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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

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ME I

I

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________________________________ CARLA TRISTÃO MARTINSCARLA TRISTÃO MARTINSCARLA TRISTÃO MARTINSCARLA TRISTÃO MARTINS

IZAURA IZABEL DO CARMOIZAURA IZABEL DO CARMOIZAURA IZABEL DO CARMOIZAURA IZABEL DO CARMO

NORMA KOGLIN VIDOTTONORMA KOGLIN VIDOTTONORMA KOGLIN VIDOTTONORMA KOGLIN VIDOTTO

SIMONE CRISTINA DA CONCEIÇÃO ANDRADESIMONE CRISTINA DA CONCEIÇÃO ANDRADESIMONE CRISTINA DA CONCEIÇÃO ANDRADESIMONE CRISTINA DA CONCEIÇÃO ANDRADE

EM PAUTA O NÃO APRENDER NAEM PAUTA O NÃO APRENDER NAEM PAUTA O NÃO APRENDER NAEM PAUTA O NÃO APRENDER NAS SALAS DE APOIO À S SALAS DE APOIO À S SALAS DE APOIO À S SALAS DE APOIO À

APRENDIZAGEM:APRENDIZAGEM:APRENDIZAGEM:APRENDIZAGEM:

PROCESSOS DE EXCLUSÃO, EVASÃO ESCOLAR E (RE)

SIGNIFICAÇÃO DO APRENDER.

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� � � � � � � � � � � � � � � � �CARLA TRISTÃO MARTINSCARLA TRISTÃO MARTINSCARLA TRISTÃO MARTINS

IZAURA IZABEL DO CARMOIZAURA IZABEL DO CARMOIZAURA IZABEL DO CARMOIZAURA IZABEL DO CARMO

NORMA KOGLIN VIDOTTONORMA KOGLIN VIDOTTONORMA KOGLIN VIDOTTONORMA KOGLIN VIDOTTO

SIMONE CRISTINA DA CONCEIÇÃO ANDRADESIMONE CRISTINA DA CONCEIÇÃO ANDRADESIMONE CRISTINA DA CONCEIÇÃO ANDRADESIMONE CRISTINA DA CONCEIÇÃO ANDRADE

EM PAUTA O NÃOEM PAUTA O NÃOEM PAUTA O NÃOEM PAUTA O NÃO APRENDER NAS SALAS DE APOIO À APRENDER NAS SALAS DE APOIO À APRENDER NAS SALAS DE APOIO À APRENDER NAS SALAS DE APOIO À

APRENDIZAGEMAPRENDIZAGEMAPRENDIZAGEMAPRENDIZAGEM: : : :

PROCESSOS DE EXCLUSÃO, EVASÃO ESCOLAR E (RE)

SIGNIFICAÇÃO DO APRENDER.

Caderno Temático apresentado à Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED, como requisito parcial de participação no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE Orientadora: Profª Francismara Neves de

Oliveira.

LONDRINALONDRINALONDRINALONDRINA

2010201020102010

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EM PAUTA O NÃO APRENDER NAS SALAS DE APOIO Á APRENDIZAGEM:

PROCESSOS DE EXCLUSÃO, EVASÃO ESCOLAR E (RE) RESIGNIFICAÇÃO DO APRENDER.

Professoras PDE:

Carla Tristão Martins

[email protected]

Izaura Izabel do Carmo

[email protected]

Norma Koglin Vidotto

[email protected]

Simone Cristina da Conceição

[email protected]

Orientadora – IES - UEL

Francismara Neves de Oliveira

[email protected]

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO .................................................................................................... 4

CAPÍTULO 1 - CRIANÇAS SILENCIADAS NO COTIDIANO ESCOLAR ................ 6

1.1 - O ERRO NO COTIDIANO ESCOLAR ......................................................................... 9

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 11

CAPÍTULO 2 - A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E A EVASÃO ESCOLAR

NO ENSINO MÉDIO NOTURNO .............................................................................. 12

2.1 - A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E A EXCLUSÃO ESCOLAR ...................................... 19

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 23

CAPÍTULO 3 - ADOLESCÊNCIA EM QUESTÃO: POSSÍVEIS RELAÇÕES

COM O NÃO APRENDER ........................................................................................ 26

3.1 - ADOLESCÊNCIA ATUAL: ALGUMAS DEMARCAÇÕES .................................................. 27

3.2 - OS RITOS DE PASSAGEM E A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO .......... 30

3.3 - DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA ADOLESCÊNCIA: A NECESSIDADE DE UM

OLHAR CONTEXTUAL .................................................................................................... 34

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 36

CAPÍTULO 4 - O SENSO DA AUTO-EFICÁCIA E AS RELAÇÕES COM O NÃO

APRENDER ............................................................................................................. 38

4.1 - TEORIA SOCIAL COGNITIVA ................................................................................... 39

4.2 - CRENÇAS DE AUTO-EFICÁCIA ................................................................................ 40

4.3 - CRENÇAS DE AUTO-EFICÁCIA NO DESEMPENHO ACADÊMICO ................................... 42

4.4 - ORIGENS DAS CRENÇAS DE AUTO-EFICÁCIA ........................................................... 44

4.5 - COMO POSSIBILITAR AOS ALUNOS O DESENVOLVIMENTO DE CRENÇA DE AUTO-

EFICÁCIA MAIS ELEVADA? ............................................................................................. 46

REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 47

5 SUGESTÕES DE FILMES E LEITURAS ............................................................... 49

5.1 - FILMES ................................................................................................................ 49

5.2 - LEITURAS ............................................................................................................ 52

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APRESENTAÇÃO

Como alunas do Programa de Desenvolvimento Educacional temos

vivenciado diferentes experiências formativas que favorecem a reflexão e a

transformação de nossa prática pedagógica. A elaboração do Caderno Temático

revelou um processo de apropriação da literatura especializada e dos estudos

científicos atuais, dos quais nos vimos afastadas por conta das demandas da

atuação e do cotidiano de trabalho em nossas escolas e que tem nos proporcionado

prazer ao delas nos apropriarmos.

A composição deste caderno temático reúne diferentes temas

articulados entre si e evidencia a necessidade que tivemos de apropriação de

estudos e pesquisas que analisam o não aprender e suas nuances, justamente por

ser este um fenômeno co-produzido e de múltiplas dimensões. Durante o período no

qual este processo se desencadeou, vivenciamos momentos de discussões em

grupo e leitura de pesquisas em comum em torno do tema “não aprender” e ao

mesmo tempo fomos suscitadas a assumir especificidades na produção de textos

individuais que se desenharam ao longo das reflexões e que se coadunam com o

específico da realidade escolar de cada uma de nós. Desse modo, a produção que

apresentamos neste caderno temático tem aspectos em comum no que concerne à

literatura estudada e refletida na polifonia de nossas vozes, mas também revela a

tecitura individual das percepções que cada uma de nós deu ao texto vivenciado nas

discussões grupais.

No primeiro capítulo intitulado “Crianças Silenciadas no Cotidiano

Escolar”, Simone Cristina da Conceição Andrade analisa os processos de

estigmatização e de preconceito comumente produzidos em contextos

institucionalizados e normatizados para o trabalho com o não aprender. A sala de

apoio à aprendizagem foi tomada como lócus de reflexões acerca deste tema por

constituir-se um espaço pedagógico na escola onde o não aprender é trabalhado.

Entendemos que ao professor cabe refletir sobre essa realidade no sentido de

pensar formas de romper com a produção de estereótipos e marcas

impossibilitadoras de interações produtoras de aprendizagem.

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O segundo capítulo apresenta como temática “A relação professor-

aluno e a Evasão Escolar no Ensino Médio Noturno”. Nele, Izaura Izabel do

Carmo propõe a reflexão sobre a problemática da evasão no Ensino Médio

revelando as altas taxas de abandono da escola, dados que podem ser constatados

em nível nacional, estadual e no município no qual se localiza a unidade escolar

onde a professora encontra-se vinculada. A relação professor-aluno e o não

aprender são considerados na literatura científica e são tratados neste capítulo como

possíveis indicadores para a compreensão deste problema.

O terceiro capítulo que compõe este caderno temático, intitulado

“Adolescência em questão: possíveis relações com o não aprender”, Carla

Tristão Martins enfatiza os importantes processos próprios à adolescência e

estabelece implicações com o não aprender na sala de apoio que reúne

adolescentes vivenciando processos comuns e cujas relações com o aprender de

algum modo estão insatisfatórias ou pouco produtivas.

O último capítulo analisa “O Senso de Auto-eficácia e as relações

com o não aprender”. A autora Norma Koglin Vidotto discorre sobre a importância

de pensar nos modos de elevar a auto-eficácia de alunos que frequentam a sala de

apoio à aprendizagem, espaço de (re)significação do aprender e de apropriação de

novos modos de construir conhecimento.

Posto isto que oferece um panorama geral do que tratamos neste

caderno temático, o convidamos à leitura reflexiva apontando ao final de cada tema

algumas questões que nos inquietaram e que podem vir a provocar novas

indagações e proposições por parte dos que destes textos se apropriarem.

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CAPÍTULO 1 CRIANÇAS SILENCIADAS NO COTIDIANO

ESCOLAR

Simone Cristina da Conceição Andrade

Segundo Collares e Moysés (1996), o cotidiano escolar é permeado

de preconceitos e juízos prévios sobre os alunos e suas famílias, que independem e

não são abalados por qualquer evidência empírica que os refute racionalmente. Para

estas autoras a explicação para o fracasso escolar recai sempre sobre o aluno e

seus pais:

Crianças não aprendem por que são pobres, porque são negras, porque são nordestinas ou provenientes de zona rural; são imaturas, são preguiçosas; não aprendem porque seus pais são analfabetos, são alcoólatras, as mães trabalham fora, não ensinam aos filhos [...]. A escola – entendida como instituição social concreta, integrante de um sistema sociopolítico concreto – apresenta-se como vítima de uma clientela inadequada (COLLARES, MOISÉS, 1996, p. 26–27).

Para Collares e Moysés (1996) os juízos provisórios constituem uma

das características fundamentais da vida cotidiana. Denomina-se juízo provisório na

medida em que confrontado com a realidade concreta por meio da ciência ou

mesmo por não encontrar confirmação nas experiências de vida do indivíduo, é

refutado. Todavia quando ele se mantém inabalável, imutável e cristalizado contra

todos os argumentos da razão torna-se um preconceito.

Segundo Heller (1989) o preconceito é a categoria do pensamento e

dos comportamentos cotidianos: “[...] Crer em preconceitos é cômodo porque nos

protege de conflitos porque confirma nossas ações anteriores.” (HELLER, 1989, p.

43-48).

Partindo do entendimento de Patto (1990), segundo a qual a escola

legitima o fracasso escolar produzido mais amplamente, Collares e Moysés (1996, p.

260) afirmam:

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Somente por meio de rupturas nessa muralha de preconceitos será possível construir uma escola politicamente comprometida com a classe trabalhadora. [...] E a causa de as crianças continuarem não se alfabetizando será sempre por que são doentes, suas famílias não se interessam [...] Enfim, a escola continuará “vítima de uma clientela inadequada”.

Além da marginalidade no cotidiano escolar, perceptível na atitude

preditiva do professor em relação ao futuro de cada um de seus alunos, identificando

precocemente “os que vão aprender” e “os que não vão aprender”, no início do ano

letivo e, através das “avaliações diagnósticas” que buscam os “erros”, há outra

questão a ser discutida: a estigmatização.

Goffmann (1988) aprofunda esta discussão focalizando a produção

de estigmas nas interrelações sociais e a construção de processos estigmatizantes

que produzem “identidades deterioradas”. Nas palavras do autor:

[...] um indivíduo que poderia ter sido facilmente recebido na relação social cotidiana possui um traço que pode se impor à atenção e afastar aqueles que ele encontra, destruindo a possibilidade de atenção para outros atributos seus. Ele possui um estigma, uma característica diferente da que havíamos previsto. Nós e os que não se afastam negativamente das expectativas particulares em questão serão por mim chamados de normais. [...] com base nisso fazemos vários tipos de discriminações, através das quais efetivamente, e muitas vezes sem pensar, reduzimos suas chances de vida. Construímos uma teoria do estigma, uma ideologia para explicar a sua inferioridade e dar conta do perigo que ela representa, racionalizando algumas vezes uma animosidade baseada em outras diferenças (GOFFMAN, 1988, p. 14-15).

