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19/12/2019 Evento 8 - DESPADEC1 https://eproc.jfrj.jus.br/eproc/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=511576760120013724736277978843&evento=51157676… 1/13 Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Rio de Janeiro 18ª Vara Federal do Rio de Janeiro AVENIDA RIO BRANCO, 243, ANEXO II - 10º ANDAR - Bairro: CENTRO - CEP: 20040- 009 - Fone: (21)3218-8184 - Email: [email protected] MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO Nº 5100978- 61.2019.4.02.5101/RJ IMPETRANTE: SINDICATO DO COM. VAREJ. DE DERIV. DE PETROLEO NO EST DE M G IMPETRADO: DIRETOR - AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS - ANP - RIO DE JANEIRO IMPETRADO: AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS - ANP IMPETRADO: POSTO VANIA DE ABASTECIMENTO LTDA IMPETRADO: DELFT SERVICOS S.A. IMPETRADO: DIRETOR-GERAL - AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS - ANP - RIO DE JANEIRO DESPACHO/DECISÃO Trata-se de mandado de segurança preventivo impetrado pelo SINDICATO DO COMÉRCIO VAREJISTA DE DERIVADOS DE PETRÓLEO NO ESTADO DE MINAS GERAIS - MINASPETRO em face dos Diretores da AGENCIA NACIONAL DE PETRÓLEO - ANP, com pedido de liminar, para que as autoridades coatoras não sigam a recomendação da SFI (Superintendência de Fiscalização do Abastecimento da ANP) e não autorizem "projetos pilotos" para fornecimento de combustível por delivery, sem a edição prévia de normas regulamentadoras relativas a essa atividade, editadas após audiências públicas de que trata o Regimento Interno da ANP. De acordo com o impetrante, as autoridades coatoras estão na iminência de autorizar o delivery de gasolina e etanol hidratado. Relata que a ANP teve conhecimento sobre atividade de delivery de combustíveis realizada pelo Posto Vânia de Abastecimento por meio de aplicativo de celular chamado "GOfit", operado pela GOFit Inovações Técnicas S.A., pelo que iniciou procedimento de fiscalização, o qual ensejou a Nota Técnica nº 5/2019 da Superintendência de Fiscalização do Abastecimento - SFI que sugere autorizar a referida atividade como "projeto piloto", a ser fiscalizado pela ANP por 360 (trezentos e sessenta) dias, sugerindo, ainda, que outros revendedores de

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Poder JudiciárioJUSTIÇA FEDERAL

Seção Judiciária do Rio de Janeiro18ª Vara Federal do Rio de Janeiro

AVENIDA RIO BRANCO, 243, ANEXO II - 10º ANDAR - Bairro: CENTRO - CEP: 20040-009 - Fone: (21)3218-8184 - Email: [email protected]

MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO Nº 5100978-61.2019.4.02.5101/RJ

IMPETRANTE: SINDICATO DO COM. VAREJ. DE DERIV. DE PETROLEO NO EST DEM G

IMPETRADO: DIRETOR - AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL EBIOCOMBUSTÍVEIS - ANP - RIO DE JANEIROIMPETRADO: AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL EBIOCOMBUSTÍVEIS - ANP

IMPETRADO: POSTO VANIA DE ABASTECIMENTO LTDA

IMPETRADO: DELFT SERVICOS S.A.IMPETRADO: DIRETOR-GERAL - AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁSNATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS - ANP - RIO DE JANEIRO

DESPACHO/DECISÃO

Trata-se de mandado de segurança preventivo impetradopelo SINDICATO DO COMÉRCIO VAREJISTA DE DERIVADOS DEPETRÓLEO NO ESTADO DE MINAS GERAIS - MINASPETRO emface dos Diretores da AGENCIA NACIONAL DE PETRÓLEO - ANP,com pedido de liminar, para que as autoridades coatoras não sigam arecomendação da SFI (Superintendência de Fiscalização doAbastecimento da ANP) e não autorizem "projetos pilotos" parafornecimento de combustível por delivery, sem a edição prévia denormas regulamentadoras relativas a essa atividade, editadas apósaudiências públicas de que trata o Regimento Interno da ANP.

