custos-acidentes de trabalho no brasil

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Acidentes de trabalho no Brasil crescem 13,4% Jornal do Comércio Seg, 22 de Fevereiro de 2010 11:20 Marcelo Beledeli A primeira década do século XXI apresentou consequências negativas para a saúde dos trabalhadores brasileiros O mundo corporativo está em estado de alerta. Apenas de 2007 a 2008 - último ano com dados recolhidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) - as notificações de acidentes no desempenho das funções cresceram 13,4%, passando de 659.523 registros para 747.663, segundo informações do Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho, publicação conjunta dos ministérios da Previdência Social e do Trabalho e Emprego. Historicamente, os registros de acidentes de trabalho vinham caindo de forma gradual a partir de 1975, quando atingiram seu maior índice (1.916.187 acidentes). Entretanto, esta redução foi estancada em 2001, quando o total foi o menor registrado, com 340.251 acidentes. A partir de então, as ocorrências voltaram a subir. Na avaliação de Alexandre Gusmão, editor do Anuário Brasileiro de Proteção, a retomada dos acidentes no País está ligada ao rápido crescimento da economia brasileira na última década. “Muitos postos de trabalho foram criados, o que expôs esses novos trabalhadores a situações de risco a que não estavam preparados”, analisa. No entanto, Gusmão também critica o “desmanche” da área de saúde e segurança do Ministério do Trabalho, iniciado no governo Fernando Henrique e aprofundado no governo Lula. “O foco da fiscalização do ministério centralizou-se basicamente em avaliar FGTS e registro da carteira profissional nas empresas. O governo deixou de priorizar a saúde dos trabalhadores e os resultados estão a͔, afirma. Outro motivo para o crescimento está no novo tipo de fiscalização realizado pelo governo federal, que visa combater a subnotificação de acidentes. Desde 2007,

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Trabalho de analise de custos com acidentes de trabalho no Brasil

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Acidentes de trabalho no Brasil crescem 13,4%

Jornal do Comrcio

Seg, 22 de Fevereiro de 2010 11:20

Marcelo Beledeli

A primeira dcada do sculo XXI apresentou consequncias negativas para a sade dos trabalhadores brasileiros

O mundo corporativo est em estado de alerta. Apenas de 2007 a 2008 - ltimo ano com dados recolhidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) - as notificaes de acidentes no desempenho das funes cresceram 13,4%, passando de 659.523 registros para 747.663, segundo informaes do Anurio Estatstico de Acidentes do Trabalho, publicao conjunta dos ministrios da Previdncia Social e do Trabalho e Emprego. Historicamente, os registros de acidentes de trabalho vinham caindo de forma gradual a partir de 1975, quando atingiram seu maior ndice (1.916.187 acidentes). Entretanto, esta reduo foi estancada em 2001, quando o total foi o menor registrado, com 340.251 acidentes. A partir de ento, as ocorrncias voltaram a subir.

Na avaliao de Alexandre Gusmo, editor do Anurio Brasileiro de Proteo, a retomada dos acidentes no Pas est ligada ao rpido crescimento da economia brasileira na ltima dcada. Muitos postos de trabalho foram criados, o que exps esses novos trabalhadores a situaes de risco a que no estavam preparados, analisa. No entanto, Gusmo tambm critica o desmanche da rea de sade e segurana do Ministrio do Trabalho, iniciado no governo Fernando Henrique e aprofundado no governo Lula. O foco da fiscalizao do ministrio centralizou-se basicamente em avaliar FGTS e registro da carteira profissional nas empresas. O governo deixou de priorizar a sade dos trabalhadores e os resultados esto a, afirma.

Outro motivo para o crescimento est no novo tipo de fiscalizao realizado pelo governo federal, que visa combater a subnotificao de acidentes. Desde 2007, quando foi adotado o Nexo Tcnico Epidemiolgico (NTEP), benefcios que antes eram registrados como no acidentrios passaram a ser identificados como acidentrios, a partir da correlao entre as causas do afastamento e o setor de atividade do trabalhador segurado, independentemente da Comunicao de Acidente de Trabalho (CAT) pelo empregador. Antes disso, os nmeros eram muito incompletos, pois os trabalhadores eram afastados por leses ou doenas comuns, no ligadas ao seu servio, e isso no era contabilizado, informa Gusmo.

Em 2006, ltimo ano em que a velha metodologia foi empregada, o Brasil contabilizou 512.232 acidentes de trabalho. Em 2007, quando o NTEP foi adotado, esse nmero cresceu para 659.523, dos quais 141.108 no possuam CAT e, portanto, no teriam sido includos na antiga forma de fiscalizao. Em 2008, dos 747.663 acidentes, 202.395 foram sem CAT. No entanto, isso mostra que, mesmo sem incluir os registros no notificados pelas empresas, houve crescimento nos acidentes. Segundo a velha metodologia, em 2008 teramos 545.268 acidentes, cerca de 30 mil a mais que em 2006.

