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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2008 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-040-7 Cadernos PDE VOLUME II

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2008

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-040-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

2

IDENTIFICAÇÃO

Instituição de Ensino Superior: UFPR

Professor Orientador: Prof.ª Dr.ª Dulce Osinski

Professor PDE: Rosane Adele Camilotti Queluz

NRE: Área Metropolitana Norte

Disciplina: Arte

Título da Produção didático-pedagógica: As Artes Visuais nas décadas 60 e 70 do

século XX, sua história e as relações com o contexto cultural.

Conteúdo Estruturante: Movimentos e Períodos

Conteúdo Específico: Arte Paranaense

UM POUCO DE CONVERSA...

Ao perguntar a um adolescente se ele conhecia a arte produzida no Paraná,

ele respondeu:

- Eu não conheço, eu nunca estudei.

Sua resposta encadeia na verdade, outras tantas perguntas. O que nos vem

em mente quando falamos em arte? De que arte estamos falando? Artes Visuais,

Música, Teatro, Dança... Como entramos em contato com ela? É só na escola? E os

Museus, as galerias, os teatros, as locadoras, as rádios, as TVs, os computadores...

Como o nosso gosto artístico está sendo formado? Na escola, o que é trabalhado?

Qual o papel da arte na escola? Por que desconhecemos o que está tão próximo de

nós? Será que não estamos deixando um pouco de lado algo que pode nos ajudar a

conhecer a nossa própria história, a nossa formação cultural?

Vamos refletir um pouco sobre estas questões.

A mesma pergunta estou fazendo a vocês. Quando falamos em arte

produzida no Paraná, o que vocês têm a dizer?

Peço que cada um faça um texto tentando responder às perguntas feitas

acima. Fiquem à vontade para acrescentar o que acharem necessário.

3

VAMOS CONHECER AS IDÉIAS?

Esse momento é muito importante, pois nos ajudará a perceber pontos de

vista e experiências, e nos dará elementos para organizarmos e direcionarmos

nossas atividades para aprofundar o conhecimento sobre a arte produzida em nosso

Estado, a partir das idéias e conhecimentos de cada um.

Para organizar a atividade, proponho que cada um (uma) apresente para o

grupo o que escreveu lembrando que a escola é um lugar onde aprendemos

também pela troca de idéias...

PLANEJANDO...

Vamos fazer um passeio pela Arte Paranaense, a partir das Artes Visuais. Vocês

vão conhecer um pouco sobre as décadas de 60-70 do século XX, pois neste

período aconteceram fatos importantes e que nos auxiliam na compreensão da

produção artística contemporânea. Vamos refletir sobre o contexto histórico e

cultural, as relações entre arte e política, os embates entre “acadêmicos” e

“modernos”, a introdução e a aceitação oficial da abstração como forma de

expressão artística, as mudanças e os rumos que as artes visuais tomaram.

AS ARTES VISUAIS NAS DÉCADAS 60 E 70 DO SÉCULO XX, SUA

HISTÓRIA E AS RELAÇÕES COM O CONTEXTO CULTURAL

AS RELAÇÕES ENTRE ARTE E POLÍTICA

Para refletir sobre esta questão, o historiador paranaense FREITAS (2003)

pode nos ajudar com os estudos que realizou sobre o período de 1968-1973, onde

procurou compreender como os artistas plásticos se posicionaram frente ao poder

repressivo do regime militar. Freitas analisa algumas obras escolhidas, premiadas ou

selecionadas no Salão Paranaense. No Salão de 1968, uma das obras premiadas é

Movimento estudantil de Antônio Manuel, obra que pertence ao acervo do Museu de

Arte Contemporânea do Paraná. A técnica utilizada é a Serigrafia de Flan.

Observe a reprodução da obra:

4

MANUEL, A. Movimento estudantil 68 A. 1968. 1 reprodução de arte. p&b., 122 x 80 cm,

em papel. Disponível em: http://josekuller.wordpress.com/2008/08/04/1968-mais-arte-plastica/.

Acesso em 29/10/08.

5

MANUEL, A. Movimento estudantil 68 A. 1968. 1 reprodução de arte. p&b., 122 x 80 cm, em papel.

Disponível em: http://josekuller.wordpress.com/2008/08/04/1968-mais-arte-plastica/. Acesso em

29/10/08.

Observe igualmente a imagem abaixo, registrada também em 1968, divulgada em

jornal.

6

Ministério da Cultura e Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. 68

Utópicos e Rebeldes. 2008. 1 reprodução de arte. color. em papel.

A imagem registra a morte do secundarista Édson Luís, assassinado pela polícia

carioca durante uma passeata. A Exposição “68 UTÓPICOS E REBELDES”:

aconteceu no Museu Paranaense, em Curitiba no período 25 de setembro a 13 de

outubro de 2008.

REFLETINDO EM GRUPO...

Como podemos descrever a obra?

Que relação podemos estabelecer entre a obra Movimento estudantil e a imagem

mostrada na exposição?

Qual a relação do tema com o contexto político da época?

Qual a técnica utilizada pelo artista?

Quais as interpretações que podemos formular?

O que significa a premiação desta obra no Salão Paranaense?

7

VAMOS CONHECER UM POUCO SOBRE O ARTISTA ANTONIO MANUEL

ATRAVÉS DA LEITURA DO TEXTO “A pop art brasileira contra a ditadura – arte

de vanguarda e resistência política em Antônio Manuel” de Artur Freitas.

(Em anexo e também disponível em:

http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/impressão.php?id=361&pagina=2).

Vamos observar outras imagens:

Ministério da Cultura e Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. 68 Utópicos e Rebeldes. 2008. 1 reprodução de arte. color. em papel.

Exposição “68 UTÓPICOS e

REBELDES”. Museu Paranaense -

Curitiba - 25 de setembro a 13 de

outubro de 2008. Exposição fotográfica

mostrando os principais acontecimentos

no Brasil e no mundo durante o ano de

1968, ano que marcou profundamente a

nossa história.

Realização: Ministério da Cultura e

Secretaria Especial dos Direitos

Humanos da Presidência da República.