De acordo com o impetrante, as autoridades coatoras estãona iminência de autorizar o delivery de gasolina e etanol hidratado.

Relata que a ANP teve conhecimento sobre atividade dedelivery de combustíveis realizada pelo Posto Vânia de Abastecimentopor meio de aplicativo de celular chamado "GOfit", operado pela GOFitInovações Técnicas S.A., pelo que iniciou procedimento de fiscalização,o qual ensejou a Nota Técnica nº 5/2019 da Superintendência deFiscalização do Abastecimento - SFI que sugere autorizar a referidaatividade como "projeto piloto", a ser fiscalizado pela ANP por 360(trezentos e sessenta) dias, sugerindo, ainda, que outros revendedores de

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combustíveis se manifestem quanto ao interesse de atuar nesse modelode negócio, o que teria criado condições para a autorização dessaprática, pelas autoridades coatoras, em todo o país.

Para o impetrante, a Nota Técnica da SFI interpreta oacompanhamento da prática do delivery como sendo algo novo a serexperimentado, no entanto, tal prática já teria regulamentação, que aveda expressamente.

Argumenta que a solução para a questão seria a alteraçãoda Resolução nº 41/2013 da ANP, por meio do procedimentoestabelecido no artigo 56, do Regimento interno da ANP, ou seja, comconsulta e audiência públicas, caso contrário, seria criada "uma situaçãona qual os agentes públicos passam a deter um poder ilimitado deautorizar que pessoas específicas atuem de maneira incompatível com alegislação vigente quando isso for oportuno e conveniente".

Assim, invoca o Princípio da Legalidade, uma vez que talatividade se daria em contrariedade às normas regularmente vigentes, jáque vedada pelo artigo 21, VII, da Resolução 41/2013, da ANP. Assim,para a parte autora, a autorização dessa prática resultará na alteraçãoinformal da referida Resolução.

Invoca, ainda, o Princípio da Impessoalidade, alegandoque a realização do projeto piloto abre a possibilidade de regras valerempara alguns e não valerem para outros.

Argumenta que a autorização de delivery de combustíveissem regulamentação, em caráter experimental, "viola os direitos dosassociados da FECOMBUSTÍVEIS de que seja respeitado e aplicadouniformemente o regime regulamentar vigente", além de trazer riscosà segurança pública, ao meio ambiente e aos consumidores decombustíveis em geral, uma vez que não existem parâmetros desegurança a serem seguidos.

Informa que a empresa que está prestando serviçode delivery não estabeleceu procedimento para abastecimento em locaisem que eventual vazamento do combustível poderia contaminar o solo,sendo que as caminhonetes-tanque da GOfit não possuem autorizaçãodo INEA (Instituto Estadual do Ambiente) para realização do transportee abastecimento de combustíveis, tampouco possui seguro ambiental.

Por fim, menciona os riscos ao consumidor do delivery decombustíveis, em especial a dificuldade em combater a adulteração decombustíveis, já que a caminhonete-tanque não possui localização fixa.

Embora não mencione em sua inicial, o impetrante juntano evento, anexo 10, decisão proferida pela 45ª Vara Cível da Capital,nos autos da ação civil pública nº 0275060-26.2019.8.19.0001, propostapelo impetrante em face do Posto Vânia de Abastecimento, da 76 OILDistribuidora de Combustíveis e da DELFIT Serviços SA, que

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concedeu liminar para determinar a imediata cessação da atividade deentrega e revenda de combustíveis em domicílio por meio doaplicativo GOFIT (decisão anterior à Nota Técnica da SFI)

Relatado. Decido.

