da escola pÚblica paranaense 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado,...
TRANSCRIPT
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PUacuteBLICA PARANAENSE
2009
Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica
Versatildeo Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
0
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCACcedilAtildeO
SUPERINTENDEcircNCIA DA EDUCACcedilAtildeO
DIRETORIA DE POLIacuteTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL ndash PDE
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA
MATERIAL DIDAacuteTICO
OUTRAS MEMOacuteRIAS E OUTRAS HISTOacuteRIAS
DOS NEGROS NO BRASIL
SIGELINDA MARIA ZANONI DE ANDRADE
IVAIPORAtilde - PR
2010
1
PRODUCcedilAtildeO DIDAacuteTICO-PEDAGOacuteGICA
OUTRAS MEMOacuteRIAS E OUTRAS HISTOacuteRIAS DOS NEGROS NO BRASIL
Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica elaborada como etapa obrigatoacuteria na implementaccedilatildeo do PDE ndash 2010 sob orientaccedilatildeo da Profordf Drordf Claacuteudia Prado Fortuna do Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Londrina ndash UEL
IVAIPORAtilde - PR
2010
2
Ficha catalograacutefica Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica Professor PDE2010
Tiacutetulo Outras Memoacuterias e Outras Histoacuterias dos Negros no Brasil
Autor Sigelinda Maria Zanoni de Andrade
Escola de Atuaccedilatildeo Coleacutegio Estadual Barbosa Ferraz - Ensino Meacutedio Normal e Profissional
Municiacutepio da escola Ivaiporatilde-PR
Nuacutecleo Regional de Educaccedilatildeo Ivaiporatilde-PR
Orientador Dra Claacuteudia Prado Fortuna
Instituiccedilatildeo de Ensino Superior Universidade Estadual de Londrina ndash UEL
Aacuterea do Conhecimento Histoacuteria
Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica Unidade Didaacutetica
Relaccedilatildeo Interdisciplinar Histoacuteria Portuguecircs Metodologia do Ensino de Histoacuteria
Puacuteblico Alvo Alunos da 1ordm seacuterie A de Formaccedilatildeo de Docente
Localizaccedilatildeo C E Barbosa Ferraz E M Normal e Profissional ndash Rua Rio Grande do Sul 1220 Centro Ivaiporatilde-Pr
Apresentaccedilatildeo O presente trabalho busca informar a respeito da Lei nordm 1063903 que inclui no curriacuteculo oficial da rede de Ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo aleacutem de colaborar para o combate do racismo que infelizmente existe no nosso contexto social e escolar Discutir sobre a persistecircncia em nosso paiacutes de um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e valoriza principalmente as raiacutezes europeias da cultura ignorando ou pouco valorizando as outras culturas que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica Conhecer que o preconceito foi construiacutedo historicamente e com isto contribuir para que os grupos eacutetnicos brasileiros possam exercer de forma plena sua cidadania e lutar contra o racismo e as discriminaccedilotildees na construccedilatildeo de uma sociedade brasileira mais justa e democraacutetica Destacar que ainda persiste nos livros didaacuteticos um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia as raiacutezes europeias da cultura Constatar que a convivecircncia entre padrotildees da cultura africana e cultura branca europeia natildeo tem sido suficiente para eliminar ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais
Palavras-chave (3 a 5 palavras) Lei 106392003 sujeitos negros outras memoacuterias
3
OUTRAS MEMOacuteRIAS E OUTRAS HISTOacuteRIAS DOS NEGROS NO BRASIL
4
SUMAacuteRIO
OBJETIVOS 5 I - TEMA A Lei 1063903 6 II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE 8 III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL 11 IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA 13 V - TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL 14 1 HENRIQUE DIAS 14 2 ZUMBI 16 3 ADELINA A CHARUTEIRA 17 4 LUIZ GAMA 18 5 LINO GUEDES 18 6 CAROLINA MARIA DE JESUS 19 7 SOLANO TRINDADE 20 8 CAcircNDIDO DA FONSECA GALVAtildeO (DOM OBAacute) 21 REFEREcircNCIAS 23
5
OBJETIVOS
- Informar a respeito da Lei nordm 1063903 que inclui no curriacuteculo oficial da rede de
Ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo aleacutem de
colaborar para o combate do racismo que infelizmente existe no nosso contexto
social e escolar
- Discutir sobre a persistecircncia em nosso paiacutes de um imaginaacuterio eacutetnico-racial que
privilegia a brancura e valoriza principalmente as raiacutezes europeias da cultura
ignorando ou pouco valorizando as outras culturas que satildeo a indiacutegena a africana e
a asiaacutetica
- Conhecer que o preconceito foi construiacutedo historicamente e com isto contribuir para
que os grupos eacutetnicos brasileiros possam exercer de forma plena sua cidadania e
lutar contra o racismo e as discriminaccedilotildees na construccedilatildeo de uma sociedade
brasileira mais justa e democraacutetica
- Destacar que ainda persiste nos livros didaacuteticos um imaginaacuterio eacutetnico-racial que
privilegia as raiacutezes europeias da cultura Constatar que a convivecircncia entre padrotildees
da cultura africana e cultura branca europeia natildeo tem sido suficiente para eliminar
ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais
OBJETIVOS
6
I - TEMA A Lei 1063903
Considerando a discriminaccedilatildeo racial ainda existente no Brasil faz-se
necessaacuterio e urgente repensar como os sujeitos negros da histoacuteria afro-brasileira e
africana satildeo tratados pelos curriacuteculos escolares Sabemos por exemplo que satildeo
muitos os personagens negros da histoacuteria de nosso paiacutes que tiveram papel de
destaque na construccedilatildeo da histoacuteria do Brasil e que nunca foram citados ou mesmo
retratados como negros Isso ocorre porque a histoacuteria e a literatura brasileira assim
como outras manifestaccedilotildees culturais estiveram ligadas agrave elite dominante que
durante muito tempo resistiu a conceder um lugar de fato e de direito as
comunidades negras
Na busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma
sociedade democraacutetica e igualitaacuteria o Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da
Silva promulgou a Lei 1063903 (alterada pela Lei 1164508) que estabelece as
Diretrizes e Base da Educaccedilatildeo Nacional e obriga a incluir no curriacuteculo oficial da
I - TEMA A Lei 1063903
QUAIS SAtildeO OS SUJEITOS NEGROS DA HISTOacuteRIA DO BRASIL QUE VOCEcirc CONHECE PROCURE RELEMBRAR DAS SUAS AULAS DE HISTOacuteRIA ATEacute AGORA E DEPOIS ESCREVA UM PEQUENO TEXTO SOBRE QUE HISTOacuteRIA DOS NEGROS FOI ENSINADA A VOCEcirc DEPOIS FACcedilA UMA PEQUENA ANAacuteLISE SOBRE ISTO
Vocecirc sabia Que a lei 1063903 tambeacutem acrescenta que o dia 20 de novembro (considerado dia da morte de Zumbi) deveraacute ser incluiacutedo no calendaacuterio escolar como dia nacional da consciecircncia negra tal como jaacute eacute comemorado pelo movimento negro e por alguns setores da sociedade
7
Rede de Ensino a temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira Essa lei trouxe a
necessidade de construirmos atraveacutes da pesquisa outras histoacuterias e outras
memoacuterias jaacute que uma grande parte da histoacuteria da cultura afro-brasileira foi omitida
dos livros escolares Diante disso fica a questatildeo por que foram negados os feitos
dos sujeitos negros na construccedilatildeo da nossa histoacuteria
A Lei 1063903 define que o Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das instituiccedilotildees
de ensino deveraacute conter em todas as disciplinas conteuacutedos relativos agrave Histoacuteria e a
Cultura Afro-brasileira e Africana na perspectiva de proporcionar aos alunos uma
educaccedilatildeo compatiacutevel com uma sociedade democraacutetica multicultural e plurieacutetnica
Os conteuacutedos sobre Histoacuteria da Aacutefrica e afro-brasileira devem fazer
abordagens positivas sempre na perspectiva de contribuir para que o aluno afro -
descendente mire-se positivamente na histoacuteria que eacute ensinada nas escolas Assim a
busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma sociedade mais
democraacutetica e igualitaacuteria eacute responsabilidade de todos noacutes Dentro desse contexto
vale transcrever o ensinamento de Franz Fanon
Os descendentes dos mercadores de escravos dos senhores de ontem natildeo tem hoje de assumir culpa pelas desumanidades provocadas pelos seus antepassados No entanto tecircm eles a responsabilidade moral e poliacutetica de combater o racismo as discriminaccedilotildees e juntamente com os que vecircm sendo mantidos agrave margem os negros construir relaccedilotildees raciais sadias em que todas cresccedilam e se realizem enquanto seres humanos e cidadatildeos (Franz Fanon-1968)
IREMOS ASSISTIR HOJE Agrave PALESTRA DE UM ADVOGADO SOBRE A LEI 1063903 QUE OBRIGA A INCLUSAtildeO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PUacuteBLICO E PRIVADO EM TODO O PAIacuteS ELABORE UM ROTEIRO DE PERGUNTAS E FACcedilA O REGISTRO DO QUE FOI EXPLICADO
8
II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE
Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econocircmica Aplicadas os negros
e pardos representam 452 da populaccedilatildeo brasileira aproximadamente 73 milhotildees
de pessoas (Rocha 2006 p 13) no entanto a convivecircncia entre padrotildees da cultura
Africana e da cultura branca europeacuteia natildeo tem sido suficiente para eliminar
ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais Segundo Ana Luacutecia Lopes (2006)
ainda persiste em nosso paiacutes um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e
valoriza principalmente as raiacutezes europeacuteias da sua cultura ignorando ou pouco
valorizando as outras que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica No final do seacuteculo
XIX o grande desafio era tornar o Brasil uma naccedilatildeo moderna Com a escravidatildeo
abolida com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o caminho estava aberto para a
modernidade Como uma naccedilatildeo com tantos negros poderia ser uma naccedilatildeo
moderna A soluccedilatildeo era o embranquecimento do povo brasileiro
II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO
HISTORICAMENTE
Afro-brasileiro Adjetivo usado para referir-se agrave parcela significativa da populaccedilatildeo brasileira com ascendecircncia parcial ou totalmente africana O termo tem patrocinado uma calorosa discussatildeo sobre quem representa efetivamente esse segmento populacional no Brasil Principalmente depois dos posicionamentos oficiais em relaccedilatildeo agrave reserva de vagas pelo sistema de cotas para
negros na universidade
FACcedilA A LEITURA DAS DIRETRIZES PARA O ENSINO DA HISTOacuteRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO - BRASILEIRA E ELABORE EM GRUPO UM CARTAZ ONDE APARECcedilA O QUE VOCEcircS CONSIDERARAM DE MAIS SIGNIFICATIVO NESTE DOCUMENTO
9
O desejo de construir uma sociedade
brasileira nos moldes das sociedades brancas
europeacuteias levou a valorizaccedilatildeo da raccedila branca na
construccedilatildeo da identidade brasileira deixando para
segundo plano a participaccedilatildeo dos africanos e
indiacutegenas nesta construccedilatildeo Portanto podemos dizer
que a negaccedilatildeo da histoacuteria social desses povos foi
tambeacutem uma medida de dominaccedilatildeo e de controle social
e poliacutetico de um grupo sobre os demais (Lima 2004)
O preconceito estaacute ligado diretamente ao nosso passado no qual os
negros eram considerados seres inferiores incapazes de construiacuterem civilizaccedilotildees
(Souza 2008 p 140) Com base nos estudos darwinianos pensadores como o
francecircs Joseph-Auguste de Gobineau o alematildeo Richard Wagner e o inglecircs Houston
Steward Chamberlain desenvolveram a tese segundo a qual alguns grupos
humanos teriam herdado certas caracteriacutesticas que os tornavam superiores e os
autorizavam a comandar e explorar outros povos e outros considerados fracos por
terem herdado caracteriacutesticas que os tornavam naturalmente inferiores e
predestinados a serem comandados (Bento 2005 p 25) Diante disso as
caracteriacutesticas fiacutesicas passaram a distinguir os seres humanos e estabelecer
diferenccedilas intelectuais e morais entre eles Surge entatildeo a foacutermula baacutesica do
racismo o negro seria inferior preguiccediloso indolente caprichoso sensual incapaz
de raciocinar e o branco empreendedor disciplinado inteligentes enfim qualidades
que justificariam a exploraccedilatildeo deste sobre aquele
Assim com base nessas ideias de superioridade racial do branco foi
estabelecida no Brasil a poliacutetica do branqueamento A propoacutesito o trecho do livro
Cidadania em Preto e Banco obra de Maria Aparecida Silva Bento nos diz
Intelectuais meacutedicos advogados poliacuteticos brasileiros se entusiasmam com a ideia de que a raccedila branca era superior As teorias raciais trouxeram consigo um problema seacuterio para o Brasil A elite brasileira desejava apresentar o Brasil como um paiacutes branco igualzinho agrave Europa Mas como explicar que de fato o Brasil era um paiacutes majoritariamente negro (nesta eacutepoca 1872 o censo indicava que 55 da populaccedilatildeo era negra) que se enriqueceu com o trabalho escravo (BENTO 2005 p 29)
Estereoacutetipo eacute a
imagem preconcebida de determinada pessoa coisa ou
situaccedilatildeo
10
Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores
ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades
A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS
CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA
11
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos
problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas
Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da
existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de
violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da
educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )
Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989
ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
12
crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural
da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da
democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute
passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra
barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro
assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os
professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo
e desenvolvimento da nossa sociedade
O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a
economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do
Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura
Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na
histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para
a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no
estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado
Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro
na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa
sociedade
VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA
13
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute
como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa
foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia
amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da
harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser
qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a
ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos
brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia
discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto
natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo
sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso
racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a
norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa
visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do
povo brasileiro
Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser
quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no
meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre
encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)
Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo
racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na
academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada
vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser
enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio
conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas
histoacuterias
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
14
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das
reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes
Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras
que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira
1 HENRIQUE DIAS
Mas afinal quem foi Henrique Dias
Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e
provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na
guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que
ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao
longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil
se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem
COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
1 HENRIQUE DIAS
15
pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria
Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma
contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do
historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais
motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que
era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade
de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava
proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa
de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e
contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco
A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros
negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a
eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por
negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que
se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais
uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao
impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por
outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e
possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na
sociedade
Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos
Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado
pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de
1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos
de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um
longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por
volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a
Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O
rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo
prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros
empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho
Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo
despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo
autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa
16
Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo
prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo
de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do
proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV
veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades
por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando
definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo
Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito
Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8
de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo
Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido
ZUMBI
Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia
Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem
africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares
foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o
batizou com o nome de Francisco
Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se
tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia
pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas
armadas de Palmares
Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que
atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e
Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio
Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi
castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife
2 ZUMBI
17
1 ADELINA A CHARUTEIRA
Mas afinal quem foi Adelina a charuteira
No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX
tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como
Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e
assim eacute a sua histoacuteria
Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)
O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de
relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em
circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois
possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e
articulassem fugas de escravos
ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das
mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)
3 ADELINA A
CHARUTEIRA
18
4 LUIZ GAMA
Mas afinal quem foi Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu
no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs
boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin
Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo
proacuteprio pai para pagar dividas de jogo
Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo
senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de
sua condiccedilatildeo de negro liberto
Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento
coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais
eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que
desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara
Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata
algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em
legiacutetima defesardquo
Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)
5 LINO GUEDES
Afinal quem foi Lino Guedes
Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao
racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente
de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que
para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem
o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras
4 LUIZ GAMA
5 LINO GUEDES
19
levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu
em Satildeo Paulo em 1951
6 CAROLINA MARIA DE JESUS
Afinal quem foi Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais
em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo
Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa
cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de
trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua
morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos
Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher
brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo
Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela
leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e
escrever
Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha
da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela
feito por Carolina
Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a
favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece
Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro
livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os
abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela
6 CAROLINA MARIA
DE JESUS
20
7 SOLANO TRINDADE
Afinal quem foi Solano Trindade
Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia
contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar
um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras
elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o
racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974
Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a
escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e
folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife
capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira
Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de
Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever
Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua
carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930
quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente
participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em
1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que
tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros
Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande
do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de
Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro
do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo
seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o
Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com
jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso
Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o
seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc
Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e
Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de
7 SOLANO TRINDADE
21
cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular
Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o
folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB
onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em
1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano
Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974
Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de
2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes
adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes
no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo
incontestavelmente atuais
Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma
Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)
5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)
Afinal quem era Dom Obaacute
Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na
cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e
considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute
significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo
Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao
qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em
elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute
escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais
de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-
199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro
do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava
reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora
dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de
alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de
8 CAcircNDIDO DA FONSECA
GALVAtildeO (DOM OBAacute)
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
0
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCACcedilAtildeO
SUPERINTENDEcircNCIA DA EDUCACcedilAtildeO
DIRETORIA DE POLIacuteTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL ndash PDE
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA
MATERIAL DIDAacuteTICO
OUTRAS MEMOacuteRIAS E OUTRAS HISTOacuteRIAS
DOS NEGROS NO BRASIL
SIGELINDA MARIA ZANONI DE ANDRADE
IVAIPORAtilde - PR
2010
1
PRODUCcedilAtildeO DIDAacuteTICO-PEDAGOacuteGICA
OUTRAS MEMOacuteRIAS E OUTRAS HISTOacuteRIAS DOS NEGROS NO BRASIL
Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica elaborada como etapa obrigatoacuteria na implementaccedilatildeo do PDE ndash 2010 sob orientaccedilatildeo da Profordf Drordf Claacuteudia Prado Fortuna do Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Londrina ndash UEL
IVAIPORAtilde - PR
2010
2
Ficha catalograacutefica Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica Professor PDE2010
Tiacutetulo Outras Memoacuterias e Outras Histoacuterias dos Negros no Brasil
Autor Sigelinda Maria Zanoni de Andrade
Escola de Atuaccedilatildeo Coleacutegio Estadual Barbosa Ferraz - Ensino Meacutedio Normal e Profissional
Municiacutepio da escola Ivaiporatilde-PR
Nuacutecleo Regional de Educaccedilatildeo Ivaiporatilde-PR
Orientador Dra Claacuteudia Prado Fortuna
Instituiccedilatildeo de Ensino Superior Universidade Estadual de Londrina ndash UEL
Aacuterea do Conhecimento Histoacuteria
Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica Unidade Didaacutetica
Relaccedilatildeo Interdisciplinar Histoacuteria Portuguecircs Metodologia do Ensino de Histoacuteria
Puacuteblico Alvo Alunos da 1ordm seacuterie A de Formaccedilatildeo de Docente
Localizaccedilatildeo C E Barbosa Ferraz E M Normal e Profissional ndash Rua Rio Grande do Sul 1220 Centro Ivaiporatilde-Pr
Apresentaccedilatildeo O presente trabalho busca informar a respeito da Lei nordm 1063903 que inclui no curriacuteculo oficial da rede de Ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo aleacutem de colaborar para o combate do racismo que infelizmente existe no nosso contexto social e escolar Discutir sobre a persistecircncia em nosso paiacutes de um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e valoriza principalmente as raiacutezes europeias da cultura ignorando ou pouco valorizando as outras culturas que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica Conhecer que o preconceito foi construiacutedo historicamente e com isto contribuir para que os grupos eacutetnicos brasileiros possam exercer de forma plena sua cidadania e lutar contra o racismo e as discriminaccedilotildees na construccedilatildeo de uma sociedade brasileira mais justa e democraacutetica Destacar que ainda persiste nos livros didaacuteticos um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia as raiacutezes europeias da cultura Constatar que a convivecircncia entre padrotildees da cultura africana e cultura branca europeia natildeo tem sido suficiente para eliminar ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais
Palavras-chave (3 a 5 palavras) Lei 106392003 sujeitos negros outras memoacuterias
3
OUTRAS MEMOacuteRIAS E OUTRAS HISTOacuteRIAS DOS NEGROS NO BRASIL
4
SUMAacuteRIO
OBJETIVOS 5 I - TEMA A Lei 1063903 6 II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE 8 III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL 11 IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA 13 V - TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL 14 1 HENRIQUE DIAS 14 2 ZUMBI 16 3 ADELINA A CHARUTEIRA 17 4 LUIZ GAMA 18 5 LINO GUEDES 18 6 CAROLINA MARIA DE JESUS 19 7 SOLANO TRINDADE 20 8 CAcircNDIDO DA FONSECA GALVAtildeO (DOM OBAacute) 21 REFEREcircNCIAS 23
5
OBJETIVOS
- Informar a respeito da Lei nordm 1063903 que inclui no curriacuteculo oficial da rede de
Ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo aleacutem de
colaborar para o combate do racismo que infelizmente existe no nosso contexto
social e escolar
- Discutir sobre a persistecircncia em nosso paiacutes de um imaginaacuterio eacutetnico-racial que
privilegia a brancura e valoriza principalmente as raiacutezes europeias da cultura
ignorando ou pouco valorizando as outras culturas que satildeo a indiacutegena a africana e
a asiaacutetica
- Conhecer que o preconceito foi construiacutedo historicamente e com isto contribuir para
que os grupos eacutetnicos brasileiros possam exercer de forma plena sua cidadania e
lutar contra o racismo e as discriminaccedilotildees na construccedilatildeo de uma sociedade
brasileira mais justa e democraacutetica
- Destacar que ainda persiste nos livros didaacuteticos um imaginaacuterio eacutetnico-racial que
privilegia as raiacutezes europeias da cultura Constatar que a convivecircncia entre padrotildees
da cultura africana e cultura branca europeia natildeo tem sido suficiente para eliminar
ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais
OBJETIVOS
6
I - TEMA A Lei 1063903
Considerando a discriminaccedilatildeo racial ainda existente no Brasil faz-se
necessaacuterio e urgente repensar como os sujeitos negros da histoacuteria afro-brasileira e
africana satildeo tratados pelos curriacuteculos escolares Sabemos por exemplo que satildeo
muitos os personagens negros da histoacuteria de nosso paiacutes que tiveram papel de
destaque na construccedilatildeo da histoacuteria do Brasil e que nunca foram citados ou mesmo
retratados como negros Isso ocorre porque a histoacuteria e a literatura brasileira assim
como outras manifestaccedilotildees culturais estiveram ligadas agrave elite dominante que
durante muito tempo resistiu a conceder um lugar de fato e de direito as
comunidades negras
Na busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma
sociedade democraacutetica e igualitaacuteria o Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da
Silva promulgou a Lei 1063903 (alterada pela Lei 1164508) que estabelece as
Diretrizes e Base da Educaccedilatildeo Nacional e obriga a incluir no curriacuteculo oficial da
I - TEMA A Lei 1063903
QUAIS SAtildeO OS SUJEITOS NEGROS DA HISTOacuteRIA DO BRASIL QUE VOCEcirc CONHECE PROCURE RELEMBRAR DAS SUAS AULAS DE HISTOacuteRIA ATEacute AGORA E DEPOIS ESCREVA UM PEQUENO TEXTO SOBRE QUE HISTOacuteRIA DOS NEGROS FOI ENSINADA A VOCEcirc DEPOIS FACcedilA UMA PEQUENA ANAacuteLISE SOBRE ISTO
Vocecirc sabia Que a lei 1063903 tambeacutem acrescenta que o dia 20 de novembro (considerado dia da morte de Zumbi) deveraacute ser incluiacutedo no calendaacuterio escolar como dia nacional da consciecircncia negra tal como jaacute eacute comemorado pelo movimento negro e por alguns setores da sociedade
7
Rede de Ensino a temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira Essa lei trouxe a
necessidade de construirmos atraveacutes da pesquisa outras histoacuterias e outras
memoacuterias jaacute que uma grande parte da histoacuteria da cultura afro-brasileira foi omitida
dos livros escolares Diante disso fica a questatildeo por que foram negados os feitos
dos sujeitos negros na construccedilatildeo da nossa histoacuteria
A Lei 1063903 define que o Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das instituiccedilotildees
de ensino deveraacute conter em todas as disciplinas conteuacutedos relativos agrave Histoacuteria e a
Cultura Afro-brasileira e Africana na perspectiva de proporcionar aos alunos uma
educaccedilatildeo compatiacutevel com uma sociedade democraacutetica multicultural e plurieacutetnica
Os conteuacutedos sobre Histoacuteria da Aacutefrica e afro-brasileira devem fazer
abordagens positivas sempre na perspectiva de contribuir para que o aluno afro -
descendente mire-se positivamente na histoacuteria que eacute ensinada nas escolas Assim a
busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma sociedade mais
democraacutetica e igualitaacuteria eacute responsabilidade de todos noacutes Dentro desse contexto
vale transcrever o ensinamento de Franz Fanon
Os descendentes dos mercadores de escravos dos senhores de ontem natildeo tem hoje de assumir culpa pelas desumanidades provocadas pelos seus antepassados No entanto tecircm eles a responsabilidade moral e poliacutetica de combater o racismo as discriminaccedilotildees e juntamente com os que vecircm sendo mantidos agrave margem os negros construir relaccedilotildees raciais sadias em que todas cresccedilam e se realizem enquanto seres humanos e cidadatildeos (Franz Fanon-1968)
IREMOS ASSISTIR HOJE Agrave PALESTRA DE UM ADVOGADO SOBRE A LEI 1063903 QUE OBRIGA A INCLUSAtildeO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PUacuteBLICO E PRIVADO EM TODO O PAIacuteS ELABORE UM ROTEIRO DE PERGUNTAS E FACcedilA O REGISTRO DO QUE FOI EXPLICADO
8
II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE
Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econocircmica Aplicadas os negros
e pardos representam 452 da populaccedilatildeo brasileira aproximadamente 73 milhotildees
de pessoas (Rocha 2006 p 13) no entanto a convivecircncia entre padrotildees da cultura
Africana e da cultura branca europeacuteia natildeo tem sido suficiente para eliminar
ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais Segundo Ana Luacutecia Lopes (2006)
ainda persiste em nosso paiacutes um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e
valoriza principalmente as raiacutezes europeacuteias da sua cultura ignorando ou pouco
valorizando as outras que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica No final do seacuteculo
XIX o grande desafio era tornar o Brasil uma naccedilatildeo moderna Com a escravidatildeo
abolida com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o caminho estava aberto para a
modernidade Como uma naccedilatildeo com tantos negros poderia ser uma naccedilatildeo
moderna A soluccedilatildeo era o embranquecimento do povo brasileiro
II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO
HISTORICAMENTE
Afro-brasileiro Adjetivo usado para referir-se agrave parcela significativa da populaccedilatildeo brasileira com ascendecircncia parcial ou totalmente africana O termo tem patrocinado uma calorosa discussatildeo sobre quem representa efetivamente esse segmento populacional no Brasil Principalmente depois dos posicionamentos oficiais em relaccedilatildeo agrave reserva de vagas pelo sistema de cotas para
negros na universidade
FACcedilA A LEITURA DAS DIRETRIZES PARA O ENSINO DA HISTOacuteRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO - BRASILEIRA E ELABORE EM GRUPO UM CARTAZ ONDE APARECcedilA O QUE VOCEcircS CONSIDERARAM DE MAIS SIGNIFICATIVO NESTE DOCUMENTO
9
O desejo de construir uma sociedade
brasileira nos moldes das sociedades brancas
europeacuteias levou a valorizaccedilatildeo da raccedila branca na
construccedilatildeo da identidade brasileira deixando para
segundo plano a participaccedilatildeo dos africanos e
indiacutegenas nesta construccedilatildeo Portanto podemos dizer
que a negaccedilatildeo da histoacuteria social desses povos foi
tambeacutem uma medida de dominaccedilatildeo e de controle social
e poliacutetico de um grupo sobre os demais (Lima 2004)
O preconceito estaacute ligado diretamente ao nosso passado no qual os
negros eram considerados seres inferiores incapazes de construiacuterem civilizaccedilotildees
(Souza 2008 p 140) Com base nos estudos darwinianos pensadores como o
francecircs Joseph-Auguste de Gobineau o alematildeo Richard Wagner e o inglecircs Houston
Steward Chamberlain desenvolveram a tese segundo a qual alguns grupos
humanos teriam herdado certas caracteriacutesticas que os tornavam superiores e os
autorizavam a comandar e explorar outros povos e outros considerados fracos por
terem herdado caracteriacutesticas que os tornavam naturalmente inferiores e
predestinados a serem comandados (Bento 2005 p 25) Diante disso as
caracteriacutesticas fiacutesicas passaram a distinguir os seres humanos e estabelecer
diferenccedilas intelectuais e morais entre eles Surge entatildeo a foacutermula baacutesica do
racismo o negro seria inferior preguiccediloso indolente caprichoso sensual incapaz
de raciocinar e o branco empreendedor disciplinado inteligentes enfim qualidades
que justificariam a exploraccedilatildeo deste sobre aquele
Assim com base nessas ideias de superioridade racial do branco foi
estabelecida no Brasil a poliacutetica do branqueamento A propoacutesito o trecho do livro
Cidadania em Preto e Banco obra de Maria Aparecida Silva Bento nos diz
Intelectuais meacutedicos advogados poliacuteticos brasileiros se entusiasmam com a ideia de que a raccedila branca era superior As teorias raciais trouxeram consigo um problema seacuterio para o Brasil A elite brasileira desejava apresentar o Brasil como um paiacutes branco igualzinho agrave Europa Mas como explicar que de fato o Brasil era um paiacutes majoritariamente negro (nesta eacutepoca 1872 o censo indicava que 55 da populaccedilatildeo era negra) que se enriqueceu com o trabalho escravo (BENTO 2005 p 29)
Estereoacutetipo eacute a
imagem preconcebida de determinada pessoa coisa ou
situaccedilatildeo
10
Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores
ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades
A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS
CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA
11
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos
problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas
Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da
existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de
violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da
educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )
Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989
ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
12
crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural
da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da
democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute
passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra
barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro
assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os
professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo
e desenvolvimento da nossa sociedade
O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a
economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do
Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura
Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na
histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para
a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no
estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado
Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro
na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa
sociedade
VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA
13
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute
como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa
foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia
amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da
harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser
qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a
ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos
brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia
discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto
natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo
sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso
racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a
norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa
visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do
povo brasileiro
Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser
quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no
meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre
encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)
Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo
racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na
academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada
vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser
enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio
conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas
histoacuterias
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
14
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das
reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes
Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras
que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira
1 HENRIQUE DIAS
Mas afinal quem foi Henrique Dias
Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e
provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na
guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que
ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao
longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil
se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem
COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
1 HENRIQUE DIAS
15
pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria
Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma
contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do
historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais
motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que
era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade
de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava
proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa
de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e
contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco
A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros
negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a
eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por
negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que
se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais
uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao
impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por
outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e
possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na
sociedade
Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos
Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado
pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de
1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos
de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um
longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por
volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a
Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O
rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo
prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros
empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho
Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo
despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo
autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa
16
Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo
prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo
de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do
proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV
veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades
por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando
definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo
Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito
Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8
de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo
Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido
ZUMBI
Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia
Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem
africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares
foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o
batizou com o nome de Francisco
Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se
tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia
pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas
armadas de Palmares
Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que
atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e
Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio
Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi
castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife
2 ZUMBI
17
1 ADELINA A CHARUTEIRA
Mas afinal quem foi Adelina a charuteira
No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX
tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como
Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e
assim eacute a sua histoacuteria
Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)
O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de
relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em
circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois
possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e
articulassem fugas de escravos
ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das
mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)
3 ADELINA A
CHARUTEIRA
18
4 LUIZ GAMA
Mas afinal quem foi Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu
no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs
boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin
Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo
proacuteprio pai para pagar dividas de jogo
Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo
senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de
sua condiccedilatildeo de negro liberto
Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento
coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais
eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que
desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara
Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata
algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em
legiacutetima defesardquo
Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)
5 LINO GUEDES
Afinal quem foi Lino Guedes
Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao
racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente
de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que
para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem
o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras
4 LUIZ GAMA
5 LINO GUEDES
19
levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu
em Satildeo Paulo em 1951
6 CAROLINA MARIA DE JESUS
Afinal quem foi Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais
em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo
Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa
cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de
trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua
morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos
Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher
brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo
Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela
leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e
escrever
Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha
da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela
feito por Carolina
Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a
favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece
Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro
livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os
abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela
6 CAROLINA MARIA
DE JESUS
20
7 SOLANO TRINDADE
Afinal quem foi Solano Trindade
Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia
contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar
um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras
elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o
racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974
Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a
escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e
folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife
capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira
Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de
Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever
Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua
carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930
quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente
participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em
1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que
tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros
Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande
do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de
Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro
do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo
seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o
Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com
jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso
Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o
seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc
Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e
Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de
7 SOLANO TRINDADE
21
cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular
Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o
folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB
onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em
1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano
Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974
Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de
2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes
adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes
no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo
incontestavelmente atuais
Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma
Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)
5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)
Afinal quem era Dom Obaacute
Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na
cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e
considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute
significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo
Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao
qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em
elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute
escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais
de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-
199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro
do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava
reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora
dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de
alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de
8 CAcircNDIDO DA FONSECA
GALVAtildeO (DOM OBAacute)
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
1
PRODUCcedilAtildeO DIDAacuteTICO-PEDAGOacuteGICA
OUTRAS MEMOacuteRIAS E OUTRAS HISTOacuteRIAS DOS NEGROS NO BRASIL
Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica elaborada como etapa obrigatoacuteria na implementaccedilatildeo do PDE ndash 2010 sob orientaccedilatildeo da Profordf Drordf Claacuteudia Prado Fortuna do Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Londrina ndash UEL
IVAIPORAtilde - PR
2010
2
Ficha catalograacutefica Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica Professor PDE2010
Tiacutetulo Outras Memoacuterias e Outras Histoacuterias dos Negros no Brasil
Autor Sigelinda Maria Zanoni de Andrade
Escola de Atuaccedilatildeo Coleacutegio Estadual Barbosa Ferraz - Ensino Meacutedio Normal e Profissional
Municiacutepio da escola Ivaiporatilde-PR
Nuacutecleo Regional de Educaccedilatildeo Ivaiporatilde-PR
Orientador Dra Claacuteudia Prado Fortuna
Instituiccedilatildeo de Ensino Superior Universidade Estadual de Londrina ndash UEL
Aacuterea do Conhecimento Histoacuteria
Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica Unidade Didaacutetica
Relaccedilatildeo Interdisciplinar Histoacuteria Portuguecircs Metodologia do Ensino de Histoacuteria
Puacuteblico Alvo Alunos da 1ordm seacuterie A de Formaccedilatildeo de Docente
Localizaccedilatildeo C E Barbosa Ferraz E M Normal e Profissional ndash Rua Rio Grande do Sul 1220 Centro Ivaiporatilde-Pr
Apresentaccedilatildeo O presente trabalho busca informar a respeito da Lei nordm 1063903 que inclui no curriacuteculo oficial da rede de Ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo aleacutem de colaborar para o combate do racismo que infelizmente existe no nosso contexto social e escolar Discutir sobre a persistecircncia em nosso paiacutes de um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e valoriza principalmente as raiacutezes europeias da cultura ignorando ou pouco valorizando as outras culturas que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica Conhecer que o preconceito foi construiacutedo historicamente e com isto contribuir para que os grupos eacutetnicos brasileiros possam exercer de forma plena sua cidadania e lutar contra o racismo e as discriminaccedilotildees na construccedilatildeo de uma sociedade brasileira mais justa e democraacutetica Destacar que ainda persiste nos livros didaacuteticos um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia as raiacutezes europeias da cultura Constatar que a convivecircncia entre padrotildees da cultura africana e cultura branca europeia natildeo tem sido suficiente para eliminar ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais
Palavras-chave (3 a 5 palavras) Lei 106392003 sujeitos negros outras memoacuterias
3
OUTRAS MEMOacuteRIAS E OUTRAS HISTOacuteRIAS DOS NEGROS NO BRASIL
4
SUMAacuteRIO
OBJETIVOS 5 I - TEMA A Lei 1063903 6 II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE 8 III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL 11 IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA 13 V - TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL 14 1 HENRIQUE DIAS 14 2 ZUMBI 16 3 ADELINA A CHARUTEIRA 17 4 LUIZ GAMA 18 5 LINO GUEDES 18 6 CAROLINA MARIA DE JESUS 19 7 SOLANO TRINDADE 20 8 CAcircNDIDO DA FONSECA GALVAtildeO (DOM OBAacute) 21 REFEREcircNCIAS 23
5
OBJETIVOS
- Informar a respeito da Lei nordm 1063903 que inclui no curriacuteculo oficial da rede de
Ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo aleacutem de
colaborar para o combate do racismo que infelizmente existe no nosso contexto
social e escolar
- Discutir sobre a persistecircncia em nosso paiacutes de um imaginaacuterio eacutetnico-racial que
privilegia a brancura e valoriza principalmente as raiacutezes europeias da cultura
ignorando ou pouco valorizando as outras culturas que satildeo a indiacutegena a africana e
a asiaacutetica
- Conhecer que o preconceito foi construiacutedo historicamente e com isto contribuir para
que os grupos eacutetnicos brasileiros possam exercer de forma plena sua cidadania e
lutar contra o racismo e as discriminaccedilotildees na construccedilatildeo de uma sociedade
brasileira mais justa e democraacutetica
- Destacar que ainda persiste nos livros didaacuteticos um imaginaacuterio eacutetnico-racial que
privilegia as raiacutezes europeias da cultura Constatar que a convivecircncia entre padrotildees
da cultura africana e cultura branca europeia natildeo tem sido suficiente para eliminar
ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais
OBJETIVOS
6
I - TEMA A Lei 1063903
Considerando a discriminaccedilatildeo racial ainda existente no Brasil faz-se
necessaacuterio e urgente repensar como os sujeitos negros da histoacuteria afro-brasileira e
africana satildeo tratados pelos curriacuteculos escolares Sabemos por exemplo que satildeo
muitos os personagens negros da histoacuteria de nosso paiacutes que tiveram papel de
destaque na construccedilatildeo da histoacuteria do Brasil e que nunca foram citados ou mesmo
retratados como negros Isso ocorre porque a histoacuteria e a literatura brasileira assim
como outras manifestaccedilotildees culturais estiveram ligadas agrave elite dominante que
durante muito tempo resistiu a conceder um lugar de fato e de direito as
comunidades negras
Na busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma
sociedade democraacutetica e igualitaacuteria o Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da
Silva promulgou a Lei 1063903 (alterada pela Lei 1164508) que estabelece as
Diretrizes e Base da Educaccedilatildeo Nacional e obriga a incluir no curriacuteculo oficial da
I - TEMA A Lei 1063903
QUAIS SAtildeO OS SUJEITOS NEGROS DA HISTOacuteRIA DO BRASIL QUE VOCEcirc CONHECE PROCURE RELEMBRAR DAS SUAS AULAS DE HISTOacuteRIA ATEacute AGORA E DEPOIS ESCREVA UM PEQUENO TEXTO SOBRE QUE HISTOacuteRIA DOS NEGROS FOI ENSINADA A VOCEcirc DEPOIS FACcedilA UMA PEQUENA ANAacuteLISE SOBRE ISTO
Vocecirc sabia Que a lei 1063903 tambeacutem acrescenta que o dia 20 de novembro (considerado dia da morte de Zumbi) deveraacute ser incluiacutedo no calendaacuterio escolar como dia nacional da consciecircncia negra tal como jaacute eacute comemorado pelo movimento negro e por alguns setores da sociedade
7
Rede de Ensino a temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira Essa lei trouxe a
necessidade de construirmos atraveacutes da pesquisa outras histoacuterias e outras
memoacuterias jaacute que uma grande parte da histoacuteria da cultura afro-brasileira foi omitida
dos livros escolares Diante disso fica a questatildeo por que foram negados os feitos
dos sujeitos negros na construccedilatildeo da nossa histoacuteria
A Lei 1063903 define que o Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das instituiccedilotildees
de ensino deveraacute conter em todas as disciplinas conteuacutedos relativos agrave Histoacuteria e a
Cultura Afro-brasileira e Africana na perspectiva de proporcionar aos alunos uma
educaccedilatildeo compatiacutevel com uma sociedade democraacutetica multicultural e plurieacutetnica
Os conteuacutedos sobre Histoacuteria da Aacutefrica e afro-brasileira devem fazer
abordagens positivas sempre na perspectiva de contribuir para que o aluno afro -
descendente mire-se positivamente na histoacuteria que eacute ensinada nas escolas Assim a
busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma sociedade mais
democraacutetica e igualitaacuteria eacute responsabilidade de todos noacutes Dentro desse contexto
vale transcrever o ensinamento de Franz Fanon
Os descendentes dos mercadores de escravos dos senhores de ontem natildeo tem hoje de assumir culpa pelas desumanidades provocadas pelos seus antepassados No entanto tecircm eles a responsabilidade moral e poliacutetica de combater o racismo as discriminaccedilotildees e juntamente com os que vecircm sendo mantidos agrave margem os negros construir relaccedilotildees raciais sadias em que todas cresccedilam e se realizem enquanto seres humanos e cidadatildeos (Franz Fanon-1968)
IREMOS ASSISTIR HOJE Agrave PALESTRA DE UM ADVOGADO SOBRE A LEI 1063903 QUE OBRIGA A INCLUSAtildeO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PUacuteBLICO E PRIVADO EM TODO O PAIacuteS ELABORE UM ROTEIRO DE PERGUNTAS E FACcedilA O REGISTRO DO QUE FOI EXPLICADO
8
II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE
Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econocircmica Aplicadas os negros
e pardos representam 452 da populaccedilatildeo brasileira aproximadamente 73 milhotildees
de pessoas (Rocha 2006 p 13) no entanto a convivecircncia entre padrotildees da cultura
Africana e da cultura branca europeacuteia natildeo tem sido suficiente para eliminar
ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais Segundo Ana Luacutecia Lopes (2006)
ainda persiste em nosso paiacutes um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e
valoriza principalmente as raiacutezes europeacuteias da sua cultura ignorando ou pouco
valorizando as outras que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica No final do seacuteculo
XIX o grande desafio era tornar o Brasil uma naccedilatildeo moderna Com a escravidatildeo
abolida com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o caminho estava aberto para a
modernidade Como uma naccedilatildeo com tantos negros poderia ser uma naccedilatildeo
moderna A soluccedilatildeo era o embranquecimento do povo brasileiro
II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO
HISTORICAMENTE
Afro-brasileiro Adjetivo usado para referir-se agrave parcela significativa da populaccedilatildeo brasileira com ascendecircncia parcial ou totalmente africana O termo tem patrocinado uma calorosa discussatildeo sobre quem representa efetivamente esse segmento populacional no Brasil Principalmente depois dos posicionamentos oficiais em relaccedilatildeo agrave reserva de vagas pelo sistema de cotas para
negros na universidade
FACcedilA A LEITURA DAS DIRETRIZES PARA O ENSINO DA HISTOacuteRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO - BRASILEIRA E ELABORE EM GRUPO UM CARTAZ ONDE APARECcedilA O QUE VOCEcircS CONSIDERARAM DE MAIS SIGNIFICATIVO NESTE DOCUMENTO
9
O desejo de construir uma sociedade
brasileira nos moldes das sociedades brancas
europeacuteias levou a valorizaccedilatildeo da raccedila branca na
construccedilatildeo da identidade brasileira deixando para
segundo plano a participaccedilatildeo dos africanos e
indiacutegenas nesta construccedilatildeo Portanto podemos dizer
que a negaccedilatildeo da histoacuteria social desses povos foi
tambeacutem uma medida de dominaccedilatildeo e de controle social
e poliacutetico de um grupo sobre os demais (Lima 2004)
O preconceito estaacute ligado diretamente ao nosso passado no qual os
negros eram considerados seres inferiores incapazes de construiacuterem civilizaccedilotildees
(Souza 2008 p 140) Com base nos estudos darwinianos pensadores como o
francecircs Joseph-Auguste de Gobineau o alematildeo Richard Wagner e o inglecircs Houston
Steward Chamberlain desenvolveram a tese segundo a qual alguns grupos
humanos teriam herdado certas caracteriacutesticas que os tornavam superiores e os
autorizavam a comandar e explorar outros povos e outros considerados fracos por
terem herdado caracteriacutesticas que os tornavam naturalmente inferiores e
predestinados a serem comandados (Bento 2005 p 25) Diante disso as
caracteriacutesticas fiacutesicas passaram a distinguir os seres humanos e estabelecer
diferenccedilas intelectuais e morais entre eles Surge entatildeo a foacutermula baacutesica do
racismo o negro seria inferior preguiccediloso indolente caprichoso sensual incapaz
de raciocinar e o branco empreendedor disciplinado inteligentes enfim qualidades
que justificariam a exploraccedilatildeo deste sobre aquele
Assim com base nessas ideias de superioridade racial do branco foi
estabelecida no Brasil a poliacutetica do branqueamento A propoacutesito o trecho do livro
Cidadania em Preto e Banco obra de Maria Aparecida Silva Bento nos diz
Intelectuais meacutedicos advogados poliacuteticos brasileiros se entusiasmam com a ideia de que a raccedila branca era superior As teorias raciais trouxeram consigo um problema seacuterio para o Brasil A elite brasileira desejava apresentar o Brasil como um paiacutes branco igualzinho agrave Europa Mas como explicar que de fato o Brasil era um paiacutes majoritariamente negro (nesta eacutepoca 1872 o censo indicava que 55 da populaccedilatildeo era negra) que se enriqueceu com o trabalho escravo (BENTO 2005 p 29)
Estereoacutetipo eacute a
imagem preconcebida de determinada pessoa coisa ou
situaccedilatildeo
10
Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores
ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades
A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS
CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA
11
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos
problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas
Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da
existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de
violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da
educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )
Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989
ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
12
crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural
da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da
democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute
passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra
barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro
assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os
professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo
e desenvolvimento da nossa sociedade
O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a
economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do
Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura
Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na
histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para
a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no
estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado
Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro
na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa
sociedade
VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA
13
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute
como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa
foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia
amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da
harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser
qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a
ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos
brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia
discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto
natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo
sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso
racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a
norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa
visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do
povo brasileiro
Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser
quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no
meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre
encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)
Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo
racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na
academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada
vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser
enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio
conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas
histoacuterias
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
14
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das
reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes
Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras
que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira
1 HENRIQUE DIAS
Mas afinal quem foi Henrique Dias
Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e
provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na
guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que
ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao
longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil
se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem
COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
1 HENRIQUE DIAS
15
pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria
Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma
contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do
historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais
motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que
era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade
de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava
proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa
de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e
contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco
A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros
negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a
eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por
negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que
se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais
uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao
impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por
outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e
possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na
sociedade
Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos
Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado
pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de
1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos
de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um
longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por
volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a
Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O
rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo
prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros
empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho
Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo
despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo
autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa
16
Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo
prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo
de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do
proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV
veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades
por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando
definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo
Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito
Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8
de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo
Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido
ZUMBI
Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia
Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem
africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares
foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o
batizou com o nome de Francisco
Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se
tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia
pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas
armadas de Palmares
Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que
atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e
Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio
Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi
castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife
2 ZUMBI
17
1 ADELINA A CHARUTEIRA
Mas afinal quem foi Adelina a charuteira
No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX
tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como
Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e
assim eacute a sua histoacuteria
Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)
O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de
relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em
circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois
possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e
articulassem fugas de escravos
ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das
mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)
3 ADELINA A
CHARUTEIRA
18
4 LUIZ GAMA
Mas afinal quem foi Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu
no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs
boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin
Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo
proacuteprio pai para pagar dividas de jogo
Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo
senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de
sua condiccedilatildeo de negro liberto
Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento
coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais
eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que
desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara
Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata
algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em
legiacutetima defesardquo
Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)
5 LINO GUEDES
Afinal quem foi Lino Guedes
Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao
racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente
de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que
para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem
o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras
4 LUIZ GAMA
5 LINO GUEDES
19
levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu
em Satildeo Paulo em 1951
6 CAROLINA MARIA DE JESUS
Afinal quem foi Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais
em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo
Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa
cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de
trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua
morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos
Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher
brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo
Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela
leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e
escrever
Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha
da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela
feito por Carolina
Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a
favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece
Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro
livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os
abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela
6 CAROLINA MARIA
DE JESUS
20
7 SOLANO TRINDADE
Afinal quem foi Solano Trindade
Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia
contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar
um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras
elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o
racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974
Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a
escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e
folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife
capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira
Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de
Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever
Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua
carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930
quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente
participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em
1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que
tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros
Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande
do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de
Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro
do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo
seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o
Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com
jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso
Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o
seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc
Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e
Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de
7 SOLANO TRINDADE
21
cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular
Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o
folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB
onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em
1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano
Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974
Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de
2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes
adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes
no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo
incontestavelmente atuais
Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma
Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)
5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)
Afinal quem era Dom Obaacute
Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na
cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e
considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute
significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo
Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao
qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em
elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute
escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais
de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-
199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro
do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava
reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora
dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de
alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de
8 CAcircNDIDO DA FONSECA
GALVAtildeO (DOM OBAacute)
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
2
Ficha catalograacutefica Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica Professor PDE2010
Tiacutetulo Outras Memoacuterias e Outras Histoacuterias dos Negros no Brasil
Autor Sigelinda Maria Zanoni de Andrade
Escola de Atuaccedilatildeo Coleacutegio Estadual Barbosa Ferraz - Ensino Meacutedio Normal e Profissional
Municiacutepio da escola Ivaiporatilde-PR
Nuacutecleo Regional de Educaccedilatildeo Ivaiporatilde-PR
Orientador Dra Claacuteudia Prado Fortuna
Instituiccedilatildeo de Ensino Superior Universidade Estadual de Londrina ndash UEL
Aacuterea do Conhecimento Histoacuteria
Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica Unidade Didaacutetica
Relaccedilatildeo Interdisciplinar Histoacuteria Portuguecircs Metodologia do Ensino de Histoacuteria
Puacuteblico Alvo Alunos da 1ordm seacuterie A de Formaccedilatildeo de Docente
Localizaccedilatildeo C E Barbosa Ferraz E M Normal e Profissional ndash Rua Rio Grande do Sul 1220 Centro Ivaiporatilde-Pr
Apresentaccedilatildeo O presente trabalho busca informar a respeito da Lei nordm 1063903 que inclui no curriacuteculo oficial da rede de Ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo aleacutem de colaborar para o combate do racismo que infelizmente existe no nosso contexto social e escolar Discutir sobre a persistecircncia em nosso paiacutes de um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e valoriza principalmente as raiacutezes europeias da cultura ignorando ou pouco valorizando as outras culturas que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica Conhecer que o preconceito foi construiacutedo historicamente e com isto contribuir para que os grupos eacutetnicos brasileiros possam exercer de forma plena sua cidadania e lutar contra o racismo e as discriminaccedilotildees na construccedilatildeo de uma sociedade brasileira mais justa e democraacutetica Destacar que ainda persiste nos livros didaacuteticos um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia as raiacutezes europeias da cultura Constatar que a convivecircncia entre padrotildees da cultura africana e cultura branca europeia natildeo tem sido suficiente para eliminar ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais
Palavras-chave (3 a 5 palavras) Lei 106392003 sujeitos negros outras memoacuterias
3
OUTRAS MEMOacuteRIAS E OUTRAS HISTOacuteRIAS DOS NEGROS NO BRASIL
4
SUMAacuteRIO
OBJETIVOS 5 I - TEMA A Lei 1063903 6 II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE 8 III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL 11 IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA 13 V - TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL 14 1 HENRIQUE DIAS 14 2 ZUMBI 16 3 ADELINA A CHARUTEIRA 17 4 LUIZ GAMA 18 5 LINO GUEDES 18 6 CAROLINA MARIA DE JESUS 19 7 SOLANO TRINDADE 20 8 CAcircNDIDO DA FONSECA GALVAtildeO (DOM OBAacute) 21 REFEREcircNCIAS 23
5
OBJETIVOS
- Informar a respeito da Lei nordm 1063903 que inclui no curriacuteculo oficial da rede de
Ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo aleacutem de
colaborar para o combate do racismo que infelizmente existe no nosso contexto
social e escolar
- Discutir sobre a persistecircncia em nosso paiacutes de um imaginaacuterio eacutetnico-racial que
privilegia a brancura e valoriza principalmente as raiacutezes europeias da cultura
ignorando ou pouco valorizando as outras culturas que satildeo a indiacutegena a africana e
a asiaacutetica
- Conhecer que o preconceito foi construiacutedo historicamente e com isto contribuir para
que os grupos eacutetnicos brasileiros possam exercer de forma plena sua cidadania e
lutar contra o racismo e as discriminaccedilotildees na construccedilatildeo de uma sociedade
brasileira mais justa e democraacutetica
- Destacar que ainda persiste nos livros didaacuteticos um imaginaacuterio eacutetnico-racial que
privilegia as raiacutezes europeias da cultura Constatar que a convivecircncia entre padrotildees
da cultura africana e cultura branca europeia natildeo tem sido suficiente para eliminar
ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais
OBJETIVOS
6
I - TEMA A Lei 1063903
Considerando a discriminaccedilatildeo racial ainda existente no Brasil faz-se
necessaacuterio e urgente repensar como os sujeitos negros da histoacuteria afro-brasileira e
africana satildeo tratados pelos curriacuteculos escolares Sabemos por exemplo que satildeo
muitos os personagens negros da histoacuteria de nosso paiacutes que tiveram papel de
destaque na construccedilatildeo da histoacuteria do Brasil e que nunca foram citados ou mesmo
retratados como negros Isso ocorre porque a histoacuteria e a literatura brasileira assim
como outras manifestaccedilotildees culturais estiveram ligadas agrave elite dominante que
durante muito tempo resistiu a conceder um lugar de fato e de direito as
comunidades negras
Na busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma
sociedade democraacutetica e igualitaacuteria o Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da
Silva promulgou a Lei 1063903 (alterada pela Lei 1164508) que estabelece as
Diretrizes e Base da Educaccedilatildeo Nacional e obriga a incluir no curriacuteculo oficial da
I - TEMA A Lei 1063903
QUAIS SAtildeO OS SUJEITOS NEGROS DA HISTOacuteRIA DO BRASIL QUE VOCEcirc CONHECE PROCURE RELEMBRAR DAS SUAS AULAS DE HISTOacuteRIA ATEacute AGORA E DEPOIS ESCREVA UM PEQUENO TEXTO SOBRE QUE HISTOacuteRIA DOS NEGROS FOI ENSINADA A VOCEcirc DEPOIS FACcedilA UMA PEQUENA ANAacuteLISE SOBRE ISTO
Vocecirc sabia Que a lei 1063903 tambeacutem acrescenta que o dia 20 de novembro (considerado dia da morte de Zumbi) deveraacute ser incluiacutedo no calendaacuterio escolar como dia nacional da consciecircncia negra tal como jaacute eacute comemorado pelo movimento negro e por alguns setores da sociedade
7
Rede de Ensino a temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira Essa lei trouxe a
necessidade de construirmos atraveacutes da pesquisa outras histoacuterias e outras
memoacuterias jaacute que uma grande parte da histoacuteria da cultura afro-brasileira foi omitida
dos livros escolares Diante disso fica a questatildeo por que foram negados os feitos
dos sujeitos negros na construccedilatildeo da nossa histoacuteria
A Lei 1063903 define que o Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das instituiccedilotildees
de ensino deveraacute conter em todas as disciplinas conteuacutedos relativos agrave Histoacuteria e a
Cultura Afro-brasileira e Africana na perspectiva de proporcionar aos alunos uma
educaccedilatildeo compatiacutevel com uma sociedade democraacutetica multicultural e plurieacutetnica
Os conteuacutedos sobre Histoacuteria da Aacutefrica e afro-brasileira devem fazer
abordagens positivas sempre na perspectiva de contribuir para que o aluno afro -
descendente mire-se positivamente na histoacuteria que eacute ensinada nas escolas Assim a
busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma sociedade mais
democraacutetica e igualitaacuteria eacute responsabilidade de todos noacutes Dentro desse contexto
vale transcrever o ensinamento de Franz Fanon
Os descendentes dos mercadores de escravos dos senhores de ontem natildeo tem hoje de assumir culpa pelas desumanidades provocadas pelos seus antepassados No entanto tecircm eles a responsabilidade moral e poliacutetica de combater o racismo as discriminaccedilotildees e juntamente com os que vecircm sendo mantidos agrave margem os negros construir relaccedilotildees raciais sadias em que todas cresccedilam e se realizem enquanto seres humanos e cidadatildeos (Franz Fanon-1968)
IREMOS ASSISTIR HOJE Agrave PALESTRA DE UM ADVOGADO SOBRE A LEI 1063903 QUE OBRIGA A INCLUSAtildeO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PUacuteBLICO E PRIVADO EM TODO O PAIacuteS ELABORE UM ROTEIRO DE PERGUNTAS E FACcedilA O REGISTRO DO QUE FOI EXPLICADO
8
II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE
Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econocircmica Aplicadas os negros
e pardos representam 452 da populaccedilatildeo brasileira aproximadamente 73 milhotildees
de pessoas (Rocha 2006 p 13) no entanto a convivecircncia entre padrotildees da cultura
Africana e da cultura branca europeacuteia natildeo tem sido suficiente para eliminar
ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais Segundo Ana Luacutecia Lopes (2006)
ainda persiste em nosso paiacutes um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e
valoriza principalmente as raiacutezes europeacuteias da sua cultura ignorando ou pouco
valorizando as outras que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica No final do seacuteculo
XIX o grande desafio era tornar o Brasil uma naccedilatildeo moderna Com a escravidatildeo
abolida com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o caminho estava aberto para a