Serigrafia: “gravura a cores baseada no princípio do estêncil, e que permite, evidentemente,

a reprodutibilidade de uma mesma imagem-matriz. Graças, sobretudo, à pop, e a produção

de Andy Warhol em especial, a serigrafia ecoava com certa facilidade por esses anos.”

(FREITAS, 2003, p.88).

Serigrafia de flan: “O flan – que era uma peça de oficina gráfica, descartável e utilizada

como matriz das superfícies cilíndricas em impressoras rotativas dos jornais diários,

posteriormente substituídas pelo off-set seria, na poética desse artista, reutilizada enquanto

processo produtivo, surgindo como matriz de sua própria serigrafia”. (FREITAS, 2003, p. 89).

Salão Paranaense: Certame artístico em que artistas concorrem a prêmios e medalhas

baseados na seleção e análise de uma comissão julgadora. (CAMARGO, 2002, P. 60).

8

Ministério da Cultura e Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. 68

Utópicos e Rebeldes. 2008. 1 reprodução de arte. color. em papel.

A imagem registra A Marcha dos Cem Mil em 26 de junho de 1968.

Tozzi, C. Guevara Vivo ou Morto. 1967. 1 reprodução de arte. color., 175 x 300 cm, em papel.

Ministério da Cultura e Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. 68

Utópicos e Rebeldes. 2008

O artista utilizou tinta em massa e acrílica sobre aglomerado.

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VAMOS LER UM COMENTÁRIO COLOCADO NA ABERTURA DA

EXPOSIÇÃO:

“Lembrar e entender 1968 é emblemático. Foram muitos os acontecimentos marcantes. No mundo

houve a revolta dos estudantes em Paris, a Primavera de Praga, o assassinato de Martin Luther King.

No Brasil, a passeata dos Cem Mil, a morte de Edson Luis de Lima Souto, as prisões no Congresso

da UNE em Ibiúna até culminar no amordaçamento imposto pelo Ato Institucional nº. 05. Passadas

quatro décadas, revisitar 1968 é preservar nossa memória. Mais do que isso é reforçar a convicção

na democracia e nos valores de justiça, de liberdade e de igualdade.”

Ministro Paulo Vanucchi -- Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República.

REFLETINDO EM GRUPO..

Como podemos descrever esse período histórico?

Como foi a participação dos artistas? Dos jovens? Da população em geral?

Quais os reflexos daquele período nos dias atuais?

Por que “Utópicos e Rebeldes”?

ATIVIDADE INDIVIDUAL...

Registre sua reflexão utilizando texto e imagem.

APROFUNDANDO NOSSO CONHECIMENTO...

Como podemos observar os anos 60 foram anos agitados. O Brasil estava

submerso em problemas políticos. A ditadura militar imposta desde 1964 instaurou

um período de medo, repressão e tortura. Diante dessa situação vimos o

posicionamento do artista Antônio Manuel, assim como na música popular os nomes

de Chico Buarque ou Geraldo Vandré, no teatro José Celso, no cinema Glauber

Rocha são exemplos de postura crítica frente aquela circunstância. Com o Ato

Institucional nº 5 em 1968, muitos artistas passaram a ter suas obras vigiadas e

censuradas. Muitos foram presos e exilados. Inclusive no Paraná muitos jornalistas,

estudantes, intelectuais e artista foram fichados pelo DOPS (Delegacia de Ordem

Política e Social) e colocados sob suspeita pela polícia política. Contudo muitas

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ações continuaram a acontecer como a criação do Museu de Arte Contemporânea

(MAC) da USP (1963) e a organização da Mostra Opinião, que abordou temas

políticos e contemplou proposições de vanguarda no Museu de Arte Moderna (MAM)

do Rio de Janeiro (1965).

Freitas (2003, p. 15) ao abordar a questão das artes plásticas no Brasil nos

anos sessenta, coloca que a própria noção de “artes plásticas” passa a ser revista.

Cita diversas mudanças: gêneros milenares como a pintura e a escultura são

repensados e questionados, a colagem cubista, o ready-made e as merz dadaístas

são resgatados e fundidos aos novos meios e conceitos, ao corpo, ao processo e ao

tempo e a explosão das linguagens e suportes é um fato internacional nessa época.

Ainda:

Testar os limites que separam a arte da vida é a base desse jogo. (...) O

crescente afluxo das massas às Bienais de arte é proporcional à

incompreensão generalizada da estética contemporânea. E em meio a uma

diversidade expressiva fabulosa, os problemas gerais, enfim, de uma

sociedade de consumo urbanizada e socialmente desigual, bem como os

problemas específicos de uma sociedade brasileira oprimida pelos

desmandos da ditadura militar se tornam conteúdos freqüentes à arte.

Para Freitas, a década de 60 no Paraná foi um período de transformações

intensas. Afirma que existiam diferenças fundamentais entre as forças históricas em

luta no Paraná e as dos maiores centros brasileiros. Exemplifica que em fins dos

anos cinqüenta no Rio de Janeiro, as discussões estavam imersas num ambiente

artístico já adepto a questões específicas da arte moderna enquanto no Paraná um

pequeno grupo de artistas locais lutava por impor suas vontades modernistas frente

a um meio artístico incipiente e hostil onde o ensino artístico oficial e o salão de

belas artes ainda eram bastante acadêmicos. (2003, p. 46). Outro dado é que no

Paraná se dispunha de pouquíssimas informações sobre arte.

Segundo Camargo (2002, p. 74) no início dos anos 60 começa a se esboçar

uma transformação das relações entre as forças que lutavam pela implementação

das idéias de vanguarda em arte no Paraná e este processo é resultante do

cruzamento de diversos fatores políticos, sociais e estéticos que possibilitaram a

alteração dos rumos que vinham sendo seguidos pela produção artística no Paraná.

As tensões internas eram alimentadas por forças de diversas orientações,

11

representadas tanto pelos artistas de posições acadêmicas, quanto pelos artistas

modernos que lutavam por um tratamento diferenciado. Em 1961. (2002, p.80) o

cenário artístico do Paraná, sofreu uma bifurcação na antiga polarização entre os

artistas de tendência acadêmica e os modernos, quando entre os últimos, alguns

preferiram manter-se fortemente ligados à figuração enquanto outros aderiam à

abstração.

