é você gritar com alguém ou desconhecer a capacidade do outro” “quando você acha que é melhor que o outro”

S8

“a questão das metas” “o que caracteriza é essa cobrança constante, essa lembrança constante, essa ameaça constante, isso vai fazendo com que a pessoa vai perdendo o sono, vai perdendo a alegria, vai perdendo a saúde mental e física”

S9

“exposição a situação humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções” “o constrangimento, as ameaças, o isolamento” “deboche”

S10 “o que entendo é patrões ou pessoas de cargos de confiança na empresa que grita o funcionário, às vezes confunde a vida pessoal e levam para o lado amoroso”

Fonte: Dados da pesquisa

Em uma análise preliminar, observa-se que os representantes dos sindicatos

pesquisados têm algum entendimento, mesmo que superficial, sobre o assédio moral

no trabalho. Demonstra que o tema já chegou ao conhecimento das organizações

sindicais e que em maior ou menor grau, estão familiarizados com o assunto.

Comportamentos e/ou atitudes como, desrespeito, constrangimento, abuso de

poder, inconveniência, estão presentes nos discursos dos dirigentes sindicais, como

características do assédio moral. Esse entendimento está consoante com o

apresentado pela literatura.

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Por outro lado, existem elementos conceituais e característicos do assédio

moral que não foram abordados. Estudiosos do assunto pontuam a questão da

repetitividade como aspecto característico e definidor do assédio moral, ou seja, para

ser considerado assédio moral, os comportamentos abusivos devem ocorrer de forma

constante. Neste aspecto, por exemplo, somente três representantes sindicais (S3,

S8 e S9) citaram essa característica.

O dirigente do sindicato 1 (S1) entende o assédio moral como “ato

inconveniente” relacionando-o com uma situação pontual, entre duas pessoas,

derivado da relação de trabalho e decorrente da incapacidade técnica do assediador.

O dirigente entende que o assédio é decorrente de características pessoais do

agressor (“a pessoa nasce daquele jeito, é daquela forma, só pode passar aquilo que

recebeu”) ou por algum despreparo em sua atuação e dessa forma age com

agressividade para esconder uma inabilidade profissional (“uma espécie de resposta

da sua incompetência”).

No mesmo sentido, o representante do sindicato 5 (S5) e o representante do

sindicato 7 (S7) compreendem o assédio moral como algo pessoal, que parte do

superior para o inferior (“muitas vezes o problema é de um encarregado, de um

supervisor”) e que se caracteriza por palavras ofensivas e agressões aos

subordinados. O dirigente do sindicato 10 (S10) também assinala que as agressões

partem de um superior hierárquico, mas considera assédio qualquer “grito” ou conflito

interpessoal, tendendo ao assédio sexual.

De fato, a literatura relaciona uma série de casos onde a situação do assédio

aconteceu devido a características pessoais do assediador, como insegurança,

ambição, inveja, mau humor, competitividade, arrogância, entre outras, ou, devido a

características físicas ou cognitivas da vítima, que de alguma forma, trazem

incômodos para os algozes (MARTINS, 2015; HIRIGOYEN, 2006). Por outro lado, há

quem critique essa concepção como deveras reducionista, estigmatizante e

descontextualizada (BARRETO; FREITAS; HELOANI, 2008; LIMA; LIMA; VIEIRA,

2012).

Situações de constrangimento foram apontadas como a principal característica

do assédio moral no trabalho, na percepção dos dirigentes dos sindicatos 3 e 6 (S3 e

S6, respectivamente), tanto por parte de colegas quanto por seus superiores. Sendo

que o dirigente do S3 deixa claro que estas situações devem ocorrer de forma

reiterada para ser considerado assédio moral, enquanto que o dirigente do S6 coloca

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que “essas situações podem até se exceder, passar do constrangimento para algo

mais grave, algo mais sério”, revelando a dificuldade que se tem em definir um limiar

para a configuração do assédio.

A responsabilidade do empregador em intervir nos casos de assédio foi

levantada pelo representante do S3 (“e o empregador não tomar nenhuma iniciativa,

aí é caracterizado o assédio moral”) e acrescenta que algumas empresas “que não

gostam de dar as contas do trabalhador” se utilizam de tortura psicológica para

pressionar o empregado até que ele peça demissão. Nesse caso, pode-se considerar

essa prática como proveniente da política empresarial, uma vez que fica nítido que o

objetivo é não arcar com as despesas demissionais.

Dois representantes sindicais (S2 e S9) entendem que o assédio se dá por

abuso de poder de superiores hierárquicos, com anuência da gestão que não se

posiciona de forma correta. O representante do S2 relata que ameaças sutis são

cotidianamente impetradas aos trabalhadores através de situações do tipo: “se você

não fizer isso, você vai assinar advertência”, caracterizando um clima decorrente de

uma gestão por medo, como colocado pela literatura (SOBOLL; FREITAS; ZANIN,

2015). De forma semelhante, o representante do S9 compreende que o assédio

sofrido pela categoria se dá por abuso de poder, sendo que nesse caso, por se tratar

de servidores públicos, a hierarquia formal, os interesses políticos e econômicos, e a

briga por poder e status, contribuem para situações assediadoras tais como, desvios

de função, ameaças de transferências e humilhações que os superiores hierárquicos

se acham no direito de verbalizar publicamente por estarem revestidos em cargo

superior.

O dirigente do S2, destaca uma outra forma de assédio que se dá em função

da atividade terceirizada que grande parte da categoria exerce, a restrição de uso de

áreas de alimentação e repouso das empresas em que prestam serviço. Os

trabalhadores são proibidos de usar a copa ou área afim, pois essa é destinada

apenas aos trabalhadores da empresa. Dessa forma, em seu horário de almoço, o

terceirizado é obrigado a comer em algum outro lugar, geralmente em local

inapropriado, como por exemplo, no banheiro.

Em um caso recente, o trabalhador tirou uma foto sua almoçando dentro do

banheiro e postou nas redes sociais. O caso teve certa repercussão e a empresa agiu,

remanejando a equipe para outro posto e colocando uma nova equipe no local. Este

caso demonstra uma pequena parcela da fragilidade das relações de trabalho a que

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estão expostas diversas categorias de trabalhadores terceirizados.

Já o representante do S9 relata que o maior problema são as ameaças de

transferências, “quando a gente desagradava nosso chefe, por qualquer coisa que

fosse, por qualquer situação que ele achava que nós estávamos o desagradando,

éramos transferidos [...] como um saco de batata”. E acrescenta: “simplesmente

porque não agrada o gestor em algum posicionamento ou é contrário à política que

ele adota no local de trabalho”.

