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    CURSO ROBORTELLAwww.apostilanet.com.brAv. Paulista, n. 1776 - 11 and.Fone: 251-3533

    Direito ConstitucionalCarreiras do trabalho 1/2004

    Prof. Roberto Baptista Dias da Silva

    Todos os direitos reservados. 2002. CURSO ROBORTELLACopyright 2002 Design: WLD

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    Curso RobortellaRoberto Baptista Dias da Silva

    Direito Constitucional

    NDICE

    1. PODER CONSTITUINTE

    2. CONCEITO DE CONSTITUIO

    3. EFICCIA E APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS

    4. CONTROLE DA CONSTITUCIONALIDADE

    5. FORMAS DE ESTADO

    6. UNIO

    7. ESTADOS FEDERADOS

    8. MUNICPIOS

    9. DISTRITO FEDERAL

    10. TERRITRIOS

    11. INTERVENO FEDERAL

    12. SEPARAO DOS PODERES

    13. PODER LEGISLATIVO

    14. PODER EXECUTIVO

    15. PODER JUDICIRIO

    16. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

    17. HABEAS CORPUS

    18. HABEAS DATA

    19. MANDADO DE SEGURANA

    20. MANDADO DE SEGURANA COLETIVO

    21. AO POPULAR

    22. BIBLIOGRAFIA DE REFERNCIA

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    Direito Constitucional

    PODER CONSTITUINTE REFORMADOR

    O Poder Constituinte Reformador aquele que altera a Constituio j

    existente, j que as Constituies, apesar da pretenso de se perpetuarem,

    reconhecem a necessidade de atualizao.

    O Poder Constituinte Reformador manifesta-se, ento, para modificar,

    atualizar, reformar o texto constitucional. Tais reformas, a rigor, acontecem

    pontualmente, incluindo, revogando ou alterando os dispositivosconstitucionais.

    O instrumento utilizado para levar a cabo a reforma da Constituio a

    chamada emenda Constituio, ou seja, por meio desta espcie normativa

    que o Poder Constituinte Reformador se manifesta. E esta manifestao

    levada a efeito pelo Congresso Nacional, nos termos do artigo 60, 2, da

    Constituio Federal.

    As caractersticas do Poder Constituinte Reformador

    O Poder Constituinte Reformador se caracteriza por ser derivado,

    subordinado e limitado.

    Diz-se que o Poder Constituinte Reformador derivado, porque ele

    advm da prpria Constituio que ser alterada. Assim, a prpria

    Constituio que dir como o Poder Constituinte Reformador ir se manifestar, o

    que ele poder alterar e quando isto poder ocorrer.

    E o Poder Constituinte Reformador considerado subordinado, pois as

    alteraes constitucionais subordinar-se-o s regras, s condies e aos

    limites impostos pela prpria Constituio a ser reformada, ou seja, a prpria

    Constituio ditar os limites para sua manifestao.

    E esses limites so ordem material, formal e circunstancial.

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    Direito Constitucional

    Os limites materiais ao Poder Constituinte Reformador

    Os limites materiais dizem respeito ao assunto, ao tema, matria que

    no poder ser objeto de modificao. Essas matrias formam o ncleo imutvel

    da Constituio.

    As limitaes materiais so as chamadas clusulas ptreas, previstas

    nos incisos I a IV do 4 do artigo 60 da Constituio Federal. Por fora destas

    disposies, no podem ser objeto de deliberao as propostas de emenda Constituio tendentes a abolir a forma federativa de Estado; o voto direto,

    secreto, peridico e universal; a separao dos Poderes e os direitos e garantias

    individuais.

    Os limites formais ao Poder Constituinte Reformador

    Os limites formais so aqueles relativos ao procedimento exigido pela

    Constituio para que ocorra sua prpria alterao. Assim, a modificao daConstituio somente poder acontecer se forem obedecidos os procedimentos,

    os ritos, as formas previstas na prpria Lei Maior. Estas limitaes formais

    manifestao do Poder Constituinte Reformador encontram-se no artigo 60,

    incisos I a III, e 2 e 5.

    Os limites circunstanciais ao Poder Constituinte Reformador

    Os limites circunstanciais so aqueles previstos no 60, 1, da

    Constituio Federal e dizem respeito ao fato de que a Constituio Federal no

    poder ser emendada na vigncia de interveno federal, de estado de defesa

    ou de estado de stio.

    Esses limites so impostos porque o Constituinte entendeu que a

    Constituio norma jurdica que se encontra no topo do ordenamento jurdico,

    dando fundamento de validade a todas as outras regras no dever ser

    alterada quando o Pas estiver enfrentando alguma instabilidade significativa,

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    Direito Constitucional

    alguma turbulncia natural, institucional ou da ordem pblica que possa

    comprometer a serenidade exigvel para desempenhar funo to relevantequanto modificar a Constituio.

    CONCEITO DE CONSTITUIO

    O termo Constituio comporta vrias acepes. Do ponto de vista

    sociolgico, a Constituio se traduz como a somatria dos fatores reais de

    poder que regem uma sociedade (Ferdnand Lassalle). Sob a tica poltica, a

    Constituio a deciso poltica fundamental (Carl Schimitt), que tratar daestrutura do Estado, as relaes de poder e os direitos fundamentais dos

    cidados. E, juridicamente, a Constituio o conjunto de regras positivas que

    disciplinam e configuram o Estado, bem como estabelecem os direitos

    fundamentais dos cidados. Este conjunto de regras se encontra no topo do

    ordenamento jurdico e d fundamento de validade a todas as demais normas

    jurdicas, estabelecendo o contedo destas e a forma como elas devero ser

    criadas (Hans Kelsen).

    As Constituies podem ser classificadas de diversas maneiras. A

    primeira grande classificao a que divide este conjunto de regras em

    Constituio material e Constituio formal.

    A Constituio material e a Constituio formal

    A Constituio material o conjunto de regras que trata das matrias, dos

    assuntos, dos temas constitucionais, isto , da estrutura do Estado e dos direitos

    fundamentais das pessoas.

    Por outro lado, Constituio formal o conjunto de regras que assume a

    forma de norma constitucional. Assim, os comandos jurdicos inseridos no texto

    constitucional escrito, por meio de um procedimento diferente daquele adotado

    para a criao das demais normas jurdicas, compem o que se convencionou

    chamar de Constituio formal.

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    Direito Constitucional

    As Constituies outorgadas e as Constituies promulgadas

    Quanto origem, as Constituies podem ser classificadas em

    outorgadas ou promulgadas. As outorgadas so as impostas autoritariamente

    por quem no recebeu poderes do povo para tanto, como, por exemplo, a

    Constituio brasileira de 1937. J as promulgadas so as Constituies que

    surgem como resultado de um processo democrtico de elaborao, como a

    Constituio brasileira de 1988.

    As Constituies escritas e as Constituies costumeiras

    Quanto forma, as Constituies podem ser escritas ou costumeiras.

    As Constituies costumeiras so formadas paulatinamente por meio de

    costumes, decises judiciais e documentos esparsos, sendo que suas regras

    no se condensam em um nico texto escrito formal, apesar de serem tidas

    como normas que estruturam o Estado e estabelecem os direitos e garantias

    fundamentais dos cidados. A Inglaterra um exemplo tpico de um Estadoregido por uma Constituio costumeira.

    Por outro lado, as Constituies escritas so as que contemplam, em um

    nico texto escrito, as normas que estruturam o Estado e fixam os direitos e as

    garantias fundamentais dos cidados. Atualmente, a grande maioria dos

    Estados regida por este tipo de Constituio, como acontece, por exemplo, no

    Brasil, na Espanha, em Portugal e no Chile.

    As Constituies analticas e as Constituies sintticas

    Quanto extenso, as Constituies podem ser classificadas como

    sintticas ou analticas. As sintticas contm poucos artigos, sendo matrias

    constitucionais reguladas por poucos dispositivos. Por este motivo, a atividade

    interpretativa destas Constituies permite, de maneira mais acentuada, a

    atualizao dos entendimentos sobre os assuntos por elas tratados. Como

    exemplo de Constituio sinttica, temos a Constituio dos Estados Unidos da

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    Direito Constitucional

    Amrica. As Constituies analticas como a Constituio brasileira de 1988

    tratam dos temas constitucionais de maneira minuciosa e detalhada, sendocompostas, portanto, por vrios artigos.

    As Constituies rgidas, semi-rgidas e flexveis

    Quanto alterabilidade ou modificao, as Constituies podem ser

    rgidas, semi-rgidas ou flexveis.

    Constituio rgida aquela que prev para a sua alterao umprocedimento mais difcil, mais rduo, mais rigoroso do que o previsto para

    criao ou alterao da legislao ordinria. o caso da Constituio brasileira

    de 1988, como se pode constatar ao se interpretar os artigos 47; 60, 2; 65 e

    69.

    Constituio flexvel aquela que permite sua alterao pelo mesmo

    procedimento previsto para se criar ou alterar a legislao ordinria.

    E Constituio semi-rgida aquela que exige um procedimento muito

    difcil para alterar parte de suas regras como ocorre com as Constituies

    rgidas e, em relao a outros dispositivos, o procedimento de alterao deles

    deve ocorrer da mesma maneira que a se prev para modificar a legislao

    ordinria (como nos casos das Constituies flexveis). A Constituio brasileira

    de 1824 era semi-rgida por fora da regra contida em seu artigo 178, que

    estabelecia que certas normas deveriam ser alteradas por um procedimento

    difcil enquanto outras deveriam ser modificadas pelo mesmo rito previsto para a

    alterao da legislao ordinria.

    Cumpre esclarecer que a superioridade hierrquica da Constituio em

    relao s demais normas do ordenamento jurdico ocorre em razo da rigidez

    constitucional.