modernidade Como uma naccedilatildeo com tantos negros poderia ser uma naccedilatildeo
moderna A soluccedilatildeo era o embranquecimento do povo brasileiro
II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO
HISTORICAMENTE
Afro-brasileiro Adjetivo usado para referir-se agrave parcela significativa da populaccedilatildeo brasileira com ascendecircncia parcial ou totalmente africana O termo tem patrocinado uma calorosa discussatildeo sobre quem representa efetivamente esse segmento populacional no Brasil Principalmente depois dos posicionamentos oficiais em relaccedilatildeo agrave reserva de vagas pelo sistema de cotas para
negros na universidade
FACcedilA A LEITURA DAS DIRETRIZES PARA O ENSINO DA HISTOacuteRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO - BRASILEIRA E ELABORE EM GRUPO UM CARTAZ ONDE APARECcedilA O QUE VOCEcircS CONSIDERARAM DE MAIS SIGNIFICATIVO NESTE DOCUMENTO
9
O desejo de construir uma sociedade
brasileira nos moldes das sociedades brancas
europeacuteias levou a valorizaccedilatildeo da raccedila branca na
construccedilatildeo da identidade brasileira deixando para
segundo plano a participaccedilatildeo dos africanos e
indiacutegenas nesta construccedilatildeo Portanto podemos dizer
que a negaccedilatildeo da histoacuteria social desses povos foi
tambeacutem uma medida de dominaccedilatildeo e de controle social
e poliacutetico de um grupo sobre os demais (Lima 2004)
O preconceito estaacute ligado diretamente ao nosso passado no qual os
negros eram considerados seres inferiores incapazes de construiacuterem civilizaccedilotildees
(Souza 2008 p 140) Com base nos estudos darwinianos pensadores como o
francecircs Joseph-Auguste de Gobineau o alematildeo Richard Wagner e o inglecircs Houston
Steward Chamberlain desenvolveram a tese segundo a qual alguns grupos
humanos teriam herdado certas caracteriacutesticas que os tornavam superiores e os
autorizavam a comandar e explorar outros povos e outros considerados fracos por
terem herdado caracteriacutesticas que os tornavam naturalmente inferiores e
predestinados a serem comandados (Bento 2005 p 25) Diante disso as
caracteriacutesticas fiacutesicas passaram a distinguir os seres humanos e estabelecer
diferenccedilas intelectuais e morais entre eles Surge entatildeo a foacutermula baacutesica do
racismo o negro seria inferior preguiccediloso indolente caprichoso sensual incapaz
de raciocinar e o branco empreendedor disciplinado inteligentes enfim qualidades
que justificariam a exploraccedilatildeo deste sobre aquele
Assim com base nessas ideias de superioridade racial do branco foi
estabelecida no Brasil a poliacutetica do branqueamento A propoacutesito o trecho do livro
Cidadania em Preto e Banco obra de Maria Aparecida Silva Bento nos diz
Intelectuais meacutedicos advogados poliacuteticos brasileiros se entusiasmam com a ideia de que a raccedila branca era superior As teorias raciais trouxeram consigo um problema seacuterio para o Brasil A elite brasileira desejava apresentar o Brasil como um paiacutes branco igualzinho agrave Europa Mas como explicar que de fato o Brasil era um paiacutes majoritariamente negro (nesta eacutepoca 1872 o censo indicava que 55 da populaccedilatildeo era negra) que se enriqueceu com o trabalho escravo (BENTO 2005 p 29)
Estereoacutetipo eacute a
imagem preconcebida de determinada pessoa coisa ou
situaccedilatildeo
10
Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores
ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades
A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS
CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA
11
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos
problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas
Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da
existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de
violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da
educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )
Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989
ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
12
crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural
da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da
democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute
passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra
barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro
assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os
professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo
e desenvolvimento da nossa sociedade
O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a
economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do
Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura
Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na
histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para
a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no
estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado
Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro
na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa
sociedade
VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA
13
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute
como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa
foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia
amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da
harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser
qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a
ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos
brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia
discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto
natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo
sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso
racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a
norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa
visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do
povo brasileiro
Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser
quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no
meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre
encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)
Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo
racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na
academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada
vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser
enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio
conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas
histoacuterias
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
14
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das
reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes
Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras
que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira
1 HENRIQUE DIAS
Mas afinal quem foi Henrique Dias
Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e
provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na
guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que
ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao
longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil
se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem
COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
1 HENRIQUE DIAS
15
pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria
Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma
contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do
historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais
motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que
era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade
de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava
proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa
de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e
contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco
A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros
negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a
eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por
negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que
se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais
uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao
impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por
outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e
possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na
sociedade
Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos
Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado
pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de
1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos
de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um
longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por
volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a
Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O
rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo
prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros
empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho
Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo
despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo
autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa
16
Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo
prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo
de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do
proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV
veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades
por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando
definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo
Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito
Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8
de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo
Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido
ZUMBI
Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia
Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem
africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares
foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o
batizou com o nome de Francisco
Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se
tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia
pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas
armadas de Palmares
Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que
atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e
Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio
Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi
castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife
2 ZUMBI
17
1 ADELINA A CHARUTEIRA
Mas afinal quem foi Adelina a charuteira
No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX
tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como
Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e
assim eacute a sua histoacuteria
Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)
O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de
relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em
circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois
possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e
articulassem fugas de escravos
ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das
mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)
3 ADELINA A
CHARUTEIRA
18
4 LUIZ GAMA
Mas afinal quem foi Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu
no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs
boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin
Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo
proacuteprio pai para pagar dividas de jogo
Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo
senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de
sua condiccedilatildeo de negro liberto
Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento
coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais
eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que
desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara
Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata
algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em
legiacutetima defesardquo
Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)
5 LINO GUEDES
Afinal quem foi Lino Guedes
Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao
racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente
de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que
para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem
o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras
4 LUIZ GAMA
5 LINO GUEDES
19
levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu
em Satildeo Paulo em 1951
6 CAROLINA MARIA DE JESUS
Afinal quem foi Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais
em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo
Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa
cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de
trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua
morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos
Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher
brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo
Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela
leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e
escrever
Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha
da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela
feito por Carolina
Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a
favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece
Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro
livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os
abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela
6 CAROLINA MARIA
DE JESUS
20
7 SOLANO TRINDADE
Afinal quem foi Solano Trindade
Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia
contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar
um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras
elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o
racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974
Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a
escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e
folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife
capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira
Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de
Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever
Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua
carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930
quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente
participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em
1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que
tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros
Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande
do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de
Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro
do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo
seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o
Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com
jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso
Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o
seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc
Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e
Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de
7 SOLANO TRINDADE
21
cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular
Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o
folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB
onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em
1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano
Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974
Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de
2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes
adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes
no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo
incontestavelmente atuais
Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma
Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)
5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)
Afinal quem era Dom Obaacute
Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na
cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e
considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute
significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo
Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao
qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em
elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute
escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais
de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-
199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro
do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava
reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora
dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de
alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de
8 CAcircNDIDO DA FONSECA
GALVAtildeO (DOM OBAacute)
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
3
OUTRAS MEMOacuteRIAS E OUTRAS HISTOacuteRIAS DOS NEGROS NO BRASIL
4
SUMAacuteRIO
OBJETIVOS 5 I - TEMA A Lei 1063903 6 II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE 8 III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL 11 IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA 13 V - TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL 14 1 HENRIQUE DIAS 14 2 ZUMBI 16 3 ADELINA A CHARUTEIRA 17 4 LUIZ GAMA 18 5 LINO GUEDES 18 6 CAROLINA MARIA DE JESUS 19 7 SOLANO TRINDADE 20 8 CAcircNDIDO DA FONSECA GALVAtildeO (DOM OBAacute) 21 REFEREcircNCIAS 23
5
OBJETIVOS
- Informar a respeito da Lei nordm 1063903 que inclui no curriacuteculo oficial da rede de
Ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo aleacutem de
colaborar para o combate do racismo que infelizmente existe no nosso contexto
social e escolar
- Discutir sobre a persistecircncia em nosso paiacutes de um imaginaacuterio eacutetnico-racial que
privilegia a brancura e valoriza principalmente as raiacutezes europeias da cultura
ignorando ou pouco valorizando as outras culturas que satildeo a indiacutegena a africana e
a asiaacutetica
- Conhecer que o preconceito foi construiacutedo historicamente e com isto contribuir para
que os grupos eacutetnicos brasileiros possam exercer de forma plena sua cidadania e
lutar contra o racismo e as discriminaccedilotildees na construccedilatildeo de uma sociedade
brasileira mais justa e democraacutetica
- Destacar que ainda persiste nos livros didaacuteticos um imaginaacuterio eacutetnico-racial que
privilegia as raiacutezes europeias da cultura Constatar que a convivecircncia entre padrotildees
da cultura africana e cultura branca europeia natildeo tem sido suficiente para eliminar
ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais
OBJETIVOS
6
I - TEMA A Lei 1063903
Considerando a discriminaccedilatildeo racial ainda existente no Brasil faz-se
necessaacuterio e urgente repensar como os sujeitos negros da histoacuteria afro-brasileira e
africana satildeo tratados pelos curriacuteculos escolares Sabemos por exemplo que satildeo
muitos os personagens negros da histoacuteria de nosso paiacutes que tiveram papel de
destaque na construccedilatildeo da histoacuteria do Brasil e que nunca foram citados ou mesmo
retratados como negros Isso ocorre porque a histoacuteria e a literatura brasileira assim
como outras manifestaccedilotildees culturais estiveram ligadas agrave elite dominante que
durante muito tempo resistiu a conceder um lugar de fato e de direito as
comunidades negras
Na busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma
sociedade democraacutetica e igualitaacuteria o Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da
Silva promulgou a Lei 1063903 (alterada pela Lei 1164508) que estabelece as
Diretrizes e Base da Educaccedilatildeo Nacional e obriga a incluir no curriacuteculo oficial da
I - TEMA A Lei 1063903
QUAIS SAtildeO OS SUJEITOS NEGROS DA HISTOacuteRIA DO BRASIL QUE VOCEcirc CONHECE PROCURE RELEMBRAR DAS SUAS AULAS DE HISTOacuteRIA ATEacute AGORA E DEPOIS ESCREVA UM PEQUENO TEXTO SOBRE QUE HISTOacuteRIA DOS NEGROS FOI ENSINADA A VOCEcirc DEPOIS FACcedilA UMA PEQUENA ANAacuteLISE SOBRE ISTO
Vocecirc sabia Que a lei 1063903 tambeacutem acrescenta que o dia 20 de novembro (considerado dia da morte de Zumbi) deveraacute ser incluiacutedo no calendaacuterio escolar como dia nacional da consciecircncia negra tal como jaacute eacute comemorado pelo movimento negro e por alguns setores da sociedade
7
Rede de Ensino a temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira Essa lei trouxe a
necessidade de construirmos atraveacutes da pesquisa outras histoacuterias e outras
memoacuterias jaacute que uma grande parte da histoacuteria da cultura afro-brasileira foi omitida
dos livros escolares Diante disso fica a questatildeo por que foram negados os feitos
dos sujeitos negros na construccedilatildeo da nossa histoacuteria
A Lei 1063903 define que o Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das instituiccedilotildees
de ensino deveraacute conter em todas as disciplinas conteuacutedos relativos agrave Histoacuteria e a
Cultura Afro-brasileira e Africana na perspectiva de proporcionar aos alunos uma
educaccedilatildeo compatiacutevel com uma sociedade democraacutetica multicultural e plurieacutetnica
Os conteuacutedos sobre Histoacuteria da Aacutefrica e afro-brasileira devem fazer
abordagens positivas sempre na perspectiva de contribuir para que o aluno afro -
descendente mire-se positivamente na histoacuteria que eacute ensinada nas escolas Assim a
busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma sociedade mais
democraacutetica e igualitaacuteria eacute responsabilidade de todos noacutes Dentro desse contexto
vale transcrever o ensinamento de Franz Fanon
Os descendentes dos mercadores de escravos dos senhores de ontem natildeo tem hoje de assumir culpa pelas desumanidades provocadas pelos seus antepassados No entanto tecircm eles a responsabilidade moral e poliacutetica de combater o racismo as discriminaccedilotildees e juntamente com os que vecircm sendo mantidos agrave margem os negros construir relaccedilotildees raciais sadias em que todas cresccedilam e se realizem enquanto seres humanos e cidadatildeos (Franz Fanon-1968)
IREMOS ASSISTIR HOJE Agrave PALESTRA DE UM ADVOGADO SOBRE A LEI 1063903 QUE OBRIGA A INCLUSAtildeO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PUacuteBLICO E PRIVADO EM TODO O PAIacuteS ELABORE UM ROTEIRO DE PERGUNTAS E FACcedilA O REGISTRO DO QUE FOI EXPLICADO
8
II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE
Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econocircmica Aplicadas os negros
e pardos representam 452 da populaccedilatildeo brasileira aproximadamente 73 milhotildees
de pessoas (Rocha 2006 p 13) no entanto a convivecircncia entre padrotildees da cultura
Africana e da cultura branca europeacuteia natildeo tem sido suficiente para eliminar
ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais Segundo Ana Luacutecia Lopes (2006)
ainda persiste em nosso paiacutes um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e
valoriza principalmente as raiacutezes europeacuteias da sua cultura ignorando ou pouco
valorizando as outras que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica No final do seacuteculo
XIX o grande desafio era tornar o Brasil uma naccedilatildeo moderna Com a escravidatildeo
abolida com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o caminho estava aberto para a
modernidade Como uma naccedilatildeo com tantos negros poderia ser uma naccedilatildeo
moderna A soluccedilatildeo era o embranquecimento do povo brasileiro
II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO
HISTORICAMENTE
Afro-brasileiro Adjetivo usado para referir-se agrave parcela significativa da populaccedilatildeo brasileira com ascendecircncia parcial ou totalmente africana O termo tem patrocinado uma calorosa discussatildeo sobre quem representa efetivamente esse segmento populacional no Brasil Principalmente depois dos posicionamentos oficiais em relaccedilatildeo agrave reserva de vagas pelo sistema de cotas para
negros na universidade
FACcedilA A LEITURA DAS DIRETRIZES PARA O ENSINO DA HISTOacuteRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO - BRASILEIRA E ELABORE EM GRUPO UM CARTAZ ONDE APARECcedilA O QUE VOCEcircS CONSIDERARAM DE MAIS SIGNIFICATIVO NESTE DOCUMENTO
9
O desejo de construir uma sociedade
brasileira nos moldes das sociedades brancas
europeacuteias levou a valorizaccedilatildeo da raccedila branca na
construccedilatildeo da identidade brasileira deixando para
segundo plano a participaccedilatildeo dos africanos e
indiacutegenas nesta construccedilatildeo Portanto podemos dizer
que a negaccedilatildeo da histoacuteria social desses povos foi
tambeacutem uma medida de dominaccedilatildeo e de controle social
e poliacutetico de um grupo sobre os demais (Lima 2004)
O preconceito estaacute ligado diretamente ao nosso passado no qual os
negros eram considerados seres inferiores incapazes de construiacuterem civilizaccedilotildees
(Souza 2008 p 140) Com base nos estudos darwinianos pensadores como o
francecircs Joseph-Auguste de Gobineau o alematildeo Richard Wagner e o inglecircs Houston
Steward Chamberlain desenvolveram a tese segundo a qual alguns grupos
humanos teriam herdado certas caracteriacutesticas que os tornavam superiores e os
autorizavam a comandar e explorar outros povos e outros considerados fracos por
terem herdado caracteriacutesticas que os tornavam naturalmente inferiores e
predestinados a serem comandados (Bento 2005 p 25) Diante disso as
caracteriacutesticas fiacutesicas passaram a distinguir os seres humanos e estabelecer
diferenccedilas intelectuais e morais entre eles Surge entatildeo a foacutermula baacutesica do
racismo o negro seria inferior preguiccediloso indolente caprichoso sensual incapaz
de raciocinar e o branco empreendedor disciplinado inteligentes enfim qualidades
que justificariam a exploraccedilatildeo deste sobre aquele
Assim com base nessas ideias de superioridade racial do branco foi
estabelecida no Brasil a poliacutetica do branqueamento A propoacutesito o trecho do livro
Cidadania em Preto e Banco obra de Maria Aparecida Silva Bento nos diz
Intelectuais meacutedicos advogados poliacuteticos brasileiros se entusiasmam com a ideia de que a raccedila branca era superior As teorias raciais trouxeram consigo um problema seacuterio para o Brasil A elite brasileira desejava apresentar o Brasil como um paiacutes branco igualzinho agrave Europa Mas como explicar que de fato o Brasil era um paiacutes majoritariamente negro (nesta eacutepoca 1872 o censo indicava que 55 da populaccedilatildeo era negra) que se enriqueceu com o trabalho escravo (BENTO 2005 p 29)
Estereoacutetipo eacute a
imagem preconcebida de determinada pessoa coisa ou
situaccedilatildeo
10
Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores
ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades
A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS
CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA
11
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos
problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas
Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da
existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de
violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da
educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )
Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989
ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
12
crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural
da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da
democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute
passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra
barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro
assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os
professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo
e desenvolvimento da nossa sociedade
O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a
economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do
Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura
Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na
histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para
a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no
estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado
Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro
na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa
sociedade
VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA
13
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute
como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa
foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia
amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da
harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser
qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a
ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos
brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia
discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto
natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo
sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso
racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a
norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa
visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do
povo brasileiro
Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser
quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no
meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre
encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)
Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo
racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na
academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada
vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser
enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio
conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas
histoacuterias
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
14
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das
reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes
Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras
que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira
1 HENRIQUE DIAS
Mas afinal quem foi Henrique Dias
Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e
provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na
guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que
ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao
longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil
se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem
COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
1 HENRIQUE DIAS
15
pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria
Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma
contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do
historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais
motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que
era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade
de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava
proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa
de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e
contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco
A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros
negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a
eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por
negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que
se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais
uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao
impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por
outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e
possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na
sociedade
Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos
Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado
pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de
1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos
de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um
longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por
volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a
Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O
rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo
prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros
empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho
Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo
despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo
autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa
16
Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo
prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo
de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do
proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV
veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades
por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando
definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo
Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito
Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8
de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo
Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido
ZUMBI
Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia
Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem
africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares
foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o
batizou com o nome de Francisco
Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se
tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia
pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas
armadas de Palmares
Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que
atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e
Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio
Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi
castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife
2 ZUMBI
17
1 ADELINA A CHARUTEIRA
Mas afinal quem foi Adelina a charuteira
No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX
tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como
Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e
assim eacute a sua histoacuteria
Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)
O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de
relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em
circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois
possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e
articulassem fugas de escravos
ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das
mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)
3 ADELINA A
CHARUTEIRA
18
4 LUIZ GAMA
Mas afinal quem foi Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu
no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs
boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin
Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo
proacuteprio pai para pagar dividas de jogo
Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo
senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de
sua condiccedilatildeo de negro liberto
Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento
coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais
eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que
desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara
Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata
algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em
legiacutetima defesardquo
Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)
5 LINO GUEDES
Afinal quem foi Lino Guedes
Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao
racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente
de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que
para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem
o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras
4 LUIZ GAMA
5 LINO GUEDES
19
levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu
em Satildeo Paulo em 1951
6 CAROLINA MARIA DE JESUS
Afinal quem foi Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais
em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo
Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa
cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de
trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua
morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos
Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher
brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo
Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela
leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e
escrever
Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha
da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela
feito por Carolina
Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a
favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece
Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro
livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os
abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela
6 CAROLINA MARIA
DE JESUS
20
7 SOLANO TRINDADE
Afinal quem foi Solano Trindade
Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia
contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar
um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras
elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o
racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974
Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a
escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e
folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife
capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira
Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de
Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever
Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua
carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930
quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente
participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em
1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que
tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros
Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande
do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de
Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro
do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo
seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o
Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com
jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso
Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o
seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc
Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e
Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de
7 SOLANO TRINDADE
21
cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular
Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o
folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB
onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em
1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano
Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974
Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de
2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes
adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes
no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo
incontestavelmente atuais
Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma
Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)
5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)
Afinal quem era Dom Obaacute
Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na
cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e
considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute
significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo
Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao
qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em
elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute
escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais
de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-
199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro
do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava
reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora
dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de
alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de
8 CAcircNDIDO DA FONSECA
GALVAtildeO (DOM OBAacute)
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
4
SUMAacuteRIO
OBJETIVOS 5 I - TEMA A Lei 1063903 6 II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE 8 III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL 11 IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA 13 V - TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL 14 1 HENRIQUE DIAS 14 2 ZUMBI 16 3 ADELINA A CHARUTEIRA 17 4 LUIZ GAMA 18 5 LINO GUEDES 18 6 CAROLINA MARIA DE JESUS 19 7 SOLANO TRINDADE 20 8 CAcircNDIDO DA FONSECA GALVAtildeO (DOM OBAacute) 21 REFEREcircNCIAS 23
5
OBJETIVOS
- Informar a respeito da Lei nordm 1063903 que inclui no curriacuteculo oficial da rede de
Ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo aleacutem de
colaborar para o combate do racismo que infelizmente existe no nosso contexto
social e escolar
- Discutir sobre a persistecircncia em nosso paiacutes de um imaginaacuterio eacutetnico-racial que
privilegia a brancura e valoriza principalmente as raiacutezes europeias da cultura
ignorando ou pouco valorizando as outras culturas que satildeo a indiacutegena a africana e
a asiaacutetica
- Conhecer que o preconceito foi construiacutedo historicamente e com isto contribuir para
que os grupos eacutetnicos brasileiros possam exercer de forma plena sua cidadania e
lutar contra o racismo e as discriminaccedilotildees na construccedilatildeo de uma sociedade
brasileira mais justa e democraacutetica
- Destacar que ainda persiste nos livros didaacuteticos um imaginaacuterio eacutetnico-racial que
privilegia as raiacutezes europeias da cultura Constatar que a convivecircncia entre padrotildees
da cultura africana e cultura branca europeia natildeo tem sido suficiente para eliminar
ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais
OBJETIVOS
6
I - TEMA A Lei 1063903
Considerando a discriminaccedilatildeo racial ainda existente no Brasil faz-se
necessaacuterio e urgente repensar como os sujeitos negros da histoacuteria afro-brasileira e
africana satildeo tratados pelos curriacuteculos escolares Sabemos por exemplo que satildeo
muitos os personagens negros da histoacuteria de nosso paiacutes que tiveram papel de
destaque na construccedilatildeo da histoacuteria do Brasil e que nunca foram citados ou mesmo
retratados como negros Isso ocorre porque a histoacuteria e a literatura brasileira assim
como outras manifestaccedilotildees culturais estiveram ligadas agrave elite dominante que
durante muito tempo resistiu a conceder um lugar de fato e de direito as
comunidades negras
Na busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma
sociedade democraacutetica e igualitaacuteria o Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da
Silva promulgou a Lei 1063903 (alterada pela Lei 1164508) que estabelece as
Diretrizes e Base da Educaccedilatildeo Nacional e obriga a incluir no curriacuteculo oficial da
I - TEMA A Lei 1063903
QUAIS SAtildeO OS SUJEITOS NEGROS DA HISTOacuteRIA DO BRASIL QUE VOCEcirc CONHECE PROCURE RELEMBRAR DAS SUAS AULAS DE HISTOacuteRIA ATEacute AGORA E DEPOIS ESCREVA UM PEQUENO TEXTO SOBRE QUE HISTOacuteRIA DOS NEGROS FOI ENSINADA A VOCEcirc DEPOIS FACcedilA UMA PEQUENA ANAacuteLISE SOBRE ISTO
Vocecirc sabia Que a lei 1063903 tambeacutem acrescenta que o dia 20 de novembro (considerado dia da morte de Zumbi) deveraacute ser incluiacutedo no calendaacuterio escolar como dia nacional da consciecircncia negra tal como jaacute eacute comemorado pelo movimento negro e por alguns setores da sociedade
7
Rede de Ensino a temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira Essa lei trouxe a
necessidade de construirmos atraveacutes da pesquisa outras histoacuterias e outras
memoacuterias jaacute que uma grande parte da histoacuteria da cultura afro-brasileira foi omitida
dos livros escolares Diante disso fica a questatildeo por que foram negados os feitos