O pedido formulado nos autos tem caráter preventivoe decorre da edição da nota técnica Nota Técnica nº 05/2019 daSuperintendência de Fiscalização do Abastecimento - SFI - da ANP(evento 1, comp7), a qual, após ter conhecimento da comercialização decombustíveis por delivery, feita pelo Posto Vânia de Abastecimento,realizou processo de fiscalização e concluiu favoravelmente pelaconveniência e oportunidade da continuidade do comércio decombustíveis por parte do referido posto, como projeto piloto dedelivery de combustíveis, a ser acompanhado pela fiscalização da ANPpor 360 dias, mediante o cumprimento de requisitos estabelecidos.

O pedido liminar é para que os impetrados sejam coibidosde seguirem a orientação da referida Nota Técnica, sem que haja préviaedição de normas regulamentadoras relativas a essa atividade, editadasapós audiências públicas de que trata o Regimento Interno da ANP.

Os requisitos apresentados na referida Nota Técnica estãoelencados à fl. 9, comp7, evento 1:

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Ao estabelecer tais requisitos, a SFI informa que ao longodo prazo de 360 dias do projeto piloto será avaliada a necessidade deelaboração de norma específica ou alterar as normas hoje vigentesrelacionadas à comercialização de combustíveis, bem como aventa apossibilidade de outros revendedores se manifestar quanto ao interessede atuar nesse modelo de negócio.

A regulação e fiscalização da comercialização decombustíveis é da competência da ANP, conforme dispõe o artigo 8º dalei nº 9478/97:

Art. 8o A ANP terá como finalidade promover a regulação,a contratação e a fiscalização das atividades econômicasintegrantes da indústria do petróleo, do gás natural e dosbiocombustíveis, cabendo-lhe:

[...]

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XV - regular e autorizar as atividades relacionadas com oabastecimento nacional de combustíveis, fiscalizando-asdiretamente ou mediante convênios com outros órgãos daUnião, Estados, Distrito Federal ou Municípios.

Tal regulação foi definida pela ANP por meio daResolução nº 41/2013, cujo artigo 21 trata das vedações ao revendedorvarejista de combustíveis automotivos, dispondo entre outros:

Art. 21. É vedado ao revendedor varejista de combustíveisautomotivos:

...

VII - comercializar e entregar combustível automotivo emlocal diverso do estabelecimento da revenda varejista e,para o caso de posto revendedor flutuante ou marítimo,em local diverso das áreas adjacentes ao estabelecimentoda revenda varejista;

Importa mencionar que a lei nº 9478/97, na Seçãoreferente ao processo decisório da ANP, dispõe em seu artigo 19:

Art. 19. As iniciativas de projetos de lei ou de alteraçãode normas administrativas que impliquem afetação dedireito dos agentes econômicos ou de consumidores eusuários de bens e serviços das indústrias de petróleo, degás natural ou de biocombustíveis serão precedidas deaudiência pública convocada e dirigida pela ANP.

Nesse contexto, estabelece ainda o artigo 56 da Portaria69/2011 (Regimento Interno da ANP):

Art. 56. As iniciativas de projetos de lei ou de alteração denormas administrativas que impliquem afetação dedireitos dos agentes econômicos ou de consumidores eusuários de bens e serviços da indústria do petróleo serãoprecedidas de consulta e audiência pública, convocadaspela Diretoria Colegiada da ANP e dirigidas pelostitulares das unidades da estrutura organizacionalrespectiva ou por servidores por eles indicados.

Parágrafo único. Os objetivos básicos das consultas eaudiências públicas são:

I - identificar e debater os aspectos relevantes da matériaem discussão;

II - recolher subsídios, informações e dados para adecisão ou o encaminhamento final do assunto;

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III - propiciar aos agentes econômicos, usuários econsumidores, a possibilidade de oferecerem comentáriose sugestões sobre a matéria em discussão;

IV - dar publicidade e transparência às ações da ANP.