O estigma refere-se às marcas, ou seja, atributos sociais que um

indivíduo, grupo ou povo carregam e cujo valor pode ser negativo ou pejorativo.

Estes são atributos facilmente reconhecíveis como carregados de

valor negativo para a maioria das pessoas e determinam, para o indivíduo, um

destino de exclusão ou a perspectiva de reivindicação social pelo direito de ser bem

tratado e ter oportunidades iguais. O estigma revela que a sociedade tem dificuldade

de lidar com o diferente. Esta dificuldade é perpetuada, ao longo das gerações pelo

sistema educacional, o que leva à construção de um perfil sócio-moral para o

indivíduo estigmatizado, de uma identidade que vai incorporar este atributo ao qual

corresponde um valor social negativo.

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No cotidiano escolar, os Conselhos de Classe constituem-se como o

lócus de discussão da prática pedagógica, momento de decisões a serem tomadas

com consciência, com cuidado como um (re) planejar das ações pedagógicas, da

práxis do professor, com a intenção de melhorar a qualidade de ensino. Entretanto,

não está cumprindo a sua função na medida em que se fala dos problemas de

indisciplina, do desinteresse da família pelo desenvolvimento acadêmico do aluno,

de alunos que necessitam de atendimentos especializados de Fonoaudiologia,

Psicologia, Neurologia, Psicopedagogia, Psiquiatria, anulando a sua dimensão

pedagógica.

Segundo Dalbem (2004), os Conselhos de Classe são reuniões

apressadas, sem reflexão, onde se cantam notas e responsabiliza-se o aluno e a

família pelo fracasso escolar. Observamos que o processo transcorre de forma frágil,

alguns professores até tentam levantar problemas e sugerem algumas ações, mas

que não são postas em prática por falta de fundamentação e análise. Em síntese, o

Conselho de Classe apenas constata o problema do fracasso escolar ou indisciplina,

culpabiliza o aluno, quando na verdade o seu real papel é refletir sobre as causas

dos problemas constatados, questionando, inclusive a efetividade das metodologias

do ensino e avaliação desenvolvidas.

Quando pensamos nesta dimensão do cotidiano escolar, na qual se

articulam os diferentes significados atribuídos ao não aprender, além do espaço

oficial de discussão na escola – o conselho de classe – as Salas de Apoio à

aprendizagem merecem atenção e reflexão.

Considerando os alunos da Sala de Apoio à Aprendizagem, é

possível compreender que um processo de estigmatização e segregação já os

atingiram. Por essa razão, considera-se imprescindível discutir acerca das

significações construídas neste contexto, e que permeiam as relações

estabelecidas, orientando as práticas pedagógicas e concepções acerca do

aprender.

Para Moysés e Collares (1997) em artigo intitulado: “Inteligência

Abstraída, Crianças Silenciadas: As Avaliações de Inteligência”, os testes de

inteligência e avaliações diagnósticas são instrumentos que visam classificar

pessoas, abstraindo o sujeito, silenciando-o, para conseguir impor sobre ele seu

“olhar medicalizante”. As autoras defendem uma nova perspectiva avaliativa, na qual

ao invés de buscar o defeito, a carência da criança, procura o que ela já sabe, o que

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tem, o que pode aprender a partir daí. Como resultado é possível constatar, segundo

as autoras que:

Todas são absolutamente normais; ou, pelo menos, eram inicialmente normais... Expropriadas de sua normalidade, bloqueiam-se. E só mostram que sabem ler e escrever quando se conquista sua confiança. Na escola, não. Afinal, não foi lá que lhes disseram que não sabem? Crianças normais que, com o passar do tempo, vão se tornando doentes, pela introjeção de doenças, de incapacidades que lhes atribuem. Até o momento em que, aí sim, já precisam de uma atenção especializada. Não pelo fracasso escolar, mas pelo estigma com que vivem. Muitas já precisariam de um tratamento psicológico, para reconquistar sua normalidade, da qual foram privadas pela escola, pelas avaliações médicas, psicológicas, fonoaudiológicas, que se propuseram a ver apenas o que já se sabia: o que elas não sabiam (MOYSÉS; COLLARES, 1997, p. 63-69).

No momento em que se definem os que não irão aprender, legitima-

se a sua exclusão futura do rol de cidadão. Para estas autoras, (ibid, p.63-69) este

processo que chamam de “tirocínio diagnóstico” conta com o aval da instituição

escolar, que é uma instância reconhecida como competente, que legitima uma

exclusão estabelecida muito antes, pelo estrato social.

1.1 O ERRO NO COTIDIANO ESCOLAR

O fator determinante para classificar os alunos da 5ª série/6º ano do

Ensino Fundamental das escolas públicas paranaenses, com dificuldade de

aprendizagem, e encaminhá-los às Salas de Apoio à Aprendizagem tem sido

frequentemente o erro dos alunos, em especial nas disciplinas de Língua

Portuguesa e de Matemática. Neste caso, o erro é interpretado como um indicador

do fracasso escolar e estabelece um parâmetro para rotular, segregar e culpabilizar

o aluno pelo não aprender.

Segundo Bianchini et al. (2009) os dados sobre a Sala de Apoio à

Aprendizagem indicam que o erro tem sido considerado incompetência do aluno em

suas produções. Não é percebido como parte do processo, mas como o oposto ao

aprender. É associado às dificuldades de aprendizagem que, também

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equivocadamente são compreendidas como problemas do aluno e são classificadas

como negativas e impeditivas do aprender.

Para Piaget apud Macedo (1994, p.70), os educadores se limitam a

preocupar-se com os resultados e não com o modo como o sujeito chegou a eles,

deixando de considerar as construções realizadas pelo aluno numa situação de erro.

Na perspectiva piagetiana, o erro é considerado como constituinte do processo de

construção do conhecimento.

Segundo Reisdoefer (2006), o termo dificuldade de aprendizagem é

praticamente ausente na obra de Jean Piaget:

O sujeito estudado por Piaget não tem “dificuldades”, mas problemas a resolver, procedimentos a construir, compreensões a formular [...]. Para ele, não importam as dificuldades de aprendizagem no sentido em que para os professores é importante. Acredita que é algo positivo porque quem quer conhecer necessita de dificuldades, sob a forma de problemas formulados sobre o objeto, questões remetidas a um desconhecido, desenvolvimento de raciocínios, busca de informações e correção de erros. É imprescindível então afirmar que não se pretende confundir dificuldade de aprendizagem com incapacidade de aprender. Acredita-se que o aluno com dificuldade atendido adequadamente, poderá obter êxito em seu processo de aprendizagem (REISDOEFER, 2006, p. 31).

Para Macedo (1994), as representações sobre o que significa errar

no contexto escolar estão relacionadas às concepções sobre o erro em nossa

sociedade. Estas, por sua vez, são dotadas de valores, crenças, regras e costumes

relacionados a um padrão estabelecido de normalidade. Por isso, o sujeito enquanto

um ser social caminhará na tentativa de cumprir o que está estabelecido como

padrão, quem não cumpre é excluído, é anormal.

Uma visão construtivista do erro no contexto escolar, explica os

processos de desenvolvimento e aprendizagem como resultados da atividade do

homem na interação com o ambiente. A obra de Jean Piaget nos ajuda a

compreender o erro como parte do processo de construção do conhecimento pela

criança que age sobre o mundo para conhecê-lo.

Segundo Goulart (1999), a teoria piagetiana apresenta o conceito do

“erro” cometido pela criança na aprendizagem como resultado de uma maneira

particular de interpretar a realidade, a partir de um modelo de mundo que se tem. É

esse modelo particular de mundo da criança e não do professor que se tem de levar

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em conta quando se ensina. Além disso, a construção de novos modelos, mais

evoluídos, só é possível graças à atividade do próprio aluno, que é agente de seu

desenvolvimento.

REFERÊNCIAS

BIANCHINI, L. G. B. et al. Significações do erro em alunos do 6º ano do ensino fundamental freqüentadores da sala de apoio à aprendizagem. Projeto de pesquisa: laboratório de Jogos – espaço de interações lúdicas. São Paulo: Educere, 2009. COLLARES, C. A. L.; MOYSÉS, M. A. A. Preconceitos no cotidiano escolar: ensino e medicalização. São Paulo: Cortez, 1996. DALBEN, Â. I. de F. Conselhos de classe e avaliação: perspectivas na ação pedagógica na escola. São Paulo: Papirus, 2004. GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: LTC, 1988. GOULART, I. B. Piaget: experiências básicas para a utilização pelo professor. Petrópolis: Vozes, 1999. HELLER, A. O cotidiano e a história. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989. MACEDO, L. Aprender com jogos e situações problema. Porto Alegre: Artmed, 2000. MACEDO, L. Ensaios construtivistas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994. MOYSÉS, M. A. A.; COLLARES, C. A. L. Inteligência abstraída, crianças silenciadas: as avaliações de inteligência. Psicologia USP, São Paulo, v.8, n.1, p. 63-89, jan./jun.1997. PATTO, M. H. S. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: T. A. Queiroz, 1990. REISDOEFER, D. N. A evolução dos possíveis e a construção do conhecimento lógico-matemático via jogo de regras em alunos com dificuldades de aprendizagem. 2006. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa.

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CAPÍTULO 2 A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E A EVASÃO

ESCOLAR NO ENSINO MÉDIO NOTURNO

Izaura Izabel do Carmo

O fracasso escolar/evasão escolar não é um problema exclusivo de

algumas instituições escolares, mas é uma questão nacional que vem há muito

tempo levantando discussões, reflexões e pesquisas educacionais no cenário

brasileiro. Mesmo assim, por mais que abordam o problema, este continua fazendo

vítimas por anos seguidos, principalmente no Ensino Médio noturno. Consideramos

que o fracasso escolar é um fenômeno mais amplo, partimos do entendimento do

fracasso escolar como aquele que envolve a evasão escolar, temática que

recortamos para discussão neste capítulo. Este ainda é um tema polêmico que

continua dividindo os envolvidos no processo ensino-aprendizagem quanto aos

fatores responsáveis pela sua produção no âmbito escolar.

A educação é direito de todos como assegura a Constituição

Federal, mas muitos não têm esta educação plena, ou seja, não está ao alcance de

todos, muitos ainda não concluem esta etapa da educação básica e estão excluídos

do processo de aprendizagem. As trajetórias escolares irregulares, marcadas pelo

constante abandono, as idas e vindas, as saídas e os retornos, são importantes

sinais de como diferentes grupos de jovens vivem e percorrem o sistema de ensino

no Brasil.

Para propor uma reflexão sobre a evasão escolar na escola pública,

entendemos que é preciso contextualizá-la e historicizá-la, a partir do conhecimento

sobre essa realidade, para propor ações estratégicas possíveis de oferecerem

contribuições para sua superação.

O Ensino Médio é preocupação para o Sistema Educacional,

constituindo ao longo da história como um ensino de grandes desafios frente a sua

complexidade em relação às políticas públicas e o enfrentamento das questões

sociais impostas pela sociedade contemporânea. Configura-se também como uma

etapa intermediária entre o Ensino Fundamental e Ensino Superior, com a

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particularidade de atender adolescentes, jovens e adultos com expectativas

diferentes frente à escolarização.

De acordo com Pinto (2008):

O ensino médio no Brasil nasce nas mãos da iniciativa privada, em virtude do monopólio dado pela Coroa Portuguesa aos jesuítas, e permanece majoritariamente em mãos de entidades religiosas até a primeira metade do século XX. As poucas escolas públicas existentes caracterizavam-se pela qualidade do ensino e pela elitização, já que se utilizava de processos seletivos para o ingresso. Esta situação começa a mudar na década de 1960, com a ampliação da rede pública e com a progressiva hegemonia no setor privado de escolas de caráter empresarial. Em 1971, com a Lei nº 5.692, acontece uma reorganização do então ensino secundário, de tal forma que o seu primeiro ciclo (antigo ginasial) passa a fazer parte da escolarização obrigatória, que passa de quatro para oito anos de duração, e o antigo segundo ciclo passa a se denominar ensino de 2º grau, com duração de três anos, constituindo-se, após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996, no atual ensino médio.

A Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (Lei 9394-

96), ao situar o Ensino Médio como a última etapa de formação básica e geral para

todos, no art. 22, quanto à escolarização diz que esta etapa tem por finalidade o

desenvolvimento do indivíduo, assegurando-lhe a formação comum indispensável

para o exercício da cidadania, fornecendo-lhe os meios para progredir no trabalho e

em estudos posteriores (BRASIL, 1996).