Camargo afirma (2002, p. 99):

A renovação dos quadros da burocracia cultural, ocupados pela nova

geração de críticos e artistas com fortes laços com as camadas dirigentes

do Estado, possibilitou a criação das condições para que as formas não

acadêmicas de produção artística pudessem abrir caminho e se tornar

visíveis através dos grandes mecanismos oficiais de validação. Esta

alteração, ocorrida no início da década de 1960, na composição dos cargos

de direção de órgãos públicos com o Departamento de Cultura, tornou

possível a mudança concreta na orientação estética do Salão Paranaense e

a conseqüente mudança de rumos nos padrões para a aceitação das

formas abstratas nas artes plásticas no Paraná, praticadas e discutidas

pelos artistas desde meados da década anterior.

O autor assinala que o nosso cenário na época era composto pelas

instituições que mediavam às relações entre artistas e a sociedade, sendo elas, a

Escola de Música e Belas Artes e o Salão Paranaense de Belas Artes, estes

organizados pelo Departamento de Cultura, que por sua vez era subordinado à

Secretaria de Educação do Estado. Assim reproduzindo os pontos de vista dos

dirigentes do Departamento de Cultura, durante muito tempo as comissões

julgadoras do Salão Paranaense eram escolhidas entre artistas professores da

Escola e pintores acadêmicos, notadamente ligados A Escola Nacional de Belas

Artes do Rio de Janeiro. (2002, p. 121). Porém, as alterações nos rumos da

produção pictórica do Estado começam a se consolidar quando a geração de

intelectuais que participaram da reação à arte acadêmica dominante começa, no

início do governo Ney Braga (1961), a tomar assento na burocracia cultural e assim

pôde fazer valer seus princípios de um modo que dificilmente teria sido possível se

tentado por artistas ou intelectuais sem sua articulação social e política. (2002, p.

122).

12

Nesta década praticamente inexistia no Paraná um mercado de arte que

viabilizasse certo grau de autonomia profissional aos artistas locais, restando a eles

a busca pela aceitação oficial que se dava, sobretudo através das consagrações do

Salão Paranaense. (2002, p. 105).

Esse período de transição foi bastante polêmico e com muitos embates. Na

análise de Freitas (2002, p. 62), quando as obras abstracionistas tornam-se

predominantes e conquistam os principais prêmios do certame (1961, 1962 e 1963),

a reação dos artistas contrários a não figuração (fossem modernos ou acadêmicos)

é, em diversas ocasiões violenta e consegue respaldo tanto dos pintores mais

tradicionais quanto daqueles artistas e intelectuais que, ao defenderem certo ideário

político de esquerda, repudiavam a abstração como uma forma de alienação e

escapismo.

A não-figuração consagra-se com artistas como João Osório Brzezinski,

Antônio Arney, Fernando Calderari, Helena Wong, Fernando Velloso entre outros,

gerando reações agressivas de alguns artistas “figurativos” locais como Paul

Garfunkel, Miguel Bakun, Nilo Previdi, Leonor Botteri entre outros.

Esse período inicial de combate, a uma política cultural voltada à arte

moderna acabou por efetivar o projeto de “abertura cultural” das artes plásticas

paranaenses, uma vez que atingiu o objetivo de levar o meio artístico paranaense ao

diálogo com as discussões e produções estético-ideológicas vigentes em outros

lugares principalmente aos debates da arte moderna como no Rio de Janeiro, São

Paulo e Belo Horizonte. (Freitas, 2003, p. 69).

REFLETINDO EM GRUPO...

Como vocês compreenderam as discussões que estavam acontecendo nas artes

plásticas no Paraná?

Qual foi o papel da Escola de Música e Belas Artes e do Salão Paranaense?

Quais fatores interferiam na definição e aceitação das formas artísticas?

E hoje quem define a aceitação e valorização de formas artísticas?

VAMOS CONHECER E ESTUDAR ALGUNS ARTISTAS DENTRO DAS

ARTES VISUAIS QUE ILUSTRAM AS TENDÊNCIAS DA PRODUÇÃO ARTÍSTICA

DESSE PERÍODO.

Observe a imagem:

13

BRZEZINSKI, J. O. Figuração dum passado. 1967/1992. 1 reprodução de arte. color., 140 x 120 cm,

em papel. In: CASILLO, R. e B. C. Pintores Contemporâneos do Paraná. Curitiba: Solar do Rosário,

2002. p. 53.

João Osório foi um artista inquieto, investigador, experimental. Passou pelo

expressionismo abstrato, pela Pop Art, tanto pela experiência da pintura como pelos

objetos, e hoje explora a figuração. Pintor, desenhista, escultor, programador visual,

decorador. Foi um explorador incomum dos materiais. Com as suas colagens, o

recurso que fez das letras e palavras e o partido que tirou da estopa, tornou-se

pioneiro no uso de materiais insólitos. (JUSTINO, 2002, p. 49).

No esforço em explicar aos críticos da época (1968) o que fazia, João

afirmava ter sido aquela fase um “reflexo de uma necessidade de pesquisa, que

todos temos; necessidade de evitar a estagnação, porque arte sendo algo vivo, não

se pode prender a compartimentos estanques de formas já conquistadas”. Suas

buscas foram além, na apropriação que fez da Pop Art, elaborando o mau gosto

(kitsch), João põe em pauta a discussão da valoração estética. É a época da opção

pelos objetos. (JUSTINO, 2002, p. 49).

14

Observe a imagem:

BRZEZINSKI, J. O. Objeto caipira I. 1970. 1 reprodução de arte. color., 64 x 42 x 18 cm, em papel. In

BORGES, E.; FRESSATO, S. T. B. Arte em seu Estado: história das artes plásticas paranaense –

vol. II. Curitiba: Meduza, 2008. p.53.

Esta obra pertence ao acervo do Museu Oscar Niemeyer e a técnica é Montagem

colagem.