    EFICCIA E APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS

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    Direito Constitucional

    A jurisprudncia norte-americana pretendeu distinguir as normas

    constitucionais, quanto eficcia, em prescries mandatrias (mandatory

    provisions) e prescries diretrias (diretory provisions). As prescries

    mandatrias seriam aquelas clusulas constitucionais essenciais, cuja

    observncia obrigatria e inescusvel. J as diretrias teriam carter

    regulamentar, podendo o legislador comum dispor de outro modo, sem que isso

    caracterizasse qualquer forma de inconstitucionalidade, como explica Jos

    Afonso da Silva.

    Assim, poder-se-ia concluir que algumas normas constitucionais eram decumprimento obrigatrio enquanto outras no, o que no condiz com a natureza

    dessas regras, pois todas elas so normas jurdicas e, portanto, obrigatrias.

    Quanto aplicabilidade das normas constitucionais, Jos Afonso da

    Silva, baseado nas lies de Ruy Barbosa, expe que a doutrina e a

    jurisprudncia dos Estados Unidos da Amrica apresentaram a classificao das

    regras como self-executing provisions (auto-executveis ou auto-aplicveis) e

    not-self-executing provisions(no auto-executveis ou no auto-aplicveis).

    As normas auto-executveis seriam aquelas aplicveis desde logo, pois

    revestidas de plena eficcia jurdica, regulando diretamente as matrias, os

    comportamentos, as situaes que mencionam. Por outro lado, as normas no

    auto-executveis seriam as que dependem de leis infraconstitucionais para

    aplicao, ou seja, so destitudas de imperatividade.

    Contudo, esta classificao tambm no se mostra aceitvel face

    juridicidade de todas as normas constitucionais.

    Com base na doutrina italiana, especialmente na obra de Vezio Crisafulli,

    Jos Afonso da Silva sugere a diviso dos comandos constitucionais em:

    normas de eficcia plena, aplicabilidade direta, imediata e integral; normas de

    eficcia contida e aplicabilidade direta, imediata, mas possivelmente no

    integral; e normas de eficcia limitada, aplicabilidade indireta, mediata e

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    Direito Constitucional

    reduzida, declaratrias de princpios institutivos ou declaratrias de princpios

    programticos.

    As normas de eficcia plena, aplicabilidade direta, imediata e integral

    As normas de eficcia plena seriam aquelas que, desde a entrada em

    vigor da Constituio, produzem ou tm a possibilidade de produzir todos os

    efeitos essenciais relativamente aos interesses, comportamentos e situaes,

    que o legislador Constituinte pretendeu regular, ou seja, so aquelas que

    possuem todos os elementos para, desde logo, produzir todos os efeitospretendidos pelo Constituinte.

    Exemplos de normas de eficcia plena: artigo 44 da Constituio, que

    estabelece que o Poder Legislativo exercido pelo Congresso Nacional, que se

    compe da Cmara dos Deputados e do Senado Federal; artigo 5, inciso XX,

    que prescreve que ningum poder ser compelido a associar-se ou a

    permanecer associado.

    As normas de eficcia contida e aplicabilidade direta, imediata, mas

    possivelmente no integral

    As normas de eficcia contida seriam caracterizadas por tambm terem

    condies de produzir todos seus efeitos desde logo como as de eficcia

    plena , mas possibilitariam a restrio de sua incidncia por parte da

    competncia discricionria do Poder Pblico, nos termos que a lei estabelecer

    ou nos termos de conceitos gerais nelas enunciados. Assim, seria mais correto

    chamar este tipo de normas de eficcia contvel, pois possibilitam a restrio de

    sua eficcia e no nascem, desde logo, com a eficcia restrita.

    Exemplos de normas de eficcia contida que prevem restrio por meio

    de lei: artigo 5, incisos XIII e LVIII, que estabelecem, respectivamente: livre o

    exerccio de qualquer trabalho, ofcio ou profisso, atendidas as qualificaes

    profissionais que a lei estabelecer e o civilmente identificado no ser

    submetido a identificao criminal, salvo nas hipteses previstas em lei.

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    Direito Constitucional

    Exemplo de norma de eficcia contida cujos conceitos gerais nelaenunciados do margem a restries de sua aplicabilidade: artigo 5, inciso

    XXXIII, todos tm direito a receber dos rgos pblicos informaes de seu

    interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que sero prestadas no

    prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja

    imprescindvel segurana da sociedade e do Estado.

    As normas de eficcia limitada, aplicabilidade indireta, mediata e

    reduzida

    As normas de eficcia limitada seriam aquelas dependentes da edio de

    normas futuras, pelo legislador ordinrio, para que, integrando-lhes a eficcia,

    lhes conferissem aplicabilidade integral. Seriam elas subdivididas em duas

    espcies: declaratrias de princpios institutivos e declaratrias de princpios

    programticos.

    As normas de eficcia limitada, declaratrias de princpio institutivo

    As normas de princpio institutivo seriam as que revelariam um esquema,

    princpios organizatrios de um rgo, de um instituto, de uma entidade. Sua

    completa aplicabilidade dependeria da edio da legislao integradora, mas,

    desde logo, elas revogariam as normas anteriores incompatveis com estas

    normas constitucionais e determinariam a conformao da legislao posterior a

    seus enunciados.

    Exemplo de norma constitucional de eficcia limitada de princpio

    institutivo seria o artigo 131 da Constituio Federal de 1988: A Advocacia-

    Geral da Unio a instituio que, diretamente ou atravs de rgo vinculado,

    representa a Unio, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei

    complementar que dispuser sobre sua organizao e funcionamento, as

    atividades de consultoria e assessoramento jurdico do Poder Executivo.

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    Direito Constitucional

    As normas de eficcia limitada, declaratrias de princpio

    programtico

    As normas de eficcia limitada tambm poderiam ser declaratrias de

    princpio programtico. Estas normas esto voltadas ao cumprimento de

    objetivos a serem alcanados, programas a serem desenvolvidos pelo Estado.

    Teriam elas eficcia jurdica imediata, direta e vinculante somente nos seguintes

    termos: estabelecem um dever para o legislador ordinrio; condicionam a

    legislao futura, sob pena de inconstitucionalidade; informam a concepo de

    Estado e da sociedade e inspiram sua ordenao jurdica; constituem sentidoteleolgico para a interpretao, integrao e aplicao das normas jurdicas;

    condicionam a atividade discricionria da Administrao e do Judicirio; criam

    situaes jurdicas subjetivas de vantagem ou desvantagem.

    Exemplos de normas constitucionais de eficcia limitada de princpio

    programtico, na Constituio Federal de 1988, seriamos seguintes: Art. 3

    Constituem objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil: I

    construir uma sociedade livre, justa e solidria; II garantir o desenvolvimentonacional; III erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades

    sociais e regionais; IV promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,

    raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao. Art. 218. O

    Estado promover e incentivar o desenvolvimento cientfico, a pesquisa e a

    capacitao tecnolgicas.

    CONTROLE DA CONSTITUCIONALIDADE

    O controle da constitucionalidade o mecanismo previsto na Constituio

    para preservar sua fora normativa e sua hierarquia em relao aos demais atos

    normativos do ordenamento jurdico.

    Assim, por meio do controle da constitucionalidade, busca-se evitar que

    atos normativos incompatveis com a Constituio sejam criados ou

    permaneam existindo, bem como procura-se impor ao rgo omisso a prtica

    do ato exigido pela Constituio.

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    Direito Constitucional

    Como se nota, para compreender o controle da constitucionalidade imprescindvel, desde logo, entender o conceito de inconstitucionalidade.

    CONCEITO DE INCONSTITUCONALIDADE

    Como se viu acima, a Constituio encontra-se no topo do ordenamento

    jurdico, dando fundamento de validade a todas as demais normas, ou seja, a

    Constituio impe o contedo que as outras normas tero e qual dever ser o

    procedimento adotado para a elaborao das regras hierarquicamenteinferiores.

    A inconstitucionalidade, ento, surge quando se constata a

    incompatibilidade entre as disposies constitucionais e os atos e omisses

    infraconstitucionais.

    A inconstitucionalidade por ao

    A inconstitucionalidade por ao ocorre quando um ato normativo

    criado em desacordo com a Constituio. Quando o contedo da regra

    incompatvel com os dispositivos Constitucionais, estar caracterizada a

    inconstitucionalidade material. Por outro lado, quando a Constituio prev que,

    para a criao de uma certa espcie normativa, deve-se obedecer um

    determinado procedimento e este rito no seguido, estar configurada a

    inconstitucionalidade formal.

    A inconstitucionalidade por omisso

    J a inconstitucionalidade por omisso ocorre quando a Constituio

    determina que um certo ato seja praticado e este ato no realizado pela

    pessoa ou pelo rgo encarregado de agir, nos termos da Constituio.

    PRESSUPOSTOS PARA A EXISTNCIA DO CONTROLE DA

    CONSTITUCIONALIDADE

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    Direito Constitucional

    Os pressupostos para a efetivao do controle da constitucionalidade soa existncia de uma Constituio rgida e de um rgo encarregado de realiz-

    lo.

    Conforme j se verificou, Constituio rgida aquela que prev para a

    sua alterao um procedimento mais difcil, mais rduo do que o previsto para

    criao ou alterao da legislao ordinria. E s d para se falar em hierarquia

    da Constituio em relao s demais regras do ordenamento jurdico quando

    se est diante da rigidez constitucional. Assim, somente quando h hierarquiaentre a Constituio e as demais normas do ordenamento que se pode falar

    em inconstitucionalidade. E, por fim, somente quando se vislumbrar a

    possibilidade de ocorrer inconstitucionalidades que tem sentido falar em

    controle da constitucionalidade.

    O outro pressuposto para ocorrer o controle da constitucionalidade a

    existncia de um rgo encarregado para realizar a apreciao das possveis

    inconstitucionalidades.

    Este rgo, no Brasil, o Poder Judicirio, ou seja, nos termos da

    Constituio Federal brasileira, todos os juzes e Tribunais so competentes

    para exercer o controle da constitucionalidade, sendo que esta funo, em

    ltima anlise, realizada pelo Supremo Tribunal Federal.

    Por este motivo, diz-se que, no Brasil atual, o controle da

    constitucionalidade judicial.