Segundo o documento do MEC-Ensino Médio Inovador (BRASIL,

2009), o Brasil ampliou o número de matrículas e o acesso do aluno à escola, mas

tem ainda 1,8 milhões de jovens de 15 a 17 anos fora da escola, portanto, não

garante a sua permanência. O abandono e a reprovação continuam persistindo

nesta etapa da educação básica em número elevado.

Em 2007 (MEC/INEP), a taxa de abandono no país foi de 13,3% e

de reprovação 12,7%. No Paraná, segundo SERE/DAE/SEED (PARANÁ, 2007)

reprovados e desistentes no Ensino Médio noturno somaram no 1º ano - 47,7%, 2º

ano - 34,9% e 3º ano - 23,2%.

No município de Lidianópolis SERE/SEED (PARANÁ, 2008), as

taxas de abandono escolar no Ensino Médio foram de 1º ano 8,00%, 2º ano 9,80% e

3º ano 3,50%, consideradas altas, levando em conta o número total de 181 alunos

matriculados.

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Portanto, o país intensificou o acesso, garantiu o direito à educação

básica, mas não garantiu democraticamente a permanência e, principalmente uma

escola que desperte o interesse, com currículo capaz de promover uma

aprendizagem que faça sentido para os jovens e adolescentes na construção de

uma sociedade mais justa, solidária e transformadora, ou seja, democratizou o

acesso à escola, mas não precisamente à educação, à aprendizagem ao

conhecimento. O que apresenta estar posto, como direito, “educação para todos”,

não condiz, necessariamente, a realidade vivenciada por parcela significativa dos

jovens nesta etapa de ensino. Segundo Arroyo (1992) a escola continua seletiva e

excludente.

O Ensino Médio apenas se expandiu sem resolver ou recuperar a

possibilidade de uma formação integral a que todo aluno tem direito, legitimando

uma crise do fracasso da escola nesta etapa básica da educação. “No passado, a

exclusão atingia os que não ingressavam na escola; hoje, atinge os que nela

chegam, operando, portanto de forma menos transparente” (PATTO, 1996, p. 119).

Para Arroyo (1992) o tema fracasso continua desafiante, mas o

problema não é como enfrentá-lo. O que preocupa é a forma de concebê-lo dentro

das instituições escolares, que por décadas continua com as mesmas análises

clínicas e individuais, ou seja, algo externo ao processo de ensino e a sua

organização, instalando assim a cultura da exclusão. Cultura que não só da escola,

do professor, do sistema escolar, mas da educação brasileira, que é mantida e

gerada desde séculos, para reforçar uma sociedade desigual e excludente,

Considerando que a evasão escolar é co-produzida por vários

fatores nos estudos realizados, percebe-se que a população aumenta, os

investimentos na educação se estabilizam, e uma política educacional mais

compromissada fica a margem do processo aprendizagem. O que fazer então para

entender como a evasão escolar é produzida dentro das instituições de ensino?

Vários autores incomodados como o fracasso escolar debruçaram

sobre estudos e pesquisas para poder contextualizá-lo dentro do processo de

ensinar e aprender. Neste estudo recorremos a estudo a vários autores, para

compreender melhor a questão do fracasso escolar (AQUINO, 1998; ARANTES,

2002, 2010; ARROYO, 1992,1997, 2000; AZEVEDO, 2010; BIANCHINI, et al. 2009;

CALDAS, 2005; CARVALHO, 1997; COLLARES; MOYSÉS, 1996; FERRARO, 2004;

FREIRE, 2002; LEITE; TASSONI, 2002; LIBÂNEO, 2001; MORAES, 2010; PATTO,

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1996; PIAGET, 1962, 1986; PINTO, 2008; SAWAYA, 2002; SOUZA, 2003;

SPOSATI, 2000).

No Brasil desde a década de 1970, o fracasso escolar tem sido

estudado por vários autores de diferentes áreas de conhecimento, como educação,

ciências sociais e a psicologia. Patto (1996) em suas pesquisas sobre o fracasso

escolar a partir de uma pesquisa com alunos da rede pública de ensino analisou os

processos intraescolares presentes na escola de uma periferia de São Paulo, para

saber o que levava ao fracasso, esta pesquisa teve grande repercussão sobre o

meio educacional e é referencial de grande importância para estudo do assunto.

Patto (1996) utilizando como alicerce o materialismo dialético

histórico denunciou a cumplicidade ideológica da psicologia como ciência diferencial

e experimental, que no processo de seleção das crianças, distinguindo-as entre

capazes e incapazes de aprender, a partir de seus recursos internos, individuais,

medindo a capacidade intelectual, para comprovação de sua hereditariedade,

produziu e ampliou o uso dos testes psicológicos. Assim a psicologia tira de foco que

é historicamente determinado, indo de encontro a uma sociedade de classes,

justificando as diferenças sociais como um processo natural, que depende de

aptidões da criança e esforços individuais.

Patto (1996, p. 84) coloca:

Apesar das diferenças que as concepções heredológica e ambientalista do desenvolvimento humano guardam entre si, tem em comum a suposição de que as dificuldades de aprendizagem que as crianças pobres costumam exibir na escola decorrem de distúrbios contraídos fora dela.

As explicações para o fracasso apresentado na escola, baseiam-se

em mitos que vão sendo construídos sob forte influência ideológica, presente nas

práticas educativas dos professores para justificar o fracasso dentro da escola, um

discurso científico que se mistura ao senso comum, colocando o fracasso como algo

natural, sendo individual do aluno ou de sua família.

Collares e Moysés (1996) também concordam com a idéia de Patto

e afirma que o fracasso escolar apresenta-se como um problema de ordem social e

politicamente produzido. Em sua pesquisa sobre o preconceito no cotidiano escolar,

observaram que o fracasso escolar recai sempre sobre o aluno e tudo que se diz

ligado a ele.

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Elas afirmam que:

Centrar as causas do fracasso escolar em qualquer segmento que, na verdade, é vítima, seja a criança, a família, ou o professor, nada constrói, nada muda. Imobilizante constitui um empecilho ao avanço das discussões, da busca de propostas possíveis, imediatas e, em longo prazo, de transformações da instituição escolar e do fazer pedagógico (COLLARES; MOYSÉS, 1996, p. 217).

Segundo Collares e Moysés (1996), conforme também analisado no

capítulo 1 deste caderno, rotular e estigmatizar o aluno prejudica a sua

aprendizagem, a escola vê os alunos como fracassados, não acredita na sua

aprendizagem, compromete assim sua auto-estima, seu auto-conceito, reduz a suas

oportunidades de aprender, e pode provocar a sua exclusão do sistema educativo,

não percebendo que a própria instituição pode ser co-responsabilizada pelo não

aprender.

Arroyo (1997, p. 23), corrobora com as autoras dizendo que o aluno

evadido ainda continua sendo visto como oriundos de famílias desestruturadas,

responsabilizando assim, o próprio povo por suas condições sociais, culturais,

econômicas e fracasso escolar. “Se o aluno é o responsável, a escola é inocentada

do fracasso e, sobretudo, o Estado e os grupos dirigentes da sociedade”.

(BISSERET, 1979 apud ARROYO, 1997, p. 22).

Ainda citamos Collares e Moysés (1996, p.12), que pesquisando os

fatores que levam a criança a não aprender na escola, afirmam que:

[...] o processo de produção do fracasso escolar acontece no interior da escola e tem relação direta com sua estrutura e funcionamento; com suas práticas disciplinares e pedagógicas; com a formação e as condições de trabalho do corpo docente; com a relação preconceituosa que os educadores geralmente estabelecem com as crianças e as famílias das classes populares.

Dessa forma as práticas desenvolvidas em sala de aula, conscientes

ou inconscientes, podem afastar o aluno, ou seja, as representações que os

professores fazem sobre o aluno como “não aprende porque não tem interesse”, já é

“repetente,” a “família é desestruturada, não incentiva”, quando arraigadas na

escola, tornam-se práticas pedagógicas excludentes. A patologização feita pelo

professor através de palavras, ações e representações pode trazer ao aluno uma

autocrítica extremamente negativa (CALDAS, (2005).

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Carvalho (1997, p. 21-22), corrobora com essa idéia colocando que

o fracasso escolar que tem sido concebido como fracasso do aluno dentro das

instituições escolares, nega a democratização das oportunidades de acesso e

permanência de uma grande parcela da população. Em relação ao processo de

ensino-aprendizagem este se baseia em três elementos: alguém que ensina

(professor), algo que é ensinado (currículo escolar) e alguém a quem se ensina

(aluno), portanto, quando não há aprendizagem a causa deve ser investigada

observando a combinação destes três elementos no todo , e não somente naquele a

quem se ensina no caso o aluno.

Arroyo (1986, apud Azevedo 2010, p.17) chama a atenção sobre

essa questão dizendo que:

A evasão sugere que o aluno que se evade deixa um espaço e uma oportunidade que lhe foi oferecida por motivos pessoais e familiares. Portanto ele é responsável pela sua evasão. Quando o aluno se evade o professor não tem nada a ver com isso.

Dessa forma, a escola tira de foco uma análise mais profunda sobre

os motivos que levam o aluno a abandonar a escola, tais como: questões sociais,

culturais, econômicas e pedagógicas que deixam de ser avaliadas. É como se o

aluno deixasse a escola por sua conta, sua falta de interesse, pois não quer mais

estudar. Segundo Arroyo (1992), cria-se uma cultura do fracasso, que legitima

práticas preconceituosas, que exclui, onde reprovar faz parte da prática de ensinar-

aprender-avaliar, Ao esquivar-se de buscar as causas deste abandono a escola

deixa de cumprir o seu papel social, e faz o jogo do capitalismo liberal posto a

sociedade.

Vivemos hoje numa sociedade capitalista, tecnológica e globalizada,

e como diz Libâneo, (2001, p. 39), o neoliberalismo “prega o individualismo e a

naturalização da exclusão social, considerando como sacrifício inevitável no

processo de modernização e globalização da sociedade”. Portanto, não podemos

fazer de conta que ensinamos, que não enxergamos esta realidade que está posta

nesta sociedade capitalista e excludente, a escola deve desvelar o que está nas

entrelinhas, nas ideologias e procurar estabelecer uma educação em que o aluno

seja capaz de construir uma nova sociedade, como sujeito ativo, participante da sua

própria história e não como mero expectador.

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Ryan (apud COLLARES; MOYSÉS, 1996, p. 217), também coloca

que:

[...] o que deveria ser um objeto de reflexão e mudança o processo pedagógico fica mascarado, escamoteado, pelo diagnosticar e tratar singularizado, localizar o fracasso, o problema, o ‘mal’ na criança significa perpetuar a situação, pela culpabilização da vítima.

A sociedade busca o sucesso profissional e a escola também segue

esta concepção, percebe-se que aqueles que não consegue atender a essa

exigência colocada na escola, acabam sofrendo a rotulação por não encaixar-se no

perfil traçado pela instituição, ou seja, o aluno idealizado, ficando assim a margem

do processo ensino aprendizagem. Assim os processos de construção de

aprendizagem do aluno ou qualquer bagagem social que possa intervir neste

processo são desconsiderados.

Para a esta idéia, Patto (1996, p. 123) afirma que “a escola pública é

uma escola adequada às crianças de classe média e o professor tende a agir em

sala de aula, tendo em mente um aluno ideal”.

A escola constitui espaço para que o aluno aproprie-se do mundo do

saber e dele possa utilizar em benefício próprio, mas continua reproduzindo as

desigualdades sociais, mesmo que consciente ou inconsciente, participando do

processo de exclusão desse aluno do sistema de ensino, e daqueles que pertencem

às camadas populares, que pode ter a única chance de tornar cidadão, incluído na

sociedade e na luta contra o sistema de exclusão social, imposto pelo discurso

neoliberal.

Ainda segundo Patto (1996), o fracasso escolar continua fazendo

vítimas ao longo da história da escola pública brasileira, todas as tentativas de

superação parece ter sido em vão. As explicações buscadas nos meios escolares e

na sociedade, não dão conta destas respostas e nada contribuem para explicá-lo.