João Osório apresentou no XXVI Salão Paranaense os Objetos caipiras, onde

propõe uma visão caipira frente à tecnologia. O uso do objeto na arte ainda era

pouco conhecido entre os artistas paranaenses e causava certa confusão na sua

classificação dentro das formas artísticas. Vejamos como o próprio artista explica a

obra:

Eu queria fazer a visão caipira da tecnologia. (...) Um caipira não

sabe o que é um computador, mas ele quer fazer um. Um arremedo de

computador. Inclusive eu chamei um de TV em cores, que tinha algo que

parecia uma tela de televisão. Naquele tempo não havia (...) televisão

colorida. [Os trabalhos] tinham essa ironia. Seriam arremedos como um

caboclo faria um objeto que ele não entende como essas tribos aí vêem

15

passar um avião no céu e fazem um avião totêmico, achando que aquele

avião deles vai atrair o de verdade. (...) Então tinha essa função de crítica

social, o nosso subdesenvolvimento. Um pouquinho dentro da pop, mais ou

menos. (Depoimento a Geraldo Leão et al., 2001, citado por FREITAS et al.,

2003)

Freitas ao analisar os Objetos caipiras, diz que a obra “é um questionamento,

uma certa consciência sobre a própria erudição, sobre o crescente contexto massivo,

sobre um Brasil arcaico e moderno, caipira e digital. É um questionamento sobre a

arte, seu pensamento e seu lugar” (2003, p.120).

COMO VOCÊ SE POSICIONA DIANTE DA SOCIEDADE DE CONSUMO?

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COMO VOCÊ ANALISA A ARTE TRATADA COMO MERCADORIA?

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João foi um artista que trabalhou com a abstração e a figuração. Segundo

Justino (2002, p. 49) “em todas as etapas, linhas e cores permanecem puramente

picturais. Os rastros do pintor nunca se apagaram; o gosto pela cor continua sendo o

seu ponto forte (...) o artista realiza uma verdadeira trama entre a virtualidade da

linha e o potencial da cor”.

Nas palavras do próprio artista: “Sempre quis expressar o mundo, o meu

tempo, em formas compatíveis com as características deste mundo. Não para salvá-

lo, porque ele só encontra salvação no amor expresso através de um entendimento

amplo entre os homens”. (JUSTINO, 2002, p. 49).

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BRZEZINSKI, J. O. .In CASILLO, R. e B. C. Pintores Contemporâneos do Paraná. Curitiba: Solar do Rosário, 2002. p.49. João Osório Brzezinski nasceu em Castro, Paraná, em 1941, Reside em Curitiba

desde 1954. É o artista plástico mais premiado na história do Salão Paranaense.

VAMOS CONHECER OUTRO ARTISTA QUE EXPLORA O

APROVEITAMENTO DE MATERIAIS DESCARTÁVEIS E SUCATA. OLHE COM

ATENÇÃO A IMAGEM:

ARNEY, A. Comparação de valores. 1978. 1 reprodução de arte. color., 106 x 84 cm, em papel. In BORGES, E.; FRESSATO, S. T. B. Arte em seu Estado: história das artes plásticas paranaense – vol. II. Curitiba: Meduza, 2008. p. 46.

17

Esta obra pertence ao acervo do Museu de Arte da UFPR. A técnica utilizada foi

metal, betume sobre madeira.

REFLETINDO EM GRUPO...

Como descrever a imagem?

Como podemos analisar o título da obra?

De que material o artista fez uso?

Comente a relação imagem/título/materiais.

“Explora o aproveitamento de materiais descartáveis e sucatas, valorizando o que

não possui mais utilidade, e acaba por atribuir uma função plástica” (Borges e

Fressato, 2008, p. 50). O que as autoras querem dizer com esse comentário em

relação ao trabalho de Arney?

PESQUISE MATERIAIS PRESENTES EM SEU COTIDIANO E QUE

TENHAM SIGNIFICADO PARA VOCÊ. ESCOLHA UM OU MAIS QUE POSSAM

SER O PONTO DE PARTIDA PARA UM TRABALHO ARTÍSTICO. OBSERVE SE

O MATERIAL ESCOLHIDO É MAIS PRÓPRIO PARA UMA PRODUÇÃO BI OU

TRIDIMENSIONAL. ENTÃO É SÓ COMEÇAR...

ARNEY, A. In BORGES, E.; FRESSATO, S. T. B. Arte em seu Estado: história das artes plásticas

paranaense – vol. II. Curitiba: Meduza, 2008. P. 45.

18

Antonio Arney dos Santos nasceu em Piraquara, PR, em 1926. Pintor e desenhista.

Começa a pintar em 1956, como autodidata, na cidade de Curitiba. Durante os anos

sessenta, participa ativamente do movimento abstrato, sendo um dos primeiros

artistas paranaenses a romper com a tela, trabalhando com colagens de madeira e

parafusos, interferidas por manchas e texturas.

OUTROS CAMINHOS...

Observe as imagens:

VELLOSO, F. Dramáticas evocações da madrugada. 2001. 1 reprodução de arte. color.,

120 x 120 cm, em papel. In CASILLO, R. e B. C. Pintores Contemporâneos do Paraná. Curitiba:

Solar do Rosário, 2002. p. 47.

19

Técnica mista sobre tela.

PEDROSO, D. Favela. 1970. 1 reprodução de arte. color., 90 x 130 cm, em papel. In CASILLO, R. e

B. C. Pintores Contemporâneos do Paraná. Curitiba: Solar do Rosário, 2002. p.22.

A obra é um Óleo sobre tela e pertence ao Acervo Museu de Arte Contemporânea

do Paraná-MAC.

REFLETINDO EM GRUPO...

Existem características comuns nas imagens?

Como interpretá-las?

O que os artistas abstratos buscam com suas obras?

VAMOS CONHECER UM POUCO MAIS SOBRE O TRABALHO DESTES

ARTISTAS...