Embora isso também aconteça no setor privado, são situações típicas de

instituições públicas, onde o poder hierárquico, o poder político, o tráfico de

influências, são práticas sutis e culturalmente instituídas, como bem observa Tolfo,

Silva e Krawalski (2015) quando discorrem sobre os clientelismos, corporativismos e

favoritismos existentes nas organizações públicas.

O dirigente do sindicato 4 (S4), que representa servidores públicos, também

relata situações semelhantes, de abuso de poder institucionalizado pela cultura

organizacional que perpassa o funcionalismo público brasileiro. Para o representante

do S4, os principais problemas são a carência de material adequado para o trabalho

e a falta de uma gestão profissional, sem “panelinhas”. Acrescentam que os

sindicalistas sofrem perseguições devido aos enfrentamentos na busca por melhores

condições de trabalho. Entendem, dessa forma, que o assédio moral no trabalho não

se configura por causa da personalidade agressora de um superior, mas de

posicionamentos estruturais e gerencias ligados à cultura da instituição.

Diferentemente de outros sindicatos, o representante do sindicato 8 (S8)

entende que o estabelecimento de metas é uma forma de assédio moral individual, na

medida que as metas são individuais, mas compõem uma parte significativa do

salário. Segundo o dirigente do S8, “muitos, muitos colegas estão reféns da sua

comissão e a sua comissão é garantida na medida em que ele possa atingir as metas,

e uma vez atingidas, a meta seguinte vem maior”. Ou seja, todos estão expostos a

mesma situação, numa relação de dependência da comissão, imposta gradativamente

pelas instituições (para redução de custos fixos) e fazendo com que todos se

submetam as mais diversas situações de constrangimento para manter seus

rendimentos. Como coloca o representante do S8, “e não cumpra meta pra você ver”,

o clima de cobranças é contínuo e corriqueiro, e traz consequências maléficas para a

saúde dos trabalhadores.

Dessa forma, o dirigente do S8 entende que o assédio moral no trabalho advém

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das políticas de gestão, da cobrança exagerada para o atingimento de metas,

utilizando e-mails, mensagens por celular, comparações e sutilmente exigindo que se

trabalhe além do horário, pois quem não o faz é considerado preguiçoso. Por outro

lado, o dirigente sindical reconhece que há casos de assediadores contumazes,

pessoas sem escrúpulos que fazem qualquer coisa para alcançar os objetivos, mas

entendem também, que muitas vezes o assediador não percebe seus atos por estar

sendo vítima de um mesmo sistema, pautado em relações assediadoras.

Os posicionamentos dos representantes sindicais em relação ao assédio moral

no trabalho estão coerentes com o apresentado pela literatura, embora se percebam

algumas considerações pouco abrangentes ou reducionistas. O fato dos dirigentes

dos sindicatos terem conhecimento sobre o assunto, revela que o assédio moral no

trabalho já é um tema discutido e tratado pelas entidades sindicais, em maior ou menor

grau, e de acordo com as particularidades de cada categoria representada.

4.2 PERSPECTIVAS SOBRE O ASSÉDIO MORAL COLETIVO

Além do entendimento dos sindicatos em relação ao assédio moral individual,

também foi questionado suas opiniões sobre o assunto, no que se refere à forma

coletiva ou organizacional. Os dados coletados sobre a percepção dos sindicatos a

respeito do assédio moral coletivo foram organizados no quadro a seguir e serão

discutidos em seguida.

Quadro 3 - Perspectivas sobre o assédio moral coletivo

Sindicatos Descrição

S1 “é um mal social”

S2 “determinada empresa, tem muitos horistas” “como são quatro horas, não tem direito a nada, só estar ali, trabalhar e calar a boca”

S3 “escravatura branca” “a forma como os empregadores intimidam os empregados”

S4

“você é servidor público, você está investido naquela função e você precisa atuar mas o cara não te dá condição” “são vários problemas de gestão que acabam fortalecendo uma cultura assediadora”

S5 “é principalmente com relação a estipulação das metas”

S6 “a denominação é igual ao o individual, pra mim só vai abranger, atingir mais pessoas, mas ele vai prejudicar da mesma forma que prejudica um profissional”

S7 “é quando você faz danos morais ao outro”

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S8

“ele vem de uma forma brutal, via plano de cargos e salários que não sai, via reestruturações que você faz dentro do setor e que atinge blocos inteiros, segmentos da categoria que é obrigada a se mudar dali, ir pra outro estado, ou ir pra outro local, ou se sujeitar em condições muito diferentes do que aquilo ali e via acordo coletivo”

S9

“por falta de estrutura adequada, era desviado de sua função” “presença de pessoas estranha ao quadro de pessoal, com a conivência dos nossos chefes, dentro das unidades de trabalho” “falta de estrutura, pressão por efetivo insuficiente e punições inadequadas”

S10 “os patrões ou pessoas no cargo de chefia que, por exemplo, alguns trabalhadores são obrigados a fazerem entregas apressados sem poder usar o banheiro”

Fonte: Dados da pesquisa

Numa análise geral, observa-se que nenhum representante de sindicato soube

conceituar o assédio moral coletivo, alguns apresentam uma caracterização através

de exemplos, enquanto outros não apresentaram familiaridade com o assunto e

expuseram em suas percepções uma visão semelhante ao do assédio moral

individual. Se referindo apenas a questão quantitativa para diferenciar os conceitos.

Isso pode apontar para o distanciamento do conhecimento produzido nas academias

com a realidade sindical cotidiana.

Observa-se esse pensamento por parte dos representantes dos sindicatos 1, 6

e 7 (S1, S6 e S7, respectivamente), que colocam que o assédio moral coletivo é igual

ao individual, atingindo, porém, um número maior de pessoas. O representante do S6

entende que abrange mais pessoas, mas que é tão prejudicial quanto na forma

individual, quando atinge uma determinada pessoa. Os representantes dos sindicatos

1 e 7 colocam o assédio moral coletivo de forma muito vaga, como “um mal social” ou

quando se provoca “danos morais ao outro”, demonstrando um certo

desconhecimento do assunto, que pode ser derivado da pouca intimidade com essa

forma de assédio.

Uma particularidade trazida pelos representantes desses sindicatos é que

nenhum deles relatou ter recebido casos de assédio moral no trabalho. Dessa forma,

pode-se imaginar que as formas coletivas de assédio, advindas da organização do

trabalho, não afetam essas categorias, ou que a categoria e seus representantes

sindicais não atentaram ainda para essas sutis formas de assédio moral.