Patto (1987 apud MORAES, 2010, p. 8) afirma que:

A reprovação e a evasão escolar são: um fracasso produzido no dia-a-dia, da vida na escola e na produção deste fracasso está envolvido aspectos estruturais e funcionais do sistema educacional, concepções de ensino e de trabalho e preconceitos e estereótipos sobre a sua clientela mais pobre. Estes preconceitos, no entanto, longe de ser uma característica apenas dos educadores que se encontram nas escolas, estão disseminados na literatura educacional

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há muitas décadas, enquanto discurso ideológico, ao se pretender neutro e objetivo, participa de forma decisiva na produção das dificuldades de escolarização das crianças das classes populares.

A escola no seu cotidiano apresenta mecanismos responsáveis pelo

fracasso escolar, à organização escolar, metodologias, prática de exclusão como o

preconceito e estereótipos levam a dificuldade de aprendizagem, deixa de ajudar o

aluno em sua aprendizagem e passa a tratá-lo como vítima do meio social, familiar e

das condições em que vive (PATTO, 1996).

Muitas vezes, o não aprender, e podemos pensar nesta mesma linha

de análise, a evasão escolar, o desinteresse pela escola pode estar ligado ao não se

sentir acolhido pela escola, não se enquadrar nos valores postos por ela, esta não

valoriza as diferenças e acaba reproduzindo ainda mais, a rotulação e a segregação.

Sposati (2000), diz que vencida a barreira do acesso a escola, o que pode levar os

jovens para longe da escola é o distanciamento da sua realidade pessoal, e o

modelo de educação vivida hoje, reforça a exclusão e não a inclusão.

Nesta perspectiva, entendemos também que práticas escolares

desenvolvidas no interior da escola podem levar a evasão escolar, portanto, a

relação professor/aluno deve ser analisada no âmbito também da afetividade,

sabendo que ainda persiste na escola o desconhecimento quanto à reciprocidade

entre afetividade e cognição no processo de desenvolvimento humano e no ensino

aprendizagem em sala de aula.

Aquino (1998, p.143) coloca:

Rever conceitos, valores e crenças solidificados, ou seja, a maneira com que temos nos posicionado diante de nosso aluno, esse nosso outro complementar, tomando a relação professor-aluno como núcleo e foco do trabalho pedagógico, pode ser uma forma de redescobrir o prazer e o valor (social e humano) dessa profissão de certo modo extraordinária que é a docência. (grifo do autor).

2.1 A Relação Professor-Aluno e a Exclusão Escolar

No ambiente escolar, considerando que o professor não apenas

transmite e repassa conhecimentos, mas também ouve os alunos e ainda

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estabelece uma relação de troca, a afetividade pode contribuir para o processo

ensino-aprendizagem. A educação só poderá dar significado para vida do aluno,

quando levar em conta a aprendizagem e esta se dá na interação, e a escola

constitui um espaço de relações humanas. E como defende Arantes (2010), não se

pode separar afetividade e cognição, dizendo que:

Partimos da premissa de que no trabalho educativo cotidiano não existe uma aprendizagem meramente cognitiva ou racional, pois os alunos e as alunas não deixam os aspectos afetivos que compõem sua personalidade do lado de fora da sala de aula, quando estão interagindo com os objetos de conhecimento, ou não deixam “latentes” seus sentimentos, afetos e relações interpessoais enquanto pensam (ARANTES, 2010).

A aprendizagem é um processo dinâmico, que ocorre a partir da

relação estabelecida entre o sujeito e o objeto, isto permite dizer que quanto mais o

professor interage com o aluno, mais facilmente a aprendizagem ocorrerá, portanto,

como coloca Piaget (1962; 1986) a afetividade é a “mola propulsora” da

aprendizagem, ou seja, facilitadora do trabalho no cotidiano escolar, usando uma

metáfora, diz que a afetividade é a gasolina que a ativa o motor da cognição, um não

funciona sem o outro. Confirma que sem afeto não há motivação, não há interesse

e, portanto, não há aprendizagem. Dessa forma a transmisão do conhecimento

implica uma interação entre os envolvidos no processo de ensinar e aprender,

envolve sentimentos e emoções, que podem ser positivas ou negativas. Ainda de

acordo com Piaget, “não existem estados afetivos sem elementos cognitivos, assim

como não existem comportamentos puramente cognitivos” (apud ARANTES, 2010).

Dolle (1993 apud BIANCHINI et al., 2009, p. 7791), diz que:

O gesto, até mesmo discreto, o brilho no olhar, etc., são tão expressivos quanto às palavras. Dito de outro modo, a afetividade em ato fala àquele que a recebe porque ela tem um sentido e informa sobre o estado daquele que o leva a falar, sobre suas intenções, seus julgamentos, sua disposição de espírito com relação ao destinatário, etc.

Compreendemos que afetividade e inteligência são aspectos

indissociáveis, componentes intrínsecos à aprendizagem. Afetividade não significa

ser o professor bonzinho que passa a mão na cabeça do aluno, mas que o respeita

na suas diferenças, que estabelece uma relação de diálogo, de confiança

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considerando-o como igual, humano, ou seja, compreensão, aceitação, valorização

da capacidade de aprender, como diz Macedo (2002), “Sim, todos podem aprender”,

para isso depende do modo como essa possibilidade é compreendida e as

diferentes visões do que seja a prática do ensinar e aprender.

Piaget (1953-54) citado por Souza (2003, p. 57), abordando a

relação entre a afetividade e inteligência, apresenta os seguintes pressupostos:

� inteligência e afetividade são diferentes em natureza, mas indissociáveis na conduta concreta da criança, o que significa que não há conduta unicamente afetiva, bem como não existe conduta unicamente cognitiva;

� a afetividade interfere constantemente no funcionamento da inteligência, estimulando-o ou pertubando-o, acelerando-o ou retardando-o;

� a afetividade não modifica as estruturas da inteligência, sendo somente o elemento energético das condutas.

Dessa maneira entendemos que a afetividade está relacionada com

a aprendizagem, e como o sujeito se constitui nas relações sociais, estas em sala de

aula devem ser articuladas com a dimensão cognitiva. O cotidiano escolar é

permeado por conflitos, o favoritismo e a indiferença do professor mesmo que

inconscientemente pode deixar marcas no aluno, os vínculos e a qualidade

estabelecidos na relação professor/aluno faz a diferença para que a aprendizagem

aconteça, Também corrobora com esta idéia, Freire (2002, p. 39) que coloca:

O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca (FREIRE, 2002, p. 39).

Portanto, pelos estudos realizados, observa-se que a relação

estabelecida entre professor e aluno se constitui papel importante no processo

pedagógico, já que ensinar e aprender constitui-se numa relação dialógica.

Professor e aluno podem ensinar e aprender através das diferentes realidades e

experiências vivenciadas, a afetividade não pode ficar a mercê deste processo,

como componente intrínseco à aprendizagem.

Concordamos com a afirmação de Arantes (2002, p. 170-171):

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Acreditamos poder avançar as discussões que apontam para a articulação das relações intrínsecas entre cognição e afetividade, no campo da educação, se incorporarmos no cotidiano de nossas escolas o estudo sistematizado dos afetos e sentimentos, encarados como objetos de conhecimento.

O estabelecimento do vínculo afetivo em sala de aula favorece o

trabalho do professor, proporciona ao aluno superar erros e aprender com eles,

apropriando-se do conhecimento. A afetividade passa a ser uma energia, um

estímulo que proporcionará a motivação para aprender. Ressalta Freire, o que não

se pode permitir é que a afetividade interfira no cumprimento ético do professor e no

exercício da sua autoridade no bem querer maior ou menor que se tenha pelo aluno.

(FREIRE, 2002, p. 89).

Conhecer o aluno para entender a melhor forma de trabalhar com

ele pode proporcionar oportunidades de aprender, elevando também a sua auto-

estima, o auto-conceito, sua auto-eficácia e uma aprendizagem mais produtiva. E

como assevera Leite e Tassoni, (2002, p. 136), intervenções pedagógicas realizadas

pelo professor devem ser baseadas por “sentimentos de acolhimento, simpatia,

respeito e apreciação, além de compreensão, aceitação e valorização do outro”.

Estes sentimentos quando valorizados além de marcar a relação do aluno com o

objeto do conhecimento, também afetam a auto-imagem, favorecendo a autonomia e

fortalecendo a confiança em suas decisões e capacidades para aprender.

Dessa forma a qualidade das relações estabelecidas em sala de

aula entre professor e aluno precisa ser valorizada. O desenvolvimento afetivo e

social e não apenas o cognitivo são fatores fundamentais para uma aprendizagem

efetiva à formação e ao desenvolvimento intelectual do aluno.

De acordo com Sawaya (2002, p. 207):

A percepção do professor sobre si mesmo e sobre o seu aluno conduz as formas de interação com o aluno e os resultados escolares, de tal modo que aqueles professores que conseguem perceber e desenvolver as qualidades dos alunos promovem a sua acentuação, mas aqueles que estão permeados por preconceitos, ou só conseguem ver os aspectos negativos dos seus alunos, não conseguem um bom aproveitamento escolar por parte deles.

Em estudo sobre a temática desta produção, consideramos que a

evasão escolar não pode ser compreendida, analisada de forma isolada, deve ser

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contextualizada no âmbito da escola, derrubando o mito de que a educação

brasileira não tem solução. Para além buscar culpados, é importante deixar de

buscar o aluno ideal e trabalhar com aquele real da escola com cultura diferenciada,

que precisa ser visto como ser humano em sua plenitude, portanto, atitudes e

relações interpessoais em sala de aula devem ser pensadas para uma escola mais

democrática.

Como ressalta Arroyo (2000, p.40):

Superar esse pesadelo, não deixar que ele perturbe nossos sonhos de ir mais fundo no equacionamento dos problemas de nossa educação básica, que não perturbe nossos sonhos de sermos mais radicais, de irmos às raízes mais determinantes na garantia do direito à cultura, ao conhecimento, ao desenvolvimento humano. O direito a uma nova concepção e prática de educação básica universal e democrática, não-credencialista nem seletiva.

As análises e reflexões para mudança devem ser construídas no

coletivo escolar, pois nada adiantará o acesso e a permanência do aluno na escola

se, como pergunta Ferraro (2004, p. 58) “[...] que ganho terá tido o novo aluno, se a

lógica da exclusão a que estava submetido quando fora da escola entrar com ele na

escola?”.

REFERÊNCIAS

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CAPÍTULO 3 ADOLESCÊNCIA EM QUESTÃO:

POSSÍVEIS RELAÇÕES COM O NÃO APRENDER

Carla Tristão Martins

Nos capítulos anteriores, o não aprender foi tomado como foco

central das discussões e em especial as significações dadas às inadequações de

alunos que não se enquadram aos padrões de idealização presentes nas

expectativas relativas aos papéis sociais que se apresentam no cotidiano escolar.

As discussões reunidas neste caderno temático enfatizam dois

momentos importantes da adolescência em correspondência a importantes

passagens no processo de escolarização, a saber: a entrada na 5ª série/6ºano e a

entrada no Ensino Médio. Embora a OMS defina a adolescência como período

compreendido entre 13 a 20 anos, consideramos que as características próprias

deste período são distintas em seu inicio e finalização. Portanto, analisamos as duas

passagens: para a 5ª série e para o Ensino Médio.

Considerando que o indivíduo na escola não está nela apenas

cognitivamente, apresentamos uma discussão que localiza as principais demandas

de desenvolvimento destes sujeitos de aprendizagem enfatizando que a

adolescência é um fenômeno bio-psico-social e que, portanto deve interessar a

quem analisa o cotidiano escolar e as interações nele produzidas.

A concepção de adolescência adquire diferentes nuances e depende

da cultura, do tempo e das significações com ela atribuídas. Segundo Grossman

(1998, p. 68): “o fenômeno da puberdade é tão antigo quanto o aparecimento do

homem sobre a terra. Em linhas gerais parece que a idéia do que hoje chamamos

adolescência, é pressentida a partir do século XVIII”.

Diferentes ritos de passagem podem ser identificados em todas as

culturas. Na Grécia, por exemplo, as crianças cresciam ouvindo canções, fábulas e

histórias relacionadas à mitologia e se identificavam com os heróis míticos. Em

Esparta, ao completar sete anos, os meninos recebiam educação cívica e militar

oferecida pela cidade. Com 16 anos, o jovem era preparado para falar nas

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assembléias e até aos 20 anos passava por diversas provas, onde o mesmo era

conduzido por um adulto, sendo este o seu modelo e guia (GROSSMAN, 1998).