Segundo o Professor e Crítico de Arte Fernando Bini (2002, p.39), para

Velloso a matéria deixa de ocupar uma posição de subordinação tornando-se igual

aos demais elementos do quadro. Mesmo que ele nada tenha contra a figura, vai

20

tratá-la bidimensionalmente e completamente afastada da objetividade fotográfica. O

que a figura humana, a paisagem e a natureza morta lhe oferecem é a interseção de

planos, de linhas e de cores. Bini comenta que as primeiras obras abstratas de

Velloso tinham uma palheta escura, cores pouco brilhantes onde dominavam os

castanhos e os marrons, mas a partir dos anos 80 elas explodem na “doçura” lírica

da cor e da matéria. Afirma:

Fernando Velloso é o pintor de tintas e telas. Sua obra é densa, pensada

produzida lentamente com a reflexão do teórico e do crítico que ele é. Nada

está ali por puro acaso, tudo foi analisado e confirma a sua direção, a de

continuar a sua busca da idéia de abstração. Abstração enquanto

organização do espaço, de sensação da dimensão. O que está em suas

telas é a cor e a textura da matéria. Talvez seja a cor e a textura da nossa

vegetação, da nossa terra e do nosso céu, mas, antes de mais nada, o que

está na sua tela é matéria pictórica. É a solução de um problema dado para

e pelo pintor.

CONSIDERANDO A ANÁLISE ACIMA QUAL É A ESSÊNCIA DA OBRA DE

FERNANDO VELLOSO?

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COMO VOCÊ DESCREVERIA O USO QUE O ARTISTA FAZ DAS CORES E

TEXTURAS?

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21

VELLOSO, P. In CASILLO, R. e B. C. Pintores Contemporâneos do Paraná. Curitiba: Solar do Rosário, 2002. p. 39.

Fernando Velloso nasceu em Curitiba, Paraná, em 1930. Pintor, crítico de arte e

administrador cultural. Formou-se em Pintura pela primeira turma da EMBAP (1952).

Foi premiado várias vezes no Salão Paranaense. Entre 1959 e 1961 estuda em

Paris e ao retornar a Curitiba, torna-se um dos iniciadores da abstração no Paraná.

Em 1970 funda o Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC-PR).

Bini (2002, p. 19) ao analisar as obras de Domício Pedroso nos coloca que

em sua trajetória artística a paisagem sempre o atraiu. No início com a presença

humana, ela vacila entre as marinhas e a paisagem urbana. É no Rio de Janeiro que

ela vai se transformar em pesquisa formal, tomando os morros cariocas como tema.

No retorno de Paris (1962), abandonou a pintura ao ar livre e começou a trabalhar

no ateliê a partir de paisagens da sua memória. Ele:

Simplifica a forma, explora o ritmo das linhas e das cores buscando a

frontalidade da paisagem a partir do espaço plano do quadro. Neste

momento encontra nas favelas a possibilidade do tratamento pictórico

desejado, pela simplificação e geometrização do tema e o abandono da

perspectiva. Ele aborda agora a construção plástica sob o ângulo de uma

transposição ordenada sensível, mas cujo verdadeiro ponto de apoio é a

invenção.

Domício faz uso de diversos meios: pintura a óleo, acrílica e a serigrafia.

22

Bini (2002, p. 19) ao comentar sobre o processo de criação do artista, nos coloca

que o quadro é gerado no processo de execução da obra: “da concepção mental vai

direto à tela onde o grafismo, o desenho, avança ao mesmo tempo que a cor, que a

composição e a matéria, e, neste momento, toda a descoberta é acolhida e

explorada”.

COMO É CONSTRUÍDA A ABSTRAÇÃO NO TRABALHO DO DOMÍCIO

PEDROSO?

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A PAISAGEM É UM DOS GÊNEROS DA PINTURA. FAÇA UMA DESCRIÇÃO DA

PAISAGEM ONDE VOCÊ MORA. ESCOLHA UM ELEMENTO QUE A

CARACTERIZE. A PARTIR DESSE ELEMENTO FAÇA UMA COMPOSIÇÃO,

SIMPLIFICANDO A FORMA, EXPLORANDO O RITMO DAS LINHAS E DAS

CORES.

PEDROSO, D. In CASILLO, R. e B. C. Pintores Contemporâneos do Paraná. Curitiba: Solar do

Rosário, 2002. p. 19.

23

Domício Pedroso nasceu em Curitiba, PR, em 1930. Pintor, gravador e comunicador

visual. Formou-se em Pintura na primeira turma da EMBAP (1952). Entre 1959 e

1962 viaja para a França onde desenvolve estudos no campo da comunicação visual

tornando-se especialista em técnicas audiovisuais. Além das pesquisas e estudos

teóricos manteve contato com expressivos grupos de vanguarda. Data daí o início

de suas serigrafias, técnica em que foi um dos precursores em nosso Estado.

Retorna ao Brasil em 1962 e organiza o Centro Audiovisual da Secretaria de

Educação e Cultura para o Governo do Estado do Paraná. Expôs diversas vezes

seus trabalhos em Salões Coletivos tendo obtido inúmeras medalhas e premiações.

Foi um dos integrantes do movimento de renovação artística local na década de 60.

OLHE COM ATENÇÃO ESTAS IMAGENS...

RUBINSKI, M. Sem título. 2001. 1 reprodução de arte, color., 24 x 118,5 cm, em papel. In CASILLO,

R. e B. C. Pintores Contemporâneos do Paraná. Curitiba: Solar do Rosário, 2002. p. 97.

RUBINSKI, M. Sem título. Sem data. 1 reprodução de arte. color., 30 x 120 cm, em papel. In

CASILLO, R. e B. C. Pintores Contemporâneos do Paraná. Curitiba: Solar do Rosário, 2002. p. 97.

24

As obras são Óleo sobre Eucatex. A segunda pertence a Coleção Regina Casillo.

REFLETINDO EM GRUPO...

Como podemos descrevê-las?

Que elementos as compõem?

Como o artista faz uso das cores?

Como podemos caracterizar a composição?

Como podemos interpretar a ausência da figura humana?

VAMOS CONHECER UM POUCO MAIS SOBRE O TRABALHO DE

RUBINSKI. A LEITURA DOS COMENTÁRIOS ABAIXO PODERÁ NOS AJUDAR.

Em seus quadros sempre encontramos árvores, casas, muitas vezes a rua,

construídos com pinceladas verticais. A surpresa e o ornamental não são

encontrados em sua pintura. Inicialmente o artista, numa atitude de extrema

humildade, simplifica, reduz, espreme a forma. Na sua imagem a casa é

quadrada, o telhado um triângulo, a árvore um círculo, a rua duas linhas

paralelas que cortam o quadro na diagonal, dando dinâmica à composição.

