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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DO PARANÁ

NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO DE CIANORTE UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

MARIA INEZ DE MENDONÇA

OS AFRODESCENDENTES EM CIANORTE. UMA PROPOSTA DE RESGATE

HISTÓRICO

CIANORTE

2009/2011

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MARIA INEZ DE MENDONÇA

OS AFRODESCENDENTES EM CIANORTE. UMA PROPOSTA DE RESGATE

HISTÓRICO

Artigo apresentado como Requisito

final de participação do PDE -

Programa de Desenvolvimento

Educacional à Secretaria Estadual de

Educação do Paraná, na área de

História, sob a orientação do

Professor José Henrique Rollo

Gonçalves.

CIANORTE

2011

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OS AFRODESCENDENTES EM CIANORTE. UMA PROPOSTA DE RESGATE

HISTÓRICO

Maria Inez de Mendonça1

Resumo:

O presente artigo tem dois objetivos básicos: (a) Divulgar dados que permitam

resgatar e valorizar a história dos afrodescendentes da cidade de Cianorte,

entendendo-a como parte integrante da história oral/local do município. Ele procurou

atender a exigência da Lei Federal 10.636/2003 que torna obrigatório o ensino da

História e Cultura Afro-brasileira e Africana em todas as instituições públicas ou

particulares de Ensino Fundamental e Médio. Também se ateve ao que dispõe a Lei

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei 9.394/1996). Esta ressalta a

necessidade de levar o aluno a observar as características regionais e locais da

sociedade e da cultura, permitindo abrir espaço para o estudo da história local e

contribuindo para a valorização à diversidade cultural do povo brasileiro e a

preservação da memória histórica. (b) Expor consequentes resultados didático-

pedagógicos. A partir dos dados coletados no estudo, foi elaborado um material

didático-pedagógico para o trabalho com os alunos da 7ª série do Ensino

Fundamental. Também este artigo possibilitou aos alunos conhecerem a história e a

cultura da sociedade em que estão inseridos, contribuindo desta forma, para o

processo de conhecimento, reflexão e formação histórico-crítica.

Palavras-chave: Afrodescendentes; História do Paraná; História de Cianorte;

Cidadania.

1 Pós-graduação em Formação Sócio Econômica do Brasil e Pedagogia Escolar, graduada em

História, Professora da Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná, Colégio Estadual “D. Bosco”- Ensino Fundamental e Médio. Este trabalho foi orientado pelo professor José Henrique Rollo Gonçalves do Departamento de História da Universidade Estadual de Maringá (UEM).

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Introdução:

Após conquistar a sua autonomia em 1853, o Estado do Paraná conheceu

uma forte imigração europeia, com a chegada dos alemães, poloneses, espanhóis,

holandeses, entre outros. Mais tarde, já no século XX, vieram populações do Oriente

Médio, como os sírio-libaneses, e do Extremo-Oriente, como os japoneses. À

medida que esses imigrantes iam chegando, eles reforçavam a ideia de

branqueamento da população do Estado que tanto sucesso fazia entre as classes

médias e as elites dirigentes paranaenses, cada vez mais convencidas de que

podiam parecer um cadinho da Europa no Brasil. (MOTA, 2003). Nesse processo, os

afrodescendentes que viviam no Paraná acabaram ficando invisíveis aos olhos da

sociedade como sujeitos históricos. Como afirmou Silva (2005 p. 22):

A invisibilidade e o recalque dos valores históricos e culturais de um povo, bem como a inferiorização dos seus atributos adscritivos, através de estereótipos, conduz esse povo, na maioria das vezes, a desenvolver comportamentos de auto-rejeição, resultando em rejeição e negação dos seus valores culturais e em preferência pela estética e valores culturais dos grupos sociais valorizados nas representações. Por outro lado, os mecanismos de invisibilização e de recalque das diferenças adscritivas e culturais dos segmentos sociais subordinados, uma vez saturados através da sua freqüência nos veículos de reprodução ideológica e tornados hegemônicos, passam a ser o senso comum de todos, indiferente de raça/etnia e classe social.

No Paraná, embora seja mais marcante na área conhecida como Paraná

Tradicional (basicamente o sul e os Campos Gerais), esta situação apresenta-se por

todo o Estado, mesmo nas áreas de colonização moderna, nas quais pessoas de

todas as regiões do país e de diversos países foram viver. Portanto, este é também

o caso do Município de Cianorte.