O século XIX foi um período marcado por importantes

transformações e avanços industriais e tecnológicos. A infância passa a ser vista

como um momento importante da vida e a criança identificada como um ser

humano. É neste momento que a imagem do adolescente é mais bem definida e o

conceito de adolescência assume um caráter de “momento critico” da existência

humana, sendo objeto de estudo de médicos e educadores devido às mudanças

biológicas e as manifestações advindas do comportamento e das transformações

sexuais específicas da adolescência.

O autor afirma que neste período histórico “a adolescência é

distinguida como zona de turbulência e contestação, constituindo-se em uma linha

de fraturas e erupções vulcânicas no seio das famílias.” (GROSSMAN, 1998, p. 70).

O século XX por sua vez foi marcado por um período de mudanças

significativas principalmente para os adolescentes, enfatizando a irreverência, os

questionamentos e transgressões às regras realizadas pelos jovens, conhecidos

como “juventude transviada” ou “rebelde sem causa”.

Houve uma explosão de mobilizações e contestação social. Os

jovens passaram a se vestir com roupas coloridas, cabelos compridos, músicas

específicas e drogas. Surge o “movimento hippie”, definindo uma época, pela sua

filosofia, agitações, imposição de idéias, destruindo antigas formas de pensar e agir

(PRIORE, 2007).

Outra compreensão de adolescência advinda das mudanças do

século XXI representadas por uma era informatizada, de importantes avanços

tecnológicos, será como o adolescente irá lidar com suas emoções e interações

mediante este mundo fragmentado e mecanizado.

3.1 A ADOLESCÊNCIA ATUAL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Sabemos que a adolescência é caracterizada por intensos

processos desenvolvimentais e envolve os aspectos biológico, psíquico e social.

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Conforme Cuschinir (1994, p. 16) a palavra adolescer vem do latim,

que significa crescer, engrossar, tornar-se maior, atingir a “maior-idade”. Essa fase

tem início com a puberdade que tem início aos dez anos aproximadamente podendo

atingir até os dezoitos anos. O marco final da adolescência não existe, pois irá

depender das condições sociais, econômicas, das modificações físicas e das

características psíquicas e afetivas.

A adolescência hoje é o resultado de estudos científicos e das

transformações psicológicas, educacionais e socioculturais surgidas a partir do

século XIX. Este conceito modificou em virtude da formação da família moderna e a

ampliação das escolas e atingiu as diversas classes sociais, pois até então a

adolescência, não era considerada como uma etapa de desenvolvimento

(CAVALCANTI, 2007).

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) a adolescência

estabelece o período de 10 a 19 anos e no Estatuto da Criança e do Adolescente

Brasileiro esta fase abrange dos 12 aos 18 anos. Segundo Manna (2007, p. 13):

Profundas transformações físicas, psíquicas e sociais ocorrem na adolescência. Dá-se o nome de puberdade às modificações biológicas dessa fase relacionadas ao crescimento físico e à maturação sexual. Os sinais físicos sexuais desenvolvem-se de forma progressiva; há aumento da massa corporal e da velocidade de crescimento, cujo ápice é o estirão pubertário. Este termina com a calcificação da placa de crescimentos, sob a influencia dos hormônios e com a aquisição da função reprodutora.

De acordo com pesquisas neurocientíficas é no início da

adolescência que o cérebro apresenta algumas mudanças típicas no comportamento

dos adolescentes como: o tédio, a impulsividade e a busca de novos desafios. As

áreas do cérebro vão amadurecendo aos poucos, através do fortalecimento dos

neurônios. É só no final da adolescência que ocorre o amadurecimento do raciocínio

referente aos atos, da memória, a ampliação da linguagem como também do

raciocínio abstrato (CAVALCANTI, 2007).

As mudanças físicas no período da adolescência também

denominadas de “revolução corporal” ocorrem tanto nos meninos como nas

meninas, e implicam em diferentes possibilidades de interação com o outro, com a

escola e com o conhecimento (MACEDO, 2003).

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Conforme Cuschnir (1994, p. 17): “as relações que a criança faz com

os objetos e com as situações são concretas. Quando entra para a adolescência

estas relações tornam-se abstratas, teóricas, passam a realizar projetos para o

futuro, raciocinam; tem idéias e ideais”.

O adolescente perde a situação de direitos e facilidades que

pertence à infância. Neste momento, surgem às obrigações, aumenta as

responsabilidades, como estudar, escolher roupas, programas, namoradas, definir a

profissão etc. Necessita de se afirmar perante os outros, mesmo duvidando de si

mesmo.

Para o adolescente o mundo se apresenta em dois: um real e um

imaginário. No real é como ele vê a vida, as mudanças físicas, sociais, afetivas e as

interferências da família, dos amigos e da sociedade. No plano imaginário, ele passa

a ser herói dos acontecimentos, não há injustiças, é amado e tudo acontece como

deseja (CUSCHNIR, 1994).

A crise da adolescência apresenta dois momentos importantes para

o sujeito, tais como: as mudanças do corpo provindas da sexualidade e como lidar

com estas mudanças frente às exigências da sociedade.

O adolescente ao realizar o luto pela perda da infância, necessita

rever a sua identidade que sofre alterações com o surgimento da sexualidade para

que possa buscar a autonomia, desenvolver determinadas competências, preparar

para a escolha profissional e definir a área de interesse quando ingressar no ensino

médio (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999).

Na passagem da infância para a adolescência as brincadeiras

mudam de conotação. Para resolver os conflitos, os adolescentes brigam,

contestam, desafiam, se unem. Para tornarem-se mais fortes, passam a andar em

grupos ou “bandos”. Neste período, os jovens têm uma auto-imagem mais negativa.

Isto ocorre com maior freqüência com as meninas, pois em decorrência das

mudanças corporais estão sujeitas a um aumento de peso, levando-as a uma

tendência a depressão, devido a forte pressão cultural para a menina manter-se

magra (BARONE; BARONE, 2003).

Analisando esta questão Bevilaqua, Cammarota e Izquierdo (2007,

p. 14) comentam que a adolescência é:

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[...] a etapa mais ativa da vida e o período ao final do quais nossas capacidades físicas e cognitivas alcançam o ponto máximo de desenvolvimento. Apesar de ser a “flor da idade”, contudo, é uma fase marcada por alterações comportamentais e sentimentais provocadas, primariamente, pela ausência de controle emocional em razão da falta de sincronismo entre um corpo quase adulto e uma mente ainda infantil. A característica predominante é a tomada de decisões impensadas e altamente influenciada pela pressão emocional dos pares; decisões muitas vezes incompreensíveis para a maioria dos adultos. O desenvolvimento de habilidades sofisticadas de comunicação interpessoal, julgamento e abstração, bem como de autocontrole e inibição emocional são alguns dos desafios pelos qual o adolescente deve transitar.

Conforme Tardeli (2007, p. 27) “é na adolescência que o individuo

internaliza os valores morais e passa a estabelecer ligações mais amplas com a

sociedade e a cultura em que vive”.

3.2 OS RITOS DE PASSAGEM E A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO PROFESSOR-

ALUNO

A existência humana é repleta de ritos de passagem, há mudanças

constantes no decorrer da vida e das relações sociais.

No Ensino Fundamental a passagem da 4ª para a 5ª série (6º ano)

representa um marco importante, é quando a criança ingressa para o mundo adulto

Limongi (2003, p. 107).

Até a 4ª série as crianças recebem mais cuidados, proteção por um

ou dois professores que são os responsáveis pelos acontecimentos em sala de aula.

As mudanças iniciam quando o aluno muitas vezes tem que estudar em outra

escola. Passam a enfrentar diversos professores, as aulas mudam a cada cinqüenta

minutos, os intervalos são menores, bem como os momentos das brincadeiras. Há a

necessidade de uma adaptação às exigências, como as tarefas e avaliações.

Acontece neste momento uma competição entre os colegas de classe, identificação

com determinado professor que pode ser pela facilidade do mesmo ao transmitir um

conteúdo, ou preferência devido a um vínculo positivo.

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Em geral é a partir da 5ª série que o aluno passa a ter um amigo

inseparável, onde poderá compartilhar suas preferências, seu estilo; enfim, suas

diferenças. Os grupos nesta fase dão lugar às turmas, que podem surgir na escola

ou no bairro. Estas turmas têm uma tendência a serem mistas até a 5ª série e a

partir da 6ª série passam a ser do mesmo sexo.

Segundo Far (2007, p. 18) o ingresso para o Ensino Médio, como

também o preparo para o vestibular, pode representar para muitos jovens uma difícil

transição para as responsabilidades do mundo adulto. Ao concluir o Ensino Médio, o

adolescente apresenta um grande stress psicológico, pois para poder ingressar na

faculdade de sua escolha é necessário testar sua capacidade intelectual mediante a

realização de uma série de provas. O ingresso na universidade, com suas aulas,

professores, novas amizades e a aquisição de um conhecimento mais especializado

é visto como um longo ritual de passagem para a vida adulta e profissional.

Como afirma Van Gennep (apud FAR, 2007), em “Os ritos de

passagem”, “viver é continuamente desagregar-se e reconstituir-se, mudar de

estado e de forma, morrer e renascer. É agir e depois parar, esperar e repousar,

para recomeçar em seguida a agir, porém de forma diferente”.

Em todas as etapas é importante que a relação escola/ aluno seja de

respeito junto aos grupos ou turmas, procurando sempre dialogar com os lideres

sem atitudes autoritárias, mas através da colaboração, aceitando sugestões para a

tomada se determinadas atitudes. Sobre esta questão comenta Cuschnir (1994, p.

83):

O adolescente precisa de uma turma para reforçar sua identidade, precisa estar no ponto extremo para ser completamente diferente e não se sentir misturado com o status quo. [...] é representado pelo pai e a mãe, a família. Ele precisa ser completamente diferente para dizer: “Eu sou eu, não sou igual, e eu sim é que vou saber fazer as coisas direito”. Utiliza o grupo para pertencer, sentir-se pertinente, e assim ter poder. Esse poder chega a situações perigosas, verdadeiras guerras entre grupos, tomadas de territórios, com confrontos mortais (grifo do autor).

É neste estágio que o adolescente passa a desenvolver a abstração,

ou seja, a capacidade de compreensão atinge o ponto máximo no colegial. Os

interesses são variados e encontram dificuldades de concentração em atividades

que exigem demasiada atenção.

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De acordo com Bombonatto (2007, p. 21) “muitos adolescentes

passam por conflitos no processo ensino-aprendizagem com a entrada no mundo

adulto e o desejo de se afastar do seio familiar.” Neste momento, o jovem tem a

necessidade de ser aceito pelo grupo e para isto muitas vezes assume um estilo

para agradar não somente a si, mas principalmente os outros. Começa a questionar

as normas sociais e inicia a descoberta de valores como: liberdade, privacidade,

democracia, respeito etc. O adolescente muitas vezes não sabe usufruir esta

liberdade, não cumprindo em muitos casos com suas responsabilidades (BOCK;

FURTADO; TEIXEIRA, 1999).

A escola tem um papel muito importante para o jovem, além de

desenvolver a área cognitiva, é primordial para a construção da identidade individual

e grupal. Não transmite somente conhecimentos acadêmicos, mais sim valores

éticos, morais que permeiam a sociedade, que influenciará em suas expectativas e

decisões (BOMBONATTO, 2007).

O ambiente escolar pode ser um local que propicie um aprendizado

prazeroso ou um local que pode desencadear distúrbios de conduta ou

aprendizagem. É importante que no projeto político pedagógico da escola esteja

inserido atividades que promovam o respeito pelo próximo, ética; enfim, ações

importantes que poderão contribuir para a vida do jovem, na sociedade.

Bombonatto (2007, p. 22) analisa que:

Do ponto de vista pedagógico, cinco aspectos importantes devem ser considerados. Em primeiro lugar, a necessidade de elaboração de estratégias para a resolução de problemas exige do jovem mais esforço mental para processar as informações recebidas e adquirir a habilidade necessária à produção do trabalho acadêmico (além da capacidade organizacional, é preciso fazer planos de ação para concretizar as tarefas a longo prazo), Segundo, raciocinar sobre hipóteses, e a partir delas, tirar conclusões, por meio do pensamento formal. Terceiro, “pensar sobre pensar” e dar conta do raciocínio dedutivo. Quarto, habilidade para aplicar regras lógicas e raciocinar ante problemas abstratos e hipóteses. E em quinto, embora esta época a memória adquira maior capacidade de retenção, o jovem necessita de técnicas especiais de memorização para reunir novas informações.