O dirigente do sindicato 3 (S3) relaciona o assédio moral coletivo ao que ele

denomina “escravatura branca” fazendo alusão à exploração da mão de obra e a

submissão ao trabalho abusivo, que se dá na forma de como os empregadores tratam

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seus empregados, bem como no estabelecimento de metas excessivas, com a

finalidade de lucros maiores.

As metas abusivas também são consideradas como assédio moral coletivo pelo

representante do sindicato 5 (S5), pois provocam a necessidade de um ritmo intenso

de trabalho, e as cobranças excessivas e contínuas acabam por resultar em uma

política organizacional assediadora, pela via da alta produtividade imposta.

O assédio moral coletivo decorrente do estabelecimento de metas é bastante

discutido pela literatura, que entende essas exigências como uma característica da

gestão do processo produtivo e, portanto, prerrogativa do empregador. E justamente

por entender o estabelecimento de metas como derivado do modelo de organização

do trabalho, os sindicatos sentem-se pouco implicados nesse âmbito de negociação

(COTANDA, 2008).

A respeito disso, o dirigente do S5 coloca que “muitas vezes, como são

questões que afetam o processo produtivo propriamente dito, a gente já sabe que é

perda de tempo né, a empresa vai dizer: é o sindicato que determina a minha forma

de produção? ”, demonstrando a dificuldade de atuação e negociação sobre esses

aspectos. Além disso, esse comentário reflete o pensamento do patronato no que se

refere a intromissão dos sindicatos laborais nas discussões sobre a organização do

trabalho.

Um outro ponto de vista sobre o assédio moral coletivo é apresentado pelo

dirigente do sindicato 2 (S2), que aborda a questão da precarização dos vínculos

trabalhistas como uma forma ultrajante de assediar trabalhadores. O dirigente do S2

relata o caso dos horistas, que são contratados apenas para “tirar horário de almoço”

de outros colegas. Nesse caso, os “horistas” estão expostos às mesmas exigências e

condições dos colegas, mas sem a mesma garantia de direitos trabalhistas. Além da

perda de direitos, esses trabalhadores ainda sofrem humilhações de seus

empregadores, quando buscam esclarecimentos ou tentam melhores condições de

trabalho.

Além disso, pela característica do trabalho, que se faz principalmente pela

atividade terceirizada, os trabalhadores estão sujeitos às condições das empresas em

que prestam serviço. O dirigente do S2 coloca que em algumas empresas, os

trabalhadores terceirizados não podem utilizar áreas comuns, como a copa, o local

para repouso, entre outros. Assim, o entendimento de assédio moral coletivo, para o

representante do S2, se caracteriza pela precarização do trabalho, pela terceirização,

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e pela fragilidade de alguns tipos de vínculos trabalhistas.

A perspectiva apresentada por esse dirigente sindical corrobora com o

posicionamento de Muçouçah (2014), que coloca a terceirização como uma forma de

assédio moral coletivo, pois nessa relação os contratos de trabalho são mais

vulneráveis, alguns direitos são descartados e principalmente, porque o maior objetivo

é a redução de custos trabalhistas para o aumento da competitividade e lucratividade

organizacional. O autor acrescenta que os empregados terceirizados não podem

receber ordens da empresa na qual estão prestando o serviço, podendo ser

considerado vínculo empregatício, e dessa maneira, reforça a invisibilidade dos

trabalhadores terceirizados, pois em muitos casos, não se deve nem falar com eles.

Nos dois sindicatos que representam servidores públicos (S4 e S9), seus

representantes entendem o assédio moral coletivo de forma semelhante, como

consequência da precarização das condições de trabalho e das formas de gestão.

Instalações físicas inadequadas ao trabalho, equipamentos obsoletos, defeituosos ou

a falta de equipamentos, e as práticas de gestão, que utiliza ameaças de transferência,

abuso de poder e autoritarismo, são os exemplos citados por esses sindicatos como

forma de assédio moral coletivo e estão arraigados na cultura organizacional do

serviço público brasileiro.

De acordo com esses representantes sindicais, essa cultura organizacional

está tão naturalizada no cotidiano que se torna difícil de percebê-la como assediadora.

São condições consideradas típicas de instituições públicas e dessa maneira, julgadas

como inerentes ao trabalho. As organizações públicas, muitas vezes se comportam,

na analogia de Morgan (1996), como sistemas políticos, onde predomina a busca pelo

poder, seja por meio do controle de recursos, informações ou pelo processo decisório.

No mesmo sentido, Tolfo, Silva e Krawalski (2015) salientam que nas

instituições públicas, por questões políticas, hierárquicas e culturais, as relações de

trabalho são ambíguas, instáveis e propensas a desigualdades e conflitos. Estas

questões são consideradas pelos dirigentes dos sindicatos 4 e 9 quando eles colocam

que “não temos gestão profissional”, ou quando observam os desvios de função e os

cargos comissionados, ou ainda, pela aplicação de punições indevidas ou

injustificadas pelos gestores.

Numa perspectiva um pouco diferente das demais, o representante do sindicato

8 (S8) coloca como assédio moral coletivo, as reestruturações promovidas dentro do

setor e que atingem segmentos inteiros, os remanejamentos de setores e até de

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cidades, e os acordos coletivos de trabalho firmados pelos empregadores com a

anuência dos sindicatos. De acordo com o representante do S8, um exemplo claro do

assédio moral sofrido pela categoria foi a obrigação de trocar o plano de aposentadoria

para poder ser beneficiado pelo plano de cargos e salários.

O dirigente do S8 relata que desde 2006, o setor vem promovendo mudanças

nos planos de cargos e salários e de aposentadoria. Essas mudanças condicionam

um ganho à uma perda. Para o trabalhador ter direito ao plano de cargos e salários,

ele precisa mudar do plano de aposentadoria que fazia parte de seu contrato de

trabalho para outro plano, mais inseguro e instável. Esse acordo teve participação do

movimento sindical majoritário, que segundo o representante sindical, não teve senso

crítico e foi incapaz de se opor ao governo.

Após 2006, muitos outros planos foram sendo implementados, para as diversas

categorias existentes dentro do setor. Na maioria das vezes, os planos apresentavam

melhorias significativas, mas também haviam perdas de direitos anteriormente

conquistados, além de gerar maior dependência às comissões e outros bônus

variáveis. Dessa forma, as instituições diminuíram custos fixos e aumentaram sua

lucratividade, enquanto os trabalhadores foram obrigados a se sujeitar às condições

impostas.