    Todavia, cumpre esclarecer que o Judicirio rgo competente para

    exercer o controle da constitucionalidade quando a norma j se encontra no

    mundo jurdico, ou seja, quando o controle repressivo. Por outro lado, antes de

    a norma entrar em vigor, tambm possvel se exercer o controle da

    constitucionalidade como se ver a seguir sendo que, nesta hiptese, o

    controle realizado pelo Legislativo e pelo Executivo.

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    Direito Constitucional

    O CONTROLE PREVENTIVO DA CONSTITUICONALIDADE

    Tratando do momento em que exercido, o controle da

    constitucionalidade pode ser classificado como prvio ou repressivo.

    O controle prvio (ou preventivo) realizado antes de o ato normativo

    entrar em vigor, antes de a norma existir no mundo jurdico, ou seja, na fase em

    que ainda no se tem a lei, mas simplesmente um projeto de lei.

    Assim, quando o projeto de lei est tramitando no Congresso Nacional,tanto na Cmara dos Deputados quanto no Senado existe uma Comisso

    encarregada de analisar se projeto que est tramitando compatvel ou no

    com a Constituio. Todos os projetos devem passar por essas Comisses,

    submetendo-se ao controle prvio da constitucionalidade. Atualmente, no

    Senado, esta Comisso chama-se Comisso de Constituio, Justia e

    Cidadania. Na Cmara dos Deputados, o nome Comisso de Constituio e

    Justia e de Redao.

    Ainda h um segundo momento em que deve ocorrer o controle

    preventivo da constitucionalidade. Depois de o projeto de lei ser aprovado em

    ambas as Casas Legislativas (Cmara dos Deputados e Senado Federal), ele

    encaminhado ao Presidente da Repblica que, concordando com o projeto, o

    sancionar e, no caso de discordar, dever vet-lo. Com efeito, uma das

    hipteses previstas no 1 do artigo 66 da Constituio Federal a de o

    Presidente da Repblica vetar o projeto por entend-lo inconstitucional. o

    chamado veto jurdico (este tema ser tratado de maneira mais detalhada

    quando for analisado, abaixo, o processo legislativo).

    O CONTROLE REPRESSIVO DA CONSTITUCIONALIDADE

    O controle repressivo (ou a posteriori) se d aps o ato normativo

    infraconstitucional ingressar no mundo jurdico. Neste caso, o controle, no Brasil,

    realizado pelo Poder Judicirio. Somente em situaes excepcionais, o

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    Direito Constitucional

    controle repressivo fica por conta do Poder Legislativo, como na hiptese do

    artigo 49, inciso V, da Constituio Federal.

    O controle repressivo realizado pelo Poder Judicirio, no Brasil, pode ser

    difuso (tambm chamado de via de exceo ou defesa) ou concentrado

    (tambm denominado de via de ao direta).

    O CONTROLE DIFUSO DA CONSTITUCIONALIDADE

    O controle difuso surge da idia de que todo e qualquer rgo do PoderJudicirio pode realizar o controle da constitucionalidade, uma vez que prprio

    da atividade jurisdicional interpretar e aplicar as regras jurdicas, devendo, antes

    de mais nada, analisar se as normas infraconstitucionais so compatveis ou

    no com as disposies constitucionais. Este tipo de controle da

    constitucionalidade nasceu nos Estados Unidos da Amrica, em 1803, com o

    julgamento do caso Madison contra Marbury.

    Na via de exceo, o controle da constitucionalidade ocorreincidentalmente em qualquer processo judicial. No litgio, a questo sobre a

    inconstitucionalidade da norma no o objeto central da lide. Ao contrrio, a

    parte litigante, para alcanar o seu direito, requer que uma determinada regra

    jurdica no seja aplicada ao seu caso concreto por entend-la inconstitucional.

    O Judicirio, ento, ao interpretar as regras aplicveis ao caso sub judice, pode

    considerar a norma jurdica incompatvel com a Constituio, declarando-a

    inconstitucional e no aplicando-a ao caso concreto, dando prevalncia s

    disposies constitucionais.

    Percebe-se, com isso, que a declarao de inconstitucionalidade na via

    de exceo (controle difuso) tem efeitos somente entre as partes litigantes, ou

    seja, a regra continua valendo para todas as demais pessoas que no

    participaram do litgio. Em outras palavras, a deciso judicial sobre a

    inconstitucionalidade da regra apenas isenta o litigante de cumprir a regra

    infraconstitucional porque tal norma est em desacordo com a Constituio.

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    Direito Constitucional

    A clusula de reserva de plenrio

    O artigo 97 da Constituio Federal estabelece a chamada clusula de

    reserva de plenrio ao estabelecer que somente pelo voto da maioria absoluta

    de seus membros (ou dos membros do respectivo rgo especial) podero os

    Tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder

    Pblico.

    Com isso, a Constituio prev que a deciso declaratria da

    inconstitucionalidade de uma lei ou de um ato normativo somente ter eficciaser for tomada pela maioria absoluta dos membros do Tribunal ou de seu rgo

    especial.

    Convm esclarecer que o artigo 93, inciso XI, da Constituio Federal,

    estabelece que nos tribunais com nmero superior a vinte e cinco julgadores

    poder ser constitudo rgo especial, com o mnimo de onze e o mximo de

    vinte e cinco membros, para o exerccio das atribuies administrativas e

    jurisdicionais da competncia do tribunal pleno.

    Essas previses, no entanto, no impedem que os juzos monocrticos

    profiram decises sobre a inconstitucionalidade das regras.

    Por meio de recursos judiciais, a questo sobre a inconstitucionalidade da

    regra pode chegar apreciao do Supremo Tribunal Federal que, confirmando

    a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo, profere deciso que continua

    valendo somente para as partes litigantes.

    A competncia do Senado no controle difuso da constitucionalidade

    Contudo, o artigo 52, inciso X, da Constituio Federal, prev a

    possibilidade de o Senado Federal no caso em que ocorreu o controle da

    constitucionalidade pela via de exceo suspender a execuo da lei

    declarada inconstitucional por deciso definitiva pelo Supremo Tribunal Federal.

    Com isso, a deciso do Supremo, que valia somente para as partes litigantes,

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    com efeitos ex tunc(retroativos), passa a valer para todos, com efeito ex nunc

    (sem efeitos retroativos), a partir da publicao da resoluo do Senado.Portanto, a lei, que no era aplicvel ao caso concreto, em razo da deciso

    judicial que declarou sua inconstitucionalidade, passa a no ser aplicvel em

    relao a todas as outras pessoas, em funo da resoluo do Senado.

    O CONTROLE CONCENTRADO DA CONSTITUCIONALIDADE

    O controle concentrado da constitucionalidade surge no Tribunal

    Constitucional da ustria, a partir das idias de Hans Kelsen. No Brasil, ocontrole concentrado surgiu com a Emenda Constitucional n 16/65, sendo que,

    nos termos do artigo 102, inciso I, letra a, da Constituio Federal de 1988,

    compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar, originariamente, a

    ao direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual.

    O objeto principal do controle da constitucionalidade pela via de ao

    direta (controle concentrado) obter do Supremo Tribunal Federal a declarao

    da inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo, independentemente deexistir ou no um caso concreto a ser analisado. Por esta razo, o controle

    concentrado da constitucionalidade tambm conhecido como controle

    abstrato. Por meio desse tipo de controle, busca-se, ento, garantir a segurana

    das relaes jurdicas, que no devem ser fundamentadas em regras

    inconstitucionais.

    A Constituio Federal, ao prever o controle concentrado da

    constitucionalidade, considera possvel, basicamente, a propositura das

    seguintes aes: ao direta de inconstitucionalidade genrica (artigo 102,

    inciso I, letra a); ao direita de inconstitucionalidade interventiva (artigo 36,

    inciso III); ao direta de inconstitucionalidade por omisso (artigo 103, 2);

    ao declaratria de constitucionalidade (artigo 102, inciso I, a, parte final,

    acrescida pela Emenda Constitucional n 3, de 1993).

    A AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE GENRICA

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    A competncia

    Compete ao Supremo Tribunal Federal julgar a ao direta de

    inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual, como

    estabelece o artigo 102, inciso I, alnea a, da Constituio Federal. Esta a

    previso constitucional sobre o rgo competente para exercer o controle

    concentrado da constitucionalidade por meio da ao direta de

    inconstitucionalidade genrica.

    O objeto

    Podem ser objeto do controle da constitucionalidade pela via da ao

    direta de inconstitucionalidade genrica as leis ou atos normativos federais,

    estaduais e distritais (neste caso, somente na hiptese em que o Distrito Federal

    estiver exercendo a competncia equivalente dos Estados-Membros).

    As leis ou atos normativos que podem ser objeto do controle da

    constitucionalidade pela via de ao direta so as espcies normativas previstasno artigo 59 da Constituio Federal, ou seja, as emendas Constituio, as

    leis complementares, as leis ordinrias, as leis delegadas, as medidas

    provisrias, os decretos legislativos e as resolues. Tambm podem objeto

    deste tipo de controle outros atos que tenham autntico contedo normativo.

    Por outro lado, no se admite o controle da constitucionalidade pela via

    de ao direta das leis ou atos normativos j revogados ou anteriores

    Constituio vigente. Tambm os atos normativos e as leis municipais no

    podem ser objeto de controle da constitucionalidade pela via de ao direta em

    face da Constituio Federal.

    A legitimidade

    O artigo 103 da Constituio Federal estabelece que so legitimados a

    propor a ao direta de inconstitucionalidade o Presidente da Repblica, a Mesa

    do Senado Federal, a Mesa da Cmara dos Deputados, a Mesa de Assemblia

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    Legislativa, o Governador de Estado, o Procurador-Geral da Repblica, o

    Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, o partido poltico comrepresentao no Congresso Nacional e a confederao sindical ou a entidade

    de classe de mbito nacional.