O mais completo livro escrito sobre ele, Cianorte: Sua História Contada

Pelos Pioneiros, coordenado pela professora Helena Cioffi (1995), declara que seu

objetivo foi contar a história da cidade por meio de relatos dos pioneiros e por

pesquisas realizadas em arquivos de órgãos públicos municipais, nos jornais, na

Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP), nos cartórios oficiais da

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cidade, nas igrejas, nas entidades, no Fórum etc. No entanto, nele não se percebe

referência de forma direta ou indireta à existência de afrodescendentes.

Aparentemente, eles foram esquecidos nos relatos feitos pelos pioneiros da cidade.

Considerando essa ausência, que não corresponde ao que se nota nas ruas

da cidade, podemos supor que, nas fontes coletadas, presume-se a “branquidão”

dos sujeitos históricos. Essa hipótese se vê fortalecida pelo fato de que, na imprensa

e nas vozes cotidianas, quando se trata de pessoas não-brancas, elas são

explicitamente mencionadas pela cor de sua pele. Diante disto, percebemos a

importância de fazer uma pesquisa de campo que procurasse resgatar e valorizar a

história e a cultura dos afrodescendentes locais, tendo no horizonte uma ideia

claramente exposta pela autora cianortense antes mencionada: “a história de uma

cidade não é senão a biografia dos homens que a construíram.” (CIOFFI et al, 1995,

p. 1).

Segundo Malote (2008), reaprender a História Local oferece oportunidade de

resgatar um passado ainda presente nas comunidades. Desta forma, valorizar o

conhecimento popular por meio de método científico, que o próprio aluno aplicará,

trará credibilidade às tradições de pouco registro e até mesmo às orais, como

também valorizará o indivíduo e contribuirá, se for o caso, para a recuperação ou o

fortalecimento de sua autoestima. Trata-se de um processo participativo, útil a toda a

comunidade.

Ora, é de todo sabido que, no decorrer da história do Brasil, tem bastante

força uma imagem, disseminada por todos os meios de comunicação, que

desqualifica quase tudo o que diz respeito aos negros, acentuando os preconceitos.

Para constatar isso, basta verificar os livros didáticos. Neles, a figura do negro

somente aparece quando o tema é escravidão, não respeitando a diversidade de um

povo e a importância dos afrodescendentes como sujeitos ativos na sociedade.

Dessa forma Lopes afirma:

O brasileiro, de modo geral, sabe muito pouco a respeito do afro-descendente, ou o que sabe está repleto de idéias preconceituosas. Nosso conhecimento, por exemplo, começa na entrada do negro no Brasil, como escravizado, mercadoria, descalço, seminu e selvagem. É conhecido de poucos, a história do africano livre, senhor de sua vida, produtor de sua

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cultura, a época dos grandes reinos e impérios na África Pré-colonial. (LOPES, 2003, p.26).

Sendo assim, o objetivo da pesquisa foi documentar a presença dos

afrodescendentes na História de Cianorte, contextualizando-os como sujeitos

participativos. Também nos propusemos a subsidiar a prática pedagógica dos

professores da disciplina de História no âmbito das escolas da Rede Pública de

Ensino, sendo estes os mediadores do processo ensino e aprendizagem,

proporcionando espaço de reflexão, debate e troca de experiências na sua ação

educativa que ajudarão na produção do saber histórico. Acreditamos que, com a

leitura deste artigo, o professor possa retirar contribuições na reorganização dos

conteúdos e dos métodos de ensino de História, ambos indispensáveis, desta forma,

possibilitando a transformação do fazer histórico, dentro e fora da sala de aula.

Ademais, temos a convicção de que estudar e pesquisar sobre a história local

oportuniza espaço de conhecimento e informações, em que ouvir os relatos e

experiência de vida, de luta e de conquistas dos afrodescendentes da história local,

é tornar o estudo da disciplina de História mais prazeroso e concreto, favorecendo o

processo de formação crítica dos alunos.

Observações teóricas gerais:

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei 9.394/96 - Art.

26.) ressalta a necessidade de levar o aluno a observar as características regionais

e locais da sociedade e da cultura, pois elas abrem espaço para um estudo da

história local procurando levar em consideração as contribuições das diferentes

etnias e a valorização à diversidade cultural do povo brasileiro, contribuindo para a

preservação da memória histórica. Por sua vez, a Lei Federal 10.639/03 estabelece

Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para

o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no Ensino Fundamental e

Médio em todas as instituições públicas e particulares, “visto que a sociedade

brasileira é composta da imensa participação de africanos e afrodescendentes,

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transmitindo conhecimento material e imaterial para a cultura brasileira”. (CUNHA

JR, 2006, p. 85).