No Rio Grande do Sul, os ndices tambm seguiram a tendncia nacional. Em 2006, foram registrados 43.798 acidentes no Estado. Um ano depois, esse nmero cresceu para 52.884, chegando a 62.931 em 2008. Na Capital gacha, o nmero chegou a 12.987 acidentes no ano de 2008. Para o secretrio de Polticas de Previdncia Social, Helmut Schwarzer, muito ainda precisa ser feito pelas empresas, pelos trabalhadores e pelo governo para reduzir os ndices de acidentalidade no Pas. necessrio que todos repensem os processos de produo e invistam mais em capacitao e dispositivos de segurana modernos. Somente com a adoo de polticas efetivas de combate aos acidentes criaremos ambientes laborais mais seguros, protegendo os trabalhadores e reduzindo o custo Brasil, enfatiza o secretrio.

Nmero de mortes cai no PasApesar do crescimento no registro de acidentes, o nmero de mortes decorrentes de acidentes de trabalho teve uma leve reduo no Pas. De acordo com os dados do Anurio Estatstico, os acidentes fatais caram de 2.845, em 2007, para 2.757 no ano passado. No entanto, houve um aumento de 28,6% na identificao de acidentes causadores de incapacidade permanente, que passaram de 9.389 para 12.071 no mesmo perodo.

Os acidentes responsveis por afastamentos superiores a 15 dias cresceram 23,3%, passando de 269.752, em 2007, para 332.725 em 2008. Em relao a leses, embora os registros em 2008 mostrem que elas continuam concentradas nos membros superiores e inferiores, como em 2007, h um expressivo aumento no nmero de dorsalgias, de leses do ombro e de fraturas da perna e do punho e mo. A nova metodologia do NTEP, de caracterizar como acidentrias leses antes registradas como previdencirias, tambm foi responsvel por esse aumento.

Em 2007, foram registrados 51,372 mil casos de dorsalgias. Em 2008, esse nmero subiu para 55,450 mil. As leses do ombro passaram de 19,505 mil para 22,926 mil. Fraturas da perna (incluindo o tornozelo) pularam de 17,336 mil para 21,704 mil. Os registros de fratura de punho e mo saltaram de 32,366 mil casos em 2007 para 48,757 mil em 2008.

Quando analisados por regies, verifica-se que a maioria dos acidentes registrados ocorreu na regio Sudeste (411.290), vindo em seguida as regies Sul (170.990), Nordeste (83.818), Centro-Oeste (51.994) e Norte, com 29.571 acidentes notificados. Somente o Sudeste responde por 55% de todos os acidentes registrados em 2008.

Empresariado alerta para impacto nos custos

As mudanas implemen-tadas pelo governo federal na rea de segurana e sade dos trabalhadores no envolvem apenas os dados estatsticos. Desde janeiro deste ano, est em vigor uma nova legislao, que colocou em vigor a aplicao do Fator Acidentrio Previdencirio (FAP). O FAP prev alquotas diferenciadas do Seguro de Acidente de Trabalho (SAT) para as empresas que investem e as que no investem em segurana e sade dos trabalhadores.

Desta forma, foi alterado o clculo da contribuio paga pelas empresas Previdncia Social, que antes recolhia uma taxa fixa de 1%, 2% e at 3% sobre a folha de pagamento, variando de acordo com o grau de risco de seu ramo de atuao. Com o decreto, automaticamente algumas atividades classificadas e enquadradas pela Classificao Nacional de Atividades Econmicas (Cnae) tiveram o respectivo percentual de contribuio ao SAT alterado. Sobre esses novos percentuais, agora calculado o FAP. Ele um multiplicador aplicado s trs alquotas do SAT, incidentes sobre a folha de salrios das empresas para financiar aposentadorias especiais e benefcios decorrentes de acidentes de trabalho. Esse fator pode reduzir metade ou dobrar as alquotas de acordo com quantidade, frequncia, gravidade e custo dos acidentes em cada empresa, explica Luiz Massad, gestor da Torres & Associados, consultoria de benefcios e gesto empresarial.

Segundo o novo regime, as empresas que receberem carga maior na alquota do SAT tero desconto de 25%. As que reduziram o risco de acidente ou doena no trabalho tero bonificao integral.

De acordo com essas normas, o SAT, j aplicado o desconto de 25%, vai levar as alquotas mximas a 1,75% (risco leve), 3,5% (risco mdio) e 5,25% (risco grave). As alquotas mnimas sero, respectivamente, 0,5%, 1% e 1,5%. De 2011 em diante, os trs tetos chegam a 2%, 4% e 6%.