Nesse sentido, Maciel et al. (2007) destaca que o impacto da estrutura

organizacional e do desequilíbrio de poder nas relações de trabalho, resulta em

situações propicias para o assédio moral coletivo.

O representante do sindicato 10 (S10) faz referência ao assédio moral coletivo,

colocando que na sua categoria ele se apresenta através de cobranças para o

cumprimento dos prazos, culminando no controle de uso do banheiro, para que não

haja atrasos. Entende, assim, que o assédio moral se manifesta na medida que os

interesses organizacionais se sobrepõem as necessidades básicas dos

trabalhadores.

O poder diretivo do empregador lhe dá direito de definir como organizar,

regulamentar, fiscalizar e disciplinar o modo de produção. A definição desse “modo de

fazer” dá origem a cultura organizacional e as políticas de gestão, e em alguns casos,

podem ser consideradas abusivas e acarretar em assédio moral coletivo, na medida

que ferem direitos trabalhistas e direitos humanos (MUÇOUÇAH, 2014).

O entendimento que os dirigentes dos sindicatos têm sobre o assédio moral

coletivo condiz com a realidade por eles vivenciada e se aproxima mais ou menos do

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indicado pela literatura. Embora o assédio moral coletivo pareça ser mais óbvio, mais

facilmente identificado, é justamente o contrário que se estabelece, pois ele está

disfarçado e institucionalizado como política organizacional e legitimado pelos

trabalhadores como algo natural e inerente ao trabalho.

4.3 O PAPEL DOS SINDICATOS EM RELAÇÃO AO ASSÉDIO MORAL NO

TRABALHO

Como entidades que representam categorias profissionais, os sindicatos

cumprem um papel importante e fundamental na defesa de interesses e direitos

trabalhistas e na luta por melhores condições de trabalho para os trabalhadores. Os

sindicatos devem promover uma formação social e política para seus dirigentes e toda

categoria, para que juntos possam atuar em favor de ambientes de trabalho salutares

e livres de qualquer tipo de degradação à saúde.

Assim, buscou-se identificar como os representantes sindicais percebem a

função do sindicato frente ao assédio moral no trabalho. O resultado foi organizado

no quadro abaixo e será discutido em seguida.

Quadro 4 - Papel dos sindicatos em relação ao assédio moral no trabalho

Sindicatos Descrição

S1 “isso é uma exceção de regra”

S2 “o sindicato é totalmente contra” “quando chega ao nosso conhecimento a gente procura logo a empresa. É inadmissível”

S3 “primeiro, o combate”

S4 “combater e só combatendo é que a gente vai conseguir evitar que no futuro aconteça novamente”

S5 “da defesa e da prevenção”

S6

“é uma das funções precípuas do sindicato. A gente precisa zelar pela legalidade da profissão, pelo respeito as normas trabalhistas, mas precisa zelar também pelas condições de trabalho e isso incide diretamente na condição de trabalho”

S7 “é uma pessoa que atingiu ela não é a empresa. Ele, aquele ofendido, tem que ir numa delegacia prestar uma queixa de que ele ofendeu. Uma pessoa física contra outra”

S8

“nós temos que coibir, nós temos que acompanhar, dar as condições pra os colegas para que eles se sintam amparados” “o sindicato tem esse papel de denunciar, de prover o ministério público de informações, de coibir, de combater, de fazer zoada, vamos dizer assim”

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S9 “o sindicato foi responsável em fomentar essa ideia, a categoria comprou essa ideia e fomos pra luta. Passou a ser pauta de reivindicação”

S10 “é dever do sindicato lutar contra o assédio”

Fonte: Dados da pesquisa

De um modo geral, observa-se que o combate aparece como uma das

principais funções dos sindicatos em relação ao assédio moral no trabalho. Os

dirigentes sindicais entendem que devem lutar contra qualquer tipo de degradação do

trabalho, para que o bem-estar e a saúde dos trabalhadores sejam preservados.

No entanto, para alguns representantes dos sindicatos, o assédio moral no

trabalho é uma realidade distante da categoria representada e, portanto, se referem

ao papel do sindicato com relação ao assunto de forma vaga ou se esquivando dessa

responsabilidade. Por exemplo, o representante do sindicato 7 (S7) entende que o

assédio moral ocorre na relação entre duas pessoas, de forma desvinculada do

contexto organizacional, e que assim, o trabalhador, vítima de assédio moral, deve

procurar a polícia e denunciar o agressor, independentemente de a situação ser

decorrente de circunstâncias laborais. Para o dirigente do S7, os trabalhadores estão

mais interessados nas possíveis indenizações, em obter um retorno financeiro,

demonstrando descrédito ao adoecimento real dos trabalhadores e isentando as

empresas de qualquer responsabilidade. Não quer dizer que o sindicato deve se

abster nesses casos, mas não percebe a relação do assédio com a atividade laboral,

relacionando-o a questões individuais, em que o sindicato não precisa atuar.

O dirigente do sindicato 1 (S1) entende que o assédio moral no trabalho é uma

exceção, que raramente acontece, e a regra é seguir a ética e “trabalhar com

prudência de atitudes”. Reconhece que o sindicato deve defender o trabalho digno,

ético, mas por não haver casos na categoria, acredita que não é assunto pertinente

ou relevante para o cotidiano sindical.

Embora também não tenha relato de casos de assédio moral no trabalho, o

representante do sindicato 6 (S6) compreende que esse tipo de violência está

relacionado as condições de trabalho, que precisam ser zeladas para a garantia de

um ambiente de trabalho saudável. De acordo com o dirigente sindical do S6 o debate

sobre assédio moral no trabalho ainda é muito incipiente no Rio Grande do Norte e

acrescenta que somado a isso, aqui no Estado não há uma cultura de denúncia. Do

ponto de vista deste dirigente sindical, a questão preponderante para a ausência de

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casos de assédio na categoria é a existência de muitos profissionais no mercado e

poucas oportunidades de emprego, então por medo de perder seus empregos, os

trabalhadores não costumam denunciar. Apesar desse contexto, o representante do

S6 acredita que é papel de qualquer sindicato zelar por condições de trabalho dignas

e salutares.

O dirigente do sindicato 3 (S3) coloca o combate como a característica principal

da atuação da entidade frente ao assédio moral. Relata que costumam procurar o

sindicato patronal para a solução de conflitos decorrentes do assédio moral, partindo

do princípio que essas situações não correspondem aos valores e política da

empresa, mas de certos indivíduos que podem inclusive “manchar” o nome da

empresa. De qualquer forma, acredita que é uma prática que deve ser combatida

pelos sindicatos, principalmente nos casos em que fica claro que é o posicionamento

estratégico da empresa, como no caso de pressionar o trabalhador para pedir

demissão e evitar os custos com os encargos demissionais.