Deste modo, as Diretrizes Curriculares da Educação Básica da Disciplina de

História (DCE, 2008) propõem para o Ensino Fundamental e Médio que os

conteúdos específicos de História busquem priorizar as histórias locais e do Brasil, e

que elas tenham relação e comparação com a História mundial. Tendo como

objetivo a formação do pensamento histórico dos alunos, a consciência histórica

será trabalhada em sala de aula. E, por meio de pesquisas, e do método de

investigação histórica, levar o aluno a ter acesso ao conhecimento das ações

humanas no tempo e no espaço.

A Deliberação Estadual nº. 04/06 aprovada em 02/08/06, valorizando e

reconhecendo a escola como espaço de inclusão e respeito às diversidades

estabelece em seu artigo 2º:

O Projeto Político Pedagógico das instituições de ensino deverá garantir que a organização dos conteúdos de todas as disciplinas da matriz curricular contemple, obrigatoriamente, ao longo do ano letivo, a História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na perspectiva de proporcionar aos alunos uma educação compatível com uma sociedade democrática, multicultural e pluriétnica.

Os estudos sobre os negros e sua influência na cultura e história têm sido

alvo de interesse e preocupação dos profissionais da educação no contexto escolar.

Faz-se necessário que, como espaço de socialização do saber, a escola possa

garantir uma educação que se fundamenta no respeito à diversidade étnica dos

nossos alunos, em especial do respeito à história e cultura negra no Brasil. De

acordo com Silva.

A História do Brasil, enquanto construção de uma nação inclui todos os povos que a constituem. Assim, ignorar a história dos povos indígenas, do povo negro é estudar de forma incompleta a história brasileira. (SILVA, 2005, p.164).

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Portanto, ensinar História e Cultura Afro-brasileira e Africana nas escolas

passou a ser de caráter obrigatório, cujo objetivo é produzir conhecimentos, valores,

atitudes e posturas nos educandos, tornando-os capazes de valorizar e respeitar os

direitos legais, contribuindo assim para a formação da identidade cultural brasileira e

africana. Como afirma Munanga:

A identidade é para os indivíduos a fonte de sentido e experiência... É necessário que a escola resgate a identidade dos afro-brasileiros. Negar qualquer etnia, além de esconder uma parte da história, leva os indivíduos à sua negação. (MUNANGA, 1999, apud SEED, 2006, p. 18).

Os negros ao serem forçados a saírem do país de origem e virem para o

Brasil sofreram também um processo de desconstrução cultural e do preconceito

racial. De acordo com o MEC:

Um dos princípios que devem orientar o tema, os projetos e as atividades pedagógicas em relação à questão do negro na escola é a desconstrução do preconceito racial e a reafirmação de uma auto-estima positiva da população negra e mestiça. Ensinar e aprender sobre e na diversidade, propor situações de aprendizagem que sejam desafiadoras e que tragam novos conhecimentos são cuidados que se deve ter quando o que se estuda vem carregado de imagens e crenças baseadas no preconceito e na discriminação. (MEC, 1996, p.01).

Estudar a história local afrodescendente propõe uma maior aproximação entre

o professor e o aluno do agente histórico, fazendo com que estes passem a valorizar

os sujeitos como indivíduos, famílias e comunidades, procurando estabelecer

relações entre a Micro e a Macro História, privilegiando o particular, porém não

desprezando o geral, mas complementando-se entre ambas.

Desta forma, para compreender o negro no contexto atual, é necessário que

se faça um resgate histórico sobre as influências e as transformações sofridas por

esse povo ao longo dos tempos. Conforme afirma Maia.

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Precisamos concentrar esforços para ampliar o olhar para além do negro escravo e reconhecer o valor daqueles afro-descendentes em âmbitos como a literatura, a música, as artes cênicas, as artes plásticas, as ciências, a medicina, o jornalismo, a diplomacia, a guerra, a política, a religião. É o conhecimento da história real que, enfim, ainda precisamos resgatar. Há dezenas de personalidade, passagens históricas e obras relacionadas à cultura afro-descendentes que, se conhecida, mudarão a perspectiva que temos sobre o povo brasileiro e que foram construídas com explícita parcialidade e má fé pela historiografia oficial. A lei 10.639 nos oferece um caminho possível para sairmos dessa situação e lançarmos um olhar positivo sobre a nossa herança afro descendentes. (2007, p.2).

