da escola pÚblica paranaense 2009 - operação de … · •compreender os textos poéticos...

24
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

Upload: trinhthu

Post on 16-Dec-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAISPROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA NA ESCOLA

O PAPEL DA MULHER NAS CANTIGAS LÍRICAS MEDIEVAIS E SEU

REFLEXO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Isete Aparecida Ribeiro de Oliveira

MARINGÁ – PR2010

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAISPROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA NA ESCOLA

O PAPEL DA MULHER NAS CANTIGAS LÍRICAS MEDIEVAIS E SEU

REFLEXO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Isete Aparecida Ribeiro de Oliveira

Plano de Trabalho desenvolvido por meio do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, na área de Língua Portuguesa, com o tema de intervenção: A mulher medieval e a mulher atual: identidades e conflitos.

Orientadora Profª Drª Clarice Zamonaro Cortez

MARINGÁ – PR2010

Material Didático - Unidade Didática

A) DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Professora PDE: Isete Aparecida Ribeiro de Oliveira

Área PDE: Português

NRE: Maringá

Professora orientadora: Clarice Zamonaro Cortez

IES Vinculada: Universidade Estadual de Maringá – UEM

Escola de Implementação: Colégio Estadual Branca da Mota Fernandes

Público objeto da intervenção: Alunos do 1º ano do Ensino Médio

B) TEMA DE ESTUDO DO PROFESSOR PDE

A MULHER MEDIEVAL E A MULHER ATUAL: IDENTIDADES E CONFLITOS

C) TÍTULO

O PAPEL DA MULHER NAS CANTIGAS LÍRICAS MEDIEVAIS E SEU REFLEXO NA

SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

INTRODUÇÃO

Na atividade educacional muitos são os critérios usados no plano de trabalho docente, uma

síntese para explicar o que acontece durante este planejamento seria afirmar que o processo de

busca e seleção de textos para atingir o objetivo de ensinar o conteúdo, consome grande parte desta

atividade. O alinhavo entre teoria e prática se estabelece adequadamente quando o envolvimento e a

participação no processo permitem o entendimento das partes e do todo, é esta possibilidade que se

apresenta neste material didático pensado e elaborado durante o PDE 2009/2010.

Uma unidade didática é “um conjunto ordenado de atividades estruturadas e articuladas para

atingir um objetivo educativo em relação a um conteúdo” (Coll, 1996). Ao planejar uma Unidade

Didática o professor pode prever conteúdos que podem ser trabalhados com os alunos de duas

formas: Unidade simples ou uma Unidade organizada por projetos e optou – se pela primeira

maneira.

A unidade didática deve conter: definição clara dos conteúdos s serem sistematizados com

seus objetivos educativos (processo de crescimento pessoal que se pretende proporcionar ao aluno

através do ensino); sequência de atividades propostas que irão atingir os objetivos propostos e uma

avaliação constante da proposta de ensino e do processo de aprendizagem que ocorrem no

desenvolvimento da unidade.

Segundo Coll (1996), na elaboração de uma Unidade Didática é preciso considerar o

conhecimento prévio dos alunos a respeito do que vai ser proposto para construir situações de

ensino para desencadear no aluno um processo cognitivo e afetivo que envolva os conteúdos

escolhidos, provocando aprendizagens significativas. A partir desse conhecimento as demais etapas

serão desenvolvidas através de uma definição clara dos conteúdos que serão desenvolvidos bem

como os objetivos a serem alcançados, tendo em mente que um objetivo em educação deve visar o

processo de conhecimento pessoal pretendido para o aluno.

Ao desenvolver a unidade: “O papel da mulher nas cantigas líricas medievais e seu reflexo

na sociedade contemporânea “pretende – se refletir sobre a realidade que cerca o aluno, discutindo

temas polêmicos e pertinentes a sua realidade enquanto cidadão, cabendo ao educador apresentar

realidades registradas ao longo dos séculos pela literatura e que ainda hoje são discutidas na

sociedade através dos meios de comunicação, assim como pelos diversos gêneros literários

narrativos, poesia e texto dramático, enfatizando o texto poético que na maioria das vezes é

esquecido, pois o “ o trabalho com a literatura potencializa uma prática diferenciada com o

conteúdo estruturante da Língua Portuguesa e constitui forte influxo capaz de fazer aprimorar o

pensamento trazendo sabor ao saber” (Diretrizes Curriculares da Educação Básica da Estado do

Paraná, página 77). A presente Unidade Didática está estruturada em três etapas articuladas

instigando o aluno ao exercício da reflexão sobre como a mulher e representada na Literatura.

A primeira etapa é destinada à sondagem do conhecimento prévio que aluno apresenta sobre

o tema a ser trabalhado, ou seja, de acordo com Coll (1996), o estado inicial dos alunos é definido

pelos conhecimentos anteriores que possuem sobre os conteúdos envolvidos em cada proposta de

ensino. Conhecimentos que serão a base a partir da qual os alunos poderão fazer relações e construir

significados para aquilo que estão aprendendo.