    O Supremo Tribunal Federal tem admitido que o Presidente da Repblica,

    a Mesa do Senado Federal, a Mesa da Cmara dos Deputados, o Procurador-

    Geral da Repblica, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil e o

    partido poltico com representao no Congresso Nacional tm legitimao

    ativa universal, ou seja, estes entes podem propor a ao direta deinconstitucionalidade sobre qualquer assunto, sobre qualquer tema.

    Por outro lado, as Mesas das Assemblias Legislativas, os Governadores

    de Estado e as confederaes sindicais ou as entidades de classe de mbito

    nacional devem demonstrar a existncia de relao de pertinncia entre seus

    interesses e o objeto da ao direta de inconstitucionalidade de pretendem

    propor. Assim, se no estiver presente o requisito da pertinncia temtica, no

    se configura a legitimidade dessas pessoas para propor a ao direta deinconstitucionalidade.

    O Procurador-Geral da Repblica e o Advogado-Geral da Unio

    O Procurador-Geral da Repblica, quando no for o autor da ao direta

    de inconstitucionalidade, deve ser ouvido antes do julgamento da ao pelo

    Supremo Tribunal Federal, como prev o artigo 102, 1, da Constituio

    Federal.

    E o Advogado-Geral da Unio, nas aes diretas de inconstitucionalidade

    de lei ou ato normativo federal ou estadual, deve ser citado para realizar a

    defesa do ato ou do texto impugnado, nos termos do artigo 102, 3, da

    Constituio Federal.

    Os efeitos da deciso

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    Na ao direta de inconstitucionalidade, a regra a de que os efeitos da

    deciso do Supremo Tribunal Federal que declara a inconstitucionalidade da leiou do ato normativo tem efeitos para todos (erga omnes) e ex tunc(retroativos).

    Basta a deciso do Supremo Tribunal Federal para que a lei ou o ato

    normativo declarado inconstitucional no tenha mais validade e seja retirado do

    ordenamento jurdico, no valendo mais para ningum. Nesses termos, o

    Supremo Tribunal Federal age como verdadeiro legislador negativo.

    Note-se que, na via de ao direta, o Senado Federal pode participar docontrole da constitucionalidade como autor da ao, mas no atua aps a

    deciso do Supremo, com base no artigo 52, inciso X, da Constituio Federal.

    Convm lembrar, ainda, que a Lei n 9.868/99 que dispe sobre o

    processo e julgamento da ao direta de inconstitucionalidade e da ao

    declaratria de constitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal

    estabelece, em seu artigo 27, que ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou

    ato normativo, e tendo em vista razes de segurana jurdica ou de excepcionalinteresse social, poder o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois teros

    de seus membros, restringir os efeitos daquela declarao ou decidir que ela s

    tenha eficcia a partir de seu trnsito em julgado ou de outro momento que

    venha a ser fixado.

    Assim, a regra geral a de que a deciso do Supremo Tribunal Federal

    que declara a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo, na via de ao

    direta, tem efeitos ex tunc e retroativos. Todavia, respeitados os requisitos

    previstos no artigo 27 da Lei n 9.868/99, os efeitos da deciso podero ser ex

    nunc, a partir do trnsito em julgado, ou de outro momento a ser fixado pelo

    prprio Supremo Tribunal Federal.

    A AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE INTERVENTIVA

    O artigo 1 da Constituio Federal estabelece que a Repblica

    Federativa do Brasil formada pela unio indissolvel dos Estados e Municpios

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    e do Distrito Federal, constituindo-se em Estado Democrtico de Direito. O artigo

    18, por sua vez, prev que a organizao poltico-administrativa da RepblicaFederativa do Brasil compreende a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os

    Municpios, todos autnomos, nos termos da Constituio.

    Como se ver mais adiante, quando for abordado o tema Federao,

    um princpio bsico da forma federativa de Estado a autonomia dos entes que

    federativos.

    Por esta razo que o artigo 34 da Constituio Federal fixa o princpiode que a Unio no intervir nos Estados, exceto nas hipteses taxativamente

    previstas nos incisos deste artigo.

    A regra a de que o Presidente da Repblica decreta a interveno

    espontaneamente, a no ser que a Constituio Federal condicione a

    decretao a alguma outra medida. Uma das hipteses em que se condiciona a

    decretao est contida no inciso III do artigo 36 da Constituio Federal, que

    diz que a interveno federal depender de provimento, pelo Supremo TribunalFederal, de representao do Procurador-Geral da Repblica, no caso do artigo

    34, inciso VII. Esta representao a chamada ao direta de

    inconstitucionalidade interventiva, que ser vista a seguir.

    Os princpios sensveis

    O inciso VII do artigo 34 estatui a possibilidade de interveno da Unio

    nos Estados para assegurar a observncia dos seguintes princpios

    constitucionais: a) forma republicana, sistema representativo e regime

    democrtico; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal; d)

    prestao de contas da administrao pblica, direta e indireta; aplicao do

    mnimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a

    proveniente de transferncias, na manuteno e desenvolvimento do ensino e

    nas aes e servios pblicos de sade.

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    Estes princpios previstos no inciso VII do artigo 34 da Constituio

    Federal so chamados pela doutrina de princpios constitucionais sensveis,pois a violao deles pelos Estados ou pelo Distrito Federal sujeitar estes

    entes federativos medida mais drstica em um Estado Federal, qual seja, a

    interveno da Unio na autonomia poltica deles.

    Assim, se o Distrito Federal ou os Estados-Membros, quando do exerccio

    de suas competncias, violarem os princpios sensveis, podero sofrer a

    interveno federal.

    Ocorre que, nesses casos, a Unio somente poder intervir se o

    Procurador-Geral da Repblica propuser a ao direta de inconstitucionalidade

    interventiva perante o Supremo Tribunal Federal e este julg-la procedente.]

    Legitimidade e competncia

    Percebe-se, portanto, que somente o Procurador-Geral da Repblica tem

    legitimidade para propor a ao direta de inconstitucionalidade interventiva.

    O rgo competente para julgar a ao direta de inconstitucionalidade

    interventiva o Supremo Tribunal Federal.

    Finalidades

    A ao declaratria de inconstitucionalidade interventiva tem duas

    finalidades.

    A primeira finalidade jurdica e consiste em obter do Supremo Tribunal

    Federal a declarao da inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo do

    Estado ou do Distrito Federal que teria violado um dos princpios sensveis

    previstos no artigo 34, inciso VII, da Constituio Federal.

    E a segunda finalidade poltica: permitir, em razo da declarao da

    inconstitucionalidade, que o Presidente da Repblica, com base no artigo 84,

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    inciso X, combinado com o artigo 36, inciso III, decrete a interveno no Estado

    ou no Distrito Federal que violou o artigo 34, inciso IV, decretao esta que selimitar a suspender a execuo do ato impugnado, se esta medida for

    suficiente para restabelecer a normalidade ( 3 do artigo 36).

    A AO DECLARATRIA DE CONSTITUCIONALIDADE

    A ao declaratria de constitucionalidade surgiu no direito brasileiro em

    1993, por meio da Emenda Constitucional n 3.

    Esta Emenda Constituio, entre outros dispositivos, alterou a letra a

    do inciso I do artigo 102 e acrescentou o 2 a este mesmo artigo, alm de ter

    acrescentado o 4 ao artigo 103.

    Objetivo

    Com a ao declaratria de constitucionalidade pretende-se alcanar a

    declarao da constitucionalidade de lei ou ato normativo federal. Em outraspalavras, busca-se obter do Supremo Tribunal Federal uma declarao de que

    uma lei federal ou um ato normativo federal compatvel com a Constituio.

    Tendo em vista que, por meio do controle difuso da constitucionalidade,

    decises judiciais divergentes podem surgir acerca da consonncia de

    determinada regra jurdica com a Constituio, surge a ao declaratria de

    constitucionalidade para dar segurana jurdica por meio de um pronunciamento

    definitivo do Supremo Tribunal Federal acerca da constitucionalidade ou no de

    regra em questo.

    Como se sabe, as regras jurdicas presumem-se compatveis com a

    constitucionais. Todavia, esta presuno das constitucionalidade das leis e dos

    atos normativos relativa, ou seja, admite deciso em contrrio. Tanto que, no

    Brasil, o Poder Judicirio pode declarar a inconstitucionalidade de uma regra,

    que at ento, era considerada constitucional.

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    Assim, como adverte Alexandre de Moraes, a ao declaratria de

    constitucionalidade surge exatamente para tornar esta presuno relativa deconstitucionalidade em presuno absoluta, em razo de seus efeitos

    vinculantes ( 2 do artigo 102 da Constituio Federal).

    Por meio dessa ao, como se afirmou acima, busca-se obter do

    Supremo Tribunal Federal a declarao definitiva e vinculante sobre a

    constitucionalidade de uma regra federal que vem sendo questionada por outros

    rgos do Poder Judicirio. Com isso, privilegia-se a uniformidade das decises

    judiciais e a segurana das relaes jurdicas.

    Competncia e legitimidade

    Nos termos da parte final da alnea a do inciso I do artigo 102 da

    Constituio Federal, compete ao Supremo Tribunal Federal julgar a ao

    declaratria de Constitucionalidade.

    Somente o Presidente da Repblica, a Mesa do Senado Federal, a Mesada Cmara dos Deputados e o Procurador-Geral da Repblica tm legitimidade

    para propor a ao declaratria de constitucionalidade perante o Supremo

    Tribunal Federal.

    Objeto

    O objeto da ao declaratria de constitucionalidade a lei ou o ato

    normativo federal.

    Para a propositura da ao declaratria de constitucionalidade

    imprescindvel que o autor demonstre, com sua inicial, a existncia de

    controvrsia judicial relevante sobre a aplicao da disposio normativa objeto

    da ao (artigo 14, inciso III, da Lei n 9.868/99).

    Efeitos

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    A deciso definitiva de mrito proferida pelo Supremo Tribunal Federal na

    ao declaratria de Constitucionalidade produz eficcia contra todos e efeitovinculante relativamente aos demais rgos do Poder Judicirio e ao Poder

    Executivo, conforme previso contida no 2 do artigo 102 da Constituio

    Federal.