1 - O impetrante argumenta que a venda de combustíveisem local diverso do estabelecimento varejista é vedada expressamentepela regulamentação vigente, bem como que a alteração dessas normasdeve ser feita em conformidade com o procedimento estabelecido noartigo 56, do Regimento interno da ANP, o qual determina que hajaprévias consulta e audiência públicas.

De fato, a própria ANP dispõe de regulamentação queveda a comercialização de combustíveis em local diverso da posto degasolina, conforme acima colacionado (artigo 21, VII, da Resoliução nº41/2013) e a alteração dessa regra requer prévia consulta púbica (artigos19, da Lei nº 9478/97 e 56 do Regimento Interno da ANP).

Por outro lado, de acordo com a Nota Técnica nº 05/2019da SFI (fl. 5, comp7, evento 1), a ANP também tem o papel de regularas inovações relativas à sua área de atuação, conforme dispõe o artigo8º, acima transcrito, inciso I, da Lei nº 9478/97:

I - implementar, em sua esfera de atribuições, a políticanacional de petróleo, gás natural e biocombustíveis,contida na política energética nacional, nos termos doCapítulo I desta Lei, com ênfase na garantia dosuprimento de derivados de petróleo, gás natural e seusderivados, e de biocombustíveis, em todo o territórionacional, e na proteção dos interesses dos consumidoresquanto a preço, qualidade e oferta dos produtos;

Assim, ao que parece, o objetivo da ANP é a criação deum projeto piloto, a ser acompanhado pela fiscalização por 360dias, mediante o cumprimento dos requisitos por ela estabelecidos,para posterior avaliação da viabilidade de implementar definitivamenteo delivery de combustíveis, sendo o caso, por meio de alteração daregulamentação do comércio de combustíveis.

A princípio, pode-se considerar realmente ser necessário oacompanhamento de um projeto piloto individualizado, a fim de que severifique a real necessidade e viabilidade dessa atividade, bem como asespecificidades da nova condição de venda, que gerem a necessidade dealteração ou de outras regras ainda não previstas.

Nesse aspecto, entendo não ser o caso, ao menos nopresente momento, de se realizar consulta pública, o que deverá serfeito após a realização do referido projeto, antes da alteração definitivadas normas.

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2 - Consequentemente, a alegação de violação aoPrincípio da Legalidade feita pela impetrante não merece prosperar,pois não se trata de mudança definitiva das regras hoje estabelecidas,mas de estudo prático e temporário com vistas a verificar a viabilidadede futura alteração dessas regras, por ser uma modalidade nova decomercialização, parece-me razoável ser acompanhada de análisetécnica em pequena escala.

3 - Quanto à violação do Princípio da Impessoalidade,também alegada pelo impetrante, importante lembrar que o impetrante éo sindicato MINASPETRO, localizado em Minas Gerais, enquanto oposto em que se pretende realizar o projeto piloto tem sede no Rio deJaneiro, logo, os sindicalizados não seriam diretamente atingidos poreventual realização do projeto, ao menos em relação ao Posto Vâniade Abastecimento, uma vez que sendo a regulamentação posteriormentealterada, deverá ser precedida de consulta pública.

No entanto, sendo aberta a possibilidade da realização doprojeto piloto para outros postos de gasolina em outros Estados doBrasil, notadamente em Minas Gerais, a situação dos representados doimpetrante pode ser atingida, pelo que necessário a transparência noscritérios de seleção de postos que eventualmente tenham interesseem participar do projeto.

Nesse ponto, importante destacar o disposto à fl. 9, docomp7, do evento 1, já colacionado acima:

Considerando se tratar de projeto piloto, há que seestabelecer limite do número de participantes, a fim de que sejaalcançado o objetivo do projeto, de modo a viabilizar oacompanhamento das atividades pela ANP por 360 dias, sob pena deque seja a atividade realizada de forma indiscriminada e não empequena escala, como necessário ao estudo a ser feito.