A segunda etapa contempla o desenvolvimento dos conteúdos propostos, através de

atividades diversificadas visando à reflexão, discussão e trabalho sistemático com os conteúdos

propostos para a construção do conhecimento do aluno. Essa etapa é a fase de assimilação e

sistematização do objeto de estudo visando o máximo de compreensão por parte do aluno,

consolidando seus conhecimentos e habilidades.

A terceira etapa se destina aos resultados esperados com o desenvolvimento da unidade É o

momento em que o aluno tem a oportunidade de demonstrar na prática os conhecimentos que

construiu sua capacidade criadora, criativa e investigativa. Apesar de todo trabalho desenvolvido ser

avaliado de forma continua e coerente, destinamos essa etapa para a efetivação do conhecimento

através de práticas mais concretas, onde esse conhecimento será demonstrado para o próprio aluno,

para o professor e para comunidade escolar, enfim, a avaliação sobre Língua Portuguesa e

Literatura deve ser um processo de aprendizagem continua e de prioridade a qualidade ao

desempenho do aluno ao longo do ano letivo.

OBJETIVOS

Objetivo geral

Resgatar o prazer da leitura da poesia, especificamente das Cantigas Líricas Trovadorescas (de amor

e de amigo) e das composições contemporâneas, compreendendo suas especificidades

composicionais e, principalmente, a maneira crítica de abordagem do papel da mulher medieval e

seu reflexo no papel da mulher atual.

Objetivos Conceituais:

• Estudar a especificidade da linguagem poética em paralelo a outros tipos de textos (letras de

música) e conhecer a linguagem poética e os operadores do texto poético.

• Pesquisar sobre a lírica trovadoresca e seu contexto histórico-social, bem como a situação

social e familiar da mulher medieval.

• Compreender os textos poéticos (cantigas de amigo e letras atuais de música) que tratam da

mulher, estabelecendo um paralelo entre as épocas representadas.

Objetivos Procedimentais:

• Motivar os alunos a atribuírem a real importância do papel da mulher ao longo da história e

dos textos literários estudados, provocando discussões e reflexões no que se refere ao

passado e ao presente, buscando efetivar a contribuição feminina na construção de um

mundo humanizado.

• Configurar o desafio enfrentado pelo sexo feminino, historicamente, após a leitura comparada

das Cantigas Líricas Trovadorescas e das letras de músicas contemporâneas selecionadas, estabelecen-

do-se um debate de ideias entre os alunos participantes.

Objetivos Atitudinais:

• Debater o tema o papel da mulher na sociedade, desenvolvendo um posicionamento crítico e

formação de opinião;

• Apreciar e compreender os textos poéticos medievais e as letras de música contemporânea.

DESENVOLVIMENTO DA UNIDADE DIDÁTICA

1ª ETAPA: Levantamento de conhecimentos prévios

Objetivo: Sondagem dos conhecimentos sobre o tema a ser trabalhado.

Conteúdo: Marcas literárias na letra da música “Mulheres de Atenas”, de Chico Buarque

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas

Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas

Quando amadas, se perfumam

Se banham com leite, se arrumam

Suas melenas

Quando fustigadas não choram

Se ajoelham, pedem, imploram

Mais duras penas

Cadenas

(...)

Abordagem metodológica:

- Leitura da letra da música;

- Audição da música;

- Discussão e reflexão sobre a letra da música;

- Leitura crítica sobre a mulher retratada na letra da música;

- Pesquisas de músicas, clips, poemas com temática semelhante para a montagem de um painel, sob

o título: A mulher em perspectiva.

Baseando-se nestes aspectos, o professor de Literatura poderá se valer do conhecimento de

outras disciplinas e seus contextos histórico, social, ético, religioso, filosófico e artístico para

abordar, contextualizar e relacionar a temática da participação da mulher na sociedade, como ela

conquistou espaços, voz ativa e poder, na sociedade ao longo dos tempos. Na História, por exemplo,

o professor de literatura pode buscar subsídios para demonstrar marcas dos fatos e ações da

submissão feminina, marcante na era feudal, para uma Mulher atuante, participativa e decidida na

sociedade atual.

Nesta mesma perspectiva a disciplina de História fornece indicativos que permitem o

trabalho da relação da religião com o poder de dominação exercido pela igreja ao longo do tempo.

Isto é, a Igreja também contribuiu para a prevenção, o domínio dos homens em relação às mulheres,

na medida em que o seu poder invadia a privacidade, criando leis que regulamentavam as relações

íntimas entre os casais, proibindo o gozo sexual, do contrário a condenação era certa. Neste

contexto, é importante uma abordagem crítica e contextualizada com os referenciais da disciplina de

Ensino Religioso.

• Ao fazer isso o professor poderá apresentar possibilidades de discutir os dogmas e conceitos

religiosos presentes, hoje, em nossa sociedade: o posicionamento da Igreja às mudanças de

comportamento das pessoas.

• O professor ainda poderá trabalhar com os conceitos de música, o ritmo simples das canções

trovadorescas, e sua relação com as cantigas populares.