É aí, na composição, que Mário Rubinski se agiganta. Com que poder

criativo ele joga elementos tão simples! – o quadrado, o círculo-, fazendo de

cada quadro uma peça única mergulhada num mundo de mistério.

(DASILVA, 2002, p. 89).

AINDA...

Em seu processo de criação:

O artista valoriza o tempo de maturação de uma tela e distingue, entre seus

trabalhos, aqueles feito rapidamente –” que saem” – e os trabalhos

“sofridos”, que levam tempo até serem concluídos, pois exigem reflexão nos

âmbitos cromático, formal e compositivo. Assim, as obras estão em

constante mudança, e a pintura inicial constitui apenas um ponto de partida,

de algo que, com o passar do tempo se definirá. (...) Um quadro é iniciado

a partir de suportes utilizados anteriormente como paletas, ou seja, o artista

não parte do espaço em branco, mas sim de uma base sobre a qual será

feita a pintura, algumas vezes aproveitando o cromatismo do fundo.

Rubinski não trabalha com telas, mas sobre madeira, rija o suficiente para

suportar a raspagem. (...) Os elementos de sua pintura são formalmente

25

depurados, sintéticos, colocando-os em um limite entre a figuração e a

abstração, com ênfase para o geométrico e para o simbólico.

(TRAVENSOLLI, 2006, p. 07).

AGORA É SUA VEZ...

Utilizando os elementos da obra de Rubinski organize sua própria

composição. No uso das cores, explore o seu próprio gosto.

RUBINSKI, M. In CASILLO, R. e B. C. Pintores Contemporâneos do Paraná. Curitiba: Solar do

Rosário, 2002. p. 89.

Mário Rubinski nasceu em Curitiba, PR, em 1933. Pintor, desenhista e professor.

Estudou na EMBAP, em 1958. Cursou ainda Didática para Desenho na PUC-PR e

Biblioteconomia e Documentação na UFPR-PR. Em paralelo a produção artística e o

trabalho como professor, trabalhou como chefe da Seção de Belas Artes da

Biblioteca do Paraná, em Curitiba. É o artista que mais vezes esteve presente no

Salão Paranaense, com 29 participações, ao longo de trinta anos (de 1957 a 1987),

tendo sido premiado num total de 8 vezes.

MUITOS OUTROS ARTISTAS FORAM PRESENÇAS IMPORTANTES NA

ARTE PARANAENSE. VAMOS CONHECÊ-LOS ATRAVÉS DE PESQUISA QUE

IREMOS REALIZAR. A ATIVIDADE SERÁ EFETUADA EM GRUPOS E

ORGANIZADA EM ETAPAS.

26

Atenção para a proposta:

- Pesquisa sobre a vida e a obra de um (a) artista da época.

- Produção artística a partir das características compositivas do (a) artista.

- Apresentação dos trabalhos.

- Reflexão sobre os conteúdos.

- Auto-avaliação das equipes.

ARTISTAS QUE PODEM SER PESQUISADOS: Miguel Bakun, Fernando Calderari,

Helena Wong, Paul Garfunkel, Leonor Botteri, Nilo Previdi, Werner Jehring, Lóio

Pérsio e outros.

O QUE É PRODUZIDO HOJE NO CENÁRIO DA ARTE NO PARANÁ NÃO

ESTÁ DESVINCULADO DO CENÁRIO BRASILEIRO E MUNDIAL, CONTUDO É

PRECISO OBSERVAR QUE OS CONTEXTOS TÊM CARACTERÍSTICAS

PRÓPRIAS ORIUNDAS DE DIFERENTES FATORES CULTURAIS, POLÍTICOS E

ESTÉTICOS, ENFIM DE ESCOLHAS, VALORES, LUTAS QUE PERMEIAM SUA

HISTÓRIA. A DIVERSIDADE CULTURAL E ARTÍSTICA É UMA RIQUEZA ENTRE

OS POVOS E É IMPORTANTE QUE NOSSO OLHAR VÁ ALÉM DE

ENTENDERMOS AS DIFERENÇAS COMO QUESTÕES DE INFERIORIDADE OU

SUPERIORIDADE, DESENVOLVIMENTO OU ATRASO.

ESPERO QUE ESSE “PASSEIO” PELA ARTE PARANAENSE DESPERTE

A VONTADE DE FAZER UMA VIAGEM QUE NOS LEVE A CONHECER MAIS E

DESCOBRIR A RIQUEZA DE NOSSAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS.

CONHECER É UM DOS PRIMEIROS PASSOS PARA DAR VALOR.

CONHECER A PRODUÇÃO ARTÍSTICA DE UMA CULTURA É ADENTRAR

EM SUAS RAÍZES, SEUS VALORES, SUA HISTÓRIA.

VOLTAR O PENSAMENTO SOBRE A DÉCADA DE 60 NOS AJUDA A

ENCONTRAR O FIO DA MEADA PARA A COMPREENSÃO OU APROXIMAÇÃO

COM A COMPLEXIDADE QUE É A PRODUÇÃO ARTÍSTICA CONTEMPORÂNEA.

27

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, A. Referência em planejamento: Arte no Paraná I. Curitiba, Secretaria de

Estado de Planejamento, v. 3 - nº. 12 - janeiro/março, 1980.

BINI, F. A. F. A sensibilidade do plano pictórico – A pintura de Fernando Velloso. In:

CASILLO, R. de B. C. Pintores Contemporâneos do Paraná. Curitiba: Solar do

Rosário, 2002, p.39.

BINI, F. A. F. O pintor à procura do espaço pictórico – A obra de Domício Pedroso.

In: CASILLO, R. de B. C. Pintores Contemporâneos do Paraná. Curitiba: Solar do

Rosário, 2002, p. 19.

BORGES, Eliana; FRESSATO, S. T. B.. Arte em seu Estado: história das artes

plásticas paranaense. Curitiba: Meduza, v .1 e 2, 2008.

CAMARGO, G. L. V. de. Escolhas Abstratas - Arte e Política no Paraná (1950 –

1962). 141 f. Dissertação (Mestrado em História) – Setor de Ciências Humanas,

Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2002.