No entanto, essa nova norma vem recebendo crticas dos empresrios, que tm entrado com liminares contra a cobrana do FAP. A expectativa com a mudana proposta pelo governo, que contava com apoio empresarial, era que a legislao incentivasse as empresas que investem em prticas de preveno e combate aos acidentes de trabalho com a diminuio do valor do seguro. Mas no foi isso que ocorreu. O resultado ser um expressivo aumento de arrecadao do SAT, afirma Paulo Tigre, presidente da Federao das Indstrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs). Segundo o dirigente, estudos indicam que haver uma forte elevao dos custos sobre a folha de pagamento, que dever superar os R$ 5 bilhes, mais de 60% de majorao da arrecadao.

De acordo com clculos da Confederao Nacional da Indstria (CNI), o decreto que mudou o enquadramento dos empreendimentos s alquotas do Seguro de Acidente do Trabalho aumentar os custos para cerca de dois teros das atividades econmicas no Pas. Com a incidncia do FAP, dado pelo nvel de acidentalidade, a empresa poderia ser bonificada com a diminuio em at 50% do valor do seguro oficial, ou penalizada at o dobro do normal. No entanto, constatou-se que a metodologia ir punir quem emprega muito. Alm disso, em cerca de 90% das empresas foi aplicada frmula no prevista em lei que majora o custo do seguro. Uma indstria com direito a 40% de desconto ter apenas 20% por essa frmula.

Conforme a simulao feita pela CNI, com a nova aplicao do FAP, o valor do seguro pode subir entre 50% e 500% nas empresas dos setores que tiveram majorao de alquota do SAT de 1% para 3%. Por exemplo um empreendimento cujo seguro 1% sobre a folha de salrios anual de R$ 100 milhes recolhe atualmente R$ 1 milho ao ano a ttulo de Seguro de Acidente do Trabalho.

Caso a alquota dessa mesma empresa suba para 3%, o valor do seguro aumentaria para R$ 3 milhes ao ano. Com a aplicao de um FAP equivalente a 0,5, o valor do seguro passaria para R$ 1,5 milho, ou seja, um aumento de 50% em relao ao total recolhido atualmente. Mas se o FAP dessa empresa for 2%, o valor a ser pago subiria para R$ 6 milhes. Ou seja, um aumento de 500%.

Fabricantes de equipamentos de proteo esperam crescimento

Se o crescimento da economia brasileira afetou o nmero de acidentes de trabalho, tambm ajudou na evoluo do mercado de equipamentos de proteo individual (EPIs) no Brasil. Nosso segmento est diretamente ligado ao comportamento do setor industrial e de servios, sempre que ocorre aumento do nmero de trabalhadores h um crescimento tambm no consumo de EPIs, destaca Macarius Boscaini, diretor da empresa Cenci/Epitec.

Fabricante de luvas, roupas e cremes de proteo, a Cenci/Epitec possui uma perspectiva de aumentar em 40% seus negcios em 2010. O otimismo devido expanso do setor de construo civil, grande consumidor de EPIs, bem como ao volume de recursos destinados a obras governamentais e ao lanamento de novas linhas de produtos. Com isso, devem ser recuperadas as perdas causadas pela crise internacional no ano passado, que levaram a empresa a reduzir seu volume de negcios em torno de 10%.

As boas expectativas para o ano tambm so compartilhadas por Jos Geraldo Brasil, diretor-presidente da JGB. A empresa, que produz 100 mil unidades de luvas e roupas tcnicas por ano, comercializadas em todo o Brasil e Amrica do Sul, teve uma queda de negcios da ordem de 30% no ano passado, quando no primeiro semestre a maioria de seus clientes diminuiu os pedidos devido reduo de operao. Agora, a palavra de ordem para 2010 recuperao. Nossa realidade mudou da gua para o vinho, e temos perspectivas muito grandes, afirma Brasil, que acredita que a JGB dever aumentar suas vendas em 20% este ano, em comparao aos nmeros de 2008. Para o diretor-presidente, as empresas brasileiras esto cada vez mais preocupadas com a questo da segurana de seus funcionrios. O custo do acidente, no s financeiro, mas social, muito grande, ento mesmo pequenos e micro empresrios hoje esto dando maior ateno a esse tema, aponta.

As oportunidades de crescimento do mercado de EPIs tambm levaram ao surgimento de novas empresas. Em 2009, a Artecola, tradicional fabricante gacha de adesivos, lanou um novo brao da companhia dedicado para calados de segurana, a Arteflex. Os calados representam 40% dos equipamentos do mercado de proteo, e como temos experincia na rea e sabemos que existe uma carncia de ofertas diferenciadas esse foi um passo lgico a seguir, explica Rafael Mssnich, diretor da Arteflex.

Segundo Mssnich, a principal atrao do mercado de EPIs para a Artecola foram o seu porte e as perspectivas de crescimento. Apesar do tamanho, esse segmento possui uma carncia de ofertas especiais, com produtos de qualidade, durabilidade e conforto superior, e queremos suprir essa demanda, afirma.

A Arteflex, que iniciou sua comer-cializao em julho do ano passado j possui planos de expanso, que envolvem o aumento de sua capacidade produtiva, logstica e tecnolgica.