Nesse sentido, o professor como mediador no processo educativo, ao fazer

um resgate histórico, deverá levar o educando a reconhecer e a valorizar o negro

como sujeito na construção da nossa sociedade. De acordo com a SEED:

É preciso que os professores trabalhem com a individualidade das crianças. Elas serão tão mais sujeitos da história quanto mais forem sujeitos em seus quotidianos. Há que se valorizar aquilo que as tornam diferentes dos outros grupos que compõem a população. Destacar suas ancestralidades. Sempre que se pergunta a descendência dos alunos, todos os euro-descendentes falam com brilho nos olhos, com orgulho de seus avós, detalhando inclusive de que parte da Europa vieram até o que faziam lá. Quando chega a vez do aluno (a) negro (a), não há o que dizer. Via de regra responde que o avô era francês, alemão, inglês e a avó índia, morena de cor, ou... brasileira. (SEED, 2006, p. 23).

Com essa forma de trabalho na sala de aula, o professor estará

proporcionando a elevação da autoestima dos afrodescendentes, a fim de que estes

tenham orgulho de sua história e de sua cultura e que se reconheçam como sujeito

ativo no processo.

A identidade consiste em assumir plenamente, com orgulho, a condição de negro, em dizer, cabeça erguida: sou negro. A palavra foi despojada de tudo o que carregou no passado, como desprezo, transformando este último numa fonte de orgulho para o negro. (Munanga, 1988, p.44).

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Com isto, eliminam-se ou minimizam-se os estereótipos, discriminações e

preconceitos, garantindo as diferenças, a multiplicidade cultural e o exercício da

cidadania, contribuindo com a democratização do ensino.

Questões metodológicas precedidas de um relato sumário da pesquisa e das

ações didático-pedagógicas decorrentes:

Para dar cabo do projeto de estudo proposto, realizamos uma pesquisa

bibliográfica sobre a temática negra e afrodescendente e um trabalho de campo,

com objetivo de levantar informações e coletar dados na comunidade e em órgãos

públicos municipais, estaduais e federais. Pretendíamos descobrir pessoas com

significação no contexto social, situações e fatos importantes na história e cultura

local, onde os negros aparecessem como sujeitos presentes e participativos na

sociedade cianortense.

Paralelamente, atendendo às exigências do PDE, uma parte do estudo foi

realizada no Colégio Estadual “D. Bosco” - Ensino Fundamental e Médio, localizado

no município de Cianorte, no Estado do Paraná, no 2º semestre do ano letivo de

2010. Na exposição parcial dos resultados, o público alvo foram os alunos da 7ª

série do Ensino Fundamental, período diurno, composta por 32 alunos. Assim,

elaboramos um caderno temático: Resgate Histórico-Cultural do

Afrodescendente em Cianorte destinado a constituir parte do acervo da Biblioteca

do professor na escola. Ademais, todo o material coletado durante o trabalho de

pesquisa e realização ficou à disposição de alunos, professores, equipe pedagógica

e funcionários interessados em utilizá-lo.

O projeto foi apresentado à Direção e à Equipe Pedagógica do Colégio “D.

Bosco”, para colocá-las cientes do trabalho a ser desenvolvido, no ambiente escolar,

bem como, professores e pais de alunos. Após todo esse processo de

desenvolvimento, ocorreu a implementação do projeto de pesquisa na escola com

os alunos. Nesta etapa, estudamos com os discentes a participação do negro na

sociedade local, analisando os projetos e ações desenvolvidos pela Associação

Negra de Cianorte. Utilizamos, como metodologia, pesquisas bibliográficas,

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entrevistas com afrodescendentes cianortenses, análise de textos e vídeos e

confecção de cartazes.

No dia 20 de novembro de 2010, realizamos uma exposição de tudo que

havíamos estudado e elaborado no decorrer da implementação para a comunidade

escolar e tivemos a participação de representantes afrodescendentes de Cianorte,

com apresentações de danças e capoeira. Neste dia, todos os alunos participaram

da organização e apresentação dos trabalhos. Acreditamos que obtivemos

resultados significativos para a construção do conhecimento e, ao mesmo tempo,

contribuindo para a formação de uma sociedade mais justa e igualitária.

