superação e conquistas marcam a história do grupo delícias da terra

1
A desafiante história das mulheres do Grupo Delícias da Terra começou em 2005. Elas tentaram fazer cocadas, artesanato, mas foi com a polpa de fruta que o trabalho deu certo, e vem garantido o complemento da renda dessas mulheres, que aos poucos vem vencendo as barreiras que as oprimem. Quem se recorda desse início é Dona Helena Maria, uma das fundadoras do grupo, que é filiado à Cooperativa dos Agricultores Familiares e Empreendimentos Solidários. “O grupo começou em 2005, tivemos reuniões com o MOC, e começamos a fazer cocadas, como a cocada não teve muita saída surgiu a ideia de produzir o artesanato, mas também não deu muito certo, e por último tentamos a polpa de frutas. Até hoje o povo ainda procura a cocada. Eu tomei cursos e tinha a curiosidade de aprender. Eu tinha minha horta no açude, mas a água foi acabando, e também tinha brigas, desgostei e sai. Fiz o curso de polpa, isso fortaleceu a sabedoria, e deu certo. Tomamos o curso no Centro São João de Deus, em Ichu, e hoje já faz 7 anos que estamos com este trabalho. Já demos cursos também ao grupo de Santaluz, ensinamos a armazenar a cajá e o umbu, que precisa cozinhar e em seguida ser guardado nos baldes tampados. Aguenta de 6 meses a 1 ano, só que não pode abrir, se não estraga. Com a acerola não funciona pois o gosto muda. As outras frutas como a goiaba e manga, cortadas duram até um mês congeladas. Quando não temos fruta da região temos que comprar. A acerola pegamos nos nossos quintais ou compramos dos vizinhos. A polpa é comercializada no valor de 3,50 para o PAA Conab e 3,00 PAA escola”, conta Helena, que possui em sua casa um barreiro escavado por ela. Dona Geocileide está no grupo desde o princípio e conta como sua vida mudou. “Para mim melhorou muita coisa, a gente tem mais conhecimento, sai para as reuniões. Eu não sabia fazer a polpa e aprendi, tentava selar e não conseguia e as meninas dizendo você tem que aprender. Agora eu venho e faço tudo, se precisar faço sozinha. Não tinha guarda-roupa, já consegui comprar. O lucro é pequeno, mais dá para fazer algumas coisas. Temos gastos com energia, frutas, e estamos finalizando a nossa sede, usamos esse espaço da igreja, e não pagamos aluguel. Conseguimos equipamentos através de projetos do MOC e da CESE, e também temos comprado com nossos recursos”, diz Geocicleide. Para a alimentação da escola e para a CONAB, elas produzem cerca de 700 quilos por mês, explica Ana, que também integra o grupo. “Em uma semana a gente pode vir todos os dias, não fazemos mais polpas porque não temos freezer suficiente, se não conseguiríamos fazer mais de 100 quilos”. Elas possuem quatro freezers onde armazenam a polpa e as frutas. Ana fala sobre os desafios que ainda faltam alcançar. ”O principal desafio é o nosso espaço, terminar de organizar é o nosso sonho. Desse pouquinho que tivemos de lucro compramos o terreno, teve tempo da gente não receber nada, e o dinheiro ser para pagar Conquista da liberdade e autonomia “Fui para vários lugares como São Paulo, conheci algumas cidades da Bahia. Minha vida melhorou muito, o que eu ganho no meu trabalho não é suficiente, então me ajuda bastante. Já comprei várias coisas, como material escolar de meus filhos, é uma grande ajuda. Eu trabalho na escola e nunca tive oportunidade de viajar para ganhar conhecimento, com o grupo a gente consegue isso. A gente recebe muitas visitas, pessoas do Ceará, São Paulo, Brasília e da África já estiveram aqui”, conta Dona Ana, demonstrando como o grupo permitiu a ela viver novas experiências. Já Dona Helena, recorda que teve uma vida marcada por sofrimentos, e o grupo foi a chance que ela precisava para conquistar liberdade e autonomia da sua vida. “Trabalho na roça, lavo roupa em Coité e trabalho com a polpa. Tenho quatro filhos e oito netos. Sou separada e tenho que sustentar a casa. Sou muito feliz por que consigo fazer tudo isso. Eu era quase uma prisioneira do meu marido, fui espancada, mas fui crescendo, amadurecendo. Quem me deu tamanho foi o grupo, me deu uma liberdade que eu não tinha. Chegou o dia que ele me disse, ou eu ou o grupo e eu fiquei com o grupo. Ele disse siga sua vida, e eu segui...Tem sete anos. A vida que eu levava não era a vida que eu merecia, que eu precisava, hoje tenho liberdade. Não me canso de trabalhar. Não estou só, tenho Deus em primeiro lugar e minhas companheiras de grupo, para mim tá tudo ótimo. Hoje fiz minha casa, com meu próprio suor, carreguei até pedra,deixei a vaidade de lado, mas valeu a pena”, conta emocionada e feliz pela liberdade adquirida após anos de sofrimento. Superação e conquistas marcam a história do Grupo Delícias da Terra Ano 7 - nº1248 Setembro | 2013 Conceição do Coité Patrocínio

Upload: articulacaosemiarido

Post on 23-Jul-2016

214 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: Superação e conquistas marcam a história do Grupo Delícias da Terra

A desafiante história das mulheres do Grupo Delícias da Terra começou em 2005. Elas tentaram fazer cocadas, artesanato, mas foi com a polpa de fruta que o trabalho deu certo, e vem garantido o complemento da renda dessas mulheres, que aos poucos vem vencendo as barreiras que as oprimem. Quem se recorda desse início é Dona Helena Maria, uma das fundadoras do grupo, que é filiado à Cooperativa dos Agricultores Familiares e Empreendimentos Solidários.