Para os representantes dos sindicatos 5 e 10 (S5 e S10, respectivamente), é

dever das entidades sindicais lutar contra o assédio moral no trabalho. Sendo que o

representante do S5 acrescenta que os sindicatos não devem apenas combater o

assédio, mas também prevenir sua ocorrência. Infelizmente, prevenir não é tarefa

fácil, pois como coloca Magalhães Filho e França (2015), é a partir das denúncias de

assédio moral que se pode definir um plano de intervenção, para posteriormente atuar

de forma preventiva, mas baseada em situações reais.

Além de denúncias, os sindicatos podem pautar suas ações a partir de dados

sobre a saúde de seus trabalhadores. O dirigente do sindicato 4 (S4) por exemplo,

começou a atentar para o assédio moral por causa dos altos índices de afastamento

do trabalho por adoecimento e pelo número de suicídios que vinham acontecendo na

categoria. De acordo com o representante do S4, 35% dos afastamentos estão

relacionados a problemas psíquicos e a cada três meses se efetiva um suicídio. Diante

desses números, o sindicato começou a investigar as possíveis causas desses

afastamentos e suicídios e iniciou uma campanha para combater o assédio moral no

trabalho. Assim, o dirigente do S4 entende que o papel do sindicato é combater

qualquer forma de assédio para preservar a saúde ocupacional dos trabalhadores,

principalmente a saúde mental.

De maneira semelhante, o representante do sindicato 9 (S9) partiu da realidade

vivenciada pela categoria, com números significativos de afastamentos e suicídios,

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para perceber a necessidade de atuar na proteção da saúde dos trabalhadores. Os

casos de doença e afastamento estavam relacionados as más condições de trabalho

e ao assédio moral no trabalho, precipitando assim, a necessidade de criar

campanhas de esclarecimento, demonstrando para a categoria que certas situações

laborais eram insalubres e deveriam ser combatidas. O dirigente do S9 entende que

o assédio moral deve ser combatido pelos sindicatos através da sensibilização e

orientação dos profissionais para que as condutas abusivas sejam denunciadas e

erradicadas, e também por meio de reivindicações de melhores, e mais justas,

condições de trabalho.

Para o representante do sindicato 3 (S3) o assédio moral no trabalho é

inaceitável e logo que toma conhecimento de algum caso, age imediatamente,

procurando maiores informações e entrando em contato com a empresa para

estabelecer um diálogo e tentar uma solução amistosa. Além disso, orienta os

trabalhadores a procurar uma maneira de obter provas do assédio moral sofrido, tanto

para se assegurar em caso de questionamento por parte da empresa, quanto para

provar perante a justiça, se for o caso. O dirigente do S3 salienta que é importante

investigar o que de fato está acontecendo, lembrando que nem toda queixa é

realmente um assédio moral, uma vez que “a gente sabe que tem trabalhador que é

trabalhoso, então tudo isso a gente observa”. Em questões de assédio coletivo, busca

através de acordos coletivos, negociar melhores condições de trabalho e que os

direitos trabalhistas sejam garantidos para toda a categoria de forma igualitária. Assim,

esse representante sindical, da mesma maneira que os outros, acredita que é dever

dos sindicatos combater o assédio moral, na medida que afeta a saúde dos

trabalhadores.

Por ser tão corriqueiro e generalizado na categoria profissional representada

pelo dirigente do sindicato 8 (S8), o assédio moral no trabalho já é ponto de pauta

permanente. Para esse representante, a função do sindicato frente ao assédio moral

é a de combater e coibir essa prática perversa, através de denúncias e

acompanhamento dos casos. Relata receber mais casos de assédio moral no trabalho

do que de outras doenças ocupacionais típicas da categoria como LER e DORT e por

isso o tema tem enfatizado as discussões e ações de combate a esse tipo de violência

laboral. O sindicato conta com um jornal semanal no qual faz denúncias, que são lidas

pelos procuradores do ministério do trabalho e que já serviu de base para abertura de

processos sobre assédio moral. O sindicato atua de forma enérgica na defesa dos

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interesses da categoria e com isso conquistou a confiança dos trabalhadores, de

forma que eles se sentem amparados e representados.

Diante do exposto, é possível observar um reconhecimento por parte das

entidades sindicais de suas funções precípuas, que devem incluir as questões

relacionadas ao processo de trabalho (organização e gestão do trabalho) em suas

pautas de discussões e negociações. Mesmo aqueles que não relatam casos de

assédio moral, percebem que esses aspectos da atividade laboral merecem a atenção

dos sindicatos. Com exceção do sindicato 7 que entende a situação de assédio como

um conflito interpessoal que deve ser resolvido entre as partes e nada tem a ver com

a atividade laboral e portanto não considera que o sindicato deve se envolver.

Como Cotanda (2008, p. 632) coloca, o envolvimento dos sindicatos no

combate ao assédio moral no trabalho, “supõe a afirmação do processo de trabalho

como um campo de conflito sobre o qual a entidade sindical deve atuar”. Dessa forma,

compreender que o assédio moral é resultado das desigualdades existentes nas

relações de trabalho, exige dos sindicatos uma postura política ativa, orientadora e

mediadora.

Amazarray, Câmara e Carlotto (2014), afirmam que os sindicatos que são

instruídos e atuantes quanto aos processos de sofrimento e adoecimento dos

trabalhadores, costumam ter mais informações e empoderam a categoria com

esclarecimentos acerca de como identificar o assédio moral e onde buscar ajuda.

Quanto maior o conhecimento sobre o assunto, mais as entidades sindicais

poderão fazer cumprir seu papel de proteger a saúde mental de seus trabalhadores e

defender os interesses da categoria representada de obter um ambiente de trabalho

saudável e decente.

Por fim, vale lembrar que até mesmo os dirigentes sindicais podem ser vítimas

de assédio moral, pelo fato se serem sindicalistas. Há relatos de perseguições e

atitudes antissindicais., tendo em vista o papel que os representantes sindicais

exercem junto à categoria e que muitas vezes desagrada aos empregadores.

4.4 A ATUAÇÃO DOS SINDICATOS EM RELAÇÃO AO ASSÉDIO MORAL NO

TRABALHO

Além de conhecer as perspectivas que os sindicatos têm sobre o assédio moral

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no trabalho, também foi pesquisado qual a conduta adotada diante dos casos por eles

atendidos. Ou seja, questionou-se quais as ações praticadas pelos sindicatos diante

do conhecimento de possíveis situações de assédio moral. As informações coletadas

foram compiladas no quadro abaixo.