Na coleta de dados, ou seja, na etapa mais propriamente acadêmica do

trabalho, utilizamos a história de vida, como forma de entrevista, com alguns

afrodescendentes a fim de levantar dados que contribuísse para o desenvolvimento

do projeto e elaboração do material didático-pedagógico. A entrevista em questão

não seguiu um roteiro com perguntas definidas, mas de uma conversação, em que o

entrevistado, à vontade pudesse relatar fatos e experiências vivenciados por eles. À

medida que íamos avançando nesse processo, sempre que possível, interagíamos,

e, com a permissão do entrevistado, transcrevíamos os relatos em uma agenda.

Os afrodescendentes em Cianorte - resultados básicos da investigação:

Nos relatos e depoimentos coletados, fatos importantes foram arrolados.

Porém, percebemos no decorrer das conversações uma dificuldade corrente entre

os entrevistados de falarem sobre o passado. Alguns por não lembrarem, outros por

acharem que não tinham informações a dar, outros, ainda, pelos mais diversos

receios. Tudo ficou, basicamente, em termos superficiais, fator que, por si só, já

sugere o quanto é tensa e problemática a formação da memória negra da região.

Vejamos o teor das principais respostas obtidas (parafraseamos os depoimentos

para facilitar a exposição).

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Depoente N° 1: sua família veio em busca de trabalho. Depoente N° 2: veio por causa da atividade comercial. Depoente N°3: sua família veio em busca de melhores condições de vida. Depoente N° 4: sua família veio por considerar um bom lugar para se viver. Depoente N° 5: veio em busca de melhor vida financeira porque no lugar em que morava estava difícil para sobreviver. Depoente N° 6: sua família veio à procura de assistência médica.

Como é comum nos relatos sobre as razões da migração para cidades de

frentes de colonização, como Cianorte, predominou o fator trabalho. Assim como os

demais grupos étnico-raciais, as famílias afrodescendentes procuraram fixar

residência em Cianorte atraídas pela oferta de emprego, enfim, pela esperança de

melhores condições de vida. Todos os depoentes chamaram à atenção para as

difíceis condições de vida no começo (décadas de 1950 e 1960), mas observaram

que suas famílias sempre foram bem tratadas por todos com os quais se

relacionavam.

Fato digno de nota especial é que alguns afrodescendentes já formaram

entidades com o objetivo de proporcionar melhoria e valorização na vida dos negros

cianortenses, porém, não conseguiram manter-se por muito tempo. Segundo a

Presidente da última Associação criada em Cianorte, essa forma de organização foi

extinta, devido a vários entraves, como por exemplo, falta de apoio e recursos

financeiros necessários para continuar desenvolvendo os trabalhos propostos.

Ela também disse que havia vários projetos em desenvolvimento na

Associação, por exemplo: aulas de reforço ofertadas as crianças negras cujo índice

de reprovação escolar era muito alto e aulas de capoeira aos sábados estendidas a

todos os membros da sociedade que tivessem interesse. Anualmente eram

realizadas missas e cultos religiosos onde procuravam relembrar um pouco da

história e luta do povo negro. Além disso, os membros desta Associação

procuravam participar de promoções visando angariar recursos financeiros para sua

manutenção.

Segundo a presidente, durante o período em que existiu a Associação,

ocorreu uma luta muito grande em prol da continuidade da defesa e da valorização

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dos Afrodescendentes. Para isso, foram realizadas várias reuniões com as

autoridades que compunham o Poder Executivo e o Legislativo local com o intuito de

conseguir apoio financeiro, cultural e social. Foi também aprovada a Lei Municipal N°

1.645/95, que institui 20 de novembro como o dia de Zumbi dos Palmares e criou a

Semana da Consciência Negra, que passou a fazer parte do calendário de

comemorações oficiais do Município de Cianorte.

Infelizmente, no que se refere ao levantamento de dados nos órgãos públicos,

também encontramos dificuldades nas pesquisas realizadas, devido à falta de fontes

escritas que contribuíssem com a fundamentação do projeto, apesar do bom

acolhimento, as informações obtidas eram as mesmas. Em suma, não foram

encontrados registros escritos sobre a população afrodescendente desta cidade.

Essa pesquisa foi basicamente exploratória. Ela não pretendia obter dados

exaustivos sobre a história dos negros em Cianorte, mas verificar se era possível

fazê-la e se era viável trabalhar com essa temática em sala de aula. Como foi dito,

não conseguimos coletar muitos materiais. Mesmo as entrevistas foram, quase

sempre, frustrantes, posto que não conseguimos mais do que informações triviais.