2ª ETAPA: Periodização da Literatura

Objetivo: Identificar as dificuldades para o entendimento, apreciação e execução de atividades

relativas ao conteúdo literário

Conteúdo: Cantigas líricas medievais

Título: Breve histórico sobre a Idade Média

Texto para leitura e discussão:

“Idade das Trevas” foi o nome dado pelos humanistas no século XVI, ao período

compreendido entre Constantino e Carlos Magno, época conhecida como decadente e plena de

flagelos na Europa Ocidental. A ideia da obscuridade resulta das opiniões e acontecimentos

negativos ocorridos ao longo do período medievo, como as guerras, invasões bárbaras, crises da

agricultura, epidemias, imposições da Igreja, Inquisição e condenação dos que foram considerados

hereges, a centralização da economia restrita aos feudos, as desigualdades sociais, entretanto estes

aspectos históricos não justificam esta terminologia pejorativa para um período que em contraste a

esse lado negativo muito produziu, inventou e desenvolveu.

Empregar essa terminologia e demonstrar um reconhecido preconceito e uma falta de

conhecimento da época, como nos ensina Inácio e de Luca (1991, página 11).

A ideia de que a Idade Média foi a guardiã de todo

conhecimento produzido na Antiguidade greco-romana

solidificou-se com o tempo, mantendo em seu bojo uma série de

imprecisões. Ela pressupõe, por exemplo, que a herança greco-

romana formava uma totalidade homogênea e, coerente, dotada

de uma continuidade linear. Assim, às grandes elaborações do

pensamento grego, Roma teria acrescentado suas não menos

brilhantes contribuições resultando, daí, o tesouro intelectual que

a Antiguidade nos legou. Os herdeiros diretos dessa sabedoria

antiga- os medievais- teriam, portanto, recebido um conjunto de

conhecimentos e concepções, harmonicamente estruturados, que

representaria o fruto maduro do pensamento antigo.

As criações do medievo atingiram um alto número e, dentre elas, podemos citar a criação ou

invento dos moinhos, da pólvora, dos algarismos arábicos e do astrolábio, além dos fundamentos da

produção feudal, no qual dividiu a sociedade em classes, quando se efetiva um contrato de

vassalagem entre um senhor (dono dos meios de produção) e um camponês (que entrava com

serviço braçal) tendo sido esse o berço da história contemporânea.

O crescimento econômico e a expansão das cidades na época estavam intimamente ligados

às Cruzadas, compostas de milhares de pessoas que peregrinavam de cidade em cidade, gastando

enormes quantias de moedas, nascendo, nesse contexto, as feiras e gerando grande crescimento

econômico de expansão transformando as cidades em importantes centros comerciais. Outro fator

de relevo para o desenvolvimento do período em questão foi o surgimento das Universidades

formadas por mestres, doutores e alunos, estabelecendo um local de produção de saberes, pesquisas,

questionamentos, debates e estudos específicos, nos fins do século XII e marcando o renascimento

urbano e o nascimento dos chamados intelectuais. As instituições universitárias dessa época

defendiam os interesses da comunidade em geral e contribuíam sob vários aspectos políticos e

sociais pela sua autonomia e satisfação ao Estado e ao Papa.

À Idade Média adotou e transformou os elementos da Antiguidade Clássica, construindo

uma imagem própria. A busca de traduzir, estudar e entender os antigos era fundamental para refutar

suas doutrinas e para tanto, era preciso conhecê-las. Acreditava-se que a filosofia antiga, sobretudo

a de Platão e Aristóteles deveria ser utilizadas sob uma nova interpretação cristã. Um exemplo disso

é Santo Agostinho, como nos ensina Inácio e de Luca (1991, página 22) “o antigo reitor não

tencionava renunciar à herança cultural da qual até então se servira; impunha-se, porém, cristalizá-

la, de acordo com a tradição patrística.” Santo Agostinho reutiliza os antigos, entretanto, seu texto

mostra que não se deixa dominar por ele, pois faz uso de um tom humanamente dramático e lembra

passagens bíblicas.

Pode-se notar através dessas informações que a Era Medieval não se resume num momento

negro (“Idade das Trevas”) vivenciado pela humanidade, mas, sim num momento de construção que

resultou em várias contribuições importantes A sociedade. Certos comportamentos, hábitos e

costumes de hoje só poderão ser compreendidos na sua totalidade e complexidade se o estudioso

mergulhar nessa fonte de informações. A mesma atitude deve ser tomada em relação à história da

mulher medieval e sua contribuição para a compreensão dos problemas atuais que a mulher

enfrenta, principal objetivo desse projeto.

Nesse período, as filhas eram totalmente excluídas da sucessão, quando contrariam

matrimônio recebiam um dote formado de bens que seriam administrados pelo marido. A linhagem

beneficiava apenas componentes do sexo masculino e a herança era passada para o primogênito.

Quando casada, a mulher passava a fazer parte da família do esposo e se ficasse viúva não tinha

direito à herança. O casamento era um pacto entre duas famílias e seu objetivo era simplesmente a

procriação. A mulher era ao mesmo tempo doada e recebida como um ser passivo. Sua principal

virtude dentro e fora do casamento deveria ser a obediência e a submissão ao marido.