“O grupo começou em 2005, tivemos reuniões com o MOC, e começamos a fazer cocadas, como a cocada não teve muita saída surgiu a ideia de produzir o artesanato, mas também não deu muito certo, e por último tentamos a polpa de frutas. Até hoje o povo ainda procura a cocada. Eu tomei cursos e tinha a curiosidade de aprender. Eu tinha minha horta no açude, mas a água foi acabando, e também tinha brigas, desgostei e sai. Fiz o curso de polpa, isso fortaleceu a sabedoria, e deu certo. Tomamos o curso no Centro São João de Deus, em Ichu, e hoje já faz 7 anos que estamos com este trabalho. Já demos cursos também ao grupo de Santaluz, ensinamos a armazenar a cajá e o umbu, que precisa cozinhar e em seguida ser guardado nos baldes tampados. Aguenta de 6 meses a 1 ano, só que não pode abrir, se não estraga. Com a acerola não funciona pois o gosto muda. As outras frutas como a goiaba e manga, cortadas duram até um mês congeladas. Quando não temos fruta da região temos que comprar. A acerola pegamos nos nossos quintais ou compramos dos vizinhos. A polpa é comercializada no valor de 3,50 para o PAA Conab e 3,00 PAA escola”, conta Helena, que possui em sua casa um barreiro escavado por ela.

Dona Geocileide está no grupo desde o princípio e conta como sua vida mudou. “Para mim melhorou muita coisa, a gente tem mais conhecimento, sai para as reuniões. Eu não sabia fazer a polpa e aprendi, tentava selar e não conseguia e as meninas dizendo você tem que aprender. Agora eu venho e faço tudo, se precisar faço sozinha. Não tinha guarda-roupa, já consegui comprar. O lucro é pequeno, mais dá para fazer algumas coisas. Temos gastos com energia, frutas, e estamos finalizando a nossa sede, usamos esse espaço da igreja, e não pagamos aluguel. Conseguimos equipamentos através de projetos do MOC e da CESE, e também temos comprado com nossos recursos”, diz Geocicleide.

Para a alimentação da escola e para a CONAB, elas produzem cerca de 700 quilos por mês, explica Ana, que também integra o grupo. “Em uma semana a gente pode vir todos os dias, não fazemos mais polpas porque não temos freezer suficiente, se não conseguiríamos fazer mais de 100 quilos”. Elas possuem quatro freezers onde armazenam a polpa e as frutas. Ana fala sobre os desafios que ainda faltam alcançar. ”O principal desafio é o nosso espaço, terminar de organizar é o nosso sonho. Desse pouquinho que tivemos de lucro compramos o terreno, teve tempo da gente não receber nada, e o dinheiro ser para pagar

Conquista da liberdade e autonomia

“Fui para vários lugares como São Paulo, conheci algumas cidades da Bahia. Minha vida melhorou muito, o que eu ganho no meu trabalho não é suficiente, então me ajuda bastante. Já comprei várias coisas, como material escolar de meus filhos, é uma grande ajuda. Eu trabalho na escola e nunca tive oportunidade de viajar para ganhar conhecimento, com o grupo a gente consegue isso. A gente recebe muitas visitas, pessoas do Ceará, São Paulo, Brasília e da África já estiveram aqui”, conta Dona Ana, demonstrando como o

grupo permitiu a ela viver novas experiências.

Já Dona Helena, recorda que teve uma vida marcada por sofrimentos, e o grupo foi a chance que ela precisava para conquistar liberdade e autonomia da sua vida. “Trabalho na roça, lavo roupa em Coité e trabalho com a polpa. Tenho quatro filhos e oito netos. Sou separada e tenho que sustentar a casa. Sou muito feliz por que consigo fazer tudo isso. Eu era quase uma prisioneira do meu marido, fui espancada, mas fui crescendo, amadurecendo. Quem me deu tamanho foi o grupo, me deu uma liberdade que eu não tinha. Chegou o dia que ele me disse, ou eu ou o grupo e eu fiquei com o grupo. Ele disse siga sua vida, e eu segui...Tem sete anos. A vida que eu levava não era a vida que eu merecia, que eu precisava, hoje tenho liberdade. Não me canso de trabalhar. Não estou só, tenho Deus em primeiro lugar e minhas companheiras de grupo, para mim tá tudo ótimo. Hoje fiz minha casa, com meu próprio suor, carreguei até pedra,deixei a vaidade de lado, mas valeu a pena”, conta emocionada e feliz pela liberdade adquirida após anos de sofrimento.

Superação e conquistas marcam a história do Grupo Delícias da Terra

Ano 7 - nº1248

Setembro | 2013

Conceição do Coité

Patrocínio