CANONGIA, L. O legado dos anos 60 e 70. Rio de janeiro: Jorge Zahar ed., 2005.

CASILLO, R. de B. C. Pintores Contemporâneos do Paraná. Curitiba: Editora

Solar do Rosário, v. 2, 2002.

DASILVA, O. Mário Rubinski. In: CASILLO, R. de B. C. Pintores Contemporâneos

do Paraná. Curitiba: Solar do Rosário, 2002, p. 89.

FREITAS, A. Arte e Contestação. Uma interpretação relacional das Artes Plásticas

nos anos de chumbo – 1968 – 1973. 217 f. Dissertação (Mestrado em História) -

Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná,

Curitiba, 2003.

FREITAS, A. et al. Depoimento a Geraldo Leão. Arte e Contestação. Uma

interpretação relacional das Artes Plásticas nos anos de chumbo – 1968 – 1973.

217 f. Dissertação (Mestrado em História) - Setor de Ciências Humanas, Letras e

Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, p. 119, 2003.

JUSTINO, M. J. João Osório Brzezinski. In: CASILLO, R. de B. C. Pintores

Contemporâneos do Paraná. Curitiba: Solar do Rosário, 2002, p. 49.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação.

Diretrizes Curriculares de Arte para a Educação Básica. Curitiba: SEED-PR,

2008.

28

REIS, P. R. O. Arte de vanguarda no Brasil: os anos 60. Rio de Janeiro: Jorge

Zahar ed., 2006.

TRAVENSOLLI, R. Rubinski do Silêncio. Curitiba, MUSA-UFPR, 22 de novembro

de 2006 a 11 de abril de 2007. Catálogo de Exposição.

TRINDADE, E. M. de C.; ANDREAZZA, M. L. Cultura e Educação no Paraná.

Curitiba: SEED, 2001.

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ANEXO

http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/impressão.php?id=361&pagina=2

Acesso em 19/11/2008

A pop art brasileira contra a ditadura

arte de vanguarda e resistência política em Antonio Manuel

Artur Freitas

Antonio Manuel nunca havia sentido tanto medo antes. Dentro do ônibus em que

vinha de Salvador, fez todo o trajeto de volta ao Rio de Janeiro sem dormir.

Guardava na mão uma caixa de fósforos contendo um papel com seu nome,

telefone, endereço e um pequeno relato de sua condição de risco. Se “acontecesse

algo” – planejava – “largaria discretamente a caixa no chão, na expectativa de que

alguém a encontrasse”. O contexto, sombriamente imprevisível, justificava com

sobras aquele temor.

Radicado no Rio de Janeiro, o artista plástico português Antonio Manuel tinha ido a

Salvador para expor suas obras em uma importante mostra de arte, a Bienal

Nacional da Bahia. O ano era 1968 – havia quatro anos que o Brasil vivia sob o

controle de uma ditadura militar em que práticas como a censura à imprensa e a

repressão política eram procedimentos comuns. Para aqueles que ousavam se opor

publicamente ao regime autoritário, o cardápio de respostas do governo tinha pouca

variação: cassação de direitos, censura, processo judicial, prisão ou tortura. Com

apenas vinte e um anos de idade, Antonio Manuel era um artista de vanguarda que

havia optado desde cedo por comentar criticamente em suas obras – geralmente

serigrafias – a conturbada situação política do país.

Considerada subversiva pelos militares, a exposição na Bienal baiana foi fechada

pelo Exército, e a obra de Antonio Manuel, uma grande serigrafia retratando os

conflitos nas ruas entre estudantes e policiais, foi confiscada e, possivelmente,

queimada. Mas a censura do governo não era a única causa do medo que o artista

sentia. Ainda em Salvador, enquanto protestava contra o fechamento da Bienal, ao

ler as manchetes do Jornal da Bahia Antonio Manuel se deparou com a foto de outra

obra sua, a serigrafia “Guevara”, criada um ano antes em homenagem ao líder

revolucionário latino-americano. A obra ilustrava uma manchete de jornal que

30

destacava o material apreendido pela polícia num “aparelho” clandestino de

resistência ao governo. A obra fora realizada com o intuito de financiar ativistas

políticos que, na época, precisavam de dinheiro.

Uma cópia da mesma obra já havia sido exposta em 1967, no Salão de Brasília,

evento que também fora fechado pela polícia. Nessas circunstâncias, a homenagem

a Che Guevara era praticamente uma confissão de seu envolvimento com grupos de

esquerda. Antonio Manuel passou a se sentir seguido, vigiado, e foi aconselhado a

partir imediatamente da Bahia. Retornou ao Rio de Janeiro muito amedrontado,

temendo, com razão, pela própria vida.

Mas, para sua sorte, a viagem de ônibus transcorreu sem problemas. Ileso e de

volta ao Rio, Antonio Manoel deu seqüência à temática da violência de rua numa

série de obras intitulada “Repressão outra vez: eis o saldo”. Tanto no Brasil quanto

no exterior, o ano de 1968 representou um momento de grandes agitações políticas,

sociais e culturais. Antonio Manuel, como outros artistas de sua geração, parecia

especialmente sensível à possibilidade utópica de transformar o mundo

revolucionando a política, a arte e a ordem vigente. Demonstrando um forte

descontentamento com a situação política do país, alguns segmentos da classe

artística e do movimento estudantil mobilizavam consideráveis esforços em favor das

liberdades civis, da livre expressão e da redemocratização do Brasil. Ao longo de

1968, as passeatas estudantis de protesto ganham força e ocupam as ruas de

praticamente todas as grandes cidades brasileiras.

Antonio Manuel participa ativamente desse período de convulsão social. Suas obras

passaram a retratar de forma corajosa o momento político do país e as grandes

movimentações nas ruas. A obra “Movimento Estudantil 68”, por exemplo, serigrafia

da polêmica série “Repressão outra vez”, é uma grave denúncia da truculência

militar frente às manifestações estudantis. O trabalho, que chegou ser premiado no

Salão Paranaense de 1968, vai além da esfera do protesto político, utilizando uma

linguagem radicalmente experimental.