A inferioridade feminina provinha da fragilidade do sexo, da fraqueza ante os perigos da

carne. Na concepção religiosa, o marido que amasse excessivamente sua esposa era visto como

adúltero. Não deveria tratá-la como se fosse uma prostituta, e a mulher não poderia tratar seu

marido como se fosse um amante. No casamento o corpo da mulher passa a pertencer ao esposo,

enquanto que sua alma deveria permanecer sempre no poder de Deus.

Buscava-se justificar o desprezo do homem pela mulher de todas as formas. Para os

pensadores da época a palavra latina que designava o sexo masculino vir lembrava-lhes virtus, ou

seja, força, retidão; já o termo mulier, que designa o sexo feminino, lembrava mollitia, relacionada à

fraqueza, flexibilidade e simulação. Os homens, pais ou maridos tinham o direito de castigá-las,

como a uma criança, um doméstico, ou um escravo. Esse desdém revela ao mesmo tempo

desconfiança e temor. Os homens receavam o adultério por parte da esposa, também temiam que

elas lhes oferecessem filtros mágicos, que os levassem à impotência.

Na época a mulher era vista como um ser que foi feito para obedecer por isso, não era

conveniente que soubesse ler e escrever, a não ser que entrasse para o mundo religioso. Por outro

lado, uma moça deveria saber bordar e fiar, pois se fosse pobre teria necessidade de trabalhar para

sobreviver; e se fosse rica, ainda assim deveria conhecer o trabalho para administrar e supervisionar

o serviço de seus domésticos e dependentes.

As camponesas, quando casadas, deveriam acompanhar seus maridos em todas as atividades

desempenhadas no domínio senhorial onde trabalhavam. Quando viúva trabalhava com os filhos ou

sozinha. Às aristocratas cabia a tarefa de serem donas de casa, função difícil na época, uma vez que

a economia doméstica era bastante complicada exigia muita habilidade e senso de organização. O

suprimento de alimentos e a confecção das vestimentas da família estavam sob sua

responsabilidade.

Apesar disso não se pode dizer que no período medievo o papel da mulher tenha sido de

total subordinação ou de completo ostracismo.

Abordagem metodológica

- Aula expositiva sobre o período Medieval;

- Leitura de poesias (cantigas de amor e de amigo)

- Realizar interpretação juntamente com os alunos, discutir a visão da mulher abordada nas cantigas

comparando – a com as músicas pesquisadas anteriormente.

- Contextualização.

"Este recurso tem objetivo estabelecer relações entre o conteúdo proposto e realidade histórico-

social a partir de conhecimentos relevantes da ciência, da cultura, da arte, da literatura e da

filosofia”.

A submissão caracterizou a trajetória feminina durante décadas. Sempre vistas como mães, esposas,

donas de casa, eram criadas para cuidar de esposos e filhos, deveriam viver unicamente por eles e

para eles. Mas como todo tipo de discriminação gera revolta, com as mulheres não foi diferente. Há

mais de 200 anos é travada a luta pela igualdade dos direitos entre homens e mulheres. Não foi fácil

chegar aonde chegaram, tiveram muitas derrotas, mas as vitórias prevaleceram e hoje não só são

mães, esposas, donas de casa, como também assumem definitivamente o papel do “homem da

casa”, ocupando, inclusive, cargos de presidência. Se outrora a submissão e dependência as

caracterizavam, hoje a auto-suficiência é a palavra perfeita para definir a mulher moderna. Elas não

precisam mais de alguém que lhes diga o que fazer ou que lhes sustente, financeiramente. Talvez

daqui mais alguns anos, não precisarão mais de ajuda nem mesmo para gerarem uma criança. Há

mais de dois séculos a igualdade em todos os sentidos é buscada pela mulher:

• 1788 - o político e filósofo francês Condorcet reivindica direitos de participação política,

emprego e educação para as mulheres;

• 1840 - Lucrécia Mott luta pela igualdade de direitos para mulheres e negros dos Estados

Unidos;

• 1859 - surge na Rússia, na cidade de São Petersburgo, um movimento de luta pelos direitos

das mulheres;

• 1862 - durante as eleições municipais, as mulheres podem votar pela primeira vez na Suécia;

• 1865 - na Alemanha, Louise Otto, cria a Associação Geral das Mulheres Alemãs;

• 1866 - No Reino Unido, o economista John S. Mill escreve exigindo o direito de voto para

as mulheres inglesas;

• 1869 - é criada nos Estados Unidos a Associação Nacional para o Sufrágio das Mulheres;

• 1870 - Na França, as mulheres passam a ter acesso aos cursos de Medicina;

• 1874 - criada no Japão a primeira escola normal para moças;

• 1878 - criada na Rússia uma Universidade Feminina;

• 1901 - o deputado francês René Viviani defende o direito de voto das mulheres.

(Fonte: http://www.suapesquisa.com/dia_internacional_da_mulher.htm)

Título: O Leitor demanda a Literatura

Texto:

A maneira como o leitor recebe o texto é um problema fundamental das reflexões que

permeiam a teoria literária, devido ao caráter aberto do horizonte de significação da literatura

(especialmente da poesia) e do seu receptor, este é um ponto de encontro entre leitor, autor e obra. A

configuração textual da obra artística permite que o aluno, em cumplicidade com as experiências

idealizadas pelo autor, possa aventurar-se na conquista de novos espaços e de tempos ainda não

vividos e reservados a atividade da fantasia e da imaginação, a realidade criada pela obra não

conhece limites além daqueles criados pela codificação, a literatura é a experiência posta em

prática, a experiência vivida pelo leitor.