A figura do professor é primordial no processo ensino-aprendizagem

no sentido de superar a imagem do professor que detém o saber, onde este tem

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somente a responsabilidade de transmitir o conhecimento de maneira passiva, ou

fazendo o uso do poder com posturas autoritárias.

O trabalho do professor consiste em proporcionar situações que

levem o aluno a pensar, refletir, buscar respostas, questionar, comparar, argumentar

possibilitando assim que este construa seu conhecimento. Quando o professor

assume uma postura de orientador, ou provocador da aprendizagem, seus alunos

passam a ter mais responsabilidades. Inovam, há trocas de experiências; tornam-se

assim sujeitos ativos e não meros expectadores do processo ensino-aprendizagem.

Para Piaget (1995, p. 59):

O desenvolvimento do ser humano passa pela dimensão social e envolve cognição, afeto e moral. Sua teoria vem fortalecer o foco central desta temática que é a relação professor-aluno, caracterizada, positiva ou negativamente, pelas intenções afetivas que por ela perpassam. No estagio das operações formais, o desenvolvimento afetivo emerge das mesmas fontes do desenvolvimento cognitivo e das estruturas intelectuais. Na adolescência, o desenvolvimento afetivo é marcado pelo desenvolvimento dos sentimentos idealistas e a continuação da formação da personalidade (apud KULOK, 2002).

Reafirmando as colocações do capítulo 2, é importante compreender

que na relação professor-aluno a “afetividade” é como uma “energia” que leva a

ação, pois possibilita um clima mais propício ao enfrentamento dos desafios da

aprendizagem, aumenta o rendimento e melhora a interação de todos. Esta relação

deverá ser sempre de amizade, respeito mútuo e solidariedade, pois a

aprendizagem fica comprometida em um ambiente hostil. Silva (2002, p. 54)

analisando a relação da afetividade com o aprender, na perspectiva de Wallon

afirma que:

“A afetividade, além de ser uma das dimensões da pessoa, é uma das fases mais antigas do desenvolvimento, pois o homem logo que deixou de ser puramente orgânico passou a ser afetivo e, da afetividade, lentamente para a vida racional”. Nesse sentido, a afetividade e inteligência se misturam,havendo o predomínio da primeira, mesmo havendo logo uma diferenciação entre as duas, haverá uma permanente reciprocidade entre ela “[...] a afetividade depende, para evoluir de conquistas realizadas no plano da inteligência e vice-versa”.

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3.3 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA ADOLESCÊNCIA: A NECESSIDADE DE

UM OLHAR CONTEXTUAL

Observamos que a instituição escolar no decorrer dos tempos

procura responder a um ideal de educação, ou seja, atende um tipo de aluno

considerado “ideal” que não condiz com a realidade que chega até as escolas. Os

alunos que apresentam dificuldades e que não conseguem aprender passam a ser

“rejeitados” e desvalorizados por não apresentarem o mesmo ritmo dos demais.

O não aprender pode gerar angústias, incertezas, com relação ao

processo de escolarização. Não se têm claro as causas e isto compromete a

instalação de ações eficazes na sua superação. Buscam-se alternativas como:

mudança de escola, reforço pedagógico, mas na maioria das vezes, o resultado não

é satisfatório.

Os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem são

rotulados de “alunos lentos”, muitas vezes pela própria família, e outras vezes por

professores e colegas, o que resulta em insucesso. Os alunos são expostos a

situações em que necessitam de uma maior atenção do professor, apresentam

dificuldades de organização, concentração e certa lentidão para realizar as

atividades propostas.

As dificuldades de aprendizagem revelam uma inadaptação, mas

para, além disso, são reveladores de um conjunto de relações que se estabelecem e

que produzem o fenômeno do não aprender. O que observamos no cotidiano escolar

com freqüência é que o aluno deixa de ser visto e o problema toma seu lugar, assim

como o sintoma é tomado como causa.

Segundo Bossa (2002, p. 12):

Sintoma significa que algo não está bem. Quando se fala em fracasso escolar, representa que a escola vai mal, a família sofre e o aluno é o maior prejudicado. É necessário analisar vários aspectos que levam a este fracasso, tais como: cultural, social, pedagógico, orgânico, intrapsiquico, etc. Esses aspectos não apresentam isolados, pois não há nada que aconteça em um deles que não interfira nos demais.

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Essa afirmação é corroborada por Bombonatto (2007, p. 27):

As dificuldades de aprendizagem constituem um quadro mais global e abrangente, cujas causas estão relacionadas ao sujeito que aprende, aos conteúdos pedagógicos, ao professor, aos métodos de ensino e ao ambiente físico e social da escola.

Diante dos alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem é

fundamental que o sistema escolar se organize em posturas diferenciadas, cuja

ênfase seja o pedagógico. É nessa linha de análise que fazemos a nossa proposição

para intervenção pedagógica. É importante desmistificar o que está oculto nas

atitudes de alguns alunos que em sala de aula apresentam um conjunto de

comportamentos tidos como inadequados ao aprender.

Para Nedbajluk (2008, p. 11) o essencial da escola deve ser o

“processo ensino-aprendizagem” onde se espera o sucesso escolar. A não

aprendizagem leva o setor pedagógico a encontrar estratégias diferenciadas para

tentar superar tal situação. As estratégias devem atingir o professor, no sentido

deste rever suas metodologias, a avaliação e analisar como o aluno está se

apropriando dos conhecimentos transmitidos.

O coordenador pedagógico deverá identificar a origem das

dificuldades de aprendizagem para estabelecer posteriormente formas de superação

envolvendo aluno, pais e professores. É importante que o pedagogo faça um

levantamento de dados sobre quantos são os problemas de aprendizagem na

escola; em que turmas se apresentam, quais as maiores dificuldades, há quanto

tempo persistem e quais atividades já foram desenvolvidas no sentido de amenizar

estas dificuldades. Deve verificar como é a relação do professor com este aluno que

apresenta das quais as lacunas do conteúdo provenientes da má organização dos

planos de aula, se houve mudanças de turma, de professor ou de escola.

Tanto no início da adolescência, período que corresponde às séries

finais do Ensino Fundamental quanto no ápice da adolescência período

correspondente à saída do Ensino Fundamental para o Ensino Médio, os processos

bio-psicosociais da adolescência estão presentes.

Olhar para a adolescência como uma complexa rede de

significações que envolvem tais processos permite que consideremos os elementos

presentes na produção dos fenômenos da aprendizagem, em articulação. Implica-

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nos como gestores, professores, pois mobiliza a busca de compreensão contextual

dos processos de escolarização. Impede a rotulação, estigmatização e exclusão,

pois desloca nosso olhar dos problemas e inadaptação, para o sujeito e seus

processos constitutivos.

Referências

BARONE, L. M. C.; BARONE, K. C. Contribuições da psicanálise para a avaliação psicopedagógica do adolescente. In: OLIVEIRA, V. B.; BOSSA, N. A. Avaliação psicopedagógica do adolescente. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2003.

BEVILAQUA, L. R. M, CAMMAROTA, M.; ISQUIERDO, I. Ganhos cerebrais. Revista Mente e Cérebro, São Paulo, v. 3, Série especial: o olhar adolescente: os incríveis anos de transição para a idade adulta, p. 14, 2007.

BOCK, A. M. B; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. de L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 1999.

BOMBONATTO, Q. O sentido da escola. Revista Mente e Cérebro, São Paulo, v. 3, Série Especial: o olhar adolescente: os incríveis anos de transição para a idade adulta, p. 21-29, 2007.

BOSSA, N. A. Fracasso escolar: um olhar psicopedagógico. Porto Alegre: Artmed, 2002.

CAVALCANTI, L. B. Retratos da adolescência. Revista Mente e Cérebro, São Paulo, v. 1, Série Especial: o olhar adolescente: os incríveis anos de transição para a idade adulta, p. 6, 2007.

CUSCHNIR, L. Homem: um pedaço adolescente, adolescente: pedaço de homem. São Paulo: Saraiva, 1994.

FAR, A. Ritos de Passagem. Revista Mente e Cérebro, São Paulo, v. 4, Série Especial, Série Especial: o olhar adolescente: os incríveis anos de transição para a idade adulta, p. 14-16, 2007.

GROSSMAN, E. A adolescência através dos tempos. Adolesc. Latinoam, Porto Alegre, v. 1, n. 2, p. 68-74, jul./set. 1998.

LIMONGI, S, C, O. Dificuldades de linguagem no pré-adolescente. In: OLIVEIRA, V. B.; BOSSA, N. A. Avaliação psicopedagógica do adolescente. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2003. p. 107.

MACEDO, R. M. S. O jovem e seu mundo: escola e família. In: OLIVEIRA, V. B.; BOSSA, N. A. Avaliação psicopedagógica do adolescente. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2003. p.172.

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NEDBAJLUK, L. O “X” da questão. Revista Gestão em Rede, Brasília, n. 88, p. 11, set. 2008.

PRIORE, M. D. Adolescentes de ontem. Revista Mente e Cérebro, São Paulo, v. 4, Série Especial: o olhar adolescente: os incríveis anos de transição para a idade adulta, p. 12, 2007.

SILVA, R. M. S. A importância da afetividade na relação professor-aluno. In: KULOK, M. G. B. (Org.). Relação professor: aluno: contribuições à prática pedagógica. Maceió: Ed. UFAL: COMPED: INEP, 2002. p. 54.

TARDELI, D. D. Preceitos e princípios. Revista Mente e Cérebro, São Paulo, v. 4, p. 22, 2007. Série Especial: o olhar adolescente: os incríveis anos de transição para a idade adulta.

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CAPÍTULO 4 O SENSO DE AUTO-EFICÁCIA E AS RELAÇÕES

COM O NÃO APRENDER

Norma Koglin Vidotto

Ao se discutir a respeito dos problemas enfrentados no contexto

escolar elenca-se, que uma parcela significativa de alunos chega às quintas séries,

apresentando “defasagem/dificuldades” de aprendizagem, que já deveriam ter sido

superadas na 4ª série. O resultado são alunos que não conseguem se desenvolver,

porque ainda não se apropriaram dos conhecimentos básicos para dar continuidade

ao processo ensino-aprendizagem, nesta etapa importante de transição.

Refletindo sobre este entrave, que perpassa o processo ensino-

aprendizagem, nos questionamos: Porque alguns alunos, parecendo ter a mesma

capacidade cognitiva que outros, não apresentam o mesmo rendimento ou

resultado? Que relações há entre dificuldades de aprendizagem e auto-eficácia?

Pesquisas na área educacional têm sido realizadas, principalmente

junto aos alunos com dificuldades de aprendizagem. Estas têm comprovado, que

embora não devam ser consideradas determinantes, pois ocorrem em interação com

outros fatores, as experiências escolares vivenciadas e acumuladas, quando

negativas, poderão transformar-se em dificuldades escolares precoces, podendo vir

a influenciar na aprendizagem, bem como constituir-se em fatores potenciais de

vulnerabilidade e riscopsicossocial. (RUTTER, 1989; MARTURANO, 1997 apud

LOUREIRO; MEDEIROS, 2004, p. 155).

Medeiros et al. (2000), confirma em seu estudos, que as

experiências do cotidiano escolar vão sendo internalizadas nos alunos, (positiva ou

negativamente) e passam a agir nestes, como sinalizador de sua capacidade, de

seu potencial produtivo, podendo influenciar em seu desempenho escolar como um

todo.

Para tentar explicar como esta problemática interfere tanto no

cotidiano escolar, quanto em outras áreas, Albert Bandura desenvolveu nestas

últimas três décadas um referencial teórico que tenta entender como e por que as

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pessoas agem de maneiras diversas, diante das condições adversas dos sucessos e

fracassos, que enfrentam no dia a dia.

4.1 TEORIA SOCIAL COGNITIVA

A Teoria Social Cognitiva tem em Bandura1, o seu maior

representante. Ele centraliza suas pesquisas nas relações que se dá entre o

comportamento do indivíduo, os fatores pessoais, na forma de cognição, afetos e

eventos biológicos e o ambiente, que segundo ele, influenciam-se mutuamente.

(AZZI; POLYDORO, 2006, p. 17).

Bandura (apud SOUSA, 2007), considera o homem, não um ser

passivo, totalmente dominado pelas ações do meio, mas um ser influente em todos

os processos. Um participante ativo dos rumos de sua vida, que de acordo com seu

interesse, pode interferir no curso dos acontecimentos da mesma. Para ele:

[...] O homem aprende e adquire experiências observando as conseqüências dentro do seu ambiente, assim como as vivências das pessoas a sua volta, considerando que, pensamentos, conivência, crenças e expectativas fazem parte de um processo.