Quadro 5. Implicações práticas

Sindicatos Descrição

S1 Não recebem queixas

S2 Conversa com as empresas. Encaminha para Ministério Público. Discute o assunto em assembleias.

S3 Entra em contato com núcleo pró-dignidade do Ministério do Trabalho. Pontualmente, em discussões ou jornal do sindicato.

S4 Resolvem na justiça

S5 Palestras. Ministério Público

S6 Comissão de ética e assessoria jurídica

S7 Palestras

S8 Denuncia no jornal do sindicato que é enviado semanalmente ao Ministério Público. Atos públicos. Seminários. Ponto de pauta constante.

S9 Cartazes em todas unidades de trabalho. Outdoors. Camisas. Adesivos. Boca a boca com a categoria.

S10 Forma comissão para visitar a empresa e se necessário, encaminha para o Ministério Público.

Fonte: Dados da pesquisa

Com a identificação das implicações práticas das entidades sindicais, é

possível perceber que diversas ações em prol do combate do assédio moral no

trabalho são realizadas. Na maioria dos casos, o Ministério Público do Trabalho tem

sido parceiro dos sindicatos, apoiando a atuação sindical no acompanhamento dos

casos e promovendo o debate para que medidas de prevenção e combate sejam

consumadas.

Conforme relatado pelo seu representante, o sindicato 1 não recebe queixas

de assédio moral no trabalho e considera esse tipo de violência inexistente dentro da

categoria, ou quando existe, é de forma individual e diz respeito a personalidade do

algoz e da vítima, não podendo ser alterada. Consequentemente, não realiza qualquer

ação preventiva ou corretiva em relação ao assédio moral.

O representante do sindicato 6 também alega não receber queixas de assédio

moral, mas disponibiliza um comitê de ética para analisar os casos e determinar quais

os encaminhamentos necessários de acordo com cada situação. Se for necessário,

será demandado ao setor jurídico para as providências cabíveis. É importante frisar

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que o sindicato tem uma postura acolhedora e reconhece a existência de práticas

abusivas, mas considera a questão da falta de emprego como fator determinante para

ausência de denúncias.

Soboll, Freitas e Zanin (2015) sinalizam a importância do acolhimento individual

por parte das organizações sindicais, mas destacam que é fundamental desenvolver

uma percepção mais ampliada, empreendendo uma análise do contexto de trabalho

da categoria e possibilitando o debate sobre o impacto das formas de organização e

gestão do trabalho na saúde dos trabalhadores.

De acordo com o representante do sindicato 7, os casos de assédio na

categoria são pontuais e geralmente com interesse pecuniário, ainda assim, palestras

são realizadas no ambiente de trabalho, para esclarecimentos quanto aos direitos dos

trabalhadores e sensibilização para os aspectos relacionados a saúde e a segurança

no trabalho. Não discute o assédio moral no trabalho especificamente, mas instrui os

trabalhadores para que seus direitos sejam conhecidos e preservados. A parca

implicação por parte da entidade sindical corrobora com sua postura frente ao assédio

moral, uma vez que considera o assédio como resultado de uma situação conflitante

entre duas pessoas, descontextualizada da situação laboral.

Segundo Fabro e Maehler (2015), as entidades sindicais devem atuar

principalmente na prevenção de práticas abusivas, partindo do princípio que o assédio

deve ser entendido como um risco à saúde ocupacional dos trabalhadores. Porém o

que se observa nas entidades sindicais acima destacadas, são atitudes refratárias, na

tentativa de reparação dos danos e/ou da superação do conflito.

O sindicato 5 (S5), de acordo com seu representante, recebe mais denúncias

de assédio moral coletivo, principalmente referentes ao estabelecimento de metas

inatingíveis, e sua conduta é encaminhar ao Ministério Público para averiguação

através de seus fiscais do trabalho. Em termos preventivos, o sindicato realiza

inúmeras palestras em parceria com o próprio Ministério Público, com o Centro de

Referência em Saúde do Trabalhador e com outras organizações, buscando

esclarecer os trabalhadores sobre o assédio moral no trabalho. Os dirigentes sindicais

também participam de capacitações com objetivo de melhor se prepararem para a

atuação nas negociações demandadas. O representante deste sindicato relatou

ainda, que muitas empresas foram multadas em valores significativos, que acabaram

por inibir parcialmente o exagero na estipulação das metas.

A capacitação dos representantes sindicais prepara-os para um

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acompanhamento mais qualificado dos casos, desde o acolhimento das vítimas até a

mediação com a empresa e/ou sindicato patronal (FABRO; MAEHLER, 2015). Além

disso, destaca a importância de discutir os aspectos contemporâneos de adoecimento

dos trabalhadores diante dos novos contextos de trabalho.

O representante do sindicato 3 expõe que a entidade sindical, ao receber um

caso de assédio moral no trabalho costuma fazer contato com o núcleo Pró-Dignidade

para orientação e encaminhamentos. Além disso, os diretores participam de debates

no Ministério do Trabalho e no Fórum Permanente sobre o assédio moral no trabalho

que a Federação dispõe. Em relação a categoria, promove debates pontuais sobre o

assunto e transmite informações elucidativas através do jornal do sindicato.

De acordo com Soboll e Glina (2012), as intervenções devem ser direcionadas

aos trabalhadores para que eles possam se instrumentalizar e enfrentar a situação

assediadora, e às organizações, na expectativa de modificação dos aspectos

estruturais e situacionais provocadores de assédio moral no trabalho.

Percebe-se que as reações dos sindicatos acima, frente ao assédio moral, têm

se caracterizado por intervenções em nível individual, prestando auxilio ao

trabalhador, mas não intervindo em nível organizacional, nas relações de trabalho e

no modo de organização do trabalho. Como coloca Soboll (2008), em situações de

assédio moral no trabalho, as entidades sindicais enfatizam o agressor ao invés de

direcionar suas ações nos processos organizacionais que deflagram as condutas

abusivas.