Podemos suspeitar que a principal causa disso é a ausência de uma identidade

étnico-racial bem definida, ou seja, uma maneira de se perceber individual e

coletivamente que leva a formação de uma memória mais consistente, mais rica e

detalhada. Porém, não nos propusemos a entrar nesse grau de profundidade. Nossa

meta era somente uma exploração inicial.

Seja como for, acreditamos que estudar a História Local, a partir dos dados

coletados e das leituras realizadas, contribuiu para que os estudantes começassem

a ver o que antes era quase invisível em termos históricos: os negros cianortenses,

pessoas com as quais se cruza nas ruas, mas às quais, praticamente, não se atribui

qualquer protagonismo na evolução do município. Os estudantes puderam, embora

ainda de maneira muito preliminar, analisar, valorizar e respeitar a comunidade

afrodescendente de Cianorte como parte integrante da História local, estabelecendo

relação com as demais histórias. Por isso, a idéia complementar de levar os alunos

a conhecerem um pouco da história do município por meio das fotografias foi muito

gratificante, pois despertou nos alunos a curiosidade em saber mais, passando a

fazer vários questionamentos, demonstrando o interesse em conhecer melhor a

História.

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Conclusão

A História não nasce pronta e não é acabada. Ela é construída ao longo do

tempo nas relações sociais estabelecidas e sofre transformações constantes,

conforme as mudanças que ocorrem na sociedade. Nesse processo, o ser humano

se constitui como sujeito ativo e crítico, construindo a sua identidade. O professor

da Disciplina de História precisa estar atento para a necessidade e a importância de

se trabalhar com o conhecimento historicamente elaborado, ao longo do tempo de

modo significativo, de forma a atender a todos os alunos.

Pudemos perceber, no decorrer deste estudo, que a história local vem

passando por um processo de valorização, tanto por historiadores como pelos

professores da disciplina de História, como um valioso instrumento que possibilita

criar uma identidade cultural e histórica mais resistente. Compreendemos que,

durante o desenvolvimento de um trabalho voltado para a história local, ressaltando

a pluralidade étnico-cultural existente na sociedade, este contribuiu para o

rompimento de preconceitos e estereótipos, como também fortaleceu a construção

da identidade dos povos.

Esperamos que este artigo possibilite, apesar de ser um conjunto ainda

bastante inicial de idéias, espaços de reflexão, discussões e debates, bem como

ofereça aos professores, equipe pedagógica e alunos, conhecimentos e subsídios

para a valorização e reconhecimento da história e cultura afro-brasileira e africana

nas escolas, no processo de construção da identidade do negro no Brasil.

Referências:

BRASIL, Lei 10.639, de 09 de janeiro de 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_. 639. htm> Acessado em: 07/03/2010.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 9394/96. Brasília, MEC, 1996.

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CIOFFI, Helena. Et al. Cianorte: Sua história contada pelos pioneiros. Maringá: Gráfica Ideal, 1995. p. 1-2.

CUNHA JR. Henrique. História africana para compreensão da história do Brasil. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Departamento de Ensino Fundamental. Cadernos Temáticos: História e Cultura Afro-Brasileira e Africana: educando para as relações étnico-raciais Curitiba: SEED/PR, 2006.

DELIBERAÇÃO nº. 04/06 - CEE – Normas complementares às Diretrizes Curriculares Nacionais - DCN para a Educação das Relações étnico-Raciais e para o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.

CIANORTE. Prefeitura Municipal de. Lei nº- 1643/95 – Institui Semana da Consciência Negra.

LOPES, Véra Neusa, Inclusão étnico-racial: cumprindo a lei, práticas pedagógicas contemplam afro-brasileiros. Revista do Professor, Porto Alegre, v. 19, nº. 75, p. 25 - 30 julho e setembro de 2003.

PARANÁ. Companhia Melhoramentos Norte do. Colonização e Desenvolvimento do

Norte do Paraná: 2ª ed. 1977.

MAIA, Verônica Lemos de O. O ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Disponível: http://www.fetecsp.org.br/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=33302. Acesso em 23/02/2010.

MARUTTI, Daniel Mauri. A História Local. Disponível em http://www.google.com.br/#hl=ptBR&source=hp&q=scielo+mauri+daniel+marutti+a+hist%C3%B3ria+local&meta=&aq=f&aqi=&aql=&oq=&fp=b611d78e84367c4a Acesso em 11/03/2010.

MOTA, André. Quem é Bom já Nasce Feito: Sanitarismo e Eugenia no Brasil. Rio: DP&A Editora, 2003.