    Portanto, ao julgar procedente o pedido, o Supremo Tribunal Federal

    proferir deciso declarando que a lei ou o ato normativo federal objeto da ao

    compatvel com a Constituio, sendo certo que esta deciso produzir efeitos

    ex tunc, erga omnese vinculantes a todos os rgos do Poder Executivo e aosdemais rgos do Poder Judicirio. Assim, todos devero cumprir a lei ou o ato

    normativo federal, no podendo deixar de faz-lo sob o argumento de que tal lei

    ou ato normativo seria inconstitucional.

    A AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSO

    Diante de uma inconstitucionalidade por omisso, as pessoas previstas

    no artigo 103 da Constituio Federal podero propor ao direta deinconstitucionalidade por omisso, com o intuito de tornar efetiva norma

    constitucional.

    O 2 do artigo 103 da Constituio Federal prev que, declarada a

    inconstitucionalidade por omisso de medida para tornar efetiva norma

    constitucional, ser dada cincia ao Poder competente para a adoo das

    providncias necessrias e, em se tratando de rgo administrativo, para faz-lo

    em trinta dias.

    Assim, se a omisso for praticada, por exemplo, pelo Poder Legislativo, o

    Supremo Tribunal Federal, declarando a inconstitucionalidade por omisso

    perpetrada por esse rgo, dar cincia a ele para que adote as providncias

    necessrias a sanar o vcio omissivo. No h, todavia, a possibilidade de

    imposio de qualquer sano, abrindo, to somente, a possibilidade de

    indenizao para as pessoas lesadas com a omisso, a ser apreciada caso a

    caso pelo juiz competente.

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    Direito Constitucional

    J, se a omisso for, por exemplo, do Presidente da Repblica, oSupremo Tribunal Federal, ao declarar a inconstitucionalidade por omisso

    levada a efeito por ele, dar trinta dias para que seja praticado o ato necessrio

    a suprir a omisso existente. E, no caso de o Presidente da Repblica no

    cumprir a determinao judicial, poder incorrer no crime de responsabilidade

    previsto no artigo 85, inciso VII, da Constituio Federal, sujeitando-se, neste

    exemplo, ao processo de impeachment.

    QUADRO ESQUEMTICO SOBRE O CONTROLE DACONSTITUCIONALIDADE

    Via deexceo

    ou defesa

    Ao Direta deInconstituc.Interventiva

    Ao Direta deInconstituc.

    Genrica

    Ao Direta deInconstituc.por Omisso

    Ao Declaratriade

    Constitucionalidade

    Finalidade

    Suspenderpara o casoconcreto osefeitos da

    norma contrria Constituio

    1. Declarar ainconstitucionalidade da lei ou doato normativoestadual ou

    distrital.2. Possibilitar adecretao da

    intervenofederal no

    Estado-Membroou no Distrito

    Federal

    Retirar doordenamento

    jurdico a normafederal, estadual

    ou distritalinconstitucional

    Introduzir noordenamento jurdiconorma necessria a

    regulamentar aConstituio

    Declarar aconstitucionalidade

    de lei federalcontestada em face

    da Constituio

    Legitimidade

    Ativa: qualquerpessoa

    Passiva:aquele que

    exige ocumprimento

    de normainconstitucional

    Ativa: 36, incisoIII (Procurador-

    Geral daRepblica)

    Passiva: art. 103 3 CF

    (Advogado-Geralda Unio)

    Ativa: art. 103CF + art. 2 Lei

    9868/99Passiva: art. 103 3 CF + art. 6

    Lei 9868/99

    Ativa: art. 103 CF+ art. 2 Lei 9868/99

    Passiva: rgoomisso

    Ativa: art. 103, 4CF

    Passiva: no h.

    Instrumento Qualquer aojudicial

    RepresentaoAo Direta de

    Inconstitucionalid

    ade (ADIN)

    Ao Direta deInconstitucionalidade

    por Omisso(ADIN por Omisso)

    Ao Declaratria deConstitucionalidade

    CompetnciaDifusa: todosos rgos do

    Judicirio

    Concentrada:STF

    (art. 36, III, CF)

    Concentrada:STF

    (art. 102, I, "a"CF)

    Concentrada: STF

    Concentrada: STF(art. 102, I, "a" CF)

    Efeitos dadeciso

    demrito

    Efeito:entre as partes

    eex nunc

    Efeito: autorizaro Presidente da

    Repblica adecretar a

    intervenofederal

    Efeitos:vinculante, ergaomnese ex tunc

    Exceo: Art. 27da Lei 9868/99 -

    "ex nunc".

    Efeitos: dar cinciaao rgo omisso para

    que adote asprovidncias

    necessrias e, se forrgo administrativo,para que faa em 30dias (art. 103, 2

    CF)

    Efeitos: vinculante eerga omnes

    (Art. 102, 2, CF)

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    Direito Constitucional

    Participaodo

    Senado

    Podesuspender a

    execuo da leideclarada

    inconstitucionalpelo STF (art.

    52, X, CF)

    No participa

    No participa

    (exceto se aMesa do Senadofor a autora da

    ao)

    No participa, exceto

    se for o rgo omissoou se a Mesa do

    Senado for a autorada ao

    No participa, exceto

    se a Mesa do Senadofor a autora da ao

    FORMAS DE ESTADO

    Ao analisar as formas de Estado, ser estudada a diviso espacial do

    poder, ou seja, como o poder exercido e repartido num determinado territrio.

    Para tanto, imprescindvel a fixao dos conceitos de centralizao e

    descentralizao, bem como de soberania e autonomia.

    A centralizao do poder ocorre quando este emana de uma s pessoa

    ou de um nico rgo. Por outro lado, a descentralizao se caracteriza quando

    mais de uma pessoa, mais de um ente, tem a possibilidade jurdica de exercer o

    poder.

    O exerccio do poder estatal pode se dar, entre outros, por meio da

    criao de normas gerais e abstratas e pela execuo dos atos, com

    observncias das regras gerais e abstratas.

    Quando se diz que um nico rgo tem o poder de executar determinada

    regra, est configurada a centralizao administrativa. Por outro lado, quando

    esta execuo das normas gerais e abstratas se d por mais de uma pessoa,

    ocorre a descentralizao administrativa.

    Na hiptese de um nico rgo estatal ter o poder de editar as regras

    gerais e abstratas, ou seja, as leis, est caracterizada a centralizao poltica.

    Contudo, se mais de um rgo, mais de uma pessoa, mais de uma entidade tem

    a possibilidade de editar essas normas gerais e abstratas, ocorre a

    descentralizao poltica.

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    Direito Constitucional

    A soberania se caracteriza pelo poder incontrastvel de mando inerente

    ao Estado, a expresso da unidade de uma ordem jurdica. Assim, do pontode vista externo, diz-se que um Estado soberano quando, juridicamente, no

    h qualquer outro poder, rgo ou pessoa que lhe seja superior. Portanto,

    nenhum Estado pode ditar, sob a tica jurdica, o que um outro Estado soberano

    deve ou no fazer.

    Por outro lado, a autonomia identificada quando o Estado analisado

    do ponto de vista interno. Assim, quando entes estatais exercem, com

    independncia, os poderes que lhes so conferidos, diz-se que tais entidadestm autonomia. Se as atribuies desses rgos so para inovar a ordem

    jurdica, por meio de regras gerais e abstratas, diz-se que est presente a

    autonomia poltica. J, se as atribuies so apenas para administrar, ou seja,

    para executar as regras gerais e abstratas, diz-se que h autonomia

    administrativa.

    ESTADO UNITRIO

    A forma de Estado chamada de Estado Unitrio se caracteriza pela

    centralizao do poder.

    Na prtica, a centralizao poltica pode ocorrer, mas a centralizao

    administrativa no, tendo em vista que um Estado centralizado poltica e

    administrativamente dificilmente alcanaria seus objetivos.

    Assim, existem Estados unitrios centralizados politicamente, mas

    descentralizados administrativamente, como tambm h Estados

    descentralizados poltica e administrativamente.

    A descentralizao, em um Estado unitrio, se concretiza por meio da

    manifestao da vontade do rgo central, que delega parcela do poder para

    entes descentralizados, autorizando-os a criar leis (descentralizao poltica) ou

    a execut-la (descentralizao administrativa).

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    Direito Constitucional

    Todavia, da mesma forma que o rgo central transfere parte do poder

    para outras entidades, ele tem a possibilidade de retir-lo, visto que, ao fazer adelegao do poder, no abre mo dele, preservando a possibilidade de

    restaurar a centralizao.

    FORMA FEDERATIVA DE ESTADO

    O termo federao traz consigo a idia de pacto, de unio, de aliana e

    a forma de Estado atualmente adotada pelo Brasil, visto que a Repblica

    Federativa do Brasil formada pelo pacto, pela aliana, pela unio indissolveldos Estados, dos Municpios e do Distrito Federal (artigo 1, caput, da

    Constituio Federal).

    O artigo 18 da Constituio, por seu turno, prev que a organizao

    poltico-administrativa da Repblica Federativa do Brasil compreende a Unio,

    os Estados, o Distrito Federal e os Municpios, todos autnomos, nos termos da

    Constituio.

    Caractersticas

    A primeira caracterstica de uma Federao a existncia da

    descentralizao poltica fixada na Constituio. Assim, a Constituio que faz

    a repartio de competncias entre o rgo central (Unio) e os demais rgos

    descentralizados (como os Estados, no Brasil; as Provncias, na Argentina; os

    Cantes, na Sua), determinando que mais de um rgo tem o poder de criar

    as normas gerais e abstratas.

    Portanto, a Constituio d poderes para o rgo central (Unio) editar

    normas vlidas para todo o territrio, bem como confere poderes para que os

    entes regionais (Estados-Membros) criem as regras gerais e abstratas com

    validade para a sua regio.