4 - Outra alegação do impetrante se refere à informação deque a empresa que está prestando serviço de delivery nãoestabeleceu procedimento para abastecimento em locais em queeventual vazamento do combustível poderia contaminar o solo. Aindainforma que as caminhonetes-tanque da GOfit não possuem autorizaçãodo INEA (Instituto Estadual do Ambiente) para realização do transportee abastecimento de combustíveis, tampouco possui seguro ambiental, oque traz riscos ao meio ambiente.

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De fato, na análise do documento acostado no evento 1,comp9, fl. 2, correspondente à Ata de reunião realizada em 05/11/2019com a empresa GOfit, responsável pelo aplicativo a ser utilizado nacomercialização delivery, há informação de que há autorizações a serememitidas pelo INEA - Instituto Estadual do Ambiente, ainda pendentesde regularização. Não há nos documentos acostados aos autosinformações se tal pendência já foi regularizada.

Vejamos:

[...]

5 - Quanto à alegação do impetrante acerca da dificuldadeem combater a adulteração de combustíveis, as informaçõesconstantes dos autos não se mostram suficientes para a análise do graudo alegado aumento dos riscos de adulteração na comercialização pordelivery, de modo que esse tema deve ser objeto do estudo a ser feito,a fim de que soluções possam ser encontradas para a sua mitigação.

6 - Argumenta o impetrante que a atividade traz riscosà segurança pública, diante da inexistência de parâmetros de segurançaa serem seguidos.

Tal alegação merece atenção especial deste Juízo.

Isso porque, embora conste da Nota Técnica nº 05/2019que requisitos serão exigidos para que o projeto piloto seja autorizado,conforme disposto no evento 1, comp7, fl. 9, estes parecem ser pordemais simplórios diante dos riscos inerentes ao produto a sercomercializado e da complexidade existente na fiscalização dasatividades, vejamos:

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Como se vê, o parecer da SFI carece de diretrizes maisclaras para os procedimentos de segurança relativos ao delivery decombustíveis como, por exemplo, os locais em que serão permitidasa entrega dos combustíveis, ou quanto à necessidade de isolamento daárea de atuação das caminhonetes-tanque. Se não há parâmetrosmínimos, não há como aferir a dinâmica e a legalidade da fiscalizaçãodessas atividades ao longo dos 360 dias de projeto piloto.

Se por um lado é salutar a iniciativa do projeto, queobjetiva ampliar a forma de prestação do serviço às novas tecnologiasdisponíveis no mercado; por outro, indispensável o estabelecimentosde regras e critérios mais detalhados em razão do perigo da atividade,que lida com produto inflamável e explosivo. Ressalte-se que taisaspectos poderiam ter como base, entre outros, a própria regulamentaçãovigente para o o transporte e o abastecimento em posto de combustível,no entanto, a Nota Técnica da SFI resume-se ao acima colacionado.

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Nesse sentido, com parcial razão o impetrante,que ressalta as diversas regulamentações às quais os comerciantesvarejistas devem seguir para realizarem suas atividades, todas visando àsegurança contra acidentes, a proteção do meio ambiente e a saúde daspessoas, além da defesa dos consumidores.

7 - Além da análise dos argumentos do impetrante,necessário considerar as questões levantadas na reunião ocorrida em05/11/2019, cuja Ata foi acostada no evento 1, comp 9:

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Assim, observa-se que nas informações que viabilizam oprojeto piloto fala da necessidade de habilitação especial (MOPP)e treinamento dos motoristas; todavia, mais uma vez carece de dadosmais objetivos acerca desse treinamento e das condutas que serãoexigidas do motorista no abastecimento delivery. Além disso, hátambém muitos questionamentos feitos que permanecem sem resposta,como o constante do penúltimo item acima, que aborda aimpermeabilidade do piso.

Inclusive, note-se que, no decorrer da referida reunião,outras questões ficaram em aberto, sem que se tenha nos autosinformações de que foram sanadas, o que inviabiliza a sua análise.Como exemplo, as abaixo colacionadas:

8 - Outro aspecto importante a ser analisado com cautela- conforme se deduz da Nota Técnica em comento, cujo texto, já antesmencionado, será abaixo colacionado (fl. 9, comp7, evento 1) - refere-se à possibilidade do projeto piloto ser ampliado a outros revendedores,sem que se tenha sido delimitado o número de participantes oufixados os critérios para a seleção na hipótese de existir muitas empresasinteressadas.