No sindicato 4, segundo um dos seus representantes, a conduta tem sido

procurar a justiça, pois já houve muito desgaste em negociações com os gestores

resultando na inviabilidade do debate nesse âmbito. Por ser um sindicato do setor

público, não possui prerrogativa de negociação coletiva, dependendo da criação de

leis para a proteção e ampliação de direitos laborais. Assim, a atuação do sindicato

tem sido no sentido de pleitear uma legislação que privilegie melhores condições de

trabalho afim de evitar o adoecimento da categoria. Paralelamente, diante dos

inúmeros casos de adoecimento e suicídios, o sindicato disponibilizou um médico

psiquiatra e um psicólogo para acolhimento e acompanhamento da saúde mental dos

servidores.

O sindicato 9 também pertence ao setor público e vivencia as mesmas

limitações de suas prerrogativas quanto às negociações. No entanto, esse sindicato

conquistou recentemente, através de muita luta, a aprovação de um estatuto

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atualizado, moderno e condizente com a realidade de trabalho vivenciada pela

categoria. A luta segue no sentido de fazer cumprir o estatuto em toda sua

integralidade. De acordo com o representante do sindicato, uma grande campanha

está em andamento para o combate do assédio moral no trabalho. Confeccionaram e

afixaram cartazes em todas as unidades de trabalho, explicando o que é assédio e

incentivando as denúncias através do contato informado no cartaz. Além disso, foram

colocados outdoors em diversos pontos da cidade, expondo para a sociedade as

necessidades da categoria e ainda distribuídos adesivos com o telefone para

denúncias e camisas personalizadas para os servidores. A campanha de combate ao

assédio moral continua através do contato dos sindicalistas com a categoria através

de visitas as unidades de trabalho ou em conversas informais, no corpo a corpo com

os servidores.

No sindicato 2, a conduta praticada nos casos de assédio moral individual é de

acolhimento e orientação. Quando algum trabalhador procura o sindicato, ele é ouvido

e orientado a produzir provas da violência sofrida. Diante das provas, o sindicato entra

em contato com a empresa e solicita uma reunião para tentar solucionar o problema

de forma consensual. Quando não há acordo, o sindicato encaminha o caso para o

Ministério Público. Quanto ao assédio moral coletivo, neste caso, a situação dos

trabalhadores horistas, o sindicato tem batalhado para que os contratos de trabalho

sejam modificados, garantindo os mesmos direitos dos demais trabalhadores. O

sindicato realiza muitos eventos comemorativos e palestras educativas, e nestes

momentos costuma falar sobre o assédio moral no trabalho, instruindo os

trabalhadores na identificação dessa prática e na maneira de agir.

Nesse sentido, Fabro e Maehler (2015) salientam que as entidades sindicais

devem oferecer apoio e suporte, ensinando os trabalhadores maneiras de enfrentar o

assédio, de encontrar e organizar as provas do assédio e de se proteger, de modo

que possam estabelecer estratégias que provoquem mudanças nas condições que

estimulam a prática do assédio. Sugerem que essa intervenção seja ampliada para

toda equipe, incluindo os gestores.

No sindicato 8, as ações referentes ao combate do assédio moral no trabalho

fazem parte da rotina. O sindicato recebe os trabalhadores, escuta, ampara, orienta e

dá os encaminhamentos necessários. Entra em contato com as instituições, denuncia

ao Ministério Público e acompanha os casos de forma efetiva, participando de

audiências e dando todo o suporte necessário para o trabalhador. Faz campanhas

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ostensivas, através da mídia sindical, dispositivos do Ministério do Trabalho e das

mídias sociais. Expõe situações de assédio em outdoors, contrata carro de som e vai

até a empresa protestar. Além disso, promove seminários, com a participação de

renomados estudiosos do assunto. Segundo o representante do sindicato, costuma-

se “fazer zoada”, revelando a postura ativa, enérgica e pouco discreta que praticam

em prol de suas reivindicações.

Observa-se que maioria das entidades sindicais pesquisadas estão

conscientes dos problemas que o assédio moral no trabalho inflige à saúde de seus

trabalhadores e realizam ações voltadas para o combate e a prevenção de situações

assediadoras. Os sindicatos, tímida mas gradativamente, estão suplantando as

questões de remuneração e estabilidade e se preocupando com aspectos

relacionados a saúde mental dos trabalhadores. Neste aspecto, Magalhães Filho e

França (2015) destacam que os sindicatos não devem apenas amparar as vítimas,

mas principalmente agir para a modificação dos contextos em que o assédio ocorre.

Por outro lado, considerando o assédio moral como resultado de um modelo de

organização da produção, ou de uma política de gestão, ou seja, como algo

culturalmente estabelecido, torna-se visível a inabilidade das entidades sindicais em

agir no sentido de modificar o contexto assediador. Somente com a participação de

toda categoria, esclarecida e politizada, se poderá conquistar um ambiente de trabalho

salutar e livre de qualquer tipo de violência moral (LARA, 2011).

Na verdade, somente em uma sociedade em que não haja desigualdade social,

onde todos tenham oportunidade de um trabalho digno e saudável e com um sistema

sócio-político-econômico justo para todos, é que se pode pensar em trabalho decente.

Enquanto isso, as entidades sindicais e os trabalhadores seguem na luta para que os

efeitos deletérios do labor degradante sejam minimizados.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de tantas circunstâncias que afetam a atividade laboral, buscou-se neste

estudo, analisar o fenômeno do assédio moral no trabalho, na perspectiva das

entidades sindicais, buscando conhecer a percepção dos sindicatos e suas ações

frente a esse tipo de violência psicológica.

Os objetivos da pesquisa foram identificar o entendimento dos representantes

de sindicatos de trabalhadores e patronais, sobre o assédio moral individual e coletivo

e conhecer as implicações práticas das entidades sindicais voltadas para a prevenção

e/ou combate de situações assediadoras. Nesse sentido, os objetivos foram

alcançados, visto que as entrevistas possibilitaram conhecer as perspectivas dos

dirigentes sindicais sobre o tema.

Os resultados encontrados demonstram que os sindicatos têm algum nível de

conhecimento sobre o assédio moral, que vão desde conceitos do senso comum até

visões mais elaboradas e complexas do fenômeno. Em algumas categorias, o assédio

moral já é ponto de pauta, considerando as características práticas, históricas e

culturais da atividade laboral e da organização sindical. Em outras categorias a

discussão sobre assédio moral é inexistente ou muito incipiente.

Nesse sentido, vale refletir se o não reconhecimento do assédio moral no

trabalho, por parte de algumas entidades sindicais se dá pelo fato de que a categoria

realmente não sofre nenhum tipo de assédio moral, ou porque historicamente foram

condicionados a aceitar a submissão nas relações de trabalho e simplesmente não

percebem as condutas abusivas e perversas de seu cotidiano de trabalho. Ou ainda,

porque o medo de perder o emprego é maior que o sofrimento e silencia o trabalhador.