Tendo isso em vista, como pode o leitor contemporâneo refletir sobre a Poesia Medieval e

encontrar nela temas que transcendem o tempo?

Para respondermos a essas questões é necessário ler sobre a Estética da Recepção, conforme a

resenha abaixo.

A crítica literária por muito tempo preocupou-se com a relação autor-texto ou com a

textualidade, deixando o leitor de lado, o formalismo russo, o new criticismo, o estruturalismo

francês deixaram de lado a área de comunicação para se preocupar com o texto em si. Hans Robert

Jauss traz uma inovação ao abandonar as classificações e considerar o leitor como centro da

pesquisa recepcional, é necessário agora compreender as condições de formações de diferentes

sentidos realizadas sobre um determinado texto, por leitores de diferentes posições recepcionais

com condições históricas diferentes.

Jauss quer situar a estética da recepção do ponto de vista do panorama da crítica atual,

verificando em que ela nos pode ser relevante. A Estética da Recepção veio trazer outra perspectiva

aos estudos literários iniciando um processo de renovação, considerando relevantes aspectos antes

não eram considerados nos textos.

O primeiro problema que se apresenta é como os autores concebem a experiência estética.

Para Jauss, a condição estética ganha significação com a ação, à medida que o conceito estético não

é auto-suficiente, sua história não pode ser traçada do mesmo modo que um conceito como

suficiente, se o juízo estético faz parte de um trabalho interno é necessário que se observem quais as

instâncias que levaram a sua modelagem.

Jauss, nos diz que o princípio estético romântico, da subjetividade e auto-deleite levava a

rejeição do senso comum gerando uma decadência das experiências prazerosas da arte, a

internalização de normas que cultivavam a individualidade não favoreciam uma experiência

estética.

É necessário diferenciar os tipos de prazeres, o prazer sensorial, que só existe em função do

sujeito do prazer e o prazer estético, que pressupõe uma tomada de posição, mediante a qual se

encontra prazer no objeto de prazer, onde é importante o trabalho de percepção além do trabalho da

imaginação. A experiência estética consiste no prazer da interação entre o eu e o objeto onde o

sujeito se distancia de si para aproximar-se do objeto e se afasta interessadamente do objeto para

aproximar-se novamente de si. O prazer estético implica então numa atividade de conhecimento

(não conceitual), trazer a identificação do outro para dentro de si e ao mesmo tempo projetar essa

identificação.

O leitor ao iniciar sua leitura, tem um horizonte de expectativas, previsões do que irá

acontecer durante a leitura, o sujeito pode confirmar este seu horizonte, a experiência enquanto

estética fracassa, pois o sujeito não mudará o seu estoque de saber, porém numa experiência estética

realizada, a função, a experiência do diferente, o questionamento de valores do sujeito o levaria a

verdadeira beleza da literatura e despertando para a aprendizagem da criticidade. O leitor ideal seria

aquele capaz de destruir seu horizonte de expectativas para gozar da literatura mais nova.

A partir da proposição de Jauss de oferecer pela estética da recepção um estatuto de

criticidade à estética tradicional ainda perdura a questão: A estética da recepção continua a

privilegiar um leitor ideal? O interesse de Jauss se situa no autor como leitor seja este real ou

imaginário.

Para muitos estudiosos da literatura, a Estética da Recepção, pode ser usada como recurso

pedagógico dando grande contribuição para o ensino-aprendizagem da literatura, pois, “o método

recepcional de ensino de literatura enfatiza a compreensão entre o familiar e o novo, entre o

próximo e o distante no tempo e espaço.” (Aguiar e Bordini, 1988, p. 86), partindo do que o aluno

sabe, ou tem facilidade na compreensão, até chegar a obras mais complexas, envolvendo o aluno no

processo de desenvolvimento de suas leituras, a tornando-o competente para na fruição e

compreensão de obras literárias de diferentes níveis, torna o trabalho com a literatura mais atrativo e

produtivo.

Num segundo momento, ainda sobre a estética da recepção, Iser fala sobre o vazio dos

textos e o papel desempenhado pelas interações humanas. Para ele, os textos são enunciados vazios

que exigem do leitor o seu preenchimento, estes se realizam através da projeção do leitor. A

comunicação entre texto e leitor fracassará quando essas projeções se impuserem independentes do

texto.

Para Iser, o papel do leitor num texto ficcional é de que, como um estrangeiro, deva

perguntar a todo instante se a formação de sentido que está fazendo é adequada a leitura que está

cumprindo, só assim poderá ocorrer uma situação de comunicação. Assim, o texto ficcional permite

uma infinidade de comunicações.

Iser enfatiza a necessidade de o texto ficcional possuir os “complexos de controle”, que

possam orientar os processos de comunicação, os quais não expulsariam o leitor, mas, sim,

exigiriam a sua entrada para que o texto pudesse ser compreendido.