dos sujeitos negros na construccedilatildeo da nossa histoacuteria
A Lei 1063903 define que o Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das instituiccedilotildees
de ensino deveraacute conter em todas as disciplinas conteuacutedos relativos agrave Histoacuteria e a
Cultura Afro-brasileira e Africana na perspectiva de proporcionar aos alunos uma
educaccedilatildeo compatiacutevel com uma sociedade democraacutetica multicultural e plurieacutetnica
Os conteuacutedos sobre Histoacuteria da Aacutefrica e afro-brasileira devem fazer
abordagens positivas sempre na perspectiva de contribuir para que o aluno afro -
descendente mire-se positivamente na histoacuteria que eacute ensinada nas escolas Assim a
busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma sociedade mais
democraacutetica e igualitaacuteria eacute responsabilidade de todos noacutes Dentro desse contexto
vale transcrever o ensinamento de Franz Fanon
Os descendentes dos mercadores de escravos dos senhores de ontem natildeo tem hoje de assumir culpa pelas desumanidades provocadas pelos seus antepassados No entanto tecircm eles a responsabilidade moral e poliacutetica de combater o racismo as discriminaccedilotildees e juntamente com os que vecircm sendo mantidos agrave margem os negros construir relaccedilotildees raciais sadias em que todas cresccedilam e se realizem enquanto seres humanos e cidadatildeos (Franz Fanon-1968)
IREMOS ASSISTIR HOJE Agrave PALESTRA DE UM ADVOGADO SOBRE A LEI 1063903 QUE OBRIGA A INCLUSAtildeO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PUacuteBLICO E PRIVADO EM TODO O PAIacuteS ELABORE UM ROTEIRO DE PERGUNTAS E FACcedilA O REGISTRO DO QUE FOI EXPLICADO
8
II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE
Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econocircmica Aplicadas os negros
e pardos representam 452 da populaccedilatildeo brasileira aproximadamente 73 milhotildees
de pessoas (Rocha 2006 p 13) no entanto a convivecircncia entre padrotildees da cultura
Africana e da cultura branca europeacuteia natildeo tem sido suficiente para eliminar
ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais Segundo Ana Luacutecia Lopes (2006)
ainda persiste em nosso paiacutes um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e
valoriza principalmente as raiacutezes europeacuteias da sua cultura ignorando ou pouco
valorizando as outras que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica No final do seacuteculo
XIX o grande desafio era tornar o Brasil uma naccedilatildeo moderna Com a escravidatildeo
abolida com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o caminho estava aberto para a
modernidade Como uma naccedilatildeo com tantos negros poderia ser uma naccedilatildeo
moderna A soluccedilatildeo era o embranquecimento do povo brasileiro
II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO
HISTORICAMENTE
Afro-brasileiro Adjetivo usado para referir-se agrave parcela significativa da populaccedilatildeo brasileira com ascendecircncia parcial ou totalmente africana O termo tem patrocinado uma calorosa discussatildeo sobre quem representa efetivamente esse segmento populacional no Brasil Principalmente depois dos posicionamentos oficiais em relaccedilatildeo agrave reserva de vagas pelo sistema de cotas para
negros na universidade
FACcedilA A LEITURA DAS DIRETRIZES PARA O ENSINO DA HISTOacuteRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO - BRASILEIRA E ELABORE EM GRUPO UM CARTAZ ONDE APARECcedilA O QUE VOCEcircS CONSIDERARAM DE MAIS SIGNIFICATIVO NESTE DOCUMENTO
9
O desejo de construir uma sociedade
brasileira nos moldes das sociedades brancas
europeacuteias levou a valorizaccedilatildeo da raccedila branca na
construccedilatildeo da identidade brasileira deixando para
segundo plano a participaccedilatildeo dos africanos e
indiacutegenas nesta construccedilatildeo Portanto podemos dizer
que a negaccedilatildeo da histoacuteria social desses povos foi
tambeacutem uma medida de dominaccedilatildeo e de controle social
e poliacutetico de um grupo sobre os demais (Lima 2004)
O preconceito estaacute ligado diretamente ao nosso passado no qual os
negros eram considerados seres inferiores incapazes de construiacuterem civilizaccedilotildees
(Souza 2008 p 140) Com base nos estudos darwinianos pensadores como o
francecircs Joseph-Auguste de Gobineau o alematildeo Richard Wagner e o inglecircs Houston
Steward Chamberlain desenvolveram a tese segundo a qual alguns grupos
humanos teriam herdado certas caracteriacutesticas que os tornavam superiores e os
autorizavam a comandar e explorar outros povos e outros considerados fracos por
terem herdado caracteriacutesticas que os tornavam naturalmente inferiores e
predestinados a serem comandados (Bento 2005 p 25) Diante disso as
caracteriacutesticas fiacutesicas passaram a distinguir os seres humanos e estabelecer
diferenccedilas intelectuais e morais entre eles Surge entatildeo a foacutermula baacutesica do
racismo o negro seria inferior preguiccediloso indolente caprichoso sensual incapaz
de raciocinar e o branco empreendedor disciplinado inteligentes enfim qualidades
que justificariam a exploraccedilatildeo deste sobre aquele
Assim com base nessas ideias de superioridade racial do branco foi
estabelecida no Brasil a poliacutetica do branqueamento A propoacutesito o trecho do livro
Cidadania em Preto e Banco obra de Maria Aparecida Silva Bento nos diz
Intelectuais meacutedicos advogados poliacuteticos brasileiros se entusiasmam com a ideia de que a raccedila branca era superior As teorias raciais trouxeram consigo um problema seacuterio para o Brasil A elite brasileira desejava apresentar o Brasil como um paiacutes branco igualzinho agrave Europa Mas como explicar que de fato o Brasil era um paiacutes majoritariamente negro (nesta eacutepoca 1872 o censo indicava que 55 da populaccedilatildeo era negra) que se enriqueceu com o trabalho escravo (BENTO 2005 p 29)
Estereoacutetipo eacute a
imagem preconcebida de determinada pessoa coisa ou
situaccedilatildeo
10
Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores
ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades
A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS
CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA
11
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos
problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas
Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da
existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de
violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da
educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )
Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989
ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
12
crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural
da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da
democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute
passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra
barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro
assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os
professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo
e desenvolvimento da nossa sociedade
O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a
economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do
Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura
Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na
histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para
a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no
estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado
Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro
na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa
sociedade
VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA
13
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute
como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa
foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia
amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da
harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser
qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a
ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos
brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia
discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto
natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo
sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso
racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a
norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa
visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do
povo brasileiro
Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser
quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no
meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre
encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)
Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo
racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na
academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada
vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser
enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio
conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas
histoacuterias
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
14
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das
reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes
Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras
que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira
1 HENRIQUE DIAS
Mas afinal quem foi Henrique Dias
Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e
provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na
guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que
ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao
longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil
se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem
COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
1 HENRIQUE DIAS
15
pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria
Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma
contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do
historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais
motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que
era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade
de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava
proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa
de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e
contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco
A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros
negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a
eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por
negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que
se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais
uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao
impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por
outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e
possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na
sociedade
Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos
Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado
pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de
1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos
de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um
longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por
volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a
Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O
rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo
prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros
empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho
Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo
despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo
autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa
16
Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo
prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo
de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do
proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV
veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades
por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando
definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo
Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito
Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8
de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo
Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido
ZUMBI
Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia
Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem
africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares
foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o
batizou com o nome de Francisco
Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se
tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia
pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas
armadas de Palmares
Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que
atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e
Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio
Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi
castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife
2 ZUMBI
17
1 ADELINA A CHARUTEIRA
Mas afinal quem foi Adelina a charuteira
No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX
tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como
Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e
assim eacute a sua histoacuteria
Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)
O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de
relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em
circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois
possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e
articulassem fugas de escravos
ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das
mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)
3 ADELINA A
CHARUTEIRA
18
4 LUIZ GAMA
Mas afinal quem foi Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu
no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs
boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin
Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo
proacuteprio pai para pagar dividas de jogo
Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo
senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de
sua condiccedilatildeo de negro liberto
Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento
coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais
eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que
desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara
Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata
algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em
legiacutetima defesardquo
Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)
5 LINO GUEDES
Afinal quem foi Lino Guedes
Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao
racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente
de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que
para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem
o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras
4 LUIZ GAMA
5 LINO GUEDES
19
levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu
em Satildeo Paulo em 1951
6 CAROLINA MARIA DE JESUS
Afinal quem foi Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais
em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo
Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa
cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de
trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua
morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos
Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher
brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo
Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela
leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e
escrever
Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha
da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela
feito por Carolina
Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a
favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece
Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro
livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os
abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela
6 CAROLINA MARIA
DE JESUS
20
7 SOLANO TRINDADE
Afinal quem foi Solano Trindade
Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia
contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar
um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras
elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o
racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974
Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a
escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e
folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife
capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira
Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de
Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever
Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua
carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930
quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente
participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em
1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que
tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros
Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande
do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de
Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro
do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo
seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o
Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com
jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso
Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o
seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc
Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e
Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de
7 SOLANO TRINDADE
21
cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular
Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o
folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB
onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em
1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano
Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974
Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de
2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes
adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes
no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo
incontestavelmente atuais
Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma
Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)
5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)
Afinal quem era Dom Obaacute
Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na
cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e
considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute
significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo
Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao
qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em
elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute
escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais
de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-
199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro
do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava
reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora
dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de
alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de
8 CAcircNDIDO DA FONSECA
GALVAtildeO (DOM OBAacute)
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
5
OBJETIVOS
- Informar a respeito da Lei nordm 1063903 que inclui no curriacuteculo oficial da rede de
Ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo aleacutem de
colaborar para o combate do racismo que infelizmente existe no nosso contexto
social e escolar
- Discutir sobre a persistecircncia em nosso paiacutes de um imaginaacuterio eacutetnico-racial que
privilegia a brancura e valoriza principalmente as raiacutezes europeias da cultura
ignorando ou pouco valorizando as outras culturas que satildeo a indiacutegena a africana e
a asiaacutetica
- Conhecer que o preconceito foi construiacutedo historicamente e com isto contribuir para
que os grupos eacutetnicos brasileiros possam exercer de forma plena sua cidadania e
lutar contra o racismo e as discriminaccedilotildees na construccedilatildeo de uma sociedade
brasileira mais justa e democraacutetica
- Destacar que ainda persiste nos livros didaacuteticos um imaginaacuterio eacutetnico-racial que
privilegia as raiacutezes europeias da cultura Constatar que a convivecircncia entre padrotildees
da cultura africana e cultura branca europeia natildeo tem sido suficiente para eliminar
ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais
OBJETIVOS
6
I - TEMA A Lei 1063903
Considerando a discriminaccedilatildeo racial ainda existente no Brasil faz-se
necessaacuterio e urgente repensar como os sujeitos negros da histoacuteria afro-brasileira e
africana satildeo tratados pelos curriacuteculos escolares Sabemos por exemplo que satildeo
muitos os personagens negros da histoacuteria de nosso paiacutes que tiveram papel de
destaque na construccedilatildeo da histoacuteria do Brasil e que nunca foram citados ou mesmo
retratados como negros Isso ocorre porque a histoacuteria e a literatura brasileira assim
como outras manifestaccedilotildees culturais estiveram ligadas agrave elite dominante que
durante muito tempo resistiu a conceder um lugar de fato e de direito as
comunidades negras
Na busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma
sociedade democraacutetica e igualitaacuteria o Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da
Silva promulgou a Lei 1063903 (alterada pela Lei 1164508) que estabelece as
Diretrizes e Base da Educaccedilatildeo Nacional e obriga a incluir no curriacuteculo oficial da
I - TEMA A Lei 1063903
QUAIS SAtildeO OS SUJEITOS NEGROS DA HISTOacuteRIA DO BRASIL QUE VOCEcirc CONHECE PROCURE RELEMBRAR DAS SUAS AULAS DE HISTOacuteRIA ATEacute AGORA E DEPOIS ESCREVA UM PEQUENO TEXTO SOBRE QUE HISTOacuteRIA DOS NEGROS FOI ENSINADA A VOCEcirc DEPOIS FACcedilA UMA PEQUENA ANAacuteLISE SOBRE ISTO
Vocecirc sabia Que a lei 1063903 tambeacutem acrescenta que o dia 20 de novembro (considerado dia da morte de Zumbi) deveraacute ser incluiacutedo no calendaacuterio escolar como dia nacional da consciecircncia negra tal como jaacute eacute comemorado pelo movimento negro e por alguns setores da sociedade
7
Rede de Ensino a temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira Essa lei trouxe a
necessidade de construirmos atraveacutes da pesquisa outras histoacuterias e outras
memoacuterias jaacute que uma grande parte da histoacuteria da cultura afro-brasileira foi omitida
dos livros escolares Diante disso fica a questatildeo por que foram negados os feitos
dos sujeitos negros na construccedilatildeo da nossa histoacuteria
A Lei 1063903 define que o Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das instituiccedilotildees
de ensino deveraacute conter em todas as disciplinas conteuacutedos relativos agrave Histoacuteria e a
Cultura Afro-brasileira e Africana na perspectiva de proporcionar aos alunos uma
educaccedilatildeo compatiacutevel com uma sociedade democraacutetica multicultural e plurieacutetnica
Os conteuacutedos sobre Histoacuteria da Aacutefrica e afro-brasileira devem fazer
abordagens positivas sempre na perspectiva de contribuir para que o aluno afro -
descendente mire-se positivamente na histoacuteria que eacute ensinada nas escolas Assim a
busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma sociedade mais
democraacutetica e igualitaacuteria eacute responsabilidade de todos noacutes Dentro desse contexto
vale transcrever o ensinamento de Franz Fanon
Os descendentes dos mercadores de escravos dos senhores de ontem natildeo tem hoje de assumir culpa pelas desumanidades provocadas pelos seus antepassados No entanto tecircm eles a responsabilidade moral e poliacutetica de combater o racismo as discriminaccedilotildees e juntamente com os que vecircm sendo mantidos agrave margem os negros construir relaccedilotildees raciais sadias em que todas cresccedilam e se realizem enquanto seres humanos e cidadatildeos (Franz Fanon-1968)
IREMOS ASSISTIR HOJE Agrave PALESTRA DE UM ADVOGADO SOBRE A LEI 1063903 QUE OBRIGA A INCLUSAtildeO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PUacuteBLICO E PRIVADO EM TODO O PAIacuteS ELABORE UM ROTEIRO DE PERGUNTAS E FACcedilA O REGISTRO DO QUE FOI EXPLICADO
8
II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE
Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econocircmica Aplicadas os negros
e pardos representam 452 da populaccedilatildeo brasileira aproximadamente 73 milhotildees
de pessoas (Rocha 2006 p 13) no entanto a convivecircncia entre padrotildees da cultura
Africana e da cultura branca europeacuteia natildeo tem sido suficiente para eliminar
ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais Segundo Ana Luacutecia Lopes (2006)
ainda persiste em nosso paiacutes um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e
valoriza principalmente as raiacutezes europeacuteias da sua cultura ignorando ou pouco
valorizando as outras que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica No final do seacuteculo
XIX o grande desafio era tornar o Brasil uma naccedilatildeo moderna Com a escravidatildeo
abolida com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o caminho estava aberto para a
modernidade Como uma naccedilatildeo com tantos negros poderia ser uma naccedilatildeo
moderna A soluccedilatildeo era o embranquecimento do povo brasileiro
II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO
HISTORICAMENTE
Afro-brasileiro Adjetivo usado para referir-se agrave parcela significativa da populaccedilatildeo brasileira com ascendecircncia parcial ou totalmente africana O termo tem patrocinado uma calorosa discussatildeo sobre quem representa efetivamente esse segmento populacional no Brasil Principalmente depois dos posicionamentos oficiais em relaccedilatildeo agrave reserva de vagas pelo sistema de cotas para
negros na universidade
FACcedilA A LEITURA DAS DIRETRIZES PARA O ENSINO DA HISTOacuteRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO - BRASILEIRA E ELABORE EM GRUPO UM CARTAZ ONDE APARECcedilA O QUE VOCEcircS CONSIDERARAM DE MAIS SIGNIFICATIVO NESTE DOCUMENTO
9
O desejo de construir uma sociedade
brasileira nos moldes das sociedades brancas
europeacuteias levou a valorizaccedilatildeo da raccedila branca na
construccedilatildeo da identidade brasileira deixando para
segundo plano a participaccedilatildeo dos africanos e
indiacutegenas nesta construccedilatildeo Portanto podemos dizer
que a negaccedilatildeo da histoacuteria social desses povos foi
tambeacutem uma medida de dominaccedilatildeo e de controle social
e poliacutetico de um grupo sobre os demais (Lima 2004)
O preconceito estaacute ligado diretamente ao nosso passado no qual os
negros eram considerados seres inferiores incapazes de construiacuterem civilizaccedilotildees
(Souza 2008 p 140) Com base nos estudos darwinianos pensadores como o
francecircs Joseph-Auguste de Gobineau o alematildeo Richard Wagner e o inglecircs Houston
Steward Chamberlain desenvolveram a tese segundo a qual alguns grupos
humanos teriam herdado certas caracteriacutesticas que os tornavam superiores e os
autorizavam a comandar e explorar outros povos e outros considerados fracos por
terem herdado caracteriacutesticas que os tornavam naturalmente inferiores e
predestinados a serem comandados (Bento 2005 p 25) Diante disso as
caracteriacutesticas fiacutesicas passaram a distinguir os seres humanos e estabelecer
diferenccedilas intelectuais e morais entre eles Surge entatildeo a foacutermula baacutesica do
racismo o negro seria inferior preguiccediloso indolente caprichoso sensual incapaz
de raciocinar e o branco empreendedor disciplinado inteligentes enfim qualidades
que justificariam a exploraccedilatildeo deste sobre aquele
Assim com base nessas ideias de superioridade racial do branco foi
estabelecida no Brasil a poliacutetica do branqueamento A propoacutesito o trecho do livro
Cidadania em Preto e Banco obra de Maria Aparecida Silva Bento nos diz
Intelectuais meacutedicos advogados poliacuteticos brasileiros se entusiasmam com a ideia de que a raccedila branca era superior As teorias raciais trouxeram consigo um problema seacuterio para o Brasil A elite brasileira desejava apresentar o Brasil como um paiacutes branco igualzinho agrave Europa Mas como explicar que de fato o Brasil era um paiacutes majoritariamente negro (nesta eacutepoca 1872 o censo indicava que 55 da populaccedilatildeo era negra) que se enriqueceu com o trabalho escravo (BENTO 2005 p 29)
Estereoacutetipo eacute a
imagem preconcebida de determinada pessoa coisa ou
situaccedilatildeo
10
Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores
ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades
A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS
CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA
11
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos
problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas
Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da
existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de
violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da
educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )
Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989
ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
12
crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural
da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da
democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute
passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra
barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro
assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os
professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo
e desenvolvimento da nossa sociedade
O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a
economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do
Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura
Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na
histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para
a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no
estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado
Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro
na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa
sociedade
VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA
13
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute
como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa
foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia
amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da
harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser
qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a
ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos
brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia
discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto
natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo
sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso
racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a
norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa
visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do
povo brasileiro
Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser
quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no
meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre
encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)
Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo
racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na
academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada
vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser
enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio
conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas
histoacuterias
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
14
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das
reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes
Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras
que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira
1 HENRIQUE DIAS
Mas afinal quem foi Henrique Dias
Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e
provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na
guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que
ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao
longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil
se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem
COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
1 HENRIQUE DIAS
15
pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria
Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma
contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do
historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais
motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que
era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade
de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava
proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa
de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e
contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco
A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros
negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a
eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por
negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que
se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais
uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao
impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por
outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e
possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na
sociedade
Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos
Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado
pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de
1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos
de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um
longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por
volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a
Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O
rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo
prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros
empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho
Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo
despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo
autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa
16
Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo
prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo
de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do
proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV
veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades
por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando
definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo
Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito
Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8
de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo
Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido
ZUMBI
Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia
Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem
africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares
foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o
batizou com o nome de Francisco
Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se
tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia
pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas
armadas de Palmares
Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que
atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e
Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio
Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi
castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife
2 ZUMBI
17
1 ADELINA A CHARUTEIRA
Mas afinal quem foi Adelina a charuteira
No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX
tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como
Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e
assim eacute a sua histoacuteria
Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)
O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de
relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em
circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois
possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e
articulassem fugas de escravos
ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das
mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)
3 ADELINA A
CHARUTEIRA
18
4 LUIZ GAMA
Mas afinal quem foi Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu
no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs
boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin
Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo
proacuteprio pai para pagar dividas de jogo
Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo
senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de
sua condiccedilatildeo de negro liberto
Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento
coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais
eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que
desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara
Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata
algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em
legiacutetima defesardquo
Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)
5 LINO GUEDES
Afinal quem foi Lino Guedes
Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao
racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente
de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que
para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem
o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras
4 LUIZ GAMA
5 LINO GUEDES
19
levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu
em Satildeo Paulo em 1951
6 CAROLINA MARIA DE JESUS
Afinal quem foi Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais
em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo
Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa
cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de
trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua
morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos
Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher
brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo
Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela
leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e
escrever
Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha
da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela
feito por Carolina
Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a
favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece
Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro
livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os
abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela
6 CAROLINA MARIA
DE JESUS
20
7 SOLANO TRINDADE
Afinal quem foi Solano Trindade
Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia
contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar
um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras
elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o
racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974
Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a
escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e
folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife
capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira
Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de
Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever
Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua
carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930
quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente
participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em
1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que
tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros
Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande
do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de
Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro
do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo
seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o
Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com
jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso
Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o
seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc
Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e
Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de
7 SOLANO TRINDADE
21
cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular
Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o
folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB
onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em
1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano
Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974
Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de
2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes
adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes
no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo
incontestavelmente atuais
Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma
Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)
5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)
Afinal quem era Dom Obaacute
Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na
cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e
considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute
significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo
Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao
qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em
elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute
escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais
de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-
199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro
do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava
reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora
dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de
alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de
8 CAcircNDIDO DA FONSECA
GALVAtildeO (DOM OBAacute)
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
6
I - TEMA A Lei 1063903
Considerando a discriminaccedilatildeo racial ainda existente no Brasil faz-se
necessaacuterio e urgente repensar como os sujeitos negros da histoacuteria afro-brasileira e
africana satildeo tratados pelos curriacuteculos escolares Sabemos por exemplo que satildeo
muitos os personagens negros da histoacuteria de nosso paiacutes que tiveram papel de
destaque na construccedilatildeo da histoacuteria do Brasil e que nunca foram citados ou mesmo
retratados como negros Isso ocorre porque a histoacuteria e a literatura brasileira assim
como outras manifestaccedilotildees culturais estiveram ligadas agrave elite dominante que
durante muito tempo resistiu a conceder um lugar de fato e de direito as
comunidades negras
Na busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma
sociedade democraacutetica e igualitaacuteria o Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da
Silva promulgou a Lei 1063903 (alterada pela Lei 1164508) que estabelece as
Diretrizes e Base da Educaccedilatildeo Nacional e obriga a incluir no curriacuteculo oficial da
I - TEMA A Lei 1063903
QUAIS SAtildeO OS SUJEITOS NEGROS DA HISTOacuteRIA DO BRASIL QUE VOCEcirc CONHECE PROCURE RELEMBRAR DAS SUAS AULAS DE HISTOacuteRIA ATEacute AGORA E DEPOIS ESCREVA UM PEQUENO TEXTO SOBRE QUE HISTOacuteRIA DOS NEGROS FOI ENSINADA A VOCEcirc DEPOIS FACcedilA UMA PEQUENA ANAacuteLISE SOBRE ISTO
Vocecirc sabia Que a lei 1063903 tambeacutem acrescenta que o dia 20 de novembro (considerado dia da morte de Zumbi) deveraacute ser incluiacutedo no calendaacuterio escolar como dia nacional da consciecircncia negra tal como jaacute eacute comemorado pelo movimento negro e por alguns setores da sociedade