No que se refere ao assédio moral coletivo, os resultados sugerem que os

representantes sindicais apresentam perspectivas bem diversas. Alguns entendem

que a diferença é apenas quantitativa, ou seja, o assédio moral individual é dirigido a

uma pessoa e o coletivo a várias pessoas. Outros, embora não apresentem uma

definição formal do assédio moral coletivo, exemplificam com casos, que o assédio

moral coletivo está relacionado ao modo de organização da produção e o poder

diretivo do empregador. Em relação ao papel das entidades sindicais frente ao

assédio moral, os dirigentes sindicais estão conscientes de sua função de apoio,

orientação e combate. A maioria dos sindicatos percebem o assédio como uma

questão de saúde ocupacional, que deve ser atentada e discutida por seus dirigentes,

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uma vez que é sua função amparar e representar os trabalhadores nesse aspecto.

As ações desenvolvidas pelos sindicatos demonstram o grau de implicação

com as questões relacionadas ao assédio moral no trabalho. Os resultados apontam

que as práticas são proporcionais ao entendimento e interesse dos sindicatos pelo

assunto. Os sindicatos que detém mais informações e maior clareza sobre o assédio

moral no trabalho, que recebem queixas frequentemente e que discutem o assunto

com interesse, desenvolvem mais ações de prevenção e combate, tanto em termos

quantitativos como qualitativos.

As principais práticas identificadas foram a realização de palestras, o

acolhimento e orientação dos trabalhadores, e o encaminhamento dos casos ao

Ministério Público. Uma atividade importante, que algumas organizações sindicais

realizam, diz respeito ao diálogo com as empresas, na intenção de mediar os conflitos

buscando uma solução positiva e evitar maiores desgastes, decorrentes de processos

judiciais. Observa-se, ainda, em alguns sindicatos, a utilização da imprensa sindical e

das mídias sociais para a divulgação de informações, para sensibilização e

mobilização da categoria, e também para criar um canal de comunicação e denúncias.

Diante do exposto, considera-se que o presente estudo contribuiu para o

reconhecimento das entidades sindicais como um aliado do trabalhador no

enfrentamento do assédio moral no trabalho. As perspectivas sindicais colaboram

para ampliar o debate sobre assunto, na medida em que os sindicatos se constituem

atores importantes no contexto laboral e podem intervir com medidas que assegurem

a saúde ocupacional dos trabalhadores, por meio de suas prerrogativas legais.

Encontra-se na literatura, vasto material sobre o assédio moral no trabalho, mas

a maioria versa sobre suas características e seus malefícios. Pouco se fala sobre o

papel e/ou atuação do sindicato nesse assunto. Assim, o estudo também contribuiu

para aproximar a produção acadêmica da realidade vivenciada pelas organizações

sindicais.

A principal limitação enfrentada na realização deste estudo diz respeito a

participação de um maior número de entidades sindicais laborais, que por diversas

razões, não se disponibilizaram em participar do estudo e cujas opiniões

enriqueceriam os resultados.

Para estudos futuros, sugere-se uma pesquisa que preencha a lacuna deixada

por este, ou seja, que a percepção dos representantes de sindicatos patronais a

respeito do assédio moral no trabalho seja investigada. Outra possibilidade seria

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ampliar a pesquisa, inserindo a opinião de representantes das Federações e Centrais

Sindicais.

Uma outra sugestão é a de investigar os casos demandados aos sindicatos,

procurando identificar as características e o contexto em que o assédio ocorre e

fazendo relação com as particularidades da atividade profissional da categoria

representada, com vistas a propor um plano de ações personalizado e

intrinsecamente ligado às necessidades dos trabalhadores.

A pesquisa sobre o assédio moral no trabalho deve incluir tantas dimensões

possíveis. É necessário compreender a conjuntura política, econômica e social, as

particularidades de cada profissão, as condições de trabalho, os dispositivos de

suporte e de que forma ocorre a interação desses fatores na prática do assédio moral.

O conhecimento sobre o assédio moral no trabalho tem de ser ampliado e

aprofundado, para que as pessoas possam analisar criticamente seu contexto laboral,

sabendo diferenciar uma situação assediadora de um conflito interpessoal, evitando a

banalização do tema ou a sua supervalorização.

Hirigoyen (2006) coloca que em torno de quarenta por cento das vítimas de

assédio recorrem aos sindicatos para conseguir ajuda. No Brasil, em seu estudo

realizado em uma entidade sindical, Perez (2014) relata que a maior demanda do

sindicato são as questões relacionadas à violência psicológica. Da mesma forma,

Santos (2014) identificou que a maioria dos trabalhadores, vítimas de assédio,

procuraram o sindicato como principal alternativa de enfrentamento.

Dessa forma, os sindicatos, que despontam como os dispositivos mais

procurados pelas vítimas, exercem papel fundamental e, portanto, seus dirigentes

devem estar qualificados para o acolhimento e orientação dos trabalhadores, assim

como, preparados para agir com uma abordagem ampliada, incluindo as questões que

envolvem modos de produção e modelos de gestão.

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ANEXO 1

ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS SINDICATOS DE TRABALHADORES

Cargo no sindicato:

Escolaridade:

O que você entende por assédio moral no trabalho?

Quais as principais características de um assédio?

O que você entende por assédio moral coletivo ou organizacional?

Tem conhecimento de alguma prática de assédio moral individual ou organizacional?

O sindicato recebe queixas envolvendo assédio moral? Quais as queixas mais

comuns?

Em sua opinião, qual o papel dos sindicatos frente ao assédio moral?

Que orientações o sindicato dá aos trabalhadores em relação ao assédio moral?

Como o sindicato atua nos casos de assédio moral que toma conhecimento?

O que o sindicato faz para evitar a prática do assédio moral?

.

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ANEXO 2

ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS SINDICATOS PATRONAIS

Cargo:

Escolaridade:

O que você entende por assédio moral no trabalho?

Quais as principais características de um assédio?

O que você entende por assédio moral coletivo ou organizacional?

Tem conhecimento de alguma prática de assédio moral coletivo ou organizacional?

O sindicato recebe queixas envolvendo assédio moral? Quais as queixas mais

comuns?

Em sua opinião, qual o papel dos sindicatos frente ao assédio moral?

Que orientações o sindicato dá às empresas em relação ao assédio moral?

Em geral, o que as empresas fazem quando são processadas?

Como o sindicato atua nos casos de assédio moral que toma conhecimento?

O que o sindicato faz para evitar a prática do assédio?