Para Jauss, o interesse está centrado na recepção da obra, na maneira como ela é ou deverá

ser recebida; já Iser concentra-se no efeito que causa, na ponte que se estabelece entre o texto e o

leitor, este é convocado a formar uma imagem mental dos personagens e das situações que lhe pre-

encham o seu esquema verbal, que serão as estruturas centrais da comunicação. Jauss tende para

uma linha de estudo que privilegia a reconstrução histórica como cenário para recepção do leitor,

em contra partida, Wolfgang Iser procura aprofundar as relações interacionais entre texto e leitor, te-

orizando a recepção (resposta) do leitor a partir dos pontos de indeterminação presente nos textos e

acionados pelo ato da leitura. A estrutura do texto tem um papel de regulação da leitura, oferecendo

os critérios de distinção entre a pura recepção projetiva e a leitura constituída de um sentido apro-

priado.

Gumbrecht aponta uma falha de Iser, apresentando duas conclusões importantes para a

recepção das teses de Iser no Brasil. A primeira é o modelo de texto do autor, pois para Iser, a

função social reconhecida para o texto literário é questionar o saber prévio do leitor e a segunda é a

idéia de uma constante textualmente inscrita implica na presença de um leitor implícito, capaz de

resgatar o significado da obra de acordo com um horizonte de expectativas já estipulado.

Logo, o texto deve ser um trampolim para o plano de ação, é necessário que o texto

programado seja recebido pelo seu usuário em consonância com um esquema de ação, prévio e

partilhado pelos outros membros da comunidade, o texto pragmático caracteriza-se pelo fato que

produtor e receptor, previamente conhecedores do saber social armazenado como esquema de ação,

prevêem seus respectivos papéis.

Já no texto ficcional, não se pode afirmar que a ficção leve de imediato ao campo da ação,

entretanto de acordo com Stierle, o leitor pode fazer uma leitura quase pragmática do texto literário,

onde ele não entrará vivenciando uma ilusão, uma fantasia e, portanto, não permitirá ao leitor a

identificação, passando assim para uma forma mais elevada de recepção. O texto pragmático é

voltado a uma ação prevista enquanto que o texto literário permite ao leitor uma manipulação de

conceitos.

Atividades de fixação:

- Leitura dramatizada de outros poemas (cantigas de amor e de amigo) identificando as

características de cada um deles , mostrando a visão apresentada da mulher ;

- Leitura de músicas atuais, observando as características comuns aos textos;

- Fazer análise comparativa entre cantigas de amor e a música contemporânea .

3ª ETAPA: Resultado Final

Objetivo: Reconhecer as contribuições dos conteúdos abordados na ampliação do horizonte de

expectativas do aluno.

Conteúdo: Cantigas líricas medievais e músicas contemporâneas

Abordagem metodológica

Retomada dos recursos utilizados para o desenvolvimento das atividades finais tais como:

• Montagem de um álbum ilustrativo e descritivo com o título: “ A mulher através dos

tempos”;

• Produção de músicas ( paródias) para montagem de clips que mostrem a mulher atual e ou

medieval;

• Apresentação dos resultados da exposição do álbum e dos clips

Este recurso tem por finalidade apresentar e indicar recursos iconográficos tais como: fotografias,

desenhos, cartoons, mapas, entre outros. Essas indicações podem representar fatos, características,

emoções e também ser utilizadas como fontes de pesquisa “sons e vídeos”.

"Este recurso oferece indicações de áudios e vídeos como filmes, entrevistas, documentários,

reportagens e músicas, que têm como objetivo auxiliar na compreensão ou ilustração do conteúdo

trabalhado. Traz, ainda, um comentário do professor-autor com explicações referentes à relação das

suas sugestões com o assunto abordado”.

AVALIAÇÃO

A avaliação será contínua e participativa durante todo o processo da aplicação deste material

didático, respeitando as individualidades do aluno, seu ritmo e capacidade de aprendizagem.

CRONOGRAMA

Cronograma de

Desenvolvimento

Meses 2009 Meses 2010

Maio Jun Jul Ag set Out Nv Dz Jan Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ag Set Out Nv Dez

Produção

Material

Didático-

Pedagógico

x x x x x x x x x

Implementação

do Projeto

Pedagógico na

Escola

x x x x

REFERÊNCIAS

AGUIAR, Vera Teixeira de; BORDINI, Maria da Glória. Literatura: a formação do leitor-

alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.

BELL, Aubrey; BOWRA, C.; ENTWISTLE, William J. Da poesia medieval portuguesa. Revista

Ocidente, Portugal, 2ª ed, 1946.

COLL, César; e outros. Construtivismo na sala de aula.Editora Ática, 1996.

INÁCIO, Inês C; LUCA, Tânia Regina de. O pensamento medieval. Editora Ática,1991.

JAUSS, Hans Robert. A História da Literatura como Provocação à Teoria Literária. Tradução

Sérgio Tellaroli. São Paulo: Ática, 1994.