7
Rede de Ensino a temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira Essa lei trouxe a
necessidade de construirmos atraveacutes da pesquisa outras histoacuterias e outras
memoacuterias jaacute que uma grande parte da histoacuteria da cultura afro-brasileira foi omitida
dos livros escolares Diante disso fica a questatildeo por que foram negados os feitos
dos sujeitos negros na construccedilatildeo da nossa histoacuteria
A Lei 1063903 define que o Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das instituiccedilotildees
de ensino deveraacute conter em todas as disciplinas conteuacutedos relativos agrave Histoacuteria e a
Cultura Afro-brasileira e Africana na perspectiva de proporcionar aos alunos uma
educaccedilatildeo compatiacutevel com uma sociedade democraacutetica multicultural e plurieacutetnica
Os conteuacutedos sobre Histoacuteria da Aacutefrica e afro-brasileira devem fazer
abordagens positivas sempre na perspectiva de contribuir para que o aluno afro -
descendente mire-se positivamente na histoacuteria que eacute ensinada nas escolas Assim a
busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma sociedade mais
democraacutetica e igualitaacuteria eacute responsabilidade de todos noacutes Dentro desse contexto
vale transcrever o ensinamento de Franz Fanon
Os descendentes dos mercadores de escravos dos senhores de ontem natildeo tem hoje de assumir culpa pelas desumanidades provocadas pelos seus antepassados No entanto tecircm eles a responsabilidade moral e poliacutetica de combater o racismo as discriminaccedilotildees e juntamente com os que vecircm sendo mantidos agrave margem os negros construir relaccedilotildees raciais sadias em que todas cresccedilam e se realizem enquanto seres humanos e cidadatildeos (Franz Fanon-1968)
IREMOS ASSISTIR HOJE Agrave PALESTRA DE UM ADVOGADO SOBRE A LEI 1063903 QUE OBRIGA A INCLUSAtildeO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PUacuteBLICO E PRIVADO EM TODO O PAIacuteS ELABORE UM ROTEIRO DE PERGUNTAS E FACcedilA O REGISTRO DO QUE FOI EXPLICADO
8
II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE
Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econocircmica Aplicadas os negros
e pardos representam 452 da populaccedilatildeo brasileira aproximadamente 73 milhotildees
de pessoas (Rocha 2006 p 13) no entanto a convivecircncia entre padrotildees da cultura
Africana e da cultura branca europeacuteia natildeo tem sido suficiente para eliminar
ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais Segundo Ana Luacutecia Lopes (2006)
ainda persiste em nosso paiacutes um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e
valoriza principalmente as raiacutezes europeacuteias da sua cultura ignorando ou pouco
valorizando as outras que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica No final do seacuteculo
XIX o grande desafio era tornar o Brasil uma naccedilatildeo moderna Com a escravidatildeo
abolida com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o caminho estava aberto para a
modernidade Como uma naccedilatildeo com tantos negros poderia ser uma naccedilatildeo
moderna A soluccedilatildeo era o embranquecimento do povo brasileiro
II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO
HISTORICAMENTE
Afro-brasileiro Adjetivo usado para referir-se agrave parcela significativa da populaccedilatildeo brasileira com ascendecircncia parcial ou totalmente africana O termo tem patrocinado uma calorosa discussatildeo sobre quem representa efetivamente esse segmento populacional no Brasil Principalmente depois dos posicionamentos oficiais em relaccedilatildeo agrave reserva de vagas pelo sistema de cotas para
negros na universidade
FACcedilA A LEITURA DAS DIRETRIZES PARA O ENSINO DA HISTOacuteRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO - BRASILEIRA E ELABORE EM GRUPO UM CARTAZ ONDE APARECcedilA O QUE VOCEcircS CONSIDERARAM DE MAIS SIGNIFICATIVO NESTE DOCUMENTO
9
O desejo de construir uma sociedade
brasileira nos moldes das sociedades brancas
europeacuteias levou a valorizaccedilatildeo da raccedila branca na
construccedilatildeo da identidade brasileira deixando para
segundo plano a participaccedilatildeo dos africanos e
indiacutegenas nesta construccedilatildeo Portanto podemos dizer
que a negaccedilatildeo da histoacuteria social desses povos foi
tambeacutem uma medida de dominaccedilatildeo e de controle social
e poliacutetico de um grupo sobre os demais (Lima 2004)
O preconceito estaacute ligado diretamente ao nosso passado no qual os
negros eram considerados seres inferiores incapazes de construiacuterem civilizaccedilotildees
(Souza 2008 p 140) Com base nos estudos darwinianos pensadores como o
francecircs Joseph-Auguste de Gobineau o alematildeo Richard Wagner e o inglecircs Houston
Steward Chamberlain desenvolveram a tese segundo a qual alguns grupos
humanos teriam herdado certas caracteriacutesticas que os tornavam superiores e os
autorizavam a comandar e explorar outros povos e outros considerados fracos por
terem herdado caracteriacutesticas que os tornavam naturalmente inferiores e
predestinados a serem comandados (Bento 2005 p 25) Diante disso as
caracteriacutesticas fiacutesicas passaram a distinguir os seres humanos e estabelecer
diferenccedilas intelectuais e morais entre eles Surge entatildeo a foacutermula baacutesica do
racismo o negro seria inferior preguiccediloso indolente caprichoso sensual incapaz
de raciocinar e o branco empreendedor disciplinado inteligentes enfim qualidades
que justificariam a exploraccedilatildeo deste sobre aquele
Assim com base nessas ideias de superioridade racial do branco foi
estabelecida no Brasil a poliacutetica do branqueamento A propoacutesito o trecho do livro
Cidadania em Preto e Banco obra de Maria Aparecida Silva Bento nos diz
Intelectuais meacutedicos advogados poliacuteticos brasileiros se entusiasmam com a ideia de que a raccedila branca era superior As teorias raciais trouxeram consigo um problema seacuterio para o Brasil A elite brasileira desejava apresentar o Brasil como um paiacutes branco igualzinho agrave Europa Mas como explicar que de fato o Brasil era um paiacutes majoritariamente negro (nesta eacutepoca 1872 o censo indicava que 55 da populaccedilatildeo era negra) que se enriqueceu com o trabalho escravo (BENTO 2005 p 29)
Estereoacutetipo eacute a
imagem preconcebida de determinada pessoa coisa ou
situaccedilatildeo
10
Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores
ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades
A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS
CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA
11
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos
problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas
Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da
existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de
violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da
educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )
Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989
ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
12
crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural
da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da
democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute
passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra
barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro
assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os
professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo
e desenvolvimento da nossa sociedade
O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a
economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do
Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura
Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na
histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para
a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no
estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado
Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro
na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa
sociedade
VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA
13
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute
como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa
foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia
amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da
harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser
qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a
ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos
brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia
discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto
natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo
sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso
racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a
norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa
visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do
povo brasileiro
Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser
quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no
meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre
encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)
Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo
racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na
academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada
vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser
enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio
conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas
histoacuterias
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
14
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das
reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes
Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras
que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira
1 HENRIQUE DIAS
Mas afinal quem foi Henrique Dias
Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e
provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na
guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que
ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao
longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil
se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem
COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
1 HENRIQUE DIAS
15
pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria
Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma
contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do
historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais
motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que
era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade
de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava
proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa
de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e
contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco
A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros
negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a
eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por
negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que
se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais
uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao
impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por
outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e
possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na
sociedade
Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos
Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado
pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de
1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos
de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um
longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por
volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a
Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O
rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo
prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros
empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho
Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo
despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo
autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa
16
Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo
prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo
de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do
proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV
veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades
por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando
definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo
Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito
Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8
de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo
Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido
ZUMBI
Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia
Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem
africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares
foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o
batizou com o nome de Francisco
Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se
tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia
pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas
armadas de Palmares
Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que
atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e
Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio
Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi
castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife
2 ZUMBI
17
1 ADELINA A CHARUTEIRA
Mas afinal quem foi Adelina a charuteira
No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX
tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como
Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e
assim eacute a sua histoacuteria
Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)
O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de
relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em
circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois
possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e
articulassem fugas de escravos
ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das
mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)
3 ADELINA A
CHARUTEIRA
18
4 LUIZ GAMA
Mas afinal quem foi Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu
no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs
boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin
Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo
proacuteprio pai para pagar dividas de jogo
Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo
senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de
sua condiccedilatildeo de negro liberto
Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento
coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais
eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que
desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara
Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata
algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em
legiacutetima defesardquo
Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)
5 LINO GUEDES
Afinal quem foi Lino Guedes
Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao
racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente
de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que
para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem
o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras
4 LUIZ GAMA
5 LINO GUEDES
19
levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu
em Satildeo Paulo em 1951
6 CAROLINA MARIA DE JESUS
Afinal quem foi Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais
em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo
Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa
cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de
trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua
morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos
Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher
brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo
Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela
leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e
escrever
Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha
da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela
feito por Carolina
Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a
favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece
Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro
livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os
abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela
6 CAROLINA MARIA
DE JESUS
20
7 SOLANO TRINDADE
Afinal quem foi Solano Trindade
Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia
contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar
um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras
elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o
racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974
Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a
escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e
folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife
capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira
Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de
Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever
Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua
carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930
quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente
participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em
1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que
tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros
Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande
do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de
Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro
do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo
seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o
Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com
jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso
Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o
seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc
Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e
Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de
7 SOLANO TRINDADE
21
cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular
Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o
folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB
onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em
1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano
Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974
Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de
2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes
adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes
no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo
incontestavelmente atuais
Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma
Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)
5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)
Afinal quem era Dom Obaacute
Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na
cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e
considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute
significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo
Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao
qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em
elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute
escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais
de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-
199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro
do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava
reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora
dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de
alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de
8 CAcircNDIDO DA FONSECA
GALVAtildeO (DOM OBAacute)
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
7
Rede de Ensino a temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira Essa lei trouxe a
necessidade de construirmos atraveacutes da pesquisa outras histoacuterias e outras
memoacuterias jaacute que uma grande parte da histoacuteria da cultura afro-brasileira foi omitida
dos livros escolares Diante disso fica a questatildeo por que foram negados os feitos
dos sujeitos negros na construccedilatildeo da nossa histoacuteria
A Lei 1063903 define que o Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das instituiccedilotildees
de ensino deveraacute conter em todas as disciplinas conteuacutedos relativos agrave Histoacuteria e a
Cultura Afro-brasileira e Africana na perspectiva de proporcionar aos alunos uma
educaccedilatildeo compatiacutevel com uma sociedade democraacutetica multicultural e plurieacutetnica
Os conteuacutedos sobre Histoacuteria da Aacutefrica e afro-brasileira devem fazer
abordagens positivas sempre na perspectiva de contribuir para que o aluno afro -
descendente mire-se positivamente na histoacuteria que eacute ensinada nas escolas Assim a
busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma sociedade mais
democraacutetica e igualitaacuteria eacute responsabilidade de todos noacutes Dentro desse contexto
vale transcrever o ensinamento de Franz Fanon
Os descendentes dos mercadores de escravos dos senhores de ontem natildeo tem hoje de assumir culpa pelas desumanidades provocadas pelos seus antepassados No entanto tecircm eles a responsabilidade moral e poliacutetica de combater o racismo as discriminaccedilotildees e juntamente com os que vecircm sendo mantidos agrave margem os negros construir relaccedilotildees raciais sadias em que todas cresccedilam e se realizem enquanto seres humanos e cidadatildeos (Franz Fanon-1968)
IREMOS ASSISTIR HOJE Agrave PALESTRA DE UM ADVOGADO SOBRE A LEI 1063903 QUE OBRIGA A INCLUSAtildeO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PUacuteBLICO E PRIVADO EM TODO O PAIacuteS ELABORE UM ROTEIRO DE PERGUNTAS E FACcedilA O REGISTRO DO QUE FOI EXPLICADO
8
II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE
Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econocircmica Aplicadas os negros
e pardos representam 452 da populaccedilatildeo brasileira aproximadamente 73 milhotildees
de pessoas (Rocha 2006 p 13) no entanto a convivecircncia entre padrotildees da cultura
Africana e da cultura branca europeacuteia natildeo tem sido suficiente para eliminar
ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais Segundo Ana Luacutecia Lopes (2006)
ainda persiste em nosso paiacutes um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e
valoriza principalmente as raiacutezes europeacuteias da sua cultura ignorando ou pouco
valorizando as outras que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica No final do seacuteculo
XIX o grande desafio era tornar o Brasil uma naccedilatildeo moderna Com a escravidatildeo
abolida com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o caminho estava aberto para a
modernidade Como uma naccedilatildeo com tantos negros poderia ser uma naccedilatildeo
moderna A soluccedilatildeo era o embranquecimento do povo brasileiro
II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO
HISTORICAMENTE
Afro-brasileiro Adjetivo usado para referir-se agrave parcela significativa da populaccedilatildeo brasileira com ascendecircncia parcial ou totalmente africana O termo tem patrocinado uma calorosa discussatildeo sobre quem representa efetivamente esse segmento populacional no Brasil Principalmente depois dos posicionamentos oficiais em relaccedilatildeo agrave reserva de vagas pelo sistema de cotas para
negros na universidade
FACcedilA A LEITURA DAS DIRETRIZES PARA O ENSINO DA HISTOacuteRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO - BRASILEIRA E ELABORE EM GRUPO UM CARTAZ ONDE APARECcedilA O QUE VOCEcircS CONSIDERARAM DE MAIS SIGNIFICATIVO NESTE DOCUMENTO
9
O desejo de construir uma sociedade
brasileira nos moldes das sociedades brancas
europeacuteias levou a valorizaccedilatildeo da raccedila branca na
construccedilatildeo da identidade brasileira deixando para
segundo plano a participaccedilatildeo dos africanos e
indiacutegenas nesta construccedilatildeo Portanto podemos dizer
que a negaccedilatildeo da histoacuteria social desses povos foi
tambeacutem uma medida de dominaccedilatildeo e de controle social
e poliacutetico de um grupo sobre os demais (Lima 2004)
O preconceito estaacute ligado diretamente ao nosso passado no qual os
negros eram considerados seres inferiores incapazes de construiacuterem civilizaccedilotildees
(Souza 2008 p 140) Com base nos estudos darwinianos pensadores como o
francecircs Joseph-Auguste de Gobineau o alematildeo Richard Wagner e o inglecircs Houston
Steward Chamberlain desenvolveram a tese segundo a qual alguns grupos
humanos teriam herdado certas caracteriacutesticas que os tornavam superiores e os
autorizavam a comandar e explorar outros povos e outros considerados fracos por
terem herdado caracteriacutesticas que os tornavam naturalmente inferiores e
predestinados a serem comandados (Bento 2005 p 25) Diante disso as
caracteriacutesticas fiacutesicas passaram a distinguir os seres humanos e estabelecer
diferenccedilas intelectuais e morais entre eles Surge entatildeo a foacutermula baacutesica do
racismo o negro seria inferior preguiccediloso indolente caprichoso sensual incapaz
de raciocinar e o branco empreendedor disciplinado inteligentes enfim qualidades
que justificariam a exploraccedilatildeo deste sobre aquele
Assim com base nessas ideias de superioridade racial do branco foi
estabelecida no Brasil a poliacutetica do branqueamento A propoacutesito o trecho do livro
Cidadania em Preto e Banco obra de Maria Aparecida Silva Bento nos diz
Intelectuais meacutedicos advogados poliacuteticos brasileiros se entusiasmam com a ideia de que a raccedila branca era superior As teorias raciais trouxeram consigo um problema seacuterio para o Brasil A elite brasileira desejava apresentar o Brasil como um paiacutes branco igualzinho agrave Europa Mas como explicar que de fato o Brasil era um paiacutes majoritariamente negro (nesta eacutepoca 1872 o censo indicava que 55 da populaccedilatildeo era negra) que se enriqueceu com o trabalho escravo (BENTO 2005 p 29)
Estereoacutetipo eacute a
imagem preconcebida de determinada pessoa coisa ou
situaccedilatildeo
10
Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores
ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades
A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS
CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA
11
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos
problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas
Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da
existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de
violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da
educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )
Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989
ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
12
crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural
da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da
democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute
passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra
barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro
assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os
professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo
e desenvolvimento da nossa sociedade
O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a
economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do
Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura
Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na
histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para
a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no
estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado
Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro
na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa
sociedade
VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA
13
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute
como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa
foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia
amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da
harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser
qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a
ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos
brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia
discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto
natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo
sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso
racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a
norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa
visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do
povo brasileiro
Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser
quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no
meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre
encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)
Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo
racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na
academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada
vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser
enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio
conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas
histoacuterias
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
14
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das
reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes
Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras
que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira
1 HENRIQUE DIAS
Mas afinal quem foi Henrique Dias
Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e
provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na
guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que
ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao
longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil
se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem
COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
1 HENRIQUE DIAS
15
pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria
Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma
contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do
historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais
motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que
era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade
de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava
proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa
de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e
contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco
A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros
negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a
eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por
negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que
se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais
uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao
impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por
outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e
possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na
sociedade
Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos
Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado
pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de
1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos
de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um
longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por
volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a
Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O
rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo
prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros
empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho
Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo
despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo
autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa
16
Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo
prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo
de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do
proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV
veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades
por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando
definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo
Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito
Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8
de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo
Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido
ZUMBI
Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia
Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem
africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares
foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o
batizou com o nome de Francisco
Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se
tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia
pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas
armadas de Palmares
Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que
atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e
Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio
Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi
castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife
2 ZUMBI
17
1 ADELINA A CHARUTEIRA
Mas afinal quem foi Adelina a charuteira
No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX
tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como
Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e
assim eacute a sua histoacuteria
Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)
O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de
relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em
circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois
possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e
articulassem fugas de escravos
ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das
mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)
3 ADELINA A
CHARUTEIRA
18
4 LUIZ GAMA
Mas afinal quem foi Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu
no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs
boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin
Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo
proacuteprio pai para pagar dividas de jogo
Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo
senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de
sua condiccedilatildeo de negro liberto
Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento
coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais
eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que
desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara
Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata
algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em
legiacutetima defesardquo
Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)
5 LINO GUEDES
Afinal quem foi Lino Guedes
Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao
racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente
de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que
para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem
o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras
4 LUIZ GAMA
5 LINO GUEDES
19
levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu
em Satildeo Paulo em 1951
6 CAROLINA MARIA DE JESUS
Afinal quem foi Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais
em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo
Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa
cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de
trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua
morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos
Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher
brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo
Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela
leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e
escrever
Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha
da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela
feito por Carolina
Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a
favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece
Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro
livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os
abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela
6 CAROLINA MARIA
DE JESUS
20
7 SOLANO TRINDADE
Afinal quem foi Solano Trindade
Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia
contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar
um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras
elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o
racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974
Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a
escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e
folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife
capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira
Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de
Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever
Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua
carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930
quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente
participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em
1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que
tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros
Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande
do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de
Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro
do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo
seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o
Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com
jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso
Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o
seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc
Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e
Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de
7 SOLANO TRINDADE
21
cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular
Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o
folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB
onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em
1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano
Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974
Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de
2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes
adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes
no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo
incontestavelmente atuais
Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma
Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)
5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)
Afinal quem era Dom Obaacute
Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na
cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e
considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute
significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo
Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao
qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em
elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute
escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais
de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-
199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro
do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava
reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora
dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de
alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de
8 CAcircNDIDO DA FONSECA
GALVAtildeO (DOM OBAacute)
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
8
II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE
Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econocircmica Aplicadas os negros
e pardos representam 452 da populaccedilatildeo brasileira aproximadamente 73 milhotildees
de pessoas (Rocha 2006 p 13) no entanto a convivecircncia entre padrotildees da cultura
Africana e da cultura branca europeacuteia natildeo tem sido suficiente para eliminar
ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais Segundo Ana Luacutecia Lopes (2006)
ainda persiste em nosso paiacutes um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e
valoriza principalmente as raiacutezes europeacuteias da sua cultura ignorando ou pouco
valorizando as outras que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica No final do seacuteculo
XIX o grande desafio era tornar o Brasil uma naccedilatildeo moderna Com a escravidatildeo
abolida com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o caminho estava aberto para a
modernidade Como uma naccedilatildeo com tantos negros poderia ser uma naccedilatildeo
moderna A soluccedilatildeo era o embranquecimento do povo brasileiro
II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO
HISTORICAMENTE
Afro-brasileiro Adjetivo usado para referir-se agrave parcela significativa da populaccedilatildeo brasileira com ascendecircncia parcial ou totalmente africana O termo tem patrocinado uma calorosa discussatildeo sobre quem representa efetivamente esse segmento populacional no Brasil Principalmente depois dos posicionamentos oficiais em relaccedilatildeo agrave reserva de vagas pelo sistema de cotas para
negros na universidade
FACcedilA A LEITURA DAS DIRETRIZES PARA O ENSINO DA HISTOacuteRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO - BRASILEIRA E ELABORE EM GRUPO UM CARTAZ ONDE APARECcedilA O QUE VOCEcircS CONSIDERARAM DE MAIS SIGNIFICATIVO NESTE DOCUMENTO
9
O desejo de construir uma sociedade
brasileira nos moldes das sociedades brancas
europeacuteias levou a valorizaccedilatildeo da raccedila branca na
construccedilatildeo da identidade brasileira deixando para
segundo plano a participaccedilatildeo dos africanos e
indiacutegenas nesta construccedilatildeo Portanto podemos dizer
que a negaccedilatildeo da histoacuteria social desses povos foi
tambeacutem uma medida de dominaccedilatildeo e de controle social
e poliacutetico de um grupo sobre os demais (Lima 2004)
O preconceito estaacute ligado diretamente ao nosso passado no qual os
negros eram considerados seres inferiores incapazes de construiacuterem civilizaccedilotildees
(Souza 2008 p 140) Com base nos estudos darwinianos pensadores como o
francecircs Joseph-Auguste de Gobineau o alematildeo Richard Wagner e o inglecircs Houston
Steward Chamberlain desenvolveram a tese segundo a qual alguns grupos
humanos teriam herdado certas caracteriacutesticas que os tornavam superiores e os
autorizavam a comandar e explorar outros povos e outros considerados fracos por
terem herdado caracteriacutesticas que os tornavam naturalmente inferiores e
predestinados a serem comandados (Bento 2005 p 25) Diante disso as
caracteriacutesticas fiacutesicas passaram a distinguir os seres humanos e estabelecer
diferenccedilas intelectuais e morais entre eles Surge entatildeo a foacutermula baacutesica do
racismo o negro seria inferior preguiccediloso indolente caprichoso sensual incapaz
de raciocinar e o branco empreendedor disciplinado inteligentes enfim qualidades
que justificariam a exploraccedilatildeo deste sobre aquele
Assim com base nessas ideias de superioridade racial do branco foi
estabelecida no Brasil a poliacutetica do branqueamento A propoacutesito o trecho do livro
Cidadania em Preto e Banco obra de Maria Aparecida Silva Bento nos diz
Intelectuais meacutedicos advogados poliacuteticos brasileiros se entusiasmam com a ideia de que a raccedila branca era superior As teorias raciais trouxeram consigo um problema seacuterio para o Brasil A elite brasileira desejava apresentar o Brasil como um paiacutes branco igualzinho agrave Europa Mas como explicar que de fato o Brasil era um paiacutes majoritariamente negro (nesta eacutepoca 1872 o censo indicava que 55 da populaccedilatildeo era negra) que se enriqueceu com o trabalho escravo (BENTO 2005 p 29)