MUNANGA Kabengele. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Departamento de Ensino Fundamental. Cadernos Temáticos: História e Cultura Afro-Brasileira e Africana: educando para as relações étnico-raciais Curitiba: SEED/PR, 2006.

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__________________ Negritude: usos e sentidos. 2. ed. São Paulo, Ática, 1996.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Departamento de Educação Básica. Diretrizes Curriculares da Educação Básica História. Paraná, 2008.

SILVA, Petrolina Beatriz Gonçalves e. Aprendizagem e ensino das africanidades brasileiras. MUNANGA, Kabengele (org.) Superando o racismo na escola. 2 ed. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Brasília, 2005.

SILVA, Ana Célia da. A Desconstrução da Discriminação no Livro Didático. MUNANGA, Kabengele (org.) Superando o racismo na escola. 2 ed. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Brasília, 2005.

ANEXO I: Dados básicos sobre os entrevistados:

Depoente nº 1

Idade: 71 anos

Sexo: Feminino

Escolaridade: Ensino Fundamental incompleto

Profissão: Aposentada

Residente na cidade: 55 anos

Depoente nº 2

Idade: 54 anos

Sexo: Masculino

Escolaridade: Ensino Fundamental completo

Profissão: Mestre de Obras

Residente na cidade: 49 anos

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Depoente nº 3

Idade: 58 anos

Sexo: Feminino

Escolaridade: Ensino Médio completo

Profissão: Setor de Confecções

Residente na cidade: 47 anos

Depoente nº 4

Idade: 48 anos

Sexo: Masculino

Escolaridade: Ensino Médio incompleto

Profissão: Marceneiro

Residente na cidade: 40 anos

Depoente nº 5

Idade: 49 anos

Sexo: Feminino

Escolaridade: Ensino Médio incompleto

Profissão: Comerciante

Residente na cidade: 47 anos

Depoente nº 6

Idade: 55 anos

Sexo: Feminino

Escolaridade: Ensino Fundamental incompleto

Profissão: costureira

Residente na cidade: 42 anos

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ANEXO II: Documentos (textos e fotografias):

FUNDAÇÃO DE CIANORTE2

A cidade de Cianorte foi fundada em 1953, pela então Companhia de

Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP), que tinha um Projeto ousado, para

colonizar o Norte e Noroeste do Estado do Paraná.

Sua economia inicial baseou no setor cafeeiro que durou até a década de

1970, quando uma forte geada matou os cafezais, sendo estes substituídos aos

poucos por lavouras de culturas temporárias.

Atualmente a base da economia cianortense é a de confecção do vestuário,

onde se transformou em polo industrial, sendo hoje conhecida como “Capital do

Vestuário”.

Na área da educação, a cidade conta com dois campus Universitários sendo

a Universidade Estadual de Maringá (UEM) e a Universidade Paranaense (UNIPAR).

No setor ambiental, Cianorte destaca-se pela sua área de mata preservada no

perímetro urbano conhecida como “Cinturão Verde”, e mantém ainda, a Reserva

Biológica das Perobas com uma grande concentração de animais.

Origem do nome Cianorte

A palavra “Cianorte” originou da sigla da Companhia de Melhoramentos

Norte do Paraná (CMNP), empresa responsável colonização da região na época,

onde relatos dão conta que a empresa adotou esse nome para facilitar as

comunicações e endereços telégrafos.

2 MENDONÇA, M. I. Cianorte: Texto adaptado do Caderno Temático Resgate Histórico-Cultural do

Afrodescendente em Cianorte: SEED, 2010. p. 20-21.

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Fotos de Cianorte

Figura 1: Cianorte logo após sua fundação

Fonte: Livro Colonização e Desenvolvimento do Norte do Paraná, 1977.p.161.

Figuras 2 e3: Cianorte 2010

Fonte: MENDONÇA, M. I. 2010

Figura 3: Portal da Moda, Cianorte 2010 Fonte: MENDONÇA, M. I. 2010

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Imagem da Primeira e atual Prefeitura do Munícipio de Cianorte

Figura 3: Primeiro Prédio da Prefeitura Municipal de Cianorte Fonte: CIOFFI, Helena Et Al. Cianorte. Sua História contada pelos Pioneiros, p.187.