JAUSS, H. R. et all. Introdução: O leitor demanda (d)a literatura. In: LIMA, Luiz Costa A

literatura e o leitor: textos de estética da recepção. Seleção, coordenação e tradução de Luiz

Costa Lima. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

MACEDO, José Rivair. A mulher na Idade Média. 4ª ed. São Paulo: Contexto, 1999.

MOISÉS, Massaud. As estéticas Literárias em Portugal. Lisboa: Editora Caminha, 1997.

STALLONI, Yves. Os gêneros literários. Rio de Janeiro: DIFEL, 2001.

ANEXOS

Letras de Músicas

1. Mulheres de Atenas

Chico Buarque

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas

Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas

Quando amadas, se perfumam

Se banham com leite, se arrumam

(…)

2. Olho nos olhos

Chico Buarque

Quando você me deixou, meu bem

Me disse pra ser feliz e passar bem

Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci

Mas depois, como era de costume, obedeci

(…)

3. Mulher de fases,

Raimundos

Que mulher ruim

Jogou minhas "coisa" fora

Disse que em sua cama eu não deito mais não

A casa é minha, você que vá embora

(...)

4. Fada

César Menotti e Fabiano

Fada, fada querida

Dona da minha vida

Você se foi

Levou meu calor

(…)

5.Meu bem querer

Djavan

Meu bem querer

é segredo, é sagrado

está sacramentado

(…)

6. Fico Assim Sem Você (Adriana Calcanhotto)

Abdullah / Cacá Moraes

Avião sem asa, fogueira sem brasa

Sou eu assim sem você

Futebol sem bola,

Piu-Piu sem Frajola

(...)

7. Ela Vai Voltar (Todos os Defeitos de Uma Mulher Perfeita)

Chorão

Minha mente

Nem sempre tão lúcida

Fértil me deu a voz

Minha mente

(…)

8. Mentiras

Adriana Calcanhotto

Nada ficou no lugar

Eu quero quebrar essas xícaras

Eu vou enganar o diabo

Eu quero acordar sua família...

(…)

9. Você é Linda

Caetano Veloso

Fonte de mel

Nos olhos de gueixa

Kabuki, máscara

Choque entre o azul

(...)

10.Queixa

Caetano Veloso

Um amor assim delicado

Você pega e despreza

Não devia ter despertado

Ajoelha e não reza

(...)

(Fonte: http://wwwvagalume.com.br)

CANTIGAS TROVADORESCAS (TEXTOS)

Com base na maioria das cantigas reunidas nos cancioneiros, podemos classificá-las da seguinte

forma:

1. Gênero lírico: Cantigas de amor e Cantigas de amigo

2.Gênero satírico: Cantigas de escárnio e Cantigas de maldizer

A cantiga de amor

O homem, na figura do trovador, se dirige à mulher amada como uma figura idealizada, distante. O

poeta, na posição de fiel vassalo, põe-se ao serviço de sua senhora, casada e dama da corte,

tornando esse amor um objeto de sonho, distante, impossível. Neste tipo de cantiga, originária da

Provença, no sul da França, o eu-lírico é masculino e sofredor. Sua amada é chamada de senhor (as

palavras terminadas em or como senhor ou pastor, em galego-português não tinham feminino).

Canta as qualidades de seu amor à "mia senhor" (minha senhora), a quem ele trata como superior

revelando sua condição hierárquica. Ele canta a dor de amar e está sempre acometido da "coita",

palavra frequente nas cantigas de amor que significa "sofrimento por amor". O trovador (eu-lírico)

submete-se aos encantos da amada e "presta-lhe serviço", esperando, assim, um pequeno benefício

da parte dela. Essa relação amorosa vertical é chamada "vassalagem amorosa", pois reproduz as

relações dos vassalos com os seus senhores feudais. Sua estrutura é mais sofisticada. Existem dois

tipos de cantigas de amor: as de refrão e as de mestria, que não tem refrão. Exemplo, uma cantiga

de Bernal de Bonaval:

A dona que eu m'e tenho por Senhor

amostrade-me-a Deus, se vos en prazer for,

se non dade-me-a morte.

A que tenh'eu por lume d'estes olhos meus

e porque choran sempr(e) amostrade-me-a Deus,

se non dade-me-a morte.

Essa que Vós fezestes melhor parecer

de quantas sei, ay Deus, fazede-me-a veer,

se non dade-me-a morte.

Ay Deus, que me-a fezestes mais ca min amar,

mostrade-me-a hu possa con ela falar,

se non dade-me-a morte."

• Eu lírico masculino: “A dona que eu am' e tenho por Senhor.”

• Cantiga de refrão: se non dade-mi a morte, que marca bem a obsessão pela morte, caso não

consiga ver sua senhora.

• Predomínio das ideias: o eu-lírico deseja ardentemente ver e falar com sua senhora e clama

a Deus por isso; caso contrário, ele deseja que Deus lhe dê a morte: “...amostrade-me-a

Deus; mostrade-me-a hu possa com ela falar;/ se non dade-me-a morte.

• Amor cortês; convencionalismo amoroso: “Essa que Vós fezestes melhor parecer / de

quantas sei”

• Amor impossível e o desejo de morrer de amor: ( presença da coita amorosa): se non dade-

me a morte.