Antonio Manuel se desenvolveu artisticamente em um ambiente muito fértil, que

influenciou bastante o seu trabalho. Ainda muito jovem, no Rio de Janeiro, já estava

envolvido com figuras-chave da vanguarda artística nacional. Era amigo de Ivan

31

Serpa – professor de toda uma geração de artistas –, de Mário Pedrosa – trotskista

e um dos maiores críticos e intelectuais do país –, e de Hélio Oiticica – artista mais

velho e símbolo maior da vanguarda brasileira.

Naquele momento, a fusão entre questões estéticas e políticas, a influência da arte

pop e, depois, a da arte conceitual, assim como a ascensão da cultura de massa,

eram questões iminentes para as vanguardas. O impacto da mídia – da imprensa

escrita à televisão – já bombardeava a sociedade com suas imagens rápidas e

espetaculares. O novo espaço público agora era o espaço da publicidade e da

informação de massa. Percebendo que uma grande mudança ocorria no mundo, os

artistas da pop art começam a retratar, ainda que ironicamente, o mundo do

consumo e do estrelato como matéria para reflexão da arte.

{NOVAPÁGINA}

Por ser uma serigrafia, “Movimento Estudantil 68” usava uma técnica de fácil

reprodução que surgia afinada com os propósitos da pop art. A discussão sobre os

efeitos da indústria cultural é abordada sob diversos aspectos nesse trabalho. Por

exemplo, na utilização de cópias de fotografias de impacto e frases sensacionalistas

tiradas das páginas da grande imprensa diária, impressas e dispostas em forma de

manchetes de jornal ao longo da obra.

Havia algum tempo, a imprensa e todo o seu impacto na vida social já despertavam

o interesse e alimentavam a imaginação dos grandes artistas. Em 1913, Picasso e

Braque, na tentativa de confrontar o mundo cotidiano com o mundo da arte,

passaram a agregar pedaços de jornal em suas colagens cubistas. Pouco tempo

depois, o dadaísta alemão Kurt Schwitters desenvolveu composições com restos da

sociedade de consumo, nas quais se incluíam pedaços de jornais velhos. Décadas

depois, a arte pop inglesa iria retomar e potencializar certas questões discutidas

pelos dadaístas: em 1967, Richard Hamilton criou uma litografia composta por

inúmeros recortes de jornal diagramados com todo o caos da vida urbana londrina. E

mesmo no Brasil, em 1964, Waldemar Cordeiro, ao executar uma colagem ilegível

de jornais, já nos remetia à impossibilidade de se lidar e compreender o excesso de

informações que a modernidade nos oferece.

32

“Movimento Estudantil 68”, assim como toda a série “Repressão outra vez”, insere-

se numa vertente histórica em que a arte busca dialogar criticamente com a

comunicação de massa, ou seja, com a visão da vida social que a mídia nos

fornece. Contudo, se no plano internacional a relação arte/mídia fazia parte do

universo estético da pop, no Brasil, em função da censura militar à imprensa, esta

relação tendia a se politizar. Logo, não espanta que as “manchetes” da obra de

Antonio Manuel digam respeito especificamente à brutalidade do regime militar.

Cada quadra repetida de “Movimento Estudantil 68” nos remete à violência que

tomava as ruas durante o período. E em cada uma das quadras, por sua vez,

notamos a presença de várias pequenas cenas. A primeira cena disposta na quadra

superior apresenta um grupo de pessoas que carrega o corpo inerte de um jovem

morto. A leitura da cena em partes deriva de uma “manchete” disposta na obra em

letras garrafais: POLICIAL MILITAR MATA ESTUDANTE À QUEIMA-ROUPA. A

partir daí, diante do evidente, o registro fotográfico da imprensa na obra é a

testemunha histórica do horror – do assassinato autorizado por um sistema político

repressor.

{NOVAPÁGINA}

Duas cenas abaixo, a impotência diante da morte brutal se transforma em

resistência política organizada. Vemos uma massa caótica de formas, quase uma

mancha abstrata, na qual se discerne aos poucos a massa humana, inerte,

resolvendo a história. São incontáveis pessoas, que, ao fixarem olhares num mesmo

destino, num flagrante de obediência e contenção absoluta, surgem aptas a agir,

com todo o vigor e as utopias da juventude.

Neste ponto, aquilo que choca na obra é sua frieza frente a um tema tão

abertamente passional. Antonio Manuel deixa transparecer um descompasso

evidente, uma abordagem distanciada e, por isso mesmo, inteligente do assunto. A

serialidade das quadras, a desatenção com os pormenores, a cuidadosa simetria e a

inversão cerebral entre negativos e positivos: tudo conspira para essa impressão de

distanciamento.

33

Não é por acaso que o clima geral de “Movimento Estudantil 68” é muito semelhante

ao da obra “Levante racial vermelho”, de Andy Warhol, o papa da arte pop –

serigrafia de 1963 que retrata as agressões de policiais de Birmingham com seus

cães a manifestantes negros. Assim como Antonio Manuel, Warhol aproveitava em

suas obras manchetes jornalísticas reais – as imagens usadas em “Levante racial

vermelho” foram também amplamente divulgadas pela imprensa norte-americana

nas revistas Life e Time. Nas duas obras, o dramático fundo vermelho, o contraste

estourado e o registro cabal da violência são elementos que causam um grande

impacto nos espectadores, mas a construção calculada supõe uma certa frieza de

linguagem.

Apesar de semelhantes em muitos aspectos, há uma diferença fundamental entre as

duas obras. Como “Levante racial vermelho”, de Warhol, “Movimento Estudantil 68”

é, sim, uma serigrafia, mas não uma serigrafia comum. Antonio Manuel batizou-a de

“serigrafia de flan” – sendo que o flan, utilizado inusitadamente pelo artista como

matriz de sua obra, era um cartão plastificado indispensável, na época, para a

impressão dos jornais diários. Esse cartão, com seus altos e baixos- relevos

necessários à impressão, era peça descartável no processo diário de confecção dos

jornais, o que levava o artista a percorrer madrugadas adentro as oficinas do Jornal

do Brasil ou de O Globo atrás de matéria-prima para suas serigrafias.