    Neste sentido que se diz que, numa Federao, no h hierarquia entre

    as normas criadas pela Unio e pelos Estados-Membros, porque todos os entes

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    federativos vo buscar fundamento de validade de suas regras na Constituio

    Federal. Em outras palavras, a Unio no dir o que os Estados-Membrosdevero fazer ou deixar de fazer, nem vice-versa. Tanto a Unio como os

    Estados-Membros procuraro saber o que podem ou no fazer levando em

    conta as disposies constitucionais.

    A segunda caracterstica a de que deve ocorrer a participao da

    vontade das ordens jurdicas parciais na vontade criadora da ordem jurdica

    nacional, ou seja, os entes descentralizados, que exercem, com autonomia, uma

    parcela da soberania, devem participar da criao da lei que vigorar em todo oterritrio nacional.

    Isto se d por meio do Senado que, segundo o artigo 46 da Constituio

    Federal, compe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal,

    sendo certo que cada Estado e o Distrito Federal elegero trs Senadores (

    1 do artigo 46).

    Portanto, cada Estado e o Distrito Federal tm, no Senado, o mesmonmero de parlamentares. Como se ver quando do estudo do processo

    legislativo, as leis federais, para que validamente entrem em vigor, devem ser

    aprovadas tanto pela Cmara dos Deputados como pelo Senado (artigo 65).

    Assim, por meio do Senado que as vontades jurdicas parciais (Estados-

    Membros e Distrito Federal) participam, de maneira igualitria, na formao da

    vontade jurdica nacional.

    Requisitos para manuteno

    Os requisitos para a manuteno da Federao, como explica Michel

    Temer, so a rigidez constitucional e a existncia de um rgo que tenha a

    competncia de realizar o controle da constitucionalidade das leis e dos atos

    normativos.

    Como exposto acima, a rigidez constitucional determina a superioridade

    hierrquica das normas constitucionais em relao s demais regras postas no

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    sistema jurdico. Por outro lado, se a Constituio for flexvel, sua alterao

    poder ocorrer por meio da criao da legislao ordinria, ou seja, num sistemade Constituio flexvel, as regras constitucionais encontram-se no mesmo

    patamar hierrquico das leis ordinrias.

    Portanto, a rigidez constitucional garante mais estabilidade jurdica s

    disposies normativas contidas na Constituio e, desta forma, contribui para a

    manuteno da Federao.

    Mas para manter a Federao tambm necessria a existncia de umrgo incumbido de exercer o controle da constitucionalidade das leis, pois, do

    contrrio, se um rgo federativo invade a competncia atribuda pela

    Constituio Federal a outro ente federativo, essa inconstitucionalidade no

    seria solucionada, esfacelando a Federao. Por isso, imprescindvel a

    existncia de um rgo que controle a constitucionalidade das leis exatamente

    para resolver os conflitos de competncia surgidos. Nesse sentido que se diz

    que, numa Federao, no existe conflito insupervel de competncia, pois, ao

    surgir um conflito desta natureza, existir um rgo encarregado de dizer qualentidade agiu de acordo com a Constituio e qual a violou.

    Breve histrico

    O primeiro Estado Federativo surgiu nos Estados Unidos da Amrica. L,

    as treze colnias inglesas, ao se desvencilharem da metrpole, tornaram-se

    Estados independentes.

    As treze colnias, apesar de no terem abdicado da soberania que

    passaram a possuir, resolveram se unir por meio de um pacto internacional

    dissolvel, que acabou criando uma confederao.

    A confederao se caracteriza pela unio de vrios Estados soberanos,

    que no abrem mo de sua soberania, mas que se associam por um pacto

    internacional. Em razo da manuteno da soberania de cada componente da

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    Confederao, que aderiu ao tratado internacional, preserva-se a possibilidade

    de dissoluo deste pacto, o que o torna, de certo modo, frgil.

    Em razo das dificuldades para a execuo do tratado internacional

    firmado pelas colnias, James Madison, Alexander Hamilton e John Jay

    formularam uma alternativa com o intuito de tornar o pacto entre as colnias

    duradouro. E isto se deu por meio da formao da Federao, um pacto

    indissolvel entre os participantes, que, na ocasio, elaboraram uma

    Constituio prevendo as normas que regeriam o novo Estado soberano,

    constitudo pelos entes (antigas treze colnias) que abriam mo da soberaniaque tinham, preservando autonomias legislativas e administrativas.

    No Brasil, a formao da Federao se deu de maneira inversa. O

    Decreto n 1, de 15 de novembro de 1889, que instituiu a Repblica, tambm

    transformou o Estado Unitrio brasileiro em uma Federao, criando os Estados

    Federados prevendo a descentralizao do poder.

    A Constituio de 1891 consolidou a Federao brasileira, sendo certoque esta forma de Estado foi mantida pelas demais Constituies brasileiras.

    Todavia, convm registrar que, na prtica, durante a vigncia da Constituio de

    1937, a autonomia dos Estados-Membros foi retirada pelo Decreto-lei n

    1.202/39 e, apesar do ressurgimento da Federao com a Constituio de 1946,

    a centralizao do poder nas mos da Unio voltou a ocorrer a partir do golpe

    militar de 1964. Somente em 1988, o fortalecimento da forma federativa de

    Estado volta a ocorrer com as novas previses constitucionais que

    descentralizavam o poder, dando mais competncias e autonomias aos

    Estados, Municpios e Distrito Federal.

    Analisando a formao histrica da Federao norte-americana e da

    Federao brasileira possvel compreender porque aquela muito mais

    descentralizada do que esta. Isto se deve principalmente pelo fato de que,

    enquanto nos Estados Unidos da Amrica, a Federao surgiu da unio entre

    vrios Estados soberanos, que abriram mo de pequena parcela do poder que

    detinham para formar o novo Estado soberano, no Brasil o processo histrico foi

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    inverso: o Estado Unitrio que existia se transformou em uma Federao,

    formada por entes descentralizados com poucos poderes, em razo de o podercentral ter abdicado de pequena parcela de suas competncias.

    No Brasil, a Federao, como se viu, formada pela Unio, pelos

    Estados-Membros, pelos Municpios e pelo Distrito Federal, que se aliam por

    meio de um pacto indissolvel. Estes sero os pontos estudados a seguir.

    UNIO

    Como afirmam Leda Pereira da Mota e Celso Spitzcovsky, a Unio tem

    natureza dplice.

    Do ponto de vista externo, a Unio a pessoa jurdica de direito pblico

    que contrai direitos e obrigaes e exerce, soberanamente, a funo de

    representante da Repblica Federativa do Brasil. Assim, a Unio, quando

    mantm relaes de coordenao com os outros Estados estrangeiros, exerce a

    soberania brasileira.

    Os incisos I a IV do artigo 21 da Constituio Federal estabelecem as

    hipteses em que a Unio age da maneira exposta acima.

    J, do ponto de vista interno, a Unio uma pessoa jurdica de direito

    pblico que, com autonomia, exerce no territrio brasileiro as competncias que

    a Constituio lhe confere. Portanto, a Constituio Federal dita o que a Unio

    poder ou no poder fazer. A Unio assim como os Estados-Membros, o

    Distrito Federal e os Municpios , sob a tica interna do Estado brasileiro,

    busca na Constituio as suas atribuies para poder exercer, autonomamente,

    as funes ali previstas.

    COMPETNCIAS DA UNIO

    As competncias da Unio podem ser repartidas em dois grandes grupos:

    as competncias relativas criao das normas gerais e abstratas,

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    denominadas competncias legislativas; e as competncias para executar as

    leis, chamadas de competncias no legislativas, tambm conhecidas comoadministrativas ou executivas.

    Competncias no legislativas privativas

    As competncias no legislativas privativas so aquelas que a

    Constituio confere somente Unio e esto previstas no artigo 21 do Texto

    Constitucional.

    Este artigo formado por vrios incisos que contemplam verbos como

    manter, declarar, assegurar, permitir, decretar, autorizar, emitir,

    administrar, elaborar, explorar, organizar, exercer, conceder, planejar,

    instituir, estabelecer, executar, verbos estes que indicam competncias

    administrativas, tambm chamadas de no legislativas, ou seja, no implicam

    a edio de normas gerais e abstratas.

    Competncias no legislativas comuns

    As competncias no legislativas comuns diferem das competncias

    administrativas acima mencionadas pelo fato de que a Constituio no as

    confere com exclusividade Unio, mas de modo conjunto a todos os entes

    federativos.

    Assim que o artigo 23 da Constituio Federal estabelece o rol de

    competncias comuns da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos

    Municpios. Entre outros deveres, os entes federativos devem, por fora do

    disposto no referido artigo, zelarpela Constituio, das leis e das instituies

    democrticas; cuidarda sade e assistncia pblica; protegeros documentos,

    as obras e outros bens de valor histrico, artstico e cultural, os monumentos, as

    paisagens naturais notveis e os stios arqueolgicos; impedir a evaso, a

    destruio e a descaracterizao de obras de arte e de outros bens de valor

    histrico, artstico ou cultural; proporcionar os meios de acesso cultura,

    educao e cincia; proteger o meio ambiente e combater a poluio em

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    editada pela Unio, ao fazer a delegao, autorize todosos Estados e o Distrito

    Federal a legislar sobre questes especficas das matrias relacionadas noartigo 22, ou permiteque a referida delegao ocorra a apenas um ou alguns

    Estados.

    Em ateno ao princpio federativo, que, entre outros pontos, garante a

    igualdade entre os entes que compem a Federao, parece-nos mais

    adequado entender que, se a Unio utilizar a faculdade prevista no pargrafo

    nico do artigo 22 da Constituio Federal, deve faz-lo de modo uniforme a

    todos os Estados e ao Distrito Federal, no podendo, ento, privilegiar uma oualgumas das entidades federativas.

    Por fim, ainda quanto previso do pargrafo nico do artigo 22 da

    Constituio Federal, merece destacar que a Unio, da mesma forma que pode,

    por lei complementar, realizar a delegao aos Estados e ao Distrito Federal de

    questo especfica das matrias relacionadas no prprio artigo 22, pode,

    tambm, no momento em que lhe parecer mais apropriado, revogar a referida lei

    complementar, retornando para a Unio a competncia que havia sidotransferida aos outros entes federativos.