Estereoacutetipo eacute a
imagem preconcebida de determinada pessoa coisa ou
situaccedilatildeo
10
Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores
ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades
A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS
CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA
11
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos
problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas
Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da
existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de
violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da
educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )
Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989
ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
12
crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural
da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da
democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute
passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra
barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro
assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os
professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo
e desenvolvimento da nossa sociedade
O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a
economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do
Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura
Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na
histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para
a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no
estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado
Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro
na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa
sociedade
VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA
13
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute
como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa
foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia
amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da
harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser
qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a
ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos
brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia
discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto
natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo
sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso
racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a
norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa
visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do
povo brasileiro
Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser
quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no
meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre
encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)
Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo
racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na
academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada
vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser
enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio
conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas
histoacuterias
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
14
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das
reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes
Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras
que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira
1 HENRIQUE DIAS
Mas afinal quem foi Henrique Dias
Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e
provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na
guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que
ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao
longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil
se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem
COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
1 HENRIQUE DIAS
15
pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria
Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma
contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do
historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais
motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que
era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade
de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava
proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa
de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e
contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco
A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros
negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a
eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por
negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que
se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais
uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao
impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por
outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e
possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na
sociedade
Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos
Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado
pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de
1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos
de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um
longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por
volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a
Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O
rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo
prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros
empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho
Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo
despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo
autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa
16
Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo
prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo
de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do
proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV
veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades
por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando
definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo
Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito
Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8
de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo
Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido
ZUMBI
Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia
Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem
africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares
foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o
batizou com o nome de Francisco
Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se
tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia
pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas
armadas de Palmares
Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que
atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e
Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio
Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi
castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife
2 ZUMBI
17
1 ADELINA A CHARUTEIRA
Mas afinal quem foi Adelina a charuteira
No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX
tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como
Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e
assim eacute a sua histoacuteria
Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)
O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de
relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em
circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois
possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e
articulassem fugas de escravos
ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das
mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)
3 ADELINA A
CHARUTEIRA
18
4 LUIZ GAMA
Mas afinal quem foi Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu
no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs
boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin
Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo
proacuteprio pai para pagar dividas de jogo
Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo
senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de
sua condiccedilatildeo de negro liberto
Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento
coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais
eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que
desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara
Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata
algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em
legiacutetima defesardquo
Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)
5 LINO GUEDES
Afinal quem foi Lino Guedes
Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao
racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente
de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que
para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem
o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras
4 LUIZ GAMA
5 LINO GUEDES
19
levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu
em Satildeo Paulo em 1951
6 CAROLINA MARIA DE JESUS
Afinal quem foi Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais
em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo
Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa
cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de
trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua
morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos
Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher
brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo
Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela
leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e
escrever
Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha
da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela
feito por Carolina
Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a
favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece
Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro
livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os
abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela
6 CAROLINA MARIA
DE JESUS
20
7 SOLANO TRINDADE
Afinal quem foi Solano Trindade
Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia
contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar
um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras
elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o
racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974
Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a
escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e
folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife
capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira
Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de
Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever
Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua
carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930
quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente
participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em
1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que
tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros
Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande
do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de
Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro
do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo
seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o
Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com
jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso
Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o
seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc
Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e
Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de
7 SOLANO TRINDADE
21
cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular
Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o
folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB
onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em
1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano
Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974
Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de
2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes
adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes
no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo
incontestavelmente atuais
Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma
Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)
5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)
Afinal quem era Dom Obaacute
Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na
cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e
considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute
significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo
Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao
qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em
elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute
escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais
de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-
199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro
do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava
reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora
dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de
alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de
8 CAcircNDIDO DA FONSECA
GALVAtildeO (DOM OBAacute)
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
9
O desejo de construir uma sociedade
brasileira nos moldes das sociedades brancas
europeacuteias levou a valorizaccedilatildeo da raccedila branca na
construccedilatildeo da identidade brasileira deixando para
segundo plano a participaccedilatildeo dos africanos e
indiacutegenas nesta construccedilatildeo Portanto podemos dizer
que a negaccedilatildeo da histoacuteria social desses povos foi
tambeacutem uma medida de dominaccedilatildeo e de controle social
e poliacutetico de um grupo sobre os demais (Lima 2004)
O preconceito estaacute ligado diretamente ao nosso passado no qual os
negros eram considerados seres inferiores incapazes de construiacuterem civilizaccedilotildees
(Souza 2008 p 140) Com base nos estudos darwinianos pensadores como o
francecircs Joseph-Auguste de Gobineau o alematildeo Richard Wagner e o inglecircs Houston
Steward Chamberlain desenvolveram a tese segundo a qual alguns grupos
humanos teriam herdado certas caracteriacutesticas que os tornavam superiores e os
autorizavam a comandar e explorar outros povos e outros considerados fracos por
terem herdado caracteriacutesticas que os tornavam naturalmente inferiores e
predestinados a serem comandados (Bento 2005 p 25) Diante disso as
caracteriacutesticas fiacutesicas passaram a distinguir os seres humanos e estabelecer
diferenccedilas intelectuais e morais entre eles Surge entatildeo a foacutermula baacutesica do
racismo o negro seria inferior preguiccediloso indolente caprichoso sensual incapaz
de raciocinar e o branco empreendedor disciplinado inteligentes enfim qualidades
que justificariam a exploraccedilatildeo deste sobre aquele
Assim com base nessas ideias de superioridade racial do branco foi
estabelecida no Brasil a poliacutetica do branqueamento A propoacutesito o trecho do livro
Cidadania em Preto e Banco obra de Maria Aparecida Silva Bento nos diz
Intelectuais meacutedicos advogados poliacuteticos brasileiros se entusiasmam com a ideia de que a raccedila branca era superior As teorias raciais trouxeram consigo um problema seacuterio para o Brasil A elite brasileira desejava apresentar o Brasil como um paiacutes branco igualzinho agrave Europa Mas como explicar que de fato o Brasil era um paiacutes majoritariamente negro (nesta eacutepoca 1872 o censo indicava que 55 da populaccedilatildeo era negra) que se enriqueceu com o trabalho escravo (BENTO 2005 p 29)
Estereoacutetipo eacute a
imagem preconcebida de determinada pessoa coisa ou
situaccedilatildeo
10
Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores
ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades
A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS
CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA
11
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos
problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas
Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da
existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de
violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da
educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )
Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989
ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
12
crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural
da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da
democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute
passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra
barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro
assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os
professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo
e desenvolvimento da nossa sociedade
O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a
economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do
Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura
Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na
histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para
a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no
estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado
Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro
na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa
sociedade
VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA
13
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute
como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa
foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia
amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da
harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser
qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a
ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos
brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia
discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto
natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo
sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso
racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a
norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa
visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do
povo brasileiro
Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser
quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no
meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre
encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)
Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo
racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na
academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada
vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser
enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio
conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas
histoacuterias
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
14
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das
reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes
Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras
que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira
1 HENRIQUE DIAS
Mas afinal quem foi Henrique Dias
Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e
provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na
guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que
ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao
longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil
se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem
COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
1 HENRIQUE DIAS
15
pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria
Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma
contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do
historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais
motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que
era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade
de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava
proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa
de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e
contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco
A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros
negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a
eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por
negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que
se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais
uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao
impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por
outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e
possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na
sociedade
Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos
Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado
pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de
1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos
de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um
longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por
volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a
Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O
rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo
prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros
empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho
Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo
despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo
autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa
16
Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo
prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo
de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do
proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV
veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades
por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando
definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo
Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito
Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8
de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo
Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido
ZUMBI
Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia
Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem
africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares
foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o
batizou com o nome de Francisco
Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se
tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia
pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas
armadas de Palmares
Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que
atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e
Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio
Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi
castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife
2 ZUMBI
17
1 ADELINA A CHARUTEIRA
Mas afinal quem foi Adelina a charuteira
No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX
tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como
Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e
assim eacute a sua histoacuteria
Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)
O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de
relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em
circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois
possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e
articulassem fugas de escravos
ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das
mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)
3 ADELINA A
CHARUTEIRA
18
4 LUIZ GAMA
Mas afinal quem foi Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu
no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs
boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin
Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo
proacuteprio pai para pagar dividas de jogo
Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo
senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de
sua condiccedilatildeo de negro liberto
Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento
coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais
eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que
desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara
Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata
algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em
legiacutetima defesardquo
Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)
5 LINO GUEDES
Afinal quem foi Lino Guedes
Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao
racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente
de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que
para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem
o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras
4 LUIZ GAMA
5 LINO GUEDES
19
levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu
em Satildeo Paulo em 1951
6 CAROLINA MARIA DE JESUS
Afinal quem foi Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais
em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo
Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa
cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de
trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua
morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos
Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher
brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo
Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela
leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e
escrever
Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha
da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela
feito por Carolina
Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a
favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece
Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro
livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os
abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela
6 CAROLINA MARIA
DE JESUS
20
7 SOLANO TRINDADE
Afinal quem foi Solano Trindade
Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia
contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar
um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras
elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o
racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974
Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a
escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e
folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife
capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira
Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de
Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever
Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua
carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930
quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente
participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em
1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que
tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros
Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande
do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de
Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro
do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo
seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o
Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com
jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso
Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o
seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc
Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e
Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de
7 SOLANO TRINDADE
21
cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular
Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o
folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB
onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em
1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano
Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974
Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de
2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes
adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes
no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo
incontestavelmente atuais
Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma
Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)
5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)
Afinal quem era Dom Obaacute
Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na
cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e
considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute
significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo
Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao
qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em
elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute
escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais
de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-
199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro
do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava
reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora
dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de
alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de
8 CAcircNDIDO DA FONSECA
GALVAtildeO (DOM OBAacute)
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
10
Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores
ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades
A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS
CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA
11
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos
problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas
Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da
existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de
violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da
educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )
Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989
ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
12
crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural
da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da
democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute
passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra
barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro
assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os
professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo
e desenvolvimento da nossa sociedade
O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a
economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do
Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura
Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na
histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para
a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no
estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado
Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro
na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa
sociedade
VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA
13
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute
como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa
foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia
amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da
harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser
qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a
ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos
brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia
discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto
natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo
sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso
racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a
norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa
visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do
povo brasileiro
Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser
quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no
meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre
encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)
Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo
racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na
academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada
vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser
enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio
conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas
histoacuterias
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
14
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das
reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes
Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras
que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira
1 HENRIQUE DIAS
Mas afinal quem foi Henrique Dias
Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e
provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na
guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que
ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao
longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil
se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem
COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
1 HENRIQUE DIAS
15
pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria
Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma
contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do
historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais
motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que
era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade
de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava
proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa
de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e
contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco
A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros
negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a
eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por
negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que
se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais
uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao
impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por
outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e
possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na
sociedade
Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos
Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado
pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de
1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos
de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um
longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por
volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a
Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O
rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo
prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros
empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho
Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo
despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo
autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa
16
Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo
prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo
de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do
proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV
veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades
por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando
definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo
Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito
Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8
de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo
Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido
ZUMBI
Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia
Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem
africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares
foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o
batizou com o nome de Francisco
Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se
tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia
pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas
armadas de Palmares
Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que
atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e
Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio
Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi
castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife
2 ZUMBI
17
1 ADELINA A CHARUTEIRA
Mas afinal quem foi Adelina a charuteira
No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX
tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como
Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e
assim eacute a sua histoacuteria
Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)
O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de
relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em
circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois
possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e
articulassem fugas de escravos
ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das
mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)
3 ADELINA A
CHARUTEIRA
18
4 LUIZ GAMA
Mas afinal quem foi Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu
no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs
boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin
Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo
proacuteprio pai para pagar dividas de jogo
Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo
senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de
sua condiccedilatildeo de negro liberto
Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento
coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais
eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que
desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara
Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata
algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em
legiacutetima defesardquo
Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)
5 LINO GUEDES
Afinal quem foi Lino Guedes
Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao
racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente
de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que
para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem
o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras
4 LUIZ GAMA
5 LINO GUEDES
19
levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu
em Satildeo Paulo em 1951
6 CAROLINA MARIA DE JESUS
Afinal quem foi Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais
em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo
Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa
cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de
trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua
morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos
Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher
brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo
Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela
leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e
escrever
Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha
da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela
feito por Carolina
Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a
favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece
Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro
livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os
abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela
6 CAROLINA MARIA
DE JESUS
20
7 SOLANO TRINDADE
Afinal quem foi Solano Trindade
Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia
contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar
um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras
elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o
racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974
Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a
escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e
folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife
capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira
Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de
Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever
Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua
carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930
quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente
participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em
1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que
tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros
Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande
do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de
Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro
do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo
seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o
Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com
jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso
Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o
seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc
Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e
Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de
7 SOLANO TRINDADE
21
cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular
Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o
folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB
onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em
1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano
Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974
Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de
2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes
adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes
no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo
incontestavelmente atuais
Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma
Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)
5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)
Afinal quem era Dom Obaacute
Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na
cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e
considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute
significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo
Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao
qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em
elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute
escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais
de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-
199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro
do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava
reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora
dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de
alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de
8 CAcircNDIDO DA FONSECA
GALVAtildeO (DOM OBAacute)
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
11
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos
problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas
Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da
existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de
violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da
educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )
Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989
ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)
III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
12
crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural
da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da
democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute
passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra
barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro
assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os
professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo
e desenvolvimento da nossa sociedade
O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a
economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do
Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura
Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na
histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para
a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no
estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado
Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro
na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa
sociedade
VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA
13
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute
como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa
foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia
amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da
harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser
qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a
ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos
brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia
discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto
natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo
sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso
racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a
norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa
visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do
povo brasileiro
Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser
quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no
meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre
encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)
Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo
racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na
academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada
vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser
enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio
conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas
histoacuterias
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
14
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das
reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes
Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras
que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira
1 HENRIQUE DIAS
Mas afinal quem foi Henrique Dias
Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e
provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na
guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que
ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao
longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil
se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem
COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
1 HENRIQUE DIAS
15
pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria
Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma
contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do
historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais
motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que
era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade
de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava
proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa
de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e
contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco
A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros
negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a
eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por
negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que
se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais
uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao
impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por
outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e
possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na
sociedade
Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos
Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado
pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de
1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos
de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um
longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por
volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a
Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O
rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo
prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros
empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho
Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo
despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo
autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa
16
Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo
prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo
de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do
proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV
veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades
por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando
definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo
Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito
Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8
de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo
Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido
ZUMBI
Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia
Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem
africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares
foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o
batizou com o nome de Francisco
Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se
tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia
pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas
armadas de Palmares
Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que
atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e
Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio
Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi
castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife
2 ZUMBI
17
1 ADELINA A CHARUTEIRA
Mas afinal quem foi Adelina a charuteira
No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX
tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como
Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e
assim eacute a sua histoacuteria
Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)
O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de
relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em
circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois
possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e
articulassem fugas de escravos
ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das
mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)
3 ADELINA A
CHARUTEIRA
18
4 LUIZ GAMA
Mas afinal quem foi Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu
no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs
boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin
Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo
proacuteprio pai para pagar dividas de jogo
Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo
senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de
sua condiccedilatildeo de negro liberto
Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento
coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais
eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que
desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara
Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata
algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em
legiacutetima defesardquo
Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)
5 LINO GUEDES
Afinal quem foi Lino Guedes
Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao
racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente
de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que
para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem
o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras
4 LUIZ GAMA
5 LINO GUEDES
19
levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu
em Satildeo Paulo em 1951
6 CAROLINA MARIA DE JESUS
Afinal quem foi Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais
em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo
Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa
cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de
trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua
morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos
Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher
brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo
Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela
leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e
escrever
Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha
da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela
feito por Carolina
Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a
favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece
Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro
livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os
abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela
6 CAROLINA MARIA
DE JESUS
20
7 SOLANO TRINDADE
Afinal quem foi Solano Trindade
Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia
contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar
um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras
elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o
racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974
Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a
escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e
folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife
capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira
Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de
Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever
Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua
carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930
quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente
participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em
1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que
tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros
Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande
do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de
Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro
do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo
seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o
Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com
jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso
Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o
seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc
Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e
Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de
7 SOLANO TRINDADE
21
cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular
Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o
folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB
onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em
1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano
Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974
Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de
2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes
adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes
no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo
incontestavelmente atuais
Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma
Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)
5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)
Afinal quem era Dom Obaacute
Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na
cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e
considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute
significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo
Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao
qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em
elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute
escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais
de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-
199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro
do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava
reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora
dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de
alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de
8 CAcircNDIDO DA FONSECA
GALVAtildeO (DOM OBAacute)
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
12
crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural
da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da
democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute
passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra
barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro
assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os
professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo
e desenvolvimento da nossa sociedade
O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a
economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do
Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura
Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na
histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para
a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no
estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado
Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro
na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa
sociedade
VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA
13
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute
como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa
foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia
amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da
harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser
qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a
ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos
brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia
discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto
natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo
sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso
racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a
norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa
visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do
povo brasileiro
Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser
quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no
meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre
encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)
Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo
racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na
academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada
vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser
enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio
conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas
histoacuterias
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
14
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das
reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes
Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras
que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira
1 HENRIQUE DIAS
Mas afinal quem foi Henrique Dias
Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e
provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na
guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que
ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao
longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil
se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem
COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
1 HENRIQUE DIAS
15
pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria
Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma
contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do
historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais
motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que
era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade
de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava
proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa
de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e
contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco
A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros
negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a
eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por
negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que
se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais
uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao
impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por
outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e
possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na
sociedade
Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos
Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado
pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de
1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos
de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um
longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por
volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a
Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O
rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo
prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros
empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho
Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo
despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo
autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa
16
Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo
prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo
de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do
proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV
veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades
por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando
definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo
Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito
Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8
de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo
Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido
ZUMBI
Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia
Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem
africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares
foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o
batizou com o nome de Francisco
Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se
tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia
pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas
armadas de Palmares
Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que
atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e
Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio
Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi
castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife
2 ZUMBI
17
1 ADELINA A CHARUTEIRA
Mas afinal quem foi Adelina a charuteira
No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX
tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como
Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e
assim eacute a sua histoacuteria
Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)
O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de
relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em
circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois
possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e
articulassem fugas de escravos
ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das
mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)
3 ADELINA A
CHARUTEIRA
18
4 LUIZ GAMA
Mas afinal quem foi Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu
no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs
boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin
Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo
proacuteprio pai para pagar dividas de jogo
Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo
senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de
sua condiccedilatildeo de negro liberto
Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento
coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais
eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que
desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara
Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata
algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em
legiacutetima defesardquo
Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)
5 LINO GUEDES
Afinal quem foi Lino Guedes
Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao
racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente
de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que
para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem
o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras
4 LUIZ GAMA
5 LINO GUEDES
19
levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu
em Satildeo Paulo em 1951
6 CAROLINA MARIA DE JESUS
Afinal quem foi Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais
em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo
Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa
cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de
trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua
morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos
Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher
brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo
Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela
leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e
escrever
Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha
da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela
feito por Carolina
Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a
favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece
Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro
livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os
abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela
6 CAROLINA MARIA
DE JESUS
20
7 SOLANO TRINDADE
Afinal quem foi Solano Trindade
Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia
contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar
um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras
elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o
racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974
Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a
escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e
folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife
capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira
Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de
Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever
Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua
carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930
quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente
participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em
1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que
tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros
Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande
do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de
Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro
do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo
seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o
Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com
jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso
Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o
seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc
Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e
Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de
7 SOLANO TRINDADE
21
cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular
Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o
folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB
onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em
1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano
Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974
Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de
2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes
adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes
no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo
incontestavelmente atuais
Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma
Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)
5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)
Afinal quem era Dom Obaacute
Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na
cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e
considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute
significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo
Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao
qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em
elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute
escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais
de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-
199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro
do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava
reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora
dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de
alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de
8 CAcircNDIDO DA FONSECA
GALVAtildeO (DOM OBAacute)
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
13
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute
como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa
foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia
amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da
harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser
qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a
ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos
brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia
discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto
natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo
sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso
racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a
norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa
visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do
povo brasileiro
Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser
quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no
meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre
encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)
Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo
racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na
academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada
vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser
enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio
conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas
histoacuterias
IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA
14
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das
reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes
Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras
que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira
1 HENRIQUE DIAS
Mas afinal quem foi Henrique Dias
Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e
provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na
guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que
ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao
longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil
se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem
COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
1 HENRIQUE DIAS
15
pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria
Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma
contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do
historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais
motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que
era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade
de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava
proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa
de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e
contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco
A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros
negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a
eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por
negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que
se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais
uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao
impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por
outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e
possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na
sociedade
Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos
Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado
pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de
1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos
de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um
longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por
volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a
Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O
rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo
prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros
empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho
Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo
despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo
autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa
16
Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo
prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo
de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do
proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV
veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades
por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando
definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo
Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito
Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8
de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo
Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido
ZUMBI
Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia
Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem
africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares
foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o
batizou com o nome de Francisco
Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se
tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia
pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas
armadas de Palmares
Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que
atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e
Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio
Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi
castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife
2 ZUMBI
17
1 ADELINA A CHARUTEIRA
Mas afinal quem foi Adelina a charuteira
No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX
tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como
Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e
assim eacute a sua histoacuteria
Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)
O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de
relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em
circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois
possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e
articulassem fugas de escravos
ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das
mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)
3 ADELINA A
CHARUTEIRA
18
4 LUIZ GAMA
Mas afinal quem foi Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu
no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs
boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin
Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo
proacuteprio pai para pagar dividas de jogo
Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo
senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de
sua condiccedilatildeo de negro liberto
Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento
coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais
eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que
desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara
Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata
algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em
legiacutetima defesardquo
Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)
5 LINO GUEDES
Afinal quem foi Lino Guedes
Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao
racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente
de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que
para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem
o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras
4 LUIZ GAMA
5 LINO GUEDES
19
levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu
em Satildeo Paulo em 1951
6 CAROLINA MARIA DE JESUS
Afinal quem foi Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais
em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo
Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa
cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de
trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua
morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos
Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher
brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo
Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela
leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e
escrever
Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha
da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela
feito por Carolina
Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a
favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece
Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro
livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os
abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela
6 CAROLINA MARIA
DE JESUS
20
7 SOLANO TRINDADE
Afinal quem foi Solano Trindade
Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia
contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar
um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras
elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o
racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974
Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a
escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e
folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife
capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira
Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de
Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever
Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua
carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930
quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente
participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em
1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que
tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros
Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande
do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de
Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro
do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo
seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o
Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com
jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso
Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o
seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc
Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e
Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de
7 SOLANO TRINDADE
21
cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular
Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o
folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB
onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em
1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano
Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974
Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de
2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes
adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes
no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo
incontestavelmente atuais
Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma
Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)
5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)
Afinal quem era Dom Obaacute
Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na
cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e
considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute
significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo
Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao
qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em
elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute
escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais
de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-
199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro
do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava
reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora
dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de
alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de
8 CAcircNDIDO DA FONSECA
GALVAtildeO (DOM OBAacute)
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
14
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das
reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes
Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras
que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira
1 HENRIQUE DIAS
Mas afinal quem foi Henrique Dias
Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e
provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na
guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que
ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao
longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil
se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem
COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO
V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL
1 HENRIQUE DIAS
15
pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria
Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma
contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do
historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais
motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que
era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade
de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava
proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa
de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e
contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco
A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros
negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a
eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por
negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que
se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais
uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao
impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por
outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e
possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na
sociedade
Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos
Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado
pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de
1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos
de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um
longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por
volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a
Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O
rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo
prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros
empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho
Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo
despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo
autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa
16
Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo
prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo
de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do
proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV
veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades
por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando
definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo
Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito
Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8
de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo
Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido
ZUMBI
Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia
Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem
africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares
foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o
batizou com o nome de Francisco
Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se
tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia
pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas
armadas de Palmares
Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que
atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e
Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio
Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi
castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife
2 ZUMBI
17
1 ADELINA A CHARUTEIRA
Mas afinal quem foi Adelina a charuteira
No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX
tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como
Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e
assim eacute a sua histoacuteria
Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)
O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de
relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em
circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois
possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e
articulassem fugas de escravos
ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das
mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)
3 ADELINA A
CHARUTEIRA
18
4 LUIZ GAMA
Mas afinal quem foi Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu
no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs
boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin
Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo
proacuteprio pai para pagar dividas de jogo
Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo
senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de
sua condiccedilatildeo de negro liberto
Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento
coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais
eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que
desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara
Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata
algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em
legiacutetima defesardquo
Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)
5 LINO GUEDES
Afinal quem foi Lino Guedes
Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao
racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente
de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que
para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem
o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras
4 LUIZ GAMA
5 LINO GUEDES
19
levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu
em Satildeo Paulo em 1951
6 CAROLINA MARIA DE JESUS
Afinal quem foi Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais
em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo
Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa
cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de
trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua
morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos
Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher
brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo
Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela
leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e
escrever
Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha
da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela
feito por Carolina
Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a
favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece
Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro
livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os
abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela
6 CAROLINA MARIA
DE JESUS
20
7 SOLANO TRINDADE
Afinal quem foi Solano Trindade
Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia
contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar
um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras
elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o
racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974
Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a
escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e
folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife
capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira
Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de
Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever
Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua
carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930
quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente
participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em
1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que
tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros
Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande
do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de
Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro
do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo
seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o
Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com
jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso
Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o
seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc
Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e
Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de
7 SOLANO TRINDADE
21
cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular
Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o
folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB
onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em
1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano
Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974
Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de
2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes
adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes
no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo
incontestavelmente atuais
Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma
Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)
5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)
Afinal quem era Dom Obaacute
Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na
cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e
considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute
significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo
Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao
qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em
elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute
escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais
de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-
199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro
do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava
reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora
dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de
alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de
8 CAcircNDIDO DA FONSECA
GALVAtildeO (DOM OBAacute)
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
15
pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria
Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma
contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do
historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais
motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que
era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade
de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava
proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa
de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e
contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco
A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros
negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a
eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por
negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que
se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais
uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao
impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por
outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e
possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na
sociedade
Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos
Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado
pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de
1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos
de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um
longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por
volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a
Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O
rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo
prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros
empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho
Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo
despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo
autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa
16
Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo
prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo
de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do
proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV
veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades
por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando
definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo
Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito
Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8
de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo
Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido
ZUMBI
Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia
Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem
africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares
foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o
batizou com o nome de Francisco
Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se
tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia
pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas
armadas de Palmares
Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que
atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e
Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio
Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi
castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife
2 ZUMBI
17
1 ADELINA A CHARUTEIRA
Mas afinal quem foi Adelina a charuteira
No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX
tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como
Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e
assim eacute a sua histoacuteria
Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)
O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de
relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em
circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois
possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e
articulassem fugas de escravos
ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das
mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)
3 ADELINA A
CHARUTEIRA
18
4 LUIZ GAMA
Mas afinal quem foi Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu
no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs
boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin
Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo
proacuteprio pai para pagar dividas de jogo
Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo
senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de
sua condiccedilatildeo de negro liberto
Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento
coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais
eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que
desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara
Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata
algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em
legiacutetima defesardquo
Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)
5 LINO GUEDES
Afinal quem foi Lino Guedes
Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao
racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente
de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que
para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem
o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras
4 LUIZ GAMA
5 LINO GUEDES
19
levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu
em Satildeo Paulo em 1951
6 CAROLINA MARIA DE JESUS
Afinal quem foi Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais
em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo
Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa
cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de
trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua
morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos
Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher
brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo
Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela
leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e
escrever
Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha
da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela
feito por Carolina
Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a
favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece
Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro
livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os
abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela
6 CAROLINA MARIA
DE JESUS
20
7 SOLANO TRINDADE
Afinal quem foi Solano Trindade
Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia
contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar
um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras
elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o
racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974
Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a
escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e
folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife
capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira
Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de
Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever
Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua
carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930
quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente
participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em
1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que
tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros
Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande
do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de
Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro
do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo
seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o
Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com
jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso
Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o
seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc
Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e
Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de
7 SOLANO TRINDADE
21
cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular
Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o
folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB
onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em
1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano
Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974
Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de
2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes
adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes
no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo
incontestavelmente atuais
Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma
Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)
5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)
Afinal quem era Dom Obaacute
Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na
cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e
considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute
significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo
Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao
qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em
elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute
escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais
de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-
199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro
do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava
reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora
dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de
alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de
8 CAcircNDIDO DA FONSECA
GALVAtildeO (DOM OBAacute)
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
16
Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo
prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo
de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do
proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV
veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades
por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando
definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo
Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito
Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8
de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo
Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido
ZUMBI
Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia
Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem
africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares
foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o
batizou com o nome de Francisco
Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se
tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia
pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas
armadas de Palmares
Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que
atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e
Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio
Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi
castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife
2 ZUMBI
17
1 ADELINA A CHARUTEIRA
Mas afinal quem foi Adelina a charuteira
No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX
tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como
Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e
assim eacute a sua histoacuteria
Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)
O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de
relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em
circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois
possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e
articulassem fugas de escravos
ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das
mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)
3 ADELINA A
CHARUTEIRA
18
4 LUIZ GAMA
Mas afinal quem foi Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu
no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs
boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin
Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo
proacuteprio pai para pagar dividas de jogo
Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo
senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de
sua condiccedilatildeo de negro liberto
Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento
coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais
eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que
desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara
Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata
algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em
legiacutetima defesardquo
Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)
5 LINO GUEDES
Afinal quem foi Lino Guedes
Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao
racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente
de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que
para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem
o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras
4 LUIZ GAMA
5 LINO GUEDES
19
levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu
em Satildeo Paulo em 1951
6 CAROLINA MARIA DE JESUS
Afinal quem foi Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais
em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo
Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa
cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de
trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua
morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos
Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher
brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo
Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela
leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e
escrever
Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha
da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela
feito por Carolina
Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a
favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece
Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro
livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os
abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela
6 CAROLINA MARIA
DE JESUS
20
7 SOLANO TRINDADE
Afinal quem foi Solano Trindade
Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia
contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar
um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras
elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o
racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974
Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a
escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e
folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife
capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira
Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de
Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever
Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua
carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930
quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente
participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em
1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que
tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros
Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande
do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de
Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro
do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo
seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o
Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com
jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso
Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o
seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc
Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e
Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de
7 SOLANO TRINDADE
21
cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular
Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o
folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB
onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em
1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano
Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974
Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de
2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes
adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes
no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo
incontestavelmente atuais
Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma
Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)
5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)
Afinal quem era Dom Obaacute
Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na
cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e
considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute
significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo
Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao
qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em
elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute
escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais
de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-
199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro
do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava
reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora
dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de
alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de
8 CAcircNDIDO DA FONSECA
GALVAtildeO (DOM OBAacute)
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
17
1 ADELINA A CHARUTEIRA
Mas afinal quem foi Adelina a charuteira
No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX
tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como
Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e
assim eacute a sua histoacuteria
Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)
O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de
relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em
circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois
possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e
articulassem fugas de escravos
ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das
mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)
3 ADELINA A
CHARUTEIRA
18
4 LUIZ GAMA
Mas afinal quem foi Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu
no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs
boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin
Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo
proacuteprio pai para pagar dividas de jogo
Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo
senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de
sua condiccedilatildeo de negro liberto
Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento
coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais
eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que
desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara
Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata
algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em
legiacutetima defesardquo
Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)
5 LINO GUEDES
Afinal quem foi Lino Guedes
Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao
racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente
de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que
para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem
o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras
4 LUIZ GAMA
5 LINO GUEDES
19
levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu
em Satildeo Paulo em 1951
6 CAROLINA MARIA DE JESUS
Afinal quem foi Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais
em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo
Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa
cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de
trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua
morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos
Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher
brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo
Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela
leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e
escrever
Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha
da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela
feito por Carolina
Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a
favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece
Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro
livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os
abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela
6 CAROLINA MARIA
DE JESUS
20
7 SOLANO TRINDADE
Afinal quem foi Solano Trindade
Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia
contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar
um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras
elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o
racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974
Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a
escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e
folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife
capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira
Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de
Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever
Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua
carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930
quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente
participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em
1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que
tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros
Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande
do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de
Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro
do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo
seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o
Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com
jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso
Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o
seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc
Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e
Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de
7 SOLANO TRINDADE
21
cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular
Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o
folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB
onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em
1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano
Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974
Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de
2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes
adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes
no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo
incontestavelmente atuais
Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma
Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)
5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)
Afinal quem era Dom Obaacute
Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na
cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e
considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute
significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo
Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao
qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em
elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute
escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais
de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-
199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro
do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava
reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora
dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de
alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de
8 CAcircNDIDO DA FONSECA
GALVAtildeO (DOM OBAacute)
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
18
4 LUIZ GAMA
Mas afinal quem foi Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu
no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs
boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin
Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo
proacuteprio pai para pagar dividas de jogo
Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo
senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de
sua condiccedilatildeo de negro liberto
Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento
coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais
eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que
desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara
Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata
algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em
legiacutetima defesardquo
Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)
5 LINO GUEDES
Afinal quem foi Lino Guedes
Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao
racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente
de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que
para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem
o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras
4 LUIZ GAMA
5 LINO GUEDES
19
levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu
em Satildeo Paulo em 1951
6 CAROLINA MARIA DE JESUS
Afinal quem foi Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais
em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo
Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa
cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de
trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua
morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos
Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher
brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo
Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela
leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e
escrever
Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha
da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela
feito por Carolina
Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a
favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece
Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro
livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os
abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela
6 CAROLINA MARIA
DE JESUS
20
7 SOLANO TRINDADE
Afinal quem foi Solano Trindade
Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia
contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar
um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras
elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o
racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974
Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a
escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e
folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife
capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira
Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de
Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever
Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua
carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930
quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente
participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em
1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que
tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros
Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande
do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de
Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro
do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo
seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o
Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com
jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso
Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o
seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc
Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e
Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de
7 SOLANO TRINDADE
21
cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular
Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o
folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB
onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em
1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano
Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974
Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de
2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes
adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes
no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo
incontestavelmente atuais
Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma
Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)
5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)
Afinal quem era Dom Obaacute
Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na
cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e
considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute
significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo
Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao
qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em
elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute
escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais
de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-
199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro
do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava
reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora
dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de
alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de
8 CAcircNDIDO DA FONSECA
GALVAtildeO (DOM OBAacute)
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
19
levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu
em Satildeo Paulo em 1951
6 CAROLINA MARIA DE JESUS
Afinal quem foi Carolina de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais
em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo
Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa
cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de
trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua
morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos
Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher
brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo
Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela
leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e
escrever
Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha
da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela
feito por Carolina
Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a
favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece
Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro
livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os
abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela
6 CAROLINA MARIA
DE JESUS
20
7 SOLANO TRINDADE
Afinal quem foi Solano Trindade
Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia
contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar
um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras
elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o
racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974
Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a
escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e
folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife
capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira
Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de
Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever
Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua
carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930
quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente
participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em
1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que
tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros
Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande
do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de
Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro
do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo
seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o
Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com
jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso
Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o
seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc
Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e
Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de
7 SOLANO TRINDADE
21
cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular
Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o
folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB
onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em
1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano
Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974
Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de
2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes
adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes
no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo
incontestavelmente atuais
Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma
Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)
5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)
Afinal quem era Dom Obaacute
Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na
cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e
considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute
significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo
Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao
qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em
elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute
escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais
de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-
199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro
do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava
reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora
dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de
alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de
8 CAcircNDIDO DA FONSECA
GALVAtildeO (DOM OBAacute)
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
20
7 SOLANO TRINDADE
Afinal quem foi Solano Trindade
Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia
contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar
um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras
elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o
racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974
Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a
escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e
folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife
capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira
Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de
Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever
Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua
carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930
quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente
participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em
1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que
tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros
Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande
do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de
Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro
do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo
seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o
Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com
jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso
Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o
seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc
Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e
Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de
7 SOLANO TRINDADE
21
cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular
Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o
folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB
onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em
1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano
Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974
Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de
2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes
adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes
no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo
incontestavelmente atuais
Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma
Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)
5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)
Afinal quem era Dom Obaacute
Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na
cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e
considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute
significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo
Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao
qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em
elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute
escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais
de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-
199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro
do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava
reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora
dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de
alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de
8 CAcircNDIDO DA FONSECA
GALVAtildeO (DOM OBAacute)
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
21
cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular
Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o
folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB
onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em
1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano
Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974
Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de
2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes
adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes
no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo
incontestavelmente atuais
Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma
Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)
5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)
Afinal quem era Dom Obaacute
Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na
cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e
considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute
significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo
Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao
qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em
elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute
escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais
de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-
199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro
do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava
reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora
dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de
alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de
8 CAcircNDIDO DA FONSECA
GALVAtildeO (DOM OBAacute)
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
22
moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em
que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos
seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador
para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo
[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]
MAS AFINAL QUEM FOI
AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
23
REFEREcircNCIAS
BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010
24
Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010