Para Bandura (apud TORISU; FERREIRA, 2009, p. 170):

O comportamento humano, gerado a partir das interações do indivíduo com o meio, pode variar de indivíduo para indivíduo. O ambiente se apresenta de modo igual para todos e é denominado, dentro da Teoria Social Cognitiva, de ambiente potencial. Dentro deste ambiente potencial, o indivíduo faz um recorte do que lhe parece importante, criando o seu ambiente real. É neste ambiente real que ele passa a atuar e exercer sua capacidade de agência humana, influenciando-o e sendo influenciado por ele.

1 Albert Bandura, nascido em 1925, é um psicólogo canadense. Durante uma carreira de quase seis

décadas, Bandura tem sido responsável pela inovadora contribuição para muitos no campo da psicologia, incluindo a Teoria Social Cognitiva , terapia e psicologia da personalidade , e também foi influente na transição entre o behaviorismo e a psicologia cognitiva . Ele é conhecido como o criador da Teoria da Aprendizagem Social e a Teoria da Auto-eficácia.

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Como o aluno passa grande parte do seu tempo no ambiente

escolar, é natural, que seu comportamento seja afetado pelas relações que lá se

estabelecem. Acontece que, a interpretação que a pessoa faz dos episódios por ela

vivenciados no meio em que convive, dão origem às crenças e expectativas sobre si

mesma, incluindo a sua inteligência. Dentre estas crenças destaca-se a auto-

eficácia.

Considerando estes aspectos, Pajares e Olaz (2008 apud TORISU;

FERREIRA, 2009, p. 170), afirmam que a Teoria Social Cognitiva tem muito a

contribuir, pois:

Utilizando-a como referência, os professores podem trabalhar para melhorar os estados emocionais de seus alunos, corrigir suas auto-crenças e hábitos negativos (fatores pessoais), melhorar suas habilidades acadêmicas e práticas auto-regulatórias (comportamento) e alterar as estruturas da escola e da sala de aula que atuam de maneira a minar o sucesso dos estudantes.

4.2 CRENÇAS DE AUTO-EFICÁCIA

A Teoria da Auto-eficácia foi desenvolvida por Bandura nos anos de

1977, 1982, 1984, 1986, 1995, 1997, tem sido apropriada em diversos campos do

conhecimento, inclusive na área educacional.

De acordo com Pajares (apud AZZI; POLYDORO, 2006, p. 10):

[...] Um grande conjunto de pesquisas mostra suporte à formulação de Bandura de que crenças de auto-eficácia tocam virtualmente em todos os aspectos da vida das pessoas, se elas pensam de forma produtiva, auto-debilitadora, pessimista ou otimista; quão bem elas motivam a si mesmas e perseveram face às adversidades. [...] Auto-eficácia é também um determinante crítico sobre como os indivíduos regulam seus próprios pensamentos e comportamentos.

Segundo Azzi e Polydoro (2006, p. 14), Bandura em suas pesquisas

define diferentes características de auto-eficácia, porém as diferentes formulações a

reafirmam como fenômeno de caráter subjetivo, (crenças) sobre possibilidades

pessoais (crenças de capacidade) de ser agente na produção da própria trajetória,

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(organizar e executar), cuja concepção está relacionada a metas e objetivos

(produzir certas realizações).

Schunck2 (1991 apud BZUNECK, 2004, p. 116), define auto-eficácia,

“como uma avaliação ou percepção pessoal quanto à própria inteligência,

habilidades, conhecimentos, entre outros, representados pelo termo capacidade”.

Capacidade esta, direcionada para organizar e executar linhas de

ação, o que significa uma expectativa de “eu posso fazer” determinada ação. São as

convicções pessoais quanto a dar conta de uma determinada tarefa. Não se trata de

possuir ou não capacidade para realizá-las, mas de acreditar que é capaz.

Segundo Souza e Brito (2008, p. 195), resultados de pesquisas têm

ajudado a sustentar a suposição de que as crenças de auto-eficácia influenciam a

maneira como as pessoas sentem, pensam, se motivam e se comportam.

A auto-eficácia produz esses efeitos diversos por meio de quatro

processos principais: processos cognitivos, pois vincula-se à antecipação de

conseqüência das próprias ações; processos motivacionais, que afetam a

quantidade de esforço e de tempo que uma pessoa emprega em uma determinada

atividade; processos afetivos, relaciona-se às reações emocionais dos indivíduos,

stress e ansiedade que as pessoas experimentam em situações que consideram

difíceis ou ameaçadoras, e os processos de seleção, visto que as pessoas escolhem

o que vão fazer de acordo com aquilo que sentem ser capazes de executar com

sucesso (BANDURA, 1986, 1993, 1997 apud SOUZA; BRITO, 2008).

Ainda do ponto de vista de Bandura, (1998 apud COSTA;

BORUCHOVITCH, 2006, p. 95), o construto auto-eficácia possui três dimensões:

Intensidade, que está relacionada ao grau de confiança da pessoa em sua

capacidade de executar a tarefa, podendo esta ser positiva ou negativa;

Generalidade, trata da amplitude das crenças de auto-eficácia, se relacionadas a

um domínio mais geral ou específico. Magnitude, refere-se aos níveis de dificuldade

ou de ameaça que a pessoa acredita ser capaz de superar para desempenhar com

sucesso o comportamento proposto.

2 Dale H. Schunk é psicólogo educacional. Ele pesquisou os efeitos das variáveis sociais e

educacionais sobre cognição, aprendizagem, auto-regulação e motivação. É o autor de muitos artigos de jornal e capítulos de livros sobre psicologia educacional. Além de outros livros, ele é autor do livro-texto Teorias de Aprendizagem: Uma Perspectiva da Educação, e co-autor de Motivação na Educação: Teoria e Aplicações de Pesquisa.

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4.3 CRENÇAS DE AUTO-EFICÁCIA NO DESEMPENHO ACADÊMICO

Segundo Medeiros et al. (2003), o constructo auto-eficácia tem sido

particularmente aplicado às crianças que experimentam dificuldade de

aprendizagem e de comportamento. A auto-eficácia dos estudantes, juntamente com

outras crenças e atitudes em relação à aprendizagem, tem sido considerada forte

preditora no desempenho acadêmico.

A auto-eficácia influencia o desempenho acadêmico e, ao mesmo

tempo é influenciada por este, tendo implicações no desenvolvimento da criança

como um todo.

Schunck (1991 apud GIMENEZ, 2007, p. 59), define crenças de

auto-eficácia, como convicções pessoais do aluno, quanto a dar conta de uma

determinada tarefa e em um grau de qualidade definida.

Para Bzuneck3, (2004, p. 118), as elevadas taxas de insucesso ou

evasão escolar, são muitas vezes atribuídas à falta de interesse ou motivação dos

alunos. Segundo ele, um aluno motiva-se para realizar as atividades acadêmicas

caso acredite que possua os conhecimentos e habilidades necessários na realização

destas atividades, abandonando os objetivos, caso pense não ter condições de

alcançá-los.

Segundo Schunck e Pajares, (2001 apud SILVA, 2009, p. 52), a

crença de auto-eficácia começa a ser estimulada por pais e cuidadores, ainda no

início da primeira infância, através das experiências que estes proporcionam.

Quanto mais ricas as experiências no ambiente em que a criança está inserida,

maior será a motivação em desempenhar as tarefas, facilitando o processo de

assimilação de novas habilidades. As experiências, quando positivas, servirão de

alicerce para uma boa auto-eficácia e suas relações com a aprendizagem.

Já na escola, a criança desenvolve a noção de auto-eficácia à

medida que sua performance em áreas específicas é avaliada por professores e

colegas.

3 Prof José Aloyseo Bzuneck - Doutor em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano.. Tem

experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia do Ensino e da Aprendizagem, professor do Mestrado em Educação da Universidade Estadual de Londrina.

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Pesquisas mostram que alunos com fortes crenças na sua eficácia

acadêmica, tendem a ser esforçar mais, são mais flexíveis no uso de estratégias,

organizam melhor as tarefas escolares, obtêm melhores resultados de

aprendizagem, fixam e cumprem metas, com objetivo de evitar o fracasso.

(BORUCHOVITCH, 1994; MONTERO et al., 1999; MEDEIROS et al., 2000;

BZUNECK, 2001b; NEVES; BRITO, 2001 apud GIMENEZ, 2007).

Por outro lado, alunos com queixa de dificuldades de aprendizagem,

apresentam auto-eficácia mais baixa, consideram-se pouco competentes para a

execução, com sucesso, de determinadas atividades acadêmicas.

Medeiros et al. (2003, p. 99), em seus estudos concluiu que:

[...] Alunos que apresentam baixo senso de auto-eficácia em um dado domínio tendem a evitar tarefas difíceis, percebendo-as como ameaça pessoal, apresentam baixas aspirações e envolvimento com metas, mantém o foco mais no autodiagnóstico do que como ter boa realização e desempenho. Diante de tarefas difíceis, geralmente, fixam-se muito mais nas deficiências pessoais, nos obstáculos que irão encontrar e todos os tipos de resultados aversivos. Percebem-se como ineficazes, tendem a afrouxar seus esforços e fugirem rapidamente de situações de dificuldade.

Torisu e Ferreira (2009, p. 171) citam como exemplo dois alunos

cujos professores julgam ter a mesma capacidade cognitiva para realizar uma

determinada tarefa, se for considerado somente o aspecto cognitivo, os dois deverão

ter resultados próximos. Porém, se um deles desenvolveu crenças de auto-eficácia

mais positivas, provavelmente, se sentirá mais motivado ao realizá-la e

possivelmente se sairá melhor.

Rodrigues e Barrera (2007, p. 51), salientam, que:

[...] a presença de correlação entre auto-eficácia e desempenho escolar não indica uma relação de causa e efeito, ou seja, não é possível afirmar qual variável antecede a outra no tempo, por isso não é possível precisar qual delas é a causa e qual o efeito. Não se sabe até que ponto o bom desempenho escolar determina o alto sentimento de auto-eficácia, ou uma crença positiva sobre a própria eficácia influencia o bom desempenho escolar. O mais provável é que ambos os fatores se influenciem e reforcem mutuamente.

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4.4 ORIGENS DAS CRENÇAS DE AUTO-EFICÁCIA

É através das experiências de sucesso ou fracasso, que as crenças

de auto-eficácia vão se estruturando.

Elas têm sua origem em informações obtidas e processadas pelo

sujeito, através de experiências, realizações e desempenhos anteriores que vão se

constituindo a partir de quatro fontes: Experiências de Êxito, Experiências Vicárias,

Persuasão Verbal e Indicadores Fisiológicos, sendo que estas podem atuar de forma

independente ou combinada (BANDURA 1977, 1986, 1997, 2004, apud AZZI;

POLYDORO, 2006, p. 16).

Schunk (1989 apud BZUNECK, 2004, p. 122), considera as

Experiências de Êxito mais importantes para o desenvolvimento das crenças de

auto-eficácia, pois são as realizações e desempenhos anteriores, que garantirão ao

aluno maior fonte de informações sobre as suas capacidades. Vale, portanto dizer,

que quanto mais sucesso o aluno tem em determinada atividade ou domínio, mais

confiante fica com relação à sua capacidade para desempenhos futuros.

Por essa razão uma trajetória escolar marcada por contínuos

insucessos acadêmicos torna-se ciclicamente improdutiva. Desconsiderar as

significações que o aluno faz de suas próprias capacidades pode afetar

negativamente o desenvolvimento das práticas pedagógicas que visam a superação

do quadro de não aprender.

As experiências Vicárias, segundo Souza e Brito (2008, p. 196), são

aquelas decorrentes das observações e imitações do comportamento dos colegas.

Considera-se, que em muitas atividades, as pessoas precisam avaliar suas

capacidades com relação aos resultados alcançados por outros. A essa situação foi

dado o nome de experiência vicariante, que se refere a uma situação, em que,

observando o desempenho de pessoas com as quais julga possuir capacidades

similares, o estudante pode passar a crer que conseguirá obter o mesmo nível de

realização.

Já a Persuasão Verbal está fortemente vinculada às informações

recebidas pelos alunos acerca de seus desempenhos e capacidades. Estas se dão

principalmente por meio das notas e avaliações.