    Competncias Legislativas Concorrentes

    O artigo 24 da Constituio Federal estabelece que compete Unio, aos

    Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre, por exemplo,

    direito tributrio, financeiro, penitencirio, econmico e urbanstico, oramento,

    juntas comerciais, custas dos servios forenses, produo e consumo, floresta,

    caa, pesca, fauna, proteo ao patrimnio histrico, cultural, turstico e

    paisagstico, responsabilidade por dano ao meio ambiente e ao consumidor,

    educao, cultura, ensino e desporto, previdncia social, proteo e defesa da

    sade, assistncia jurdica e defensoria pblica, proteo e integrao social

    das pessoas portadoras de deficincia, proteo infncia e juventude.

    Os quatro pargrafos do artigo 24 disciplinam como deve ocorrer a

    atuao dos entes federativo quando do exerccio da competncia legislativa

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    concorrente. Se no houvesse este regramento, poderiam surgir conflitos

    insuperveis de competncia, pois, uma vez que no existe hierarquia entre aUnio, os Estados e o Distrito Federal e se eles podem criar regras gerais e

    abstratas sobre um mesmo assunto, qual lei deve prevalecer em caso de

    conflito? Para evitar problemas como estes que os do artigo 24 existem.

    O 1 do artigo 24 prev que no mbito da legislao concorrente, a

    competncia da Unio limitar-se- a estabelecer normas gerais. Portanto, sobre

    os assuntos elencados no artigo 24, a Unio no pode, sob pena de

    inconstitucionalidade, descer a mincias ou estabelecer regras detalhadas.Deve somente criar as normas gerais sobre os referidos temas.

    Nos termos do 2 do artigo 24, a competncia da Unio para legislar

    sobre normas gerais, no exclui a competncia suplementar dos Estados e do

    Distrito Federal. Assim, os Estados e o Distrito Federal, em ateno aos

    interesses de suas respectivas regies, podero criar leis estaduais ou

    distritais, no caso do Distrito Federal para atender a suas peculiaridades,

    obedecidas as normas gerais editadas pela Unio. Portanto, os Estados e oDistrito Federal podem, quanto s matrias previstas no artigo 24, esmiuar as

    regras gerais editadas pela Unio ou criar regras especficas para preencher os

    vazios deixados por ela, sempre para atender as peculiaridades deles.

    Contudo, a Constituio Federal no deixou os Estados e o Distrito

    Federal de mos atadas na hiptese de a Unio no exercer sua competncia

    legislativa sobre normas gerais.

    Com efeito, o 3 do artigo 24 estatui que, se no existir lei federal sobre

    normas gerais, os Estados e o Distrito Federal podero exercer a competncia

    legislativa plena ou seja, criar as regras gerais e especficas sobre a matria,

    em suas respectivas regies para atender a suas peculiaridades.

    Por exemplo, se a Unio no criar as normas gerais sobre custas dos

    servios forenses (artigo 24, inciso IV, da Constituio Federal), os Estados e o

    Distrito Federal podem editar as normas gerais e especficas sobre este tema,

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    valendo tais regras, obviamente, somente para os territrios dos Estados que se

    valeram da aludida competncia legislativa plena.

    Apesar disso, a Constituio no impossibilitou que a Unio, a qualquer

    momento, exercesse sua competncia sobre normas gerais, mesmo quando j

    editadas as regras gerais e especficas pelos Estados ou pelo Distrito Federal.

    Neste caso, o 4 do artigo 24 estabeleceu que a supervenincia de lei

    federal sobre normas gerais suspende a eficcia da lei estadual ou distrital, no

    que lhe for contrrio.

    Portanto, se depois de o Estado ter legislado sobre norma geral, a Unio

    legislar sobre o mesmo assunto, suspende-se a eficcia da lei estadual no que

    for contrrio ao disposto da norma criada pela Unio. Note-se que, nesta

    hiptese, no h revogao da lei estadual pela lei federal, mas apenas a

    suspenso da eficcia da lei estadual no que lhe for contrrio. Assim, revogada

    a lei federal sobre as normas gerais, ocorre o restabelecimento da eficcia dos

    dispositivos da lei estadual que estavam suspensos.

    ESTADOS FEDERADOS

    Os Estados Federados, tambm chamados simplesmente de Estados,

    so as pessoas jurdicas de direito pblico que compem a Federao e, com

    autonomia, exercem parcela da soberania brasileira.

    Portanto, os Estados assim como a Unio (vista do mbito interno), os

    Municpios e o Distrito Federal so entidades imprescindveis Federao,

    que tm capacidade de contrair direitos e obrigaes, exercendo as

    competncias que a Constituio lhes confere, com autonomia.

    A Constituio Federal determina que cada Estado deve se auto-

    organizar e se auto-governar.

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    Se no fosse assim, os Estados no poderiam ser considerados

    autnomos e, se no tivessem autonomia, no se poderia falar em Federao,uma vez que a forma federativa de Estado pressupe a autonomia dos entes

    que a compem.

    Auto-organizao e competncias estaduais

    Com efeito, os Estados no sero regidos ou organizados por nenhum

    outro ente da Federao, quer seja a Unio, quer seja outro Estado ou

    Municpio. O artigo 25 da Constituio Federal d a cada Estado o poder decriar sua prpria Constituio (as Constituies Estaduais) e suas prprias leis

    (as leis estaduais), segundo suas peculiaridades e obedecidos os princpios da

    Constituio Federal. Esta previso constitucional, que garante a cada Estado

    Federado o poder de se auto-reger, configura a chamada auto-organizao

    estadual.

    Nos termos do 1 do artigo 25 da Constituio Federal, so reservadas

    aos Estados todas as competncias que no lhe sejam vedadas pelaConstituio Federal.

    Estas competncias estaduais so chamadas de residuais, pois, todas

    as competncias que no foram dadas pela Constituio Federal Unio e aos

    Municpios so conferidas aos Estados.

    Alm das competncias residuais, os Estados podem exercer as

    competncias delegadas pela Unio, nos termos do pargrafo nico do artigo 22

    da Constituio Federal, conforme anlise feita no item acima no ponto relativo

    s competncias legislativas privativas da Unio.

    O artigo 24 da Constituio Federal, que tambm estudado no item

    anterior (competncias legislativas concorrentes), prev outras competncias

    dos Estados.

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    Com efeito, em ateno aos do artigo 24, os Estados podem

    suplementar a legislao da Unio, criando regras especficas e detalhadas paraatender as peculiaridades de sua regio. Mas, se no existirem em relao s

    matrias previstas no artigo 24 normas gerais criadas pela Unio, os Estados

    podem legislar plenamente, at que sobrevenham as mencionadas regras

    gerais, quando, ento, ficaro suspensas as regras estaduais contrrias

    legislao federal.

    A Constituio Federal tambm confere aos Estados competncias no

    legislativas comuns, previstas no artigo 23, que j foram objeto de anlise notpico anterior.

    Auto-governo

    Outro parmetro da autonomia dos Estados consiste nas previses

    contidas na Constituio Federal que garantem a existncia dos Poderes

    Legislativo, Executivo e Judicirio estaduais.

    O artigo 27 da Constituio Federal estabelece que a quantidade de

    Deputados Estaduais que compem o Assemblia Legislativa deve ser

    proporcional ao nmero de Deputados Federais que o Estado tem na Cmara

    dos Deputados.

    A referida proporo deve obedecer os seguintes critrios: o nmero de

    Deputados Estaduais Assemblia Legislativa corresponder ao triplo do

    nmero de Deputados Federais que o Estado mantm na Cmara dos

    Deputados e, atingindo o nmero de 36 (trinta e seis), ser acrescido de tantos

    quantos forem os Deputados Federais acima de 12 (doze).

    Cumpre lembrar que o nmero de Deputados Federais proporcional

    populao, sendo certo que cada unidade da Federao deve ter no mnimo 8

    (oito) e no mximo 70 (setenta) representantes na Cmara dos Deputados, nos

    termos do 1 do artigo 45 da Constituio Federal.

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    Quanto ao Poder Executivo, a Constituio Federal, em seu artigo 28, fixa

    a regra de que o Governador e o Vice-Governador sero eleitos para mandatode 4 (quatro) anos.

    Ser considerado eleito Governador o candidato que, registrado por

    partido poltico, obtiver a maioria absoluta dos votos, no computados os em

    brancos e os nulos. Se nenhum candidato alcanar maioria absoluta na primeira

    votao (que deve ser no primeiro domingo de outubro do ano anterior ao

    trmino do mandato), ser feita nova eleio no ltimo domingo de outubro,

    concorrendo os dois candidatos mais votados e considerando-se eleito aqueleque obtiver a maioria dos votos vlidos (todos os votos, menos os em branco e

    os nulos).

    Estas regras que consagram os chamados dois turnos de votao na

    eleio para o cargo de Governador so alcanadas por meio da combinao do

    artigo 28 com o artigo 77 da Constituio Federal.

    Alm de estar filiado a um partido poltico, so condies de elegibilidadedo Governador: a nacionalidade brasileira, o pleno exerccio dos direitos

    polticos, o alistamento eleitoral, o domiclio eleitoral na circunscrio e a idade

    mnima de 30 (trinta) anos, conforme artigo 14, 3, da Constituio Federal.

    Outras hipteses de inelegibilidade podem ser encontradas nos deste

    mesmo artigo, bem como na Lei Complementar n 64/90, alterada pela Lei

    Complementar n 81/94.

    O 5 do artigo 14 da Constituio, com a redao determinada pela

    Emenda Constitucional n 16/97, consagra, ainda, a possibilidade de reeleio

    do Governador, para um nico mandato subseqente.