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Verifico que não há na referida Nota Técnica qualqueralusão a eventual limite do numero de participantes do projeto piloto, oque abriria espaço para todos aqueles que se interessassem, segundo seafere do texto acima. No entanto, para que o objetivo do projeto sejaalcançado, deve haver uma análise da capacidade de fiscalização eacompanhamento ao qual este se propõe, ressaltado a necessidade detransparência nos critérios de seleção dos participantes, conforme jádeterminado no item 3 da presente decisão.

9 - Nota-se que a comercialização de combustíveis pormeio de revenda delivery, sem que haja minimamente requisitosdefinidos que visem a evitar ou minimizar os riscos a elainerentes, mostra-se temerária.

Não é demais mencionar que a proteção à vida é oprincipal direito a ser resguardado, o qual se sobrepõe aos demaisdireitos. Conforme nos ressalta Alexandre de Moraes, “o direito à vida éo mais fundamental de todos os direitos, já que se constitui em pré-requisito à existência e exercício de todos os demais.”1

Assim, não obstante entender que a realização do projetopiloto para venda de combustíveis por delivery não fere o princípio dalegalidade ou da impessoalidade, pois se trata de projeto que apenasservirá de estudo para eventual alteração futura da respectivaregulamentação, entendo também que é necessário estabelecer requisitosclaros e definidos que visem à segurança das pessoas, a fim de que nãosejam expostas aos riscos inerentes ao material a ser comercializado,bem como definir a quantidade de projetos necessária ao estudo, queseja compatível com o poder de fiscalização e acompanhamento daANP.

Necessário ainda que seja esclarecido o procedimento paraabastecimento em locais em que eventual vazamento do combustívelpossa contaminar o solo.

Diante do exposto, por ora, defiro em parte a liminar paraque a ANP abstenha-se de autorizar o projeto piloto para delivery decombustíveis, cuja análise da liminar poderá ser eventualmente refeita,mediante a comprovação de que foram estabelecidos requisitos maiscriteriosos relativos à segurança para a realização do projeto piloto,bem como definido critérios para que outros projetos sejam autorizados.

Intime-se.

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19/12/2019 Evento 8 - DESPADEC1

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5100978-61.2019.4.02.5101 510002132920 .V11

Altere-se a autuação, excluindo-se a ANP do polopassivo da ação e incluindo-a como interessada, eis que o mandadode segurança corre apenas em face das autoridades coatoras.

Solicitem-se as informações, nos moldes do artigo 7º,inciso I, da Lei n.° 12.016/2009, as quais deverão ser encaminhadas aeste Juízo, exclusivamente, via sistema Eproc.

Cientifique-se a autoridade impetrada de que, caso nãoesteja cadastrada no referido sistema, deverá solicitar o seucadastramento junto à Coordenação de Atendimento e InformaçõesProcessuais através do email [email protected].

Dê-se ciência ao representante judicial da pessoa jurídica,nos moldes do art.7º, II, da Lei n.° 12.016, de 07/08/2009.

Após as informações, ao MPF e venham conclusos parasentença.

Documento eletrônico assinado por ROSANGELA LUCIA MARTINS, Juiz Federal naTitularidade Plena, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de2006 e Resolução TRF 2ª Região nº 17, de 26 de março de 2018. A conferência daautenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico https://eproc.jfrj.jus.br,mediante o preenchimento do código verificador 510002132920v11 e do código CRC07585e4c.

Informações adicionais da assinatura:Signatário (a): ROSANGELA LUCIA MARTINSData e Hora: 19/12/2019, às 12:14:1

1. MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 17.ed. São Paulo: Atlas, 2005. p.30.