Figura 4: Prefeitura atual de Cianorte - 2010 Fonte: MENDONÇA, M. I. 2010

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Apresentação do teatro de Fantoches – Menina do Laço de Fitas

Figuras 5: MENDONÇA, M. I. 2010

Figuras 6: MENDONÇA, M. I. 2010

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Produção de Cartazes: Músicas, Danças Capoeira, e Histórias Africanas

Afrodescendentes

Figuras 7: MENDONÇA, M. I. 2010

Figuras 8: MENDONÇA, M. I. 2010

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Figuras 9: MENDONÇA, M. I. 2010

ANEXO III: Observações sobre a composição do caderno temático Resgate

Histórico-Cultural do Afrodescendente em Cianorte.

O material didático-pedagógico elaborado é resultado de um estudo de

pesquisa e reflexões sobre o ensino de história local. Está organizado em quatro

unidades que abordam questões importantes do conhecimento histórico escolar, a

saber:

A primeira unidade aborda o conhecimento histórico local e procura mostrar

como se pode estabelecer uma relação com o conhecimento nacional e universal,

bem como usá-lo como estratégia pedagógica no seu processo de ensino e

aprendizagem, no contexto escolar. Contendo pequenos textos de diversos autores

para aprofundar o conhecimento, procurando levar o professor da disciplina de

História a refletir sobre o assunto.

A segunda unidade apresenta um breve levantamento histórico sobre a

cidade de Cianorte. Nessa unidade consideramos importante abordar, em forma de

documentos, a história da mencionada cidade em que os alunos estão inseridos.

A terceira unidade retrata a participação do negro, na sociedade cianortense,

como sujeito ativo e crítico na luta de sua identidade.

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A quarta unidade enfoca a lei nº 10.639/2003 e procura oportunizar espaço de

reflexão e estudo sobre a lei no contexto escolar, possibilitando a garantia de uma

educação que se fundamenta no respeito à diversidade étnica dos nossos alunos,

em especial do respeito à história e cultura negra no Brasil.

Obs: No que se refere às ilustrações, procuramos reverenciar as cores da

África (preto, branco, amarelo, verde, azul e vermelho) no material didático-

pedagógico.

No final de cada unidade, constamos um “refletindo sobre o assunto”, com

objetivo de despertar no professor questionamentos e análises sobre o conteúdo

tratado e, desta maneira, possibilitar a investigação e o surgimento de novas

interpretações.

Além disso, o material apresenta uma referência bibliográfica constituída de

fontes consultadas para a elaboração do material em questão, com a finalidade de

indicação de leitura para estudos posteriores com o intuito de aprofundar o

conhecimento sobre os conteúdos abordados.

ANEXO IV: Execução do projeto na escola.

A implementação do projeto ocorreu com uma de turma de 7ª série, do

período matutino. E os encontros realizados ocorreram em período contrário

respeitando as determinações da SEED (Secretaria Estadual de Educação). Foram

16 (dezesseis) encontros de 2 (duas) horas cada, totalizando uma carga horária de

32 (trinta e duas) horas, sendo alguns encontros realizados fora do ambiente

escolar. Planejamos e organizamos algumas ações que foram desenvolvidas com os

alunos da 7ª série, a saber:

Trabalhando a História de Cianorte: Nesta atividade, os alunos foram

divididos em equipes onde tiveram a oportunidade de visitar o local em que estão

guardadas as fotos antigas da cidade, além de ver, puderam fotografar. Ao retornar

à escola, os alunos, sob mediação da professora, discutiram o assunto e a

experiência vivenciada com os colegas da turma, pontuando as informações obtidas

e finalizando com uma produção de texto e confecção de cartazes.

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Leis e diversidade cultural: Durante esta ação, estudamos a Lei 10.639/2003

e também a Lei Municipal Nº 1.643/95, pois, ambas estão voltadas para o trabalho

da História e Cultura do Afrodescendente nas escolas. Na oportunidade, os alunos

ficaram sabendo da existência de uma Lei Municipal desde 1995, e que poucas

pessoas tinham conhecimento dela, surgindo alguns questionamentos por parte dos

alunos sobre a não divulgação da referida lei. Enfim, o debate foi muito rico em

discussões e conhecimento. Além disso, uma equipe de alunos da 7ª série preparou

e apresentou para as turmas de 5ª séries uma contação de História, do livro Menina

do Laço de Fitas, de Ana Maria Machado, cujo objetivo era estabelecer relações de

respeito à cor de cada um, valorizando a diversidade e o conceito de cidadania.

Como recurso, usamos o teatro de fantoches para enriquecer e despertar a atenção

e interesse nos alunos, bem como, valorizar e respeitar as diferenças de cada um.