    Por fim, o artigo 125 prescreve que os Estados organizaro sua Justia,

    observados os princpios estabelecidos na Constituio Federal. O 1 do

    referido artigo 125 diz que a competncia dos tribunais ser definida na

    Constituio do Estado, sendo a lei de organizao judiciria de iniciativa do

    Tribunal de Justia. E o 2 do mesmo artigo, por sua vez, estabelece que cabe

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    aos Estados a instituio da representao de inconstitucionalidade de leis ou

    atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituio Estadual,vedada a atribuio da legitimao para agir a um nico rgo.

    MUNICPIOS

    Os Municpios so pessoas jurdicas de direito pblico interno que

    exercem, autonomamente, parcela da soberania brasileira. Estes entes polticos

    tm o poder de exercer suas competncias nos termos estabelecidos pela

    Constituio. Ademais, aos Municpios a Constituio Federal garante asprerrogativas de auto-organizao e de auto-governo.

    Auto-organizao e competncias municipais

    O Municpio se auto-organiza e regido por meio da criao de lei

    orgnica prpria votada em dois turnos e aprovada por 2/3 (dois teros) dos

    membros da Cmara Municipal, que a promulgar, atendidos os princpios

    estabelecidos na Constituio Federal e na Constituio do respectivo Estado.

    A lei orgnica municipal pode ser considerada como uma Constituio do

    Municpio dentro daquele mbito territorial.

    Alm da lei orgnica, o Municpio tem o poder de editar suas outras leis,

    levando em conta as competncias fixadas constitucionalmente, especialmente

    as previstas nos incisos do artigo 30 da Constituio Federal.

    A principal competncia municipal a de legislar sobre questes de

    interesse local (artigo 30, inciso I). A expresso interesse local significa

    interesse predominantemente local, ou seja, no se trata de interesse

    exclusivamente local, mas aquele que diz respeito mais de perto ao Municpio,

    como, por exemplo, a limpeza urbana e o transporte pblico coletivo no

    municpio.

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    Os Municpios tambm tm as competncias no legislativas comuns

    previstas no artigo 23 da Constituio Federal e abordadas acima quando foramanalisadas as competncias da Unio.

    Alm disso, compete aos Municpios suplementar a legislao federal e a

    estadual no que couber (artigo 30, inciso II).

    Auto-governo

    A Constituio Federal estabelece que os Municpios tm Legislativo eExecutivo prprios.

    O Legislativo municipal formado pela Cmara dos Vereadores, que

    composta por um nmero de vereadores proporcional populao do Municpio,

    observados os limites previstos no artigo 29, inciso IV, da Constituio Federal.

    Quanto ao Poder Executivo municipal, a Constituio Federal, em seu

    artigo 29, incisos I a III, estabelece que o Prefeito e o Vice-Prefeito, mediantepleito direto, sero eleitos para mandato de 4 (quatro) anos.

    Ser considerado eleito Prefeito o candidato que obtiver a maioria dos

    votos, no computados os em brancos e os nulos. Nos Municpios com mais de

    duzentos mil eleitores, a eleio ocorrer em dois turnos se nenhum dos

    candidatos obtiver a maioria absoluta dos votos vlidos na primeira votao.

    Assim, nos Municpios com mais de duzentos mil eleitores, se nenhum

    candidato alcanar maioria absoluta na primeira votao (que deve ser no

    primeiro domingo de outubro do ano anterior ao trmino do mandato), ser feita

    nova eleio no ltimo domingo de outubro, concorrendo os dois candidatos

    mais votados, considerando-se eleito aquele que obtiver a maioria dos votos

    vlidos (todos os votos, menos os em branco e os nulos).

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    As regras que prevem os dois turnos de votao na eleio para o

    cargo Prefeito de Municpio com mais de duzentos mil eleitores esto contidasnos artigos 29, inciso II, e 77 da Constituio Federal.

    So condies de elegibilidade do Prefeito: a nacionalidade brasileira, o

    pleno exerccio dos direitos polticos, o alistamento eleitoral, o domiclio eleitoral

    na circunscrio, a filiao partidria e a idade mnima de 21 (vinte e um) anos,

    conforme artigo 14, 3, da Constituio Federal. Outras hipteses de

    inelegibilidade so encontradas nos deste mesmo artigo, bem como na Lei

    Complementar n 64/90, alterada pela Lei Complementar n 81/94.

    O 5 do artigo 14 da Constituio, com a redao dada pela Emenda

    Constitucional n 16/97, estabelece, tambm, a possibilidade de reeleio do

    Prefeito, para um nico perodo subseqente.

    Convm mencionar que o fato de os Municpios no terem representantes

    no Senado como ocorre com os Estados e o Distrito Federal, por fora do

    disposto no artigo 46 da Constituio Federal , bem como no terem Judicirioprprio no os descaracterizam como entes federativos essenciais

    configurao da Federao brasileira.

    DISTRITO FEDERAL

    O Distrito Federal tambm uma pessoa jurdica de direito pblico

    interno, que compe a Federao brasileira, exercendo com autonomia as

    competncias que lhe so dadas pela Constituio Federal.

    Este ente federativo assim como os outros analisados acima se

    auto-organiza e se auto-governa.

    Auto-organizao e competncias distritais

    O Distrito Federal se auto-organiza e regido por lei orgnica prpria

    votada em dois turnos e aprovada por 2/3 (dois teros) dos membros da Cmara

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    Convm relembrar que o nmero de Deputados Federais proporcional

    populao, sendo que cada unidade da Federao (Estados e Distrito Federal)deve ter no mnimo 8 (oito) e no mximo 70 (setenta) representantes na Cmara

    dos Deputados, conforme disposio do 1 do artigo 45 da Constituio

    Federal.

    Quanto ao Poder Executivo, a Constituio Federal, no artigo 32, 2,

    prescreve que a eleio do Governador e do Vice-Governador do Distrito

    Federal coincidir com a dos Governadores e Deputados Estaduais, para

    mandato de igual durao, ou seja, 4 (quatro) anos.

    Ser considerado eleito Governador o candidato que, registrado por

    partido poltico, obtiver a maioria absoluta dos votos, no computados os em

    brancos e os nulos. Se nenhum candidato alcanar maioria absoluta na primeira

    votao (que deve ser no primeiro domingo de outubro do ano anterior ao

    trmino do mandato), ser feita nova eleio no ltimo domingo de outubro,

    concorrendo os dois candidatos mais votados e considerando-se eleito aquele

    que obtiver a maioria dos votos vlidos (todos os votos, menos os em branco eos nulos).

    Estas regras que consagram os chamados dois turnos de votao na

    eleio para o cargo de Governador do Distrito Federal so alcanadas por meio

    da interpretao dos artigos 32, 2, e 77 da Constituio Federal.

    Alm de estar filiado a um partido poltico, so condies de elegibilidade

    do Governador do Distrito Federal: a nacionalidade brasileira, o pleno exerccio

    dos direitos polticos, o alistamento eleitoral, o domiclio eleitoral na

    circunscrio e a idade mnima de 30 (trinta) anos, conforme artigo 14, 3, da

    Constituio Federal. Outras hipteses de inelegibilidade esto previstas nos

    deste mesmo artigo e na Lei Complementar n 64/90, alterada pela Lei

    Complementar n 81/94.

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    O 5 do artigo 14 da Constituio, com a redao conferida pela

    Emenda Constitucional n 16/97, estabelece a possibilidade de reeleio doGovernador do Distrito Federal, para um nico mandato subseqente.

    No tocante ao Poder Judicirio do Distrito Federal, a Constituio

    prescreve que compete Unio organiz-lo e mant-lo (artigo 22, inciso XIII, e

    artigo 48, inciso IX, da Constituio Federal), afetando parcialmente a

    autonomia deste ente federativo.

    Por fim, sobreleva notar que o caputdo artigo 32 da Constituio impedea diviso do Distrito Federal em Municpios.

    TERRITRIOS

    Como se nota do disposto no artigo 18, caput e 2, da Constituio

    Federal, os Territrios integram a Unio, sendo certo que a organizao poltico-

    administrativa da Repblica Federativa do Brasil no compreende, portanto, os

    Territrios, uma vez que ela formada somente pela Unio, pelos Estados, peloDistrito Federal e pelos Municpios.

    Assim, pode-se dizer que os Territrios Federais no compem

    autonomamente a Federao brasileira e so apenas descentralizaes

    administrativas-territoriais da prpria Unio.

    Apesar de, atualmente, no existirem, de fato, Territrios Federais no

    Brasil tendo em vista o disposto nos artigos 14 e 15 dos Atos das Disposies

    Constitucionais Transitrias, que transformaram os ento Territrios de Roraima

    e do Amap em Estados Federados e incorporaram o Territrio de Fernando de

    Noronha ao Estado de Pernambuco , existe a possibilidade jurdica de criao

    destas entidades.

    Tanto que o artigo 12 do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias

    determinou a criao de uma Comisso de Estudos Territoriais com a finalidade

    de apresentar estudos sobre o territrio nacional e anteprojetos relativos a

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    novas unidades territoriais, notadamente da Amaznia Legal e em reas

    pendentes de soluo.

    Todavia, se forem criados novos Territrios, eles no tero, como se viu

    acima, as caractersticas que so prprias dos entes federativos, como a

    autonomia para exercer as competncias que a Constituio estabelece.

    Assim que o artigo 33, capute 3, da Constituio Federal, prev que

    uma lei federal e no uma lei criada pelo prprio Territrio dispor sobre a

    organizao administrativa e judiciria dos Territrios (Lei n 8185/91), bemcomo sobre as eleies para a Cmara Territorial e sua competncia

    deliberativa.

    Tambm no 3 do artigo 33 encontra-se a disposio segundo a qual os

    Territrios Federais com mais de cem mil habitantes, alm de Governador

    nomeado pelo Presidente da Repblica (artigo 84, inciso XIV) e sabatinado pelo

    Senado Federal (artigo 52, inciso III, letra c), tero rgos do Poder Judicirio

    de primeira e segunda instncia, membros do Ministrio Pblico e defensorespblicos federais.

    Com isso, conclui-se que os Territrios Federais no tm autonomia e

    no so essenciais Federao. Se existirem ou no a Federao sobreviver.

    INTERVENO