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Por isso, a tática de elevar a expectativa das pessoas consiste em

envolvê-la com palavras de apoio, dirigindo a elas comentários, como: “Você

consegue! Você pode! Sei que você pode!”; “Vamos lá! Você tem tudo para

conseguir!”; Incentivos como estes poderão ter efeito positivo e levar o aluno à

realização da tarefa com êxito. Porém a crença de auto-eficácia poderá entrar em

declínio, caso as tentativas resultem em fracasso.

Cansaço, estados de humor, estresse, ansiedade e outros estados

emocionais são Indicadores Fisiológicos, que segundo Azzy e Polydoro, (2006, p.

16), também podem influenciar as percepções de auto-eficácia, embora tenham um

efeito mais limitado. O aluno que fica ansioso antes de realizar uma tarefa pode

comprometer a crença que ele tem de conseguir realizá-la.

Essas quatro fontes, de acordo com Bandura (1986 apud

BZUNECK, 2004), podem não influenciar a auto-eficácia de modo automático, mas

através do processamento cognitivo, no qual o aluno pondera suas aptidões, as

experiências passadas, juntamente com outros componentes, como a dificuldade

das tarefas, o grau de exigência do professor. Estas fontes, analisa o autor, poderão

afetar o julgamento entre as potencialidades percebidas e as condições pertinentes

à tarefa, resultando numa convicção positiva ou negativa de suas capacidades de

controlar a situação.

Em um trabalho que enfatiza as dificuldades de aprendizagem na

escola, como é o caso das Salas de Apoio à Aprendizagem é imprescindível

considerar as diferentes dimensões postas em articulação com os demais fatores

envolvidos nos processos de escolarização. Como o aluno se vê no processo de

aprendizagem, o senso de auto-eficácia do professor para ensinar, aliados aos

demais fatores sociais, políticos, culturais, pedagógicos, que são constituintes dos

mecanismos próprios à Sala de Apoio à Aprendizagem.

Segundo Bandura (1993 apud GIMENEZ, 2007, p. 60), é em função

desses julgamentos de auto-eficácia que a pessoa age, pois antecipa mentalmente o

que pode realizar para obter resultados, podendo esta exercer um impacto na

seleção de tarefas, no grau de motivação, na qualidade e quantidade de

investimento a ser feito, afetando dessa maneira o nível de desempenho dos alunos.

Como vimos, as experiências, sejam elas de sucesso ou de

fracasso, são fatores que contribuem para a promoção ou inibição da confiança dos

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alunos em si mesmo, bem como podem ser responsáveis pela promoção do alto ou

baixo senso de auto-eficácia.

4.5 COMO POSSIBILITAR AOS ALUNOS O DESENVOLVIMENTO DE CRENÇA DE

AUTO-EFICÁCIA MAIS ELEVADA?

Todos os envolvidos no processo educativo podem possibilitar aos

alunos o desenvolvimento de crenças de auto-eficácia mais elevadas ao utilizar-se

de feedback e incentivos positivos, permitindo-lhes, que estes se familiarizem com

suas próprias estruturas mentais sem perder a confiança, otimismo e controle, ao

incentivá-los ao esforço e à persistência, ajudando os a entender o que sabem e o

que não sabem, ao acompanhar e avaliar não só os conhecimentos e habilidades,

mas também as crenças de auto-eficácia, possibilitando-lhes que melhorem e

possam traçar metas para uma aprendizagem mais efetiva (AZZI; POLYDORO;

BZUNECK, 2006, p. 149).

Bandura (1986 apud BZUNECK 2004, p. 128) sugere que, no

ambiente escolar, deve-se evitar toda forma de comparação social, ou seja, evitar

dar a mesma tarefa a todos e cobrar deles o mesmo ritmo, não agrupá-los em

função de suas capacidades e evitando o clima competitivo em sala.

Com relação às tarefas ou atividades, Stipek (1993 apud BZUNECK,

2004, p. 129) sugere que as tarefas contenham partes relativamente fáceis e partes

mais difíceis para todos, que se trabalhe com atividades complementares,

interessantes e de enriquecimento aos que concluírem primeiro, permitindo que

cada um siga seu ritmo próprio. Alternar trabalhos individuais com trabalhos em

pequenos grupos, desde que estes não se cristalizem e todos recebam a devida

assistência.

Estes princípios indicam que todos os envolvidos no processo

educativo podem oferecer ao estudante condições mais favoráveis para que tenha

prazer em estudar, estimular o desenvolvimento de crenças de auto-eficácia mais

elevadas e favoráveis, pois segundo Bandura (1977 apud AZZI; POLYDORO, 2006,

p. 9): “se as pessoas não acreditam que têm o poder para produzir resultados, elas

não tentarão fazer as coisas acontecerem”.

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Referências

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SOUSA, J. P. Teoria social cognitiva. 2007. Disponível em: <http://www.artigos.com/artigos/psicologia/teoria-social-gognitiva-1820/artigo/>. Acesso em: 17 fev. 2010. SOUZA, L. F. N. I.; BRITO, M. R. F. Crenças de auto-eficácia, autoconceito e desempenho em matemática. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 25, n. 2, p. 193-201, abr./jun. 2008. TORISU, E. M.; FERREIRA, A. C. A teoria social cognitiva e o ensino-aprendizagem da matemática: considerações sobre as crenças de autoeficácia matemática. Ciências & Cognição, v. 14, n. 3, p.168-177, 2009. Disponível em: <http://www.cienciasecognicao.org/revista/index.php/cec/article/viewFile/106/150>. Acesso em: 7 jun. 2010.

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5 SUGESTÕES DE FILMES E LEITURAS PARA REFLEXÕES

5.1 FILMES

Destacamos alguns filmes para reflexões que podem favorecer a

construção de uma percepção mais positiva sobre professores e alunos, constituindo

em uma ótima alternativa educacional e pedagógica abrangendo contextos sócio-

históricos, para serem problematizados, discutidos, questionados e analisados por

todos que fazem parte do ensinar e aprender. Assim a escola estará cumprindo o

seu papel como espaço de socialização e de formação humana.

A qualidade de ensino é uma questão que está intimamente

relacionada à formação do professor. Sendo assim, estudo e reflexão são

fundamentais para esse aprender contínuo que integra o cotidiano do educador.

"Escritores da Liberdade", de Richard Agravanese

Sinopse

Hilary Swank, duas vezes premiada com o Oscar, atua nessa instigante história, envolvendo adolescentes criados no meio de tiroteios e agressividade, e a professora que oferece o que eles mais precisam: uma voz própria. Quando vai parar numa escola corrompida pela violência e tensão racial, a professora Erin

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Gruwell combate um sistema deficiente, lutando para que a sala de aula faça a diferença na vida dos estudantes. Agora, contando suas próprias histórias, e ouvindo as dos outros, uma turma de adolescentes supostamente indomáveis vai descobrir o poder da tolerância, recuperar suas vidas desfeitas e mudar seu mundo. Com eletrizantes performances de um elenco de astros, incluindo Scott Glenn (Dia de Treinamento), Imelda Stauton (Harry Potter e a Ordem da Fênix) e Patrick Dempsey (Grey's Anatomy), ganhador do Globo de Ouro. Escritores da Liberdade é basedo no aclamado best-seller O Diário dos Escritores da Liberdade.

Filme: Escritores da liberdade (Original: Freedom Writers) País: EUA/Alemanha - Gênero: drama. Classificação: 14 anos. Duração: 123 min. Ano: 2007. Direção: Richard LaGravenese . Produção: Danny DeVito, Michael Shamberg, Stacey Sher. Elenco: Hilary Swank, Patrick Dempsey, Scott Glenn, Imelda Staunton, April Lee Hernandez, Mario, Kristin Herrera, Jacklyn Ngan, Sergio Montalvo, Jason Finn, Deance Wyatt, Vanetta Smith, Gabriel Chavarria, Hunter Parrish, Antonio Garcia.

(Freedom Writers)

"Entre os Muros da Escola", de Laurent Cantet

Sinopse

François e seus colegas professores preparam o novo ano letivo em uma difícil escola da periferia parisiense. Munidos das melhores intenções, eles se apóiam mutuamente para manter vivo o estímulo de dar a melhor educação a seus alunos. A sala de aula, um microcosmo da França contemporânea, testemunha o choque entre as diferentes culturas. E por mais inspiradores e divertidos que sejam os adolescentes, seu difícil comportamento pode acabar com qualquer entusiasmo dos professores. Título original: Entre les Murs, Diretor: Laurent Cantet, Elenco: François Bégaudeau, Nassim Amrabt, Laura Baquela, Cherif Bounaïdja Rachedi, Juliette Demaille, Dalla Doucoure, Arthur Fogel e Damien Gomes, Gênero: Drama, Baseado

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em fatos reais , Duração: 128 min , Ano: 2008 , Data da Estréia: 13/03/2009 , Cor: Colorido , Classificação: Não recomendado para menores de 12 anos , País: França Dados do DVD: Data de lançamento: 07/06/2009, Ano: 2008, Distribuidora: Imovision, Idioma: francês, Legendas: português. Drama, Baseado em fatos reais.

Pro dia Nascer Feliz Documentário de João Jardim - Brasil, 2007, 88min; COR.

SINOPSE: Documentário sobre as diferentes situações que adolescentes de 14 a 17 anos, ricos e pobres, enfrentam dentro da escola: a precariedade, o preconceito, a violência e a esperança. Foram ouvidos alunos de escolas da periferia de São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco e também de dois renomados colégios particulares, um de São Paulo e outro do Rio de Janeiro. Professores também expõem seu cotidiano profissional, ajudando a pintar um quadro complexo das desigualdades e da violência no país a partir da realidade escolar. Mostra a dura realidade do cotidiano escolar, principalmente, o das escolas públicas. Fonte: PRO DIA nascer feliz. Disponível em: <http://www.filmes.seed.pr.gov.br/modules/mylinks/viewcat.php?cid=3>. Acesso em: 6 maio 2010 PRO DIA nascer feliz. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=uxEQhcZNHfM>. Acesso em: 6 maio 2010. PRO DIA nascer feliz. Parte 1. Disponível em: Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=74jokEl7RQ4&feature=related>. Acesso em: 6 maio 2010. PRO DIA nascer feliz. Parte 2. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=eqPVcpnN8cU&feature=related>. Acesso em: 6 maio 2010. EVASÃO escolar: um retrato no Brasil: quase dois milhões de jovens entre 15 e 17 anos estão fora da escola. Jornal Gazeta. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=gHg2lX9RbXY>. Acesso em: 6 maio 2010. MELENDEZ, Tony; VUJICIC, Nick. Um exemplo de vida. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=4w5Z-WP3W18>. Acesso em: 6 maio 2010.

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5.2 LEITURAS

Os professores precisam buscar na pesquisa, a atualização e

aprofundamento para sua prática pedagógica. A leitura crítica de referenciais amplia

conhecimentos, proporciona subsídios que enriquecem e complementam o processo

educativo. A bibliografia apresenta referencial que pode contribuir para uma

abordagem pedagógica no processo ensino-aprendizagem, como afirma Freire,

(2002, p.16), “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-

fazeres se encontram no corpo do outro”.

A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe (PIAGET, [19??]).

Bibliografia Sugerida: AMARAL, L. A. O touro de creta: mecanismos psicológicos de defesa frente à deficiência: atitude, preconceito, estereótipo, estigma. In: ______. Conhecendo a deficiência (em companhia de Hércules). São Paulo: Robe, 1995. p. 111-123. ARANTES, V. Afetividade na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Atlas, 2003. ARROYO, M. G. Fracasso-Sucesso: o peso da cultura escolar e do ordenamento da educação básica. Em aberto, Brasília, v. 11, n. 53, jan./mar. 1992. BZUNECK, J. A.; RUFINI, S. É. G. Eficácia coletiva dos professores e implicações para o contexto educacional brasileiro. Educação Temática Digital, Campinas, v. 10, p.1-15, out. 2009. Disponível em: <http://www.fae.unicamp.br/etd/viewarticle.php?id=540>. Acesso em: 21 jun. 2010. DELL’ AGLI, B. A. V.; CAETANO, L. M.; CASTANHO, A. F. A. Afetividade na abordagem teórica Piagetiana. Disponível em: <www.abrapee.psc.br/documentos/cd_ix_conpe/IXCONPE.../11.pdf>. Acesso em: 6 maio 2010.

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