• Ambientação aristocrática das cortes: as palavras “dona” e “senhor”.

• Forte influência provençal: o uso do pronome “em” e a construção alatinada, o que mostra o

seu ar arcaico.

• Vassalagem amorosa "o eu lírico usa o pronome de tratamento "senhor" e os versos: “ A que

tenh' eu por lume d' estes olhos meus/ e porque choran sempre.” A palavra lume (fogo) é

uma metáfora reforçada pela personificação.

Cantiga de amor

D. Dinis

Quer’eu em maneira de proençal

Fazer agora um cantar d’amor,

E querrei muit’i loar mia senhor

A que prez nem fremosura nom fal,

Nem bondade; e mais vos direi ém:

tanto a fez Deus comprida de bem

que mais que todas lãs do mundo val.

Ca mia senhor quizo Deus fazer tal,

Quando a fez, que a fez sabedor

De todo bem e de mui gram valor,

E com tod’est[o] é mui comunal

Ali u deve; er deu-lhi bom sem,

E desi nom lhi fez pouco de bem

Quando nom quis que lh’outra foss’igual.

Ca em mia senhor nunca Deus pôs mal,

mais pôs i prez e beldad’e loor

e falar mui bem, e riir melhor

que outra molher; desi é leal

muit’ e por esto nom sei oj’eu quem

possa compridamente no seu bem

falar, ca mom á, tra-lo seu bem, al.

ATIVIDADES

1- A voz que fala na cantiga é masculina ou feminina?

2- Reler os três primeiros versos da primeira estrofe, que objetivo a voz lírica anuncia?

3- Qual a diferença formal mais evidente entre esta cantiga e a cantiga de Martim Codax?

4- Comparando ainda as duas cantigas, qual delas reflete uma visão mais realista do amor?

Qual das cantigas reflete uma visão mais refinada e idealizada do amor?

A cantiga de amigo

São cantigas de origem popular, com marcas evidentes da literatura oral (reiterações,

paralelismo, refrão, estribilho), recursos esses próprios dos textos para serem cantados e que

propiciam facilidade na memorização. Esses recursos são utilizados, ainda hoje, nas canções

populares. Este tipo de cantiga, que não surgiu em Provença como as outras, teve suas origens na

Península Ibérica. Nela, o eu-lírico é uma mulher (mas o autor era masculino, devido à sociedade

feudal e o restrito acesso ao conhecimento da época), que canta seu amor pelo amigo (amigo =

namorado), muitas vezes em ambiente natural, e muitas vezes também em diálogo com sua mãe ou

suas amigas. A figura feminina que as cantigas de amigo desenham é, pois, a da jovem que se inicia

no universo do amor, por vezes lamentando a ausência do amado, por vezes cantando a sua alegria

pelo próximo encontro. Outra diferença da cantiga de amor, é que nela não há relação Suserano x

Vassalo, ela é uma mulher do povo. Muitas vezes tal cantiga também revelava a tristeza da mulher,

pela ida de seu amado à guerra. Exemplo, uma cantiga de D. Dinis:

"Ai flores, ai flores do verde pino,

se sabedes novas do meu amigo!

ai Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,

se sabedes novas do meu amado!

ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,

aquel que mentiu do que pôs comigo!

ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,

aquel que mentiu do que mi há jurado!

ai Deus, e u é?"

(...)

• Eu lírico feminino: “Se sabedes novas do meu amado,”

• Presença de paralelismos: “Ai flores, ai flores do verde pino, / Ai flores, ai flores do verde

ramo,”

• Predomínio da musicalidade: presença do refrão: “ ai Deus , e u é?”

• Assunto Principal: o lamento da moça cujo namorado partiu: “ aquel que mentiu do que mi

há jurado!”

• Amor natural e espontâneo: a moça dialoga/confidencia com as “flores do verde pino”

• Amor possível: o lamento da donzela em relação ao atrasado do amado para o encontro

amoroso.

• Ambientação popular rural ou urbana: o desabafo da moça, com as flores do verde pino

quanto ao atraso do namorado para o encontro amoroso.

• Influência da tradição oral ibérica evidenciada pelo uso do paralelismo e refrão, que

facilitam a memorização.

• Deus é o elemento mais importante do poema enfatizando o desespero da donzela.

• Pouca subjetividade evidenciada pelo drama compartilhado pela moça durante seu diálogo

com a natureza.

Cantiga de amigo

Martim Codax

Ondas do mar de Vigo,

se vistes meu amigo?

E ai Deus, se verra cedo?

Ondas do mar levado,

Se vistes meu amado?

E ai Deus, se verra cedo?

Se vistes meu amigo,

o por que eu sospiro?

Ai Deus, se verra cedo?

Se vistes meu amado,

Por que ei gram coidado?

E ai Deus, se verra cedo?

ATIVIDADES

1- A voz que fala na cantiga é uma voz masculina ou feminina?

2- A quem essa voz se dirige?

3- Qual a sua insistente pergunta?

4- Qual o desejo expresso no refrão?

5- Identificar características referentes as cantigas de amigo.